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Supremo Tribunal Federal

Decisão sobre Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 20

01/03/2018 PLENÁRIO

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.037.396 SÃO


PAULO

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


RECTE.(S) : FACEBOOK SERVICOS ONLINE DO BRASIL LTDA.
ADV.(A/S) : CELSO DE FARIA MONTEIRO
ADV.(A/S) : PATRICIA HELENA MARTA MARTINS
ADV.(A/S) : ISABELA BRAGA POMPILIO
RECDO.(A/S) : LOURDES PAVIOTO CORREA
ADV.(A/S) : BRUNO HENRIQUE TREVIZAN FORTI

EMENTA

Direito Constitucional. Proteção aos direitos da personalidade.


Liberdade de expressão e de manifestação. Violação dos arts. 5º, incisos
IV, IX, XIV; e 220, caput, §§ 1º e 2º, da Constituição Federal. Prática de ato
ilícito por terceiro. Dever de fiscalização e de exclusão de conteúdo pelo
prestador de serviços. Reserva de jurisdição. Responsabilidade civil de
provedor de internet, websites e gestores de aplicativos de redes sociais.
Constitucionalidade ou não do art. 19 do Marco Civil da Internet (Lei nº
12.965/14) e possibilidade de se condicionar a retirada de perfil falso ou
tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente somente após
ordem judicial específica. Repercussão geral reconhecida.

Decisão: O Tribunal, por maioria, reputou constitucional a questão,


vencido o Ministro Edson Fachin. Não se manifestou a Ministra Cármen
Lúcia. O Tribunal, por maioria, reconheceu a existência de repercussão
geral da questão constitucional suscitada, vencido o Ministro Edson
Fachin. Não se manifestou a Ministra Cármen Lúcia.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 14560969.
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Decisão sobre Repercussão Geral

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RE 1037396 RG / SP

Ministro DIAS TOFFOLI


Relator

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
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Manifestação sobre a Repercussão Geral

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01/03/2018 PLENÁRIO

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.037.396 SÃO


PAULO

MANIFESTAÇÃO

Direito Constitucional. Proteção aos direitos da


personalidade. Liberdade de expressão e de
manifestação. Violação dos arts. 5º, incisos IV, IX,
XIV; e 220, caput, §§ 1º e 2º, da Constituição
Federal. Prática de ato ilícito por terceiro. Dever de
fiscalização e de exclusão de conteúdo pelo prestador
de serviços. Reserva de jurisdição. Responsabilidade
civil de provedor de internet, websites e gestores de
aplicativos de redes sociais. Constitucionalidade ou
não do art. 19 do Marco Civil da Internet (Lei nº
12.965/14) e possibilidade de se condicionar a
retirada de perfil falso ou tornar indisponível o
conteúdo apontado como infringente somente após ordem
judicial específica. Repercussão geral reconhecida.

Cuida-se de recurso extraordinário interposto por


Facebook Serviços Online do Brasil Ltda. contra
acórdão prolatado pela Segunda Turma Recursal Cível do
Colégio Recursal de Piracicaba/SP, o qual foi assim
ementado:

Obrigação de Fazer c/c indenização por danos morais


R. sentença condenando a ré à exclusão da rede social
do perfil falso da autora, além do fornecimento do IP
(internet protocol) de onde gerado, indeferindo,
porém, o pleito indenizatório Incidência parcial da
Lei nº 12.965/14 (Marco Civil da Internet), que não
pode ofender as garantias constitucionais dadas ao

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consumidor Provimento de ambos os recursos: da autora


(para condenar a ré no pagamento de indenização) e da
ré (para desobrigá--la do fornecimento do IP)
Sentença reformada em parte.

O magistrado de primeiro grau julgou parcialmente


procedente a ação para determinar a exclusão do
perfil falso criado em nome da autora, bem como para
ordenar que o Facebook apresentasse, em 10 dias, o
número do IP utilizado para a criação da referida
página. Deixou de acolher, todavia, o pedido de
condenação em danos morais.
Houve recurso inominado de ambas as partes, as quais
lograram parcial sucesso. No ponto que interessa para
o presente recurso, o voto condutor do acórdão
recorrido, reformando a sentença no ponto em que, com
supedâneo no art. 19 da Lei nº 12.965/14, se excluiu a
responsabilidade civil do provedor de serviços,
consignou o seguinte:

Para fins indenizatórios, todavia, condicionar a


retirada do perfil falso somente após ordem judicial
específica, na dicção desse artigo, significaria
isentar os provedores de aplicações, caso da ré, de
toda e qualquer responsabilidade indenizatória,
fazendo letra morta do sistema protetivo haurido à luz
do Código de Defesa do Consumidor, circunstância que,
inclusive, aviltaria preceito constitucional (art. 5º,
inciso XXXII, da Constituição Federal).
Ademais, tal disposição como que quer obrigar,
compelir o consumidor vitimado, a ingressar em Juízo
para atendimento da pretensão que, seguramente,
poderia ser levada a cabo pelo próprio provedor
cercando-se de garantias a fim de preservar, em última

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RE 1037396 RG / SP

análise, a liberdade de expressão. Antes, o provedor


fica em confortável, mas não menos desproporcional,
posição de inércia frente à vítima do abuso desse
mesmo direito de manifestação e pensamento, gerando
paradoxal desequilíbrio em relação aos invioláveis
direitos à intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem (art. 5º, inciso X, da Constituição Federal)
desta última (vítima).
Inegável que na relação entre as litigantes a autora,
diante de sua notória condição de vítima, equipara-se
à figura do consumidor (art. 17 do Código de Defesa do
Consumidor).
(…)
Destarte, condicionar a responsabilização da ré à
prévia tomada de medida judicial pela autora, na
conformidade do art. 19 do Marco Civil da Internet,
fulminaria seu direito básico de efetiva prevenção e
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos (art. 6º, inciso VI, do Código de
Defesa do Consumidor).
Logo, a indenização pelos danos morais é medida que se
impõe (...) (grifo nosso).

Contra referido decisum foram opostos embargos de


declaração, os quais, todavia, foram rejeitados.
O recurso extraordinário foi aviado com amparo em
pretensa violação dos arts. 5º, incisos IV, IX e XIV,
e 220, caput e §§ 1º e 2º, da Lei Fundamental.
Suscitando o reconhecimento de repercussão geral
ocorrido no ARE nº 660.861/MG, de relatoria do
Ministro Luiz Fux, aduz o recorrente que a presente
lide possui transcendência e relevância, uma vez que
trata de assunto similar ao do Tema nº 533 qual seja,
responsabilidade civil do prestador de aplicações de

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RE 1037396 RG / SP

internet e reserva de jurisdição , com a diferença de


que, naquele leading case, os fatos se deram antes da
vigência do Marco Civil da Internet, enquanto, no caso
dos autos, se lida com fatos subsumidos na Lei nº nº
12.965/14. Essa distinção, segundo o recorrente,
justifica que o presente caso não seja simplesmente
sobrestado para aguardar o julgamento do Tema 533, mas
recebido e julgado por este E. Supremo Tribunal
Federal.
O recorrente defende a existência de relevância
jurídica do caso, na medida em que, ao declarar a
inconstitucionalidade do art. 19 da Lei nº 12.965/14 e
aplicar a responsabilidade objetiva prevista no Código
de Defesa do Consumidor, o acórdão recorrido teria
aplicado um duro golpe à segurança jurídica que
existia naquele momento.
Haveria também repercussão econômica, uma vez que
aquilo que aqui se decidir afetará todos os provedores
de aplicação de internet atuantes no Brasil, os quais,
sob pena de responderem objetivamente perante milhões
de usuários, ver-se-iam obrigados a arrogarem para si
o papel de censores que lei específica e posterior ao
CDC reservou ao Poder Judiciário. Por fim, encontrar-
se-ia presente também a transcendência social: em
primeiro lugar, pelo efeito multiplicador da presente
demanda; em segundo lugar, pela relevância que a
internet assumiu na vida dos cidadãos, ao tornar-se
parte imprescindível da sociedade contemporânea.
Nas razões de apelo extremo, o recorrente defende, de
início, a constitucionalidade do já referido art. 19
do Marco Civil da Internet, cuja análise sistemática
evidenciaria que o legislador optou, conscientemente,
por adotar como princípios norteadores a vedação à
censura, a liberdade de expressão e a reserva de

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jurisdição. Assim, salvo na exceção do art. 21, não


caberia falar em censura ou filtro à liberdade de
expressão, somente sendo possível se cogitar a
responsabilidade civil do provedor de aplicações de
internet por danos decorrentes de conteúdo gerado por
terceiros após ordem judicial específica.
Aduz o recorrente que a liberdade de comunicação
consagrada pela Carta Política traduz não apenas
direitos individuais de difundir conteúdo de diversas
naturezas, mas também um direito de dimensão coletiva,
no sentido de permitir que os indivíduos e a
comunidade sejam informados sem censura.
Afirma, ainda, que um comando judicial que
estabelecesse, por via transversa, ser obrigação dos
provedores de aplicações de internet as tarefas de
analisar e excluir conteúdo gerado por terceiros, sem
prévia análise pela autoridade judiciária competente,
acabaria por impor que empresas privadas passem a
controlar, censurar e restringir a comunicação de
milhares de pessoas, em flagrante contrariedade àquilo
que estabeleceram a Constituição Federal e o Marco
Civil da Internet.
Argumenta, adicionalmente, que os dispositivos
constitucionais suscitados pelo decisum combatido para
embasar a declaração de inconstitucionalidade não
traduzem aquilo que o acórdão deles inferiu. Isso
porque o Marco Civil da Internet, enquanto lei federal
específica e posterior de grau hierárquico idêntico ao
do CDC, não derroga ou elimina as conquistas
estabelecidas pela legislação consumerista antes as
corrobora. Nesse sentido, a referida normatização
teria se limitado a determinar, no caso específico da
veiculação de conteúdo ilícito em provedor de
aplicações, que cabe ao Judiciário e apenas a ele

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decidir pela censura ou não, advindo a


responsabilidade civil do provedor do respeito ou não
à ordem judicial. A par disso, o Supremo Tribunal
Federal, ao deparar-se, em situações pretéritas, com
conflitos de normas consumeristas, teria decidido em
favor da norma específica qual seja, o Marco Civil da
Internet.
O recorrente prossegue defendendo que o segundo
dispositivo a fundamentar a declaração de
inconstitucionalidade ora questionada o art. 5º,
inciso X foi devidamente sopesado pelo legislador no
processo legislativo que culminou com a Lei nº
12.965/2014, tendo esse último optado por minimizá-lo
em prol da liberdade de expressão e da vedação à
censura.
Por fim, articula também a suposta violação do art.
5º, incisos II e XXXV, da Lei Fundamental. Isso
porque, existindo lei a estabelecer expressamente que
a remoção de conteúdo somente poderá ser feita após
ordem judicial específica, condenar o recorrente pelo
não atendimento de notificação extrajudicial
implicaria clara ofensa ao princípio da legalidade.
Não fosse o bastante, ao entender que a parte
irresignada teria sido omissa, sob a premissa de que,
após notificada pela recorrida, deveria ter excluído o
perfil apontado como impostor, o acórdão combatido
também teria incorrido em violação do princípio da
reserva de jurisdição, uma vez que incumbiria tão
somente ao Poder Judiciário decidir se o perfil em
questão era ou não falso e deveria, como consequência,
ser censurado.
Insta definir aqui se, à luz dos princípios
constitucionais e da Lei nº 12.965/2014, a empresa
provedora de aplicações de internet possui os deveres

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(i) de fiscalizar o conteúdo publicado nos seus


domínios eletrônicos, (ii) de retirar do ar
informações reputadas como ofensivas mediante simples
notificação extrajudicial e (iii) de se
responsabilizar legalmente pela veiculação do aludido
conteúdo antes da análise pelo Poder Judiciário.
A matéria suscitada no recurso extraordinário conta
com inequívoca repercussão geral, já reconhecida por
ocasião da submissão do ARE nº 660.861/MG ao Plenário
Virtual. Com efeito, razão assiste à parte quando aduz
que o tema veiculado no presente recurso é similar ao
daquele, com a diferença de que, in casu, está-se a
lidar com caso ocorrido após o início da vigência do
Marco Civil da Internet.
Independentemente disso, a transcendência e a
relevância são inequívocas, uma vez que a matéria em
questão, dadas a importância e o alcance das redes
sociais e dos provedores de aplicações de internet nos
dias atuais, constitui interesse de toda a sociedade
brasileira.
Não fosse o suficiente, o debate atinente aos deveres
e à responsabilidade legal dos provedores de
aplicações de internet por atos ilícitos praticados
por terceiros à luz da Lei nº 12.965/2014 poderá
embasar a propositura de milhares e milhares de ações
em todo o país. A par do impacto sobre o Judiciário,
há de se considerar também o impacto financeiro sobre
as empresas provedoras de aplicações de internet, o
que pode, em última instância, reverberar na atividade
econômica como um todo.
A par disso, a discussão em pauta resvala em uma série
de princípios constitucionalmente protegidos,
contrapondo a dignidade da pessoa humana e a proteção
aos direitos da personalidade à liberdade de

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expressão, à livre manifestação do pensamento, ao


livre acesso à informação e à reserva de jurisdição.
Dada a magnitude dos valores envolvidos, afigura-se
essencial que o Supremo Tribunal Federal, realizando a
necessária ponderação, posicione-se sobre o assunto.
Por fim, vale assinalar que aquilo que se decidir no
ARE nº 660.861/MG aplicar-se-á, em tese, apenas aos
casos ocorridos antes do início da vigência do Marco
Civil da Internet. Ante a já descortinada relevância
do assunto e as alterações do regime legal
introduzidas pela Lei nº 12.965/2014, é imperioso que
esta Corte se manifeste novamente sobre o assunto,
desta feita, sob a perspectiva do normativo vigente
desde 23/6/2014.
Destarte, manifesto-me pela existência de questão
constitucional e pela repercussão geral da matéria.
Brasília, 8 de fevereiro de 2018.

Ministro Dias Toffoli


Relator
Documento assinado digitalmente

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REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.037.396 SÃO


PAULO

PRONUNCIAMENTO

PROVEDOR – MATÉRIA – RETIRADA


DO MUNDO JURÍDICO – AUSÊNCIA –
INDENIZAÇÃO – IMPOSIÇÃO NA
ORIGEM – RECURSO
EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO
GERAL CONFIGURADA.

1. A assessora Dra. Raquel Rodrigues Barbosa de Souza prestou as


seguintes informações:

Eis a síntese do discutido no recurso extraordinário nº


1.037.396, relator o ministro Dias Toffoli, inserido no sistema
eletrônico da repercussão geral em 9 de fevereiro de 2018, sexta-
feira, com termo final para manifestação no próximo dia 1º de
março, quinta-feira.

O Juízo, em ação de obrigação de fazer cominada com


pedido de indenização ajuizada por Lourdes Pavioto Correa,
julgou parcialmente procedente o pedido para condenar
Facebook Serviços Online do Brasil Ltda. a excluir perfil falso
criado em nome da autora, bem como a fornecer informação
referente aos dados de IP (internet protocol) do computador a
partir do qual produzido o perfil. Consignou inexistir ato ilícito
a ensejar danos morais, porquanto Facebook Serviços Online do
Brasil Ltda. aguardou ordem judicial específica para retirada da
página, presentes os artigos 18 e 19 da Lei nº 12.965/2014
(Marco Civil da Internet).

Apreciando os recursos interpostos pela empresa e por


Lourdes Pavioto Correa, a Segunda Turma do Colégio Recursal
de Piracicaba, Estado de São Paulo, reformou parcialmente a

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decisão impugnada. Consignou o dever da primeiro de


indenizar a segunda por danos morais provenientes da inércia
na tomada de providências em relação ao perfil falso e da não
disponibilização de ferramentas que possibilitassem à ofendida
ver retirada a página enganosa. Desobrigou Facebook Serviços
Online do Brasil Ltda. de apresentar os dados de IP (internet
protocol) do computador do qual originado o perfil falso,
considerada a ausência de formalização do pedido, em sede
antecipatória, pela ora recorrida.

Disse ser o artigo 19 da Lei nº 12.965/2014 lesivo à


liberdade de expressão, bem como ao direito básico do
consumidor à efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais, morais, individuais e coletivos difusos. Ressaltou
que o dispositivo incentiva posição de inércia dos provedores
diante da parte ofendida em virtude de violação da intimidade,
vida privada, honra e imagem, articulando incompatibilidade
com o artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal.

Embargos de declaração foram desprovidos.

No extraordinário, protocolado com alegada base nas


alíneas “a” e “b” do permissivo constitucional, Facebook
Serviços Online do Brasil Ltda. sustenta a constitucionalidade
do citado artigo 19, pois em conformidade ao artigo 5º, incisos
IV, IX, X, XIV, XXXV, e artigo 220, cabeça, § 2º, da Lei
Fundamental. Assinala distinção entre o Tema nº 533 da
repercussão geral e o caso concreto, ocorrido após o início da
vigência do Marco Civil da Internet. Argumenta que a
obrigação conferida às empresas privadas de analisar e excluir
conteúdo gerado por terceiros, sem prévia apreciação da
autoridade judicial, configura censura e restrição à liberdade de
manifestação.

Sob o ângulo da repercussão geral, sublinha ultrapassar a


matéria os limites subjetivos da lide, mostrando-se relevante

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dos pontos de vista jurídico, social e econômico. Frisa a


importância e o alcance das redes sociais e dos provedores de
internet na sociedade contemporânea.

A recorrida não apresentou contrarrazões.

O extraordinário foi admitido por decisão da Presidência


deste Tribunal ante requerimento formalizado nos termos do
artigo 1.037, § 9º, do Código de Processo Civil.

O Relator submeteu o processo ao denominado Plenário


Virtual, manifestando-se pela configuração da repercussão
geral. Eis o teor do pronunciamento do ministro Dias Toffoli:

MANIFESTAÇÃO
Direito Constitucional. Proteção aos direitos da
personalidade. Liberdade de expressão e de manifestação.
Violação dos arts. 5º, incisos IV, IX, XIV; e 220, caput, §§ 1º
e 2º, da Constituição Federal. Prática de ato ilícito por
terceiro. Dever de fiscalização e de exclusão de conteúdo
pelo prestador de serviços. Reserva de jurisdição.
Responsabilidade civil de provedor de internet, websites e
gestores de aplicativos de redes sociais.
Constitucionalidade ou não do art. 19 do Marco Civil da
Internet (Lei nº 12.965/14) e possibilidade de se
condicionar a retirada de perfil falso ou tornar
indisponível o conteúdo apontado como infringente
somente após ordem judicial específica. Repercussão geral
reconhecida.
Cuida-se de recurso extraordinário interposto por
Facebook Serviços Online do Brasil Ltda. contra acórdão
prolatado pela Segunda Turma Recursal Cível do Colégio
Recursal de Piracicaba/SP, o qual foi assim ementado:
Obrigação de Fazer c/c indenização por danos
morais R. sentença condenando a ré à exclusão da rede
social do perfil falso da autora, além do fornecimento do

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IP (internet protocol) de onde gerado, indeferindo, porém,


o pleito indenizatório Incidência parcial da Lei nº
12.965/14 (Marco Civil da Internet), que não pode ofender
as garantias constitucionais dadas ao consumidor
Provimento de ambos os recursos: da autora (para
condenar a ré no pagamento de indenização) e da ré (para
desobrigá--la do fornecimento do IP) Sentença
reformada em parte.
O magistrado de primeiro grau julgou parcialmente
procedente a ação para determinar a exclusão do perfil
falso criado em nome da autora, bem como para ordenar
que o Facebook apresentasse, em 10 dias, o número do IP
utilizado para a criação da referida página. Deixou de
acolher, todavia, o pedido de condenação em danos
morais.
Houve recurso inominado de ambas as partes, as
quais lograram parcial sucesso. No ponto que interessa
para o presente recurso, o voto condutor do acórdão
recorrido, reformando a sentença no ponto em que, com
supedâneo no art. 19 da Lei nº 12.965/14, se excluiu a
responsabilidade civil do provedor de serviços, consignou
o seguinte:
Para fins indenizatórios, todavia, condicionar a
retirada do perfil falso somente após ordem judicial
específica, na dicção desse artigo, significaria isentar os
provedores de aplicações, caso da ré, de toda e qualquer
responsabilidade indenizatória, fazendo letra morta do
sistema protetivo haurido à luz do Código de Defesa do
Consumidor, circunstância que, inclusive, aviltaria
preceito constitucional (art. 5º, inciso XXXII, da
Constituição Federal).
Ademais, tal disposição como que quer obrigar,
compelir o consumidor vitimado, a ingressar em Juízo
para atendimento da pretensão que, seguramente, poderia
ser levada a cabo pelo próprio provedor cercando-se de
garantias a fim de preservar, em última análise, a

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
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RE 1037396 RG / SP

liberdade de expressão. Antes, o provedor fica em


confortável, mas não menos desproporcional, posição de
inércia frente à vítima do abuso desse mesmo direito de
manifestação e pensamento, gerando paradoxal
desequilíbrio em relação aos invioláveis direitos à
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem (art. 5º,
inciso X, da Constituição Federal) desta última (vítima).
Inegável que na relação entre as litigantes a autora,
diante de sua notória condição de vítima, equipara-se à
figura do consumidor (art. 17 do Código de Defesa do
Consumidor).
(…)
Destarte, condicionar a responsabilização da ré à
prévia tomada de medida judicial pela autora, na
conformidade do art. 19 do Marco Civil da Internet,
fulminaria seu direito básico de efetiva prevenção e
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos (art. 6º, inciso VI, do Código de Defesa
do Consumidor).
Logo, a indenização pelos danos morais é medida
que se impõe (...) (grifo nosso).
Contra referido decisum foram opostos embargos de
declaração, os quais, todavia, foram rejeitados.
O recurso extraordinário foi aviado com amparo em
pretensa violação dos arts. 5º, incisos IV, IX e XIV, e 220,
caput e §§ 1º e 2º, da Lei Fundamental.
Suscitando o reconhecimento de repercussão geral
ocorrido no ARE nº 660.861/MG, de relatoria do Ministro
Luiz Fux, aduz o recorrente que a presente lide possui
transcendência e relevância, uma vez que trata de assunto
similar ao do Tema nº 533 qual seja, responsabilidade
civil do prestador de aplicações de internet e reserva de
jurisdição , com a diferença de que, naquele leading case,
os fatos se deram antes da vigência do Marco Civil da
Internet, enquanto, no caso dos autos, se lida com fatos
subsumidos na Lei nº nº 12.965/14. Essa distinção,

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segundo o recorrente, justifica que o presente caso não seja


simplesmente sobrestado para aguardar o julgamento do
Tema 533, mas recebido e julgado por este E. Supremo
Tribunal Federal.
O recorrente defende a existência de relevância
jurídica do caso, na medida em que, ao declarar a
inconstitucionalidade do art. 19 da Lei nº 12.965/14 e
aplicar a responsabilidade objetiva prevista no Código de
Defesa do Consumidor, o acórdão recorrido teria aplicado
um duro golpe à segurança jurídica que existia naquele
momento.
Haveria também repercussão econômica, uma vez
que aquilo que aqui se decidir afetará todos os provedores
de aplicação de internet atuantes no Brasil, os quais, sob
pena de responderem objetivamente perante milhões de
usuários, ver-se-iam obrigados a arrogarem para si o
papel de censores que lei específica e posterior ao CDC
reservou ao Poder Judiciário. Por fim, encontrar-se-ia
presente também a transcendência social: em primeiro
lugar, pelo efeito multiplicador da presente demanda; em
segundo lugar, pela relevância que a internet assumiu na
vida dos cidadãos, ao tornar-se parte imprescindível da
sociedade contemporânea.
Nas razões de apelo extremo, o recorrente defende,
de início, a constitucionalidade do já referido art. 19 do
Marco Civil da Internet, cuja análise sistemática
evidenciaria que o legislador optou, conscientemente, por
adotar como princípios norteadores a vedação à censura, a
liberdade de expressão e a reserva de jurisdição. Assim,
salvo na exceção do art. 21, não caberia falar em censura
ou filtro à liberdade de expressão, somente sendo possível
se cogitar a responsabilidade civil do provedor de
aplicações de internet por danos decorrentes de conteúdo
gerado por terceiros após ordem judicial específica.
Aduz o recorrente que a liberdade de comunicação
consagrada pela Carta Política traduz não apenas direitos

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individuais de difundir conteúdo de diversas naturezas,


mas também um direito de dimensão coletiva, no sentido
de permitir que os indivíduos e a comunidade sejam
informados sem censura.
Afirma, ainda, que um comando judicial que
estabelecesse, por via transversa, ser obrigação dos
provedores de aplicações de internet as tarefas de analisar
e excluir conteúdo gerado por terceiros, sem prévia análise
pela autoridade judiciária competente, acabaria por impor
que empresas privadas passem a controlar, censurar e
restringir a comunicação de milhares de pessoas, em
flagrante contrariedade àquilo que estabeleceram a
Constituição Federal e o Marco Civil da Internet.
Argumenta, adicionalmente, que os dispositivos
constitucionais suscitados pelo decisum combatido para
embasar a declaração de inconstitucionalidade não
traduzem aquilo que o acórdão deles inferiu. Isso porque
o Marco Civil da Internet, enquanto lei federal específica e
posterior de grau hierárquico idêntico ao do CDC, não
derroga ou elimina as conquistas estabelecidas pela
legislação consumerista antes as corrobora. Nesse
sentido, a referida normatização teria se limitado a
determinar, no caso específico da veiculação de conteúdo
ilícito em provedor de aplicações, que cabe ao Judiciário
e apenas a ele decidir pela censura ou não, advindo a
responsabilidade civil do provedor do respeito ou não à
ordem judicial. A par disso, o Supremo Tribunal Federal,
ao deparar-se, em situações pretéritas, com conflitos de
normas consumeristas, teria decidido em favor da norma
específica qual seja, o Marco Civil da Internet.
O recorrente prossegue defendendo que o segundo
dispositivo a fundamentar a declaração de
inconstitucionalidade ora questionada o art. 5º, inciso X
foi devidamente sopesado pelo legislador no processo
legislativo que culminou com a Lei nº 12.965/2014, tendo
esse último optado por minimizá-lo em prol da liberdade

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de expressão e da vedação à censura.


Por fim, articula também a suposta violação do art.
5º, incisos II e XXXV, da Lei Fundamental. Isso porque,
existindo lei a estabelecer expressamente que a remoção
de conteúdo somente poderá ser feita após ordem judicial
específica, condenar o recorrente pelo não atendimento de
notificação extrajudicial implicaria clara ofensa ao
princípio da legalidade. Não fosse o bastante, ao entender
que a parte irresignada teria sido omissa, sob a premissa
de que, após notificada pela recorrida, deveria ter excluído
o perfil apontado como impostor, o acórdão combatido
também teria incorrido em violação do princípio da
reserva de jurisdição, uma vez que incumbiria tão somente
ao Poder Judiciário decidir se o perfil em questão era ou
não falso e deveria, como consequência, ser censurado.
Insta definir aqui se, à luz dos princípios
constitucionais e da Lei nº 12.965/2014, a empresa
provedora de aplicações de internet possui os deveres (i)
de fiscalizar o conteúdo publicado nos seus domínios
eletrônicos, (ii) de retirar do ar informações reputadas
como ofensivas mediante simples notificação
extrajudicial e (iii) de se responsabilizar legalmente pela
veiculação do aludido conteúdo antes da análise pelo
Poder Judiciário.
A matéria suscitada no recurso extraordinário conta
com inequívoca repercussão geral, já reconhecida por
ocasião da submissão do ARE nº 660.861/MG ao Plenário
Virtual. Com efeito, razão assiste à parte quando aduz que
o tema veiculado no presente recurso é similar ao daquele,
com a diferença de que, in casu, está-se a lidar com caso
ocorrido após o início da vigência do Marco Civil da
Internet.
Independentemente disso, a transcendência e a
relevância são inequívocas, uma vez que a matéria em
questão, dadas a importância e o alcance das redes sociais
e dos provedores de aplicações de internet nos dias atuais,

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constitui interesse de toda a sociedade brasileira.


Não fosse o suficiente, o debate atinente aos deveres
e à responsabilidade legal dos provedores de aplicações de
internet por atos ilícitos praticados por terceiros à luz da
Lei nº 12.965/2014 poderá embasar a propositura de
milhares e milhares de ações em todo o país. A par do
impacto sobre o Judiciário, há de se considerar também o
impacto financeiro sobre as empresas provedoras de
aplicações de internet, o que pode, em última instância,
reverberar na atividade econômica como um todo.
A par disso, a discussão em pauta resvala em uma
série de princípios constitucionalmente protegidos,
contrapondo a dignidade da pessoa humana e a proteção
aos direitos da personalidade à liberdade de expressão, à
livre manifestação do pensamento, ao livre acesso à
informação e à reserva de jurisdição. Dada a magnitude
dos valores envolvidos, afigura-se essencial que o
Supremo Tribunal Federal, realizando a necessária
ponderação, posicione-se sobre o assunto.
Por fim, vale assinalar que aquilo que se decidir no
ARE nº 660.861/MG aplicar-se-á, em tese, apenas aos casos
ocorridos antes do início da vigência do Marco Civil da
Internet. Ante a já descortinada relevância do assunto e as
alterações do regime legal introduzidas pela Lei nº
12.965/2014, é imperioso que esta Corte se manifeste
novamente sobre o assunto, desta feita, sob a perspectiva
do normativo vigente desde 23/6/2014.
Destarte, manifesto-me pela existência de questão
constitucional e pela repercussão geral da matéria.

Brasília, 8 de fevereiro de 2018.


Ministro Dias Toffoli
Relator
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2. Tem-se tema de repercussão maior a envolver, como ressaltado


pelo Relator, princípios constitucionais e a respectiva harmonização.
Cumpre definir a responsabilidade de provedor relativamente ao que
veiculado por terceiros.

3. Admito configurada a repercussão geral.

4. À Assessoria, para acompanhar a tramitação do incidente,


inclusive quanto a processos que, no Gabinete, versando a mesma
matéria, aguardam exame.

5. Publiquem.

Brasília – residência –, 19 de fevereiro de 2018, às 16h30.

Ministro MARCO AURÉLIO

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