Material - Dir Constitucional I
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1.2. CONCEITOS
Inicialmente é importante entender que há diversas acepções sobre a definição e conceito de Constituição.
Contudo, há algumas mais conhecidas, sendo imperioso conhecer os três sentidos mais usados:
Sentido sociológico. Tem como principal representante Ferdinand Lassale. Este conceito no diz que a
Constituição não seria uma norma, mas sim um fato social. A Constituição é o resultado das forças sociais
que existem no País – ou seja, seria a soma dos fatores reais de poder. Neste sentido, a Constituição
escrita seria apenas uma folha de papel, nunca podendo conflitar com os fatores reais de poder.
Sentido político. Desenvolvida por Carl Schmitt, a Constituição seria uma decisão política fundamental. A
Constituição surge a partir de um ato constituinte, não importando o conteúdo de suas normas.
Nessa concepção foi estabelecida a diferença entre Constituição e Leis Constitucionais. A Constituição
disporia somente sobre as matérias de grande relevância jurídica (organização do Estado, direitos
fundamentais, dentre outros); as demais normas integrantes do texto seriam apenas leis constitucionais.
Por exemplo, o art. 242, §2º, da CRFB/88:
Art.242. § 2º - O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal.
Sentido jurídico. A Constituição é vista puramente como norma jurídica, sem pretensão a fundamentação
sociológica, política ou filosófica. Tem como principal pensador Hans Kelsen. A validade da Constituição
independe de sua aceitação pelos valores sociais vigentes em uma comunidade. Se é Constituição, é o topo
do ordenamento jurídico, e todas as outras normas devem a ela obediência. O fundamento de validade da
Constituição está exatamente relação de hierarquia existente entre a Constituição e as normas
infraconstitucionais.
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Sentido material e formal. Estes sentidos derivam da concepção política de Constituição (Carl Schmitt).
Constituição em sentido material seria representada pelas normas essenciais à estruturação do Estado, à
regulação do exercício do poder e ao reconhecimento de direitos fundamentais aos indivíduos.
Já a Constituição em sentido formal diz respeito à existência de um documento único, podendo haver
normas de qualquer conteúdo, inclusive, é claro, as acima citadas. Todas as normas presentes na
Constituição possuem hierarquia constitucional, não importando o tema que tratem.
Sentido culturalista. Aqui .se entende a Constituição como produto de um fato cultural, produzido pela
sociedade e que nela pode influir. Recebe a influência dos seguintes fatores:
a) Reais: natureza humana, geografia, usos, costumes, tradições, economia).
b) Espirituais: sentimentos; ideias morais, políticas e religiosas.
c) Racionais: técnicas e conceitos jurídicos.
d) Voluntaristas: vontade daquela comunidade em determinar a forma de convivência política e social.
Constituição aberta. Esta ideia fundamenta-se no sentido de que a Constituição possa permanecer dentro
de seu tempo e, assim, evitar risco de desmoronamento de sua força normativa.
1.3. CLASSIFICAÇÃO
QUANTO À ORIGEM: outorgadas, promulgadas ou cesaristas.
a) Outorgadas. São aquelas impostas, que nasceram sem participação popular. Resultam de um ato
unilateral de uma pessoa ou de um grupo detentor do poder.
b) Promulgadas. Populares ou democráticas. São aquelas produzidas com a participação popular,
normalmente através de representantes do povo pela chamada “Assembleia Constituinte”.
c) Cesaristas. São outorgadas, mas dependem de ratificação popular por meio de referendo. Ou seja, cabe
ao povo apenas referendar a vontade do agente revolucionário, detentor do poder.
QUANTO À FORMA: escritas ou não-escritas.
a) Escritas. Conjunto de normas codificado e sistematizado em um único documento.
b) Não-escritas. Costumeiras ou consuetudinárias. Aqui as normas constitucionais não são solenemente
elaboradas, nem estão codificadas num único documento. Fazem parte das normas constitucionais leis
esparsas, conversões e a jurisprudência. É o caso da Constituição Inglesa.
QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO: dogmáticas ou históricas.
a) Dogmáticas. Sempre escritas, são elaboradas em um dado momento por um órgão constituinte,
segundo os dogmas ou ideias fundamentais existentes em determinada sociedade.
b) Históricas. Estas resultam de uma lenta formação histórica, da evolução das tradições, representando
uma síntese do que foi vivido por determinada sociedade. É o caso da Constituição Inglesa.
QUANTO AO CONTEÚDO: material ou formal.
a) Material. Aqui se leva em consideração para a identificação de uma norma constitucional o seu
conteúdo. Logo, são normas materialmente constitucionais aquelas que tratam da organização do poder,
que distribuem competências, que tratam dos direitos da pessoa humana. Aquelas essenciais para a
regulação básica da vida em sociedade.
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b) Formal. São normas constitucionais todas aquelas que integram uma constituição escrita, elaborada
através de um processo especial, independentemente de seu conteúdo. Ou seja, aqui se leva em
consideração o processo de elaboração. Se foram elaboradas através de um processo diferenciado e
solene, é Constituição.
QUANTO À ESTABILIDADE OU ALTERABILIDADE: imutáveis, rígidas, flexíveis ou semirrígidas.
a) Imutáveis. Aquelas que não admitem modificação de seu texto. Esta espécie está em desuso.
b) Rígidas. Quando exige um processo legislativo especial para a modificação de seu texto, mais difícil do
que o processo legislativo das demais leis do ordenamento jurídico. Veja:
CRFB/88 - Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma
delas, pela maioria relativa de seus membros.
§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se
aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos
previstos nesta Constituição.
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação,
e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.
c) Flexíveis. São aquelas que permitem sua modificação pelo mesmo processo legislativo de elaboração e
alteração das demais leis do ordenamento.
d) Semirrígidas. Aquelas que exigem um processo legislativo mais difícil para alteração de parte de seus
dispositivos e permite a mudança de outros dispositivos por um procedimento mais simples, semelhante
àquele adotado para as demais leis.
QUANTO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE (OU CRITÉRIO ONTOLÓGICO): normativas, nominais
ou semânticas. Conceito elaborado por Karl Loewenstein.
a) Normativas. São aquelas que estão em plena consonância com a realidade social, e assim regulam a vida
política do Estado. Todos obedecem ao conteúdo da Constituição.
b) Nominais (nominalistas ou nominativas). São aquelas que, embora elaboradas para regular a vida
política do Estado, não conseguiram efetivamente cumprir este papel, por estarem em descompasso com a
realidade social.
c) Semânticas. São as que desde a sua elaboração não visam a regular a vida política do Estado, mas apenas
conferir legitimidade ao poder de que se encontra nele investido.
QUANTO À EXTENSÃO: analíticas ou sintéticas.
a) Analíticas, longas, extensas ou prolixas. Aquelas que possuem conteúdo extenso, que versam sobre
matérias outras que não a organização básica do Estado. Contêm normas materialmente constitucionais e
formalmente constitucionais.
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b) Sintéticas, concisas, breves ou sumárias. Aquelas que possuem conteúdo abreviado, versando apenas
sobre a organização básica do Estado e os Direitos Fundamentais. É o Caso da Constituição dos EUA.
QUANTO À FINALIDADE: constituição-garantia, constituição-balanço ou constituição-dirigente.
a) Constituição-garantia. Aquela de texto reduzido (sintética), tendo como preocupação principal a
limitação do poder estatal. Por isso se fala em “garantia”, pois o texto constitucional busca fixar as
garantias individuais frente ao Estado.
b) Constituição-balanço. Aquela destinada a registar um dado estágio das relações de poder no Estado. Foi
elaborada para espelhar certo momento político, findo o qual é elaborado um novo texto para o período
seguinte. Ocorreu na antiga URSS, em 1924, 1936 e 1977, cada momento desses fazendo um balanço de
cada estágio do Socialismo.
c) Constituição-dirigente. Aquela de texto extenso (analítica) define fins, programas, planos e diretrizes
para a atuação futura dos órgãos estatais. Estabelece um programa para dirigir a evolução política do
Estado.
QUANTO À DOGMÁTICA: ortodoxa ou eclética.
a) Ortodoxa. Aquela formada por uma só ideologia, por exemplo, as Constituições da China Marxista.
b) Eclética. Aquela formada por ideologias conciliatórias. É o caso da Constituição Brasileira.
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ELEMENTOS CONEXÃO/TIPIFICAÇÃO
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PREÂMBULO:
Em breve explanação, pode ser facilmente compreendido o que é preâmbulo tomando por base o
entendimento do Ministro Celso de Mello, que após interessante estudo, conclui que “o preâmbulo ... não
se situa no âmbito do Direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica do constituinte (...).
Não contém o preâmbulo, portanto, relevância jurídica. O preâmbulo não constitui norma central da
Constituição, de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro. O que acontece é que o
preâmbulo contém, de regra, proclamação ou exortação no sentido dos princípios inscritos na Carta”.
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ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO:
CONCEITO
→ A CF de 1988 está dividida em três partes: preâmbulo, parte dogmática (normas centrais) e ato das disposições transitórias (ADCT).
PREÂMBULO → O preâmbulo seria a parte preliminar que anuncia o que está por vir na CF, não possuindo força normativa,
conforme entendimento do STF que já se pronunciou acerca disso ao adotar a tese da irrelevância jurídica do
preâmbulo. Portanto, importante referir que não é uma norma de observância obrigatória pelos Estados, DF e
Municípios, ou seja, esses entes não precisam, pelo Princípio da Simetria da Constituição, repeti-lo em suas
constituições ou leis orgânicas.
PARTE → Sobre a parte dogmática, tem-se que é a maior parte da Lei Maior. Trata-se dos 250 artigos distribuídos nos 9
DOGMÁTICA títulos da CF. Essa parte carrega todas as normas essenciais (direitos fundamentais, estrutura do Estado
federal, competências de cada ente, etc.), mas também possui inúmeras regras apenas de cunho formal
(relacionadas à organização básica do Estado).
ADCT → A CF de 1988 ainda contém em sua estrutura uma importante parte responsável por assegurar a harmonia
entre o antigo e o novo regime constitucional. Trata-se dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias -
ADCT, os quais se exaurem tão logo cumprem o seu papel transitório. É importante salientar, contudo, que
podem ser objeto de controle de constitucionalidade e possuem a mesma hierarquia das normas centrais.
→ TÍTULO I → DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS → CAPÍTULO I → DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
→ CAPÍTULO II → DOS DIREITOS SOCIAIS
DOS DIREITOS E GARANTIAS → CAPÍTULO III → DA NACIONALIDADE
→ TÍTULO II → FUNDAMENTAIS → CAPÍTULO IV → DOS DIREITOS POLÍTICOS
→ CAPÍTULO V → DOS PARTIDOS POLÍTICOS
DA DEFESA DO ESTADO E DAS → CAPÍTULO I → DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO → SEÇÃO I → DO ESTADO DE DEFESA
→ TÍTULO V → INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS → SEÇÃO II → DO ESTADO DE SÍTIO
→ SEÇÃO III → DISPOSIÇÕES GERAIS
→ CAPÍTULO II → DAS FORÇAS ARMADAS
→ CAPÍTULO III → DA SEGURANÇA PÚBLICA
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→ TÍTULO VI → DA TRIBUTAÇÃO E DO ORÇAMENTO → CAPÍTULO I → DO SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL → SEÇÃO I → DOS PRINCÍPIOS GERAIS
→ SEÇÃO II → DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR
→ SEÇÃO III → DOS IMPOSTOS DA UNIÃO
→ SEÇÃO IV → DOS IMPOSTOS DOS ESTADOS E DO DF
→ SEÇÃO V → DOS IMPOSTOS DOS MUNICÍPIOS
→ SEÇÃO VI → DA REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS
→ TÍTULO VII → DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA → CAPÍTULO I → DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA
→ CAPÍTULO II → DA POLÍTICA URBANA
→ CAPÍTULO III → DA POLÍT. AGRÍC. E FUNDIÁRIA E DA REF. AGRÁRIA
→ CAPÍTULO IV → DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
→ SEÇÃO I → DISPOSIÇÕES GERAIS
→ TÍTULO VIII → DA ORDEM SOCIAL → CAPÍTULO I → DISPOSIÇÃO GERAL → SEÇÃO II → DA SAÚDE
→ CAPÍTULO II → DA SEGURIDADE SOCIAL → SEÇÃO III → DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
→ SEÇÃO IV → DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
→ ADCT
Soberania: poder político supremo e independente. Supremo: não está limitado a nenhum outro na ordem
interna. Independente: na sociedade internacional, não tem que acatar regras que não sejam
voluntariamente aceitas.
Valores sociais do trabalho: alcança apenas o trabalhador subordinado? Não, também o autônomo!
Pluralismo político: busca garantir a ampla e livre participação popular nos destinos políticos do país. Três
consequências:
1) Liberdade de convicção filosófica.
2) Liberdade de convicção política.
3) Possibilidade de organização e participação em partidos políticos.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição.
REPÚBLICA: É a forma de governo eleita pelo legislador constitucional, com a finalidade de organizar
politicamente o Estado.
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Possui características como: (i) representatividade; (ii) eletividade; (iii) periodicidade; (iv) responsabilidade;
e (v) soberania popular.
FEDERAÇÃO: É a forma de Estado eleita pelo legislador constituinte, em que os Estados e o DF são
autônomos, mas se reúnem em forma de uma única pessoa de direito público a que se subordinam,
objetivando a organização estrutural da sociedade. É formada a partir da Constituição, que confere
autonomia aos entes federados e é indissolúvel.
Possui características como: (i) autonomia financeira, administrativa e política; (ii) repartição de
competência para legislar e arrecadar impostos; (iii) rigidez constitucional, sendo necessário quórum
qualificado para ser alterada; (iv) ser o STF o órgão máximo do Poder Judiciário, incumbindo de resguardar
a aplicação das normas insertas na CRFB/88; (v) Intervenção federal como mecanismo de proteção dessa
forma de Estado; e (vi) unidade de nacionalidade, pois a CRFB/88 de ve ser observada por todos os
cidadãos.
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: Regime de governo eleito pelo legislador constituinte de 1988. Trata-
se da evolução do Estado de Direito, que emergiu com o Liberalismo, e do Estado Social, possuindo
características de ambos, mas constituindo um regime de governo novo.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Asilo político: consiste no acolhimento de estrangeiro pelo Brasil em virtude de perseguição por ele sofrida
em seu próprio Estado ou por terceiro. Causas:
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1) Dissidência política.
2) Livre manifestação do pensamento.
3) Crimes relacionados com a segurança do Estado, que não configurem delitos no Direito Penal
comum.
Concessão por ato do Presidente da República, passível de controle de legalidade pelo STF. Configura ato de
soberania estatal da República Federativa do Brasil.
Concessão do asilo implica a impossibilidade de posterior extradição? NÃO!
Desde que o fato ensejador da extradição não configure crime político ou de opinião (art. 5º, LII, CF/88).
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural
dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
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povo. Acaba ocorrendo o chamado exercício autocrático do poder, através do processo de outorga da
Constituição.
Já o exercício democrático ocorre, normalmente, através da assembleia nacional constituinte, resultando
em uma Constituição promulgada. Ressalte-se que se admite também o exercício do Poder Constituinte
pelo agente revolucionário, resultando numa constituição outorgada.
A Assembleia Nacional Constituinte titulariza o Poder Constituinte?
NÃO! Ela é apenas uma forma de exercício deste Poder, o qual é titularizado pelo POVO.
Povo e população são conceitos sinônimos?
NÃO.
POVO = NATO/NATURALIZADO POPULAÇÃO = NATO/NATURALIZADO/ESTRANGEIRO/APÁTRIDAS
ESPÉCIES
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO.
É aquele que inaugura uma nova ordem jurídica, seja através de uma Constituição ou mesmo por Atos
Institucionais. É um poder essencialmente político. Tanto haverá poder Constituinte no surgimento de uma
primeira Constituição, quanto na elaboração de qualquer Constituição posterior.
É possível classificar o PCO em histórico/fundacional ou revolucionário. No primeiro caso, ocorre quando se
estrutura, pela primeira vez, o Estado. Já o segundo decorre da ruptura com a antiga ordem constitucional
e instaura uma nova.
O Poder Constituinte Originário possui as seguintes características:
a) é inicial, pois sua obra – a Constituição – é a base da ordem jurídica. Não se funda em outros, e
os poderes derivam dele.
b) é ilimitado e autônomo, pois não está de modo algum limitado pelo direito anterior, não tendo
que respeitar os limites postos pelo direito positivo antecessor.
c) é incondicionado, pois não está sujeito a qualquer forma prefixada para manifestar sua vontade;
não tem ela que seguir qualquer procedimento determinado para realizar sua obra de constitucionalização.
d) é permanente, pois não desaparece com a elaboração da Constituição, estando latente, podendo
se manifestar a qualquer tempo.
PODER CONSTITUINTE DERIVADO.
É aquele previsto no texto da Constituição, sendo essencialmente jurídico. Ele conhece de limitações
constitucionais expressas, sendo assim subordinado aos limites do texto da Constituição e condicionado ao
procedimento de alteração estabelecido pelo Texto Maior. Temos duas espécies:
a) Reformador. É aquele que tem o poder de modificar a Constituição, desde que respeitadas as regras e
limitações impostas pelo poder constituinte originário. Está previsto no corpo permanente da CF/88. No
Brasil, é atribuído ao Congresso Nacional, que pode alterar o texto da Constituição, desde que respeitados
os procedimentos e limitações especiais assim estabelecidos.
A doutrina classifica as limitações impostas ao poder reformador em quatro categorias:
1 – temporais: quando a Constituição estabelece um período em que seu texto não pode ser
modificado;
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retirada do sistema, seja por meio da revogação, seja por meio da declaração de inconstitucionalidade pelo
Supremo Tribunal Federal (STF).
VIGÊNCIA: É a propriedade que as normas jurídicas possuem para gerar efeitos quando ocorrer os eventos
por elas descritos. É a força da norma disciplinar e reger os comportamentos no mundo social, cumprindo,
assim, seus objetivos. Há normas que existem, são válidas no sistema jurídico, mas não são vigentes. Ainda
que ocorram os fatos que elas preveem, elas não produzirão efeitos. Chama-se esse evento de vacatio
legis.
ATENÇÃO: vigência não é a mesma coisa que aplicação das normas jurídicas. Em caráter
de exceção, há casos em que a norma não está vigente, porém tem aplicação no mundo
jurídico relativo a fotos pretéritos aa sua revogação normativa.
EFICÁCIA: Primeiro é importante compreender que o conceito/definição de eficácia para o mundo do
Direito não possui acepção única. Nesse sentido, comporta principalmente compreender algumas visões.
CLASSIFICAÇÃO DE PAULO DE BARROS CARVALHO
A) EFICÁCIA TÉCNICA: é a condição que a norma possui de descrever acontecimentos do mundo real ou
social, que irradiem efeitos jurídicos, removidos os obstáculos que impediam a programação desses efeitos.
Um exemplo é o direito trabalhista das domésticas, que somente puderam ser por elas exigidos a partir da
regulamentação da Emenda Constitucional 72/13.
B) EFICÁCIA JURÍDICA: é o próprio mecanismo da incidência, em que efetivado o que está previsto na
norma, são projetados os seus efeitos prescritos. Um exemplo é o art. 121 do CP, que afirma ser crime
matar alguém. Afere-se a eficácia jurídica dessa norma a partir do momento em que em sujeito mata
alguém.
B) NORMAS DE EFICÁCIA CONTIDA: também estão aptas a produzir seus efeitos integrais desde a entrada
em vigor da CF/88; mas podem sofrer restrição posteriormente. (Ex.: Art. 5º, XIII, CRFB/88) Aplicabilidade:
- imediata: estão aptas a produzir efeitos imediatamente, com a simples entrada em vigor da CF/88.
- direta: incidem diretamente, sem depender de nenhuma norma regulamentadora para produzir efeitos.
- não-integral: como podem sofrer restrição, acabam por não possuir aplicação integral.
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B) NORMAS DE EFICÁCIA PLENA: correspondem às normas de eficácia plena de José Afonso da Silva.
1.11. NACIONALIDADE
DEFINIÇÃO CONSTITUCIONAL DE BRASILEIRO
ATENÇÃO: EC 131/2023 - Altera o art. 12 da Constituição Federal para suprimir a perda da
nacionalidade brasileira em razão da mera aquisição de outra nacionalidade, incluir a exceção
para situações de apátrida e acrescentar a possibilidade de a pessoa requerer a perda da própria
nacionalidade.
Art. 12. São brasileiros:
Art. 12, I - NATOS:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a
serviço da República Federativa do Brasil;
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c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (EC nº 54, de 2007)
RECIPROCIDADE
§ 1º - Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de
brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
(EC nº 3, de 1994)
PERDA DA NACIONALIDADE
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse
nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: (EC nº 3, de 1994)
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; (EC nº 3, de 1994)
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; (EC nº
3, de 1994)
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de fraude relacionada ao
processo de naturalização ou de atentado contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 131, de 2023)
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