Comentários Livres À Declaração de Paris para A Filosofia
Comentários Livres À Declaração de Paris para A Filosofia
Comentários Livres À Declaração de Paris para A Filosofia
- Nico
Não me diga que para nada serve o filosofar, que se trata de atividade de loucos e
desocupados. Se de loucos podemos até repensar melhor, porém, sempre de sujeitos
inquietos e ocupados com temas tão caros à vida e existência humana.
Imagine que havia um “maluco” desses no centro de uma grande metrópole, como era
de seu costume ele tomava um bom gole de dúvida e inquietação e acendia seu
cachimbo com o fumo da admiração. Milhares de pessoas transitando como num
formigueiro ao seu entorno e ele se via obrigado a parar; então, observava e pensava...
- “Por que estas pessoas caminham tão ligeiramente, como que correndo contra o
tempo? O que é o tempo para elas? ”
- “Será que são felizes em fazer isso todos os dias? O que é a felicidade para elas? ”
- “Será que elas sabem quem realmente são? Qual a concepção humana de cada um? ”
- “Se todos somos gente por que estas pessoas estão em condições inferiores à dos
animais? ”
- “Por que não nos comovemos com elas e temos medo que façam mal às nossas
propriedades privadas? ”
Enfim, esta é uma parada rápida no centro metropolitano que amigo do saber
experimenta. No início as indagações parecem ser simples e pouco frutíferas. Mas se
se trata da vida e existência dos homens considerados universalmente devem se
transformar em ações e em benefício da humanidade como entendia Platão o que era a
Filosofia.
AUTOBIOFILOSOFIA DO BENTO
- Bento
Meu caro, me perdoe o caráter autobiográfico desses simplórios versos, mas eu preciso
falar! Perdoe também a grosseria dos acentos que faltarem, pois se o comentário é livre,
livre também me sinto para deixá-los correrem para onde quiserem. Agora tratemos do
assunto que nos é comum, ou melhor, da nossa amiga Filosofia. A filosofia muito
contribuiu para minha compreensão dos fenômenos ao meu redor até aqui, tanto dos
externos quanto dos internos a minha consciência, eu que sou constantemente assediado
pelo niilismo político e existencial, que tantas vezes me sinto sem esperança frente a um
mundo que se apresenta indiferente as minhas aspirações e dores, que escrevo boa parte
de meus textos com o sangue mais do que com a razão, aprendi com os cínicos que não
sou obrigado a me submeter a convenções sociais irrefletidas filhas de uma tradição
miserável e contraproducente que mais contribui para o extermínio da espécie humana
do que o contrário, aprendi com Platão que não sou escravo da matéria, que meu
pensamento pode e muitas vezes deve se sobrepor a sensações físico-químicas que
atrapalham minha compreensão da realidade, aprendi com Marx que estruturas sociais
injustas podem me fazer acreditar que meu “fracasso” pessoal é tão somente fruto de
minhas ações, aprendi com os existencialistas franceses que posso resignificar
realidades sôfregas que se apresentam a mim sem nenhum sentido e sem nenhuma
justificação aparente, aprendi com Agostinho que a fé é a realização da razão e aprendi
também mais uma dezena de coisas que no momento prefiro não pronunciar. Creio, meu
caro, que a filosofia é um dos instrumentos que podem nortear a conduta humana e seus
atos no mundo e digo isso não meramente por conhece – lá, mas sobretudo por vive –lá,
pois nesses poucos anos em que a tenho tido como companheira, não foram poucas as
vezes em que ela foi o fôlego com o qual o criador me arrancou do desespero.
Assim termino esse breve e modesto comentário, obrigado pela iniciativa, a beleza de
sua alma me inspira a viver meu nobre amigo, que Deus o abençoe.
A BENDITA CALMA DO FILOSOFAR
- Nico
Ah, bendita calma que pressupõe o êxito do lapidar da rocha bruta de mármore de
Victor Brecheret para se alcançar a refinada Musa Impassível, de Michelangelo para se
chegar ao magnífico David.
É assim o filosofar… com calma! A virtude necessária para transformar o senso comum
em refinada reflexão, em magnífico conhecimento. No filosofar não se tem pressa de
analisar a ideia que seja, de precisar a definição exata das noções, verificar a validade
dos raciocínios e em examinar os argumentos dos outros; neste caminho, se produz as
mais belas artes intelectuais.
É um paulatino processo esclarecedor! Que quanto mais se exercita mais autônomo fica
- ao aprender por si mesmo a pensar. É como aquele boi que diminui as passadas na
corrida do rebanho, inquieto questiona por que corria daquela forma, por que comia a
pastagem que comia e trabalhava como trabalhava. Sim, passa ele a questionar a ideia
que seus companheiros de sítio acatam sem pensar; aos poucos, se torna um bicho
selvagemente esclarecido – domável senão pela própria razão.
Não pense que é tarefa fácil, não pense que conseguirá sozinho, sem frustrações e sem
amigos. Tal como Brecheret, Michelangelo e o boi sofreram e sem dúvidas precisaram
de ajuda – talvez para terem a bendita calma mesmo – até chegarem onde chegaram, o
filósofo também há enfrentar as mesmas peripécias. Eu que sou um embrião de filósofo,
já passo por isso. É duro ousar ser sábio como incentiva Kant, mas creio que vale a
pena.
OS PENSAMENTOS E O MEU PENSAR
- Bento
Pensar por si mesmo? O que será isso? É possível começar a pensar sem antes ter
recebido uma mínima bagagem de pensamentos de outrem para compor os nossos?
Existem ideias inatas ou elas só existem a partir da experiência? Independente das
respostas as quais cheguemos é importante termos em mente que o motor da Filosofia
são as indagações e na busca pelas possíveis respostas para as mesmas é que
começamos a filosofar, para Kant ninguém ensina filosofia o que se ensina é a
filosofar, todavia, Hegel que foi um filósofo tão importante quanto o primeiro aqui
citado, acreditava que é impossível ensinar a filosofar sem ensinar filosofia. Penso que
essas duas visões se complementam na medida em que é tomando contado com as
grandes ideias, que passamos a compor as nossas, nesse sentido, podemos ter uma
certa autonomia em relação a vulgaridade cognitiva da sociedade contemporânea que
violenta a subjetividade dos indivíduos todos os dias massificando e padronizando as
vontades, as formas de vida, os hábitos de consumo e etc.
Que a filosofia seja então a nossa arma e que tenhamos cada dia mais a coragem
necessária para pularmos no abismo dançando.
A FILOSOFIA E O DESENVOLVIMENTO PESSOAL E SOCIAL
- Nico
É certo que uma das funções essenciais da filosofia é a sabedoria de vida, isto
é, entendimentos para uma vida feliz e ética, pessoal e socialmente. Que o diga
Agostinho em “Confissões” relatando sob olhar argutamente sábio os feitos de sua
vida errante para deles extrair lições e deixar de errar, ou talvez, Schopenhaeur em
“Aforismos para Sabedoria na Vida” difundindo uma série de máximas e explicações
racionais para edificação do espírito (considerado o mais importante por ele) para
minimente se bem viver.
Ele deixa de ser uma pessoa indiferente, as questões da polis lhe afeta e o
convida a contribuir de forma responsável com seus deveres fundamentais como quem
faz parte de um povo; somos seres sociais disse Aristóteles.
- Bento
Meus caros, a educação filosófica em tempos tais como o nosso se faz mais do
que necessária, se faz obrigatória! O fanatismo fundamentalista e sua necropolítica são
uma das maiores evidências de que é impossível uma cultura de paz sem o constante
enfrentamento e discussão de temas que afetam diretamente a vida de milhares de
pessoas que nada tem a ver com esse reacionarismo orgulhoso de sí e sua marcha
rumo a destruição do estado democrático de direito. A paz é um construto social que
compete a todos nós enquanto cidadãos e a responsabilidade pela construção da
mesma também, todavia, como nos foi ensinado pelos antigos, dificilmente
chegaremos a ela sem o amor pela Philos, sem o cultivo da filosofia.
JULGAMENTO
- Nico
Com a caneta em mãos julguei o que deveria colocar neste escrito. Antes disso,
com a agenda aberta, julguei qual seria o melhor dia da semana para eu produzir tal
texto. E antes mesmo da agenda ser aberta eu julguei quão tolo fui por não ter me
organizado nas semanas passadas afim de escrevê-lo... Julgamento! Me parece que
estamos o tempo todo a julgar as coisas, pessoas, ações, omissões, e que tal exercício
nos coloca em movimento na vida. Aristóteles disse que esta é uma faculdade de todos
os animais; Kant argumenta que é mesmo o exercício do intelecto, e outros pensadores
que é a segunda capacidade psíquica depois da apreensão, sendo responsável por
assentir ou dissentir, afirmar ou negar. Logo, por ser um animal e ter esta capacidade
desenvolvida como ser humano, depois de ler este texto provavelmente você vai julgá-
lo, ou quem sabe já o fez, ao ver o título.