1 Inic1
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A jurisprudência tem firme o entendimento de que, no caso de ação de reparação por
danos morais que envolve fatos com repercussão na imprensa - tal como se verifica no presente
caso, referido dispositivo legal deve ser interpretado de forma a autorizar a sua propositura no
local onde a vítima vive ou trabalha, vez que sendo as reportagens lesivas amplamente divulgadas,
os fatos sofridos pelo Autor terão maior repercussão onde reside. Vejamos:
“COMPETÊNCIA - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
DECORRENTE DE VEICULAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA -
HIPÓTESE EM QUE SE CONSIDERA COMO O LUGAR DO ATO OU
FATO DANOSO A LOCALIDADE EM QUE RESIDEM E TRABALHAM
AS PESSOAS PREJUDICADAS - ARTIGO 100, V, "A" E SEU
PARÁGRAFO ÚNICO, CPC - EXCEÇÃO REJEITADA - RECURSO
IMPROVIDO (TJSP; Agravo de Instrumento 9025731-74.2002.8.26.0000;
Relator (a): Elliot Akel; Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Jundiaí - 1ª. Vara Cível; Data do Julgamento: N/A; Data de Registro:
10/09/2002)” (grifos nossos).
Imperioso também que se junte o precedente aberto pelo próprio Autor, quando nos
autos do Processo de nº 5001795-96.2021.8.24.0091 que tramitou na 1ª Vara do Juizado
Especial Cível desta Comarca, teve confirmada em grau de recurso sentença procedente
contra um veículo de imprensa e desenhista que publicaram charge em que o Autor
aparecia com cédulas na mão e abraçado ao acusado no processo criminal original do
caso, tendo já granjeado a indenização justamente arbitrada, excerto a seguir:
“Ante o exposto, com fundamento no art. 487, I do CPC, JULGO
PROCEDENTES os pedidos deduzidos na petição inicial por RUDSON
MARCOS em face de FERNANDO ANTONIO ROSARIO PAULA DA
MOTTA e CLEYTON DOMINGUES DE MOURA, para CONDENAR os
réus, solidariamente, ao pagamento de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) em favor
do autor, a título de compensação financeira por danos morais, com correção
monetária pelo INPC a partir deste arbitramento (Súmula 362, STJ) e juros de
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mora de 1% ao mês, contados a partir do evento danoso (Súmula 54, STJ),
extinguindo-se o processo com resolução de mérito.”
Quanto a tese da defesa que usou as aspas na expressão "estupro culposo", como
uma "uma figura de linguagem para tentar resumir o sentimento que muitas
pessoas têm a respeito do sentido que foi dado a sentença” (Evento 282 -
Alegações finais, página25), passo a análise.
Consta no parecer técnico, juntado na inicial (Evento 1, doc. 6), o qual não foi
impugnado pela querelada:
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De acordo com as regras gerais da ABNT que estabelece as regras de
apresentação de informações e documentação (NBR-‐10520, 2002), o uso
de aspas indica a citação de terceiro, ou seja, deixa claro que o autor da
citação entre aspas não é o autor do texto, mas um terceiro. Portanto,
conforme consta nas considerações do perito, ao trazer entre aspas a
expressão "estupro culposo", dizendo ora ter sido pronunciada pelo
promotor, ora pelo juiz em sua sentença, tem o condão de atribuir autoria
direta da expressão a estes, deixando claro que a expressão está sendo
transcrita diretamente, fielmente, da forma como foi dita.
E, considerando que não consta tal expressão nos autos do processo a que
se referia a reportagem, é certo que não se tratava de transcrição. A
expressão foi criada pela querelada, e ao deixar entre aspas, a qual é
conhecidamente usada para transcrever um texto ipsis litteris, aliada ao
sentido do texto, passou a mensagem de que estava transcrevendo uma
expressão utilizada ou aceita pelo querelante, alterando a verdade do
evento, e levando os leitores a crerem neste fato distorcido. É CERTO
QUE A MENCIONADA EXPRESSÃO NÃO CONSTAVA NOS
AUTOS, E FOI INVENTADA OU IDEALIZADA PELA QUERELADA,
ALTERANDO A REALIDADE DOS ACONTECIMENTOS, COM A
CLARA INTENÇÃO DE DIFAMAR O QUERELANTE E COM ISSO
ALCANÇAR MAIOR ACESSO A SUA REPORTAGEM.
A questão é fato notório, uma vez que a matéria publicada pela querelada foi
republicada/reproduzida por diversos meios de imprensa, tanto local quanto
nacional, rádio, televisão, internet imputando ao querelante fato ofensivo a
sua reputação.” (g.n.)
Quanto as causas especiais de aumento de pena previstas para esse crime se aplica
o artigo 141 do Código Penal:
[...]
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No caso em comento, o querelante é juiz de direito, e o fato ofensivo a ele
imputado se deu no exercício da função como magistrado, enquanto
prolator de uma sentença. Por essa razão, aplicável o aumento de pena
previsto no inciso II do art. 141 do Código Penal. E também, ante a ampla
divulgação e alcance da matéria, aplicável o inciso III do mencionado
artigo.”
Pela relevância extrema do julgado acima, requer-se a juntada como prova emprestada da
sentença parcialmente procedente proferida nos autos do processo de nº 5041519-
20.2021.8.24.0023/SC que transita na 5ª Vara Criminal da Comarca da Capital, pedindo-se que
seja observado COM RIGOR a decretação do sigilo em caráter absoluto da presente
decisão, visto que os autos retro tramitam sob o manto do segredo judicial.
2. DOS FATOS:
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Após isso, a maioria dos veículos nacionais displicentemente replicou a matéria mentirosa
SEM VERIFICAR SUA AUTENTICIDADE. Surfando na onda do sucesso do termo, e como
se fosse obrigatório se posicionar sobre o assunto do momento, muitos usuários de internet
quiseram expressar seu repúdio por meio das redes sociais. Por vezes, tal posicionamento ofendeu
duramente o Autor, condenado no tribunal da internet por uma blasfêmia que a este foi
vergonhosamente imputada.
E assim fez a Ré quando aderiu à fake News lançada pelo veículo The Intercept e abusou do
direito de se expressar, concorrendo não só para causar dano à honra do Autor quanto para a
propagação de uma mentira.
Dessa forma, requer-se a juntada na íntegra da r. sentença proferida pelo Autor nos autos
do processo mencionado, que foi vazada e pode ser acessada no site “Revista Fórum” através do
link: https://cdn.revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2020/11/mp-sc-0004733-
33.2019.8.24.0023-1-1.pdf em que resta claro que EM MOMENTO ALGUM HOUVE A
MENÇÃO À EXPRESSÃO ESTUPRO CULPOSO ou qualquer interpretação nesse sentido.
O Autor vem a ser o Juiz de Direito Criminal Rudson Marcos que, à frente de seu cargo,
atuava na vara criminal e no processo que apurou a prática de crime de estupro de vulnerável da
influenciadora digital Mariana Ferrer.
Abaixo, o perfil e a publicação feita pela Ré, conforme registrado em ata notarial (doc.). A
publicação está ativa. Perfil, como está hoje.
https://www.instagram.com/pahgranado/?g=5
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Publicação, imagem 24, p. 13 da ata notarial.
https://www.instagram.com/p/CHJXX70FK_c/?igshid=1x0dq9fqzbjcy
O texto da postagem:
“//
TENTARÃO CULPAR NOSSA ROUPA
TENTARÃO CULPAR NOSSA FALA
TENTARÃO CULPAR ONDE ESTÁVAMOS
TENTARÃO CULPAR NOSSA COMPANHIA
TENTARÃO NOS DIMINUIR
TENTARÃO NOS RIDICULARIZAR
TENTARÃO ATÉ MESMO MUDAR A JUSTIÇA
MAS NUNCA NOS CALARÃO
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ESTAMOS COM VOCÊ @MARIBFERRER
TODO DIA É UMA NOVA LUTA EM SER MULHER NESSE PAÍS.
NOS STORIES DEIXEI A PETIÇÃO QUE JÁ FOI ASSINADA POR MAIS DE
2 MILHÕES DE PESSOAS.
INSPIRAÇÃO: @ANNACFANDRADE
#JUSTICAPORMARIFERRER
#CULTURADOESTUPRO” (g.n.)
Observa-se que a Ré, na publicação feita, afirma que o Autor teria tentado “mudar a
justiça”, se referindo a sentença proferida, ferindo assim a honra, dignidade e moral do Autor,
mesmo sem ter tido acesso ao conjunto probatório de autos que tramitam acobertados pelo manto
do segredo judicial.
A Ré afirma que o investigado no processo criminal foi absolvido por uma decisão do juiz,
ou seja, o ora Autor, cujo fundamento seria equivalente a um “estupro culposo”, crime que sequer
existe na legislação brasileira.
A Ré, que é criadora de conteúdo digital, tem o dever de se informar com maior apuro
antes de emitir uma opinião, ainda mais sobre assunto que é estranho à sua seara original e sem
acesso aos documentos, baseando-se apenas no que se ouviu falar ou leu em algum lugar.
O vídeo que a Ré utiliza para tecer conclusões sobre a audiência foi adulterado, editado,
enxertado e as falas do juiz foram subtraídas.
Sobre o conteúdo divulgado pelo portal The Intercept, em que pese os desdobramentos que
se sucederam após a fatídica matéria, especialmente em face do Autor, a verdade é que o vídeo é
MANIPULADO.
Referido vídeo foi objeto de análise do Assistente Técnico Wanderson Castilho,
especialista em crimes cibernéticos, e este concluiu que o vídeo foi maldosamente editado, ou
seja, o vídeo foi manipulado, logo não retrata a realidade.
O expert lavrou o Parecer Técnico que acompanha a presente inicial (doc) que esclarece
com riqueza de detalhes como se deu a manipulação do referido vídeo. Foram feitos recortes do
segundo dia de audiência de oitiva da vítima, e FORAM SUPRIMIDAS NO VÍDEO 14
INTERVENÇÕES DO JUIZ e também do promotor de justiça, com inserções de trechos
MANIPULADOS E COM ORDEM INVERTIDA DE ALGUMAS PASSAGENS em um
material de vídeo mais completo narrando o caso, com duração total de 4 minutos e 9 segundos.
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Sim Excelência, a Ré pronunciou-se com base exclusivamente em uma matéria altamente
manipulada, tendenciosa e leviana, sem qualquer elemento de corroboração e ainda emitindo suas
próprias opiniões e conclusões. Nesse ponto, evidente, portanto, que a liberdade de expressão não
confere ao seu titular o exercício livre e irresponsável do direito de se manifestar, vez que de certo
não outorgam qualquer carta branca para agregar aos fatos - no caso concreto, baseado em uma
fake News.
É importante destacar que o Autor ajuizou ação em face do veículo The Intercept e a
jornalista responsável pela matéria, Processo de nº 5080008-63.2020.8.24.0023 em trâmite na 3ª
Vara Cível da Comarca de Florianópolis/SC e, em que pese ainda em tramite, em 11.12.2020 foi
deferida a tutela de urgência para determinar à jornalista e aos portais citados a retificação das
notícias veiculadas em seus canais de comunicação, bem como em suas redes sociais com
referência de que o fizeram por forma da decisão judicial, mediante os esclarecimentos de que:
“a) A expressão “estupro culposo” não foi fundamento da sentença criminal proferida pelo
Autor Rudson Marcos na ação penal de n° 0004733-33.2019.8.24.0023;
b) O Autor, na qualidade de Juiz, durante a audiência de instrução e julgamento em que
ocorreu a oitiva da vítima, realizou várias intervenções, tanto para realizar esclarecimentos
como para manutenção da ordem e advertências ao advogado de defesa, fatos esses que foram
omitidos no vídeo com duração de 4 minutos e 8 segundos divulgado em seus sites e redes
sociais;
c) A audiência de instrução e julgamento foi dividida em dois atos, realizados respectivamente
nos dias 20.7.2020 e 27.7.2020, tendo o segundo dia a duração de 3 (três) horas e 11 (onze)
segundos, dos quais 45 (quarenta e cinco) minutos se destinaram à oitiva da vítima.”
A referida decisão, que acompanha a presente inicial (doc.), foi proferida após a análise de
todo o acervo probatório colacionado nos autos e que demostrou a conclusão inverídica nas
matérias veiculadas, bem como a completa distorção da audiência no vídeo publicado pelo The
Intercept Brasil.
Sobre a sentença redigida pelo Autor, assevera a Nobre Magistrada na r. decisão que:
“Ao perlustrar os fundamentos da sentença, não é possível extrair a conclusão de que nela se
tenha afirmado a existência do tal ‘estupro culposo’, seja de forma expressa, seja por dedução,
indução, analogia ou interpretação.
Do contrário, logo no início de sua fundamentação, naquele ato processual, o ora requerente,
esclarecendo a necessidade imprescindível de se comprovar a existência de dolo (vontade livre e
consciente de praticar o ato) e demais elementares para a configuração do crime de estupro de
vulnerável, fundamentou, exatamente nos termos da lei penal, que sem este a condenação pelo
crime era inviável.”
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No tocante ao vídeo da audiência publicado pelo portal The Intercept Brasil ao ser
confrontado com o vídeo original da audiência, a Magistrada que proferiu a r. decisão afirma que
“revela-se considerável distinção entre o vídeo parcial divulgado e o efetivamente ocorrido
no ato processual, o que leva à dedução de que tal vídeo teria sido editado de forma a se
interpretar que não houve a condução adequada da oitiva da vítima pelas autoridades ali
presentes, e mais que isso, que estas teriam sido indiferentes às atitudes repreensíveis do
advogado de defesa, o que, ao que se vislumbra, não condiz com a realidade.” Também
concluiu a N. Magistrada: "Logo, observa-se a prática de jornalismo sensacionalista,
desprovido de seriedade e respeito às instituições e sem compromisso com a correta
divulgação dos fatos e com a imparcialidade”.
A Ré emitiu opiniões de aderência ao linchamento que vitimou o Autor naquele trágico
dia 3 de novembro de 2020. Quando propagou inverdades, a Ré abusou do direito de se expressar,
incorrendo em danos ao Autor.
Excelência, a Ré narrou uma história criada pela sua própria imaginação, cravou afirmações
esdrúxulas sobre provas analisadas neste Tribunal de Justiça.
É sabido que a internet tem potencial para propagação das informações nela veiculadas,
sendo que o intuito da Ré foi tão somente caluniar o Autor, disseminando informações inverídicas
que puderam chegar ao conhecimento de um número indeterminado de pessoas, causando
prejuízos inestimáveis.
A Ré vive de mídia. Vive de sua popularidade e boa imagem, e não refletiu antes de arruinar
a imagem do Autor para escalonar a sua própria, o que é torpe.
Isso é cruelmente ofensivo e corrói a honra do Autor.
Tampouco merece prosperar a alegação de que o acusado do processo criminal em
comento foi absolvido com fundamento na suposta tese de “estupro culposo”, o Autor jamais
mencionou tamanho absurdo, e essa expressão não consta em nenhuma peça processual.
Este pronunciamento da Ré atingiu fortemente o Autor, causando imensuráveis danos a
sua dignidade, ao seu nome, reputação profissional e pessoal.
É ultrajante que a Ré faça tais afirmações, ainda mais porque o processo corre em segredo
de justiça, logo a Ré não teve acesso aos autos e às provas, tendo tirado conclusões a partir de uma
matéria tendenciosa e manipulada e de uma notícia mentirosa, uma vez que nem o promotor,
tampouco o juiz, citou “estupro culposo”.
Quanto à conclusão cabal de que houve estupro no caso originário, e por consequência a
sentença estaria errada, não está em acordo com o entendimento nem do Magistrado ora Autor,
nem do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que por unanimidade corroborou a sentença original.
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Exa., como poderia a Ré ter feito tal juízo de valor sem acesso às provas que constam dos
autos, acusando o Autor de uma decisão errada, ridícula, tosca, quando sequer pode verificar o
conjunto probatório, com o devido respaldo do conhecimento jurídico indispensável.
E por conta de muitos que assim agiram, descuidados da honra alheia, ficou cravado na
história do ano de 2020 que este juiz chancelou tal barbaridade. O termo maldosamente cunhado
e a este atribuído foi o 4º assunto mais procurado no Google em 2020. Exa., em 2020 atravessamos
o ápice da pandemia, que se instalou no terceiro mês do ano! Entretanto, ainda que tenha viralizado
apenas no penúltimo mês do ano, mesmo assim tal termo se sobressaiu de forma fulminante. Em
anexo, ata notarial dando conta do fato e parecer técnico (docs.)
O Autor e sua família foram vítimas de toda sorte de ataques e problemas
relacionados. Teve afastamento médico determinado logo na primeira semana do
episódio. Em razão da matéria que devastou a vida do Autor, tanto profissional como pessoal,
sofreu várias perdas e humilhações.
À título de exemplo, o Autor foi desconvidado de um evento que reuniria a Magistratura
em Congresso, conforme se denota no ofício anexo (doc.). Também, pelo mesmo motivo, foi
desligado da Escola de Magistratura do Estado de Santa Catarina.
Foram tamanhas e tão graves as ofensas via internet e presenciais, crime de ódio, processo
disciplinar frente às informações falsas e manipuladas que foram republicadas, charges, ataques,
memes, que o próprio recordar se torna doloroso. Foi chamado por muitos de estuprador. Foi
dito que sua filha e sua mãe mereciam ser estupradas. Sua família foi lembrada em ataques que
repercutiram nos familiares, decepcionados com as ofensas que partiram de pessoas antes
admiradas.
Conforme se denota no excerto abaixo, o Autor foi ameaçado de morte nas redes sociais:
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O Autor teve que realocar-se em outra vara de direito do TJSC, por conta do triste
episódio. As informações pessoais de sua família, parentes, dados de endereço residencial, telefone,
e-mail, foram devassados e disseminados na internet, conforme excerto abaixo (anexo da
inteligência do Ministério Público - doc.)
Além disso, dados dos familiares e dados pessoais do Autor foram expostos:
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➢ DOS DANOS MORAIS QUE A RÉ CAUSOU AO AUTOR:
Excelência, quando a Ré publicou em seu perfil de rede social uma conclusão que teve
como base tão somente a matéria falsa e manipulada produzida pelo site “The Intercept Brasil”,
contribuiu para a propagação dos danos causados à imagem do Autor.
Quando a Ré afirma que o Autor teria absolvido o acusado por “estupro culposo”, e que
este teria tentado mudar a justiça, incorre em difamação do exercício profissional do Autor,
magistrado zeloso que jamais havia recebido nenhuma reprimenda, pelo contrário, sempre fora
reconhecido pelo exemplar desempenho de suas funções, nesse sentido vide anexo MOÇÃO N°
0008/2008 (doc.), em que vereadores da cidade de Araquari/SC prestam reconhecimento ao Autor
pelos bons serviços prestados à Comunidade.
Observa-se que a conduta da Ré ofendeu a honra do Autor, denegrindo sua imagem,
dignidade e reputação, bem como fomentou um discurso de ódio e intolerância contra o Autor, o
que não pode ser admitido.
É claro que não merece prosperar a alegação da Ré de que o Autor ou este Tribunal teriam
utilizado a tese de “estupro culposo”, trata-se de acusações infundadas, fantasiosas e injuriosas. O
Autor nunca mencionou a suposta tese absurda de “estupro culposo”, como poderia ter sido
verificado pela Ré através de simples leitura da sentença, que foi vazada.
Não se trata de mera expressão de opinião ou crítica, mas insinuações que ofendem
arduamente a sua moral e a sua integridade, gerando danos incontestáveis. Neste caso, é cediço
que a Ré ultrapassou todo e qualquer limite da liberdade de manifestação, pois feriu a
imagem do Autor ao compartilhar mentiras em prejuízo deste e ao imputá-lo a prática de suborno,
o que extrapola os limites da liberdade de expressão.
A Ré atribuiu ao Autor a conduta de ter absolvido o acusado por “estupro culposo”.
Grave acusação, Exa., que não encontra NENHUM fundamento para ter sido formulada. Exa.,
pergunta-se, em que momento a Ré teve acesso à análise do conjunto de provas que fundamenta
a sentença, que foi confirmada por este Egrégio Tribunal?
Ao agir assim, a Ré expressa opinião que ofende a moral do Autor, posto que este
fundamentou a sentença de forma técnica, conhecendo das provas colacionada nos autos, cujo
escopo foi unanimemente confirmado em segunda instância.
O Autor foi exposto a fatos caluniosos sobre si, contrariando princípios éticos e morais,
levando em consideração que foi insultado por desconhecidos devido a tal acontecimento e vem
sofrendo constantes agressões à sua personalidade e atuação profissional.
Diante de toda essa situação constrangedora e após ter tido sua honra atingida, resta
evidente que os fatos tiveram densidade suficiente para configuração do dano moral.
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Além disso, a postagem com o uso do termo acaba por impulsionar o algoritmo da rede
social para potencializar o assunto, possibilitando leitores da publicação a compartilharem a notícia
falsa e a proferirem ofensas as mais diversas contra o Poder Judiciário, em razão do efeito
“manada” que é a tendência das pessoas de seguirem comportamentos e opiniões que estão em
alta.
Salta aos olhos a irresponsabilidade da Ré ao espalhar uma “fake news” como essa para
quase 120 mil seguidores, que pode destruir carreiras, manchar reputações e que acarretou diversos
danos a pessoa do Autor, a sua carreira e a sua família, induzindo, ainda, os leitores a erro.
Por fim, salienta-se que o lapso temporal desde a publicação da matéria até o ajuizamento
da presente ação decorre da sedimentação de todos os danos que lhe atingiram, empreendendo
trabalhoso e dolorido processo de reconstrução de vidas, de família, de reconstrução do próprio
“eu”, tão aviltado, escarnecido, porque a própria imagem que faz de si mesmo viu-se abalada,
prejudicada, diminuída, apupado como se houvesse sido corrompido, como se tivesse enfim
errado, coisa que não o fez posto que não praticou a conduta pela qual foi linchado.
Importante destacar ainda que, considerando que o referido processo criminal tramita sob
o segredo da justiça, o vídeo da audiência sem cortes assim como todo o material coletado para
esta ação, tiveram sua origem em matérias já publicadas e veiculadas.
3. DO MÉRITO:
➢ DA PROTEÇÃO AOS DIREITOS PERSONALÍSSIMOS E DOS LIMITES
CONSTITUCIONAIS A LIBERDADE DE EXPRESSÃO:
É cediço que a existência dos países democráticos se baseia, principalmente na liberdade
de expressão. Evidente que a liberdade de manifestação e expressão, em que pese sejam garantidos
constitucionalmente, não são direitos absolutos. Todo cidadão, ao se manifestar, deve ter em
mente que eventual excesso deve ser coibido, ainda mais ao imputar falsamente fatos a quem sabe
que não cometeu.
Extrai-se da publicação da Ré que a mesma extrapolou os limites da liberdade de
manifestação de pensamento e opinião, ou mesmo do direito de crítica. A Ré fez verdadeira
afirmação quando disse que teria utilizado a suposta tese jurídica de “estupro culposo” para
fundamentar a sentença absolutória no processo criminal, questionando o cabimento da decisão
em um processo que a Ré não teve acesso as provas, e sobre uma decisão que foi confirmada por
unanimidade pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Agindo assim, a Ré acarretou imenso
prejuízo às atividades profissionais do Autor, inibindo-lhe a presença, expondo-o, tornando
tolhida a sua paz.
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O exercício do direito constitucional da livre manifestação do pensamento não é absoluto
e encontra limites, tais como a preservação dos direitos de personalidade, a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, insculpidos no artigo 5º inciso X da Constituição Federal.
Sendo assim, é cediço que a difamação, a humilhação pública, a injúria, a calúnia e os
ataques aos direitos da personalidade são incompatíveis com a liberdade de expressão, sendo
formas abusivas de manifestação do pensamento que atingiu o Autor. Nesse sentido, nos
Embargos de Declaração no Recurso Extraordinário com Agravo nº 891.647/SP, o Ministro Celso
de Mello assim pontuou:
O direito à livre manifestação do pensamento, embora reconhecido e
assegurado em sede constitucional, não se reveste de caráter absoluto nem
ilimitado, expondo-se, por isso mesmo, às restrições que emergem do próprio
texto da Constituição, destacando-se, entre essas, aquela que consagra a
intangibilidade do patrimônio moral de terceiros, que compreende a
preservação do direito à honra e o respeito à integridade da reputação
pessoal. (...)
Em que pese a Ré não tenha sido a Autora da matéria manipulada que consigna a expressão
“estupro culposo”, ela contribuiu para a disseminação da notícia falsa. O fato de o caso ter
granjeado notoriedade na mídia desde o início com a consequente exposição à opinião e a crítica
dos cidadãos e da imprensa, com que se acaba com a vida de uma pessoa em 24 horas!!
Nesse sentido, o STJ possui entendimento consolidado quanto à limitação da liberdade de
expressão quando conflitantes com os demais direitos fundamentais individuais. Veja-se:
“RESPONSABILIDADE CIVIL. PESSOA JURÍDICA. DANO MORAL.
HIPÓTESE EXCEPCIONAL DIANTE DE OFENSA À SUA HONRA
OBJETIVA. CONFIGURAÇÃO NOS AUTOS. POSTAGEM OFENSIVA
PROVIDENCIADA PELO RÉU EM REDE SOCIAL. PROCEDÊNCIA
DO PEDIDO MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. Responsabilidade
civil. Dano moral. Pessoa jurídica. Cabimento em hipóteses excepcionais e diante
de ofensa a honra objetiva da parte. Configuração. Postagem ofensiva
providenciada pelo réu em rede social. Utilização de termos que podem
prejudicar as atividades da empresa. Procedência mantida. Recurso não
provido. (TJ-SP - AC: 10063454520208260266 SP 1006345-45.2020.8.26.0266,
Relator: J.B. Paula Lima, Data de Julgamento: 15/04/2021, 10ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 15/04/2021)”
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“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - OFENSAS EM
REDES SOCIAIS - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -
ARBITRAMENTO. "Ao disponibilizarem informações, opiniões e comentários
nas redes sociais na internet, os usuários se tornam os responsáveis principais e
imediatos pelas consequências da livre manifestação de seu pensamento, a qual,
por não ser ilimitada, sujeita-lhes à possibilidade de serem condenados pelos
abusos que venham a praticar em relação aos direitos de terceiros, abrangidos ou
não pela rede social" (STJ, REsp n. 1650725/MG). No caso concreto,
constata-se que a divulgação de ofensas no "Facebook" extrapola a
liberdade de expressão por atacar a honra e a imagem pessoal e
profissional de professores e alunos do núcleo de assistência judiciária, o que
caracteriza a prática de ato ilícito e enseja danos morais indenizáveis. O
arbitramento da indenização por danos morais deve observar os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, a fim de que seja alcançada sua dupla
finalidade compensatória e pedagógica da reparação, devendo ser mantida a
quantia arbitrada que não é ínfima ou exagerada. Recursos não providos. (TJ-MG
- AC: 10480120149863001 MG, Relator: Manoel dos Reis Morais, Data de
Julgamento: 20/11/2018, Data de Publicação: 30/11/2018)”
Pois bem, claros estão os danos praticados pela Ré que, conforme comprovado por meio
de Ata Notarial (doc.), a publicação de opinião respaldada em matéria inverídica atentou contra a
reputação do Autor, pois contribuíram para a intensificação das ofensas e discursos de ódio em
grande escala proferidas contra este, desconstituindo todo o trabalho e respeito conquistado no
cargo que exerce há anos.
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Imprescindível que se consigne o Enunciado n. 613 da VIII jornada de Direito Civil, de
2018, segundo o qual a liberdade de expressão não goza de posição preferencial em relação aos
direitos da personalidade no ordenamento jurídico brasileiro.
➢ DA RESPONSABILIDADE CIVIL NA INTERNET
A personalidade hoje se projeta e se valora amplamente por meio da persona digital que
corresponde ao indivíduo mediano, inserido em um contexto social contemporâneo. Em outras
palavras, atingir o eu virtual é tão danoso e enseja imensas responsabilidades justamente porque, ao
linchar um indivíduo nas redes sociais, ocorre um evento de morte moral daquela personalidade.
Hodiernamente, há até uma palavra para expressar tal situação, diz-se de quem passou por tal
apedrejamento que aquela pessoa “foi cancelada na internet”.
Nesta toada, na importante exposição de Flavio Tartuce em sua obra Responsabilidade Civil,
2020, em se tratando de ofensas, a responsabilidade civil recai sobre aqueles que fazem as
postagens na internet, respondendo estes por ato próprio e estando sujeitas aos preceitos gerais
previstos no Código Civil, especialmente arts. 186, 187 e 927.
➢ DO DISCURSO DE ÓDIO
O jurista João Victor Rozatti Longhi em sua obra Responsabilidade civil e redes sociais – retirada
de conteúdo, perfis falsos, discurso de ódio e fake news, 2020, aborda a temática do discurso de ódio do qual
o ora Autor foi vítima.
A manifestação da Ré claramente espicaça comentários de toda sorte contra o Autor,
ofensivos, demolidores, inflamando os ânimos. Como já demonstrado, abriu-se a porta para todo
tipo de opinião, que longe de alimentar a crítica saudável, apenas argumenta com base em uma
falácia, à sombra de uma fake News.
Exa., por conta da manipulação, o juiz foi mais odiado que o acusado.
Veja-se o que diz a jurisprudência:
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“RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. PUBLICAÇÃO EM REDE SOCIAL DE PLACA DA
MOTOCICLETA DO AUTOR E NARRATIVA DE CORTE DE
ENERGIA ELÉTRICA PROMOVIDA POR ELE (A SERVIÇO DA
COPEL) QUE ENSEJOU DISCURSOS DE ÓDIO E GEROU MEDO
NO AUTOR POR TER SIDO IDENTIFICADO NA PUBLICAÇÃO.
DANO MORAL CONFIGURADO. SITUAÇÃO QUE EXTRAPOLOU O
MERO ABORRECIMENTO. AUTOR QUE ESTAVA SOMENTE
EXECUTANDO SEU TRABALHO. EXPOSIÇÃO EM REDE SOCIAL
QUE ULTRAPASSOU A LIBERDADE DE EXPRESSÃO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO FIXADO EM VALOR IRRISÓRIO QUE COMPORTA
MAJORAÇÃO PARA R$2.000,00 (DOIS MIL REAIS). SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. (TJPR - 1ª Turma Recursal - 0032010-93.2017.8.16.0030 - Foz do
Iguaçu - Rel.: Juíza Maria Fernanda Scheidemantel Nogara Ferreira da Costa - J.
26.06.2019) (TJ-PR - RI: 00320109320178160030 PR 0032010-
93.2017.8.16.0030 (Acórdão), Relator: Juíza Maria Fernanda Scheidemantel
Nogara Ferreira da Costa, Data de Julgamento: 26/06/2019, 1ª Turma Recursal,
Data de Publicação: 26/06/2019)”
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➢ DO ABUSO E ILÍCITO CIVIL PASSÍVEL DE DANO MORAL:
Considerando que os fatos disseminados pela Ré não correspondem a verdade, inexistindo
qualquer elemento concreto que corrobore suas alegações, tem-se que a postagem jamais poderia
distorcer a realidade para transformar o Autor em verdadeiro vilão, submetido a uma “condenação
moral” como ocorreu.
A repetição avassaladora da infeliz expressão “estupro culposo”, com que concorreu a Ré
ativamente, tomou uma proporção gigantesca com a consequente exposição negativa do Autor,
aos limites do suportável humanamente.
Arruinar a reputação de outrem de forma leviana, sem base em fatos minimamente
providos de verdade, pode ocasionar erros severos que condenam às vítimas desses acidentes a
perderem suas vidas morais.
A ocorrência do dano emerge com os ataques e ódio generalizado do qual o Autor foi alvo,
pela propagação de uma matéria inverídica. O Autor sofreu e sofre até o momento acusações
gravíssimas e, por consequência lógica, motivaram inúmeras outras pessoas a reproduzir e
compartilhar as mesmíssimas infâmias.
Por sua vez, o requisito da culpa da Ré é plenamente verificável diante da livre escolha
de opinar com base em uma matéria falsa, sem fazer ao menos uma prévia investigação dos
fatos, inexistindo qualquer indício, pequeno que seja, da veracidade da falsa informação propagada.
Já o nexo de causalidade resta comprovado pelo liame existente entre o material postado
pela Ré, sua ampla repercussão e os danos sofridos.
Fica, portanto, clara a incidência de dano de natureza moral, que deve ser reparado tanto
em seu caráter compensatório quanto em seu caráter punitivo-pedagógico. É importante destacar,
Exa., que, mesmo que não houvesse grandes repercussões, a simples ilação, deliberadamente
maldosa e mentirosa, com acusações FALSAS e tão graves, já seria mais do que suficiente para
estabelecer o dever de indenizar. No caso, contudo, a conduta analisada é ainda mais grave, uma
vez que a falsa informação propagada pela Ré, e muito replicada por sua vez, já foi lida e vista por
milhares de pessoas.
Considerando que ainda que em casos análogos à vertente, os julgados do STJ, como visto,
fixem o valor devido a título de danos morais entre 100 (cem) e 500 (quinhentos) salários-mínimos,
a intenção do Autor em momento algum é de enriquecer ilicitamente, justamente visando uma
solução para a demanda que não importe em prejuízo excessivo à Ré, requer-se a condenação da
Ré ao pagamento dos danos causados ao Autor, no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).
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4. DOS REQUERIMENTOS:
Ante o exposto, REQUER-SE:
1. Que o presente feito tramite sob o manto do segredo de justiça uma vez que trata sobre
fatos que dizem respeito ao processo criminal de nº 0004733-33.2019.8.24.0023, que por sua vez
tramita em segredo de justiça;
2. A citação da Ré, por carta de citação para que, no prazo legal caso queira, apresente a
defesa pertinente sob pena dos efeitos da revelia;
3. Requer seja JULGADA PROCEDENTE a presente ação para que sejam reconhecidos
os danos à honra e a imagem suportados pelo Autor em decorrência da matéria veiculada pela Ré,
para condená-lo ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 15.000,00 (quinze
mil reais);
4. Caso V. Exa., entenda pertinente a juntada de alguma peça processual do processo criminal
sob n° 0004733-33.2019.8.24.0023 que tramita na 3ª Vara Criminal de Florianópolis/SC, requer
que seja oficiado ao competente juízo da causa para que forneça em sigilo tal peça para a devida
instrução deste processo;
5. Requer a juntada como prova emprestada da sentença parcialmente procedente proferida
nos autos do processo de nº 5041519-20.2021.8.24.0023/SC que transita na 5ª Vara Criminal da
Comarca da Capital, pedindo-se que seja observado COM RIGOR a decretação do sigilo
em caráter absoluto ao menos desta decisão, visto que os autos retro tramitam sob o manto
do segredo judicial;
6. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, notadamente,
depoimento pessoal, da Ré, oitiva de testemunhas, juntada de novos documentos, ofícios e demais
que entender necessários ao caso;
7. Condenação da Ré nas verbas sucumbenciais, reembolso de custas processuais e
pagamento de honorários advocatícios;
8. Sejam todas as publicações e intimações expedidas em nome de sua patrona, qual seja,
(IOLANDA N. GARAY, com endereço de e-mail iolanda@savoyegaray.adv.br sob pena de
nulidade processual, nos termos dos artigos 77, inciso V; 272, §§ 2º e 5º; e 273, todos do Novo
Código de Processo Civil, bem como seja efetuado o cadastro e habilitação ao Sistema de Processo
Eletrônico desta advogada, garantindo-se, assim, o peticionamento eletrônico e a consulta a todos
os atos do processo.
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Termos em que
Pede Deferimento,
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IOLANDA NASCIMENTO GARAY
OAB/SP 394.870
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