Apelacao - Ip2tel Servicos de Comunicacao

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DE

EXECUÇÃO DE TÍTULOS EXTRAJUDICIAIS E CONFLITOS ARBITRAIS DE


BRASÍLIA

Processo nº 0735791-14.2023.8.07.0001
IP2TEL SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO MULTIMIDIA EIRELI,
já qualificado nos autos da EMBARGOS À EXECUÇÃO em epígrafe, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o presente RECURSO DE
APELAÇÃO contra a r. sentença proferida, fazendo-o com esteio nas razões
enunciadas no memorial acostado, requerendo seja o feito encaminhado para o
conhecimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Distrito Federal.

Nesses termos,
Pede-se e espera o deferimento.
Teresina – PI, 14 de junho de 2024

Sebastião Rodrigues Barbosa Júnior


OAB/PI nº 5.032-B

Kally da Costa Duarte


OAB/PI nº 9.874

Jorge Henrique Furtado Baluz


OAB/PI nº 5.031-B

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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO DISTRITO FEDERAL

Apelação nos embargos à execução nº 0735791-14.2023.8.07.0001


Distribuição por dependência à Execução nº: 0716792-13.2023.8.07.0001
Origem: 1ª Vara de Execução de Títulos Extrajudiciais e Conflitos Arbitrais de Brasília
Apelante: IP2TEL SERVICOS DE COMUNICACAO MULTIMIDIA LTDA
Apelado: TELECOMUNICACOES BRASILEIRAS SA TELEBRAS

RAZÕES DE APELAÇÃO

Colenda Corte,

PRELIMINARMENTE
I. DA TEMPESTIVIDADE:

O presente recurso é tempestivo, conforme expedição eletrônica da


sentença, e a interposição dentro do prazo legal de 15 (quinze) dias, nos termos do
art. 1.003, §5º do CPC.

II. SÍNTESE DOS FATOS:

A Embargante, ora Apelante, foi alvo de uma execução de título


extrajudicial movida pela empresa Telecomunicações Brasileiras S.A. - TELEBRAS, na
qual alega-se que a Apelante se encontra na condição de devedora da quantia líquida,
certa e exigível no valor de R$ 63.991,54 (sessenta e três mil, novecentos e noventa
e um reais e cinquenta e quatro centavos).

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Informa-se ainda que, em 5 de julho de 2015, a Requerente e a
Requerida, ora Apelada e Apelante, celebraram um Contrato de Prestação de Serviços
de Telecomunicações (Contrato n° 4710/014/2015). O objeto desse contrato consistia
em fornecer à Embargante serviços de telecomunicações que possibilitariam conexão
à Internet, a partir do fornecimento de equipamentos e circuitos com velocidades
simétricas (Serviços).

Em virtude da inadimplência da Embargante, ora Apelante, constatada


pela ausência de pagamento das faturas discriminadas no processo, a Apelante deve
à autora o valor executado. Assim, a empresa Telecomunicações Brasileiras S.A. -
TELEBRAS alega que a Apelante não cumpriu a obrigação nos termos e prazos
ajustados, o que teria ocasionado o vencimento antecipado do contrato e, por
conseguinte, a mora. Diante dessa alegação, a TELEBRAS ingressou com a execução
de título extrajudicial em questão.

Destaca-se que a Apelante nunca teve a intenção de descumprir sua


obrigação. No entanto, conforme narrado em seus embargos, resta incontroverso que
a Apelante e a Apelada celebraram contrato de prestação de serviços de
telecomunicações no mês de julho de 2015. Todavia, Excelência, note que o contrato
foi firmado em julho, mas o circuito contratado só foi efetivamente instalado e faturado
em 2021. Ressalta-se, inclusive, que a Apelada negativou a empresa sem fazer
qualquer tipo de notificação prévia.

Nessa senda, a Apelante apresentou Embargos demonstrando que é


totalmente controvertida a prestação do serviço. Ao contrário do que argumenta a
Apelada, o serviço nunca foi prestado da forma contratada, tanto é que foram
colacionados na execução diversos aditivos, que nada mais são do que tentativas
falhas de cumprir o objeto contratual.

Apesar da Apelada alegar que o serviço foi prestado, tal afirmação não
corresponde à verdade. Embora o contrato tenha sido firmado entre as partes, o
serviço não foi prestado conforme acordado.
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Contudo, a decisão proferida pelo magistrado de primeira instância
julgou improcedente o pedido formulado por IP2TEL SERVIÇOS DE
COMUNICAÇÃO MULTIMÍDIA LTDA em desfavor de Telecomunicações Brasileiras
S.A, resolvendo, por conseguinte, o mérito do processo nos termos do art. 487, inciso
I, do Código de Processo Civil. Além disso, em razão da sucumbência, condenou a
parte embargante, ora Apelante, ao pagamento das custas e despesas processuais,
bem como dos honorários advocatícios, que, nos termos do art. 85, §2º, do CPC, foram
fixados em 10% sobre o valor da causa.

Diante dessa decisão desfavorável, a Apelante busca a reforma da


sentença por meio do presente recurso de apelação.

III. DA FALTA DE TÍTULO JURÍDICO PARA INSTRUIR A EXECUÇÃO

No presente caso, o documento que instrui a execução não constitui


um título executivo, pois não preenche os requisitos legais dos artigos 783 e 784 do
Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015). Conforme o artigo 783 do CPC/2015,
a execução para cobrança de crédito deve ser sempre fundamentada em título de
obrigação certa, líquida e exigível.

Conforme demonstrado na argumentação apresentada, o título em


questão não é certo nem exigível, uma vez que a Apelada (Telecomunicações
Brasileiras S.A. - TELEBRAS) não cumpriu efetivamente com a obrigação de prestar o
serviço contratado. Assim, estão ausentes os requisitos de certeza e exigibilidade
previstos no artigo 783 do CPC/2015.

Ademais, nos termos do artigo 786 do CPC/2015, a execução só pode


ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, o que
não é o caso dos autos. É relevante esclarecer que o artigo 787 do CPC/2015
determina que o devedor não é obrigado a satisfazer a sua prestação sem a

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correspondente contraprestação do credor, e, neste caso, não houve a
contraprestação por parte da Apelada.

Ainda nessa abordagem, nos termos do artigo 476 do Código Civil,


nenhum dos contratantes pode exigir o cumprimento da obrigação adversa sem antes
cumprir a sua própria obrigação. Está claro nos autos que a prestação dos serviços
não foi realizada conforme contratada.

É relevante esclarecer que é ônus da Apelada comprovar a prestação


dos serviços pelos quais está cobrando, contudo, não o fez, desrespeitando a letra do
artigo 373, inciso I, do CPC/2015.

Diante dessas considerações, verifica-se que a execução promovida


pela Embargada carece de título jurídico adequado para sua instauração, devendo,
portanto, ser reformada a sentença para julgar improcedente a execução.

É importante destacar que a jurisprudência brasileira tem


reiteradamente afirmado que a ausência de comprovação da prestação do serviço ou
do cumprimento da obrigação contratual impede a execução forçada. Diversos
tribunais têm decidido que a mera emissão de faturas ou documentos de cobrança
não se traduz em título executivo se não houver prova cabal da prestação dos
serviços conforme contratado.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO. DUPLICATA VIRTUAL.


BOLETO BANCÁRIO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE
PROTESTO DO TÍTULO E DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. EXTINÇÃO
DO FEITO. 1. É possível o ajuizamento de execução fundada em
duplicata virtual, desde que devidamente acompanhada do
instrumento de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega
de mercadoria e/ou da prestação do serviço. Precedentes. 2. No caso,
não comprovado o protesto da duplicata virtual (boleto bancário), e
nem a efetiva prestação do serviço, a manutenção da sentença
que julgou extinto o feito executivo é medida que se impõe.
APELAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA. (TJ-GO 0321840-

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57.2013.8.09.0051, Relator: CARLOS ROBERTO FAVARO, 3ª Câmara
Cível, Data de Publicação: 17/10/2018)

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONTRATO DE


FORNECIMENTO DE COMBUSTÍVEL. TÍTULO INCERTO E ILÍQUIDO.
DOCUMENTOS DESPROVIDOS DE INSTRUMENTO DE PROTESTO
POR INDICAÇÃO. FALTA DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL.
AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE CONSTITUIÇÃO E
DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO.
EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. I - Nos moldes do disposto
no artigo 783 do CPC/15 (art. 586 do CPC/73), é cediço que a certeza,
liquidez e exigibilidade do título que se pretende executar constituem
pressupostos de constituição e desenvolvimento válido do processo
executivo (art. 485, IV, CPC/15); 2 - Em consonância com o
entendimento jurisprudencial do STJ, podese considerar título
executivo extrajudicial duplicatas virtuais, não se exigindo, para o
ajuizamento da execução judicial, a exibição do título, e, também, os
boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual, dese que
devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por
indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da
prestação dos serviços, que suprem a ausência física do título
cambiário eletrônico; 3 - À míngua de documentos certos, líquidos e
exigíveis para fundamentar a execução, forçosa a extinção da
demanda sem resolução de mérito. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E
DESPROVIDA. (TJGO, Apelação (CPC) 0272538-88.2015.8.09.0051,
Rel. JEOVÁ SARDINHA DE MORAES, 6ª Câmara Cível, julgado em
15/02/2017, DJe de 15/02/2017) (Grifamos).

Corroboram este entendimento o seguinte julgado:

“APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.


EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. DUPLICATA VIRTUAL. BOLETO
BANCÁRIO. AUSÊNCIA DE PROTESTO POR INDICAÇÃO. EXTINÇÃO
DO PROCESSO EXECUTIVO, SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça possui o entendimento

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de ser possível o ajuizamento de execução de duplicata virtual, desde
que devidamente acompanhada dos instrumentos de protestos
por indicação e dos comprovantes de entrega de mercadoria e da
prestação do serviço. Na espécie, a ausência de protesto da
duplicata virtual (boletos bancários), para suprir a ausência física do
título cambiário, torna-o inexigível, o que impõe a improcedência do
recurso, com a consequente manutenção da sentença, que acolheu a
Exceção de Pré-executividade e julgou extinto feito executivo.

Adicionalmente, a aplicação do princípio da boa-fé contratual reforça


a necessidade de uma relação de reciprocidade entre as partes contratantes. A boa-
fé objetiva exige que ambas as partes ajam de forma honesta e leal, cumprindo com
suas respectivas obrigações. No presente caso, a ausência de prestação efetiva dos
serviços contratados pela Apelada configura uma violação desse princípio, justificando
a improcedência da execução.

Dessa forma, conforme apontado pela doutrina, a falta de


comprovação efetiva da prestação dos serviços e a ausência dos requisitos de certeza
e exigibilidade no título apresentado pela Apelada tornam ilegítima a execução
promovida, justificando a necessidade de reforma da sentença para julgar
improcedente a execução.

III. DA APLICAÇÃO DA EXCEÇÃO AO CONTRATO NÃO CUMPRIDO

A Apelada relata a existência de débito em nome da Apelante, mas


omite que estava inadimplente no cumprimento efetivo do contrato de prestação de
serviços de telecomunicações firmado. Dessa forma, não há direito de exigir o
cumprimento das obrigações assumidas pela Apelante, conforme previsão expressa
do Código Civil.

Essa situação configura perfeitamente a exceção do contrato não


cumprido, uma vez que ambas as partes estavam em mora. Nesse contexto, uma

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parte não pode exigir o cumprimento da obrigação da outra, tampouco indenização,
conforme precedentes sobre o tema:

"APELAÇÃO. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA.


ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL. LUCROS CESSANTES.
Inexistência do dever de indenizar. Exceção do contrato não
cumprido. Mora de ambas as partes que afasta o dever de exigir
o cumprimento da obrigação de uma pela outra e,
consequentemente, o dever de indenizar. Sentença reformada.
RECURSO PROVIDO." (TJ-SP 11117095820168260100 SP
1111709-58.2016.8.26.0100, Relator: Rosangela Telles, Data de
Julgamento: 23/08/2017, 2ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 23/08/2017, #263477)

Portanto, não se pode falar em execução de algo que não é exigível,


conforme destaca a doutrina sobre o tema:

"Dever de cumprimento recíproco das obrigações e prestações. Nos contratos


bilaterais sinalagmáticos, ambos os contratantes têm o dever de cumprir,
recíproca e concomitantemente, as prestações e obrigações por eles
assumidas. Nenhum deles pode exigir, isoladamente, que o outro cumpra a
prestação, sem a contrapartida respectiva. Só quem cumpre a sua parte na
avença pode exigir o cumprimento da parte do outro." (NERY JUNIOR, Nelson.
NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 12 ed. Editora RT,
2017. Versão ebook, Art. 476) "Em princípio, aquele que deve cumprir a sua
prestação primordialmente não pode alegar a exceptio, eis que inexiste o
requisito de simultaneidade temporal. Assim, na promessa de compra e
venda, o promissário comprador somente poderá pleitear a outorga da
escritura definitiva do promitente vendedor quando pagar integralmente as
prestações. Todavia, tendo em vista a necessidade de manutenção da justiça
contratual e a tutela da obrigação como um todo indivisível, poderá o
contratante recusar a sua prestação primária em caso de insolvência ou
redução das garantias de cumprimento pela contraparte." (ROSENVALD,

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Nelson. Código Civil Comentado, Coordenado pelo Ministro Cezar Peluso.
Editora Manole, 2007, p. 372)

Como mencionado, a empresa Apelante firmou o contrato em 2021 e


não recebeu a contraprestação conforme contratado. Portanto, demonstrado o
descumprimento contratual por parte da Apelada, não há que se falar em
inadimplência por parte da empresa Apelante, razão pela qual deve ser julgada extinta
a presente execução.

IV. CONCLUSÃO:

Diante do exposto, espera-se que este Egrégio Tribunal, pautando-se


pela justiça e equidade, acolha a presente apelação para haja a reforma da sentença
recorrida, restabelecendo a ordem jurídica, assegurando os direitos do apelante,
reconhecendo exceção do contrato não cumprido com a consequente extinção da
execução pela ILIQUIDEZ DO TÍTULO, visto que não houve a demonstração
inequívoca da efetiva prestação de serviços objeto do contrato.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Teresina-PI, 14 de junho de 2024.

Kally da Costa Duarte


OAB/PI 9874

Sebastião Rodrigues Barbosa Júnior


OAB/PI nº 5.032-B

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