Meu CEO Arrogante - Kevin Attis
Meu CEO Arrogante - Kevin Attis
Meu CEO Arrogante - Kevin Attis
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais,
vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.
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transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou
outro, sem a permissão expressa por escrito do autor.
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Sinopse:
Dedicatória
Capítulo 0
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Epílogo
Agradecimentos
Sinopse:
Joanne Almeida é uma jovem advogada, que largou sua profissão para
se dedicar ao marido, Jonathan. Seu sonho sempre foi ser mãe, mas a
ambição do marido em sempre querer conquistar um cargo melhor impediu
que isso se realizasse. Num golpe da vida, ela acaba se deparando com o
segredo do marido que a faz mudar seus planos e tentar alçar novos voos.
Após ver sua vida tomar um rumo que jamais esperou, decide que está
na hora de arrumar um emprego, nem que seja fora da sua área. O que ela não
esperava era que o destino a levasse para o mesmo ambiente que seu ex-
marido, e muito menos que se sentisse atraída pelo seu futuro chefe.
A Jussara Almeida, que foi a primeira a ler e me apoiou cem por cento
neste projeto, obrigado por me proporcionar o prazer de ter sua amizade...
Capítulo 0
Antes
Vi em câmera lenta ele levar a outra mão até ela e, enfim, tirar o
símbolo que nos unia.
— Quero o divórcio, Joanne — disse, lentamente —, quero me
divorciar porque sou gay e estou com outro.
Capítulo 1
Dez anos de casada jogados ao vento porque meu marido decidiu que
gosta de homens, assim como eu.
Tento não pensar muito nisso e focar minha mente na entrevista que
terei ainda hoje para um cargo de secretária. Adivinhe? Eu, uma advogada
renomada, havia abandonado minha profissão para viver aquela farsa, e agora
estou sozinha, meses sem transar e ainda serei obrigada a arrumar um
emprego fora da minha área.
Estou mesmo ferrada!
Meses antes
Meu marido sempre foi um homem dos negócios, herdou do pai uma
habilidade enorme para conseguir bons empregos e até mesmo uma empresa,
entretanto, aquilo não era o que ele almejava, dizia ser muita
responsabilidade. Admirava isso nele, acreditava que se ele tivesse apenas
um bom cargo, já seria o suficiente.
— Amor, hoje vou sair tarde do trabalho, não precisa me esperar para
o jantar — diz Jonathan, enquanto tomamos café da manhã.
— Por que não o convida para jantar aqui em casa? Talvez isso possa
ajudar, prometo que faço lasanha!
Fico toda arrepiada, sua voz é grossa e rouca, é a primeira vez que a
ouço.
De repente, me sinto uma idiota por ter dado a ideia daquele jantar.
Quem eu queria enganar, afinal? É pouco provável que meu marido consiga a
vaga idiota que ele tanto quer. Eu estava achando que era só colocar um
vestido com decote e tudo daria certo?
— Não sei, seu marido me disse que você é... era advogada, deixou
de exercer a profissão em prol do lar, estou certo?
Fico admirada de ouvir isso, Jonathan falando de mim para seu chefe?
E que ideia é essa de que eu “era” uma advogada? Mesmo não exercendo a
minha profissão, jamais deixarei de ser.
— Ah, então um dia você pretende voltar? Já faz cinco anos que está
fora do mercado, não é? — pergunta Daniel, sem tirar os olhos de mim.
— Sabemos por que o seu marido quis dar este jantar, aliás, você quis
— sussurra de um jeito sensual.
— Ele quer ser promovido e você se permitiu ser usada como uma
maneira para isso — responde. — Não acha um pouco baixo até para você,
sendo tão bonita assim?
Fico surpresa com isso. Ele acha mesmo que eu ofereci o jantar, para
acabar dando outra coisa para ele? Só pode ser brincadeira!
— Você está louco. Quis apenas dar esse jantar para... para...
Uber
Não transei, é claro, porém, pensando agora, me arrependo por não ter
feito isso.
— Augusto!
— Joanne!
Mas penso que, se não tivesse sido ele, seria outro. O errado é ele ou
Jonathan, por ter me traído? Nem preciso de resposta para isso.
— Sinto muito. Não queria que fosse assim, nós nos apaixonamos,
não foi intencional — justifica ao me olhar pelo espelho.
— Isso não justifica o que aconteceu. Ele mentiu para mim, e ainda te
levou até a minha casa! Como você teve coragem de ser amante de um
homem casado por tanto tempo? — Estou gritando dentro do carro,
enfurecida.
— Você tem o total direito de estar nervosa, não tiro sua razão. Só
espero que um dia possa entender e nos perdoar — diz. — E respondendo a
sua pergunta... Quando amamos alguém verdadeiramente, somos capazes de
fazer loucuras pela pessoa. Nunca me senti feliz em ser amante do seu ex,
mas também não mando no meu coração.
— Pode me deixar aqui mesmo, vou andando. Não consigo fazer isso
— digo, procurando o dinheiro na bolsa.
Ainda bem que você não deixou Jonathan mexer nesse dinheiro,
senão ele iria gastar com esse aí!
— Você tem certeza disso? Te deixo mais próxima, aqui no gps não
mostra o local ao certo, parece que faltou você colocar o número para onde
vai.
— O Sr. Ferreira não veio hoje, parece que está doente, porém, vou
ver se outra pessoa pode te entrevistar — diz ela.
— Tudo bem. Sabe me dizer o nome dele? Era outro, mas parece que
está doente.
— Não sou deste setor, estou apenas cobrindo folga, então não sei te
dizer.
— Ora, ora, ora, veja só quem está aqui — diz ele, sorrindo. — Seja
bem-vinda, querida.
Capítulo 3
Vejo-o dar a volta em sua mesa e parar de frente a ela, então encosta
seu corpo e enfia as mãos nos bolsos da calça social.
— Não pode ser — digo, mais para mim do que para aquele babaca.
Droga, as coisas só pioram para mim!
— Mas é claro que não, você está louco? Meu ex trabalha aqui e você
seria meu chefe, que é o ápice da grande derrota que está a minha vida.
— Tudo bem. Você sabe onde fica a porta — diz ele ao se ajeitar e
fechar os botões do paletó. O movimento é tão sexy, que me sinto arrepiar
por inteira.
Ouço aquilo e sinto a raiva me consumir, porém, além dela, sinto algo
chamado decepção. Se eu tivesse aceitado os flertes e transar com ele, levaria
um pé na bunda?
— Bem, prefiro não falar sobre isso — respondo, ainda séria e com as
pernas cruzadas.
Sinto vontade de revirar os olhos ao ouvir isso, como ele pode ser tão
babaca?
Ele solta uma gargalha e isso sim me tira do sério, então tento sair e
ele me agarra. Me debato e dou diversos socos no seu peito, tentando escapar.
Daniel parece não sentir nada, se sente, disfarça bem, pois continua na pose
de macho alfa de antes.
— Você nem é tudo isso! Conheço outros ceos muito melhores que
você! — digo, nervosa.
— Isso não vai aliviar minha tensão — respondo —, mas aceito, por
educação.
Ele sorri e vai até uma pequena copa que há no seu escritório. Tinha
ficado tão estupefata que era Daniel Braga que iria me entrevistar, que nem a
havia notado.
Eu havia dado uns tapas no cara e ele ainda me contrata para trabalhar
para ele? Deve ser mais louco que eu.
*
Daniel Braga me mostra onde trabalharei, na verdade, o local que irei
começar a trabalhar na próxima semana fica ao lado da sua sala. Entro e noto
uma sala simples, com duas mesas brancas — uma de frente para outra —,
dois computadores e janelas do chão ao teto. Vejo que em uma das mesas há
uma moça muito bonita sentada, concentrada no que está vendo no
computador.
Daniel aponta para mim e torço as mãos, nervosa, então aceno para
mulher e sorrio.
— Bem, essa será sua mesa — diz Daniel, me tirando dos meus
pensamentos e mostrando a mesa vazia que fica de frente para Suellen. —
Qualquer dúvida que tiver ou problema, fale diretamente com a Sue, caso ela
não consiga resolver, passem para mim.
Será que ele quer dizer que não tem chance alguma de eu estar
grávida? Está explicado por que fui contratada — esse homem vai infernizar
minha vida por conta do que Jonathan me fez.
— Bom, muito bom. Agora me diz, o que pretende fazer mais tarde?
Dou de ombros. Se ele pensa que vamos transar, está muito enganado.
Fico nervosa em como o sorriso desse sacana pode ser tão perfeito.
— Vou pensar no seu caso — digo e aperto a bolsa contra meu corpo
—, caso tenhamos terminado, vou embora.
— Claro que não, mas já reparou que dono de empresa sempre tem
um bar no escritório? Por que nós não podemos beber também?
Concordo e logo nossos pratos são postos sobre a mesa. Sinto o aroma
da comida caseira e minha boca enche d’água.
— Augusto era o motorista. Como ele foi mandado embora, teve que
arrumar outra coisa, com certeza para bancar despesas, aluguel, entre outras
coisas dele e de Jonathan.
— Mas falando sério, você deve ter uma história e tanto para contar,
só não quer — digo, levando uma colherada do sorvete à boca.
— Pode ser que sim, mas não quero, não sou de sofrer muito por
homem, até porque já estou interessada em outro
— Henry Cavill. Quem não quer uma noite de sexo com aquele cara?
Capítulo 5
— Ok, até mais — digo e desligo, sem ao menos ouvir uma resposta.
— Gosto do seu jeito, mocinha. Agora me diz uma coisa, pois preciso
saber — diz ele em um tom sedutor. — Vai jantar comigo ou não?
Reflito um pouco sobre isso. Se eu não for a esse jantar, Daniel vai
continuar enchendo meu saco até que eu ceda aos seus caprichos idiotas,
então, para acabar com isso logo, resolvo arriscar e aceito.
— Mas saiba que apenas iremos jantar, não tente nenhuma gracinha,
ok? Não quero ser rude.
— Você está sendo rude comigo desde o primeiro instante em que nos
vimos. Mas fique tranquila, quero apenas jantar para comemorar a sua
contratação.
Encaro o local onde moro há dez anos e penso que é uma boa ideia
me mudar daqui, ir para um apê menor. Posso locá-lo e com o valor pagar o
aluguel do meu novo lar. Paro de pensar sobre isso e decido me arrumar.
Faço um penteado simples e passo um pouco de maquiagem, aplicando um
batom vermelho nos lábios, logo em seguida, escolho um vestido vermelho
de seda, que vai até meus joelhos. Encaro minha imagem no espelho e vejo o
quanto estou bonita, então escolho saltos altos e penso que, se Daniel tentar
algum tipo de gracinha, darei um pé na sua bunda de forma esplêndida.
Se ele acha que pode me provocar desse jeito e sair impune está
enganado. O jogo de gato e rato vai começar e eu farei de tudo para sair
vitoriosa dele.
— Uau! Você realmente está muito bonita, nem parece a mulher que
foi trocada por outro homem que vi mais cedo — diz.
Ele pega a minha mão e a leva aos seus lábios. Sinto meu corpo ficar
todo arrepiado, então puxo meu braço e engulo em seco.
— É linda — afirmo.
Saio dos meus pensamentos assim que Daniel começa a dirigir, então
coloco o cinto de segurança e vejo como ele dirige com maestria. Não deixo
de reparar também em seu peito subindo e descendo e em suas mãos fortes e
grandes segurando o volante elegantemente.
— Desculpada. Mas se quiser, uso minha boca para outra coisa — diz
e pisca para mim. — Chegamos.
— Ainda não sei, mas com certeza vou de comida brasileira — digo
ao observar o cardápio. Há tantas coisas, que chego a ficar perdida.
— Uma garrafa de doze mil reais precisa ser deliciosa mesmo — diz
ele, piscando.
Ouço isso e vejo como prazer exala desse homem. De repente, penso
que não seria uma má ideia beijá-lo, afinal.
— Afinal, por que me trazer a este restaurante caro, sendo que não
somos nada além de chefe e funcionária? E olha que ainda nem comecei a
trabalhar com você.
Ele não vai me dar paz e me perturbará o quanto quiser, ainda mais
agora que vou ser sua secretária.
— Porque você é linda e seria difícil não se apaixonar por essa beleza
— responde com seriedade. Ele passa a língua pelos lábios e me arrepio
inteira.
— As pessoas vão achar que sou uma prostituta — digo para ele
enquanto esperamos na fila do McDonald’s.
Fico em silêncio e ele faz nossos pedidos, então levo o sorvete até os
lábios e sinto o delicioso sabor.
— Sorte?
— Sim, sorte por não ter mais um babaca como aquele ao seu lado e
uma chance de arrumar um homem de verdade.
Posso dizer que fiquei surpresa com o Daniel que tive a oportunidade
de conhecer no jantar. Claro que o lado irônico, as farpas e arrogância
estavam lá, mas fiquei surpresa em ver que ele pode ser um cavalheiro.
Pego o telefone e ligo, não demora muito e ela me atende com a voz
doce como a da mamãe.
— Minha filha, eu sempre soube que tinha alguma coisa errada com
ele — diz ela e suspira. — Como está se sentindo? Quer que eu vá passar
alguns dias com você aí?
— Isso é ótimo, minha filha, mas não fique abalada com isso, vamos
providenciar tudo.
— Me conte, querida — pede com sua voz doce. Minha tia é o único
familiar próximo que eu tenho, meus outros parentes não falam comigo desde
a morte de mamãe.
Eu: Vou ficar três dias sem seu humor ácido e arrogância?
Obrigada, chefinho, vou aproveitar meu fim de semana de paz.
Eu: Ainda não sei quanto quero no aluguel, mas já que insiste,
quero sua ajuda sim, vai ser mais fácil alugar aqui e arrumar outro
lugar.
Eu: Ok.
Ele não envia mais nada e aparece off-line.
— Dois mil? Acho que está acima do valor. E como seu primo aluga
um lugar sem nem ver antes?
Essa história toda está me deixando confusa, ainda mais com o sono
que sinto.
— Bem, talvez você não saiba, mas a empresa que te vendeu esse
apartamento me pertence. Temos nos nossos arquivos as imagens de todas as
casas e apartamentos que vendemos, e como você não alterou muita coisa,
ele se baseou nas fotos antigas — diz displicentemente.
Realmente não sabia, mas não me incomodo com isso agora, a única
preocupação que tenho é onde irei morar, já que meu apartamento está
alugado, e um novo foi locado.
Decido colocar uma calça jeans clara e uma camiseta qualquer, nos
meus pés calço um par de tênis, em seguida, prendo meus cabelos em um
rabo de cavalo. Não passo maquiagem, então, quando estou pronta, meu
chefe — não consigo me acostumar com a ideia — manda uma mensagem
avisando que havia chegado. Pego meus documentos, as chaves, o celular e
desço, sentindo um pouco de fome.
— É, talvez valha a pena comer pouco para ter essa barriga, mas
prefiro me encher de comida — respondo, não dando atenção ao que disse
sobre estar babando por ele. Que não é mentira, de certa forma.
— Estou curiosa para saber onde que é o tal apartamento. Aliás, nem
sei se vou gostar ou não do lugar.
Daniel não precisa ser anunciado, ele me diz que tinha ido lá antes e a
pessoa que está alugando o apartamento deixou a nossa entrada liberada.
— Fique com ele, você gostou. Está todo mobiliado, só terá o trabalho
de trazer suas roupas e objetos pessoais, tem até televisão! — responde, todo
animado.
Observo Daniel atentamente e sinto vontade de rir. Até ontem não
suportava a ideia de ficar perto dele, e agora está me ajudando com um apê
novo, o que me deixa de cabeça virada. Como ele conseguiu fazer isso tudo
em míseras horas?
— Não. Divido uma boa parte com Luke Evarns e Caio Brown — diz,
brincando. Reviro os olhos e coloco as mãos na cintura. — Que foi,
Diabinha? Se você gostou, fique.
— Ah, é isso? O preço é aquele mesmo, mas para outras pessoas. Para
você, eu faço mais barato.
Penso sobre isso e vejo o quanto é surreal. Será que estou sonhando?
Talvez tudo seja a minha imaginação fértil e, na verdade, estou em casa,
deitada, com Jonathan me abraçando.
— Por que está sendo tão gentil, afinal? Até ontem estávamos
brigando, te dei uns tapas, se não se recorda.
— Você não vai me ouvir transando com ninguém, se é isso que quer
dizer e sua língua enrolada não deixa. Não sou de trazer mulheres para o meu
apartamento.
— Não quero saber da sua vida pessoal, Daniel — digo, nervosa. Não
posso ser vizinha desse homem. Se na empresa ele já fará um inferno na
minha vida, imagine morando ao lado.
Sinto vontade de bater nele por se manter tão calmo, enquanto estou
esbravejando. Engulo em seco e solto um suspiro frustrado. Realmente havia
gostado do apartamento, e saber que o meu já está alugado por um preço
acima do mercado me deixa tentada... então, por que não aceitar a oferta?
Apesar de ter Daniel ao meu lado todos os dias, teria uma boa grana no final
do mês, que eu poderia juntar com a herança que tenho guardada. Em poucos
meses, estaria com um carro novamente e, além disso, com a poupança cheia.
— Vou ficar — digo —, mas com uma condição.
Ele assente e segue na direção da saída, então me olha uma última vez
e morde o lábio, passando sua língua nele logo em seguida.
Peço um Uber até meu apartamento e, assim que chego, vejo o quão
sozinha eu sou. Não tenho sequer uma amiga para conversar e pedir um
conselho, e isso me desanima. Preparo uma taça de vinho e decido começar a
separar o que vou levar para o apartamento novo. Pego os meus livros e os
embalo, vou até meu quarto e abro as portas do guarda-roupa. Há algumas
coisas de Jonathan ainda, ele havia saído tão apressado para ficar com seu
namorado, que esquecera o relógio que eu havia dado a ele no nosso
aniversário de casamento.
Dou risada ao pensar no quanto sou idiota; ele não esqueceu nada, não
levou por ser justamente um presente meu. Jonathan não quer se lembrar de
mim em nenhum sentido.
Junto as coisas dele que havia ficado e enfio tudo em um saco de lixo
— cds, dvds, livros didáticos, algumas roupas que eu havia dado e até mesmo
um perfume. Fecho o saco e coloco na lavanderia, ansiosa para levar até a
lixeira e jogar tudo fora, já que ele não deseja nada disto.
Mas minha mente está uma pilha com tudo que aconteceu nas últimas
vinte e quatro horas, então não presto muita atenção e decido mandar uma
mensagem para Sue, que havia me dado seu número de telefone antes de nos
despedirmos no dia anterior.
Eu: Pois agora vai, venha para a minha casa quando sair do
trabalho e vamos beber algumas cervejas, o que acha?
Sue: Tenho uma ideia melhor, por que não vamos a um barzinho?
Podemos ver os caras bonitos, paquerar.
Eu: Combinado!
Aperto sua mão e agradeço, animada com isso. Minha vida mudou
rapidamente e estou adorando isso.
Sue: Nada de saia, você não vai para a igreja. Use short, está calor
e os caras piram.
Vejo a sua foto de perfil e contorno com o dedo seus lábios enquanto
imagino como deve ser beijá-lo, mas logo afasto a ideia, lembrando-me que
em menos de setenta e duas horas irei começar a trabalhar para ele. Esqueço
isso por um tempo e aviso Sue que cheguei, então, assim que saio do carro e
vou para a estação, eu a vejo parada, me esperando.
Me afasto de novo dele e vejo Sue dançando com Ed, o que me faz
revirar ainda mais meus olhos. Mas que droga. Será que os dois combinaram
tudo?
Daniel vem para o meu lado, nas suas mãos dois copos de caipirinha
de morango.
Vejo o enorme sorriso dela e sorrio também, feliz por alguém estar se
divertindo aqui.
Uma vez que tinha saído para me divertir, resolvo que farei
justamente isso, sem me importar se meu chefe está ao meu lado, querendo
dançar.
— Não posso acreditar que estão tocando essa música aqui — digo.
— Sim, é tão velha quanto a calcinha que você está vestida — diz
Daniel, para me provocar.
Vou até o bar para disfarçar a vergonha que sinto por querer beijar
meu futuro chefe. Assim que encosto, peço uma cerveja e o vejo ao meu lado
novamente.
Dou risada e aceno, confessando que havia ficado com medo, então,
após pagarmos a conta, saímos da balada, com Daniel e Ed nos nossos
calcanhares.
Depois de assentir, nós o seguimos até seu carro, que não está muito
longe dali.
Penso que em poucos dias não estarei morando mais aqui. Assim que
me coloco para dentro, corro para o banheiro e tomo um banho. Quando
termino, sigo para minha cama apenas de calcinha e sutiã e me deito. Sinto o
mundo girar e, depois de um bom tempo, apago.
*
Acordo com uma batida na porta e uma dor de cabeça. Levanto-me
em um pulo e recordo-me da madrugada passada, então bocejo e ouço o
barulho novamente. Ergo a sobrancelha, sem saber quem está batendo à
minha porta, então sigo de roupão até ela e a abro, dando de cara com minha
tia.
Seguimos até o sofá e nos sentamos lado a lado, ainda segurando suas
mãos.
— Tenho certeza que ela estaria aqui, agora mesmo, preparando uma
xícara de café para você e dizendo que não deve chorar por causa de
Jonathan. Olha, minha querida, não sou homofóbica e você sabe disso, me
conhece mais que qualquer outra pessoa, mas isso que ele fez... é
imperdoável. Como teve coragem de te trair, sendo que você renunciou sua
vida toda por ele.
— Não vamos falar de Jonathan, não quero nem pensar nele — digo,
suspirando. — Tenho ótimos motivos para estar feliz. Arrumei um emprego e
vou me mudar, já até aluguei aqui, não é ótimo? A propósito, estou louca
para te levar lá, o local é tão chique que preciso cadastrar a minha biometria.
De quebra, estou pensando em já levarmos algumas coisas, o que acha?
— Mas antes, vamos sair para tomar um café, titia, hoje é por minha
conta!
Tia Ester concorda e sorri. Ajudo-a a levar as malas para o quarto de
hóspedes, mas como ele foi escritório por muito tempo, não tem cama, então
titia terá que dormir comigo.
Dou uma olhada no local enquanto nossos pedidos não chegam. Titia
segura as minhas mãos e sorri.
— Obrigada por vir, titia. Estou tão ansiosa para chegar segunda-feira
logo e poder começar a trabalhar. E adivinhe?
— Foi meu chefe que arrumou o apartamento para mim, assim como
foi ele que alugou o meu para um primo dele — conto, notando a surpresa
nos seus olhos. — E tem mais. Além de alugar meu apartamento por um
preço acima do mercado, alugou este para mim superabaixo.
— Ele vai me pagar superbem e daqui, fica muito mais fácil ir para o
trabalho — digo —, e tem mais...
— Claro que não. Ele fez isso tudo só para encher meu saco e me
provocar. A senhora precisa conhecê-lo, verá com os próprios olhos o
“Carrasco” que ele é.
— Acho que está na hora de irmos organizar suas coisas. Seria bom
se mudasse antes de começar a trabalhar, não acha?
— Veio trazer suas coisas já? Talvez esteja ansiosa para se mudar —
diz, piscando.
— Ah, o prazer é todo meu. Minha sobrinha falou muito sobre você,
mas não parece ser a mesma pessoa.
— Titia!
— Não se apegue ao que sua sobrinha fala, ela tem muitas impressões
sobre mim, e poucas são reais.
Droga!
Capítulo 11
Eu: Acredito que amanhã, titia está certa, melhor mudar antes de
começar a trabalhar.
Daniel: Quem tem que aproveitar é você, sua vida vai mudar
completamente a partir de amanhã.
Quando o barulho cessa, noto que titia não está na cama, então sigo
até o banheiro e lavo o rosto e escovo os dentes. Vou até a cozinha e a
encontro de pé, com um bule nas mãos e a mesa já pronta.
— Bom dia, titia. Levantou cedo — digo e dou um beijo no seu rosto.
Eu me sento, ela se coloca na outra cadeira e sorri.
— Ele disse que ficou sabendo, não sei como, que você havia alugado
o apartamento — diz titia, com impaciência na voz. — Acredita que o safado
quis insinuar que tem direito sobre o apê?
— Se ele pensa que tem algum direito sobre alguma coisa só por ter
sustentado a casa, está enganado. Quem pagou este apartamento todo fui eu,
com minhas economias, o valor do meu carro e um pouco da herança dos
meus pais.
— Não se preocupe com isso, só te contei para ficar ciente, caso ele te
ligue e queira se fazer de vítima — diz ela, sorrindo. Assinto e termino o café
enquanto ela continua me encarando. — Daniel vem te ajudar, não é? Eu vi
vocês trocando mensagens ontem.
— Sim, ele vem às nove, aliás, vou me trocar para ele não me ver de
pijama.
— Obrigada por vir, Ed, realmente não imaginava — digo, sem graça.
Engulo em seco e encaro Ed, que também usa bermuda que marca seu
pacote extra G, e uma camiseta regata, revelando os músculos enormes.
Arregalo os olhos e mostro o dedo do meio para ele sem que minha
tia veja.
— Não seja, bobo, faço num instante — diz ela antes de se dirigir
para a cozinha.
Ed ri e Daniel dá de ombros.
O rapaz jovem nos ajuda e assim que estamos com todas as coisas
arrumadas nos veículos, encaro o prédio onde morei durante anos uma última
vez e entrego as chaves para Ed.
— Que você tenha momentos mais felizes que eu tive em todos esses
anos nesse apartamento — digo e sorrio.
*
Parece que meus pés flutuam quando finalmente saio do carro e
começo a tirar as caixas do porta-malas. Sinto um frio na barriga e meus
olhos ficam marejados, então afasto-as e vejo Daniel vindo em minha
direção. Sorrio e retiramos as caixas do Uber, pago a corrida e encaro o
edifício.
Titia vem para o meu lado e aperta a minha mão, enquanto vejo Ed
sorrindo.
— Vou pedir ajuda com as caixas para subirmos logo — diz Daniel.
Assinto, tentando não pensar nisso e saio, com tia Ester nos meus
calcanhares. Sigo até o apartamento e sinto meu coração bater
descompassado, então coloco a minha digital e a porta se abre, revelando o
apartamento imaculado.
Entro e vejo os rapazes colocarem as caixas para dentro, então decido
ajudar e, em poucos minutos, todas as minhas coisas estão no meio da sala
branca.
— Ah, querida, estou tão feliz por você! — diz titia enquanto me
abraça.
Assim que vejo meu novo lar todo arrumadinho, respiro fundo e solto
o ar, formando um sorriso. Não consigo acreditar que me mudei, ainda mais
para um apartamento maior e muito mais bonito.
Vou até a pia, lavo as mãos e começo a ajudar minha tia a preparar o
almoço.
— Faremos lasanha.
— Eu amo sua lasanha, tia. Graças a Deus você está aqui comigo.
— Bem, essa fomos nós duas que preparamos — diz tia Ester. —
Ofereceria uma cerveja para vocês, mas como sabem bem, minha sobrinha se
mudou hoje, foi sorte encontrarmos algo bom para preparar o almoço.
— Tudo bem, fique tranquila, dona Ester — diz meu futuro chefe, me
fazendo revirar os olhos.
— Minha mãe — diz Daniel. — Desde que me conheço por gente, ela
faz isso, então beba seu vinho e faça um pedido.
— Devo dizer que tenho certeza que está gostosa por causa de dona
Ester — diz Daniel para me provocar.
— Carrasco — sussurro.
— Sim, ela diz que é uma vergonha um homem na minha idade estar
sozinho — responde e sorri.
— Sim, ele vem com ela — responde Daniel. — Aliás, eles chegam
em poucos dias e farei um jantar em casa, as duas estão convidadas.
— Não sei...
— Mais uma vez obrigada por tudo. Nos vemos amanhã, no trabalho
— digo e aperto a mão de Daniel, sentindo seus dedos apertarem a minha
pele enquanto ele sorri.
— Melhor não. Será meu primeiro dia e não quero ser o assunto —
respondo.
— Obrigado por tudo, Joanne, peço para meu primo entrar em contato
com você em relação ao depósito e a papelada — diz Ed, concordo sorrindo e
me despeço.
— E o que foi?
Não se esqueça que você vai trabalhar com Daniel Braga e, além
disso, no mesmo lugar que seu ex-marido gay.
Tia Ester já está de pé, como presumi, seus cabelos estão um pouco
bagunçados e o sorriso estampado no rosto, como sempre. Sigo até ela e lhe
dou um beijo no rosto, sorrindo a todo instante; eu até pareço uma palhaça de
circo.
— Bom dia, querida, como você está linda! — diz tia Ester enquanto
me encara.
— Jonathan — diz titia com nojo na voz. — Ele não tem o direito de
abrir a boca para nada, ele te traiu e abandonou.
— Não vamos pensar nisso, quero contato com ele apenas quando o
advogado avisar que os papéis já estão prontos para serem assinados.
— Provavelmente sim, tia, mas te aviso antes. Até mais tarde. — Dou
um beijo rápido no seu rosto e abro a porta.
Ele assente, ainda sorrindo. Sinto o cheiro forte do seu perfume, então
prendo a respiração o máximo que consigo, sabendo que se continuar
sentindo seu cheiro, irei acabar embriagada por ele e o agarrando ali mesmo.
— Você tem certeza absoluta que não quer uma carona? — pergunta
ele ao me encarar.
— Sim, acho melhor evitarmos isso. Não quero que vejam a secretária
saindo do carro do chefe.
— Então nos vemos na empresa. Até logo. — Daniel revira os olhos e
concorda, suspirando.
Ele volta para o elevador para ir até o subsolo segundos antes do meu
veículo se aproximar. Sinalizo que fui eu que pedi e entro, vendo um homem
ruivinho, gordinho, que me lembra muito o Ed Sheeran.
— Bom dia. Isso mesmo — digo e sorrio, vendo no aplicativo que seu
nome é David.
— Sabe como homens são moles para doença, não sabe? Se fosse
uma mulher, estaria aqui nos dando ordens.
— Pode até ser, mas muitas garotas e garotos dariam tudo para terem
uma noite com ele — diz quando estamos seguindo para o elevador.
— Por quê?
— Não foi isso que pareceu naquela noite — diz Sue, sorrindo. —
Pode dizer, você está louca para que ele seja seu ceo arrogante!
— São pessoas que querem reuniões com ele para tentarem fechar
algum contrato, então é só olhar na agenda eletrônica e ver quando o sr.
Braga tem disponibilidade — diz ela, sorrindo e me entregando um iPad.
— Entendi.
— Falando sério agora — diz ele, seguindo até o bar —, como está
sendo seu primeiro dia? Jonathan me disse que te viu.
— Sim, nos vimos de longe, nada de mais. E por incrível que possa
parecer, meu dia está sendo ótimo. Sue é maravilhosa e está me ajudando
muito.
— Fico realmente feliz com isso. Seu exame será que horas?
Ele concorda com um aceno de cabeça e leva o copo com uísque aos
lábios.
— É sobre Ed, ele vai transferir agora o dinheiro para a sua conta —
diz, erguendo a sobrancelha.
Olho para Sue e reviro os olhos, logo seguimos para a saída do prédio.
*
Não demora muito e estamos adentrando o apartamento. Sue fica
embasbacada com o local, encarando cada detalhe.
— Isto aqui está dos deuses! — diz antes de beber um pouco de suco.
— Fico tão contente com isso, querida — diz ela, apertando minha
mão após o almoço.
— Eu também, titia.
— Não se sinta única nesse quesito, ele fez a mesma coisa comigo —
diz Sue, rindo.
Despeço-me dela e, após sair do prédio, sigo para o do lado. Falo com
a recepcionista e não demora muito para me chamarem.
— Sim, doutor.
Observo seu rosto e noto sua cabeça careca, os óculos de grau, a barba
rala e o jaleco fechado.
— Sou advogada, faz alguns anos que não atuo na área, trabalhava em
diversos casos.
— Não, senhor.
— Diabinha.
— Carrasco.
— Viu? Zero problemas por ter vindo comigo — diz, seu tom de voz
sedutor.
Abro a porta, pronta para sair, mas sou surpreendida quando Daniel
segura o meu braço. Engulo em seco e me viro, encarando seus olhos que
revelam o fogaréu de mais cedo.
Fascinada com a beleza desse homem, puxo meu braço para tentar me
soltar antes eu que faça alguma besteira.
Seus lábios encostam nos meus e ficam parados, ambos sem reação,
mas Daniel me puxa para mais perto e envolve minha boca com sua língua,
entrelaçando na minha. O gosto do seu beijo é diferente de todos que já
provei antes — uma mistura sensacional de uísque e chiclete de hortelã.
Rapidamente eu o puxo contra o meu corpo, então sua mão entremeia nos
meus cabelos e me faz soltar um gemido involuntário. Sinto nossas bocas
conectadas e acaricio seu peitoral forte por cima da camisa. Me remexo no
banco do carro e Daniel o afasta para trás com uma mão enquanto a outra
passeia pelo meu corpo.
Segundos depois, meu chefe sobe por cima de mim e reclina o banco
o máximo possível, então nos encaramos por um minuto inteiro e, por mais
estranho que possa parecer, não me sinto constrangida por ele ser meu patrão.
— Estava louco para fazer isso desde aquele jantar na sua casa,
Diabinha — sussurra enquanto me encara, sua respiração acelerada.
— E por que não fez?
— Você ainda era casada, mas agora não é mais. Posso te beijar sem
ninguém para atrapalhar — declara.
Como ele ainda está por cima de mim, aproveito e passo as mãos pelo
seu peitoral, sentindo o quanto é definido. Não deixo de notar o enorme
volume no meio de suas pernas. Algo estala na minha mente e me faz lembrar
onde estamos e que a porta do carro está aberta, então afasto Daniel e me
ajeito, com ele me encarando com a expressão séria.
Trinta dias. Preciso me segurar por trinta dias, não deixar Daniel me
conquistar, então ganharei a aposta. Será que realmente conseguirei?
— E o seu dia?
— Daniel me deu uma carona até aqui hoje, após eu fazer o exame
admissional — digo, enquanto tia Ester ouve atentamente. — Acabou que,
quando chegamos, ele me agarrou e me beijou.
Termino o banho e escolho uma saia preta, saltos altos e uma blusa
clara. Decido deixar os cabelos soltos e passar uma maquiagem leve. Assim
que abro a porta do quarto, sou surpreendida com tia Ester sorrindo e me
entregando uma xícara de café.
— Daniel.
— Não precisava...
— Ele está certo, querida — diz minha tia. — Imagine ir todos os dias
de táxi? Vai gastar seu salário somente nisso.
Como Daniel havia dito, ninguém nos vê, então, assim que chegamos
ao prédio, agradeço a carona e saio às pressas do seu carro, seguindo a passos
largos para o meu local de trabalho. Encontro Sue sentada, mexendo no
computador, dou um beijo em seu rosto para cumprimentá-la.
— Como assim?
— Daniel tem uma reunião daqui a pouco e você precisará
acompanhá-lo. É isso que uma secretária particular faz.
Todos aplaudem e Daniel sorri e, assim que as palmas cessam, ele nos
encara.
— Pode ter certeza que será a primeira, vou ter que desabafar com
alguém após o almoço.
Sinto vontade de fechar a minha mão na cara dele, mas apenas entro
no elevador, com Sue nos meus calcanhares.
Aproveito para avisar a tia Ester que hoje não irei almoçar em casa,
ela responde apenas com um ok, e quando vejo, já estamos no térreo. Saio
com Jonathan me seguindo e me despeço de Sue, que pisca para mim e vai na
direção da recepção.
— Fico feliz por você, Joanne — diz ele, olhando pela janela.
— Não sei, mas a questão não é essa — diz, assim que o taxista para.
Jonathan me encara e vejo a tristeza nos seus olhos. Sei que está
sendo difícil para ele, então, me odiando por isso, seguro sua mão e a aperto.
— Antes, você precisa entender que eu não queria que fosse assim —
começa, engolindo em seco, os olhos marejados. — Quando eu era criança,
meus pais perceberam que havia alguma coisa “errada” comigo, então, já na
adolescência, cheguei nos dois e disse que gostava de garotos.
“Como pode imaginar, eles não reagiram bem, meu pai até mesmo
ameaçou me expulsar de casa e, ainda por cima, me deserdar. Veja bem, eu
não tinha para onde ir e era menor de idade na época. Então acabei
concordando com eles e disse que faria tudo para mudar isso. Eu me julgava,
sentia nojo e repulsa de mim mesmo, até pensei em me matar, acreditando
que isso iria ajudar.”
— E você preferiu deixar a pessoa que abriu mão de tudo por você e
jogar dez anos no lixo — respondo, nervosa. Fico com ainda mais raiva de
Jonathan ao saber de tudo.
— Espere sentado, acredito que isso não tem perdão — sussurro para
não sermos ouvidos. — Quando os papéis do divórcio saírem, me avise que
irei assinar na hora, assim você poderá ser feliz com seu verdadeiro amor.
— Não acha que é perigoso sermos vistas aqui, ainda mais com você
fumando?
— Claro que não, garota, faço isso há anos. Me diz, quem usa escada
hoje em dia? As pessoas só querem saber de elevador.
— Não fique pensando nisso, pense que agora você está solteira para
poder ficar com quem realmente quer. E a propósito, vamos juntas para esse
coquetel que terá na sexta-feira, todos os funcionários estarão lá
acompanhados, e terá muitos drinques.
Concordo sem pestanejar, sabendo que Sue vai fazer de tudo para me
arrastar para aquilo, então, com isso em mente, volto a trabalhar.
Capítulo 17
— É este — digo.
— Linda, querida, mas vai ficar mais ainda se usar isto aqui. — Titia
segue até o guarda-roupa e, de dentro do meu porta-joias, pega um par de
brincos que pertenceu a mamãe.
— Não, mas com certeza é ele. Se fosse outra pessoa, o porteiro iria
anunciar.
— Pensei que iria fazer o discurso sobre verem você saindo do meu
carro — responde, com o sorriso ainda presente.
Tia Ester vai para o seu quarto e meu chefe fecha a porta atrás dele, se
aproximando cada vez mais de mim.
— Continuo com medo de me verem, mas uma carona vai ser bom —
digo, procurando meu celular e carteira. — A propósito, temos que conversar.
— Não pedi, mas tenho certeza que não tem necessidade nenhuma do
meu ex saber o que acontece na minha vida.
— Qual?
— Certo em quê?
— Que eu quero isso tanto quanto você — respondo. — Mas não irei
dar o braço a torcer, você é meu chefe e meu ex-marido é seu funcionário.
Observo a noite e vejo o quanto está bonita. Logo ele começa a seguir
pela avenida, se infiltrando no meio do trânsito.
— Com certeza, alguém vai sair machucado — respondo, ainda o
encarando.
— Seu problema é que pensa demais nas pessoas que não pensam em
você — expõe. — Veja só, toda preocupada com a opinião de Jonathan e das
pessoas da empresa, mas ele não pensou em você quando enfiou o pau no
rabo do Augusto.
Fico quieta diante daquilo. Como ele pode me conhecer desse jeito?
Será que sou tão transparente assim?
Ele assente, sai do veículo e abre a porta, estendendo a mão para mim.
O que ele quer dizer vai além de apenas segurar sua mão como apoio
para sair do carro, estou certa disso. Respiro fundo e exalo lentamente, então,
devagar, estendo minha mão para ele.
Sei, no fundo do meu coração, que o simples ato de sair com Daniel
do seu carro fará não somente meu ex e amiga acreditarem que temos alguma
coisa, como toda a imprensa que está nos fotografando.
— Não acredito que você veio com o chefe — diz e sorri. — Não que
isso seja um problema, até porque sabemos que ele está louco para transar
com você, mas aparecerem assim, em público, com certeza vai render boas
manchetes. Você sairá como a nova mulher de Daniel Braga.
— Entendi.
— Então você não está com raiva por eu não ter sido sincera cem por
cento?
— Boa noite a todos os presentes — saúda ele, noto o quanto sua voz
fica mais grave no microfone —, como todos sabem, me chamo Daniel Braga
e sou dono e Diretor Executivo das Indústrias D&J. Recentemente, meu
sócio, Juliano, andou doente e agora, com sua melhora, voltará aos negócios.
É com muito orgulho que passo o microfone para ele.
— Sabe o que ele teve fora a gripe? — pergunto baixinho para Sue.
Penso sobre isso, afinal, o que leva alguém a tentar tirar a própria
vida?
— Joanne. — Ouço uma voz atrás de nós, então nos viramos e damos
de cara com Jonathan e Augusto.
— Só pode ser brincadeira — Sue diz e revira os olhos. Se fosse em
outra circunstância, com certeza eu estaria rindo.
— Se não quisesse, quando soube que ele era casado, tinha caído
fora! — digo, entredentes.
— Eu não deveria de ter vindo aqui hoje, foi a maior besteira que fiz
na vida.
— Por que Augusto está aqui? Pensei que ele não era mais seu
funcionário.
— Você não devia beber algo tão forte — diz ele. — Sabe como é,
mulher e tal.
— Só porque sou mulher sou fraca para bebidas mais fortes? Que
machismo idiota!
Uma música agitada está tocando, e vejo Sue dançando com Ed, noto
como eles se dão bem.
— Não disse isso, mas espero que se controle e não misture. Seria
ruim demais ter que levá-la bêbada para casa. O que sua tia iria achar?
Assim que paramos de dançar, puxo Sue pelo braço, nos despedindo
de Ed e seguimos até o bar para bebermos alguma coisa.
— Não estou não. Vamos lá, prometo que não será constrangedor.
— Com todo respeito, você é linda, Joanne — elogia ele, sua voz
rouca.
— Obrigada.
Ele se aproxima de Sue e a beija no rosto, então me sinto grata por ele
não ter feito o mesmo comigo.
— Sim, e posso dizer que foi uma das melhores escolhas — confessa
Daniel, sorrindo para mim. — Ela e Sue são muito eficientes, você precisa de
secretárias assim.
Juliano sorri e leva uma taça com vinho até os lábios, seus olhos ainda
em mim.
Desejo responder que jamais irei trabalhar com ele, se ele quiser uma
secretária, que contrate uma exclusivamente para ele, no entanto, não é
preciso, porque Daniel sorri e nega com a cabeça.
— Ele está caidinho por ela — afirma Daniel quando seguimos para o
lado de fora do local.
Reviro os olhos e esfrego meus braços, então Daniel tira seu paletó e
me cobre.
— Tudo bem, mas sem gracinhas, ok? Já tive muita coisa para uma
noite só.
— O quê?
— Quando Juliano beijou sua mão, você ficou toda arrepiada. Por
quê?
— Não foi nada do que você está pensando — respondo, olhando pela
janela do carro. — Na verdade, me causou uma sensação muito ruim, não sei
explicar, não foi uma coisa boa.
Viro meu olhar para Daniel e ele sorri.
— Isso é bom.
— Agora me responda por que você fechou seu punho, como se fosse
socar alguém naquela mesa — peço.
— Sim, me causa. Agora quero saber o que sente quando falo com
você, para se arrepiar desse jeito.
— Isso quer dizer que você está a fim de mim, seu chefe, seu
Carrasco, Diabinha? — Ele para o veículo.
Estou tão distraída com ele, que nem havia notado que já tínhamos
chegado.
— Descubra você mesmo — respondo, saindo do carro. Sinto o suor
brotar na minha testa e acelero meus passos na direção do elevador. Quando
Daniel se aproxima, entrego o paletó para ele, tentado fugir do seu olhar que
me queima por completo.
Ouço suas palavras reveladoras e esqueço o que irão dizer sobre nós e
até mesmo se irei perder ou não meu emprego. Jogo-me em seus braços,
sentindo seus deliciosos lábios macios cobrirem minha boca.
— Assim como você está louco para estar no meio delas, não é
mesmo? Mas não esqueci a aposta de não precisar pagar um ano de aluguel
se conseguir me conter. — Sorrio e mordo o lábio, passando a língua sobre
ele. Aproximando-me de Daniel, deposito um suave beijo em seu rosto. —
Até mais, Carrasco, boa noite.
Dou as costas para ele, que fica parado sem reação e com ereção, e
entro rapidamente no meu apartamento, me sentindo vitoriosa por não ter
caído na sua lábia.
Capítulo 20
Tia Ester me acorda dizendo que está de saída e que não é para
esperar por ela hoje, já que vai passar o dia na casa de uma amiga. Assim que
ela sai do meu quarto, continuo deitada por um tempo antes de resolver me
colocar de pé e ir tomar um banho. Durante o tempo embaixo da água, penso
em Daniel e na noite passada, em como, por pouco, não acabei na sua cama.
— Achei que já havia saído, titia — digo, escolhendo uma roupa para
colocar.
— Não teria tanta sorte assim. Como ele se chama? — Coloco o sutiã
e a calcinha, escolho uma camiseta qualquer e um short.
— Juliano. Ele disse que você sabe quem é.
— Bom dia, sr. Juliano. — Antes que ele beije minha mão, pego a
dele e a aperto.
E louco, penso.
Quero dizer não, afinal, além de ter sido um idiota e tanto por
pesquisar onde eu moro, ele me causa sensações estranhas e muito
desconforto. Mas então me lembro que ele é sócio de Daniel e acabo
aceitando por educação, pensando comigo mesma que talvez não vá ser tão
ruim assim.
— Não saiu nada nos jornais, como imaginamos que sairia, então não
poderei levá-la para a minha cama, como havia prometido.
— Todas dizem, mas sempre acabo calando a boca delas com o meu...
esquece. — Ele dá um sorriso sacana.
— Juliano veio aqui me convidar para tomar café. Ele disse que foi
até o meu antigo endereço e Ed contou a ele que agora estou morando aqui.
— Espera aí, meu sócio veio até aqui e não passou no meu
apartamento? — questiona, confuso.
— Sim, tive que aceitar o convite para não parecer rude, mas não me
sinto nem um pouco confortável perto dele. Como se alguma coisa ruim nele
despertasse quando estamos próximos.
— Alguma coisa que eu deva saber sobre seu sócio ou isso tudo é
apenas ciúmes? — pergunto, verdadeiramente curiosa. No fundo, a visita de
Juliano me incomodou, e muito.
— Eu não sei, Joanne, talvez seja o fato de que o Carrasco está louco
pela Diabinha.
— Ficarei o dia todo sozinha, você não quer passar o dia comigo?
Daniel Braga
— Bom dia, Daniel — diz ele suavemente, o tom de sua voz é rouco.
Ouço Juliano voltar a rir e sinto vontade de estar perto dele para socá-
lo, ver que não estou apenas ameaçando.
Não ouço uma resposta, porque meu sócio desligou antes mesmo de
eu terminar de falar.
Capítulo 22
— Para que são estas coisas nas sacolas? — questiono, seguindo até a
bancada e as colocando em cima.
— Ótimo. Então você vai cozinhar, porque não faço ideia de como
fazer isso. — Ao retirar as coisas da sacola, vejo dois enormes sacos de
Doritos e duas latas de Pringles de creme de cebola.
— Desde que não seja A Barraca do Beijo, por mim tudo bem. —
Ainda estou surpresa com esse Daniel que havia voltado para o meu
apartamento. Nada de arrogância, apelidos carinhosos e humor negro?
Olho bem para ele e mordo o meu lábio também, analisando como ele
é bonito.
*
Não posso negar que a tarde com Daniel Braga havia sido bastante
divertida. Acabamos comendo bastante guacamole — que estava delicioso
—, e vendo filmes clichês, o que, com certeza, me deixou mais surpresa
ainda por ele ver aquele tipo de filme.
Ruborizada ao ouvir isso, dou de ombros. Será que ele está dizendo
que eu causo tanto desejo nele que é difícil ficar ao meu lado sem querer me
“atacar”?
Dou risada, sigo até a cozinha, abro a geladeira e pego uma garrafa de
vinho, pensando que não seria ruim beber com Daniel.
*
Não demora muito e Sue é anunciada, em poucos minutos, abro a
porta e dou de cara com ela usando uma calça jeans escura e uma blusa com
um enorme decote.
— Eu sei disso, mas não quero ser o assunto, fora que vocês estavam
errados, não saiu nada nos jornais. — respondo e me sento na banqueta ao
seu lado. — Agora conte logo a fofoca.
— Tudo bem, lá vai. — Ela respira fundo, faz uma pose dramática e
sorri. —Ed e eu transamos!
— Isso mesmo que você ouviu — afirma. — Desde o dia que fomos
na balada ele estava flertando comigo, porém, quis dar um chá de canseira
nele.
— Claro que não! Eu já disse isso a você, e que boca aberta o Ed,
hein? — resmungo, me sentindo irritada.
— Me desculpa, ok? Não contei porque não queria que pensasse que
estou transando com Daniel, muito menos que fosse por interesse. Se tivesse
transado com ele, seria apenas desejo carnal.
— Então você confessa que sente alguma coisa por ele e está
louquinha para conhecer o pacote que ele guarda no meio das pernas, não é?
— pergunta e ri.
— Boatos nem sempre são verdadeiros... mesmo que uma parte seja.
— Me diz, por que você disse ainda mais agora que Juliano voltou?
— questiona, curiosa.
— Enfim, que seja — digo, bebo todo o vinho da taça e nos sirvo
mais. — Juliano foi até a empresa à procura do meu endereço e descobriu o
do apartamento que Ed mora. Você acredita que ele perguntou para onde eu
me mudei e veio aqui hoje?
— Acho que você precisa tomar cuidado com aquele cara e contar
tudo isso para o Daniel — comenta.
— Você ainda tem coragem de negar que quer ficar com ele?
— Aposta?
— Sim.
— Eu fico um ano sem pagar aluguel se resistir aos encantos dele por
trinta dias — esclareço. — Se eu ganhar.
— E se você perder?
— Ele disse que vai me levar para a cama — digo e dou de ombros.
Ela sorri e vejo seus olhos brilharem.
— Claro que não, só para provar a Daniel que não estou caidinha por
ele, como pensa.
Fico pensando no que Sue havia dito, e após ela ir embora e tia Ester
chegar, saio do meu apartamento e toco a campainha de Daniel. Estou
somente de blusa de frio, cabelos presos e meias nos pés, uso um shortinho
curto coberto pela enorme blusa.
Enquanto espero ser atendida, meu coração acelera cada vez mais.
Observo a sombra por debaixo da porta se aproximar e a maçaneta girar.
Quando abre, me espanto com o que vejo.
— Me desculpe, não sabia que Daniel está ocupado, falo com ele
outra hora.
— Joanne.
Sinto meu rosto queimar ao ouvi-lo dizer isso. Olho para a sua prima
e percebo que ela se diverte com a situação.
— Hora de deixá-los a sós. Vou ligar para minha mulher antes que ela
surte!
— Estou curioso para saber o motivo de ter vindo até aqui, não que
precise de um, afinal, minha casa está aberta para você.
Seco o suor das mãos na minha blusa e engulo em seco, tentando não
fixar meu olhar naquela maldita toalha branca e no seu peitoral.
— Na verdade, pensando bem, acho que foi um erro ter vindo aqui,
me desculpe. Deve ter sido o vinho que bebi com a Sue.
Sinto o gosto inebriante dele e sua mão segurando meus cabelos. Ele
mordisca meus lábios, então aproveito a oportunidade para acariciar seu
peito, excitada com o tamanho, vou descendo minha mão, enquanto Daniel
beija meu pescoço.
Totalmente tomada pela excitação que sinto, enfio a mão por baixo da
toalha e ela cai no chão, revelando que ele não está nu, e sim com uma cueca
boxer azul-escura. Daniel me encara por um longo tempo enquanto me
mantenho parada, esperando-o dizer alguma coisa, então meu chefe volta a
beijar meu pescoço. Decido levar a mão até sua ereção, sentindo um arrepio
percorrer minha espinha ao fazer contato com ele.
Aumento os movimentos cada vez mais e aperto seu pau, agora para
fora, no meio de nossos corpos. Vejo-o e fico maravilhada com o enorme
tamanho, cheio de veias e a glande lubrificada. Daniel solta um gemido e
goza, sujando minha mão e o chão.
Penso em não atender, pois assim será mais fácil, no entanto, sei que
estou querendo me enganar, afinal, amanhã estarei no escritório com ele e de
uma maneira ou outra terei que encará-lo. Por fim, pego o celular e atendo,
antes que pare de tocar.
— Oi, Daniel, bom dia — digo, fingindo que a noite anterior não
havia existido.
Sinto meu rosto ficar vermelho e penso que não seria tão ruim
desligar o telefone e me enfiar em um buraco, porém, se eu fizer isso, será
bem pior.
— Oi, pessoal — digo, por fim. — Na próxima, me avise que não está
sozinho, Daniel.
— Pode deixar.
Ouço-o rir, se divertindo com isso. Reviro meus olhos e começo a me
vestir, agora também colocando o telefone no viva-voz.
— Não sei. Minha tia está em casa, não quero deixá-la sozinha.
— Leve-a com a gente — diz Daniela. — Desde que ela não seja
homofóbica, pois minha mulher irá também.
— Está pra nascer uma pessoa com a mente mais aberta que ela. Tudo
bem, aceito. Que horas nos encontramos?
— Sim. Daniel e uma prima dele, Daniela, nos chamaram para irmos
ao parque. O que acha?
— Não sei, querida — tia Ester me encara —, não tenho idade para
essas coisas, estou ficando velha.
— Nada disso, titia, você vai sim, afinal, a senhora veio para cá não
só para me ajudar, mas para se divertir também — respondo de maneira
autoritária. — Por que não coloca aquele seu vestido florido?
— Dessa vez você venceu, eu vou, mas antes vamos tomar café.
Conto para ela sobre Daniel ter passado o dia comigo, e quando
termino, seu sorriso é de orelha a orelha.
— Que fiz essa aposta para provar a mim mesma que não estou
caidinha por Daniel.
Droga, é claro que ela e Sue estão certas, estou mesmo caidinha por
Daniel. A noite anterior foi a comprovação disso.
Merda!
Uma hora mais tarde, Daniel e seus dois primos tocam a campainha
do meu apartamento. Assim que abro a porta, minhas bochechas ficam
vermelhas ao me lembrar da ligação anterior. Daniela está usando uma
jardineira e tênis All Star, seus cabelos estão presos, com algumas mechas
espalhadas pelo rosto. Meu chefe está muito bonito, até mesmo um homem
hétero notaria; usa uma bermuda caqui, tênis e uma camisa polo clara, seus
cabelos estão penteados para trás e seus olhos cobertos pelos óculos escuros.
O sorriso gigante seria encantador, se eu não tivesse certeza que ele tem uma
piada pronta.
Fico surpresa com isso, tinha certeza que eu iria com titia no banco
traseiro. Daniel destrava seu carro e entramos, minha tia ficando no meio do
banco traseiro. Passo o cinto pelo meu corpo e o afivelo, encontrando meu
chefe olhando para mim em seguida.
*
Cerca de quarenta minutos mais tarde, Daniel para no meio-fio e
saímos, seguindo para dentro de um mercado próximo ao Parque Ibirapuera.
Me aproximo de tia Ester e ela dá um sorriso, sussurrando para mim.
— Ele está louco por você, querida, não sei por que de não dá uma
chance a ele. — Observa meu chefe andando na direção dos corredores de
salgadinhos.
— Ele é meu chefe, tia. E ainda não saiu meu divórcio, não quero que
as pessoas falem por aí que estou me deitando com meu chefe.
— Eu gosto dele, não posso negar. Como seria minha vida se Daniel
não tivesse aparecido nela? Fico muito irritada com a maneira como ele me
provoca, mas eu não sabia o que estava fazendo antes de tudo isso, entende?
— A sua vida eu não sei, mas com certeza a dele seria regada a
mulheres e bebida — responde Daniela ao se aproximar de nós
silenciosamente. — Me desculpe por ouvir, foi quase impossível.
— Por que acha que a vida dele seria regada a mulheres e bebida?
Não foi sempre assim? — pergunto, verdadeiramente curiosa. Ed e ele estão
mais à frente, procurando refrigerante gelado para levarmos.
— Você pode não acreditar no que vou dizer, mas conheço muito bem
meu primo e ele não é de ficar sem sair com uma mulher por mais de dois
dias. Depois que você apareceu, ele só fica enfiado no apartamento, falando
no grupo de família, louco para que todos conheçam a nova secretária dele.
— Sim, meus tios chegam na terça, e ele vai querer te arrastar para lá.
Se prepare.
— Faz tanto tempo que não venho aqui — digo mais para mim do que
para os outros.
— Claro.
Sorrio com a cena e penso o quanto isso é incrível. Do nada, Sue vem
à minha mente.
Sue: Tive que fazer a difícil para Ed, ele pensa que pode me levar
para a cama quando quer, mas está enganado, muito enganado.
Eu: Hoje era a chance perfeita de você provar a ele que está
errado! Devia de ter aceitado o convite.
— Feliz? — pergunta.
— Não tem motivos para agradecer, mas eu sim, por você ter
aceitado.
— Sim, ela me disse. Então creio que é para esse jantar que nos
convidou — respondo, observando como ele está bonito.
— Sim, quer dizer, se você se sentir confortável com isso. Não quero
criar constrangimento.
Aceno para ele e engulo em seco, já sentindo que isso será um grande
problema.
— Desde que você não me chame de Carrasco. Vamos lá, parece que
os outros encontraram um bom lugar para ficarmos.
— Não é defendendo meu primo, mas acho que dessa vez ele não
falou na maldade.
— Bem, ele acha que como sou lésbica, posso te ajudar a enxergar
algo que a sua mente está bloqueando.
— Amante — eu a corto.
Ouço o que ela conta e fico surpresa. Como Daniela havia enfrentado
aquilo? E afinal, por que me contar essas coisas?
— Tudo bem, já passou, e também não tinha como você saber, afinal,
nos conhecemos ontem.
— Bem, uma fruta podre sempre será uma fruta podre, mas uma boa
tem a chance de apodrecer ou continuar do jeito que é.
— Quero dizer que você não deveria julgar tanto seu ex-marido e o
parceiro dele. — Ela segura as minhas mãos. — Ambos erraram, claro, mas
seu ex foi homem suficiente para encerrar isso.
Tento imaginar tudo aquilo que ela me conta, mas minha mente
simplesmente não consegue pensar direito.
— Você não precisa, se não quiser, mas sei que fará se sentir bem.
— E seu ex? Você o perdoou depois de tudo?
— Meu ex era infeliz comigo por causa do pai. Ele teve uma criação
muito dura e foi obrigado a esconder seu verdadeiro eu, mas depois que eu o
larguei, ele pôde reconstruir sua vida com quem amava de verdade. Pensando
em tudo isso, víamos meu ex como vilão, e talvez ele fosse mesmo, mas antes
de julgarmos as pessoas, precisamos saber os motivos dela, você não acha?
Capítulo 26
— Claro.
Na calçada, noto que a temperatura caiu um pouco e há pequenos
sinais de tempestade se aproximando.
— Na época foi muito difícil para todos nós, mas ela conseguiu
superar, e Marta é uma mulher maravilhosa.
— Não pense que nunca mais irei te provocar, pois, com certeza, farei
isso.
— Nós?
— Grita mais alto, acho que as pessoas no bar não te ouviram direito
— digo, um pouco nervosa. — Tá legal, tudo bem, aconteceu mesmo, já
passou e não tem nada a ser feito.
— O quê? Eu te provoquei?
— Sim, você, com aquela toalha no corpo, sem contar a cueca! Como
queria que eu resistisse?!
— Tudo bem, se quer me torturar, torture. Quero isso sim. Eu sei que
é uma coisa louca, mas você chamou a minha atenção desde o primeiro dia
que nos vimos, mas na época eu estava casada e você se mostrou um
tremendo idiota depois.
— Não existe um nós, Daniel — afirmo, ainda brava com aquilo tudo.
— Como disse, não farei nada, vou esperar você pedir para ir à minha
cama. — Ao se aproximar de mim, sinto sua respiração e pressiono uma
perna contra a outra.
Ele assente, se coloca de pé e vai até o caixa. Assim que paga, vem
em minha direção e estende a mão para mim.
— Vamos, Diabinha?
— Claro, Carrasco.
Saímos rapidamente do bar, assim que coloco o pé para fora, vejo que
o céu está mais escuro e grossos pingos de chuva começam a cair.
— Bem, levando em conta que moramos aqui perto, creio que sim.
Ainda bem que não fiz chapinha hoje.
— Não seja bobo, estou ridícula. Sei que está dizendo isso apenas
para me provocar.
— Também não fui uma das melhores pessoas, não se esqueça que na
minha entrevista eu te dei uns tapinhas — digo, brincando.
Daniel tira sua mão do meu rosto, pousando-as nos seus bolsos.
— Você está certa, amanhã temos uma reunião importante e preciso
me preparar para a chegada dos meus pais.
Ele concorda, sorrindo, e outro trovão ecoa no céu. Seguro sua mão e
corremos, com meu coração acelerado pela noite maravilhosa com Daniel.
— Que bom que está aqui, já ia te chamar. Telefone para você — diz
ao me entregar o aparelho.
— Quem é?
— Tudo bem, mas deixe claro ao seu cliente que dispenso qualquer
centavo dele, só quero o sobrenome dele fora dos meus documentos, esquecer
que um dia fomos casados.
— Mas, senhora...
— Acertou em cheio, mas deixei claro que não quero. Não preciso de
nada de Jonathan, apenas os papéis para me ver livre dele.
— É melhor você tomar café para não se atrasar, ainda está chovendo
lá fora, com certeza, o trânsito estará horrível.
Fico em pé, sigo para a banqueta e me sento. Tia Ester me serve uma
xícara fumegante de café com leite, que saboreio enquanto mordisco algumas
torradas, vendo no meu celular se há alguma mensagem de Daniel.
— Espero que esteja bem e animada para a reunião de hoje. Quem vai
conduzir sou eu.
— Seria, mas ele disse que se atrasaria hoje e que era para você me
acompanhar. Espero que não se importe de eu roubá-la um tempinho para
mim.
Meus braços ficam arrepiados ao ouvir o que ele diz. Mesmo sabendo
que Juliano é sócio de Daniel, algo nele me incomoda, ainda não sei o que é,
mas irei descobrir.
Assim que chego à minha sala, dou de cara com Sue mexendo no
celular.
— Pelo seu humor — dou um beijo em seu rosto —, creio que será
um ótimo dia, ao menos para você — respondo, lembrando-me de Juliano.
— Já está sabendo sobre Daniel, não é?
— Como podem ver, hoje eu que vou fazer a reunião, já que Daniel
ainda não chegou e tivemos que adiantar.
— E ainda não está, mas com a oferta que nos foi feita, acredito que
podemos pensar a respeito disso — responde Juliano, com o sorriso sádico.
— Bem, ele não está aqui, está? Acreditei que poderíamos resolver
entre a gente, afinal, somos vários.
Ele nega com a cabeça, então sigo na direção da saída com ele ainda
me observando.
Concordo e rapidamente o sigo. Sue olha para mim, doida para saber
o que está acontecendo.
Começo a dizer tudo que ouvi, como não entendo muito dos negócios,
explico apenas o que entendi — Juliano estava tentando vender algumas
ações escondido de Daniel.
— Olha, não entendo muito dessas coisas, mas por que Juliano iria
querer vender essas ações sem você por perto? Qual o motivo da venda?
— Bem, se não precisa de mais nada, vou voltar para a minha sala.
— Tudo bem. Só acho que deveria de ser um pouco mais gentil com a
pessoa que te alertou sobre o que o seu amigo e sócio estava planejando
fazer.
— Daniel, que demora, pensei que teria que ir a um hotel. Não vai me
apresentar a sua nova namorada?
Capítulo 28
— E como está sendo trabalhar com meu filho? Ele é muito chato? A
última secretária que conheci saiu “fugida” daqui, e não é piada.
Ela dá risada e fico sem graça ao ouvir suas palavras. É sério isso?
— Não seja bobo, tenho certeza que há um quarto vago lá. Vamos
ficar com você.
Daniel assente.
— Será às oito — diz Anny antes que eu feche a porta e saia correndo
dali.
— Espero que não seja constrangedor, nem avisei a minha tia sobre
isso ainda, mesmo ela já sabendo do jantar, afinal, Daniel nos convidou tem
um tempo. Parecia tão irreal a certeza de conhecer os pais dele! Acredita que
Anny sabe sobre ela?
— Você não acha uma loucura isso tudo? Digo, o nosso chefe gostar
de mim.
— O quê?! Não! Não transamos, se é isso que quer saber. Mas acabei
usando a mão mais do que devia. — Fecho o punho e movimento para cima e
para baixo.
Sinto meu corpo ficar arrepiado antes de me virar e dar de cara com
Juliano.
Mas uma sensação de que isso não foi uma simples coincidência toma
conta de mim e não consigo comer mais nada, sentindo meu estômago
embrulhar.
— Diga.
— Sabemos que não é isso. Eu não fui muito com a cara dele desde o
instante em que nos conhecemos, e relevei o fato de ele aparecer no meu
apartamento, mas isso já é demais. E não podemos nos esquecer que mais
cedo ele tentou te prejudicar nem sei por quê.
— Joanne — diz.
— Que merda você acha que está fazendo, Juliano? Eu não falei para
ficar longe dela?
— O que foi que ela te disse, afinal? — questiona o outro numa voz
calma.
— Ah, então isso tudo é por conta do que fiz antes. — Juliano suspira
e ouço os passos de um lado para o outro. — Pensei que havíamos esquecido
aquilo.
— Eu já disse que ela que se ofereceu para mim, eu não sabia que
daria problema.
— Só quero que saiba que Juliano não vai voltar a te incomodar, pode
ficar tranquila.
Concordo, não querendo que ele saiba que ouvi toda a conversa dos
dois. Vamos para o seu carro assim que chegamos à garagem.
— Desculpa por não ter te avisado, o dia foi uma loucura e tanto —
começo —, mas hoje será o jantar no apê do Daniel, os pais dele chegaram
mais cedo.
Dou uma voltinha, sorrindo, e pego meu celular. Como vamos ao lado
— literalmente —, não me preocupo em levar bolsa.
Daniel beija a mão dela e a elogia. Recordo-me que a última vez que
estive ali causou o fim da minha aposta, então me lembro que não havia
falado sobre isso com minha tia.
— O prazer é todo meu. Seu filho tem sido ótimo com a minha
sobrinha. — Ela me encara e dou um sorriso sem graça.
— A maior besteira que uma mulher pode fazer, mas não a julgo —
diz a mulher à minha frente.
— Sim, quem sabe um dia. Por enquanto, estou feliz trabalhando com
seu filho. — Dou um sorriso e o encaro.
Daniel sorri mais ainda e beberica do seu copo, então passa a mão nos
cabelos, jogando-os para trás.
— Você diz isso porque ainda não achou a mulher ideal para você,
meu filho, mas conhecendo Joanne, sabemos que está no caminho certo.
— Mamãe...
— Sim, acabei sendo grosso com você hoje, então, me desculpe por
isso, acontece que... bem, não vem ao caso.
— E você descobriu?
— Vou garantir que isso não irá acontecer, Joanne, não se preocupe
tanto. Eu o tenho na palma da minha mão.
Não digo mais nada, esperando que isso seja verdade.
Capítulo 30
Qual foi a última vez que transei de verdade? Foi com meu ex, lógico,
o que, pensando bem, é algo frustrante só de lembrar. A vontade de me
entregar a Daniel é palpável, entretanto, eu sinto que ainda não estou pronta
cem por cento, então o certo é esperar um pouco mais.
Ele chama um garçom e faz meu pedido, que não demora muito para
ser entregue para mim.
— O que foi, Jon, não está bom como gostaria? — pergunto, levando
um pedaço do salmão à boca.
— A você, agora está livre para fazer o que quiser da sua vida, espero
que esteja feliz com a sua decisão, porque eu estou! Que a felicidade que não
teve comigo, tenha com seu namorado.
Mesmo que a minha mente diga que a sua atitude havia sido errada —
e de fato era —, algo dentro de mim me surpreende e diz que ao menos agora
ele pode seguir com sua vida e ser feliz. Eu também havia ganhado a chance
de ser feliz novamente. Então, por que isso me incomoda tanto?
— Pensei que você havia acabado de ver seu ex. Já está com
saudades do comedor de bunda peluda?
Mas foi ele que me abandonou, não tem por que eu ser a vilã da
história, penso enfaticamente.
Olho bem para ele e noto que está apenas de bermuda e camisa, os pés
descalços.
— Eu sei que não deveria ter feito aquilo, mas gostaria de conversar
com os dois, se não estiverem ocupados...
— Fico lisonjeado com a decisão que tomou, mas por que agora,
quero dizer, por que tentar nos perdoar? — questiona Jonathan.
— E por que acha que isso tem a ver com o que estamos passando?
— Jonathan, você não vê que tem tudo a ver? Você é igual àquele
cara, abriu mão da sua vida durante anos para agradar seu pai, viveu um
relacionamento frustrado para não magoar sua família, e mesmo com tanta
pressão em cima de você, mesmo me traindo, nunca sequer levantou um dedo
para mim. Você poderia ser igual ao ex-marido dessa pessoa que eu contei,
mas não, mesmo tendo Augusto, nunca me desamparou. Claro que não fomos
o melhor casal, conseguimos contar nos dedos às vezes que conseguimos
transar...
— Mesmo assim — continuo, fingindo que não ouvi o que ele disse
— você foi um cavalheiro e homem o suficiente para terminar tudo.
— Então quer dizer que você me perdoa?
— O quê?
— Minha tia disse que quando o divórcio saísse, iríamos fazer uma
festa com o tema Divórcio Feliz. Loucura, eu sei, mas quero os dois lá, para
eu poder afundar o noivinho do bolo na piscina ou num copo de Martini. —
Rio e eles também.
— Bem, se isso não for problema para você, acho que podemos
pensar a respeito.
— Transando?
— Bem, ainda não, mas pode ser que tenha algo acontecendo.
— Joanne, achei que havia acontecido alguma coisa com você. Como
está?
Rio e ela corre até a cozinha, trazendo duas cervejas. Bebo um gole da
minha e começo a contar tudo que havia acontecido, desde o jantar, a taça de
champanhe e eu parando no apartamento de Augusto. De início, tia Ester se
mantém em silêncio, apenas arregalando os olhos, surpresa com tudo,
principalmente sobre ter perdoado Augusto e Jonathan e tê-los convidado
para a festa. Então, quando finalmente termino, ela me encara, segura minha
mão e sorri.
— Está cansada de ouvir isso, mas sua mãe estaria mais orgulhosa
ainda de você, querida. — Titia suspira e balança a cabeça. — Não concordo
com o que Jonathan fez, acredito que o caráter dele é duvidoso, mas se você,
que foi a vítima nisso tudo o perdoou, acredito que podemos organizar essa
festa com ele e não envenená-lo.
— Devo confessar que foi mais fácil do que imaginei, mas fiz isso
tudo por uma pessoa.
— Daniel, não é?
Sendo a covarde que sou, não o convidei para festa, então terei que ir
desacompanhada. Ed foi convidado por conta de Sue insistir.
— É bom mesmo, srta. Almeida, porque ele não vai esperar para
sempre, esteja ciente disso.
— Por enquanto não, mas você sabe como são esses homens hoje em
dia. Se você não dá o prato principal, eles pulam para outra mesa até
encontrarem, deu para entender a comparação?
— Só você mesma para fazer uma coisa dessa — diz Sue, rindo.
Dou de ombros e ouço meu celular apitar, então o pego e vejo uma
mensagem de Daniel.
— Bem, decidi que preciso fazer isso sozinha. Só daria mais motivo
para as pessoas dizerem que estamos juntos, e sabemos que é mentira.
— Até quando isso, Joanne? Fala logo para o Daniel que está
apaixonada por ele e vê o que acontece. Se der errado, fazemos outra festa —
diz minha amiga.
— Sue está certa. E você é a prova viva que pode superar um término.
— Parece que temos visitas — diz Sue, sorrindo. — Isso vai ser
divertido.
— Fiquei sabendo, pelos meus funcionários, que hoje terá uma festa
de divórcio no prédio, então resolvi averiguar se meu nome está na lista.
— Não me olhe desse jeito, eu não disse nada e você sabe disso —
afirma, sem graça. — Não que eu estivesse escondendo alguma coisa
também.
— Fico feliz por isso, mas por que meu assistente? Desde quando
uma secretária precisa de um?
Daniel sorri e coloca as mãos nos bolsos, somente agora noto que ele
usa uma calça jeans apertada e camiseta laranja. Seus cabelos estão
despenteados, como sempre.
— Mas o que, Daniel? — Noto que meu dia mal começou e já está
uma bagunça.
Ouço suas palavras e fico sem reação. Daniel está se declarando para
mim?
— O quê?
— Espere aí. Você está me dizendo que sabia desde o início que eu
faria uma entrevista na sua empresa?
— Sim. De início tive minhas dúvidas, mas daí procurei Jonathan,
imprimi uma cópia e mostrei a ele, que me confirmou — responde, me
encarando. — Foi então que mandei ligarem para você e agendarem a
entrevista.
— Na verdade, ele estava sim, o que foi bom para mim, então só
continuei com meu plano e foi aí que nos encontramos e deu no que deu.
Fico calada e me sento, sem reação diante do que ele me diz. Então
Jonathan sempre soube que eu trabalharia na mesma empresa que ele? E por
que ele me ligou quando fui contratada?
Claro, apenas para despistar, sua burra!
— Não seria mais fácil dizer que estava apaixonado por mim?
— Sim, mas a notícia boa é que pode ser ao lado da minha sala — diz
e sorri. — Então, me diga, vai aceitar ou não?
— Juliano não vai dizer nada, porque eu sou o dono de quase todas as
ações — responde, bufando. — Ande, Diabinha, me diz, aceita ou não?
Damos risada e ele acaricia meu rosto com a ponta dos dedos.
Fico surpresa com isso, mas nem tenho tempo de reagir, pois Daniel
morde meu lábio inferior, beija a minha bochecha e segue para a orelha,
descendo pelo meu pescoço em seguida. Não o impeço, sabendo que não
adiantará negar o que tanto desejamos. Daniel continua com a trilha de beijos
e para próximo ao meu seio.
Sinto meu corpo se retesar ainda mais com isso, e quando estou
prestes a gozar, ainda esfregando seu dedo em mim, Daniel volta a chupar
minha boceta.
— Não quero forçar nada e nem tentar ser seu amigo, mas já que
vamos trabalhar juntos e estamos organizando a festa do divórcio de vocês,
acho que podemos tentar ser mais maleáveis um com o outro.
— Vocês não acham que isso é demais? Quero dizer, a ideia parecia
boa, mas agora parece um tanto maluca.
Sorrio e a abraço.
Me visto com a ajuda das duas e resolvo fazer uma trança embutida,
me maquio e coloco o véu simples, indo até a cozinha e catando o buquê que
Sue preparou.
— Não acredito que você fez isso! — digo para ela, observando o
objeto cheio de pequenos vibradores em formato de pênis, enrolado em uma
fita de cetim azul-escura.
— Sabe que pode nos dizer qualquer coisa, não sabe, querida?
— Não, claro que não. Precisamos conversar sobre algo que Daniel
me disse hoje.
— Outra chance?
— Do jeito que fala, parece que o conhece mais do que sei — digo.
Ele sorri e dá de ombros.
Meu sonho.
— Eu te amo, Jô, não pense que não. E sempre irei amar, mas não do
jeito que deseja, e acho que já encontrou um bom pretendente.
— Ah, é? — pergunto e ouço a campainha tocar.
— Não diga isso, começou agora, logo irá melhorar. Fica vendo...
tenho que ir, Ed chegou.
— Pensei que a festa seria mais divertida, a única coisa boa são os
presentes e a bebida — digo, desanimada.
Encaro Daniel e rio, entretanto, noto que ele está falando sério.
— Porque seria loucura. Essas mulheres te olhando, nem sei por que
as convidei.
Reviro os olhos com isso e peço mais uma vodca, bebendo novamente
de uma só vez.
— Tem certeza disso? Porque se quiser, posso chamar uma das suas
convidadas.
Augusto não diz nada e sai cabisbaixo. Sigo em sua direção e seguro
o seu braço, ainda não acreditando completamente no que estamos fazendo.
Viro-me e vejo a mulher loira usando uma calça jeans apertada, uma
blusa revelando seus enormes peitos falsos e o sorriso debochado no rosto
esticado por inúmeras plásticas.
— Sammy, está precisando de alguma coisa? — pergunto, sorrindo.
— Fiquei sabendo, pela Kate, aquela que estudou com a gente, que
você e Jonathan se separaram porque ele... bem... — Seu olhar segue na
direção de Augusto, que se mantém perto de mim.
— Ótimo. Agora sente sua bunda na cadeira e beba, paguei caro por
essas bebidas. — Afastando-me, vejo o olhar de Augusto brilhar. Sigo para o
banheiro, com Augusto, tia Ester, Sue e Jonathan.
— Nem pense nisso agora — diz Jonathan. — Joanne, o que você fez
lá fora... obrigado.
— Não precisa agradecer, isso ainda é muito novo para mim, mas
jamais aceitarei ver homofobia e não fazer nada. Se Sammy tiver um pingo
de vergonha na cara, vai embora sem que eu precise descer desse maldito
salto e expulsá-la. — Acabo rindo.
Nos dias anteriores, quando estava planejando a festa com tia Ester e
Sue, minha amiga de trabalho me deu uma ideia e tanto para usarmos no
vestido de noiva. Disse a ela que queria destruí-lo, mas não que fosse o meu
de verdade, já que o que casei foi um presente da mamãe. Então compramos
um vestido barato e elegante, e tia Ester colocou as mãos para funcionar. Por
baixo da renda, nós o cortamos, deixando-o acima do joelho, e titia costurou,
colocando velcro e outras coisinhas básicas. O intuito é de que, após finalizar
um discurso com Jonathan, eu o puxarei e a parte colada no velcro sairá,
deixando-o curto e estiloso.
— Certo, que piada horrível, eu sei — estico minha mão para Jon e
ele a segura —, sem rodeios, porque queremos beber, devo dizer que a vida é
uma caixinha de surpresas. Às vezes, estamos em um lugar e desejamos
alcançar novos voos, entretanto, o medo do novo, da diferença, nos assusta e
muitas das vezes não nos permite fazer isso. Jonathan fez, ele abriu suas asas
e voou, e pousou em um território neutro que hoje, pensando bem, o torna
mais feliz do que fomos em todos os nossos anos de casados.
— O que foi, gente? É isso mesmo, Jonathan está com outra pessoa,
que o faz feliz de verdade, e aceito isso. Do que adiantaria ficar chorando? A
única coisa que me deixa com inveja é que o namorado dele, sim, vocês
ouviram direito, é mais limpo e organizado que eu.
Acredito que ele vá dar o show que havia combinado comigo antes.
Uma cadeira é colocada na minha frente, Sue e Ester me empurram
para sentar nela, então uma música sensual inicia e Daniel começa a dançar.
Recordo-me do dia que nos encontramos na balada e dançamos juntos, isso
me parece tão distante.
Me afasto de Daniel e todos olham para o homem que disse isso. Dois
seguranças correm em sua direção, tentando impedi-lo.
— Vim ver de perto a pouca vergonha que você e meu filho estão
fazendo — declara, encarando Jon, que está parado, petrificado, ao lado de
Augusto.
— Espere aí! Ajudá-lo? Você fala como se eu soubesse que seu filho
é gay!
— E não sabia? Com certeza ele estava com esse rapaz e você com
esse outro. — Ele encara Daniel e, mais uma vez, seguro meu chefe,
controlando-o.
— Acho que já deu, é melhor você ir embora, Kleber — diz tia Ester.
— Respeite minha sobrinha e, principalmente, seu filho, ou seremos
obrigados a processá-lo por difamação e invasão.
— Traga para todos, querida, vai ser bom forrar o estômago — diz
titia.
— Sinto muito que tenha passado por isso. Queria poder tirar o que
está sentindo, no entanto, não posso. — Abraço-o e sorrio para Augusto, que
continua ao seu lado.
— Ele deve ter visto uma foto que postamos no Instagram e
pesquisado o local — diz. — Enfim, não há nada a se fazer, agora ele sabe e
foi da pior maneira.
— Se ele quiser ficar, tudo bem, mas acho que é melhor eu ir embora.
— Certo, mas ao menos sabemos que você quer estar na minha cama.
Ele concorda, morde os lábios e passa as mãos por cima da calça, indo
na direção da saída.
— Bom dia, querida. Vou voltar para a minha casa. Como você está
bem e oficialmente divorciada, pensei que não precisasse mais de mim.
Engulo a bile, sentindo meus olhos quererem marejar.
— Eu sei, minha filha, mas não posso largar a minha casa, já fiquei
tempo demais. Prometo que venho um fim de semana sim e outro não.
— Não sei, mas deve ser importante — diz Sue, saindo assim que as
portas se abrem.
— Sim, é isso mesmo, não disse nada por respeito ao Jonathan, que
estava passando por um momento difícil.
— Vejo vocês depois, até mais. — Ela segue para o prédio que
trabalhamos, enquanto Daniel e eu vamos até um táxi parado aqui perto.
Mais uma vez assinto sem dizer nada, então me lembro de Juliano ao
seu lado na coletiva de imprensa.
Fico quieta e, mais uma vez, penso em Juliano. Sei que foi ele, mas
também sei que é amigo de Daniel e preciso de provas para desmascará-lo,
entretanto, como irei conseguir provar que um homem poderoso como ele,
roubou o próprio amigo?
— Desculpe...
— Perguntei o que sugere em relação ao que deve ser feito, já que
somos os suspeitos do desvio do dinheiro — diz ele.
— Não dissemos isso, mas somente nós temos acesso a essa conta —
diz ele.
— Só estou nervoso com isso tudo, como você mesmo disse, somente
nós temos acesso àquela conta. Como alguém iria desviar o dinheiro?
— Bem, teremos que abrir uma investigação, mas como sabem, isso é
com a polícia federal, estamos com as mãos atadas — esclareço.
— Acho que foi o Edgar, ele não abriu a boca para nada,
principalmente quando Juliano disse que eram suspeitos. Foi como se ele
soubesse que seria isso. — sugere Jonathan.
— Joanne está certa, tenho certeza que foi Juliano — declara Daniel.
— Espera aí. Você sabe que foi o Juliano e quer abrir uma
investigação por quê? — questiono, aflita.
— Não tenho provas, mas estou com você. Suspeito que tenha sido
ele. Foi por isso que pedi para ficarem e escolhi você para investigá-lo, Dra.
Almeida.
O plano de Daniel até que parece ser bom, entretanto, o meu papel
nisso tudo me deixa desconfortável.
— Não estou dizendo para fazer alguma coisa, só ir jantar com ele ou
tomar um café — diz meu chefe. — Para tentar descobrir alguma coisa.
— E o que faremos depois disso? — Olho para Jon e depois para Gus.
Eu: Dia tenso, trabalho duro, que tal sairmos amanhã para
bebermos uns drinques e espairecer?
— Me desculpe por toda essa loucura, não pensei que seu primeiro
dia como advogada seria desse jeito — diz, suspirando.
Daniel ri e concorda.
— Claro que sim. Perder dois bilhões não me fará desistir de tê-la
comigo.
— Estou louca para te ter por completo, Daniel. Não consigo mais
negar isso, preciso te sentir.
Errada ela não estaria, afinal, agora, me preparando para tomar banho,
penso em como o dia foi maluco. Um dia atrás, tudo estava bem, e agora,
Daniel foi roubado e iremos infringir a lei para descobrir quem realmente foi
— mesmo já desconfiando de Juliano, precisamos ter certeza.
Sigo para o banho após sair dos meus pensamentos. Assim que
termino, procuro uma roupa adequada para usar. Coloco uma lingerie de
renda vermelha, pois, se essa noite acabar em sexo, Daniel pode ficar
admirado. Coloco um vestido na mesma cor, que fica acima dos meus
joelhos. Deixo meus cabelos soltos e faço uma maquiagem simples, apenas
realçando os lábios com o batom na cor da roupa. Passo um perfume e calço
meus saltos altos pretos, então sigo na direção da mesa de cabeceira e pego
minha bolsa pequena, colocando meus documentos, a carteira, celular e as
chaves. Após sair, toco a campainha do apartamento ao lado. Daniel me
atende e assobia ao me ver toda arrumada. Observo que ele usa uma calça
social azul-escura, uma camisa clara, com as mangas dobradas e o botão de
cima aberto, revelando seu peitoral forte.
— Somente você para me convidar para jantar sem saber para qual
restaurante vai me levar — digo e rio.
Agora vocês vão jantar e ver o que rola, simplesmente isso! Diz meus
pensamentos.
— Obrigada — digo.
— É maravilhoso — digo.
— O quê?
— Parece que foi ontem que você me levou para jantar pela primeira
vez. O tempo passa tão rápido! Estou divorciada, voltei a atuar na minha área,
mesmo não sendo do jeito que eu desejava, e agora estamos aqui, em um
encontro.
— Só se você quiser.
— Diga.
Daniel aperta minha mão com força e noto o fogaréu nos seus olhos.
— Sinto muito que tenha passado por isso. Mas a polícia conseguiu
alguma coisa?
— Não. Mesmo após quase uma década, ainda sinto falta deles e fico
chateada que a pessoa que fez isso nunca pagou pelo seu crime.
— Está me dizendo que você foi trocado, e não era o popular?! Estou
realmente surpresa.
— Então...
Continuo beijando seu peito, sigo para a barriga e paro abaixo do seu
umbigo, me ajoelhando à sua frente e desafivelo o cinto. Daniel não diz nada,
apenas contempla a imagem da mulher que praticamente fugiu dele todo esse
tempo, abrindo seu zíper e descendo sua calça, deslizando-a pelas suas pernas
e a jogando no chão ao lado. Encaro sua cueca boxer preta e a marca nela.
Sua lubrificação é visível.
Penso nisso e meu corpo fica arrepiado com a ideia de uma câmera
me filmando chupar um pau.
Engulo até onde consigo e vou passando a língua na base para que o
ato deixe Daniel ainda mais excitado. Sinto seu gosto na minha boca e minha
calcinha ficar ainda mais molhada, então continuo chupando seu pau,
deliciada com isso. Penso, enquanto Daniel segura minha cabeça e fode
minha boca, no quanto fui idiota em esperar tanto tempo, entretanto, sentindo
seu pênis nos meus lábios, sei que a espera havia valido a pena.
Paro de chupar seu pênis e passo a língua nele todo, seguindo para
suas bolas e as lambendo. Daniel continua gravando e dizendo o quanto é
gostoso e que não vê a hora de me comer.
Na mesma posição, sinto Daniel enfiar seu pau dentro de mim com
um pouco de dificuldade. Solto um grunhido e aperto seus braços,
arranhando-o quando nossas peles se encontram e seu pênis me penetra, me
machucando um pouco por estar tanto tempo sem transar. Daniel me penetra
mais fundo e solta um gemido, me abraçando com força.
Seu pau entra mais ainda e solto um gemido alto, agarrando-o com
mais força.
— Vou te dar tudo que jamais outro homem foi capaz. Farei você
gozar de verdade.
É a primeira vez que vejo o local, que está bem arrumado e com
cheiro de desinfetante. Não me atento aos detalhes, a única coisa que me
importa neste exato momento é Daniel estar com seu membro dentro de mim.
Quero rir da maneira como ele diz, mas percebo que está falando
sério, então o analiso indo até o closet e vejo sua deliciosa bunda, o que me
deixa fascinada. Saio dos meus pensamentos quando ele volta com duas
camisinhas na mão, rapidamente Daniel abre a embalagem de uma delas e
coloca no seu pênis, sem dificuldade. Me ajeito na cama e ele se aproxima,
balançando a cabeça em negativa.
Não, não, não! Nada de chorar agora, você está prestes a fazer sexo
de verdade, com um homem de verdade, que tem um pau e tanto.
— Por favor.
— Sim, agora!
Daniel tira o pau de dentro de mim e o segura na minha entrada,
enfiando novamente com rapidez e selvageria, mais uma vez solto um
gemido alto e sinto o suor começar a brotar na minha testa. Meu corpo treme
por inteiro e uma deliciosa sensação invade a boca do meu estômago.
Percebo que Daniel realmente quer me torturar e faz mais uma vez o
movimento brusco, então, quando seu pênis me preenche completamente,
sinto seu indicador no meu clitóris. Daniel o acaricia com rapidez e agilidade
e, enquanto faz isso, começa a movimentar seu quadril, me preenchendo com
estocadas fortes e maravilhosas.
Não nego. Com certeza, minhas transas anteriores não chegam aos
pés desta. Poucas vezes consegui ter um orgasmo de verdade com Jonathan, e
agora, com Daniel me comendo, já quero gozar de tanto tesão.
Meu corpo relaxa e Daniel continua investindo, então tira seu pau de
dentro da minha boceta e puxa a camisinha, jogando-a no chão e gozando em
cima de mim, me sujando toda.
Chefe.
— Fui sincero quando disse que não trazia mulheres para cá, você é a
primeira.
— Pode.
— Grite mais alto, porque acho que não te ouviram. — Finjo estar
chateada antes de cairmos na risada.
— Claro que não, mas é estranho falar com vocês sobre isso. Ainda
mais que Augusto é namorado do meu ex-marido.
— Devo admitir que fiquei com inveja. — Sue ri. — Deve ser de
família, Ed também tem um ótimo “material”. — Ela faz as aspas com os
dedos, então damos risada.
— A pergunta que não quer calar: e agora, como vai ser? — pergunta
Gus.
— Não sei. Ele disse de novo que está apaixonado por mim, acho que
vamos deixar rolar, sei lá.
— Espero que isso valha a pena. — Passo as mãos nos meus braços.
— Sim, Joanne vai sair com ele, enquanto Daniel e eu iremos dar uma
olhada no computador dele.
— Bem, não custa dar uma olhada. E se não fosse o dele, qual seria?
— questiono, encarando-o ao longe, que acena e eu retribuo.
— Aí que está. Vocês precisam investigar com quem ele teve mais
contato nos últimos dias. Ele não deve ter feito isso sozinho, com certeza tem
alguém ajudando-o. Quero dizer, se realmente foi ele que roubou Daniel,
porque não tem motivo para fazer tal coisa — opina Sue
— Será que realmente não tem? — pergunto, mais para mim do que
para eles.
Concordo, ansiosa com isso. Ele sai e seguimos para uma das portas
ao lado. Assim que entramos, encaro uma saleta com venezianas e uma mesa
clara, com computador e telefone em cima. Mais à frente, vejo outra porta
branca.
— Que bom que você gostou, e fica bem ao lado do meu. — Ele se
aproxima cada vez mais, pronto para beijar meus lábios.
— Não, claro que não — dou risada e reviro os olhos. — Não sei
onde estava com a cabeça por permitir que você fizesse isso.
— Bem, sua cabeça estava no meio das minhas pernas, com sua boca
me chu...
— Prefiro que guarde apenas para você, seria estranho eu ver... sabe,
eu te chupando.
— Joanne, você não tem vontade de encontrar quem fez aquilo com
seus pais?
— Imagino que deve ser ruim perder os pais e não ver a justiça sendo
feita. — Assinto e ele me encara mais uma vez. — E se você descobrir quem
é, o que fará?
— Joanne.
— Vim sem o carro hoje, então vamos pegar um táxi, assim é melhor,
pois podemos beber sem nos preocuparmos.
Fico surpresa com a maneira que ele diz e como parece ser sincero.
Será que Juliano é inocente e estamos investigando a pessoa errada?
— Também espero que essa pessoa seja pega logo e isso acabe —
digo de maneira firme.
Analiso a faixada meio retrô enquanto ele abre a porta de vidro para
mim, me dando passagem. Sorrio de maneira tímida e adentro, sentindo o
calor percorrer meu corpo. Apesar de não gostar de Juliano, não posso negar
que ele sabe ser um cavalheiro.
— Claro — responde.
— Mas por que ele faria isso? Teria algum motivo, alguma rixa entre
eles?
— Daniel pediu para que você saísse comigo, não foi? Para fazer uma
investigação, já que sou sócio dele.
— O quê? Não, claro que não! Só estou curiosa, afinal, vocês foram
roubados — argumento, me sentindo nervosa. Teria dado tão na cara assim?
Fico sem graça com isso, então bebo a cerveja para que ajude um
pouco.
— Ele já está fazendo isso, não é? Você é uma distração. — Ele bufa
e dá de ombros. — Fiquem à vontade, estou com a consciência limpa, sei que
não fiz nada. Até logo.
Ele sai pela noite fria enquanto fico sentada, processando tudo o que
aconteceu. Como consegui ser tão transparente a ponto de entregar o plano
todo para Juliano?
Conto rapidamente para ele tudo que havia acontecido e vejo a hora
no relógio. Ainda não são nem sete da noite, o que me faz sentir ainda mais
burra. Entreguei o plano tão rápido para Juliano, que não havia dado nem
tempo de bebermos toda a nossa cerveja. Daniel se mantém em silêncio o
tempo todo, apenas ouvindo o que conto a ele.
— Por enquanto não, mas é melhor eu falar com ele. Não queremos
mais problemas do que já temos. Posso te encontrar no seu apartamento?
Droga!
Capítulo 41
Daniel Braga
Quanta merda em apenas dois dias! Se Joanne souber o que fez, com
certeza se sentiria mal, entretanto, para evitar isso, resolvo não dizer a ela que
estragar o plano com Juliano pode acarretar coisas inimagináveis. É isso que
acontece quando o seu melhor amigo tem problemas de depressão, drogas e
suicídio.
Ligo de novo enquanto dirijo pelo trânsito de São Paulo e cai na caixa
postal.
— Porra! — sussurro.
Ando pelos cômodos e sigo para seu quarto. Assim que entro, ouço o
barulho do chuveiro, então corro até o banheiro e abro a porta.
— Me desculpe, você sabe que não está sendo fácil para mim essa
merda toda.
— Eu sei, mas você deve deixar a polícia resolver isso, não mandar
Joanne me interrogar.
Realmente ele está certo, e nada que eu diga vai me ajudar a me livrar
da burrada que cometi.
— Você sabe, melhor que ninguém, que sempre resolvo as coisas com
minhas próprias mãos — respondo.
Ele sai do banheiro e o sigo até seu quarto, ficando de costas enquanto
ele se troca.
— Eu sei muito bem que você gosta de resolver tudo com suas
próprias mãos, entretanto, há coisas fora do seu alcance. Essa é uma delas.
— Claro que não, afinal, não tenho nada a esconder. — Ele segue até
a geladeira e a abre, retirando duas cervejas e me entregando uma.
— O que seria?
— Mentira. Você está dizendo isso para que eu fique louco e saia da
empresa de novo!
— Como você pode ter tanta certeza disso, se foi você que escondeu
todas as provas do crime e lavou a mão dos policiais para que eu não fosse
preso?
— Eu sei que você está mentindo para mim, Daniel. Só está fazendo
isso porque estou apaixonado pela Joanne.
Ouço suas palavras e não fico surpreso, eu já sabia que meu sócio
estava sentindo algo pela mulher que eu gosto.
— Sinto muito que acabe assim, meu amigo, mas daremos um jeito de
resolver essa situação.
Ouço o barulho ecoar por todos os lados e grito, segurando seu corpo
enquanto ele cai de joelhos no chão.
— O quê?
Enquanto bebo, sinto uma sensação ruim tomar conta de mim, então
pego o meu celular e ligo para Daniel, mas cai direto na caixa de mensagem.
Ele aponta para uma porta e agradeço, entrando e dando de cara com
Daniel, que está sentado com as mãos algemadas.
— Quem o algemou? Vou abrir uma ocorrência sobre isso, será que
essas pessoas não sabem quem você é? — Sigo na direção da porta sem ouvir
uma resposta dele e avisto o mesmo policial que me atendeu. — Faça a
gentileza de tirar essas algemas do meu cliente, por favor.
— Sei que você pode fazer isso. Esse homem é um dos mais
importantes de todo o mundo, então faça esse favor para mim.
— Todos aqui sabem quem é Daniel Braga, mas veja só, ser rico e ter
estudo não o impediu de ser detido — afirma ele.
Ao ouvir que Juliano admitiu gostar de mim, fico com meu corpo
arrepiado.
— Vou te tirar daqui. Irei conversar com Martins e ver se ele libera a
fiança, porém, não poderá sair do país e nem cometer algum delito. Você
entendeu?
— Sim.
— Vamos até a minha sala. — Ele segue pelo mesmo corredor e vai
até o fim. Assim que entra no local, ele se senta e aponta a cadeira à sua
frente. — No que posso ser útil?
— Acredito que isso não esteja em pauta — diz ele. — Daniel Braga
está sendo acusado de tentativa de homicídio, não podemos simplesmente
liberá-lo.
— Você quer mesmo saber? Então vou contar — diz. — Foi ele,
Joanne, Juliano que assassinou os seus pais. E mesmo não sendo algo
proposital, ele cometeu aquele crime e eu acobertei isso todos esses anos.
— Por que você não me disse isso antes? Ele poderia estar preso
agora, você o ajudou a escapar!
— Vou te contar tudo o que houve naquela noite, há quase dez anos.
Capítulo 43
O som alto ecoa pela casa e sinto meu corpo mole a cada batida da
música. Várias mulheres se divertem ao meu lado, enquanto dou mais um
trago na maconha, sentindo a brisa tomar conta do meu corpo.
— Deveria tentar algo mais forte — diz Joyce. A loirinha safada está
me olhando a noite toda, se tudo der certo, vou comê-la quando sair daqui.
— Meu amigo aqui quer experimentar algo mais forte, sugeri coca.
Mais uma vez vejo dois bichos estranhos, parecem demônios, então
acelero e passo por cima, soltando um grito alto.
Sinto uma mão tocar meu braço e me viro, sentindo o soco que Daniel
dá no meu rosto. Caio no chão e o sangue se espalha pelo meu nariz, levo a
mão até ele e vejo o vermelho manchar meus dedos.
— A única coisa que você pode fazer agora é ligar para a polícia e se
entregar, caso contrário, fique quieto.
— É o que podemos fazer. Como não há câmeras por aqui, não terão
rastros, mas precisamos nos desfazer do carro antes que apareça uma
testemunha dizendo que viu o veículo no local do acidente.
Sou um assassino.
Capítulo 44
Entorpecida.
E foi justamente o que aconteceu com meus pais. Por causa de bebida
e droga, um carro e imprudência, eu os perdi para sempre, em um acidente
terrível.
— Você está no seu direito de ficar chateada, mas por favor, não me
culpe. — pede, com a voz calma. — Eu não fazia ideia da gravidade disso,
éramos novos, sei que não justifica, mas só quis ajudar um amigo.
Sim, claro que vale, afinal, por culpa de Juliano perdi meus pais.
Mas e Daniel? Ele não sabia que eram meus pais, apenas quis ajudar
um amigo, certo? Uma atitude impensada, claro, mas um tanto nobre, por um
lado. Ele sabia no que estava se metendo e mesmo assim quis ajudar o único
amigo.
— Não disse que ele é meu amigo e sim que eu sou. Infelizmente,
estamos fadados a isso. Nos doamos, ajudamos as pessoas e nem sempre
somos retribuídos da mesma forma. Não me arrependo de tê-lo ajudado, pelo
contrário, me arrependo de ter parado de me preocupar quando eu achava que
ele estava bem.
Sou tocada por suas palavras e assinto, indo até a geladeira e pegando
duas cervejas, entregando uma a ele.
— Sei que você é amigo dele, mas isso não vai me impedir de colocá-
lo atrás das grades pela morte dos meus pais, no entanto, vou precisar da sua
ajuda.
— No quê?
— Você vai ficar fora do radar da polícia, mas vai ligar para a
delegacia mais próxima e falar onde estão as provas. Garanta que não tenha
nada contra você, somente contra Juliano, ok?
— O que quiser.
— Mas eles sabem que você é minha advogada. Com certeza ele
estará rodeado por seguranças, já que, supostamente, eu tentei matá-lo.
— Vou providenciar uma visita com alguns colegas meus — ele pega
o celular do bolso —, felizmente, ele está no hospital de um dos meus sócios.
— Tenho certeza disso. Acho que irei embora para tomar um banho e
esfriar um pouco a cabeça, já está tarde e você precisa descansar.
— Sei que sente, ao menos você não levou isso para o túmulo. —
Sorrio e ele também. — Sabe, eu sempre pensei em como seria quando
descobrisse quem fez isso com eles, acreditava que me sentiria vingada, mas,
na verdade, não sinto nada. É como se eu acreditasse que colocando a pessoa
que os matou atrás das grades, isso os traria de volta, mas agora vejo que
estava enganada.
— Sei que sou culpado também, mas obrigado por me dar essa chance
de me redimir, entretanto, há uma pergunta que não quer calar.
— Qual?
— Por quê?
— Como assim?
— Por que me dar essa chance? Quero dizer, eu assumi que escondi
provas do assassinato dos seus pais por todos esses anos, e você me dá um
tapa e depois resolve me dar uma chance.
— É o que mamãe faria. Ela não permitiria que uma pessoa inocente
fosse para a cadeia. Você quis apenas ajudar um amigo, e como disse antes,
apesar de não ser algo comum de se ver, muitos fariam o mesmo. Foi uma
atitude nobre da sua parte. E mesmo demorando todos esses anos, você me
disse a verdade e agora podemos colocar Juliano atrás das grades. Mas a
pergunta que não quer calar é se você será capaz de fazer isso mesmo.
— Farei sem pensar duas vezes. Ele quis me prejudicar por algo que
nem sei explicar direito.
Deve ser por isso que toda vez que o via, me sentia arrepiada e
estranha...
— Sim?
Observando-a bem, vejo que usa calça social e blazer, com certeza é
alguém importante.
— Joanne, como é bom ver um rosto amigo, fico feliz que tenha
vindo. Sente-se. — Ele aponta para a cadeira próxima da cama.
Engulo em seco e meu corpo volta a ficar arrepiado. Quero ir até esse
assassino e bater nele, acertar seu ferimento e fazê-lo confessar tudo. Mas não
posso, preciso manter a calma para ele não desconfiar de nada, então atendo o
seu pedido, me sentando próxima a ele.
— Entendo. Apesar de tudo, estou bem, não foi dessa vez que ele me
derrubou.
“Ele” quer dizer Daniel, o que me deixa ainda mais nervosa com esse
safado!
— Isso é bom, na verdade, vim te visitar porque precisamos conversar
— digo —, não vim para falar sobre negócios, como te informaram.
Penso rapidamente no que devo dizer, sabendo que não irá adiantar
mentir. Preciso de respostas. Preciso acabar logo com isso, colocá-lo atrás
das grades para pagar pela morte dos meus pais.
— Certo, inclusive que matei seus pais, não é? Você vai mesmo
acreditar no que ele diz? Daniel sempre teve inveja de mim, Joanne, e agora
quer colocar a culpa de uma coisa que ele fez nas minhas costas!
— Juliano, não quero parecer rude, mas não adianta mentir, sei o que
você fez.
— Então é verdade, não é? Foi você que fez aquilo com eles.
— Sinto muito. Daniel me disse que guarda todas as provas até hoje,
vamos entrar em contato com a polícia e entregá-las. Acabou, Juliano, aceite
isso e agradeça que ainda terá uma boa cela. Outra coisa — me afasto e vou
até a porta antes de olhar para ele —, sabemos que foi você que atirou em si
mesmo, não precisa mentir para mim sobre isso também.
Termino de falar e me viro para abrir a porta, mas sou puxada pelos
cabelos e jogada na cama. Tento me desvencilhar de Juliano, mas paro
quando o vejo segurando um bisturi — como o conseguiu, só Deus sabe.
Concordo mais uma vez e meu coração acelera. Juliano sai de cima de
mim e continua com o bisturi apontado na minha direção. Ele se aproxima da
porta e a tranca, então volta para perto de mim.
A mulher atrás dele se despe, então já sei o que vai acontecer — serei
a “enfermeira” que irá tirá-lo daqui.
Visto sua roupa e ajeito meus cabelos iguais aos dela. Até as suas
características são semelhantes as minhas, então será fácil sairmos.
Faço o que ele diz e sigo pelo corredor, sentindo meu coração bater
mais acelerado do que o normal enquanto o medo do que pode acontecer me
domina.
Ao me dar conta das suas palavras, vejo o quanto esse homem está
desiquilibrado.
— Você foi desobediente, Joanne, por conta disso ficará sem o jantar.
Ele bate a porta e a tranca por fora, então corro em sua direção para
tentar abrir, mas é em vão.
Daniel Braga
Só pode ser uma brincadeira de mau gosto. Joanne irá chegar ao meu
apartamento a qualquer momento e me dizer que Juliano será preso.
— É bom ver a senhora, mas precisamos ir. Tenho que te contar algo
muito importante, mas peço que fique calma, tudo bem?
— Infelizmente, não estou. Ela sabe quem foi que assassinou os pais,
foi a mesma pessoa que fez isso com ela.
— Bem, pode ser que Joanne tenha saído com Juliano por vontade
própria.
— Você acha mesmo que se ela fosse fugir com ele — sinto vontade
de socar a cara dele —, iria trocar as vestes com uma enfermeira?
— Exatamente. Joanne não tem motivos para fazer uma coisa dessas,
ela ama o Daniel — diz dona Ester.
Joanne me ama? Sei que ela gosta de mim, ela havia me dito, mas...
me amar? Engulo em seco, sentindo medo do que pode acontecer com minha
Diabinha. Olho para o delegado como que dizendo que precisamos ver as
imagens logo. Ele entende o meu desejo e seguimos para uma outra sala,
onde tem dois policiais e uma mulher sentada.
— O que pretendem fazer agora que já sabem que ela foi sequestrada?
— questiono, olhando para os três homens à minha frente.
Joanne Almeida
Assustada, tento me lembrar do que aconteceu assim que acordo.
Ergo meu corpo do chão, sentindo meus braços e pernas protestarem. Passo
as mãos no meu rosto e ajeito meus cabelos, tirando dos meus olhos. Penso
em Daniel e tia Ester, e se já deram conta de que estou desaparecida.
— Sempre soube, principalmente porque não fui com sua cara desde
o início — provoco-o.
— Você não fez isso sozinho — digo, já sabendo o óbvio —, por isso
não encontramos nada no seu computador.
— Como assim?
Tento entender o que quer dizer e nego com a cabeça para que ele
saiba que não estou compreendendo seu jogo idiota.
— Assim como você é... era secretária de Daniel e tinha sua mesa de
trabalho, outros funcionários também têm.
— Não adianta me contar isso tudo, vocês serão pegos e não terá
adiantado nada ter roubado Daniel e me sequestrado.
Ele para e me encara, agora o sorriso some do seu rosto.
Daniel Braga
Saio dos meus pensamentos e dou risada ao pensar sobre isso. Vou até
o bar e bebo um pouco mais de vodca e outras bebidas. Meu corpo protesta
mais uma vez, cansado por toda essa loucura que estamos passando.
Do que adianta ser rico, ceo, como os tabloides adoram lembrar, dono
de empresas, e não poder resgatar a mulher que amo? Sim, amo Joanne, e
quando voltar a vê-la, pois sei que isso irá acontecer, direi com todas as
palavras. Pedirei perdão para ela quantas vezes forem necessárias até que ela
possa me perdoar de coração pelo o que eu havia feito.
— Mande uma equipe até a padaria, alguém deve ter visto Juliano em
algum lugar. Os jornais só falam a respeito disso. Ofereça uma recompensa,
pago o que for necessário para encontrar Joanne o mais rápido possível.
— Farei isso, mas não pense que é fácil, isso acontece somente em
filmes. Entro em contato quando tiver alguma novidade, se caso alguém te
ligar, me procure imediatamente.
— E por que não? Ele sequestrou uma mulher inocente, com certeza
quer alguma coisa em troca, como dinheiro, por exemplo. Acredite, entendo
do que estou dizendo, não é a primeira vez que cuido de um caso assim.
Conhece Caio Brown[8], não conhece?
— Sim, conheço — respondo, querendo saber como isso pode me
ajudar.
Daniel Braga
Joanne Almeida
Tenho certeza absoluta, porque ele sabia que o último lugar que eu
havia sido vista foi com seu amigo. Mas ele conseguirá me encontrar?
— Bom dia — digo, tentando ser gentil. Vai que ele desista de me dar
o pão.
— Você não vai embora — diz —, não para a sua casa. Estou
planejando uma partida para outro país, em segurança, claro. Somente eu e
você.
— Sim, ele está tentando vir atrás de você. Mas não se anime, iremos
embora antes que ele a ache.
Ele me encara e noto que cai na minha mentira. Nunca na minha vida
havia me interessado pela área da saúde. Só de pensar em sangue, meu corpo
amolece e quero desmaiar, mas para conseguir sair daqui farei de tudo.
Espero que meu plano dê certo e eu consiga escapar daqui com vida.
— Não é fácil achar uma caixa dessas por aí, tive que rodar algumas
farmácias para conseguir.
— Droga, deve ter sido na hora que saí no soco com o Fabrício —
diz, fazendo careta.
— Vocês brigaram?
— Sim. Ele acha idiotice o que estou fazendo com você, disse que
não deveria tê-la sequestrado e que o plano era só roubarmos o dinheiro.
Ao ouvir isso, vejo que Fabrício não é tão idiota assim, afinal de
contas.
— Talvez sim, talvez não. Agora vamos logo com isso que não estou
aguentando de dor.
— Precisamos dar alguns pontos, mas não temos nada aqui para isso
— digo.
— Tudo bem. Agora vamos, você fez sua parte e eu irei cumprir com
a minha. — Juliano se coloca de pé com dificuldade e eu faço o mesmo,
recolhendo as coisas e jogando no banheiro velho.
— Você tem certeza que vai ficar com isso aberto? Fiz o que pude,
mas precisa de atendimento especializado, os pontos ainda estão rompidos.
— Sobre o quê?
Sinto as lágrimas quererem cobrir meus olhos, mas não permito, entro
no cômodo com Juliano e noto que estamos em um quarto. Diferente do que
eu estava, este é bem mais confortável, com uma cama cheia de travesseiros,
uma mesinha, uma geladeira e uma porta, que acredito levar ao banheiro.
— Não sabia que sua família tinha uma fábrica que faliu.
Fico espantada ao saber que esse lugar velho tem água potável e
energia ainda, mas não ligo para isso.
— Vo-você — gaguejo.
— Sim, só não temos roupas para você, então, infelizmente, terá que
continuar com a de enfermeira.
Ele para e seu olhar fica vidrado. Juliano me puxa pelo braço e me
joga na cama, andando de um lado para o outro por alguns minutos antes de
seguir até a geladeira. Ele pega uma garrafa de água e me entrega, lágrimas
grossas deslizando pelo meu rosto dolorido.
— Me responda, é de Daniel?
— Não irei matar você — diz —, mas não posso dizer o mesmo do
pai do seu filho.
— Você está maluco? Não pode machucar Daniel, ele é seu amigo.
— Não é o que parece. Você a machucou? Olha como essa moça está!
Ele te machucou? — Seu olhar cai sobre mim e eu concordo com um aceno
de cabeça.
— Ele está nos seguindo, vai nos matar — digo com medo.
Olho para Fabrício e ele aciona o elevador, dizendo que tudo ficará
bem.
— Fabrício, não é uma boa hora — digo. Sei que ele é suspeito de ter
me roubado, entretanto, com tudo que anda acontecendo, acabamos
esquecendo isso por um tempo.
— Sim, é ele, no entanto, precisamos ser rápidos. Sei onde ele está
com Joanne. Na verdade, eu o ajudei nisso também, me perdoe.
— Ela está, mas não por muito tempo. Juliano pretende fugir do país
e quer levá-la... ele está descontrolado, acabamos brigando por conta disso.
— Tudo bem, agora me diga onde estão que iremos até aí, prometo
que você sairá impune, só trate de deixar minha mulher bem.
— Obrigado, Fabrício.
— Não, você não vai dirigir e nem ir com a gente, pode acabar
atrapalhando...
— Por favor, deixe-o ir — diz dona Ester pela primeira vez em muito
tempo. Ela aperta ainda mais meu braço e funga. — Daniel indo vai ajudar
vocês a chegarem mais rápido até minha sobrinha. Por favor, vocês precisam
encontrá-la e trazê-la em segurança.
— Escute, vai ficar tudo bem, já sabemos onde ela está e sei que
Fabrício vai distrair Juliano, não há com o que se preocupar.
— Certo, agora preciso que me conte onde fica o local — diz Martins,
já dentro do carro.
Nervoso.
Nada.
Joanne não...
Solto Joanne e sigo em sua direção, pronto para quebrar todos os seus
dentes, entretanto, sou impedido por Martins.
Joanne Almeida
Sinto meu corpo sendo levado para algum lugar e tento protestar, no
entanto, é em vão. Não consigo me movimentar, nem lutar contra Juliano. É
ele, tenho certeza. Quero abrir meus olhos, mas é algo totalmente impossível.
Quero gritar, lutar, fugir, mas simplesmente não consigo. Estou presa para
sempre com este homem. Não serei encontrada, Daniel não vai me achar.
Estou perdida.
Seus olhos estão marejados, então levo a minha mão até a dele, que a
agarra e aperta delicadamente.
— Onde estamos?
— No hospital. Está tudo bem agora, Joanne, não tem mais com que
se preocupar.
— Juliano — murmuro.
— Você foi atrás de mim, pensei que não acabaria nunca aquele
pesadelo.
— O quê? Você está maluco? Isso pode levá-lo para a cadeia também.
— Sim, minha querida, enfim a morte dos seus pais foi vingada.
Infelizmente, isso não os traz de volta, mas agora podemos descansar ao
saber que a pessoa que fez isso vai pagar. — Tia Ester sorri e se vira para
Daniel, piscando, o que me deixa sem entender.
— Sim, Fabrício me disse quando nos ligou, espero que ele descanse
em paz. Apesar de tudo, se não fosse ele, não teríamos te encontrado tão
rápido e algo pior poderia ter acontecido — diz Daniel. — O delegado
Martins vai colher seu depoimento mais tarde, ele precisa que você conte
tudo o que aconteceu para levar Juliano a julgamento. Vai ser um processo
longo, mas garanto que ele não sairá da cadeia tão cedo.
Fico feliz ao ouvir isso. Conversamos um pouco mais, conto para eles
tudo o que havia passado e a maneira que Juliano me tratou, deixando-me
passar fome e me agredindo. Daniel não disfarça o ódio que sente por Juliano
e diz que vai acabar com a vida dele.
— Daniel, eu...
— Não, por favor, me deixe dizer. Sei que não tenho direito nenhum
de pedir isso, mas quero que me perdoe. Não vou conseguir descansar minha
mente sabendo que ajudei Juliano a esconder o assassinato dos seus pais por
todos esses anos, e que ele te machucou. Só quero que você seja feliz, e
desejo fazê-la feliz. Então me dê essa chance, deixe-me mostrar o que um
homem apaixonado pode fazer na vida da mulher que ama. Deixe-me ser seu
namorado, seu marido, o pai dos seus filhos. Me permita acordar ao seu lado
todos os dias, preparar o café da manhã, reservar a mesa no restaurante para
comemorarmos datas especiais, e levá-la ao céu todas as noites. Eu quero te
amar para o resto dos meus dias. Então, por favor, me perdoe e me dê essa
chance.
Mas não pense que estou dizendo do amor de Daniel, mas sim o
amor-próprio. A vida inteira me dediquei às pessoas e tive um casamento
fracassado, e com isso, pude enxergar que posso ser feliz de verdade tanto
sozinha, quanto com um homem especial ao meu lado. Não aceito menos que
isso, nem uma mulher deve aceitar.
Abraço Daniel e rio. Ele beija a minha testa, então penso em tudo que
havíamos passado juntos. Recordo-me do dia em que fomos à balada e
dançamos juntos, da vez em que ele me levou para jantar, e do nosso
primeiro beijo. Meses atrás, estava chorando por ter sido abandonada, mas
hoje, analisando tudo que está acontecendo, Jonathan foi um verdadeiro herói
ao abrir mão do nosso casamento para eu poder ser feliz de verdade.
Capítulo 49
— O que fizeram?
Daniel acredita que engordei nos últimos meses, mas descobri que
estou grávida de três meses, na verdade. Guardei esse segredo para contar
esta noite a ele. Pego a caixinha no guarda-roupa com o teste e sapatinhos
sociais, pronta para contar a ele após o nosso jantar.
— Eu também — murmura.
Tudo está realmente muito bom, parece que teremos o nosso final
feliz de livros de romance, entretanto, quando decidimos visitar o túmulo dos
meus pais, coisa que Daniel e eu estávamos procrastinando há tempos, toda a
felicidade se esvai.
— Tenho certeza que sim, meu amor — diz Daniel, acariciando meu
braço.
— O sonho da sua mãe sempre foi ver você crescer e se tornar uma
mulher totalmente independente — diz titia ao me abraçar —, ela estaria mais
do que orgulhosa de ver quem você se tornou.
— Daniel ainda se sente culpado pelo que fez — diz ela —, mas um
dia ele irá superar. O importante é que ele já pagou por isso e nós o
perdoamos de coração.
Concordo, ainda encarando meu noivo olhar o túmulo dos meus pais.
Pouco tempo depois, ele se aproxima e me abraça.
— Vamos, Diabinha?
— Depois de oito meses juntos, você não cansa de me chamar assim?
— Ainda é difícil, depois de tudo que passei, e dessa vez meu pai não
estará para me levar ao altar.
— O que você está fazendo aqui? O noivo não pode ver a noiva antes
do casamento — diz titia.
— Toc, toc — diz Gus ao entrar no quarto —, vim ver se está tudo
bem.
— Gostaria de conversar com você, acho que nesse tempo todo não
conseguimos ter uma conversa sozinhos.
— Nunca agradeci realmente por tudo que você fez na minha vida e
de Jonathan.
— Do que você está falando?
— Você não pode esquecer que além disso, sou madrinha de vocês —
digo, ele concorda e damos risada.
— Não tem por que agradecer. Fico feliz que vocês dois estejam
felizes e bem.
— Fico realmente feliz por vocês. Quem diria, Jonathan pai e eu mãe,
e de outras pessoas! — Damos risada e ele concorda.
Assim que passamos pelas enormes portas, a música toca alto e todos
os convidados se colocam de pé. Diversos amigos e colegas de Daniel estão
lá, assim como alguns meus da faculdade e do trabalho, que criei nesses
meses. Sorrio e vejo Daniela com Marta, sua esposa, ao lado delas estão Ed e
Sue, ainda mais sorridentes. Seguimos andando e avisto Jonathan e Augusto,
ao lado deles, estão meus sogros, que sorriem ainda mais para mim. Tia Ester
segura firme meu braço, e depois de encarar todos os nossos convidados, levo
meus olhos em sua direção e o avisto.
— Neste dia, estamos aqui para celebrar a união deste casal — diz —,
Daniel Braga, você aceita Joanne Almeida como sua legítima esposa?
— Sim.
— Ambos prometem e se comprometem em sempre se amarem e
cuidarem um do outro, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que
a morte os separe?
Clichê, eu sei, mas quem disse que a vida não é um verdadeiro clichê?
Abraço Daniel e encaro Sue, que beija Ed, feliz pelas flores em sua mão.
Sorrio com isso e suspiro alegremente. Quem sabe um dia ela não conta sua
história, assim como Jonathan e Augusto? Mas neste momento, apenas quero
viver a minha. Uma que irá se seguir após o encerramento dessa, onde eu,
uma advogada, me apaixonei pelo meu chefe, um homem sexy, gostoso e,
claro, como todos os clichês que amamos, um ceo. O meu ceo arrogante.
Epílogo
Daniel Braga
Tenho um filho, estou casado com a mulher que amo, posso dizer que
sou um dos homens mais felizes do mundo. Como não ser feliz ao ver esta
criança crescer forte a cada dia?
— Sim, ele só queria mamar e que trocasse a sua fralda — digo após
colocá-lo no berço.
— Ele está duro como na primeira vez que o masturbei nesse mesmo
apartamento — responde baixinho no meu ouvido. Joanne o aperta e meu pau
pulsa. Diabinha, ela sabe mesmo me provocar.
Ela sorri e desce devagar. Por conta da barriga, fico de lado, para que
ela não tenha dificuldade, então leva meu pênis até sua boca e me faz agarrar
os lençóis e morder os lábios para não soltar um palavrão.
— Meu Deus, sua safada — digo, ao sentir sua língua passando pela
glande do meu pênis.
— Quando digo que você é uma Diabinha, você não acredita em mim.
Joanne rebola no meu pau enquanto sorri e passa as mãos no meu
peitoral, beijando meus lábios em seguida. Dou algumas estocadas devagar e
sem fazer barulho para não acordar o nosso pequeno. Ela delira de prazer,
então levo meu dedo até sua boceta e acaricio seu clitóris.
— Ter me casado com você foi a melhor decisão que tomei — diz ela
enquanto vai até o banheiro se limpar.
Fim.
Agradecimentos
Quero agradecer a minha família que me apoia e também aos que fazem o
contrário, isso me dá determinação a conquistar meus objetivos.
E por último, mas não menos importante, aos meus fiéis leitores que
vibram de felicidade comigo a cada lançamento meu. Obrigado de coração,
eu os amo muito e espero que possamos passar muitos e muitos anos juntos.
Com carinho,
Kevin Attis.
[1]Os personagens citados são de outras obras do autor disponíveis na Amazon.
[2] Personagem de “Todo Seu”, romance LGBT do autor disponível na Amazon.
[3] Personagem de “Todo Seu”, romance LGBT do autor que está disponível na Amazon.
[4] Sabrina é personagem do livro “Meu cliente arrogante” do autor que está disponível na
Amazon. O livro não tem ligação com esse a não ser o nome parecido e a citação da personagem.
[5] Confeitaria fictícia do livro “Meu cliente arrogante”
[6] Série americana do ABC.
[7] Personagem do livro “A Escolha” do autor Kevin Attis, que encontra-se disponível na
Amazon.
[8] Personagem de “A Escolha”, romance gay do autor. Disponível na Amazon.
[9] Personagem de “Meu Cliente Arrogante” disponível na Amazon.