Art and Anthropology of Technique and Sc-2
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Rodolfo Ward 1
Cleomar Rocha2
Resumo
Este artigo pretende trabalhar na intersecção que une os cam pos da arte e da
antropologia da técnica m ais precisam ente a estética com objetivo de clarificar
conceitos teóricos e em píricos sobre m odos de relação entre hum anos e não hum anos
e com o a evolução dos objetos técnicos influem e confluem com a evolução das
sociedades hum anas, tendo com o um a das bases para este estudo a ferram enta da
cadeia operatória aliado ao conceito de transecto.
Abstract
This article intends to work at the intersection that unites the fields of art and
anthropology of technique more precisely aesthetics with the aim of clarifying theoretical
and empirical concepts about the relationship between humans and non-humans and
how the evolution of technical objects influence and converge with evolution of human
societies, having as one of the bases for this study the tool of the operative chain allied to
the concept of transect.
Introdução
Este artigo pretende explicar a técnica cadeia op eratória, além de, aprofundar a
relação os conhecim entos entre técnica e estética na Antropologia e na Arte. Em
segundo plano, pretendem os clarificar conceitos teóricos e em píricos sobre m odos de
1
Doutorando em Artes Visuais e Mestre em Arte Contem porânea pela linha de pesquisa, Arte e Tecnologia, da
Universidade de Brasília - UnB (2019). Pós-Graduado em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações
Internacionais IREL/ UnB (2020). Pós-Graduado em Análise Politica e Políticas Públicas pelo Instituto de Ciência
Política - IPOL/ UnB (2018).
2
Mestre em Arte e Tecnologia da Im agem pela Universidade de Brasília (1997), doutor em Com unicação e
Cultura Contem porâneas pela Universidade Federal da Bahia (2004), pós-doutorado em Tecnologias da
Inteligência e Design Digital pela PUC-SP (2009), pós-doutorado em Estudos Culturais pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (2011), pós-doutorado em Poéticas Interdisciplinares pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (2016). Professor Associado da Universidade Federal de Goiás, coordenador do Media Lab / BR,
pesquisador visitante na UFRJ e da Universidad de Caldas, na Colôm bia. Pesquisador do CNPq.
59 ISSN 2358-0488 Anais do VII Sim pósio Internacional de Inovação em Mídias Interativas.
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relação entre hum anos e não hum anos e com o a evolução dos ob jetos técnicos influem
e confluem com a evolução das sociedades hum anas.
Para os gregos, a palavra arte era entendida com o toda form a de produção com
destreza, ou seja, toda a práxis era arte. Um carpinteiro, escultor, pintor eram
considerados artistas pois produziam com destreza. As divisões tam bém se davam em
razão do esforço físico utilizado na produção da obra: se havia esforço físico, era
considerada arte inferior; se não havia, era considerada arte superior. Escultores estavam
no m esm o patam ar de carpinteiros, pois am bos produziam determ inado produto
artístico e faziam esforço físico; em contrapartida, o m úsico era considerado superior,
pois utilizava apenas seu intelecto para realizar sua arte. Apresentarem os breves e
sintéticas definições sobre o belo no decorrer da história acadêm ica ocidental. Iniciando
pelo com plexo pensam ento de Platão a respeito do belo.
Para Platão (340 a.c.) o belo é o ideal da perfeição só podendo ser contem plado
em sua essência por m eio de um processo de evolução filosófica e cognitiva do
indivíduo por m eio da razão que lhe proporcionaria conhecer a verdade harm ônica do
cosm o. Este processo proporcionaria a superação das ilusões e aparências sensórias do
m undo, revelando sua verdadeira essência, essa essência de certa form a, divina, está
além de form as físicas e experiências em píricas. Por isso a arte para Platão é um a
distração da verdadeira essência das coisas. Para o filósofo a arte é a reprodução do
m undo, que por sua vez, é a representação de ideias no m undo m anifesto e por isso a
arte distância a m ente da realidade e consequentem ente do Belo. O filósofo reconhece
que a arte possui valor em si m esm a, por isso, cria confusão com o objeto real e deturpa
a essência do belo. Essa conceituação de Platão tem forte ligação com conceito de real
pois não perm ite m ediações de nenhum tipo. A arte, para ele, está ligada a em oções e
sentim entos que distorcem e i
filosofia com o podem os perceber no diálogo entre Sócrates e Glauco, no livro 10, da
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obra A República. Nesta obra, Platão fala de três graus em relação a natureza das coisas, a
ideia, os objetos em geral e a im agem destes objetos, e, já adianta em alguns séculos as
discussões que ainda hoje perm eiam os debates acadêm icos sobre visualidade,
realidade e representatividade.
Aristó
contem pla um instante de vida que vale por ele m esm o, um instante eudaim ônico3
belo para Aristóteles tam bém estaria ligado à natureza, entretanto, diferentem ente do
pensam ento de Platão, a arte, a criação hum ana, assum e protagonism o na concepção
do belo um a vez que é o hom em que define o que é belo, ou seja, existe um filtro
hum ano tanto do artista quanto do observador. Aristóteles reconhece que a tendência
para im itação é instintiva no hom em desde a infância e que esta aptidão é um a das
características que o difere de outros seres vivos. Para o autor é pela im itação que
adquirim os nossos prim eiros conhecim entos e experim entam os prazer. O filósofo em
e poetas que utilizavam sua criação artística para
potencializar ações hum anas, ou seja, para o autor a arte poderia, ainda, com plem entar
o que falta na natureza, por m eio da poética. Podem os entender que para Aristóteles o
belo não é ligado a conceitos de real. O artista teria a liberdade para criar realidades e dar
sentido para um m undo que não tem sentido. A obra de arte teria tam bém um papel
histórico e didático na evolução hum ana.
Em um breve salto tem poral, irem os direto para à época em que a disciplina
estética é designada com o disciplina acadêm ica para estudar o belo, a filosofia e a arte.
O conceito de arte m oderna só veio a ser am plam ente discutido e objetivado na Europa
durante a Idade Média, quando surgiu a classificação das belas-artes.
3
eudaim onia, enquanto estado subjetivo, envolve os sentim entos que ocorrem quando a pessoa se m ove
em direção à autorrealização, para que possa desenvolver as suas potencialidades e conferir propósito à sua
vida (Delle Fave, Wissing, Brdar, Vella-Broderick, &Freire, 2013; Waterm an, Schw artz, & Conti, 2008 APUD FREIRE,
Teresa et al.).
4
ca a um term o que com eçou a ser usado desde Baum garten (1750) para designar um a disciplina que
se ocupa da arte e do belo. Essa designação tem a sua origem na palavra grega "aesthesis" que significa
percepção. A reflexão sobre a arte na m odernidade relaciona o belo com a percepç
1994).
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característica da sua abordagem estava na im portância do sentim ento no ato criativo do
artista. Ele queria
afirm ando que os artistas devem alterar deliberadam ente a natureza, adicionando
elem entos de sentim ento à realidade percebida. Dessa form a, o processo criativo do
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m undo se reflete em sua O belo é um a m aterialização de
sentim entos e ideias puras através de obras de arte.
explica os diversos com ponentes dos equipam entos sensoriais dos m am íferos que
-
GOURHAN, 2002, p. 85).
Ainda para o autor, um a das características que difere o ser hum ano dos outros
m am íferos é a conexão da sua vida m ental a aparelhagem sim bolizante que o perm ite
viver a vida sensitiva em toda sua dim ensão. Esse sistem a hum ano de referências
sensoriais que possibilita a análise estética com portam a ação com o o retorno da
reflexão. Contudo, o autor diz que é necessário refletir sobre um a segunda linha de
pensam ento que questiona se o pensam ento estético não se interrom pe precisam ente
possa efetivam ente assegurar um a certa consciência do vivido, o equipam ento sensorial
tam bém atua a um nível infra-sim bólico, com o o caso do gosto, o qual não se consegue
dar a im agem e só pode ser reconstituído por si só. Para o autor o com portam ento
o principal elem ento da libertação individual, enquanto que o com portam ento técnico
ou social é vivido de acordo com norm as coletivas que im plicam um a execução
5
Disponível em : < https:/ / w w w .britannica.com / biography/ Alexander-Gottlieb-Baum garten> Acesso:
02/ 10/ 2020.
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O antropólogo francês, André Leroy-Gourhan dá continuidade a fam osa tríade epistem ológica de
-físio-
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Leroy Gourhan (2002) diz que o com portam ento dos anim ais sob o ponto de
vista sensorial pode ser definido por três aspectos: o com portam ento nutritivo, o da
afetividade física e o da integração espacial. O com portam ento nutritivo assegura o
funcionam ento corporal através do tratam ento das m atérias assim iláveis pelo
organism o, tendo por m otor os ritm os viscerais e por agentes de percepção com o o
olfato, a degustação e o tato. O com portam ento da afetividade física, assegura a
sobrevivência genética das espécies e equilibra-se entre a percepção do jogo m uscular
e o tato, a olfação e a visão. O com portam ento da integração espacial torna possível os
dois prim eiros, no caso do hom em a visão é o sentido dom inante pois junto com os
órgãos do equilíbrio contribui para percepção do corpo no espaço. Estes aspectos
correspondem a três níveis de referência dos indivíduos entre si e com o m eio,
en conceber nenhum dos três níveis de relação com o m eio
externo sem a associação de um a certa ritm icidade corporal e de um dispositivo de
Para o autor o organism o social regido pela cultura m oderna passou por um
processo de racionalização que separou os dom ínios da religião dos dom ínios da
bom funcionam ento do
dispositivo sócio-técnico. Sendo que, a sociedade dom ina os indivíduos através do
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Ludovic Coupaye é um antropólogo da University College London UCL que possui com o principais áreas
de interesse: Anthropology of Art (Pacific, general); Anthropology of Techniques (Skills, Body, Design, Materials);
Anthropology of Technology (STS, ANT, Politics, Digital, Politics); Papua New Guinea, Sepik, Oceania; Museum
ethnography (Collections, Display, Scenography, Exhibitions).
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form as de pensar e de fazer. Para produção de seu artigo tom a com o m arco teórico os
Para Sautchuck
(2017, p. 14) ou autor atualiza o entendim ento sobre cadeia operatória tornando-a m ais
concepção sobre a técnica, m ais fluida e perm eável (...) e que apont a para a
entanglement )
9
nas relações sociais, sua agência, sua affordance ou sua m aterialidade, todos se
construindo sobre a ideia central de que a im perm eabilidade da fronteira entre pessoas
e coisas (things) depende do contexto etnográfico
explica que além de existir diferenças teóricas e m etodológicas entre as tradições
anglófonas e francófonas e
jam ais terem sido traduzidos para o inglês pode ter desem penhado um papel em seu
nologia não é a
aparelho não é um a tecnologia, m as faz uso desse conhecim ento, na m edida em que
técnicas. O que se pode ver são as pessoas fazendo coisas: um encanador consertando
um vazam ento em seu banheiro; um a pá m ecânica cavando um buraco em sua rua
(SIGAUT, 2002 [1994]:424). Ou, ainda, a pessoa que o hospeda em um a aldeia da Papua-
Nova Guiné abrindo um buraco em um a roça recém -inaugurada com a ajuda de um
descrever, tornar visível e perm itir a análise daquilo que as pessoas fazem : a cadeia
operatória.
8 Cadeia operatória, transectos e teorias: algum as reflexões e sugestões sobre o percurso de um m étodo
HUK, Carlos (Org.).
9 A noção de affordance, dificilm ente traduzível, é resultado do trab alho de Jam es J. Gibson (1977), visando
efere às potencialidades que um am biente, um
indivíduo, um objeto ou um a m atéria oferece e propicia aos seres vivos, tanto anim ais com o hum anos, que os
percebem . Popular, porém debatida nas análises anglófonas da cultura m aterial, encontram os esta noção
entre outras discutidas e revisadas por Carl Knappett (2005). (SAUTCHUK , 2017, p. 476).
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técnica ganha m ais im portância e abrangência. Veja-se a tão
im portante quanto pouco lem brada produção de Mauss
(2006) sobre o tem a, onde tecnologia é com preendida com o
o estudo da técnica. É verdade que existe algum a
correspondência entre os dois term os, atestada, por
exem plo, na tradução para o inglês de autores com o Latour,
Foucault, Ellul, Daum as, Mauss, Lem onnier, onde technique
no original é vertido com o technology. Mas essa equivalência
é parcial e pode dar m argem a algum as confusões. Tanto
assim , que diversos autores franceses se incom odam com o
em prego do term o tecnologia, considerando-o equivocado
ou abusivo (Séris, 1994: 3-6; Sigaut 1994: 442; Latour 2001:
219). E m esm o Bryan Pfaffenberger, em Social Anthropology
of Technology (1992), propõe a substituição do term o
explorar e qualificar as relações hum anos-m atérias, dem onstrando seu caráter
apresenta um a cadeia operatória com abordagem descritiva e não com parativa sem o
tanto hum anas quanto
não hum anas, das m atérias.
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O autor parte então para um a análise do caráter sistêm ico das técnicas.
Ao sistem atizar, dividir para um a m elhor análise acadêm ica, e incorporar novos
pontos de vista e m étodos analíticos, o autor desloca o foco do objeto para o processo.
Se apropria do conceito de transecto, originário da ecologia, e explica com o esse
conceito pode ser utilizado para expandir ao m esm o tem po que pode tornar densa a
m etodologia da cadeia operatória. Seu alcance teórico depende, assim , da questão
colocada e da escala da observação. Em três níveis: do processo, dos elem entos
apresentasse um tipo
2017, p. 484).
Referências
BARROS, Clóvis. Aula 8 A Beleza e a Arte Clóvis de Barros (2010). Disponível
em : https:/ / w w w .youtube.com / w atch?v= nm Gr_2Kw ylI
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