tações culturais na primeira metade do sécu- e repressivo, o fascismo suprimiu as liberdades lo XX individuais e coletivas, defendeu a supremacia do Estado, o culto do chefe, o nacionalismo, o 3. O agudizar das tensões políticas e so- corporativismo, o militarismo e o imperialismo. ciais a partir dos anos 30
3.3. As opções totalitárias: os fascismos Benito Mussolini (1883-1945)
Filho de um ferreiro e de uma professora pri- mária, nasceu em Predappio, no norte de Itália. Membro do Partido Socialista na juventude, acabou por ser expulso devido às suas posi- ções belicistas durante a Primeira Guerra Mun- dial. Aproximou-se da extrema-direita naciona- lista e fundou, em 1919, os Fasci di Combatti- mento, que estiveram na origem do Partido Na- cional Fascista. Chefe de Governo, na sequên- cia da Marcha sobre Roma, instaurou o totalita- rismo fascista em 1925 e aliou-se à Alemanha hitleriana na década de 30. Em julho de 1943, perante a iminente derrota da Itália na Segun- da Guerra Mundial, foi destituído e preso. Li- bertado pelos alemães, em setembro de 1943, ainda criou a República Social Italiana, com ca- pital em Saló. Este governo-fantoche, controla- do pelos alemães, cairia com a detenção e fu- zilamento do Duce pela Resistência italiana, em abril de 1945.
A Alemanha assistiu, em 1923, ao putsch de Hi-
tler em Munique, dirigido contra a República de Weimar. O golpe fracassou, é certo, mas a se- Nos anos 30, a depressão económica acentuou a mente do nazismo haveria de germinar dez anos crise da democracia liberal. Uma vaga autoritária volvidos, originando a ditadura de direita mais trá- e ditatorial submergiu a Europa, com o avanço e gica da História. ascensão ao poder de forças conservadoras de direita, contrárias à democracia parlamentar. Afir- Nazismo: regime político instaurado por Hitler maram-se as soluções autoritárias de direita. na Alemanha, a partir de 1933. Além dos prin- cípios ideológicos que partilhou com o Fascis- Logo em 1922, a Itália deu o sinal, quando, em mo, distinguiu-se pelo racismo violento, funda- outubro daquele ano, a Marcha sobre Roma dos mentado-o numa suposta superioridade da ra- ça ariana,à qual pertenciam os alemães; ao “camisas negras” (as milícias fascistas) pressio- Estado nazi incumbiria não só a preservação nou o rei Vítor Manuel III a nomear Mussolini da raça superior (expurgando-a dos elementos chefe do Governo. Mercê de uma ditadura basea- impuros) mas também criar as condições para da no partido e nas suas organizações, o fascis- a sua expansão territorial (doutrina do espaço mo consolidou-se em Itália, servindo de modelo e vital; imperialismo). inspiração a muitos outros países europeus.
Adolf Hitler (1889-1945)
Fascismo: regime político instaurado por Mus- Nasceu na cidade fronteiriça de Braunau am solini em Itália, a partir de 1922. Por extensão, Inn, no Império Austro-Húngaro. Ainda jovem, o termo fascista designa todos os regimes tota- e após a morte dos pais, alimentou o sonho de litários de direita e até mesmo simples regimes ser artista, mas por duas vezes foi recusado na Academia de Belas-Artes de Viena. Em 1913, submeter-se aos interesses deste. A apologia do mudou-se para Munique, combatendo pelo exército alemão na Primeira Guerra Mundial. primado do Estado sobre o indivíduo leva o Em 1920, fundou o Partido Nazi e, três anos fascismo a desvalorizar a democracia partidá- mais tarde, tentou um golpe em Munique con- ria e o parlamentarismo, uma vez que este sis- tra a República de Weimar. Preso durante es- tema governativo assenta no respeito pelas liber- cassos meses, aproveitou para sistematizar as dades individuais que se fazem ouvir diretamente suas ideias antidemocráticas e racistas no livro nas eleições e, através dos seus representantes, Mein Kampf (A Minha Luta). Chanceler em 1933, cargo que, no ano seguinte, acumulou nos parlamentos. O exercício do poder legislativo com o de presidente, liderou uma das ditaduras por assembleias é, assim, menosprezado pelo mais violentas da História. Perante a inevitabili- fascismo, que rejeita a teoria liberal da divisão dade da derrota alemã na Segunda Guerra dos poderes e faz depender a força do Estado Mundial, suicidou-se no seu bunker em Berlim, no reforço do poder executivo. no dia 30 de abril de 1945.
• Os fascistas rejeitavam a teoria da separação
3.3.1. Totalitarismo e nacionalismo de poderes; menosprezam o poder legislativo; achavam que a força do Estado residia no re- O totalitarismo do Estado fascista exerceu-se a forço do poder executivo. vários níveis: político, económico, social, cultural. • Consideravam o pluripartidarismo um fator A oposição política, considerada um entrave à de divisão, que punha em causa a coesão e a boa governação, foi aniquilada. As atividades força da nação. económicas sofreram uma rigorosa regulamenta- • Consideravam o parlamentarismo um siste- ção. A população foi obrigada a enquadrar-se ma débil, alheio aos interesses da nação e in- nas várias organizações afetas ao regime. A li- capaz da salvaguarda do interesse nacional. berdade de pensamento e de expressão foi proi- • Rejeitavam a liberdade. bida. A única verdade passou a ser a do Estado. Como sentenciou Mussolini, “tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”. Além do liberalismo e da democracia, também o O autoritarismo do Estado era a primeira condi- socialismo, o comunismo e o projeto de ex- ção da prosperidade da nação; face aos particu- pansão do internacionalismo revolucionário larismos regionais, os fascistas contrapunham mereceram ao fascismo a total reprovação. um poder centralizado; defendiam a supremacia Para a doutrina socialista, o indivíduo está inse- do interesse coletivo sobre o individual; propu- rido numa classe social; com ela se identifica e nham soluções políticas ditatoriais, e a constitui- por ela luta. Para o fascimo, a luta de classes é ção de estados policiais em que a própria justiça inaceitável, porque divide a nação e enfraquece o se submetia ao interesse do Estado. Estado, além de considerar que no socialismo uma maioria indigente, nascida para obedecer, acabava por se sobrepor à elite, nascida para go- Totalitarismo: regime político em que não vernar. Para os fascistas, a igualdade era uma existe separação de poderes, estando a totali- “pura ilusão” e o internacionalismo operário era dade do poder concentrada numa só pessoa absolutamente nefasto à ideia de coesão nacio- ou no partido único. Entende o Estado como nal. um valor absoluto, à razão do qual se devem subordinar todos os interesses individuais. Ca- Os fascistas defendiam um nacionalismo fervo- be ao Estado o controlo da vida social e indivi- roso, exaltador das glórias pátrias e incompatível dual. com os apelos socialistas ao internacionalismo operário. A ideia marxista de que o proletário não Enquanto o liberalismo e a democracia se afir- devia lutar pela pátria mas pelo derrube do capi- mam defensores profundos dos direitos do indiví- talismo só reforçava a hostilidade fascista, que duo, o fascismo entende, pelo contrário, que aci- considerava a nação um valor sagrado. ma do indivíduo está o interesse da coletivi- Apelavam à hegemonia do seu povo. Procuram dade, a grandeza da Nação e a supremacia do os seus modelos no passado, nos tempos áureos Estado. O indivíduo não tem existência por si só; de afirmação das naciona lidades. Esta caracte- só existe enquadrado no Estado; deve por isso rística surge associada ao imperialismo. No ca- so da Itália, procurava alcançar as grandezas do pelo que a obediência cega das massas era um antigo Império Romano, o que favoreceu a ex- imperativo. Líderes de sociedades profundamen- pansão territorial para África, nomeadamente te hierarquizadas e rígidas, Mussolini e Hitler, para a Etiópia. No caso da Alemanha, o panger- souberam explorar o elevado respeito que as manismo traduziu-se na ideia de criação de um massas nutriam pelas elites. império alemão, medi- ante a expansão territorial, Para tal, procederam à inculcação dos ideais fas- com vista a edificar uma “grande Alemanha” (ou cistas nos jovens, que desde cedo eram enqua- “Terceiro Reich”). O imperialismo alemão visava drados e fanatizados em organizações de caráter dominar outros povos, sobretudo na Europa Cen- militarista, com vista à formação de fiéis e sub- tral e Oriental (eslavos) considerados inferiores, missos servidores do partido e do Estado. para assim restabelecer o poderio da Alemanha, de modo a concretizar a teoria do “espaço vital”. • Na Itália, a partir dos 4 anos, as crianças in- 3.3.2. Elites e culto ao chefe gressavam nos Filhos da Loba e usavam já uniforme; dos 8 aos 14 faziam parte dos Ba- Ao contrário do demoliberalismo, que acredita na lillas; aos 14 eram Vanguardistas; e aos 18 en- igualdade entre os homens e defende o respetivo travam nas Juventudes Fascistas. acesso à governação (elegendo ou sendo elei- • Na Alemanha, a Juventude Alemã integrava tos), o fascismo parte do princípio de que os ho- as crianças a partir dos 10 anos. A partir dos 14 anos e até aos 18, os jovens passavam a mens não são iguais, sendo a desigualdade útil integrar a Juventude Hitleriana. e fecunda. Desconfiava das escolhas feitas com • As raparigas também eram inseridas em or- base no sufrágio universal, em que todos os vo- ganizações específicas, como a das Jovens tos têm o mesmo valor. Defendia por isso que só Italianas e a Liga das Jovens Alemãs. aos melhores, só à elite devia caber a governa- • Nestas organizações, os jovens italianos e ção. Numa sociedade hierarquizada, as elites alemães aprendiam o culto ao Estado e ao chefe, o gosto pelo desporto e pela guerra, o mereciam o respeito das massas; no trabalho, no desprezo pelos valores intelectuais e o amor lar, nos espaços públicos, cabia-lhes veicular a pela Nação. ideologia dominante e assegurar o cumprimento da ordem. A educação fascista complementava-se na es- cola, através de professores profundamente Considerados homens providenciais, salvado- subservientes ao regime, ao qual prestavam ju- res da pátria, os chefes (o Duce, na Itália fascis- ramento, e de manuais escolares impregnados dos princípios fascistas, e concebidos como ta, o Führer, na Alemanha nazi) foram promovi- instrumentos de divulgação da ideologia totali- dos à categoria de heróis. Simbolizavam o Esta- tária. do totalitário, encarnaram a Nação e guiavam os • O objetivo era a formação de um homem no- seus destinos. Deviam ser seguidos sem hesita- vo, viril, apto para o comando; com coragem, ção. Acabaram por ser alvo de um culto que nal- espírito de disciplina, rigoroso no cumprimento guns países raiava a idolatria. do dever; formado para acreditar, obedecer e Além dos chefes, fazia parte da elite a raça domi- combater; sem espírito crítico; espécie de autó- mato, capaz de executar sem discussão to- nante (ariana, na Alemanha), os soldados e as das as ordens. forças militarizadas, os filiados no partido, os ho- mens de uma forma geral. Consideradas cidadãs inferiores, às mulheres alemãs estava reservada A arregimentação de italianos e alemães prosse- a vida no lar e a subordinação ao marido, restrin- guia na idade adulta, deles se esperando a total gindo-se as suas ocupações aos 3 k’s: kinder, ku- adesão e a identificação com o fascismo. che, kirche (crianças, cozinha, igreja); era enalte- Contava-se, para o efeito, com diversas organiza- cida a mulher procriadora que se realizava cum- ções de enquadramento das massas. prindo o dever natural e sagrado da maternidade. 1. Partido Único: Nacional Fascista na Itália e Nacional-Socialista na Alemanha, cuja filiação se 3.3.3. Enquadramento das massas tornava indispensável para o desempenho de funções públicas e militares, e de cargos de res- Os fascistas eram avessos a quaisquer manifes- ponsabilidade. tações de vontade individual ou espírito crítico, 2. A Frente de Trabalho Nacional-Socialista Colocou a rádio e o cinema ao serviço do Es- [Alemanha] e as corporações italianas, que for- tado. Milhares de rádios foram instalados por neciam aos trabalhadores condições favoráveis toda a Alemanha [nas ruas, escolas, fábricas]. na obtenção de emprego, em substituição dos Altifalantes reproduziam os discursos do sindicatos livres, entretanto proibidos e desman- Führer. O cinema foi também utilizado para o telados. culto de heróis nacionais e denúncia dos inimi- gos do Reich: judeus e bolchevistas. Foi proibi- 3. A Dopolavoro, na Itália, e a Kraft durch Freude, da toda a produção intelectual contrária à ideo- na Alemanha, associações destinadas a ocupar logia do regime. os tempos livres dos trabalhadores com ativida- des recreativas que não os afastassem da ideo- A censura foi um meio que serviu para reforçar logia fascista. os valores do regime e impedir qualquer forma de dissidência. Com o objetivo de controlar a mente e a vontade das pessoas, os estados totalitários montaram 3.3.4. O culto da força e da violência uma gigantesca máquina de propaganda, apoia- da nas então modernas técnicas audiovisuais, A violência está no âmago do Fascismo. Tanto os com as quais promoviam o culto do chefe, enalte- fascistas como os nazis repudiavam o legado hu- ciam a grandeza nacional, publicitavam as reali- manista da cultura ocidental. Defendiam o culto zações do regime e submeteu a cultura a critérios da força e da violência [traduzida no exercício nacionalistas e até racistas. físico, no treino militar e na intimidação dos opo- Grandiosas manifestações de força, onde avul- sitores], celebravam a ação, o instinto, a natureza tavam as paradas militares, os uniformes e os selvagem do homem. Mais do que as qualidades estandartes, sempre alvo de uma cuidadosa en- intelectuais, os fascistas queriam desenvolver as cenação, que galvanizava as multidões e trans- qualidades animais, instintivas do homem. mitia uma imagem de ordem, disciplina e auto- Belicistas, entendiam ser na guerra que os povos ridade. Nessas ocasiões, as forças militares e otimizam as suas qualidades. Consideravam a paramilitares exibiam toda a sua capacidade, re- paz como algo nocivo, porque domesticadora dos correndo à exibição de material bélico e erigindo instintos da natureza humana. a bandeira do partido como símbolo nacional. Consideravam que o nacionalismo deve ser altivo e ambicioso, que as nações superiores devem Propaganda: conjunto de meios destinados a subordinar as inferiores; e que isso devia impe- influenciar a opinião pública. Nos Estados tota- lir à conquista. Prometiam a restauração da gran- litários, a propaganda procura inculcar nas deza nacional com a expansão imperialista. massas a sua ideologia e os seus valores cul- turais e morais. Entre os meios utilizados, ci- De forma a garantir o controlo absoluto da socie- tam-se os discursos, a imprensa, panfletos, dade, o fascismo lançou mão da repressão poli- cartazes, a rádio, o cinema, a televisão, mar- cial constituindo um aparelho repressivo: milícias chas, canções, uniformes, emblemas, manifes- armadas e polícia política. tações.
• Na Itália, já antes de 1922, as forças
paramilitares dos Fasci di Combattimento ou • Na Itália, o Ministério da Imprensa e Propa- esquadristas semeiam o pânico com as suas ganda controlava a rádio, as publicações e, expedições punitivas, incendiando e pilhando nos anos 30, o cinema, do qual se servia para os sindicatos e as sedes dos partidos de produzir documentários laudatórios das realiza- esquerda, cujos dirigentes abatiam ou ções do regime. espancavam. Em 1923 são reconhecidos como milícia armada do PNF, com o nome de Milícia • Na Alemanha, o Ministério da Cultura e Pro- Voluntária para a Segurança Nacional. paganda exerceu uma autêntica ditadura inte- Cabia-lhes vigiar, denunciar e reprimir atos lectual: suprimiu jornais, organizou “autos de conspiratórios. Com as mesmas funções foi fé” onde se queimaram obras de autores proibi- criada, em 1925, a polícia política: a OVRA dos (Voltaire, Marx, Freud, Einstein), perseguiu (Organização de Vigilância e Repressão do intelectuais judeus e obrigou os artistas a pres- Antifascismo). tarem juramento na defesa das ideias nazis. • A mesma intenção repressiva esteve Nação sem nada lhe dar em troca. Também os presente no regime nazi. Em 1921 e 23, o homossexuais foram considerados “social- Partido Nazi criou as Secções de Assalto (SA) mente aberrantes”, encerrando-se os seus lo- e as Secções de Segurança (SS), milícias com cais de encontro e as instituições que pugnaram caráter paramilitar, temidas pela sua pelos seus direitos. brutalidade, em que o espancamento era o procedimento habitual. Com a vitória do Nazismo, 1933, o estado policial alemão Eugenismo atingiu um nível impressionante. As milícias Teoria que defende a aplicação de métodos armadas e a polícia política, a Gestapo, que visam melhorar o património genético dos exerceram um apertado controlo sobre a grupos humanos, limitando a reprodução e até população, envolvendo a todos numa eliminando os indivíduos portadores de carac- atmosfera de suspeita e incentivando a teres considerados desfavoráveis. Na Alema- vigilância mútua e a denúncia generalizada. A nha nazi, onde dezenas de milhares de doen- criação, em 1933, dos primeiros campos de tes mentais foram mortos nas câmaras de gás, concentração completou o dispositivo o eugenismo, combinado com a doutrina racis- repressivo do nazismo. Administrados pelas ta, foi levado ao extremo no extermínio dos Ju- SS e pela Gestapo, neles se encerraram os deus e de povos julgados “inferiores”. opositores políticos. Povo de heróis, aos alemães estava destinado o 3.3.5. O controlo racial e social domínio do mundo, se necessário à custa da sub- missão e/ou eliminação dos povos inferiores. En- O desrespeito pelos direitos humanos atinge aqui tre estes, estavam os Judeus e os Roma e os o seu ponto máximo. Fazendo uma interpretação Sinti (“ciganos”), as também os Eslavos, cujos incorreta do evolucionismo de Darwin (que condi- territórios da Europa Central e Oriental fornece- cionava a evolução das espécies à seleção natu- riam aos Alemães o tão necessário espaço vital ral). Hitler concebia a história como uma luta pela (Lebensraum); Ein Reich, ein Volk, ein Führer sobrevivência. Acreditava que a raça ariana era (Um império, um povo, um chefe) era o seu slo- a raça superior e tinha nos alemães os seus gan. mais puros descendentes. Defendia que determi- nadas raças nasciam para comandar, e outras 3.3.6. A violência racista para obedecer, sendo dever das superiores impo- rem-se às inferiores, eliminando-as se necessá- Considerados pelos nazis como um povo destrui- rio. Defendia a pureza da raça, prometendo elimi- dor de cultura, um parasita que vivia no seio do nar todos os fatores de degeneração. Sem qual- povo alemão, corrompendo-o e arruinando-lhe as quer base científica, estas ideias tiveram grande suas virtudes rácicas; considerados culpados pe- aceitação. la derrota da Alemanha na 1.ª Guerra Mundial e responsáveis pela crise económica que se lhe se- Obcecados com o apuramento físico e mental da guiu, os judeus foram o alvo preferencial da bar- raça ariana, os nazis promoveram o eugenismo, bárie nazi. Numa 1.ª fase, os judeus foram segre- aplicando as leis da genética na reprodução hu- gados, boicotados e excluídos. Numa 2.ª fase mana. Uma autêntica “seleção” de Alemães (al- deu-se o seu encerramento em guetos. Mais tar- tos e robustos, louros e de olhos azuis) resultaria de, foram sujeitos a um extermínio deliberado. de casamentos entre membros das SS e jovens mulheres, todos eles portadores de “superiores” Este antissemitismo traduziu-se, logo em 1933, qualidades raciais. Era a depuração eugénica. na primeira vaga de perseguições aos Ju- Ao mesmo tempo que fomentava a natalidade deus: ordenou-se o boicote às lojas judaicas, in- entre os arianos, procedia-se à eliminação de terdita-se aos não arianos (aqueles que não tive- pessoas com deficiência, doentes incuráveis ssem os quatro avós alemães) do acesso à fun- e velhos incapacitados, remetidos para câma- ção pública e ao exercício de profissões liberais ras de gás, ao abrigo de um “programa de euta- [3000 médicos, 4000 advogados e 2000 artistas násia”. Afirmava-se, com crueldade, que nenhum ficaram desempregados], institui-se o numerus alemão podia envergonhar a excelência da sua clausus nas universidades. raça e muito menos consumir os dinheiros da O segundo movimento antijudaico iniciou-se solução final que resultou no genocídio 6 em 1935, com a adoção das Leis de Nurember- milhões de judeus, que foram deportados para ga para a “proteção do sangue e da honra ale- campos de extermínio, onde eram eliminados mães”: os alemães de origem judaica foram pri- em câmaras de gás. Foi o Shoah ou o Holo- vados da nacionalidade; casamento e relaciona- causto. mentos entre arianos e Judeus foram proibidos, punindo-se com severidade os infratores. Genocídio Política praticada por um governo visando a Antessemitismo eliminação em massa de grupos étnicos, reli- O mesmo que hostilidade aos Judeus. As per- giosos, económicos ou políticos. Embora a His- seguições aos Judeus, na Europa, relacionam- tória registe múltiplos genocídios, foram os re- -se com motivos religiosos e adensaram-se de- gimes totalitários que levaram ao extremo a pois de o cristianismo triunfar como religião ofi- prática do genocídio. cial do Império Romano (séc. IV), lembrando que os Judeus não reconheceram Cristo e pe- diram a Pilatos a sua morte. Invejados pelos Holocausto seus negócios e, em especial, pela prática da Genocídio ou assassínio em massa de cerca usura, os Judeus sofreram perseguições recor- de 6 milhões de judeus durante a Segunda rentes a partir da Idade Média, sendo-lhes im- Guerra Mundial, no maior genocídio do século putada a origem da Peste Negra. Na Península XX, através de um programa sistemático de Ibérica, os judeus convertidos (“cristãos-no- extermínio étnico perpetrado pelo partido nazi vos”) foram as grandes vítimas da Inquisição de Hitler e que decorre, sobretudo, em campos nos séculos XVI a XVIII. No século XIX, o an- de concentração e de extermínio nos territórios tissemitismo assumiu, em alguns países euro- ocupados pelos alemães. É também designado peus, o caráter de racismo, ao identificar o po- por Shoah (“destruição”, “catástrofe”). vo judeu como uma raça inferior e destruidora. Esta forma de antissemitismo atingiu o auge A Alemanha nazi não perpetrou o Holocausto so- em pleno século XX, na Alemanha nazi, origi- nando a morte de milhões de judeus. zinha, contando com o apoio de países aliados e de governos colaboracionistas. Mas houve tam- bém muitas pessoas que, sem motivações egoís- Em 1938, realizou-se a liquidação das empresas tas, salvaram vítimas do regime nazi, mesmo que judaicas e o confisco dos seus bens. Nesse ano, tal atitude pudesse comprometer a carreira profis- ficou tristemente célebre o Pogrom da Noite de sional, a liberdade ou até a própria vida. Cristal (9-10 de novembro), em que foram des- truídas sinagogas e lojas dos Judeus, tendo mui- 3.3.7. A autarcia como modelo económico tos deles perecido. O segregacionismo foi leva- do a pontos extremos. Os Judeus deixaram de A recuperação da economia preocupou os poder exercer qualquer profissão e de frequentar regimes de Itália e da Alemanha, que sofreram lugares públicos, passaram a ser identificados de uma forma constante a crise do pós-guerra e, pelo uso obrigatório e vexatório da estrela de Da- depois, os efeitos da Grande Depressão. vid e eram humilhados pelas autoridades nazis, Com efeito, tanto o partido fascista como o em público e até nas suas próprias casas. partido nazi se apresentaram às populações com Perseguidos nas ruas, aprisionados nas suas ca- promessas de recuperação económica e de sas e encurralados em guetos, os Judeus acaba- resolução do desemprego, propondo ambos uma ram deportados para campos de concentração. política intervencionista e nacionalista que Campos de trabalho foi a designação que a per- apostasse na autossuficiência. Ficou conhecida versidade nazi lhes atribuiu. Campos de morte foi como autarcia e traduzia a ideia de que um no que se tornaram pelas carências alimentares Estado deve bastar-se a si próprio. e de higiene, pelas doenças e pela brutalidade dos trabalhos forçados. A fase mais cruel do antissemitismo chegou Em Itália, o fascismo concebeu um modelo com a Segunda Guerra Mundial. Dominadores de peculiar de organização socioeconómica, o corporativismo, destinado a promover a grande parte da Europa, os nazis põem em práti- colaboração entre as classes. ca um plano de extermínio do povo judaico: foi a • Quatro momentos marcaram a implantação do Estado Corporativo: em 1926, a criação do Corporativismo Ministério das Corporações; em 1927, a publi- Forma de organização socioeconómica que de- cação da Carta del Lavoro, que instituiu um fende a constituição de corpos profissionais único sindicato nacional quer para patrões quer (corporações) de trabalhadores, patrões e ser- para empregados; em 1934, a criação de 22 viços, que conciliem os seus interesses de mo- corporações para cada um dos setores de pro- do a promoverem a ordem, a paz e a prosperi- dução; e, em 1939, a substituição da Câmara dade, ou seja, o bem-estar geral. dos Deputados pela Câmara dos Fascios e das Corporações. As corporações eram organismos profissionais Na Alemanha, Hitler chegou ao poder em que reuniam, por ramos de trabalho, patrões e 1933 com a promessa de relançar a economia empregados. Seriam as corporações a resolver e dar trabalho aos 6 milhões de desemprega- os conflitos laborais e a conciliar os interesses dos alemães. das duas partes, jamais recorrendo à greve ou Uma política de grandes trabalhos, em arro- ao lock-out, que foram proibidos. Desse modo, teamentos e na construção de autoestradas, procurava-se eliminar as paralisações de traba- aeródromos, pontes, linhas férreas, permitiu, lho, que acarretavam prejuízos económicos. As nos anos seguintes, reabsorver o desemprego. corporações funcionaram como arma de com- Entre 1936 e 1939, o Estado reforçou a autar- bate ao internacionalismo comunista e à luta cia e o dirigismo económico. Fixaram-se pre- de classes, já que eram apresentadas como ços. A Alemanha tornou-se autossuficiente em único meio de conseguir o equilíbrio social. O cereais e manteiga. Relevante no combate ao resultado foi a subordinação do trabalho ao desemprego, foi o relançamento da indústria capital: os trabalhadores não eram defendidos militar. O vasto programa de rearmamento e por verdadeiros representantes, mas por fun- remilitarização então lançado, sustentado pelo cionários do partido. grande capital, permitiu à indústria alemã che- Houve um maior controlo da economia por gar ao 2.º lugar mundial nos setores da siderur- parte do Estado, através do tabelamento de gia, eletricidade, química e aeronáutica. preços e salários, do enquadramento de todas as atividades laborais [corporações] e da plani- ficação económica. Exaltadas pela propaganda, realizaram-se grandes batalhas de produção: a “batalha da lira” procurava a estabilização da moeda; a “batalha do trigo”, iniciada em 1925, aumentou a produção de cereais e fez diminuir as eleva- das importações que agravavam o défice co- mercial; e, a “batalha da bonificação” conse- guiu a recuperação de terras e a criação de no- vas povoações nas zonas pantanosas a sul de Roma. O comércio foi alvo de um rigoroso enquadra- mento por parte do Estado, que subiu os direi -tos alfandegários e controlou o volume das im- portações e das exportações. A criação, em 1933, do Instituto para a Reconstrução Indus- trial permitiu aos Estado financiar as empresas em dificuldade e intervir fortemente no setor in- dustrial em pé de igualdade com os grandes grupos capitalistas. No entanto, o Estado corporativo, uma estrutu- ra extremamente burocratizada, não conseguiu tirar a economia italiana da estagnação. Em 1935, Mussolini procurou ofuscar estas debili- dades com a aventura colonial da conquista da Abissínia (atual Etiópia), que lhe permitiu a exploração de fontes de energia e minérios, e a criação de produtos da síntese química como a borracha artificial.