7.3.3. As Opções Totalitárias - Os Fascismos

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Módulo 7: Crises, embates ideológicos e mu-

autoritários. Profundamente ditatorial, totalitário


tações culturais na primeira metade do sécu-
e repressivo, o fascismo suprimiu as liberdades
lo XX
individuais e coletivas, defendeu a supremacia
do Estado, o culto do chefe, o nacionalismo, o
3. O agudizar das tensões políticas e so- corporativismo, o militarismo e o imperialismo.
ciais a partir dos anos 30

3.3. As opções totalitárias: os fascismos Benito Mussolini (1883-1945)


Filho de um ferreiro e de uma professora pri-
mária, nasceu em Predappio, no norte de Itália.
Membro do Partido Socialista na juventude,
acabou por ser expulso devido às suas posi-
ções belicistas durante a Primeira Guerra Mun-
dial. Aproximou-se da extrema-direita naciona-
lista e fundou, em 1919, os Fasci di Combatti-
mento, que estiveram na origem do Partido Na-
cional Fascista. Chefe de Governo, na sequên-
cia da Marcha sobre Roma, instaurou o totalita-
rismo fascista em 1925 e aliou-se à Alemanha
hitleriana na década de 30. Em julho de 1943,
perante a iminente derrota da Itália na Segun-
da Guerra Mundial, foi destituído e preso. Li-
bertado pelos alemães, em setembro de 1943,
ainda criou a República Social Italiana, com ca-
pital em Saló. Este governo-fantoche, controla-
do pelos alemães, cairia com a detenção e fu-
zilamento do Duce pela Resistência italiana,
em abril de 1945.

A Alemanha assistiu, em 1923, ao putsch de Hi-


tler em Munique, dirigido contra a República de
Weimar. O golpe fracassou, é certo, mas a se-
Nos anos 30, a depressão económica acentuou a mente do nazismo haveria de germinar dez anos
crise da democracia liberal. Uma vaga autoritária volvidos, originando a ditadura de direita mais trá-
e ditatorial submergiu a Europa, com o avanço e gica da História.
ascensão ao poder de forças conservadoras de
direita, contrárias à democracia parlamentar. Afir- Nazismo: regime político instaurado por Hitler
maram-se as soluções autoritárias de direita. na Alemanha, a partir de 1933. Além dos prin-
cípios ideológicos que partilhou com o Fascis-
Logo em 1922, a Itália deu o sinal, quando, em mo, distinguiu-se pelo racismo violento, funda-
outubro daquele ano, a Marcha sobre Roma dos mentado-o numa suposta superioridade da ra-
ça ariana,à qual pertenciam os alemães; ao
“camisas negras” (as milícias fascistas) pressio-
Estado nazi incumbiria não só a preservação
nou o rei Vítor Manuel III a nomear Mussolini da raça superior (expurgando-a dos elementos
chefe do Governo. Mercê de uma ditadura basea- impuros) mas também criar as condições para
da no partido e nas suas organizações, o fascis- a sua expansão territorial (doutrina do espaço
mo consolidou-se em Itália, servindo de modelo e vital; imperialismo).
inspiração a muitos outros países europeus.

Adolf Hitler (1889-1945)


Fascismo: regime político instaurado por Mus- Nasceu na cidade fronteiriça de Braunau am
solini em Itália, a partir de 1922. Por extensão, Inn, no Império Austro-Húngaro. Ainda jovem,
o termo fascista designa todos os regimes tota- e após a morte dos pais, alimentou o sonho de
litários de direita e até mesmo simples regimes ser artista, mas por duas vezes foi recusado na
Academia de Belas-Artes de Viena. Em 1913,
submeter-se aos interesses deste. A apologia do
mudou-se para Munique, combatendo pelo
exército alemão na Primeira Guerra Mundial. primado do Estado sobre o indivíduo leva o
Em 1920, fundou o Partido Nazi e, três anos fascismo a desvalorizar a democracia partidá-
mais tarde, tentou um golpe em Munique con- ria e o parlamentarismo, uma vez que este sis-
tra a República de Weimar. Preso durante es- tema governativo assenta no respeito pelas liber-
cassos meses, aproveitou para sistematizar as dades individuais que se fazem ouvir diretamente
suas ideias antidemocráticas e racistas no livro nas eleições e, através dos seus representantes,
Mein Kampf (A Minha Luta). Chanceler em
1933, cargo que, no ano seguinte, acumulou nos parlamentos. O exercício do poder legislativo
com o de presidente, liderou uma das ditaduras por assembleias é, assim, menosprezado pelo
mais violentas da História. Perante a inevitabili- fascismo, que rejeita a teoria liberal da divisão
dade da derrota alemã na Segunda Guerra dos poderes e faz depender a força do Estado
Mundial, suicidou-se no seu bunker em Berlim, no reforço do poder executivo.
no dia 30 de abril de 1945.

• Os fascistas rejeitavam a teoria da separação


3.3.1. Totalitarismo e nacionalismo
de poderes; menosprezam o poder legislativo;
achavam que a força do Estado residia no re-
O totalitarismo do Estado fascista exerceu-se a
forço do poder executivo.
vários níveis: político, económico, social, cultural.
• Consideravam o pluripartidarismo um fator
A oposição política, considerada um entrave à
de divisão, que punha em causa a coesão e a
boa governação, foi aniquilada. As atividades
força da nação.
económicas sofreram uma rigorosa regulamenta-
• Consideravam o parlamentarismo um siste-
ção. A população foi obrigada a enquadrar-se
ma débil, alheio aos interesses da nação e in-
nas várias organizações afetas ao regime. A li-
capaz da salvaguarda do interesse nacional.
berdade de pensamento e de expressão foi proi-
• Rejeitavam a liberdade.
bida. A única verdade passou a ser a do Estado.
Como sentenciou Mussolini, “tudo no Estado,
nada contra o Estado, nada fora do Estado”. Além do liberalismo e da democracia, também o
O autoritarismo do Estado era a primeira condi- socialismo, o comunismo e o projeto de ex-
ção da prosperidade da nação; face aos particu- pansão do internacionalismo revolucionário
larismos regionais, os fascistas contrapunham mereceram ao fascismo a total reprovação.
um poder centralizado; defendiam a supremacia Para a doutrina socialista, o indivíduo está inse-
do interesse coletivo sobre o individual; propu- rido numa classe social; com ela se identifica e
nham soluções políticas ditatoriais, e a constitui- por ela luta. Para o fascimo, a luta de classes é
ção de estados policiais em que a própria justiça inaceitável, porque divide a nação e enfraquece o
se submetia ao interesse do Estado. Estado, além de considerar que no socialismo
uma maioria indigente, nascida para obedecer,
acabava por se sobrepor à elite, nascida para go-
Totalitarismo: regime político em que não
vernar. Para os fascistas, a igualdade era uma
existe separação de poderes, estando a totali-
“pura ilusão” e o internacionalismo operário era
dade do poder concentrada numa só pessoa
absolutamente nefasto à ideia de coesão nacio-
ou no partido único. Entende o Estado como
nal.
um valor absoluto, à razão do qual se devem
subordinar todos os interesses individuais. Ca-
Os fascistas defendiam um nacionalismo fervo-
be ao Estado o controlo da vida social e indivi-
roso, exaltador das glórias pátrias e incompatível
dual.
com os apelos socialistas ao internacionalismo
operário. A ideia marxista de que o proletário não
Enquanto o liberalismo e a democracia se afir- devia lutar pela pátria mas pelo derrube do capi-
mam defensores profundos dos direitos do indiví- talismo só reforçava a hostilidade fascista, que
duo, o fascismo entende, pelo contrário, que aci- considerava a nação um valor sagrado.
ma do indivíduo está o interesse da coletivi- Apelavam à hegemonia do seu povo. Procuram
dade, a grandeza da Nação e a supremacia do os seus modelos no passado, nos tempos áureos
Estado. O indivíduo não tem existência por si só; de afirmação das naciona lidades. Esta caracte-
só existe enquadrado no Estado; deve por isso rística surge associada ao imperialismo. No ca-
so da Itália, procurava alcançar as grandezas do pelo que a obediência cega das massas era um
antigo Império Romano, o que favoreceu a ex- imperativo. Líderes de sociedades profundamen-
pansão territorial para África, nomeadamente te hierarquizadas e rígidas, Mussolini e Hitler,
para a Etiópia. No caso da Alemanha, o panger- souberam explorar o elevado respeito que as
manismo traduziu-se na ideia de criação de um massas nutriam pelas elites.
império alemão, medi- ante a expansão territorial, Para tal, procederam à inculcação dos ideais fas-
com vista a edificar uma “grande Alemanha” (ou cistas nos jovens, que desde cedo eram enqua-
“Terceiro Reich”). O imperialismo alemão visava drados e fanatizados em organizações de caráter
dominar outros povos, sobretudo na Europa Cen- militarista, com vista à formação de fiéis e sub-
tral e Oriental (eslavos) considerados inferiores, missos servidores do partido e do Estado.
para assim restabelecer o poderio da Alemanha,
de modo a concretizar a teoria do “espaço vital”.
• Na Itália, a partir dos 4 anos, as crianças in-
3.3.2. Elites e culto ao chefe gressavam nos Filhos da Loba e usavam já
uniforme; dos 8 aos 14 faziam parte dos Ba-
Ao contrário do demoliberalismo, que acredita na lillas; aos 14 eram Vanguardistas; e aos 18 en-
igualdade entre os homens e defende o respetivo travam nas Juventudes Fascistas.
acesso à governação (elegendo ou sendo elei- • Na Alemanha, a Juventude Alemã integrava
tos), o fascismo parte do princípio de que os ho- as crianças a partir dos 10 anos. A partir dos
14 anos e até aos 18, os jovens passavam a
mens não são iguais, sendo a desigualdade útil integrar a Juventude Hitleriana.
e fecunda. Desconfiava das escolhas feitas com • As raparigas também eram inseridas em or-
base no sufrágio universal, em que todos os vo- ganizações específicas, como a das Jovens
tos têm o mesmo valor. Defendia por isso que só Italianas e a Liga das Jovens Alemãs.
aos melhores, só à elite devia caber a governa- • Nestas organizações, os jovens italianos e
ção. Numa sociedade hierarquizada, as elites alemães aprendiam o culto ao Estado e ao
chefe, o gosto pelo desporto e pela guerra, o
mereciam o respeito das massas; no trabalho, no
desprezo pelos valores intelectuais e o amor
lar, nos espaços públicos, cabia-lhes veicular a pela Nação.
ideologia dominante e assegurar o cumprimento
da ordem. A educação fascista complementava-se na es-
cola, através de professores profundamente
Considerados homens providenciais, salvado- subservientes ao regime, ao qual prestavam ju-
res da pátria, os chefes (o Duce, na Itália fascis- ramento, e de manuais escolares impregnados
dos princípios fascistas, e concebidos como
ta, o Führer, na Alemanha nazi) foram promovi-
instrumentos de divulgação da ideologia totali-
dos à categoria de heróis. Simbolizavam o Esta- tária.
do totalitário, encarnaram a Nação e guiavam os • O objetivo era a formação de um homem no-
seus destinos. Deviam ser seguidos sem hesita- vo, viril, apto para o comando; com coragem,
ção. Acabaram por ser alvo de um culto que nal- espírito de disciplina, rigoroso no cumprimento
guns países raiava a idolatria. do dever; formado para acreditar, obedecer e
Além dos chefes, fazia parte da elite a raça domi- combater; sem espírito crítico; espécie de autó-
mato, capaz de executar sem discussão to-
nante (ariana, na Alemanha), os soldados e as das as ordens.
forças militarizadas, os filiados no partido, os ho-
mens de uma forma geral. Consideradas cidadãs
inferiores, às mulheres alemãs estava reservada A arregimentação de italianos e alemães prosse-
a vida no lar e a subordinação ao marido, restrin- guia na idade adulta, deles se esperando a total
gindo-se as suas ocupações aos 3 k’s: kinder, ku- adesão e a identificação com o fascismo.
che, kirche (crianças, cozinha, igreja); era enalte- Contava-se, para o efeito, com diversas organiza-
cida a mulher procriadora que se realizava cum- ções de enquadramento das massas.
prindo o dever natural e sagrado da maternidade. 1. Partido Único: Nacional Fascista na Itália e
Nacional-Socialista na Alemanha, cuja filiação se
3.3.3. Enquadramento das massas tornava indispensável para o desempenho de
funções públicas e militares, e de cargos de res-
Os fascistas eram avessos a quaisquer manifes- ponsabilidade.
tações de vontade individual ou espírito crítico,
2. A Frente de Trabalho Nacional-Socialista Colocou a rádio e o cinema ao serviço do Es-
[Alemanha] e as corporações italianas, que for- tado. Milhares de rádios foram instalados por
neciam aos trabalhadores condições favoráveis toda a Alemanha [nas ruas, escolas, fábricas].
na obtenção de emprego, em substituição dos Altifalantes reproduziam os discursos do
sindicatos livres, entretanto proibidos e desman- Führer. O cinema foi também utilizado para o
telados. culto de heróis nacionais e denúncia dos inimi-
gos do Reich: judeus e bolchevistas. Foi proibi-
3. A Dopolavoro, na Itália, e a Kraft durch Freude,
da toda a produção intelectual contrária à ideo-
na Alemanha, associações destinadas a ocupar logia do regime.
os tempos livres dos trabalhadores com ativida-
des recreativas que não os afastassem da ideo-
A censura foi um meio que serviu para reforçar
logia fascista.
os valores do regime e impedir qualquer forma de
dissidência.
Com o objetivo de controlar a mente e a vontade
das pessoas, os estados totalitários montaram
3.3.4. O culto da força e da violência
uma gigantesca máquina de propaganda, apoia-
da nas então modernas técnicas audiovisuais,
A violência está no âmago do Fascismo. Tanto os
com as quais promoviam o culto do chefe, enalte-
fascistas como os nazis repudiavam o legado hu-
ciam a grandeza nacional, publicitavam as reali-
manista da cultura ocidental. Defendiam o culto
zações do regime e submeteu a cultura a critérios
da força e da violência [traduzida no exercício
nacionalistas e até racistas.
físico, no treino militar e na intimidação dos opo-
Grandiosas manifestações de força, onde avul-
sitores], celebravam a ação, o instinto, a natureza
tavam as paradas militares, os uniformes e os
selvagem do homem. Mais do que as qualidades
estandartes, sempre alvo de uma cuidadosa en-
intelectuais, os fascistas queriam desenvolver as
cenação, que galvanizava as multidões e trans-
qualidades animais, instintivas do homem.
mitia uma imagem de ordem, disciplina e auto-
Belicistas, entendiam ser na guerra que os povos
ridade. Nessas ocasiões, as forças militares e
otimizam as suas qualidades. Consideravam a
paramilitares exibiam toda a sua capacidade, re-
paz como algo nocivo, porque domesticadora dos
correndo à exibição de material bélico e erigindo
instintos da natureza humana.
a bandeira do partido como símbolo nacional.
Consideravam que o nacionalismo deve ser altivo
e ambicioso, que as nações superiores devem
Propaganda: conjunto de meios destinados a subordinar as inferiores; e que isso devia impe-
influenciar a opinião pública. Nos Estados tota- lir à conquista. Prometiam a restauração da gran-
litários, a propaganda procura inculcar nas
deza nacional com a expansão imperialista.
massas a sua ideologia e os seus valores cul-
turais e morais. Entre os meios utilizados, ci- De forma a garantir o controlo absoluto da socie-
tam-se os discursos, a imprensa, panfletos, dade, o fascismo lançou mão da repressão poli-
cartazes, a rádio, o cinema, a televisão, mar- cial constituindo um aparelho repressivo: milícias
chas, canções, uniformes, emblemas, manifes- armadas e polícia política.
tações.

• Na Itália, já antes de 1922, as forças


paramilitares dos Fasci di Combattimento ou
• Na Itália, o Ministério da Imprensa e Propa- esquadristas semeiam o pânico com as suas
ganda controlava a rádio, as publicações e, expedições punitivas, incendiando e pilhando
nos anos 30, o cinema, do qual se servia para os sindicatos e as sedes dos partidos de
produzir documentários laudatórios das realiza- esquerda, cujos dirigentes abatiam ou
ções do regime. espancavam. Em 1923 são reconhecidos como
milícia armada do PNF, com o nome de Milícia
• Na Alemanha, o Ministério da Cultura e Pro- Voluntária para a Segurança Nacional.
paganda exerceu uma autêntica ditadura inte- Cabia-lhes vigiar, denunciar e reprimir atos
lectual: suprimiu jornais, organizou “autos de conspiratórios. Com as mesmas funções foi
fé” onde se queimaram obras de autores proibi- criada, em 1925, a polícia política: a OVRA
dos (Voltaire, Marx, Freud, Einstein), perseguiu (Organização de Vigilância e Repressão do
intelectuais judeus e obrigou os artistas a pres- Antifascismo).
tarem juramento na defesa das ideias nazis.
• A mesma intenção repressiva esteve Nação sem nada lhe dar em troca. Também os
presente no regime nazi. Em 1921 e 23, o homossexuais foram considerados “social-
Partido Nazi criou as Secções de Assalto (SA) mente aberrantes”, encerrando-se os seus lo-
e as Secções de Segurança (SS), milícias com cais de encontro e as instituições que pugnaram
caráter paramilitar, temidas pela sua pelos seus direitos.
brutalidade, em que o espancamento era o
procedimento habitual. Com a vitória do
Nazismo, 1933, o estado policial alemão Eugenismo
atingiu um nível impressionante. As milícias Teoria que defende a aplicação de métodos
armadas e a polícia política, a Gestapo, que visam melhorar o património genético dos
exerceram um apertado controlo sobre a grupos humanos, limitando a reprodução e até
população, envolvendo a todos numa eliminando os indivíduos portadores de carac-
atmosfera de suspeita e incentivando a teres considerados desfavoráveis. Na Alema-
vigilância mútua e a denúncia generalizada. A nha nazi, onde dezenas de milhares de doen-
criação, em 1933, dos primeiros campos de tes mentais foram mortos nas câmaras de gás,
concentração completou o dispositivo o eugenismo, combinado com a doutrina racis-
repressivo do nazismo. Administrados pelas ta, foi levado ao extremo no extermínio dos Ju-
SS e pela Gestapo, neles se encerraram os deus e de povos julgados “inferiores”.
opositores políticos.
Povo de heróis, aos alemães estava destinado o
3.3.5. O controlo racial e social domínio do mundo, se necessário à custa da sub-
missão e/ou eliminação dos povos inferiores. En-
O desrespeito pelos direitos humanos atinge aqui tre estes, estavam os Judeus e os Roma e os
o seu ponto máximo. Fazendo uma interpretação Sinti (“ciganos”), as também os Eslavos, cujos
incorreta do evolucionismo de Darwin (que condi- territórios da Europa Central e Oriental fornece-
cionava a evolução das espécies à seleção natu- riam aos Alemães o tão necessário espaço vital
ral). Hitler concebia a história como uma luta pela (Lebensraum); Ein Reich, ein Volk, ein Führer
sobrevivência. Acreditava que a raça ariana era (Um império, um povo, um chefe) era o seu slo-
a raça superior e tinha nos alemães os seus gan.
mais puros descendentes. Defendia que determi-
nadas raças nasciam para comandar, e outras 3.3.6. A violência racista
para obedecer, sendo dever das superiores impo-
rem-se às inferiores, eliminando-as se necessá- Considerados pelos nazis como um povo destrui-
rio. Defendia a pureza da raça, prometendo elimi- dor de cultura, um parasita que vivia no seio do
nar todos os fatores de degeneração. Sem qual- povo alemão, corrompendo-o e arruinando-lhe as
quer base científica, estas ideias tiveram grande suas virtudes rácicas; considerados culpados pe-
aceitação. la derrota da Alemanha na 1.ª Guerra Mundial e
responsáveis pela crise económica que se lhe se-
Obcecados com o apuramento físico e mental da guiu, os judeus foram o alvo preferencial da bar-
raça ariana, os nazis promoveram o eugenismo, bárie nazi. Numa 1.ª fase, os judeus foram segre-
aplicando as leis da genética na reprodução hu- gados, boicotados e excluídos. Numa 2.ª fase
mana. Uma autêntica “seleção” de Alemães (al- deu-se o seu encerramento em guetos. Mais tar-
tos e robustos, louros e de olhos azuis) resultaria de, foram sujeitos a um extermínio deliberado.
de casamentos entre membros das SS e jovens
mulheres, todos eles portadores de “superiores” Este antissemitismo traduziu-se, logo em 1933,
qualidades raciais. Era a depuração eugénica. na primeira vaga de perseguições aos Ju-
Ao mesmo tempo que fomentava a natalidade deus: ordenou-se o boicote às lojas judaicas, in-
entre os arianos, procedia-se à eliminação de terdita-se aos não arianos (aqueles que não tive-
pessoas com deficiência, doentes incuráveis ssem os quatro avós alemães) do acesso à fun-
e velhos incapacitados, remetidos para câma- ção pública e ao exercício de profissões liberais
ras de gás, ao abrigo de um “programa de euta- [3000 médicos, 4000 advogados e 2000 artistas
násia”. Afirmava-se, com crueldade, que nenhum ficaram desempregados], institui-se o numerus
alemão podia envergonhar a excelência da sua clausus nas universidades.
raça e muito menos consumir os dinheiros da
O segundo movimento antijudaico iniciou-se solução final que resultou no genocídio 6
em 1935, com a adoção das Leis de Nurember- milhões de judeus, que foram deportados para
ga para a “proteção do sangue e da honra ale- campos de extermínio, onde eram eliminados
mães”: os alemães de origem judaica foram pri- em câmaras de gás. Foi o Shoah ou o Holo-
vados da nacionalidade; casamento e relaciona- causto.
mentos entre arianos e Judeus foram proibidos,
punindo-se com severidade os infratores.
Genocídio
Política praticada por um governo visando a
Antessemitismo eliminação em massa de grupos étnicos, reli-
O mesmo que hostilidade aos Judeus. As per- giosos, económicos ou políticos. Embora a His-
seguições aos Judeus, na Europa, relacionam- tória registe múltiplos genocídios, foram os re-
-se com motivos religiosos e adensaram-se de- gimes totalitários que levaram ao extremo a
pois de o cristianismo triunfar como religião ofi- prática do genocídio.
cial do Império Romano (séc. IV), lembrando
que os Judeus não reconheceram Cristo e pe-
diram a Pilatos a sua morte. Invejados pelos Holocausto
seus negócios e, em especial, pela prática da Genocídio ou assassínio em massa de cerca
usura, os Judeus sofreram perseguições recor- de 6 milhões de judeus durante a Segunda
rentes a partir da Idade Média, sendo-lhes im- Guerra Mundial, no maior genocídio do século
putada a origem da Peste Negra. Na Península XX, através de um programa sistemático de
Ibérica, os judeus convertidos (“cristãos-no- extermínio étnico perpetrado pelo partido nazi
vos”) foram as grandes vítimas da Inquisição de Hitler e que decorre, sobretudo, em campos
nos séculos XVI a XVIII. No século XIX, o an- de concentração e de extermínio nos territórios
tissemitismo assumiu, em alguns países euro- ocupados pelos alemães. É também designado
peus, o caráter de racismo, ao identificar o po- por Shoah (“destruição”, “catástrofe”).
vo judeu como uma raça inferior e destruidora.
Esta forma de antissemitismo atingiu o auge A Alemanha nazi não perpetrou o Holocausto so-
em pleno século XX, na Alemanha nazi, origi-
nando a morte de milhões de judeus. zinha, contando com o apoio de países aliados e
de governos colaboracionistas. Mas houve tam-
bém muitas pessoas que, sem motivações egoís-
Em 1938, realizou-se a liquidação das empresas tas, salvaram vítimas do regime nazi, mesmo que
judaicas e o confisco dos seus bens. Nesse ano, tal atitude pudesse comprometer a carreira profis-
ficou tristemente célebre o Pogrom da Noite de sional, a liberdade ou até a própria vida.
Cristal (9-10 de novembro), em que foram des-
truídas sinagogas e lojas dos Judeus, tendo mui- 3.3.7. A autarcia como modelo económico
tos deles perecido. O segregacionismo foi leva-
do a pontos extremos. Os Judeus deixaram de A recuperação da economia preocupou os
poder exercer qualquer profissão e de frequentar regimes de Itália e da Alemanha, que sofreram
lugares públicos, passaram a ser identificados de uma forma constante a crise do pós-guerra e,
pelo uso obrigatório e vexatório da estrela de Da- depois, os efeitos da Grande Depressão.
vid e eram humilhados pelas autoridades nazis, Com efeito, tanto o partido fascista como o
em público e até nas suas próprias casas. partido nazi se apresentaram às populações com
Perseguidos nas ruas, aprisionados nas suas ca- promessas de recuperação económica e de
sas e encurralados em guetos, os Judeus acaba- resolução do desemprego, propondo ambos uma
ram deportados para campos de concentração. política intervencionista e nacionalista que
Campos de trabalho foi a designação que a per- apostasse na autossuficiência. Ficou conhecida
versidade nazi lhes atribuiu. Campos de morte foi como autarcia e traduzia a ideia de que um
no que se tornaram pelas carências alimentares Estado deve bastar-se a si próprio.
e de higiene, pelas doenças e pela brutalidade
dos trabalhos forçados.
A fase mais cruel do antissemitismo chegou Em Itália, o fascismo concebeu um modelo
com a Segunda Guerra Mundial. Dominadores de peculiar de organização socioeconómica, o
corporativismo, destinado a promover a
grande parte da Europa, os nazis põem em práti- colaboração entre as classes.
ca um plano de extermínio do povo judaico: foi a • Quatro momentos marcaram a implantação
do Estado Corporativo: em 1926, a criação do Corporativismo
Ministério das Corporações; em 1927, a publi- Forma de organização socioeconómica que de-
cação da Carta del Lavoro, que instituiu um fende a constituição de corpos profissionais
único sindicato nacional quer para patrões quer (corporações) de trabalhadores, patrões e ser-
para empregados; em 1934, a criação de 22 viços, que conciliem os seus interesses de mo-
corporações para cada um dos setores de pro- do a promoverem a ordem, a paz e a prosperi-
dução; e, em 1939, a substituição da Câmara dade, ou seja, o bem-estar geral.
dos Deputados pela Câmara dos Fascios e das
Corporações.
As corporações eram organismos profissionais Na Alemanha, Hitler chegou ao poder em
que reuniam, por ramos de trabalho, patrões e 1933 com a promessa de relançar a economia
empregados. Seriam as corporações a resolver e dar trabalho aos 6 milhões de desemprega-
os conflitos laborais e a conciliar os interesses dos alemães.
das duas partes, jamais recorrendo à greve ou Uma política de grandes trabalhos, em arro-
ao lock-out, que foram proibidos. Desse modo, teamentos e na construção de autoestradas,
procurava-se eliminar as paralisações de traba- aeródromos, pontes, linhas férreas, permitiu,
lho, que acarretavam prejuízos económicos. As nos anos seguintes, reabsorver o desemprego.
corporações funcionaram como arma de com- Entre 1936 e 1939, o Estado reforçou a autar-
bate ao internacionalismo comunista e à luta cia e o dirigismo económico. Fixaram-se pre-
de classes, já que eram apresentadas como ços. A Alemanha tornou-se autossuficiente em
único meio de conseguir o equilíbrio social. O cereais e manteiga. Relevante no combate ao
resultado foi a subordinação do trabalho ao desemprego, foi o relançamento da indústria
capital: os trabalhadores não eram defendidos militar. O vasto programa de rearmamento e
por verdadeiros representantes, mas por fun- remilitarização então lançado, sustentado pelo
cionários do partido. grande capital, permitiu à indústria alemã che-
Houve um maior controlo da economia por gar ao 2.º lugar mundial nos setores da siderur-
parte do Estado, através do tabelamento de gia, eletricidade, química e aeronáutica.
preços e salários, do enquadramento de todas
as atividades laborais [corporações] e da plani-
ficação económica.
Exaltadas pela propaganda, realizaram-se
grandes batalhas de produção: a “batalha da
lira” procurava a estabilização da moeda; a
“batalha do trigo”, iniciada em 1925, aumentou
a produção de cereais e fez diminuir as eleva-
das importações que agravavam o défice co-
mercial; e, a “batalha da bonificação” conse-
guiu a recuperação de terras e a criação de no-
vas povoações nas zonas pantanosas a sul de
Roma.
O comércio foi alvo de um rigoroso enquadra-
mento por parte do Estado, que subiu os direi
-tos alfandegários e controlou o volume das im-
portações e das exportações. A criação, em
1933, do Instituto para a Reconstrução Indus-
trial permitiu aos Estado financiar as empresas
em dificuldade e intervir fortemente no setor in-
dustrial em pé de igualdade com os grandes
grupos capitalistas.
No entanto, o Estado corporativo, uma estrutu-
ra extremamente burocratizada, não conseguiu
tirar a economia italiana da estagnação. Em
1935, Mussolini procurou ofuscar estas debili-
dades com a aventura colonial da conquista
da Abissínia (atual Etiópia), que lhe permitiu
a exploração de fontes de energia e minérios, e
a criação de produtos da síntese química como
a borracha artificial.

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