Cap Ii - A Pedagogia e A Educação, Relações e Análises Histó

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica.

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CAPÍTULO # II: A PEDAGOGIA E A EDUCAÇÃO, RELAÇÕES E ANÁLISE


HISTÓRICA
2.1. HISTORIAL DO DESENVOLVIMENTO DA PEDAGOGIA

O surgimento e desenvolvimento das ciências respondem as necessidades da


sociedade. A pedagogia como ciência surge depois de um largo processo de

desenvolvimento, passando de experiências quotidianas, de opiniões isoladas acerca


da educação, a acabados sistemas pedagógicos. O conteúdo da Pedagogia foi-se

transformando na medida em que se foi desenvolvendo a sociedade, sua economia,


sua cultura e sua ideologia; assim como pelo progresso da prática pedagógica.

São relevantes as concepções defendidas pelo pedagogo checo Juan Amos


Coménius (1592 – 1670), apresentadas numa das suas primeiras obras de teoria

pedagógica intitulada “Didáctica Magna”. Seguiu-se, nos séculos XVIII e XIX outros
grandes aportem à teoria pedagógica por destacados filósofos e pedagogos tais

como Jean J. Rousseau (1712 – 1778, França), J. R. Pestalozzi (1746 – 1827, Suiça),

Adolf Diesterweg (1790 – 1866, Alemanha) e k. D. Ushinski (1824 – 1870, Rússia).


Os clássicos do marxismo – leninismo deram um notável impulso ao

desenvolvimento da Pedagogia elaborando os fundamentos teóricos filosóficos que


tornaram possível o desenvolvimento de uma teoria científica que a sustentasse,

dando assim a possibilidade de resolver os problemas pedagógicos que se


apresentam.

A Pedagogia foi-se perfilando num largo e confuso processo histórico, até que
alcançou seu estatuto pleno de ciências da educação. A obra de Juan A. Coménius no

século XVII, representou um ponto de partida muito significativo no caminho da


construção da ciência. Depois, seguiu-se, entre outros, os aportes de Jean J. Rousseau

(séc. VIII), J. E. Pestalozzi e Herbart (séc. XIX), e de tantos outros, até consolidar-se
uma ciência complexa, com infinitas potencialidades para o seu desenvolvimento.
Os conceitos contemporâneos de Pedagogia, variam de acordo as concepções
filosóficas que, explícita ou implicitamente, lhe servem de fundamento.

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A Pedagogia no seu conjunto, teve um desenvolvimento histórico cumprindo as


tarefas que se formularam à escola em determinadas etapas do desenvolvimento da

sociedade. Para analisar mais profundamente a Pedagogia, é indispensável, se bem


que de forma breve, examinar as etapas fundamentais do seu desenvolvimento

histórico, através do contributo que vários filósofos e pedagogos, exprimiram em


cada época, o que hoje denomina-se de concepções ou teorias pedagógicas.

2.2. POSICIONAMENTO DE TEÓRICOS SOBRE A PEDAGOGIA


Aqui, far-se-á uma abordagem sobre a contribuição dos mais notáveis pensadores,

de forma individual, para o surgimento e desenvolvimento da Pedagogia como


ciência, através de seus pontos de vista sobre o processo de educação do homem,

objecto de estudo da Pedagogia, ao longo dos tempos.


 Sócrates (469 - 399 Atenas, a.c.) – Seu maior prazer consistia em

conversar e discutir com os amigos e discípulos. Morreu como viveu, pobre. Suas
últimas palavras se referem precisamente sobre a educação de seus filhos,

recomendando aos amigos que os fustigassem como ele fazia com eles, se

preocupassem com a riqueza ou com algo mais que a virtude, ou se pretendessem


ser algo quando realmente nada fossem.

A importância de Sócrates no contexto geral da educação resulta, em primeiro lugar,


do facto de se ter oposto frontalmente aos filósofos da época, os Sofistas, que são na

verdade os primeiros professores, os primeiros educadores profissionais conscientes


da história que apareceram na terra, na segunda metade do século V a.c.

Os Sofistas entendiam ser objectivo principal da educação fazer bons oradores de


modo a que estes falassem bem e fizessem boa figura nas assembleias.

Sócrates, pelo contrário, entendia que o objectivo da educação deveria ser a virtude
e, que não nos deveríamos limitar ao seu conhecimento, mais também “deixarmo-

nos possuir por ela”. Segundo ele, “a virtude não era ensinável de fora para dentro”,
pois “os seres humanos, embrionariamente, a trazem consigo” sendo apenas

necessária uma “oportuna acção educativa”, para que ela desperte o indivíduo. O
educador ajuda apenas a nascer o saber, o mesmo que utilizar a maiêutica

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(procedimento que leva o interlocutor a redescobrir a verdade que possui em si sem


o saber; dar a luz à verdade) ou seja a arte de parteira, o que significa que o professor

não deveria preocupar-se em transmitir os conhecimentos aos alunos, ma sim em


facilitar-lhes a descoberta do que há a aprender.

Para fazer “nascer ideias” nos espíritos de seus discípulos, Sócrates estabelecia
diálogo com eles, pondo-lhes questões muito simples, que facilmente resolviam.

Passava destas há outras um pouco mais complexas e, assim, sucessivamente, até os


discípulos chegarem, por eles próprios, a conclusões incontestáveis.

Essa forma de questionar, passou a ser conhecida por “interrogação socrática”. A essa
maneira de conduzir o aluno a tirar as suas próprias conclusões, dá-se o nome de

“método socrático” que, ainda hoje, é muito recomendado pela Pedagogia.


Sócrates, utilizava mais os exemplos do que as palavras e, nas lições, ouvia mais do

que dizia, remetendo-se a um papel discreto, mas importante:


- Guiava a inteligência dos alunos através da indagação, da crítica e da

comprovação.

- Levava-os a chegarem, pelos seus próprios meios, à verdade que


procuravam conhecer.

Quando lhe deram a conhecer que ora considerado o maior sábio da Grécia, apenas
comentou: “Só sei que nada sei”. Modesto, como todo o homem de real valor,

adoptava para si, como divisa, e recomendava aos outros: “Conhece-te a ti próprio”.
 Platão (427 - 347 Atenas, a.c.) – Foi discípulo de Sócrates, que o

induziu ao estudo da Filosofia. Aos 40 anos funda a célebre academia, num terreno
que comprou em Atenas próximo de um ginásio. Ali concentrou sua actividade

pedagógica durante muitos anos. As suas principais obras foram “ A República” e “ As


leis”.

Diferentemente de Sócrates, Platão organizou o ensino e investigações sistemáticas,


pois tal era a finalidade da academia que constituiria em forma de comunidade de

alunos e mestres e, na qual se realizavam estudos superiores de carácter filosófico e

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político. Dela participaram os mais notáveis homens da época, entre eles Aristóteles
que ali passou vinte anos entregue ao estudo.

Platão considerava que a educação estava ao serviço do estado, mas este, por sua
vez, estava ao serviço da educação. Para Platão, não havia educação sem estado, nem

estado sem educação. O fim da educação e, como era para Sócrates a formação do
homem moral e o meio é a educação do estado na medida em que esse representa a

ideia da justiça.
Platão considerava a ginástica e a música instrumentos essenciais mas com papel

mais amplo. Na ginástica inclui não só o exercício físico e a higiene mais também a
formação do carácter, o culto do valor; enquanto a música compreende as letras.

Platão define a educação como dizer ”que deve proporcionar ao corpo e a alma toda
perfeição e beleza de que são susceptíveis”.

Para ele, na primeira infância predomina os jogos educativos praticados pelas


crianças de ambos os sexos. A educação propriamente dita começa aos 7 anos com a

ginástica e a música, atribuindo também grande importância as narrações e contos.

Essa educação contínua até aos 18 anos, quando começa a preparação cívica -
militar. Os jovens mais capazes, continuam depois dos 20 anos, já com carácter

superior e baseada na matemática e na filosofia. Platão mantinha a educação igual


para homens e para mulheres, inclusive a ginástica. Pedia já a criação de um

comissário de educação, encarregado de dirigi-la e inspeccioná-la, bem como a


criação de professores especiais.

Como Sócrates, Platão emprega o diálogo como forma de educação e não se pode
diferenciar as modalidades de um e outro, já que Platão foi quem as expôs em

vvvvcfyxxsuas obras sem estabelecer distinções.


A ideia essencial da Pedagogia de Platão, pode-se resumi-la como “a formação do

homem moralmente dentro de um estado justo”.


O desenvolvimento das ciências e o incremento da produção e do comércio,

proporcionaram um desenvolvimento ininterrupto do ensino, como esfera especial


da actividade humana no mundo antigo e nos séculos da idade média e,

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gradualmente, permitiram que se criassem as condições para o surgimento da teoria


do ensino.

Isto ocorreu no séc. VII, quando


 Juan Amos Coménius (1592 - 1670 Checoslováquia) criou o seu

trabalho capital “Didáctica magna”ou “Tratado da arte universal de ensinar tudo a


todos” (1657). A obra revela a importância deste Pedagogo que reside em ter sido o

primeiro a proclamar a tarefa de “ensinar tudo a todos”e oferecer uma exposição


detalhada e consecutiva dos princípios e regras no ensino das crianças.

João Amós Coménios (Coménius é a forma latina do nome checo que significa
“habitante de Komna”, de onde é originária a sua família. Coménius nasceu em

Ubersky na Morávia, em 28 de Março de 1592. Após fecundada existência, faleceu em


15 de Novembro de 1670, sendo sepultado na igreja de Naardem, perto de

Amesterdão.), na sua obra Didáctica magna, qualifica a Didáctica como “arte de


instruir”. A didáctica de Coménios foi estruturada baseando-se na ideia da educação

em contacto com a natureza (o homem é parte da natureza e, por conseguinte, se

subordina as suas leis universais). Partindo deste critério, Coménius procurou revelar
as regularidades que se manifestam no processo de educação e ensino do homem.

A tarefa principal da Didáctica, segundo Coménius, consistia em descobrir a ordem


natural das coisas no ensino, o qual sempre conduz ao êxito. O objecto desta ciência

é o estudo das capacidades dos alunos para o conhecimento e para a busca dos
métodos de ensino que correspondem às capacidades de conhecimentos que os

alunos devem dominar.


Coménius, desde posições sensualistas, descobriu o carácter de processo do ensino.

Confirmou que a assimilação dos conhecimentos não se processa instantaneamente,


num só acto, de modo similar ao reflexo num espelho. O ensino é um processo no

qual o papel decisivo é desempenhado pela percepção sensível das coisas. A fonte de
todos os conhecimentos do homem é as sensações. Naturalmente, expressou

Coménius, que é necessário ensinar de tal maneira, que as crianças, quando for

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possível, adquiram os conhecimentos não só dos livros e juízos verbais, senão da


observação das coisas que a rodeiam.

A importância de Coménius na história da Pedagogia consiste, sobretudo em ter


revelado as fases do ensino: a objectiva (leis do ensino) e a subjectiva (aplicação

hábil dessas leis); Ele deu início a teoria do ensino e da arte de ensinar (Didáctica).
Coménius apresentou algumas regras didácticas para ensinar e aprender com

facilidade, entre as quais se destacam:


 Começar cedo, antes da corrupção das inteligências: a formação do homem

deve começar na primavera da vida, isto é, na puerícia (na verdade a puerícia


assemelha-se à Primavera; a juventude ao Verão; a idade viril ao Outono; a velhice ao

Inverno); As horas da manhã são mais favoráveis aos estudos (porque, também aqui,
a manhã corresponde à Primavera; o meio dia ao Verão; a tarde ao Outono e a noite

ao Inverno).
 Proceder das coisas gerais para as coisas particulares.

 Dar exemplos antes de ensinar as regras.

 Ensinar das coisas mais fáceis para as mais difíceis.


 Não sobrecarregar os alunos com trabalhos escolares.

 Tudo deve-se proceder lentamente.


 Ensinar todas as coisas, colocando-as imediatamente sob os sentidos e,

fazendo ver a sua utilidade imediata.


 Que tudo o que se deve aprender deve dispor-se segundo a idade, de modo a

não dar a aprender senão as coisas que os alunos sejam capazes de entender.
 Jean Jacques Rousseau (1712 - 1778 Suíça), criticou o ensino escolar

do seu tempo (livresco, divorciado da vida) e desenvolveu uma concepção do ensino


baseado nas necessidades do educando e nas suas exigências imediatas, tendo

destacado o papel do conhecimento sensorial. Rousseau, tal como Coménius,


considerava que na educação da criança se deveria ter em conta as características

próprias da idade e a estruturou tendo como centro a natureza infantil.

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Segundo Rousseau, o ensino verdadeiro procede da própria vida da criança e os seus


resultados têm uma aplicação directa. Os verdadeiros mestres são a experiência e os

sentimentos. Especial importância para o desenvolvimento da Pedagogia, tiveram


suas ideias acerca do vínculo do ensino com a vida da criança, acerca do estudo da

natureza das crianças e do desenvolvimento de suas forças criadoras, acerca da


preparação para o trabalho como condição prévia natural de cada ser humano.

Rousseau estabeleceu uma periodização por idades e determinou em cada uma delas
o conteúdo de ensino, na qual se encontrava a educação física, moral, intelectual,

laboral e sexual.
A limitação de Rousseau consistiu nas suas conclusões, extremamente unilaterais,

formulando que a própria criança determina a linha do seu estudo e


desenvolvimento. Na base das suas ideias sobre o ensino, colocou o interesse dos

alunos, os quais sobrevalorizou de tal forma que a educação e a função dirigente do


professor deviam submeter-se por completo ao que a criança quisesse aprender e

fazer.

As ideias de Rousseau tiveram posterior desenvolvimento e aplicação prática nos


trabalhos do pedagogo suíço Pestalozzi.

 Pestalozzi (1746 - 1827 Suíça), considerava o ensino como um meio


ou instrumento importante de educação, concedendo, para tal, grande importância à

psicologia infantil, tendo sublinhado a importância do método intuitivo


(conhecimento claro e imediato) como meio fundamental para o desenvolvimento

das capacidades dos alunos de acordo com a sua natureza.


A sua Didáctica esteve indissoluvelmente ligada com a Psicologia. O mérito

fundamental de Pestalozzi consiste em ter mostrado a necessidade do estudo da


psique da criança com fins didácticos.

O objectivo do ensino, para ele, radica no desenvolvimento das qualidades humanas


(no desenvolvimento harmonioso de todas forças e capacidades do homem), a

criação do amor ao trabalho. Para ele, o trabalho é um importante meio para educar
e desenvolver o homem, não só desde o ponto de vista físico como também

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intelectual e moral. A pessoa que trabalha toma consciência da grande importância


do trabalho na vida de uma sociedade e do seu carácter de força fundamental que

relaciona as pessoas numa sólida unidade social.


Pestalozzi afirmava que o ensino e a educação deveriam ser património de todas as

pessoas.
Por tudo o que foi apresentado anteriormente, vimos que nas teorias de J. A.

Coménius, J.J. Rousseau e. E Pestalozzi sobre o ensino, sobressai como ideia


fundamental, a criação de uma Didáctica baseada no respeito dos alunos, na atenção

aos interesses cognoscitivos destes, na necessidade de atender as particularidades


das idades e no realce ao método intuitivo.

As ideias sobre o ensino continuaram a ser desenvolvidas na teoria dos pedagogos


alemães Juan Frederico Herbat e Adolfo Diesterweg, assim como pelos pedagogos

russos N. Chernishevski, Dobrouliuvov e K. Ushinski.


 Juan Frederico Herbart (1776 - 1841 Alemanha), tratou de estruturar

um sistema de ensino sobre uma base psicológica idealista. Pensou que a psicologia

era simplesmente a ciência das representações. Portanto, ele explicava todo o


fenómeno psíquico através de um sistema de associação de representações. Este

sistema de relação entre as representações, recomendava Herbart, que o professor


devia tê-lo em conta no ensino, de ta modo que o aluno adquirisse novas

representações apoiadas nas experiências anteriores. Fundamentado nisto, elaborou


os chamados passos formais, que exerceram grande influência na Pedagogia mundial.

Herbart, opinava que o ensino estruturado sobre esta base devia partir de um
primeiro passo denominado clareza – onde o professor apresenta o novo conteúdo.

O segundo passo consistia em fazer com que o novo conteúdo se relacionasse com a
experiência anterior, mediante a explicação por parte do professor. Este passo foi

denominado de associação. O terceiro passo, sistema – consistia no


estabelecimento de conclusões por parte dos alunos. O quarto e último passo, o

modo – consistia na aplicação dos conhecimentos adquiridos.

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Herbart considerava o cumprimento destes passos, obrigatório e, deviam obedecer


sempre a mesma sequência independentemente dos objectivos do ensino, do

conteúdo e das particularidades da idade dos alunos, daí a sua denominação passos
formais.

 Adolf Diesterweg (1790 - 1866 Alemanha), pedagogo alemão,


sublinhou a importância do desenvolvimento independente dos alunos: isto levou-

lhe a expor ideias sobre o ensino para o desenvolvimento que fundamentou em


trinta e três regras didácticas, entre as quais ocuparam um lugar de destaque, as que

formulavam que o ensino devia partir dos exemplos às regras, do imediato ao


mediato, do simples ao complexo.

 K. D. Ushinski (1824 - 1870 Rússia), entendia o ensino como


“processo de transmissão de conhecimentos e habilidades, por parte do professor, e

a assimilação desses conhecimentos e habilidades por parte dos alunos que vai do
desconhecimento ao conhecimento”. Nesta definição encontramos os atributos

fundamentais do conceito contemporâneo de ensino: o professor como condutor do

processo, e os alunos da sua actividade de aprendizagem.


Ushinski considerava que o ensino devia não só apetrechar os alunos de

conhecimentos, como também desenvolver as suas capacidades. Isto, na sua época,


representou um grande passo e avanço, pois naqueles momentos os critérios

multiplicavam-se na elevação dos conhecimentos e capacidades.


 Anton Semionivitch Makarenko (1888 -1939 Rússia) – Desde a

juventude, a sua vida foi consagrada ao trabalho pedagógico. Frequentou o instituto


superior pedagógico de Poltava, tendo terminado em 1917 com a menção de muito

bom.
Em 1920, Makarenko organizou na Ucrânia uma colónia de crianças abandonadas e

de jovens delinquentes para serem educados. Em 1937, sintetizou a sua experiência


pedagógica e publicou o primeiro tomo do “livro dos pais”, uma literatura muito

expressiva dedicada à educação familiar.

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Makarenko era inimigo da “Pedagogia mole”. O seu princípio fundamental é que para
educar, é necessário exigir muito, tanto por pare do educador como do educando, o

que implica uma forte disciplina e uma intensa actividade não isenta de esforços. Por
isso, consideraram-no mais adaptado para dirigir uma colónia e reeducação para

rapazes transviados e pequenos vagabundos do que para orientar novas experiências


para crianças normais e, foi-lhe então confiada, aquela a que ele, mais tarde, veio a

chamar “colónia de trabalho Gorki”, em Poltava. Para Makarenko, os rapazes “maus”


ou transviados, com excepção de poucos casos patológicos, são assim apenas devido

as infelizes condições sociais. É preciso dar-lhes de novo condições adequadas,


integrando-os numa experiência social verdadeira e vinculativa até que cheguem a

apreciar os valores da sociedade e se produza a sua regeneração interior.


De entre as principais obras por ele publicadas, destacam-se “O livro dos pais”,

“Poema pedagógico” e “Bandeira nas torres”.


2.3. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS CONTEMPORÂNEAS

As tendências pedagógicas originam-se de movimentos sociais e filosóficos, num

dado momento histórico, que acabem por propiciar a união das práticas didáctico -
pedagógicas, com os desejos e aspirações da sociedade de forma a favorecer o

conhecimento, sem contudo querer ser uma verdade única e absoluta.


Seu conhecimento se reveste de especial importância para o professor que deseja

construir sua prática.


É a partir desses conhecimentos que podemos propor mudanças que propiciem o

desenvolvimento do fazer, representar e exprimir. Por isso, o professor deve estar a


par das teorias e tendências pedagógicas ao problematizar suas questões do

quotidiano e ao pensar sua prática, sem contudo estar firmemente preso a uma
delas. Deve, antes de tudo, procurar o melhor de cada uma, seguindo uma aplicação

cuidados que permita avaliar sua eficiência.


Deve-se ressaltar que as teorias são importantes, mas cabe ao professor construir sua

prática baseando-se nela. As teorias são elementos norteadores e não “receitas”

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prontas. Constata-se que na prática escolar, as condicionantes sócio – políticas,


exercem forte ascendência sobre as tendências pedagógicas.

As tendências pedagógicas foram classificadas em:


 Liberais e

 Progressistas.
As liberais marcaram a educação no Brasil nos últimos 50 anos, mostrando-se ora

conservadora, ora renovada. A Pedagogia Liberal enfatiza: o preparo do indivíduo


para o desenvolvimento de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais; os

indivíduos precisam aprender a adaptarem-se aos valores e às normas vigentes na


sociedade de classes e, embora se propague a ideia de igualdade de oportunidades,

não leva em conta a desigualdade de condições.


As progressistas partem da análise crítica das realidades sociais que sustentam as

finalidades sócio – políticas da educação. A Pedagogia progressista não tem como


institucionalizar-se numa sociedade capitalista, por isso se constitui num instrumento

de luta dos professores ao lado de outras práticas sociais.

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2.4. A EDUCAÇÃO E O TRABALHO


A condição fundamental que impulsionou o surgimento da educação foi a actividade

laboral do homem primitivo e as relações sociais que se estabeleceram ao redor da


mesma. A actividade, o trabalho é a fonte de toda a vida humana.

A actividade laboral do homem primitivo, dirigida à satisfação das necessidades


naturais de subsistência e reprodução, proporcionou a transformação do estado

biologicamente animal ao humano e criou a sociedade humana que se rege por leis
sociais.

O uso dos instrumentos rudimentares de trabalho, a crescente complexidade e


confecção deliberada, a exigência no aperfeiçoamento dos mesmos, o surgimento de

variedades de plantas de cultivo, criou a necessidade de elevar os conhecimentos as


habilidades e as experiências de trabalho. Estas preocupações e actividades foram de

inteira responsabilidade do seio familiar na comunidade primitiva a partir da


recolecção, pastorícia e posteriormente a indústria rudimentar. Logo, são

pressupostos que requerem a aproximação dos homens, um estabelecer de relações,

trocas de experiências laborais adquiridas individualmente e particularmente e, como


é óbvio, a exigência da educação.

A educação pressupõe um relacionamento e uma influência recíproca entre


indivíduos, desenvolvendo a comunicação entre eles, a consciência e todas as

propriedades do pensamento lógico.


Conclui-se que a educação, pelo seu surgimento e essência, é um fenómeno social e

uma prática igualmente social. A educação e o trabalho são condições do surgimento


e da existência da sociedade. Ambos são funções sociais essenciais.

O trabalho, para além de ser uma das funções sociais, apresenta factores biológicos e
sociais:

Factores biológicos: o trabalho desenvolve o homem tanto quer do ponto de vista


físico como psicológico.

Factores sociais: desenvolve a colectividade ou sociedade; aproxima os homens;


desenvolve a ajuda mútua; permite o intercâmbio de experiências.

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A condição fundamental que impulsionou o surgimento da educação foi a actividade


laboral do homem primitivo e as relações que se estabeleceram ao redor da mesma. O

trabalho é a fonte de toda a vida humana.


2.5. A EDUCAÇÃO E O SEU DESENVOLVIMENTO NAS DIFERENTES ETAPAS

SÓCIO – HISTÓRICAS
2.5.1. A educação na comunidade Primitiva

Nesta organização, a educação faz-se sentir concretamente nos aspectos de


consumo e de trabalho. A actividade laboral do homem primitivo, dirigido no sentido

da satisfação das suas necessidades naturais de subsistência e de reprodução,


proporcionou a transformação do estado animal em humano e criou a sociedade

humana, na qual a formação do homem começou a determinar-se por leis sociais. O


emprego de instrumentos rudimentares de trabalho, a sua generalização e

complexidade crescente e a sua confecção deliberada, criou a necessidade de elevar-


se os conhecimentos, as habilidades e experiências sobre o trabalho às novas

gerações.

Ao princípio, isto ocorria no processo da actividade laboral, no seio da vida social.


Posteriormente, a educação converteu-se numa actividade especial do trabalho e da

consciência do homem.
Na comunidade primitiva tudo era comum entre os membros do colectivo e não

existiam diferenças sociais. As relações sociais na comunidade primitiva coinscidiam


com as familiares. A divisão do trabalho e as funções sociais eram fundamentadas em

princípios biológicos e como consequência, existia a divisão do trabalho por sexo e


idade no seio do colectivo.

A sociedade tribal estava dividida por idades, em três grupos: (i) as crianças; (ii) os
adolescentes; (iii) os membros na plenitude da vida e os velhos que já não tinham a

força física necessária para participarem plenamente na vida da comunidade.


Os recém – nascidos, que ao princípio faziam parte do primeiro grupo eram

alimentados e educados pelos adultos da tribo. Às costas da mãe, pendurado num


saco assistia e participava na vida da comunidade, ajustando-se ao seu ritmo e

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normas e, como a mãe andava de um lado para o outro sem cessar, adquiria a sua
primeira educação sem que nada lhe fosse expressamente transmitido (por imitação;

de forma expomtânea).
As crianças participavam, junto dos mais velhos, na caça, na pesca e na preparação

das armas. Sob a direcção das mulheres semeavam e colhiam os produtos,


preparavam os alimentos e confeccionavam os utensílios e vestuário. As crianças

educavam-se e instruíam-se participando nas funções e nas tarefas da colectividade.


No trabalho e trato diário com os mais velhos, as crianças desenvolviam as

habilidades necessárias para a vida, familiarizavam-se com os costumes e aprendiam


os ritos próprios da vida do homem primitivo.

Quando o jovem chegava a etapa seguinte do seu desenvolvimento, biológico,


depois de ter adquirido algumas experiências sociais, conhecimentos sobre a vida e o

trabalho e determinados hábitos, convertiam-se em membros do grupo que se


caracterizava pela plena capacidade para o trabalho.

Com o tempo, essa passagem passou a realizar-se mediante uma cerimónia chamada

“iniciação” isto é, através de provas onde se verificava a preparação da juventude


para a vida, sua capacidade para suportar as privações, dor, tenacidade, assim como a

sua astúcia.
As cerimónias de iniciação constituíam então, o primeiro esboço de um processo

educativo diferenciado, e por tal já não espontâneo, mas sim fortemente coercivo.
Representam aquilo que no futuro seria uma escola ao serviço de uma classe.

Durante o patriarcado, aparecem a pastagem, a agricultura e os ofícios. Dependente


das forças produtivas e da ampliação de experiências laborais do homem, a educação

tornou-se mais complexa, adquirindo um carácter mais complexo de uma educação


mais organizada para as novas gerações.

A medida em que se desenvolviam as habilidades e os hábitos de trabalho, nas


crianças ensinava-se-lhes as tradições, a normas do culto religioso que começavam a

desenvolver-se, as artes das descrições, os relatórios, as legendas, os jogos as danças,


a música e o canto.

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Todas as cerimónias de expressão oral do povo jogaram um papel importante na


formação dos costumes, da conduta e da determinação dos traços do carácter, como

resultado do seu desenvolvimento posterior, a comunidade tribal converteu-se


“numa organização autónoma armada”. Surgem os primeiros sinais da educação

militar: as crianças aprendiam a disparar com os arcos, a utilizarem as lanças,


montarem a cavalo, etc.

A organização interna dos grupos tornou-se mais precisa ao designarem os chefes e,


as cerimónias de iniciação passaram a ser mais complexas. Começou-se a prestar ais

atenção à aquisição de conhecimentos.


No momento da história humana em que se efectuava a transformação da

comunidade primitiva em sociedade dividida por classes, constituí-se a primeira


sociedade de escravidão: “a sociedade esclavagista”.

2.5.2. A educação na sociedade Esclavagista


A sociedade Esclavagista ou de escravidão é a primeira sociedade classista. Ela

consiste em duas classes: a classe de proprietário de escravos (dominante) e a classe

dos escravos ou servos (dominada).


Na respectiva sociedade, a divisão do trabalho estava feita nessa base. A sociedade

Esclavagista possibilitou a que a administração, a condução dos assuntos do estado,


o exercício da política, a condução das guerras e a conquista de territórios alheios

como também o exercício da sabedoria (da filosofia das ciências, do pensamento em


geral e do estudo do mundo em que o homem vive, da literatura, da arte, etc) fosse

obrigação social, fundamentalmente, dos proprietários de escravos.


Os membros da classe dominante, estavam libertos de qualquer trabalho físico ou

produtivo (no campo, nos navios, nas oficinas, em casa). Os trabalhos físicos e de
produção era feitos ou executados pelos escravos.

A obrigação desses escravos era de, através do seu trabalho, garantir ou assegurar a
existência da sociedade escravista (esclavagista), como posição social dos seus

proprietários ou patrões.

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 30

A divisão do trabalho e as relações sociais, na posição privilegiada dos patrões ou


proprietários e a tal falta de direitos para os escravos (que muitos e mesmo os mais

conhecidos filósofos da Grécia não consideravam os escravos como seres humanos,


mas sim instrumentos falantes) condicionaram também a educação escravista

classista. A referida educação era somente para as crianças dos senhores


proprietários de escravos, visto que os escravos não podiam constituir família. Como

não eram considerados homens, para eles também não era organizada a educação.
Os estados escravistas, para além do facto de terem pertencido a mesma formação

social e baseadas no mesmo fundamento social e nas mesmas relações produtivas,


não resolveram da mesma maneira a série de questões concretas da vida pessoal e

social dos seus cidadãos. As respectivas comunidades referenciam-se muito


reciprocamente. Por isso, também a educação que organizaram era diferenciada,

embora cada uma delas tivesse todas distinções da educação esclavagista classista.
Ao estudar-se a sociedade Esclavagista, toma-se sempre como exemplos os estados

de Esparta, Atenas e Roma.

 Esparta – A educação nesse estado correspondia concretamente a


organização da vida e das necessidades dos espartanos. Esparta era uma

antiga polis, fechada, não era um estado marítimo, logo tinha menos
contactos com outros países e povos. Encontrava-se numa parte não

produtiva e pedregosa da Grécia. A agricultura, executada pelos servos, era a


sua actividade económica principal.

Esparta estava, permanentemente, exposta a dois perigos: (i) exterior - ser


conquistado por outros estados; (ii) interior - a sublevação de grande número de

escravos.
Ao trás referido junta-se ainda o desejo e a necessidade dos espartanos

conquistarem territórios alheios, porque seria uma prática de se conseguir a riqueza


material (tomada ou retirada de outros) e também novos escravos. Tudo isso

condicionou que a vida em Esparta tivesse completamente organizada militarmente


Permanentemente vivia-se como se fosse um campo militar. Por essa razão, os

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 31

espartanos são considerados como guerrilheiros profissionais. Assim estava submissa


toda a vida e, por conseguinte também a educação dos espartanos.

As crianças que, no momento do nascimento, não nasciam desenvolvidas saudáveis


imediatamente eram condenadas à morte (deixadas nas florestas a mercê dos

animais ferozes).
As crianças com vida eram submetidas a uma educação especial. Assim, até aos 7

anos todas as crianças eram educadas na família. Depois disso, os rapazes


abandonavam a família; dos 7 aos 18 anos, eram educados em estabelecimentos

especiais, nos quais dominava um regime muito rude, brutal (as crianças eram
expostas ao frio, fracamente vestidas, mantinha-se famintas, dormiam em lugares

inconfortáveis e duros, eram publicamente fustigadas ou batidas, eram habituadas


desde recém – nascidas a suportarem a dor e a morte.

A aprendizagem das habilidades guerreiras, o desenvolvimento da força física, de


agilidade e de resistência, a faculdade de orientar ou da atitude de se desonrar e da

astúcia na luta, constituía o conteúdo fundamental da educação espartana.

O desenvolvimento do espírito, o estudo da literatura, da filosofia e educação


musical, bem como o estudo das ciências eram quase não conhecidos. De uma forma

elementar aprendiam a ler e a escrever e com isso os jovens eram introduzidos ao


conhecimento das leis de Esparta e particularmente eram treinados, se assim se pode

dizer, fazer a pergunta de maneira curta e respondê-las de uma maneira mais curta.
As raparigas eram educadas na família, não obstante essa educação ser do tipo

ginástico-militar, pelo facto de que cada espartana devia estar preparada para tomar
o lugar do homem na luta contra os inimigos, caso fosse necessário, tanto interna

como externamente.
 Atenas – Neste estado a educação era completamente diferente da educação

em Esparta, pois sendo um estado democrático ou cidade democrática da


antiga Grécia, atingiu um nível muito alto no desenvolvimento do comércio, na

navegação, no estabelecimento de contactos com outros povos e países, em


política e, particularmente na Filosofia, Literatura, História, na Arte e nos

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 32

estudos da natureza. Para além disso, os atenienses preenchiam a vida com


marchas, com guerras e competições olímpicas e desportivas.

Em Atenas era muito apreciado e considerado o homem harmoniosamente


desenvolvido, a beleza e a harmonia entre o espírito e o corpo. Por essa razão, pela

primeira vez, é colocado o desenvolvimento harmonioso da personalidade como


objecto da educação.

Todas as crianças dos senhores proprietários em Atenas, no seu período mais


desenvolvido (séculos VI-IV a.c.), eram educadas em casa até aos 7 anos e isto numa

atmosfera agradável com muitos jogos e multitude de brinquedos para crianças,


canções música, contos, histórias. Depois disso, as raparigas continuavam a ser

educadas na família e os rapazes prolongavam a sua educação nos lugares públicos,


em instituições correspondentes: dos 7 aos 14 anos, os rapazes frequentavam a

escola dos “Gramatistas”, onde aprendiam a ler, a escrever e a contar; em seguida,


frequentavam a escola dos “Guitarristas”, onde escutavam música, cantavam e

entravam em contacto com a literatura e a poesia.

Depois disso, todos os rapazes adquirem também a educação ginástica nas palestras
(onde ficavam dos 14 aos 16 anos). Depois, prolongava-se a educação nos ginásios

(lugares em que faziam ou conduziam as conversações políticas, filosóficas e literárias


e se prolongavam os exercícios de ginástica) dos 16 aos 18 anos.

No fim, os rapazes tornavam-se efebos, a partir dos 18 aos 20 anos. Este era o
período da preparação imediata para os deveres ou as obrigações públicas, políticas,

militares e outras em Atenas.


Como podemos ver, a educação ateniense era posta de uma maneira mito completa,

orientada para o desenvolvimento harmonioso da personalidade.


 Roma – Neste estado a educação atravessou mais fases que os referenciados

anteriormente. Por volta do século III a.c., atingiu o seu nível mais alto,
existindo no império romano três tipos de escolas diferentes, que constituía

todo o sistema da educação e abarcavam rapazes dos 7 aos 16 anos.

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 33

Na primeira escola denominada “escola elementar”, aprendiam o latim, a gramática e


a literatura ou as belas artes; na “retórica” aprendiam as leis, o direito, a história, a

filosofia, a geografia e particularmente exercitava-se a eloquência ou a arte oratória


(retórica) e a “escola de educação ginástica – militar” na qual se prestava uma grande

atenção a educação ginástico-militar.


O sistema e o conteúdo da educação estavam condicionados às necessidades do

império romano, conquistando territórios e mantendo os territórios conquistados na


submissão, os romanos deveriam ser ou tinham de ser guerreiros capazes e bons,

para além de precisarem de funcionários capazes e fiéis ao império.


A necessidade tanto em Roma como em outras partes do império, era de manter as

massas submissas, de levá-las para as novas campanhas guerreiras, etc, exigia


oradores extraordinários. A educação estava directamente ao serviço das

necessidades do império romano.


A decomposição ou desintegração do império romano e, consequentemente, de toda

a ordem escravista conduziu-o a muitas crises. O império romano não podia mais

opor-se ou resistir aos inimigos tanto internos como externos.


Com a desintegração do império romano e da ordem escravista também

desapareceu o sistema de educação que serviu a mesma sociedade. Como se pode


ver a educação escravista era organizada pela classe dominante e, é por isso, que

esta a usou directamente na função da satisfação das suas necessidades.


As diferenças na organização dos estados escravistas manifestavam-se visivelmente

também na educação que os mesmos estados organizavam.


2.5.3. A educação na sociedade Feudal

A educação na sociedade feudal corresponde a organização e às relações que


existiram na mesma sociedade. Pelo seu carácter é ao mesmo tempo uma sociedade

de castas. Ela consiste em duas classes principais: a classe dos senhores feudais e a
classe dos servos.

A classe dos feudais consistia em duas castas fundamentais: a casta espiritual (o


clero) e a casta laica (nobreza; aristocracia). A educação nessas duas castas não era

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organizada da mesma maneira. Com efeito, cada classe e cada casta, organizava a
educação segundo as suas necessidades e a sua posição, e as castas evidenciavam-se

directamente também do ponto de vista organizativo dos métodos, do conteúdo e


duração da educação e da instrução.

Depois da queda da civilização antiga, a igreja (cristãos e os padres) tornam-se uma


principal força da ordem social feudal na Europa. É assim que eles exercem o seu

monopólio também sobre a educação. O dever fundamental que consignaram ou


definiram para a educação era a preparação de padres, que podiam e deviam

dominar e manter as massas debaixo da submissão aos cristãos. Com esse objectivo
abrem-se as escolas das paróquias, das dioceses e dos mosteiros ou conventos. E essas

são as únicas instituições escolares que iriam existir ao longo de vários séculos (desde
o século VI ao século X).

O conteúdo da formação nas referidas escolas era completamente submisso às


necessidades da casta clerical. Aprendiam as chamadas sete habilidades (septem artes

liberales), divididas em dois ciclos:

(i) Trivium, que correspondia a Gramática, Retórica e a Dialéctica.


Com a Gramática, os alunos estudavam as formas gramaticais do latim que lhes

permitia a análise das distintas obras eclesiásticas e o conhecimento de algumas


formas com especial significação mística e religiosa; a Retórica a princípio se dedicava

ao estudo de recompilação de leis religiosas e a confecção de informações oficiais de


carácter eclesiástico. Posteriormente, a sua função consistiu na preparação de

dissertações religiosas; a Dialéctica era a ciência que consistia na preparação dos


alunos para a discussão dos temas religiosos e para a defesa do dogma.

(ii) Quadrivium, correspondia a Aritmética, Geometria, Astronomia e a teoria da


Música.

Com a Aritmética, ensinava-se aos alunos três das quatro operações fundamentais (já
que a divisão era muito complicada) e se familiarizavam com o carácter místico dos

números; a Astronomia permitia aos estudantes, realizar os cálculos para determinar


as datas da Páscoa, assim como fazer predições mediante as estrelas; o ensino da

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 35

Música estava relacionado com a actividade religiosa. Todas as disciplinas estavam


submissas à teologia (relembramos que o princípio adoptado era: “a ciência é

servidora ou servente da teologia”).


Nesta casta clerical, os dogmas da igreja estavam acima de tudo. De facto tudo

estava nas mãos do clero e tudo dependia da interpretação dos dogmas da igreja O
método fundamental de trabalho nas escolas tinha como regra “acreditar naquilo que

o mestre disse (magister dixiti)”, sujeitar-se ao mestre sem resistência nem oposição,
aprender a reter na memória tudo quanto estava escrito no livro sagrado da igreja.

Em relação ao tudo atrás referido, não se podia sequer reflectir e, mesmo o


pensamento não podia ser diferente, porque para tal existia só um remédio, ser

queimado na fogueira.
Contrariamente à casta clerical, os membros da casta dos nobres, aristocratas ou

laicos eram educados nos palácios ou nas cortes, onde aprendiam as sete habilidades
cavaleiras (septm artes probitatis) que consistia em cavalgar, esgrimir, caçar, nadar,

manejar a lança, o xadrez e a composição dos versos. Nem o saber ler e escrever nem

o saber contar não era parte componente desta formação e educação. Os feudais
não consideravam, não apreciavam isso. A maioria deles, as vezes até reis, era

analfabeta. Nos palácios havia sempre alguns escribas ou escrivães (escrevem


documentos legais nos tribunais) que executavam aquilo que era neste sentido

necessário para os seus senhores.


Os servos não eram abrangidos por qualquer educação publicamente organizada,

excluindo as predições que escutavam aos domingos na igreja. A sua educação,


realizava-se directamente na família e no trabalho que todos os membros da família

tinham que executar para o seu senhor (o nobre, o aristocrata). Neste sentido, eles
estavam numa posição melhor daquela dos escravos. Aqueles rapazes que tinham a

sorte de serem admitidos nas escolas das paróquias preparavam-se para o


sacerdócio inferior e, assim transitavam para a casta espiritual, separando deste

modo da sua classe, a dos servos.

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 36

Só muito mais tarde durante os séculos XII e XIII, com o fortalecimento das cidades,
da casta burguesa, com a união dos artífices e dos comerciantes nas cidades,

começar a organizar instituições para a formação das crianças desta casta; que
passaram a chamar-se de escolas citadinas.

Por muito tempo, a igreja conduziu uma guerra feroz e longa contra a administração
das respectivas cidades no sentido de submeter essas escolas à sua influência. O

número de escolas em questão não era tão importante. O mais importante era a
característica e o significado da aparição ou do surgimento das mesmas.

No fim, deve ser lembrado o facto de que nos séculos XII e XIII e mais tarde surgem
as primeiras universidades que têm a sua origem nas escolas dos mosteiros ou

conventos (no norte da Itália, e em França, na Inglaterra, em Praga), que com todo o
seu escolasticismo desempenharam um papel significativo no desenvolvimento

posterior da formação, da instrução e a escolaridade na Europa.


2.5.4. A educação na sociedade Burguesa

Esta sociedade estava composta por duas classes fundamentais: a burguesia e o

proletariado.
Conquistando gradualmente o poder e destruindo a ordem feudal, a casta burguesa

lutou com ela (ordem feudal) em muitos campos e, um deles é a educação que se
transformou numa arma forte ou potente na luta para a nova ordem.

No domínio da educação, a casta burguesa aceitou ou adoptou e continuamente


desenvolveu as ideias pedagógicas do humanismo e da renascença ou renascimento.

As direcções principais da luta neste domínio eram: criar ou realizar uma escola
elementar na língua materna (o que a reformação começou a realizar mais cedo),

enriquecer a formação geral com conteúdos das ciências naturais, organizar trabalho
de uma maneira nova (o princípio da evidência e a demonstração por exemplo se

coloca no primeiro plano na nova metodologia de trabalho), equipar e dotar as


escolas com novos meios, etc. Já no decurso dos séculos XII e XIII, por exemplo na

Alemanha promulgaram-se os estatutos escolares que obrigavam os pais a enviarem


as crianças para a escola (a constituição de Gotha de 1642, por exemplo, previa

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 37

também castigos para os pais que não enviassem as suas crianças para a escola
depois dos 7 anos de idade). Na Alemanha, o estado começa então a intrometer-se

na escolaridade embora com a influência ainda muito grande da igreja (esta garantia
o ensino dos quadros - os padres exerciam o controlo sobre o trabalho das escolas).

Ao contrário disso, na Inglaterra naquele mesmo período, em geral o estado não se


interessava sobre as questões da escolaridade. Tudo se encontrava nas mãos da

igreja e as diversas organizações religiosas, manifestando-se ai a luta entre a igreja e


os protestantes, que perseguia os seus educadores.

Durante os séculos XVI e XVII o tipo principal de escola média era a escola
gramatical. Para além do grande formalismo que nela existia, do escolasticismo no

conteúdo da formação e para além da separação com a vida, esta escola é crítica e
parcialmente reformada. Entretanto, começam nesse momento a serem abertas

também tipos de escolas médias em que eram introduzidos e escritos os conteúdos


das ciências das ciências naturais, como por exemplo a Matemática, Mecânica, a

Astronomia e o Desenho técnico. Compreende-se também que nas escolas médias as

influências da igreja e da religião, eram muito grandes e eles se opõem a cada e


qualquer transformação ou mudança. Ao lado dessas escolas, criam-se também as

chamadas academias para cavaleiros. Por exemplo, na Alemanha durante o século


XVIII, estas academias adoptam um carácter de castas e são apropriadas para as

crianças do patriciato, da nobreza ou da aristocracia (com alguma coisa modernizada


no conteúdo em relação as habilidades cavaleiras anteriores).

Uma grande acção profunda sobre a escolaridade é realizada por parte da jovem
burguesia revolucionariamente disposta, no tempo da revolução burguesa na França.

As ideias pedagógicas da referida acção são contidas na série dos projectos sobre a
instituição popular - o projecto de submissão à assembleia em 1791, o projecto de

Condorcet submetido à assembleia legislativa no mesmo ano, o projecto do químico


Lavoisier e o projecto mais radical do Laportier Jacobino, submetido à convenção.

Nos referenciados projectos, entre outras coisas, destacam-se o princípio da


obrigatoriedade real da escolaridade para todos - Laportier vai até a exigência de se

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criarem casas ou habitações de educação nacional, ou de facto internatos em que


poderia ou deveriam viver as crianças pobres na conta das crianças ricas - exige-se a

separação da escola da igreja, a introdução das conquistas das ciências naturais nos
conteúdos da instrução, destaca-se a educação laboral e a necessidade de fazer

conhecer às crianças as profissões úteis. Compreensível é o facto de que estas ideias


radicais sobre a educação não foram realizadas nem então, nem mais tarde na

sociedade burguesa.
A revolução industrial realizada no final do século XVIII e princípio do século XIX,

também muito influenciou sobre a escolaridade dos países burgueses ou capitalistas.


Justamente é a revolução industrial que levara ao facto do estado começar

gradualmente a ter o cuidado real sobre a escolaridade das crianças das largas
massas trabalhadoras. Com o efeito, a produção ou o trabalho com as máquinas

procura trabalhadores cada vez mais letrados ou mais instruídos, porque disso
directamente dependia a produtividade do trabalho ou em outras palavras, disso

depende o proveito, o benefício e o interesse que a burguesia realizava. Por isso, a

burguesia estava muito mais interessada a investir na instrução.


Na instrução dos trabalhadores quanto mais sabemos, que no período da revolução

industrial, que as crianças eram massivamente empregadas nas fábricas (até crianças
com 6 ou 7 anos de idade) com as chamadas leis fabris, a primeira delas na Inglaterra

é promulgada em 1802, que regularizava também a questão do emprego de crianças,


limitando a idade do emprego e a questão da sua escolarização. Entretanto, ainda

(pelo menos na Inglaterra), esta é preocupação da igreja e da iniciativa privada. Só


mais tarde, na metade do século XIX, mudou-se esta situação em muitos países.

No período da revolução de Julho em França, é proclamada ou promulgada a lei


sobre a instrução popular, a qual cada comuna devia ter uma escola elementar. Cada

localidade uma escola prolongada e cada departamento uma escola normal para
preparação de formadores. Na esfera da educação média, para além dos liceus

existentes para as camadas ricas, são abertos os colégios. Na Inglaterra, o estado


começa a ajudar as escolas materialmente e, duas décadas mais tarde, torna a sua

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 39

obrigação legal. Só em 1080 que a escola elementar se torna obrigatória na


Inglaterra. Ao lado das escolas médias, também chamadas públicas e que se

encontravam nas mãos das fundações privadas e da igreja e destinadas ou


reservadas à altas castas, começam a ser abertas outras escolas médias. Entretanto,

até ao princípio do século XX (1902) estas escolas estiveram fora do controlo do


estado.

Nas universidades (Cambridge, Oxford) se podia entrar só a partir das escolas


públicas. Na Alemanha todo esse processo começa um pouco mais tarde e isso como

consequência da influência muito grande da igreja e da exigência das escolas ficarem


debaixo do seu controlo. Podemos constatar que, infelizmente, nisso a igreja em

geral tinha sucesso.


Uma vez iniciado o processo de transformação das escolas em instituições burguesas

do estado, ela não podia parar. Quanto mais sabemos que gradualmente esse
processo da transformação se transferiu das escolas elementares para as escolas

médias, em certos casos até as universidades. É desta maneira que se constitui

gradualmente o sistema burguês estatal de escolaridade.


As escolas que existiam e que eram reservadas ou destinadas para os mais ricos com

mais ou menos restos do carácter fechado ou reservado da casta por exemplo nas
academias cavaleiras na Alemanha e nos colégios em França, ficaram muito tempo

fora do sistema estatal da educação. Entretanto, e de uma maneira gradual algumas


dessas escolas médias foram incluindo-se neste sistema, porque e muitos países

burgueses existem escolas privadas em todo o nível, fora do sistema estatal, mas que
nele ocupam uma posição privilegiada (antes do mais do ponto de vista dos direitos

para a continuação da escolaridade). Como podemos ver através dos exemplos


utilizados ou citados em referência, o desenvolvimento da educação e a constituição

do sistema de escolaridade dos países burgueses, particularmente, não e nem se


realizou ao mesmo tempo e da mesma maneira. As diferenças são ainda significativas

se tomarmos em conta também os Estados Unidos de América. Sobre os referidos


processos, muitos factores objectivos e subjectivos tiveram influência. Aqui, com

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 40

certeza, não vamos entrar em análises particularizadas, contudo, necessário é no fim


mostrarmos algumas características comuns e gerais e tendências no

desenvolvimento moderno do sistema burguês da educação e da instrução, tais


como:

 No decurso do desenvolvimento, a preparação do estado burguês sobre a


educação torna-se cada vez mais significativa do ponto de visa de materiais e

quadros, do conteúdo e da organização, e as questões importantes são reguladas por


leis.

 O sistema escolar burguês, constitui-se gradualmente e abarca os


estabelecimentos desde o pré-escolar, através dos elementares e médios até as

universidades, paralelamente existindo a possibilidade de criação ou edificação de


sistemas escolares por parte das administrações locais, igreja, fundações privadas e

organizações.
 O dualismo que existia no sistema burguês de escolaridade torna-se no

instrumento da selecção social, às crianças das massas trabalhadoras são destinadas

escolas, que muitas das vezes não levam até aos níveis superiores de formação; ao
mesmo tempo existindo muitos obstáculos no caminho para os referidos níveis

superiores.
 Do ponto de vista de direitos à educação, todos têm possibilidades iguais, mas

realmente estas dependem de quem pode pagar e as crianças das camadas pobres
não tinham acesso.

 Os conteúdos sofrem mudanças, permanentemente, são incessantemente


harmonizados com as necessidades da cidade e da produção. Com o

desenvolvimento de todas as ciências abre-se um grande número de diferentes


escolas médias, a educação clássica se reduz a justa medida.

 Continuamente, prolonga-se a escolaridade obrigatória que se vão


introduzindo mudanças significativas no próprio sistema interno de produção.

 Paralelamente a educação obrigatória, assistia-se a um número cada vez mais


crescente de jovens que não ficam só no nível da escola obrigatória, mas sim

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 41

tendendo a prolongar a sua instrução também tanto no grau médio como no


universitário.

2.5.5. A educação na sociedade Socialista


Nesta sociedade socialista, a educação organiza-se de tal maneira que visa

desenvolver a personalidade tanto do ponto de vista intelectual como também do


ponto de vista físico estético, moral e técnico. A exigência para o desenvolvimento

integral da personalidade decorre tanto das necessidades da própria sociedade


socialista como também das necessidades da personalidade humana. O

desenvolvimento integral ou universal da personalidade no socialismo deve conduzir,


entre outros, até a produção gradual da diferença entre o trabalho fisco e o

intelectual.
Na sociedade socialista mudam-se os conteúdos, os objectivos e as tarefas da

educação. Só na base da ciência e da técnica altamente desenvolvidas que pode


construir a sociedade socialista. É por isso que a educação e o ensino devem

fundamentar-se na cientificidade. Devem servir ao desenvolvimento do espírito ou

intelecto humano com todas conquistas ou aquisições que a humanidade alcançou


no decurso o seu desenvolvimento.

No processo da educação, a jovem geração deve dominar todas as realizações da


ciência, da técnica e da arte.

A educação na sociedade socialista também se distingue pela utilização de novos


métodos. Na aquisição dos conhecimentos deve-se, segundo Lénine, evitar o

palavreado. Uma tarefa particular da educação consiste no domínio, pela juventude,


dos métodos de aquisição autónoma dos conhecimentos. Os conhecimentos não

devem ser adquiridos mecanicamente, deve-se proceder de maneira crítica,


retrabalhar ou refazer os mesmos. Essa forma de aquisição de conhecimentos é

considerada correcta, porque só assim pode-se desenvolver as capacidades do


homem.

Uma característica importante da educação na sociedade socialista consiste também


na sua ligação com o trabalho produtivo socialmente útil. Marx sublinhou que se deve

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 42

unir a educação com a produção material e que a ligação adiantada do trabalho


produtivo com o ensino é um dos mais poderosos meios de transformação da

sociedade que almejam alcançar (socialista).


Lénine destacava que não se pode imaginar o ideal da sociedade socialista sem a

união do ensino com o trabalho produtivo da jovem geração. Isto conduz tanto à
elevação do nível de ensino e da instrução como também a elevação do nível do

trabalho produtivo. É por isso que Lénine pensou que todos os alunos devem
participar no trabalho produtivo e exigiu que o trabalho da escola ligasse com as

tarefas económicas tanto de cada localidade e região como também de toda a


república. Não deve a juventude fixar-se na sua escola, mais sim que utilize cada sua

hora livre no melhoramento da condição de vida no seu meio, que ligue a sua
instrução, o seu estudo, a sua educação com o trabalho dos operários e camponeses

de maneira que cada membro da união da juventude seja educado e ao mesmo


tempo capaz de trabalhar.

A juventude deve estabelecer todas as tarefas do seu estudo de maneira que cada

dia e em cada cidade resolva certas tarefas do trabalho comum, não importam sejam
elas mais insignificantes ou mais simples. Na inclusão ou integração da juventude no

trabalho produtivo ou socialmente útil, Lénine viu também como um dos principais
meios da moral. Segundo ele, “ a educação da juventude comunista não deve consistir

no facto dele se servir de quaisquer discursos adocicados e regras da moral. A educação


não consiste nisso”.

É preciso colocar a juventude em determinadas relações em que a sua actividade


própria mudará o mundo e adquirirá a experiência social.

Efectivamente e duma forma geral, são estas bases que orientam a sua reformulação
do sistema da educação e do ensino do nosso país. O socialismo é aquele período

em que reúnem as condições indispensáveis para a resolução das contradições


fundamentais de todo o desenvolvimento social até aí alcançado, período em que o

socialismo cria bases para a edificação duma ordem social comunista,


completamente nova.

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 43

Não há dúvidas que, tendo em conta a lei da ligação da condicionalidade da


educação pela sociedade que a organiza, as distinções da sociedade socialista

encontrarão a sua expressão directa, também na educação que a respectiva


sociedade organiza.

Pode-se aqui destacar algumas das diferenças essenciais entre a sociedade socialista
e a sociedade capitalista que são de suma importância para a compreensão das

distinções e do papel da educação na sociedade socialista.


 O sistema socialista diferencia-se, antes de tudo, pela socialização dos meios

para a produção isto é, pela eliminação da propriedade privada capitalista


sobre os referidos meios e pela eliminação da exploração capitalista da classe

operária, como também pela colocação de todas as possibilidades e meios ao


serviço do desenvolvimento planificado das forças produtivas;

 O socialismo parte do princípio que o trabalho se deve tornar a medida,


posição económica pessoal;

 À corrida capitalista para o benefício, o socialismo opõe o esforço social

comum para a satisfação máxima das necessidades colectivas e pessoais dos


homens;

 Na sociedade socialista, em que o poder pertence ao povo trabalhador, os


suportes fundamentais do desenvolvimento socialista na base social são os

produtores, os colectivos, colaboradores, as instituições socialistas e outras


organizações de massas e sociais.

 O socialismo liberta o homem, liberta as suas capacidades, a sua energia e cria


as bases para a obtenção de resultados imensos em todos os domínios da

actividade social.
 Aproveita e utiliza as novas conquistas científicas e técnicas, para colocá-las a

serviço da edificação da nova sociedade e desta maneira liberta a sociedade e


o homem de todas aquelas contradições que existem na sociedade

exploradora classista.

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 44

A sociedade socialista não se pode criar de uma só vez, numa noite. Pelo contrário,
ela por muito tempo deve estar consciente e persistentemente lutar contra os restos

da sociedade classista, que tentam de novo afirmar-se como também deve lutar
contra aquelas contradições com as quais a sociedade socialista se vai defrontando

no seu desenvolvimento.
Neste processo de construção da nova sociedade, das novas relações sociais, a

consciência socialista joga um imenso papel, logo uma das tarefas essenciais da
educação é a formação dessa consciência. Só desta maneira a educação pode

transformar-se num sector da edificação do socialismo e do seu crescimento para o


comunismo. Deste facto, pode-se concluir que a educação, também na sociedade

socialista, se coloca consciente, intencional e de forma planificada ao serviço das


necessidades sociais, das movimentações sociais, transformando num factor de

edificação da nova sociedade e personalidade socialista.


Contudo, existem diferenças substanciais, essenciais no carácter e no conteúdo da

condicionalidade social da educação, por exemplo, na sociedade burguesa como na

sociedade socialista.
Porquanto a sociedade burguesa tem por objectivo a manutenção e a conservação

classista, a justificação da exploração e do carácter não democrático da sociedade, a


impossibilidade da educação igual para os membros das suas classes, o

desenvolvimento unilateral e estreito da sociedade, a criação de uma camada


particular de inteligência que deve servir a classe dominante, a redução da educação

dos produtores no mínimo indispensável, a manutenção também na educação da


separação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, etc. Com efeito, a

educação na sociedade socialista e segundo o seu carácter essencialmente


democrático, tem outros objectivos: ela pretende criar possibilidades iguais para o

desenvolvimento integral ou universal de todos os cidadãos, independentemente do


sexo, da pertença racial nacional ou outra, de elevar o nível educativo e cultural de

todos cidadãos até ao mais possível grau de contribuir para a eliminação de


contradições entre o trabalho intelectual e físico, entre s produtores e os

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 45

administradores, entre o cidadão do campo, entre a inteligência e os operários e


todos os trabalhadores. Assim, a educação no socialismo expressa todos os interesses

da sociedade e por isso ela tem o carácter social-socialista.


A educação no socialismo tem por objectivo específico possibilitar o desenvolvimento

livre e integral de cada personalidade. Ela contribui para libertação do homem e da


sociedade de todos os restos do passado, de todas as algemas com que o homem

estava. Com efeito, os produtores individuais e colectivos, duma maneira directa,


influem na sua própria posição material, o trabalho torna-se livre e, as relações

laborais pedem o carácter de relação laboral de aluguer. Um tal trabalho criador e


livre, ao mesmo tempo, faz-se factor do progresso material da sociedade e do avanço

contínuo das relações socialistas entre o homem e começa, desta maneira, a ria-se as
condições para a eliminação gradual da contradição entre o trabalho intelectual e

físico. Como um todo, a sociedade cada vez mais se constitui em comunidade de


produtores em que todos estão interessados para um trabalho mais racional de cada

um e de todos. O resultado neste domínio das relações sociais e materiais, determina

não somente o grau do bem-estar material, mas como também o grau da liberdade
dos indivíduos.

Baseando-se nos conteúdos científicos, a educação na sociedade socialista tende ou


orienta-se para a libertação da consciência e do pensamento do homem, da limitação

classista e da parcialidade ou da unilateralidade da subjugação ao misticismo e a


religião, entre ouros. Ela tem condição de formar o ser humano verídico, como um

homem real livre. Por isso, ao contrário do carácter de exploradores e de dominação


burguesa, a educação na sociedade socialista tem um carácter libertador.

2.6. AS CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO


 Carácter de fenómeno social – O homem é um ser eminentemente social,

não nasceu para viver sozinho, isolado do convívio social. Não poderia atingir
seu pleno desenvolvimento intelectual e moral, nem aperfeiçoar sua

personalidade através dos bens espirituais que a vida social lhe oferece.

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Sem o auxílio de seus semelhantes, não teria podido construir o edifício da


civilização, nem lhe seria possível desfrutar as vantagens que esta lhe proporciona. Eis

porque, em toda a parte, vemos o homem, por um impulso natural, aproximar-se dos
seus semelhantes e formar colectividades, o que em psicologia denomina-se de

instinto gregário.
 Carácter de fenómeno particular – O estudo dos atributos essenciais da

natureza do homem nos revela as diferenças substanciais existentes entre eles


e os outros representantes da escala zoológica, realçando assim o carácter

específico do processo educativo humano. Não existe aspecto da vida dos


animais irracionais que não resulte da influência dominadora dos impulsos

inatos.
A acção que a hereditariedade exerce sobre ela é absoluta e inelutável. Nada existe

na conduta dos animais que seja adquirido por via externa e social. A aprendizagem
pode desenvolver capacidades inatas e facilitar o jogo das aptidões, mas não é capaz

de criar novas formas de actividade. Toda a vida animal é determinada pelo

equipamento hereditário, pela sua máquina instintiva. Ele não tem o poder de retirar
de suas experiências anteriores princípios normativos para a sua conduta. È incapaz

ainda de aproveitar-se, pela imitação, de experiência alheia, assim como de utilizar a


experiência das gerações passadas. Eis porque os animais não possuem herança

social.
 Carácter de fenómeno perpétuo e permanente – A educação constitui uma

característica básica, um aspecto essencial da vida individual e social de todos


os povos, em todos os tempos. Ela se apresenta como uma necessidade

imperiosa a vida e o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. A


educação é uma função vital, necessária, que se exerce em toda a parte e em

todo o tempo em que homens convivem de modo duradouro e por outra,


enquanto existirem homens sobre a face da terra, necessariamente existirá a

transmissão de conhecimentos e o aperfeiçoamento da personalidade das


gerações imaturas.

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A Pedagogia e a educação, relações e análise histórica. 47

O homem ao vir ao mundo, não é um ser inteiramente formado que dispensa auxílio
para completar seu desenvolvimento. Pelo contrário, é entre os animais, o que mais

necessita de amparo e orientação para que nele se possam desabrochar, plena e


integralmente, as virtualidades que especificam a sua natureza. Inferindo com isso

que o ser humano, desde que nasce e até a sua morte está constantemente a ser
educado, pois para o seu desenvolvimento e aperfeiçoamento, vai assimilando a

cultura da sua sociedade e da humanidade, quer pela acção difusa e assistemática do


meio, quer seja pela acção organizada e intencional de instituições especiais como a

escola.
 Carácter histórico – classista – A educação é um fenómeno dinâmico que

acompanha o homem ao longo dos tempos, relacionando-se sempre com as


formas e meios de produção e produtividade de cada época historicamente

determinada.
Se no florescer da humanidade ela esteve associada à actividade laboral do homem

primitivo, com o desenvolvimento dos meios de produção e das formas de

produtividade o homem, paulatinamente, foi prescindindo desta prática. Pois, com


assentamento do homem à terra e a actividade de cultivar a terra e tantas outras,

tiveram um extraordinário desenvolvimento que o estado actual do desenvolvimento


da ciência e da técnica teve origem daquele. A partir dai, a educação tem vindo a

adaptar-se e acompanhar o desenvolvimento de cada época historicamente


determinada estando condicionada às transformações que se produzem na sua base

económica, adquirindo um carácter classista, pois que, em cada nova sociedade a


educação responderá aos interesses da classe economicamente dominante.

 Carácter de gerações – Como o trabalho, a educação também serve a


manutenção e ao desenvolvimento do homem. E como os conhecimentos do

ser humano, são transmitidos de geração para geração, para a educação


pode-se dizer que ela é também um fenómeno social de gerações, é a

transmissão de experiência da velha sobre a nova geração. A educação é uma

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condição necessária da vida do homem em sociedade, é sua parte inseparável


ou componente.

A educação é uma necessidade vital de todos os ovos em todos os tempos. Ela


constitui ou representa a esfera de relações sociais práticas entre os velhos e os

jovens. Sem estas relações educativas é impossível pensar no desenvolvimento das


jovens gerações, nem tão pouco a existência da sociedade em geral.

 Carácter de fenómeno consciente, deliberado e intencional – A educação é


um processo social de influências sobre a geração imatura. O homem é a única

pessoa que deve ser educada, é a racionalidade da sua inteligência que


confere ao homem o poder de instruir-se, e educar-se e de aperfeiçoar-se. A

actividade humana é uma actividade inteligente e selectiva.


Não consiste numa reacção cega e inconsciente a estímulos externos, mas num

processo consciente, lúcido e criador. Mesmo quando se realiza através do ensaio e


do erro ou pela simples imitação, implica sempre discernimento e compreensão

daquilo que se aprende. Os hábitos, as atitudes e os conhecimentos somente são

“aprendidos” e não apenas “fixados”, quando adquiridos conscientemente e com


intelecção. Por isso, a educação, no sentido restrito, é considerada como uma

actividade voluntária e intencional, visando formar personalidades aptas para


promoverem o próprio aperfeiçoamento e o do meio social em que vivem.

 Carácter teológico – è outro aspecto que se vem juntar as


características que a educação foi e vai adquirindo ao longo dos temos,

enquanto o homem existir.


Consiste na influência da religião na organização, orientação e definição da educação

no que concerne aos objectivos e conteúdo, principalmente. Quer dizer que a religião
passa a ter o monopólio da educação numa determinada sociedade e todo processo

educativo tem em conta os ideais religiosos. Ao contrário, o carácter define-se como


laico.

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