Educação Geografica Eja
Educação Geografica Eja
Educação Geografica Eja
by RFB Editora.
Copyright © 2021 do texto.
by Autores.
Todos os direitos reservados.
Todo o conteúdo apresentado neste livro, inclusive correção orto-
gráfica e gramatical, é de responsabilidade do(s) autor(es).
Obra sob o selo Creative Commons-Atribuição 4.0 Internacional.
Esta licença permite que outros distribuam, remixem, adaptem e
criem a partir do trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que
lhe atribuam o devido crédito pela criação original.
Conselho Editorial:
Prof. Dr. Ednilson Sergio Ramalho de Prof.ª Drª. Neuma Teixeira dos Santos -
Souza - UFOPA (Editor-Chefe). UFRA.
Prof.ª Drª. Roberta Modesto Braga - Prof.ª Me. Antônia Edna Silva dos San-
UFPA. tos - UEPA.
Prof. Dr. Laecio Nobre de Macedo - Prof. Dr. Carlos Erick Brito de Sousa -
UFMA. UFMA.
Prof. Dr. Rodolfo Maduro Almeida - Prof. Dr. Orlando José de Almeida Filho
UFOPA. - UFSJ.
Prof.ª Drª. Ana Angelica Mathias Mace- Prof.ª Drª. Isabella Macário Ferro Caval-
do - IFMA. canti - UFPE.
Prof. Me. Francisco Robson Alves da Prof. Dr. Saulo Cerqueira de Aguiar
Silva - IFPA. Soares - UFPI.
Prof.ª Drª. Elizabeth Gomes Souza - Prof.ª Drª. Welma Emidio da Silva - FIS.
UFPA.
Diagramação: Bibliotecária:
Pryscila Rosy Borges de Souza Janaina Karina Alves Trigo Ramos
Imagem e design da capa: Assistente editorial:
Organizadores Manoel Souza.
Revisão de texto:
Os autores.
Volume 2
Edição 1
Belém-PA
2021
https://doi.org/10.46898/rfb.9786558890805
Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166
C747
Livro em PDF
232 p., il
ISBN: 978-65-5889-080-5
DOI: 10.46898/rfb.9786558890805
CDD 307.76
I. Geografia urbana
Nossa missão é a difusão do conhecimento gerado no âmbito acadêmico por meio da organização e
da publicação de livros digitais de fácil acesso, de baixo custo financeiro e de alta qualidade!
Nossa inspiração é acreditar que a ampla divulgação do conhecimento científico pode mudar para
melhor o mundo em que vivemos!
CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA
SOCIOESPACIAL PARA A EDUCAÇÃO
GEOGRÁFICA DE JOVENS E ADULTOS
TRABALHADORES: REFLEXÕES TEÓRICO-
METODOLÓGICAS
DOI: 10.46898/rfb.9786558890805.8
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Arroyo (2001, p. 11) chama a atenção dizendo que “a EJA é uma modalidade
que construiu sua própria especificidade como educação, com um olhar sobre os
educandos”. No Brasil, atualmente, a EJA é encarada como uma dívida social his-
tórica não reparada em relação àqueles que não tiveram acesso à educação escolar.
Nesse sentido, este artigo tem como objetivo refletir sobre a relação entre o en-
sino de Geografia e as práticas socioespaciais na EJA a partir da Pedagogia Históri-
co-Crítica (PHC). Segundo Saviani (2008), o ponto de partida do ensino na Pedago-
gia Histórico-Crítica não é o professor, como ocorria na educação tradicional, nem
é o aluno, como propôs a Escola Nova; o ponto de partida é algo comum a ambos: a
prática social. O trabalho pedagógico na PHC se inicia e finda na prática social, em
Capitulo 8
CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA SOCIOESPACIAL PARA A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA DE JOVENS E ADULTOS TRABA-
LHADORES: REFLEXÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS
CONEXÕES GEOGRÁFICAS 2: MÚLTIPLOS OLHARES
124
Ter compreensão e paciência com esse público é importante, visto que muitos
deles podem apresentar dificuldades de adaptação, de entendimento dos conteúdos
que serão lecionados, bem como de exercitar sua capacidade de opinar e expressar
suas dúvidas e sentimentos. É relevante a criação de espaços de diálogo para que
os alunos tenham a oportunidade de trocar experiências, falar, ouvir, pensar, e se
expressar de maneira geral.
A maioria das atividades aplicadas na EJA precisa ser coerente com as expe-
riências dos estudantes, isto é, vinculada à sua realidade, de modo que os alunos
consigam realizar e compreender a proposta. A ideia é que o ensino seja desenvol-
vido juntamente entre aluno e professor para que haja um resultado posterior no
processo de ensino-aprendizagem. Em muitos casos, os alunos da EJA têm um pro-
cesso diferenciado na aprendizagem, mais lento do que o aluno do ensino regular,
além da jornada de trabalho exaustiva. Logo, é importante que as potencialidades
dos discentes sejam destacadas.
Igualmente, por que não construir mapas mentais a partir das práticas socioes-
paciais dos educandos da EJA, para analisar e discutir os saberes das experiências e
problematizá-los? Essas atividades auxiliariam o aluno trabalhador a se compreen-
der como significativo na cidade. Essas experiências podem contribuir também
para o desenvolvimento de concepções individuais e coletivas do quanto o cidadão
é capaz de analisar e perceber a geografia escolar como prática da vida cotidiana.
toda sua riqueza analítica, tanto no que ela tem de conhecimentos referentes às
ciências da terra como no que ela tem de referência nas ciências sociais. E quanto
mais ela puder buscar a relação entre esses conhecimentos a fim de que se possa
compreender os processos que organizam o espaço e o estruturam em território
mais ela pode se aproximar de uma perspectiva holística. Ressaltamos aqui com
veemência nossa recusa em aceitar uma geografia empobrecida e mutilada para
a EJA; ao contrário, tomamos como princípio uma educação geográfica inteiriça
e desafiadora em seu propósito educativo. (SANTOS, 2008, p. 314).
É importante trazer para a sala de aula atividades que farão com que os alu-
nos se sintam desafiados dentro da disciplina de Geografia, como por exemplo, a
interpretação de tabelas, mapas, gráficos e as comparações entre paisagens. Tudo
isso representa uma forma de auxiliar os educandos no desenvolvimento do pensa-
mento crítico e cognitivo.
Desse modo, Arroyo (2011) propõe que os jovens e adultos sejam vistos mais
do que apenas como alunos ou ex-alunos, com trajetórias escolares truncadas, mas
sejam considerados como jovens e adultos em suas trajetórias humanas, com per-
cursos sociais que revelam as dificuldades no seu reconhecimento enquanto sujeitos
de direitos. Oliveira (1999) ressalta as características desses sujeitos, que nos ajudam
a compreender quem são esses sujeitos:
O adulto, no âmbito da educação de jovens e adultos, não é o estudante univer-
sitário, o profissional qualificado que frequenta cursos de formação continuada
ou de especialização, ou a pessoa adulta interessada em aperfeiçoar seus conhe-
cimentos em áreas como artes, línguas estrangeiras ou música, por exemplo. Ele
é geralmente o migrante que chega às grandes metrópoles proveniente de áreas
rurais empobrecidas, filho de trabalhadores rurais não qualificados e com baixo
nível de instrução escolar (muito frequentemente analfabetos), ele próprio com
uma passagem curta e não sistemática pela escola e trabalhando em ocupações
urbanas não qualificadas, após experiência no trabalho rural na infância e na
adolescência, que busca a escola tardiamente para alfabetizar-se ou cursar algu-
mas séries do ensino supletivo. (OLIVEIRA, 1999, p. 59).
Para Freire, as pessoas são sujeitos da história e só fazendo parte é que a edu-
cação terá sentido para esses sujeitos.
A educação tem sentido porque mulheres e homens aprenderam que é apren-
dendo que se fazem e refazem, porque mulheres e homens se puderam assumir
como seres capazes de saber, de saber que sabem, de saber que não sabem. De
saber melhor o que já sabem, de saber que não sabem. A educação tem sentido
porque, para serem, mulheres e homens precisam de estar sendo (FREIRE, 2000,
p. 40).
Capitulo 8
CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA SOCIOESPACIAL PARA A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA DE JOVENS E ADULTOS TRABA-
LHADORES: REFLEXÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS
CONEXÕES GEOGRÁFICAS 2: MÚLTIPLOS OLHARES
128
A década de 1990 foi bastante relevante para o contexto das políticas neolibe-
rais, da questão desenvolvimentista, da modernidade, tendo a prioridade de prepa-
rar o jovem para o mundo do trabalho. No contexto atual, ainda é visível que muitos
educadores permanecem com a visão da Educação Bancária, a qual o professor é o
detentor do conhecimento e o estudante é apenas aquele que aprende. Em outras
palavras, a Educação Bancária seria o conhecimento do poderoso, que se baseia
numa ideologia de opressão e alienação. Para Freire,
Na visão ’bancária’ da educação, o ’saber’ é uma doação dos que se julgam sá-
bios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações
instrumentais da ideologia da opressão – a absolutilização da ignorância, que
se constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se
encontra sempre no outro. (FREIRE, 1968, p. 81).
Isso quer dizer que as práticas socioespaciais podem ser entendidas como as
trajetórias que os indivíduos fazem diariamente no seu cotidiano e as formas como
eles se organizam para sobreviver. A partir dessas práticas, o indivíduo adquire
experiências, consegue fazer comparações, experimentações, abstrações, pois as vi-
vências facilitam o entendimento do dia a dia do cidadão. Com a incorporação das
As ações das práticas socioespaciais são instrumentos que nos auxiliam a en-
tender a geograficidade do empírico, dos espaços, dos lugares e das cidades que po-
dem se tornar teoria se forem trabalhadas na sala de aula como forma de conhe-
cimento prévio, para atingir resultados futuros na transformação desses dados e
informações em conhecimento científico.
Capitulo 8
CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA SOCIOESPACIAL PARA A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA DE JOVENS E ADULTOS TRABA-
LHADORES: REFLEXÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS
CONEXÕES GEOGRÁFICAS 2: MÚLTIPLOS OLHARES
130
Acordar cedo para não “perder” o transporte público, que normalmente está
lotado e não apresenta conforto, trabalhar oito horas diárias, retornar para casa nas
mesmas condições anteriores, chegar à sua cidade, indo para casa ou mesmo para a
escola a fim de concluir os estudos; fazer sua alimentação na escola, mas especifica-
mente o jantar, e depois estar na sala de aula, faz com que o aluno tenha uma baga-
gem vasta, da vida, da cidade, dos espaços, mesmo que essa leitura não seja crítica.
Mediante isso, nota-se que a geografia faz parte do cotidiano, mesmo que os
indivíduos não consigam perceber, a partir da sua rotina com os fluxos, a circu-
lação, a paisagem, a mobilidade, o trabalho na indústria, no comércio, no campo,
entre outros. A geografia existe quando se observa o mapa da cidade ou se tem con-
tato com diferentes paisagens; quando se analisa os impactos sociais, ambientais e
econômicos de uma nova indústria, entre outros exemplos.
As práticas socioespaciais são também ações empíricas que podem estar con-
tidas nas aulas de geografia escolar, pois suas percepções, representações, identida-
des, interpretações são relevantes para o entendimento dos conceitos geográficos
que buscam trabalhar a espacialidade. Pensar as práticas socioespaciais é importan-
te para discutir os conceitos teóricos já ressaltados; é uma forma de abordar uma
dinâmica geográfica daquilo que os alunos vivenciam e que pode ou não ser per-
ceptível.
4 CONCLUSÃO
O educando tem direito sim a uma educação geográfica que possibilite com-
preender o mundo que o cerca de forma mais reflexiva, construindo suas próprias
análises, dialogando com questões conflituosas que estão presentes no espaço geo-
gráfico e promovendo, assim, a luta pelos direitos sociais a partir das práticas so-
cioespaciais. É conhecer o mundo e se reconhecer enquanto cidadão.
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel. A Educação de Jovens e Adultos em tempos de exclusão. Alfa-
betização e Cidadania. São Paulo: Rede de Apoio à Ação Alfabetizadora do Brasil
(RAAAB), n.11, abril 2001. p. 09-20
COUTO, Marcos Antônio Campos. A geografia como ciência das práticas e dos sa-
beres espaciais - por um novo modelo clássico de organização curricular. Revista
Tamoios, São Gonçalo, v. 13, n. 2, p. 5-25, 2017.
DI PIERRO, Maria Clara. Notas sobre a redefinição da identidade e das políticas pú-
blicas de educação de jovens e adultos no Brasil. Educação e Sociedade, Campinas,
v. 26, n. 92, p. 1115-1139, 2005.
MOREIRA, Ruy. Uma ciência das práticas e saberes espaciais. Revista Tamoios,
São Gonçalo, v. 13, n. 2, p. 26-43, 2017.
PAIVA, Vanilda. Educação popular e educação de adultos. 4. ed. São Paulo: Loyo-
la, 1983.
SANTOS, Enio José Serra dos. Educação geográfica de jovens e adultos trabalhado-
res: concepções, políticas e proposta curriculares. 2008. Tese (Doutorado em Educa-
ção) – Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal Fluminen-
se, Niterói, 2008.
Capitulo 8
CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA SOCIOESPACIAL PARA A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA DE JOVENS E ADULTOS TRABA-
LHADORES: REFLEXÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS