Desenvolvimento Sustentável Aula 03

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Responsabilidade

Socioambiental como
Estratégia de Gestão
Bruno Fonseca da Silva
Camila Bolfarini Bento
Responsabilidade
Socioambiental como
Estratégia de Gestão

Objetivos da Aprendizagem
Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de:

• Contextualizar as ações de gestão ambiental empresarial;


• Explicar sobre as estratégias de gestão ambiental nas empresas;
• Apresentar as principais ferramentas de análise de desempenho ambiental
das empresas;
• Abordar a importância da divulgação das ações de sustentabilidade.

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Responsabilidade Socioambiental como Estratégia
de Gestão
No mundo globalizado, as empresas têm se mostrado responsáveis pelo
direcionamento da economia dos países ou de conjuntos de países. Entretanto, por
muitos anos, o setor empresarial viveu uma realidade própria, em geral, desvinculada
das questões sociais e ecológicas. Os modelos de produção não estavam em sintonia
com as necessidades sociais e ambientais.

No passado, uma das maiores dificuldades para que as empresas adotassem a gestão
ambiental se baseava em uma ideia distorcida de que o investimento em meio ambiente
não atraía lucros, fazendo com que os custos fossem repassados aos consumidores,
resultando no aumento dos preços (COMINI et al., 2013). Em um contexto de intensas
discussões sobre moral, ética e justiça, diversos paradigmas vêm sendo quebrados.
Se a situação vem mudando, os resultados positivos podem ser entendidos, em grande
parte, como consequência da intensa atuação das políticas sociais e ambientais
formuladas a partir de dados científicos e apoiadas pela população.

A aderência aos pressupostos das ações de responsabilidade socioambiental também


resulta da percepção de que, ao investir no compromisso voluntário de um futuro
sustentável, está-se agindo coerentemente com o mercado que migra em direção ao
desenvolvimento sustentável e ao contínuo aumento de sua rentabilidade.

Atualmente, sabe-se que as empresas que adotam práticas de responsabilidade


socioambiental possuem benefícios como: redução dos custos, valorização da marca,
transparência nas atividades, mais fidelização de clientes, melhor comunicação
externa, melhor desempenho dos processos e dos empregados.

A responsabilidade socioambiental empresarial se refere às ferramentas de gestão que


analisam o cumprimento dos temas e que conduzem a empresa ao desenvolvimento
sustentável. Empresas comprometidas com essa questão atendem a itens como:

• Transformação em desempenho positivo das leis, regulamentos e normas de


adesão voluntária às quais está sujeita;
• Conhecimento e promoção voluntária e proativa de ações de desenvolvimento
sustentável regional, nacional e internacional;
• Possíveis danos ao meio ambiente e os impactos sociais causados por seus
produtos, processos e instalações são previamente identificados;
• Conhecimento antecipado de treinamentos e planos de evacuação em casos
de emergência ambiental;

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• Conhecimento dos métodos de resposta em casos de prevenção ou mitigação
dos impactos adversos;
• Ciência, por parte da população local, do segmento da empresa e dos impactos,
positivos e negativos, decorrentes da sua atuação na região;
• Acessibilidade aos produtos e instalações.

Ações de Gestão Interna

As ações de responsabilidade social internas se relacionam aos investimentos


em capital humano, saúde, segurança e reestruturação responsável, enquanto
as ações de responsabilidade ambiental estão relacionadas à gestão dos
recursos naturais utilizados nos processos produtivos com foco no uso
consciente e de baixo impacto no planeta. Quando adotam esses aspectos, dá-
se início à gestão de mudança que equilibra a competitividade, a lucratividade e
o desenvolvimento sustentável.

O investimento em capital humano tem seus fundamentos na valorização do


profissional, proporcionando maior qualidade de vida. Ações, que vão do recrutamento
à aprendizagem ao longo da vida e à participação nos lucros, formalizam o conceito
do empregado como um colaborador. As ações de investimento em capital humano
são:

• Proibição de práticas discriminatórias;


• Equilíbrio entre vida profissional, familiar e tempo livre;
• Igualdade de contratação, remuneração e de carreira para as mulheres;
• Regime de participação nos lucros e no capital;
• Recrutamento responsável;
• Contratação de pessoas oriundas de minorias étnicas, idosos e desempregados
de longo prazo;
• Estabelecimento de parcerias para implementação de programas de formação
focada na melhoria do desempenho profissional.

Os investimentos em saúde e em segurança do trabalho existem como uma obrigação


prevista em lei. Como resultante dos movimentos socioambientais atuais, questões
relacionadas à prevenção dos riscos à saúde e segurança passaram a ser de adesão
voluntária, mais como um compromisso do que uma obrigação da empresa. Foram
criados sistemas de gestão focados em práticas para o aprimoramento da saúde e

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segurança dos funcionários com certificados internacionais que valorizam a marca
diante do mercado consumidor.

As ações de reestruturação fazem parte dos processos de adaptação das empresas


ao aprimoramento tecnológico, e resultam em redução de despesas, aumento
de produtividade e melhora da qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos
clientes. Nas últimas décadas, por não considerarem as questões de responsabilidade
social e ambiental, ações de reestruturação resultaram em demissões em massa,
encerramento da atividade de unidades fabris e desmotivação dos funcionários. Na
atualidade, sabe-se que a reestruturação consciente deve:

• Elencar os interesses de todas as partes interessadas;


• Informar e consultar as partes sobre a reestruturação;
• Considerar o aperfeiçoamento do perfil profissional diante da reestruturação;
• Identificar previamente possíveis riscos para a empresa e para os funcionários;
• Salvaguardar e considerar os direitos dos trabalhadores;
• Prever os custos diretos e indiretos;
• Buscar estratégias e políticas alternativas que diminuam as demissões.

A gestão do impacto ambiental e do uso dos recursos naturais é essencial para


garantir o desenvolvimento sustentável. Além de ser lei, em muitos casos, deve ser
visto como um compromisso com a sociedade atual e futura. A adoção de uma cultura
organizacional, com ações de responsabilidade socioambiental, tem se demonstrado
repetidamente vantajosa no sentido de reduzir despesas energéticas e custos de
matéria-prima. Algumas empresas têm adotado ações como:

• Redução do uso de fontes não renováveis de energia;


• Inclusão de fontes de energia-limpa;
• Redução do consumo de água e energia elétrica;
• Utilização de materiais biodegradáveis em componentes e embalagens.

Ações de Gestão Externa

É importante considerar que as empresas não são ambientes isolados que trabalham
somente diante dos posicionamentos de acionistas e empregados, pelo contrário,
dependem de agentes externos, como fornecedores, parceiros comerciais, autoridades
públicas e clientes. Entende-se também como fator de influência externa o respeito
aos direitos humanos e às preocupações com o meio ambiente. Nesse contexto,
para promover a acumulação do capital social, as práticas de responsabilidade

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socioambiental devem abranger todas essas esferas, incluindo as peculiaridades da
região e da comunidade local. Além disso, as multinacionais, os mercados globais e
os perfis globalizados de consumo também devem ser levados em consideração.

As empresas dependem muito do nível de desenvolvimento do local, da salubridade


e da estabilidade das comunidades locais em que estão inseridas, bem como da
opinião da população sobre sua reputação, pois refletem direta e indiretamente em
sua competitividade e desempenho no mercado. A atuação de uma empresa pode
mudar o perfil de uma região:

• Recrutando pessoas excluídas socialmente;


• Por meio de ações de melhoria da qualidade de vida, como por exemplo,
financiando/patrocinando a formação de espaços de lazer comunitários;
• Disponibilizando estruturas de cuidado à infância para filhos de trabalhadores;
• Patrocinando eventos culturais e desportivos por meio de parcerias;
• Por meio de ações de caridade a grupos de vulneráveis.

Figura 1 – Ações de gestão

As relações empresariais definem a complexidade dos processos e os custos, podendo,


muitas vezes, definir a agilidade da entrega e a qualidade de produtos e serviços.
Além disso, os clientes estão cada vez mais interados sobre a cadeia produtiva dos

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produtos que consomem, sendo as relações empresariais questões que determinam
a escolha pela compra ou não do produto. Assim, a escolha de parceiros comerciais
e fornecedores deve considerar o desempenho e a reputação social e ambiental das
empresas com as quais se mantém relações.

Outra relação empresarial que pode refletir em ações de responsabilidade


socioambiental está baseada no modo com que as grandes empresas se relacionam
com as pequenas. Seja como fornecedora de matéria-prima, componentes ou
terceirizando uma parte de sua produção, pequenas empresas sempre devem estar
envolvidas em grandes negócios. O incentivo a pequenas empresas ou startups
inovadoras e sustentáveis, por participações minoritárias ou preferência nas relações
comerciais, são modos de exercer a responsabilidade socioambiental dentro de sua
área de atuação pela promoção do espírito empresarial compromissado.

Como parte da responsabilidade socioambiental empresarial, as empresas devem


procurar fornecer, de modo ético, eficiente e ecológico, produtos e serviços que os
seus clientes buscam. Vale ressaltar que a obtenção de lucros mais elevados é uma
consequência da construção de relações duradouras entre empresas e seus clientes.
É importante abordar a dimensão dos direitos humanos, uma vez que elenca fatores
políticos, jurídicos e morais que regulam o bom desempenho de uma empresa.
Os códigos de conduta impõem o cumprimento dos direitos humanos que devem
ser executados de acordo com normas e padrões cuidadosamente elaborados. A
verificação de conduta em relação ao cumprimento dos aspectos legais e sociais
dos direitos humanos deve ser feita pelas autoridades públicas, pelos sindicatos e
pelas organizações não governamentais (ONGs). Naturalmente, o equilíbrio entre os
agentes de verificação e o cumprimento integral dos aspectos legais e sociais internos
e externos pode aumentar a rentabilidade das empresas.

Reflita
Em 2011, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas
(CDH) aprovou o documento Princípios Orientadores sobre
Empresas e Direitos Humanos, que é estruturado em três pilares:
proteger, respeitar e reparar. Para saber mais, acesse o site do
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, disponível
no link.

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No Brasil, tem-se o Programa Nacional dos Direitos Humanos instituído pelo Decreto
n° 7.037, de 21 de dezembro de 2009, e atualizado pelo Decreto n° 7.177, de 12
de maio de 2010, que abrange os direitos humanos e as responsabilidades das
empresas e deve ser utilizado como base para a definição dos parâmetros de atuação
empresarial. A economia se refere aos recursos disponíveis e à sua disponibilidade
e administração em escala regional ou global. É preciso ter a consciência de que a
solução para a crise ambiental e social depende de um modelo de desenvolvimento
econômico comprometido com a manutenção de relações harmônicas com o meio
ambiente, garantindo sua conservação e refletindo em uma economia positiva. Logo,
considerando o poder das empresas no desempenho econômico dos países, quanto
maior o seu comprometimento com o meio ambiente, menores devem ser os riscos
ambientais.

Paradigma Econômico, Social e Ambiental

As instituições públicas zelam pelo que é de interesse coletivo da população por meio
de normas, valores e regras. As instituições particulares possuem caráter privado
uma vez que guardam os interesses individuais.

Apesar das distinções entre instituições públicas e privadas, o meio ambiente, pelo
fornecimento de recursos, e a sociedade, por meio da sua força de trabalho, além de
estarem intimamente relacionados e possuírem caráter público, são as bases para
a existência empresarial. Assim, pode-se dizer que as empresas se colocam como
instituições públicas com função social, pois lidam subjetiva e materialmente com a
sociedade e com o meio ambiente, que são de extrema importância para a humanidade
e pauta internacional.

Consequentemente, espera-se que as empresas possuam uma postura


compromissada, que deve se espelhar nas questões econômicas, sociais e ambientais.
Desse modo, devem exercer suas atividades com base nas três dimensões da
sustentabilidade para que trabalhem em equilíbrio com as questões econômicas,
sociais e ambientais.

Por muitos anos, na economia capitalista, a obtenção de lucro se mostrou um


dos principais meios para se estimar o sucesso empresarial. Decorre disso o fato
de que, muitas vezes, as empresas se esquecem da ética e agem a partir de atos
oportunistas. Os países se diferem quanto às leis sociais e ambientais que possuem,
geralmente, refletindo seu grau de desenvolvimento. Um país em desenvolvimento
pode se tornar menos atrativo para a permanência de empresas devido às leis sociais,
fiscais ou ambientais que venham a promulgar. Diversas vezes é possível constatar

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que agir de acordo com o que as leis preconizam pode não ser suficiente para atender
às expectativas da sociedade em relação às empresas. As relações entre países e
instituições públicas e privadas devem ser fortalecidas para garantir a transparência
das atividades empresariais.

Diversas são as partes interessadas (stakeholders) que afetam e são afetadas,


influenciam e são influenciadas pelas empresas e que, muitas vezes, possuem
interesses conflitantes entre si e em relação à empresa (Diagrama 1). É importante
entender que buscar o melhor para si não resulta em atingir o melhor para todos,
então, as partes interessadas devem atuar de modo que se equilibrem, considerando
os três pilares da sustentabilidade.

Diagrama 1 – Partes interessadas (stakeholders) que afetam o desempenho de uma empresa


Fonte: Adaptado de Barbieri; Cajazeira (2016, p. 22).

Atualmente, sabe-se a importância do desenvolvimento sustentável para garantir


melhor qualidade de vida para a população e um futuro sustentável para as gerações
seguintes. A atuação empresarial, nesse contexto, deve agir ativamente e em
articulação com projetos que evitem a crise social e ética de paradigmas econômicos,
sociais e ambientais.

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Empresa Sustentável

Segundo Carroll (1979), a responsabilidade social das empresas compreende as


expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade tem em
relação às organizações em um determinado período. Uma empresa responsável
socioambientalmente deve ter como objetivo o desenvolvimento sustentável e,
por meio dele, exercer, em suas relações internas e externas, o cumprimento das
questões legais e o posicionamento ético de modo integrado, considerando todas as
expectativas das partes interessadas.

Sempre haverá dificuldades para implantar as práticas de responsabilidade


socioambiental, já que envolvem uma diversidade de questões que se traduzem
em direitos, obrigações e expectativas de diferentes públicos, internos e externos à
empresa (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016).

Todavia, no Brasil, a Constituição Federal definiu que as empresas devem observar os


seguintes princípios:

• Soberania nacional;
• Propriedade privada;
• Função social da propriedade;
• Livre concorrência;
• Defesa do consumidor;
• Defesa do meio ambiente;
• Redução das desigualdades regionais e sociais;
• Busca do pleno emprego;
• Tratamento favorecido para empresas de pequeno porte que tenham sua sede
e administração no País.

Desse modo, a Constituição Federal brasileira traz à tona a ideia de desenvolvimento


sustentável, colocando-o como uma das razões para a limitação da atuação de uma
empresa quando ameaça o uso racional dos recursos.

Empresas sustentáveis não esperam que leis ambientais sejam elaboradas pelos
países, e sim pensam globalmente e agem localmente, adotando as três dimensões da
sustentabilidade em suas atividades (Diagrama 2). Essas três dimensões abrangem
a sustentabilidade econômica, social e ambiental, mas também abarca questões de:

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Sustentabilidade espacial

Referente a uma configuração rural-urbana equilibrada, que avalia soluções


para os assentamentos humanos.

Sustentabilidade cultural

Referente ao respeito pela pluralidade apropriada à cultura local.

Sustentabilidade política

Ressalta a necessidade de processos democráticos consolidados.

Sustentabilidade institucional

Relacionada à atividade pública e às suas relações com outras instâncias da


sociedade.

Social

SUSTENTABILIDADE

Ambiental Econômica

Diagrama 2 – Tripé da sustentabilidade


Fonte: Adaptado de Berlato; Merino; Figueiredo (2018, p. 4).

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Modelos de Gestão Ambiental

O triple bottom line (resultado triplo) é um modelo de gestão empresarial criado a


partir das dimensões da sustentabilidade, e possui como pressuposto básico que a
responsabilidade social das empresas deve contribuir para a superação das crises
socioambientais.

Esse modelo propõe uma abordagem em que todas as formas de capital sejam
favorecidas ao longo do tempo por meio de uma gestão econômica, social e ambiental
responsável.

No modelo tradicional, as empresas obtêm aumento de valor de mercado com


geração de lucro líquido e consequente aumento da riqueza dos acionistas. Na esfera
econômica do tripé da sustentabilidade, as empresas também obtêm desempenho
financeiro positivo, mas consideram os custos sociais e ambientais envolvidos
em seus processos. Na esfera social, o capital social que estão construindo deve
ser considerado e seu conhecimento vislumbrado como fator de competitividade.
Na esfera ambiental, o diferencial desse modelo está na obtenção de lucro líquido
ambiental por meio da adoção do conceito de capital natural baseado no modo como
a empresa lida com a manutenção dos recursos naturais e os serviços ambientais.

A partir do modelo triple bottom line, desenvolveram-se os 3 Ps – profit, people e planet


(lucro, pessoas e planeta), cuja aplicação está restrita às empresas, à medida que
se associa a dimensão econômica ao lucro, conforme ilustra a Figura 2 (BARBIERI;
CAJAZEIRA, 2016).

Figura 2 – O modelo 3 Ps
Fonte: Adaptado de Barbieri; Cajazeira (2016, p. 61).

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Gestão e as Políticas Socioambientais

Vale ressaltar que o processo de globalização e a economia baseada no consumismo


e descarte rápido de produtos têm aquecido os mercados globais, entretanto, não
caminham em sincronia com as questões ambientais. Cientes dos danos, provavelmente
irreversíveis, os consumidores e as organizações não governamentais têm cobrado
uma postura ética das empresas, exercendo diversas ações socioambientais. As
empresas têm o compromisso de considerar as questões relativas à sustentabilidade
regional e global propostas pelas partes que as compõem para, então, buscar soluções
cabíveis. Nesse contexto, a intervenção governamental como agente regulamentador
das ações do setor privado na construção de ações socioambientais é indispensável.
Partindo desse pressuposto, as políticas públicas socioambientais atuam no sentido
de dar legitimidade e efetividade às questões ambientais, fornecendo orientação,
auxiliando no planejamento e realizando o monitoramento das ações e atividades
desenvolvidas.

Segundo Appio (2005), as políticas públicas podem ser definidas como os instrumentos
de execução de programas políticos baseados na intervenção estatal na sociedade
com a finalidade de garantir a igualdade de oportunidade entre os cidadãos, tendo
por escopo assegurar as condições materiais de uma existência digna a todos. Essas
políticas são promovidas por meio da criação de planos e programas elaborados
pelo Estado, mas com a participação das esferas públicas e privadas para garantir
um processo totalmente democrático. Os planos determinam prioridades, objetivos
e períodos para execução, já os programas são compostos por ações e atividades
para o estabelecimento de questões de interesse público. As atividades têm papel de
instaurar as ações, ou seja, torná-las reais e efetivas.

Reflita
Quando falamos em meio ambiente, o foco dos planos e/ou
programas estatais é a contenção da crise ambiental. Como
exemplo, pode-se citar o Plano de Ação para Produção e Consumo
Sustentáveis (PPCS). Trata-se de um documento base das ações
de governo, do setor produtivo e da sociedade que direcionam o

A atuação nacional se fortaleceu, em 1981, com a criação do Programa Nacional


do Meio Ambiente (PNMA) e do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).

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O SISNAMA é a estrutura adotada para a gestão ambiental no Brasil, em que o meio
ambiente é caracterizado como patrimônio público da humanidade, devendo ser
protegido por e para todos, considerando os cidadãos de hoje e as gerações futuras.
O SISNAMA tem como órgão consultivo e deliberativo o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) e é representado pelos órgãos municipais, estaduais e federais,
pela sociedade civil e pelo setor empresarial. O CONAMA, por meio de suas resoluções,
define critérios, estabelece procedimentos e parâmetros técnicos, altera resoluções
antigas e têm diversos modos de atuação na área ambiental. Inclui também os Estudos
de Impactos Ambientais (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) que foram
incluídos pela PNMA como instrumentos de política ambiental e são obrigatórios e
prévios a qualquer projeto que venha a causar impactos no meio ambiente.

O EIA é um estudo meramente técnico, elaborado de modo imparcial, de avaliação das


consequências e danos ambientais para determinado projeto (industrial, residencial,
comercial etc.) e aponta quais procedimentos devem ser utilizados para que o projeto
seja executado em harmonia com o meio ambiente. Trata-se de um documento
extremamente importante para o desenvolvimento sustentável, pois auxilia na
prevenção e mitigação dos impactos negativos ao meio ambiente.

O RIMA é um relatório técnico conclusivo de impacto ambiental do EIA que contém os


levantamentos e as conclusões pelo qual o órgão público designado deve analisar e
conceder ou não a licença ao projeto a ser executado.

As resoluções do CONAMA fornecem as diretrizes gerais para a elaboração do EIA


e do RIMA, bem como as atividades técnicas mínimas que precisam ser cumpridas
em relação ao diagnóstico, previsão, análise, acompanhamento e monitoramento
ambiental do local de estudo.

Princípios, Códigos e Regulamentos das Políticas Socioambientais


Empresariais

A difusão da responsabilidade socioambiental empresarial ocorre pela adoção


de instrumentos norteadores e por um conjunto de códigos e normas elaborados,
levando em consideração os aspectos estratégicos da empresa. Esses instrumentos
e normas devem ser implementados desde o início da organização para que resultem
em desempenho positivo. A elaboração ou reformulação de aspectos estratégicos,
como a definição da visão, valores e missão devem ser baseados em instrumentos
norteadores mundialmente conhecidos, tais como:

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• Direitos Humanos;
• Agenda 21;
• Protocolo de Quioto;
• Declaração sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento;
• Carta da Terra;
• Pacto Global;
• Agenda 2030;
• Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Os códigos e regulamentos são instrumentos socioambientais empresariais


que devem ser construídos considerando os aspectos estratégicos políticos, os
aspectos relacionados aos recursos e os perfis liderança. Os códigos e normas
fornecem recomendações para ações focadas, como as convenções da Organização
Internacional do Trabalho, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico e o combate à corrupção.

As convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) fornecem códigos e


normas considerando a estrutura tripartite que envolve empregadores, empregados
e governos. As convenções e recomendações da OIT são voltadas para as relações
de trabalho de qualquer organização, inclusive estatais (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016)
(Quadro 1).

Ano de ratificação
Número Convenção
no Brasil

Sobre indenização por acidente do trabalho na


12 1957
agricultura.

26 Sobre os métodos de fixação de salário mínimo.


1957

Sobre inspeção do trabalho na indústria e no


81 1989
comércio.

105 1965 Sobre abolição do trabalho forçado.

Sobre igualdade de tratamento entre nacionais e


118 1962
estrangeiros em previdência social.

132 1997 Sobre férias remuneradas.

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138 2001 Sobre idade mínima para admissão.

148 1988 Sobre contaminação do ar, ruído e vibrações.

155 1992 Sobre segurança e saúde dos trabalhadores.

Sobre reabilitação profissional e emprego de


159 1990
pessoas deficientes.

169 1989 Sobre povos indígenas e aldeados.

Sobre proibição das piores formas de trabalho


182 2000
infantil e ação imediata para sua eliminação.

Convenção e recomendação sobre trabalho


189 2018 decente para as trabalhadoras e os trabalhadores
domésticos.

Quadro 1 – Principais convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Curiosidade
A Organização Internacional do Trabalho possui convenções
ratificadas no Brasil desde 1934. Algumas convenções ratificadas
não estão mais em vigor por terem sido alteradas, revistas ou
denunciadas. Você pode consultar todas elas e conhecer um pouco
mais sobre a OIT acessando o site da organização, disponível no

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) possui


diretrizes para grandes empresas que compõem um código de conduta sobre diversas
questões empresariais nas áreas sociais, econômicas e ambientais. Entre as diretrizes
básicas mais importantes, pode-se destacar as que abordam:

• As relações de emprego;
• As publicações de informações;
• Os cuidados com o meio ambiente;
• O combate à corrupção;
• O atendimento aos interesses dos consumidores;

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• O desenvolvimento científico e tecnológico;
• As boas práticas de governança corporativa;
• As boas práticas de concorrência.

O combate à corrupção está associado a atos ética e moralmente condenáveis,


praticados, principalmente, por quem ocupa posições de destaque nas relações
hierárquicas de instituições públicas e privadas. A corrupção praticada pelas instituições
é um tema atual e contrário às práticas de responsabilidade socioambientais, que
pode resultar em danos ambientais e impactos sociais irreversíveis. São exemplos de
práticas de corrupção:

• Coagir física ou moralmente para a prática de ações ilegais ou eticamente


contrárias aos ideais do coagido;
• Lavagem de dinheiro;
• Suborno de agentes fiscalizadores;
• Fraudar laudos ou perícias técnicas;
• Burlar leis praticando obstrução à justiça ou conluios entre empresas.

Figura 3 – Combate à corrupção

Deve-se considerar também os aspectos operacionais que causam impactos


econômicos, ambientais e sociais. Considerando a formação ou a reestruturação de
uma empresa, esses aspectos devem ser construídos por meio de procedimentos

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operacionais padrão (POPs) de uma cultura organizacional com processos bem
definidos, por normas ISO e relatórios de desempenho que considerem as ações de
responsabilidade socioambiental.

Indicadores, Certificações, Tecnologias e


Instrumentos de Gestão
A sobrevivência e o sucesso de uma organização estão diretamente relacionados à
sua capacidade de atender às necessidades e expectativas dos proprietários, dos
clientes e da sociedade.

De acordo com a ABNT (2012), uma vez que as decisões e atividades têm impacto
ambiental, ações entre organizações públicas ou privadas e o meio ambiente devem
atuar no sentido de reduzi-los, sendo conveniente que a organização adote uma
abordagem integrada que considere as implicações econômicas, sociais, na saúde e
no meio ambiente de suas decisões e atividades, direta e indiretamente.

Muito se tem trabalhado ao longo das últimas décadas para garantir que as práticas de
responsabilidade socioambiental sejam exercidas pelas empresas e para que estejam
alinhadas ao conceito de desenvolvimento sustentável.

As práticas de responsabilidade socioambiental reestruturam a cultura organizacional


das empresas, influenciando as diversas instâncias da gestão empresarial, tais como:
a gestão financeira, o marketing, a produção, a gestão de pessoas, a logística e o
desenvolvimento de produtos.

Desse modo, é importante entender melhor os indicadores, certificações, tecnologias


e instrumentos de gestão que podem ser adotados pelas empresas em busca de um
desempenho ambiental eficiente.

Fontes de Orientação Estratégica

O ciclo PDCA (plan, do, check, act, ou seja, planejar, fazer, verificar e agir) busca a
melhoria contínua dos processos das organizações (Diagrama 3). Questões sobre
como adotar novos ou como fazer a melhoria de processos já existentes buscando
um melhor desempenho socioambiental podem ser resolvidas a partir dessa técnica.

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Diagrama 3 – Ciclo PDCA
Fonte: Adaptado de Patel; Deshpande (2017, p. 197).

Esse ciclo garante dois tipos de ações corretivas:

Ação corretiva temporária

Busca a resolução do problema já instaurado.

Ação corretiva permanente

Consiste na investigação e eliminação das causas e, portanto, visa a


sustentabilidade do processo.

A ideia do ciclo PDCA é realizar o planejamento, estabelecendo claramente os objetivos


e as metas para que as ações sejam programadas com embasamento. Além disso,
descreve os processos que envolvem o problema para entendê-lo e para identificar as
áreas para melhorias. Para isso, a utilização de fluxogramas e mapas dos processos
é importante. Muitas ferramentas estão disponíveis para coletar e interpretar dados,
como histogramas, gráficos de execução, de dispersão e de controle.

Compreendido o cenário atual, deve-se implementar o programa estabelecido,


promovendo a organização e o treinamento de funcionários e/ou parceiros. As

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soluções decididas devem ser implementadas individualmente. É importante que os
responsáveis se certifiquem de que todas as etapas foram totalmente compreendidas.

A fase de verificação é caracterizada por uma aprendizagem significativa. Há a


oportunidade de desenvolver planos atualizados, elevando o processo a novos
patamares, em vez de simplesmente consertar o que deu errado na fase anterior.
Se os resultados forem negativos, o trabalho de melhoria deve recomeçar na fase
de planejamento, pois, caso contrário, as soluções testadas passam para a fase de
ação. A verificação deve ser feita continuamente pelo monitoramento e elaboração de
relatórios que evidenciem com clareza os resultados alcançados.

A atuação deve promover a melhoria contínua. Uma vez que o ciclo atingiu essa
etapa, as soluções são preparadas para implementação final e, possivelmente, para
adoção por outros setores da organização. Nessa etapa, deve-se adotar normas e
certificações para reconhecimento nacional e internacional das melhorias realizadas,
e, para manter a melhoria, é preciso repetir o ciclo continuamente.

A Norma ISO 26000

A obtenção de certificados pelo atendimento de padrões técnicos sobre produtos,


processos produtivos, métodos e ensaios é um grande diferencial para as empresas.
Em alguns casos, a norma que fornece o certificado é tão importante que se torna
uma lei. Criada em 1947 e mais conhecida por sua sigla ISO, a principal organização
de normalização é a International Organization for Standardization.

O objetivo da ISO é desenvolver padrões e atividades para facilitar as trocas de bens


e serviços no mercado internacional e promover a cooperação entre os países nas
esferas científicas, tecnológicas e produtivas (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016). As
normas de gestão da ISO se aplicam a qualquer organização, pois não são normas
de conteúdo, mas de procedimentos que podem se adequar ao segmento da empresa
que a adota. Todas elas adotam o ciclo PDCA para melhoria contínua dos processos.
A certificação requer auditorias periódicas de avaliação.

A ISO possui normas adotadas mundialmente, entre as mais importantes estão as


séries ISO 9000, de gestão da qualidade, e a ISO 14000, sobre sistemas de gestão
ambiental.

A norma ISO 26000 foi desenvolvida para organizações que querem adotar um
sistema de gestão focado em responsabilidade social e desenvolvimento sustentável.
Por fazer uso de termos como “pode” ou “convém que” em seu texto, pode-se dizer

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que é uma norma-guia não certificável que busca, por meio de suas diretrizes, mais
fazer indicações e recomendações do que exigir ou tornar algo obrigatório.

A norma ISO 26000 aborda sete temas centrais voltados para a responsabilidade
social das organizações:

• Governança organizacional;
• Direitos humanos;
• Práticas de trabalho;
• Meio ambiente;
• Práticas leais de operação;
• Questões relativas aos consumidores;
• Envolvimento e desenvolvimento da comunidade.

Essa norma elenca princípios específicos associados ao meio ambiente, que discutem
quatro questões centrais definidas por uma descrição de expectativas relacionadas
ao desenvolvimento sustentável, sendo eles:

Princípio da responsabilidade ambiental

Além de cumprir leis vigentes, convém que a organização assuma a


responsabilidade pelos impactos ambientais causados por suas atividades
ao meio ambiente em geral; convém que não deixe de atuar em busca de
desempenho positivo, mas que, para isso, reconheça seus limites ecológicos.

Princípio da precaução

Onde houver ameaças de danos graves ou irreversíveis ao meio ambiente ou


à saúde humana, convém que não se utilize da falta de certeza científica para
postergar o uso de medidas eficazes que impeçam a degradação ambiental
ou danos à saúde humana em função dos custos. Convém que a organização
considere os custos e benefícios de longo prazo e não somente os custos de
curto prazo de uma medida.

21
Gestão de risco ambiental

Convém que programas sejam utilizados pelas organizações a partir de uma


perspectiva baseada em riscos e na sustentabilidade, para avaliar, evitar, reduzir
e mitigar riscos e impactos ambientais de suas atividades. Convém que sejam
elaboradas e aplicadas atividades de conscientização, além de procedimentos
de resposta a emergências, bem como meios de divulgar informações sobre
incidentes ambientais e para reduzir e mitigar impactos ambientais na saúde e
na segurança, causados por acidentes.

Poluidor pagador

De acordo com a extensão do impacto ambiental na sociedade, convém que


a organização arque com os custos da poluição causada por suas atividades
e providencie as ações corretivas, totalmente ou à medida que a poluição
se adeque aos níveis permitidos. O custo da poluição e a quantificação dos
benefícios econômicos e ambientais da prevenção devem ser internalizados
pelas organizações. Desse modo, as empresas devem considerar o emprego
da gestão ambiental seguindo abordagens estratégicas, como: ciclo de vida de
produtos, avaliação de impacto ambiental, produção mais limpa e ecoeficiência,
abordagem por sistemas de produto-serviço, uso de tecnologias e práticas
ambientalmente saudáveis, práticas de compras sustentáveis (priorizar
produtos ou serviços com impactos minimizados e fazer uso de sistemas de
rotulagem confiáveis) e aprendizagem e conscientização.

O Quadro 2 destaca as principais questões abordadas pela ISO 26000.

Questão Descrição

Convém identificar e reduzir emissões atmosféricas.

Convém identificar e reduzir descargas na água.

Convém fazer a gestão de resíduos.


Prevenção da
poluição Convém reduzir o uso e fazer descarte correto de produtos químicos
tóxicos e perigosos.

Convém identificar e reduzir poluições sonora, odorífera, visual,


luminosa, de vibração, de emissões eletromagnéticas, radioativa,
agentes infecciosos, emissões sem um ponto de partida definido e
perigos biológicos.

22
Convém promover a eficiência energética.

Convém promover a conservação, uso e acesso à água.


Uso sustentável de
recursos Convém promover a eficiência no uso de materiais.

Convém promover a minimização da exigência de recursos por parte


de um produto.

Convém medir, registrar e relatar suas emissões significativas de


GEE*.

Convém implementar medidas otimizadas para reduzir e minimizar as


emissões diretas e indiretas de GEE progressivamente.

Convém analisar a quantidade e o tipo de combustíveis usados dentro


da organização e implementar programas para melhorar a eficiência e
a eficácia.

Mitigação e Convém evitar ou reduzir emissões de GEE provenientes do manejo


do solo.
adaptação
às mudanças Convém praticar, sempre que possível, a economia de energia.
climáticas
Convém considerar se tornar “neutra em carbono”, implementando
medidas para compensar emissões de GEE.

Convém considerar projeções futuras para o clima global e local.

Convém identificar oportunidades para evitar ou minimizar os danos


associados às mudanças climáticas.

Convém implementar medidas para responder a impactos existentes


ou previstos.

Convém valorizar e proteger a biodiversidade.


Proteção do meio
ambiente e da Convém valorizar, proteger e restaurar os serviços de ecossistemas.

biodiversidade e
Convém promover o uso sustentável do solo e do recursos naturais.
restauração de
habitats naturais Convém estimular um desenvolvimento urbano e rural
ambientalmente favorável.

Quadro 2 – Questões centrais sobre o meio ambiente abordadas pela norma ISO 26000. *GEE: gases
do efeito estufa

Se a organização elaborou e mantém um sistema de gestão ambiental seguindo


os requisitos da norma ISO 14001, deve haver grandes chances dos princípios da
norma ISO 26000 terem sido atendidos, principalmente o princípio da gestão do risco

23
ambiental. A série ISO 14001 possui normas de gestão ambiental que permitem que
a empresa pratique ideias de mitigação dos possíveis danos ambientais decorrentes
de sua atividade, objetivando se tornar sustentável no curto e no longo prazo. A norma
ISO 14001 estabelece práticas de responsabilidade ambiental, como:

• Implementação de um sistema de gestão ambiental;


• Rotulagem ambiental;
• Análise de desempenho ambiental;
• Análise de ciclo de vida;
• Integração de aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de produtos;
• Comunicação ambiental;
• Mitigação das mudanças climáticas.

Indicadores e Índices de Sustentabilidade

Os indicadores e índices podem ser usados para avaliar o desempenho em relação


aos objetivos do desenvolvimento sustentável e compará-lo entre cidades, países,
blocos econômicos e organizações públicas e privadas; estimam se as instituições
estão crescendo econômica e ambientalmente de acordo com o objetivo proposto.

Os indicadores são compostos por parâmetros ou valores, analisados em grupos ou


isoladamente a partir de estratégias de gestão definidas antecipadamente. A partir
dos indicadores são avaliadas as condições do sistema de gestão e se a estratégia
adotada previamente está gerando resultados. Desse modo, são importantes por
informarem às partes interessadas sobre o desempenho positivo ou negativo em uma
determinada questão.

Nesse sentido, indicadores que avaliam os resultados das ações de responsabilidade


socioambiental empresarial capturam e antecipam tendências para informar os
tomadores de decisão, assim como orientam o desenvolvimento e o monitoramento de
políticas e estratégias. Os indicadores do desenvolvimento sustentável (indicadores
de sustentabilidade) informam se o desempenho da empresa está ocorrendo em
harmonia com o meio ambiente e têm papel importante no monitoramento, na avaliação
e na efetivação do desenvolvimento sustentável. Os indicadores de sustentabilidade
analisam se o impacto ambiental gerado por uma empresa permite que o planeta seja
resiliente.

24
Os indicadores ambientais devem ser:

Comparáveis

Devem permitir comparações e mostrar as mudanças ocorridas.

Equilibrados

Devem distinguir o mau e o bom desempenho.

Contínuos

Devem ser formulados a partir de critérios similares e considerar períodos


comparáveis.

Temporais

Devem ser revistos regularmente para permitir o uso de medidas atualizadas.

Claros

Devem ser de fácil compreensão.

Os indicadores de desenvolvimento sustentável do Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE) são exemplos importantes para mostrar o grau de desenvolvimento
sustentável no Brasil. O IBGE analisa indicadores de sustentabilidade considerando
as três dimensões da sustentabilidade, dos quais destacam-se:

• Concentrações de poluentes no ar e em áreas urbanas;


• Queimadas e incêndios florestais;
• População residente em áreas costeiras;
• Acesso a tratamento de esgoto;
• Espécies extintas ou em risco;
• Crescimento populacional;
• Mortalidade infantil;
• Consumo de energia per capita.

25
Saiba mais
No Brasil, a construção de indicadores de desenvolvimento
sustentável se integra ao conjunto de esforços para concretização
das ideias e princípios formulados na Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992.

É importante conhecer as diversas informações sobre como


estamos trabalhando rumo ao desenvolvimento sustentável. O

Para a formulação de indicadores de desenvolvimento sustentável empresarial, pode-


se citar os Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis, criados
pelo Instituto Ethos. A ferramenta elabora indicadores a partir de um questionário e tem
como foco avaliar o grau de incorporação da sustentabilidade e da responsabilidade
social aos negócios, auxiliando na definição de estratégias, políticas e processos.
Trata-se de uma ferramenta gratuita de aprendizagem, avaliação e monitoramento
das ações de responsabilidade socioambiental, estruturada em temas e subtemas
com um questionário agrupado em dimensões baseadas na norma ISO 26000.

Os indicadores são diferentes dos índices. Os índices são feitos da junção de um


conjunto de indicadores e são instrumentos de tomada de decisão e previsão, pois
permitem conhecer o endividamento e os riscos associados para os investimentos
e funcionam como um retrato das condições da empresa, refletindo sua saúde
econômica, social e ambiental.

Como exemplo, pode-se citar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), que é
uma ferramenta de análise comparativa do desempenho das ações de sustentabilidade
das empresas constantes nas listas da B3 (Brasil Bolsa Balcão) sob o aspecto da
sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental,
justiça social e governança corporativa. O ISE B3 está fundamentado na eficiência
econômica e na equidade ambiental, além de possuir transparência em seus processos,

26
uma vez que também possui fundamentos na governança coorporativa e na promoção
da justiça social. Atualmente, o ISE B3 se caracteriza como um norteador para os
fundos de investimento e valoriza as empresas de capital aberto ao lidar com uma
questão tão demandada pela sociedade atual.

Saiba mais
Entenda o que é, conheça sua missão, fundamentos, objetivos
estratégicos e a versão atual do Questionário ISE B3. Disponível

Muitas empresas prestadoras de serviços estratégicos fazem a análise dos índices


de sustentabilidade por meio de softwares de gestão de indicadores ambientais, por
plataformas de análise de vulnerabilidade e licenciamento ambiental, auxiliando na
adoção de programas e selos ambientais. Infelizmente, na maioria das vezes, tais
serviços estão disponíveis somente para empresas de grande porte devido ao seu alto
custo.

Tecnologias Resultantes da Gestão Ambiental

A adoção de práticas de responsabilidade socioambiental nas estratégias de gestão


empresarial tem permitido, se não exigido, o desenvolvimento de tecnologias
inovadoras, tanto na produção de bens quanto na prevenção de impactos negativos
ao meio ambiente. Tais tecnologias estão disponíveis em diversos segmentos
empresariais e, em geral, são resultado de demandas dos clientes. Pode-se afirmar
que, na atualidade, para ser considerado um bom processo ou produto não basta ser
eficiente industrialmente, também há a necessidade de ser eficiente ambientalmente.

Algumas tecnologias com melhor desempenho ambiental já devem estar presentes


no seu dia a dia. O Quadro 3 destaca alguns exemplos.

Processo/
Vantagem Desvantagem
Produto

Linha branca de Menor consumo de energia. Geração de lixo resultante da


troca de eletrodomésticos.
eletrodomésticos

27
Lâmpadas de LED Menor consumo de energia; Custo mais elevado.
Maior durabilidade;
Menos descarte de lixo.

Carros elétricos Dispensa o uso de combustível Custo elevado;


fóssil. Dificuldade de ganhar o
mercado.

Tintas Redução da toxicidade devido à Menor durabilidade.


remoção de metais pesados na
composição.

Drones na Redução do uso de defensivos Custo inicial elevado;


agrícolas; Necessidade de treinamento;
agricultura Redução do custo de produção a Dificuldade para chegar ao
longo prazo. pequeno produtor.

Embalagens Reduz o uso de plástico; Custo elevado;


Biodegradável. Menor durabilidade.
de fécula de
mandioca

Painéis solares Menor consumo de energia; Custo inicial elevado;


Redução dos valores das contas São necessários técnicos para
de energia. instalação.

Quadro 3 – Exemplos de novas tecnologias adotadas em produtos e processos


Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Tecnologias industriais que resultam na redução do consumo de água ou da queima


de biomassa, que reduzam a geração de resíduos ou que aumentem a eficiência dos
processos de tratamento de efluentes, bem como que resultam em produtos com
menor utilização de elementos tóxicos ou de fontes não renováveis têm sido foco dos
setores de pesquisa e desenvolvimento de empresas e de instituições de pesquisa,
pois trazem benefícios econômicos e ambientais.

Marketing Ambiental
O marketing ambiental ou marketing verde é uma estratégia adotada para promover
a divulgação e aumentar as vendas de produtos e serviços que tenham bases
ambientalmente corretas. Por meio dele é possível vincular uma marca, produto ou
serviço a uma imagem ecologicamente correta.

Os produtos e serviços passíveis do marketing ambiental devem ser resultado de


um impacto ambiental mínimo, tanto ao se considerar os elementos que compõem o
produto quanto os que estão relacionados ao seu processo produtivo.

28
Diante da crescente demanda por práticas de sustentabilidade, o marketing ambiental
pode trazer às empresas vantagens competitivas, o recrutamento de novos clientes e
a garantia de sua sobrevivência no mercado.

Existem quatro pilares elaborados para que as empresas possam aplicar o marketing
ambiental em seus produtos ou serviços de modo sustentável:

• Ser ecologicamente correto;


• Ser economicamente viável;
• Ser socialmente justo;
• Ser culturalmente aceito.

Tendências Mundiais Sobre o Perfil do Consumidor

Na maioria dos países, a preocupação com o meio ambiente cresceu. Questões sobre
o uso de fontes de energia renováveis, sobre o desmatamento, as mudanças climáticas
e a poluição atmosférica são apontadas como os maiores problemas ambientais da
atualidade.

Os consumidores, de modo geral, consideram importante comprar produtos e serviços


de empresas que respeitam o meio ambiente, mas quando são questionadas sobre
o que é importante para decidir consumir de uma empresa, preocupações básicas
relacionadas a custo-benefício são listadas antes de questões sobre responsabilidade
socioambiental e produtos ambientalmente corretos. Preço bom, qualidade,
confiabilidade e atendimento ao cliente estão entre os atributos empresariais mais
importantes entre os consumidores. Essas respostas indicam que, de acordo com o
posicionamento dos clientes, as empresas não devem sacrificar os fundamentos da
marca para as questões ambientais, entretanto, devem manter um equilíbrio entre os
atributos desejados e o compromisso com o desenvolvimento sustentável. Em geral,
consumidores estão dispostos a comprar mais produtos ambientalmente corretos e
a pagar até 10% a mais para produtos ecológicos, mas muitos relatam problemas
que prejudicam a compra, como a rotulagem confusa ou não confiável, preço muito
discrepante em comparação aos produtos não verdes, falta de disponibilidade e pouca
variedade.

Os consumidores de produtos ambientalmente corretos procuram produtos que usem


menos embalagens plásticas, e sim biodegradáveis ou recicláveis; além disso, apoiam-

29
se nas informações presentes nas embalagens e em certificações para decidir sobre
qual produto comprar.

Iniciativas de Marketing Ambiental

É necessário que as empresas realizem a divulgação de ações de marketing


ambiental aos seus clientes somente depois de realmente adotarem uma postura
ambientalmente correta em sua cultura organizacional, por meio de ações de
responsabilidade socioambiental.

Para fazer propagandas sobre essa postura ambientalmente correta, as pequenas e


grandes empresas podem:

• Adotar os 3 Rs da sustentabilidade: reduzir, reutilizar e reciclar;


• Incorporar os 4 Ss: aceitação social, satisfação do consumidor, segurança e
sustentabilidade;
• Usar selos verdes (certificação ambiental) para legitimar o posicionamento
da empresa;
• Participar de programas de promoção dos três pilares da sustentabilidade;
• Escolher fornecedores e parceiros ecologicamente corretos.

Empresas conhecidas no mundo todo têm adotado iniciativas ambientais e divulgado


suas ações em todos os meios de comunicação disponíveis, sendo exemplos de
destaque:

Microsoft

Já foi eleita a empresa mais sustentável do mundo. Desenvolveu, por exemplo,


um sistema de inteligência artificial para combater o aquecimento global.

Coca-cola

Em 2012, mudou a cor das latas e rótulos para conscientizar a sociedade sobre
a necessidade proteção dos ursos polares, um dos personagens símbolos da
marca.

Nike

Criou o Making App para inspirar designers de moda a trabalhar com materiais
ecológicos a partir de seus produtos.

30
Toyota

Desenvolveu o Prius, o primeiro veículo híbrido do mundo.

31
Conclusão
Neste conteúdo, vimos que os planos e os programas de instituições governamentais
e não governamentais despertam o consumidor para a importância e urgência das
questões ambientais. Nesse sentido, as empresas, enquanto instituições de caráter
particular e público, estão desenvolvendo estratégias de gestão voltadas para o meio
ambiente. Visando promover e zelar pelos três pilares da sustentabilidade, essas
empresas estão adotando ações de gestão internas e externas para a promoção do
acúmulo de capital econômico, social e ambiental.

Visto que a responsabilidade socioambiental é uma temática atual e discutida


internacionalmente, deve ser adotada em todos os níveis hierárquicos dentro de uma
empresa e deve tomar como parâmetros movimentos como OIT, OCDE, a Agenda 21,
a Carta da Terra e os ODSs. Nesse contexto, destacamos que, para se orientarem,
as empresas podem utilizar como estratégias o ciclo PDCA e as normas ISO, bem
como os indicadores e índices de sustentabilidade. Por fim, vimos que a divulgação
do resultado do trabalho ambientalmente correto das empresas deve ser feita por
estratégias de marketing ambiental bem definidas, que trazem maior lucratividade,
competitividade e dão credibilidade internacional.

32
Referências
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA. NBR ISSO 26000: Diretrizes
de responsabilidade social. Rio de Janeiro: ABNT, 2012.

APPIO, E. Controle judicial das políticas públicas no Brasil. Curitiba: Juruá, 2005.

BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, E. R. Responsabilidade social empresarial e empresa


sustentável: da teoria à prática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

BERLATO, L. F.; MERINO, G. S. A. D.; FIGUEIREDO, L. F. G. A contribuição da gestão de


design para a sustentabilidade empresarial. In: Colóquio Internacional de Design, 2017.
Anais... São Paulo: Blucher Design Proceedings, 2018. p. 1-15. Disponível em: http://
pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/cid2017/01.
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BRASIL. Decreto n. 7.037, de 21 de dezembro de 2009. Diário Oficial da União,


Brasília, DF, Poder Executivo, 22 dez. 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7037.htm. Acesso em: 04 mar. 2023.

BRASIL. Decreto n. 7.177, de 12 de maio de 2010. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13
mai. 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/
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BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Princípios


orientadores sobre empresas e direitos humanos. Brasília, 26 abr. 2018. Disponível
em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2019/outubro/Cartilha_
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BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano de Ação para Produção e Consumo


Sustentáveis – PPCS. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/responsabilidade-
socioambiental/producao-e-consumo-sustentavel/plano-nacional.html. Acesso em:
04 mar. 2023.
CARROLL, A. B. A three-dimensional conceptual model of corporate performance.
Academy of Management Review, v. 4, n. 4, p. 497-505, 1979. Disponível em: https://
www.jstor.org/stable/257850?seq=1#metadata_info_tab_contents. Acesso em: 04
mar. 2023.

COMINI, G. et al. Melhores práticas de sustentabilidade socioambiental no planejamento


estratégico das organizações: uma análise de apoio à decisão multicritério com
expert choice. In: SEGET – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 10.,
2013. Anais... Rio de Janeiro: AEDB, 2013. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/
arquivos/artigos13/45318530.pdf. Acesso em: 04 mar. 2023.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores de


desenvolvimento sustentável. Coordenação de Recursos Naturais e Estudos
Ambientais [e] Coordenação de Geografia. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: https://
www.ibge.gov.br/geociencias/informacoes-ambientais/estudos-ambientais/15838-
indicadores-de-desenvolvimento-sustentavel.html?=&t=oque-e. Acesso em: 04 mar.
2023.

INMETRO – INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA.


Compreendendo a responsabilidade social ISO 26000 e ABNT NBR 16001. Brasília,
DF. Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/qualidade/responsabilidade_social/
cartilha_compreendendo_a_responsabilidade_social.pdf. Acesso em: 04 mar. 2023.

INSTITUTO ETHOS. Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis.


São Paulo, 2013. Disponível em: https://www.ethos.org.br/conteudo/indicadores/.
Acesso em: 01 out. 2020.

ISEB3. O que é o ISE B3. Disponível em: http://iseb3.com.br/o-que-e-o-ise. Acesso


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OIT – ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenções ratificadas pelo


Brasil. Disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/lang--pt/index.htm.
Acesso em: 04 mar. 2023.
PATEL, P. M.; DESHPANDE, V. A. Application of Plan-Do-Check-Act Cycle for Quality
and Productivity Improvement – A Review. IJRASET, v. 5, n. 1, p. 197-201, jan. 2017.
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Acesso em: 04 mar. 2023.

RANCKIG THE BRANDS. Green Brands, Global Insights 2011. Disponível em: https://
www.rankingthebrands.com/PDF/The%202011%20Image%20Power%20Green%20
Brands.pdf. Acesso em: 04 mar. 2023.

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