Tema e Tese Redação

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Professor Fernando Andrade –

Redação/ Aula 02

UNB
Exasiu EXTENSIVO

Exasiu
Aula 02 – Tema e Tese
Tema, tese, tópico frasal, Linguagem: estilo

Prof. Fernando Andrade

estretegiavestibulares.com.br

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 1


Professor Fernando Andrade –
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Sumário

APRESENTAÇÃO 4

1. ATITUDE INICIAL 4

2. A FUNÇÃO DO TEMA NA ORGANIZAÇÃO DO TEXTO 5

3. TEXTO E CONTEXTO 6

3.1 Considerando o contexto na apreensão do tema 7

3.2 Exercícios: diálogo entre discursos 11

3.3 Redação contra-argumentativa 14

4. RECORTE 16

4.1 Leitura comentada da coletânea 16

4.2 Paráfrase ampliada e autoral 19

4.3. Exercícios: Recorte do Tema 19

5. SUBENTENDIDOS 27

6. NÚCLEOS TEMÁTICOS 30

6.1 Fuga do Tema 32

7. TEMA E DISSERTAÇÃO 34

8.PONTO DE VISTA E TESE 35

8.1 Sistematizando os tipos de tese 39

9. O PARÁGRAFO 41

9.1 Respostas dissertativas 42

10. TÓPICO FRASAL 44

10.1. A unidade do parágrafo 45

10.2 Criando e desenvolvendo um tópico frasal 46

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10.3 Gênero Comentário 52

10.4. Exercício: Comentando uma coletânea 54

11. LINGUAGEM: A FRASE OU DE QUANTAS MANEIRAS SE PODE DIZER QUASE A MESMA COISA 58

11.1 Estilo 60

12. SECÇÃO: EXERCITANDO A REFLEXÃO PARA UMA BOA ESCRITA 61

12.1 Senso Comum 61

12.2 Personalidade: a autossuficiência 63

12.3 Linguagem : confusão entre fatos e opiniões. 64

13. PROPOSTAS DE REDAÇÃO 65

13.1 Possibilidade de encaminhamento da proposta 67

14.CONSIDERAÇÕES FINAIS 73

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Apresentação
Salve aluno,
Agora que você já decidiu trilhar esse caminho com o Estratégia, tornando-se um vestibulando
corujinha, mãos à obra. Neste e nos próximos dois livros digitais, vamos discutir um dos primeiros critérios
de correção de qualquer banca:

Desenvolvimento do • avalia-se a capacidade de apreensão do tema e de argumentar com


tema e organização propriedade autoral, relacionando proposta, ideias da coletânea e
repertório próprio de forma pertinente e crítico-argumentativa.
do texto
Incialmente, consideraremos o “tema”. Ele merece toda sua atenção. Costumo dizer que metade
da sua nota vem desse cuidado. A partir da apreensão cuidadosa do tema, vamos passar à tese, talvez a
parte mais importante no começo da elaboração do projeto de texto.

Ao mesmo tempo, você será convidado a pensar no parágrafo. Como organizar melhor seu texto?

Este pdf é sobre o tema, gênero argumentativo, tese e paragrafação e sobre...

treino, muito treino....

Boa aula; bons textos e boa escrita.

1. Atitude inicial
Eu entendo. Escrever é árduo e muitas vezes humilhante. Você faz um texto irado, pede que
alguém leia, e o máximo de reconhecimento que recebe é “tá legal”. Caramba, “tá legal” é a pior coisa
que alguém gostaria de ouvir quando deixa aquele filhinho chamado texto na mão de qualquer um. Por
isso, vai um conselho de Yoga que acho perfeito para quem escreve.

Na Yoga, você não deve olhar para os outros. Deve olhar para dentro de si e desafiar seus próprios
limites, colocar-se à prova para conhecer seus limites numa espécie de processo de conhecimento. Olha
que ideia perfeita para redação. Escreva para melhorar suas habilidades, reconhecer seus limites e
descobrir capacidades expressivas próprias.

A melhor maneira de fazer isso, nesse momento, é procurar temas que você domina. Um dos
autores sobre redação que acompanho contou uma experiência interessante. Em uma sala em que os
alunos tinham bastante resistência para escrever, ele fez uma proposta indecente: “escrevam o texto das
suas vidas, sobre algo que você sabem fazer”. Um dos alunos, que basicamente nunca escrevia, entregou
um texto sobre como fazer uma prancha de surf. Não era qualquer texto. Realmente, o rapaz tinha soltado
o verbo. Ficou muito claro para o professor que a maior dificuldade para a escrita é o objeto do texto.
Deixe o escritor se expressar sobre o que ele realmente conhece, e o texto será o outro.

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A sugestão, portanto, nesse começo de percurso de estudo, é que você escolha, por ora, os temas
que você domina. Deixe sua linguagem fluir.

2. A função do Tema na Organização do Texto


A universidade é cartesiana. Isso significa que o tipo de discurso que circula em qualquer área da
ciência vale-se dos pressupostos de René Descartes (1596-1650), filósofo que lançou as bases do método
científico. Bom, o pensador era também matemático, então você já viu...

Ele postulou que a verdade poderia ser alcançada e, para isso, bastaria recolher evidências, reuni-
las pelo pensamento linear, obedecer às regras de dedução e o resultado seria a coação de outras mentes.
O bordão do rapaz era: “aquilo que for pensado de forma clara e distinta será verdadeiro.”

No Vestibular, seleciona-se um tema sobre o qual é possível


manifestar alguma opinião (discordância, apoio, mediação). Diante dele,
Fonte: Pixabay

você deve construir uma afirmação (tese) e isso dará um sentido às ideias.
Como diz o renomado professor Whitaker Penteado:

Selecionado o tema central, seu desenvolvimento vai disciplinando as ideias,


organizando-as em uma sequência de operações intelectuais – como se as
colocássemos em uma linha de montagem e, na medida de sua movimentação, fossem submetidas a
sucessivas operações mecânicas (p.224).1

Mas o que a Banca avalia de fato, quando considero o quesito tema? Abaixo, você encontrar os
critérios que expressos pela FUVEST, mas que valem para qualquer vestibular.

Desenvolvimento do tema e organização do texto dissertativo-argumentativo

Verifica-se (1) inicialmente se o texto configura-se como uma dissertação


argumentativa e se atende ao tema proposto. Pressupõe-se, então, que o Estrutura
candidato demonstre habilidade de compreender a proposta de redação e,
quando esta contiver uma (2) coletânea, que se revele capaz de ler e de
relacionar adequadamente as ideias e informações do textos que a integram.
Recorte da
No que diz respeito ao desenvolvimento do tema, verifica-se, além da (3)
coletânea
pertinência das informações e da efetiva progressão temática, a capacidade
crítico argumentativa que a redação venha a revelar. (Cuidados) A paráfrase de
elementos que compõem a proposta de redação não é um recurso
Cuidado
recomendável para o desenvolvimento adequado do tema. Não se recomenda, ao usar a
paráfrase
1
Penteado, J.R. Whitaker. A Técnica da Comunicação Humana. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 8ª edição, 1982

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também, que o texto produzido se configure como uma dissertação


meramente expositiva, isto é, que se limite a expor dados ou informações
relativos ao tema, sem que se explicite um ponto de vista devidamente
sustentado por uma argumentação consistente.

3. Texto e contexto
Observe a propaganda abaixo.

(disponível em

https://www.propagandashistoricas.com.br/2014/04/yamaha-rd-50-primeira-moto-brasileira.html, consultado em
12.03.2019)

Aparentemente, essa propaganda parece bastante simples. Mas algumas palavras utilizadas no
corpo do texto têm sentidos mais profundos quando se observa a época em que foi feita. O cartaz é de
1975, dois anos após a crise do petróleo.

Os países exportadores aumentaram o preço do combustível comprometendo o “milagre


brasileiro” – termo que se refere ao período de 1969 a 1973, no qual o Brasil cresceu em média 10% ao
ano. Após a crise, a inflação acelerou, houve arrocho salarial e o ufanismo brasileiro ficou comprometido.
Nos anos precedentes, o governo militar promovera slogans como “Ninguém segura esse país”. A
impressão que se tinha era a de que, finalmente, o país faria parte do seleto grupo de nações
desenvolvidas.

A primeira frase “lançada a primeira moto brasileira” fazia referência ao fato de a empresa
nipônica ser a primeira a produzir uma moto em solo pátrio. Mas veja, seria mais exato dizer “lançada a
primeira moto fabricada no Brasil”. Ao fazer questão de utilizar o adjetivo “brasileira”, a propaganda
dialogava com o ufanismo ferido dos brasileiros.

A mesma lógica presidiu a construção da segunda frase, “a Yamaha mais moderna do mundo”.
Transmite-se a ideia de rendição de um país desenvolvido ao potencial nacional, já que a empresa

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resolveu montar a moto “mais moderna” aqui, no Brasil. Isso sem falar no apelo da palavra “moderna”,
termo atrativo para um povo que perseguia a modernização desde o começo do século XX.

Ao mesmo tempo, a peça publicitária não deixa de considerar a grave situação econômica do país.
Embaixo das letras em amarelo “RD 50”, é possível ler as seguintes palavras: “poupança em duas rodas”.
Tratava-se de um grande apelo para uma população que empobrecia.

Todo texto incorpora as ideias de uma dada época devido às práticas e as circunstâncias que
envolveram a produção do texto.

Então, vou ter que conhecer um pouco da cultura no momento da produção do texto?

Perfeito.

A apreensão da proposta de redação exige conhecimento cultural do presente e dos discursos em


circulação sobre o tema.

3.1 Considerando o contexto na apreensão do tema


Para entender como se dá a leitura de um tema para redação, é preciso ter em mente que a
interpretação tem como finalidade o posicionamento diante do tema. Seguem os passos desse processo
interpretativo.

Ler a proposta e compreender o tema

Apreender as relações do tema com a história ou sociedade

Fazer um levantamento dos discursos sobre o tema

Posicionar-se levando em consideração, respeitosamente, os discursos contrários

Mas o que são discursos?


Vamos supor que você tenha se deparado com os números sobre a situação das mulheres
amplamente divulgados no Dia Internacional da Mulher.

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“Das 40,2 milhões de trabalhadoras, 24,3% haviam completado o ensino superior, enquanto entre
os homens ocupados a proporção era de 14,6%. Apesar disso, em média, as mulheres que trabalham
recebem rendimentos 24,4% menores que os dos homens.”
(disponível, em https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/20287-no-dia-da-mulher-estatisticas-sobre-trabalho-mostram-desigualdade,
consultado em 12.03.2019)
Esse é o conhecimento adquirido pela leitura de jornal. Mas sua vivência conta e muitas vezes
pode ser contraditória diante desses fatos. As mulheres próximas de você são respeitadas, você nunca
soube de um caso de violência familiar e sua mãe tem uma boa colocação no mercado de trabalho.
Perceba que a questão da mulher é atravessada por fatos díspares e até contraditórios.
Contudo, os fatos não são determinantes na decifração do tema. São os discursos de avaliação, de
explicação, de opinião que circulam numa sociedade que interessam a quem vai escrever um texto.
Observe a proposta de redação abaixo, da PUC/PR 2017.

REDAÇÃO
Para atender à proposta, seu texto deverá apresentar
- ponto de vista bem definido;
- argumentos que sustentem seu ponto de vista.
Sua redação será anulada se você
- reproduzir a coletânea;
- fugir ao recorte temático;
- não escrever uma dissertação-argumentativa;
- apresentar letra ilegível, impropérios, desenhos ou qualquer forma de identificação no texto.
TEXTO 1

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FONTE: http:\wwwestadodedireito.com.br. Acesso em 19/07/2016.

TEXTO 2

A USP é uma das dez universidades mundiais escolhidas para fazer parte do movimento solidário
ElesPorElas (HeForShe), da ONU Mulheres – instituição criada pelas Nações Unidas para o
desenvolvimento de projetos na área de igualdade de gêneros e empoderamento feminino. O projeto faz
parte do programa Impacto 10x10x10, lançado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, em janeiro de
2015, reunindo líderes mundiais, dos setores público e privado e da academia. Os critérios de seleção das
universidades são baseados em sua reputação ética, excelência no serviço público, relevância e alcance
global e a boa vontade em usar sua influência para comandar e inspirar mudanças no ensino superior –
além da USP, participam Georgetown University, University of Hong Kong, University of Leicester, Nagoya
University, Oxford University, Sciences Po, Stony Brook University (The State University of New York),
University of Waterloo e University of the Witwatersrand.

A parceria com a USP, a única universidade latino-americana, surgiu em junho do ano passado, gerando a
criação do Programa USP Mulheres, que agora conta com um escritório dentro do campus da Cidade Universitária,
em São Paulo. Segundo Eva Blay, em artigo publicado no Jornal da USP, o Escritório USP Mulher, vai se

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esforçar para implantar programas que balizem valores igualitários e os decorrentes comportamentos.
“As portas do Escritório estarão abertas para construir uma nova ética de solidariedade, igualdade e paz.”

(LEPINSKI/ Paula. A criação do escritório USP mulheres. São Paulo: Jornal da USP. Disponível em:
www.5.usp.br. Acesso em 19/07/2016).

TEXTO 3

A Evolução dos Direitos das Mulheres

A luta por igualdade de gênero passa por uma evolução lenta, mas gradual. A mulher, durante toda a
história, foi tratada de forma preconceituosa, no entanto, é notório o caráter evolutivo da temática em
nosso constitucionalismo. Para que as palavras se concretizem, é imprescindível conhecermos a trajetória
traçada ao longo do tempo.

Na Constituição de 1824, sequer se cogitava a participação da mulher na sociedade, a única referência


era especificamente da família real. Na Constituição da República (1889), somente era citada quando se
referia à filiação ilegítima, mostrando a (des) importância da figura feminina, que só interessava quando
repercutia na esfera patrimonial. No início do Século XIX mulheres começaram a se organizar para exigir
espaço na área da educação e do trabalho. Em 1898, Myrtes de Campos se torna a primeira advogada do
país. Enquanto isso, muitas mulheres trabalhavam em condições desumanas, o que reforçou mobilização
por condições dignas de trabalho e de segurança. Em 1880, a dentista Isabel Dillon evocou na Justiça a
aplicação da Lei Saraiva, que garantia ao detentor de títulos o direito de votar. Em 1894, foi promulgado
em Santos (SP) o direito ao voto, mas a norma foi derrubada no ano seguinte, e só em 1905 três mulheres
votaram em Minas Gerais. Em 1917, as mulheres passam a ser admitidas no serviço público. A primeira
prefeita foi eleita em 1928 em Lages (RN). O voto feminino se torna direito nacional em 1932. Eleita em
33, Carlota de Queiroz é a primeira deputada federal e participa da Assembleia Nacional Constituinte.
Após mais de cem anos de constitucionalismo homem e mulher são colocados em pé de igualdade na
definição de cidadania no texto constitucional de 1934. A mulher passa a ter direitos políticos, o
“desquite” é legalizado. Embora fosse uma grande conquista no papel, não o era ainda na sociedade.
Apesar dos avanços, era preciso uma igualdade constitucional para atender as nossas necessidades
específicas. Assim, conquista - se o primeiro tratamento diferencial, a licença-maternidade. O texto foi
um marco fundamental na luta pela igualdade de gênero, pena que o tempo desta Constituição foi
pequeno. Em 1946 o casamento voltou a ser indissolúvel, o que significou um retrocesso.

A Constituição de 1967 estabeleceu uma nova desequiparação, diminuindo o tempo de serviço para a
aposentadoria feminina. Nos anos 60, surge a pílula anticoncepcional, um marco e uma libertação para
as mulheres. Grupos feministas que pregavam um tratamento masculinizado às mulheres surgem na
década de 70 protestando por direitos e pendurando sutiãs. Enfim, promulga-se a “Constituição Cidadã”.
A Carta Magna de 1988 menciona a igualdade perante a lei e reafirma a igualdade de direitos e obrigações
de homens e mulheres. Licenças maternidade e paternidade, proibição de diferenças salariais, proteção
no trabalho, estabilidade à gestante, desequiparação na aposentadoria são constitucionalizados como
garantias fundamentais. Na família, união estável, isonomia conjugal, divórcio, princípio da paternidade
responsável e proteções no ambiente familiar de toda e qualquer forma de violência. Nota-se que a
“História das mulheres” não é apenas delas é a história da família, da criança, e está diretamente ligada à
história dos homens e das relações de poder estabelecidas ao longo dos tempos.

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Não podemos negar os avanços. Somos cidadãs no sentido pleno da palavra, pelo menos na teoria. Na
prática, ainda enfrentamos jornada dupla de trabalho, discriminação e violência. Somos preteridas na
política geral e de classe, embora constituindo a maioria do eleitorado. Somos menos remuneradas,
apesar de sermos mais escolarizadas. Somos preteridas nos esportes, mesmo sendo maioria nas
participações esportivas internacionais. Embora ainda estejamos num mundo masculinizado, podemos e
queremos “ser mulher”, não melhores do que ninguém, mas simplesmente mulher. Para isso,
precisamos de uma discussão honesta sobre as barreiras reais e falhas que ainda existem no sistema,
apesar das oportunidades que herdamos.

[(MARINELA, Fernanda. 1 A evolução dos direitos das mulheres. Disponível em:


www.estadodedireito.com.br. 48ª ed. Acesso em: 19/07/2016)].

Da leitura dos textos motivadores e de seu conhecimento sobre o assunto, escreva em norma padrão da
língua portuguesa, um texto dissertativo-argumentativo contendo entre 20 e 25 linhas, com seu ponto de
vista sobre a seguinte questão:

Igualdade de gênero: empoderamento social e econômico da trajetória feminina.

Essa proposta oferece um recorte de fragmentos que expressam uma opinião favorável ao
“empoderamento feminino”. Observe que os textos escolhidos dialogam em alguma medida com discursos
contrários que também circulam na sociedade. Muitas vezes, a opinião oposta está implícita, não é
nomeada. Vamos tentar resgatar esses discursos contrários. Faça os exercícios abaixo.

3.2 Exercícios: diálogo entre discursos


Siga o modelo da questão comentada abaixo.

Q.1 Observe o cartaz do texto 1. Uma peça publicitária que visava a incentivar as mulheres a se
engajarem no trabalho antes considerado masculino, dada a falta de mão de obra devido o
envolvimento da uma boa parte dos homens na Segunda Guerra Mundial. Faça um comentário
em que você destaque o discurso machista com o qual o cartaz dialoga.

Comentário à primeira imagem. O cartaz foi produzido durante a segunda Guerra


Mundial pela empresa Westinghouse como forma de estimular as operárias a se engajarem em
trabalhos manuais. É preciso lembrar que a Segunda Guerra Mundial foi muito importante para
a emancipação feminina. A mão de obra masculina fora mobilizada para a guerra e no mundo
todo as mulheres começaram a exercer funções antes consideradas masculinas. O cartaz dialoga
com o discurso prevalecente até então de que a mulher seria um sexo frágil, incapaz de exercer
atividades físicas que envolvessem força ou técnica. O anúncio tenta abarcar os dois discursos.
A personagem feminina usa um lenço que a associa ao espaço do lar, mas veste um macacão e

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flexiona o braço exibindo a musculatura. Essas imagens reforçam a frase de que mulher também
pode fazer aquilo que até pouco tempo atrás era considerado “trabalho de homem”.

Agora que você já entendeu como um tema deve ser apreendido – pelas relações com a história
e pelo diálogo com outros textos -, proponho que você faça um tipo de comentário similar ao
exemplificado acima para os outros textos da coletânea. Lembre-se de que essa atividade vai prepará-lo
para dar respostas dissertativas na segunda fase e vai ajudá-lo no desenvolvimento de argumentação.
O exercício é muito parecido como que você fez na aula passada, com a única diferença de que
agora você deve incluir no seu comentário a explicitação do discurso com o qual o texto dialoga.

Q.2 Observe o texto 2, uma réplica de um cartão USPMulheres. A composição central é estruturada
por 2 frases contrárias. A primeira, normalmente, apresenta ações associadas à pauta feminista;
a segunda frase apresenta ideias sociais compartilhadas com as quais a primeira dialoga. Faça um
comentário respeitoso no qual você dê destaque ao diálogo entre os discursos.

Q.3 Considere o texto que se segue ao cartão USPMulheres. Reflita sobre o papel social da
universidade, sobre os discursos que circulam campus (por exemplo, o discurso jurídico) e
compare-os aos discursos antifeministas. A partir disso, comente a escolha da USP para fazer
parte do movimento solidário ElesPorElas (HeForShe), da ONU Mulheres. .

Q.4 O último texto traz um histórico das conquistas femininas. Observe que cada feito dialoga com
um discurso contrário. Escolha um ou dois episódios dessa história e o(s) comente, destacando o
diálogo entre conquista e discursos.

Gabarito: parâmetros para a escrita

Questão Observe o texto 2, uma réplica de um cartão USPMulheres . A composição central é estruturada
02 por 2 frases contrárias. A primeira, normalmente, apresenta ações associadas à pauta
feminista; a segunda frase apresenta ideias sociais compartilhadas com as quais a primeira
dialoga. Faça um comentário respeitoso no qual você dê destaque ao diálogo entre os
discursos.

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Como você já deve fez em outros comentários, primeiro faça uma paráfrase contextualizando
o texto do cartão: emissor, finalidade e ideia geral. Depois dessa introdução, você poderia fazer
um balanço das liberdades conquistadas pelas mulheres a partir das primeiras frases. A seguir
seria possível destacar como foi difícil chegar a esse patamar dada a configuração cultural da
tradição expressa nas frases do segundo período. Não simplifique demais as ideias do excerto.
Não seja radical. Note que vivemos em uma sociedade em que os dois tipos de discurso (ou
mais) circulam e não podem ser desqualificados, já que a escolha é livre. Uma evangélica que
escolheu não usar batom e usar roupa mais comprida exerce a mesma liberdade democrática
de escolha que uma feminista.

Questão Considere o texto que se segue ao cartão USPMulheres. Reflita sobre o papel social da
03 universidade, os discursos que circulam campus (por exemplo, o discurso jurídico) e
compare-os aos discursos antifeministas. A partir disso, comente a escolha da USP para
fazer parte do movimento solidário ElesPorElas (HeForShe), da ONU Mulheres. .
Depois de resumir o assunto, você pode ampliar um dos motivos apontados pelo texto
para a escolha da USP pela ONU Mulheres. O texto afirma que são escolhidas as
instituições que têm “reputação ética, excelência no serviço público, relevância e alcance
global e a boa vontade em usar sua influência para comandar e inspirar mudanças no
ensino superior”. Essa última característica tem potencial para ser desenvolvida. Na USP,
várias mulheres, por serem professoras da instituição, ocupam também lugar de destaque
na sociedade, sendo importantes divulgadoras dos ideais de igualdade de gênero. Além
disso, a liberdade acadêmica garante produção de conhecimento e de pesquisa que
promove o feminismo e isso realmente tem acontecido.
Outro fator se relaciona ao papel do conhecimento superior na vida da mulher. A
graduação proporciona, ao indivíduo, reconhecimento social e autonomia, traços
importantes para formação de mulheres que lutarão pelos direitos do grupo. Há várias
outras possibilidades. É importante contrapor esse ímpeto universitário ao ponto de vista
tradicionalista. Por exemplo, o reconhecimento social da aluna universitária certamente é
uma contraprova ao discurso, segundo o qual, a capacidade intelectual da mulher é
inferior à do homem.

Questão. O último texto traz um histórico das conquistas femininas. Observe que cada feito dialoga
04 com um discurso contrário. Escolha um ou dois episódios dessa história e o(s) comente,
destacando o diálogo entre conquista e discursos.
O procedimento mais indicado é o de ampliação de ideias ou de reorganização dos dados,
considerando a contraposição entre discursos atuais e discursos tradicionais. Vou dar um
exemplo de como isso poderia ser feito. As possibilidades são amplas, dada a quantidade
de informações trazida pelo texto fonte.
“Ninguém, hoje em dia, contestaria a capacidade feminina em escolher um candidato e
votar nele. A ideia de que mulher não seria capaz de entender política atualmente foi
sepultada, embora o processo de luta contra tal discurso tenha sido penoso e longo. Em

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1880, numa afronta ao discurso estabelecido de que o dito sexo frágil não sabia votar,
Isabel Dillon exigiu a aplicação da Lei que dava esse direito a quem portasse os documentos
necessários, mesmo que fosse uma mulher. Foi um longo caminho até que houvesse uma
mulher que exercesse cargo político – a primeira prefeita só foi eleita no Brasil em 1928,
em Lages (RN).

SE LIGA!!!

Quando for possível e conveniente, no seu argumento, cite os discursos contra os


quais você se posiciona, explique-os, relativize-os e depois contra-argumente. Por
exemplo, ao dissertar sobre a questão feminina é sempre interessante começar pelo senso
comum e depois se posicionar de forma contrária. Segue um exemplo de começo de
argumentação:
“No passado, dizia-se abertamente que o lugar da mulher era na cozinha. A expressão do
senso comum referia-se a uma divisão básica do trabalho familiar: o homem era o provedor
e a mulher cuidava do lar. Contudo, tal ditado associava-se a um evidente desprezo pelo
trabalho feminino. Ora, isso signicava um diminuição da capacidade feminina, o que não
condiz com a realidade...”

*Se você quiser argumentar contra algum elemento do discurso feminista,faça o contrário.
Comece pela opinião contra a qual você investirá a qual você investirá e depois contra-argumente.

3.3 Redação contra-argumentativa

Se você conseguir perceber de forma bastante ampla os argumentos favoráveis e contrários à


questão, que tal fazer um modelo contra-argumentativo?

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•O escritor insere o tema que sera apresentado: por


Contextualização defniação do problema; por narrativa de um fato que leva
ao tema; caracterização do problema.

•Considera-se os discrusos contrários à tese


Apresentação das
•Manifesta-se a tese como oposta aos argumentos
ideias opostas e tese apresentados.

• Destruição dos argumentos contrários aludidos


Defesa da tese •Apresentação de argumentos a favor do seu ponto de
vista

Reiteração da ideia •Conclusão por reiteração.

A título de exemplo, observe a redação contra-arguimentativa abaixo (sem conclusão).

•O século XX, decididamente, foi o séculos de conquistas para as mulheres. Desde


quando cartazes veiculados na Segunda Guerra, com os dizeres, “nós (mulheres)
Contextualização podemos”, até os dias de hoje, quando as mulheres exercem as mais variadas
profissões foi um longo caminho.

•Contudo, o discurso machista continua presente. Como argumento, revivem a


Apresentação das tese de que as mulheres são mais frágeis do que os homens, algo notório no que
diz respeito à compleição física. Além disso, aludem a uma essência feminina que
ideias opostas e consistiria na delicadeza que prepara a mulher para algumas tarefas outras não.
tese Nenhum desses argumentos se sustentam de fato, e demonstram muito mais
uma tentativa de manutenção de poder.

•É verdade que fisicamente a mulher não tem a estrutura de um homem. Mas isso
não significa que ela não possa realizar as mesmas tarefas “ditas” masculinas.
Quando, na Segunda Guerra Mundial, faltaram mão de obra masculinas para as ditas
tarefas “de macho”, foram elas que encaram a atividades como de pedreiro,
Defesa da tese carpinteiro, operário etc. Quanto à essência feminina, não se tem como saber o
quanto dessa forma de agir da mulher é construção cultural. Mesmo que fosse
verdade, que houvesse um essência feminina, essa tal substância da mulher não
impediria, como não impede, o dito sexo frágil de assumir qualquer atividade que se
possa dar a um homem.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 15


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4. Recorte
Aqui entra um outro componente importante no seu processo de interpretação da proposta: o
recorte temático que deve aparecer no jogo entre tema e textos da coletânea. A Banca, portanto, amplia
o tema e, ao mesmo tempo, oferece elementos de recorte do assunto que devem ser observados. A
importância disso está textualmente demarca nos critérios de correção apresentados acima, vale lembrar:
“2) coletânea, que se revele capaz de ler e de relacionar adequadamente as ideias e informações do textos
que a integram”.

Consideremos a prova da FUVEST de 2019. A Banca, depois de elencar cinco pequenos textos e uma
imagem, solicitava que o aluno produzisse uma dissertação em prosa, sem deixar explícito o tema: De que
maneira o passado contribui para a compreensão do presente.

Sem a leitura atenta da coletânea, o candidato poderia ficar com a impressão de que deveria
responder a questão de forma bastante simples: o passado contribui muito, para não se repetir os erros
do passado ou o passado contribui pouco, pois a realidade é outra.

Quem vai me salvar do


A coletânea
senso comum?

4.1 Leitura comentada da coletânea


Para exemplificar como considerar a coletânea como recorte e estímulo, vamos considerar
proposta aludida de 2019. O ideal é fazer pequenos comentários a lados dos textos, para depois recolher
todas as ideias e perceber qual é a perspectiva da banca, para dialogar com ela. Mesmo que você não
queria seguir o caminho indicado nos textos de apoio, eles oferecem reflexão e recorte que induzem a
produção de um texto mais complexo. É isso que os corretores verificam quando consideram “leitura do
tema”. Uma tese ou argumentação simples indica um leitura pobre do que se ofereceu como estímulo.

Primeiro texto

O progresso, longe de consistir em mudança, depende da


capacidade de retenção. Quando a mudança é absoluta, não permanece coisa Só o conhecimento
alguma a ser melhorada e nenhuma direção é estabelecida para um possível do passado, permite
aperfeiçoamento; e quando a experiência não é retida, a infância é perpétua. melhorar algo

George Santayana, A vida da razão, 1905, Vol. I, Cap. XII. Adaptado

Segundo texto

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 16


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
Essa escultura de um
garoto negro foi esculpida no
tamanho real de uma criança, Esse texto considera a exclusão do
com seus cabelos crespos, negro. Pergunte-se: como ele dialoga
seu nariz largo, sua boca como o texto anterior?
marcada. A criança segura Se os negros e as pessoas passarem
uma lata por sobre sua uma borracha no passado (tinta
cabeça, de onde escorre uma branca) não poderão melhorar a
tinta branca sobre seu corpo situação injusta
feito de bronze.

Nexo Jornal, 13/07/201

Terceiro texto

A minha vontade, com a raiva que todos estamos sentindo, é deixar aquela
ruína [o Museu Nacional depois do incêndio] como memento mori, como O passado deve
memória dos mortos, das coisas mortas, dos povos mortos, dos arquivos também servir como
mortos, destruídos nesse incêndio. Eu não construiria nada naquele lugar. E, memorial do que
sobretudo, não tentaria esconder, apagar esse evento, fingindo que nada deve ser evitado
aconteceu e tentando colocar ali um prédio moderno, um museu digital, um
museu da Internet – não duvido nada que surjam com essa ideia. Gostaria que
aquilo permanecesse em cinzas, em ruínas, apenas com a fachada de pé, para
que todos vissem e se lembrassem. Um memorial.

Eduardo Viveiros de Castro, Público.pt, 04/09/201

Quarto texto

O Historiador
Veio para ressuscitar o tempo
e escalpelar os mortos,
O passado é
as condecorações, as liturgias, as espadas,
importuno porque
o espectro das fazendas submergidas,
questiona o senso
o muro de pedra entre membros da família,
comum; por isso a
o ardido queixume das solteironas,
referência ao
os negócios de trapaça, as ilusões jamais confirmadas
passado é tão
nem desfeitas.
criticada.
Veio para contar
o que não faz jus a ser glorificado
e se deposita, grânulo,
no poço vazio da memória.
É importuno,
Sabe-se importuno e insiste,
rancoroso, fiel.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 17


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
Carlos Drummond de Andrade, A paixão medida, 1981

Quinto texto
O passado é
Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ‘como ele importante
de fato foi’. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja em momentos
no momento de um perigo. de crise

Walter Benjamin, Sobre o conceito de história,1940.

Que tal ligar os pontos?

Eu tentei. Ficou assim:

A consideração do passado permite melhorar o presente. Isso pode ser visto no caso do racismo,
pois sem um reflexão séria sobre o passado do Brasil, tal injustiça não se altera. Logo, é preciso que haja
um memorial das crueldades do passado, mesmo que isso seja incômodo. Essa é a única maneira de
passarmos por situações de crise humanitária.

Veja, já ficou quase um rascunho de uma redação inteira. Mas o que interessa nesse tópico é:
como essa compreensão promoveu um recorte do tema?

Ora, se você leu bem a coletânea, entendeu que deve discutir “de que maneira o passado contribui
para o a compreensão do presente “ em situações de crise ou de perigo. No primeiro e no último essa
ideia de urgência social estaria presente. Dentro desse recorte, a primeira coisa que você deveria se
perguntar é: qual é o tipo de urgência que necessita de que se lembre do passado?

Só para se ter uma ideia do que significa perceber contexto e recorte do tema, observe o parágrafo
de um candidato que publicou seu rascunho na internet e que foi bem avaliado pela banca.

Em primeiro lugar, é importante compreender que, ao contrário do que se


imagina, a ciência histórica fala do agora. Ela dialoga com a atualidade à medida
que constrói sua tessitura. Dessa forma, a simples exposição a eventos pontuais
da História – e a sua posterior organização, como ocorre na escola – é
insuficiente para a assimilação plena de sua complexidade, pois os fatos Utilização das
parecem distantes ou ausentes. Isso ocorre porque uma palestra difere ideias da
drasticamente da experiência. Talvez a maior prova disso resida no racismo coletânea de
institucional ainda tão presente no mundo, mas sistematicamente negado por foram autoral
um progressismo pós-moderno que omite o seus senso de superioridade
branca e afirma que negros foram escravos no passado. No entanto, nota-se
que essa narrativa não se sustenta em espaços de vivência negra, é é
vigorosamente rejeitada como quando a escola de samba Paraíso do Tiuití

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 18


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
cantou em 2018 que a escravidão não acabou, ou quando a Mangueira falou
sobre heróis negros, raramente especificados em sala de aula.

4.2 Paráfrase ampliada e autoral


A Banca resolveu fazer o alerta contra a paráfrase para evitar aquele tipo de redação em que o
candidato simplesmente vai costurando paráfrases do texto de apoio. Você deve ter percebido que há
uma relação entre excertos dados e, portanto, com o uso de alguns conectivos e algum domínio linguístico
seria possível devolver à banca aquilo que ela ofereceu. É contra isso que a advertência se coloca.

O autor do parágrafo acima, valeu-se de ideias presentes na coletânea, até fez algumas paráfrases
pequenas, mas as ampliou e, mais do que isso, subordinou essas ideias a uma tese própria, algo que
confere ao seu texto originalidade.

4.3. Exercícios: Recorte do Tema

A partir de um tema bastante amplo, você encontrará textos ou comentários que darão uma
configuração diferente ao tema. Faça um parágrafo de comentário, associando o tema geral ao recorte.

Suponha uma proposta que tenha o seguinte comando: Com base nas ideias e sugestões presentes
na imagem e nos textos aqui reunidos, redija uma dissertação argumentativa, em prosa, sobre o seguinte
tema: O significado do processo educacional no mundo contemporâneo.

Q.1 A imagem abaixo foi tirada no show de Roger_Waters_em_St._Louis. A imagem faz referência
ao clip da música The WallI, no qual há uma crítica contundente ao sistema educacional. As
escolas teriam criado indivíduos que foram adestrados por marteladas e com potencial para
repetir esse padrão. No show de Roger Waters (figura abaixo), associa-se esse processo
educacional ao fascismo. A partir da imagem, faça um comentário em que seja observável o
recorte do tema.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 19


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02

Roger Waters The Wall Yankee Stadium


2012-07-06 2. ( disponível em
https://commons.wikimedia.org/wiki/File
:Roger_Waters_The_Wall_Yankee_Stadiu
m_2012-07-06_2.jpg, consultado em
15.03.2019).

A educação, de forma geral, define-se pela necessidade de transmitir os padrões


culturais para a nova geração. No mundo contemporâneo, esse processo se tornou
mais complexo, pois deve incluir o conhecimento tecno-científico. Contudo, ele não
é neutro. É interessante como Pink Floyd representa o sistema educacional. O
clip da música “The Wall” mostrava cenas de jovens sendo adestrados para se
comportarem de modo massificado. Em que se pesem as liberdades conquistadas no
sistema educacional desde aquela época, a finalidade do sistema como um todo ainda
mantém um viés de domesticação do jovem .
Comentário: Observe que comecei pelo tema, o processo educacional, ao qual me refiro nas
duas primeiras linhas. Depois disso, apontei aquilo que se poderia inferir das intenções do grupo
de Rock (adestramento juvenil), aplicando essa ideia às circunstâncias contemporâneas.

O tema explícito associado à foto e à informação sobre ela deveria levá-lo ao seguinte recorte: a
crítica ao sistema educacional do Pink Floyd procede? É exagerada? No meu comentário,
concordei com o grupo musical.

Faça o mesmo. Nos próximos exercícios, você encontrará o tema amplo da Educação e um texto
que oferece um recorte. Leia o texto de recorte do tema e faça um comentário juntando tema e
recorte.

Q.2 O poema abaixo de Bertold Brecht expressa a concepção do poeta sobre educação. A partir da
poesia, faça um comentário em que seja observável o recorte do tema segundo esse outro viés.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 20


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
ELOGIO DO APRENDIZADO

Aprenda o mais simples! Para aqueles


Cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas
Aprenda! Não desanime!
Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!

Aprenda, homem no asilo!


Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!

(...)
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.

Ponha o dedo sobre cada item


Pergunte: O que é isso?
Você tem que assumir o comando.

(BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1956; seleção e tradução: Paulo César de Souza. São Paulo:
Editora 34, 2012. p. 114.)2

Q.3 A reportagem abaixo, publicada no Estadão, apresenta um ponto de vista econômico sobre o
tema. A partir do texto, faça um comentário levando em consideração tal recorte.
Conexão entre educação e desenvolvimento
José Matias-Pereira*, O Estado de S. Paulo
15 de maio de 2015 | 22h00
O Banco Mundial atribuiu a pobreza como causa pela estagnação do processo de
desenvolvimento, e falta de acesso à educação como responsável pela perpetuação da pobreza.
É perceptível a existência de uma inter-relação positiva entre a educação e o desenvolvimento
de um país. Sob essa ótica, o investimento em educação contribui para o país alcançar um
maior nível de desenvolvimento, sem desconsiderar que este (o desenvolvimento) pode gerar
acréscimos no nível educacional da população.

2
Bertold Brecht foi poeta e dramaturgo alemão, nasceu em 1898 e morreu em 1856. Em 1920, adere ao marxismo e torna-se crítico do
sistema capitalista. Seus experimentos teatrais revelam sua opção ideológica. Vale-se da ideia de práxis (fazer um teatro que deve interferir
na vida) e da tentativa de provocar o estranhamento.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 21


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
O ranking mundial de educação, divulgado recentemente pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), coloca o Brasil no desconfortável 60º lugar (foram
avaliados 76 países por meio do desempenho de alunos de 15 anos em testes de ciências e
matemática). O ranking evidencia a baixa prioridade que vem sendo dada pelos governantes e
políticos brasileiros para a as políticas públicas de educação de qualidade nas últimas décadas.

(disponível em https://www.estadao.com.br/noticias/geral,conexao-entre-educacao-e-
desenvolvimento,1688387,consultado em 15.03.2018)

Q.4 Considerando o quadro abaixo e o tema do processo educacional no mundo moderno,


responda às seguintes perguntas: o que esse fenômeno revela sobre o sistema educacional? Em
que medida, o processo escolar contribui para isso? Quais são os valores que realmente estão
sendo transmitidos no processo? Que tipo de violência está implícito na educação formal hoje
em dia?

Cronologia dos casos de atiradores em escolas

2019 – Suzano. (São Paulo) – Dois jovens encapuzados atiraram em alunos da escola fazendo
8 vítimas fatais.

2017 – Goiânia (Goiás) – Um adolescente de 14 anos matou dois colegas e feriu outros 4.

2012 – Santa Rita região metropolitana de João Pessoa (Paraíba) – Um adolescente de 16


anos atirou em 3 alunas da escola.

2011 – São Caetano do Sul (São Paulo) – Um aluno de 10 anos de idade atirou na professora.

2011 – Realengo (Rio de Janeiro) – Um homem de 23 anos invadiu uma escola e matou 12
adolescentes.

Fonte: https://www.folhape.com.br/noticias/noticias/sao-
paulo/2019/03/13/NWS,98707,70,632,NOTICIAS,2190-RELEMBRE-OUTROS-CASOS-
ATIRADORES-ESCOLAS-BRASIL.aspx

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 22


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
Q.
5

“Pesquisa: escola não prepara aluno para mercado de trabalho”

(Disponível em https://compromissocampinas.org.br/pesquisa-escola-nao-prepara-aluno-para-
mercado-de-trabalho/, acessado em 13.03.2019)
A questão sobre o processo educacional na contemporaneidade levanta discussões relacionadas
a aspectos econômicos, sociais e subjetivos. Escolha um desses elementos como recorte
temático e faça seu comentário.

Gabarito: parâmetros para a escrita


Questão O poema abaixo de Bertold Brecht expressa a concepção do poeta sobre educação.
02 A partir da poesia, faça um comentário em que seja observável o recorte do tema
segundo esse outro viés.
ELOGIO DO APRENDIZADO

Aprenda o mais simples! Para aqueles


Cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas
Aprenda! Não desanime!
Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!

Aprenda, homem no asilo!


Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!

(...)
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 23


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02

Ponha o dedo sobre cada item


Pergunte: O que é isso?
Você tem que assumir o comando.

(BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1956; seleção e tradução: Paulo César de Souza.


São Paulo: Editora 34, 2012. p. 114.)
Comentário: Você poderia começar o texto contextualizando a polêmica para seu
leitor. Deve ficar claro que sua reflexão tenta responder à seguinte pergunta: a
educação é realmente capaz de fazer com que o indivíduo saia da alienação? Se
você optar por citar o poema de Brecht, interprete-o para seu leitor. A partir daí,
bastaria mencionar os núcleos de ideias que poderiam dar sustentação ao seu
ponto de vista. Não perca de vista que sua resposta não se refere a casos
particulares, mas “ao processo educacional no mundo contemporâneo”.

Questão A reportagem abaixo, publicada no Estadão, apresenta um ponto de vista econômico


03 sobre o tema. A partir do texto, faça um comentário levando em consideração tal
recorte.
Conexão entre educação e desenvolvimento
José Matias-Pereira*, O Estado de S. Paulo
15 de maio de 2015 | 22h00
O Banco Mundial atribuiu a pobreza como causa pela estagnação do processo de
desenvolvimento, e falta de acesso à educação como responsável pela perpetuação da
pobreza. É perceptível a existência de uma inter-relação positiva entre a educação e o
desenvolvimento de um país. Sob essa ótica, o investimento em educação contribui para
o país alcançar um maior nível de desenvolvimento, sem desconsiderar que este (o
desenvolvimento) pode gerar acréscimos no nível educacional da população.

O ranking mundial de educação, divulgado recentemente pela Organização para a


Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), coloca o Brasil no desconfortável 60º
lugar (foram avaliados 76 países por meio do desempenho de alunos de 15 anos em
testes de ciências e matemática). O ranking evidencia a baixa prioridade que vem sendo
dada pelos governantes e políticos brasileiros para a as políticas públicas de educação de
qualidade nas últimas décadas.

https://www.estadao.com.br/noticias/geral,conexao-entre-educacao-e-
desenvolvimento,1688387
Comentário: Neste comentário, a contextualização pode ser muito breve. No primeiro
período você já pode se posicionar e, ao fazer isso, você apresentará o recorte e, ao
mesmo tempo, a tese. Veja que há algumas possibilidades de posicionamento:
✓ A educação é importante para o desenvolvimento de um país.
✓ A ideia da educação como mola do desenvolvimento é um mito que não se
sustenta, embora sem ela a situação econômica piore.
✓ A educação é um dos componentes de desenvolvimento, mas não é o principal.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 24


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02

Depois de apresentar o seu posicionamento, levante alguns fatos ou ideias que possam
dar suporte ao seu ponto de vista.

Questão Considerando o quadro abaixo e o tema do processo educacional no mundo moderno,


04 responda as seguintes perguntas: o que esse fenômeno revela sobre o sistema
educacional? Em que medida o processo escolar contribui para isso? Quais são os valores
que realmente estão sendo transmitidos no processo? Que tipo de violência está
implícito na educação formal hoje em dia?

Cronologia dos casos de atiradores em escolas

2019 – Suzano. (São Paulo) – Dois jovens encapuzados atiraram em alunos da escola
fazendo 8 vítimas fatais.

2017 – Goiânia (Goiás) – Um adolescente de 14 anos matou dois colegas e feriu outros
4.

2012 – Santa Rita região metropolitana de João Pessoa (Paraíba) – Um adolescente de


16 anos atirou em 3 alunas da escola.

2011 – São Caetano do Sul (São Paulo) – Uma aluno de 10 anos de idade atirou na
professora.

2011 – Realengo (Rio de Janeiro) – Um homem de 23 anos invadiu uma escola e matou
12 adolescentes.

Fonte: https://www.folhape.com.br/noticias/noticias/sao-
paulo/2019/03/13/NWS,98707,70,632,NOTICIAS,2190-RELEMBRE-OUTROS-CASOS-
ATIRADORES-ESCOLAS-BRASIL.aspx

Comentário: Novamente, não é preciso uma paráfrase longa. Um período mencionando


o fenômeno bastaria. Logo a seguir, seria possível ir respondendo às questões. Primeiro
tente respondê-las num rascunho, veja quais você consegue responder e depois
transponha as ideias levantadas para o texto escrito.
Rascunho:
O que esse fenômeno revela sobre o sistema educacional? O sistema educacional não é
diretamente responsável. Mas as escolas não estão preparadas para novas demandas
dos jovens.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 25


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
Em que medida o processo escolar contribui para isso? Na medida em que não se olha
para o aluno como ser humano que deve ser cuidado, mas como número numa sala de
aula.
Quais são os valores que realmente estão sendo transmitidos no processo? Não sei.
Que tipo de violência está implícito na educação formal hoje em dia? A violência da
opinião social de qualificação ou desqualificação que gera bullying.
Veja, dei respostas rápidas e esquemáticas. Não é preciso responder a todas, tanto que
não respondi a uma delas. Tendo algumas ideias, é possível compor o texto,
desenvolvendo melhor os esboços.

Q.5

Pesquisa: escola não prepara aluno para mercado de trabalho

(Disponível em https://compromissocampinas.org.br/pesquisa-escola-nao-prepara-
aluno-para-mercado-de-trabalho/, acessado em 13.03.2019)
A questão sobre o processo educacional na contemporaneidade levanta discussões
relacionadas a aspectos econômicos, sociais e subjetivos. Escolha um desses elementos
como recorte temático e faça seu comentário.
Comentário: Essa orientação de recorte é a mais complicada, pois ainda assim a proposta
continua indefinida. O que se entende por
✓ aspecto econômico? Geração de riqueza para o país (o fragmento do Estadão para a
questão 3 tem esse viés);
✓ aspecto social? Esse é mais difícil, pode se referir à relação entre classes sociais
(importância da educação para a ascensão social); ao bem-estar dos indivíduos numa
sociedade (a educação como forma de promover paz e harmonia social); aos
problemas do Brasil (violência, desigualdade, desvalorização cultural da educação)
etc.
✓ aspecto subjetivo? Refere-se ao impacto da educação formal e institucional na
construção da personalidade do indivíduo, refere-se à psicologia.
Escolha um desses aspectos e o desenvolva. Não tente relacioná-los. Não é preciso e você
pode se perder no comentário.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 26


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Redação/ Aula 02

Conexões
Freud3 e Educação
O pai da Psicanálise não falou muito sobre educação formal (escolar, institucional). Contudo, o alemão
desenvolveu um argumento interessante para pensar a importância social da educação e o seu caráter
violento.
Em Mal estar na civilização, Freud apresenta uma tese simples, mas bastante esclarecedora: o processo
civilizatório exige a contenção dos desejos e vontades, ou seja, o indivíduo bem educado vive em
constante mal-estar, pois não pode dar vazão aos seus desejos.
Na sociedade moderna de massas, a observância às milhares de regras presentes no nosso cotidiano (por
exemplo, atravessar a rua somente quando o sinal estiver verde) torna-se fundamental. Ora, o indivíduo
deve ser introduzido nesse mundo complexo e extremamente hostil. A educação, portanto, leva o
indivíduo a apreender as regras, interiorizá-las e automátizá-las – regras que não são agradáveis ao
indivíduo. Esse processo em si é violento.

5. Subentendidos
O que são subentendidos? Quais os subentendidos fundamentais em uma redação.
Segundo Platão & Fiorin, subentendidos textuais “são insinuações, não marcadas linguisticamente,
contidas numa frase ou num conjunto de frases.”4 Há vários níveis de subentendidos em uma ação
comunicativa.
Observe a imagem abaixo, parte de uma proposta de redação de Vestibular.

Percebe-se de imediato que a mensagem literal não traduz a intenção do emissor. Dizemos para
alguém sorrir ao tirar uma foto ou ao ser filmado, pois queremos a melhor imagem da pessoa, afinal,
gostamos dela. Não é esse o caso. Educadamente, o emissor da mensagem quer ameaçar o destinatário:
“lembre-se de que se você estiver fazendo algo errado, você será filmado e sofrerá as penalidades
cabíveis”. A ameaça não está linguisticamente registrada no cartaz, pelo contrário, o comunicado é
extremamente cortês.

3
Sigmund Schlomo Freud nasceu em 1856 (Alemanha) e morreu em 1939 (Inglaterra). Formou-se em Medicina e, aos
poucos, vai se interessando por Psiquiatria. Percebe a fragilidade de tal “ciência” que não consegue explicar
satisfatoriamente os comportamentos humanos a partir de causas físicas. Propõe, então, a “Teoria da alma”. De acordo
com Freud, grande parte dos processos psíquicos da mente humana estão em estado de inconsciência, e são
condicionados pelas relações familiares. Esses processos nada físicos produzem sintomas corporais.
4
Fiorin, José L. & Savioli, Francisco P. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: editora Ática. 1996. P.310.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 27


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
Contudo, há outros subentendidos que só poderiam ser discutidos a partir de um certo
direcionamento da Banca. Então vamos à coletânea dessa proposta.

Proposta de Redação
Texto I

As imagens são confidenciais e protegidas nos termos da lei. Na porta de um shopping center.
Texto II
É obrigatória a identificação.
(Placa industrializada, colocada em portarias de prédios residenciais, repartições públicas etc.)
Texto III
O homem está, cada vez mais, e mais rápido também, pondo a técnica a seu serviço. Hoje,
principalmente nos centros urbanos, o que mais atormenta o cidadão é o perigo dos assaltos e da
violência com que são praticados. E estão cada vez mais sofisticados os sistemas de segurança, com suas
câmeras de filmagem, minúsculas às vezes, posicionadas em lugares bastante discretos. Há aparelhos
que são dotados de aprimorado zoom, o conjunto de lentes cujo alcance focal pode ser ajustado até
permitir ao operador a leitura do que está escrito num papel na mão de uma pessoa a muitos metros de
distância. Tudo para tornar nossa vida mais segura e feliz.
J. Freitas
Texto IV
Que saudades do tempo em que eu era livre!

Os textos II e III apontam para a função utilitária da mensagem ao corroborar práticas de vigilância
que devem tornar “nossa vida mais segura e feliz”. Na verdade,
é assim que lemos o cartaz e ele nos parece extremamente
amigável. O texto IV introduz uma outra leitura a partir de um
subentendido filosófico: a vigilância pressupõe um padrão de
comportamento único, algo que contraria a liberdade do
Fonte: Pixabay

indivíduo.
Esse implícito escapa a uma leitura comum. Toda vez que
apresento essa proposta a um aluno, ele pergunta: qual o
problema em ser filmado? Na prática social, talvez isso seja
necessário; do ponto de vista da reflexão filosófica, a vigilância fere o preceito de liberdade como valor
absoluto e amplo que determinou toda a cultura ocidental.

Aliás, não é à toa que escolhi essa proposta, pois ela toca nos pressupostos básicos de qualquer
proposta de cunho social.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 28


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02

Liberalismo
Subentendidos do
Valores democráticos
Iluminismo
Ceticismo

Liberalismo
Como o próprio nome já diz, Liberalismo é uma doutrina filosófica fundadora da sociedade
moderna, embasada em ideias de liberdade e igualdade. A igualdade liberal não é econômica, mas
jurídica social. Postula-se a universalidade dos direitos. Garantir isso na prática tem sido a grande luta
dos humanistas. Sendo assim, qualquer prática social que ameace os princípios liberais passa a ser
objeto de temas da Banca, por mais que tais práticas se justifiquem de forma utilitária.
A máxima do liberalismo foi expressa por. Para o alemão, o sujeito liberal é aquele que pensa por
conta própria e se comporta de forma autônoma, ou seja, ele age da melhor forma possível (porque é
racional), sem ser coagido por qualquer força exterior – Estado, religião, cultura de massa. O indivíduo
pode ser religioso, obedecer ao Estado ou gostar de novelas, mas age dessa forma tendo consciência do
que faz e sendo sujeito de sua escolha.
(A filmagem como vigilância é uma espécie de força exterior que coage o indivíduo, tirando-lhe a
possibilidade de escolha)

Valores democráticos
O Liberalismo político redundou na criação da Democracia moderna. Esse sistema de governo é
frágil como a história já demonstrou. Em momentos em que as sociedades se sentiram ameaçadas,
houve uma guinada totalitária.
O primeiro valor da Democracia é a própria Democracia, isso significa que é preciso defender o
sistema e estar atento às ameaças a ele.
O segundo valor da democracia se relaciona ao seu funcionamento. Ela não se apoia na
pessoalidade, mas na lei reconhecida por todos. Ou seja, há respeito pelo Estado baseado no direito
aprovado pelos legisladores. Todos são iguais perante a lei.
O terceiro valor se associa à liberdade de expressão. Como não há grupo ou indivíduo melhor
que o outro perante a lei, todos têm o direito de dizer o que pensam. Disso decorre a necessidade de
tolerância.

Várias propostas de redação têm como viés as ameaças à Democracia.

Ceticismo

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 29


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
A liberdade de expressão se junta a uma característica própria do pensamento científico-
filosófico: a independência do pensamento. A universidade é cética no sentido de ser o lugar da dúvida,
que deve cessar parcialmente quando a teoria ou a tese for assentida pela maioria.
Mas, mesmo quando uma ideia é acolhida, ainda assim haverá espaço para a dúvida, contanto
que o inquiridor tenha argumentos para tanto. Por exemplo, acabei de afirmar que os valores
democráticos são admirados pela Banca. Contudo, é possível fazer uma redação com uma tese de que a
democracia é prejudicial, bastaria ter argumento para isso.
Argumentos contra os pressupostos iluministas (Liberalismo, Democracia, Ceticismo e
Diretos Humanos) são possíveis, mas lembre-se de que devem ter força argumentativa
redobrada.

6. Núcleos temáticos

O que é, o que é... o que é que vai cair na Vestibular?

Devido à dificuldade óbvia em determinar isso, que tal observarmos núcleos temáticos?

Política
Você deve ter reparado que a maioria das propostas lida com dois grandes temas, política e
ética. Política é fácil de entender o que significa: questões que giram em torno de ações que envolvem a
ação do Estado em alguma medida. Tome-se como exemplo a questão agrária. Ações relacionadas ao
problema agrário no Brasil só podem ser resolvidos com decisões de alguma instância do governo:
executivo, legislativo e executivo.
Ética
O tema “ética” é mais complicadinho, né? Afinal, o que é isso?
A palavra vem do grego ethos que se associa a forma de comportar-se. Pode-se falar em ethos
pessoal, por exemplo, “a honestidade é o ethos de tal indivíduo”. De forma mais ampla, pode-se usar a
palavra para um tipo de comportamento próprio de uma sociedade, por exemplo, “o ethos do brasileiro
é a malandragem”.
Esse uso bastante peculiar decorre do uso que Aristóteles fez da palavra. Ele escreveu um
tratado sobre o tema, no qual, ele aconselhava seu filho Nicômaco a como se comportar para ser feliz. O
texto girava em torno da análise das virtudes e dos hábitos como maneira de prescrever uma forma
segura para viver bem no cotidiano. Digamos que essa ética é a mais particular, a do indivíduo. A UNESP
tem elaborado propostas que fazem o candidato pensar no comportamento individual, tais como a do
ciúmes (2006).
Contudo, a partir do Iluminismo a questão ética ganha outras dimensões. A perda do poder
social da religião com suas normas morais tornou necessário que outro tipo de regras mais elásticas
fossem discutidas e postas em prática. As condutas não deveriam mais ser pautadas pelo código bíblico.
Qual seria o novo parâmetro? O critério dos humanistas liberais. Esses critérios baseiam-se na
igualdade de direitos entre os homens, mas eles não estão especificados em detalhes em nenhuma
tábua de mandamentos. Eles são flexíveis e dignos de discussão, pois podem redundar em condenação
social ou em leis que são promulgadas em nome de uma ética social.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 30


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02

Oi...não entendi nada...


Vou dar um exemplo, corujinha singular. Pense um pouco nas inovações no campo da medicina e
da biologia. Hoje, é possível mapear o DNA e até mesmo manipulá-lo. É possível fazer clones e
selecionar algumas características físicas de nossos descendentes. Essa é uma possibilidade técnica, mas
poderia ser adotada indiscriminadamente de acordo com a vontade de cada um? O uso dessa
tecnologia não tornaria o convívio social mais agressivo e excludente? Até onde a manipulação da
natureza em nosso favor pode ir sem prejudicar a própria natureza ou a espécie humana a longo prazo?
Essas questões são éticas e sociais porque a resposta a elas gera leis e regras que vão além do
âmbito subjetivo de como viver bem. Mesmo que não gere leis, elas acabam por pautar valores e
julgamentos, servindo de parâmetros para decisões judiciais. Considere o tema dado pela UNESP em
2007, “A questão do idoso no Brasil”.
Não se trata de uma questão particular. Você pode tratar mal o idoso e ainda ser feliz de uma
forma bastante egoísta. A questão é mais ampla, pois discute-se, na verdade, os parâmetros sociais
dos tipos de comportamento que serão aceitos socialmente ao se avaliar a relação que cada brasileiro
estabelece com os idosos.
Essa discussão pode gerar regras, leis e até estatutos como, de fato ocorreu. Contudo, mesmo
havendo um estatuto do idoso e regras para proteção da terceira idade, o desrespeito é flagrante no
cotidiano. A proposta leva o candidato a pensar em como deve ser o comportamento das pessoas de
forma coletiva para que a vida social não seja insuportável.
Educação
Dentro desse tópico, a Banca costuma considerar coisas muito pontuais, como por exemplo, o
próprio Vestibular, a formação intelectual do indivíduo, os desafios que o estudante pode encarar
dentro da nova perspectiva universitária etc. Neste ano de 2019, esse tema merece atenção. Afinal, as
críticas ao sistema educacional universitário brasileiro têm sido bastante acentuadas. Um tema como
esse poderia ter uma interface com a política.
Questão social
A expressão “questão social” se relaciona de forma direta com conflitos gerados por tensões
entre grupos sociais ou pelo reconhecimento de situações de vitimação decorrentes da desigualdade
social aguda. Ao longo do século XX, o termo foi ganhando relevância.
Inicialmente, estava associada às condições degradantes dos operários no Europa. A tensão
entre trabalhadores e burgueses, que agitou a Europa entre os séculos XIX e XX, levou a ações políticas
voltadas para a minimização do conflito. Em meados do século XX, a “questão social” passou a englobar
outras situações de desigualdade. O termo se estendeu para grupos que historicamente tiveram seus
direitos negados: mulheres, negros, homossexuais etc.
Temas como “conflito agrário”, “cotas para negros”, “violência contra a mulher” são
considerados temas sociais e dependendo do encaminhamento podem também ser do âmbito da
política.
Mídia e Arte
Entre o final do século XIX e começo do XX, a arte se torna o campo da consciência crítica, ou
seja, escritores e artistas fazem questão de trazer para dentro do seu ofício os temas sociais mais

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 31


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delicados além de uma condenação explícita à burguesia. Basta considerar as características gerais do
Realismo, das Vanguardas Europeias ou mesmo do Modernismo brasileiro entre 1920 e 1940.
Contudo, alguns sociólogos perceberam que o desenvolvimento técnico da reprodutibilidade dos
meios de disseminação de música, livros, imagens etc, limita o alcance crítico da arte. A partir da década
de 50, a televisão, no mundo inteiro, dissemina durante horas imagens e programação ficcional capaz de
impactar o espectador sem que isso produza consciência social significativa. A arte passa a ser produto
de consumo prazeroso e não forma de reconhecimento crítico do social.
As propostas da UNESP sobre o tema parecem se mover dentro desse espectro. Basta observar
pelo menos duas das propostas sobre o tema: o da banalização das imagens trágicas e o do Grafite.

Meio Ambiente
Quando foi cobrado o tema, a perspectiva adotada foi a da preservação da natureza. Tema
bastante debatido. Há outras possibilidades ainda não exploradas: a sustentabilidade e o aspecto social
da degradação da natureza. Várias previsões feitas pela ONU destacam que os mais pobres sofrerão
com as mudanças climáticas.
Além disso, dissemina-se a tese de que a natureza e a sociedade não devem mais ser analisadas
de forma separada. Todo sistema necessita de energia para seu funcionamento. A Sociedade obtém
sua energia da natureza. Os biosistemas fazem parte de uma estrutura semi-aberta porque tudo gira
em torno da energia externa do sol. Através das plantas a energia solar é utilizada pelos seres humanos
. De forma cega estamos destruindo as bases do sistema.

É importante que você faça redações de cada uma dessas áreas, assim,
você não se prepara para o tema específico (algo impossível), mas se
prepara de forma geral e abrangente.

6.1 Fuga do Tema


Opa...agora vamos à seção que dá até arrepios: fuga total ou parcial do tema, um show de
horror, que você deve evitar a todo custo.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 32


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Interpretar erroneamente a proposta

Fuga do tema Considerar um subtema como o mais importante

Não considerar o subtema proposto

O primeiro caso ocorre por desatenção. Em 2017, logo depois da aplicação do Enem,
circulou, nas redes sociais, uma suposta mensagem de “whatsapp” de alguém que afirmava ter
se enganado. Escrevera sobre cegos, quando o tema era sobre os “desafios para a formação
educacional de surdos no Brasil”. Claro que isso não vai acontecer com você, corujinha esperta que
está se preparando forte para o Vestibular.
O que pode ocorrer é a segunda situação. Em um dos vestibulares da UNICAMP, foi
proposto aos candidatos que falassem a respeito da escassez de água no planeta. Havia alguns
textos de apoio que deveriam servir como fonte para reflexão. Um deles expunha dados sobre o
rio Tietê, cuja água era potável até meados do século XX. Um dos candidatos fez uma dissertação
em que começava a falar da água, mas depois, evidentemente, empolgado com a argumentação
sobre o Tietê, desenvolveu a história do rio, discutindo sua importância para o estado de São
Paulo. É lógico que um rio é feito de água, mas as semelhanças temáticas entre um texto que fale
sobre escassez de água e um que fale sobre a história do Tietê param aí.
Mas pode acontecer o contrário.
Você pode ser obrigado a incluir um subtema e não fazê-lo, o que configura fuga parcial.
Em 2015, a FUVEST propôs o seguinte tema: “camarotização e democracia”. Suponha alguém que
gostasse muito de sociologia e se empolgasse com o tópico da segregação, assunto muito
discutido na tradição do pensamento brasileiro. Suponha, ainda, que o candidato desenvolvesse
muito bem esse subtema, mas não mencionasse o impacto disso na democracia. Ele não iria tirar
zero, mas sua nota final seria abaixo do esperado. Então, cuidado!!!

FICA A DICA

Uma das maneiras de saber se você está fugindo do tema ou não é contar a ocorrência das
palavras-chave no texto. Se você deve dissertar sobre “vigilância” e “informação”, esses
vocábulos devem aparecer no mínimo umas quatro vezes num texto de 30 linhas. Falar sobre
“informação” sem usar a palavra “informação” não é tarefa humana ou é brincadeira de mímica.
Claro que você pode usar sinônimos como “conhecimento”, “dados”, “ideias”, mas observe que
essas palavras devem estar presentes quase em cada parágrafo.
Se você deve falar de “camarotização” e “democracia”, as duas palavras devem ter uma
ocorrência significativa no seu texto.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 33


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7. Tema e Dissertação
Nas seções anteriores, tratamos do tema de forma bastante exaustiva, pois ele é o ponto de
partida da produção de seu texto.

Agora com a bola em campo, vamos para o primeiro chute no jogo da dissertação. Você deve
exprimir uma...

OPINIÃO
Como assim? Sempre me disseram que,
no texto dissertativo, a gente não pode
expressar a opinião...

Preste atenção, corujinha, o texto

Fonte: Pixabay
dissertativo deve criar um efeito de
objetividade, mas ele sempre vai expressar uma
opinião pessoal.

Objetividade será explicada melhor no


pdf sobre linguagem. Por ora, retenha que objetivo é um texto sem marcas de pessoalidade ou marcas
de emoção.

Considere as três formas linguísticas abaixo de expressão de ideias sobre um mesmo tema.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 34


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1 Deus que me livre, que não saio de casa depois das 23h nem que me paguem, já viu o
bairro em que moro?

Nos grandes centros urbanos no Brasil, a preocupação com segurança é constante.


2 Poucas pessoas saem às ruas à noite sem medo, uma minoria não foi assaltada, boa
parte dos cidadãos já pensou em colocar um alarme em casa. Sensação de
insegurança? Não, a insegurança é real.

Na cultura brasileira, a Rua e a Casa ocupam lugares nitidamente distintos.


A Rua é o espaço da trangressão, onde os malandros e marginais nos esperam; é o
3 território do salve-se-quem-puder. Esfera do anonimato e da despersonalização, é na
Rua que um cidadão de bem pode ser lesado...
(Paráfrase inspirada no livro A casa e a Rua de Roberto da Mata).

No primeiro caso, a opinião e a subjetividade são bem marcadas, seja pelo uso da interjeição “Deus
me livre”, seja pelo uso da primeira pessoa em “eu não saio”, seja pelo recurso da pergunta emotiva “já
viu o bairro em que moro?”.

Nesse caso, a pessoa que expressa a opinião não tem necessidade de argumentar sobre seu ponto
de vista, pois ela fala de si mesma e está implícito que seu comportamento interessa apenas a ela.

No segundo texto, o enunciador se vale de traços objetivos – uso da terceira pessoa, generalização
e enumeração de situações comuns. Mesmo assim, há uma opinião e ela fica clara quando se observa a
pergunta e a resposta enfática “Não, a insegurança é real. A partir daí, o articulista deverá provar o que
diz ou comentar a afirmação que fez.

No terceiro texto, também observamos traços objetivos, mas não localizamos com clareza a
opinião do autor. Na verdade, ele parece estar querendo simplesmente expor uma circunstância não
percebia pelo leitor. Mesmo assim, há uma opinião embutida. O enunciador relativiza a sensação de
insegurança diante das ruas, mostrando que, culturalmente, a rua sempre foi percebida como um lugar
perigoso.

O primeiro é subjetivo, emotivo; o segundo é dissertativo opinativo; e o terceiro é expositivo. Qual


é o texto requerido pela sua banca? O opinativo.

8.Ponto de Vista e Tese

Em 2008, a FUVEST publicou algumas das melhores redações daquele ano. Eu selecionei 2 desses
textos e apresento, abaixo, alguns trechos. Observe como os candidatos elaboraram seu ponto de vista.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 35


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1

Esse primeiro excerto é direto. Logo nas duas primeiras linhas, o autor já define seu
posicionamento: “A chamada Era da Informação apresenta diversas falhas.” Essa opinião desperta o
interesse do leitor que fica curioso: quais falhas? Ele terá que ler o texto.

Nesse outro, o título, “postura crítica”, já dá o tom opinativo do autor. O fragmento foi construído
de forma diferente do anterior. Não é curto e nem expõe de forma direta a tese. Primeiramente, ele
contextualiza o tema. O recurso é outro, enfatizar através de expressões negativas a ideia de que a Era
da Informação trouxe problemas para a sociedade: “não...confiáveis”, “irresponsável” e “desinformação”.
Além disso, há menção de subtemas argumentativos. Ele aponta que as informações não obedecem a
regras e a emissão delas se dá de forma irresponsável. Esses dois subtemas merecem ser desenvolvidos.
Ou seja, o autor do texto já apresenta resumidamente qual vai ser o desenvolvimento textual.

Nos 2 fragmentos, você percebeu que o autor expressa sua opinião e posicionamento. Isso pode
ocorrer de forma mais desenvolvida ou mais resumida, mas sempre de forma enfática.

Sacou a importância da opinião e da tese?

O que é tese?
A tese nada mais é do que a sua opinião sobre o tema, expressa verbalmente e estruturada em
uma ou mais frases articuladas com sujeito, verbo e complemento. Um termo como “a necessidade de
vigilância epistêmica” não configura tese. Isso expressa um tema.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 36


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No mínimo, você pode ter como regra escrever o tema
e acrescentar um verbo que expresse um julgamento sobre
o tema. Exemplo: “A vigilância epistêmica é necessária em
um mundo marcado pelo excesso de informação.

Essa tese parece ser a mesma do tema “a


necessidade de vigilância epistêmica”, pois eu simplesmente troquei “necessidade” por “é necessária”,
mas note que essa troca tem consequências, pois, no momento que eu coloco o verbo, sou obrigado a
complementar a frase com “em um mundo marcado pelo excesso de informação”. Teses com o verbo
“ser” são mais simples. Quando for possível seria interessante usar um verbo mais informativo. Teríamos
uma tese mais complexa em “A necessidade de vigilância epistêmica expressa um mundo no qual a
informação tornou-se entretenimento”.

Até agora estou falando da tese simples. Mas ela é extremamente importante.

Considere os temas dados abaixo. Separe as duas palavras-chave e organize uma frase simples.

Tema Palavras Tese

A comunicação e a
Comunicação,
A relação entre comunicação, conectividade e conectividade devem
conectividade e bens
organização de bens comuns. estar relacionados
comuns
aos bens comuns

O futuro do jornalismo está do lado de fora das O future do


redações Futuro do jornalismo,
jornalismo está fora
fora das redações
Observe que nesse caso a tese é dada. das redações

O esquema é como que se segue.

O futuro do está fora das redações


jornalismo

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 37


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Tendo compreendido o que significa afirmar algo sobre o tema, podemos dar um passo a mais.
Pode-se considerar a tese simples como o núcleo de um projeto de texto. Nesse caso, seria interessante
pensar num equação que abarcasse a tese simples e os dois argumentos que será desenvolvidos;

Quanto mais clara, específica e interessante for a tese mais fácil será para você desenvolver o
texto. Em outras palavras: se você pudesse resumir a sua dissertação inteira (de 30 linhas) numa única
frase, essa frase seria a tese (a ideia principal do texto).

Onde a tese deve aparecer?

A dissertação possui três tipos de parágrafos: o de introdução, o de desenvolvimento e o de


conclusão. A tese precisa aparecer logo no primeiro parágrafo (introdução).

Normalmente, a expressão escrita da opinião é feita no momento do rascunho. Ela não precisa
aparecer como você a formulou pela primeira vez, mas precisa ser expressa em sua essência.

Um leitor não pode começar a ler um texto tentando adivinhar qual a opinião do escritor, pois,
nessa circunstância, não poderia avaliar se o argumento se sustenta.

Quando a tese é ruim?


Um texto deve ser interessante para o leitor. Uma tese óbvia demais ou aquela que “chove no
molhado” não permitirá um desenvolvimento interessante. Toda tese que poda a capacidade do escritor
de mostrar seu valor na argumentação é ruim.

Às vezes, quando a tese é muito simples, vale a pena mencionar o seu oposto, para valorizá-la e
transformar o texto numa espécie de discussão que vai despertar o interesse. Suponha que você
simplesmente queira defender a ideia de que a tal “vigilância epistêmica” é importante. Essa ideia parece
óbvia e desnecessária. Para chamar a atenção do leitor, pode-se começar com a ideia oposta. Algo como:
“Muitos acreditam que vivemos no maravilhoso mundo da informação, no qual até mesmo fotos
documentais de difícil acesso podem ser disponibilizadas através das redes sociais, contudo, dada a forma
como circula a informação no mundo, é necessário bastante cuidado ao acessar informações.”

Ficou comprido, né? Mas observe que agora a tese ficou interessante e já aponta uma possível
trajetória.

O que se deve evitar?

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 38


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Não fique em cima do muro.


Afirmar que uma questão tem dois lados, sem dar ênfase a qualquer dos aspectos ou fazer
simplesmente uma enumeração de argumentos favoráveis e contrários é um “tiro no pé”.

Então, eu NUNCA posso falar dos dois lados ?

Corujinha, em Redação, a palavra nunca raramente é empregada. Uma das redações publicadas
partia da tese que, nesse caso, o melhor era o caminho do meio. Ou seja, o autor defendia a ideia de que
“navegar era preciso”, mas com os cuidados epistêmicos necessários. Ele argumentou a favor e contra,
mas veja que o acento enfático recaía sobre os cuidados. Isso não é ficar em cima do muro.

Lembre-se de que o corretor quer avaliar sua capacidade argumentativa, não quer avaliar sua
competência de contabilizador de argumentos, aquele cara que começa a redação dizendo “por um lado
a informação na internet pode levar ao engano....” e, depois de despejar os argumentos sobre isso,
começa outro parágrafo com “ por outro lado também pode nos informar...”e faz a mesma coisa.

Mas e se eu não tiver uma opinião sobre o assunto?

Pense em uma opinião que pode ser defendida e mãos à obra.

Você, corujinha esforçada, ao final do curso, terá feito uma


grande quantidade de redações. Terá desenvolvido jogo de cintura
para jogar seja qual for a configuração, porque se exercitou na dura
tarefa de argumentar bem. Então confie nas suas asas.
Fonte: Pixabay

Alguém que aprendeu a lógica matemática é capaz de fazer


um exercício se os números forem outros e se a circunstância se
alterar um pouco. Alguém que aprendeu a argumentar e defender
um ponto de vista, saberá se posicionar a partir dos dados em
mãos, mesmo que não tenha enfrentando o tema ainda.

8.1 Sistematizando os tipos de tese


É importante que você perceba quando uma tese é interessante e quando ela não permite um
desenvolvimento capaz de prender o leitor.

Observe, as supostas 4 teses sobre o tema atividade física.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 39


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Aula delas seria melhor?

Se você respondeu, a terceira, errou. Linguisticamente, tal expressão é um tema. Os termos são
amplos, não há verbo, portanto, não se afirma nada. Ora, se não há afirmação de uma ideia não há nada
sobre o que argumentar, concorda?

A segunda formulação também não é muito apropriada. Qualquer afirmação assentada em um


verbo de ligação expressa uma situação que geralmente seria desenvolvida de forma expositiva, ou seja,
você faria um texto informacional que exige muito mais conhecimento do assunto do que capacidade
argumentativa.

Ficamos entre a primeira e a última. Qual seria melhor?

A última, sem dúvida nenhuma. Por quê? Você deve estar se perguntando! Na frase em amarelo,
faz-se um julgamento, “a atividade física pode ser prejudicial”, e aponta-se dois motivos que dão força
argumentativa ao que foi dito, há dois fatores que concorrem para tonar o exercício físico perigoso.

A tese é uma coisa engraçada, é o ponto de chegada e de partida ao mesmo tempo. Depois de
você refletir sobre um determinado assunto, o resultado deve ser a tese, pois você deve estar pronto para
defender uma afirmação para a qual você tenha argumentos. Tendo chegado à tese, agora você deve
começar a escrever.

O que é tese?
• Aquilo que vai ser defendido no texto;
• Resumo do texto a ser produzido;

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 40


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• Responde ao tema, considerando inclusive as palavras principais do tema.
A tese aparece no texto?
• Não do jeito que você a descreve para você;
• Ela aparece desenvolvida no texto;
• No fundo, ela representaria o resumo de tudo o que você quis dizer.
Quais são as características de uma boa tese?
• Clareza;
• Objetividade;
• Concisão;
• Abordagem de todos os itens do tema.
Existem teses certas e erradas? NÃO.
• Existem teses boas e ruins;
• Tese boa: aquela que permite um bom desenvolvimento argumentativo;
• Tese ruim: óbvia demais.

9. O parágrafo
Esse é o básico que serve para você expressar ideias bastante simples, afinal um período não dá
conta de ideias mais complexas. Suponha o seguinte microtexto:

A tragédia se abateu sobre as nações, com consequências evidentes em relação


à desigualdade e a incerteza.

As informações são poucas, mas poderosas. Fazem o leitor imaginar quase o apocalipse. O autor
não dá muitos detalhes e deixa que o leitor imagine sozinho. Qual é a tragédia? Quais são as
consequências? Que tipo de desigualdade? Digamos que esse texto abre a possibilidade de uma leitura
ambígua e coparticipativa, afinal, diante de tais palavras, o leitor pode completar a informação como lhe
“der na telha”.

Normalmente, nos vestibulares, exige-se um texto completo. O autor deve deixar claro qual é a
sua ideia sobre o assunto, deixando pouco espaço para que o leitor preencha com sua experiência o que
não foi dito. Tomemos a primeira frase “ A tragédia se abateu sobre as nações”, um escritor detalhista
passaria a explicar a afirmação.

No final de 2019 e começo de 2020, o que parecia uma ameaça – o surgimento


de uma gripe de vírus desconhecido – tornou-se rapidamente uma tragédia do
ponto de vista econômico e sanitário.

Essa informação basta? Provavelmente, não. O leitor ficaria curioso em relação a: quais
problemas relacionados à saúde ou à econômica o autor vai selecionar?

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 41


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No final de 2019 e começo de 2020, o que parecia uma ameaça – o surgimento
de uma gripe de vírus desconhecido – tornou-se rapidamente uma tragédia do
ponto de vista econômico e sanitário. A covid rapidamente mudou o cenário das
grandes cidades, limitando a circulação das pessoas e, como consequência, os
gastos das famílias. A paralisação levou ao maior tombo do PIB nas economias
mais desenvolvidas desde a grande depressão de1930.

Agora sim o parágrafo conduz o leitor e expressa exatamente o que o escritor imaginou. O que
colaborou para isso? A capacidade de discriminar as ideias gerais que estavam na primeira frase do
parágrafo. Observe novamente o parágrafo, como ele está organizado?

O primeiro período contém a ideia núcleo da qual saíram todos as frases subsequentes. Escrever
parágrafos ou texto curto através dessa técnica é um bom jeito de ir organizando o texto, aliás qualquer
tipo de texto.

9.1 Respostas dissertativas

Esse uso de um período curto no começo do parágrafo em que resumo o que vai ser dito pode
ser usado para dar respostas dissertativas, pois ajuda a organização das ideias. Para exemplificar, vou
considerar aqui uma questão dissertativa da UNICAMP, pois tal banca publica posteriormente um caderno
de comentários em relação ao que era esperado em cada questão, o que permite ter uma noção de qual
o tipo de organização textual os corretores privilegiam.

A questão de 2020 era a seguinte:


Leia atentamente o trecho da carta escrita em 1830 por Simón Bolívar ao
General J. J. Flores. A partir da leitura e de seus conhecimentos, responda às
questões.
Meu querido General: V. Ex.ª sabe que governei durante vinte anos e deles
tirei apenas pouco resultados certos: 1º) a América é ingovernável para nós;
2º) aquele que serve a uma revolução ara no mar; 3º) a única coisa que se
pode fazer na América é emigrar; 4º) este país cairá infalivelmente em mãos
da multidão desenfreada, para depois passar a pequenos tiranos quase
imperceptíveis, de todas as cores e raças; 5º) devorados por todos os crimes
e extintos pela ferocidade, os europeus não se dignarão a nos conquistar; 6º)
se uma parte do mundo voltasse ao caos primitivo, este seria o último
período da América.
(Adaptado de Simón Bolívar, Escritos políticos. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 1992, p. 32.)
a) Identifique dois aspectos políticos do processo de independência da
América espanhola.
b) Explique como o texto contradiz o projeto político inicial de Bolívar para a
América.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 42


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Em meados de 2020, a banca publicou o comentário. Em relação a essas questões, o comentário
incluía a resposta. Observe

QUESTÃO 14
A questão valoriza a habilidade da leitura e interpretação de texto, a partir de
um tema clássico de História: as Independências na América. Assim como a
questão anterior, exige a compreensão das relações entre acontecimentos
simultâneos no mundo atlântico.

a)
O processo de Independência da América Espanhola, como aponta
Simón Bolívar no trecho citado, foi multifatorial. Derivou da crise do Antigo Frase inicial que
Regime e da circulação de ideais liberais na América, sendo seguido pela resume a resposta
desintegração das colônias espanholas em países fragmentados.
Descontentamentos nas colônias levaram a questionamentos e reivindicações
por igualdade de representação política perante a Espanha. As elites locais,
desejosas de ampliar seu poder, aproveitaram-se disso para propor
transformações como o liberalismo econômico. Destaca-se a ocorrência de
mobilizações populares, sendo o período marcado por intensas guerras e
conflitos civis, como os mencionados no documento.

b)
O texto expressa a insatisfação de Bolívar perante a não concretização
do projeto político pan-americanista. Dentro desse projeto, enunciado, por
exemplo, no Congresso do Panamá, em 1826, havia a proposta de criação de
Frase inicial que
uma confederação de países hispano-americanos independentes. Apesar da resume a resposta
adesão da Grande Colômbia, México, Peru, Bolívia e Guatemala, o projeto não
conseguiu ser consolidado.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 43


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10. Tópico frasal


Até aqui estava brincando de “adivinha do que estou falando”. Considerei a
frase inicial do parágrafo sem dizer o nome técnico desse recurso: “tópico frasal”.
Inicia-se o parágrafo com uma frase curta que resume tudo o que será dito nesse
núcleo temático.

Um parágrafo escrito a partir da técnica do tópico frasal é chamado de


padrão, ocorre em cerca de 60% dos casos, segundo Othon M. Garcia (1975,p.192
(Garcia, 1975).Para o autor

Em geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e mais eficaz – o


que justifica seja ensinado ao principiantes - , consta, sobretudo na dissertação e na descrição, de
duas e, ocasionalmente três partes: a introdução, representada na maioria dos casos por um ou
dois períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo (é o
que passaremos a chamar daqui por diante de tópico frasal); o desenvolvimento, isto é, a
explanação mesma dessa ideia-núcleo; e a conclusão, mas rara, normalmente nos parágrafos
pouco extensos ou naqueles em que a ideia central não apresenta maior complexidade.

É desejável que um parágrafo tenha algumas características:


- unicidade;
- organização;
- coerência.

Observe o parágrafo abaixo, corujinha.

Observe que o autor do parágrafo começa com uma frase que será o fio condutor desse fragmento.
A ideia é de que atravessar uma fronteira não é fácil e ele escolheu como argumento o vestibular. A
seguir, ele vai descrevendo o vestibular, como já fizemos em outros exercícios e, assim, ele configura um
argumento.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 44


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10.1. A unidade do parágrafo


Como falar sobre o racismo? No caso do Brasil, que tem uma história manchada pela escravidão
isso não é tão difícil, mas talvez seja difícil organizar as ideias.

Observe o parágrafo abaixo.

De acordo com o artigo 5º da Constituição Federal de 1988, todos são iguais


perante a lei. No entanto, a sociedade brasileira permanece excludente, haja
vista a desproporcionalidade de cargos entre negros e brancos no mercado de
trabalho. Ainda na temática, de acordo com Aristóteles, é necessário tratar
desigualmente os desiguais na exata medida das suas desigualdades, como
ocorre nas cotas raciais - medida que prevê uma parcela de vagas de um
determinado espaço da sociedade a esse grupo. Todavia, tal medida no ramo
trabalhista e nas universidades ainda causam incômodo em parcela da
população que não sente os efeitos da isonomia deficitária. Sob essa ótica, faz-
se necessário analisar a persistência da desigualdade racial principalmente no
que diz respeito ao mercado de trabalho e providências à problemática
levantada.

Primeira pergunta que deve ser feita é: qual é a ideia núcleo do parágrafo? Parece que a ideia era:
apesar de haver o direito reconhecido de igualdade, os negros ainda sofrem com a exclusão. Contudo, o
autor do parágrafo ficou perdido repetindo informações sem deixar claro qual era a ideia central.

Direito
De acordo com o artigo 5º da Constituição Federal de 1988, todos são iguais
perante a lei. No entanto, a sociedade brasileira permanece excludente, haja
Não é cumprido
vista a desproporcionalidade de cargos entre negros e brancos no mercado de
trabalho. Ainda na temática, de acordo com Aristóteles, é necessário tratar
desigualmente os desiguais na exata medida das suas desigualdades, como Direto
ocorre nas cotas raciais - medida que prevê uma parcela de vagas de um
determinado espaço da sociedade a esse grupo. Todavia, tal medida no ramo
trabalhista e nas universidades ainda causam incômodo em parcela da
população que não sente os efeitos da isonomia deficitária. Sob essa ótica, faz- Não é cumprido
se necessário analisar a persistência da desigualdade racial principalmente no
que diz respeito ao mercado de trabalho e providências à problemática
levantada.

Note que o autor repete a mesma estrutura preenchendo com repertórios diferentes, o que não
permite que o leitor perceba claramente aonde ele quer chegar.

O texto ficaria bem melhor e mais organizado se ele anunciasse a intenção do parágrafo no
primeiro período, depois apresentasse a ideia de direito, seja pela constituição, seja pela filosofia, para
em seguida mostrar que isso não se cumpre no Brasil. Exemplo? Leia como ficaria se fosse mais
organizado.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 45


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Apesar de haver o direito reconhecido de igualdade, os negros ainda sofrem
com a exclusão. De acordo com a Constituição Federal de 1988, todos são
iguais perante a lei. Esse direito reflete o pensamento filosófico do ocidente.
Aristóteles dizia que era necessário tratar desigualmente os desiguais para que
houvesse justiça, quando há distorção na sociedade. Na sociedade brasileira,
esses princípios não são observados como se deveria, algo que pode ser
observado no mercado de trabalho.

10.2 Criando e desenvolvendo um tópico frasal


O tópico frasal tem sempre característica de afirmação e aponta o que será desenvolvido. A
melhor maneira de se fazer um tópico inicial é generalizando a ideia que será apresentada. Seguem-se
alguns tipos de desenvolvimento de parágrafos.

Explicação de uma definição

O primeiro período apresenta uma definição e no resto do parágrafo, você explica, dá exemplo
etc.

Evolução tem um significado próprio relacionado a desenvolvimento progressivo. Na maioria dos


livros científicos a palavra se refere à evolução orgânica, ou seja, à teoria da evolução aplicada a seres
vivos. Essa teoria diz que as plantas e animais se modificaram geração após geração e que ainda estão se
modificando hoje em dia. Uma vez que essa mudança tem-se prolongado através das eras, tudo o que
vive atualmente na Terra descende, com muitas alterações, de outros seres que viveram há milhares e
até milhões de anos atrás. (Enciclopédia Delta Universal, vol. 6, p. 3134.)

Percurso histórico

A primeira frase já inclui algo da tese e apresenta qual o momento histórico que você irá selecionar
de forma bastante geral. No desenvolvimento, você detalha.

A evolução como um desenvolvimento ordenado, como sabemos, foi um conceito típico do


século XIX. Surgiu nas ciências da natureza, e depois, por analogia, se estendeu às ciências do homem.
(...) Do ponto de vista das ciências do homem em geral, a plenitude era entendida como o advento de um
estado de civilização superior, e os povos eram vistos como seguindo fases evolutivas até chegar a uma
final, superior, que seria o ápice de sua evolução. (Mattoso Câmara, 1977. Introdução às línguas indígenas
brasileiras.( Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico. p. 66.)

Confronto

Uma forma interessante de começar seu parágrafo é apresentar a ideia a partir da oposição.
Depois desenvolva cada um dos termos opostos.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 46


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A evolução tecnológica ocorreu ao mesmo tempo em que parece haver uma regressão dos
valores humanos. No século XX, observou-se a criação de várias máquinas maravilhosas que começaram
a fazer parte de nossa vida: o carro, o avião, a geladeira etc. Contudo, foi, também nesse século, que duas
bombas atômicas foram detonadas matando milhares de pessoas e outros artefatos químicos foram
inventados com a finalidade de exterminar seres humanos.

Causa/Consequências

No primeiro período apresente de forma geral uma causa ou uma consequência e a desenvolva a
seguir.

O progresso humano tem consequências danosas para a natureza. Algumas vezes, as mudanças
provocadas pelo homem parecem pequenas e simplesmente como um mal menor, mas tomemos o caso
das rãs e das salamandras nas Ilhas Britânicas. Os invernos estão mais quentes nessa região, devido a
mudanças de clima causadas pelos seres humanos. Isso significa que as lagoas onde aqueles animais se
reproduzem estão mais quentes. Assim, as salamandras (Triturus) começaram a se acasalar mais cedo.
Mas as rãs (Rana temporaria) não. De modo que a desova das rãs está virando almoço das salamandras.
É possível que as lagoas britânicas em que há salamandras continuem por dezenas e dezenas de anos
cada vez com menos rãs. E então, um dia, o ecossistema da lagoa desmorona... (Adaptado de Alanna
Mitchell, “Bad Evolution”, The Globe and Mail Saturday, 4/5/2002.)

Q.1
O texto abaixo é um fragmento adaptado do artigo de Vladimir Safatle “Talvez haja algo limitador
em tratar uma vida plena como uma vida feliz” publicado na Folha em 18.08.2017.

Para os gregos, o conceito de felicidade tinha outra dimensão. Não era uma palavra que se
conjugava no particular. Aristóteles, por exemplo, lembrava que a felicidade (eudaimonia) era a
atividade de acordo com a virtude.

O pensador estabeleceu um critério. Haveria uma excelência a alcançar por meio do exercício de
virtudes, atividade esta que nos permitiria evitar os extremos e alcançar a justa medida, o que
aparece como a condição para realizarmos o que nos seria melhor.

Tais virtudes não eram, no entanto, meras determinações normativas dos comportamentos
individuais. As virtudes dos indivíduos eram as mesmas virtudes da pólis, ou seja, eram as mesmas
disposições de conduta e julgamento necessários para a conservação da pólis.

Com o advento do pensamento liberal, houve uma mudança. A partir do século 17, a felicidade
começou a se associar à liberdade do indivíduo frente à sociedade. Cada um é visto como
portador de sistemas particulares de interesses, como agente maximizador de prazer e de

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afastamento do desprazer, o indivíduo liberal é, inicialmente, alguém que calcula os resultados
de suas ações a partir dos benefícios oferecidos.

A própria noção de "interesse" é elucidativa nesse contexto. "Interesse" é o nome que daremos,
a partir de então, às paixões submetidas ao cálculo, enunciadas sob a forma de determinações
conscientes que produzem deliberações conscientes, representações que poderiam ser
assumidas como projetos que claramente dou para mim.

(Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2017/08/1910722-
talvez-haja-algo-limitador-em-tratar-uma-vida-plena-como-uma-vida-feliz.shtml, acessado em
18.04.2019)

Exercício 1. Grife as informações mais importantes de cada parágrafo.

Exercício 2. Qual a técnica utilizada para desenvolver o tópico frasal?

Q.2
O próximo texto é uma adaptação feita a partir do texto de Wagner Carelli, publicado pela revista
Carta Capital (15: 12-15, out. 1995) e replicado por Platão & Fiorin (1996, p.34 [2]).
Propositalmente foram retiradas as primeiras frases de cada parágrafo. Você as encontrará
abaixo do texto. Assinale a alternativa que apresenta de forma coerente sequência correta dos
tópicos frasais.

O malcriado brasileiro

No Brasil, uma parte da elite faz questão de adotar um tipo de comportamento marcado
pela indiferença social, arrogância, ostentação e desprezo pela miséria. São pessoas ricas que
fazem questão de ignorar o país em que vivem.

___________________________________________________.Michel Lind, em seu livro


The Next American Nation, cunhou o termo “ brasilianização” para explicar “a crescente retirada
das classes superiores para trás das barricadas de uma própria nação-dentro-da-nação, um
mundo de bairros privados, escolas privadas, polícia privada, saúde privada e até ruas privadas,
muradas contra a miséria ao redor.

___________________________________________________.Há, segundo ele,


evidências ainda escassas – que considera ameaçadoras – da tendência nos Estados Unidos, mas
reconhece no Brasil sua origem e sua forma. As classes mais altas optam, sem qualquer vergonha,
pela separação social visível espacialmente.

___________________________________________________. No dia a dia esse fato


pode ser verificado. Tomemos o caso de Marcos G., publicitário bem-sucedido, rico, 38 anos que
deu uma mountain bike importada - preço por volta de seus R$500,00 - para o filho Bruno G., 9
anos. Era um presente de aniversário. Marcos e família moram em Alphaville, um condomínio da
alta classe média da região periférica de São Paulo, concebido dentro dos padrões dos melhores

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 48


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subúrbios americanos. Passada uma semana do aniversário, Marcos notou que o filho brincava a
pé. Perguntou pelo presente, e o menino desconversou. Confessou depois muito embaraçado
que a bicicleta fora, digamos, expropriada por Pedro A. C., 10 anos, filho do bem-sucedido
empresário da construção civil Carlos Alberto C., rico, por volta, dos 40, 42 anos, morador de uma
casa enorme na quadra de cima. Marcos bateu à casa de Carlos Alberto. O próprio Carlos Alberto
atendeu. "Vim buscar a bicicleta do Bruno, que o Pedro tomou emprestada", disse Marcos. Carlos
Alberto não gostou: "Me diz o preço dessa m... aí que eu pago". Marcos disse que a bicicleta não
estava à venda, entrou para pegá-la, e voltou para casa.

____________________________________________________. Sob a rubrica de um


egoísmo terminal – que não apenas usa o outro, mas o elimina ou o ignora – é possível
sistematizar um rol de atitudes típicas. O caso do lixo, por exemplo: na cabine do carro – de
preferência importado -, o lixo não fica; fora, na rua, pode ficar. Abre-se a porta do elevador e o
malcriado não espera que as pessoas saiam de lá de dentro: ele caminha diretamente rumo ao
fundo do elevador, como se entre almas.

Tópicos frasais

I.O afastamento do espaço social leva tais indivíduos a atitudes egoístas que negam a
possibilidade de convivência.

II. Esse tipo de comportamento chegou a ser observado além-fronteiras e nos Estados Unidos
mereceu uma tese.

III. Lind pensa no fenômeno como uma tendência geral.

IV. Não só essa atitude, mas outras do nosso dia a dia, configuram o que podemos chamar de
malcriado brasileiro.

Assinale a sequência correta dos tópicos que completam o início de cada parágrafo.

a) I, II, III e IV.

b) II, III, IV e I.

c) III, II, IV e I.

d) IV, I, III e II.

e) I, IV, II e III.

Gabarito: parâmetros para a escrita

Questão O texto abaixo é um fragmento adaptado do artigo de Vladimir Safatle “Talvez haja
01 algo limitador em tratar uma vida plena como uma vida feliz” publicado na Folha em
18.08.2017.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 49


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Para os gregos, o conceito de felicidade tinha outra dimensão. Não era uma palavra
que se conjugava no particular. Aristóteles, por exemplo, lembrava que a felicidade
(eudaimonia) era a atividade de acordo com a virtude. O pensador estabeleceu um
critério. Haveria uma excelência a alcançar por meio do exercício de virtudes,
atividade esta que nos permitiria evitar os extremos e alcançar a justa medida, o que
aparece como a condição para realizarmos o que nos seria melhor.
Tais virtudes não eram, no entanto, meras determinações normativas dos
comportamentos individuais. As virtudes dos indivíduos eram as mesmas virtudes da
pólis, ou seja, eram as mesmas disposições de conduta e julgamento necessários para
a conservação da pólis.
Com o advento do pensamento liberal, houve uma mudança. A partir do século 17, a
felicidade começou a se associar à liberdade do indivíduo frente à sociedade. Cada
um é visto como portador de sistemas particulares de interesses, como agente
maximizador de prazer e de afastamento do desprazer, o indivíduo liberal é,
inicialmente, alguém que calcula os resultados de suas ações a partir dos benefícios
oferecidos.
A própria noção de "interesse" é elucidativa nesse contexto. "Interesse" é o nome que
daremos, a partir de então, às paixões submetidas ao cálculo, enunciadas sob a forma
de determinações conscientes que produzem deliberações conscientes,
representações que poderiam ser assumidas como projetos que claramente dou para
mim.
(Disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2017/08/1910722-talvez-
haja-algo-limitador-em-tratar-uma-vida-plena-como-uma-vida-feliz.shtml, acessado
em 18.04.2019)

Exercício 1. Grife as informações mais importantes de cada parágrafo.


Exercício 2. Qual a técnica utilizada para desenvolver o tópico frasal?
Comentário:
Exercício 1. Observe que os trechos mais importantes em cada parágrafo são os
tópicos frasais que resumem tudo o que virá depois.
Exercício 2. Os dois primeiros parágrafos são desenvolvidos por contraste entre o que
pensamos a respeito da felicidade e o que pensava Aristóteles. O terceiro parágrafo é
desenvolvido por percurso histórico e, no último, o autor desenvolve a definição.

Questão O próximo texto é uma adaptação feita a partir do texto de Wagner Carelli, publicado pela
02 revista Carta Capital (15: 12-15, out. 1995) e replicado por Platão & Fiorin (1996, p.34 [2]).
Propositalmente foram retiradas as primeiras frases de cada parágrafo. Você as encontrará
abaixo do texto. Assinale a alternativa que apresenta de forma coerente sequência correta
dos tópicos frasais.
O malcriado brasileiro

No Brasil, uma parte da elite faz questão de adotar um tipo de comportamento


marcado pela indiferença social, arrogância, ostentação e desprezo pela miséria. São pessoas

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 50


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ricas que fazem questão de ignorar o país em que vivem.
___________________________________________________.Michel Lind, em seu
livro The Next American Nation, cunhou o termo “ brasilianização” para explicar “a crescente
retirada das classes superiores para trás das barricadas de uma própria nação-dentro-da-
nação, um mundo de bairros privados, escolas privadas, polícia privada, saúde privada e até
ruas privadas, muradas contra a miséria ao redor.
___________________________________________________.Há, segundo ele,
evidências ainda escassas – que considera ameaçadoras – da tendência nos Estados Unidos,
mas reconhece no Brasil sua origem e sua forma. As classes mais altas optam, sem qualquer
vergonha, pela separação social visível espacialmente.
___________________________________________________. No dia a dia esse fato
pode ser verificado. Tomemos o caso de Marcos G., publicitário bem-sucedido, rico, 38 anos
que deu uma mountain bike importada - preço por volta de seus R$500,00 - para o filho
Bruno G., 9 anos. Era um presente de aniversário. Marcos e família moram em Alphaville, um
condomínio da alta classe média da região periférica de São Paulo, concebido dentro dos
padrões dos melhores subúrbios americanos. Passada uma semana do aniversário, Marcos
notou que o filho brincava a pé. Perguntou pelo presente, e o menino desconversou.
Confessou depois muito embaraçado que a bicicleta fora, digamos, expropriada por Pedro A.
C., 10 anos, filho do bem-sucedido empresário da construção civil Carlos Alberto C., rico, por
volta, dos 40, 42 anos, morador de uma casa enorme na quadra de cima. Marcos bateu à
casa de Carlos Alberto. O próprio Carlos Alberto atendeu. "Vim buscar a bicicleta do Bruno,
que o Pedro tomou emprestada", disse Marcos. Carlos Alberto não gostou: "Me diz o preço
dessa m... aí que eu pago". Marcos disse que a bicicleta não estava à venda, entrou para
pegá-la, e voltou para casa.
____________________________________________________. Sob a rubrica de um
egoísmo terminal – que não apenas usa o outro, mas o elimina ou o ignora – é possível
sistematizar um rol de atitudes típicas. O caso do lixo, por exemplo: na cabine do carro – de
preferência importado -, o lixo não fica; fora, na rua, pode ficar. Abre-se a porta do elevador
e o malcriado, não espera que as pessoas saiam de lá de dentro: ele caminha diretamente
rumo ao fundo do elevador, como se entre almas.
Tópicos frasais
I.O afastamento do espaço social leva tais indivíduos a atitudes egoístas que negam a
possibilidade de convivência.
II. Esse tipo de comportamento chegou a ser observado além-fronteiras e nos Estados Unidos
mereceu uma tese.
III. Lind pensa no fenômeno como uma tendência geral.
IV. Não só essa atitude, mas outras do nosso dia a dia, configuram o que podemos chamar
de malcriado brasileiro.
Assinale a sequência correta dos tópicos que completam o início de cada parágrafo.
a) I, II, III e IV.
b) II, III, IV e I.
c) III, II, IV e I.
d) IV, I, III e II.
e) I, IV, II e III. .
Comentário:
Frase II para o segundo parágrafo. Esse parágrafo apresenta a tese de Michel Lind, portanto
o tópico frasal seria aquele que primeiro menciona o fato de o fenômeno ter merecido uma
tese.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 51


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Frase III para o terceiro parágrafo. Veja, no terceiro parágrafo, amplia-se a observação
passando do Brasil para os EUA, portanto, o autor pensa nisso como tendência geral.
Frase IV para o quarto parágrafo. Esse parágrafo descreve o cotidiano e o tópico frasal IV fala
do nosso dia a dia.
Frase I para o quinto parágrafo. O quinto parágrafo é mais geral no começo e afirma o
egoísmo como traço do brasileiro. Essa generalização está presente no tópico I.
Gabarito: B”

10.3 Gênero Comentário


No pdf anterior, consideramos a paráfrase como elemento básico para a escrita de um texto. Que
tal brincar mais um pouco com esse recurso? Alguns vestibulares pedem que o candidato faça um
comentário crítico de um texto, um gráfico ou mesmo uma charge.
Na próxima seção, você vai encontrar uma proposta de redação com uma com seleção de
excertos. A ideia é que você, a partir da paráfrase ampliada, seja capaz de fazer um texto curto, com
estrutura dissertativa para comentar o texto dado.

Vai encarar?

Meu desafio: interprete os textos da coletânea, mas não de qualquer maneira. Faça um
comentário escrito. Lembre-se: Redação é a escrita para o outro e, ao tentar comentar um fragmento na
forma dissertativa, você estará se exercitando nesse tipo de linguagem que necessariamente deve ser
dominado.
Outro detalhe é que, muitas vezes, a interpretação solicitada numa prova de Redação não é
restrita como aquela que você faz quando resolve questões de Português. A Banca escolhe textos capazes
de estimular sua reflexão, ou seja, sua interpretação deve ser ampla e associativa. Enquanto estiver lendo
o excerto, pense em exemplos concretos, relacione com teorias sociológicas, lembre-se de notícias de
jornais afins, considere as causas e consequências do fenômeno analisado etc. A partir dessa tempestade
mental, que você deve se habituar a exercitar, escreva um comentário.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 52


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Redação/ Aula 02
Comentário é um gênero curto que mostra a capacidade do articulista de relacionar sequências
expositivas com sequências argumentativas como se fosse uma pequena dissertação. Você vai perceber
que, em alguns casos, ao fazer o comentário do fragmento,
você obtém um projeto de texto completo. Outra
vantagem em se exercitar nesse modelo textual é que
muitas questões dissertativas das humanidades devem ser
respondidas nesse formato, ou seja, você vai se
preparando para as discursivas da segunda fase. Então,
nem pense em pular esse exercício. Se você tem dúvidas
de como começar, siga a seguinte estrutura:

No primeiro e segundo períodos*, faça um resumo do conteúdo


sem mencionar o texto original, resuma a ideia (sequências
expositivas).

Identifique o problema central com o qual o texto dialoga.

Associe a discussão temática do excerto a alguma das


ideias de expansão do tema -explicação de pontos
obscuros, causa, consequência, fatos afins, exemplos etc
(sequências argumentativas).

Relacione o tópico levantado com outros problemas/temas.

* Só para lembrar: período gramatical é configurado pelo intervalo entre letra maiúscula e o ponto.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 53


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A seguir, você vai encontrar uma proposta de redação. Não faça a redação completa ainda. A
atividade consiste em fazer comentários de partes da coletânea. Para que você não fique perdido, você
encontrará exemplos e instruções de como fazer.

10.4. Exercício: Comentando uma coletânea


A proposta que se segue apresenta 7 textos de apoio. É mais generosa, pois oferece vários pontos
de vista. Ao fazer o comentário de cada fragmento, você vai perceber que as ideias vão surgindo,
facilitando o trabalho posterior de produzir um texto completo.

FUVEST/2001
Um dia sim, outro também. Duas bombas, suásticas nazistas e muitas mensagens pregando a tolerância
zero a negros, judeus, homossexuais e nordestinos marcaram a Semana da Pátria em São Paulo. O
primeiro petardo foi direcionado na segunda-feira 4, para o coordenador da Anistia Internacional.
Tratava-se de uma bomba caseira, postada numa agência dos Correios de Pinheiros com endereço certo:
a casa do coordenador. Uma hora e meia depois, foi a vez de o secretário de Segurança e de os presidentes
das comissões Municipal e Estadual de Direitos Humanos receberem cartas ameaçadoras. Assinando "Nós
os skinheads" (cabeça raspada), os autores abusaram da linguagem chula, do ódio e da intolerância.
"Vamos destruir todos os viados, pretos e nordestinos", prometeram. Eles asseguravam também já terem
escolhido os representantes daqueles que não se enquadram no que chamam de "raça pura" para
receberem "alguns presentinhos".

Como prometeram, era só o começo. No dia seguinte, terça-feira 5, o mesmo grupo mandou outra bomba,
dessa vez para a associação da Parada do Orgulho Gay.
(Isto é, 08/09/2000)
Desde então [os anos 80], o poder racista alastrou-se por todo o mundo numa torrente de excessos
sanguinolentos. Também na Alemanha, imigrantes e refugiados foram mortos friamente por maltas de
radicais de direita em atentados incendiários. Até hoje, a esfera pública minimiza tais crimes como obra
de uns poucos jovens desclassificados. Na verdade, porém, o poder racista à solta nas ruas é o prenúncio
de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais.
(Robert Kurz)
Um dos eventos realizados no final de abril deste ano no Chile foi uma conferência internacional secreta
de militantes extremistas de direita e organizações neonazistas planejada e divulgada pela Internet.
Foram convidados a participar do "Primeiro Encontro Ideológico Internacional de Nacionalismo e
Socialismo" representantes do Brasil, Uruguai, Argentina, Venezuela e Estados Unidos.
(Isto é, 08/09/2000)
(...) Nos últimos anos, grupos neonazistas têm se multiplicado. Tanto nos Estados Unidos e na Europa
quanto aqui parece existir uma relação entre o desemprego estrutural do sistema capitalista e a ascensão
desses grupos de inspiração neonazista.
(Página da Internet)
Toda proclamação contra o fascismo que se abstenha de tocar nas relações sociais de que ele resulta
como uma necessidade natural, é desprovida de sinceridade.

(Bertolt Brecht)

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 54


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Considerar alguém como culpado, porque pertence a uma coletividade à qual ele não "escolheu"
pertencer, não é característica própria só do racismo. Todo nacionalismo mais intenso, e até mesmo
qualquer bairrismo, consideram sempre os outros (certos outros) como culpados por serem o que são, por
pertencerem a uma coletividade à qual não escolheram pertencer. (...)
(Cornelius Castoriadis)
"A violência é a base da educação de cada um."

(Resposta de um cidadão anônimo entrevistado pela TV sobre as razões da violência)


Estes textos (adaptados das fontes citadas) apresentam notícias sobre o crescimento do neonazismo e do
neofascismo e, também, alguns pontos de vista sobre o sentido desse fenômeno. Com base nesses textos
e em outras informações e reflexões que julgue adequadas, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA,
procurando argumentar de modo claro e consistente.

Q.1

O tema é neonazismo e, segundo o parágrafo final das instruções da proposta, você deveria
pensar na questão sob a perspectiva do “crescimento do movimento”, do “sentido histórico do
fenômeno” e dos “pontos de vista sobre ele”. A partir do fragmento 1 da coletânea, faça um
comentário autoral considerando a amplitude do movimento e o alvo desse novo fascismo.

A Semana da Pátria de 2000, em São Paulo, foi marcada por


manifestações violentas de cunho neonazista. Duas bombas foram
enviadas para defensores dos direitos humanos com mensagens de ódio
contra negros, gays e nordestinos. Não é um fato de menor importância.
Se no Brasil, país marcado pela mistura racial, houve um movimento
desse porte, imagine o que está ocorrendo na Europa, continente no qual o
orgulho racial ainda prevalece.Vivemos tempos sombrios, questões que
acreditávamos superadas estão retornando de forma incompreensível.
Comentário: Observe que, nos dois primeiros períodos, eu resumi o fato descrito no texto de
origem sem mencionar a experiência de tê-lo lido.
Quando se pede um exercício desse tipo ou mesmo uma dissertação que tenha como suporte
um fragmento textual é comum o candidato comece o texto mencionando a fonte, mais ou
menos assim no texto acima, o autor fala de uma manifestação nazista ocorrida na Semana
da Pátria . Evite. Essa forma de se referir ao tema dá um caráter subjetivo ao texto,
manifestando desconhecimento das regras da dissertação.
Meu resumo inicial é uma paráfrase curta, fato que não compromete a avaliação do meu texto.
Na verdade, ela é necessária, pois só assim meu leitor poderia entrar em contato com o tema
que eu irei comentar.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 55


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Essa também é uma regra para o texto dissertativo completo. O parágrafo de introdução pode
conter paráfrases curtas, muitas vezes, fundamentais para que o leitor entenda posteriormente
seu argumento. No terceiro período, ao dizer “isso não é um fator de menor importância”,
apresento um mote para problematizar o fenômeno ocorrido. Desejei mostrar o grave
problema que o fato revela, o retorno de práticas historicamente condenáveis. A comparação
entre Europa e Brasil, que vem logo a seguir, configura o momento de expansão do tema.

Q.2 A partir do fragmento 2, comente o crescimento do Movimento Neofascista e tente explicar o


trecho “prenúncio de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais.”

Q.3 Tendo como base o fragmento 3 da coletânea e considerando a premissa de que o neofascismo,
por motivos óbvios, é um fenômeno prioritariamente europeu, comente a contradição desse
engajamento dos americanos no movimento neofascista.

Q.4

Considere os fragmentos 4 e 5 e desenvolva a ideia de que a causa do neonazismo é social. Se


for necessário, pesquise o que é “desemprego estrutural do sistema capitalista”.
Os movimentos neofascistas têm se multiplicado no mundo. Qual a causa
desse fenômeno? Acreditar que isso se deve à maldade humana ou à
ignorância das pessoas é um forma simplista ou ingênua de tratar a
questão. Ações violentas geralmente são respostas a um tipo de pressão
insuportável para o indivíduo e, no mundo contemporâneo, não há tensão
maior do que a necessidade de se integrar à sociedade de consumo através
de uma colocação no sistema produtivo. Ora, a situação de pleno emprego
é impossível. Surge assim um ressentimento daqueles que se acreditam
capacitados para um lugar ao sol na sociedade, mas que se sentem
relegados a segundo plano, circunstância que se configura como solo fértil
para esses movimentos de ódio.
Comentário: A estrutura dessa resposta é um pouco diferente. Como o texto fonte não relatava
nenhum fato mais extenso, ao contrário, era um texto curto e opinativo, a solução foi resumir
toda ideia no primeiro período e problematizar o tema através de uma pergunta e da negação
do senso comum de que a maldade ou a ignorância seriam a causa do neonazismo. Esse é um
tipo de excerto que exige a ampliação das ideias pela causa. Explicar toda a cadeia causal de um
fenômeno dá trabalho e consome número significativo de linhas.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 56


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
Q.5 Os dois últimos excertos fazem referência ao nacionalismo e ao bairrismo como causa desses
movimentos de ódio. Como se desenvolve o nacionalismo? Qual o pressuposto básico desse
sentimento? Como ele reforça o ímpeto neofascista?

Gabarito: parâmetros para a escrita

Questão A partir do fragmento 2, comente o crescimento do Movimento Neofascista e tente explicar o


02 trecho “prenúncio de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais.”
Comentário: O excerto de Robert Kurz permite fazer uma pequena paráfrase, já que ele relata,
de forma geral, fatos associados ao crescimento do neofascismo. Você nem precisa quebrar
muito a cabeça para problematizar a questão, pois a própria frase dele “prenúncio de uma
reviravolta nas condições atmosféricas mundiais” já é uma baita problematização, bastaria
interpretá-la. A curiosidade do leitor fica por conta de saber como você irá desenvolver essa
ideia. Kurtz fez uma metáfora que permite muitas especulações. As “condições atmosféricas”
podem se referir a circunstâncias sociais, políticas, econômicas e culturais. Ele acredita que o
neofascismo é uma espécie de sintoma revelador de que algo não está funcionando muito bem
na sociedade. Escolha algum problema social que pode ser associado a essa violência e o
explore.

Questão Tendo como base o fragmento 3 da coletânea e considerando a premissa de que o


03 neofascismo, por motivos óbvios, é um fenômeno puramente europeu, comente a
contradição desse engajamento dos americanos no movimento neofascista. Comentário:
Seu texto poderia seguir o modelo dado. Você poderia fazer a paráfrase sobre as reuniões
neofascistas na América. A seguir, valeria a pena problematizar a questão, considerando
vários fatores que tornam a América diferente da Europa: miscigenação, imigração,
transferência de populações de forma compulsória (escravidão). A própria problematização
abriria o leque de expansão argumentativa do seu texto.

Questão Os dois últimos excertos fazem referência ao nacionalismo e ao bairrismo como causa
05 desses movimentos de ódio. Como se desenvolve o nacionalismo? Qual o pressuposto
básico desse sentimento? Como ele reforça o ímpeto neofascista?
Comentário: Novamente, temos pela frente fragmentos muito curtos, apenas opinativos,
sem nenhum relato de algum fato ou fenômeno. A estrutura do parágrafo deve ser
semelhante à da resposta da questão 4. Você faz uma paráfrase da ideia principal (algo
sobre o nacionalismo ou sobre a violência como forma de educação). A seguir cabe
problematizar a opinião apresentada, isso sempre pode ser feito através de uma pergunta.
Depois disso, o trabalho consiste em reconstituir o raciocínio argumentativo que vai do
nacionalismo até o neofascismo. Essa relação embora pareça óbvia, não é. Afinal, o
nacionalismo foi um conceito construído na Europa como forma de exclusão e de
acirramento de animosidades seja entre os próprios europeus (entre franceses e alemães)
ou entre europeus e colonizados. Lembre-se de que o nascimento do nacionalismo se dá
no terreno da crença da superioridade.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 57


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Redação/ Aula 02

11. Linguagem: A frase ou de quantas maneiras se pode dizer quase a


mesma coisa
Qual é o núcleo do parágrafo? A oração e a frase, com certeza.

Oração: enunciado que conte´m um verbo

Frase: enunciado com sentido completo

Período: trecho compreendido entre letra


maiúscula e ponto fintal, que pode conter várias
orações e tem sentido completo.

Nada disso, corujinha burocrática. Sem receitas, melhor do que decoreba é a compreensão. Como
essas unidades de escrita ajudam a escrever o parágrafo?
O uso desses recursos tem a ver com o pensamento e com o estilo. Imagine a seguinte diálogo:

O que o senhor acha de


aumentar a gasolina para
manter a economia? O pessoal da economia
não liga para a vida da
gente.

Observe a resposta, ela é simples, uma oração com sentido que faz a vez de frase também. Ela
revela uma reflexão rápida sobre um assunto. Óbvio que se o nosso entrevistador fosse estimulado a dizer
mais, a refletir mais sobre o que estava falando, ele teria que acrescentar circunstâncias que tornariam

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 58


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mas complexa sua fala. Podemos começar pelo básico, o que ele diz se aplica a que época e para quem e
para que regiões?

Os economistas liberais de países mais desenvolvidos elegem a eficiência como


parâmetro de sucesso e não o justiça social.

Essa frase é constituída de uma oração, tem quase a mesma informação da anterior, mas está
recortada por circunstâncias que lhe dão mais consistência e manifestam uma reflexão mais profunda.
Mas vamos supor que o nosso entrevistado tivesse mais detalhes sobre essas circunstâncias e quisesse
ser ainda mais preciso, somente expressões acopladas às palavras com conjunções como “de” e “como”
(“de países...”; “como parâmetro”). Ele teria que transformar essas circunstâncias em outras orações.

Os economistas liberais, que desenvolveram teorias em países mais desenvolvidos,


elegem a eficiência, baseada em números do mercado financeiro, como um parâmetro
de sucesso, desprezando os números que revelam a desigualdade social.

Agora o texto manifesta uma análise mais detalhada que exigiu do nosso entrevistado recortes
como aquele que se observa depois de “economistas liberais”, uma oração subordinada explicativa. Como
fazer a crítica aos liberais que não vivem em países em desenvolvimento e que fazem teorias que parecem
se adequar à realidade deles? Com a oração subordinada nosso enunciador consegue acrescentar essa
informação.
Observe ainda, o uso do gerúndio “desprezando”. Como se sabe, o gerúndio é usado para
apresentar ação concomitante, como ocorre na frase “os economistas defendem medidas duras,
recebendo altos salários”. Mas em textos dissertativos, o gerúndio pode assumir o sentido de uma ação
consecutiva como acontece no trecho “desprezando os números que revelam a desigualdade social. A
preocupação com sucesso financeiro tem como consequência o desprezo pelas questões sociais.

Daí surge um problema. Às vezes, você tem muita informação sobre o assunto e isso acaba por
tornar sua ideia um pouco confusa. O reflexo é imediato. Seu parágrafo não terá fim, manifestando um
número enorme de relações lógicas e circunstâncias que para você podem parecer claras, mas para o seu
leitor se tornam insuportáveis.
Nesse caso, você deve estar começando a entender como o jogo entre simplicidade e
complexidade de um parágrafo construído por tópico frasal torna o texto mais agradável e compreensível
para o leitor. Vamos deixar nosso entrevistado reelaborar mais uma vez a sua ideia.

Os economistas liberais cometem falhas de análise. Suas teorias são elaboradas em


países desenvolvidos e ajustadas à realidade particular dessas nações. Eleger a
eficiência baseada em números do mercado financeiro pode fazer sentido para eles,
mas esse procedimento é perigoso para países que têm elevada desigualdade social.

O que deve ter ficado bastante claro para você? O manejo de orações, frases e períodos deve ser
balizado por 3 elementos:
- complexidade do pensamento;

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 59


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- clareza;
- estilo.
Falta falar de estilo...

11.1 Estilo

Othon M. Garcia, na sua incrível “bíblia”, Comunicação em prosa moderna, faz uma análise do uso
da construção da frase como recurso de produção de sentido, ou seja, de estilo. Ele dá como exemplo 7
tipos de frase: de arrastão, entrecortada, de ladainha, labiríntica, fragmentária, caótica, intercalada. Mas
para efeito de compreensão do efeito que a construção frasal pode dar ao seu texto, vou considerar
apenas 3: de arrastão, labirítintica e intercalada

Frase de Arrastão

No seguinte período por frases coordenadas

O estereótipo dos economistas é o da “ciência lúgubre”, preocupados


sobretudo com “eficiência”, não se interessam com questões de justiça ou
equidade e deixam de lado a distribuição das renda.

as orações se enfileiram na ordem das ideias sem conectivos lógicos.


Segundo Othon, “Esse processo de estruturação de frase, que exige pouco esforço mental no que
diz respeito à inter-relação das ideias, satisfaz plenamente quando se trata de situações muito simples.
Por isso, é mais comum na língua falada, em que a situação concreta, isto é, o ambiente físico e social,
supre ou compensa a superficialidade dos enlaces linguísticos”. Trata-se de “uma enfiada de orações
independentes muito curtas que se vão arrastando uma às outras, tenuamente atadas entre si por um
número pouco variado de conectivos coordenativos: e, mas, aí, mas aí, então, mas então.”5
Não que tal recurso não possa ser usado, mas com bastante cuidado. O texto ganha dinamicidade,
mas perde complexidade própria de reflexões mais elaboradas.

Frase labiríntica

É aquilo que Othon chama de período tenso. O escritor apresenta uma oração que é interrompida
criando expectativa até que afinal ela se completa. O leitor é obrigado a prestar a atenção, nas
informações novas, ao mesmo tempo que espera o desfecho da informação inicial. Considere o período
abaixo.

Por conta dessa ideia econômica, marcada fortemente pelo argumento de


“fazer o bolo crescer” para despois distribuí-lo, tese que perdurou pela segunda

5
Garcia. O.M. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2011

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 60


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metade do século XX e moldou políticas econômicas que impulsionaram a
concentração de renda, a grande questão da exclusão social foi sendo
postergada como algo a ser enfrentado num futuro que nunca chega.
Note como o trecho inicial “Por conta dessa ideia econômica” joga o leitor na procura da oração
principal que só se completa na penúltima linha “a grande questão da exclusão social...” O recurso é
perigoso se isso se arrasta por várias linhas, pois o leitor pode se perder na enxurrada de informação que
precede a finalização da frase.

Frase intercalada

Esse tipo de frase, segundo Othon “Existe, no âmbito da justaposição (rever 1.4.2 e 1.4.3), uma
classe de orações que não pertencem propriamente à sequência lógica das outras do mesmo período, no
qual se inserem como elemento adicional, sem travamento sintático e, frequentemente, se não
predominantemente, com propósito esclarecedor. Múltiplas nas suas acepções, elas denunciam, na
maioria dos casos, um como que segundo plano do raciocínio, uma espécie de pensamento em surdina.”
A desigualdade que se verifica até hoje, tem ares de endêmica (por mais que os
“especialistas” digam o contrário, e apontem malabarismos estatísticos para
manter o otimismo), fato que leva a uma certa condescendência com aquilo
que prejudica o desenvolvimento do país. 6
A frase entre parênteses permite uma certa crítica da crítica, momento em que se reforça a tese,
pois o autor se permite enfatizar seu ponto de vista.

12. Secção: Exercitando a reflexão para uma boa escrita


Vamos começar a discutir, os obstáculos à comunicação humana. De certa forma todos eles, se
relacionam com o bicho papão do senso-comum.

12.1 Senso Comum


O termo já diz, trata-se de um juízo (senso) compartilhado por todos e tão amplamente, que
acreditamos ser verdadeiro, pois todo mundo pensa assim. Qual o problema desse tipo de pensamento?
Ele engana. No quadrinho da Mafalda, acima, a Mãe, apoiando-se em frases feitas, bastante
reconfortantes, dá uma resposta para aquilo que el não sabe.

6
Idem, ibidem.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 61


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“o conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os


resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de
ideias que nos permite interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a
avaliar, julgar e, portanto, agir (ARANHA, 1993, p.35).”

Segundo Maria L. A. Aranha e Maria H. P.Martins, o senso comum pode ser definido como?
Podemos apontar algumas das características do senso comum que mostram o perigo de se valer
desse expediente quando o conhecimento da realidade se faz necessário.

Ingênuo ou não-crítico: não se pergunta se é verdade ou


não

Fragmentário, parcial: aceita-se como verdade para todos o


que vale para um grupo

Generalizante: diante de uma experiência, considera-se que


aquilo vale para todos

Superficial

Daí para se transforma no ditado “a voz do povo (do senso comum) é a voz de Deus. E qual o
problema? Com Deus não se discute. E a história da ciência mostra muito bem isso. A Terra é o centro
do universo, a doença é provocada pelo desequilíbrio dos humores, o sangue menstrual tem
propriedades mágicas são algumas das ideias do senso comum que impediram, durante algum tempo, a
ciência de avançar.
Isso para não falar nos preconceitos. O mais flagrante deles, o de que os negros eram inferiores,
deixou marcas profundas em todo o mundo até hoje. O senso comum é um grande obstáculo a
comunicação humana e, consequentemente, a abertura para a produção de um texto mais interessante.

Obstáculos à comunicação humana

Segundo o professor J.R. Whitaker Penteado, autor do livro “A Técnica da comunicação humana,
há dois tipos de obstáculos:

1. Obstáculos devidos à personalidade, que podem ser subdivididos em:


• Autossuciência.
• Congelamento das avaliações.
• Diferença entre os aspectos objetivos e subjetivos do comportamento humano.
• 4. O vício de deixar-se levar mais pelos mapas do que pelos territórios, a “geograte”.
• Tendência à complicação.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 62


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2. Obstáculos devidos à linguagem, que podem também ser subdivididos em


• Confusão entre: a. fatos e opiniões.
• inferências e observações.
• Descuido nas palavras abstratas.
• Desencontros.
• Indiscriminação.
• Polarização.
• Falsa identidade baseada em palavras.
• Polissemia.
• Barreiras verbais.

12.2 Personalidade: a autossuficiência


Declaram-se os únicos sábios... nada sabem com
certeza... Mas, como nada sabem, pre tendem tudo saber.
(Erasmo de Rotterdam, “Elogio da loucura”)

Quantas vezes, ao discutir alguém sobre algum assunto, você não jogou aquela cartada: “eu estou
falando, porque sei a respeito disso”? Já se perguntou o quanto você sabe sobre alguma coisa? O
professor Whitaker contava um história interessante sobre um professor que pedia aos alunos que
escrevessem uma monografia sobre uma espécie de peixe em duas semanas. Findo o prazo, ele
desprezava os trabalhos dizendo que em duas semanas não era possível saber nada de sério sobre
qualquer coisa.

A necessidade de autoconfiança nos leva ao “emparedamento” – construímos barreiras para


proteger nossas opiniões: consultamos os mesmos sites, lemos os jornais que confirmam nossos
pensamentos; assistimos a programas que reforçam nossos pontos de vista; frequentamos os ambientes
em que estamos certos de encontrar pessoas iguais a nós, cujas ideias coincidam com as nossas.

“São nossos preconceitos que norteiam a seleção de fatos, pessoas e depoimentos, com o objetivo
de mostrar ao mundo que somos nós que estamos com a razão. Esse “emparedamento” leva-nos, na
audição de uma conferência, a fechar os ouvidos a todos os argumentos que nos pareçam contrários a
nossas convicções, e a abri-los, escancarados, às ideias que já tínhamos.

Para a Comunicação humana, a autossuciência, com todas as suas consequências, significa


obstáculo por vezes intransponível: é impossível para qualquer pessoa começar a aprender o que ela julga
que já sabe”7. Pior ainda, escrever sobre um determinado assunto, já que a escrita supõe imaginar um
leitor com ideias diferentes, com quem você vai ter que dialogar.

Esforce-se em se colocar no lugar de um possível interlocutor com ideias diferentes da sua. A


constatação de que você não sabe muito sobre um assunto, por outro lado, não deve paralisá-lo. A

7
Penteado, J.R. W. A técnica da comunicação humana. São Paulo: Dengage Learning, 201.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 63


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percepção da insuficiência deve provocar em você uma humildade respeitosa que o levará a ser mais
cuidadoso como os argumentos que apresenta. Você tentará ser mais didático com o seu leitor.

Mas enquanto estiver no caminho da boa dissertação, aprenda a ler a favor e contra o que você
pensa. Procure avaliar os argumentos contrários. Entenda o seu interlocutor.

12.3 Linguagem : confusão entre fatos e opiniões.


Fato é um acontecimento; opinão é uma perspectiva fundada em ligação entre ideias que alguém
faz para deduzir algo.

Uma pessoa chega molhada na sua porta. Esse é o fato. Você pode deduzir que ela tomou chuva,
porque choveu recentemente, ela não estava de guarda-chuva e estava irritada. Sua conclusão, ligando
esses três itens é uma opinião.

Segundo Whtitaker é preciso cuidado. Um fato pode ser considerado uma opinião. Uma opinião
pode transformar-se em fato. Existe algo mais perigoso na Comunicação humana do que nos
convencermos de que nossas suposições aconteceram, ou de que os acontecimentos não passaram de
suposições? E se são os outros que contrapõem a nossos fatos suas opiniões, considerando opiniões os
fatos porque são nossos, e fatos as opiniões por que são seus?”

Tomemos como exemplo o aquecimento global. Trata-se de um fato ou uma opinião?

Uma opinião muito bem fundamentada, mas é opinião. Por quê? Pois é preciso ligar uma série de
fenômenos observáveis para se perceber que o tal aquecimento esteja ocorrendo. Isso não significa que
ele não seja provável, mas que é discutível. Os vestibulares sempre irão focar em temas que mexem com
a opinião, já que “contra fatos” não há argumentos.

Para fazer uma boa redação é importante que você tenha clareza se possui fatos ou opiniões. Os
fato são fenômenos observáveis que você apresenta no seu argumento, como por exemplo as notícias de
jornais, fatos históricos, dados de geografia.

As opiniões apareceram no seu texto como inferências. Certifique-se do quanto de grau de


certeza elas podem conferir ao que você afirma. O professor Whitaker propõe 4 perguntas para se fazer
ao usar algum tipo de inferência:

1. Observei eu mesmo o que estou falando? Ou quão confiável é a fonte?

2. Minhas deduções não estão indo além do que eu mesmo pude observar pessoalmente?

3. Quando lido com inferências importantes, faço uma escala das probabilidades?

4. Quando me comunico com os outros rotulo minhas inferências como tais e peço aos outros que
rotulem as suas?

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 64


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13. Propostas de Redação

As propostas estão escalonadas da seguinte forma:

A Proposta 1, da UFPR, pede que candidato faça um texto curto de resposta a ideia de Jason Brennar
sobre Epistocracia. É um texto para se exercitar.

Já a proposta 2 é desafiante, mas nem tanto. Escolhi uma proposta da FAMEMA, polêmica, sobre cujo
tema você já deve ter se questionado.

Os temas, de alguma forma, dialogam com a exclusão social.

Divirta-se.

Proposta 1: UFPR 2017


Para o filósofo norte-americano Jason Brennan, os três casos são símbolo de problemas na
tomada de decisões políticas. Esses impasses favorecem a participação das pessoas em
detrimento do conhecimento que elas têm sobre a realidade em questão
– o que leva, segundo ele, a escolhas irracionais.
Este é o caso específico do “brexit”, na visão de Brennan, em que as pessoas tomaram “uma
decisão estúpida” porque não tinham informações sobre a realidade britânica. E é o modelo
que aproximou Trump da Presidência dos EUA, apesar de fazer campanha com pouco apego a
fatos reais e a mentir em 71% das suas declarações, segundo o site PolitiFact, que checa
discursos políticos. [...]
Em entrevista à Folha, por telefone, Brennan falou sobre suas críticas aos sistemas
democráticos, reunidas no recente livro “Against Democracy” (contra a democracia), em que
sugere a implementação de um sistema político diferente: a epistocracia. Ele defende que
apenas uma elite com conhecimento aprofundado sobre temas de relevância nacional possa
tomar decisões.
Criticado por sua visão de mundo “elitista”, ele diz que a democracia ainda é o melhor
sistema de governo, mas que isso não significa que não precise evoluir.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 65


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Epistocracia (ou epistemocracia, como também aparece citado em trabalhos acadêmicos no


Brasil), é um conceito de sistema político baseado na ideia de epistem. O termo foi usado por Platão na
filosofia grega, no século 4º a.C., para se referir ao “conhecimento verdadeiro”, em oposição à opinião
infundada, sem reflexão.
Por esse sistema, o poder político não deveria ser distribuído igualmente a todos os cidadãos,
em contraposição à democracia, mas sim estas nas mãos das pessoas sábias.

(Fonte:
<http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/11/1829957>)
Escreva um texto argumentativo posicionando-se em relação à proposta apresentada por Jason Brennan.
O seu texto deve:
 ter de 10 a 12 linhas;
 explicitar em linhas gerais as ideias de Jason Brennan;
 assumir uma posição contra ou a favor dela, contrapondo argumentos se for contra, ou reforçando
os já apresentados se for a favor

Proposta 2 (FAMEMA 2020) Redução da maioridade penal

Texto 2
Tema bastante controverso, a redução da maioridade penal vem conquistando um número cada
vez maior de adeptos, que, pressionados pela sensação generalizada de insegurança, veem a sua
implantação como a única solução imediatamente possível para a diminuição da criminalidade praticada
por menores.
Vige desde o século XIX a teoria de que crianças e adolescentes não possuiriam o
desenvolvimento intelectual e psicológico completo, necessário e essencial para a responsabilização
criminal nos termos do Código Penal. Considerando-se as transformações ocorridas na sociedade, em
que os jovens têm maior acesso às informações e participam de forma cada vez mais autônoma das
diversas relações sociais, ter-se-ia por indispensável o conhecimento daquilo que é ou não lícito. Tanto é
assim, que o Código Civil prevê a capacidade relativa da pessoa com 16 anos completos, permitindo-lhe

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 66


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casar, continuar atividade empresária já iniciada, dispor de seu patrimônio em testamento, ser
emancipado, dentre outras hipóteses. Além disso, a Constituição Federal autoriza que os menores
púberes (com 16 anos) possam exercer o direito de voto. Ora, seria inconcebível pressupor a capacidade
intelectiva para tais atos e sustentar que os jovens infratores não possuem plena consciência dos atos
ilícitos porventura cometidos.
A impunidade, certamente, é a causa principal da ocorrência, cada vez maior, de atos ilícitos
entre os adolescentes. Certos de que se capturados sofrerão restrição de liberdade por não mais de 03
anos, os jovens infratores se sentem atraídos por essa vantagem. A impunidade, além de constranger,
desrespeitar e violar os direitos das vítimas de crimes cometidos por menores infratores, incentiva a
prática de novos crimes, bem como a formação de novos infratores.

Izabelle Rhaissa F. Moreira. “Argumentos favoráveis à redução da maioridade penal”. https://jus.com.br, fevereiro de 2017. Adaptado.

Texto 3
“Se prisão resolvesse alguma coisa, nós deveríamos ser um país muito mais seguro”, comenta
Rafael Custódio, coordenador do programa de justiça da ONG Conectas Direitos Humanos. O sistema
prisional brasileiro atravessa problemas históricos, como a superlotação e o alto índice de reincidência
criminal. De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça, um em cada quatro condenados volta a
cometer crimes. Nesse cenário, Custódio aponta que inserir menores de idade no sistema penal adulto
contribuiria para que a violência aumentasse ao invés de diminuir. “O Brasil criou um sistema carcerário
que viola direitos, não recupera ninguém e só produz mais violência. Diante dessa realidade, nós
queremos trazer os adolescentes para essa lógica? Não faz sentido”.
Heloisa de Souza Dantas, mestre em Psicologia Comunitária pela Michigan State University,
também afirma que a redução da maioridade penal não é o caminho para combater a violência. Além de
investimentos em educação e saúde, a psicóloga defende que a sociedade deve mudar o tratamento
dado a esse assunto. “É um país que precisa olhar os adolescentes como seus filhos e não como
inimigos”. Sobre o debate acerca do assunto, a psicóloga acha que está se formando uma “cortina de
fumaça” que desvia as atenções do problema real. A maioria dos atos infracionais cometidos por jovens
estão relacionados ao tráfico de drogas, enquanto crimes hediondos representam um número menor.
Souza aponta que um investimento maior em inteligência policial ajudaria a pegar os “peixes grandes”
do tráfico de drogas ao invés de manter a política de encarceramento em massa, que não tem ajudado a
reduzir os índices de violência no Brasil.

Natália Silva. “Os riscos da redução da maioridade penal”. www.cartacapital.com.br, 08.11.2018. Adaptado.

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-
argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
A redução da maioridade penal pode colaborar para a diminuição da violência no Brasil?

13.1 Possibilidade de encaminhamento da proposta

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 67


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Proposta 1
Proposta e tema
A construção da proposta está fundamentada na leitura e opinião sobre um único texto, em que
se apresenta uma visão bastante polêmica de um filósofo norte-americano Jason Brennan, o qual defende
a ideia de que as decisões políticas tomadas nos últimos tempos têm sido duvidosas e fruto de escolhas
muito ruins, fundamentadas na desinformação ou na facilidade de acreditar naquilo que se apresenta
como verdade. É um tema muito interessante que levanta ideias muito variadas para a construção de um
texto (aqui, acho sacanagem ter que escrever sobre isso em no máximo 12 linhas).
Por um lado, os acontecimentos políticos do mundo, nos últimos tempos, têm demonstrado um
enorme despreparo, por parte do povo, para a tomada de decisões. Temos vivenciado, em todo mundo,
a ascensão de governos que fundamentam suas campanhas em “verdades” fundamentadas em
informações falsas, que conseguem propagação rápida pelas redes sociais. Isso, segundo o texto,
acontece na relação de eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e no plebiscito britânico acerca da
saída da Comunidade Europeia, o famoso “Brexit”. Para o autor, essas duas decisões foram
fundamentadas em relações de desconhecimento das realidades envolvidas, que, claramente, foram
manipuladas por interesses externos, ou nem tão externos assim.
É interessante notar que, ao olharmos por esse lado, encontramos certa lógica naquilo que o
filósofo defende, contudo, nos deparamos com dois problemas. Primeiro, com a desinformação inclusive
dessa classe considerada mais sábia que a popular, visto que é comum que encontremos, hoje, pessoas
que se dizem estudiosas e “cientistas”, mas que, ainda assim, “compram” ideias anticientíficas, como a
ideia de que a Terra é plana ou de que as vacinas são construções feitas para aumentar o número de
doentes pelo mundo, em lugar de prevenir as doenças que promete combater. Apesar do conhecimento
que essas pessoas dizem ter, o processo ideológico influencia diretamente nas decisões. Não é segredo,
para nenhum de nós, que vivemos em momento de polarização ideológica, em que os dois lados compram
verdades de forma muito fácil, cada um olhando para os interesses mais próximos aos seus.
Além disso, apesar de ser uma ideia, em determinados momentos, tentadora, a noção
apresentada pelo filósofo afasta o elemento central da democracia: o povo. Solucionar o problema
extirpando aquilo que o causa, nesse contexto, é privar de decisão aqueles que, como a classe “sábia”
(que nem considero tão sábia assim), também fazem parte da sociedade e são cidadãos. Claro que isso
nos coloca em um impasse que, sinceramente, deixarei para a reflexão de vocês: apesar de democrática,
a participação de todos não tem conseguido resolver os problemas de todos. Você deve estar achando
que eu fiquei doido e apresentei uma ideia sem sentido, né? Na realidade, o que quero dizer é que as
decisões não estão sendo tomadas pensando em todos, senão em privilégio de alguns.
Com relação ao texto em si, você deverá escrever um texto dissertativo-argumentativo, mas com
um espaço muito pequeno de linhas. Dessa forma, como apresentaremos a seguir, talvez seja mais
interessante que você apresente seu texto organizado em um parágrafo-dissertativo, com caráter, claro,
argumentativo. Não se preocupe que esse tipo de construção não se diferencia demais da organização de
um texto maior, visto que apresenta todas as partes necessárias à construção dissertativa-argumentativa.

Texto motivador
Como você pôde perceber, essa proposta apresenta somente um texto motivador extremamente
importante para a construção de seu texto, visto que ele contém as informações que deverão ser
discutidas em seu texto. Dessa forma, é muito importante que você o leia com atenção, para que possa
depreender o pensamento do filósofo e, assim, poder se posicionar sobre ele. Faça dessa leitura uma
constante na sua escrita. Os textos motivadores, via de regra, nos direcionam para o tema e nos auxiliam
a construir um pensamento mais próximo da realidade, fugindo, muitas vezes, daquilo que chamamos de
senso comum. A seguir, para te ajudar nessa compreensão, apresentamos os pontos mais importantes do
texto.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 68


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Gênero textual
Como comentei rapidinho anteriormente, a melhor ideia para a sua produção de texto nessa
proposta é a produção de um parágrafo-dissertativo, muito utilizado em certames que apresentam
questões subjetivas e que exigem respostas mais objetivas. Para a construção desse parágrafo,
pensaremos em um texto organizado não em parágrafos, mas em períodos dentro de um parágrafo,
mantendo a ideia de construção de introdução, desenvolvimento e conclusão, somente adaptada à
necessidade de espaço. A seguir, apresentamos um resumo das características desse tipo de produção.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 69


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Destaco, ainda, que esse exemplo colocado na análise deve ser visto apenas como um exemplo,
não o tome como um modelo a ser seguido, visto que isso não existe em teoria textual. Contudo, siga a
estrutura apresentada para exemplificar esse texto menos usado por nós.

Teses
Para a construção de seu texto, você deverá se posicionar acerca da ideia apresentada pelo filósofo
Brennan. Dessa forma, você deverá concordar com ele ou discordar dele, de forma bastante clara e
objetiva. Recomendamos, inclusive, que você não permaneça “em cima do muro”, visto que o texto é
curto para que você deixe sua ideia clara para esse posicionamento. Na análise do tema, apresentamos
alguns elementos mais próximos da argumentação para que você fundamente suas ideias. Pense em seus
argumentos antecipadamente e escreva o seu texto deixando tudo muito claro. Só sucesso!

Proposta 2
Tema e proposta
O tema apresentado propõe a construção de uma dissertação-argumentativa, em que será
defendida uma das teses que serão apresentadas mais à frente. Sua defesa, claro, deverá ser feita por
meio de argumentos que se combinem com a tese. Importante destacar que, de posse de um tema tão
complexo, é necessário que seus argumentos sejam extremamente fundamentados, por meio de base
argumentativa, que, hoje, é mais conhecida como repertório, depois do ENEM.
O tema em sim, que trata da redução da maioridade penal no país, é extremamente
contemporâneo e polêmico, principalmente porque as pessoas se dividem, hoje, em dois grupos,
essencialmente, o daqueles que são contra e o daqueles que são a favor, polarizadamente. Dessa
maneira, é importante que você pondere bastante com relação à sua escolha de tese e, claro, de

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 70


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argumentos. Como é um tema que trata de seres humanos e punição, diretamente, é interessante notar
que há sempre perigo de ferirmos os direitos humanos. Ainda que isso não seja motivo de anulação da
sua redação, é comum que a nota de argumentação caia substancialmente quando esse desrespeito
ocorra.
Assim, organize suas ideias antecipadamente, posicionando-se diante da pergunta que é o tema.
Ah sim, vale sempre destacar que, como o tema está em forma de pergunta, é necessário que vocês a
respondam de maneira indireta, sem ser “sim ou não”, ou sem qualquer referência a ela. O tema deve
ser apresentado e sua tese será a resposta à pergunta do tema. Pense bastante nisso antes mesmo de
escrever.

Coletânea de textos
É interessante notar que a coletânea de textos apresenta dois textos bastante posicionados
contra a redução da maioridade, no caso, a charge e o último texto; e um texto posicionado a favor da
redução, com viés de análise dos direitos e respeito às vítimas. Com relação ao posicionamento
contrário à redução, temos a charge, que é o texto mais “pesado”, por assim dizer, porque inclui a classe
social na discussão; e o texto 3, que aponta evidências científicas para a não redução. A favor do
processo de redução, temos o texto 2, que apresenta a ideia de que as vítimas, nessa relação, não estão
sendo respeitadas. A seguir, como já é praxe, apresentamos um pequeno resumo dos textos.

Não se esqueça de não usar os textos que, necessariamente, são somente motivadores, sem que
sejam copiados de forma alguma.

Teses e argumentos possíveis para o tema

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 71


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A construção de um tema em forma de pergunta é muito interessante, porque as teses ficam
bastante diretas. Assim, seu posicionamento poderá ser:

01. A redução auxiliará na diminuição dos números da violência no Brasil


• Adolescentes de 16 e 17 anos, na proposta de redução para os 16 anos, já têm
discernimento para responder pelo que faz, sabendo o que faz e porque faz.
• Há grande apoio popular à redução, por pressão social e de aumento na criminalidade.
• O fato de só poderem permanecer presos por 3 anos aumenta a sensação de impunidade
para os adolescentes e jovens, fato que amplia a vontade de cometer crimes.
• As medidas de redução são muito comuns em outros países, como os Estados Unidos e a
Nova Zelândia.
• O ECA, apesar de ser um documento interessante, é insuficiente para resolver o problema
da violência cometida por menores.
• Os crimes cometidos antes dos 18 anos não configuram “reincidência” após os 18, fato que
atrapalha a análise de vida do criminoso.
• Com um maior rigor nas punições e consequente redução, temos que os menores serão
menos aliciados pelos traficantes, por exemplo.

02. A redução não auxiliará na diminuição dos números da violência no Brasil


• Sabe-se que educar é melhor do que punir, como provam os estudiosos.
• A redução da maioridade será muito prejudicial para as classes mais pobres.
• O sistema prisional é conhecido, de maneira correta, como “escola do crime”, visto que
não garante a reinserção dos ex-detentos na sociedade.
• O sistema carcerário, sobrecarregado, seria ainda mais prejudicado com a entrada desses
jovens nos presídios.
• Apesar de países com maioridade inferior a 18 anos, a maior parte dos países mantém a
maioridade em 18 anos.
• Há um processo protetivo e educativo na idade da maioridade e na existência do ECA.

Sempre gosto de destacar que esse são argumentos que podem servir de direcionamento para o
que você escreverá, bem como os repertórios apresentados a seguir. Sabemos, inclusive, que este
costuma ser um problema de início para vocês, visto que arrumar argumentos costuma ser muito
complicado na produção de um texto.

Repertórios
• Aproximadamente 85% da população brasileira é favorável à redução, segundo pesquisa
do Datafolha.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 72


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02
• Os crimes hediondos correspondem a cerca de 20% dos crimes cometidos por menores,
que são encabeçados por crimes mais leves ou relacionados ao tráfico de drogas.
• A população pobre e preta é afetada de forma mais direta por qualquer modificação
relacionada a crimes no país, visto corresponder a 75% dos presos em presídios no país.
• Há um fortalecimento de discurso das classes dominantes nesse caso, visto que, ainda que
os criminosos sejam cidadãos brasileiros também com direitos, somente a segurança da
classe dominante será defendida com essa redução.
• O pensamento egocêntrico, segundo Bauman, torna-se cada vez mais presente na
sociedade pós-moderna. Há uma necessidade de cuidar-se exclusivamente, independente
dos outros.
• No Brasil, são 600 mil presidiários para 350 mil vagas nas cadeias.
• A Constituição garante o cuidado e a proteção especial para os menores de 18 anos.

14.Considerações finais

Chegamos ao final desta aula do nosso curso de Redação. Expliquei com o máximo de detalhes o
significado e a importância do tema na produção do seu texto. Pode ser até que você ache que me
alonguei demais, não creio dada a importância desse quesito na correção.
Estou certo de que você, que me acompanhou e fez as atividades sugeridas, teve um ótimo
aproveitamento .
Confira comigo. Ao final desta aula, espera-se que você tenha adquirido e exercitado algumas
habilidades importantes:
- habituar-se a considerar as várias opiniões sobre o tema;
- refletir sobre o contexto;
- elaborar teses opinativas e não expositivas.
Faça uma autoavaliação e verifique se você alcançou o esperado para a aula.
Até a próxima aula ou, mesmo antes, no Fórum de dúvidas.
Saudações e bom estudo.
Lembre-se: continue escrevendo.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 73


Professor Fernando Andrade –
Redação/ Aula 02

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Versão Data Modificações


1 20/02/2021 Primeira versão do texto.

AULA 1 – Tema, tese, parágrafo 74

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