Oficina de Leitura e Escrita - Unidade 3

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UNIDADE III

LEITURA E REDAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS

Profa Me. Érica Danielle Silva

OBJETIVOS
Esperamos que ao fim dessa unidade você possa reconhecer a importância e as
etapas do processo de leitura, análise e interpretação de textos no meio acadêmico.
Além disso, almejamos que você esteja apto a utilizar técnicas de leitura, de escrita
e de pesquisa bibliográfica de textos científicos/acadêmico. Possa, ainda, identificar
a estrutura e a função retórica do gênero resumo; e saiba produzir este gênero
textual e avaliá-lo.

PLANO DE ESTUDO
Nesta unidade, serão abordados os seguintes tópicos:
 Leitura de textos acadêmicos.
 Técnicas de pesquisa bibliográfica.
 Redação de trabalhos científicos.
 Resumo.
CONVERSA INICIAL
A complexidade característica dos gêneros pertencentes à esfera acadêmica e/ou
científica exige que múltiplas capacidades sejam desenvolvidas, ultrapassando,
assim, a mera organização textual e o enquadramento da escrita às normas
gramaticais vigentes do português padrão. Desse modo, entendemos que faz parte
de seu processo de formação acadêmica, especialmente nesta disciplina em curso,
o desenvolvimento das capacidades de construção de representações adequadas
sobre o contexto de produção acadêmico e/ou científico.
Nesta unidade, então, objetivamos apresentar algumas estratégias de leitura, de
escrita e de pesquisa bibliográfica que poderão subsidiar e/ou aperfeiçoar seu
desempenho acadêmico/científico. Daremos atenção especial para um gênero que
circula intensamente tanto em nosso cotidiano como no meio acadêmico: o resumo.

Sensibilização
Em sua vivência escolar, quando você estudava para as avaliações ou quando
solicitado pelo professor, você já passou pela situação retratada na imagem abaixo,
ao tentar destacar as informações mais importantes de um texto?

Fonte: Disponível em < http://engenhariasistematica.blogspot.com.br/2013/10/as-10-melhores-


tecnicas-de-estudo-de.html>. Acesso em 20 de fev. de 2012.

Você utiliza alguma técnica de leitura? E quando tem que fazer um resumo, como é
o processo de elaboração?
1. LEITURA DE TEXTOS ACADÊMICOS
Neste tópico, vamos atentar para a complexidade característica dos gêneros
pertencentes à esfera acadêmica e/ou científica a qual exige que múltiplas
capacidades sejam desenvolvidas. Desse modo, entendemos que faz parte de seu
processo de formação acadêmica o desenvolvimento das capacidades de
construção de representações adequadas sobre o contexto de produção, bem como
da organização global e de conteúdos referentes ao trabalho acadêmico e/ou
científico.
Objetivamos, então, apresentar algumas estratégias de leitura, de escrita e de
pesquisa bibliográfica que poderão subsidiar e/ou aperfeiçoar seu desempenho
acadêmico/científico.

1.1 O Processo de Leitura


Ler é uma habilidade fundamental no curso de graduação e em qualquer processo
de formação. E essa habilidade não se conquista da noite para o dia. Aprender a ler
não significa que você apenas decodificará o que está escrito, mas exige que você
adote uma postura crítica e sistemática, que só poderá ser desenvolvida com muita
prática e disciplina intelectual.
A leitura de textos de cunho científico visa à aquisição e ampliação de
conhecimento. Ao escrever um texto, o autor (emissor) codifica a mensagem e ao
leitor (receptor) cabe a tarefa de decodificá-la, para então pensar sobre a ideia,
assimilá-la, personalizá-la e compreendê-la. Entretanto, em todas as etapas desse
processo, o homem sofre uma série de interferências pessoais e culturais que
interferem na objetividade da comunicação. Logo, se faz necessário tomarmos
algumas diretrizes metodológicas para a leitura e produção de textos, sobretudo os
de caráter científico/acadêmico. Severino (2007) propõe algumas diretrizes, visando
fornecer elementos para uma melhor abordagem de textos de natureza teórica. Por
julgar um processo importante, vamos a elas:

a. Delimitação da unidade de leitura: o primeiro procedimento a ser tomado pelo


leitor é a delimitação da leitura. A extensão do texto pode influenciar diretamente na
compreensão global da mensagem. Assim, de acordo com Severino (2007, p. 54) “a
leitura de um texto, quando feita para fins de estudo, deve ser feita por etapas, ou
seja, apenas terminando a análise de uma unidade é que se passará à seguinte”.
Vale destacar que deve-se evitar intervalos de tempo muito grandes entre o estudo
das unidades.
b. Análise textual: nesse momento, preparatório para a análise profunda do texto, o
leitor deve fazer uma leitura seguida e completa da unidade do texto. Objetiva-se,
com esse primeiro contato, formar uma visão panorâmica do raciocínio do autor. É
nesse momento também que o leitor assinala os possíveis pontos de dúvida que
podem condicionar a compreensão da mensagem. Dentre os principais aspectos
destacam-se: dados a respeito do autor, o vocabulário e os fatos históricos que
possam ser pressupostos para o entendimento do texto. A etapa da análise textual
pode ser encerrada com a esquematização do texto, o que permitirá a visualização
global do texto.
c. Análise temática: nesta fase, fazemos ao texto uma série de perguntas que nos
ajudarão a compreender o conteúdo da mensagem. Do que esse texto trata (qual é
o assunto e o tema da unidade?); Qual é a problematização do tema?; Como o
assunto está problematizado?; Qual é a posição do autor frente ao problema
levantado (que ideia/tese defende)?; Qual foi o raciocínio ou a argumentação
traçada pelo autor para comprovar sua tese?. São essas questões que fornecem as
condições de elaboração de um resumo do texto ou para construir um roteiro de
leitura – para seminários, por exemplo.
d. Análise interpretativa: essa abordagem é a mais delicada, pois são maiores os
riscos de interferência da subjetividade do leitor, o que exige uma maturidade
intelectual avançada. Primeiramente, é necessário relacionar as ideias do autor no
conjunto da cultura de sua área, e também em relação às posições de outros
autores que eventualmente o influenciaram ou que foram por ele influenciados. O
passo seguinte é a crítica, que significa uma tomada de posição quanto a sua
coerência interna (que leva em conta a originalidade, a validade e a contribuição
dada à discussão do problema) e quanto ao raciocínio (relacionado à
superficialidade ou profundidade do assunto).
e. Problematização: este é o momento de retomada do texto, com o objetivo de
levantar os problemas relevantes para a reflexão pessoal e principalmente para a
discussão em grupo. Diferentemente da problematização levantada na etapa da
análise temática, essa etapa refere-se à discussão e à reflexão das questões
explícitas e implícitas no texto.
f. A síntese pessoal: o trabalho de síntese pessoal é frequentemente exigido no
contexto de atividades didáticas, tanto como tarefa específica, quanto parte de
relatórios de pesquisa e seminários. Trata-se de uma reelaboração pessoal da
mensagem da unidade de texto, em um novo texto, com redação própria, discussão
e reflexão pessoal.
Severino (2007, p. 64) propõe o seguinte fluxograma sobre essas etapas de leitura:

Preparação do texto
Visão de conjunto
Busca de esclarecimento
1 ANÁLISE TEXTUAL Vocabulário
Doutrinas
Fatos
Autores
Esquematização do texto

Compreensão da mensagem
do autor
Tema
2 ANÁLISE INTERPRETATIVA Problema
Tese
Raciocínio
Ideias secundárias

Interpretação da mensagem do
autor
3 ANÁLISE TEMÁTICA Situação filosófica e influências
Pressupostos
Associação de ideias
Críticas

Levantamento e discussões de
4 PROBLEMATIZAÇÃO problemas relacionados com a
mensagem do autor

Reelaboração da mensagem
5 SÍNTESE com base na reflexão pessoal
Para perpassarmos todas as etapas apontadas, podemos nos valer de algumas
técnicas. Algumas já bem conhecidas, mas nem sempre utilizadas adequadamente.
Vamos a elas.

1.1.1 Sublinhar
Sublinhar é uma das primeiras técnicas que aprendemos no meio escolar.
Entretanto, nem sempre é usada corretamente. Mas quando utilizada
adequadamente, ela é importantíssima tanto na revisão ou memorização do assunto
abordado, quanto na elaboração de esquemas e resumos.
A estratégia de sublinhar é desenvolvida de forma adequada quando
compreendemos o assunto, uma vez que é somente por meio da identificação das
ideias principais e secundárias que conseguimos selecionar o que é realmente
indispensável para o entendimento global do texto. Para tanto, não é eficaz
sublinharmos parágrafos ou frases inteiras. Isso porque, fazendo isso, podemos
sobrecarregar a memória e o aspecto visual e também apenas reproduzir as
palavras do autor ao fazer um resumo, e não suas ideias.
A respeito dessa técnica, Andrade (2010) destaca o seguinte procedimento:
a) ler o texto integralmente, para termos a ideia global do assunto tratado;
b) desenvolver uma análise textual, sobretudo do vocabulário desconhecido e dos
termos técnicos;
c) reler o texto, identificando as ideias principais;
d) ler e sublinhar, em cada parágrafo, as palavras que correspondem à ideia-núcleo,
bem como os tópicos mais importantes;
e) assinalar com uma linha vertical, à margem do texto, os tópicos mais importantes
(usar palavras-chave ou frases curtas);
f) assinalar, à margem do texto, com um ponto de interrogação, os casos de
dúvidas, discordâncias, argumentos discutíveis, etc.;
g) ler o que foi sublinhado, verificando se há sentido;
h) reconstruir o texto, em forma de esquema ou resumo, lembrando de tomar as
palavras sublinhadas como base.
Enfim, lembre-se de que você deve sublinhar apenas o indispensável, porque o
acúmulo de anotações e destaques pode dificultar o desenvolvimento do resumo.

1.1.2 Esquematizar
O esquema é uma apresentação visual do texto; é uma preparação para a produção
do resumo. Isso significa que em um esquema não há frases completas, mas
apenas palavras-chave, que podem estar interligadas por símbolos diversos (setas,
linhas, círculos, colchetes, subordinação, mapa de ideias etc.). Veja algumas
possibilidades:

Esquema de chaves Esquema de flechas

Esquema de retângulos Esquema misto

Esquema de subordinação Mapa de ideias

Salomon (1977, p. 85, apud ANDRADE, 2010, p. 13-14) destaca algumas


características que o esquema deve conter para ser útil:
 Fidelidade ao texto original: deve conter as ideias do autor, sem alteração de
sentido (se precisar, use as palavras do autor).
 Estrutura lógica do assunto: as ideias devem ser organizadas a partir das mais
importantes para as secundárias.
 Adequação ao assunto estudado e funcionalidade: o esquema deve ser flexível,
que significa adaptar-se ao assunto que está sendo estudado/resumido. Por
exemplo, um texto rico em informações permitirá a construção de um esquema com
maiores indicações.
 Utilidade de seu emprego: o esquema deve ajudar e não atrapalhar. O esquema
é um instrumento de trabalho, logo, deve facilitar a consulta no texto quando
necessário. Para isso deve conter páginas ou relacionar partes do texto.
 Cunho pessoal: um esquema raramente é útil para várias pessoas. Isso porque
cada um desenvolve o esquema de acordo com suas preferências, recursos
disponíveis e experiências pessoais. Alguns preferem usar recursos gráficos
variados, enquanto outros preferem usar somente palavras.
Dessa forma, Marconi e Lakatos (2010, p. 7) sintetizam que

a elaboração de um esquema fundamenta-se na hierarquia das


palavras, frase e parágrafos-chave que, destacados após várias
leituras, devem apresentar ligações ente as ideias sucessivas para
evidenciar o raciocínio desenvolvido.

1.1.3 Resumir
Diferente do esquema, o resumo compõe-se de parágrafos com sentido completo.
As ideias do autor do texto original devem ser mantidas e respeitadas. Não são
permitidas, nesse gênero, que você, leitor e produtor do resumo, acrescente seus
comentários e possíveis acréscimos.
Podemos redigir um resumo a partir das palavras sublinhadas (conforme vimos
sobre a técnica de sublinhar). Entretanto, apesar desse processo ter a vantagem de
manter a fidelidade ao texto de origem, isso não é uma regra absoluta. Quanto mais
completo for um texto, mas fácil será resumi-lo a partir de um esquema e das
palavras sublinhadas.

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Fique por dentro
É importante salientar que o crédito de autoria deve ser SEMPRE atribuído ao autor do texto original.
Se você copiar ou fizer referência às ideias do autor, em algum trabalho acadêmico, você deve citar a
fonte. Se você reproduzir uma ideia sem citar a fonte, você está cometendo o crime de plágio, ou
seja, está se apropriando indevidamente da ideia de outra pessoa. E plágio pode configurar como
crime de violação de direitos autorais, além de, obviamente, ferir a ética acadêmica.
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Segundo Andrade (2010), nos textos bem estruturados, cada parágrafo corresponde
a uma ideia principal. Entretanto, alguns autores, por questão de estilo ou didática (e
por que não erro?!), usam mais de um parágrafo para desenvolver a mesma ideia
com palavras diferentes. Vamos ver dois exemplos de resumo de parágrafo exposto
por Andrade (2010):
a) Resumo que não se prende fielmente às palavras sublinhadas:

“Na psicanálise freudiana muito comportamento criador, especialmente nas artes, é


substituto e continuação do folguedo da infância. Como a criança se exprime em jogos e
fantasias, o adulto criativo o faz escrevendo ou, conforme o caso, pintando. Além disso,
muito do material de que ele se vale para resolver seu conflito inconsciente, material que se
torna substância de sua produção criadora, tende a ser obtido das experiências da infância.
Assim, um evento comum pode impressioná-lo de tal modo que desperte a lembrança de
alguma experiência anterior. Essa lembrança por sua vez promove um desejo, que se
realiza no escrever ou no pintar. A relação da criatividade com o folguedo infantil atinge
máxima clareza, talvez, no prazer que a pessoa criativa manifesta em jogar com ideias,
livremente, em seu hábito de explorar ideias e situações pela simples alegria de ver aonde
elas podem levar” (KNELLER, 1976, p. 42-43 apud ANDRADE, 2010, p. 17).

Resumo
Na concepção freudiana, a criatividade dos artistas é substitutiva das brincadeiras infantis. A
criança se expressa por de jogos e da fantasia, o adulto o faz por meio da literatura ou da
pintura, inspirando-se em suas experiências da infância. Essa relação é confirmada pelo
prazer que a pessoa criativa sente em explorar ideias e situações apenas pela alegria de ver
aonde elas podem chegar.

b) Resumo baseado nas palavras sublinhadas:


“Vivemos num ambiente formado e, em grande proporção, criado por influências semânticas
sem paralelo no passado: circulação em massa, de jornais e revistas que só fazem refletir,
num espantoso número de casos, os preconceitos e as obsessões de seus redatores e
proprietários; programas de rádio, tanto locais como em cadeia, quase inteiramente
dominados por motivos comerciais; conselheiros de relações públicas, que não são mais
que artífices, regiamente pagos, para manipular e remodelar o nosso ambiente semântico
de um modo favorável a seu cliente. É um ambiente excitante, mas cheio de perigos, sendo
apenas um pequeno exagero dizer que foi pelo rádio que Hitler conquistou a Áustria. Os
cidadãos de uma sociedade moderna precisam, em consequência, de algo mais do que
simples ‘senso comum’, recentemente definido por Stuart Chase como ‘aquilo que nos diz
que o mundo é plano’. Precisam, esses cidadãos, de ficar cientificamente conscientes do
poder e das limitações dos símbolos, especialmente das palavras, se é que desejam evitar
ser levados à mais completa confusão, mediante a complexidade do seu ambiente
semântico. Assim, pois, o primeiro dos princípios que governam os símbolos é este: O
símbolo não é a coisa simbolizada; a palavra não é a coisa; o mapa não é o território que ele
representa (HAYAKAWA, 1972, p. 20-21 apud ANDRADE, 2010, p. 18)

Resumo
Vivemos num ambiente formado por influências semânticas: circulação em massa de jornais
e revistas que refletem os preconceitos e obsessões de seus redatores e proprietários; o
rádio, dominado por motivos comerciais; conselheiros de relações públicas, pagos para
manipular o ambiente a favor de seus clientes. É um ambiente excitante, mas cheio de
perigos. Os cidadãos de uma sociedade moderna precisam ficar conscientes do poder e das
limitações dos símbolos, a fim de evitar confusão ante a complexidade de seu ambiente
semântico. O primeiro princípio que governa os símbolos é este: o símbolo não é a coisa
simbolizada; a palavra não é a coisa; o mapa não é o território que representa.
Evidentemente, um resumo de um livro ou de um texto longo não pode ser feito
parágrafo por parágrafo, a partir das palavras sublinhadas. Nesse caso, segundo
Andrade (2010, p. 23), o autor do resumo deve adotar os seguintes procedimentos:
a) Ler o texto integralmente, para entrar em contato com o assunto global;
b) Aplicar a técnica de sublinhar, destacando as ideias mais importantes;
c) Elaborar um esquema de redação do resumo, valendo-se das subdivisões
organizadas pelo autor. Importa destacar que nem sempre há a necessidade de
manter os títulos e subtítulos designados pelo autor. A forma de apresentação dos
argumentos é que apontarão a necessidade de conservar ou não as divisões.
d) A partir do esquema elaborado, desenvolver um rascunho do resumo – de cada
capítulo ou de unidades do texto;
e) Ler o rascunho, a fim de verificar possíveis omissões ou equívocos. Refazer a
redação do resumo e transcrevê-lo nas normas da materialidade em foco, que pode
ser um fichamento, por exemplo.
É importante ter em mente que um resumo é uma recriação do texto; outras palavras
que mantêm a ideia original. Logo, um bom resumo apresenta de maneira sucinta o
assunto da obra, não apresentando juízos críticos. Além disso, emprega linguagem
clara e objetiva, evita a transcrição de frases do original e dispensa a consulta do
original para a compreensão do assunto.
Lembramos que o gênero resumo será abordado com mais profundidade ao final
desta unidade. Lá serão trabalhados os tipos de resumo e algumas questões
metodológicas de leitura e de produção desse gênero.
2. TÉCNICAS DE PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
A pesquisa bibliográfica é o primeiro passo para a atividade acadêmica. Ela é a base
para seminários, painéis, debates, resumos, resenhas e monografias. O problema é
que muitas vezes o aluno, ao ingressar na faculdade, não sabe como fazer essa
pesquisa.
A primeira coisa que o calouro deve fazer é entrar em contato com a biblioteca da
faculdade/universidade, reconhecendo os títulos disponíveis. Atualmente, esse
levantamento pode ser feito de forma mais facilitada, visto que o acervo está
disponível online, no site da faculdade.
Segundo Gil (1988, p. 62-5 apud ANDRADE 2010, p. 28), as fontes bibliográficas
classificam-se em:
 Livros de leitura corrente: obras de literatura (romance, poesia, teatro...), obras de
divulgação científica, técnicas (com linguagem própria de uma área, destinadas aos
especialistas) e a de vulgarização (destinam-se ao público não especializado);
 Livros de referência: dicionários, enciclopédias, anuários e jornais especializados;
 Periódicos: jornais e revistas;
 Impressos diversos: publicações do governo, boletins informativos de empresas
ou de institutos de pesquisa, estatutos etc.
Spina (1974, p. 12 apud ANDRADE, 2010, p. 28) acrescenta as obras de estudo,
que compreende os tratados, manuais, compêndios, monografias, teses, ensaios,
conferências, antologias, seleções, dissertações etc.
Os textos originais, que principiam outras obras para formar uma literatura ampla
sobre determinado assunto, são consideradas como fontes primárias. Já a literatura
originada de determinadas fontes primárias, interpretando-as e analisando-as,
constituem as fontes secundárias.
Mas atenção: uma mesma obra pode ser considerada primária em relação a um
assunto e secundária em relação a outro. Independente de classificações, o mais
importante é procurar fontes seguras, confiáveis, de autores renomados e
considerados autoridades no assunto abordado. Você deve prestar atenção também
ao nível do seu trabalho. Enciclopédias e revistas não especializadas, por exemplo,
não podem constituir exclusivamente a fundamentação bibliográfica de seu trabalho
acadêmico. O mesmo vale para as apostilas de cursos pré-vestibulares que, uma
vez pautadas no nível do ensino médio, não se configuram como base adequada
para trabalhos universitários.
Hoje, a facilidade que os recursos eletrônicos da Internet oferecem na pesquisa
bibliográfica deve ser olhada com atenção. Isso porque apesar de o conteúdo ser
vasto, nem tudo é confiável. Como a publicação na Internet é livre e não sofre
fiscalização, recomendamos certa cautela na utilização das informações obtidas,
sobretudo via sites de busca genérico, como o Google, por exemplo. Conforme
lembra Andrade (2010, p. 37), “a veracidade e a confiabilidade das informações,
bem como a atualidade e procedência, são de responsabilidade de quem reproduz
ou usa a informação, mesmo citando a fonte, como recomendado”.
Uma alternativa importante, que pode tornar a busca mais objetiva e confiável, é
utilizar os sites relacionados à área de interesse e também os sites de instituições de
ensino superior, que disponibilizam dados da produção intelectual e documentos. É
possível encontrar também material bibliográfico em sites de publicações científicas
que mantêm uma versão eletrônica e também em bancos de dados de órgãos do
governo.
Depois de realizar o levantamento bibliográfico, é preciso localizar as informações
úteis para o desenvolvimento do trabalho e também documentar os dados. Para
localizar as informações necessárias para o desenvolvimento do trabalho você deve
colocar em prática as orientações de leitura e produção de esquemas e resumos
abordadas anteriormente neste material.
3. A REDAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS
Antes de começar a produzir um texto acadêmico, é preciso certificar-se de que a
proposta está clara para você mesmo. Construir um raciocínio coerente consiste em
contínuas tomadas de decisão. E esse processo começa antes mesmo de escrever
a primeira frase do seu texto.
Você precisa ter consciência de que precisa organizar seus pensamentos e planejar
sua atividade de escrita. Questione-se, primeiramente:
 Quais são os objetivos do texto?
 Em linhas gerais, qual é o assunto do texto?
 Qual é o gênero adequado aos objetivos? (Se o gênero já foi determinado, quais
são suas especificidades?)
 Qual é o nível de linguagem que deve ser usado?
 Qual é o nível de conhecimento que eu tenho sobre o assunto?
 Qual é o grau de subjetividade ou de impessoalidade que deve ser exposto?
 Registrei a origem das informações utilizadas? (tenho todos os dados
bibliográficos?)
 Quais são as condições práticas de produção: tempo, apresentação, formato?
Enquanto acadêmico, você precisa ter em mente que pesquisadores e cientistas têm
um modo particular de estruturar sua escrita. Os textos produzidos por esses
sujeitos buscam promover a circulação do conhecimento e, para isso, utilizam-se da
reflexão, da investigação, da crítica e/ou da análise de questões científicas, artísticas
e filosóficas. Por isso, você, leitor, que está no meio acadêmico, tem pela frente um
desafio muito maior do que dominar um tema, testar hipóteses ou sustentar seus
argumentos e conclusões. Você deve relatar com clareza, objetividade, coerência e
precisão suas pesquisas e suas investigações, de modo que elas possam ser
compreendidas e reproduzidas por pesquisadores que tomem o seu trabalho como
referência.

3.1 Objetividade e coerência


Andrade (2010) destaca que a objetividade é um requisito básico e essencial na
articulação entre conteúdo e linguagem de um trabalho científico. Uma vez que a
linguagem científica é fundamentalmente informativa, técnica e racional, ela
dispensa figuras de retórica, frases de efeito e formas literárias. Privilegiam-se frases
curtas, simples e com vocabulário adequado. Os termos técnicos e expressões
estrangeiras só devem ser utilizados quando indispensáveis no desenvolvimento do
raciocínio proposto.
Outro fator fundamental para a construção do sentido do texto é a coerência, que já
discutimos na primeira unidade deste material. Você se lembra que o sentido de um
texto é construído não só pelo produtor como também pelo recebedor, que precisa
deter os conhecimentos necessários à sua interpretação?!. Essa interferência do
interlocutor na construção do sentido do texto não só não é ignorada pelo produtor
como ele conta com ela. É por causa dessa capacidade de o interlocutor participar
da construção dos sentidos que muitos dos elementos necessários para se entender
um texto nem sempre vêm explícitos, mas dependem das
pressuposições/inferências do recebedor.
Também explicamos, anteriormente, que a coerência se refere à construção de
sentidos pelo recebedor e pode manifestar-se linguisticamente. Isso significa que um
texto objetivo também é coerente e coeso. Coesão é o modo como ligamos os
elementos textuais numa sequência, articulação esta responsável pela unidade
formal do texto.
Mas além ser construída por mecanismos gramaticais e lexicais, a coesão também
pode ocorrer simplesmente pelas relações semânticas que se estabelecem entre as
orações, como podemos observar um trecho do conto Circuito Fechado, de Ricardo
Ramos.

Observe:
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de
barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para
cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis,
documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa,
cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo.
Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas,
espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo.
Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,
memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de
anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis,
cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos,
pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes,
pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone
interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo,
papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo,
papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista.
Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona,
livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias,
calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água.
Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

Disponível em: http://cesargiusti.bluehosting.com.br/Contos/textos/circuito.htm

Numa primeira leitura, as palavras aparentemente não possuem relação, mas a


partir de uma leitura mais atenta percebemos uma articulação entre as ideias.
Verifique que, por meio da sequência em que foram usadas as palavras, é possível
ir descobrindo um significado implícito, um elemento que as une e as relaciona,
formando, portanto, um texto.
Note que a palavra que explica o início da ação do homem num dia de rotina é
“chinelos” usada no começo do texto quando levanta e no final quando deita. Como
o próprio título sugere “Circuito Fechado”, o texto termina onde começou, nos
levando a refletir sobre a vida.

3.2 Clareza
Clareza diz respeito à qualidade de uma mensagem que não deixa margem para
dúvidas sobre o seu sentido. Logo, um texto claro é entendido de maneira mais
imediata.
Ideias claras são expressas por frases objetivas que privilegiam a ordem direta e
palavras claras. Assim, as frases longas tendem a comprometer a concordância
gramatical e, consequentemente, a clareza do raciocínio.
De forma geral, a concisão deve acompanhar a clareza. Um texto repetitivo, que
apresenta a mesma ideia em mais de um parágrafo ou frase, por mais bem escrito
que seja, torna-se cansativo. É necessário, portanto, evitar o prolongamento da
explicação de uma ideia que já está suficientemente esclarecida, bem como a
repetição desnecessária de informações que não são relevantes para o trabalho.

3.3 Impessoalidade
A impessoalidade é um aspecto de grande contribuição para a objetividade do texto
científico, pois pode promover certo distanciamento do autor (ANDRADE, 2010).

3.4 A revisão
Finalizado o texto, o autor assume outra posição: a de revisor. Ao “fingir” ser o leitor
do seu texto, você deve buscar as lacunas não previstas na preparação do seu
texto, de forma crítica, distanciada. Escrever é um exercício. Se após uma leitura
rápida você percebeu que não atingiu seu objetivo, é preciso recomeçar. Uma vez
sanados os desvios da primeira versão, é hora de esculpir sua criação: suprir
palavras deslocadas, incluir explicações, ajustar a ortografia e a acentuação e
reescrever períodos extensos demais.
Se o seu texto não tem um prazo urgente de entrega, uma opção que pode facilitar a
visualização dos erros e das incoerências, é deixar o texto de lado por algumas
horas ou dias. Com a mente e a visão tranquilos, o autor pode aprimorar seu
trabalho de forma a se deparar com ele como se fosse a primeira vez.

xxx
Reflita
30 dicas para escrever bem

Professor João Pedro (UNICAMP)

1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.


2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal
prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.
3. Anule aliterações altamente abusivas.
4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.
5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parêntesis (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou??... então valeu!
9. Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto numa merda.
10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
11. Evite repetir a mesma palavra pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da
palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra
repetida.
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: "Quem cita os outros não tem
ideias próprias".
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta
mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma ideia várias
vezes.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula pois a frase poderá ficar sem sentido
especialmente será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação
19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-las-ei!"
23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!!!!
25. Evite frases exageradamente longas pois estas dificultam a compreensão da ideia nelas contida
e, por conterem mais que uma ideia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível,
forçam, desta forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diversos componentes de forma a torná-las
compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que
devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúa portuguêza.
27. Seja incisivo e coerente, ou não.
28. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar
causando ambiguidade, com certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando
com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo. E como você vai estar lendo este texto,
tenho certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão
estar entendendo e vão estar pensando em não estar falando desta maneira irritante.
29. Outra barbaridade que tu deves evitar chê, é usar muitas expressões que acabem por denunciar
a região onde tu moras, carajo!... nada de mandar esse trem... vixi... entendeu bichinho?
30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá aguentar já que é
insuportável o mesmo final escutar.

Disponível em <http://www.teclasap.com.br/30-dicas-de-portugues-do-professor-joao-pedro-da-
unicamp/>. Acesso em de jul. de 2018.
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Indicações de leitura
Comunicação e Linguagem

Autora: Thelma de Carvalho Guimarães


Editora: Pearson
Sinopse: Nesta obra, Guimarães aborda, por meio de atividades interativas, a leitura e a produção
textual presentes no dia a dia e no âmbito acadêmico.
4. RESUMO
Se pararmos para pensar, resumimos frequentemente em nosso dia a dia: o filme
que assistimos, o livro que lemos, uma história, uma notícia. O mesmo processo de
síntese prática também é mobilizado no contexto escolar/acadêmico: destacamos os
elementos mais importantes de um período literário, da matéria para a prova ou das
regras gramaticais. É preciso apresentar, ainda, no mundo universitário, o resumo
das pesquisas que desenvolvemos para apresentar em eventos ou apenas como um
elemento formal que compõe o trabalho monográfico/dissertativo final.
Percebemos que cada um dos exemplos citados implica em um objetivo diferente.
Isso nos leva a inferir que cada situação comunicativa confere características
específicas ao tipo de resumo produzido. Logo, produzir um resumo não é uma
tarefa tão simples como muitos imaginam. O ato de reduzir um texto a seus
elementos fundamentais e, ao mesmo tempo, construir um resumo coeso e
coerente, exige muita leitura e muita prática. Algumas técnicas também podem
auxiliar. São essas peculiaridades desse gênero textual que pretendemos expor a
partir de agora.

4.1 Definições e tipos


Em linhas gerais, dentre as várias definições de resumo que circulam no meio
educacional, esse gênero textual pode ser definido como uma apresentação concisa
dos elementos essenciais de um texto. O que muitos confundem, entretanto, é que
resumimos as ideias de um texto e não suas palavras. Isso porque muitos alunos
iniciantes ou não orientados adequadamente, tendem a sublinhar as “partes
principais” do texto original e depois reproduzi-las no que chamam de resumo. Ideia
equivocada, que deve ser modificada com a experiência. Resumir significa ter a
capacidade de sintetizar com fidelidade as ideias do autor, porém com suas próprias
palavras.
A Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT), na versão de 2003, norma
NBR 6038, aplica a seguinte definição para resumo: “apresentação concisa dos
pontos relevantes de um documento”. Para efeitos da norma, classifica o resumo em
três tipos:
a. Resumo Crítico: resumo redigido por especialistas com análise crítica de um
documento, também chamado de resenha.
b. Resumo Indicativo: Indica apenas os pontos principais do documento. Por não
apresentar dados qualitativos e quantitativos, não dispensa a consulta ao original.
Frequente em trabalhos de conclusão de curso, artigos, monografias, dissertações e
teses.
c. Resumo Informativo: informa ao leitor as finalidades, a metodologia, os
resultados e as conclusões do documento, de modo que o leitor possa até dispensar
a consulta ao original. Podemos pensar em duas situações em que esse tipo de
resumo é utilizado:
(i) ocasiões em que o aluno deve resumir o conteúdo de um material lido, por
exemplo, para a apresentação oral ou para uma prova e;
(ii) ocasiões em que o aluno deve realizar um fichamento de uma obra que não
poderá dispor no futuro, por exemplo, de um livro que tomou como empréstimo de
uma biblioteca.
Essa versão da ABNT prevê ainda, orientações gerais de apresentação do resumo.
Vejamos:

3.1 O resumo deve ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as


conclusões do documento. A ordem e a extensão destes itens
dependem do tipo de resumo (informativo ou indicativo) e do
tratamento que cada item recebe no documento original.
3.2 O resumo deve ser precedido da referência do documento, com
exceção do resumo inserido no próprio documento.
3.3 O resumo deve ser composto de uma sequência de frases
concisas, afirmativas e não de enumeração de tópicos.
Recomenda-se o uso de parágrafo único.
3.3.1 A primeira frase deve ser significativa, explicando o tema
principal do documento. A seguir, deve-se indicar a informação sobre
a categoria do tratamento (memória, estudo de caso, análise da
situação etc.).
3.3.2 Deve-se usar o verbo na voz ativa e na terceira pessoa do
singular.
3.3.3 As palavras-chave devem figurar logo abaixo do resumo,
antecedidas da expressão Palavras-chave:, separadas entre si por
ponto e finalizadas também por ponto.
3.3.4 Deve-se evitar:
a) símbolos e contrações que não sejam de uso corrente;
b) fórmulas, equações, diagramas etc., que não sejam
absolutamente necessários; quando seu emprego for imprescindível,
defini-los na primeira vez que aparecerem. (NBR 6028, 2003)

É importante destacar, entretanto, que há normas específicas, dependendo do


objetivo e do meio de divulgação do resumo. Por exemplo, ao submeter um artigo e,
consequentemente, seu resumo a uma revista, temos que seguir as normas
estabelecidas pela editoração.
Dito isso, propomos voltarmos nossa atenção para o processo de produção do
resumo, a partir de sua concepção geral, que suscita, em muitos casos, como já
vimos, dúvidas e enganos aos mais desavisados.

4.2 Questões Metodológicas De Leitura E Produção Do Gênero Resumo


De forma geral – sem nos determos em um determinado tipo de resumo - o primeiro
passo para a produção de um bom resumo é a delimitação das condições de
produção. Isso significa determinar o autor, o objetivo, o interlocutor e o local em que
circulará. Se estivermos situados, por exemplo, no meio acadêmico/escolar, o aluno
é o autor, o interlocutor provável é o professor e o objetivo principal é apresentar a
compreensão global de um texto.
O segundo passo é desenvolver uma boa leitura do texto a ser resumido. Você se
lembra das etapas propostas por Severino (2007), destacadas no início dessa
unidade? Vamos relembrar:
a. Delimitação da unidade de leitura: identifique os elementos básicos da
situacionalidade do texto – autor, data de publicação, fonte, formato (é um capítulo?
Um livro? Um artigo?).
b. Análise textual: nessa etapa, procure responder:
 Do que o texto trata? (título, subtítulo, capa, orelha, resumo, bibliografia...)
 O que você sabe sobre o assunto tratado?
 Qual é o objetivo do texto?
 Quais os elementos gráficos (imagens, gráficos, fotos, tabelas) que contribuem
para formular previsões sobre o texto?
c. Análise temática: leia o texto, em sua totalidade, procurando traçar um
panorama do raciocínio do autor para definir e defender seu tema. Faça, nesse
momento, um levantamento do vocabulário, fatos e conceitos que confirmam ou não
as previsões feitas anteriormente.
d. Análise interpretativa: identifique as relações ente as ideias apresentadas no
texto e selecione as mais importantes em cada parágrafo. Duas estratégias podem
contribuir nessa etapa: sublinhar a oração principal do parágrafo ou sintetizar em
uma expressão/frase que indique a sua compreensão do parágrafo. Essa etapa
pode resultar em um esquema, isto é, um mapa de palavras e/ou expressões que
ilustra a organização global de um texto.
e. Diálogo com o texto: nessa etapa, tome uma posição frente as ideias do texto.
Isso significa situar as ideias do texto no conjunto mais amplo do pensamento
teórico, estabelecendo relações entre as teorias. O próximo passo é a formação de
um juízo crítico frente ao texto lido, que pode ser feita a partir de duas perspectivas:
(i) levando-se em conta sua coerência interna, isto é, se o texto atinge o objetivo a
que se propôs, se seus argumentos são sólidos e se foi eficaz na demonstração da
tese e (ii) sua originalidade, validade e contribuição do texto na esfera maior da
teoria em que se encaixa.
Vamos nos deter agora na etapa da escrita do resumo. Munidos das sinalizações
realizadas no texto, do esquema e das anotações feitas durante a leitura e
interpretação do texto, chega-se ao momento de registrar, com palavras próprias, as
ideias mais relevantes do texto.
É muito importante que, frequentemente, o produtor do resumo mencione no resumo
o autor do texto “original”, atribuindo a ele as ideias e argumentos. Alguns verbos
que podem ser utilizados para apontar as ações realizadas pelo autor são esses,
que indicam:
a. a posição do autor: afirma, nega, acredita, duvida...
b. o conteúdo geral: aborda, trata de...
c. a organização das ideias do texto: define, classifica, enumera, argumenta...
d. a relevância de uma ideia do texto: enfatiza, ressalta...
e. a ação do autor em relação ao leitor: incita, busca levar a...

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Outros exemplos de verbos: apresentar, definir, descrever, ressaltar, confrontar, comparar, criticar,
acreditar, afirmar, exemplificar, questionar, negar, abordar, defender, comprovar, esclarecer,
argumentar, relatar, concluir, mostrar, tratar de, sugerir, deduzir, iniciar, explicar, reforçar, introduzir,
classificar.
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Indicação de leitura
Resumo
Autores: Anna Rachel Machado (coordenação), Eliane Lousada, Lília Santos Abreu-Tardelli
Editora: Parábola
Sinopse: Este livro, o primeiro da coleção Leitura e produção de textos técnicos e acadêmicos,
propõe abordar o gênero resumo acadêmico/escolar a partir da ideia de oficina. Isso significa que o
livro traz um conjunto de atividades a partir das quais o leitor aprende sobre o gênero praticando a
leitura e a escrita.
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4.3 O resumo acadêmico/indicativo


Apontaremos, a partir de agora, algumas considerações sobre o resumo acadêmico,
tipo de resumo que objetiva transmitir ao leitor uma ideia completa do teor do
documento analisado, fornecendo os dados necessários para que o leitor seja capaz
de fazer uma avaliação do texto lido, sem consultar o texto integral.
O resumo acadêmico constitui-se de algumas características específicas, dentre elas
sua extensão1 e seu formato em parágrafo único. O conteúdo deve ser exposto de
forma objetiva, ou seja, não deve conter observações avaliativas do resumidor, nem
explicações mais amplas sobre o conteúdo. Segundo Severino (2007), o resumo
acadêmico deve responder às seguintes questões:
a. De que natureza é o trabalho analisado (pesquisa empírica, teórica, levantamento
documental...)?
b. Qual é o objeto pesquisado/estudado?
c. O que se pretendeu demonstrar ou constatar?
d. Qual foi o embasamento teórico em que o desenvolvimento do raciocínio do autor
se apoiou?
e. Quais os procedimentos metodológicos foram utilizados?
f. Quais os resultados alcançados?

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Quanto à extensão, a NBR 6038 estabelece:
a) de 150 a 500 palavras os de trabalhos acadêmicos (teses, dissertações e outros) e relatórios
técnico-científicos;
b) de 100 a 250 palavras os de artigos de periódicos;
c) de 50 a 100 palavras os destinados a indicações breves.
Os resumos críticos, por suas características especiais, não estão sujeitos a limite de palavra
É importante destacar que em um resumo de um projeto de pesquisa que ainda vai
ser desenvolvido, não é possível apontar resultados ou conclusões. No entanto, ele
deve apresentar os elementos fundamentais como o tema, a problemática, o
objetivo, a metodologia, o contexto, o sujeito e os instrumentos de pesquisa.
Estudiosos da área, na contemporaneidade, defendem que o processamento da
construção de um texto passa por três grandes etapas: o planejamento, a
execução e a revisão. Muitas vezes pulamos etapas e, depois de lido o texto a ser
resumido, centramos nossos esforços na execução e esquecemos o quão
importante são todas as etapas para que nosso texto tenha a consistência e
coerência com a situação comunicativa solicitada.
Dito isso, esperamos que você não se contente com esse texto. Crie estratégias
próprias para desenvolver seu texto, (i) compreendendo que tipo de resumo você
tem que fazer e suas especificidades, (ii) desenvolvendo uma boa leitura do texto –
para isso, sugerimos alguns passos, baseando-nos em Severino (2007) – (iii)
escreva, com suas próprias palavras, as ideias principais do texto, lembrando-se
sempre de remeter aos autores do teto original e (iv) revise o texto produzido,
quantas vezes necessário e verifique se todos os passos foram seguidos. Machado
(2005, p. 57) propõe a seguinte ficha de auto avaliação:

FICHA DE AUTOAVALIAÇÃO
1) O resumo está adequado ao objetivo de um resumo acadêmico/escolar?
2) O resumo está adequado ao seu destinatário?
3) O resumo transmite adequadamente a imagem de quem leu e compreendeu adequadamente o
texto lido?
4) As informações relevantes do texto original, tais como fato, discussão empreendida, posição do
autor e seus argumentos, estão registradas no resumo?
5) Antes de iniciar o resumo, há uma referência bibliográfica completa no texto lido? A referência
está de acordo com as normas da ABNT?
6) Está claro no resumo de quem são as ideias resumidas, por meio da menção do autor de
diferentes formas?
7) O resumo pode ser compreendido em si mesmo por um leitor que não conhece o texto original?
8) Verifique se o resumo não apresenta problemas de paragrafação, pontuação, frases incompletas
ou incompreensíveis, erros de ortografia, problemas de concordância verbal ou nominal.

ANÁLISE
(Atividade adaptada de Guimarães, 2012) Compare os resumos abaixo. Trata-se de
dois resumos do artigo “Cultura da paz”, de Leonardo Boff. Tendo em vista o que
estudamos desde a primeira unidade e considerando o modo como os autores se
referem ao autor, o que se pode concluir? Aponte os principais problemas que
podem ser observados.
RESUMO 1
Ele diz que a cultura dominante se caracteriza pela vontade de dominação da natureza do outro. É
possível superar a violência? Freud diz que é impossível controlar o instinto de morte. Boff diz que a
evolução humana sempre esteve regida pela violência. Em segundo lugar, a cultura patriarcal instalou
a dominação da mulher pelo homem e que a lógica de nossa cultura é a competição. Veja-se, por
exemplo, o número de atos de violência contra a mulher em São Paulo. Precisamos opor a cultura da
paz à cultura da violência. Onde buscar as inspirações para a cultura da paz? Somos seres sociais e
cooperativos, temos capacidades de afetividade. O homem pode intervir no processo de evolução.
Desde os tempos de César Augusto, os filósofos acham que o cuidado é a essência do ser humano.
Gandhi, Dom Hélder Câmara e Luther King são figuras que deram exemplo de comportamento
humano. Eu acho que todos nós devemos lutar pela paz.

RESUMO 2
Leonardo-Boff inicia o artigo “A cultura da paz” apontando o fato de que vivemos em uma cultura que
se caracteriza fundamentalmente pela violência. Diante disso, o autor levanta a questão da
possibilidade de essa violência poder ser superada ou não. Inicialmente, ele apresenta argumentos
que sustentam a tese de que seria impossível, pois as próprias características psicológicas humanas
e um conjunto de forças naturais e sociais reforçariam essa cultura da violência, tornando difícil sua
superação. Mas, mesmo reconhecendo o poder dessas forças, Boff considera que, nesse momento,
é indispensável; estabelecermos uma cultura da paz contra a da violência, pois esta estaria nos
levando à extinção da vida humana no planeta. Segundo o autor, seria possível construir essa
cultura, pelo fato de que os seres humanos são providos de componentes genéticos que nos
permitem sermos sociais, cooperativos, criadores e dotados de recursos para limitar a violência e de
que a essência do ser humano seria o cuidado, definido pelo autor como sendo uma relação amorosa
com a realidade, que poderia levar à superação da violência. A partir dessas constatações, o teólogo
conclui, incitando-nos a despertar as potencialidades humanas para a paz, construindo a cultura da
paz a partir de nós mesmos, tomando a paz como projeto pessoal e coletivo.
AÇÃO
Você se lembra do blog que “criamos” na primeira unidade, para divulgar os textos
de opinião? Imagine, agora, que abriremos nele um espaço para divulgar nossas
preferências: falaremos sobre filmes e livros. Cada aluno deve publicar um resumo
de um livro e/ou filme.
 Selecione um filme ou um livro de sua preferência.
 Identifique os principais fatos/argumentos/elementos da obra.
 Elabore um resumo da obra. Não se esqueça de indicar os dados principais de
publicação da obra (título completo, autor, ano etc.).
 Para a revisão do texto, retome a ficha de auto avaliação exposta na seção 3.3.

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ATENÇÃO!

Um resumo é um texto sobre outro texto, de outro autor, e isso deve ficar sempre claro,
mencionando-o frequentemente, para evitar que o leitor tome como sendo nossas as ideias que, de
fato, são do autor do texto resumido.
Para que essa retomada do autor do texto original seja feita de forma adequada, existem diversos
verbos que podemos utilizar para indicar seus atos. Observe:
Apontar – definir – elencar – afirmar – defender a tese – confrontar – esclarecer –
enumerar – convidar apresentar – exemplificar - descrever – elencar - classificar –
caracterizar - contrapor – comparar – opor – diferenciar – começar – iniciar – introduzir –
desenvolver – finalizar – concluir – pensar – acreditar – julgar – afirmar – negar –
questionar – criticar – narrar – relatar – explicar – expor – comprovar – defender a tese –
argumentar – justificar – mostrar – abordar – convidar – incitar – sugerir – levar a
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Indicação de filme
Vários livros, desde os mais clássicos até os contemporâneas foram adaptados para o cinema.
Discutir a adaptação das cenas escritas (ou por que não a obra toda!) para as telas do cinema é uma
ótima oportunidade para refletir com os alunos sobre interpretação e demais questões que envolvem
o texto. Além disso, é uma ótima oportunidade para estimular a produção de resumos e resenhas!
Algumas sugestões:
 Brás Cubas, 1986
 O Diário de Anne Frank, 2001
 Os Três Mosqueteiros, 2011
 O Mágico de OZ, 1939
 A Menina que Roubava Livros, 2013
 O Grande Gatsby, 2013
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta unidade teve como finalidade introduzir o leitor a uma instrumentalização para a
escrita acadêmica, sobretudo para a realização de resumos para o meio acadêmico.
Acreditamos que, com as orientações destacadas, você tenha percebido a
necessidade de criar estratégias para o desenvolvimento da habilidade de produção
desses gêneros textuais e, sobretudo, a necessidade de praticar a escrita
acadêmica para que seu texto fique adequado à modalidade, respeitando as
particularidades de cada tipologia. Ressaltamos a importância de leituras
complementares, que possam ajudá-lo a aperfeiçoar, cada vez mais, sua produção
acadêmica.
REFERÊNCIAS

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico:


elaboração de trabalhos na graduação. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6038:


Informação e documentação. Resumo. Apresentação. São Paulo: ABNT, 2003.
Disponível em <www.abnt.org.br>.

MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de


metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de


metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

NBR6028, Informação e documentação – Resumo, Apresentação. 2003. In: UFRGS,


Pós- Graduação. Disponível em
<http://www.ufrgs.br/cursopgdr/download/NBR6028.pdf> . acesso em 04 de jul. de
2018.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23.ed. rev. E


atual. São Paulo: Cortez, 2007.

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