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PROCESSO Nº:-752355/21

ASSUNTO:-TOMADA DE CONTAS EXTRAORDINÁRIA

ENTIDADE:-HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE


LONDRINA

INTERESSADO:-CLEIDSON GODOY DE OLIVEIRA, HOSPITAL UNIVERSITÁRIO


DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, PRO-REMEDIOS
DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS FARMACEUTICOS E COSMETICOS EIRELI,
SERGIO CARLOS DE CARVALHO

RELATOR:-CONSELHEIRO IVAN LELIS BONILHA ACÓRDÃO Nº 261/24 -


TRIBUNAL PLENO Tomada de Contas Extraordinária. Hospital Universitário da
Universidade Estadual de Londrina – UEL. Dispensa de Licitação nº 77/2021.
Fornecimento de fármacos em valor superior ao máximo estabelecido pela Câmara
de Regulação do Mercado de Medicamentos – CMED. Dano ao erário.
Irregularidade das contas com determinação de restituição de valores, aplicação de
multa, declaração de inidoneidade e expedição de recomendação. Disponibilização
dos autos à Secretaria Executiva da Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos – SCMED. 1.

RELATÓRIO DO CONSELHEIRO IVAN LELIS BONILHA (Relator) Trata-se de


Tomada de Contas Extraordinária[1] proposta pela 7ª Inspetoria de Controle
Externo, superintendida pelo Conselheiro Ivens Zschoerper Linhares, tendo por
objeto irregularidade detectada em fiscalização junto ao Hospital Universitário da
Universidade Estadual de Londrina – UEL, consistente no sobrepreço verificado na
aquisição dos medicamentos Citrato de Fentanila 0,05mg/ml 10ml BR-271950 e
Succinilcolina, Cloreto (Suxametonio) F/A 100mg 5ml BR-0268442, realizada
mediante o procedimento de Dispensa de Licitação nº 77/2021. A equipe técnica
apurou dano ao erário no valor de R$ 457.794,00. Acerca da responsabilização, o
relato da exordial dá conta de que “restou demonstrado no processo que ao ente
público não restava outra alternativa senão adquirir os medicamentos, ainda que
por valores abusivos, em virtude da situação de urgência e extrema necessidade
decorrentes da Pandemia do COVID 19”. Assim, ao considerar “(i) que houve a
tentativa de aquisição com diversos fornecedores; (ii) que houve a negativa de
grande parte deles; (iii) que o hospital encontrava-se em situação de lotação e de
extrema necessidade dos fármacos; (iv) que, ciente da abusividade do preço, a
administração comunicou o fato ao Ministério Público Estadual e; (iv) que, nos
termos do art. 22, § 1.º, do Decreto-Lei nº 4.657/1942[2], devem ser consideradas
as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação
do agente”, a equipe de fiscalização não vislumbrou que os servidores da entidade
atuantes no procedimento tenham concorrido para a ocorrência do dano. Por essa
razão, foram apontados como responsáveis, exclusivamente, a empresa
fornecedora, Pró-Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos
Eireli, e seu representante legal, Senhor Cleidson Godoy de Oliveira, por terem
proposto valores acima do preço máximo regulado pela Câmara de Regulação do
Mercado de Medicamentos – CMED. A Inspetoria sugeriu, com relação à empresa,
a cominação de restituição do prejuízo apurado e a emissão de declaração de
inidoneidade para contratar com o Poder Público e, quanto ao seu representante
legal, a aplicação de multa proporcional ao dano. Propôs, ainda, a expedição de
recomendação ao Hospital Universitário. Por meio do Despacho nº 1635/21-
GCILB[3], foi determinado o processamento da tomada e a citação dos
interessados, bem como a notificação da UEL para tomar ciência e, querendo,
manifestar-se nos autos. A empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos
Farmacêuticos e Cosméticos Eireli apresentou defesa à peça 22. Em análise
conclusiva, a 7ª Inspetoria de Controle Externo emitiu a Instrução nº 35/22[4], na
qual opinou pela procedência da tomada, pelos seus próprios fundamentos. O
Ministério Público de Contas, no Parecer nº 409/22-5PC[5], pronunciou-se pela
procedência da tomada, para o fim de aplicar a sanção de declaração de
inidoneidade à empresa contratada, bem como pela remessa de cópia dos autos à
Secretaria Executiva da Câmara de Regulação de Mercado para apuração das
condutas das demais empresas envolvidas na venda por valor acima do preço
regulado e ao Ministério Público Estadual diante de eventual tipificação das
condutas relatadas, sem prejuízo de que a UEL busque, por seus próprios meios, a
recomposição dos danos sofridos junto à empresa em questão. É o relatório. 2.
FUNDAMENTAÇÃO E VOTO DO CONSELHEIRO IVAN LELIS BONILHA Conforme
relatado, a irregularidade apontada neste expediente diz respeito ao sobrepreço
verificado na aquisição, pelo Hospital Universitário da Universidade Estadual de
Londrina – UEL, dos medicamentos Citrato de Fentanila 0,05mg/ml 10ml BR-
271950 e Succinilcolina, Cloreto (Suxametonio) F/A 100mg 5ml BR-0268442. A 7ª
Inspetoria de Controle Externo noticiou que a compra emergencial foi realizada
mediante o procedimento de Dispensa de Licitação nº 77/2021, fundamentado no
art. 34, inciso IV, da Lei Estadual nº 15.608/2007[6], redundando na contratação da
empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos
Eireli. Expôs que a aquisição efetivou-se nos dias 15 e 16/04/2021, pelo valor de R$
547.700,00, superior ao teto máximo estabelecido pela Câmara de Regulação de
Medicamentos – CMED, órgão criado pela Conversão da Medida Provisória nº
123/2003 na Lei Federal nº 10.742/2003 e responsável pela fixação de preços
máximos a serem observados, entre outros, pelos distribuidores de medicamentos
e farmácias. A unidade técnica apontou dano ao erário no montante de R$
457.794,00, que foi apurado considerando o Preço Fábrica da tabela divulgada pela
CMED em 12/04/2021, última anterior às notas fiscais emitidas em 15 e
16/04/2021[7], assim demonstrado: A responsabilidade pela reparação do prejuízo
foi imputada à contratada, que, aproveitando-se de uma situação de escassez no
mercado e de extrema necessidade dos interessados, praticou preços abusivos e
ilegais. Apontou a unidade técnica que houve ofensa ao art. 37, caput, da
Constituição Federal[8], ao art. 27, caput, da Constituição Estadual[9], ao art. 3º da
Lei Federal nº 8.666/1993[10] e ao art. 5º, inciso II, da Lei Estadual nº
15.608/2007[11], dos quais se extraem os princípios da eficiência e da
economicidade. Assinalou que a conduta subsome-se ao art. 25, § 2º, da Lei
Federal nº 8.666/1993[12] e ao art. 33, § 2º, da Lei Estadual nº 15.608/2007[13],
devendo o fornecedor, portanto, ser responsabilizado pela ocorrência do dano ao
erário. Além da restituição, a Inspetoria sugeriu a emissão, contra a empresa, de
declaração de inidoneidade para contratar com o Poder Público, bem como a
aplicação de multa proporcional ao dano ao seu representante legal, Senhor
Cleidson Godoy de Oliveira. Propôs, outrossim, a expedição de recomendação ao
Hospital Universitário para que, ao se deparar com fornecedores descumprindo os
valores máximos regulados pela CMED, ofereça também denúncia na CMED. No
contraditório, a empresa Pró-Remédios afirmou que o medicamento fentanila já
indicava alta no momento inicial da curva da segunda onda da pandemia de
COVID-19, conforme se observa da última aquisição do medicamento que havia
sido realizada pela UEL em 26/01/2021, momento em que o valor de referência era
de R$ 6,21, mas o produto foi adquirido por R$ 6,80. Discorreu que, diante da
necessidade de aquisição dos fármacos, a UEL convidou 198 empresas e apenas a
interessada apresentou proposta para os itens em questão. Asseverou que os
medicamentos estavam em falta no mercado nacional devido à alta procura e que a
contratada, que é distribuidora, os encontrou bem acima da tabela CMED e do
preço referencial da Administração, razão pela qual os ofertou nos preços
apresentados, sem qualquer intuito doloso e nenhuma abusividade. Disse que,
sendo mera distribuidora, a empresa não tem nenhum controle sobre a política de
precificação dos medicamentos, que é exclusiva das indústrias farmacêuticas.
Destacou que é regra básica da economia que alta demanda e baixa oferta
resultam no encarecimento dos preços e que, no caso, a baixa oferta é fato
reconhecido pela própria Administração, tendo decorrido dos efeitos da pandemia,
que, naquele momento (março/2021), passava pelo período de maior média de
mortes por dia e de elevadas taxas de ocupação de leitos de enfermaria e UTI.
Alegou que a pandemia causou desabastecimento de medicamentos e produtos
hospitalares utilizados no tratamento de pessoas internadas pelo vírus. Argumentou
que a inflação dos preços no setor de saúde alcançou índices elevadíssimos no
mesmo período (abril/2021), estando parte do aumento atrelada ao congelamento
de preços feito em 2020 em razão da pandemia de COVID-19 (Medida Provisória nº
933, de 31/03/2020), cuja consequência, associada ao encarecimento do custo do
medicamento para a farmacêutica, é a interrupção da produção do fármaco,
exatamente o que aconteceu com os medicamentos objeto deste processo.
Sustentou que a tabela CMED é passível de inexatidões em cotejo com a realidade
mercadológica, sendo plenamente possível e até comum que medicamentos
estejam defasados no tabelamento. Aduziu que a obrigação de os fabricantes e
distribuidores praticarem preços que não condizem com os custos de produção
acaba por afastar o ingresso de novos concorrentes, prejudicando a oferta do
medicamento e a competitividade do setor, e que a deserção ocorreu justamente
pela inexequibilidade de praticar o preço previsto na tabela CMED, por estar
totalmente desconexo da realidade mercadológica. Defendeu que a tabela CMED
não pode ser adotada como único e exclusivo critério para aferição de eventual
abusividade de preço, sendo necessária uma visão holística de todas as
circunstâncias econômicas a respeito da entrada e saída dos produtos, além de se
levar em conta a própria realidade econômico-financeira da empresa. Asseverou
que o próprio Tribunal de Contas da União – TCU, não raras vezes, informa a
respeito da inadequação dos preços CMED como referência para as contratações
públicas de medicamentos, pois simplesmente não se consegue acompanhar o
movimento dinâmico de mercado. Declarou que a empresa tem faturamento quase
exclusivo de contratos administrativos e que a imposição da mais grave pena
licitatória, a qual não se justifica no caso concreto, certamente implicará sua
falência e encerramento de atividades. Argui a inexistência de dano causado, haja
vista que os fármacos em questão estavam em vertiginosa inflação e variação de
preços no mercado diante da ocorrência da pandemia, inexistindo qualquer conduta
ilícita e abusiva por parte da contratada. Apresentou notas fiscais de entrada para
comprovar a prática de preço muitíssimo acima da própria tabela CMED,
demonstrando o completo deslocamento do tabelamento oficial do governo frente à
realidade econômica e inflacionária da época. Enfatizou que a Inspetoria e o
Hospital Universitário da UEL expressamente admitiram e reconheceram que os
medicamentos em tela estavam em falta, em completa escassez, restando todos os
recentes certames do órgão fracassados e desertos. Concluiu defendendo que a
contratada não praticou preço abusivo, simplesmente porque adquiriu os fármacos
por preços também altos e inflacionados. A 7ª Inspetoria reiterou a procedência da
tomada, em seus próprios fundamentos. O órgão ministerial manifestou-se pela
procedência da tomada, para o fim de aplicar a sanção de declaração de
inidoneidade à empresa contratada, bem como pela remessa de cópia dos autos à
Secretaria Executiva da Câmara de Regulação de Mercado para apuração das
condutas das demais empresas envolvidas na venda por valor acima do preço
regulado e ao Ministério Público Estadual diante de eventual tipificação das
condutas relatadas, sem prejuízo de que a UEL busque, por seus próprios meios, a
recomposição dos danos sofridos junto à empresa em questão. Em conformidade
com a instrução processual, tenho que o apontado sobrepreço no fornecimento dos
fármacos indicados na presente tomada de contas é irregular. Consoante assinalou
a Inspetoria, o mercado de medicamentos é regulado pela Câmara de Regulação
de Medicamentos – CMED, nos termos da Lei Federal nº 10.742/2003[14]. No
exercício das suas funções, o órgão tem a competência de estabelecer critérios
para fixação e ajuste de preços de fármacos e para fixação de margens de
comercialização desses produtos, a serem observados pelos representantes,
distribuidores, farmácias e drogarias. Confira-se: “Art. 6o Compete à CMED, dentre
outros atos necessários à consecução dos objetivos a que se destina esta Lei: (...)
II - estabelecer critérios para fixação e ajuste de preços de medicamentos; (...) V -
estabelecer critérios para fixação de margens de comercialização de medicamentos
a serem observados pelos representantes, distribuidores, farmácias e drogarias,
inclusive das margens de farmácias voltadas especificamente ao atendimento
privativo de unidade hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência
médica;” Para tanto, a CMED disponibiliza, mensalmente, uma tabela contendo os
preços máximos permitidos para a venda de medicamentos, cuja inobservância
sujeita o infrator à aplicação de sanções, conforme o art. 8º, caput, do referido
diploma legal[15]. Na hipótese dos autos, quando da emissão das notas fiscais[16],
aplicavam-se os valores constantes da tabela publicada em 12/04/2021[17].
Naquele momento, conforme demonstrativo apresentado pela Inspetoria, o Preço
Fábrica máximo para o citrato de fentanila era de R$ 5,76 e para a succinilcolina
era de R$ 21,50. Entretanto, a contratada forneceu esses produtos ao Hospital
Universitário da UEL pelas quantias, respectivamente, de R$ 48,50 e de R$ 41,80,
redundando em um sobrepreço no valor total de R$ 457.794,00. A aquisição de
medicamentos acima do preço estabelecido pela CMED constitui irregularidade,
sujeitando a empresa à reparação do dano causado ao erário, conforme já decidiu
esta Corte: “Representação da Lei n.º 8.666/1993. Município de Paranavaí. Pregão.
Aquisição de medicamente acima do preço da tabela CMED e ausência de
disponibilização da íntegra dos procedimentos licitatórios. Procedência parcial,
restituição de valores, determinações e multas.”[18] As alegações de que os
medicamentos estavam em falta no mercado e de que os preços no setor da saúde
encontravam-se inflacionados não isentam as empresas fornecedoras de observar
os valores máximos fixados pelo órgão regulador. Ora. Se é a CMED que regula os
preços a serem seguidos no mercado farmacêutico, não pode a Administração
Pública ficar à mercê das práticas definidas pelos próprios fabricantes e
distribuidores. Como bem enfatizou a ICE, a pandemia não autorizou a
desregulação da venda de fármacos[19]: “(...) é público e notório que a pandemia
da COVID-19 tenha afetado o mercado dos mais variados produtos, e os produtos
da empesa farmacêutica de forma contundente, no entanto, não houve
desregulação dos produtos médicos e farmacêutico neste período, não houve
nenhuma norma que autorizasse a flexibilização da tabela CMED, sendo que o
respeito aos limites da ambição ao lucro fácil em período difícil fosse ainda mais
imperativo.” A alegada escassez de insumos ou de produtos e os reflexos disso na
sua precificação, sem dúvida, não eram fatos desconhecidos do órgão regulador,
autoridade maior nesse mercado, que continuou publicando, mensalmente, as
tabelas com os valores máximos a serem praticados, os quais, no entanto, não
foram observados pela contratada. Nessa toada, é mister destacar, também, que o
argumento de que, segundo o TCU, os preços estabelecidos pela CMED não
poderiam ser tomados como referência nas contratações públicas de
medicamentos, pela impossibilidade de se acompanhar o movimento dinâmico do
mercado, não socorre a contratada, valendo, a esse respeito, reprisar o explicitado
pela unidade técnica[20]: “Ainda, à título de esclarecimento, o Acórdão 2901/2016
do Tribunal de Contas da União, mencionado pela empresa defendente, não
flexibilizou a tabela CMED como limite máximo de preços de medicamentos, mas a
decisão atenta para a possibilidade dos preços contidos na tabela sejam
significativamente superiores aos praticados em compras públicas, e desta feita,
para a fixação dos preços a administração deve usá-lo como referencial em
conjunto com outros indicadores, mas jamais se autorizou a comercialização em
patamares superiores ao lá estipulados.” Da mesma forma, a suposta aquisição de
medicamentos para revenda por preços mais elevados não afasta a obrigação da
distribuidora de seguir o tabelamento da CMED. Os preços máximos fixados devem
ser observados por todos os envolvidos nas negociações, inclusive as
distribuidoras, como reforçou o órgão regulador nas Orientações Interpretativas nº
2/2006 e nº 3/2006, dos quais a Inspetoria reproduziu os seguintes excertos
elucidativos[21]: “Conforme a OI nº 02/2006: Nos fornecimentos para órgãos
públicos através de licitações ou não, o Distribuidor é obrigado a vender os
produtos, tendo como referencial máximo o preço fabricante. Preço Fabricante é o
teto de preço pelo qual um laboratório ou distribuidor de medicamentos pode
comercializar no mercado brasileiro um medicamento que produz; considerando
que a Lei nº 10.742, de 6 de outubro de 2003, que define normas de regulação para
o setor farmacêutico e cria a CMED é aplicada às empresas produtoras de
medicamentos, bem como às farmácias e drogarias, aos representantes, às
DISTRIBUIDORAS DE MEDICAMENTOS e a quaisquer pessoas jurídicas de direito
público ou privado que, de alguma maneira, atuem no setor farmacêutico. Em
qualquer operação de venda efetivada pelas empresas produtoras de
medicamentos ou pelas distribuidoras, destinada tanto ao setor público como ao
setor privado, deverá ser respeitado, para venda, o limite do Preço Fabricante, uma
vez que o Preço Máximo ao Consumidor é o preço máximo permitido na venda de
um medicamento no varejo, podendo ser praticado somente pelas farmácias e
drogarias. (grifos nossos) Assim, o Preço Máximo ao Consumidor é o preço a ser
praticado pelo comércio varejista, ou seja, farmácias e drogarias, e o Preço Fábrica
é o teto de preço pelo qual um laboratório ou distribuidor de medicamentos pode
comercializar no mercado brasileiro um medicamento, já incorrendo em todos os
custos de comercialização, quando o laboratório realiza a comercialização
diretamente ao setor varejista, ou concede um desconto em seu preço para que a
empresa distribuidora possa cobrir seus custos advindos da distribuição do
medicamento ao setor varejista e também pratique o Preço Fábrica. Já a OI nº
03/2006 traz o seguinte: Em caso de infração ao regime de regulação do mercado
de medicamentos, o Distribuidor estará sujeito às penalidades legais. a Lei nº
10.742, de 2003, que define normas de regulação para o setor farmacêutico e cria a
CMED, é aplicada, segundo seu art. 2°, também às empresas distribuidoras de
medicamentos, ou seja, essas empresas também estão sujeitas à regulação
econômica do mercado de medicamentos. Dentre as competências da CMED,
destaca-se a de estabelecer critérios para fixação de margens de comercialização
de medicamentos a serem observados pelos representantes, DISTRIBUIDORES,
farmácias e drogarias, inclusive nas margens de farmácias voltadas
especificamente ao atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer
outra equivalente de assistência médica, conforme dispõe o inciso V do art. 6° da
Lei nº 10.742, de 2003. Neste sentido, é importante destacar que esta mesma
norma, em seu art. 8°, determina que o descumprimento de atos emanados pela
CMED, no exercício de suas competências de regulação e monitoramento do
mercado de medicamentos, bem como o descumprimento de norma prevista nesta
Lei, sujeitam-se às sanções administrativas previstas no arts. 56 e 57 da Lei nº
8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), que
preveem a aplicação de pena de multa que pode variar entre duzentas e três
milhões de UFIR. Desta forma, o Distribuidor de Medicamentos que comercializar
medicamentos por preços superiores ao Preço Fábrica estará sujeito às sanções
descritas no ‘caput’ do art. 8° da Lei nº 10.742, de 6 de outubro de 2003. (sem grifo
no original)” Ademais, consoante bem destacou a unidade técnica, esse fato, além
de não elidir a responsabilidade da distribuidora, apenas demonstra que também a
fabricante pode ter infringido a norma regulatória. Destarte, diante do fornecimento
de produtos por valores superiores aos máximos fixados pela CMED, em
contrariedade à Lei Federal nº 10.742/2003 e considerando a lesão causada ao
erário, a teor do disposto no art. 89, § 1º, inciso I, da Lei Estadual nº 113/2005[22],
resta patente a irregularidade das contas. A responsabilidade recai sobre a empresa
contratada, Pró-Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos
Eireli, em conformidade com o art. 25, § 2º, da Lei Federal nº 8.666/1993[23], a
quem deve ser imputada a reparação do dano apurado, no montante de R$
457.794,00, corrigido monetariamente desde o pagamento acima do devido e
acrescido dos encargos legais. Ademais, em consonância com o art. 89, caput e §
2º, da Lei Complementar Estadual nº 113/2005[24], deve ser imposta à empresa
multa proporcional ao dano, a qual, considerando a exorbitância dos preços
praticados frente àqueles estabelecidos pela CMED, a reforçar a gravidade da
conduta, arbitro em 20%. Noutro giro, o dano ao erário decorrente da evidente
inobservância aos valores fixados pelo órgão regulador, dos quais a fornecedora
não poderia alegar desconhecimento, numa situação de extrema necessidade do
adquirente, demonstra que a empresa não é confiável para contratar com a
Administração Pública. Por essa razão, com fundamento no art. 97 da Lei
Complementar Estadual nº 113/2005[25], deve ser declarada a inidoneidade da
empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos
Eireli, para o fim de proibi-la de contratar com o Poder Público, pelo prazo de três
anos. Deixo de responsabilizar o representante legal da empresa, Senhor Cleidson
Godoy de Oliveira, porquanto não se verificou, na hipótese, desvio de finalidade ou
confusão patrimonial, nos termos do art. 50 do Código Civil[26], mostrando-se,
dessa feita, descabida a desconsideração da personalidade jurídica. Cabe ressaltar,
outrossim, que, conforme consignado na peça inaugural, não se vislumbrou, no
caso, que os agentes públicos atuantes no procedimento de dispensa tenham
concorrido para a conduta ilegal. Ainda, acolho a sugestão da unidade técnica para
recomendar ao Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina – UEL
que, ao se deparar com fornecedores descumprindo os valores máximos
estabelecidos pelo órgão regulador, ofereça denúncia na Câmara de Regulação do
Mercado de Medicamentos – CMED. Por fim, diante da infringência à Lei Federal nº
10.742/2003, os autos devem ser disponibilizados à Secretaria Executiva da
Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – SCMED, para que adote as
providências que entender pertinentes, no âmbito de sua competência, com relação
à empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos
Eireli e àquela(s) que lhe forneceu(ram) os fármacos por preços supostamente
também superiores ao máximo permitido pelo órgão regulador. Saliente-se a
desnecessidade de remessa ao Ministério Público Estadual, haja vista que os fatos
já lhe foram comunicados pela própria entidade[27]. Em face do exposto, VOTO: 1)
com fundamento no art. 16, inciso III, alíneas “b” e “f”, da Lei Complementar
Estadual nº 113/2005[28], pela irregularidade do objeto da presente tomada de
contas extraordinária, em razão do fornecimento de fármacos ao Hospital
Universitário da Universidade Estadual de Londrina – UEL, decorrente da Dispensa
de Licitação nº 77/2021, em valor superior ao máximo estabelecido pela Câmara de
Regulação do Mercado de Medicamentos – CMED, sob a responsabilidade da
empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos
Eireli; 2) pela imposição à empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos
Farmacêuticos e Cosméticos Eireli da devolução aos cofres públicos da quantia de
R$ 457.794,00, corrigida monetariamente desde o pagamento acima do devido e
acrescida dos encargos legais, em conformidade com o art. 85, inciso IV, da Lei
Complementar Estadual nº 113/2005[29]; 3) pela aplicação à empresa Pró-
Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos Eireli de multa
proporcional ao dano, arbitrada em 20%, nos termos dos artigos 85, inciso III, e 89,
§ 2º, da Lei Complementar Estadual nº 113/2005[30]; 4) pela declaração de
inidoneidade da empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e
Cosméticos Eireli, para o fim de proibi-la de contratar com o Poder Público pelo
prazo de três anos, conforme o art. 97 da Lei Complementar Estadual nº
113/2005[31]; 5) pela expedição de recomendação ao Hospital Universitário da
Universidade Estadual de Londrina – UEL para que, ao se deparar com
fornecedores descumprindo os valores máximos estabelecidos pelo órgão
regulador, ofereça denúncia na Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos – CMED; 6) pela disponibilização dos autos à Secretaria Executiva
da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – SCMED, para que adote
as providências que entender pertinentes, no âmbito de sua competência, com
relação à empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e
Cosméticos Eireli e àquela(s) que lhe forneceu(ram) os fármacos por preços
supostamente também superiores ao máximo permitido pelo órgão regulador; 7)
pelo encaminhamento dos autos, após o trânsito em julgado, à Coordenadoria de
Monitoramento e Execuções – CMEX[32] para os devidos fins. 3. VOTO DO
CONSELHEIRO FABIO DE SOUZA CAMARGO (Divergente) Trata-se de Tomada
de Contas Extraordinária para apurar eventual superfaturamento na venda de
medicamentos, durante a Pandemia da COVID-19. Ao analisar o procedimento
investigatório é concluído que o medicamento CITRATO DE FENTANILA 0,05
MG/ML 10 ML custou o valor de R$ 48,50, já o medicamento SUCCINILCOLINA,
CLORETO (SUXAMETONIO) F/A 100 MG (5 ML), teve o custo de R$ 41,80,
valores que se encontram acima da Tabela CMED – Câmara de Regulação do
Mercado de Medicamentos. Em sua defesa a empresa PRO-REMEDIOS
DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS FARMACEUTICOS E COSMETICOS EIRELI
trouxe as notas fiscais de aquisição dos produtos fornecidos ao Poder Público,
nesta consta que o medicamento CITRATO DE FENTANILA 0,05 MG/ML 10 ML,
com 50 ampolas, custou o valor de R$ 25,00 cada ampola (R$ 1.250,00 valor
unitário / 50 ampolas) - nota fiscal nº. 000.010.677, série 000, datada de
15/04/2021. Já a nota fiscal nº. 000.010.879, série 000, datada de 03/05/2021,
custava R$ 30,00 (R$ 1,500,00 valor unitário / 50 unidades), sendo que há outra
nota de junho que demonstra que o preço permaneceu em R$ 30,00. Já o
medicamento SUCCINILCOLINA, CLORETO (SUXAMETONIO) F/A 100 MG (5
ML), a nota fiscal nº. 000.037.182, série 001, datada de 26/04/2021, o valor pago foi
de R$ 24,75 (R$ 247,50 valor unitário / 10 quantidade na caixa). A nota fiscal nº.
000.088.197, série 001, datada de 18/03/2021, demonstra que o valor unitário do
medicamento era de R$ 20,13. A tabela CMED – Câmara de Regulação do
Mercado de Medicamentos de abril de 2021, peça 07, traz o valor do medicamento
CITRATO DE FENTANILA 0,05 MG/ML 10 ML pelo valor de R$ 5,7656 e o
SUCCINILCOLINA, CLORETO (SUXAMETONIO) F/A 100 MG (5 ML) pelo valor de
R$ 21,50. Pela simples observação das notas fiscais juntadas na defesa da
empresa PRO-REMEDIOS DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS FARMACEUTICOS
E COSMETICOS EIRELI é possível verifica de plano que ela já adquiriu o produto
acima do preço da tabela CMED – Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos, tendo em vista o cenário de instabilidade gerado pela Pandemia da
COVID-19. Logo o caso se resume a verificação se mesmo diante do cenário
truculento gerado pela COVID-19 o valor da tabela de referência da CMED –
Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos é aplicável ou não. Entendo
que no presente caso não é caso de aplicação da tabela CMED – Câmara de
Regulação do Mercado de Medicamentos, pois o licitante demonstrou claramente
que adquiriu o produto acima do valor de mercado, em virtude de sua escassez. O
fato de o Governo Federal ter “congelado” a alta dos medicamentos, não afasta a
realidade do caso concreto, que ao cotejar as notas fiscais trazidas aos autos,
verifica-se que a alta dos preços foi uma realidade e não mera ficção. Observe-se
que o procedimento licitatório restou deserto, pois as empresas não possuíam os
medicamentos para o seu regular fornecimento. É citado pela defesa, peça 22, que:
“Diante da necessidade de aquisição do fármaco pela Administração, o HU/UEL
convidou exatamente 198 (cento e noventa e oito) empresas para apresentação de
propostas!”. Isso já demonstra a dificuldade suportada pela Administração Pública,
em manter o seu regular cumprimento de suas obrigações. O fato do aumento dos
valores dos medicamentos e a sua ausência no mercado de consumo decorreu da
própria ausência de INSUMOS, que não tem correlação com a tabela CMED –
Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos e estão, sim, sujeitos ao
aumento de preço e consequentemente refletindo nos medicamentos necessários
para o tratamento da COVID-19. É de se ressaltar que os INSUMOS, em sua
grande maioria, não são produzidos no Brasil, sendo necessário à sua importação,
ou seja, o fornecedor de insumos não está adstrito a venda para este país,
obrigando-nos a efetuar o pagamento mais elevado para garantir a VIDA dos
brasileiros, aliás, dever trazido na Constituição Federal, em seu artigo 5º, caput.
Assim o caso se encontra na margem da exceção, pois o cenário daquela época
era distinto, com diversos intemperes e dificuldades para controlar a Pandemia da
COVID-19. A empresa PRO-REMEDIOS DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS
FARMACEUTICOS E COSMETICOS EIRELI comprova que adquiriu o produto
acima do preço de mercado devido a sua escassez e, por consequência, teve que
efetuar a venda acima da tabela CMED – Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos, totalmente justificado em virtude do cenário daquela época e
necessário para salvar milhares de vidas de brasileiros. Logo o caso se encontra
coberto pela excludente de responsabilidade de força maior, pois as partes
licitatórias não detinham domínio sobre os fatos, ficando demonstrado a ausência
de superfaturamento. Vale destacar que não se vislumbra DOLO na conduta da
empresa PRO-REMEDIOS DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS FARMACEUTICOS
E COSMETICOS EIRELI, elemento volitivo necessário para a sua penalização.
Analisando as notas de aquisição apresentadas e uma margem de venda abaixo de
100% (percentual tradicional a esse tipo de mercado) não há superfaturamento, ou
seja, não há dolo de se enriquecer às custas do Estado. Observo que o valor foi
compatível as atividades REAIS do mercado daquele período, não sendo possível
se apegar a tabela CMED – Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos e
atos governamentais para penalizar uma empresa que socorreu o ESTADO em um
momento de necessidade, em busca de salvaguardar as vidas de toda uma
comunidade. Ora se a empresa, em momento excepcional, não puder adequar o
seu produto a realidade de mercado, frente a regulamentação governamental, será
o desabastecimento e engessamento da Administração Pública, pois em outro
período conturbado de pandemia, não será socorrido e não atenderá o seu fim
maior que é o INTERESSE PÚBLICO (indiscutível que o maior interesse estatal é
salvar vidas). É de se destacar que esse é o entendimento adotado pelo Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná para as relações privadas, vide: APELAÇÕES CÍVEIS.
REVISÃO DE CONTRATO EMPRESARIAL. COMPRA E VENDA DE INSUMOS
MÉDICO-HOSPITALARES DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19. ÁLCOOL GEL.
ALEGADO SUPERFATURAMENTO. RECONVENÇÃO. OBRIGAÇÃO
INADIMPLIDA. COBRANÇA. PARCIAL PROCEDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL.
REDUÇÃO DO VALOR UNITÁRIO DO PRODUTO. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO
RECONVENCIONAL. INEXISTÊNCIA DE SALDO DEVEDOR REMANESCENTE.
INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES. 1. LEGITIMIDADE PASSIVA DA CORRÉ
NUTRIEX. NÃO ACOLHIMENTO. NEGÓCIO REALIZADO APENAS COM A
RECONVINTE EQUILIBRIUM. EXISTÊNCIA DE GRUPO ECONÔMICO-FAMILIAR
NÃO DEMONSTRADA. MANUTENÇÃO DA EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO. READEQUAÇÃO, PORÉM, DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA PARA 10% SOBRE O VALOR ATUALIZADO
DA CAUSA. IMPOSSIBILIDADE DE ARBITRAMENTO POR APRECIAÇÃO
EQUITATIVA (ART. 85, § 8º, DO CPC). TEMA 1.076 DO STJ. SENTENÇA
REFORMADA EM PARTE. 2. AÇÃO PRINCIPAL. REVISÃO DE CONTRATO
EMPRESARIAL. ALEGADA IMPOSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO JUDICIAL NO
CASO CONCRETO. ACOLHIMENTO. MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PACTA
SUNT SERVANDA NÃO JUSTIFICADA. CIÊNCIA DA PARTE COMPRADORA
ACERCA DA ALTA DEMANDA MERCADOLÓGICA DO PRODUTO EM RAZÃO DO
CENÁRIO PANDÊMICO, BEM COMO DAS VARIAÇÕES DE PREÇO E DE
DISPONIBILIDADE. ASSUNÇÃO DOS RISCOS DO NEGÓCIO. NÃO VERIFICADA
A EXISTÊNCIA DE COAÇÃO OU DEMAIS IRREGULARIDADES
EVENTUALMENTE PRATICADAS PELA PARTE VENDEDORA. PRESUNÇÃO DE
PARIDADE E SIMETRIA ENTRE OS NEGOCIANTES MANTIDA. PREVALÊNCIA
DA AUTONOMIA DA VONTADE DAS PARTES. EXEGESE DOS ARTS. 421,
PARÁGRAFO ÚNICO, E 421-A, III, DO CC. SENTENÇA REFORMADA, COM A
IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS INICIAIS. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA
ATRIBUÍDOS À AUTORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ARBITRADOS EM 10%
SOBRE O VALOR DA CAUSA. 3. RECONVENÇÃO. ALEGAÇÃO DE
INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO. PLEITO DE COBRANÇA. ACOLHIMENTO.
DÍVIDA ASSUMIDA PELA AUTORA, REFERENTE À ÚLTIMA PARCELA DA
COMPRA. SENTENÇA REFORMADA, COM A PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS
RECONVENCIONAIS. PROTESTO DA NOTA FISCAL E NEGATIVAÇÃO
DECLARADOS VÁLIDOS. COMPRADORA CONDENADA AO PAGAMENTO DO
SALDO DEVEDOR, ACRESCIDO DE JUROS DE MORA E CORREÇÃO
MONETÁRIA, BEM COMO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA ARBITRADOS EM 10% SOBRE O VALOR
DA CONDENAÇÃO. RECURSO DA AUTORA CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
RECURSOS DAS CORRÉS CONHECIDOS E PROVIDOS. (TJPR - 13ª Câmara
Cível - 0017793-30.2020.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: DESEMBARGADOR FABIO
ANDRE SANTOS MUNIZ - J. 26.07.2023) Ainda, cito parte da fundamentação
trazida no julgado, pois ilustra o entendimento do presente caso: “Com efeito, a
situação narrada nos autos revela que o contrato celebrado entre as partes possui
natureza eminentemente civil e empresarial, devendo, nos termos da legislação de
regência, ser presumido paritário e simétrico, não estando caracterizada a
excepcionalidade que justificaria a sua revisão pela via judicial. Na realidade, o
preço da mercadoria adquirida, no momento em que realizada a avença, foi
estipulado pela vendedora e devidamente comunicado à compradora, sendo-lhe
viável a análise acerca da conveniência e oportunidade da negociação, inclusive
mediante a comparação com os demais valores trabalhados no mercado. Inclusive,
a esse respeito, convém deixar claro que não há que se falar em qualquer forma de
coação ou má comportamento da vendedora no momento da negociação,
decorrente da mera comunicação à autora de que eventual demora na conclusão
do contrato poderia inviabilizar a oferta da mercadoria, diante de possível
expropriação dos bens a ser efetuada pelo Poder Executivo do Estado de Goiás,
em razão do avanço da pandemia da COVID-19. Não havendo qualquer forma de
hipossuficiência ou especial condição de vulnerabilidade que possa ser imputada à
compradora, é inviável que se conclua ter havido abuso ou deslealdade por parte
da vendedora, dispondo a autora de adequadas condições de averiguar a
viabilidade e eventual vantagem da negociação, tendo, assumidamente, contraído o
risco que lhe é inerente, visando adquirir um produto que, àquele momento,
encontrava-se, de forma notória, com alta demanda mercadológica e, portanto,
sujeito a variações de preço e de disponibilidade que lhe foram seguramente
informadas. Além disso, muito embora a autora mencione, na petição inicial,
documentos que indicam ofertas de preços trabalhados pela própria fornecedora
em momentos posteriores, cujos valores seriam inferiores ao da contração
celebrada, essas informações não poderiam conduzir à procedência de sua
pretensão revisional, tendo em vista serem imprestáveis, a título de parâmetro, para
uma negociação realizada meses antes, quando a situação mercadológica mundial
era deveras diversa”. O acórdão demonstra claramente o cenário de imprevisão
naquela época, com restrição de mercado, falta de produtos e variação de preço,
além da “ameaça” de expropriação pelo Poder Público, tudo em decorrência da
Pandemia da COVID-19, fatores que são aplicáveis ao presente caso concreto.
Portanto não vislumbro ato doloso da empresa PRO-REMEDIOS DISTRIBUIDORA
DE PRODUTOS FARMACEUTICOS E COSMETICOS EIRELI, sendo que o valor
do produto fornecido atendeu a realidade do mercado daquela época, não podendo,
agora, ser penalizada por ter atendido uma necessidade pública. Frise-se que não
ficou demonstrado superfaturamento dos produtos, pois a simples existência da
tabela CMED – Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos não é
suficiente para demonstrar lesão aos cofres públicos. Diante do exposto, divirjo do
Relator e voto pela improcedência da tomada de contas extraordinária, tendo em
vista a ausência de superfaturamento dos medicamentos, que seguiu o preço da
realidade do mercado a época da Pandemia da COVID-19 (devido à escassez de
insumos e produtos), não ficando comprovado a existência de dolo (vontade
deliberada em lesar os cofres públicos). Transitada em julgado a decisão e
adotadas as providências pertinentes, com fundamento no art. 398, § 1º do
Regimento Interno determino o encerramento do processo e o encaminhamento
dos autos à Diretoria de Protocolo para arquivo. VISTOS, relatados e discutidos,
ACORDAM OS MEMBROS DO TRIBUNAL PLENO do TRIBUNAL DE CONTAS DO
ESTADO DO PARANÁ, nos termos do voto do Relator,

Conselheiro IVAN LELIS BONILHA, por maioria absoluta, em:

I - Com fundamento no art. 16, inciso III, alíneas “b” e “f”, da Lei Complementar
Estadual nº 113/2005, julgar pela irregularidade do objeto da presente tomada
de contas extraordinária, em razão do fornecimento de fármacos ao Hospital
Universitário da Universidade Estadual de Londrina – UEL, decorrente da
Dispensa de Licitação nº 77/2021, em valor superior ao máximo estabelecido
pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – CMED, sob a
responsabilidade da empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos
Farmacêuticos e Cosméticos Eireli;

II - pela imposição à empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos


Farmacêuticos e Cosméticos Eireli da devolução aos cofres públicos da quantia
de R$ 457.794,00, corrigida monetariamente desde o pagamento acima do
devido e acrescida dos encargos legais, em conformidade com o art. 85, inciso
IV, da Lei Complementar Estadual nº 113/2005;

III - pela aplicação à empresa Pró-Remédios Distribuidora de Produtos


Farmacêuticos e Cosméticos Eireli de multa proporcional ao dano, arbitrada em
20%, nos termos dos artigos 85, inciso III, e 89, § 2º, da Lei Complementar
Estadual nº 113/2005;

IV - pela declaração de inidoneidade da empresa Pró-Remédios Distribuidora


de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos Eireli, para o fim de proibi-la de
contratar com o Poder Público pelo prazo de três anos, conforme o art. 97 da Lei
Complementar Estadual nº 113/2005;
V - recomendar ao Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina –
UEL para que, ao se deparar com fornecedores descumprindo os valores máximos
estabelecidos pelo órgão regulador, ofereça denúncia na Câmara de Regulação do
Mercado de Medicamentos – CMED;

VI - disponibilizar os autos à Secretaria Executiva da Câmara de Regulação do


Mercado de Medicamentos – SCMED, para que adote as providências que
entender pertinentes, no âmbito de sua competência, com relação à empresa Pró-
Remédios Distribuidora de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos Eireli e àquela(s)
que lhe forneceu(ram) os fármacos por preços supostamente também superiores ao
máximo permitido pelo órgão regulador;

VII - encaminhar os autos, após o trânsito em julgado, à Coordenadoria de


Monitoramento e Execuções – CMEX para os devidos fins.

Votaram, acompanhando o Relator, Conselheiro IVAN LELIS BONILHA


(vencedor), os Conselheiros JOSE DURVAL MATTOS DO AMARAL, IVENS
ZSCHOERPER LINHARES e AUGUSTINHO ZUCCHI. Votou, acompanhando a
divergência do Conselheiro FABIO DE SOUZA CAMARGO (vencido), pela
improcedência da Tomada de Contas Extraordinária, o Conselheiro MAURÍCIO
REQUIÃO DE MELLO E SILVA. Presente a Procuradora Geral do Ministério
Público junto ao Tribunal de Contas, VALERIA BORBA. Plenário Virtual, 8 de
fevereiro de 2024 – Sessão Ordinária Virtual nº 2. IVAN LELIS BONILHA
Conselheiro Relator FERNANDO AUGUSTO MELLO GUIMARÃES Presidente
__________________________ 1. Peça 3. 2. “Art. 22. Na interpretação de normas
sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do
gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos
dos administrados. § 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as
circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do
agente.” 3. Peça 13. 4. Peça 26. 5. Peça 27. 6. “Art. 34. É dispensável a licitação:
(...) IV - nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada
urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer
a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou
particulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da situação
emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser
concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contados da ocorrência
da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos;” 7.
Peças 5 e 6. 8. “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte: (...).” 9. “Art. 27. A administração pública direta, indireta e
fundacional, de qualquer dos Poderes do Estado e dos Municípios obedecerá aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade,
eficiência, motivação, economicidade e, também, ao seguinte: (...).” 10. “Art. 3o A
licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia,
a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita
conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da
vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são
correlatos.” 11. “Art. 5º. A realização de contratos e convênios, subordinados a esta
lei, está juridicamente condicionada: (...) II - aos princípios reguladores da
Administração Pública, tais como legalidade, finalidade, impessoalidade,
publicidade, moralidade, eficiência, celeridade, economicidade, razoabilidade,
proporcionalidade, devido processo legal e motivação dos atos;” 12. “Art. 25. É
inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial: (...) §
2o Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se comprovado
superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda
Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público responsável,
sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis.” 13. “Art. 33. É inexigível a
licitação, quando houver inviabilidade de competição, em especial: (...) § 2°. Na
hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se comprovado
superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda
Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público responsável,
sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis.” 14. “Define normas de regulação
para o setor farmacêutico, cria a Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos - CMED e altera a Lei no 6.360, de 23 de setembro de 1976, e dá
outras providências.” 15. “Art. 8o O descumprimento de atos emanados pela
CMED, no exercício de suas competências de regulação e monitoramento do
mercado de medicamentos, bem como o descumprimento de norma prevista nesta
Lei, sujeitam-se às sanções administrativas previstas no art. 56 da Lei no 8.078, de
1990.” 16. Peças 5-6. 17. Peça 7. 18. Acórdão nº 3952/20-STP. Representação da
Lei nº 8.666/1993 nº 479812/18.

Por maioria absoluta: Conselheiros Ivan Lelis Bonilha (voto vencedor),


Fernando Augusto Mello Guimarães e Fabio de Souza Camargo e Auditor
Sérgio Ricardo Valadares Fonseca; os Conselheiros José Durval Mattos do
Amaral – relator e Artagão de Mattos Leão votaram pela procedência parcial,
restituição de valores e determinações, sem aplicação de multas. 19. P. 6 da
peça 26. 20. P. 6 da peça 26. 21. P. 7-8 da peça 3. 22. “Art. 89. (...). § 1º Considera-
se lesão ao erário: I – a prática de ato que importe em despesa desnecessária ou
indevida, ou acima da devida, apurando-se esta mediante aferição do valor médio
de mercado, de bens e serviços, ou de média de consumo, bem como no caso de
dilapidação de receita ou patrimônio social, e ainda a perda de valor decorrente do
mau uso e conservação de bens públicos;” 23. “Art. 25. É inexigível a licitação
quando houver inviabilidade de competição, em especial: (...) § 2o Na hipótese
deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se comprovado
superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda
Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público responsável,
sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis.” 24. “Art. 89. Ficará sujeito à multa
proporcional ao dano, sem prejuízo da reparação deste, o ordenador da despesa ou
terceiro que com este concorrer, por ação ou omissão, dolosa ou culposa, que
resultar em lesão ao erário. (...) § 2º A multa será arbitrada em percentual variável
de 10% (dez por cento) a 30% (trinta por cento) do dano, não excluindo a aplicação
de multa administrativa prevista no artigo 87, desta lei, como também não exclui o
dever de restituição ou reparação do dano.” 25. “Art. 97. O Tribunal de Contas, no
julgamento dos atos e contratos administrativos em que for verificada a ocorrência
de fraude ou naqueles que resultarem em dano ao Erário, expedirá Declaração de
Inidoneidade dos responsáveis perante a administração direta e indireta do Estado
e dos Municípios. Parágrafo único. A Declaração de Inidoneidade inabilitará os
responsáveis para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança, bem
como para contratar com a administração pública, pelo prazo de até 5 (cinco) anos.”
26. “Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio
de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou
do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para
que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos
aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.” 27. P. 15-16 da peça 10. 28. “Art.
16. As contas serão julgadas: (...) III – irregulares, quando comprovada qualquer
das seguintes ocorrências: (...) b) infração à norma legal ou regulamentar; (...) f)
dano ao erário.” 29. “Art. 85. O Tribunal de Contas, em todo e qualquer processo
administrativo de sua competência em que constatar irregularidades poderá,
observado o devido processo legal, aplicar as seguintes sanções e medidas: (...) IV
– restituição de valores;” 30. “Art. 85. O Tribunal de Contas, em todo e qualquer
processo administrativo de sua competência em que constatar irregularidades
poderá, observado o devido processo legal, aplicar as seguintes sanções e
medidas: (...) III – multa proporcional ao dano e sem prejuízo do ressarcimento; (...)
Art. 89. Ficará sujeito à multa proporcional ao dano, sem prejuízo da reparação
deste, o ordenador da despesa ou terceiro que com este concorrer, por ação ou
omissão, dolosa ou culposa, que resultar em lesão ao erário. (...) § 2º A multa será
arbitrada em percentual variável de 10% (dez por cento) a 30% (trinta por cento) do
dano, não excluindo a aplicação de multa administrativa prevista no artigo 87, desta
lei, como também não exclui o dever de restituição ou reparação do dano.” 31. “Art.
97. O Tribunal de Contas, no julgamento dos atos e contratos administrativos em
que for verificada a ocorrência de fraude ou naqueles que resultarem em dano ao
Erário, expedirá Declaração de Inidoneidade dos responsáveis perante a
administração direta e indireta do Estado e dos Municípios. Parágrafo único. A
Declaração de Inidoneidade inabilitará os responsáveis para o exercício de cargo
em comissão ou função de confiança, bem como para contratar com a
administração pública, pelo prazo de até 5 (cinco) anos.” 32. Regimento Interno:
“Art. 175-L. Compete à Coordenadoria de Monitoramento e Execuções: I – manter o
registro atualizado, o controle e o acompanhamento individualizado das sanções,
de que trata o art. 85, da Lei Complementar nº 113/2005, bem como os
apontamentos, as ressalvas, determinações, recomendações e todas as
comunicações relativas às decisões exaradas, executando as respectivas
deliberações;”

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