A Cidade Nos Albuns Fotograficos

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XXX Colóquio CBHA 2010

Anais do XXX
Colóquio do
Comitê Brasileiro
de História
da Arte

Arte > Obra > Fluxos

Local: Museu Nacional de Belas Artes,


Rio de Janeiro,
Museu Imperial, Petrópolis, RJ
Data: 19 a 23 de outubro de 2010

Organização:
Roberto Conduru
Vera Beatriz Siqueira

1
XXX Colóquio CBHA 2010

Comitê Brasileiro de História da Arte


Diretoria
Presidente: Maria de Fátima Morethy Couto
Vice-presidente: Ana Maria Tavares Cavalcanti
Secretária: Elisa de Souza Martinez
Tesoureira: Marize Malta

Conselho Deliberativo
Almerinda Lopes
Luiz Alberto Freire
Maria Lucia Bastos Kern
Roberto Conduru
Sonia Gomes Pereira
Tadeu Chiarelli

XXX Colóquio do CBHA


Comitê de Organização
Roberto Conduru (Presidente – UERJ/CBHA)
Ana Cavalcanti (UFRJ/CBHA)
Arthur Valle (UFRRJ/CBHA)
Camila Dazzi (CEFET)
Maria Inês Turazzi (IBRAM/CBHA)
Maria Luisa Távora (UFRJ/CBHA)
Marize Malta (UFRJ/CBHA)
Sonia Gomes Pereira (UFRJ/CBHA)
Vera Beatriz Siqueira (UERJ/CBHA)

Comitê Científico
Luiz Alberto Freire (Presidente – UFBA /CBHA)
Alexandre Santos (UFRGS/CBHA)
Claudia Valladão de Mattos (Unicamp/CBHA)
Elisa de Souza Martinez (UnB/CBHA)
Vera Beatriz Siqueira (UERJ/CBHA)

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X X X Colóquio CBHA 2010

A cidade nos álbuns fotográficos


Zita Rosane Possamai
UFRGS

Resumo
Investigo os álbuns fotográicos de vistas urbanas produzidos em
Porto Alegre, entre o inal do século XIX e primeiras décadas do
século XX. Pude observar características distintivas entre as criações
autorais, realizadas por artistas fotógrafos, e aquelas produzidas por
editores, que passaram a assumir a responsabilidade pela seleção de
imagens, pela concepção inal e comercialização ou distribuição da
publicação. Ainda investigo as representações visuais da cidade pre-
sentes nos álbuns e a relação dos fotógrafos com o campo artístico
no contexto estudado.

Palavra Chave
Fotograia, cidade, álbum fotográico

Abstract
I investigate the photograph albums of urban views produced in
Porto Alegre between the end of the nineteenth century and the
irst decades of the twentieth century. I could observe distinctive
characteristics among the works of the photographer authors and
the ones made by editors which were responsible for the selection
of the images, for the inal conception and the trade or distribution
of the publication. I am still investigating the visual representations
of the city which appear in the albums and the relationship the
photographers have with the artistic ield in the studied context.

Keywords
Photography, City, Photograph Album.

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As vistas urbanas ganharam o formato de álbuns, sendo sua produção e difusão


responsável pela intensiicação da circulação das imagens das cidades no inal dos
novecentos. Concebidos por diversas razões, os álbuns de vistas são elementos
interessantes para a investigação histórica e lançam indagações que contribuem
para a história do urbano e para a história visual1, que tem a fotograia como um
objeto de investigação. O álbum é por um lado, artefato, inserindo-se no circuito
social de produção e circulação das fotograias2 . Por outro lado, reúne um deter-
minado número de imagens, permitindo uma leitura visual de conjunto.
Em Porto Alegre, cidade localizada na parte mais meridional do Brasil,
os álbuns tiveram sua produção a partir do inal do século XIX. Os Irmãos Fer-
rari, fotógrafos italianos radicados na cidade, foram os primeiros a produzirem
vistas urbanas sob encomenda e mediante assinatura mensal. Ao inalizar a pro-
dução do conjunto, uma caixa acondicionava essas fotograias. Foram várias as
edições de vistas sob esse formato, demonstrando que o consumo da fotograia e
das vistas urbanas era hábito entre os porto-alegrenses, ao menos entre um seleto
grupo de compradores.
Os primeiros álbuns fotográicos de vistas urbanas produzidos pelo es-
túdio fotográico dos Ferrari foram seguidos nas décadas seguintes por aqueles
de impressão tipográica. O fotógrafo Virgílio Calegari, contemporâneo dos Fer-
rari e também italiano, teria sido o pioneiro em produzir um álbum com vistas
urbanas através de impressão e não de reprodução fotográica, como era tradi-
cionalmente feito pelos Irmãos. Para realizar tal intento, o autor recorreu a um
grande centro gráico europeu, Milão, provavelmente para garantir a qualidade
requerida pelo artista e diminuir os custos de produção.
A consideração de Jacinto Ferrari e Virgilio Ferrari pelos jornais e re-
vistas ilustradas corrobora a idéia de inserção dos fotógrafos no campo artístico,
distinguindo sua produção daquelas criadas por qualquer pessoa através das câ-
meras portáteis, amplamente difundidas pela publicidade entre o inal do século
XIX e início do século XX.
Assim, os álbuns de vistas de Ferrari e Calegari podem ser inseridos
na produção artística do período, assim atestada por diferentes expedientes de
consagração artística, entre os quais se encontravam as exposições. Athos Da-
masceno3 mostra que desde a primeira mostra coletiva de artes plásticas, realiza-
da no Rio Grande do Sul em 1875, a fotograia esteve presente. Nas exposições
subseqüentes, os mais importantes fotógrafos do estado izeram-se representar,
sendo em várias delas premiados.
A associação dos fotógrafos aos artistas, por outro lado, airmava o es-
túdio fotográico como lócus do fazer artístico. Luiz Terragno era associado do

1 MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Rumo a uma história visual. In: MARTINS, José de Souza.
ECKERT, Cornelia. NOVAES, Sylvia (Org.). O imaginário e o poético nas ciências sociais. Bauru, SP:
EDUSC, 2005. p. 33-56.
2 FABRIS, Annateresa. A invenção da fotografia: repercussões sociais. In: ________. Fotografia: usos e
funções no século XIX. São Paulo: Edusp, 1991. P. 11-37; LIMA, Solange Ferraz de. O circuito social
da fotografia: estudo de caso II. In: FABRIS, Annateresa (Org.). Fotografia: usos e funções no séc. XIX.
São Paulo: EDUSP, 1991. P. 59-82.
3 DAMASCENO, Athos. Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900): contribuição para o estudo do
processo cultural sul-riograndense. Porto Alegre: Globo, 1971.

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desenhista e pintor Bernardo Casseli; Virgilio Calegari teve ao seu lado por mui-
tos anos o professor e artista Vicenzo Cervásio; os Ferrari atuaram ao lado de
Boscagli, Carlos Fontana, Frederico Trebbi e Ricardo Albertazzi; este último
artista também atuou com o fotógrafo espanhol Francisco Iglesias. Dessa forma,
o estúdio fotográico pode ser considerado como lugar de produção artística e de
exposição de arte, conforme atestam os convites publicados nos jornais para as
mostras ali realizadas. No entanto, o acesso especialmente ao retrato fotográico
produzido em estúdio era, certamente, restrito a determinado segmento da so-
ciedade. Quase sempre os retratos4 à mostra nos estúdios ou nas vitrines das lojas
da Rua da Praia referem-se a personagens políticos, pessoas públicas ou damas
da sociedade.
Na direção contrária, a produção de vistas urbanas e sua comerciali-
zação podem ser pensadas como estratégia de disseminação das imagens foto-
gráicas entre uma parcela maior de porto-alegrenses. Os álbuns, dessa forma,
permitiriam a maior circulação das imagens e a viabilidade econômica de um
ofício que tentava diferenciar-se, a partir da disseminação das câmeras portáteis
e do acesso a um maior número de pessoas à criação de imagens fotográicas.
A forma de divulgação das vistas dos Ferrari – comercializadas por en-
comenda – permite perceber a aura envolvida na criação da imagem fotográi-
ca, nos mesmos moldes da obra de arte. Era produzida e colocada à disposição
dos assinantes apenas uma imagem por mês, sendo esta exposta nas vitrines das
principais lojas do centro da cidade. Os jornais tratavam de potencializar a di-
vulgação de uma única imagem fotográica por vários dias durante o mês, até ser
produzida a imagem seguinte. Finalmente, ao inal da coleção, eram colocadas à
disposição dos assinantes as caixas do “álbum-pasta”.
Essa característica altera-se consideravelmente com os álbuns editados
na cidade nos anos 1920 e 19305. Essas primeiras vistas e álbuns de Porto Alegre
eram elaborados pelos próprios proissionais fotógrafos, ao passo que os álbuns
produzidos nas décadas seguintes eram impressos tipograicamente e editados
por um órgão oicial do governo ou por um editor privado. Ao contrário dos
álbuns de estúdios que privilegiavam, única e exclusivamente, as vistas urbanas -
em alguns casos associadas apenas às legendas - os álbuns impressos continham
textos, geralmente dispostos no início e no inal da edição, que forneciam infor-
mações sobre a cidade em seus variados aspectos. As imagens fotográicas eram
impressas em frente e verso da folha, sendo que uma única página poderia conter
várias imagens. As imagens eram em tamanho menor e a qualidade do papel
também era inferior, diminuindo, conseqüentemente, ainda mais o seu custo,
o que leva a pensar que estes tenham tido uma maior circulação em relação aos

4 Sobre os retratos fotográficos produzidos em Porto Alegre, ver SANTOS, Alexandre Ricardo dos. A
fotografia e as representações do corpo contido (Porto alegre 1890-1920). Porto Alegre: UFRGS, 1997.
Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) - Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Instituto de
Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1997, 2.v. Il e SANTOS, Alexandre Ricardo dos. O
gabinete do Dr. Calegari: considerações sobre um bem-sucedido fabricante de imagens. In: ACHUTTI,
Eduardo Robinson. (Org.). Ensaios (sobre o) fotográfico. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1998. P. 23-35.
5 Para maiores informações, consultar POSSAMAI, Zita Rosane. Cidade fotografada: memória e esqueci-
mento nos álbuns fotográficos – Porto Alegre, décadas de 1920 e 1930. 2 v. Tese (Doutorado em Histó-
ria) - Programa de Pós-Graduação em História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.

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primeiros álbuns de vistas urbanas, acessíveis a poucos. A profusão de imagens,


apresentadas em variados tamanhos e associados a textos marca os álbuns edi-
toriais.
O álbum fotográico poderia ser produzido com inalidade de divul-
gação dos feitos realizados pelos governantes, como é a característica de Obras
Públicas, editado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul em 1922. Nele
estão reunidas imagens localizadas em Porto Alegre, tais como as obras de cons-
trução do Cais do Porto e de ediicações públicas, como escolas, prisões, hospi-
tais, quartéis.
Diferentemente, os álbuns Porto Alegre Álbum, editado em 1931, e Re-
cordações de Porto Alegre, editado em 1935, foram produzidos por editor privado.
O primeiro foi editado pelo escritor Pedro Carvalho nas Oicinas Graphicas do
jornal A Noite, em sistema de rotogravura; o segundo teve edição realizada e
comercializada pela Livraria do Globo, importante casa editorial do sul do país,
no contexto estudado.
Eram oferecidos em Porto Alegre os serviços de tipograia, fotogravura
e rotogravura, conforme atestam os anúncios publicitários publicados nos jornais
de circulação no período. As diversas revistas ilustradas que circularam na cidade
desde o início do século XX demonstram a capacidade técnica de impressão das
imagens fotográicas. Os sistemas mecânicos de fotogravura e rotogravura per-
mitiam a impressão de ilustrações e imagens e foram largamente utilizadas no
início do século xx para edição das revistas ilustradas, álbuns e jornais.
A fotogravura surgiu juntamente com a fotograia, tendo como base a
gravura em metal e a xilogravura, processos artísticos existentes. Trata-se de um
processo de gravação fotoquímica em relevo realizada sobre metal, em geral zin-
co ou cobre, para impressão tipográica. A rotogravura ou heliogravura consiste
na gravação da imagem em cilindro de cobre para impressão rotativa. Os dois
processos foram utilizados no Brasil para indicar os procedimentos de gravura
química através da luz para impressão tipográica ou calcográica. Como esses
processos tecnológicos eram novidade na cidade, os editores dos álbuns faziam
questão de ressaltá-los na elaboração de suas publicações. Dessa forma, demons-
travam a qualidade técnica da impressão das imagens fotográicas.
Embora esses serviços estivessem disponíveis, era vantajoso realizar as
impressões na Europa. Mesmo no centro do Brasil, assim procedia um dos maio-
res editores de livros do país do país no início do século XX, Francisco Alves. Isso
explica a iniciativa do fotógrafo Virgilio Calegari de buscar um centro europeu
para imprimir seu álbum de vistas. Essa situação altera-se, no entanto, com a
Primeira Guerra Mundial, levando ao encarecimento da produção impressa.

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Os álbuns editados a partir dos anos 1920 são impressos no Brasil. Porto
Alegre Álbum é impresso na década de 1930, nas oicinas do jornal carioca A Noi-
te. Na Livraria do Globo, onde foi editado Recordações de Porto Alegre e impresso
o álbum da Diretoria de Obras. A casa oferecia os serviços de fotogravura e o
manejo técnico da impressão de imagens, motivo pelo qual era procurada para a
realização desse tipo de trabalho.
A edição de Recordações de Porto Alegre é uma edição realizada e co-
mercializada pela Livraria do Globo, editora que se tornara a mais importante
do Brasil fora do eixo Rio-São Paulo nos anos 1930 e 1940, editando autores
nacionais e também traduzindo clássicos da literatura universal. Um dos carros-
-chefes da editora era a Revista do Globo, editada pelo jovem Érico Veríssimo
que apresentava abundantes fotorreportagens sobre o cotidiano da cidade, além
de matérias sobre outras regiões brasileiras e do exterior.
Enquanto as imagens fotográicas dos Ferrari e de Calegari eram co-
mercializadas como obras autorais desses artistas, os álbuns editoriais continham
imagens produzidas por diferentes fotógrafos. Além disso, a autoria perde-se no
conjunto de imagens, pois estas não são informadas pelo editor. Apenas às ima-
gens assinadas é possível atribuir autoria. Essa característica mostra a diluição da
relevância da autoria do fotógrafo no contexto de edição dos álbuns, onde o con-
junto da obra e a temática exaltada são preponderantes. Os álbuns, dessa forma,
passam a obedecer aos ditames da produção e consumo de livros.
Ainda pode-se estabelecer um diálogo dos álbuns editoriais com as re-
vistas ilustradas em relação à qualidade estética das imagens fotográicas, embora
o viés da fotorreportagem e do instantâneo não sejam características dos álbuns
de vistas estudados. No caso de Recordações de Porto Alegre é facilmente perceptí-
vel o acesso às imagens por parte de seus editores, uma vez que a editora produzia
também a Revista do Globo, podendo, dessa forma, dispor de uma quantidade
de imagens para seleção.
Dessa forma, as vistas urbanas presentes nos álbuns editoriais ganham
maior signiicado a partir das relações estabelecidas no interior do conjunto. Os
motivos fotografados e as opções técnicas e estéticas dos fotógrafos devem ser ob-
servados a partir de um conjunto criado com objetivos de elaboração de sentidos
pelo editor, seu produtor visual.
Destacam-se, como características de enquadramento em grande parte
das imagens reunidas nestes álbuns, as tomadas realizadas a partir do ponto de
vista central e tomadas com câmera alta, ideal para captar um maior número de
elementos do espaço urbano, como no caso de ruas, praças, largos ou conluência
de avenidas. Neste caso, o fotógrafo posiciona-se em torres de igrejas ou nas sa-
cadas e janelas de edifícios situados nas proximidades do motivo a ser registrado.
Algumas vistas aéreas permitem visualizar panoramas da cidade, privilegiando
especialmente a área central e a orla do lago Guaíba que margeia Porto Alegre.
Destacam-se algumas fotograias noturnas, que procuram ressaltar com atenção
os aspectos modernizantes trazidos ao espaço urbano pela iluminação elétrica.

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No álbum editado pelo Governo do Estado e Porto Alegre Álbum a tôni-


ca gira em torno de imagens em formato horizontal, com destaque, neste último,
para as ediicações apresentadas verticalmente, principalmente aquelas de altura
mais elevada. Já em Recordações de Porto Alegre a presença de ediicações de vários
pavimentos é uma marca da publicação, multiplicando-se, desta forma, o forma-
to vertical das mesmas, por este permitir tecnicamente a visualização integral da
construção. Os altos edifícios, considerados pelos idealizadores da publicação
como “magníicos arranha-céus e prédios suntuosos”, são fotografados em toma-
das diagonais - feitas em geral nas esquinas, quando a localização do mesmo o
permite - que valorizam a volumetria arquitetônica dos mesmos.
Nessas imagens, elementos móveis, como transeuntes e automóveis, são
incluídos na cena fotografada de modo a conferir maior dinamismo à imagem,
contribuindo para a construção de sentidos ligados ao objetivo de apresentar uma
cidade de feições modernizantes. Assim, as tomadas são orientadas de acordo
com o propósito não apenas de atestar a presença desses elementos concebidos
como paradigmáticos da urbe moderna - como os altos edifícios, a iluminação
elétrica, o serviço de bondes - mas também de maximizar sua valorização na
perspectiva de construção de um ideário do moderno.
Esse imaginário, além de nortear a concepção e elaboração das imagens
por seus criadores, está explícito na reunião dessas imagens em um álbum. As-
sim, o objetivo de divulgar a cidade de Porto Alegre está presente no texto de
apresentação dos editores das duas publicações de caráter privado analisadas,
aspecto que as diferencia em relação à publicação oicial. Este último não con-
tém textos, apenas títulos dispostos na parte superior das imagens e legendas
colocadas na parte inferior, mostrando ser um formato mais próximo aos álbuns
editados pelos estúdios fotográicos no século XIX. Nos textos são enfatizados
os melhoramentos pelos quais está passando a cidade nos últimos dez anos, enu-
merando as benfeitorias realizadas, aspectos que poderiam ser visualizados nas
imagens fotográicas que valorizam as características concernentes ao ideário de
uma cidade moderna, higiênica e bela.
É possível encontrar nesses álbuns vestígios sobre o público consumidor
almejado pelos editores. De acordo com os textos neles presentes, os álbuns têm
como alvo preferencial o público brasileiro e estrangeiro, vindo a se constituir,
inclusive, em um convite à visitação, no caso de Porto Alegre Álbum, ou em uma
lembrança de viagem, no caso de Recordações de Porto Alegre. Neste último, a
edição visa especialmente os forasteiros que por ventura visitassem a cidade por
ocasião dos festejos relacionados à Comemoração do Centenário da Epopéia Far-
roupilha, em 1935. Várias imagens da Grande Exposição organizada no Parque
da Redenção contidas no álbum mostram que a publicação do mesmo ocorreu
durante o próprio evento, provavelmente tendo sido comercializado no mesmo
local.
Editado com a inalidade especial de divulgar a cidade aos visitantes da
mostra em comemoração ao Centenário da Revolução Farroupilha, aberta em 20
de setembro de 1935, o álbum conigurou-se, tal como a própria exposição, como
veículo a contribuir na construção de uma visualidade da modernidade urbana
através das imagens fotográicas. O sucesso da mostra foi tão expressivo - inclu-

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sive pelo número signiicativo de visitantes - que é plausível supor o sucesso al-
cançado na comercialização de Recordações de Porto Alegre por seus idealizadores.
O álbum fotográico, nesse contexto, colocou-se como artefato perene
a ser levado pelos visitantes da mostra e da cidade; como objeto de recordação,
conforme seu próprio título sugere. Finda a mostra e inda a visita, permanece-
ria a imagem de uma cidade bela, higienizada e moderna. A mostra, e o álbum
constituíram-se como balizadores de um momento deinido a ser eternizado
como memória. Foram transformadas em peças comemorativas não apenas do
episódio histórico ao qual se refere o título da grande exposição, mas também do
progresso e da modernidade urbana alcançados pelo estado do Rio Grande do
Sul nas primeiras três décadas do século XX.

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