Acordao Area Rural

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APELAÇÃO CÍVEL Nº 1645-40.2014.8.16.

0134, DA VARA CÍVEL


DA COMARCA DE PINHÃO.
APELANTES: BENEFICIAMENTO SANTO ANDRÉ LTDA
APELADOS: IVAIR CARODOSO E OUTROS
RELATOR: DES. LAURI CAETANO DA SILVA

CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE C/C


INDENIZATÓRIA. ÁREA RURAL. MUNICÍPIO DE PINHÃO. DEFESA.
EXCEÇÃO DE USUCAPIÃO. PEDIDOS JULGADOS IMPROCEDENTES.
EXCEÇÃO DE USUCAPIÃO ACOLHIDA. RECURSO DA AUTORA. DUAS
VERSÕES ACERCA DOS FATOS, EM ESPECIAL DO TERMO INICIAL DA
POSSE DOS RÉUS. CONJUNTO PROBATÓRIO AMBÍGUO E
INSUFICIENTE PARA AUTORIZAR A TUTELA POSSESSÓRIA
RECLAMADA. VERSÃO MAIS COERENTE E VEROSSÍMEL, BASEADA EM
RELATOS TESTEMUNHAIS E DOCUMENTO EXPEDIDO PELO INCRA.
QUESTÃO RURAL. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. AUTORA QUE
NÃO LOGRA ÊXITO EM DEMONSTRAR ATOS EFETIVOS DE POSSE,
TAMPOUCO PRODUZ PROVAS APTAS A ESPECIFICAR O ATO DE
ESBULHO DE CADA UM DOS RÉUS. IMÓVEL COM ÁREA SUPERIOR A
13KM². SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
1. Na ação de reintegração de posse, é imprescindível a
configuração de todos os requisitos legais, quais sejam: a
posse anterior do imóvel, a perda da posse e a prática do
esbulho nos termos do art. 561, do CPC/2015. Comprovados os
referidos requisitos, a concessão da proteção possessória é
medida que se impõe.
2. Quando subsistem duas versões conflitantes a respeito da
natureza da posse, devemos privilegiar aquela exercida para
moradia por mais de 10 anos e sem qualquer oposição.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação


Cível nº 1645-40.2014.8.16.0134, da Vara Cível da Comarca de Pinhão,
em que é apelante Beneficiamento Santo André Ltda e são apelados
Ivair Cardoso e outros.

ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de
votos, em negar provimento ao recurso.
Apelação Cível nº 1645-40.2014.8.16.0134 2

I- RELATÓRIO

1. A sociedade empresária Beneficiamento Santo André


Ltda ajuizou “ação de reintegração de posse c/c pedido de tutela
antecipada” em face de Odacir “de tal”, Ivair Cardoso, Franciele dos
Reis Urbaneck, Lauro Urbaneck, José Ferreira dos Santos e “outros
invasores a serem identificados pelo Oficial de Justiça” aduzindo
que a) é proprietária e possuidora do imóvel denominado Pinhão Faxinal dos
Ribeiros ou Vale do Rio da Areia, com área de 1.300 hectares, 80 ares e 75
centiares, descrito na Matrícula nº 1.472 do Registro de Imóveis de Pinhão;
b) sempre zelou pelo imóvel, extraindo erva-mate de forma sustentável e
realizando regular vigilância; c) a área era cercada e possuía um portão de
acesso, que posteriormente foi furtado; d) em 21.08.2012 o imóvel foi
invadido por diversas pessoas, que destruíram benfeitorias e edificaram
casas e cercas no local. Diante desses fatos, requereu a concessão de
liminar autorizando a imediata reintegração de posse do imóvel. A
procedência do pedido com a confirmação da liminar e a condenação
dos réus ao pagamento de indenização pelos danos que suportou e
autorizar o desfazimento das construções e plantações às custas dos
réus.

2. A liminar foi indeferida (mov.43.1). A decisão foi


mantida em sede de Agravo de Instrumento nº 1.377.012-6/01
(mov.162.2).

3. Comparecendo ao imóvel objeto do litígio, o Sr.


Oficial de Justiça promoveu a citação de 1) Ivair Cardoso e sua esposa
Roseli Aparecida Alves Dos Santos Cardoso; 2) Nelson Storl e sua esposa
Antônia Gonçalves; 3) Walter Storl e sua esposa Maria Storl; 4) Geraldo
Storl e sua esposa Gisele Aparecida Vaz Storl; 5) Alex Suereda dos Santos
Procz e sua esposa Andreza De Fátima Camargo; 6) Adacir Cordeiro e sua
esposa Solange Aparecida Batista; 7) Lauro Urbaneck e sua esposa Lindacir
Dos Reis Urbaneck; 8) Franciele dos Reis Urbaneck e seu esposo António
Camargo Dos Santos; 9) José Lima Dos Santos e sua esposa Katiele Dos Santos
Cardoso; 10) José Verbaneck; 11) Sebastião Verbaneck e sua Esposa Angelina
Alves; 12) Sebastião Eraldo Machado; 13) Soeli De Fátima Santos Chagas; 14)
Reginaldo Santos Das Chagas e sua esposa Vanessa Maria Prudente; 15) José
Moacir de Macedo e sua esposa Eva Pereira De Macedo; 16) Valdemar Cardoso
Fonseca e sua esposa Sebastiana Lachowski; 17) João Maria Lachowski e sua
esposa Sebastiana Lachowski; 18) Jair Nazaro Araújo e sua esposa Valdenice
França Dos Reis Araújo; 19) Valdevino Dos Reis e sua esposa Marta Dos Santos
Freitas; 20) Domingos Lourival De Lima; e 21) Moisés Marcos Zembrane e sua
esposa Vanice Dos Reis.
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4. Os réus (1) Maria Chaves e seu esposo Pedro Chaves,


(2) Maria Joana Santos e seu esposo Evandro de Moraes Pereira, (3)
Antônio Valdecir de Lima, (4) Marta dos Santos Freitas e seu esposo
Valdevino dos Reis, (5) José Airton Lima, (6) João Maria Lachovski,
(7) Suely de Fátima Santos das Chagas, (8) Roseli Aparecida Alves
dos Santos Cardoso e seu esposo Ivair Cardoso, (9) Andreza de Fátima
Camargo e (10) Moisés Marcos Zembranio e sua esposa Vanice dos Reis
apresentaram defesa em sede de contestação (mov.68.1), apontando
preliminarmente a ilegitimidade passiva - vez que não foram devidamente
nominados na inicial -, a inépcia da inicial e a nulidade da citação.
No mérito, afirmaram que fazem jus à aquisição do domínio pela
usucapião.

5. O INCRA informou que “haverá um grupo de cerca de


duas dezenas de famílias que teria a posse da área há anos, as quais
cultivariam espaços consolidados. Um outro grupo, porém, teria
entrado somente em 2012 no imóvel, quando teria iniciado
desmatamentos e implantando lavouras nas áreas desmatadas”
(mov.39.1).

A Prefeitura Municipal de Pinhão informou que foi


chamada para executar serviços de manutenção e conservação de
estradas em uma comunidade situada no Faxinal dos Ribeiros. No
entanto não tinha conhecimento de que se tratava de área particular
invadida. Após tomar ciência da situação, cessou as atividades no
local (mov.41.1).

O magistrado singular saneou o processo, afastando a


preliminares suscitadas pelos réus, fixou os pontos controvertidos e
deferiu a produção de prova (mov.88.1).

6. Na audiência de instrução e julgamento (mov.113.1)


foi tomado o depoimento dos réus Ivair Cardoso e João Maria
Lachovski. Também foram ouvidas quatro testemunhas, três arroladas
pela autora (Aroldo, Wilson e Arcedino), uma pela parte ré (Mariano) e
dois informantes arrolados pela defesa (Antônio e Laurinda).

7. O Juiz a quo proferiu sentença (mov.128.1) pela qual


julgou improcedentes os pedidos deduzidos na inicial. Consignou o
magistrado de primeira instância que foram produzidas provas no
sentido de demonstrar que os réus exercem posse mansa, pacífica,
ininterrupta e com ânimo de dono sobre o imóvel há mais de dez anos,
realizando obras de caráter produtivo, fazendo, assim, jus à
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aquisição originária do domínio. Finalmente, condenou a autora ao


pagamento das custas processuais e honorários de sucumbência fixados
em R$3.000,00, com fundamento no artigo 20, §3º e §4º do Código de
Processo Civil de 1973.

A autora Beneficiamento Santo André Ltda opôs embargos


de declaração (mov.133.1), requerendo a procedência dos pedidos
formulados na petição inicial. Os embargos foram rejeitados
(mov.140.1).

8. Inconformada, a autora Beneficiamento Santo André


Ltda interpôs recurso de apelação (mov.145.1), apontando,
preliminarmente, a nulidade da sentença (ausência de fundamentação) na
medida em que não houve qualquer pronunciamento acerca da posse dos
réus Valdevino dos Reis e Marta dos Santos Freitas, João Maria
Lachovski, Vanice dos Reis e Moisés Zembrani.

Contrarrazões não apresentadas.

É o relatório.

II- VOTO

Presentes os pressupostos recursais de


admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos, conheço do recurso.

9. No primeiro plano, vale lembrar que o possuidor tem


direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado na
posse em caso de esbulho (CPC, art. 560), havendo para tanto que
demonstrar a presença dos requisitos elencados no artigo 561 do
Código de Processo Civil, quais sejam: I – sua posse; II – a ocorrência
da turbação ou do esbulho praticado pelo réu; III – a data da turbação ou
esbulho; IV – a continuação da posse, embora turbada, ou a perda da posse na
ação de reintegração.

Ora, bem se sabe que o conceito jurídico de “posse”


não parte da ideia do necessário “contato físico” com a coisa. “Posse,
na teoria objetiva por nós adotada, é unicamente a exteriorização da propriedade, vale dizer, da
condição de utilização econômica do domínio”,1 prevendo a lei que “considera-se possuidor

--
1 ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. Rio de Janeiro: Impetus, 2004, p. 236.
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todo aquele, que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes, inerentes à
propriedade”2.

Assim, a ação de reintegração de posse requer, para


sua procedência, que o autor esteja no exercício do poder fático
sobre a coisa quando ocorrer o apontado esbulho. Aliás, conforme a
lição de Antônio Carlos Marcato3, “a proteção possessória visa única e
exclusivamente à posse, descabendo discutir-se, portanto, no âmbito do processo possessório,
questões a ela estranhas, como são aquelas ligadas ao domínio”.

João Batista Monteiro4, tratando do tema, leciona:

“Todo aquele que for titular de um direito real, seja de propriedade, enfiteuse, usufruto, uso
ou habitação, servidão, superfície ou outro, tem o direito de lançar mão da ação de
reintegração de posse, desde que seja vítima de um esbulho. É necessário que esteja, no
entanto, na posse efetiva da coisa, no momento do esbulho, exercendo-a nos termos
do direito que é titular. A ação lhe é conferida para a defesa de sua posse, e não para
a defesa do direito em si. Se tem o direito, mas não tem a posse correspondente, não
poderá valer-se da ação de reintegração de posse, nem das demais ações
possessórias, mas sim da ação petitória. O título que o possuidor causal possui não
é imprescindível ao ajuizamento da ação; serve, em matéria possessória, apenas ad
colorandam possessionem, isto é, para reforçar a prova da posse e seus elementos
ou requisitos. Isoladamente, sem a posse efetiva, não serve de fundamento às ações
possessórias.”

10. No caso concreto, cada uma das partes


apresentou uma versão para justificar seu direito de posse sobre o
imóvel. De um lado, a autora Beneficiamento Santo André Ltda afirma
exercer posse sobre o terreno desde sua aquisição, nos anos 80. A
posse se daria mediante vigilância, extração de madeira e erva-mate.

Por outro lado, os réus afirmaram exercer posse sobre


porções do imóvel por tempo suficiente à aquisição originária do
domínio, de modo que não há mais que se falar em esbulho. Afirmaram
que a área ocupada por cada um deles está devidamente delimitada.

O conjunto probatório, quanto ao termo inicial da


posse dos autores, é conflitante. Os depoimentos colhidos na
audiência de instrução aparentemente dão suporte as duas versões
apresentadas.

--
2 Artigo 1.196 do Código Civil.

--
3 in Procedimentos Especiais, 12ª ed., Atlas, p. 155.

--
4 Ação de Reintegração de Posse, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1987, p. 142.
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O réu Ivair Cardoso afirmou que: comprou a propriedade


havia dez anos, residindo no local há cinco (min.0:32); comprou o
imóvel de Dorvalina, que residia no local (min.0:43); sempre existiu
posseiros na área, que é aberta, inexistindo cercas (min.1:30); os
posseiros cercaram e delimitaram suas respectivas áreas (min.1:40);
planta e cria animais e peixes no local (min.2:40); quando adquiriu,
havia uma casa edificada no local, além de árvores de
reflorestamento, criação de animais e roça (min.3:00); Dorvalina
residia no local com seu marido (min.3:20); havia estrada de acesso
para o imóvel (min.3:30); sua área totaliza 20 alqueires (min.4:15);
não sabia que a área era de propriedade da Beneficiamento Santo
André (min.4:55); reside no local (min.5:05); as demais pessoas que lá
estão também são posseiros (min.6:00).

Por sua vez, o réu João Maria Lichovski afirmou que:


entrou na propriedade no ano de 2000 (min.0:13); trabalhava para a
Santo André, entrando no imóvel com autorização da empresa, para ali
residir (min.0:30); deixou de trabalhar na Beneficiamento Santo André
em 2010 (min.1:15); não houve qualquer pedido para desocupação
(min.1:30); reside no local até hoje (min.2:10).

A testemunha Arcedino Ribeiro, arrolada pela autora,


atestou que trabalhou na área objeto do litígio por cerca de seis
anos, entre 1991 e 1996 (min.0:40); fazia roçagem e arrendava área de
capoeira mediante contratos escritos (min.1:10); na época não havia
invasores (min.1:55); havia apenas mais um funcionário responsável
pela manutenção de todo o imóvel (min.2:10); nunca mais foi ao local
(min.2:10); conheceu Pedro Chaves, que morava no local (min.4:15).

A testemunha Wilson, arrolada pela autora, informou


que era funcionário das empresas Zattar e conhece o imóvel
(min.0:30); houve um litígio entre as empresas Zattar e a Santo André
envolvendo a área, sendo posteriormente firmado acordo (min.0:47); a
área era explorada mediante reflorestamento, cultivo de erva-mate e
algumas pessoas faziam roça (min.1:25); foi realizado plano de manejo
em 2001, 2002 (min.1:35); conheceu algumas pessoas que faziam roça no
local, como Balduíno (min.1:57); os arrendamentos eram feitos
mediante contratos escritos (min.2:17); haviam carreadores e algumas
casas no local, pertencentes ao pessoal que faziam roça e aos
funcionários da empresa (min.2:55); não se lembra de existirem outras
casas antes da invasão em 2012 (min.3:30); não existe cerca no local
(min.4:37); os funcionários que residiam no local eram Arcendino
Ribeiro, Silvino e outros (min.6:50); pelo que se lembra os posseiros
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que lá residiam eram Abel, Balduíno e o filho dele, sendo que todos
possuíam contrato (min.7:23); a erva mate era retirada somente da
área de mata nativa, não havendo trabalhos nas áreas de capoeira
(min.8:50); cerca de 40% do imóvel era capoeira, localizada sobretudo
nos cantos e nos fundos, sendo a frente do imóvel composta por mata
nativa (min.9:10).

A testemunha Aroldo, arrolada também pela parte


autora, afirmou que trabalhou para as Indústrias Zattar (min.0:35); a
Santo André é proprietária da área desde 1980 (min.1:00); houve plano
de manejo para retirada de madeira e erva-mate (min.1:17); em 2012
foi detectada uma invasão no imóvel (min.1:57); conheceu a área antes
de 2012 e não havia construções ou estradas no local (min.2.50); ao
verificar a invasão, constatou também que as casas eram recentes
(min.3:40); conhece bem o imóvel e apenas funcionários da empresa
residiam no local (min.7:50); tem notícia de que funcionários da
empresa “venderam” a residência em que moravam (min.11:30); antes da
invasão, existiam dois posseiros que moravam dentro da área com
autorização da empresa, Ubaldino, conhecido por Balduíno, e Abel de
Lima, os dois já falecidos (min.13:50).

Por outro lado, a testemunha Mariano, arrolada pelos


réus, afirmou que mora próximo ao imóvel objeto do litígio
(min.0:20); nasceu na região, residindo ali havia 49 anos (min.1:05);
sempre houve posseiros no imóvel (min.1:25); existem cercas
delimitando a área pertencente a cada posseiro (min.2:33); não sabia
que a Santo André era proprietária do imóvel (min.2:50); já ouviu
falar do Sr., Pedro Chaves, mas não o conhece, pois reside mais
afastado, mas ouviu falar que ele reside no local há muitos anos
(min.3:15); Suely de Fátima Santos reside no imóvel desde 1992
(min.3:45); não conhece Andreza de Fátima Camargo (min.4:20); nunca
ouvir falar de investimentos da Santo André no local (min.5:50); a
maioria dos moradores possui energia elétrica (min.6:47); as redes
foram instaladas há cerca de oito, dez anos (min.7:00); há estradas
antigas dentro do imóvel (min.7:20); as casas construídas no imóvel
são antigas (min.9:20); não conhece Arcedino Ribeiro (min.10:40); as
casas foram construídas faz bastante tempo (min.12:00); não sabe se
os moradores pagam ITR (min.12:55).

A informante Laurinda, arrolada pela defesa, registrou


que é vizinha do imóvel em litígio e seu filho reside na área
(min.1:00); seu filho não é réu no processo (min.1:35); sempre existiu
posseiros no imóvel (min.1:50); residiu no imóvel pertencente à Santo
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André há 40 e poucos anos (min.2:00); jamais pagaram qualquer quantia


a título de arrendamento (min.2:07); conhece o Sr. Pedro Chaves, que
reside há mais de 15 anos no imóvel (min.2:55); Evandro de Moraes
reside no local há mais de dez anos (min.3:30); também conhece Suely
de Fátima Santos, que reside na área há cerca de trinta anos
(min.3:37); não conhece Andreza de Fátima Camargo (min.4:10); a
maioria dos moradores possui energia elétrica e há cerca de cinco
anos há transporte escolar servindo as propriedades existentes na
área (min.6:40); Não Conhece Arcedino, João Plachovski, Aroldo Rasera
e Wilson Parabox (min.7:00); a empresa jamais extraiu erva mate do
local, sendo tal atividade desempenhada somente pelos posseiros
(min.7:40); a empresa jamais plantou na região (min.8:13); não sabia
que o terreno pertencia à Santo André (min.9:15); as pessoas que
utilizavam a área não pagavam arrendamento (min.9:35); não conhece
toda a área, apenas os locais mais próximos de onde mora (min.10:20);
seu filho comprou um imóvel de 9 alqueires na região (min.11;00).

Por fim, o informante Antônio Silvério dos Santos,


arrolado pelos réus, esclareceu que mora dentro do imóvel, sendo
vizinho de Pedro Chaves (min.0:30); Pedro Chaves mora no imóvel há
cerca de trinta anos (min.1:00); chegou no imóvel há pouco tempo,
passando a residir na posse de seu falecido sogro Abel Silveira de
Lima (min.1:10); na região onde mora há outros posseiros, não sabendo
ao certo há quanto tempo ocupam o local (min.2:05); sabe que o imóvel
pertence à Santo André (min.2:35); jamais viu alguém da empresa
autora no local (min.2:50); os posseiros realizam o plantio de
feijão, milho, erva mate e possuem casa construída, algumas mais
novas, outras bastante antigas (min.3:07); perto de onde mora há
cerca de outras oito casas, existindo outras mais pra cima, mas que
não conhece bem (min.4:15); reside na região há cerca de dois anos
(min.4:53); seu sogro era posseiro (min.5:07); Abel adquiriu a posse
do sogro (min.5:55); pagam ITR (min.7:25); quando foi morar no imóvel,
seus vizinhos já residiam ali (min.8:10); não há novos moradores no
local (min.8:40).

10.1. Veja-se, portanto, que não é possível determinar


com segurança se a posse por parte dos réus teve início em 2012 ou
em período anterior. No entanto, o que se tem é que a autora
percebeu a invasão somente após a retirada de vegetação, construção
de casas, delimitação da área com cercas, abertura de estradas e
conexão das casas à rede elétrica, conforme fotografias acostadas
pela própria autora (mov.1.12). É certo que tais serviços não são
fornecidos de forma ágil, indicando que a ocupação se deu, ao menos,
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alguns meses antes da data indicada no Boletim de Ocorrência


(mov.1.10).

A demora da autora em perceber a invasão indica que a


área se encontrava em estado de abandono, não exercendo a
proprietária registral qualquer poder de fato sobre o imóvel. Nesse
ponto, cumpre observar que o único funcionário contratado pela
autora para vigilância da área e ouvido na audiência de instrução
(Arcedino) afirmou que realizou a segurança do local somente até o
ano de 1996, quando foi transferido para outra localidade. As demais
testemunhas (Aroldo e Wilson) eram, em realidade, funcionários das
Indústrias Zattar que, ao que parece, era proprietária de parte do
terreno, embora não haja registro na competente matrícula.

Desse modo, pela prova produzida, a autora sequer


realizava constante vigilância da área. De igual maneira, não
acostou documento indicando a retirada de madeira ou de erva-mate do
local. Os documentos acostados às alegações finais (mov.125.1), além
de terem sido trazidos aos autos de forma completamente
intempestiva, impedindo seu aproveitamento pela parte, e além de
extremamente antigos, apontam somente a autorização para o corte de
madeira nativa, e não a sua efetiva extração. Da mesma forma, os
contratos de arrendamentos acostados – igualmente de forma extemporânea
– apresentam diversas irregularidades, como ausência de assinaturas,
de data, além de terem sido celebrados com terceiros estranhos à
lide, que sequer se sabe se efetivamente estiveram no imóvel objeto
da demanda. Ainda, observa-se que, a exemplo dos planos de manejo,
os contratos são bastante antigos, além de não indicar a precisa
localização das glebas supostamente arrendadas5.

O abandono da área também pode ser observado no fato


de que, conforme depoimento prestado por Arcedino, haviam apenas
dois funcionários responsáveis pela vigilância de um imóvel com área
total superior a 13km², sendo que em sua quase totalidade não era
desenvolvida nenhuma atividade econômica ou mesmo de intuito social
ou de preservação ambiental. É de se observar também que as
testemunhas arroladas pela própria autora indicaram que a área não
era cercada, de forma que, sob todos os enfoques, a parte autora não
logrou êxito em demonstrar requisito básico à pretensão: a posse.

--
5 Cabe lembrar que o imóvel de propriedade da autora possui mais de 1.300 hectares, ou
seja, mais de 13km², de maneira que não é possível dizer, sem a correta indicação, se as
porções indicadas nos contratos de arrendamento são exatamente as mesmas hoje ocupadas
pelos réus
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De outra banda, verifica-se que os réus edificaram


casas e cercaram porções inseridas na área, estabelecendo ali
moradia, dando a devida destinação econômica e social ao imóvel,
apresentando indícios que a posse por eles exercida é de longa data,
conforme informado pelo INCRA (mov.57.1), pelos documentos acostados
à contestação (mov.68.1) e pelo depoimento da testemunha Mariano e
dos informantes Laurinda e Antônio.

Por fim, cabe observar que a parte autora em nenhum


momento conseguiu indicar a específica região ocupada pelos réus e
sequer requereram a produção de prova no sentido de delimitar o
esbulho de cada um dos réus, como inspeção judicial ou perícia,
possibilitando a análise da situação de cada um dos envolvidos no
litígio.

Ora, se os réus exercem posse sobre o imóvel, onde


edificaram suas moradias e residem com suas famílias, e se a parte
autora não demonstrou exercer efetiva posse na porção do imóvel em
que apontou o esbulho (região que sequer foi especificada), deve ser
mantida a sentença de improcedência, em razão do não atendimento dos
requisitos necessários à tutela possessória.

11. Diante do exposto, voto no sentido de negar


provimento ao recurso. Diante da não apresentação de contrarrazões,
incabível a majoração dos honorários sucumbenciais (art. 85, §11 do
CPC).

III- DECISÃO

ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de
votos, em negar provimento ao recurso.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador FERNANDO


PAULINO DA SILVA WOLFF FILHO, com voto, e dele participou a Juíza
Subst. em 2ºG. SANDRA BAUERMANN.

Curitiba, 11 de março de 2020.

DES. LAURI CAETANO DA SILVA


Relator

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