Firmes Na Brecha Pgs Ind

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 44

F irmes na brecha

into the Breach


Uma Exortação Apostólica para homens
católicos, meus filhos espirituais na
Diocese de Phoenix

Thomas J. Olmsted
Bispo Emérito
de Phoenix

“Busquei entre eles um


homem capaz de construir
um muro e capaz de pôr-se
na brecha diante de mim
em prol da nação…”

v 1.3 Ezequiel 22, 30


Texto original (inglês):
https://dphx.org/into-the-breach

Texto traduzido (português):


www.firmesnabrecha.com.br
Vídeo promocional:
https://youtu.be/M2dG2wBiuws

Este livreto (download para impressão):


www.firmesnabrecha.com.br/downloads
Uma chamada para a Batalha

Inicio esta carta com uma chamada forte e clara


para vocês, meus filhos e irmãos em Cristo: ho-
mens, não hesitem em entrar na batalha que se trava
em torno de vocês, a batalha que está ferindo nossas
crianças e famílias, a batalha que está distorcen-
do a dignidade de homens e mulheres. Esta ba-
talha é muitas vezes oculta, mas a batalha é real.
Esta batalha é principalmente espiritual, mas está
progressivamente matando o que resta do caráter
cristão de nossa sociedade e cultura e, até mesmo,
dos nossos próprios lares.

5
O mundo está sob o ataque de Satanás, como previsto pelo Senhor (1
Pedro 5, 8-14). Esta batalha acontece na própria Igreja; e a devastação é
muito evidente. Desde o ano 2000, 14 milhões de católicos deixaram a
fé, a educação religiosa para crianças nas paróquias teve uma queda de
24%, a frequência nas escolas católicas caiu 19%, o batismo de crianças
diminuiu em 28%, o batismo de adultos 31%, e os casamentos sacra-
mentais católicos tiveram queda de 41%1. Esta é uma brecha muito grave,
um buraco nas linhas de frente de Cristo. Embora a Diocese de Phoenix
esteja muito melhor do que as estatísticas nacionais, as perdas são as-
sombrosas.

Uma das principais razões por que a Igreja está titubeando sob os ata-
ques de Satanás é que muitos homens católicos não estão dispostos a
“permanecer firmes na brecha” — preenchendo esse espaço aberto e
vulnerável a ataques. Um grande número deixou a fé e muitos dos que
ainda são “católicos” praticam a fé com timidez e são só minimamente
comprometidos a transmitir a fé aos seus filhos. Pesquisas recentes reve-
lam que um grande número de jovens homens católicos está deixando a
fé para se tornar “indiferentes”, homens que não têm nenhuma afiliação
religiosa. As crescentes perdas de homens católicos jovens terão um im-
pacto devastador sobre a Igreja nos EUA nas próximas décadas, na me-
dida que homens velhos morrem e os homens jovens não permaneçam
nem se casem na Igreja, acelerando assim as perdas que já ocorreram.

Estes dados são devastadores. À medida que nossos pais, irmãos, tios,
filhos e amigos se afastam da Igreja, caem mais profundamente no peca-
do, rompendo seus laços com Deus e tornando-se homens vulneráveis
ao fogo do Inferno. Embora saibamos que Cristo acolhe todo pecador
arrependido, a verdade é que muitos homens católicos estão fracassando
no cumprimento das promessas que fizeram no batismo de seus filhos -
promessas de conduzi-los a Cristo e criá-los na fé da Igreja.

1- Centro para a Investigação Aplicada no Apostolado. http://cara.georgetown.edu/cara-


services/requestedchurchstats.html.

6
Essa crise se faz evidente no desânimo e na desconexão de homens cató-
licos como vocês e eu. Na verdade, é precisamente por isso que conside-
ro necessária esta exortação, e até mesmo a razão da minha esperança.
Porque Deus sempre supera o mal com o bem. A alegria do Evangelho é
mais forte do que a tristeza trazida pelo pecado. Uma cultura de descarte
não pode resistir à luz e vida nova que constantemente irradia de Cristo.
Por isso, eu os chamo para que abram suas mentes e corações a Ele, o
Salvador que os fortalece para permanecer firmes na brecha!

O objetivo da presente Exortação

Ofereço esta exortação como um encorajamento, um desafio e um chamado


à missão para cada homem disposto na diocese de Phoenix: sacerdotes
e diáconos, pais e filhos, avôs e viúvos, homens jovens em preparação
para sua vocação – isto é, todo e cada homem. Com esta exortação, quero
deixar claro para vocês a natureza desta missão de Cristo e, para isso,
dependerei da orientação clara das Sagradas Escrituras, do Magistério
da Igreja, e do exemplo dos santos.

Três questões principais que desejo responder nessa exortação:

1. O que significa ser um homem cristão?


2. Como ama um homem católico?
3. Por que a paternidade, bem entendida, é tão crucial para
todo homem?

Antes de abordar estas questões principais, é importante colocá-las em


contexto. Na próxima seção, explicarei três contextos importantes que nos
ajudarão a entender as questões principais.

7
Contexto # 1:
Um Novo Momento Apostólico – A “Nova Evangelização”

Em primeiro lugar, um novo momento apostólico acontece entre nós


neste momento preciso da história da Igreja. O Espírito Santo está tra-
zendo o que os recentes Papas têm chamado de “Nova Evangelização”.
Por evangelização nos referimos em compartilhar o Evangelho de Jesus
Cristo por todos os meios disponíveis, tais como a pregação, o ensino, o
testemunho fecundo e fiel da vida familiar, o celibato vivido pela causa
do Reino de Deus, os meios de comunicação e outras artes postas ao
serviço do Evangelho. O que há de novo? A novidade no nosso tempo
é esta: estamos no Ocidente, em meio a culturas em competição, parti-
cularmente em cidades e bairros onde o Evangelho antes permeava pro-
fundamente. A Grande Missão de Jesus Cristo (Mateus 28, 16-20) de ir
pelo mundo para compartilhar a Boa Nova já aconteceu onde vivemos!
Esta impregnação do Evangelho na cultura ocidental foi tão profunda
que se converteu em parte de sua fundação e, de certa forma, ainda hoje
permanece. Isso é evidente em ideias contemporâneas sobre a vida que
provém diretamente do alicerce Greco-Romano e Judaico-Cristão, como
nosso conceito de “justiça”, “igualdade”, “virtude”, “dignidade huma-
na”, “compaixão”, “governo representativo”, “a Regra de Ouro”, os
“Dez Mandamentos “, o “hospital”, a “universidade” e outros desenvol-
vimentos claramente positivos na história da civilização. Tudo isso é o
nosso patrimônio e o legado de nossos antepassados espirituais. Encon-
tramo-nos sobre este fundamento, cheio de bênçãos porque o Evangelho
foi ensinado aqui, recebido em fé e posto em prática!

No entanto, há cupins trabalhando nesta fundação. Aqui neste deserto


urbanizado que é o Arizona, conhecemos bem os cupins. Os constru-
tores sabem que nenhuma casa construída neste clima está completa-
mente imune a esses insetos famintos subterrâneos. Da mesma forma,
nenhuma cultura - por mais profundas que sejam as suas raízes cristãs
- é imune à corrupção de meias-verdades e o pecado camuflado. Todavia
existem muitos frutos de nossa herança cristã, mas as raízes abaixo do
solo estão sob ataque. Grande parte da nossa cultura ainda é boa e deve
8
ser preservada, mas seria ingênuo ignorar as tendências crescentes que
ameaçam o bem que ainda existe, e que poderiam desperdiçar esse pa-
trimônio com que somos abençoados.

A resposta e única solução é a Nova Evangelização. O Papa João Paulo


II, com quem tive a benção de trabalhar por 9 anos, que tem inspirado
muitos homens, escreveu: “Não há solução para a questão social fora
do Evangelho”2. Na presente exortação, terei muito prazer em fazer mi-
nhas suas palavras: não há solução para o nosso declínio cultural fora do
Evangelho de Jesus!

Isso é assustador, talvez, mas é certamente uma aventura. No livro de


Apocalipse, Jesus diz: “Eu faço novas todas as coisas”(21, 5) - todas as
coisas velhas e cansadas, pecaminosas e quebradas são renovadas na sua
Encarnação, morte e Ressurreição. Isso poderia ser verdade? A resposta
é um sonoro “Sim!”. Um verdadeiro homem católico passa toda a sua
vida com base nesta proposição – de que tudo se faz novo em Jesus Cris-
to. Nosso Senhor prometeu que está e estará conosco. E assim, homens
católicos ao longo dos séculos têm respondido ao antigo e sempre novo
chamado para entrar na batalha. Confio que vocês também responderão
mantendo-se firmes na brecha de nosso tempo. Tenham confiança! Se-
jam ousados! Adiante, firmes na brecha!

Contexto # 2:
Um Hospital de Campanha e Escola de Combate

Em sua homilia, o Papa Francisco descreveu a Igreja de hoje como “um


hospital de campanha depois de uma batalha”, em outras palavras, uma
fonte constante de misericórdia para resistir e curar as feridas que to-
dos nós trazemos. A Igreja também é a poderosa fonte da Verdade para
curar os homens e prepará-los para lutar mais um dia por Cristo. Aqui
em Phoenix como em outros lugares, a Igreja está encontrando – em-
bora deva redobrar seus esforços para encontrar – os caminhos da cura

2- Papa São João Paulo II, Ecclesia in America, 3, 5.

9
para nós mesmos e os meios para cuidar de outros que, como nós, car-
regam a marca da Queda de maneiras debilitantes, sejam feridas físicas
ou espirituais (vício em pornografia, álcool, drogas, comida, casamentos
desfeitos, ausência de pai, ou uma vida familiar conturbada). Nossos
tempos pedem a renovação da habilidade da Igreja para a cura física e
espiritual, dada a ela pelo Espírito Santo. Como diz o Papa Francisco,
os feridos estão ao nosso redor e “é inútil perguntar a uma pessoa gra-
vemente ferida se ela tem colesterol alto e sobre o nível de açúcar no
sangue. Você tem que curar as feridas”3. Ao mesmo tempo, é essencial
o anúncio da plenitude da verdade encontrada na Igreja Católica. Isso
leva a vocês, homens, a viver vidas onde os pecados não causem fe-
ridas apodrecidas. Pela misericórdia e pela verdade de Cristo, somos
curados e revitalizados para a batalha. Na misericórdia e na verdade
de Cristo, nos tornamos fortes em sua força, corajosos em sua coragem,
e podemos realmente experimentar a joie de guerre (alegria da guerra)
de ser soldados de Cristo.

Sendo assim, outra imagem complementar à do Hospital de Campanha


é adequada para hoje: Escola de Combate Espiritual. A Igreja é, e sempre
foi, a escola que nos prepara para o combate espiritual. Nós, cristãos,
somos chamados a “combater o bom combate da fé” (1 Timóteo 6), a
nos vestirmos “com a armadura de Deus, que pode resistir às ciladas do
demônio” (Efésios 6, 11).

Desde que Jesus escolheu Doze Apóstolos, Ele os formou em sua pre-
sença e os enviou em seu Nome, Ele continuou a escolher e formar ho-
mens, por meio da Sua Igreja, para enviá-los a curar os feridos. Esse é
o significado da palavra apóstolo — homens enviados. Com esta carta,
então, meus filhos e meus irmãos, exorto-os que atendam ao chamado
de Jesus e permitam que Ele forme suas mentes e corações com a luz do
Evangelho, com o propósito de serem enviados. Por isso, esta carta é uma
exortação apostólica. Eu estou, por meio dela, exortando vocês a entrarem
na brecha - para fazer o trabalho de soldados de Cristo no mundo de hoje.

3- Entrevista de 19 de setembro de 2013.

10
Contexto # 3:
O homem e a mulher são pessoas
complementares, e não concorrentes

A complementaridade da masculinidade e feminilidade é a chave de


como os seres humanos são a imagem de Deus. Sem saber ou entender
isso, não podemos conhecer a nós mesmos e a nossa missão como ho-
mens, tampouco as mulheres podem abraçar a sua verdadeira vocação
confiantes no amor do Pai.

O homem e a mulher são certamente diferentes. Cada vez mais a ciência


aprofunda a sua compreensão dessa diferença. Até muito recentemente,
não entendíamos muito sobre a complexidade dos hormônios, reações
químicas e as diferenças cerebrais presentes em meninos e meninas, ho-
mens e mulheres, todos em resposta à presença de XX ou XY como uma
combinação dos cromossomos presentes durante a concepção. Por exem-
plo, o número muito maior de corpo caloso (as fibras nervosas conectivas
entre os dois lados do cérebro) na mulher é uma descoberta fascinante;
assim como é a maneira como o cérebro do homem é geralmente mais
segmentado em suas funções. Estudos mostram que bebês meninas, em
média, observam o rosto de um adulto em silêncio pelo dobro de tempo
que os bebês meninos, que estão mais interessados no desenho físico que
Deus deu à pessoa4.

Essa diferença é também um desafio, porque o mal-entendido pode se


infiltrar e o pecado pode levar-nos a perder o respeito mútuo, roubando-
-nos a esperança de uma colaboração pacífica e frutífera entre homens e

4- Claro que há exceções a esta regra. Sabemos de exceções como resultado de defeitos ge-
néticos ou desenvolvimento hormonal insuficiente. Por exemplo, na Síndrome de Turner
em meninas e a Síndrome de Insensibilidade Androgênica em crianças causam situações
muito dolorosas na vida desses jovens homens e mulheres e suas famílias. Rezo para que
pesquisadores católicos, médicos e psicólogos estejam à frente do estudo desses fenôme-
nos, provendo aconselhamento ético, cuidado e apoio a estes indivíduos e suas famílias.
Todos estes dados científicos descobertos pela ciência contribuem para o conhecimento
da complementaridade sinfônica entre homem e mulher, algo em que acertamos em pon-
derar e que nos alegramos ao encontrar a beleza dessa diferença.

11
mulheres. Mas esta luta dos sexos não é resultado da criação de Deus; é
o resultado do pecado. O Papa Francisco o explica da seguinte maneira:

Homem e mulher são a imagem e semelhança de Deus. Isto nos diz


que não só o homem tomou a imagem de Deus, não só a mulher tomou
a imagem de Deus, mas também homem e mulher, como casal, são
imagem de Deus. A diferença entre homem e mulher não existe para
oposição, ou para subordinação, mas, sim, para comunhão e procria-
ção, sempre à imagem e semelhança de Deus.5

Paralelamente a esta luta, o rápido avanço da “ideologia de gênero”


infectou as sociedades em todo o mundo. Esta ideologia visa abando-
nar a diferença sexual criada por Deus, remover o masculino e femi-
nino como a maneira normativa de compreender a pessoa humana,
acrescentando no seu lugar outras “categorias” de sexualidade. Esta
ideologia é destrutiva para qualquer indivíduo e para a sociedade e
é uma mentira. É prejudicial para os seres humanos e, portanto, um
conceito falso que devemos combater como cristãos. Ao mesmo tem-
po, porém, somos chamados a mostrar compaixão e oferecer ajuda
para aqueles que experimentam confusão sobre sua identidade sexu-
al. Essa confusão não é inesperada, quando o veneno do secularismo
atinge níveis tão críticos: porque “se esquece Deus, a própria criatura
se obscurece”6.

O impacto negativo dessa “ideologia de gênero” em cada indivíduo e


na sociedade foi amplamente mencionado este ano pelo Papa Francisco:

“Pergunto-me se a chamada teoria de gênero não é também expressão


de uma frustração e resignação, que visa cancelar a diferença sexual
porque já não sabe confrontar-se com ela. Sim, corremos o risco de dar
um passo atrás. Com efeito, a remoção da diferença é o problema, não a
solução. Ao contrário, para resolver as suas problemáticas de relação,

5- Homilia, 14 de junho, 2015.

6- Gaudium et spes, 36.

12
o homem e a mulher devem falar mais entre si, ouvir-se e conhecer-se
mais, amar-se mais. Devem tratar-se com respeito e cooperar com
amizade.“7

Assim como o Papa Francisco nos lembra que devemos “amar-nos uns
aos outros”, eu os exorto, meus filhos e irmãos em Jesus Cristo, a abraçar
mais profundamente a beleza e a riqueza da diferença sexual e a defen-
dê-la contra as falsas ideologias.

Agora que estabelecemos o contexto no qual devemos compreender as


questões levantadas por esta exortação, responderei às perguntas cita-
das acima.

Primeira pergunta: O que significa ser um homem católico?

ECCE HOMO — EIS O HOMEM

Todo homem, e especialmente hoje, deve chegar a uma aceitação e


compreensão madura do que significa ser um homem. Isto pode pa-
recer óbvio, mas em nosso mundo há muitas imagens distorcidas e
evidências de confusão sobre o que é a verdade masculinidade. Nós
podemos dizer com certeza que, pela primeira vez na história, as pes-
soas estão tão confusas ou tão arrogantes que agora tentam determinar
a sua própria masculinidade ou feminilidade de acordo com suas pró-
prias definições.

Num momento marcante do julgamento de Jesus, Pôncio Pilatos, com


todo o seu poder mundano, apresentou Jesus ao povo com as pala-
vras “Eis o homem!” (“Ecce homo” em latim). Ele pensava que só
apresentava um homem de Nazaré, sem saber reconhecer que apre-
sentava Deus feito homem, o Verbo encarnado, Jesus de Nazaré, que é
totalmente Deus e totalmente homem, e a perfeição da masculinida-
de. Cada momento de sua vida na terra é uma revelação do mistério

7- Audiência Geral, 15 de abril, 2015.

13
do que significa ser homem — isto é, ser plenamente humano e, ao
mesmo tempo, o modelo da masculinidade. Somente em Jesus Cristo
podemos encontrar a maior demonstração da virtude e força masculi-
na de que precisamos em nossas vidas pessoais e na própria socieda-
de. O que era visível em sua vida terrena conduz ao mistério invisível
de sua filiação divina e de sua missão redentora. O Pai enviou seu
Filho para revelar-nos o que significa ser um homem; e a totalidade
dessa revelação nasce da Cruz. Disse que foi por essa razão que Ele
veio ao mundo e que esse era o Seu maior desejo — entregar-se a Si
mesmo por completo8. Aqui reside a masculinidade em sua totalida-
de; cada homem católico deve estar preparado para entregar-se com-
pletamente, manter-se firme na brecha, entrar em combate espiritual,
defender as mulheres, as crianças e demais contra as adversidades e
as ciladas do demônio.

Ver o que o mundo nos apresenta como “masculino” é de fato ver as


sombras, até mesmo a imitações baratas, do que é masculinidade. Ne-
nhum atleta, não importa quantos troféus; nenhum líder político, não
importa quanto poder tenha temporalmente; nenhum artista, homem
de negócios ou celebridade, não importa o quanto seja adorado; ne-
nhum atributo físico, massa muscular, inteligência ou talento, prêmios
ou conquistas podem dar masculinidade a um homem. A idolatria de
celebridades é uma tentação muito particular dos nossos tempos — mas
construir a nossa identidade masculina nesses modelos fugazes é cons-
truir sobre a areia. Meus filhos e irmãos católicos, só podemos construir
uma base sólida para a nossa masculinidade sobre a rocha, Jesus Cristo.
Vemos Jesus Cristo como a expressão da masculinidade, para sermos
transformados n’Ele, para sermos os homens que somos chamados a ser,
e para deixar que outros O vejam em nós.

Mas não só buscamos olhar para Jesus. Nós verdadeiramente O encontra-


mos na Missa quando recebemos o dom do próprio Jesus na Eucaristia.
Por essa razão, conclamo meus irmãos sacerdotes para despertar esse

8- João 12,27.

14
significado transcendental nos corações dos homens por meio de uma
liturgia bela e com reverência; e assim ajudar aos homens a descobrir
Jesus na Eucaristia a cada domingo. Ensinar os fiéis sobre a poderosa
verdade da liturgia, de maneira que os homens possam se relacionar a
ela e compreendê-la. Ajudar os homens a entender a plenitude e o poder
da missa deve ser sua maior prioridade. Que alegria para os homens de
Deus quando eles são liderados por padres com o sentido seguro de sua
própria masculinidade, seu chamado a partilhar do amor de Cristo como
esposo, e sua paternidade generosa e vivificante!

Os Santos, os nossos heróis na Fé

Isto é o que os nossos pais, os santos, têm feito há dois milênios. Assim
como o Evangelho revela a realidade da masculinidade, podemos tam-
bém encontrá-la vivida no testemunho heroico dos santos.

Os santos são como a continuação dos Evangelhos pois nos dão exem-
plos de vários caminhos da santidade. E, assim como Jesus demonstrou
a perfeição da masculinidade, podemos encontrá-la vivida nos santos
que foram guiados por Cristo. Da mesma forma que um jogador de bei-
sebol é inspirado pelo Hall da Fama de Beisebol, nós homens católicos
olhamos aqueles que caminharam antes de nós como uma inspiração e
encorajamento para combater o bom combate.

Pense em todas as habilidades e talentos dos jogadores de beisebol. Um


jovem pode sonhar em rebater como Babe Ruth, pegar e lançar como
Willie Mays, ter a agilidade de Henry Aaron, a consistência e o trabalho
árduo de Lou Gehrig e Jackie Robinson. Os lançadores jovens sonhariam
lançar como Cy Young e Randy Johnson. E ao ver esses jogadores joga-
rem de diferentes formas, eles são inspirados a amar o beisebol.

Porém, os homens católicos buscam muito mais do que um jogo. Vemos


os santos como heróis, lutando por viver como Cristo, unidos a Ele e
aprendendo com Ele ao mesmo tempo. De um modo dramático, com o
qual podemos nos identificar, a vida de um santo diz Ecce homo!, “Eis o

15
Homem!”. Isso é o que São Paulo deu a entender, ao dizer: “Já não sou
eu que vivo, mas é Cristo quem vive em mim” (Gálatas 2,20).

Todo homem deveria decidir-se a ter um santo padroeiro. Apesar de


existirem muitos outros, aqui lhes apresento o nome de dez santos com
os quais cada homem católico deveria familiarizar-se. Entre parêntesis,
ao lado do nome de cada santo, está a virtude com a qual ele está associa-
do, assim como o pecado que se opõe àquela virtude. Ao identificarmos
o nosso pecado e a virtude de que necessitamos, identificaremos a inter-
cessão de qual santo precisamos de maneira especial:

1. São José (Confiança em Deus — Egoísmo)


2. São João Batista (Humildade — Arrogância)
3. São Paulo (Adesão à Verdade — Mediocridade)
4. São Miguel Arcanjo (Obediência a Deus — Libertinagem e Rebelião)
5. São Bento (Oração e Devoção a Deus — Preguiça)
6. São Francisco de Assis (Felicidade — Moralismo)
7. Santo Tomás Moro (Integridade — Displicência)
8. Beato Pier Giorgio Frassati (Castidade — Luxúria)
9. São Josemaría Escrivá (Audácia — Temor mundano)
10. São João Paulo II (Defesa dos fracos — Passividade)

Nem sequer precisamos buscar no passado distante para encontrar he-


róis da fé. Nós todos vimos João Paulo II perdoar o homem que tentou
matá-lo e, depois de recuperar sua saúde, continuar incansavelmente o
seu apelo ao mundo para “abrir amplamente as portas para Cristo”9.
Uma e outra vez nos exortou dizendo: “Não tenham medo”. Ainda hoje
em regiões onde há graves perseguições, temos visto corajosas testemu-
nhas da verdade nos últimos mártires na Síria, Nigéria, Iraque e outros
lugares devastados pela guerra. Apenas no inverno passado vinte ir-

9- Missa de Abertura, 22 de outubro, 1978.

16
mãos coptas foram decapitados em uma praia no Egito, como disse o
Papa Francisco “pelo simples fato de serem cristãos”10.

Homens, nunca devemos pensar que a santidade e a coragem são coisas


do passado! Vocês e eu somos chamados à santidade que Cristo mostra
ao mundo como nossos pais o fizeram inúmeras vezes ao longo da histó-
ria, seguindo a inspiração do Espírito Santo. Na verdade, neste momen-
to de crescente audácia do demônio, todo homem deve estar preparado
para nada menos do que o martírio, da maneira que ele se apresente, e
semear em seus filhos e netos a vontade de fazer o mesmo.

O Senhor não continuará inspirando os homens? É claro que sim! Ele


continua a fazê-lo! Nossa preocupação não é se o Senhor nos dará as for-
ças necessárias, mas como Ele o faz neste exato momento. Como o Seu Es-
pírito está nos movendo a levantar e rejeitar a passividade numa cultura
sem pais? Como Ele agora nos dá uma força interior numa cultura de
pornografia? Como Ele está agora nos inspirando a buscar além de nós
mesmos e de nossa tecnologia para voltar o olhar às periferias onde Cris-
to é necessário? Como o Senhor está inspirando a vocês e a mim, agora
mesmo, a deixar de lado as preocupações com nosso próprio conforto,
para servir ao próximo, mergulhar fundo e entrar na brecha?

Convido-lhe fortemente a se familiarizar com as vidas dos santos. Assim


como um jovem jogador de beisebol perderia muito sem haver estudado
os grandes do Salão da Fama, nós também perdemos muito permane-
cendo ignorantes sobre a vida dos santos que nos precederam para o
infinitamente mais glorioso Salão dos Céus.

A identidade do homem católico

Agora eu gostaria de falar sobre nossa identidade em Cristo. A maioria


dos homens santos que mencionei viveu em tempos bem diferentes dos
nossos. Eles tinham diferentes desafios e chamados. Mas todos eles ti-

10- Fevereiro de 2015.

17
nham algo em comum: Jesus Cristo, Aquele que lhes deu sua verdadeira
identidade! Aqui lembramos a sabedoria exposta no Concílio Vaticano
II: “Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe des-
cobre a sublimidade de sua vocação”11.

Sutilmente, somos tentados a olhar para longe em busca de nossa iden-


tidade. As opiniões dos outros, nossas carreiras, posses, brinquedos, es-
portes, passatempos, roupas, tatuagens, casas e carros - são todas as for-
mas com as quais somos tentados a nos identificar fora de Cristo. Mas,
embora algumas dessas coisas sejam parte da vida até certo ponto, elas
não constituem o centro do nosso ser. Depois de termos sido comprados
com o sangue do Cordeiro, “a nossa cidadania está nos Céus” (Filipenses
3,20). “Na vida e na morte, pertencemos ao Senhor” (Romanos 14, 8). O
mundo não pode dar-nos a nossa verdadeira identidade. É preciso es-
tarmos atentos para não sermos distraídos com falsas identidades e para
permanecermos firmes em Jesus Cristo.

Simplificando, a nossa identidade está inserida na identidade do Filho eterno


de Deus, é recebida em nosso batismo como foi claramente proclamada
no Seu batismo no rio Jordão: “Tu és meu Filho muito amado, em quem
pus minha predileção” (Marcos 1,11). Quando falamos de conversão, fa-
lamos em aceitar nosso crescimento para essa identidade. Quando fala-
mos de pecado, falamos sobre tudo o que nos afasta de nossa identidade
como filhos queridos do Pai. Uma vez que esta é a nossa identidade,
tornarmo-nos Filhos de Deus Pai, deveríamos nos surpreender pelo fato
de que o diabo está travando uma batalha contra a masculinidade e a
paternidade hoje? O processo de conversão cristã inclui conhecer o amor
de Deus e experimentar a fraternidade com Cristo, que aprofunda a nos-
sa identidade como filhos do Pai no Espírito Santo. Essa é a nossa meta
ao longo da vida e nossa batalha espiritual.

11- “Gaudium et spes”, 22.

18
Filhos amados e livres, chamados a uma batalha interior

Olhemos para São João Apóstolo, o discípulo amado, para entender esta
batalha. Na sua Primeira Carta à Igreja, São João fala da tríplice tenta-
ção que todos nós enfrentamos: tentações à paixão da carne, cobiça e
ostentação de riqueza (1 João 2, 16-17). Não estão todos os pecados liga-
dos a estes três? João identifica as batalhas que todos nós devemos lutar
dentro de nós. Na verdade, Cristo combate especificamente contra estas
tentações durante seu encontro com Satanás no deserto (Mateus 4) e, em
seguida, instrui-nos em seu Sermão da Montanha (Mateus 6) sobre como
lutar contra elas.

Contra as paixões da carne, Jesus rejeita a oferta de pão feita por Satanás;
e no Sermão da Montanha duas vezes nos instrui a jejuar (Mateus 6,16).
Note-se que o Senhor não diz “se jejuardes” mas “quando jejuardes”. O
jejum é um treinamento de autoconhecimento; é uma arma fundamental
para o autodomínio. Se nós não temos domínio sobre nossas próprias
paixões, especialmente sobre a comida e o sexo, não podemos possuir-
-nos a nós mesmos, muito menos colocar os interesses dos outros antes
do nosso próprio.

Ao tentar Jesus com a cobiça, Satanás lhe ofereceu “todos os reinos do


mundo e a glória deles”. Jesus os rejeitou no deserto. Ele nos chama para
libertar-nos da tentação de ganhar o mundo à custa da nossa alma. Aqui
vemos um Satanás que nos tenta não por meio de pessoas, mas por ob-
jetos (um carro, uma casa, ou a mais recente tecnologia, etc.). Não faltam
negócios ou indústrias que nos tentam a buscar a felicidade através de
posses. Mas lembrem-se de como o “jovem rico” se afastou “triste” de
seu encontro com Jesus, porque “ele tinha grandes posses” (Lucas 18,23).
Diz o Papa Francisco: “Quanto mais vazio está o coração da pessoa, mais
ela necessita de objetos para comprar, possuir e consumir”12. Com Jesus,
somos chamados a procurar, não a “aceitar”, uma vida simples que, em
verdade, nos liberta para a nossa missão em Cristo.

12- “Laudato Si”, 204.

19
Finalmente, no terceiro ataque de Satanás, Jesus foi tentado ao pecado
do orgulho. Satanás lhe ofereceu usar Seu poder para fins egoístas; mas
Jesus rejeitou essa glória sem cruz e escolheu o caminho da humildade.
No Sermão da Montanha, Ele nos diz duas vezes para que sejamos hu-
mildes ao repetir “quando orardes” (Mateus 6, 5). Na verdade, a maior
proteção contra o egoísmo e a autossuficiência é humildemente buscar
a Deus em oração. As novas tecnologias das redes sociais, por meio das
quais estamos constantemente na frente dos outros, falando sobre nós
como quem se exibe, podem levar a um tipo de idolatria que nos conso-
me. A oração honesta pode nos manter com os pés no chão e nos ajudar
a evitar essa tentação.

Homens, a necessidade de pastores para desafiar homens para a batalha


interior, a riqueza de uma vida interna comprometida com Deus, não é
nada novo. Escutemos as palavras de São João Paulo II diante de estu-
dantes universitários em 1962, quando era Arcebispo de Cracóvia:

“Estamos prontos para tomar, ou conquistar, em termos de deleites,


benefícios, lucro e sucesso — até mesmo na ordem moral. Em seguida,
vem a questão de dar, e nesse momento voltamos para trás, porque não
estamos preparados para dar. O elemento que é tão característico sob
outras formas no retrato espiritual da mulher é quase imperceptível
no homem… Nós temos uma tendência a uma atitude religiosa como
a de Nicodemos, a uma espécie de devoção que se caracteriza quase que
exclusivamente pela discrição superficial, mas muito seguida também
pelo medo do que os outros possam pensar… Este catolicismo mascu-
lino não é interior nem suficientemente profundo; o crente masculino
não tem uma autêntica vida interior… nós, os homens, não temos uma
vida interior suficientemente profunda.”

O ser humano é uma criatura e, portanto, em relação a Deus, um recep-


tor de amor e coragem antes de que ele ou ela possa transmiti-lo aos
outros. Nemo potest dare quod non habet é o famoso termo em latim cria-
do pela Igreja sobre esta verdade fundamental; você não pode dar aquilo
que você não tem. Maria, nossa mãe, a grande receptora do amor de Deus

20
em seu próprio corpo é o modelo para nós, como católicos, mas não
apenas Maria — todo grande santo, ou seja, grande amante na história de
nossa Igreja. Não há um atalho para a santidade, para nos convertermos
nos grandes homens católicos que somos chamados a ser. Não há ne-
nhum atalho para além da ancestral batalha interior que cada um de nós
deve travar!

Enquanto recebemos o amor e a misericórdia de Deus na oração e nos


sacramentos, o Senhor nos dá armas seguras para esse “bom combate”
de que São Paulo fala:

“Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas


do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de
lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste
mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos
ares. Tomai, portanto, a armadura de Deus, para que possais resis-
tir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso
dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido
com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar
o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que pos-
sais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o
capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus”
(Efésios 6, 11-17).

Podemos estar tentados a dizer: “Quando eu deixar esta tríplice batalha


para trás, então eu viverei uma vida de santidade”. Mas isso é uma men-
tira! É precisamente no decorrer desta luta que nos santificamos. Como
disse o Beato Pier Giorgio Frassati: “Viver sem fé, sem um patrimônio
para defender, sem uma luta constante pela verdade, isto não é viver,
é existir”. Estaremos você e eu apenas existindo? Ou estamos vivendo
a nossa fé cristã como homens cheios de vida? Lembrem-se das famosas
palavras do Papa Emérito Bento XVI: “Não fostes criados para a comodi-
dade, mas para a grandeza”. Qualquer grandeza como homens cristãos
depende desta luta pela santidade. É a mesma luta que Cristo lutou no
deserto e a mesma luta que nossos pais lutaram para nos transmitir a fé.

21
Ai de nós se não tomamos com coragem e gratidão as armas do Espírito,
que nos são oferecidas gratuitamente, e lutarmos. O que precisamos é
coragem, segurança e humilde confiança nos recursos infinitos de Deus.
Avante! Firmes na brecha!

As práticas de um homem católico comprometido

Dadas estas reflexões sobre a masculinidade católica, passemos para a


prática — Como viver como um homem católico? Que práticas podem
nos ajudar a carregar nossa cruz e seguir o nosso Rei?

Vendo deste modo: os soldados não se mantêm fortes no corpo e na


mente se não praticarem as artes essenciais de combate, caso contrário
não estarão prontos para a batalha, e serão um perigo para eles mesmos
e para os seus companheiros em armas. O mesmo é verdadeiro para os
homens católicos: aqueles que não se preparam e fortalecem a si mes-
mos para o combate espiritual são incapazes de se manterem firmes na
brecha por Cristo. Embora existam muitas práticas e devoções que um
homem católico pode seguir, peço-lhes que perseverem nestas sete prá-
ticas básicas, de maneira diária, semanal e mensal. Se essas práticas não
são (ainda) parte da sua vida, comecem agora mesmo!

DIARIAMENTE

1. Rezem todos os dias. Todo homem Católico deve começar seu dia
com a oração. Tem sido dito “até dar-se conta de que a oração é a coisa
mais importante em sua vida, nunca terão tempo para orar”. Sem oração,
um homem é como um soldado sem comida, água ou munição! Reser-
vem algum tempo para falar primeiro com Deus ao iniciar cada manhã.
Orem as três orações essenciais da fé católica: o Pai Nosso, a Ave Maria
e o Glória. Orem também em cada refeição. Antes que a comida ou be-
bida toquem seus lábios, façam o sinal da cruz e digam: “Abençoai-nos,
Senhor” e, em seguida, terminem com o sinal da cruz. Façam isto, não
importa onde estejam, ou com quem estejam. Nunca tenham vergonha
ou timidez para rezar ao comer; não neguem a Cristo. Rezar como um

22
homem católico antes de cada refeição é simples, mas uma maneira mui-
to poderosa para se manter firme na brecha.

2. Examinar sua consciência antes de dormir. Dediquem alguns minu-


tos para repassar o que fizeram durante o dia, pensem em suas bênçãos e
pecados. Deem graças a Deus por suas bênçãos e peçam perdão por seus
pecados. Digam o Ato de Contrição.

3. Não deixem de ir à Missa. Embora ir à missa todas as semanas seja


um preceito da Igreja, apenas 1 em cada 3 homens católicos vão à missa
todas as semanas. Para um grande número de homens católicos, sua ne-
gligência em não ir à missa é um pecado grave, um pecado que os coloca
em perigo mortal.

A missa é um refúgio no Combate Espiritual, em que os homens católicos


se encontram com o seu Rei, escutam os seus mandamentos e são fortale-
cidos com o Pão da Vida. Cada missa é um milagre em que Jesus Cristo
está totalmente presente, um milagre que é o ápice não só da semana,
mas de nossa vida na Terra. Na missa um homem dá graças a Deus por
suas muitas bênçãos e escuta Cristo a enviá-lo de volta ao mundo para
construir o Reino de Deus. Aqueles pais que levam seus filhos à missa
estão de maneira muito real garantindo a sua salvação eterna.

4. Leia a Bíblia. Como São Jerônimo nos diz claramente “A ignorância


das Escrituras é ignorância de Cristo”. Ao ler a palavra de Deus, Jesus
está presente. Homens casados, leiam com sua esposa e filhos; se os fi-
lhos de um homem o veem ler as Escrituras, esse é um bom indício de
que permanecerão fiéis na Fé, meus irmãos em Cristo, disso podem estar
seguros: os homens que leem a Bíblia crescem em graça, sabedoria e paz.

5. Santificar as festas. Desde a criação de Adão e Eva, ao estabelecer um


ciclo semanal terminando com o Sabat, o Senhor nos deu o domingo
para assegurar tanto um dia para render graças a Deus como também
para descansar e nos recuperarmos. Nos Dez Mandamentos, Deus dá
uma nova importância ao Sabat. Com todo o choque comercial e o ba-

23
rulho causado pelos meios de comunicação, o domingo é o alento que
Deus nos dá dessa tempestade. É como os homens católicos devem co-
meçar, ou aprofundar na santificação deste dia. Se são casados, devem
assumir a liderança com suas esposas e filhos para que façam o mesmo.
Dediquem o dia ao descanso, e a uma recreação autêntica; evitem todo
trabalho desnecessário. Passem tempo em família, vão à Missa, e desfru-
tem o dom do dia.

MENSALMENTE

6. Confessem-se. No início do ministério público de Cristo, Jesus cha-


mou todos os homens a se arrependerem. Sem arrependimento de nos-
sos pecados, não pode haver nenhuma cura ou perdão; e não haverá
Céu. Grandes quantidades de homens católicos estão em grave perigo
mortal como consequência dos níveis epidêmicos de consumo de por-
nografia e do pecado da masturbação. Meus irmãos, confessem-se agora
mesmo! Nosso Senhor Jesus Cristo é um Rei misericordioso que perdoa-
rá aqueles que humildemente confessam os seus pecados; não perdoará
aqueles que se recusam. Abram suas almas ao dom de Sua misericórdia!

7. Construam fraternidade com outros homens católicos. A fraternida-


de católica tem um impacto dramático na vida dos homens. Homens
que têm laços de fraternidade com outros homens católicos oram mais,
vão à missa e à confissão com mais frequência, leem mais as Escrituras e
estão mais ativos na fé. Provérbios nos diz: “O ferro com o ferro se afia; o
homem afia o homem”. Conclamo a cada um de nossos sacerdotes e diá-
conos a reunir os homens de suas paróquias e a começar a construir uma
fraternidade católica vibrante e transformadora. Conclamo os homens
leigos para formar pequenos grupos de companheirismo para apoio mú-
tuo e crescimento na fé. Não há amigo, como um amigo em Cristo.

Segunda pergunta: Como ama um homem católico?

Consideremos agora o amor masculino. Isto não é fácil de fazer, porque


a palavra amor quase perdeu o seu significado. É uma palavra que até

24
mesmo os homens se sentem incomodados ao usar. Por quê? O que ago-
ra envolve a palavra amor? Apenas um sentimento? Algo que passa?
Útil apenas para o mercado ou cartões de felicitação, mas nada mais?

Cristo deixou claro que no centro de sua missão está o amor. “Amai-vos
como eu vos amei” (João 15,12) diz com paixão, mas sem sinais de sen-
timentalismo. Todos os ensinamentos de Nosso Senhor se reduzem a
este mandamento. O amor não é um assunto adicional, é a missão. E, no
entanto, só podemos amar do modo como fomos criados e, portanto, só
podemos amar como homens. Como os homens amam?

Durante décadas, um modelo de masculinidade foi criado no persona-


gem fictício de um espião secreto inglês chamado James Bond. Vários
atores fizeram turno representando este homem, em muitas aventuras,
como uma proposta do que significa ser “masculino”. Mas James Bond
continua sendo um enigma. Assim como as mulheres que ele usa em
seus filmes, aqueles que o assistem se descobrem tentando conhecê-lo.
Ele nunca é um pai, nem aceita nenhuma responsabilidade pelo amor
de uma mulher. Nele vemos um homem cujas relações são superficiais
e puramente utilitárias. Com efeito, “O personagem de James Bond
personifica uma grande ironia. Tem 40 anos e não tem nenhum laço.
Na verdade, é patético”13.

Quanto isto difere com Cristo? Há medo nele? Nem um pouco! Quem é
mais homem, aquele que corre ou aquele que enfrenta suas responsabi-
lidades e os desafios dos relacionamentos, da família e da intimidade?
Pode um homem que teme entregar-se a si mesmo ser um autêntico dis-
cípulo de Cristo? Na verdade, pode um homem assim amar de verdade?

Pelo significado da palavra Bond no idioma inglês: laço ou atadura, o


nome de James Bond é uma grande ironia. Trata-se de um homem sem
nenhum laço ou vínculo sentimental. Mas o verdadeiro amor masculino
sempre cria laços! Na Cruz e na Eucaristia, Jesus entrega seu próprio

13- Dr. Paul Vitz, conversa de 21 de fevereiro, 2015.

25
sangue para vincular-nos a Ele por amor. Na Última Ceia, oferece-Se na
Eucaristia, a Sua oração ao Pai foi “para que sejam um, como nós” (João
17,11). Seu amor comprometido e aglutinador, como Ele diz, “atrairá to-
dos os homens a Ele” (João 12,32). A palavra religião, em sua raiz latina,
significa “unir”. Não surpreendentemente, em uma cultura de laços
quebrados, com tanto medo de compromisso, tantas vezes ouvimos
“sou espiritual, mas não religioso”. Gostaria de lembrá-los que Sata-
nás também é “espiritual, mas não religioso!”. Um homem de 40 anos
sem um único laço de autoentrega em sua vida merece pena, não a
nossa admiração.

Neste sentido devo mencionar isso que é conhecido como machismo. Um


homem católico está acima dessa tendência. Qualquer demonstração de
machismo busca segurança na imagem de dureza e falta de emoções. No
entanto, trata-se de uma máscara muito fina cobrindo um medo interior
aos verdadeiros vínculos com os outros, laços que venham da autentici-
dade destas relações; e que fazem a vida rica e significativa. Atrás dessa
máscara, como qualquer pessoa madura pode ver, está um homem pre-
so em um medo adolescente de vulnerabilidade. Em muitos casos, ele foi
ferido e agora repete um ciclo aprendido na infância.

Em vez disso, o verdadeiro amor que Cristo demonstra está centrado em


desejar o bem do outro, em esvaziar-se completamente na caridade para
com os demais. Assim, Ele revela o amor do Pai: “Como o Pai me amou,
também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Este é o meu manda-
mento: Amai-vos como eu vos amei” (João 15, 9.12). Em Cristo, vemos
que o sacrifício está no coração do amor. Somente o homem que lutou
a batalha interior do autodomínio contra a esterilidade, o homem que
entrega a sua vida pelos outros, pode evitar a estagnação e a absorção
em si mesmo. Nunca duvidem, este sacrifício vale a pena! Nosso Senhor
nos encoraja dizendo “Não há maior amor do que dar a vida pelos seus
amigos” (João 15,13).

26
Três amores masculinos: amigo, esposo, pai

1- UM AMIGO EM CRISTO — IRMÃOS EM CRISTO

No início do seu ministério na Terra, Jesus chamou outros homens para


acompanhá-Lo. O que Ele estava nos ensinando? Vimos que Jesus cha-
mou os seus discípulos para Ele de tal maneira que formaram profundos
laços de amizade e fraternidade. Na Última Ceia, especificamente, Ele
disse: “Já não vos chamo servos, porque o servidor não sabe o que faz o
seu senhor; eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que
ouvi de meu Pai “(João 15,15). Esta amizade com Deus é possível, uma
verdadeira irmandade com Jesus, porque temos o mesmo Pai. Vocês,
meus filhos, têm verdadeiros irmãos em Cristo em suas vidas?

Através da história, incluindo a história do cristianismo, importantes


movimentos têm sido iniciados por irmandades, por amigos em Cristo.
Os padres da Igreja São Gregório e São Basílio foram grandes amigos e
companheiros de trabalho na defesa de Cristo ao permanecerem firmes
na verdade e vencerem as heresias que ameaçavam a Igreja. São Bento e
seus companheiros monásticos estabeleceram comunidades de homens
que preservaram e desenvolveram a cultura ocidental, ante a destruição
bárbara. Essa grande muralha de proteção do que é verdadeiro, bom e
belo foi forjada com uma constante e próspera vida cristã em fraternida-
de e amizade. São Francisco e São Domingos começaram irmandades ao
serviço dos pobres e da defesa da verdade. Os fundadores da Compa-
nhia de Jesus, Santo Inácio e São Francisco Xavier, e outros, trouxeram
um novo olhar sobre a Igreja e influenciaram inúmeros homens, cha-
mados a evangelizar os mais distantes cantos do globo. No século XX,
vemos a amizade entre C. S. Lewis e J.R.R. Tolkien e seus irmãos “Inklin-
gs” como um elemento essencial e indispensável para o crescimento no
florescimento de seus próprios dons literários e apologéticos.

O que é amizade? Quem é nosso amigo? As Escrituras nos dizem: “O


amigo ama em qualquer ocasião, e um irmão nasce para compartilhar
a adversidade” (Provérbios 17,17). Estou convencido de que nas adver-

27
sidades que enfrentamos hoje, se os homens procuram uma verdadeira
irmandade trarão consigo irmãos em Cristo e serão aplaudidos no Céu!

Por isso, perguntem-se os homens: Como são seus amigos? Têm amigos
com quem partilhem a missão da santidade? E mais, no seminário os
homens jovens descobrem a diferença que faz ter amizades centradas
em Cristo, e suas vidas são transformadas. Estas amizades não estão
limitadas às ordens religiosas e aos sacerdotes. Uma masculinidade
renovada não será possível sem que os homens primeiro se unam
como verdadeiros irmãos e amigos. Na minha própria vida, no meu
primeiro ano como sacerdote, eu fui grandemente abençoado por
meus irmãos sacerdotes na Jesus Caritas Fraternity14. Seu compro-
misso com a adoração eucarística e simplicidade de vida, sua fideli-
dade a Cristo no celibato e na oração diária, seu amor fraternal, sá-
bios conselhos e encorajamento têm me influenciado e me inspirado
muito para perseverar em minha própria missão em Cristo. Foi uma
alegria ver como a fraternidade em nossa diocese cresceu e flores-
ceu em esforços como a Conferência dos Homens, os Cavaleiros de
Colombo, Este Homem és Tu (That Man is You no original), o Movi-
mento de Cursilhos e outros grupos. Ainda há espaço para crescer,
é claro, mas a partir de agora os frutos do Espírito são evidentes
nestes irmãos e amigos católicos.

Da mesma forma, vimos o que acontece quando os homens, jovens e


velhos, não se formam nem mantêm relacionamentos saudáveis. Muitos,
procurando no lugar errado, encontram na falsa irmandade das gangues,
ou sem qualquer tipo de fraternidade, isolados e sozinhos, perdendo as-
sim estas experiências formativas tão cruciais, sem ninguém para prestar
contas e sem o companheirismo que apenas uma amizade verdadeira
pode proporcionar.

14- Ver o Apêndice para uma descrição e o chamado a formar estes grupos de homens leigos.

28
Estudos têm mostrado que muitos homens hoje vivem uma vida sem
amigos.15 Isso tem um efeito sobre os casamentos, onde os homens não
têm um suporte emocional além de suas esposas, bem como nos filhos,
que deveriam ver verdadeiros amigos nas vidas de seus pais, mas mui-
tas vezes não o fazem. Que bênção ter a presença de bons e leais amigos
para nos dar o encorajamento e o apoio responsável que precisamos para
ser livres! Com efeito, como diz a Escritura: “Assim como o ferro afia o
ferro, o homem afia o homem” (Provérbios 27,17).

2- O HOMEM COMO UM ESPOSO —


O PROPÓSITO DO AMOR ERÓTICO MASCULINO

Na sequência, tentaremos compreender mais profundamente o chama-


do do homem ao amor esponsal. Todo homem é chamado a viver como
esposo ou pai de alguma forma: “Deus dá a cada homem como tarefa a
dignidade de cada mulher”16. Cada homem é chamado a se comprome-
ter e a se entregar por completo. Para a maioria dos homens, este chama-
do é o matrimônio, enquanto para outros é o sacerdócio ou algum outro
serviço sincero e de entrega total a Deus. Mas em nossos tempos, esse
compromisso é frequentemente visto como escolher algo convencional
e até mesmo chato; algo que limita a liberdade ou ameaça o amor. Nada
poderia estar mais longe da verdade! Em vez disso, recordo-lhes as pa-
lavras de São Josemaría Escrivá: “Há uma necessidade de uma cruzada
de virilidade e de pureza para neutralizar e anular o trabalho selva-
gem daqueles que pensam que o homem é uma besta. E essa cruzada
é o seu trabalho”17.

A preparação para este dom sincero e completo coincide com o cresci-


mento de um homem na masculinidade. Os “anos de solteirice” da vida
de um jovem são para essa formação, e não um tempo de mera espera

15- Social Isolation in America: Changes in Core Discussion Networks over Two Decades.
http://www.jstor.org/stable/30038995

16- Papa São João Paulo II, Catequese sobre o amor humano, 100:6.

17- São Josemaria Escrivá, Caminho, Ponto 121.

29
passiva, muito menos para tolerância com o pecado. “A juventude não
foi feita para o prazer, mas para o heroísmo”, diz o grande dramatur-
go católico francês Paul Claudel. Eu incentivo os homens jovens a se
preparar para o casamento antes mesmo de saber quem será sua noiva.
Esse treinamento em sacrifício consiste em amar a sua noiva antes de
conhecê-la; para que um dia eles possam dizer “antes de te conhecer,
eu já te era fiel”.

Pelo amor esponsal, os homens experimentam um tipo de força que per-


dura, uma força que o mundo anseia, uma força que pode estabilizar
uma sociedade cambaleante. É verdade que esse amor não está livre de
períodos difíceis. Nenhuma vocação está! No entanto, com São Paulo
“considero que os sofrimentos do tempo presente não podem ser com-
parados com a glória futura que há de ser revelada em nós” (Romanos
8,18). Há glória no chamado de um homem a ser um esposo.

Quando o grande São João Paulo II falou de um “significado esponsal do


corpo”, ele deixou implícito que todos os homens estávamos chamados
de alguma forma para o amor esponsal.18 Ou seja, um amor compro-
metido, um amor que dá a vida buscando o bem daqueles com quem o
homem se comprometeu. Quando um homem é chamado a um amor es-
ponsal no casamento e na vida familiar, no sacerdócio ou na consagração
ao Senhor, esse homem é chamado a uma vida grandiosa e reveladora.
De fato, se fugimos desta batalha por causa de seus desafios, nos torna-
remos vazios. Aqueles que chegam para o julgamento de Deus, depois
desta vida, sem as cicatrizes de marido sacrificado, “terão sua masculi-
nidade desvalorizada quando comparados aos que lutaram conosco”19.

Deixem-me falar especificamente para os homens chamados ao amor


conjugal no matrimônio. Este é um chamado para a dignidade e a beleza
da união que simboliza o amor de Cristo como esposo pela Igreja. Paulo
explica isso em suas instruções aos cônjuges, dizendo:

18- Papa São João Paulo II, Catequese sobre o amor humano, 14:5.

19- Shakespeare, Enrique V, Ato IV, Cena 4.

30
“Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se
entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo
com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem má-
cula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e
irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como
a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Cer-
tamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário,
cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja — porque
somos membros de seu corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe e
se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24).
Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja”.
(Ef 5,25-32).

O casamento em Cristo não é apenas uma atividade humana. É mais


elevada; é um “grande mistério”. O desejo humano de amor é, em certo
sentido, um desejo para o amor infinito e eterno. No sacramento do ma-
trimônio o amor humano está aprisionado no amor infinito e eterno de
Deus20. Essa é a glória, homens! Chamados para o matrimônio, vocês são
chamados a ser Cristo para sua esposa. Porque este amor une sacramen-
talmente o infinito amor que Cristo tem por cada um, seu matrimônio
sacramental supera os limites do matrimônio natural e alcança o infinito
e eterno caráter a que aspira todo amor.

Aqui chegamos ao epicentro da batalha masculina em nossos tempos, o


nexo entre a vida e o amor que é o dom de Deus da sexualidade. Não
posso enfatizar o suficiente, meus filhos, a necessidade de desenvolver a
castidade em sua vida.

Embora grande parte da nossa cultura não entenda completamente ou


encoraje este compromisso e a grandeza do amor de esposos a que esta-
mos chamados, de forma alguma devemos nos desencorajar. Pelo con-
trário, podemos considerar como somos abençoados ao ser chamados a

20- “Gaudium et spes”, 48.

31
proclamar esta verdade em um tempo em que muito ela se faz necessá-
ria. Ao fazer isso, vocês irradiarão a luz de Cristo em uma área da so-
ciedade muito obscurecida por aquilo que sempre ameaçou o amor dos
esposos. O nosso Catecismo os nomeia claramente. Trata-se da “discórdia,
o espírito de domínio, a infidelidade, ciúmes e conflitos que podem se
transformar em ódio e separação…, individualismo, egoísmo, a busca do
auto prazer”.21 Aqui poderíamos adicionar o uso da pornografia, sempre
algo tóxico para os envolvidos e aqueles que observam, e a subcultura
consumista chamada em inglês “hookup” (que consiste em promiscuida-
de desenfreada, até mesmo com totais estranhos), a qual remove comple-
tamente os encontros sexuais de seu contexto de relação conjugal.

Como aconteceu que uma cultura tão determinada em seu apoio ao


matrimônio e o noivado há duas gerações atrás tornou-se uma cultura
que tem reduzido a sexualidade a um mero prazer para fins egoístas? A
resposta reside na Revolução Sexual. Para muitos, a Revolução Sexual
prometia “amor livre” e a liberdade dos grilhões de velhas ideias sobre
masculinidade e feminilidade. Como resultado separou-se a sexualida-
de do compromisso do casamento, uma ampla aceitação da esterilidade
(química ou cirúrgica), o que resultou em uma negação do que é essen-
cialmente masculino e feminino na pessoa. Pior ainda, a Revolução Se-
xual conduziu ao flagelo do aborto, da pornografia e do abuso sexual,
tão desenfreados nas últimas décadas. Em vez de um amor verdadei-
ro e real, ofereceu prazeres baratos como uma tentativa de responder a
uma profunda solidão e dor. Em vez de segurança dos laços familiares
tradicionais, as crianças foram deixadas sem a estabilidade do amor de
uma mãe e um pai. Ao invés de aceitar a verdade do desígnio de Deus
para o amor humano entre homem e mulher, a Revolução Sexual se re-
belou arrogantemente contra a natureza humana, a qual jamais estará
em linha com a confusão e falta de autodomínio. Na verdade, o “amor”
prometido pela Revolução Sexual nunca foi encontrado. O que houve foi
destruição; muitíssimos corações partidos, atados ao medo de mais so-
frimento, vidas, lares, sonhos desfeitos e ceticismo sobre a possibilidade
de amor. Este é o fruto podre da Revolução Sexual.

21- Catecismo da Igreja Católica, 1606.


32
A razão nos diz que, se o amor é o nosso mais profundo desejo e anseio,
a destruição do amor nos causará a maior dor e as feridas mais profun-
das. Assim sendo, por onde começamos? Onde é que vamos começar a
reconstruir? O que reparar em primeiro lugar?

Meus filhos e irmãos, devemos começar por nós mesmos.

Se eu voltar à analogia do atleta, vemos que nenhum campeão chega ao


topo sem disciplina na prática e treinamento para exercer a grandeza em
seu esporte. Ele tem que ser o mestre de si mesmo; tem que ter autodo-
mínio. Para o homem chamado ao amor conjugal, este autodomínio en-
contra o seu ponto culminante na virtude da castidade. Precisamos ver a
castidade masculina pelo que ela é. Frequentemente esta virtude é vista
em uma luz negativa, como algo débil. Isto não poderia estar mais longe
da verdade. A castidade é força e uma rejeição à escravidão das paixões.
Os cristãos sempre acreditaram que a castidade, no casamento e no celi-
bato, é uma libertação da escravidão do pecado e de nossas paixões.

Para entender a castidade, devemos entender Deus: “Deus é amor e vive


em Si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando à Sua
imagem […] Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vo-
cação e, consequentemente, a capacidade e a responsabilidade do amor e
da comunhão”.22 O amor que vivemos como homens é uma participação
e demonstração do amor de Deus. As mulheres, claro, como iguais em
dignidade, também demonstram o amor de Deus. No entanto, elas o fa-
zem de maneira diferente. Para ambos, homem e mulher, “a sexualidade
afeta todos os aspectos da pessoa humana, a unidade de seu corpo e de
sua alma. Particularmente diz respeito à afetividade, à capacidade de
amar e de procriar e, de maneira mais geral, à aptidão para o estabeleci-
mento de vínculos de comunhão com os outros”.23 Portanto, a virtude da
castidade nos permite aperfeiçoar e viver adequadamente este chamado
a ser homens de verdadeira comunhão. A virtude da castidade é a...

22- Catecismo da Igreja Católica, 2331.

23- Catecismo da Igreja Católica, 2332.

33
“... integração bem-sucedida da sexualidade na pessoa e, por ela, na
unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual. A sexu-
alidade, no que expressa a pertença do homem ao mundo corporal e
biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando está in-
tegrada na relação de pessoa a pessoa, no dom recíproco total e tempo-
ralmente ilimitado do homem e da mulher”24.

A castidade nos permite dominar e viver adequadamente esse chamado


para sermos homens de autêntica comunhão.

Deixem-me lembrá-los aqui as palavras cruciais de Jesus dizendo: “quem


olha para uma mulher desejando-a, já cometeu adultério com ela em seu
coração” (Mateus 5,28). Essas palavras me levam a um chamado especí-
fico de atenção sobre esses atos (equivocadamente) considerados como
“normais” e até mesmo encorajados pela cultura de hoje. Refiro-me à
pornografia e à masturbação. Os efeitos nocivos desses hábitos ocultos e
narcisistas treinam o homem de uma maneira que é exatamente oposta
ao amor. Ele aprende a usar os outros. Em vez do amor vivificante e da
autoentrega, contenta-se com prazeres egoístas e estéreis. Recordemos
as palavras de Jesus:

“Ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não cometerás adultério’. Eu,
porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma
mulher, já adulterou com ela em seu coração. Se teu olho direito é para
ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é preferível
perder um só dos teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado no
inferno. E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a
longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros,
a que o teu corpo inteiro seja atirado no inferno. (Mateus 5, 27-30).

Aqui, Jesus profeticamente se antecipa à pornografia moderna que ali-


menta a luxúria dos olhos. Jesus usa palavras fortes, hipérboles, para

24- Catecismo da Igreja Católica, 2337.

34
que os homens arranquem os olhos e cortem sua mão, para deixar claro
que é preciso agir com urgência. A pornografia não só coloca o homem
em perigo do inferno, ela também destrói os laços com sua esposa assim
como o adultério. Pensem na pornografia como não menos grave e tão
séria quanto o adultério. Tentando amar outra pessoa enquanto se pra-
ticam esses atos narcisistas, sem serem transformados pela misericórdia,
certamente isso implicará em graves danos.

Ao lutar contra as tentações pornográficas é importante considerar os


fatores que cercam a tentação. Para a maioria dos homens estes incluem
a solidão, o tédio, a raiva, a insegurança e o estresse. Apenas ao enten-
der o contexto da tentação e convidar a Deus para que envie Sua graça,
começaremos a superar as táticas do diabo. O Sacramento da Confissão
é o lugar de apoio e graça superabundante. Jesus disse: “Bem-aventu-
rados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mateus 5, 8).
Esta não é apenas uma promessa a respeito do Céu! Esta promessa
começa agora, em nossa vida diária. Os santos são testemunhas desta
verdade. Ao viver a pureza do coração, vocês, homens, não só verão
Deus nas mulheres de sua vida, mas também em vocês mesmos “a ima-
gem de Deus”!. Até mesmo quando a escuridão parece insuperável,
Cristo não nos abandona nunca. Como sacerdote, eu valorizo o encon-
tro na confissão honesta com aqueles que querem a cura do Senhor. É
uma bênção trabalhar com os homens na luta para mudar a maré do
amor falso para o verdadeiro.

Imaginem comigo o quão diferente seria o mundo para as nossas espo-


sas, irmãs e filhas se os homens vivessem essa força interior da castida-
de. Hoje em dia, ouvimos o alto índice de abuso sexual na sociedade,
especialmente nos campus universitários. Não é este o momento para
uma renovada castidade masculina? Não é este o momento para que os
homens produzam a virtude da temperança através do jejum e da oração
entre irmãos? Não é esta a hora de considerar com maior profundidade
a proclamação de São João Paulo II “Deus dá a cada homem a tarefa da
dignidade de cada mulher”.

35
A castidade masculina é “um trabalho que dura a vida inteira” que nos
daria orgulho empreender.25 Imaginem-se estar diante do trono de Deus
no dia do juízo. Os grandes santos do passado, que lidaram com o peca-
do à sua própria maneira, talvez dissessem um ao outro: “Nós lidamos
com as dificuldades da luxúria em nossos tempos, mas esses homens são
do século XXI. Estes poucos tiveram a dita de combater a besta muito de
perto!” Não só isso, teremos a alegria de ajudar os homens em torno de
nós a buscar o autodomínio, que é o melhor a ser feito entre irmãos. En-
corajo vocês a pôr de lado seus medos e inseguranças que os impedem
de levarem adiante a luta pela castidade. Cristo quer ajudar a formar os
homens de acordo com o Seu próprio coração, em cada confessionário
da Igreja, em cada Missa, onde o poder de Seu Sangue derramado na
Cruz é oferecido na Santa Comunhão.

A PATERNIDADE É ESSENCIAL

Agora tomemos a questão vital da paternidade. A paternidade muda a


história. No Evangelho de Mateus, quando “Abraão gerou Isaac; Isaac,
pai de Jacó; Jacó gerou Judá e seus irmãos”, quarenta e dois (42) pais nos
levaram a José, o pai adotivo de Jesus. Nas palavras de São João Paulo II,
a paternidade é essencial para o florescimento do mundo:

“Revelando e revivendo na terra a mesma paternidade de Deus (Efésios


3,15), o homem é chamado a garantir o desenvolvimento harmonioso e
unitário de todos os membros da família. Realizará esta tarefa através
de uma generosa responsabilidade pela vida concebida junto ao cora-
ção da mãe, um compromisso educativo mais solícito e compartilhado
com a própria esposa (Gaudium et Spes, 52), um trabalho que nunca
desintegra a família, com a educação, mas promove em sua unidade e
estabilidade, um testemunho de vida cristã adulta, que introduza mais
eficazmente os filhos na experiência viva de Cristo e da Igreja.”26

25- Catecismo da Igreja Católica, 2342.

26- Papa São João Paulo II, Familiaris Consortio, 25.

36
Todos os homens são chamados à paternidade de alguma forma:

Tornar-se pai e mãe significa realizar-se plenamente, porque é tornar-


-se semelhante a Deus. Isto não é dito nos jornais, não aparece, mas é
a verdade do amor. Tornar-se papai e mamãe nos torna muito mais se-
melhantes a Deus. Como pais, vós estais chamados a recordar, a todos
os batizados, que cada um, embora de formas diferentes, está chamado
a ser pai ou mãe.27

Como a própria masculinidade, talvez a paternidade não tenha sido ob-


jeto de ampla reflexão para os filósofos, porque sempre se presumia que
seu significado era óbvio. Mas, não. Em seu livro, Cruzando o Limiar da
Esperança, João Paulo II escreveu: “Esta é a chave para interpretar a re-
alidade… portanto, o pecado original tenta abolir a paternidade”.28 O
grande Papa diz aqui que quando examinamos o primeiro ato de deso-
bediência de nossos pais — que custou a eles e a nós a perda de nossa
inocência e a liberdade original da morte corporal — encontramos uma
rebelião básica contra a paternidade de Deus, um desejo de eliminar a
própria paternidade. Isto está no centro do plano do inimigo, eliminar o
nosso apoio em Deus Pai benevolente. Para conseguir isso, a principal
estratégia de Satanás é eliminar a paternidade humana, em que cada um
de nós vê as primeiras luzes do que é a paternidade de Deus.

O ataque à paternidade que vemos hoje, e também à maternidade, é


multifacetado e impressionantemente prejudicial. Hoje 41% das crianças
nascem fora do casamento, um aumento de 700% desde 1950, quando a
taxa de nascimentos fora do casamento era de apenas 6%. Estas crianças
ficaram sem pais não por causa de algum conflito desastroso, como a Se-
gunda Guerra Mundial, o que definitivamente causou muitas feridas de
orfandade. Pior ainda, trata-se de ausência voluntária do próprio pai em
uma escala maciça. A criança deve perguntar: “Onde está meu papai?”

27- Papa Francisco, Discurso de 14 de junho, 2015.

28- Papa São João Paulo II, Cruzando o limiar da esperança, Nova York, NY, Knopf, 1994,
228.

37
Qual é o impacto sobre o coração de uma criança, em sua compreensão
do mundo, do amor, e do Pai Celestial, quando a resposta a essa pergun-
ta é: “Ele nos deixou”, ou, “Eu não sei”, ou ainda, “Foi um doador em
um banco de esperma e não deixou nenhum endereço”?

Os homens católicos também contribuem muito com esse mesmo escân-


dalo, devastador para o coração de uma criança; e isso faz com que mui-
tas mulheres neste mundo vivam como se fossem viúvas! O coração de
uma criança sem pai chora para o Céu: “não despreza a oração do órfão,
nem os gemidos da viúva. … O Senhor não tardará e não terá paciência
com os ímpios, para quebrar o poderio dos impiedosos e dar seu mere-
cido às nações” (Eclesiástico 35, 14.18). Por que viúvas e órfãos expõem
suas queixas? Eles perderam seus protetores e provedores! Há um vazio
não natural no lugar daquele que foi chamado por Deus “para assegurar
o desenvolvimento unido e harmonioso dos membros da família”.29 É
por causa desta perda, desta lacuna, que sempre temos de forma natural
e tradicional, lamentada a falta de pais.

No entanto, na cultura de hoje, há aqueles que não querem ver a falta de


pais como algo lamentável ou não natural. Não se deixem enganar por
essas vozes que querem apagar as distinções entre mães e pais, ignoran-
do a complementaridade que é inerente à própria criação. Homens, sua
presença e missão na família é insubstituível; despertem e com amor
retomem o seu lugar, dado por Deus, como protetores, provedores e lí-
deres espirituais de seu lar. O papel de um pai como chefe espiritual da
família nunca deve ser entendido ou tomado como um domínio, mas,
sim, como uma liderança amorosa e orientação carinhosa daqueles sob
seus cuidados. Sua paternidade, minha paternidade, à sua maneira es-
condida e humilde, reflete de maneira imperfeita, mas segura, a Pater-
nidade de Deus Pai para aqueles que Deus nos deu para ser seus pais.

O que significa ser “pai”? O Papa Francisco, em uma reflexão sobre


a paternidade disse: “Quando um homem não tem esse desejo (pela

29- “Familiaris Consortio”, 25.

38
paternidade), algo está faltando neste homem, algo aconteceu. Todos
nós, para sermos plenos, para sermos maduros, precisamos sentir a
alegria da paternidade: até mesmo nós, celibatários. A paternidade é
dar vida aos demais, dar a vida, dar a vida”30. É por isso que a paterni-
dade — viver a vocação da paternidade, seja uma paternidade unida
pelo matrimônio físico ou espiritual, no sacerdócio ou na vida religiosa
— é essencial para que um homem viva a plenitude de sua existência
na vida. Falamos dos Padres da Igreja, os Padres do Deserto; falamos
ao Papa Francisco o Santo Padre, e por boas razões chamamos nossos
sacerdotes de “Padre”.

Para viver plenamente, todo homem deve ser um pai! Meus irmãos, não
podemos “ser como Deus”, e permanecer sem essa compreensão, sem
esse movimento do coração, seguido por uma ação decisiva. Se vocês
não abraçam a vocação esponsal e paterna que Deus planejou para vo-
cês, estarão presos na impotência da “semente” que se recusa a morrer,
que se recusa a dar a vida. Não se conformem com uma vida pela meta-
de! Sejam pais. A pergunta para um homem não é “Eu sou chamado a
ser pai?”, mas, sim, “Que tipo de pai sou chamado a ser?

Avôs, vocês são de grande importância

Desejo falar uma palavra para vocês que são avós. Poucas culturas es-
peraram pouco e mostraram tamanha indiferença para aqueles como
vocês que lutaram e agora têm sabedoria para oferecer a seus filhos e
netos. O mundo lhes diz que seu tempo para influenciar terminou e
que é hora de se aposentar, ou seja, renunciar a seu posto de paterni-
dade. Não acreditem nisso! Os avôs são muito importantes.

Tenho o privilégio de levar o nome de meus avôs, Thomas Tighe Ol-


msted e P. James Hughes. Além de meu pai, cada um dos meus avôs
foi um pai para mim. Meu avô Jim tirou forças de sua fé católica para
enfrentar com dignidade e esperança a morte prematura de sua esposa,

30- Homilia de 26 de junho, 2013.

39
minha avó, que morreu de câncer. Sem cair em desespero ou autopie-
dade, ele lutou com todas as suas forças para manter unida uma família
de seis, e para prover seus filhos. Desses, a mais jovem era minha mãe.
Tudo isso aconteceu durante o tempo difícil, que mais tarde se tornou
conhecido como a Grande Depressão. As memórias que mais valorizo de
meu avô Jim são o seu espírito pacífico, seu humor irlandês e sua sincera
devoção à Igreja. Meu avô Tom teve um impacto maior sobre a minha
vida, apesar de que nunca foi batizado. Ao lado dele, aprendi a cuidar
das nogueiras, cuidar de melancias e abóboras, cavalos e gado, galinhas
e porcos. Dentro de todas as atividades necessárias para sobreviver na
granja, aprendi com meu avô Tom e meu pai a importância de sermos
bons vizinhos, de dizer a verdade, não importa o quanto custe, e ter um
profundo respeito pela mãe natureza. Quando fui ordenado sacerdote,
eu escolhi uma frase bíblica para os convites de minha primeira Missa,
a qual capturou tudo o que eu aprendi com o meu avô. É do profeta
Miquéias (6,8), “Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor
reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes
com humildade diante do teu Deus”.

Avôs, vocês são um dom essencial e precioso para suas famílias, e eu os


encorajo a continuar sendo fortes, a partilhar sua visão, e a lutar por elas.
Lembrem-se do avô terreno de Jesus, São Joaquim, que viveu uma fiel
vida a Deus. Em seus anos avançados Deus Pai abençoou Joaquim e sua
esposa, Santa Ana, com o grande presente de Maria, nossa Mãe Santís-
sima. Que cada avô lembre que, mesmo quando a rotina diária pareça
insignificante, não conhecemos os grandes planos que Deus tem para os
últimos dias de nossas vidas.

Esperança nas sombras da paternidade perdida

E agora eu gostaria de dirigir algumas palavras para aqueles de vocês,


meus filhos, que sofreram em suas próprias vidas a ausência de um pai.
Há muitas razões pelas quais os homens deixam seu posto, ou mesmo,
permanecendo nele, estão distantes; e uma delas é a falta de uma expe-
riência positiva de paternidade em suas próprias vidas. A Igreja sempre

40
está chamada a revelar Deus Pai. Essa ferida em seu coração pode ser
que ainda não esteja fechada. Certamente, a ausência de um pai nunca é
o plano de Deus. Mas não desanimem e não percam a esperança. Permi-
tam que Cristo lhes mostre o Pai que nunca abandona Seus filhos, mas
que até mesmo ofereceu o Seu próprio Filho amado. Se vocês ainda não
tiverem feito isso, Cristo os guiará para ver seu pai como Ele o vê. Ele
não os deixará sem a graça necessária para perdoar e curar o seu pai. Isso
poderia acontecer em conjunto com as graças oferecidas por seus pais es-
pirituais, seus sacerdotes no Sacramento da Reconciliação. Ao descobrir
a paternidade de Deus, nosso amoroso Pai Eterno, serão testemunhas do
único pai que nunca falha31.

Finalmente, quero oferecer uma palavra especial para aqueles homens


que sabem que falharam em sua paternidade, que, em certo grau, somos
cada um de nós. Isso pode acontecer por dependência, abandono, confli-
tos conjugais, desprendimento emocional e espiritual, incapacidade de
orientar a família na fé, aborto, abuso físico ou emocional ou infinitas
maneiras nas quais obscurecemos a imagem de Deus, o Pai amoroso. Eu
me apresento diante de vocês como um pai imperfeito que pede a Deus
Pai que preencha os espaços deixados vazios na missão masculina maior
de todas. É muito importante identificar a tática do inimigo de trazer o
desespero para que abandonemos nossa paternidade por completo por
nossos pecados. Meus filhos, nunca desistam! Rezem e sejam renovados
no sacramento da Reconciliação. Cristo nos fortalece na Confissão e na
Eucaristia para nos dedicarmos a reconstruir a paternidade da maneira
que seja possível.

31- Adaptado de Evangelium Vitae, 99.

41
Conclusão: Enviados por Cristo

O melhor amigo de São Gregório de Nissa era São Basílio. Quando eles
eram jovens em seus vinte anos, sua busca pessoal em direção a uma
compreensão mais profunda da fé cristã os levou a Constantinopla por
caminhos separados. Logo eles desenvolveram um profundo respeito
mútuo, que Gregório descreveu da seguinte maneira: “Se isto não é mui-
to para eu dizer, fugimos à regra e ao modelo de cada um através do qual
aprendemos a distinção do que é certo e do que não é.”32 Sua amizade
inspirou cada um a crescer em virtude e liberdade, menos preocupação
para com eles mesmos e mais dispostos a colocar suas vidas no serviço
aos outros. Espero que cada homem ao ler esta exortação experimente,
se ainda não tiver feito isso, a bênção de bons amigos como estes santos.
Não posso imaginar o que seria da minha vida sem os bons amigos que
Deus me deu.

Espero também que tomem o que é útil nesta mensagem, levem consigo
diante do Senhor em oração; e sigam adiante confiantes em sua vocação
masculina. A nossa vida em Cristo não é uma vida de “o que fazer” e “o
que não fazer”; é sim uma aventura na verdadeira liberdade. Abracem
essa liberdade para colocar suas vidas a serviço de Cristo, começando
em seu lar e irradiando-a para o mundo.

32- “Sobre São Basílio o Grande”, Oratoria Funeraria (Os Padres da Igreja, Vol. 22), 27

42
Onde está a fé de nossos pais hoje?

Enquanto escrevo esta exortação, tornaram-se públicos uma série de ví-


deos que documentam as práticas bárbaras da venda de partes de corpos
de bebês pela Planned Parenthood. Como esta agência infame recebe a
cada ano cerca de meio milhão de dólares do governo dos EUA para
continuar sua matança aos inocentes, nenhum cidadão americano, e, cer-
tamente, nenhum de nós homens podemos permanecer calados diante
desta deformação de nossos tempos. Temos que parar de ficar à margem,
temos que nos levantar e ir em frente em defesa da vida. Precisamos de
fé como a de nossos pais que defenderam os filhos das gerações passa-
das, e que deram a sua própria vida antes do que abandonar sua fé em
Cristo. Meus filhos e irmãos, homens da Diocese de Phoenix! Precisamos
nos manter firmes na brecha!

Os mártires católicos da Inglaterra inspiraram a Frederick W. Faber a es-


crever o hino “A Fé de Nossos Pais” em 1849. Assim como Faber prestou
homenagem aos homens que se recusaram a negar Cristo “apesar de ca-
labouços, fogo e espada”, ele também fez uma chamada às armas para os
homens das gerações seguintes. Unam-se a mim em oração para que tam-
bém nós, homens do século XXI, façamos nossas as palavras deste verso:

“Nossos pais, acorrentados em prisões de escuridão,


Estavam ainda em coração e consciência livres
Quão doce seria o destino de seus filhos
Se eles, como eles, pudessem morrer por Ti
Fé de nossos pais, santa fé!
Seremos fiéis a ti até a morte”.

Promulgado na Festa dos Arcanjos, 29 de setembro de 2015.

+ Thomas J. Olmsted
Bispo de Phoenix
_____
Tradução: Pedro Miranda

43
F irmes na B recha

www .firmesnabrecha.com.br

Você também pode gostar