Artigo TEA Luana Chave
Artigo TEA Luana Chave
Artigo TEA Luana Chave
Resumo
O presente artigo teve por finalidade, a verificação de como é realizada a inclusão de alunos
diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista - TEA nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Verificar de que forma ocorrem as adaptações nas atividades pedagógicas e
procurar conhecer a visão das docentes referente a essa temática. Por sua vez, a pesquisa foi
realizada de maneira descritiva com referencial teórico previamente analisado. Como técnica
de coleta de dados, foi utilizado um questionário semiestruturado onde os resultados foram
analisados de forma qualitativa. Devido a pandemia do Coronavírus - Covid 19, a pesquisa
ocorreu on-line onde foram utilizados como recursos tanto os e-mails quanto mensagens via
WhatsApp. Houve a participação de três docentes, regentes de turmas, onde havia a presença
de alunos com autismo. No decorrer do estudo, foi possível verificar que as professoras
adaptaram e criaram atividades para esses escolares, como também, denotamos seus respectivos
empenhos em fazer com que os educandos se sentissem acolhidos na turma. Constatou-se que
as educadoras não utilizaram os métodos específicos de intervenção pedagógica, pelo contrário,
fizeram uso dos recursos disponíveis na escola e de seus próprios. Professores usaram
criatividade e bom senso, no sentido de melhorar e incentivar o desenvolvimento acadêmico
dos discentes, público-alvo desse trabalho. Acredita-se que o presente instrumento de estudo,
servirá de apoio às futuras pesquisas sobre autismo, relevante e atual tema. No contemporâneo,
que sirva de embasamento e incentivo para ofuscar o sistema vigente, no sentido que todos
venham a se adequar na perspectiva de educação com qualidade para todos. Que essa
experiência quanto a inclusão, possa servir como divisor de águas, para o ingresso dos alunos
em estudos paralelos ou em nível superior de ensino.
Introdução
Consideram-se os princípios do Art. 3º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - Lei nº 9.394/96, todos os alunos possuem igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola; bem como em seu Art. 4º os alunos com deficiência e outros transtornos
tem direito de acesso gratuito ao Atendimento Educacional Especializado, preferencialmente
1
Acadêmica do curso de Pedagogia UAB – UNICENTRO/Irati. E-mail: luanaxmrs@gmail.com
2
Professora do Curso de Pedagogia presencial e a distância da UNICENTRO – Irati. E-mail:
miriamadalgisa@terra.com.br
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na rede regular de ensino. É notória a crescente demanda da oferta da matrícula de crianças com
algum tipo de deficiência e/ou transtorno na Educação Básica (BRASIL, 1996).
Para Cunha,
o termo autismo origina-se do Grego autós, que significa “de si mesmo”. Foi
empregado pela primeira vez pelo psiquiatra suíço E. Bleuler, em 1911, que
buscava descrever a fuga da realidade e o retraimento interior dos pacientes
acometidos de esquizofrenia. O autismo compreende a observação de um
conjunto de comportamentos agrupados em uma tríade principal:
comprometimentos na comunicação, dificuldades na interação social e
atividades restrito-repetitivas (CUNHA, 2017, p. 20).
Na escola, o aluno com autismo se encontra dentro das ações previstas para
crianças e adolescentes portadores de Necessidades Educacionais Especiais
(NEE), que, além de ter a aprendizagem como meta a ser alcançada, traz em
sua proposta a integração desses estudantes com os alunos típicos, para que
estes saibam respeitar as limitações de quem tem autismo e favorecer sua
presença na escola, interagindo com eles, protegendo-os de momentos
socialmente críticos, desenvolvendo empatia e criando uma nova cultura
(BRITES; BRITES, 2019, p. 137).
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Asperger usou a nomenclatura autismo para identificar autistas leves e com boa capacidade
funcional, o que originou a terminologia conhecida atualmente como Síndrome de Asperger
(BRITES; BRITES, 2019; GOMES, 2014).
De acordo com a nova nomenclatura proposta pelo DSM V (APA, 2013), esse grupo de
pessoas passou a ser identificado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e se constitui
como um espectro com especificidades que revelam o nível de apoio que a criança necessita.
Whitman descreveu as principais características do autismo
O diagnóstico dos indivíduos com TEA, muitas vezes só ocorre quando a criança
ingressa na escola ou quando essa pessoa já é adulta. Fase esta em que os sintomas tornam-se
mais evidentes e intensos e que podem retardar as intervenções definitivas do seu futuro.
Portanto, quanto antes for diagnosticada e iniciada uma intervenção, maior será a chance dessa
pessoa desenvolver suas habilidades, minimizar os sintomas do quadro e ser inclusa
socialmente (BRITES; BRITES, 2019).
Brites e Brites (2019), relatam que nos dias atuais, estima-se que aproximadamente 1%
da população mundial tenha autismo. Neste recorte geográfico, milhões delas residem no Brasil
e grande parte destes brasileiros não encontram profissionais, intervenções adequadas ou não
recebem o diagnóstico específico. O referencial teórico firma ainda, que muitas famílias não
possuem condições financeiras de procurar ajuda médica particular e, assim, dependem de
consultas e tratamentos pelo SUS, o que os leva a esperar consultas ou exames por tempo
indeterminado. Nestes casos, é relevante que haja um diagnóstico precoce, assim como
necessário um trabalho em conjunto de múltiplas áreas que envolvam a saúde, educação e
família. Igualmente, de suma importância que haja o reconhecimento que atentem as
caraterísticas do autismo o mais cedo possível. Mais necessário do que o diagnóstico, é a
intervenção imediata.
Até o momento, não existe cura para o autismo, porém, há tratamentos que minimizam
seus sintomas e efeitos, oportunizando uma melhor qualidade de vida do indivíduo. As
intervenções multidisciplinares para pessoas com autismo contam com as áreas de
fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia, pedagogia, psiquiatria, terapia ocupacional, entre
outros (GADIA; BORDINI; PORTOLESE, 2013). Mesmo com vários avanços, esses serviços
no Brasil são limitados, o que mobiliza a maioria dos pais a matricularem seus filhos nas
AMA’s, APAE’s ou clínicas particulares, pois essas, além de proporcionarem as intervenções
terapêuticas, ainda ofertam ensino acadêmico (BRITES; BRITES, 2019).
Desde quando a inclusão foi estabelecida, está propensa a ser fortalecida no decorrer do
tempo, a fim de garantir a todos, direitos iguais à educação e cultura, num meio educacional em
que eles podem participar e aprender sem qualquer tipo de preconceito. Refletir sobre educação
inclusiva vai muito além do ato de inserir pessoas com diagnóstico de TEA em sala de aula
comum. Indispensável a preparação constante do ambiente e dos professores no que tange a
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inclusão, aceitação e permanência destes alunos. Logo, a capacitação, formação continuada dos
docentes e equipe de apoio e aperfeiçoamento é um dos principais caminhos para que a inclusão
seja concretizada e expandida.
Costa (2006), com base nos estudos de Vygotsky, esclarece que, para esse autor, os
objetivos da educação especial deveriam ser iguais aos do ensino comum, ou seja:
Ademais, Costa (2006) ressalta que, para Vygotsky a pessoa com deficiência ou limites,
caso de fato o apresente, não se deveria exaltar o déficit e, sim as possibilidades de
aprendizagem. Muitas vezes, a dificuldade, o limite e a deficiência são “amuletos” para
justificar uma educação de má qualidade, discriminatória e excludente. Há de se ter outro olhar
para esses educandos com necessidades especiais num mundo diferente, partindo-se da parte
para o todo, do aluno para a escola.
Desta forma, nenhum aluno, independente de cor, etnia, religião, classe social ou
deficiência deve ser menosprezado ou deixado de lado, eles podem e devem ter atividades
diferenciadas, mas evitando a fuga da realidade educativa da turma. Todos na escola,
principalmente a classe docente deve se atentar para as necessidades de seus educandos, visando
sempre um desenvolvimento afetivo e acadêmico deste indivíduo, produzindo sempre que
necessário, os materiais adaptados a cada situação, com imagens ilustrativas coloridas, com
textos que apresentem linguagem clara e objetiva, principalmente no caso de escolares com
autismo, deve-se evitar deixar “palavras soltas”, nas entrelinhas. O aluno precisa entender o
objetivo para depois executar a atividade (CUNHA, 2017).
Adaptação curricular
Sobre adequações curriculares, Aranha (2003) destaca:
É imprescindível, para que haja uma efetiva inclusão do aluno com autismo, que a escola
esteja adaptada para recebê-lo, em termos de estrutura física e de profissionais capacitados,
desde o professor até os cuidadores do pátio. Todos na escola, sem exceção devem conhecer o
espectro autista e suas especificidades, levando-se em consideração que nenhum aluno com
TEA é igual ao outro (BRITES; BRITES 2019). Vale ressaltar a importância, de que tão logo
o aluno com autismo (ou com outro transtorno) ingresse na escola, faça-se uma avaliação
inicial, a fim de descobrir seus conhecimentos prévios e suas especificidades, planejando uma
adaptação curricular para melhor atendê-lo.
Brites e Brites destacam que:
Nessa perspectiva, a escola deve estar aberta a discussão direcionada com os pais e/ou
responsáveis destes alunos, para que se sobressaiam quais suas maiores dificuldades, suas
habilidades, conhecimentos que possuem, bem como seus receios, fobias, restrições alimentares
e uso de medicamentos, gerando com esse compartilhamento, o conhecimento e integração
entre afins (CUNHA; ZINO; MARTIM, 2015). É de extrema importância também, que a
entidade possua instrumentos adaptados, materiais pedagógicos específicos e brinquedos para
uso deste aluno, currículo pedagógico adaptado e flexível a mudanças se necessário. Brites e
Brites (2019), afirmam que deve haver diálogo entre equipe pedagógica, equipe multidisciplinar
e pais, buscando sempre um melhor atendimento e desenvolvimento do educando.
Vale ressaltar que os profissionais que atendem esse aluno precisam ser
diferencialmente e altamente qualificados. Freire (2005) afirma que é fundamental que os
profissionais das escolas inclusivas tenham uma formação especializada para que possam
conhecer as características e as possibilidades de atuação com esses educandos. O estado,
município ou a escola se forem privadas, devem promover capacitações/formações continuadas
para que seus funcionários estejam atualizados em termos de manejo com esse aluno e
adaptações pedagógicas, visto que não somente educandos com autismo necessitam de um
currículo adaptado, mas com outros transtornos e deficiências devem-se ter cuidados especiais.
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Destacando, que os docentes precisam sempre buscar formações para atender este público que
aumenta continuamente.
Brites e Brites (2019) argumentam que um grande problema na inclusão escolar do
educando com autismo, é a dificuldade que educação e saúde apresentam em caminharem
juntas, pois não se faz somente necessário que haja profissionais capacitados na escola, como
equipe pedagógica, docentes e demais funcionários. É de suma importância que profissionais
da saúde como terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e psicólogos adentrem a escola, num
diálogo com embasamento teórico para contracenarem com pais, cuidadores e todos que tenham
contato com esses alunos. Por meio da inclusão e unidos no objetivo comum, todos podem se
ajudar, melhorando assim a forma de inserir e incluir pessoas com autismo na escola e na
sociedade.
Com base nesta dificuldade de trabalho em conjunto, ou até mesmo os dois serviços de
apoio em um único lugar, é que muitos pais optam por matricularem seus filhos em instituições
particulares ou privadas, como é o caso das APAEs, que prestam serviços educacionais na
modalidade de Educação Especial e terapêuticos para alunos com transtornos e outras
deficiências, salvo ser um serviço gratuito. Com isso, muitos alunos conseguem ter um ótimo
avanço, tanto comportamental quanto educacional, logo encaminhados para o ensino regular.
Vale lembrar, que nem todos os alunos inclusos no ensino regular conseguem acompanhar os
demais pares de sua idade. São denotados como casos mais severos do transtorno. Desta forma,
acabam por regressar para as instituições anteriores (BRITES; BRITES, 2019).
Cunha frisa:
O currículo pedagógico deve ser funcional, bem como ter como objetivo a aquisição dos
conhecimentos acadêmicos, leitura, escrita e matemática, deve incentivar a autonomia dos
educandos com necessidades educacionais especiais, antes de tudo, esse aluno precisa se
comunicar, seja verbalmente, por meio de gestos ou por figuras. Aprender a ir ao banheiro
sozinho, vestir-se adequadamente, ter noções básicas de autocuidado (CUNHA, 2017).
Considerando a importância de todos esses objetivos, destaca-se a necessidade de haver um
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professor de apoio para esse alunado, visto que somente o regente de classe não consegue dar
a atenção que o aluno com TEA ou com outro transtorno precisa, para obter um bom rendimento
acadêmico. Entretanto, o professor de apoio não substitui o docente regente, mas é o indivíduo
que dá suporte a ele, não o isentando de ter suas mesmas habilidades.
A partir da necessidade de adaptações pedagógicas, destaca-se como uma intervenção
eficaz, o método TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits
Relacionados com a Comunicação), o qual segundo Brites e Brites (2019, p.124) “[...] é
direcionado aos processos educacionais e enfatiza o trabalho integrado entre pais e
profissionais, adaptando as intervenções de acordo com as características de cada um e usando
formas de ensino estruturado”. Neste modelo, os alunos precisam ser avaliados com a
finalidade de verificar suas limitações, para logo após, estruturarem um currículo adaptado para
cada aluno, com base em suas dificuldades. Os docentes precisam estar atentos para perceber
os comportamentos inadequados dos educandos, sendo flexíveis em suas intervenções
(BRITES; BRITES, 2019).
O uso das PECS (Sistemas de comunicação alternativa e/ou por figuras) também é uma
opção para os alunos que apresentam dificuldades na comunicação ou ausência dela. Muitos
indivíduos com autismo por não conseguirem se expressar de maneira clara, demonstram
agressividade consigo e com os demais colegas. Assim, torna-se necessário o uso de materiais
de comunicação alternativa, para que de forma simples, os estudantes consigam se expressar
em relação às suas necessidades sociais e acadêmicas (BRITES; BRITES, 2019).
No sistema de comunicação alternativa, são utilizados vários componentes integrados
tais como: símbolos, materiais, técnicas, desenhos, fotos, códigos e sinais, ajudando a criança
a se comunicar de maneira simples, permitindo que a mesma não se sinta excluída e
incompreendida, além de desenvolver um vínculo entre mediador e o aluno. Conforme
explicação de Brites e Brites (2019, p.126), o PECS “[...] envolve princípios de comportamento
verbal e estratégias de reforçamento até alcançar a comunicação independente”. Ressaltando
que esse método, não inibe o desenvolvimento da fala da criança, ao contrário, ele estimula a
comunicação da criança com autismo.
Considerando a diversidade de métodos de intervenção eficazes para educandos com
autismo, destacamos que muitos deles necessitam de capacitação para aplicá-los, pois são mais
complexos e muitos municípios ainda não ofertam os materiais necessários, bem como
formação para seus profissionais, ficando a cargo de cada um ir em busca de cursos da área.
Desta forma, em termos de adaptação curricular, o docente mesmo possuindo poucos recursos
disponíveis para auxiliá-lo no processo de ensino aprendizagem de seus alunos, pode ofertar
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adaptações pedagógicas simples que facilitará o entendimento do aluno com TEA, como:
ampliar atividades na folha, propor textos com linguagem simples e direta, imagens nítidas e
coloridas, utilizar material concreto na realização das atividades, especialmente nas operações
matemáticas, explorar os recursos tecnológicos, verificar a textura das folhas, pois alguns
alunos com autismo apresentam sensibilidade tátil, e adaptar o lápis/caneta, para alunos com
dificuldade na coordenação motora fina, utilizando lápis com espessura mais grossa, ou
adaptando com um pedaço de E.V.A., por exemplo, facilitando assim seu manuseio. O docente
também pode desenvolver uma rotina do período de aula, com figuras coloridas relacionadas à
sequência das atividades ao longo do dia. Outra forma simples de trabalhar os conteúdos, é
relacionando-os com o cotidiano do aluno e, sempre, durante a realização das tarefas propostas,
deve elogiar os educandos, respeitando sua temporalidade, acreditando em seu potencial,
demonstrando carinho e afeto e parabenizando-os pela conclusão. Assim, lapidamos alunos que
acreditam em si mesmos, que se esforçam e conquistam seus objetivos.
Método
A presente pesquisa teve cunho descritivo e a técnica de coleta de dados utilizada foi
por meio de um questionário devidamente elaborado. A forma de análise dos resultados foi
qualitativa (LEITE, 2008).
O estudo foi desenvolvido em uma escola pública localizada em um município da região
oeste do estado do Paraná. Participaram da pesquisa três professoras, as quais foram
identificadas como “P1”; “P2” e “P3”. Em relação ao tempo de atuação das participantes,
percebeu-se que a média varia de quatro a vinte e sete anos de trabalho na área escolar, onde
todas exercem função em turmas de Anos nicias do Ensino Fundamental e possuem na
matrícula escolar um aluno com autismo no ensino comum (grau leve a moderado). Referente
a formação acadêmica, as professoras “P2” e “P3” possuem graduação em Pedagogia e
especialização, a docente identificada como “P1” possui Curso de Formação de Docentes e
atualmente está cursando o primeiro ano de Pedagogia.
Devido ao momento atual da pandemia da Covid-19, o percurso metodológico
percorrido para chegar as participantes desse estudo foi inicialmente por meio de contato
telefônico com a Coordenadora de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação do
município, solicitando anuência a realização da presente pesquisa. Mediante a autorização para
a continuidade, foi realizado contatos, via aplicativo de mensagens, com as professoras dos
alunos com autismo matriculados no ensino comum. Após a identificação da pesquisadora e
apresentação das intenções da pesquisa e recebida a afirmativa das docentes, foi enviado em
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seus respectivos e-mails o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido bem como questionário
em anexo.
Para realização da coleta de dados da pesquisa foi utilizado o e-mail, enviado para as
docentes o arquivo com questões referentes o processo de inclusão desses alunos, os meios
utilizados para adaptação curricular etc.
Foi elaborado um questionário, sendo dividido em duas partes. A primeira com questões
referentes a identificação das participantes, tempo de atuação e formação, e a segunda, contendo
questões sobre a inclusão dos alunos com transtorno do espectro autista.
Os recursos utilizados para execução da pesquisa foram o celular, via aplicativo
WhatsApp e computador com acesso à internet. Desta forma, o questionário foi enviado no e-
mail das professoras, com período de devolução entre quinze dias. Neste espaço de tempo, a
pesquisadora ficou à disposição das participantes para esclarecer possíveis dúvidas em relação
ao mesmo. Os resultados foram organizados e analisados de maneira qualitativa com base nos
autores estudados na fundamentação teórica dessa pesquisa.
Diante do contexto pandêmico e da dificuldade de alguns encaminhamentos destaca-se
que essa pesquisa não tramitou junto ao Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da
Universidade Estadual do Centro-Oeste. Contudo, salienta-se que a mesma obedeceu às normas
de biossegurança, assim como guardando o sigilo ético e os riscos contidos no presente estudo
foram de baixa gravidade. Ademais, a participação nesta pesquisa não expôs em risco a saúde
física ou a integridade pessoal; tampouco, as participantes foram colocadas em situações
constrangedoras ou de desconforto psicológico, uma vez que tiveram a total liberdade de se
recusar a participar da pesquisa, sem que sofressem qualquer tipo de constrangimento ou
qualquer tipo de perda em algum aspecto de sua vida familiar ou profissional.
Resultados e Discussão
Sampaio e Sampaio (2009, p. 45) destacam a importância da formação acadêmica para
docentes de alunos com deficiência “[...] a complexidade envolvida neste processo reforça a
importância da formação de professores, o que se torna um fator chave para propiciar as
mudanças exigidas pela educação inclusiva [...]”.
Quando indagadas sobre como se sentiram em relação a chegada do aluno com TEA em
sua sala de aula, as docentes “P1” e “P2” afirmaram que em um primeiro momento, se sentiram
inseguras, com medo de não conseguirem realizar um bom trabalho com o aluno. Com o passar
do tempo, elas foram se familiarizando com as especificidades e potencialidades inerentes e se
portaram com maior segurança. A docente “P3” afirmou: “senti a mesma emoção/carinho que
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sinto em relação a todos os meus alunos”. Complementando “essa é uma tarefa desafiadora,
mas é importante que cada profissional da educação tenha plena convicção de seu importante
papel na busca do respeito às diferenças e de uma sociedade mais justa e humana”. Pontuamos
a citação, para comprovar que o que leva o profissional da área a se fortalecer em seu trabalho
contínuo, é o seu amor e dedicação em prol do ser humano.
Cunha (2017) afirma que, certas indagações como o receio das docentes “P1” e “P2”
em relação ao ensino do aluno com autismo, são normais e que demonstram o desejo de executar
uma educação prazerosa, com qualidade social, acadêmica e afetiva, oportunizando mais
autonomia. O autor afirma que “[...] Para além das nossas atribuições de ensinantes, estará a
nossa capacidade de educar pelo amor e pelo exemplo” (CUNHA, 2017, p.13).
As três participantes afirmaram, que recebem apoio da Secretaria Municipal de
Educação por meio da Equipe Multidisciplinar, no que tange às intervenções pedagógicas e
trato especial com o estudante com autismo. O que é de extrema importância, pois essas pessoas
precisam de apoio, orientação e capacitação, principalmente os docentes iniciantes, visto que
muitos são contratados por meio de teste seletivo ou estagiários que estão cursando a primeira
graduação, logo sem possuir nenhuma experiência. Ressalta-se a importância de estudos e
formação continuada, a fim de qualificar e capacitar todos os professores e equipe escolar, o
que abarca também o quadro de funcionários em sua totalidade.
Mantoan (2003) destaca:
Questionadas sobre como ocorre a inclusão dos alunos com Transtorno do Espectro
Autista em seu meio escolar, todas relataram que contam com o apoio de uma auxiliar de sala,
também afirmam que a inclusão é uma tarefa desafiadora e cativante. Explicaram que suas salas
são organizadas, com rotinas visuais a fim de minimizar o nível de ansiedade dos respectivos
alunos. Procuram utilizar linguagem clara e simples, com o diferencial de manter contato direto
ou visual com esses alunos, com o intuito de incentivá-los na execução das atividades,
afirmando que são capazes de realizá-las. Essa prática é afirmada por Cunha (2017) ao dizer
que as ordens do docente necessitam ser objetivas e terem suas devidas funções para que o
aluno as entenda.
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Em relação a forma que as professoras procuram ensinar seus educandos com autismo,
as participantes frisaram que adaptam as atividades conforme seu nível de complexidade, com
uso de recursos visuais como apoio para melhor entendimento do conteúdo, além de praticarem
objetivamente a manipulação de material concreto. Relatam que o conteúdo/planejamento é o
mesmo para todos os educandos, adaptado para o aluno com TEA com algumas atividades
extras ou simplistas, conforme a necessidade imergente. Como recursos utilizados elencaram:
ampliar a atividade na folha, inserir imagens para facilitar a compreensão de algumas palavras
e frases desconhecidas, fazer uso de material manipulável e utilizar vídeos durante explicação
das atividades mais complexas.
Apenas a professora “P3” relatou que seu aluno com autismo, além de frequentar o
ensino regular, é atendido no contra turno no Atendimento Educacional Especializado. Desta
forma, consegue ter um apoio individualizado e trabalhar as dificuldades em conteúdos
específicos, de forma mais agradável e lúdica. Para Cunha (2017) todas as escolas inclusivas,
sem priorizar o grau de severidade do transtorno, devem ofertar em sala de aula inúmeros
recursos, disponibilizando um atendimento educacional especializado para alunos com TEA
e/ou com dificuldades acadêmicas, propiciando ao estudante maior nível de socialização, o que
favorece um avanço pedagógico significativo e gera a diminuição de seu nível de ansiedade e
dificuldades tanto no meio escolar comum, quanto na família e no seu meio social.
As entrevistadas enfatizaram que elas não apressam os alunos, pois respeitam seu
próprio tempo quanto ao seu desenvolvimento das atividades em sala. Cunha (2017); De Marco,
Spalato e Duarte (2013) indicam que as atividades propostas para alunos com autismo sejam
realizadas de maneira suave, sem pressa, permitindo que o estudante observe e se concentre nas
mesmas. O autor ainda destaca “[...] o aluno com autismo não é incapaz de aprender, mas tem
uma forma peculiar de responder aos estímulos, culminando por trazer-lhe um comportamento
diferenciado [...]” (CUNHA, 2017, p. 68).
Destacando a importância de adaptações pedagógicas para alunos com TEA, e a situação
atual que passamos com a pandemia do Coronavírus, a docente “P2” informou: “mesmo agora
com as atividades remotas, ele recebe as mesmas atividades que a turma, mas em anexo há
também um planejamento com atividades diferenciadas. Por exemplo, na aula que trabalhamos
a adição, ele recebeu um jogo que trabalhou a adição de forma concreta, primeiro ele fez o jogo,
depois ele realizou as atividades da turma”.
Por conseguinte as formas de adaptação dentro da sala de aula e nas atividades
acadêmicas mencionadas, tais práticas são confirmadas por Brites e Brites (2019, p. 152) “[...]
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via de regra, os autistas têm maior capacidade de memorização e aprendizagem quando usam
caminhos visuais planos, apoio em elementos concretos e por meio de aprendizagem sem erro”.
Além das adaptações, faz-se necessário avaliar constantemente o aprendizado do aluno,
sempre buscando um melhor desenvolvimento acadêmico. As participantes são questionadas
sobre as dificuldades dos alunos em relação a realização das atividades e se utilizam métodos
específicos. Por sua vez, a professora “P3” não comentou nenhuma dificuldade do aluno,
relatou que não utiliza método específico de ensino, mas que as atividades propostas são
criteriosamente pensadas sobre as habilidades do estudante, utilizando todos os recursos visuais
e concretos disponíveis na escola, bem como os materiais que ela mesma confecciona, visando
expandir o conhecimento dos alunos, acerca dos conteúdos propostos.
A entrevistada “P2” afirmou que seu aluno com autismo “apresenta boa oralidade e
leitura” e que possui bom nível de compreensão, por outro lado, afirma que ele “apresenta
dificuldades motoras e resistência em registrar as atividades”. Com base nesse relato, é válido
destacar que muitos autistas possuem baixa habilidade na escrita, pois apresentam dificuldades
na coordenação motora fina e sensibilidade em manusear o lápis/caneta. Neste caso, “[...] pode-
se usar lápis mais grossos, com antiderrapantes, e folhas com a superfície mais áspera. O
professor pode ajudar adotando meios mais rápidos e objetivos de transmissão do conteúdo,
sem a necessidade de cópia e oralizando mais [...]”. (BRITES; BRITES, 2019, p. 159).
Considerando o referencial teórico contido neste texto, destaca-se que cada pessoa com
autismo é única e suas habilidades e dificuldades não são as mesmas dos demais (BRITES;
BRITES, 2019; MELLO, 2013). As professoras “P2” e “P3” afirmaram que seus respectivos
alunos sofreram muito com a mudança das docentes e auxiliares no início do ano letivo,
apresentando dificuldades de adaptação escolar, necessitando frequentemente de intervenção e
incentivo para concluir as atividades propostas. Brites e Brites (2019) indicam que os pais
devem apresentar a escola para seus filhos antes do início do ano letivo, para que assim os
mesmos já se familiarizem com o ambiente, bem como já conheçam suas respectivas docentes.
Também deveriam permanecer em sala de aula durante algumas horas no início do ano letivo
para ajudar a criança a se adaptar com a turma e vice-versa.
A docente “P1” afirmou que “é utilizado um brinquedo como recompensa após o aluno
realizar as atividades propostas, ficando contente em ganhar o brinquedo e ser parabenizado
pelas professoras por concluir as atividades”. Tal incentivo verbal feito pelas docentes, além
da troca do brinquedo pela realização das tarefas, motiva o discente na execução das mesmas.
De tal maneira, Cunha (2017) fundamenta essa ação explicando:
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Considerações finais
As participantes deste estudo relataram que a inclusão do aluno com autismo ou com
outro transtorno/deficiência é uma tarefa desafiadora, exigindo do docente muito empenho e
dedicação em sua ação. Destaca-se desta forma, a importância da capacitação dos profissionais
que atendem esses educandos, principalmente os que possuem contato direto com os mesmos.
As professoras precisam identificar as características do transtorno, bem como descobrir as
habilidades e dificuldades do escolar com autismo. Assim como conhecer as formas de
intervenção e possíveis adaptações em sala de aula e nas atividades curriculares propostas para
esses educandos. A característica fundamental desse professor é ser comprometido com a causa
e apaixonado pelo tema, o que o leva a constante pesquisa a fim de maximizar as chances de
compreensão dos alunos.
Constatou-se que a inclusão dos alunos com autismo, ocorre de forma gradativa, salvo
algumas dificuldades na área pedagógica como: registro das atividades, necessitando de
intervenção constante das docentes, além de, em alguns casos, ser necessário utilização de troca
de brinquedo pela execução das tarefas. As salas de aula são deveras numerosas, desta forma,
as docentes regentes contam com o apoio de uma auxiliar, que fica exclusivamente durante todo
período de aula intervindo com o aluno com TEA. Observou-se também o empenho das
professoras envolvidas, com sua didática clara e objetiva. Além de demonstrarem carinho pelos
educandos, incentiva-os na execução de todas as atividades propostas com sábia autonomia e
presta orientações verbais e manuais sempre que se faz necessário.
As docentes durante as explicações utilizam recursos diversos em suas aulas, tais como:
figuras coloridas e vídeos, ampliação do tamanho das atividades na folha, para melhor
visualização do autista, uso de material concreto com rotinas visuais em forma de desenho,
desta forma, na ânsia de minimizar sua ansiedade com relação à sequência das aulas. Em
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resposta a esse trabalho, comemoram que não precisaram utilizar, até o presente momento, o
método de intervenção pedagógica, o que é de certa forma gratificante.
Destaca-se que alunos precisam ser avaliados para então ser desenvolvido um currículo
adaptado que venha suprir suas necessidades, com base em suas dificuldades, contando com
docentes atentos a qualquer sinal de regressão e/ou avanço acadêmico. Há nos dias atuais
muitos métodos de intervenção eficazes, porém, requerem domínio, demandam de capacitação
e preparo, pois existem muitos profissionais da área da educação com dificuldades complexas
para executarem, os educadores necessitam de uma rede de apoio que muitas vezes não existe
na prática.
No que se refere ao tema proposto, cumpriu-se todos os objetivos traçados, onde se
percebe o avanço da inclusão de alunos com autismo e/ou crianças com outros transtornos e
deficiências, de forma lenta, porém constante. Exceto por alguns percalços, mas com muito
empenho da escola, (docentes, pais e profissionais da área da saúde), resultou na inclusão
efetiva desses alunos, tanto no social quanto no educacional. Em suma, a inclusão escolar é
isso: É propiciar ambiente acolhedor para que o aluno com autismo se sinta integrante do mundo
onde vive, dos locais que frequenta, sentindo-se amado e respeitado por todos que o cercam,
seja no âmbito escolar, na sociedade ou em casa. É a interação professor-aluno como um todo
fortificado por todos os que tornam a escola ativa e prestativa.
Espera-se que este trabalho contribua para aqueles que atuam com alunos com
transtorno do espectro autista. Nas entrelinhas dos objetivos, o desejo de proporcionar aos
envolvidos com o tema, a reflexão a respeito dos conceitos sobre autismo e a necessidade de
constante formação e informação dos profissionais e pessoas engajadas. São esses que de fato,
podem desenvolver a aprendizagem, conhecimento e autonomia desses alunos de maneira
lúdica e agradável. Neste contraponto, é importante que o professor pesquisador busque outro
viés para estudos, procurando realizar novas pesquisas nas diversas áreas temáticas, como por
exemplo: quais são os tipos de adaptação pedagógica propostas para educandos com autismo;
a importância das terapias comportamentais e sua relação com a escola; quais
métodos/intervenções pedagógicas mais eficazes para o desenvolvimento das
crianças/adolescentes com TEA; a relação entre família, escola e terapeutas, uma vez que é um
tema amplo e delicado, que diz respeito à qualidade do ensino ofertado, pensado no crescimento
pessoal e acadêmico desse educando, objeto de nosso estudo.
Acredita-se que no mundo globalizado, há de se ter espaço para todo ser humano
independente de suas particularidades. Onde haja o trabalho de observação, partindo-se do todo
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para a parte, ou seja, do geral que é o grupo de alunos para o específico que é o aluno com
necessidades especiais e então ali o professor se fazer presente.
Em nosso objeto de estudo, foram identificados alguns alunos, denominados com
transtorno do espectro autista e que foram inseridos normalmente no meio acadêmico e social,
num recorte da realidade brasileira. Acreditamos então, no poder da palavra para que haja a
mudança, inclusive para os que são eticamente “normais” perante uma sociedade rotulada.
Referências
BRASIL. Declaração de Salamanca: sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades
educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em 17 mar. de 2019.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31 ed. São Paulo: Paz e
Terra, 2005.
GADIA, C.; BORDINI, D.; PORTOLESE, J. Cartilha Autismo e Educação. Revista Autismo e
Realidade. São Paulo, cap. I, p. 10, 2013. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_civel/aa_ppdeficiencia/aa_ppd_autismo/aut_diversos/
Cartilha-AR-Out-2013%20-%20autista%20na%20escola.pdf. Acesso em 02 novembro. 2020.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? .1ª ed. São Paulo. Moderna.
2003. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/211/o/INCLUS%C3%83O-
ESCOLARMaria-Teresa-Egl%C3%A9r-Mantoan-Inclus%C3%A3o-Escolar.pdf?1473202907. Acesso
em 03 agosto. 2020.
MELLO, Ana Maria S. R. de; ANDRADE, Maria América; HO, Helena; DIAS, Inês de Souza;
Retratos do autismo no Brasil, 1ª ed. São Paulo. AMA. 2013. Disponível em:
https://www.ama.org.br/site/wp-content/uploads/2017/08/RetratoDoAutismo.pdf. Acesso em 13 maio.
2020.
APÊNDICE
Quadro 1: Questionário
I – IDENTIFICAÇÃO
Nome: Data:
Idade:
Grau de Instrução (formação):
Local da Instrução:
Vínculo Empregatício:
Tempo de Trabalho como docente:
Tempo de Trabalho na escola:
Tempo de trabalho na série atual:
Faz outra atividade (qual):
II – QUESTÕES
1) O que você conhece sobre o Transtorno do Espectro Autista? Possui algum curso específico sobre o
Transtorno? Já teve algum aluno com TEA ou outro Transtorno?
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2) Como ocorre a inclusão do aluno com TEA? Na escola, em sala de aula e com as demais pessoas neste
ambiente?
3) Quando recebeu o aluno com esse Transtorno, o que sentiu? Qual foi ou é seu maior desafio quanto a inclusão
deste aluno? Teve algum respaldo da Secretaria Municipal de Educação e Equipe Multidisciplinar referente a
formações e cuidados com o aluno?
4) Como você ensina esse aluno?
5) Realiza alguma atividade diferenciada para esse aluno? Ou ele realiza as mesmas atividades que os demais?
6) Realiza adaptações nas atividades propostas para esse aluno? Caso afirmativo, quais? Como?
7) O planejamento das atividades para o aluno com TEA é diferenciado ou é o mesmo dos demais alunos?
8) O aluno realiza todas as atividades? Apresenta dificuldades? É utilizado algum método específico de
ensino/intervenção?
9) Possui quantos alunos na turma que o aluno com TEA está inserido? (não aparece nas respostas) Como é a
relação com os colegas?
10) Como busca atualização frente a esta temática?