Apostila Acarologia2008

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HISTÓRICO, FISIOLOGIA, TAXONOMIA E SISTEMÁTICA

André Luiz Matioli1

1. Introdução

Os ácaros são pequenos organismos invertebrados que podem ser encontrados


em quase todos os habitats da natureza, terrestres e aquáticos. É um grupo diverso e
complexo, por apresentar muitas diferenças morfológicas e hábitos de vida. Muitos
são parasitos de insetos, outros invertebrados e mamíferos, incluíndo o homem e os
animais domésticos, podendo apresentar grande importância médico-veterinário.
Muitas espécies são contaminantes de produtos industrializados, meios de cultura e
grãos armazenados, assim como, fitófafos de inúmeras plantas cultivadas e não
cultivadas. Existem, ainda, várias famílias que são empregadas em programas de
controle biológico de ácaros-pragas ou pequenos insetos.
Os ácaros pertencem ao Filo Artrópoda, e compartilham características comuns
com os insetos como possuir um exoesqueleto quitinoso, pernas articuladas, simetria
bilateral, entre outras características análogas a este grupo.
Por serem araquinídeos apresentam quelíceras, olhos simples, ápteros,
desprovidos de antenas, e na grande maioria dos casos, o estádio larval possui três
pares de pernas e quatro pares os estádios ninfais (proto e deutoninfa) e adulto, a
família Eriophyidae, como exceção a regra, possuem dois pares de pernas em todos
os seus estádios de desenvolvimento.
Os ácaros diferem de outros araquinídeos pela perda total de segmentação
corporal, resultante de uma completa fusão de seus segmentos, a aparente
segmentação em alguns ácaros (exemplo Tarsonemidae e Pyemotidae) é
provavelmente secundária.
Para efeitos taxonômicos, o corpo se divide em várias seções, uma parte anterior
denominada de gnatossoma, que compreende a abertura oral e as estruturas
associadas como quelíceras e palpos, e uma posterior denominada de idiossoma,
onde encontra-se grande parte dos orgãos e onde estão inseridas as pernas.

1
Pesquisador Científico, Instituto Biológico, E-mail: almatioli@biologico.sp.gov.br
4

2. Histórico sobre a Acarologia

O primeiro relato da existência de ácaros ocorreu no período da antiguidade


mencionado no Papyrus de Ebers, onde foi relatado a febre causada por carrapatos.
Posteriormente, Homero (850 A.C.) menciona carrapatos infestando “Argas”, cão de
Ulisses. Aristóteles também os cita e os denomina de “Kroton”, revelando ainda,
carrapatos em ovelhas, cabras e nos grandes animais domésticos. Anos depois
Aristóteles escrevendo “História Animalium”, discreveu que favos velhos de abelhas
eram colonizados por ácaros, sendo esta a primeira vez que aparece em textos a
palavra “akari”, que existe até hoje no termo genérico Acarus e que originou o nome
de todo o grupo.
Somente em 1758 que os ácaros foram incluídos em uma classificação natural
por C. Linneu, designado por Acarus siro como espécie-tipo. Na 10ª edição do
Systema Naturae pouco menos que 30 espécies foram incluídas, sendo todas do
gênero Acarus.
Depois disso o número de spécies conhecidas aumentou significativamente
graças aos trabalhos de Scopoli, Fabricius, Muller, DeGeer, Gmelin, Koch, entre
outros. Oudemans entre 1926 e 1937 abordou toda a literatura até o ano de 1850.
A acarologia como ciência moderna data do fim do século XIX e início do XX,
na Europa e EUA, destacando os autores Kramer, Donnadieu, Canestrini, Nalepa,
Hirst, Berlese, Banks e Ewing.
Após a 2ª Guerra Mundial os autores que destacaram foram Baker e Wharton, que
em 1952 publicaram “Introduction to Acarology”, texto básico até 1958 para
taxonomia, quando Baker et al. publicaram o primeiro guia para famílias de ácaros.
Krantz em 1970, publicou “Manual of Acarology”, reeditado em 1978, considerada
ainda hoje uma das principais obras em acarologia.
Depois destes, muitas outras obras foram realizadas, entre elas “Word Crop
Pests”, Sabelis (1985) “Principles of Acarology” editada por Evans (1992), Mites
(Acari) for Pest Control, Gerson et al. (2003) e no Brasil as principais obras foram
escritas por Flechtmann (1975), “Elementos de Acarologia” e o mesmo autor
“Ácaros de importância agrícola” (1979) 3ª edição. Para que se tenha noção de como
vêm crescendo os trabalhos relacionados com acarologia, no XXI Congresso
5

Internacional de Entomologia (2000) foram apresentados 77 trabalhos desta área, já


em 2004, no Congresso Brasileiro de Entomologia 60 trabalhos foram divulgados.
Atualmente, o Brasil vem destacando-se como um dos principais Países com
pesquisadores em acarologia, e isso foi possível graças ao trabalho pioneiro dos
pesquisadores Carlos H. W. Fletchann, Gilberto J. de Moraes, Carlos A. L. de
Oliveira e Luiz G. Chiavegatto.

3. Fisiologia de Ácaros
3.1 Sistema Digestivo
O sistema digestivo é um tubo simples (Fig. 1) que apresenta variações entre os
diferentes grupos, porém algumas características são comuns. O sistema digestivo se
inicia na abertura oral, onde são produzidas as salivas em glândulas especializadas,
depois disso tem o intestino anterior que consiste em uma faringe musculosa que
funciona como uma bomba de sucção do alimento e que, se continua por um esôfago
que é circundado pelo cérebro. O intestino médio ou ventrículo, caracteriza-se por ter
o epitélio digestivo muito desenvolvido, com variável número de cecos gástricos.
Um curto intestino liga o intestino médio ao intestino posterior, podendo receber
túbulos de Malpighi (orgãos excretores), semelhantes aos insetos. O intestino
posterior é representado por uma cavidade ou bolsa retal que se abre externamente
através do ânus.
6

Figura 1. Esquema do sistema digestivo de um mesostigamata, vista dorsal


(Flechtmann, 1975).

3.2 Sistema Circulatório

O sistema circulatório dos ácaros é lacunar e consiste apenas no sangue, incolor


(hemolinfa) que banha todos os orgãos. Porém devemos saber que a hemolinfa não
tem somente as funções no transporte de nutrientes, mas também, atuam como
menssageiros químicos (hormônios) e produtos impuros, além disso, possui
importante papel mecânico em suportar os orgãos e transferir energia na forma de
pressão hidrostática.

3.3 Sistema Respiratório e Estigmas

Entre todas as caracteristicas morfològias dos ácaros, áquelas associadas ao


sistema respiratório são as de maior importância taxonômica para o grupo. A
presença e ausência de abertura, “estigmas ou espiráculos”, e sua posição relativa ao
7

Idiossoma é das melhores características diagnósticas para a separação dos vários


grupos (mesostigmata, prostigmata, criptostigmata, astigmata entre outros). Os
estigmas dos mesostigmatas estão associados a uma estrutura tubular alongada
anteriormente, denominada de peritrema. Nos ácaros desprovidos de estigmas as
trocas gasosas dão-se através da cutícula.

3.4 Reprodução

Os ácaros são todos dióicos e, na maioria dos grupos, o dimorfismo sexual é


evidenciado. A fertilização é interna porém o modo de transferência dos
espermatóforos varia consideravelmente entre as espécies de ácaros. Algumas destas
são exclusivamente partenogenéticas. E ainda podem ser ovíparos, ovoviparos e
aqueles que utilizam da fisogastria (desenvolvimento da progenie dentro da fêmea
gernado já indivíduoas adultos) para reproduzirem-se.
O aparelho reprodutor masculino consiste em testículo, único, par ou múltiplo,
vaso deferente, único ou par e um duto ejaculador, com várias glândulas acessórias
(Figura 1a.). Os Mesostigmatas não possuem orgão intromitente, sendo os
espermatóforos transferidos para as fêmeas por meio do espermadáctilo, que se
localiza na quelícera. Ainda, existem machos que apresentam pernas modificadas
para fixar na fêmea durante a cópula, como observado nos tarsonemídeos.
O sistema reprodutor feminino consiste em ovário(s),único ou par, que se
prolonga por um oviduto até o útero(s), único ou par. O útero abre-se em uma
vagina, com glândulas acessórias e receptáculo seminal. Em algumas espécies de
ácaros a presença da bursa copulatrix, que se prolonga por um receptáculo seminal
que se acha em comunicação com o ovário. Entre os eriofídeos o macho
simplesmente deposita o espermatóforo sobre a superfície da folha, sendo que, mais
tarde é recolhido pela fêmea.
8

Figura 1a. Representação esquemática de órgãos reprodutivos masculinos (A,


Mesostigmata; B, Ixodida; C, Mesostigmata; D, Astigmata; E Prostigmata; aed,
aedeagus; ag., glândulas acessórias; ed., ducto ejaculatório; s., vesícula seminal; T.,
testículos; vd., vasos deferentes) (Evans, 1992).
9

4. Taxonomia e Sistemática das Principais Famílias de Ácaros Fitófagos

4.1. Super-Família Eriophyoidea Nalepa, 1898.

São ácaros vermiformes, possuindo dois pares de pernas em todos os seus


estádios de desenvolvimento. Genitália localizada próximo-ventral e pouco abaixo da
inserção das coxas, possuindo abertura transversal ao corpo. Os eriofiídeos se
dividem em dois grandes grupos: um que vive na superfìcie das folhas e outro que
vive dentro de galhas (internamente em tecidos vegetais). São ácaros cuja coloração
varia de branco a creme-alaranjado. As características do escudo dorsal, são
importantes para a separação das espécies, apresentando desenhos de estriações e
protuberâncias na inserção das setas com o corpo. Medem aproximadamente 200 µm
no promédio e não apresentam dimorfismo sexual (Fig.2).
As famílias importantes no Brasil são Eriophyidae e Phytoptidae e podem
apresentar especificidade de planta hospedeira ao nível de família, gênero e/ou
espécie.

4.1.2. Família Eriophyidae Nalepa,1898.

São ácaros diminutos, variando seu comprimento de 0,15 a 0,35 mm , com corpo
alongado, anulado e vermiforme, apresentam dois pares de pernas localizadas
anteriormente e logo abaixo destas a presença de uma abertura genital transversal. Os
tarsos não possuem unhas porem os empódios em forma de pluma. As quelíceras são
estileteformes. Possuem estiletes curtos. Idiossoma em formato cônico com a parte
anterior do corpo mais larga. A grande maioria dos eriofídeos possuem tubérculos e
setas dorsais, porém em alguns gêneros e espécies estas estruturas podem estar
reduzidas (vestigiais) ou não existirem. Existe mais variação na posição dos
tubérculos dorsais nesta família que nos outros eriofióides. Existem já identificados
aproximadamente 3400 espécies em mais de 250 gêneros. A maioria dos Eriofióides
foram nomeados por Lindquist et al., 1996. Davis et al.(1982) e Amrine & Stasny
(1994) que apresentaram catálogos da fauna mundial. Amrine (1996) determinou
10

uma chave para todos os gêneros, Hong & Zhang (1996) publicaram um catálogo de
eriofiídeos que ocorrem na China e Baker et al. (1996) resumiu as espécies
encontradas nos EUA.

Chave de identificação de subfamílias de Eriophyidae e Gêneros de


Aberoptinae e Nothopodini).

1. Tibias reduzidas ou completamente fundida ao tarso; tíbia I não possui setas


................................................... 2
- Tíbias distinta do tarsos, tíbia I com seta presente com exceção a poucos gêneros
......................................... 3
2. Ápice do pedipalpo ou pernas I com projeções espatuladas ou em forma de pá ou espatulada; demais
pernas não possuem apêndices espatulados, muito grossas, segmentos reduzidos ou combinados;
empódio grande ............................................................ Aberoptinae Keifer
................................................................................ 6
- Não apresenta projeções no ápice do pedipalpo e tarsos das pernas I; pernas de espessura moderada;
coxas das pernas I sempre fundidas pela linha central, com a linha external fraca ou ausente; coxas I
geralmente sem a seta 1b; empódio relativamente pequenos............................Nothopodinae Keifer
.............................. 7
3. Escudo prodorsal muito pequeno; seta escapular não inserida em tubérculos, muito pequena, a margem
do escudo dirigida lateralmente; coxas bem separadas anteriormente; opistossoma sem a seta d, e;
genitália da fêmea localizada entre as coxas II; dorsalmente sem sulcos .......................
Ashieldophyinae Mohanasundaram
- Escudo prodorsal e setas opistossomais não como acima
................................................................................ 4
4. Genital da fêmea posssui apodema curvado para cima e reduzido, geralmente surge como uma forte
linha transversa ventralmente; sulcos sobre o escudo da fêmea em duas direções; genitália da fêmea em
vista lateral, geralmente visível projeção do ventre, separando as coxas mais que o normal; coxas I
fracamente ligada a linha central, linha external reduzida; coxas, em especial a coxa I, sempre com
linhas curvadas proporcionando tubérculos na seta 1a. Nove gêneros sem a seta escapular no escudo
prodorsal ............... Cecidophyinae Keifer
- Apodemas genitais extendendo em distância moderada, não aparece como uma barra transversa na via
ventral; escudo do idiossoma variavelmente esculturado, sulcos raramente ocorrem em dois sentidos;
genitália da femea, vista lateralmente, percorre mais a nível com o ventre, não ligada a coxa; linha
external presente; coxas sem linhas curvadas onde estao inseridas setas setiformes sobre tubérculos,
escudo prodorsal apresenta setas escapulares
.................................................................................................................................................. 5
5. Corpo vermiforme, anelamentos subiguais dorso-ventralmente, pelo menos na primeira metade anterior
até 2/3 do opistossoma; escudo prodorsal sem um lóbulo frontal ou com uma leve projeção da base do
gnatossoma; se o lóbulo frontal estiver presente, entao este é estreito, flexível basalmente, e combinado
com uma fina anelação opistossomal ...........................................................................................
Eriophyinae Nalepa
- Corpo mais fusiforme; com um lóbulo basal largo na base e rígido anteriormente sobre o gnatossoma;
opistossoma dividido entre largo e rígida anelação dorsal e fraca ventralmente ......... Phyllocoptinae
Nalepa
6. Tarsos das pernas I com projeção espatulada ou em forma de pá ........................................... Aberoptus
Keifer
- Tarsos das pernas I sem projeções espatuladas, contudo, estas ocorrem sobre o pedipalpo anterodorsal
de deutógines .........................................................................................................................
Cisaberoptus Keifer
11

7. Coxa I com seta 1b presente; coxa das pernas I dividida, seta escapular em frente da margem do escudo
posterior, dirigida para frente e centralizada; tíbia das pernas I fundida com o tarso
................................................. Tribo Colopodacini Mohanasundaram
............................................................. 8
- Coxa I sem seta 1b; coxas das pernas I tanto separada ou fundida pela linha mediana; seta escapular e
tíbia das pernas I variáveis ...................... Tribo Notopodini Keifer
..................................................................... 10
8. Seta opistossomal e ausente; Genu II sem setas ........................................... Paracolopodacus Kuang &
Huang
- Seta opistossomal e presente; Genu II com seta presente
.................................................................................. 9
9. Seta escapular dirigida medianamente; região coxa-genital não usual, em forma de escudo, sem annuli;
opistossoma dorsal com um sulco mediano ......................................................................... Colopodacus
Keifer
- Setas escapulares localizadas em ângulos postero-laterais do escudo, dirigido posterolateralmente;
região coxa-genital não em forma de escudo, consistindo de vários anelações fracas; opistossoma
com um estreito sulco mediano, margeado por aneis submedianos .............................................
Apontella Boczek & Nuzzaci
10. Setas escapulares ausentes; seta opistossomal e ausente
................................................................................. 11
- Setas escapulares presentes; seta opistossomal e presente ou ausente
............................................................ 12
11. Tibia das pernas I distinta, porém curta e sem seta; opistossoma levemente arqueado, e coberto por
micro tubérculos ..........................................................................................................................
Anothopoda Keifer
- Tíbia das pernas I fundidas com o tarso; opistossoma com escudo mediano liso, anéis com
microtubérculos lateralmente .............................................................................................. Surapoda
Boczek & Chandrapatya
12. Não possui um lóbulo frontal sobre a base do gnatossoma; setas escapulares inseridas próximas da
margem do escudo posterior, setas direcionadas posteriormente, para cima ou anteriormente; tíbia
das pernas I fundida com o tarso; coxa das pernas I fundida na linha média; opistossoma com
anelações subiguais, repleta de microtubérculos
.................................................................................................. Nothopoda Keifer
- Escudo prodorsal com um curto lóbulo frontal sobre o gnatossoma
.............................................................. 13
13. Setas escapulares próximas da margem lateral do escudo, direcionadas lateralmente; opistossoma liso
dorsalmente
.................................................................................................................................................... 14
- Setas escapulares localizadas mais centralizadas, tanto a frente ou sobre a margem do escudo, dirigidas
póstero-lateralmente; se sc próxima da margem lateral, então as setas são dirigidas postero-
medianamente; opistossoma variável
...................................................................................................................................... 15
14. Setas escapulares dirigidas lateralmente, eixo basal de tubérculos longitudinais; tarso com seta u’
longa, inserida a um angulo de 90°; solenídios com extremidades esféricas; escudo da fêmea com
inúmeros sulcos curtos e sinuosos, em mais que duas linhas transversas; opistossoma levemente
arredondado, com grandes anelações e semelhantes dorsalmente
............................................................... Neocosella Mohanasundaram
- Setas escapulares dirigidas levemente postero-lateral, eixos basais dos tubérculos inclinados a 60°;
tarso com seta u’ normal, solenídio com pêlo recurvado distalmente; opistossoma com grandes aneis
dorsais e leves sulcos medianos ....................................................................................................
Pangacarus Manson
12

15. Setas escapulares próximas a margem do escudo, dirigida para tras, com tubérculos cilíndricos; coxas
I fundidas a linha central; tibia das pernas I fundida com o tarso ..........................................
Floracarus Keifer
- Setas escapulares acima da margem do escudo posterior, dirigida pra cima, tubérculos pregueados;
coxas I fundidas ou com linha external presente; tíbia da perna I mais visível sobre a perna
“underside” ............... 16
16. Coxas I lisas, separadas por uma curta ou média linha extrernal ........................... Disella Newkirk &
Keifer
- Coxa das pernas I fundidas (sem linha external) e mais ou menos fundida com o subcapitulum,
superfície granular ou com pequenas pontuações .....................................................................Cosella
Newkirk & Keifer

Figura 2. Caracterização taxonômica de eriofíideos.


4.2. Superfamília Tarsonemoidea Canestrini & Fanzago, 1887

Os tarsonemoídeos (Heterostigmata Berlese, 1899) são formados por famílias de


hábitos muito diversos, entre estes, insetívoros, foresíacos, predadores, parasitos,
nidícolas, algívoros, fungívoros, fitófagos sendo alguns de importância econômica.
Dentre os tarsonemoídeos existem famílias que estabelecem relações muito
complexas com outros ácaros, insetos e/ou plantas.
Mais de 30 gêneros são conhecidos, possuindo muitas espécies já descritas e sem
duvida muitas ainda que não foram identificadas.
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São ácaros geralmente de coloração clara hialina, quase transparente, e brilhante.


O gnatossoma apresenta forma de cápsula e/ou as vezes em foma alongada sendo
visível quando observado de cima para baixo. Palpos reduzidos, e quelíceras
estiletiformes e parcialmente retrácteis. As pernas IV das fêmeas são ausentes ou
quando presentes são menores e delgadas que as pernas II e III, ao machos possuem
de três a quatro pares de pernas, onde a perna IV é modificada para auxiliá-lo na
cópula.
São ácaros que medem cerca de 100 a 300 µm de comprimento (Krantz, 1986;
Lindquist, 1978).

4.2.1. Família Tarsonemidae Canestrini & Fanzago, 1887

Tarsonemidae Canestrini & Fanzago; Lindquist, 1886: 5.

Tarsonemidae Kramer, Lindquist, 1986:5.

Tarsonemídeos são ácaros da ordem Prostigmata (Evans, 1992) de tamanho


bastante reduzido (cerca de 200µm), a coloração variando basicamente em tons
esbranquiçados, amarelados e/ou negros. São facilmente reconhecidos pela maneira
como se locomovem, lentamente e arrastando as pernas IV.
Atualmente existem cerca de 700 espécies de tarsonemídeos descritas em todo o
mundo, sendo a grande maioria proveniente das regiões temperadas do planeta (Lin &
Zhang, 2002). No Brasil, são apenas cerca de 20 espécies registradas até o ano de
2005, (Flechtmann,1967; Flechtmann, 1971; Smiley & Moser, 1974; Smiley et
al.,1993; Fain, 1979; Moraes et al., 2002; Feres et al., 2005; Lofego et al., 2005), o
que é ainda muito pouco representativo da provável e real diversidade destes ácaros
em território brasileiro.
Os tarsonemídeos são bastante versáteis na ocupação de ambientes. Existem
espécies aptas a sobreviverem sobre plantas, animais, no solo, em grãos armazenados
e até mesmo na poeira domiciliar. Essa versatilidade é também observada nos hábitos
alimentares desses ácaros, que podem ser parasitas de uma grande variedade de
plantas e animais (principalmente insetos), ou se alimentarem de fungos, algas,
liquens e/ou diversas outras substâncias orgânicas, ou ainda, mais raramente, serem
predadores de outros ácaros (Lindquist, 1986).
14

Algumas espécies fitófagas de tarsonemídeos merecem destaque especial por se


constituírem em importantes pragas agrícolas das mais diversas culturas em todo o
mundo. A principal delas é Polyphagotarsonemus latus (Banks), que causa sérios
danos há uma enorme variedade de plantas cultivadas, como algodoeiro, feijoeiro,
mamoeiro, citros e solanáceas em geral, entre outras. A segunda espécie em
importância é Phytonemus pallidus (Banks), que é muito comum no morangueiro.
Existem ainda, várias espécies do gênero Steneotarsonemus Beer, que são
especialistas em monocotiledôneas, às quais podem causar sérios prejuízos,
principalmente em arrozais e plantas ornamentais (Jeppson et al., 1975; Lindquist,
1986; Ochoa et al, 1991; Smiley et al., 1993, Almaguel et al. 2000, Návia et al.,
2005).
Gnatossoma - Constitui-se em uma cápsula com formas esféricas, ovais, sub-
quadradas ou mesmo sub-triangulares, e as vezes com alongamento da extremidade
anterior. Os palpos são geralmente curtos, constituídos por 1 ou 2 segmentos, e se a
extremidade anterior do gnatossoma é alongada, os palpos acompanham esse
alongamento uma vez que terminam quase sempre junto a essa extremidade. As
quelíceras são em forma de estiletes curtos. São observadas 3 pares de setas na
cápsula gnatossomal: ch na face dorsal, vm na face ventral, e pp na lateral. As duas
primeiras estão sempre presentes, enquanto que pp pode estar ausente em muitas
espécies. A faringe é geralmente bem evidente e apresenta grande diversidade de
formas, podendo variar em espessura e comprimento ou ainda apresentar subdivisões.
O gnatossoma é a parte do corpo dos tarsonemídeos que menos apresenta dimorfismo
sexual, por isso suas características, principalmente da faringe, são muito utilizadas
para a correlação específica entre as formas masculinas e femininas, tendo em vista o
acentuado dimorfismo observado no idiossoma e pernas.
Idiossoma dorsal (Fig. 3)- O dorso dos tarsonemídeos é todo recoberto por
placas. Anteriormente, tanto em machos como nas fêmeas, ocorre o escudo pró-dorsal,
após o qual seguem-se os tergitos C, D, EF e H nas fêmeas, e, CD e EF nos machos.
Nas fêmeas a região pró-dorsal porta geralmente 3 pares de setas, v1 e sc2 sempre
presentes, na forma típica de seta e inseridas no escudo pró-dorsal, e, sc1
(tricobóbria), que pode estar ausente em algumas espécies, principalmente naquelas
associadas a insetos, apresenta normalmente a forma capitada e, em muitos casos,
quando o escudo pró-dorsal é muito expandindo e dobrado para baixo, essa seta fica
posicionada sub-ventralmente, inserida no tegumento lateralmente ao escudo pró-
15

dorsal. Neste escudo localiza-se ainda, nas fêmeas, a abertura do sistema traqueal, o
estigma, que se posiciona geralmente na lateral anterior, podendo variar para posição
dorsal ou ventral dependendo também do grau de expansão e de dobramento do
escudo pró-dorsal. Os machos não apresentam estigma. Posteriormente ao escudo pró-
dorsal, nas fêmeas, nos tergitos C, D, EF e H, localizam-se, respectivamente, os pares
de setas c1 e c2, d, e e f, e h. Na extremidade posterior, já ventralmente, localiza-se o
segmento pseudoanal (Ps) portando um par de setas (ps) . Nos machos, os tergitos C e
D estão fundidos (tergito CD) e mantêm as mesmas setas observadas nas fêmeas, c1,
c2 e d; o tergito EF apresenta-se um pouco reduzido e geralmente portando apenas as
setas f; o tergito H é completamente modificado para juntamente com o segmento Ps
formam a cápsula genital do macho, a qual abriga o órgão copulatório dos
tarsonemídeos, o edeago, que é constituído por um par estruturas retrateis em forma
de gancho, formadas por modificações das setas ps.
Idiossoma ventral - A região ventral do tarsonemídeos tanto nas fêmeas quanto
nos machos é caracterizada pela presença de vários apódemas no podossoma,
geralmente situados entre as placas resultantes da fusão das coxas ao idiossoma, as
placas coxoesternais. Dessa maneira, na margem anterior da placa coxoesternal I
situa-se o apódema I; entre as placas coxoesternais I e II encontra-se o apódemas II;
no ponto de junção das placas coxoesternais de ambos os lados, medianamente, ocorre
o apódema pró-esternal; dividindo as regiões propodossomal (região das coxas I e II)
e metapodossomal (região das coxas III e IV) encontra-se o apódema sejugal; na
porção anterior da placa coxoesternal III situa-se o apódema III; entre as placas
coxoesternais III e IV esta o apódema IV; e na junção mediana das placas
coxoesternais do metapodossoma esta localizado o apódema pós-esternal. Estes
apódemas podem variar quanto a forma, extensão, presença ou ausência, se conspícuo
ou inconspícuo, etc., de maneira que são bastantes úteis na determinação de grupos e
espécies de tarsonemídeos. Normalmente os machos apresentam apódemas mais
desenvolvido que as fêmeas e com formato diferenciado. No propodossoma existem
dois pares de setas, 1a e 2a, enquanto no metapodossoma podem ocorrer até 4 pares
de setas, 3a, 3b, 3c e 4b, sendo que 3c e 4b estão ausentes em muitas espécies.
Posteriormente, a partir das placas coxoesternais IV, surge uma projeção, muitas
vezes em forma de língua, entres a coxas IV, chamada tégula. Esta estrutura é
raramente observada em machos. A região opistossomal do ventre das fêmeas é bem
reduzida, sendo recoberta pela placa agenital, que em algumas espécies pode
16

apresentar um par de setas. Nos machos, a região opistossomal do ventre foi, na


maioria dos casos, totalmente incorporada a cápsula genital.
Pernas - As pernas dos tarsonemídeos são primariamente compostas por 5
segmentos livres: trocanter, fêmur, genu, tíbia e tarso, tendo em vista que coxa está
completamente fundida ao idiossoma. No entanto, esse padrão de segmentação está
sujeita a alterações provocadas principalmente por fusões, que aliada a quetotaxia,
fornecem muitos caracteres úteis à taxonomia. As pernas I apresenta, nos machos, 5
segmentos articuláveis, no entanto, nas fêmeas, possui apenas 4, uma vez que tíbia e
tarso estão fundidos. Na quetotaxia desta perna destacam-se com importância
taxonômica, entre outras, os quimiosensores, o solenídeo tarsal ( ) e o conjunto
sensorial da tíbia (solenídeos 1 e 2, e flâmula k), os quais podem variar em relação
a forma, tamanho e presença ou ausência. A seta dorsal (d) também pode ser útil em
sistemática considerando sua variação no comprimento e textura. As pernas I possuem
uma única unha, na maioria das vezes em forma de gancho, mas que pode também
variar, nas fêmeas, em tamanho e forma, ou às vezes ser vestigial. A perna II
apresenta sempre cinco segmentos, tanto em macho quanto nas fêmeas, possui apenas
um solenídeo ( ) que muitas vezes está associado a uma seta em forma de espinho
(pl’’). Nessa perna ocorre geralmente um par de unhas, da mesma maneira que na
perna III. As pernas III caracterizam-se, nas fêmeas, pela forma alongada e disposição
perpendicular do trocanter em relação aos demais segmentos, e, pela fusão fêrmur-
genu. Nos machos essa fusão não ocorre e o trocanter geralmente não é tão alongado,
apesar de se dispor também perpendicularmente em relação aos demais segmentos
dessa perna. As pernas IV possuem as características mais peculiares dos
Tarsonemidae, sendo inclusive, essencial para o diagnostico da família. Nas fêmeas
essa perna é sempre composta por 3 segmentos: trocanter, fêrmur-genu, tíbia-tarso,
sendo mais curta e afilada que as demais pernas. São observadas 2 setas no fêrmur-
genu, v’F e v’G, e 2 na tíbia-tarso, v’Ti e tc”, esta última sempre em posição terminal,
alongada e em forma de chicote. No machos as pernas IV podem também ser
compostas por 3 segmentos, como nas fêmeas, ou por 4, neste caso a tíbia e o tarso
não são fundidos. Ao contrário das fêmeas, as pernas IV dos machos se diferenciam
das demais por serem normalmente mais robustas e menores. As setas presentes nessa
perna são: v’ no trocanter; v’F, l’’G e v’G no fêrmur-genu; v’ e solenídeo na tíbia;
pv’’, u’ e tc’’ no tarso. Distalmente é encontrado, geralmente, uma unha ou um
solenídeo.
17

Ventre

Dorso

Figura 3. Estruturas morfológicas de tarsonemídeos dorsal e ventral (Lindquist,


1986).

Chave de identificação para Gêneros de Tarsonemídeos

1. Metapodossoma ventral com 4 pares de setas, incluindo um par entre a base das pernas IV da fêmea;
setas agenitais presentes
............................................................................................................................................. 2
- Metapodossoma ventral com 2 pares de setas, nenhuma entre as bases das pernas IV; setas agenitais
presentes ou ausentes
......................................................................................................................................................... 3
2. Tarsos II com setas pl” (em forma de espinho) dorso-proximal junto ao solenídio ( ) tíbia-tarso I com
seta unguinal desenvolvida no sentido apical da unha, pernas II e III com unhas bem desenvolvidas;
perna IV do macho com unha terminal em forma de botão .....................................
Polyphagotarsonemus Beer & Nucifera
- Tarsos II sem setas pl”; tarso-tíbia I com seta unguinal reduzida; pernas II e III com unhas vestígiais;
Perna IV do macho com unha terminal bem desenvolvida em forma de garra ........ Ununguitarsonemus
Beer & Nucifera
3. Estiletes longos, bem próximos; geralmente projetados para fora da capsula gnatossomal; tricobótria
pró-dorsal (sc1) ausente; parasitos de
insetos............................................................................................................. 4
- Estiletes curtos e se longos, não curvados na base; não são parasitos de insetos, tricobótria pró-dorsal
(sc1) presente, geralmente capitadas, raramente setiformes, vestigial ou ausente
....................................................... 7
4. Conjunto sensorial da tíbia I com solenídio em forma de bastão, além de uma flâmula k inconspícua;
tarso I sem seta pl”; perna IV da fêmea robusta e curta, sendo o trocanter tão longo quanto os
segmentos distais combinados, com 5 setas; larvas com pernas II e III reduzida e sem unhas
.................................. Acarapis Hirst
18

- Conjunto sensorial da tíbia I com ou sem solenídeo, flâmula K bem desenvolvida; tarso I com ou sem
seta pl’’; perna IV da fêmea alongada, com trocanter menor que ¼ do comprimento dos segmentos
distais combinados, com 4-6 setas; larvas com pernas II e III bem desenvolvidas e com unhas
........................................................ 5
5 – Conjunto sensorial da tíbia I com solenídeos ( 1 e 2) presentes, além da flâmula k fendida
distalmente; seta pl’’ do tarso I ausente; trocanter IV do macho com uma seta; escudo pró-dorsal do
macho com 4 pares de setas ................................................................................................
Flechtmannus Moraes, Lindquist & Lofego
- Conjunto sensorial da tíbia I sem solenídeos, flâmula k presente não fendida distalmente; seta pl’’ do
tarso I presente; trocanter IV do macho sem seta; escudo pró-dorsal do macho com 2 pares de setas, ou
raramente com um terceiro par vestigial
.............................................................................................................................. 6
6. Fêmea com 3 setas no fêmur-genu IV, e placas coxoesternais III e IV muito alargadas dorso-
lateralmente cobrindo grandes porções dos tergitos D, EF e H; macho com tibia e tarso IV fundidos
...........................................................................................................................................
Amcortarsonemus Fain
- Fêmea com 2 setas no fêmur-genu IV, e placas coxoesternais III e IV não muito alargadas dorso-
lateralmente e não cobrindo os tergitos D, EF e H; macho com tibia e tarso IV separados ...................
Coreitarsonemus Fain
7. Fêmures I e II com apenas 1 seta cada; seta dorsal do gnatossoma (ch) alargada em forma de lança e
serreada; seta do genu IV (v’) ausente; tricobótria pródorsal (sc1) ausente ....................................
Eotarsonemus De Leon
- Fêmures I e as vezes II com pelo menos 2 setas cada (geralmente 3 ou 4 sobre os fêmures I e 3 setas
sobre os fêmures II; setas dorsais sobre o gnatossoma finas, setiformes, lisas; seta do genu IV, v’
presente; tricobótria pró-dorsal (sc1) presentes, capitada, raramente setiforme ou vestigial
............................................................... 8
8. Fêmures I com 3 setas; tíbio-tarso I com unha curta, em forma de bastão, não caracteristicamente em
forma de gancho apicalmente, ou vestigial; fêmur-genu IV do macho com uma pequena, porém
distinta, franja hialina triangular na superfície postero-lateral
................................................................................................................ 9
- Fêmures I com 2 a 4 setas; tíbio-tarso I com unha característica em forma de gancho ou vestigial;
fêmur-genu IV do macho sem franja, ou se presente, com formato diferente do descrito acima
......................................... 10
9. Tarso II com seta pl’’ (em forma de espinho) próxima ao solenídeo ; escudo pró-dorsal da fêmea
curvando-se sobre o gnatossoma, e com estigma situado na margem do escudo, não alargado; apódema
III da fêmea estendendo-se lateralmente além da extremidade proximal do trocanter III, e apódema IV
não estendendo-se postero-lateralmente à inserção da seta 3b ..................................................................
Heterotarsonemus Smiley
- Tarso II sem seta pl’’; escudo pró-dorsal da fêmea não curvando-se sobre o gnatossoma, e com estigma
situado dorsalmente próximo à margem do escudo, alargado; apódema III da fêmea não estendendo-se
lateralmente além da extremidade proximal do trocanter III, e apódema IV estendendo-se postero-
lateralmente à inserção da seta 3b ........................................................................................................
Hemitarsonemus Ewing
10. Pelo menos algumas setas fortemente modificadas no idiossoma dorsalmente; serreadas e longas;
expandidas (lanceoladas, capitada ou clavada); tarsos II com 3 setas setiformes, sem seta pv” e a seta
dorso proximal pl” em forma de espinho; fêmea com escudo pró-dorsal em forma de capota, com
margens laterais aprofundadas ao nível dos estigmas; dorso geralmente ornamentado; reticulado pelo
menos no tergito C .......................... 11
- Setas dorsais do idiossoma lisas, levemente serreadas ou pilosas, tamanho médio; Tarsos II com 3 a 4
setas setiformes, tanto pv” quanto pl” presentes ou pelo menos uma delas; fêmea com dorso liso ou
ornamentado em estriações finas e pequenas pontuações
..................................................................................................... 12
11. Pernas III com 3 ou raramente 2 setas no genu; setas c2 lisas ou ligeiramente serreadas, de
comprimento moderado (menor que 30 µm); fêmea com escudo pró-dorsal e tergitos C, D, EF
fortemente reticulados ou estriados; setas verticais e escapulares lisas ou ligeiramente serreadas,
moderadamente curtas (escapular 1/3 da largura do prodorso), setas dos tergitos C e H lisas e
levemente serreadas, curtas (menor que 20 µm), as setas dos tergitos D e EF levemente serreadas;
lanceoladas filiformes ou clavada; setas e as vezes expandidas, filiforme e robusta; macho com tibia
IV 3-5 vezes mais longa que o tarso IV
19

................................................................................................................................ Daidalotarsonemus
De Leon
- Pernas III com apenas 1 seta no genu; setas c2 fortemente serreadas e longas (maior que 40 µm);
fêmea com dorso não extensivamente ornamentado, totalmente liso ou reticulado apenas em partes do
tergito C; seta vertical (v1) e escapular (sc2) fortemente serreadas e longas (escapular tão longa quanto
a largura do prodorso), setas dos tergitos C e H fortemente serreadas e longas, (30 a 100µm), assim
como as setas dos tergitos D e EF; macho com tibia IV não mais que 1,5 vezes mais longa que o tarso
IV.............................................................................................................................. Ceratotarsonemus
De Leon
12. Cápsula gnatossomal muito mais longa que larga, com extremidade anterior e palpos fortemente
alongados; com setas pequenas na sua parte distal apenas
................................................................................................ 13
- Cápsula gnatossomal de largura próxima ao comprimento, com extremidade anterior e palpos não
muito alongados; palpos com setas pequenas na sua parte distal e mediana
............................................................... 14
13. Tarso II com seta pl’’ (em foram de espinho) próxima ao solenídeo ; apódemas sejugal e pós-
esternal vestigiais, sejugal claramente desenvolvido apenas nas extremidades laterais; fêmea com
tégula fortemente alargada e subtriagular; e pernas II e IV com comprimentos semelhantes; macho
com seta sc2 obliquamente alinhada com as demais setas prodorsais
.................................................................................. Suskia Lindquist
- Tarso II sem seta pl’’; apódemas sejugal e pós-esternal bem desenvolvidos; fêmea com tégula
moderadamente larga e arredondada; e pernas II claramente mais longa que a IV; macho com seta sc2
inserida lateralmente ao alinhamento oblíquo das demais setas prodorsais ...............
Rhynchotarsonemus Beer
14. Fêmea com tégula moderada a fortemente alongada, estreitamente arredondada ou afilada
apicalmente, suas margens basais continuas com um secundário processo agudo em cada lado entre as
bases das pernas III e IV; Distância entre as bases das pernas IV, semelhante a largura do trocanter IV
................ Xenotarsonemus Beer
- Fêmea com tégula curta a moderadamente longa, amplamente arredondada apicalmente, suas margens
basais não demonstram um processo agudo entre as bases das pernas III e IV; Distância entre as bases
das pernas IV, muito maior que a largura do trocanter IV (mais de 2 vezes maior)
......................................................... 15
15. Estiletes fortemente curvados na base e ligados a uma ampla base transversal ou obliqua a largura da
capsula; seta subunguinal em formato de espinho no tarso I e, seta unguinal u’ do tarso II e III bífida
ou truncada apicalmente; fêmea com idiossoma alongado em forma de elípse; pernas relativamente
pequenas, pernas II menores que as pernas IV
.............................................................................................. Steneotarsonemus Beer
- Estiletes não são fortemente curvados na base, sendo ligados a bases que não ocupam toda a largura
da capsula; seta subunguinal do tarso I e unguinal dos tarsos II e III, geralmente inteiras e pontiagudas
distalmente; fêmeas com idiossoma não alongado e pernas moderadamente longas, pernas II mais
longa que a perna IV
........................................................................................................................................................... 16
16. Tarsos II com 3 setas filiformes; fêmea com faringe conspicuamente alargada, sua maior largura
ocupa pelo menos metade da largura da capsula gnatossomal; todas as setas tergitais (exceto c2)
moderadamente espessas e levemente serreadas; escudo pró-dorsal e tergitos usualmente pontuados ou
estriados ..............................................................................................................................................
Iponemus Lindquist
- Tarsos II com 4 setas filiformes; raramente com 3; fêmea com faringe com menos da metade da
largura da capsula gnatossomal, variando de pouco a muito esclerotizada a moderadamente largo e
muscular com finas paredes; setas tergitais podem ser: afiladas, levemente espessas, curtas, longas,
lisas, ou levemente serreadas; escudo pró-dorsal e tergitos não ornamentados
............................................................................................... 17
17. Pernas de I a III com tarsos relativamente longos, de forma que nas perna II o tarso excede o tamanho
da tíbia e do genu juntos; tarsos II com seta pl” dorsoproximal filiforme; fêmea com seta escapular
(sc2) inserida ao lado do estigma, anterior ao poro v2, e na metade anterior do escudo pró-dorsal
................................................................................................................................... Fungitarsonemus
Cromroy
- pernas de I a III com tarsos de comprimento moderado a curto, de forma que a perna II tenha o tarso
menor ou igual ao tamanho da combinação tíbia e genu; tarsos II com seta pl” em forma de espinho
quando existir; seta escapular (sc2) inserida posteriormente ao estigma e poro v2, em posição
20

mediana ou sobre a metade posterior do escudo pró-dorsal


........................................................................................................................ 18
18. Fêmeas com as setas do tergito H cerca de 3 vezes mais longas que aquela dos tergitos D e EF; pernas
IV pouco mais longa que a tégula; macho com solenideo da perna 2 inserido na tíbia e muito
alongado, excedendo o comprimentro da tibia e tarso juntos ...............................................................
Deleonia Lindquist
- Fêmeas com setas do tergito H mais curtas que dos tergitos D e EF; pernas IV claramente mais
longas que a tégula; macho com solenideo da perna 2 inserido proximalmente no tarso, não tão
alongado como descrito acima
................................................................................................................................................................
19
19. Apódema sejugal ausente; tarso II sem a seta pl”, porém a perna I mantém ambos os solenídios da
tíbia; apódema 4 extendendo postero-lateralmente da base da seta 3b não chegando a atingir a base das
pernas IV ..........................................................................................................................................
Phytonemus Lindquist
- Apódema sejugal completamente desenvolvido ou reduzido medianamente, tarso II com a seta pl”
próxima ao solenídio , ou se esta seta ausente, então a perna I não possui um dos dois solenídios da
tíbia; apódemas 4 não se estendendo postero-lateralmente as bases da seta 3b
........................................................................ 20
20. Capsula gnatossomal subcircular; fêmea com placas coxoesternais apresentando fissuras, uma circular
ou elipsóide atrás do apódema pos-esternal, outras, alongadas e oblíquas, as vezes transpassando os
apódemas II e IV .................................................................................................................................
Metatarsonemus Attiah
- Capsula gnatossomal noramalmente sub-quadrada, sub-retangular ou sub-triangular; fêmeas com
placas coxoesternais sem fissuras......Tarsonemus Canestrini & Fanzago
..................................................................21
21. Faringe muscular com paredes espessas equivalendo a cerca de um 1/3 da largura da capsula do
gnatossoma; fêmeas com pernas III com fêmur-genu parcialmente fundido à tíbia, e seta escapular
(sc2) inserida na metade anterior do escudo pró-dorsal ................................................................. T.
(Floridotarsonemus) Attiah
- Faringe variando na aparência desde estreita com paredes bem esclerotizadas a moderadamente larga
e muscular com paredes finas, mas raramente equivale a um 1/3 da largura da cápsula do gnatossoma;
fêmeas com pernas III com fêmur-genu livres, articulando com a tíbia, e seta escapular (sc2) inserida
no meio ou na metade posterior do escudo pró-dorsal .................................................. T (Tarsonemus)
Canestrini & Fanzago

4.2.2. Família Acarophenacidae Cross, 1965

Família Acarophenacidae Cross, 1965; Magowski (1994); Goldarazena et al., (2001).

Os ácaros representantes desta família são reconhecidos por possuirem o


gnatossoma parcialmente ou completamente fundido no propodossoma com os
palpos não distintos. O escudo anterior ventral possui três ou menos pares de setas e
as fêmeas não possuem sensilium prodorsal. As pernas I são mais grossas que as
demais e pode ou não apresentar uma grossa unha séssil distalmente. São pequenos
(menores que 200 µm de comprimento), alongados ou ovais que parasitam ovos de
besouros, microlepdopteros e trips. Possuem seis gêneros e aproximadamente 30
espécies descritas. A chave para gêneros e espécies foi descrita por Magowski (1994)
e recentemente, Goldarazena et al. (2001) adicionou 10 novas espécies. No Brasil, a
21

espécie mais estudada é Acarophenax lacunatus, que foi introduzida no País para o
controle de Rhyzopertha dominica (Coleoptera: Bostrichidae), importante praga em
grãos armazenados (Matioli, 1997). Os ácaros fêmeas desta família apresentam o
processo reprodutivo da fisiogastria que, define-se pelo desenvolvimento da progênie
dentro do corpo da fêmea, e ao emergirem os indivíduos, estes já no estádio adulto,
amadurecidos sexualmente. Sendo, as fêmeas fecundadas pelo macho-irmaõ que
geralmente nasce primeiro e auxilia a emergência de suas irmãs e fecundando-as,
proporcionando um alto índice de autogamia.

4.2.3. Família Pyemotidae Oudemans, 1937

Família Pyemotidae Oudemans, 1937; Cross (1965); Mahunka (1970).

Os Pyemotídeos podem ser reconhecidos pela sua cor leitosa, translúcida, e


sua forma alongada ou arredondada, corpo segmentado, com quelíceras
estiletiformes. Pernas I terminando com uma unha sem empódio. Somente as fêmeas
possuem um par de orgãos pseudo estigmáticos (sensílium); pernas II a IV são
semelhantes, possuindo unhas e empódio. O trocanter IV é subtriangular. Perna IV
dos machos terminam em uma unha espessa. A Família possui aproximadamente 150
espécies em 25 gêneros, revisados por Cross (1965) e melhor definidos por Mahunka
(1970). Apresentam também o processo de fisogastria como observado na família
acarophenacidae. Outra peculiaridade é que são ácaros alergênicos, causadores de
graves irritações da pele e mucosa nos seres humanos e mamíferos. O que limita
consideravelmente sua utilização como agente de controle biológico.

4.3. Superfamília Tetranychoidea Baker & Pritchard, 1953

Formada por ácaros fitófagos por excelência, que se alimentam de folhas,


frutos, ramos, troncos e inclusive tecido radicular e associados muitos deles com
plantas cultivadas. Este grupo é integrado pelas famílias Allochaetophoridae que é
monoespecifica de gramíneas; Linotertranidae encontrados na superfície de solos,
22

sobre a materia orgânica em decomposição e sobre musgos; Tenuipalpidae,


Tetranychidae e Tuckerellidae, que compreendem a maioria das espécies de
importância econômica disseminadas no Mundo. São geralmente de cores fortes
como vermelho, verdes, amarelos e também brancos e em alguns casos apresentam
diversas combinações entre estas cores.
São de corpo mediano, com estrias e padrão reticulado, escudos suavemente
definidos. Apresentam quelíceras longas, em formas de foices e retráteis. Palpos com
cinco segmentos, e em alguns casos, apresenta o complexo unha-dedão e em outros
são simples. Possuem estigmas pós-quelicerais e peritremas curtos e/ou vestigiais. Os
olhos podem estar presentes. Unhas e empódio em todos os tarsos com pêlos
aderidos sobre as unhas e com frequência nos empódios, em alguns casos são
reduzidos ou ausentes. A abertura genital é transversal. Estes aácaros medem de 200
a 1000 µm de comprimento (Krantz, 1986).

4.3.1. Família Tenuipalpidae Berlese, 1913

Tenuipalpidae Berlese,1913.
Phytoptipalpidae Ewing, 1922.
Pseudoleptidae Oudemans, 1928.
Trichadenidae Oudemans, 1938.

Os tenuipalpídeos caracterizam-se por ter palpos simples com cinco segmentos,


o propodossoma com três pares de setas dorsais. O histerossoma apresenta de um a
três pares de setas dorsocentrais e zero a quatro pares de dorsolaterais histerossomais
(Pritchard & Baker, 1985; Ochoa, 1985).
A porção ventral do propodossoma apresenta um par de setas mais espessas centrais
ventrais, associadas com a base das coxas anteriores. O metapodossoma do adulto e
da deutoninfa apresentam dois pares de setas centrais ventrais, onde em Tenuipalpus
spp. podemos encontrar três ou mais pares. O opistossoma ventral da fêmea possi um
par de setas medioventrais, que encontram-se inseridas no escudo ventral, um a dois
pares de setas no escudo genital e um a três pares de setas no escudo anal (Fig. 4).
O opistossoma ventral do macho possui um par de setas médios-ventrais e de
três a quatro pares de setas inseridas próximas da abertura gênito-anal (Pritchard &
Baker, 1958; Tuttle & Baker, 1976).
23

O empódio é formado por uma almofada enlarguecida, com duas fileiras de


pêlos aderidos em sua parte ventral. Os tenuipalpídeos popularmente conhecidos por
ácaros planos ou ácaros achatados, apresentam colorações vermelho-acinzentada e
são de menor tamanho comparados aos tetraníquideos. Estes ácaros não produzem
teia.
As fêmeas medem de 250 a 350 µm de comprimento, os ovos são vermelhos
para a maioria das espécies, de forma elíptica para o gênero Brevipalpus, retângular
para o gênero Tenuipalpus, redona ou ovóide para os gêneros Pentamerismus e
Dolichotetranychus (Pritchard & Baker, 1958; Ochoa, 1985).

Figura 4. Representação taxonômica do gênero Brevipalpus Geijskes


(Tenuipalpidae).

Chave de identificação de gêneros de tenuipalpídeos.


24

1. Opistossoma com um par de setas dorsosubtaterais ou nenhum


......................................................................... 2
- Opistossoma com dois ou mais pares de setas dorsosublaterais
....................................................................... 14
2. Adultos e ninfas com 4 pares de pernas; par posterior de setas medio ventral (4a) presente entre as
bases das pernas IV
.............................................................................................................................................................. 3
- Adultos e ninfas com 3 pares de pernas; setas 4a ausentes ....................... Larvacarus Baker &
Pritchard
3. Margem anterior do prodorso ampla e arredondada, cobrindo completamente o gnatossoma; ápice do
prodorso invaginado .......................................................................................................................
Tegopalpus Womersley
- Margem do pronoto não amplo, deixando o gnatossoma descoberto, cobrindo apenas o prodorso
................... 4
4. Prodorso com projeções pareadas anteromedianamente
..................................................................................... 5
- Prodorso sem as projeções
.................................................................................................................................. 9
5. Ventre sem escudos genitoanal, possui 3 pares de setas próximos a abertura genital e 3 pares próximo a
abertura anal; palpo com 4 segmentos .................................................................... Ultratenuipalpus
Mitrofanov
- Ventre com escudo na região ventri-anal
............................................................................................................ 6
6. Opistossoma com o penúltimo par de dorsolaterais flageliformes, se estas setas forem de comprimento
normal, então prodossoma largo e opistossoma estreito ..............................................................
Tenuipalpus Donnadieu
- Opistossoma com o penúltimo par de setas dorsolaterais de comprimento normal; corpo oval,
podossoma e opistossoma de mesma largura
............................................................................................................................ 7
7. Opistossoma não possui setas dorsocentrais, e com 4 pares de setas dorsolaterais; escudos genital e
ventral completamente fundidos .............................................................................. Terminalichus
Anwarullah & Khan
- Opistossoma com um ou mais pares de dorsocentrais, com 5 ou 6 pares de setas dorsolaterais; escudos
genital e ventral separados ou pouco evidenciados
......................................................................................................... 8
8. Escudos genital e ventral bem definidos e separados; escudo ventral retangular ...... Brevipalpus
Donnadieu
- Escudos genital e ventral pouco definidos, incompleto ou completamente fundidos; escudo ventral não
retangular ............................................................................................................................ Priscapalpus
DeLeon
9. Palpo com 3 segmentos
..................................................................................................................................... 10
- Palpo com 1 segmento, fundido ao rostro ou completamente reduzido
........................................................... 11
10. Opistossoma com 2 pares de setas dorsocentrais, 1 par de humeral, 1 par de dorsosublateral e 5 pares
de dorsolaterais; genu III sem setas ............................................................................
Dolichotetranychus Sayed
- Opistossoma com 2 a 3 pares de setas dorsocentrais, 1 par de humeral, 0 a 1 par de dorsosublateral e 6
a 7 pares de dorsolaterais; genu III com 1 seta ............................................................... Afronychus
Smith Meyer
25

11. Opistossoma com 7 pares de setas dorsais; ventre sem escuto na região genito-anal
..................................... 12
- Opistossoma com 10 pares de setas dorsais; ventre com escuto na região genito-anal
................................ 13
12. Opistossoma da fêmea dividido por uma sutura transversal entre as setas dorsocentrais; setas não
inseridas sobre turbérculos dorsalmente, e distribuídas da seguinte maneira: 2 pares de dorsocentrais
e 5 pares de marginais (humeral e dorsolateral); 1 par de setas genitais ......................................
Obuloides Baker &Tuttle
- Opistossoma não dividido por sutura transversa; setas do corpo dorsal inseridas sobre grandes
tubérculos e seguindo a seguinte distribuição: 3 pares de setas dorsocentrais e 4 pares de marginais; 2
pares de setas genitais no opistossoma ventralmente ...........................................................................
Krugeria Smith Meyer
13. Unhas pareadas e empódio curto e almofadado; cada uma das unhas pareadas com 2 curtos pêlos
tenentes e outro longo, empódio com 2 linhas de pêlos tenentes curtos; rostro proeminente,
extendendo até o meio da tibia I
........................................................................................................................... Capedulia Smith
Meyer
- Unhas pareadas e empódio relativamente longos, cada um possuindo 2 linhas de pêlos tenentes
semelhantes; rostro não tão proeminente, atingindo a metade do genu I .........................................
Capedulia Smith Meyer
14. Margem anterior do prodorso amplamente projetada, cobrindo completamente o gnatossoma
............................................................ Australopalpus Smiley & Gerson 1955
- Margem anterior o prodorso não projetada, deixando o gnatossoma descoberto ou cobrindo apenas o
prodorso
........................................................................................................................................................ 15
15. Fêmeas com 3 pares de pernas; machos com 4 pares
................................................................................... 16
- Fêmeas e machos com 4 pares de pernas
...................................................................................................... 17
16. Palpos com 5 segmentos; unhas unciformes ............................................................ Phytoptipalpus
Tragardh
- Palpos com 2 ou 3 segmentos; unhas almofadadas ............................................... Raioellana Baker
& Tuttle
17. Opistossoma com 11 pares de setas dorsais
.................................................................................................. 18
- Opistossoma com mais que 11 pares de setas dorsais
.................................................................................. 20
18. Palpo uniseguimentado fundido no rostro
................................................................................................... 19
- Palpo com 4 segmentos .............................................................................. Macfarlaniella Baker &
Pritchard
19. Palpos com sensores em forma de bastão ............................................................. Obdulia Pritchard
& Baker
- Palpos sem sensores em bastão ............................................................... Lisaepalpus Smiley &
Gerson 1955
20. Palpos com 2 segmentos
............................................................................................................................... 21
- Palpos com mais que 2 segmentos
................................................................................................................ 22
26

21. Setas do corpo dorsal levemente clavadas; prodorso sem projeções pareadas anteromedianamente
.....................................................................................................................................................
Raioella Hirst
- Setas do corpo dorsal bem largas, e formas de folhas; prodorso com pares proeminentes de projeções
anteromedianas .........................................................................................................
Phyllotetranychus Sayed
22. Opistossoma com 4 pares de setas dorsosublaterais ............................................................
Aegyptobia Sayed
- Opistossoma com 2 ou raramente 3 pares de setas dorsosublaterais
............................................................ 23
23. Prodorso com projeções pontuadas e reduzidas anteromedianamente; superfície do corpo dorsal
estriado; escudo ventral ausente ...................................................................................................
Pseudoleptus Bruyant
- Projeções prodorsais, quando presentes, formadas como grandes lóbulos anteromedianos; superfície
do corpo dorsal reticulada; escudos ventral e genital presentes ............................... Pentamerismus
MacGregor

4.3.2. Família Tetranychidae Donnadieu, 1875

Tetranychidae Donnadieu et al., 1952: 211; Pritchard & Baker, 1955: 4; Tuttle &
Baker, 1968: 1; Fréitez, 1974: 16.

Os tetraníquideos conhecidos por ácaros rajados, ácaros vermelhos ou ácaros


de teias, são ácaros fitófagos de corpo arredondado e grandes (300 a 800 µm). A
coloração é bastante variada, desde verde, vermelho, amarelo, laranja, preto e
algumas combinações destas cores. A cor do corpo pode diferir da coloração das
pernas e do gnatossoma. O tegumento é suave e com estriações características para
os gêneros. Possui manchas oculares no propodossoma e os peritremas estão
presentes na sua parte anterior do propodossoma.
Quelíceras móveis recurvadas e estiletiformes, fundidas na base com o
estilóforo. Possuem o complexo “unha-dedão” no palpo. Apresentam no máximo 16
pares de setas dorsais, sendo as propodossomais variando de três a quatro pares, as
histerossomais entre oito e 11 pares, e um par de humerais. Os tarsos I e II
geralmente apresentam setas dúplices (Fig. 5). O apotelo é formado por um par de
unhas laterais com ou sem pêlos aderidos, com ou sem empódio central.
A genitália da fêmea é rugosa., a do macho é característica para a família,
assim como, serve para separar as espécies (Baker & Wharton, 1952; Pritchard &
27

Baker, 1955; Fréitez, 1974; Tuttle et al., 1976; Salas, 1978). Os macho são de
tamanho reduzido, comparado com as fêmeas e apresentam o opistossoma afilado.
A família Tetranychidae possui cerca de 1200 espécies, em aproximadamente
70 gêneros. Meyer (1987) confeccionou uma chave de identificação de gêneros a
nível Mundial e um catálogo registrando a fauna mundial destes acarinos foi
publicado por Bolland et al. (1998). Baker & Tuttle (1994) confeccionaram uma
chave de identificação para espécies encontradas nos EUA.
Esta família se divide em duas subfamílias: Bryobiinae Berlese, 1913 e
Tetranychinae Berlese, 1913; a primeira possui pêlos aderidos ao empódio,
conhecido de pêlos tenentes, enquanto a segunda, quando apresenta empódio, este
não possui tais pêlos.

Empódios Edeago
Palpo

Setas dúplices

Dorso Opistogaster

Figura 5. Estruturas taxonômicas dos tetraniquídeos.

Chaves de Identificação para gêneros de Tetraniquídeos (baseada em Jepson et al.,


1975; Gutierrrez & Schicha, 1983)

1. Empódio com pêlos “tenentes” ............................................ (Bryobiinae)


......................................................... 2
28

- Empódios ausentes e/ou se presentes sem pêlos “tenentes” .... (Tetranychinae)


................................................ 5
2. Quatro pares de setas propodossomais
................................................................................................................ 3
- Três pares de setas propodossomais
................................................................................................................... 4
3. Projeções proeminentes no rostrum; setas D4 marginais; fórmula setal das coxas (2-1-1-1) ........
Bryobia Koch
- Sem projeções proeminentes no rostrum; setas D4 normais; fórmula setal das coxas (2-2-1-1)
...................................................................................................................................... Pseudobryobia
McGregor
4. Tarsos I com duas setas dúplices; setas paranais ventrais ............................................... Parabryobia
McGregor
- Sem setas dúplices nos tarsos I; setas paranais dorsais ............................................. Bryobiella Tuttle &
Backer
5. Tarsos I sem setas dúplices pareadas ou ausentes
............................................................................................... 6
- Tarsos I com dois pares de setas dúplices; empódios unciformes ou abrupto
.................................................... 7
6. Um par de setas anais; setas dorsocentrais marginais ......................................................... Aponychus
Rimando
- Dois pares de setas anais; setas dorsocentrais normais .............................................. Eutetranychus
Oudemans
7. Dois pares de setas paranais
................................................................................................................................ 8
- Um par de setas paranais
................................................................................................................................... 13
8. Empódios unciformes
.......................................................................................................................................... 9
- Empódios terminando em tufos de pêlos
.......................................................................................................... 11
9. Empódios com pêlos próximo-ventrais
............................................................................................................. 10
- Empódios sem pêlos próximo-ventrais; abrupto dividido em dois segmentos ........ Schizotetranychus
Trägardh
10. Unha empodial mais curtas que os pêlos próximo-ventrais ............................... Allonychus Pritchard
& Baker
- Unha empodial do mesmo tamanho dos pêlos próximo-ventrais; setas dorsais inseridas sobre tubérculos
......................................................................................................................................... Panonychus
Yokoyama
11. Estrias histerossomais transversais dorsomediano
.......................................................................................... 12
- Estrias histerossomais longitudinais entre o terceiro par de setas dorsocentral .......... Mononychellus
Wainstein
12. Estrias normais; setas dorsais não inseridas sobre tubérculos, tão longas quanto o espaçamento entre
suas bases ........................................................................................................................... Eotetranychus
Oudemanns
- Estrias em forma de cestos; setas inseridas sobre grandes tubérculos ......................... Neotetranychus
Trägardh
29

13. Empódios unciformes com pêlos próximo-ventrais; setas dúplices do tarso I distais e próximas; dois
pares de setas anais ............................................................................................................................
Olygonychus Berlese
- Empódios sem unha, possuindo de três a quatro pares de pêlos; setas dúplices nos tarsos I bem
separadas (como se dividindo o tarso em três partes) ...........................................................................
Tetranychus Dufour
30

5. Aplicação de Marcadores Moleculares no Estudo da Diversidade de Espécies


Acarinas

Descrever, quantificar e classificar a diversidade de espécies acarinas é um


grande desafio para os estudiosos desta área. Descrição morfológica (taxonômica)
vem sendo muito usada para estes propósitos e alcançando pesquisas promissoras,
principalmente nos dias atuais, com a utilização da biologia molecular como
importante ferramenta para comparar e estudar os níveis cladísticos. As técnicas
envolvem geralmente a utilização direta de observações das diferenças genotípicas
entre os organismos. Estudos relacionados com cromossomos de carrapatos e ácaros
têm demosntrado uma interessante hipótese que carrapatos e ácaros tiveram origens
diferentes (Oliver, 1977), uma observação que sugere mudanças para o estudo
filogenético e molecular. No final do seculo XX e início do XXI as técnicas
moleculares tem gerado potencial para investigar DNA nos pares de bases
individualizados. Esta claramente é uma forma direta de medir e quantificar a
variação genética intra e interespecífica.
Os estudos de biologia molecular em ácaros têm sido dirigidos á espécies de
importância econômica, dentre estas as das famílias Tetranychidae e Eriophyidae têm
sido o centro dos estudos relacionados com DNA. Os estudos moleculares vêm
crescendo também em dois outros grupos de ácaros, Phytoseidae e Varroidae, e mais
recentemente, no Brasil estudos vêm sendo conduzidos com fitoseídeos,
tetraniquídeos e estigmeídeos.

5.1 Técnicas Moleculares e Bioquímicas Usadas em Genética de Ácaros

O desenvolvimento de marcadores é um pré-requisito para estudos genéticos.


Desde o surgimento de uma das primeiras cópias das técnicas de biologia molecular
aplicadas aos ácaros e insetos (Hoy, 1994), o volume de metodologias disponíveis
tem crescido significativamente. Estas técnicas podem ser mais utilizadas nos
estudos de sistemática molecular e genética evolucionária (Hillis et al. 1996), send
que técnicas utilizadas no inicio da década de 1990 já são considerados
ultrapassados.

5.2 Aloenzimas
31

O mais comum sistema enzimático estudado em ácaros é o denominado de


esterases (Sula & Weyda, 1983; Gotoh & Takayama, 1992; Osakabe & Komasaki,
1996). Método usado no estudo da estrutura de ácaros tetraniquídeos Tetranychus
urticae em casa de vegetação (Tsagkarakou et al., 1999) e campo (Tsagkarakou et
al., 1997, 1998).
Embora a eletroforese de proteinas é um método ainda utilizado para estudar o
polimorfismo genético (Lewontin, 1991), este método possui limitações, dentre elas:
o material deve ser fresco ou congelado até sua utilização; para um determinado
locus a técnica revela apenas fração da variação genética atual. Em razão do tamanho
pequeno dos ácaros, limita-se o número de sistemas enzimáticos que podem ser
detectados por indivíduo. Modificações para aumentar a eficiência de trabalhos que
especificamente visam organismos pequenos usando isoeletrons, focando membranas
de acetato celulose foram descritas por Kazmer et al. 1991 e adaptado para T. urticae
por Tsagkarakou et al 1996, tornando possível revelar acima de cinco locus por
indivíduos em uma simples corrida de gel.

5.3 Amplificação de DNA usando PCR

O método PCR utiliza a enzima Taq polimerase para sintetizar uma sequência
de DNA complementar de oligonucleotídeos, DNA simples (primer) hibridizado para
uma parte específica (alvo) da fita de DNA. Um equipamento de PCR
(termociclador) aplica sucessivos ciclos de temperaturas (variando de 30 a 50 ciclos),
que incluem os ciclos de desnaturação (94° C) seguido por um estágio de anelamento
(40 a 60° C), seguido de um estágio final de extensão sob o efeito da polimerase (72°
C). O fragmento de DNA flanqueado por dois primers é assim duplicado
exponencialmente para produzir quantidades de DNA suficientes para procedimentos
analíticos (Fig. 6). Dentre as diferentes técnicas disponíveis, descreveremos aquelas
que já foram e são usadas ou que possuem potencial para serem utilizadas em ácaros.
32

Figura 6. Ilustração do método de PCR.


33

5.4 Polimorfismo de DNA amplificado ao acaso (RAPD).

Apesar desta técnica já não ser mais utilizada, nos tempos atuais, é de extrema
importância que se tenha o conhecimento desta, pois foi pioneira entres as diversas
técnicas de PCR. A técnica de RAPD utiliza os princípios de PCR para amplificação
casual de sequências de DNA (Williams et al., 1990). A amplificação é conduzida
usando um único primer simples com curta sequência (8 a 10 pares de bases) sob
condições de temperatura (geralmente baixas) obtendo multiplas cópias do pedaço de
fita de DNA do genoma estudado. Muitos fragmentos de DNA são amplificados e
alguns destes podem estar presentes em uma proporção de indivíduos da população.
A utilização de uma grande quantidade de primers tem a vantagem de se conseguir
copiar o genoma inteiro. Entretanto, a interpretação dos dados de RAPD é muitas
vezes limitada devido a baixa repetibilidade dos resultados (Black, 1993), sendo mais
agravante no caso de espécies de tamanho pequeno, as quais a quantidade de DNA
obtido por indivíduo é reduzida, assim é importante a realização de ensaios
determinando-se a concentração de DNA. Outro limite destes marcadores é que os
RAPDs padrões apresentam dominância, dificultando a identificação de
heterozigotos. No entanto, a técnica de RAPD foi muito utilizada como primeira
fonte de informação, devido seus resultados rápidos e de baixo custo. Pesquisas com
RAPD foram realizadas para comparar raças de Tetranychus sp e como complemento
de fecundidade e estudos de biometria (Hence et al., 1998).

5.5 Polimorfismo no comprimento de fragmentos de restrição (RFLP)

Por RFLP entende-se como sendo o polimorfismo no comprimento de


fragmentos obtidos por cortes da fita dupla de DNA. Tal polimorfismo é evidenciado
pela fragmentação do DNA através da utilização de enzimas de restrição e observado
por hibridação destes fragmentos com sequências homólogas de DNA marcadas com
radioatividade ou compostos que desencadeiam uma reação de luminescência. Para
que o polimorfismo seja detectado, se faz necessário que as sequências de
nucleotídios das fitas de DNA de dois ou mais indivíduos comparados sejam
distintas. Como a diferença em sequências de nucleotídeos ao longo da fita de DNA
34

de indivíduos distintos, é potencialmente comum, a detecção destas diferenças abre


perspectivas relevantes ao estudo do genoma, com implicações em diversas áreas de
genética (Guerreiro & Grattapaglia, 1998).
Regiões de genoma isoladas por PCR ou outro método podem ser digeridas
por enzimas de restrição que geram os padrões RFLP. Esta técnica foi utilizada para
diferenciar espécies do gênero Panonychus (Tetranychidae) (Osakabe & Sakagami,
1994). A técnica RFLP também foi utilizada para distinguir espécies através dos
métodos descritos a seguir para a obtenção de primers altamente específicos.

5.6 Microsatélites

São definidos como sendo fragmentos curtos de DNA (≈ 100 bp) contendo
padrões com dois a seis pares de bases repetidos “in tandem”. Durante a replicação
do DNA, repetições de unidades são adicionadas ou perdidas determinando a
evolução rápida destas regiões. Existe geralmente, uma grande variabilidade no
número de repetições de um determinado locus. Isto proporciona um número de
alelos por locus de microsatélites disponíveis para a análise da população. Existem
marcadores codominantes e o polimorfismo substâncial deste locu pode ser detectado
por um simples método, medindo o tamanho dos fragmentos amplificados de PCR.
Locu de microsatélites estão disponíveis para um número crescente de organismos e
este novo tipo de dado tem estimulado o desenvolvimento de métodos estatísticos
poderosos e programas capazes de analisar a frequência alélica (Luikart & England,
1999). Os microsatelites ainda são excelentes para estudar genética de populações
(Jarne & Lagoda, 1996; Goldstein and Schötterer, 1999).
Uma vez que o locus tenha sido identificado e suas sequências e primers foram
desenvolvidos para um único microsatelite flanqueador de regiões. Este passo pode
ser omitido se primers conhecidos funcionarem em outras espécies próximas
amplificando as regiões de microsatelites na espécie estudada. Desta forma,
sequências de microsatelites foram consideradas presentes em todos os genomas
eucariotos (Hamada & Kakunaga, 1982). Navajas et al. (1998) mostraram que são
extremamente raros em dois ácaros amostrados (T. urticae e N. falacis). Esforços
devem continuar nas pesquisas de microsatelites para T. urticae, do qual uma
biblioteca enriquecida com sequências de microsatelites, vem sendo construída
35

favorecendo o isolamento de vários microsatelites polimórficos em ácaros desta


família (Navajas, dados não publicados).

5.7 Polimorfismo de comprimento de fragmentos amplificados (AFLP)

A análise de AFLP representa a tecnologia para a obtenção de um grande


número de marcadores moleculares distribuídos em genomas de procariotos e
eucariotos. Desde o seu desenvolvimento e divulgação (Zabeau, 1993), esta técnica
vem sendo utilizada de forma crescente para finalidades de “fingerprinting”,
mapeamento genético localizado e construção de mapas genético, principalmente em
espécies que apresentam baixa taxa de polimorfismo de DNA. A técnica de AFLP
seleciona pelo método de amplificação de PCR, fragmentos restritos gerados de um
DNA genômico de um total digerido (Vos et al., 1995).
A análise de AFLP consiste essencialmente em quatro etapas. Na primeira
etapa o DNA genômico total do indivíduo é clivado com duas enzimas de restrição.
Na segunda etapa, adaptadores específicos são ligados aos terminais dos fragmentos
genômicos gerados pela clivagem. Numa terceira etapa, uma fração dos fragmentos é
amplificada seletivamente via PCR, utilizando primers especificamente
desenvolvidos para reconhecer as sequências nos adaptadores. E na quarta e última
etapa, a subpopulação de fragmentos amplificados é separada em gel de alta
resolução (Ferreira & Grattapaglia, 1998).

5.8 Sequenciamento de fragmentos de DNA.

Os fragmentos de DNA amplificados por qualquer PCR pode ser facilmente


analisado para polimorfismo tanto na clivagem da enzima de restrição, ou
sequenciado pelas ténicas que tem tornado rotineiras e viáveis econômicamente.
Obtendo-se a sequência dos nucleotídeos e proporcionando detalhes da variação no
DNA. As sequências de DNA são armazenadas em bancos de dados (ex. EMBL e
GenBank), que são utilizados mundialmente. Isto ainda oferece facilidades de busca
que posibilitam a identificação de sequências desconhecidas por similaridade, como
é o caso do programa BLAST (Karlin & Altschul, 1993). O sequenciamento do
produto pode ser realizado diretamente (Navajas et al., 1998a) ou após clonagem
dentro de plasmídeos vetores (Fenton et al., 1997). A técnica mais recente e por isso
36

mais cara é particularmente importante quando se estuda a variação intra-específica


em genes ribossomais. Sequências de DNA são usadas, também, para acessar as
divergências entre taxas ou indivíduos e ainda são capazes de reconstruir a relação
filogenética entre as entidades taxonômicas estudadas.

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39

MORFOLOGIA EXTERNA DOS ÁCAROS


Jeferson L. C. Mineiro2

No corpo do ácaro podem ser reconhecidos o gnatossoma, anterior e o


idiossoma, posterior (Fig. 1). O gnatossoma apresenta as peças bucais e não deve ser
confundido com uma cabeça, pois a massa nervosa central encontra-se no idiossoma
(Fig. 2). Os olhos são dorsais ou dorso laterais no propodossoma. Portanto, o
gnatossoma é internamente apenas um tubo através do qual o alimento é levado ao
esôfago. Sobre a cavidade oral encontra-se um par de quelíceras, geralmente
trissegmentadas e junto com os palpos constituem-se nos órgãos preensores. Os palpos
podem ser simples estruturas sensoriais que auxiliam na localização do alimento ou
modificados em órgãos raptoriais. As quelíceras variam bastante em seu aspecto e
geralmente o terceiro segmento é modificado em um dígito móvel que se opõe à parte
fixa distal do segundo segmento. Esses dígitos opostos ou quelas podem ser indentados
para preensão e dilaceração. Nos ácaros fitófagos é comum a redução do dígito fixo e o
desenvolvimento do dígito móvel em uma estrutura estiletiforme penetrante (Fig. 3).

2
Biólogo, Doutor, Instituto Biológico. E-mail: jmineiro@biologico.sp.gov.br
40

Figura 1. Representação esquemática da morfologia externa de ácaro Mesostigmata


(Evans, 1992).

A boca continua-se por uma faringe que funciona como uma bomba de sucção
para os alimentos. Pode haver glândulas salivares, que se abrem por condutos pares na
cavidade bucal ou por estiletes salivares anteriores à abertura oral. Essas glândulas
elaboram vários enzimas que permitem a digestão pré oral.
O idiossoma pode apresentar escudos bem esclerotizados ou pode ser mole. É
uma peça única porém pode ocorrer sulcos transversais em alguns ácaros pouco
esclerotizado. No idiossoma reconhecemos o podossoma, = região das pernas, e o
histerossoma, = região genital, que podem ser separados ou não por um sulco. Partes do
idiossoma podem apresentar escudos. Um escudo anterior pode cobrir o prodorso ou
todo o idiossoma, podem ocorrer um ou mais escudos posteriores. Ventralmente o
idiossoma pode mostrar-se dividido por sulcos e pode ou não apresentar escudos. As
aberturas genital e anal encontram-se geralmente em um escudo ou são protegidas por
valvas (Fig. 1).

Figura 2. Representação esquemática do ventre do gnatossoma de ácaro Mesostigmata


(Evans, 1992).
41

Figura 3. Tipos de quelíceras (Evans, 1992).


42

Tegumento

O exoesqueleto de um ácaro forma-se a partir de uma camada não diferenciada


de tecido e recoberta por uma fina camada de cuticulina. Esta é separada de uma
epiderme por um delicadíssimo estrato granular referido com camada de Schmidt.
Embora a estrutura fundamental do exoesqueleto seja semelhante para todos os
ácaros, a aparência, propriedades físicas e textura variam muito de um grupo para outro.
Vários Mesostigmata e a maioria dos Criptostigmata possuem placas duras e protetoras
que envolvem o corpo todo. Os Trobidiformes e Astigmata apresentam a cutícula
elástica, transparente e pode mostrar algumas regiões esclerotizadas. A forma e desenho
na estruturados ácaros é devido à ornamentação cuticular e é resultado da presença de
poros, carenas, suturas e pigmentos nas várias camadas. A ornamentação da cutícula é
geralmente constante dentro da espécie.
Existem muitas glândulas, setas, pigmentos e órgãos sensoriais especializados
espalhados pelo tegumento. As setas (Fig. 4) apresentam-se das formas mais variadas e
têm várias funções. Algumas são órgãos quimiorreceptores, outras são órgãos tácteis e
outras protegem contra o ataque de predadores.

Figura 4. Tipos de setas (Evans, 1992).

Órgãos sensoriais

A percepção sensorial é realizada por meio de uma variedade de órgãos


sensitivos (Fig. 5), os quais estão ligados a células nervosas. A percepção sensorial se
dá através das sensilas, que são estruturas cuticulares pelas ou através das quais os
estímulos são recebidos e propagados pelas células nervosas. Dentre as estruturas
responsáveis pela percepção estão:
a) Eupatídias – setas cuja função é gustatória/mecanoreceptora. Ocorrem em
todas as subordens. Estão localizadas nos pedipalpos e nos tarsos das pernas I e II.
b) Famuli – setas de função desconhecida. Estão restritas aos tarsos da pernas I e
estão associadas às solenídias;
43

c) Tricobótrias – setas inseridas em bases côncavas, com função


mecanoreceptoras, detectando os movimentos do ar. Ocorre nas pernas e nos corpos
(ex.: Bdelloidea e Oribatida, exceto nos aquáticos).
d) Solenídias – setas com formato piliforme, baculiforme ou ceratiforme. A
percepção solenidial é desconhecida, entretanto, poderia ser química.
e) Lirifissuras – fendas que medem a tensão ou a resistência induzida pela
atividade muscular, vibrações no substrato e pressão da hemolinfa. Estão localizadas no
dorso, nas pernas, quelíceras e pedipalpos, no caso de Mesostigmata.
f) Ocelos – estão ausentes em Mesostigmata, porém são comuns em Prostigmata
e raramente ocorrem em Oribatida e Acaridida.

Figura 5. Representação
esquemática dos diferentes tipos
de órgãos sensoriais. A-B:
famuli; C: solenídia inclinada;
D: solenídia ereta; E: lirifissura
– tarso IV de Mesostigmata; F:
tricobótria (Oribatida) (Evans,
1992).

Pernas

A grande maioria dos ácaros apresenta 3 pares de pernas no estádio larval e 4


pares nos outros estádios. Em Eriophyoidea, estes apresentam apenas 2 pares de pernas
em todos os estádios e em alguns Podapolipidae e Tenuipalpidae de 1 a 3 pares.
A perna é formada basicamente de 6 segmentos: Coxa, trocanter, fêmur, genu,
tíbia e tarso. O fêmur pode apresentar-se subdividido em basi e telofêmur. As pernas
ambulatórias, o tarso geralmente termina em um par de unhas ou garras e uma estrutura
semelhante a uma ventosa ou empódio (Fig. 6). Quando as pernas são modificadas e
usadas como estruturas sensoriais, as unhas são vestigiais ou ausentes. Em certos
grupos, as pernas podem ter outras funções, como para natação e como órgãos de
fixação para cópula. Outras ainda são adaptadas para fixação em pelos, enquanto em
alguns poucos ácaros o desenvolvimento das pernas posteriores lhes permite saltar.
44

Figura 6. Diferentes tipos de unhas e empódios (Evans, 1992).

Referências

BAKER, W.E. & WHARTON, G.W. An Introduction to Acarology. The Macmillan


Company, New York. 1952. 465p.
EVANS, G.O. Principles of Acarology. C.A.B. International. Cambridge. 1992. 563p.
FLECHTMANN, C.H.W. 1975. Elementos de Acarologia. Livraria Nobel S.A. 1975. 344p.
KRANTZ, G.W. A Manual of Acarology. 2 nd Edition. Oregon State University Book
Stores, Inc. Corvallis. 1978. 509 p.
KRANTZ, G.W. & AINSCOUGH, B.D. Acarina: Mesostigmata (Gamasida). Pág. 583-665.
In: Soil Biology Guide. D.L. Dindal (Ed.). A Wiley – Interscience Publication. John
Wiley & Sons. USA. 1990.
MORAES, G.J. de & FLECHTMANN, C.H.W. Manual de Acarologia – Acarologia básica e
ácaros de plantas cultivas no Brasil. Holos Editora. 2008. 308p.
45

Taxonomia de Ácaros Predadores em Plantas e Ácaros de Solo

Jeferson L. C. Mineiro2 e André L. Matioli.

Ordem Mesostigmata
Família Phytoseiidae Berlese

São predadores de outros ácaros e insetos. Uma espécie é predadora de


nematóides. Há citações e que alguns se alimentam de plantas, de fungos e de “honey
dew”. Geralmente não ocorrem em grandes quantidades, são encontrados em plantas
cultivadas e naturais. Os ácaros da família Phytoseiidae são objeto de muitos estudos
taxonômicos, biológicos e ecológicos por serem principalmente predadores e de grande
importância no controle de ácaros fitófagos, sobretudo dos da família Tetranychidae.
Características da família: Apotele do palpo bifurcado; escudo dorsal inteiro;
com menos de 21 pares de setas; apenas 2 setas da série r-R; espermatecas abrindo-se
entre as coxas III e IV.

Chave para separação dos gêneros de Phytoseiidae (baseado em Walter et al.,


2003)

1. Região podonotal do escudo dorsal com 5 ou 6 pares de setas “laterais”; setas j3, z2,
z4 e s4 sempre presentes; setas z3 e/ou z6 presentes .................................................2
1’. Região podonotal do escudo dorsal com 4 pares de setas “laterais”; setas j3, z2, z4 e
s4 (Fig. 1)......................................................... Amblyseiinae Muma .....................3

2
Biólogo, Doutor, Instituto Biológico, Caixa Postal 70, 13001-970, Campinas, SP. E-
mail: jefmin@hotmail.com
46

Figura 1. Amblyseiinae.
2. Setas Z1, S2, S4 e S5 ausentes; setas r3 geralmente inseridas no escudo dorsal
................. Phytoseiinae Berlese ......... Algumas setas do escudo dorsal dilatadas e
serreadas; setas s6 presentes e z6 ausentes ...................... Phytoseius Ribaga (Fig. 2).
2’. Setas Z1, S2, S4 e S5 presentes; setas r3 geralmente na cutícula próximo ao escudo
dorsal (raramente no escudo) ............Typhlodrominae Wainstein ........................ 10

3. Setas j6 mais longas que o dobro da distância entre suas bases .............. Phytoseiulus
Evans.
3’. Setas j6 menores que o dobro da distância entre suas bases ...................................... 4

4. Setas JV1 inseridas posteriormente à margem anterior do escudo ventrianal; dígito


das quelíceras com margem interna distintamente côncava; com 3 a 5 dentículos no
dígito fixo, todos distais ...................................................... Euseius Berlese.
4’. Setas JV1 adjascentes à margem anterior do escudo ventrianal; dígitos das quelíceras
com margem interna retilínea ou levemente côncava; dígito fixo com número
variável de dentículos, distribuídos ao longo da margem interna ............................. 5

5. Genu III sem macrosetas; perna IV com ou sem macroseta; levemente esclerotizados;
coloração levemente amarelada; setas afilando-se progressivamente da base ao ápice
...................................................................................................... Neoseiulus Hughes.
5’. Genu III e genu, tíbia e tarso IV com macrosetas ...................................................... 6

6. Setas J2 ausentes ...................................................................... Proprioseiopsis Muma.


6’. Setas J2 presentes ....................................................................................................... 7

7. Ácaros fortemente esclerotizados; de cor marrom; escudo ventrianal amplo, com


margem anterior reta e 3 pares de setas pré-anais ......................... Iphiseiodes Muma.
7’. Ácaros levemente esclerotizados; escudo ventrianal pouco alargado; normalmente
brancos ou amarelados ............................................................................................... 8

8. Tarso I com seta proximal ereta; setas Z5 consideravelmente maiores que a distância
entre suas bases; pilus dentilis inserido no meio do dígito fixo ............... Amblyseius
Berlese.
8’. Tarso I sem seta proximal ereta; setas Z5 menores que a distância entre suas bases
.....................................................................................................................................9

9. Margem posterior do escudo esternal trilobada, freqüentemente não visível; escudo


ventrianal em forma de vaso ................................................. Typhlodromalus Muma.
9’. Margem posterior do escudo esternal reta ou côncava, bem visível; escudo ventrianal
aproximadamente pentagonal .............................................. Typhlodromips De Leon.

10. Setas S4 e JV4 presentes; Z1 ausentes; com macrosetas ................. Typhlodromus


Scheuten.
10’. Setas S4 e JV4 ausentes ......................................................................................... 11

11. Setas R1 ausentes e S2 presentes; sem macrosetas; cérvix da espermateca


alongado ................................................................................ Galendromus Muma.
11’. Setas R1 e S2 presentes; com 0 a 3 macrosetas na perna IV; setas S5 geralmente
menores que Z5 ............................................................................ Metaseiulus Muma.
47

Família Ascidae Voigts & Oudemans

Os ácaros da família Ascidae são importantes predadores edáficos, sendo


comuns em solo, folhedo e sob casca de árvores de florestas tropical e subtropical, em
culturas e também em associação com o homem e outros animais. O conhecimento das
espécies de ácaros desta família ainda é muito pequeno no Brasil, praticamente não se
conhece as espécies aqui existentes. São comuns em produtos armazenados, predando
outros ácaros e insetos. Blattisocius tarsalis é o mais comum em produtos armazenados.
Os ácaros do gênero Asca são conhecidos por serem predadores de outros ácaros, ovos
de insetos, colêmbolas e nematóides.
Características da família: Escudo dorsal inteiro ou dividido; com mais de 21
pares de setas dorsais; muitas setas da série r-R.

Chave para separação dos gêneros de Ascidae (baseado em Halliday et al.,


1998)

1. Escudo dorsal de adultos e deutoninfas completamente divididos em 2 partes ....... 2


1’. Escudo dorsal de adultos e deutoninfas inteiro .......................................................... 4

2. Setas Z4 e S5 geralmente próximas e inseridas em um tubérculo pós-lateral


proeminente; setas z1 ausentes; setas j2 bem atrás e no nível de j1; genu I com 12
setas .......................................................................................... Asca Heyden (Fig. 2).
2’. Setas Z4 e S5 bem separadas, não inseridas em tubérculos; setas z1 presentes; setas
j2 deslocadas anteriormente; genu I com 13 setas ..................................................... 3

Figura 2. Asca garmani Hurlbutt Figura 3. Gamasellodes rectriventris Lindquist

3. Escudos dorsais anterior e posterior sem linhas transversais no nível das setas z6 e
J1; genu IV com 9 setas; tíbia IV com 10 setas ........... Gamasellodes Athias-Henriot
(Fig. 3).
3’. Escudos dorsais anterior e posterior com linhas transversais no nível das setas z6 e
J1; genu IV com 8 setas, tíbia IV com 9 setas ........................ Protogamasellus Karg.
48

4. Pernas II-IV com lóbulo mediano do púlvilo delgado; fêmur I-II com 11 e 10 setas;
seta 1 do hipostoma longa, em forma de chicote ........................ Cheiroseius Berlese.
4’. Pernas II-IV com lóbulo mediano do púlvilo arredondado: fêmur I-II geralmente
com 12 e 11 setas, seta 1 do hipostoma não é longa ................................................. 5

5. Cornículi delgados e aproximados; tectum arredondado e liso; dígito fixo reduzido,


com poucos ou nenhum dente .................................................... Blattisocius Keegan.
5’. Cornículi robusto e separados; tectum não arredondado; dígito fixo bem
desenvolvido, com poucos dentes .......................................................................... 6

6. Dígito fixo com pilus dentilis setiforme; dígito móvel sem mucro ventral; escudo
genital geralmente truncado posteriormente ............................................................. 7
6’. Dígito fixo com lóbulo membranoso no lugar do pilus dentilis; dígito móvel
geralmente com mucro ventral próximo da base; escudo genital da fêmea
arredondado posteriormente ..................................................................................... 8

7. Fêmeas com 11 pares de setas na região anterior do escudo dorsal (s5 ausente) e 7 a
10 pares na região posterior (Z1 e J2 ausentes); escudo genital arredondado
posteiormente; genu II e III com 10 e 8 setas respectivamente ............. Aceodromus
Muma.
7’. Fêmeas com 12 a 23 pares de setas na região anterior do escudo dorsal (s5 presente)
e 10 a 15 pares na região posterior (Z1 e J2 presentes); escudo genital de fêmea
truncado posteriormente; genu II e III com 11 e 9 setas, respectivamente
....................................................................................................... Lasioseius Berlese.

8. Adultos com 7 a 13 pares de setas marginais (r-R) sobre a membrana lateral; fêmeas
com no máximo 15 pares de setas na região posterior do escudo dorsal .. Melichares
Hering.
8’. Adultos com 0 a 3 pares de setas (R) sobre a membrana lateral; fêmeas com 18 a 22
pares de setas na região posterior do escudo dorsal ................ Proctolaelaps Berlese.

Família Laelapidae Berlese

A família Laelapidae foi descrita por Berlese em 1892, incluindo vários gêneros
como Seius Koch, Iphis Koch, Laelaps Koch, Neoberlesia Berlese, Podocinum Berlese,
Iphiopsis Berlese e Stylochirus G. & R. Canestrini, com espécies de vida livre,
associadas à artrópodes e ectoparasitas facultativos.
Os ácaros da família Laelapidae caracterizam-se pela forma de gota pendente do
escudo genital da fêmea; escudo dorsal inteiro; apotele do palpo geralmente bifurcado
(Figura 1).

Chave para separação dos gêneros de Laelapidae (baseado em Freire, 2007)

1. Fêmeas com escudo genital expandido posteriormente às coxas IV, com 4 pares de
setas, 2 pares na margem e 2 afastados da margem .............. Pseudoparasitus
Oudemans
1´. Fêmeas com escudo genital com 1 par de setas
................................................................ 2
49

2. Sem setas dorsais não pareadas entre as setas da série J .................Stratiolaelaps


Berlese
2´. Com setas dorsais não pareadas entre as setas da série J ... Cosmolaelaps Berlese
(Fig. 4)

Figura 4. Vista ventral e dorsal de Laelapidae, Cosmolaelaps simplex.

Ordem Prostigmata
Família Cheyletidae Leach

Todos são predadores de outros ácaros e insetos. Os tchecoslovacos têm


estudado estes ácaros para controle de pragas de produtos armazenados. O mais
estudado é o Cheyletus eruditus. A espécie Chelotogenes ornatus está associada à
cochonilha. São ácaros de coloração amarelada a vermelha. São de vida livre. Ocorrem
em depósitos de grãos e farelos, estábulos, em matéria orgânica em decomposição na
superfície do solo, alguns vivem em cascas de árvores e outros em ninhos.
Características da família: Fêmur do palpo é o maior segmento e é curvado como
um cotovelo na porção mediana; tíbia do palpo com uma ou mais unhas robustas; tarso
com duas grandes setas pectinadas; quelas em forma de estiletes curtos.

Chave para separação dos gêneros de Cheyletidae (baseado em Gerson et al.,


1999)

1. Todos os tarsos com unhas


.................................................................................................. 1
1’. Um ou mais tarsos sem unhas
.............................................................................................. 6
50

2. Sem ocelos
.......................................................................................................................... 3
2’. Um par de ocelos presentes
................................................................................................. 4

3. Peritremas formando M; margem do escudo dorsal com setas acicular, fusiforme ou


espatulada, consideravelmente pilosa; setas dorsomediana em pouca quantidade,
minúscula e simples na estrutura .............................................. Cheyletus Latreille
(Fig. 5).
3’. Peritremas formando U invertido; margem do escudo dorsal com setas espatuladas
ou em forma de leque; seta dorsomediana numerosas, conspícuas e muito
modificada .................................................................................................................
Eucheyletia Baker.

Figura 5. Cheyletus misonnei Fain & Lukoschus. (Gerson et al. (1999)

4. Histerossoma com um par de escleritos cobrindo parcialmente o metapodossoma;


setas dorsais lanceoladas; com um par de setas em cada um dos escudos que cobrem
o metapodossoma ........................................................................... Cheletomimus
Oudemans.
51

4’. Histerossoma com um escudo mediano; setas dorsais de formas variadas


......................... 5

5. Setas marginais do propodossoma heteromórficas, as que estão acima dos ocelos são
flabeladas e as que estão entre os ocelos são longas e estreitas ....... Grallacheles De
Leon.
5’. Setas marginais do propodossoma similares no tamanho e na forma, durtas e em
forma de leque .................................................................................................
Hemicheyletia Volgan.

6. Tarso I com duas setas terminais conspícuas ............................... Cheletogenes


Oudemans.
6’. Tarso I com no mínimo quatro setas terminais conspícuas .................. Prosocheyla
Volgin.

Família Cunaxidae Thor

São ácaros de coloração avermelhada a marrom quando vivos e de movimentos


rápidos. Esses ácaros são predadores de outros ácaros e de pequenos insetos. São
encontrados em húmus, musgos e sobre a folhagem de plantas e às vezes em produtos
armazenados.
Características da família: Dorsalmente possuem 2 pares de órgãos pseudo-
estigmáticos no propodossoma; palpos raptatoriais; quelíceras alongadas e o dígito
móvel apresenta-se como uma lâmina recurvada.

Chave para separação dos gêneros da família Cunaxidae (baseado no curso de


acarologia agrícola, 2003. OSU Acarology Summer Program)

1. Palpos com 5 segmentos (Fig. 6) ..................................................................................


2
1’. Palpos com 3 segmentos ..............................................................................................
3
52

Figura 6. Cunaxidae.

2. Seta L4 ausente; coxas I e II formando ou não um escudo esternal de formato


pentagonal ..........................................................................................................
Neocunaxoides Smiley.
2’. Seta L4 presente; coxas I e II formando um escudo esternal de formato pentagonal
............................................................................................................... Pulaeus Den
Heyer.

3. Tarsos I-IV longo e delgado, terminando em uma pequena borda lateral biolobada
.................................................................................................... Armascirus Den
Heyer.
3’. Tarsos I-IV curto e robusto, terminando em uma grande borda lateral bilobada
........................................................................................................... Dactyloscirus
Berlese.

Família Bdellidae Dugés

São encontrados em plantas rasteiras, solo e produtos armazenados. São em


geral de coloração avermelhada, podendo apresentar-se esverdeados, pardos ou
manchados. É usado no controle biológico de colêmbolas e outros ácaros que ocorrem
no solo e plantas rasteiras.
Características da família: Corpo e rostro são bem alongados; apresentam uma
sutura entre o propodossoma e o histerossoma; tegumento é estriado; possuem ocelos;
possuem 2 pares de órgãos pseudo-estigmáticos; 3 pares de papilas genitais.

Chave para separação dos gêneros de Bdellidae (baseado em Hernandes et al.


2008)
53

1. Hipostoma com 2 pares de setas ventrais (Fig. 7) ................................................2


1´. Hipostoma com 6 pares de setas ventrais ..............................................................3

2. Tricobótria ausente nas tíbias I e IV; prodorso estriado com lobos irregulares
dispostos longitudinalmente; setas ve em linha transversa com a sensila anterior;
4 setas no basifemur do palpo e 5 setas no tibiotarso palpal; 8 setas em cada
valva genital ...................................... Tetrabdella neotropica Hernandes & Feres
2´. Tricobótria presente nas tíbias I e IV; prodorso com estrias contínuas e
transversas; setas ve próximas à sensila posterior do que a anterior; 9 setas no
basifemur do palpo e 7 setas no tibiotarso palpal; 10 setas em cada valva genital
................................................... Spinibdella denheyeri Hernandes, Daud & Feres

3. Tricobótrias ausentes nos tarsos IV; 6-7 setas em cada valva genital
.............................................Hexabdella cinquaginata Hernandes, Daud & Feres.
3´. Tricobótrias presentes tarsos IV; 8 setas em cada valva genital ... Bdella Latreille

Figura 7. Bdella sp.

Família Stigmaeidae Oudemans, 1931

Stigmaeidae OUDEMANS, 1931: 252; SUMMERS, 1966: 231; CHAUDHRI et al.,


1974: 192; WAINSTEIN, 1978: 153; TSENG, 1982: 1-52; KUZNETZOV & PETROV,
1984: 101; UECKERMANN & MEYER, 1987: 371; MEYER & UECKERMANN,
1989: 42. Matioli et al., 2002: 100.
Gênero tipo: Stigmaeus KOCH, 1836

Caracteres: dorso quase liso a completamente coberto por dois escudos; ou


parcialmente coberto por três ou mais escudos; 12 a 14 pares de setas dorsais; quelíceras
geralmente livres, podendo apresentar-se parcialmente fundidas em alguns gêneros;
palpo no formato unha-dedão presente e uma unha na tíbia do palpo, com um acessório
em forma de seta ou em forma de unha em sua base e outro no tarso palpal; os sensílos
terminais do tarso palpal variam de um espinho simples, bidentado ou tridentado, ou
54

com quatro sensílos; o vestíbulo anal e genital é coberto por um par de escudo
anogenital.

Chave para os gêneros de Stigmaeidae e para espécies relatadas em citros – fêmeas


adultas (baseado em Matioli et al., 2002)

1. Opistossoma completamente ou parcialmente coberto com um ou mais escudos;


duas ou mais setas inseridas em um dos escudos que se encontram anteriores ao
escudo supra-anal
......................................................................................................................................
........2
- Opistossoma (excluindo os escudos supranais) sem escudos, se com um escudo, o
tarso palpal é enclinado no terço basal; pequenos escudos podem estar presentes nas
bases das setas, mas nenhum escudo apresentando mais que uma
seta………....................................................................................................................
.....32

2. Escudos prodorsal e opistossomal


fundidos………...........................…...……..................3
- Escudos prodorsal e opistossomal não
fundidos…………….......................…..................5

3. Idiossoma plano dorsalmente e levantado lateralmente como um cilindro;


tegumento
reticulado…..……….................................................................................Mendanaia
Wood
- Idiossoma convexo dorsalmente e não levantado lateralmente; tegumento estriado
......................................................................................................................................
.......4

4. Setas ad-oral or3 simples; tarso das pernas com almofadas membranosas que
podem estar entre as
unhas…..............…..................................................................…Mullederia Wood
- Setas ad-oral or3 em forma de foice ......................Makilingeria Rimando e Corpuz-
Raros

5. Quelíceras parcialmente fundidas na


base......……...………...................................….......6
- Quelíceras
livres……………….......................................................…..…….........….........8

6. Escudos onde se inserem as setas c2 localizados em frente à coxa III ou


dorsolateralmente a estas
....................................................................................................7

- Escudos onde se inserem as setas c2 localizados posteriormente à coxa


III.........................................................................................................Postumius
Kuznetzov
55

7. Ventre do sub-capítulo com um par de seta (m); unha da tíbia palpal menor que a
metade do comprimento do tarso, seta acessória em forma de pêlo; dorso com 12
pares de
setas……............................................................................…..............Mediolata
Canestrini
- Ventre do sub-capítulo com dois pares de setas (m e n); unha da tíbia palpal quase
do mesmo tamanho que o tarso, seta acessória em forma de unha; dorso com 13
pares de
setas..……..........................................................................….....Cheylostimaeus
Willmann

8. Dorso coberto com 9 a 16


escudos…...…………............................................…...........…9
- Dorso coberto com menos de 9
escudos…………….....…............................…....….......14

9. Escudo opistossomal coberto medianamente com escudos não pareados além do


escudo supra-anal, setas f inseridas no escudo posterior, escudos mais largos que
longos
.........................................................................................................…Villersiella
Willmann
- Histeroosma coberto com um escudo mediano grande e um escudo supra-anal
posterior; ou um escudo mediano e vários escudos menores; ou a maioria dos
escudos podem ser obscurecidos ou ausentes
..................................................................................................10

10. Número Máximo de quatro pares de setas no escudo mediano; escudo mediano às
vezes representado por um a três pares de escudos pequenos; setas dorsais e1 e e2
nunca sobre escudos separados..................................................Zetzellia Oudemans
...........................11
- Máximo de três pares de setas no escudo mediano; escudo mediano compreende um
escudo mediano grande e/ou um escudo mediano grande e dois escudos próximos
medianos pequenos; setas e1 e e2 estão inseridas sobre escudos diferentes
……...………......…....................................................................................Stigmaeus
Koch

11. Tarso IV com sete


setas…………..........…………...........................................…..……..12
- Tarso IV com seis setas……….……………............…...............…...Z. languida
Gonzalez

12. Escudos no opistossoma quase obscuros, escudo mediano ausente, setas dorsais
sobre pequenos
escudos…………..…….....................................................................……..…..13
- Escudos medianos presentes porém sem setas; setas dorsais sobre escudos
alongados; setas ag2 sobre escudos grandes e alongados...............................Z.
malvinae Matioli et al.
56

13. Tarso I com 13 setas; setas ag1 e ag2 em escudos muito pequenos
….....................................................................................................Z. mapuchina
Gonzalez
- Tarso I com 12 setas; setas ag2 sobre grandes escudos alongado ..........Z. maori
Gonzalez

14. Idiossoma alongado pelo menos três vezes mais longo que largo, com 14 pares de
setas
dorsais………………………....................................................….Macrostigmaeus
Berlese
- Idiossoma fusiforme ou amplamente oval, com 12 a 13 pares de setas dorsais
...............15

15. Prodorso com quatro pares de setas, excluindo


c2……....................................................16
- Prodorso com três pares de setas, excluindo
c2……………….........................................18

16. Dorso quase completamente coberto por três ou quatro escudos (excluindo escudo
umeral); eupatídio terminal do tarso palpal
tridentado……………..................................17
- Escudos dorsais reduzidos; escudo prodorsal confinado na porção média do corpo;
tarso palpal com quatro eupatídios….....................................................Prostigmaeus
Kuznetzov

17. Dorso quase completamente coberto por três escudos (prodorsal, mediano e supra-
anal)......................................................................................................Eustigmaeus
Berlese
- Dorso quase completamente coberto por quatro escudos (escudo opistossomal
dividido
transversalmente)…...........................................................…Ledermuelleriopsis
Willmann

18. Unhas em todas as pernas sobrepostas por um arólio


membranoso........................................................................Neilstigmaeus Gerson &
Meyer
- Unhas
normais……….............................…..........................................……………....…19

19. Escudo opistossomal mediano contendo as setas c1, d1, d2, e1 e e2


..…....................................Agistemus
Summers……….….................…...........…………20
- Escudo mediano contendo setas c1, d1, e1, e2 e f, as setas c2 e d2 em escudos
separados................................................................................................Villersia
Oudemans

20. Dois pares de setas paragenitais (ag1-2)


...............…………...........................…..….…..21
57

- Um par de setas paragenitais (ag1); escudos dorsais reticulados .....A. fleschneri


Summers

21. Escudos dorsais


reticulados………….....…...................................................…......….....22
- Escudos dorsais
lisos………………..............................................................................…23

22. Setas dorsais longas, sci, c1, d1, e e1 iguais ou mais longas que as distâncias para
c1, d1, e1 e h1, respectivamente; corpos pós-oculares grandes e sem uma estrutura
lenticular associada.…..........................................................A. impavidus Chaudhri,
Akbar & Rasool
- Setas dorsais curtas; sci, c1, d1, e e1 mais curtas que a distância para c1, d1, e1 e
h1, respectivamente; corpos pós-oculares pequenos e com uma estrutura lenticular
associada ……............................................................…..…...........................….A.
clavatus Gonzalez

23. Apenas um par de corpos pós-oculares


presente......………........................................….24
- Um par extra de corpos pós-oculares; escudo mediano relativamente
pequeno………………........................................................................A. exsertus
Gonzalez

24. Corpos pós-oculares muito grandes; setas sce quase que com o mesmo tamanho do
diâmetro dos corpos pós-
oculares………..........................................................................25
- Setas sce muito mais longas que o diâmetro dos corpos pós-oculares
….........................27

25. Setas sce do mesmo tamanho ou ligeiramente mais curtas que o diâmetro dos
corpos pós-oculares; escudo prodorsal mais largo que o escudo mediano
…............................................................................................... A. macrommatus
Gonzalez
- Setas sce mais longas que o diâmetro dos corpos pós-oculares ou as distâncias entre
as setas sci e
sce….................................................................................................................26

26. Setas sci muito mais longas que ve; razão ve/ve-ve = 1,7 ...A. giganteus Ehara &
Wongsiri
- Setas sci ligeiramente mais longas que ve; a razão ve/ve-ve = 2,7 ....A. industani
Gonzalez

27. Setas c1 menores que a distância c1-d1


……….........................................…………........28
- Setas c1 maiores ou iguais a distância c1-
d1………………..............................................29

28. Razão ve/ve-ve = 1,4 a 1,7 e c1/c1-c1 = 1,5 a 1,6; setas sci longa....A. floridanus
Gonzalez
58

- Razão ve/ve-ve = 1,0 e c1/c1-c1 = 0,6, setas dorsais curtas, setas c2 são as mais
longas ........……………………….........................................................…….A.
terminalis Quayle

29. Setas sci, c1 e d1 curtas, iguais ou pelo menos 1/4 a 1/3 de seus comprimentos mais
longa que a base da seta mais próxima
posterior………….........……........................................30
- Setas sci, c1 e d1 muito longas, alcançando aproximadamente metade ou mais que
seus comprimentos ultrapassando a base da seta posterior ......................A.
longisetus Gonzalez

30. Distâncias entre as setas c1 (52) maiores que entre as setas e1


(38)............................................................................................A. africanus Meyer &
Ryke
- Setas c1 e e1 quase igualmente
espaçadas………….........................................................31

31. Setas dorsais longas, setas f (76); genu I com setas d e l'' semelhantes no
comprimento e muito mais curtas que l' ........................................A. camerouensis
Bolland & Ueckermann
- Setas dorsais menores, setas f (58); genu I com setas l'e l'
'muito mais curtas que as
setas d…...........................................................................…A. brasiliensis Matioli et
al. (Fig. 8).

32. Tarsos com arólios membranosos


……....………..............................…..............…...…..33
- Tarsos sem
arólios………...........……....……..…….......................................…..............35

33. Unhas presentes nas


pernas......…..........…........................................................................34
- Unhas ausentes……………………….................…….........…....….....Pilonychiopus
Meyer

34. Empódio na base do arólio; tarso do palpo com base curvada .......Summersiella
Gonzalez
- Empódio sobre o arólio distalmente; tarso do palpo normal ......Parastigmaeus
Kuznetzov

35. Tarso do palpo com quatro eupatídios terminais...............................…Storchia


Oudemans
- . Tarso do palpo com eupatídio terminal em forma de espinho simples ou bidentado
......................................................................................................................................
......36

36. Escudo prodorsal bem definido; coxas com escudos endopodais


.........................................................................................................Pseudostigmaeus
Wood
59

- Escudo prodorsal pouco definido; escudos endopodais ausentes


..............................................................................Eryngiopus
Summers...........................37

37. Escudo prodorsal liso ou obscuro; setas f sobre tegumento


estriado….…................................................................................................................
......38
- Escudo prodorsal estriado; setas f em pequenos escudos......E. citri Rakha &
McCoy

38. Sensílio terminal no tarso do palpo ramificado; fórmula das setas nos gênus
4-0-0-
0....................................................................................................................................
......39
- Sensílio terminal em forma de espinho simples; fórmula das setas nos gênus
2-1-1-1 …...…..…………........................................................E. harteni Van Dis &
Ueckermann

39. Somente as setas h1 em escudos supra-anais; três pares de setas ag presentes (ag1-
3) .................................................................................................E. siculus Vacante
& Gerson
- Ambas as setas h1-2 sobre escudos supra-anais; dois pares de setas ag
.....................................................................................................................E. bifidus
Wood
60

Figura 8. Representação taxonômica da família Stigmaeidae (Agistemus brasiliensis


Matioli et al., 2002)

Família Eupalopsellidae Willmann, 1952

Eupalopsellidae Willmann,1952: 163; Evans, 1954:805; Summers, 1960: 124-125;


Summers, 1966: 228; Meyer & Rodrigues, 1966:17; Meyer et al., 1973: 9;
Strandtmann & Prasse, 1976: 15; Livshitz & Kuznetzov, 1976: 69; Charlet &
MacMurtry, 1977: 199; Wainstein, 1978: 153; Krantz, 1978: 153; Krantz, 1978: 255,
300; Kethley, 1982: 137; Kuznetzov & Petrov, 1984: 94; Meyer & Ueckermann,
1989: 4; Swift, 1997:39; Matioli et al., 2002: 115.
Gênero Tipo: Eupallosellus Sellnick,1949.

Esta família é definida pelas seguintes características: base das quelíceras


fundidas; peritremas e estigmas ausentes, palpos longos e delgado, com tarso palpal
alongado ou curto; tarso palpal com eupatídio simples distal, unhas da tíbia
unciformes, reduzidas ou obsoletas; idiossoma oval ou alongado; Idiossoma coberto
por quatro escudos dorsais, sendo o prodorsal reduzido ou dividido, opistossoma com
61

um a três escudos ou um simples escudo que cobre todo o dorso; 13 pares de setas
dorsais, setas sci em posição dorso-central; setas h2 presentes ou ausentes nos
machos; ausência de escudos ventrais na fêmea; setas ventrais geralmente longas e
flageliformes. Empódio com dois pares de filamentos sobre um bastão mediano.

Chave para Gêneros de Eupalopsellidae (baseado em Matioli et al., 2002).

1. Escudo prodorsal dividido, as vezes pequeno


....................................................................... 2
- Escudo prodorsal inteiro e
distinto........................................................................................ 4

2. Opistossoma com um ou dois escudos (incluindo os escudo suranal); escudo


prodorsal com um ou sem dois pares de setas; olhos e corpos pós-oculares sobre o
integumento
......................................................................................................................................
....... 3
- Opistossoma com três escudos; escudo prodorsal com três pares de setas; um par de
olhos e corpo pós-oculares ............................................................................
Eupalopsis Canestrini

3. Escudo prodorsal pequeno e desprovido de setas, idiossoma somente com escudo


suranal porteriormente ....................................................................................
Saniosulus Summers
- Escudo prodorsal distinto com as setas vi e ve, idossoma com dois escudos
(opistossomal mediano e suranal) em forma fundida e apenas com as setas e1
........................................................................................ Peltasellus Meyer &
Ueckermann

4. Idiossoma completo ou parcialmente coberto por uma fina bainha ou com dois ou três
escudos, setas dorsais curtas, grossas e serrilhadas, inseridas sobre tubérculos
............................................................................................................. Exothorhis
Summers
- Idiossoma coberto por quatro escudos, setas dorsais longas finas e levemente
serreadas, não inseridas sobre tubérculos ...............................................................
Eupalopsellus Sellnick
62

FiFigura 9. Representação taxonômica de Eupalopsellidae (Meyer & Ueckermann,


1989)
63

Ordem Astigmata
Várias espécies são importantes em produtos armazenados e parasitos. Em geral
umidade abaixo de 60% mata o ácaro. Geralmente são esbranquiçados, pouco
esclerotizados e de movimentos lentos. Não possuem abertura respiratória. Esta se faz
através da cutícula. Em alguns casos, a deutoninfa é uma forma de resistência às
condições desfavoráveis e também uma forma para se dispersar, forese. O ciclo de vida
passa por ovo, pré-larva, larva, PN, alguns casos DN, TN e adulto.

Família Acaridae Ewing & Nesbitt

Os ácaros pertencentes à esta família possuem numerosos representantes, a


maioria são de vida livre e alguns associados a insetos. São encontrados em quase todos
os habitats. Encontram-se formas saprófagas, micófagas e fitófagas. Alimentam-se de
todos os tipos de substâncias orgânicas e freqüentemente infestam carnes preservadas,
peles, sementes, grãos e produtos farináceos. Podem ser encontrados em matéria
orgânica em decomposição, casca de árvores e ninhos. Também causam danos
apreciáveis a meios de culturas em laboratórios e criações de insetos.
Características da família: Propodossoma e histerossoma divididos por uma
sutura transversal; quelas desenvolvidas; condilóforos nos tarsos bem desenvolvidos.

Chave para separação dos gêneros de Acaridae (baseado em Moraes &


Flechtmann, 2008)

1. Setas verticais externas presentes; setas escapulares internas maiores que as


externas; tarsos I-II duas ou mais vezes mais longo que o diâmetro basal
................................................................................. Tyrophagus Oudemans (Fig. 10).
1’. Setas verticais externas rudimentares; tarsos I-II com seta ft’ em forma de espinho;
pernas curtas ......................................................... Rhizoglyphus Claparède (Fig. 11).

Figura 11. Rhizoglyphus echinopus


Figura 10. Tyrophagus putrescentiae (Schrank) (Fumouze & Robin)
vi = vertical interna; ve = vertical externa
64

Família Winterschmidtiidae Oudemans

Estes ácaros apresentam formas micófagas e saprofíticas, sendo encontrados em


matéria orgânica em decomposição, em ramos e folhas de plantas onde provavelmente
alimentam-se de fungos. Várias espécies estão associadas a insetos e roedores.
Características da família: Corpo ovalado a alongado; tegumento liso;
condilóforos pouco desenvolvidos.

Chave para separação dos gêneros de Winterschmidtiidae

1. Cutícula lisa; tíbias I-II com uma seta ventral; histerossoma com 4-5 pares de setas
mais longas que o comprimento do corpo ................ Saproglyphus Berlese (Fig. 12).
1’. Cutícula com finas estriações transversas; tíbias I-II com duas setas ventrais;
histerossoma com 1 par de setas maiores que o comprimento do corpo
............................................................................... Czenspinskia Oudemans (Fig. 13).

Figura 12. Saproglyphus sp. Figura 13. Czenspinskia sp.

Ordem Oribatida

Os ácaros desta ordem constituem um dos maiores grupos de artrópodes do solo,


tanto em número de espécies quanto em número de indivíduos. Embora muitas espécies
vivam exclusivamente sobre plantas, os oribatídeos constituem geralmente o grupo de
artrópodes mais abundante e diversificado da mesofauna edáfica, principalmente em
solos florestais, sendo importantes componentes de cadeias alimentares que atuam nos
processos de decomposição da matéria orgânica. Alimentam-se preponderantemente de
vegetais em decomposição e fungos, embora também existam espécies bacteriófagas,
ficófagas, liquenófagas, filófagas, polinívoras, entomófagas e nematófagas. Muitas
espécies, ao se alimentarem de detritos vegetais incorporados ao ecossistema edáfico,
promovem uma fragmentação da matéria orgânica, aumentando a área total das
partículas. O aumento relativo da área dos fragmentos amplia a ação de bactérias e
fungos decompositores, o que acelera a decomposição da matéria orgânica.
Com exceção das formas primitivas (Fig. 14) que apresentam a cutícula mole e
incolor, os oribatídeos superiores (Fig. 15) são de coloração escura e revestidos por um
65

rígido exoesqueleto. A respiração é feita através de tubos traqueais cujas aberturas


localizam-se nas bases das pernas. Áreas porosas provêem órgãos acessórios para as
trocas gasosas. No seu desenvolvimento passam pelos estágios de ovo, larva, proto,
deuto, trintoninfa e adulto.

Figura 14. Oribatida


Inferior (Evans, 1992)

Figura 15. Oribatida


Superior (Evans, 1992)
66

Referências

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Company, New York. 1952. 465p.
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FLECHTMANN, C.H.W. 1986. Ácaros em produtos armazenados e na poeira domiciliar.
Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” –
USP/ESALQ. 97p.
FLECHTMANN, C.H.W. & ZEM, A.C. 2002. Ácaros de produtos armazenados. Pág. 805-
856. In: Armazenagem de grãos. I. Lorini, L.H. Miike & V.M. Scussel (Eds.).
Instituto Bio Geneziz. Campinas, SP. 983p.
FREIRE, R.A.P. Ácaros predadores do Estado de São Paulo, com ênfase em Laelapidae
(Acari: Mesostigmata), com potencial de uso no controle de pragas de solo.
Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Tese
de Doutorado. 2007. 289p.
GERSON, U., FAIN, A. & SMILEY, R.L. Further observations on the Cheyletidae (Acari),
with a key to the genera of Cheyletinae and a list of all known species in the family.
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HALLIDAY, R.B., WALTER, D.E. & LINDQUIST, E.E. Revision of the Australian Ascidae
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MINEIRO, J.L. DE C. & MORAES, G.J. de. Gamasida (Arachnida: Acari) edáficos de
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edáficos de Piracicaba, Estado de São Paulo. Neotr. Entomol., v.31, n. 1, p.67-73,
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MORAES, G.J. de & FLECHTMANN, C.H.W. Manual de Acarologia – Acarologia básica
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67

MORAES. G.J. DE, MCMURTRY, J.A. & DENMARK, H.A. A catalog of the mite family
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Embrapa-DDT. Brasília, Brazil. 1986. 353p.
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OLIVEIRA, A.R. Diversidade de ácaros oribatídeos (Acari: Oribatida) edáficos e
plantícolas do Estado de São Paulo. Tese de Doutorado. Universidade de São
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WALTER, D.E., R.B. HALLIDAY & E.E. LINDQUIST. 1993. A review of the genus Asca
(Acarina: Ascidae in Australia, with descriptions of three new leaf-inhabiting
species. Invert. Taxon., v. 7, p. 1327-1347, 1993.
WALTER, D.E., MCMURTRY, J.A. & MORAES, G.J. de. Curso de acarologia agrícola.
OSU Acarology Summer Program. 2003. p. 1-35.

TÉCNICAS DE COLETA, MONTAGEM, FIXAÇÃO E


ACONDICIONAMENTO
EM COLEÇÕES

Jeferson Luiz de Carvalho Mineiro2

Coleta e extração

Os ácaros são de tamanho reduzido e de maneira geral são praticamente


invisíveis em seu habitat, o que requer técnicas especiais para sua coleta. Na coleta dos
ácaros, geralmente traz-se para o laboratório parte do meio onde vive. Os ácaros de vida
livre, predadores, micófagos e ácaros de solo são facilmente retirados do meio onde
vivem através do funil modificado de Tullgren. O material ao qual se deseja separar os
ácaros é colocado dentro do funil e após algumas horas, ascende-se a lâmpada que
ficará acesa por alguns dias até a dessecação do material, que forçará os ácaros a caírem
no frasco coletor com álcool 70%.
Também pode-se obter ácaros vivos através do funil de Tullgren, colocando-se
um papel molhado ao invés do líquido para preservação. O papel fornecerá umidade,
reduzindo a mortalidade por dessecação.
Ácaros associados a plantas podem ser coletados utilizando o funil de Tullgren.
Outros métodos também são empregados como:
- Exame da parte da planta amostrada. Utiliza-se o estereomiscroscópio para
olhar cada parte da planta, folhas, frutos ou ramos.
- Método do papel preto. Utilizado para a captura de fitoseídeos. As folhas são
batidas sobre um papel preto, apanhado-se os ácaros com o auxílio de um pincel.
- Máquina de varredura. É utilizada para grandes quantidades de folhas ou
frutos.
- Sucção. Método utilizado também para grandes quantidades de folhas.

2
Biólogo, Doutor, Instituto Biológico. E-mail: jefmin@hotmail.com
68

- Lavagem. Método utilizado também para grandes quantidades de folhas e


frutos.

Preparo dos ácaros para estudo

Alguns ácaros requerem passar por um processo de clarificação antes da


montagem das lâminas. Vários meios são utilizados para este fim, dentre eles estão:

- Lactofenol. Os espécimes são colocados em lactofenol à temperatura ambiente,


por vários dias, e sempre acompanhando a diafanização. A fórmula é a seguinte:
ácido lático .......... 5 ml
fenol .................... 2,5 ml
água destilada ..... 2,5 ml

- Líquido de Nesbitt. Os espécimens são colocados neste meio por vários dias e
com acompanhamento até a diafanização do ácaro. A fórmula é a seguinte:
cloral hidratado .............40 g
água destilada ................ 25 ml
ácido clorídrico ............. 2,5 ml

Preservação de ácaros
Para os ácaros como os eriofídeos, a preservação é feita através do licor de Keifer,
que é uma mistura em parte iguais de água destilada, álcool e açúcar (1:1:1).

Preparo das lâminas para identificação


Meios utilizados:
Hoyer: utilizado na montagem dos ácaros de modo geral. Fórmula segue abaixo:
Água destilada................................... 50 ml
Goma arábica em cristais.................. 30 g
Hidrato de cloral.............................. 200 g
Glicerina............................................ 20 ml
Obs.: Esse meio deve ser preparado seguindo a ordem indicada e depois filtrado em lã
de vidro ou acrílico.

Berlese modificado: É utilizado para montagem dos eriofídeos. Fórmula segue


abaixo:
Sorbitol .................................5,0 g
Glicerina ...............................1,0 g
Água destilada ......................1,0 ml
BTDA....................................3,0 g
Água destilada........................7,0 ml
Glicerina ...............................4,0 ml
69

Ácido acético glacial.............3,0 ml


Hidrato de Cloral.................70,0 g
Iodeto de potássio (KI) ...........0,1 g
Cristais de iodo (I2) ................0,1 g
Obs.: Esse meio deve ser preparado seguindo a ordem indicada.

Seqüência de montagem
1. Espalhar uma gota de hoyer no meio da lâmina;
2. Transferir o espécime do vidro para a lâmina, usando um pincel ou agulha;
3. Na lupa, posicionar o espécime para que fique com a parte dorsal voltada para a
objetiva;
4. Esperar secar por alguns minutos;
5. Colocar a lamínula;
6. Colocar as etiquetas de identificação;
7. Colocar a lâmina na estufa à 45º C por 4 dias;
8. Retirar da estufa e selar a lamínula com verniz cristal.

Etiquetas
As lâminas assim preparadas devem receber 2 etiquetas:
1. lado direito: informações sobre a localidade, habitat, hospedeiro, data e nome do
coletor
2. lado esquerdo: identificação do ácaro. Essa etiqueta deve ser escrita à lápis para
permitir correções futuras.

Localidade Nome da espécie


Habitat

Data da coleta
Nome e data do
Nome do coletor identificador

Lâminas cuidadosamente montadas e lutadas têm longa duração. Se por algum


motivo for necessária refazer a preparação, pode-se recuperar o espécimen, removendo
o material e lutagem, colocando-se sobre a lâmina algodão úmido. Em algumas horas é
possível preparar novamente o ácaro em nova lâmina.

Eriofídeos: A observação e coleta destes ácaros deve ser realizada diretamente


ao microscópio estereoscópico, coletando-os com o auxílio de um pincel com pouco
pelos.

Oribatídeos. Para a preservação e clarificação dos ácaros desse grupo não é


utilizado uma solução de ácido lático 1:1. Após uma semana neste meio, os oribatídeos
70

estarão clarificados e prontos para identificação. Esses ácaros não são montados em
lâminas permanentes, mas em lâminas escavadas. E após a identificação, os ácaros são
colocados em frascos contendo ácido lático.

REFERÊNCIAS

BAKER, W.E. & WHARTON, G.W. 1952. An Introduction to Acarology. The Macmillan
Company, New York. 465p.
EDWARDS, C.A. 1991. The assessment of populations of soil-inhabiting invertebrates.
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EVANS, G.O. 1992. Principles of Acarology. C.A.B. International. Cambridge. 563p.
FLECHTMANN, C.H.W. 1975. Elementos de Acarologia. Livraria Nobel S.A 344p.
FLECHTMANN, C.H.W. 1979. Ácaros de importância agrícola. Livraria Nobel S.A. 3ª
edição. 189p.
GERSON, U.; SMILEY, R.L.; OCHOA, R. 2003. Mites (Acari) for pest control. Blackwell
Publishing. 539p.
JEPPSON, L.R.; KEIFER, H.H.; BAKER, E.W. 1975. Mites injurious to Economic Plants.
University of California Press. 614p.
KRANTZ, G.W. 1978. A Manual of Acarology. 2 nd Edition. Oregon State University
Book Stores, Inc. Corvallis. 509 p.
LILLO, E. DE. 2001. A modified method for eriophyoid mite extraction (Acari:
Eriophyoidea). International Journal of Acarology, 27: 67-70.
OLIVEIRA, A.R.; MORAES, G.J. DE; DEMÉTRIO, C.G.B.; DE NARDO, E.A.B. 2000. Efeito
do vírus de poliedrose nuclear de Anticarsia gemmatalis sobre Oribatida edáficos
(Arachnida: Acari) em um campo de soja. Embrapa Meio Ambiente. Boletim de
pesquisa 13. 32p.
ZACARIAS, M.S.; OLIVEIRA, A.R. 2000. Coletor de ácaros por sucção. Anais da
Sociedade Entomológica do Brasil, 29: 827-830.
71

BIOLOGIA E ECOLOGIA DE ÁCAROS E CRIAÇÃO EM


LABORATÓRIO E CASA DE VEGETAÇÃO

Mário Eidi Sato3

Diversas informações sobre aspectos biológicos e ecológicos de ácaros de


importância agrícola são apresentadas a seguir.
Acaridae. Os ácaros desta família são abundantes nas camadas mais superficiais de
solos ricos em matéria orgânica, assim como em estercos de animais em decomposição.
Muitas espécies estão associadas com ninhos ou corpos de invertebrados e vertebrados.
Algumas espécies ocorrem em plantas e em águas paradas. Estes ácaros podem
contaminar culturas em laboratório. Eles são especialmente abundantes em produtos
armazenados, onde podem se tornar pragas principais (ex.: Acarus siro L.). A
reprodução é normalmente sexuada.

Anystidae. Grupo formado por ácaros grandes (0,5 a 1,5 mm) e avermelhados. O
gênero mais conhecido é Anystis, que é abundante em solos e sobre plantas. Eles
normalmente apresentam um período de desenvolvimento longo e depositam seus ovos
em massas. Os ácaros Anystidae são corredores velozes, sendo aparentemente
predadores generalistas que se alimentam de pequenos artrópodes que conseguem
apanhar (vivos ou mortos).

Ascidae. Muitos Ascidae são predadores de vida livre que habitam as camadas mais
superficiais do solo, plantas e produtos armazenados, onde eles se alimentam de
nematóides e pequenos artrópodes. Algumas espécies são parasitas de baratas e
mariposas. Podem se alimentar de ovos de moscas e mariposas. Existe um grande grupo
de espécies que se alimentam de pólen e vivem em flores tropicais. Alguns Ascidae
alimentam-se de fungos. Os ácaros são normalmente bissexuais e se acasalam para
produzir ovos. Algumas espécies reproduzem-se por telitoquia.

Bdellidae. Ácaros desta família são comuns em plantas e no solo, ocorrendo também
em produtos armazenados. Eles são ativos caçadores de pequenos artrópodes,

3
Pesquisador Científico, Instituto Biológico. E-mail: mesato@biologico.sp.gov.br
72

localizando as presas com os palpos.Uma vez que a presa é localizada e apanhada, os


predadores sugam o conteúdo do corpo da presa. Algumas espécies apresentam
partenogênese. Os ovos são depositados freqüentemente em massas dentro de ninhos de
fios de seda.

Cheyletidae. Os predadores são ácaros com movimentos lentos, com coloração amarela
ou alaranjada, que usualmente se aproximam e capturam a presa cuidadosamente ou
usam técnicas de emboscada. Eles ocorrem em plantas e no solo, assim como em ninhos
de invertebrados e produtos armazenados, alimentando-se de ácaros ou pequenos
insetos. Cheyletus eruditus (Schrank) é um habitante comum de produtos armazenados,
poeiras de casas e locais de criação de aves. Os ácaros Cheyletidae reproduzem-se por
arrenotoquia, mas algumas espécies apresentam partenogênese.

Cunaxidae. Os ácaros desta família são corredores velozes, predadores generalistas


vermelhos, marrons ou amarelos que atacam pequenos artrópodes em diversas culturas,
em produtos armazenados e na camada de matéria orgânica mais superficial do solo.

Eriophyidae. Eriophyidae é a maior família em Eriophyoidea e algumas espécies são


pragas importantes de algumas culturas. A alimentação destes ácaros pode causar
redução no crescimento de tecidos vegetais, danos com aspecto de raspagem,
enrolamento de folhas, danos em órgãos reprodutores, formação de galhas, assim como
bronzeamento de frutos e folhas. Além disso, diversas espécies são vetores de vírus.

Macrochelidae. Os ácaros são predadores cosmopolitas de vida livre, com movimentos


rápidos, encontrados em ambientes ricos em matéria orgânica em decomposição,
incluindo esterco. Os ácaros Macrochelidae se alimentam de ovos e larvas de primeiro
ínstar de moscas (ex.: moscas domésticas) e podem ser utilizados como agentes de
controle biológico destas pragas. A maioria dos ácaros desta família se reproduz por
arrenotoquia, em que fêmeas não acasaladas depositam ovos que dão origem a machos.

Phytoseiidae. Os fitoseídeos vivem sobre as plantas e nas camadas mais superficiais do


solo. Eles são predadores que apresentam movimentos rápidos, alimentando-se
principalmente de ácaros, mas também de pequenos insetos, nematóides e fungos, e
podem se alimentar sobre plantas, incluindo pólen e exudatos extraflorais. Phytoseiidae
73

é o grupo de ácaros predadores mais bem estudados, graças ao seu sucesso no controle
de ácaros tetraniquídeos, outros ácaros e tripes (Thysanoptera).
Quando o fornecimento de alimento é suficiente, muitos fitoseídeos têm um
período de desenvolvimento igual ou inferior a uma semana a 27°C e 60-90% de
umidade relativa. As fêmeas usualmente depositam 30-40 ovos/fêmea, embora algumas
espécies altamente fecundas (ex.: Phytoseiulus spp.) produzam bem mais. A maioria
dos fitoseídeos prefere umidades relativas entre 70 a 90%; ambientes mais úmidos ou
mais secos podem produzir redução nas atividades de busca de alimento, fecundidade e
longevidade de diferentes espécies. A taxa máxima de eclosão de larvas ocorre
normalmente em umidades muito próximas à saturação.
A determinação do sexo na maioria dos fitoseídeos é por parahaploidia ou pseudo-
arrenotoquia, uma situação em que a cópula é essencial para a produção de
descendentes machos e fêmeas. Porém, os embriões machos tornam-se haplóides pois
seus ovos passam por um processo de perda do genoma paterno na fase inicial do
desenvolvimento.
Embora os fitoseídeos, assim como todos os outros Mesostigmata, não
apresentem olhos, o seu comportamento parece ser afetado pelas condições de luz do
ambiente. Intensidades de luz de 1000 lumens/30,5 cm2 em laboratório afetaram as
taxas de predação de Phytoseiulus persimilis e reduziram sua fecundidade. Ambos os
fatores (predação e fecundidade) apresentaram os maiores índices em condições de
escuridão total.
Na presença de alimento em abundância, P. persimilis deposita ao redor de 78
ovos/fêmea (84% fêmeas) em aproximadamente 15 dias a 26°C e 80% de umidade
relativa. A sua taxa liquida de reprodução (R0) é estimada em 61,86; a taxa intrínseca de
crescimento (rm), em 0,4282/dia; e a taxa finita de crescimento (λ), em 1,5345/dia
(TAKAHASHI & CHANT, 1994).
Segundo CASTAGNOLI & SIMONI (1999), o período médio de ovo a adulto de N.
californicus é 5 a 7 dias (a 25°C); a longevidade é de aproximadamente 30 dias; o
número de ovos/fêmea do predador/dia é de 2,8 a 3 ovos; e a capacidade de consumo é
de 15 a 20 ovos de ácaro rajado por dia.
Os estádios de desenvolvimento de E. citrifolius apresentam durações de
aproximadamente 2,07 dias (ovo); 1,00 dia (larva); 1,20 dia (protoninfa) e 1,25 dia
(deutoninfa), a 24 ± 1ºC, quando alimentados com ácaros da leprose. Os períodos pré-
74

oviposição, oviposição e pós-oviposição são de aproximadamente 2,23; 23,6 e 4,1 dias,


respectivamente, fornecendo-se pólen de mamona como alimento (MOREIRA, 1993).

Pyemotidae. Os ácaros da família Pyemotidae têm um ciclo de vida curto, sendo o


adulto o único estádio livre. Fêmeas acasaladas procuram, parasitam e matam insetos.
Durante a alimentação, as formas jovens se desenvolvem dentro do corpo da mãe, cuja
parte posterior torna-se muito inchada (fisiogastria), atingindo um tamanho várias vezes
maior do que a de uma fêmea jovem. A reprodução é por arrenotoquia, sendo a maior
parte da progênie constituída por fêmeas (> 90%). Cada fêmea pode produzir 200 a 300
descendentes. Os machos nascem primeiro, permanecem no corpo da mãe e se acasalam
com várias dezenas de fêmeas quando elas emergem. A procura por hospedeiro é
iniciada após a cópula. Fêmeas não acasaladas permanecem no corpo da mãe. Pelo fato
de um único hospedeiro prover nutrientes suficientes para toda progênie de uma fêmea,
e pelo fato de um único estádio do ácaro se alimentar no hospedeiro, que então morre,
os ácaros Pyemotidae entram na categoria de parasitóides.

Stigmaeidae. Os ácaros Stigmaeidae vivem sobre plantas e no solo, freqüentemente


alimentam-se de ovos e formas imóveis de tetraniquídeos, tenuipalpídeos e outros
ácaros que infestam culturas comerciais em muitas partes do mundo. Algumas espécies
alimentam-se de cochonilhas. Espécies de Eustigmaeus (= Ledermuelleria) alimentam-
se de musgos. A dieta da maioria das espécies não é conhecida.
Estudos relacionados à flutuação populacional de ácaros estigmeídeos, na
cultura de citros, foram realizados nos municípios de Limeira, Araraquara, Jaboticabal,
Itápolis, Bebedouro e Olímpia, Estado de São Paulo, durante dois anos, onde foram
amostrados frutos, ramos, folhas e plantas invasoras. Verificou-se que a espécie de
estigmeídeo mais freqüente foi Agistemus brasiliensis (80%), seguida de Agistemus
floridanus Gonzalez (15%) e Zetzellia malvinae n. sp. (5%). Os ácaros estigmeídeos
foram encontrados em maior número nos frutos, seguido das folhas. Não foram
encontrados sobre as espécies de plantas invasoras. Em estudos de flutuação
populacional, verificou-se que os ácaros estigmeídeos ocorrem durante todo o ano e
estão associados a populações de Brevipalpus phoenicis (Acari: Tenuipalpidae).
Estudos sobre a biologia de A. brasiliensis nas temperaturas de 15; 20; 25; 30 e 35°C
demonstraram que a temperatura ideal para o desenvolvimento desta espécie foi 29°C.
75

Os valores de T (ciclo de vida - dias),R0 e rm, na temperatura de 30°C, foram de 13,95;


16,25 e 0,20, respectivamente (MATIOLI, 2002).

Tarsonemidae. Os tarsonemídeos geralmente apresentam ciclo bastante curto, com


apenas dois estádios ativos (larvas e adultos). As larvas apresentam um breve período
de alimentação e se transformam diretamente em adultos. O período de uma geração
pode ser de uma semana ou menos. Eles se reproduzem por arrenotoquia. Os
tarsonemídeos apresentam a maior diversidade em habitats de alimentação entre todas
as famílias de acarinos. Podem se alimentar de plantas vivas, sobreviver em fungos,
viver associado a outros artrópodes (por forésia, como predador, parasita, parasitóide,
etc).

Tenuipalpidae. Os ácaros da família Tenuipalpidae, ou ácaros planos, são todos


fitófagos; são de ampla distribuição, sendo mais numerosos nas regiões mais quentes do
mundo. Várias espécies são pragas de plantas cultivadas, como de árvores frutíferas e de
plantas ornamentais.
A espécie mais conhecida no Brasil é o ácaro Brevipalpus phoenicis (Geijskes,
1939). O ácaro da leprose, B. phoenicis, é uma das principais pragas da citricultura
brasileira, devido aos sérios prejuízos que causa na produção. Estes ácaros passam pelas
fases de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto. A fêmea alcança 0,3 x 0,18 mm e sua
coloração é variável. Nas recém emergidas, a área entre os ocelos (que são vermelhos) é
alaranjada e o restante do corpo é amarelo claro, translúcido com algumas manchas pardas.
À medida que a fêmea se alimenta, um nítido padrão verde-escuro a negro, em “H”,
aparece no idiossoma (FLECHTMANN et al., 1995). Este ácaro é responsável pela
transmissão do vírus da leprose dos citros (CiLV) que está associado a sintomas como
lesões localizadas em frutos, ramos e folhas, queda prematura de frutos, desfolhamento e
morte de ramos, que levam as planta a um sério declínio (RODRIGUES et al., 2003).
76

Tetranychidae. Todos os ácaros tetraniquídeos são fitófagos e vários deles são pragas
importantes de várias culturas. Sua biologia, inimigos naturais e controle foram
apresentados em uma importante revisão preparada por diversos autores (HELLE &
SABELIS, 1985). Muitas espécies têm altas taxas de crescimento populacional,
reproduzem-se ao longo de todo o ano e podem causar danos severos às plantas
hospedeiras. Diversos tetraniquídeos também infestam plantas daninhas.
Uma das espécies de grande importância é o ácaro rajado, Tetranychus urticae
Koch, considerado praga de importância econômica em todo o mundo, que tem causado
consideráveis prejuízos em diversas culturas no Brasil. Altas infestações podem causar
descoloração de folhas, perda da capacidade fotossintética e eventualmente a morte das
folhas (CHIAVEGATO & MISCHAN, 1981; FLECHTMANN, 1985).

Tydeidae. Estes ácaros são habitantes comuns de plantas e solo. Apresentam


movimentos rápidos. O período de uma geração é de 2 a 3 semanas e a reprodução
parece ser por arrenotoquia. Eles podem ser predadores [ex.: Homeopronematus
ancorai, predador de Aculops lycopersici (HESSEIN & PERRING, 1986)], podem servir de
alimento para outros predadores, podem fazer limpeza de “honeydew” produzido por
insetos pragas, podem se alimentar de fungos e nematóides, entre outras funções.

CRIAÇÃO DE ÁCAROS
São apresentados a seguir alguns exemplos de criação de ácaros de importância
agrícola.
Os ácaros tetraniquídeos podem ser criados em suas respectivas plantas
hospedeiras. No caso de T. urticae, um hospedeiro favorável é feijão-de-porco
[Canavalia ensiformis (L.)].
O ácaro B. phoenicis pode ser criado em frutos de laranja (ex.: variedades Pêra
Rio ou Valência). Os frutos, após serem lavados com água e secos, são parafinados,
deixando-se uma área de aproximadamente 8 a 16 cm2, circundada com cola adesiva
(Tanglefoot®) para confinar os ácaros. Em cada fruto podem ser transferidos 40 a 50
ácaros adultos com auxílio de pincel e microscópio estereoscópico. Os frutos infestados
podem ser mantidos a 25ºC, umidade relativa de 70% e fotofase de 14 horas (OMOTO et
al., 2000). Arenas de folhas de café (e outras plantas) também podem ser utilizadas para
a sua criação.
77

Tyrophagus que serve de presa para vários ácaros predadores pode ser criado em
farelo, geralmente enriquecido com germe de trigo e levedura (GERSON et al., 2003).
A criação de diversas espécies de ácaros fitoseídeos (ex.: E. concordis,
Amblyseius chiapensis) podem ser feitas em arenas formadas por uma placa escura
(Paviflex®) ou uma folha de planta (citros, feijão de porco,...) mantida sobre uma
espuma plástica embebida em água e circundada com algodão hidrófilo (mantido
sempre úmido). Podem ser colocados fios de algodão (no centro da arena) que
permanecem sob um pedaço de lamínula de vidro, com o intuito de proporcionar aos
ácaros um local para oviposição e abrigo. Como fontes de alimento, podem ser
oferecidos pólen de taboa (Typha angustifólia L.) ou ovos de T. urticae (POLETTI,
2002).
Algumas espécies de fitoseídeos como I. zuluagai são mais difíceis de serem
criadas, exigindo cuidados especiais. REIS & ALVES (1997) descrevem uma metodologia
de criação, na qual, os ácaros predadores são colocados sobre um disco de plástico
flutuando (ex.: 7,5 cm de diâmetro) em água. Um orifício no centro do disco permite a
passagem de um alfinete que é fixado na base do recipiente contendo água. Esse alfinete
impede o disco de tocar na borda do recipiente com água (ex.: placa de Petri), evitado
assim a fuga dos predadores.
MATIOLI (2002) descreve uma metodologia para criação de ácaros da família
Stigmaeidae (ex.: Agistemus brasiliensis). A criação de ácaros estigmeídeos pode ser
realizada concomitantemente à criação de B. phoenicis, nas mesmas condições de
temperatura, fotofase e umidade (ex.: 26oC, fotofase de 12h e 80% de UR). As criações
podem ser sobre frutos de laranja que apresentam sintomas da doença “verrugose”, por
proporcionar locais favoráveis ao “ácaro da leprose”. Os frutos, antes de serem
infestados, são submetidos à máquina de varredura, para a eliminação de impurezas e
outros artrópodes. Após este processo, os frutos são parafinados, deixando-se uma área
circular de aproximadamente 3 cm de diâmetro, para onde são transferidos os ácaros
estigmeídeos. A área circular é delimitada em sua periferia por “tanglefoot”,
objetivando impedir a fuga dos ácaros. Como alimento, são fornecidos ovos e formas
jovens de B. phoenicis. Também pode ser utilizado pólen de taboa Typha sp., como
fonte alimentar para o estigmeídeo. O pólen é colocado nas arenas de criação e
substituído a cada 48 horas.
FREIRE (2007) descreve uma metodologia de criação massal de ácaros
predadores da espécie Stratiolaelaps scimitus (Acari: Laelapidae). Essa espécie
78

apresenta bom potencial de controle de algumas pragas como ácaros, tripes e dípteros da
família Sciaridae que vivem no solo. As unidades de criação são frascos plásticos
cilíndricos de 500 mL, com várias perfurações de 2 cm de diâmetro, para permitir
ventilação. Tyrophagus putrescentia (Acari: Acaridae) é utilizado como alimento para o
predador. Ração de cachorro é utilizada como substrato para multiplicação de T.
putrescentia. Esse método permite um crescimento populacional de aproximadamente
40 vezes na população de ácaros predadores em 30 dias, partindo de uma população
inicial de 400 ácaros S. sciminus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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numerical response of Neoseiulus californicus (Acari: Phytoseiidae). Exp. Appl.
Acarol., v.23, p.217-234, 1999.
CHIAVEGATO, L. G. & MISCHAN, M.M. Efeito do ácaro Tetranychus (T.) urticae
(Koch, 1836), 1963 (Acari: Tetranychidae) na produção no morangueiro (Fragaria
spp.) cv. “Campinas”. Científica, v.9, p.257-266, 1981.
FLECHTMANN, C. H. W. Ácaros de importância agrícola. São Paulo: Livraria Nobel,
1985.
FLECHTMANN, C.H.W.; OLIVEIRA, C.A.L. de & SANTOS, J.M. dos. Aspectos
taxonômicos do ácaro da leprose Brevipalpus phoenicis. In: OLIVEIRA, C.A.L. de;
DONADIO, L.C. (Eds.) Leprose dos citros. Jaboticabal: FUNEP, 1995. p. 31-36.
FREIRE, R.A.P. Ácaros predadores do Estado de São Paulo, com ênfase em Laelapidae
(Acari: Mesostigmata), com potencial de uso no controle de pragas de solo.
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GERSON, U.; SMILEYI, R.L.; OCHOA, R. Mites (Acari) for pest control. Malden:
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79

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MOREIRA, P.H.R. Ocorrência, dinâmica populacional de ácaros predadores em citros e
biologia de Euseius citrifolius (Acari: Phytoseiidae). Jaboticabal, 1993. 125p.
[Dissertação de Mestrado- Faculdade de Ciências Agrárias e
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OMOTO, C.; ALVES, E.B. & RIBEIRO, P.C. Detecção e monitoramento da resistência
de Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (Acari: Tenuipalpidae) ao dicofol. An. Soc.
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POLETTI, M. Variabilidades inter e intraespecífica na suscetibilidade de ácaros
fitoseídeos (Acari: Phytoseiidae) a dicofol e deltametrina em citros. Piracicaba,
2002. 78p. [Dissertação de Mestrado - Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz/USP].
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leprosis virus vectored by Brevipalpus phoenicis (Acari: Tenuipalpidae) in citrus in
Brazil. Exp. Appl. Acarol., v.30, p.161-179, 2003.
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(Acari: Phytoseiidae). II. Survivorship and reproduction. Int. J. Acarol., v.20, p.87-
97, 1994.
80

CONTROLE BIOLÓGICO DE ÁCAROS COM PREDADORES

Mário Eidi Sato3

Diversos exemplos de controle biológico de ácaros pragas por predadores são


apresentados a seguir. A maioria dos exemplos apresentados é referente aos predadores
da subclasse Acari.

Anystidae
Alguns ácaros como os do gênero Anystis são considerados inimigos naturais
que podem afetar a população de diversas pragas, chegando a controlá-las (JAMES,
1995). Estes ácaros podem controlar populações de ácaros tetraniquídeos em diversas
culturas. Anystis baccarum (L.) controlaram infestações de ácaros tetraniquídeos em
amoras pretas na Rússia em alguns dias, quando a relação predador/presa chegava a
1/50.
Estes predadores chegam a preferir insetos como tripes (ex.: Scirtothrips citri)
ou cigarrinhas (Erythroneura elegantula) a ácaros tetraniquídeos, como fonte de
alimento. Em alguns casos eles abandonam populações ácaros fitófagos para atacarem
outras presas (insetos) (GERSON et al., 2003).

Ascidae
Muitos membros desta família são predadores. Ácaros do gênero Blattisocius
ocorrem em produtos armazenados e se alimentam de ovos e formas jovens de
lepidópteros e coleópteros. Este gênero é cosmopolita. Blattisocius tarsalis (Berlese) é
considerado um importante fator de controle de Ephestia cautella, praga de milho
armazenado, no Kenya. Estes ácaros completam o ciclo em aproximadamente 1 semana
a 27ºC.
Lasioseius parberlesei Tseng é um importante inimigo natural de
Steneotarsonemus spinki Smileyi (Acari: Tarsonemidae), que é praga chave de arroz, na
Ásia (Taiwan). Este predador responde numericamente às oscilações populacionais da
presa. Algumas espécies de Lasioseius são predadores de nematóides, alimentando-se
também de fungos (ex.: Aspergillus sp.) (GERSON et al., 2003).

3
Pesquisador Científico, Instituto Biológico. E-mail: mesato@biologico.sp.gov.br
81

Bdellidae
Algumas espécies são eficientes predadores de insetos e ácaros pragas. Bdella
depressa Ewing é um voraz predador de ácaros tetraniquídeos e alguns Collembola, nos
EUA (Illinois). O desenvolvimento de larva a adultos é de aproximadamente 14-21d a
21ºC. Bdella distinta (Baker & Balock) se alimentam de ovos e formas jovens (móveis)
de cochonilhas (Hemiptera: Diaspididae) na Flórida.

Cheyletidae
Algumas espécies como Cheyletus eruditus podem controlar alguns ácaros
pragas de produtos armazenados como Acarus siro L. (Acari: Acaridae). O predador
pode devorar 0,9 a 4,5 ácaros presas por dia a 25ºC e 80% de umidade relativa. O
predador é mais eficiente a 20-25ºC e umidade relativa entre 70-80%. A praga se
desenvolve melhor em baixas temperaturas e altas umidades.
Cheyletus sp. podem limitar o crescimento populacional de Dermatophagoides
pteronyssinus (Trouessart), ácaro da poeira do interior das casas, que muitas vezes causa
alergia em pessoas.
Alguns membros desta família se alimentam de cochonilhas, ácaros
tetraniquídeos e tenuipalpídeos.
Hemicheyletia bakeri consumiu sete a oito ácaros tetraniquídeos por dia. Um dos
problemas desta espécie foi que ela não conseguiu responder ao crescimento numérico
da praga, como foi observado em morangueiro infestado com ácaros tetraniquídeos na
Califórnia. Populações da ordem de 16 predadores por folíolo não foram suficientes
para evitar o aumento populacional da praga. O período de desenvolvimento de H.
bakeri foi de 47 dias a 22ºC, e a fecundidade de apenas 22 ovos por fêmea (LAING,
1973).

Cunaxidae
Os ácaros Cunaxidae são predadores de vários insetos e ácaros.
Cunaxa capreolus (Berlese) foi criado por ZAHER et al. (1975), em insetos da
ordem Psocoptera e em Eutetranychus orientalis (Klein), que é praga de citros. À 30ºC,
82

o ácaro completou o ciclo em 4 semanas, depositando ao redor de 45 ovos. O consumo


médio durante o desenvolvimento foi de 50 psocópteros e 110 ácaros tetraniquídeos.

Laelapidae
Diversas pragas agrícolas, como espécies de ácaros, tripes e dípteros da família
Sciaridae vivem no solo ou nele passam parte do seu ciclo. Tem-se verificado que
algumas dessas pragas são atacadas e podem em certos casos ser controladas por ácaros
predadores Mesostigmata. Entre os predadores mais estudados deste grupo estão os
pertencentes à família Laelapidae. Testes preliminares realizados na Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz” / USP, Piracicaba, SP, indicaram um bom potencial de
uso de algumas espécies dessa família, como Cosmolaelaps sp. e Stratiolaelaps scimitus
(Womersley), em programas de controle biológico de pragas edáficas em várias
culturas. Os resultados indicam por exemplo que S. scimitus mostra-se promissor para o
controle de Bradysia matogrossensis (Diptera: Sciaridae) em áreas de produção de
cogumelo (FREIRE, 2007).

Phytoseiidae
Esta família engloba os principais inimigos naturais (de ácaros pragas) utilizados
em programas de controle biológico, em todo o mundo. Serão apresentadas, a seguir,
algumas espécies de importância para a agricultura.

Phytoseiulus persimilis é um dos ácaros predadores de maior importância


mundial. Ele é comumente criado massalmente e liberado para o controle de ácaros
tetraniquídeos, em diversas culturas. Esta prática é amplamente empregada para o
controle biológico de ácaros teraniquídeos em pepino, tomate e rosa, em casas-de-
vegetação; e em cultivos de morango, melão, etc. Esta espécie é específica para ácaros
tetraniquídeos. Diversas empresas comercializam esta espécie em vários países da
Europa, Estados Unidos, Japão, etc.
Phytoseiulus macropilis (Banks) é a espécie mais amplamente distribuída no
gênero e foi o primeiro fitoseídeo a ser reconhecido pela sua habilidade em reduzir
populações de ácaros tetraniquídeos. A sua capacidade de multiplicação é ligeiramente
inferior a de P. persimilis. Esta espécie é comumente encontrada em várias culturas no
Brasil (morangueiro, plantas ornamentais,...) e realiza o controle biológico de ácaro
rajado.
83

Galedromus occidentalis é um predador de grande importância para ácaros


tetraniquídeos (Tetranychus sp.) em árvores frutíferas e rosas nos EUA. Liberações
dessa espécie em macieira, nos EUA, para o controle de Tetranychus mcdanieli se
mostram efetivas, com reduções populacionais de 120 ácaros T. mcdanieli / folha para
menos de 15/folha. As taxas de liberação variaram de 32 a 256 predadores por planta.
Amblyseius womersleyi Schicha apresenta ampla distribuição geográfica,
ocorrendo em países como Rússia, China, Coréia, Japão, Taiwan, Filipinas, Austrália e
Nova Zelândia; sobre diversas plantas, tais como chá, pêssego, morango, mamão, uva,
milho, bambu, amendoim, feijão, plantas daninhas, ornamentais, etc. (HO et al., 1995).
Estes autores apresentaram uma lista de 42 espécies botânicas sobre as quais este ácaro
predador é encontrado. Segundo WAITE (1988), A. womersleyi é freqüentemente
encontrado na cultura do morango na Austrália, sendo capaz de controlar ácaros
tetraniquídeos se os predadores desta espécie colonizarem as plantas logo após o início da
infestação dos ácaros pragas, e desde que, nenhum inseticida muito tóxico ao fitoseídeo
seja aplicado.
Neoseiulus californicus (McGregor) é um ácaro predador que promove o controle
biológico de ácaros tetraniquídeos em plantas de morango, maçã, citros, feijão,
ornamentais, etc. Este fitoseídeo ocorre nas regiões semitropicais e temperadas da
América do Sul, e também nas áreas áridas do sul da Califórnia e sul da Europa. Nos
Estados Unidos, N. californicus tem sido liberado para o controle de tetraniquídeos em
uma grande diversidade de culturas, incluindo morango, maçã, hortelã e pelo menos
cinco espécies de plantas ornamentais. Embora menos efetivo que o fitoseídeo P.
persimilis no controle de T. urticae em morangueiro, N. californicus é mais fácil de ser
criado massalmente em laboratório, apresentando assim um bom potencial de uso em
programas de controle biológico de ácaro rajado.
No Brasil, N. californicus tem sido criado massalmente e liberado em macieira
no sul do país, visando ao controle de Panonychus ulmi (MONTEIRO, 1994). Uma
população de N. californicus encontrada em área comercial de morangueiro em Atibaia,
SP, mostra-se tolerantes a diversos agroquímicos (SATO et al., 2002). Esta população
apresentou ótimo desempenho no controle de T. urticae em morangueiro em Atibaia,
quando liberado após a aplicação do acaricida propargite.
Typhlodromalus aripo é uma espécie que apresentou grande sucesso em um
programa de controle biológico do ácaro verde da mandioca, Mononychellus tanajoa, na
África. Esta espécie de origem neotropical se estabeleceu em uma área de mais 400.000
84

km2, após a sua liberação na cultura da mandioca. Estima-se que este predador elevou a
produção de mandioca em 30-37%, após o seu estabelecimento na cultura (BELLOTTI et al.,
1999).
Typhlordromus pyri é considerado o principal inimigo natural de Panonychus ulmi
em macieira em diversas regiões da Europa e América do Norte. Populações desta espécie
que desenvolveram resistência a diversos agroquímicos têm facilitado manejo de ácaros na
cultura.
Iphiseiodes zuluagai, Euseius citrifolius e Euseius concordis são espécies bastante
freqüentes em diversas culturas no Brasil. O maior volume de informações está
relacionado a culturas como citros e café. Segundo KOMATSU (1988), durante sua vida,
cada ácaro E. corcordis predou em média 351 ovos ou 302 formas jovens ou 20,5 adultos
do ácaro da leprose. O adulto foi mais voraz que as formas imaturas.
Segundo GRAVENA (1992), E. citrifolius consegue predar maior número de ácaros
da leprose em frutos sem a presença de verrugose. As fêmeas adultas desta espécie
preferem atacar as larvas do ácaro praga. Este fato é importante pois a fase larval de B.
phoenicis é aquela que se mostra a mais virulenta (CHAGAS, 1983).

Stigmaeidae
Esta família pode ser considerada como o segundo grupo de maior importância
no controle biológico de ácaros pragas na agricultura. O volume de informações sobre
estes inimigos naturais ainda é pequeno, quando comparado aos ácaros fitoseídeos. Dois
gêneros de grande importância são Agistemus e Zetzellia. Embora reconhecidos como
predadores importantes, o papel dos estigmeídeos no controle de ácaros pragas nem
sempre é evidente.
Agistemus floridanus Gonzáles-Rodrigues é uma espécie bastante abundante em
citros na Flórida, alimentando-se de várias espécies de ácaros pragas. Ele completa uma
geração em duas semanas a 25-30ºC, em condições ótimas de alimentação, tendo como
presa Phyllocoptruta oleivora. O seu potencial biótico relativamente baixo e a sua
suscetibilidade a vários agroquímicos fazem com que esta espécie não seja considerada
de importância no controle de ácaros em pomares comerciais.
Zetzellia mali é considerado um importante inimigo natural de Panonychus ulmi
(Tetranychidae) e Aculus schlechtendali (Eriophyidae) na América do Norte e Europa.
Estudos realizados em citros, no Estado de São Paulo, indicaram que a espécie
de estigmeídeo mais freqüente foi Agistemus brasiliensis (80%), seguida de Agistemus
85

floridanus (15%) e Zetzellia malvinae (5%). (MATIOLI, 2002). A potencialidade de


predação de A. brasiliensis foi estudada para as densidades de 5; 10; 20; 40 e 60 ácaros
da leprose adultos, em arenas de 3 cm de diâmetro. Os estudos demonstraram que a
densidade de 20 ácaros da leprose foi suficiente para que o predador consumisse seu
número máximo de presas (7,6 B. phoenicis por dia). Relativamente à postura diária nas
diferentes densidades de presa, verificou-se que densidades acima de 40 ácaros da
leprose proporcionaram 4,7 ovos por dia (MATIOLI, 2002).

Tydeidae
Algumas espécies de Tydeidae podem ser predadoras de ácaros.
Homeopronematus ancorai alimenta-se Aculops lycopersici (Eriophyidae),
reduzindo significativante a sua população em tomateiro. Populações de A. lycopersici
mantidas em folhas de tomateiro atingiram médias de 65 ácaros/folíolo em 19 dias, na
presença de H. ancorai. Na ausência deste predador, a população chegou 427
ácaros/folíolo. Plântulas livres de predadores morreram em seis semanas quando
infestadas com A. lycopersici; enquanto que, plântulas com predadores permaneceram
vigorosas (HESSEIN & PERRING, 1986).

Outros predadores
Além dos ácaros predadores mencionados, outros artrópodes também podem
predar ácaros fitófagos, podendo-se mencionar a joaninha do gênero Stethorus que se
alimenta tanto de ovos como de ninfas e adultos de ácaros eriofídeos, tetraniquídeos,
tarsonemídeos e tenuipalpídeos. Os crisopídeos também podem se alimentar de ácaros
fitófagos (NASCIMENTO et al., l982). Alguns insetos como tripes (ex.: Scolothrips
sexmaculatus), besouros da família Staphylinidae (Oligota sp.), e algumas aranhas
(Lycosiidae) também podem ser considerados inimigos naturais de ácaros fitófagos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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88

CONTROLE BIOLÓGICO DE ÁCAROS COM


ENTOMOPATÓGENOS

José Eduardo Marcondes de Almeida4

Os ácaros pragas estão presentes em praticamente todas as culturas de interesse


econômico, causando graves prejuízos para plantas ornamentais, citros, frutas, erva
mate, seringueira entre outras.
As principais famílias de ácaros pragas são: Tetranychidae; Tarsonemidae;
Acaridae; Eriophydae; Tenuipalpidae, sendo as espécies Tetranychus urticae, o ácaro
rajado; Phyllocoptruta oleivora, o ácaro da ferrugem dos citros; Brevipalpus phoenicis,
o ácaro da leprose dos citros; Oligonychus yothersi, o ácaro vermelho da erva mate e
Aceria guerreronis, ácaro da necrose do coqueiro, consideradas mais danosas para
diversas culturas no Brasil.
O controle químico é o mais utilizado para manter a população dessas pragas
abaixo do Nível de Dano Econômico, porém na maioria dos casos ocorre o problema da
resistência de ácaros a acaricidas, causando perdas na eficiência, aumentando os custos
de controle da praga, além de causar contaminações ambientais e ao homem.
Desta forma, surgem alternativas interessantes e eficazes para seu controle como
a utilização de ácaros predadores e fungos entomopatogênicos como Beauveria
bassiana, Lecanicillium lecanii e L. muscarium, Hirsutella thompsonii, alguns fungos
Entomophothorales entre outros. Existem ainda bactérias e vírus com comprovada
patogenicidade a ácaros.
O controle microbiano de ácaros ainda é muito poço estudado no Brasil e no
mundo, mas já é uma realidade em algumas culturas, tais como citros, ornamentais,
côco, morango e erva mate.

Fungos entomopatogênicos

Os fungos são capazes de atacar um grande número de espécies de insetos e


praticamente todos os estágios de desenvolvimento dos insetos. A maioria dos fungos
atua por contato e por ingestão, sendo que a sua grande variabilidade genética permite

4
Pesquisador Científico, Instituto Biológico. E-mail: jemalmeida@biologico.sp.gov.br
89

estudos de seleção de cêpas ou isolados e avaliação dos mais virulentos para o controle
de pragas.
As principais fases do ataque de fungos em insetos são: a) adesão; b)
germinação; c) formação de apressórios; d) formação do grampo de penetração; e)
penetração; f) colonização e g) reprodução.
Os sintomas de insetos doentes com fungos são: manchas escuras pelo corpo,
paralisação da alimentação, paralisia geral, perda de coordenação de movimentos.
Posteriormente o tegumento torna-se róseo, para depois assumir coloração
esbranquiçada devido ao crescimento do micélio e a partir da esporulação o inseto
assume a coloração da espécie do fungo, como por exemplo, o branco para B. bassiana
e verde para M. anisopliae. Todas essas fases ocorrem entre 4 a 10 dias, dependendo do
hospedeiro e da espécie do fungo.
Os processos de produção de fungos patogênicos à invertebrados são relatados
em função da estrutura do patógeno a ser produzida e utilizada no campo. As diferentes
estruturas do fungo a serem utilizadas no controle de pragas e suas funções no ciclo
natural do patógeno são: conídios, com função de reprodução e de disseminação;
blastosporos, com função de disseminação na hemolinfa do hospedeiro; micélio, com
função de migrar para fora do hospedeiro e permitir a conidiogênese do fungo; e
esporos de resistência, com função de permitir a sobrevivência do fungo no solo.
Grande parte dos hifomicetos pode ser utilizada na forma de conídios, blastosporos e
micélio, sendo as duas primeiras formas geralmente preferidas por serem ambas
infectivas ao hospedeiro. A escolha da forma a ser utilizada do fungo vai depender da
espécie e isolado do patógeno, da dificuldade na sua produção, do ambiente onde será
aplicado e do método de aplicação.

Principais programas de controle microbiano de ácaros


1 – Controle de ácaro rajado em flores e morango:
O cultivo de ornamentais está sujeito ao ataque de pragas que podem danificar o
aspecto da planta deteriorando-as e prejudicando sua venda e exportação. Dentre elas
uma que se destaca devido a grande importância é o ácaro rajado Tetranychus urticae
Koch que tem causado consideráveis prejuízos a diversas culturas no Brasil. O ácaro
ataca as folhas desenvolvidas, as quais se mostram branco-prateadas na face inferior, e
certa quantidade de teia; pela face superior aparecem áreas inicialmente cloróticas, que
90

passam a ficar bronzeadas. As folhas secam, caem, com conseqüente queda na


produção. O controle desta praga vem sendo quase que exclusivamente feito através da
utilização de acaricidas químicos e que as vezes o torna ineficiente devido ao problema
de resistência adquirido pelo ácaro. Desta forma, surgem alternativas interessantes e
eficazes para seu controle como a utilização de ácaros predadores e fungos
entomopatogênicos como Beauveria bassiana, Lecanicillium lecanii e L. muscarium,
Hirsutella thompsonii, alguns fungos Entomophothorales, entre outros.
Alguns dados de pesquisas de aplicação de fungos em ácaro rajado demonstram
patogenicidade de B. bassiana na concentração de 108estruturas infectivas/mL
provocaram mortalidade em 74,4%, ou L. muscarium que entre as concentrações
avaliadas (5 x 105 a 5 x 108 estruturas infectivas/mL) após 4 dias de inoculação
blastósporos causaram mortalidade entre 44 a 72% e conídios entre 38 a 56%. Para L.
lecanii crescidos sob meios de cultura com inseticidas e verificaram mortalidades
maiores que 68% após 6 dias de avaliação.
Em testes de patogenicidade de isolados de B. bassiana para a seleção foi
detectado que 59% dos isolados testados proporcionaram mortalidades entre 60 e 80% ao
ácaro T. urticae. A. aleyrodis e P. farinosus apresentam reduzida patogenicidade a T.
urticae. Os valores médios de mortalidade corrigida e confirmada de T. urticae causados
pelos isolados de B. bassiana, M. anisopliae e Hirsutella sp. são semelhantes.
Verificaram ainda que os isolados IBCB 2, IBCB 146, IBCB 157, IBCB 161 e IBCB 166
de B. bassiana e os isolados IBCB 345, IBCB 348, ESALQ 1247, ESALQ 1286 e PL 47
de M. anisopliae são altamente patogênicos e promissores para o controle microbiano de
T. urticae. Todos os isolados de B. bassiana e M. anisopliae produzem cristais de cálcio
no interior do corpo dos ácaros infectados. Observaram que em condições de umidade
relativa elevada e uso de equipamento apropriado de pulverização são imprescindíveis
para o controle de T. urticae com B. bassiana. O crescimento populacional de T. urticae
é influenciado pela variedade de morango, contudo, esta não afeta a eficiência de B.
bassiana no controle da praga. Densidades populacionais elevadas de T. urticae são
desfavoráveis para o uso de B. bassiana no controle desse ácaro em morango. B.
bassiana pode ser utilizada com sucesso em programas de controle integrado de pragas
em ambiente de cultivo protegido (estufas).

2 – Controle dos ácaros da ferrugem e da leprose em citros:


91

Os ácaros da ferrugem do citros, Phyllocoptruta oleivora e da leprose


Brevipalpus phoenicis são as principais espécies que a atacam citros e as que mais
demandam o uso de acaricidas químicos.
A aplicação dos fungos B. bassiana e L. lecanii tem sido realizada com sucesso
em várias áreas do Estado de São Paulo, com controle médio de 50 a 60% de eficiência
em campo.
A recomendação para os dois fungos é de 3 a 4 kg de arroz + fungo por hectare,
sem em pulverizações com atomizadores após as 16:00 h, ou de preferência com
umidade relativa acima de 65% e temperatura por volta de 25oC.

3 – Controle do ácaro vermelho do chá mate:


O ácaro vermelho do chá mate, Oligonychus yothersi tornou-se uma praga dessa
cultura devido ao uso indiscriminado de acaricidas para o controle de outro ácaro e no
Estado do Paraná, o ácaro vermelho tem trazido muitos prejuízos para os produtores da
erva.
Foi realizada uma pesquisa para seleção de isolados de B. bassiana pela
UNIOESTE de Cascavel-PR e os isolados mais virulentos foram UEL 02, UEL 08 e
CG082, os quais foram testados também a campo. Porém, ainda não foi determinada
uma recomendação adequada para esse ácaro.

4 – Controle da necrose do coqueiro:


O ácaro da necrose do coqueiro é uma das principais pragas da cultura do côco
em todo o Brasil, sendo muito difícil o seu controle, principalmente pela dificuldade de
ser atingido.
A Embrapa Tabuleiro Costeiros desenvolveu o controle biológico desse ácaro
com o fungo Hirsutella thompsonii, sendo já utilizado em algumas propriedades, porém
ainda são necessárias pesquisas para a produção desse fungo.

Compatibilidade de acaricidas a fungos entomopatogênicos

A aplicação de acaricidas compatíveis à fungos entomopatogênicos possibilita a


preservação desses inimigos naturais presentes na cultura ou mesmo em aplicações
comerciais, dentro da filosofia do Manejo Integrado de Pragas.
92

Os principais acaricidas compatíveis à B. bassiana são: Kendo 50 SC, Stron,


Ortus 50 SC, Tamaron BR, Previcur N, Tiomet 400 CE, Kumulus DF, Hokko,
Kasumin, Bulldock 125 SC, Vertimec 18 CE, Cefanol, Dimexion, Hamidop 600,
Meothrin 300, Orthene 750 BR, Polo 500 PM.

Perspectivas e demandas
Desenvolvimento de novos de bioinseticidas à base de fungos
entomopatogênicos das
espécies: Beauveria bassiana, Hirsutella thompsonii e Lecanicillium muscarium e L.
lecanii.
Estudos sobre Neozygites floridana: produção, armazenamento e aplicação.
Estudos de manejo integrado de ácaros em citros, flores e hortaliças.
Impacto de bioinseticidas sobre organismos não-alvos.
Novos programas de controle biológico de ácaros: frutas, hortaliças e algodão.
Pesquisas com Bacillus thuringiensis var. tenebrionis

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94

CONTROLE QUÍMICO DE ÁCAROS


Mário Eidi Sato3

No ano de 2003, as culturas que receberam maior volume de tratamento com


acaricidas foram citros, algodão, café, feijão, tomate e maçã, sendo que, somente a
cultura de citros recebeu 92,2% do total de ingrediente ativo (acaricida) utilizado no
Brasil. Em 2003, foram gastos aproximadamente US$ 70 milhões com acaricidas na
citricultura brasileira, representando 53% dos custos com todas as classes de defensivos
agrícolas utilizados em citros (NEVES et al., 2004). Os ácaros Brevipalpus phoenicis
(Geijskes) e Phyllocoptruta oleivora (Ashmead) são responsáveis pela maioria das
pulverizações realizadas em citros (SINDAG, 2004).
São apresentados a seguir os principais acaricidas de importância para o controle
de ácaros na agricultura. Diversos grupos de acaricidas deixaram de ter importância
comercial, mas foram utilizados por muitos anos pelos agricultores.

Enxofre
O enxofre é ainda extensivamente empregado para controlar ácaros de muitas
espécies, sabendo-se que certos grupos de ácaros são mais suscetíveis que outros.
Ácaros da família Eriophyidae e Tenuipalpidae são geralmente suscetíveis ao enxofre.
A maioria dos ácaros da família Tetranychidae pertencentes aos gêneros Olygonychus,
Eotetranychus, Eutetranychus, e da família Tarsonemidae do gênero
Polyphagotarsonemus podem ser controlados por aplicações de enxofre. Ácaros do
gênero Tetranychus têm se mostrado pouco sensíveis ao enxofre, em diversas culturas.

Óleos derivados de petróleo


Ácaros tetraniquídeos e eriofídeos podem ser controlados nas folhas de plantas
frutíferas com aplicações de óleos derivados de petróleo somente com
pulverizações que proporcionem cobertura suficiente para atingir diretamente os
ácaros e ovos.

Organoclorados

3
Pesquisador Científico, Instituto Biológico. E-mail: mesato@biologico.sp.gov.br
95

Estudos para avaliar a eficiência de dicofol, iniciaram em 1952. Este acaricida


teve seu uso extensivo para o controle de uma ampla gama de ácaros pragas na
agricultura e em plantas ornamentais. Ele possui relativamente baixa toxicidade para
ácaros adultos, mas é tóxico para todos os outros estágios. Dicofol é tóxico para muitos
ácaros predadores e alguns insetos predadores e parasitóides. O acaricida dicofol é um
análogo do DDT, porém não é cumulativo nos organismos vivos e apresenta rápida
degradação no meio ambiente. Este produto continua sendo um importante componente
para os programas de manejo integrado de pragas (MIP) no mundo, devido à sua
eficiência no controle de várias espécies de ácaros fitófagos e custo relativamente baixo.

Organofosforados e Carbamatos
Pesquisas com o organofosforado parathion como acaricida iniciaram-se em
1947. Após alguns anos com uso extensivo de parathion, muitas populações de ácaros
desenvolveram resistência ao produto.

A enzima acetilcolinesterase é dita fosforilada, quando é ligada a um


organofosforado ou carbamilada, quando é ligada a um carbamato. No caso de
organofosforados a ligação com a acetilcolinesterase é bem mais forte e praticamente
irreversível. A inibição da acetilcolinesterase resulta em acúmulo de acetilcolina na
fenda sináptica, causando hiperexcitabilidade do sistema nervoso central devido à
transmissão contínua e descontrolada de impulsos nervosos.

Piretróides
O uso de piretróides na agricultura iniciou-se na década de 70. A toxicidade dos piretróides
sintéticos é baixa ou moderada. Os piretróides, assim como o DDT, ligam-se a uma das
subunidades dos canais de sódio modificando individualmente estes e mantendo-os
abertos por um período mais longo de tempo. O aumento do tempo de abertura dos
canais de sódio leva a um aumento do fluxo de sódio para o interior da membrana e à
prolongação da fase de despolarização após o pico do potencial de ação que é atingido
normalmente. Potenciais de ação repetidos são desencadeados quando a despolarização
atinge um limite. Os insetos ou ácaros morrem por hiperexcitação. Este é o principal
sítio de ação de DDT e piretróides que, no entanto, também agem em outros sítios
secundários como o sistema GABA, receptores de ACh ativados por cálcio e ainda
interferem com a função reguladora do cálcio (GUEDES, 1999).
96

Alguns piretróides tem ação acaricida, podendo-se mencionar o bifenthrin e o


fenpropathrin. O acrinathrin foi o último acaricida “piretróide” lançado no mercado
brasileiro.

Inibidores ou reguladores de crescimento


O flufenoxuron foi descoberto no início dos anos 80 pela Shell, tendo ocorrido
sua comercialização a partir de 1990. Ele controla ovos, larvas e ninfas de
tetraniquídeos e de alguns insetos (DEKEYSER, 2005).
O flufenoxuron é um regulador de crescimento que atua por contato e ingestão.
Ele inibe a formação de quitina, composto indispensável para a recomposição da
cutícula, após a ecdise (muda de pele) que ocorre nos estádios imaturos dos ácaros e
insetos. Flufenoxuron não apresenta ação de choque e não causa mortalidade a adultos.
Porém pode ter efeito esterilizante sobre fêmeas de ácaros e insetos contaminados (BASF,
2001).
O etoxazole pertence a um novo grupo químico (Diphenyloxazoline). Foi
descoberto em meados da década de 1980, com comercialização iniciada em 1998. Seu
modo de ação ocorre através da inibição do processo normal da ecdise e da atividade
ovicida. Embora atue principalmente sobre a fase jovem dos ácaros, possui ainda efeito
esterilizante sobre fêmeas adultas. Ele mostra alta atividade sobre ovos, larvas e ninfas
de vários ácaros, mas não mostra atividade contra adultos. Ele apresenta baixa
toxicidade a mamíferos e baixa persistência ambiental. Seu modo de ação é semelhante
ao das benzoiluréias (DEKEYSER, 2005).
Outro representante dos reguladores de cresimento é o hexitiazox, sendo
considerado ovicida, mas também com atuação sobre larvas, protoninfas e deutoninfas,
além do efeito esterilizante sobre fêmeas adultas do ácaro da leprose. O mecanismo de
ação do hexitiazox ainda é desconhecido, mas acredita-se que o produto atue na síntese
de quitina. Este acaricida vem sendo utilizado desde a metade da década de 80 nos
Estados Unidos, Austrália e Europa para o controle de ácaros da família Tetranychidae.
No Brasil, esse acaricida vem sendo usado para o controle do ácaro da leprose, e
continua sendo utilizado sozinho ou mistura com acaricidas adulticidas (CAMPOS,
2001).

Inibidores da respiração mitocondrial


97

Os principais grupos de inseticidas e acaricidas deste grupo são: os inibidores do transporte de


elétrons (pyridaben, fenazaquin, fenpyroximate); os inibidores da síntese de ATP (chlorfenapir, óxido de
fenbutatin) e os inibidores das ATPase (propargite e diafentiuron). Eles agem por contato e ingestão.
O fenpyroximate foi descoberto em 1985 pela Nihon Nohyaku, sendo sua
comercialização iniciada em 1991. Ele é um dos representantes dos acaricidas pirazóis.
Ele é ativo contra todos os estágios de desenvolvimento de ácaros de importância na
agricultura. Fenpyroximate mostra toxicidade baixa à moderada para ácaros e insetos benéficos. Ele
age inibindo o transporte de elétrons, relacionado a NADH coenzima Q redutase, no complexo I
(DEKEYSER, 2005).
O piridaben pertence a um grupo químico denominado piridazinona. Foi
descoberto em 1984, pela Nissan Chemical e comercializado a partir de 1991. Este
acaricida controla todos os estágios de ácaros fitófagos e alguns insetos sugadores,
como mosca brancas, afídeos e tripes. Este composto afeta o metabolismo, inibindo a
cadeia de transporte de elétrons na mitocondria pela ligação com o Complexo I no sítio
da Coenzima Q0. Piridaben especificamente bloqueia a mitocondria e isola a oxidação
do complexo I, com alta eficiência.
Os organoestânicos são acaricidas ainda bastante utilizados na agricultura
brasileira, onde a maioria das aplicações é feita visando ao controle do ácaro da leprose,
em citros. Os organoestânicos (óxido de fenbutatin, cyhexatin, azocyclotin) inibem a fosforilação
oxidativa, não permitindo a formação do ATP. O transporte de elétrons não é afetado, porém não há
formação de ATP. O óxido de fenbutatin se mostra seletivo aos ácaros predadores da
família Phytoseiidae.
O clorfenapir foi descoberto pela Cyanamid em 1988, passando a ser
comercializado em 1995. Clorfenapir é um pró-inseticida/acaricida e portanto não tem
ação tóxica em sua forma inicial. Após entrar nas células de artrópodes, é convertido
num potente inseticida/acaricida por ação de enzimas oxidases de função múltipla.
Clorfenapir em sua forma ativa se deposita entre as membranas interna e externa da
mitocôndria, onde promove uma extração de prótons de hidrogênio, do interior para o
exterior. Esse processo não permite que se acumulem prótons suficientes na
mitocôndria, o que leva a uma parasilação da fosforilização oxidativa, pela qual o
difosfato de adenosina (ADP) deve ser convertido em trifosfato de adenosina (ATP). O
ATP é a fonte de energia química que permite às células manterem suas funções vitais.
Sem geração de ATP, as células param de funcionar, o que leva insetos e ácaros a
morte. A absorção de clorfenapir pelas pragas acontece principalmente por ingestão,
98

havendo também alguma absorção por contato. Clorfenapir apresenta uma ação ovicida
limitada. Nas plantas, essa molécula não apresenta ação sistêmica, mas tem uma ótima
ação translaminar. Este composto mostra-se altamente tóxico para muitas espécies de
ácaros predadores (Phytoseiidae). Ele apresenta moderada toxicidade para mamíferos,
porém apresenta uma longa persistência ambiental (DEKEYSER, 2005).
O propargite e o diafentiuron parecem interferir na respiração celular por meio
da inibição da ATPase, mediado pelo magnésio na mitocôndria.
O Diafentiuron pertence ao grupo químico feniltiouréia, descoberto em 1980
pela Ciba-Geigy e lançado em 1991. Ele atua contra todos os estágios de
desenvolvimento de ácaros, moscas brancas e afídeos. É inócuo para insetos benéficos e
levemente tóxico para ácaros predadores. Apresenta baixa toxicidade para mamíferos e
baixa persistência ambiental. Ele é considerado um proacaricida e seu metabólico
principal (carbodiimida) é um inibidor de ATPase mitocondrial (DEKEYSER, 2005).

Avermectinas
São os agonitas de GABA (ácido – amino butírico). Avermectinas são
metábolicos isolados da fermentação do fungo Streptomyces avermitilis. Os agonistas
de GABA agem inibindo o sistema nervoso central, competindo com o GABA, ligando-
se ao seu receptor específico na membrana pós-sináptica e estimulando o fluxo de Cl-,
para o interior da célula nervosa.
A ingestão do abamectin, pelo ácaro ou inseto, resulta em uma rápida paralisia e
subseqüente morte, sendo que ele apresenta uma limitada ação de contato, o que o torna
um acaricida seletivo para ácaros predadores (NOVARTIS, 2000).
Abamectin é utilizado no Brasil para o controle de diversas espécies de insetos
[ex.: Alabama argillacea (Hübner), Phyllocnistis citrella Staiton, Tuta absoluta
(Meyrick)] e ácaros [T. urticae, Polyphagotarsonemus latus (Banks), Panonychus ulmi
(Koch), Aculops lycopersici (Massee)] em várias culturas, tais como agodão, citros,
maçã, melancia, morango, pepino, tomate, batata e plantas ornamentais (ANDREI, 2005).
O segundo representante desta classe é o Milbemectin, descoberto pela Sankyo
na década de 70, e comercializado a partir de 1991. Ele é uma mistura de dois
compostos, o milbemycin A3 e o milbemycin A4. Milbemectin mostra ação contra todos
os estádios de vida dos ácaros, para um amplo espectro de ácaros fitófagos. Ele atua
como um agonista de GABA, como o abamectin (DEKEYSER, 2005).
99

Cetoenol
Este é u grupo químico recentemente lançado no mercado brasileiro. Devido à
sua elevada eficácia e longo período de controle contra as mais importantes espécies de
ácaros, o spirodiclofen tem se tornado uma boa opção no manejo da resistência de
ácaros. Na formulação suspensão concentrada, apresenta forte ação lipofílica.
Spirodiclofen atua em todos os estádios de desenvolvimento dos ácaros, principalmente
sobre as formas jovens e os ovos (SALVO, 2003). Esta nova molécula apresenta
seletividade para artrópodes benéficos (MAEYER et al., 2002).
Spirodiclofen e spiromesifen são novos acaricidas/inseticidas desenvolvidos dentro
da nova classe de químicos que agem na biosíntese de lipídeos. Spirodiclofen
proporciona excelente controle de importantes ácaros praga como Panonychus,
Phyllocoptruta, Brevipalpus, Aculus e espécies de Tetranychus. Spiromesifen é
altamente ativo sobre espécies de Tetranychus, principalmente estádios juvenis, com
excelente efeito ovicida (NAUEN, 2004).

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SINDAG. Sindicato Nacional de Indústria de Produtos para Defesa Agrícola.
Disponível em: <www.sindag.com.br>. Acesso em: 30 nov. 2004.
101

RESISTÊNCIA DE ÁCAROS A ACARICIDAS


Mário Eidi Sato3

A evolução da resistência de pragas a inseticidas tem se tornado um problema


sério em programas de controle de pragas envolvendo o uso de produtos químicos. A
resistência é definida como “o desenvolvimento de uma habilidade em uma linhagem de
um organismo de tolerar doses de tóxicos que seriam letais para a maioria dos
indivíduos da população normal (suscetível) da espécie” (OMS). A resistência é
hereditária.
Dentre as conseqüências drásticas da evolução da resistência estão as aplicações
mais freqüentes de pesticidas, aumento na dose do produto e a substituição por outro
produto geralmente de maior toxicidade (GEORGHIOU, 1983). Estes fatores assumem
importância em vista da maior contaminação do meio ambiente com pesticidas,
destruição de organismos benéficos e elevação nos custos de controle da praga. Sabe-se
também que a descoberta e o desenvolvimento de uma nova molécula química estão se
tornando cada vez mais difíceis e caros. Associado a estes fatores, existe a possibilidade
dos ácaros e insetos expressarem a resistência para os novos compostos através da
resistência cruzada. Sendo assim, a implantação de programas de manejo da resistência
de artrópodes a produtos químicos é fundamental para se tentar minimizar os problemas
com resistência a pesticidas.

O primeiro relato de resistência de ácaros ocorreu em 1937 com a detecção de


uma linhagem de Tetranychus urticae Koch resistente a um composto a base de selênio.
Falhas no controle de ácaros tetraniquídeos com acaricidas organofosforados (parathion
e TEPP) foram relatadas na Europa e EUA por volta de 1950 (CRANHAN & HELLE,
1985).
Entre os principais mecanismos pelos quais os artrópodes podem desenvolver
resistência a pesticidas estão: redução da penetração cuticular (FERGUSSON-KOLMES et al.,
1991), alteração do alvo de ação (YU & NGUYEN, 1996) e aumento da desintoxicação
(KASAI, 2004), podendo-se citar o envolvimento de algumas enzimas como hidrolases
(esterases, fosfatases) (MIYATA, 1983; SAKATA & MIYATA, 1994), oxidases
(principalmente dependente das monooxigenases do citocromo P-450) (KASAI et al.,

3
Pesquisador Científico, Instituto Biológico. E-mail: mesato@biologico.sp.gov.br
102

1998), e transferases. Entre as do último grupo, as transferases de glutatiom são as únicas


envolvidas na resistência, entre várias outras transferases que podem estar relacionadas ao
metabolismo de compostos estranhos, como os inseticidas (FOURNIER et al., 1987).
A redução na penetração foi observada em muitos artrópodes resistentes, porém,
em comparação com os outros tipos de resistência, a penetração reduzida é de importância
secundária. Este tipo de resistência torna-se mais importante quando associado com um
outro mecanismo de resistência, como o aumento da desintoxicação. HIRAI et al. (1973)
observaram penetração de 62 a 64% da dose de 32P-dimetoato aplicada em uma população
suscetível de Panonychus citri McGregor, mas somente 15% da dose aplicada em uma
população resistente. Esta penetração cuticular reduzida foi considerada como um fator
envolvido na resistência deste tetraniquídeo ao inseticida testado.
Um exemplo de alteração no alvo de ação envolve a redução da sensibilidade de
acetilcolinesterase, que corresponde ao local de ação de inseticidas organofosforados e
carbamatos (CAMPANHOLA, 1990). Este mecanismo foi observado pela primeira vez em
ácaro rajado, T. urticae, que se mostrou menos sensível a organofosforados (SMISSAERT,
1964).
O mecanismo de resistência baseado no aumento da capacidade de degradar
produtos tóxicos é provavelmente o mais comum em artrópodes (PLAPP & WANG, 1983;
PLAPP, 1986). O aumento na atividade das monooxigenases do citocroma P450 é um dos
mecanismos mais freqüentes de resistência a inseticidas. Acredita-se que estas enzimas
microssomáticas evoluíram como um mecanismo de proteção contra substâncias tóxicas de
ocorrência natural nas plantas. Uma das características das monooxigenases é sua baixa
especificidade de substrato, o que resulta em padrões de resistência não restritos a grupos
específicos de inseticidas (WILKINSON, 1983; CAMPANHOLA, 1990).
Os sistemas de desintoxicação parecem ter uma grande flexibilidade, e muitos
insetos são capazes de adquirir adaptações genéticas para um elevado número de
inseticidas, quando sob pressão de seleção contínua. Os vários mecanismos podem agir
sozinhos ou em combinação, e em espécies que se adaptam muito facilmente, ocorrem
biótipos que podem resistir a muitos inseticidas (OPPENOORTH, 1985).
O maior problema associado ao controle do ácaro rajado é seu elevado potencial
reprodutivo e seu curto ciclo de vida, que favorecem o rápido desenvolvimento de
resistência a acaricidas. A resistência de T. urticae a acaricidas de diversos grupos
químicos (ex.: dicofol, cyhexatin, hexythiazox, clofentezina, abamectin, fenpyroximate)
tem sido reportada em diversos países. No Brasil, ainda são poucos os trabalhos sobre a
103

resistência desta praga a acaricidas (CHIAVEGATO et al., 1983, SATO et al., 2000, 2004,
2005).
Diversas pesquisas sobre resistência de T. urticae a acaricidas têm sido
desenvolvidas nos últimos anos no Instituto Biológico. Foram realizados estudos de
pressão de seleção com diversos acaricidas, em condições de laboratório. Os resultados
das seleções artificiais podem ser observados na Tabela 1. Verifica-se que existem
diferenças no potencial de evolução de resistência de T. urticae para os diferentes
acaricidas estudados. Após algumas seleções para resistência, observou-se uma
intensidade de resistência de 2.912 vezes para fenpyroximate, e de “apenas” 72,5 vezes
para propargite. Neste caso, o potencial maior de evolução de resistência a
fenpyroximate indica que o problema da resistência de T. urticae a este acaricida é mais
sério do que para propargite. A CL50 mais elevada para propargite foi observada após a
quarta seleção para resistência, sendo equivalente a 245 ppm de i.a.. Esta concentração
corresponde a apenas 1,13 vez a concentração recomendada do acaricida para o controle
de T. urticae em diversas culturas no Brasil. No caso de fenpyroximate, o valor mais
elevado de CL50 foi 10.893 ppm de i.a., que corresponde a aproximadamente 218 vezes
a sua concentração recomendada (ANDREI, 2005). No caso deste último produto, o
simples aumento da dose aplicada não seria suficiente para eliminar os ácaros
resistentes no campo.

Tabela 1. Alterações das concentrações letais médias (CL50 em ppm de i.a.) de


acaricidas de acordo com as seleções artificiais para aumento da resistência em
condições de laboratório.
Pressão de Seleção Abamectin Fenpyroximate Propargite
Número CL50 (I.C. 95%) CL50 (I.C. 95%) CL50 (I.C. 95%)

Para Resistência
0 4,36 (3,47 - 5,62) 111 (91,7 – 135) 32,9 (26,6 – 40,5)
1 9,12 (7,38 – 11,2) 203 (160 – 259) 53,2 (44,8 – 63,2)
2 18,8 (15,4 – 23,2) 445 (358 – 555) 108 (88,4 - 130)
3 31,8 (25,8 - 38,9) 1442 (1147 - 1840) 219 (185 - 258)
4 43,3 (35,5 – 54,1) 2957 (2356 - 3769) 245 (212 - 282)
5 58,1 (48,0 – 71,0) 10.893 (9.056 – 13.458) 222 (191 - 258)

RR (CL50 R/CL50 S) 342 2.912 72,5


após as seleções
104

Estabilidade da resistência. Estudou-se a estabilidade da resistência de T.


urticae a abamectin, em condições de laboratório, realizando-se avaliações mensais em
três populações de ácaro rajado com diferentes freqüências iniciais de resistência (25,
50 e 75%), mantidas totalmente livres de qualquer tratamento químico. As freqüências
de resistência ao abamectin declinaram significativamente na ausência de pressão de
seleção, nas três populações avaliadas. Em todas as populações, inclusive naquela com
freqüência inicial de resistência de 75%, houve um restabelecimento da suscetibilidade
em um período de seis meses, passando a apresentar freqüências de resistência iguais ou
inferiores a 15% (Fig. 1) (SATO et al., 2005).
A instabilidade da resistência de T. urticae a abamectin, verificada neste estudo,
pode ser bastante interessante para programas de manejo da resistência deste ácaro ao
produto. Embora estudos de dinâmica da resistência em condições de campo ainda
sejam necessários, pode-se inferir que a rotação com produtos que não apresentem
resistência cruzada positiva é uma tática promissora para o manejo desta resistência.

100
Freqüência de resistência (%)

80 75% R

60
50% R
40
25% R
20

0
0 1 2 3 4 5 6 7
Período (meses)

Figura 1. Variação nas freqüências de resistência (médias ± EP) de Tetranychus urticae


a abamectin em populações com freqüências iniciais de resistência de 25, 50 e 75%
de ácaros resistentes, em condições de laboratório.

Resistência cruzada. Também foram realizados estudos de resistência cruzada,


para diferentes acaricidas. Um dos estudos indicou resistência cruzada positiva entre
abamectin e milbemectin, que apresentam mecanismos de ação semelhantes (Fig. 2).
Este fato é preocupante pois o milbemectin acaba de ser lançado no mercado brasileiro,
105

mas diversas populações já foram pré-selecionadas para resistência devido ao intenso


uso de abamectin.
Além de estudos de resistência de T. urticae a acaricidas, outros pesquisadores têm
desenvolvido estudos sobre resistência de ácaros a acaricidas. Nesse aspecto, o
Professor Dr. Celso Omoto, do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia
Agrícola, da ESALQ/USP tem coordenado diversas pesquisas de grande importância,
sobre a resistência de Brevipalpus phoenicis (Geijskes) a diversos acaricidas (ex.:
OMOTO et al., 2000)

10
LC 50 of Milbemectin

4 y = 0.1141x + 0.8315
2
R = 0.978 p = 0.0002
2

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
LC50 of Abamectin

Figura 2. Relação entre CL50 de abamectin e CL50 de milbemectin para várias


populações de Tetranychus urticae com diferentes suscetibilidades a abamectin. Os
intervalos indicados em cada ponto correspondem aos intervalos de confiança a 95%.

Resistência de ácaros predadores a agroquímicos


Após o aparecimento de resistência de ácaros tetraniquídeos a pesticidas, também
se observou o mesmo em seus inimigos naturais, principalmente em ácaros da família
Phytoseiidae. Embora a resistência a inseticidas não seja freqüente em inimigos naturais,
atualmente são conhecidos diversos casos de resistência em ácaros predadores desta
família (HOY, 1990). A resistência a pesticidas tem sido documentada em populações
nativas de fitoseídeos, principalmente das espécies Amblyseius fallacis (Garman),
106

Metaseiulus occidentalis (Nesbitt), Phytoseiulus persimilis Athias-Henriot e Typhlodromus


pyri Scheuten.
A utilização de fitoseídeos resistentes a pesticidas em programas de controle
integrado, durante as últimas décadas, tem contribuído para o aprimoramento do manejo
de pragas em nível mundial e redução do número de casos de resistência em tetraniquídeos
(FAO, 1984).
SATO et al. (2007) estudaram a resistência de Amblyseius womersleyi Schicha
(Acari: Phytoseiidae) ao inseticida methidathion e observaram o envolvimento
monooxigenases nesta resistência. Um gene CYP4 parece estar associado a esta
resistência.

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109

CARRAPATO-ESTRELA E A FEBRE MACULOSA

Leila A. G. Barci5
Introdução

Rickettisia rickettsii, agente etiológico da Febre Maculosa Brasileira e Febre das


Montanhas Rochosas dos Estados Unidos, é um bacilo intracelular obrigatório de breve
sobrevivência no meio ambiente. Não é transmitido de pessoa a pessoa e os humanos
são hospedeiros acidentais dentro da cadeia epidemiológica. A evolução da doença pode
se dar de forma assintomática, com sintomatologia discreta até formas graves com
elevada taxa de letalidade.
Em nosso país, A. cajennense é vulgarmente conhecido como “carrapato
estrela”. As formas adultas recebem ainda as denominações de "rodoleiro" em muitas
regiões do país, "picaço", no sul de Minas Gerais e "carrapato rodolego", em Sergipe.
As larvas ou as ninfas desses carrapatos são denominadas popularmente de "micuim",
"carrapato pólvora", "carrapato-fogo", "carrapato meio-chumbo" e "carrapatinho". É um
carrapato trioxêno, ou seja, necessita de três hospedeiros, iguais ou diferentes, para
completar o seu ciclo biológico que pode variar de um a três anos, dependendo das
condições climáticas. Vários animais domésticos e ampla diversidade de espécies
silvestres (entre mamíferos e aves) podem albergar algum estádio parasitário deste
carrapato.
No Brasil, as infestações por larvas ou micuins são observadas particularmente a
partir dos meses de março-abril até meados de julho quando se inicia o período ninfal.
As larvas podem permanecer no ambiente até seis meses sem se alimentar. Após a
fixação no hospedeiro, elas iniciam o repasto (linfa e/ou sangue e tecidos digeridos)
durante aproximadamente cinco dias. Após este período, as larvas desprendem-se do
hospedeiro, caem no chão e buscam abrigo no solo para realizar uma muda para o
estágio ninfal, que ocorre em um período médio de 25 dias. A ninfa ("vermelhinho")
pode aguardar em jejum pelo hospedeiro por um período estimado de até um ano. Seu
período máximo de atividade é observado durante os meses de julho a outubro, podendo

5
Pesquisador Científico, Instituto Biológico Caixa Postal 12.898, CEP 04010-970, São Paulo,
SP. E-mail: barci@biologico.sp.gov.br
110

também ocorrer durante o ano todo dependendo das condições ambientais do local onde
está ocorrendo. Encontrando o segundo hospedeiro, a ninfa se fixa e inicia um período
de alimentação de aproximadamente 5 a 7 dias quando, completamente ingurgitada, se
solta do hospedeiro, cai no chão e realiza a segunda muda. Após um período de
aproximadamente 25 dias emergem um macho ou uma fêmea jovem que, em 7 dias,
encontra-se apta a realizar seu terceiro estádio parasitário. Neste ambiente, os adultos
podem permanecer sem se alimentar, por um período de até 24 meses, aguardando o
hospedeiro. Quando isto acontece, machos e fêmeas fixam-se, fazem um repasto tissular
e sanguíneo, acasalam-se e a fêmea fertilizada inicia um processo de ingurgitamento
que finda num prazo aproximado de 10 dias. Após este período, as fêmeas fecundadas e
ingurgitadas se desprendem do hospedeiro, caindo no solo para realizar postura única
(5.000 a 8.000 ovos) iniciando uma nova geração. Esta fase, observada durante os
meses de outubro a março, completa o ciclo biológico e indica a ocorrência de uma
geração anual da espécie.
Os carrapatos Amblyomma cajennense são os grandes responsáveis pela
manutenção da R. rickettsii na natureza, pois ocorre transmissão transovariana
(transmissão para ovos e larvas) e transestadial (transmissão do patógeno, a partir das
larvas, para ninfas e destas para os adultos). Esta característica biológica permite ao
carrapato permanecer infectado durante toda a sua vida e também por muitas gerações
após uma infecção primária. Portanto, além de vetores, os carrapatos são verdadeiros
reservatórios da bactéria, uma vez que todas as fases evolutivas, no ambiente, são
potencialmente capazes de permanecer infectadas meses ou anos à espera do
hospedeiro, garantido um foco endêmico prolongado. O homem adquire a bactéria após
ter sido picado pelo carrapato, ou seja, quando acidentalmente passa a integrar o ciclo
endêmico riquétsia-carrapato-reservatório silvestre. Vale ressaltar que, para que haja a
transmissão da febre maculosa através da picada por carrapatos, estes devem
permanecer fixados a pele do hospedeiro por um período de 4-6 horas, tempo necessário
para uma possível reativação da R. rickettsii na glândula salivar do carrapato.
As capivaras - reconhecidas como reservatórios naturais do agente causal da
febre maculosa no nosso meio - quando confinadas, podem sofrer infestações maciças
pela espécie A. cajennense. Esses animais, assim como provavelmente alguns outros
grupos de mamíferos silvestres, em condições naturais, são reservatórios transitórios das
bactérias, adquirindo resistência duradoura após período parasitêmico, variável entre
alguns dias e poucas semanas. Se os carrapatos não tiverem a possibilidade de se
111

reinfectar periodicamente, a concentração da bactéria nesses artrópodes infectados tende


ao desaparecimento após algumas gerações. Acrescente-se a isso o fato de que nem
todos os carrapatos que se alimentam em hospedeiro parasitêmico tornam-se infectados.
Os casos de febre maculosa em humanos vão estar diretamente relacionados à
superpopulação de A. cajennense, pois quanto maior a população desse carrapato, mais
intensamente o homem será infestado e maior a chance de um carrapato infectado picá-
lo. Em regiões onde a população de A. cajennense esta sobre controle natural ou
artificial, o homem é menos infestado pelo carrapato, facilitando a retirada dos
ectoparasitas do corpo antes que a bactéria seja transmitida e diminuindo drasticamente
as chances de desenvolver a doença. Daí a importância das criações de eqüinos e
capivaras na epidemiologia da febre maculosa. Essas espécies animais são essenciais
para o desenvolvimento dos adultos do A. cajennense que, ao contrário das outras fases,
se alimenta com sucesso em poucos mamíferos. Assim, quanto maior a densidade
populacional desses animais, maior a disponibilidade de hospedeiro para a fase adulta
do ectoparasita, fator primordial para o aumento exponencial da população do carrapato.

Patogenia
A bactéria ataca as células que revestem os vasos sanguíneos, ocasionando
graves distúrbios circulatórios no organismo. As lesões vasculares disseminadas
constituem a base fisiopatológica do quadro clínico: acúmulo anormal de líquido
(edema), aumento do volume extracelular com conseqüentes baixa pressão sanguínea
(hipotensão), morte tecidual (necrose) local, e distúrbios da coagulação (coagulação
intravascular disseminada). Ocorrem obstruções(infartos) de vasos sanguíneas, com
subseqüente suspensão da irrigação sangüinea(isquemia) no cérebro, principalmente no
mesencéfalo e nas regiões dos núcleos, e, menos freqüentemente, no coração. No
fígado, pode haver lesão ao redor dos vasos (perivascular), com degeneração gordurosa
das células do fígado(hepatócitos). As alterações renais consistem de lesões vasculares
intersticiais focais, acometendo poucos néfrons.

Sinais clínicos
No homem o período de incubação varia de 2 a 14 dias. Inicia com febre, dor de
cabeça (cefaléia), dores musculares(mialgia), náuseas e vômitos. Entre o 3º e 4º dia
surgem as manifestações cutâneas como manchas(máculas) papulares róseo
avermelhadas, predominando nos membros erradiando para palmas, solas e tronco. Nos
112

casos graves, com o desenvolvimento da doença, as pápulas vão se transformando em


hemorrágicas. Alguns casos evoluem gravemente, ocorrendo a morte dos tecidos nas
áreas de sufusões hemorrágicas (extravasamento de sangue), em decorrência da
inflamação generalizada dos vasos sanguíneos. Se não tratado, o paciente evolui para
um estágio de mal-estar caracterizado pela diminuição da sensibilidade (torpor),
confusão mental, freqüentes alterações psicomotoras, chegando ao coma profundo.
Icterícia leve e convulsões podem ocorrer na fase terminal.
Diagnóstico diferencial
Febre amarela, febre tifóide, dengue, enteroviroses, caxumba, rubéola, sarampo,
hepatites, leptospirose, malária, meningites e meningoencefalites tanto virais como
bacterianas, meningococcemia, Doença de Lyme etc.

Diagnóstico específico:
Sorológico (Imunofluorescência Indireta, Elisa, Reação de Weil-Felix);
Isolamento;
PCR;
Anátomo-patológico.

Tratamento
A indicação do tratamento deve ser baseada principalmente na suspeita clínica e
no histórico de acesso a áreas com infestação de carrapatos A letalidade diminui
drasticamente se o tratamento for feito em tempo hábil. Cerca de 80% dos indivíduos,
com forma grave, se não diagnosticados e tratados a tempo evoluem para óbito.
As drogas de escolha podem ser tetraciclina e cloranfenicol.

Situação no Estado de São Paulo


A doença foi reconhecida pela primeira vez no Estado de São Paulo em 1929.
No período de 1929 a 1933 foram relatados 88 casos no Estado, sendo que 76
ocorreram na capital e 12 no interior.
De 1957 a 1974 foram registrados 53 casos.
De 1976 a 1982 houve notificação de 10 casos.
Em 1985 surgiram as primeiras suspeitas da doença nos Municípios de Pedreira
e Jaguariúna, pertencentes à região de Campinas, SP, tornando um problema de saúde
pública em ascensão. No período de 1985 a 2002 ocorreram 66 casos confirmados de
113

Febre Maculosa em 10 municípios da região de Campinas. Deste total 31 foram a óbito,


representando uma taxa de letalidade de 47%.
Nos últimos cinco anos, ocorreram no Estado de São Paulo 45 óbitos, a maioria
por falta de diagnóstico rápido.

Situação no Brasil
No Brasil, além do Estado de São Paulo, também há relatos de casos em Minas
Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Santa Catarina.
Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, indicam
que foram registrados no Brasil, nos últimos dez anos, 386 casos de febre maculosa com
107 óbitos. Com exceção de Santa Catarina, onde a doença tem se apresentado como
casos isolados ou em surtos de pequena magnitude (26 notificações, sem registro de
óbito), todos os outros ocorreram no Sudeste: 139 em São Paulo (42% de letalidade),
136 em Minas Gerais (22% de mortalidade), 55 no Rio de Janeiro (24% vieram a óbito)
e 30 no Espírito Santo (23% de letalidade). A doença é de notificação compulsória
desde 2001.

Prevenção e Controle
Pode-se recomendar as seguintes medidas para prevenir e controlar a febre
maculosa em humanos no meio rural:
• ter em mente quais são as áreas consideradas endêmicas para a febre maculosa;
• manter a população de A. cajennense sob controle. Nas regiões onde há
presença de carrapatos, aplicar o controle químico nos animais domésticos e de
produção. Em especial, fazer um controle rígido em criações de eqüídeos. Nas regiões
de preservação ambiental, onde há presença de capivaras ou antas, controlar o acesso
desses animais às áreas onde há circulação de humanos uma vez que o aumento da
densidade populacional desses mamíferos silvestres tem incrementado
exponencialmente a população de A. cajennense;
• manter o gramado aparado em ambientes domiciliares e de acesso à população
humana;
• evitar caminhar em áreas reconhecidamente infestadas por carrapatos;
114

• utilizar barreiras físicas no corpo, como camisas e calças e compridas, com a


parte inferior por dentro de botas. Bainhas de tecido ou fita de dupla face na parte
superior de botas também são recomendadas;
• usar roupas de cores claras permitindo uma melhor visualização dos carrapatos
• quando a exposição a carrapatos é inevitável, ao caminhar por estas áreas,
checar o corpo em busca de carrapatos em intervalos de 2 a 3 horas, pois quanto mais
rápido for retirado um carrapato fixado, menores serão os riscos de contrair a doença;
• retirar os carrapatos com cuidado, se possível com auxílio de uma pinça,
através de torções leves, seguidas de movimentos de tração, permitindo que eles sejam
retirados inteiros;
• não puxar o ectoparasita pelo abdômen, não queimar nem expor o ectoparasita
a qualquer tipo de substância, não perfurar nem espremer os carrapatos com as unhas;
• no caso de cães do meio rural, prevenir infestação de carrapatos tratando-os
com produtos carrapaticidas;
• cuidado especial com cães de áreas urbanas que têm contato esporádico com o
meio rural, pois estes, por nunca terem entrado em contato com a R. rickettsii, estão
mais susceptíveis à infecção. O ideal é que os cães sejam tratados com carrapaticidas
imediatamente após o retorno de áreas rurais infestadas por carrapatos.

Bibliografia Consultada

ANADÃO, F.N.J. Histórico da febre maculosa no Estado de São Paulo.2004, 51 p,


2004. Monografia (Trabalho Conclusão de Curso: Ciências Biológicas) - Centro
Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos, São João da Boa Vista, 2004.
ARAGÃO, H.B. & FONSECA, F. Notas de Ixodologia.VIII. Lista e chave para os
representantes da fauna ixodológica brasileira. Memórias do Instituto Oswaldo
Cruz, v.59, p.115-129, 1961.
CARVALHO, S.H. & ANTUNES JUNIOR, J.S.A. Rickettsioses. In: SECRETARIA
DE ESTADO DA SAÚDE DE MINAS GERAIS. SUPERINTENDÊNCIA DE
EPIDEMIOLOGIA - COORDENADORIA DE CONTROLE DOS FATORES DE
RISCO E AGRAVOS AMBIENTAIS. Protocolo de febres hemorrágicas no
Brasil. Belo Horizonte, 2001. p.28-33. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE
(BRASIL). Guia de vigilância epidemiológica. 5. ed. Brasília: FUNASA, 2002.
v.1.
GALVÃO, M.A.M. Informe técnico de febre maculosa. Belo Horizonte: Secretaria da
Saúde de Minas Gerais, 2001
GUIMARÃES, J.H.; TUCCI, E.C.; BARROS-BATESTI, D. Ectoparasitas de
importância veterinária. São Paulo: Plêiade, 2001.
LABRUNA, M.B. & PEREIRA, M.C. Febre Maculosa: aspectos clínicos
epidemiológicos. Revista Clínica Veterinária, n.12, p.19-23, 1998.
115

MINISTÉRIO DA SAÚDE - SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Brasil.


Surto de febre maculosa no Município de Petrópolis, RJ. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/nota_maculosa.pdf>. Acesso em: 31
março. 2006.
SANGIONI, L.A. Pesquisa de infecção por riquettsias do grupo da febre maculosa em
humanos, cães, eqüídeos e em adultos de Amblyomma cajennense, em região
endêmica e não endêmica do estado de São Paulo. 2003. 86p. Tese (Doutorado em
Epidemiologia Experimental Aplicadas as Zoonoses) - Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria de Estado da Saúde. Manual de orientação para
vigilância epidemiológica: febre maculosa. São Paulo, 1996.
SOUZA, C.E.; LABRUNA , M.B.; MAYO, R.C.; SOUZA. S.S.A.L.; CAMARGO-
NEVES, V.L.F.; LIMA, V.L.C. Febre maculosa. Disponível em:
<http://www.sucen.sp.gov.br/doencas/f_maculosa/texto_febre_maculosa_pro.htm>
. Acesso em 31 mar. 2006.
116

Ácaros causadores de alergias


(Ácaros domésticos/ácaros da poeira domiciliar)
Prof.Dr. Ângelo Pires do Prado6

Algumas espécies de ácaros que migram de aves, roedores, alimentos armazenados,


matéria vegetal e poeira doméstica, atacam ou incomodam os humanos. Alguns deles
podem ser detectados com o auxílio de lupas manuais (lentes: 10X), enquanto outros
necessitam de exame ao microscópio. As irritações provocadas pelos ácaros podem ser
confundidas com entomofobia (horror aos insetos) e/ou parasitose ilusória em certas
pessoas. A identificação do ácaro geralmente é muito difícil porque devem ser coletados
espécimes, que serão identificados pelos especialistas treinados, antes que o tratamento
se inicie.

Os ácaros pertencem à Classe Arachnida, ordem Acari, onde são descritas cerca de
40.000 espécies diferentes. Podem ser de vida livre ou parasitar plantas, outros
artrópodes, animais vertebrados e também o homem. Os ácaros são pequenos, 0.1-1 mm
de comprimento, com quatro pares de pernas na fase adulta. O ciclo de vida consiste de
diferentes estágios de desenvolvimento: ovo, larval, ninfal e adulto. Algumas espécies
não Pyroglyphidae também têm um estágio hipopial dentro da fase ninfal, quando os
ácaros podem sobreviver por longos períodos sem se alimentar (fase de resistência). Os
adultos podem viver por algumas poucas semanas a vários meses, sempre dependendo
das condições ambientais. As condições mais favoráveis para os ácaros da poeira são a
temperatura de 23-30 graus centígrados e 80-90 % de umidade. Entretanto, tem sido
relatado que o Acarus siro pode completar seu ciclo de vida a 5 graus centígrados e
umidade relativa de 68% (CUNNINGTON 1965). A maioria dos ácaros se alimenta de
várias substâncias ricas em proteína. Os ácaros da poeira primariamente se alimentam
de células de descamação da pele humana, enquanto os ácaros da estocagem se
alimentam de plantas e microorganismos.

In inicialmente os ácaros foram divididos em ácaros da poeira doméstica (APD),


primariamente encontrados nos cômodos da casa e ácaros da estocagem (AE),
primariamente encontrados em produtos agrícolas armazenados e nos ambientes rurais
(das fazendas). Entretanto, os AE podem ser encontrados na poeira domiciliar e a
sensibilização (alergias) não está restrita aos indivíduos com exposição ocupacional.
Assim, o termo ácaros domésticos (AD) foi sugerido para designar todos os ácaros de
vida livre, não parasitas, que são encontrados regularmente nas casas (SPIEKSMAN
1991), e o nome ácaros da poeira (AP) é comumente utilizado para descrever os ácaros
da poeira de vários ambientes.

Os ácaros que nos interessam como causadores de alergias na poeira doméstica


pertencem a várias famílias, conforme pode ser visto na Fig. 1.

6
Depto. de Parasitologia, Instituto de Biologia, UNICAMP, E-mail:
apprado@unicamp.br
117

Classe Subclasse Subordem Família Gênero

Acarus

Escorpiões Acaridae Aleuroglyphus


Insetos
Tyrophagus

Lepidoglyphus
Aranhas Glycyphagidae
Glycyphagus

Artrópodes Astigmata Echimyopodidae Blomia

Chortoglyphidae Chortoglyphus

Aracnídeos Dermatophagoides
Pyroglyphidae Pyroglyphus

Acarinos Euroglyphus

(Ácaros e carrapatos)

Prostigmata Cheyletidae Cheyletus

Figura 1. Principais artrópodes causadores de alergia.

As doenças alérgicas são uma desordem comum afetando cerca de 40% da população
mundial (JOHANSSON 2000).
As doenças alérgicas têm aumentado em prevalência durante os últimos 30 anos, porém
se desconhecem as causas que levam alguns indivíduos a desenvolverem alergias a
substâncias inócuas tais como ácaros, grãos de pólen e descamações da pele de animais.
Há evidências do envolvimento de fatores hereditários que aumentariam o risco de
sensibilização e alergias.
A reação alérgica para os ácaros é do tipo I (hipersensibilidade), de acordo com a
classificação de GELL e COOMBS (1963).

Os alérgenos (aeroalérgenos) são proteínas (Glicoproteínas), geralmente de 10-


100kDa, são facilmente dissolvidas das partículas (ex. grão de pólen), são muito
estáveis e pelo menos para os alérgenos inhalantes, funcionam em doses baixas. Não
existe nenhuma teoria que explique porque algumas proteínas são alergênicas e outras
não.
As reações aos aeroalérgenos e alérgenos de contacto geralmente se manifestam como
rinite e conjuntivite (febre do feno), asma ou dermatite atópica. Exposição aos
alérgenos também pode causar reações sistêmicas ou anafilaxia.
118

Desde 1698, quando FLOYER publicou seu trabalho sobre a asma, sabe-se que "todos
os asmáticos ressentem-se grandemente da poeira produzida no ato de"varrer um
quarto" ou quando se "arruma as camas". Em 1731, RAMAZZINI citou os efeitos
respiratórios de ordem asmática quando certos indivíduos manipulavam colchões.

As primeiras observações publicadas que os ácaros poderiam ser a causa de problemas


respiratórios data de aproximadamente 84 anos (ANCONA 1923). Em 1964,
VOORHORST et al. descobriram que as espécies de ácaros do gênero
Dermatophagoides, encontrados na poeira domiciliar da Holanda causavam reações
alérgicas. A partir daí, muitos estudos foram feitos focando principalmente as espécies
de Dermatophagoides; só mais tarde, é que se estenderam os estudos para os ácaros de
estocagem (AE). OSHIMA (1964) no Japão, também incriminou os ácaros da poeira.
Sensibilização aos ácaros de estocagem tem sido demonstrada em indivíduos com
exposição ocupacional, tais como trabalhadores que lidam com grãos e farinhas
armazenados ou outras ocupações onde grãos e farinhas são manuseados. Choque
anafilático causado pela ingestão de AE contaminantes de alimentos também tem sido
relatado.

Existe geralmente grande correlação entre o número de ácaros e alérgenos fecais das
espécies de Dermatophagoides em diferentes ambientes. Nem todas as proteínas dos
ácaros são alergênicas. Assim, já foram identificados 51 antígenos diferentes do D.
pteronyssinus, porém só 11 deles se ligaram as IgE do soro humano. Já, LIND &
LOWENSTEIN (1983) identificaram nove alérgenos dentre 40 proteínas que eles
isolaram de D. pteronyssinus. Outros autores encontraram número variável de proteínas
totais e de antígenos.

Os ácaros da poeira doméstica consistem de várias espécies de Astigmata,


Cryptostigmata, Prostigmata e Mesostigmata. BRONSWIJK & SINHA (1981)
revisaram 74 referências taxonômicas sobre ácaros da poeira que foram estudados em
várias partes do mundo quando listaram 149 espécies. BRONSWJIK & SINHA (1971),
BRONSWJIK (1972) e WHARTON (1976) publicaram excelentes revisões e em 1981,
BRONSWIJK, publicou o primeiro livro sobre o assunto,“House Dust Biology (for
allergists, acarologists and mycologists)”.
No Brasil, AMARAL (1967) assinalou a presença de D. pteronyssinus, de poeira
domiciliar em residências da cidade de São Paulo.

Lista das espécies mais comuns de ácaros encontrados na poeira domiciliar no


Brasil

Dermatophagoides pteronyssinus (Trouessart, 1879)*


Dermatophagoides farinae Hughes, 1961*
Blomia tropicalis Bronswijck, Coock & Oshima, 1973*
Pyroglyphus africanus (Hughes, 1974)
Euroglyphus maynei (Cooreman, 1950)*
Chortoglyphus arcuatus (Troupeau, 1879)
Tyrophagus putrescentiae (Scharank, 1781)
Cheyletus malaccensis Oudemans, 1903
Blattisocius keegani Fox, 1947
Blattisocius dentriticus (Berlese, 1918)
119

Austroglycyphagus lukoschusi Fain, 1974


Aleuroglyphus ovatus (Troupeau, 1878)
Lepidoglyphus destructor (Schrank,1781)
Glycyphagus domesticus (De Geer, 1778)
Suidasia pontifica Oudemans, 1905
Acarus siro Linnaeus, 1758
Tarsonemus sp.

além de outras espécies das famílias Cheyletidae, Bdellidae, Tarsonemidae e também do


grupo dos oribatídeos.
*Espécies mais importantes como causadoras de alergias no Brasil!

As espécies que com maior freqüência produzem alergias são as do gênero


Dermatophagoides (D. pteronyssinus e D. farinae), da família Pyroglyphidae, devem
seu nome ao fato de sua fonte predileta de alimento ser as células descamadas da pele
humana (do grego dermatos= pele; phagos= comer). Por isso seu habita principal é o
colchão, onde se encontra grande quantidade de seu alimento. Também podem se
alimentar de esporos de fungos, grãos e farinhas de cereais, etc.. As condições
ambientais prediletas são: temperatura ao redor de 25 graus centígrados NE umidade
relativa 70-80%. Um ambiente com UR inferior a 50% limita extraordinariamente sua
presença. Por isso são muito abundantes em regiões costeiras quentes e úmidas e são
raros em regiões montanhosas secas, especialmente acima de 1500 metros de altitude.
Por isso também as populações de ácaros aumenta durante as estações de verão e outono
(úmidos e quentes) e diminuir no inverno e primavera (secos e frios).

Os ácaros se reproduzem sexualmente. A fêmea armazena o esperma em uma vesícula


seminal e o transporta ao oviduto para fertilizar os ovos durante a ovulação. A estrutura
da bolsa copulatriz e a vesícula seminal são características da espécie. O ciclo vital
geralmente consta de 5 estádios: ovo, larva, protoninfa, tritoninfa e adulto. A duração
dessas fases e o crescimento da população de ácaros estão estreitamente ligados à
temperatura e ao grau de umidade relativa ambiental. No caso do D. pteronyssinus o
maior crescimento da população se dá em uma temperatura de 25 graus centígrados,
sendo retardado a temperaturas mais baixas (10 e 20 graus centígrados) ou mais altas
(30-35 graus centígrados).

Coleta , preparação e identificação:


A seleção de residências a serem amostradas deve ser aleatória quanto à presença ou
não de indivíduos atópicos, como também a seleção de sítios ou objetos da residência
que serão amostrados. Coletar várias amostras de cada sítio ou objeto.

Coleta:
Método do aspirador de pó: utiliza-se um aspirador de pó, de 1000 Watts de potência,
no qual se acoplou entre o reservatório de poeira e o tubo aspirador, um pedaço de
tecido de malha fina (cambraia de linho, organdí de náilon ou papel de filtro); aspirar
vários objetos e locais da residência (colchões, travesseiros, carpetes, tapetes, cortinas,
sofás, assoalho de tacos, etc.), durante 2-5 minutos, ou 0,5 m de superfície, imprimindo
leve pressão. As amostras devem ser colocadas em um saco plástico, identificadas
(rótulo) e imediatamente mantidas em congelador até o dia do exame. [se for utilizar o
120

funil de Berlese para a separação dos ácaros ou tentar iniciar cultura, a amostra não
deve ser congelada.]

Método do pincel: em determinados locais coletar os ácaros com auxílio de pincéis,


removendo a poeira para um saco plástico.

Método do calor e fita gomada: em determinados objetos (roupas, carpetes, tapetes,


etc.) pode-se colocar um pedaço de fita adesiva transparente em uma parte do objeto e
do outro lado passar com um ferro aquecido; os ácaros vivos dispersarão e ficarão
aderidos à fita gomada. As preparações poderão ser feitas diretamente colocando-se a
face gomada da fita contra uma lâmina de vidro.

Extração dos ácaros:


Cada amostra de poeira deve ser peneirada (malha de 1,0 a 0,5.mm) para se separar a
poeira grosseira (fibras vegetais) da parte do pó mais fina. Pesar em balança semi-
analítica, podendo-se dividir em alíquotas de 50-100mg.

Funil de Berlese: as amostras devem ser colocadas no funil de Berlese com lâmpada
amarela de 15 a 40 Watts, onde permanecerão por pelo menos quatro dias; o que restar
no funil deve ser colocado em uma placa de Petri e ser examinado em microscópio-
estereoscópico, com aumento mínimo de 20X.

HIRSCHMANN (1986) observou que os ácaros da poeira doméstica eram atraídos por
um pedaço de papel branco (DIN-A4), quando colocado onde se suspeitava de sua
presença; o papel deve ser examinado pela manhã e à tarde, colocando-se o papel contra
uma lâmpada; os ácaros aparecem como uma sombra.

Os ácaros vivos são estimulados a migrarem da poeira por exposição a uma lâmpada
incandescente e podem ser utilizados para se iniciar uma cultura.

Outro método simples para se detectar a presença de ácaros é colocar uma pequena
quantidade de poeira na superfície da água e examinar com aumento de 20X; os ácaros
vivos e mortos flutuarão na superfície da água. Podemos também usar uma emulsão de
água/óleo mineral; após agitação e repouso; os ácaros ficarão aderidos à fração oleosa.
Por filtração eles ficarão retidos no papel de filtro, que será examinado em microscópio-
estereoscópico (20X).

Métodos de suspensão ou flutuação:

Solução saturada de cloreto de sódio: uma certa quantidade de poeira fina (após a
peneiração0 é adicionada a um placa de Petri contendo 5 ml de solução salina saturada.
Depois de 5 minutos, agitar levemente e retirar os ácaros que ficam na superfície, com
auxílio de um estilete , pinça de relojoeiro ou pincel, ao microscópio-estereoscópico
(20X).

Etanol/azul de metileno: colocar parte da amostra em um container com 50 ml de


álcool etílico 50%, deixar descansando 1 minuto e peneirar por peneiras de 1mm e de
0,075mm; repetir 2 vezes; o material retido na peneira de 0,075mm é corado com azul
de metileno e depois de alguns minutos, lavar em água, passando por papel de filtro.
121

Examinar ao microscópio-estereoscópico (20X). Os ácaros são visualizados em sua


coloração natural contrastando com o azul do campo remanescente, quando é coletado.

Ácido lático/corante de lignina: colocar parte da amostra (poeira fina) em ácido lático
por 5 minutos e corar com corante de lignina; examinar ao microscópio-estereoscópico
(20X).
Também podem ser usados os corantes fucsina ácida e verde metila.

Preparação de lâminas:
Os espécimes são colocados entre lâmina e lamínula de vidro, em meio de Hoyer ou
Berlese. Deixar a preparação vários dias, em estufa a 50-60 graus centígrados, para
clarificação; após a secagem fazer a lutagem da lamínula com esmalte de unha incolor
ou verniz cristal para impedir a evaporação, pois os meios de Hoyer e Berlese são
aquosos.
As lâminas devem ser rotuladas para se individualizar a amostra, constando local,
coletor, data, sítio do interior da residência e objeto amostrado.

Pode-se também fazer preparações temporárias utilizando-se o ácido lático entre 50 a 95


% (v/v), dependendo do grau de esclerotização, e mantendo-se as lâminas a 50-60 graus
centígrados. Um dos problemas é que o ácido lático não dissolve muito bem a guanina,
produto de excreção dos ácaros, freqüentemente presente no corpo dos mesmos; sua
aparência é de uma massa branca leitosa, opaca.
Também podemos utilizar o lacto-fenol, obtendo ótimas reparações. Alguns ácaros
mais esclerotizados devem ser clarificados previamente nos líquidos de Vitzthum e de
Viets: colocar os ácaros em lâmina escavada com o líquido de Vitzthum ou Viets,
cobrir com lamínula e deixar a 50-60 graus centígrados, acompanhando a clarificação
até o desejado. Após, transferir os ácaros para os meios de Hoyer ou Berlese.

Preservação de ácaros não montados: guardar alguns ácaros não montados, em álcool
etílico e 70-80 %, em álcool etílico/glicerina (5 a 10% de glicerina adicionada ao álcool
70%) ou no líquido de Oudemans.

Exame do material: as lâminas devem ser examinadas ao microscópio óptico, de


preferência com contraste de fase.

Manejo:
Reduzir a umidade a menos de 70%. Passar aspirador de pó nos colchões, carpetes,
sofás, assoalho, etc.
Indivíduos muito sensíveis devem encapar o colchão e o travesseiro com capas
plásticas.
Trocas as capas e lençóis freqüentemente.
Lavar as roupas de cama em máquina de lavar com água aquecida.
Vários acaricidas e fungicidas podem diminuir a quantidade de ácaros.
Parece haver correlação entre a quantidade de ácaros e os sintomas das alergias.
A imunoterapia, i.é, a injeção de extratos de ácaros em pacientes para aumentar o nível
de anticorpos, tem apresentado resultados variáveis (MUNRO-ASHMAN et al., 1976).
122

Referências e Literatura Recomendada:

AMARAL, V. 1968. Sobre a ocorrência do ácaro Dermatophagoides pteronyssinus


(Trouessart, 1897) no Brasil. (Psoroptidae, Sarcoptiformes). Rev. Med.Vet, São
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124

PRINCIPAIS ESPÉCIES DE ÁCAROS DE IMPORTÂNCIA


AGRÍCOLA E QUARENTENÁRIA

Adalton Raga7
Os estudos com ácaros tiveram acentuado incremento após a 2ª. Guerra Mundial.
A ascensão da Acarologia foi devida à importância dos ácaros no contexto da
agricultura contemporânea, sobretudo derivada dos problemas ocasionados pelo uso
continuado do DDT em culturas de valor econômico ao redor do mundo (BAKER &
WHARTON, 1952; HELLE & SABELIS, 1985). Informações sobre os danos causados por
ácaros e a sua influência sobre a produtividade agrícola são escassas e tornam pouco
conhecida a dimensão do impacto desses organismos na fitossanidade. Normalmente, os
danos causados por ácaros não ocorrem de maneira generalizada em cultivos onde a
produtividade está abaixo do seu potencial, provavelmente devido ao equilíbrio mantido
pela fauna benéfica, pelo balanço adequado de compostos nutricionais ou mesmo pela
tolerância dos vegetais à injuria causada no decorrer do ciclo vegetativo (RABBINGE,
1985). Os danos causados por espécies de ácaros em vegetais podem se traduzir em
perda da produtividade e também do valor econômico da produção por fatores estéticos.
Diversas espécies de ácaros são transmissoras de viroses, o que torna os danos indiretos
mais importantes que possíveis danos diretos.
A dispersão de pragas pode ser auxiliada por fenômenos naturais, mas o próprio
homem é um grande disseminador desses agentes, movimentando vegetais e produtos
alimentícios infestados para novas áreas, com condições ambientais favoráveis. Os
sistemas quarentenários visam proteger seus recursos, através da adoção de medidas
legais baseadas em pesquisas relacionadas com a prevenção, interdição, detecção,
erradicação e manejo das pragas invasoras chaves (RAGA, 2002). Estudos sobre análise
de risco são fundamentais para avaliar os possíveis impactos de organismos exóticos
sobre a produção e a economia regional. O grau de importância das espécies de ácaros é
determinado por fatores como taxa intrínseca de desenvolvimento, fecundidade,
fertilidade, razão sexual, capacidade de desenvolver resistência à agroquímicos,
condições da planta hospedeira e fatores abióticos.
Devido às condições de cultivo intensivo, seja no campo ou em casa de
vegetação, a horticultura é aquela mais afetada pela incidência de ácaros fitófagos.
Tetranychidae, Tenuipalpidae e Tarsonemidae são as famílias de maior importância
para a agricultura, com grande destaque para a primeira. Na Tabela 1 consta a relação
das espécies de ácaros de maior importância em termos mundiais, devido ao potencial
de dano e capacidade de disseminação.
Praga Quarentenária é uma praga de importância econômica potencial para a
área posta em perigo e onde ainda não está presente, ou se está não se encontra
amplamente distribuída e é oficialmente controlada. É classificada em duas categorias:
1. Praga Quarentenária A1 ou Ausente: praga de importância econômica
potencial para uma área em perigo, porém não presente no território
nacional;
2. Praga Quarentenária A2 ou Presente: praga de importância econômica
potencial para uma área em perigo, presente no país, porém não amplamente
distribuída e encontra-se sob controle oficial.

7
Pesquisador Científico, Instituto Biológico. E-mail: mesato@biologico.sp.gov.br
125

A Instrução Normativa n° 52 do Ministério da Agricultura, Pecuária e


Abastecimento, de 20/11/2007, estabelece a lista de Pragas quarentenárias para o Brasil,
na qual constam as seguintes espécies de ácaros pragas ausentes:

Acarus siro
Aceria litchii
Aceria oleae
Aceria tosichella
Aculus schlechtendali
Aleuroglyphus beklemishevi
Amphitetranychus viennensis
Brevipalpus chilensis
Brevipalpus lewisi
Calacarus citrifoli
Cheiracus sulcatus
Eotetranychus carpini
Eutetranychus orientalis
Penthaleus major
Raioella indica
Rhizoglyphus echinopus
Steneotarsonemus panshini
Steneotarsonemus spinki
Tarsonemus cuttacki
Tetranychus mcdanieli
Tetranychus pacificus
Tetranychus truncatus
Tetranychus turkestani

Recentemente, o Instituto Biológico relatou a presença de A. litchi no Estado de


São Paulo. Esse fato implicou que esse eriofídeo passou para a lista de Pragas
Quarentenárias Presentes no Brasil.
126

REFERÊNCIAS

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Macmillan Company, 1952, 465p.
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FITOSSANIDADE DOINSTITUTO BIOLÓGICO, 2002, Indaiatuba. Anais.
Campinas: Instituto Biológico, 2002. p. 24-26.
Tabela 1 – Espécies de ácaros de importância econômica e quarentenária para a agricultura brasileira.
Família Espécie Hospedeiros Distribuição geográfica Status de praga
quarentenária para o
Brasil
Tetranychidae Tetranychus urticae 933 espécies de plantas (hortícolas; Cosmopolita
oleaginosas; graníferas)
Tetranychus cinnabarinus + 100 espécies de plantas (citros, Subtropicais e temperadas
cebola, mandioca, feijão, amendoim,
milho, morango, cucurbitáceas,
solanáceas, algodão)
Tetranychus pacificus Citros, fruteiras, ornamentais, algodão EUA, México, Japão A1
Tetranychus turkestani 187 espécies de plantas (fruteiras Hemisfério Norte A1
diversas, forrageiras, algodão)
Tetranychus mcdanieli Maçã; fruteiras diversas; plantas EUA, Canadá, Europa A1
daninhas
Panonychus ulmi Maçã, pêra, videira, frutas de caroço Europa, América do norte,
América do sul, Nova
Zelândia, Japão
Panonychus citri Rutaceae, Rosaceae Regiões produtoras de citros
Olygonychus yothersi Feijão, café, abacate América do sul, América
Central
Olygonychus perditus Coníferas Ásia
Mononychellus tanajoa Mandioca Américas, Caribe, Àfrica
Eutetranychus orientalis 191 espécies de plantas (citros, papaia, Ásia, Mediterrâneo, África A1
palmeira, berinjela, algodão)
Eotetranychus lewisi Feijão, papaia, cítricos América Central, América do
Norte
Eotetranychus carpini Fruteiras diversas, ornamentais A1
Amphitetranychus Maçã, pêra, ameixa, pêssego, Europa, Àsia
viennensis morango, ornamentais

Eriophyidae Aculus schlechtendali Maçã América Central A1


128
Calacharus citrifolii Citros, papaia, banana, maracujá, África do sul, Ásia A1
pêssego, ornamentais
Phyllocoptruta oleivora cítricos Regiões produtoras de citros

Acaridae Rhizoglypus echinopus Alho, cebola, brássicas, cucurbitáceas, Américas A1


solanáceas, soja feijão
Acarus siro Grãos armazenados Quase cosmopolita A1

Tenuipalpidae Brevipalpus chilensis Frutas de caroço, videira, anonáceas, Chile A1


figueira, citros
Brevipalpus lewisi Polífaga América do Norte, Europa, A1
Ásia, África e Oceania
Brevipalpus phoenicis 486 espécies de plantas (citros, café, Cosmopolita
goiaba, pêra, papaia, palmeira, batata-
doce, banana, macadâmia, rosáceas,
videira, milho, ornamentais, plantas
daninhas)
Brevipalpus californicus 316 espécies de plantas (citros) Cosmopolita
Raoiella indica Palmeiras, feijão Ásia, África, América
Central

Tarsonemidae Steneotarsonemus spinki Arroz Ásia, América Central A1


Polyphagotarsonemus latus 57 famílias botânicas (Feijão, citros, Cosmopolita
algodão, morango, cucurbitáceas,
solanáceas)
Fontes: FLECHTMANN (1979); KING & SAUNDERS (1984); KRANZ et al. (1977); HELLE & SABELIS (1985); NAVIA & MENDONÇA (2005); OCHOA et
al. (1991); OLIVEIRA et al. (2000); CHILDERS et al. (2003)

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