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FICHA TÉCNICA

Título original: Princesa das Águas


Autora: Paula Pimenta
Copyright © Paula Pimenta 2016
Edição original publicada no Brasil por Galera Record
Edição portuguesa publicado por acordo com Patricia Seibel
Versão portuguesa © Editorial Presença, Lisboa, 2017
Adaptação do texto à versão portuguesa: Maria João Carmona
Revisão: Anabela Macedo/Editorial Presença
Imagem da capa: Shutterstock
Capa: Sofia Ramos /Editorial Presença
Composição, impressão e acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda.
Depósito legal n.o 427 444/17
1.a edição, Lisboa, julho, 2017

Reservados todos os direitos


para Portugal à
EDITORIAL PRESENÇA
Estrada das Palmeiras, 59
Queluz de Baixo
2730-132 Barcarena
info@presenca.pt
www.presenca.pt

www.paulapimenta.com
Twitter.com/paulapimenta

Edição para venda apenas em Portugal

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• • • • • • •

Era uma vez uma princesa que vivia num reino onde
tinha tudo o que queria. Quer dizer, o que os outros achavam que
ela queria. Porque na verdade o que essa princesa ambicionava
não estava ali. Ela sonhava com outras paisagens, outras cores,
outros reinos. Queria voar, viajar, apaixonar-se...
Um dia, por fim, ela conheceu um príncipe que era tudo aqui-
lo por que tinha esperado. Por causa dele, a princesa teve contacto
com uma realidade que nem imaginava que existia. Só que, para
fazer parte desse mundo, ela precisava de dar em troca o que mais
amava...
A princesa deu tudo o que tinha. Até o que não lhe convinha
dar. E foi então que descobriu que aquilo que ela mais desejava
sempre lhe pertencera...

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A Princesa das Águas
É já no próximo fim de semana que tem lugar a primeira
prova de seleção de natação para as Olimpíadas. Estima-se
que pelo menos vinte atletas brasileiros venham a conse-
guir classificar-se nas diversas modalidades. Porém, todos os
olhares estão voltados para Ariele Botrel, que, com apenas
16 anos, tem vindo a revelar-se a mais jovem promessa atual
dos 100 metros livres.
Ariele é filha do campeão mundial de natação Teófilo
Botrel — que foi denominado «o rei das águas» na década
de 1980 — e de Serena Shell, a famosa cantora que fale-
ceu em virtude de complicações de saúde precisamente ao
dar à luz Ariele. Teófilo tem, para além de Ariele, cinco
filhas mais velhas, que seguiram os passos da mãe e que
constituem a girl band Mermaid Sisters, cuja música «Na
Onda» ocupa neste momento o primeiro lugar nas tabelas
radiofónicas.
Apenas a irmã mais nova optou por abraçar a carreira de
Teófilo, que, segundo a própria Ariele, é um grande incenti-
vo para ela... Por não querer dececionar o pai, o objetivo da
jovem nadadora é bater recordes a cada nova competição.
O que é muito bom para o Brasil. Afinal, tudo indica
que a princesinha das águas ainda vai conquistar muitas
medalhas para o nosso país!

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• Capítulo 1 •

C ompletamente revoltada, pousei o jornal em cima da mesa.


A imprensa nunca mais ia esquecer que a minha mãe tinha
morrido por minha causa? Já era suficientemente difícil ter de li-
dar com a minha própria culpa — do que menos precisava era que
jornais sensacionalistas mo esfregassem na cara todos os dias! Se
as pessoas queriam realmente que eu ganhasse alguma medalha,
deviam era poupar-me a situações de stresse daquele género...
A recomendação de todos os treinadores antes das competições
era clara: dormir muito, alimentar-se bem e evitar preocupações.
Pois bem, senhores treinadores, só faltou explicarem-me como hei
de dormir com tantos pensamentos na minha cabeça! Ou como
hei de alimentar-me bem e ao mesmo tempo manter o peso, já
que, se engordar um grama que seja, posso prejudicar o meu tem-
po na piscina! Quanto a evitar preocupações, só se nascesse nova-
mente, com outro corpo e noutra família! Como lidar ao mesmo
tempo com o aproximar da maior competição da minha vida, com
os testes do meu último ano na escola e, ainda por cima, com o
facto de a imprensa não me esquecer nem por um segundo?!
As vozes das minhas irmãs a ensaiar varreram os meus pen-
samentos para longe. Levantei-me depressa e fechei a porta com
força. Pois, ainda havia mais isso... Por muito que não quisesse
admitir, eu também gostaria de fazer parte da banda. Ouvi-las na
rádio e vê-las na televisão a cantar, a dançar, a receber aplausos
e a dar autógrafos... Quem é que eu queria enganar? Claro que
também gostaria de ter tudo aquilo!
Quero dizer, eu também tenho fãs... As pessoas no mundo dos
atletas são muito unidas, e aparecem sempre alguns colegas para
me ver nadar. De vez em quando, algumas crianças até se aproxi-
mam timidamente após as minhas competições, geralmente para

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me pedirem uma selfie, já que as minhas mãos estão sempre de-
masiado molhadas para poderem autografar qualquer papel. Mas
aquele brilho nos olhos e o sorriso aberto que os fãs das Mermaid
Sisters têm sempre... Ah, isso eu nunca vi em ninguém.
Contudo, a culpa era minha. Eu poderia muito bem ter segui-
do outro caminho; o meu pai nunca me forçou a nada. Aliás, as
minhas irmãs contam que eu cantei antes de saber falar. E dizem
que até o meu choro era melodioso. Durante muito tempo, per-
guntaram-me o que eu gostaria de ser quando fosse grande, e eu
não tinha a mais pequena dúvida... Respondia logo: «Cantora!»
Porém, um dia, quando eu tinha uns seis anos, pus-me a cantar
sozinha no quintal enquanto brincava. De repente, notei que al-
guém me estava a observar e virei-me depressa, pensando que
fosse alguma das minhas irmãs. Mas era o meu pai. Estava a cho-
rar e, quando perguntei o motivo, limitou-se a abanar a cabeça,
dizendo:
— A tua voz. A tua maneira de cantar. É como voltar a ver
outra vez a tua mãe...
E depois disso nunca mais cantei. Pelo menos não em público.
Não queria ver o meu pai triste, como ficava sempre quando se
lembrava da minha mãe. Não queria que ele se lembrasse, por um
segundo que fosse, que por minha causa ela já não está connosco...
Foi a partir de então que praticamente passei a viver dentro
da piscina. Fazer o meu pai feliz era a minha prioridade, e desde
cedo percebi que nada o alegrava mais do que a natação.
No começo foi fácil. As minhas irmãs também gostavam de na-
dar, e, como a nossa diferença de idades é pequena, era uma festa
ir para o clube com elas! Mas, à medida que elas foram crescendo,
o seu interesse foi diminuindo... Assim, quando a Ágata, a mais
velha, fez quinze anos e foi convidada para participar numa peça
musical na escola, tudo mudou. Ela ensaiava em casa e as minhas
outras irmãs ajudavam-na, lendo a fala das personagens que con-
tracenavam com ela. Por ser muito nova, punham-me na plateia, e
tudo o que eu tinha de fazer era aplaudir. Até que um dia a minha
avó veio visitar-nos e dividiu comigo a função de bater palmas.
Acho que ela pensou em fazer isso apenas para levantar o moral

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das netinhas, mas, quando as minhas irmãs começaram a entoar
juntas as canções da peça, vi os olhos da minha avó encherem-se
subitamente de lágrimas. Perguntei-lhe se estava triste, mas ela
nem me respondeu; continuou a olhar fixamente para a frente
e, assim que a primeira música terminou, levantou-se depressa,
abraçou as minhas irmãs e disse:
— Meninas, vocês têm um dom magnífico e eu não vou dei-
xar que o desperdicem! A partir de hoje serei a vossa empresária.
Quero que cada uma aprenda a tocar um instrumento musical
e também que passem a frequentar aulas de Canto. Em poucos
anos, garanto-vos que serão a maior sensação da música jovem
brasileira!
Claro que ela perguntou se eu também gostava de cantar, mas
mesmo com sete anos eu já sabia que não poderia fazer isso sem
que o meu pai ficasse a saber... E não queria mesmo magoá-lo,
levando-o a lembrar-se da minha mãe. Então limitei-me a abanar
a cabeça e a dizer que preferia nadar. Foi então que o meu destino
ficou selado. Troquei os palcos pelas piscinas, os holofotes pelas
pistas de natação, as melodias pelos treinos e os perfumes pelo
cheiro constante do cloro.
E o mais incrível é que durante bastante tempo até fui feliz
assim...

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Ariele Botrel quase nos
Jogos Olímpicos
No último fim de semana decorreu a primeira seleção
de natação para os Jogos Olímpicos. E a grande revela-
ção da natação brasileira, Ariele Botrel, não dececionou.
Além de atingir a marca para os 100 metros livres, con-
firmou que não tem adversários à sua altura nesta prova a
nível nacional. Portanto, as suas marcas equivalem pratica-
mente a um apuramento.
Na próxima semana, Ariele embarca para a Suíça com
outros quinze atletas brasileiros, para participar no Grand
Prix de Zurique, mais uma prova preparatória para os Jogos
Olímpicos. Segundo o treinador de Ariele, Sebastião Silva,
ela está na sua melhor forma e voltará ainda com mais me-
dalhas na bagagem. Não temos a menor dúvida disso, nem
de que o Brasil já é demasiado pequeno para a nossa prin-
cesa das águas... Se depender do nosso apoio, Ariele Botrel
vai dominar o mundo!

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