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Gramática
DE CAMINHA À PÓVOA
Esta nossa terra portuguesa vai pela costa f ora sempre de braços abertos para o mar, estrei-
tando-o amorosamente contra si. Começa em Caminha até ao f orte de Âncora – de Âncora ao
extremo do monte da Gelf a, e daí ao f arol de Montedor, em três largas reentrâncias, que têm
como pano de f undo a cadeia azulada dos montes, de onde emerge um ou outro cone transpa-
5 rente... Todas as povoações são viradas para o mar. O sol doira uma janela, uma eira, um espi-
gueiro, o campo de milho alimentado a sargaço que tem os pés na água. E o biombo cor de lousa
desenrola-se sempre ao lado do comboio...
12 de agosto
Caminha esta manhã é um sonho doirado que – tenho medo – se vai esvair na atmosf era. O
rio azul, o grande monte f ronteiriço, a água, o céu, não têm existência real. Sobre o esplêndido
10 panorama diáf ano e azul, sobre o cone imenso e compacto de Santa Tecla, sobre a povoação
de Camposancos, sobre os pinheirais verdes e os campos verdes, sobre a água que não bole,
passou agora mesmo um pincel molhado em tinta acabada de f azer. A vila de ruas lajeadas e a
igreja de pedra roída pelo ar salgado, com a Galiza em f rente e o f io branco de espuma lá para
a barra, parece adormecida e encantada. [...]
15 Arranco-me a custo à contemplação e vou à rua dos
Pescadores, que têm quase todos f ugido para Manaus e
para Santos. São casinhas muito limpas com um postigo
aberto na porta. Para a vida do mar largo restam duas lan-
chas, uma delas quase abandonada. A gente que aí f icou
20 emprega-se no trapiche da Galiza ou na pesca de água
doce. [...]
Cuido que esta vila f oi sempre mais importante como
povoação de marinheiros que de pescadores. [...]
Agora Caminha adormecida vai morrer. Não tem movi-
25 mento. Não passa ninguém nas ruas. As casas estão de-
sertas. Só num recanto da praia alguns homens af adigados
constroem a toda a pressa um navio para levar o resto dos
habitantes para o mar. Cheira a breu e a pinheiro novo. Os
carpinteiros de machado descascam o último mastro. Mar-
30 telam-se as cavilhas. É embarcar! embarcar!...
Raul Brandão, Os Pescadores, edição de Vítor Viçoso e Luis Manuel Gaspar, Relógio
D’Água Editores, Lisboa, 2014, pp. 51-52 (texto com supressões)
1. Identif ica o antecedente do pronome “o” presente no segmento “estreitando-o amorosamente contra si”
(linhas 1 e 2).
3. Indica a f ase do português a que corresponde o segmento: “Caminha esta manhã é um sonho doirado
que – tenho medo – se vai esvair na atmosfera.” (linha 8).
4. Adiciona à f orma de base da palavra “encantada” (linha 14) um af ixo com valor de negação.
6.1. No segmento “estreitando-o amorosamente contra si” (linhas 1 e 2) estão presentes três f unções
sintáticas, respetivamente,
(A) sujeito, complemento direto e modif icador.
(B) complemento direto, modif icador e complemento indireto.
(C) complemento direto, complemento indireto e complemento oblíquo.
(D) complemento direto, modif icador e complemento oblíquo.
6.3. O processo f onológico que ocorreu na evolução da palavra RIVU > rio (linha 9) designa-se por
(A) síncope.
(B) apócope.
(C) metátese.
(D) sonorização.
6.4. Quanto à subclasse, o verbo da f rase “[…] parece adormecida e encantada.” (linha 14) é
(A) intransitivo.
(B) transitivo direto.
(C) transitivo indireto.
(D) copulativo.
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Ficha 2
O paço
No verão de 1433, o rei D. João I (1357-1433) sentiu-se doente em Alcochete. Ao ter a pre-
monição da iminência da morte, o monarca não quis permanecer naquela vila ribeirinha do Tejo
e, de acordo com o relato do cronista Rui de Pina, ordenou que o conduzissem a Lisboa, a f im
de acabar os seus dias na “mais principal cidade e na melhor casa de seus reinos”. Satisf izeram -
5 -lhe essa vontade; e, como relata em continuação o mesmo Rui de Pina (1440?-1522), “dentro
do seu castello d’Alcaçova, que então mandava muito emnobrecer”, f aleceu D. João I, aos 14
dias de agosto daquele ref erido ano de 1433.
Esta atitude do rei, a par de múltiplas ref lexões de variada índole que suscita, permite tam-
bém colocar, desde logo, um conjunto de problemas relacionados com as f unções, a importância
10 social e a vivência quotidiana da casa de habitação medieval da nobreza – o paço.
Podemos, assim, avaliar como era importante, para D. João I, exalar o último suspiro em
Lisboa, cidade que consigo heroicamente resistira ao cerco castelhano e que, por essa cir-
cunstância, transmitira um alento precioso aos apoiantes do Mestre de Aviz, partidários da
independência de Portugal. Para além disso, e porque era a “principal cidade” do Reino, Lisboa
15 assumia-se também, pela f orça da imagem que tal ato implicava, como o local mais adequado
para o óbito do monarca, assim dado em espetáculo e exemplo aos seus súbditos. Finalment e,
compreende-se também que o cenário indicado para esse acontecimento -limite teria de ser,
necessariamente, o dos velhos paços d a Alcáçova lisboeta, por essa altura objeto de obras de
ampliação e melhoramento ordenadas pelo rei.
20 Podemos, pois, af irmar que este desejo expresso de D. João I de querer f alecer na sua cidade
de Lisboa, permite, no essencial, uma dupla leitura: por um lado, signif ica o reconhecimento pelo
papel que, em def initivo, Lisboa assumira de cidade primeira e mais representativa do país e de
seu símbolo mais evidente; por outro lado, ganhavam nova expressão a importância e o signif i-
cado social que os paços, como residência de maior prestígio dos reis e da nobreza, começavam
25 a ganhar, def initivamente, no f inal da Idade Média.
José Custódio Vieira da Silva, “O Paço”, in História da Vida Privada em Portugal, A Idade Média,
Círculo de Leitores e Temas e Debates, Porto, 2016, p. 78
1. Indica o período do português a que corresponde o excerto: “‘[…] dentro do seu castello d’Alcaçova, que
então mandava muito emnobrecer’” (linhas 5 e 6).
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2. Identif ica a f unção sintática desempenhada pelo nome próprio “D. João I” em “[…] faleceu D. João I”
(linha 6).
3. A palavra “falecer” (linha 20) constitui um exemplo em que ocorre uma evolução semântica. Indica o seu
signif icado atual e o antigo.
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4.3. No segmento “ordenou que o conduzissem a Lisboa, a fim de acabar os seus dias na ‘mais principal
cidade’” (linhas 3 e 4) estão presentes, respetivamente, orações subordinadas
(A) substantiva completiva e adverbial causal.
(B) adjetiva relativa restritiva e adverbial f inal.
(C) adjetiva relativa explicativa e adverbial consecutiva.
(D) substantiva completiva e adverbial f inal.
4.4. O vocábulo “que” (linha 12) presente em “[…] cidade que consigo heroicamente resistira ao cerco
castelhano […]” introduz uma oração
(A) subordinada substantiva relativa.
(B) subordinada adjetiva relativa explicativa.
(C) subordinada adjetiva relativa restritiva.
(D) coordenada explicativa.
Coluna A Coluna B
Ficha 3
1. Identif ica as af irmações verdadeiras (V) e as af irmações f alsas (F). Justif ica as f alsas.
1.1. A palavra “desconfinamento” (linha 3) corresponde a um neologismo.
1.2. Tendo em conta o princípio de cortesia, predominam no texto as marcas do registo de língua
f ormal.
1.3. No contexto em que ocorre, o verbo “pensa”, em “[…] pensa o crítico da cidade […]” (linha 8),
quanto à subclasse é transitivo direto.
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1.4. No constituinte “no cinema nacional” (linhas 12 e 13), o adjetivo “nacional” desempenha a
f unção sintática de complemento do nome.
1.5. Na evolução da palavra IPSU > “isso” (linha 16), um dos f enómenos f onológicos que ocorre é
a assimilação.
1.6. O segmento “Surdina é um pequeno filme, castiço, embelezado e um tanto rural.” (linha 19)
constitui um ato ilocutório assertivo.
1.7. A oração introduzida por “onde” em “[…] onde cada banda sonora dialoga diretamente com a
próxima […]” (linhas 23 e 24) é uma oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
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Ficha 4
2.1. No segmento “[…] tanto viso tem de ser verdade como de não o ser” (linhas 4 e 5) está presente a
modalidade
(A) epistémica, com valor de obrigação.
(B) epistémica, com valor de probabilidade.
(C) epistémica, com valor de certeza.
(D) apreciativa.
2.2. Na f rase “‘Dentro deste túmulo estão os ossos de Luís de Camões’” (linhas 9 e 10), as aspas são
usadas para
(A) reproduzir o discurso direto.
(B) marcar o discurso indireto.
(C) marcar o discurso indireto livre.
(D) reproduzir uma citação textual.
2.3. Quanto ao processo de f ormação de palavras, o vocábulo “reconstituindo” (linha 7) é f ormado por
(A) composição morf ológica.
(B) composição morf ossintática.
(C) derivação por pref ixação e suf ixação.
(D) derivação por parassíntese.
2.4. O segmento “[…] retratos tão duvidosos como a casa continuaria a ser […]” (linhas 8 e 9) apresenta
(A) duas orações subordinadas adverbiais consecutivas.
(B) duas orações subordinadas adverbiais comparativas.
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(C) uma oração subordinante e uma oração subordinada adverbial comparativa, respetivamente.
(D) uma oração subordinante e uma oração subordinada adverbial consecutiva, respetivamente.
3. Divide e classif ica as orações da seguinte f rase: “O viajante, quando em Abrantes se declarou pouco
sabedor de quartéis-generais, ainda julgava poder esconder que nada entende de artes militares.” (linhas
15 e 16).
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Ficha 5
Camões e o cinema
Dentre as várias obras cinematográf icas portuguesas (curtas e longas metragens) baseadas
na f igura e na obra de Luís Vaz de Camões, uma sobressai, tanto pelo imediato sucesso que
granjeou, quanto pelo valor simbólico que lhe f oi atribuído: trata-se do f ilme a preto e branco, de
115 minutos, intitulado Camões (com o subtítulo Erros meus, má fortuna, amor ardente) reali-
5 zado por Leitão de Barros e estreado no dia 23 de setembro de 1946, no cinema São Luís, em
Lisboa. Com argumento do realizador e de Af onso Lop es Vieira (que morreu nesse mesmo ano
e a cuja memória o f ilme é dedicado), produzido por António Lopes Ribeiro e protagonizado por
António Vilar, o f ilme recebeu, desde a primeira hora, o aplauso da crítica e do público, que
chegaram mesmo a def ini-lo como a melhor obra do nosso cinema até à data. O Governo por-
10 tuguês de então considerou-o de “utilidade pública”, tendo o f ilme ganho o grande prémio do
Secretariado Nacional de Inf ormação nesse mesmo ano, bem como vários prémios para o de-
sempenho dos principais atores: Prémios do SNI para o melhor ator, António Vilar (Luís de Ca-
mões) – aqui num dos melhores desempenhos da sua brilhante carreira –, para a melhor atriz,
Eunice Muñoz (Beatriz da Silva), e menções honrosas para Vasco Santana (o Mal-Cozinhado )
15 e Paiva Raposo (Pero de Andrade Caminha). Carmen Dolores representa dois breves papéis,
nas f iguras de Catarina de Ataíde e Natércia, e Igrejas Caeiro dá corpo a André Falcão de Re-
sende. Camões f oi apresentado of icialmente no Festival de Cannes de 1946 e permanece como
uma obra de ref erência no contexto do cinema português dos anos 40. Trata-se, de f acto, de um
f ilme que logra desenvolver de modo relativamente elaborado e f eliz os códigos da tendência da
20 época, [...] sabendo manter um nível narrativo bem articulado e ef iciente do ponto de vista dra-
matúrgico. Fazendo do jovem Camões um verdadeiro e irreverente Don Juan, em permanente
despique literário e amoroso com Pero de Andrade Caminha (o qual vem a reconhecer a supre-
macia artística do autor de Os Lusíadas), passando pelo retrato dos seus momentos de glória
enquanto poeta maduro e testemunhando o f inal de miséria e abandono da sua vida, o f ilme
25 incide sobretudo na glorif icação patriótica do po vo representado na epopeia de Os Lusíadas e
identif icado com a grandeza do seu autor, dando assim voz à exaltação da História de Portugal.
Maria do Rosário Lupi Belo, in Dicionário de Luís de Camões,
coordenação de Vítor Aguiar e Silva, Lisboa, Editorial Caminho, 2011, pp. 125-126
1.2. Na expressão “[…] a defini-lo […]” (linha 9), a anáf ora ocorre através da retoma do ref erente por um
(A) advérbio.
(B) pronome.
(C) determinante.
(D) verbo.
1.3. A utilização das aspas na expressão “‘utilidade pública’” (linha 10) serve para
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1.4. O verbo “dar” em “[…] dá corpo a André Falcão de Resende” (linhas 16 e 17) é
(A) transitivo-predicativo.
(B) transitivo direto.
(C) transitivo indireto.
(D) transitivo direto e indireto.
1.5. Na f rase “Camões foi apresentado oficialmente no Festival de Cannes de 1946” (linha 17), está
presente a modalidade
(A) apreciativa.
(B) deôntica, com valor de obrigação.
(C) epistémica, com valor de probabilidade.
(D) epistémica, com valor de certeza.
1.6. O segmento “[…] o filme incide sobretudo na glorificação patriótica do povo representado na
epopeia de Os Lusíadas” (linhas 24 e 25) corresponde a um ato ilocutório
(A) assertivo.
(B) expressivo.
(C) compromissivo.
(D) declarativo.
2. Relaciona os constituintes presentes na coluna A com a respetiva f unção sintática presente na coluna B.
Coluna A Coluna B