Revista o Biologo 62
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BN 1982-5897
FREEPIK
TECNOLOGIA
E BIOLOGIA
Como a revolução digital
e o avanço tecnológico nas
últimas décadas impactaram
o trabalho dos Biólogos
www.crbio01.gov.br
SUMÁRIO
O Biólogo
Revista do Conselho Regional de Biologia 4 Editorial
1a Região (SP, MT, MS)
Ano XIII – Nº 61 – Jul/Ago/Set 2022
ISSN: 1982-5897
Conselho Regional de Biologia - 1ª Região
(São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul)
5 Capa
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Conselheiros Suplentes
Ana Eugenia de Carvalho Campos,
Minha foto no CRBio-01
Juliana Moreno Pina, Maria Antonia Carniello,
Marta Condé Lamparelli, Paulo Roberto Urbinatti,
38
Regina Célia Mingroni Netto
TECNOLOGIA E BIOLOGIA
Como a revolução digital e o em meados da década se- Paulo (USP) enumera mar-
avanço tecnológico nas últimas guinte. Daí em diante, as cos das “várias revoluções
mudanças aconteceram em nos últimos anos”.
décadas impactaram o trabalho
ritmo exponencial: telefo- Em 1996, pesquisadores do
dos Biólogos nes celulares, canais de TV Instituto Roslin, na Escócia,
por assinatura, redes sociais, liderados pelos Biólogos Ian
BIÓLOGOS com mais de 55 aplicativos de toda a sorte, Wilmut e Keith Campbell,
anos vivenciaram já no merca- streaming, a lista é longa. clonaram a ovelha Dolly. Em
do de trabalho as transforma- Os extraordinários avanços 2003, o Projeto Genoma Hu-
ções impostas pela mudança tecnológicos nas últimas dé- mano foi declarado essen-
do analógico para o digital. Ali- cadas redefiniram o trabalho cialmente completo (falta-
ás, não só Biólogos, mas pro- dos Biólogos em todas as ram alguns trechos), após 13
fissionais de praticamente to- áreas de atuação, tanto em anos de trabalho envolven-
das as áreas, ou melhor, toda Biotecnologia e Produção do mais de 2.800 pesquisa-
a humanidade foi impactada como na Saúde e em Meio dores de 18 países e um cus-
pela revolução digital. Ambiente e Biodiversidade. to de US$ 3 bilhões.
A tecnologia digital data de Em Biotecnologia, a Profa. Outro marco tecnológico,
meados do século 20. Aqui Dra. Mayana Zatz, Bióloga destaca Mayana Zatz, foi a
no Brasil, os computadores diretora do Centro de Estu- pesquisa com células-tron-
pessoais começaram a se dos do Genoma Humano e co pluripotentes induzidas
popularizar no fim da dé- Células-Tronco (CEGH-CEL) (do inglês, induced pluri-
cada de 1980 e a internet da Universidade de São potent stem cells, IPS), que
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melhora clínica dos cães, sores, os cientistas envolvi- cortaram a sequência por
que voltaram a fazer ati- dos na pesquisa decidiram engenharia genética, modi-
vidades rotineiras, como abrir uma empresa (uma ficando o genoma do vírus.
comer sozinho, levantar a startup) para o desenvolvi- O zika é um vírus de RNA,
cabeça e responder aos tu- mento de um produto (uma que, como se sabe, é pro-
tores. (Ouça o podcast com droga) para tratamento de duzido a partir de um DNA.
Carolini Kaid). tumores do sistema nervo- Com o DNA geneticamente
so central em pessoas, par- modificado no plasmídeo, a
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sionais com formação em Bio (“Oi Brazil” ao contrá-
TI, como engenheiros de rio). A startup, que obteve
computação, biotecnologis- um primeiro financiamen-
tas e programadores. Biólo- to de US$1,1 milhão de uma
gos estão habilitados a atu- farmacêutica brasileira, fi-
ar nessa área, mas em geral cou inicialmente incubada
necessitam buscar forma- numa empresa em Campi-
ção em programação, des- nas (SP) e depois se instalou
taca Euclides Matheucci. no Cietec da USP/Ipen.
A equipe de sua empresa “Nós conseguimos produzir
tem um total de 27 profis- células cardíacas de ótima
Diogo Biagi
sionais de nível superior e qualidade a partir de célu-
técnico, incluindo quatro Bi- O êxito da pesquisa motivou las IPS e vendê-las para a
ólogos e três bioinformatas. Diogo Biagi a fundar uma comunidade científica no
“A Biologia Molecular e a Ge- startup voltada para a pro- Brasil e exterior. Mas nosso
nômica, analisadas através dução de células cardíacas produto era muito caro. As
da Bioinformática, vão per- humanas a partir de células células necessárias para um
mitir que a gente viva mais IPS. Os potenciais clientes experimento pequeno cus-
e melhor. Vamos ter longevi- são empresas da indústria tavam em torno de 2 mil re-
dade com boa qualidade de farmacêutica que desenvol- ais”, relata Diogo Biagi.
vida. Essa tecnologia vai aju- vem drogas para tratamen- Em 2018, os sócios então
dar na prevenção, diagnósti- to de doenças cardíacas. decidiram mudar o foco da
co, prognóstico e prescrição Os testes iniciais de desen- startup para o desenvolvi-
médica”, avalia o Biólogo. volvimento dessas drogas mento de uma terapia ce-
não podem ser realizados lular para tratamento de
Células IPS em humanos. As empresas insuficiência cardíaca com
O Dr. Diogo Biagi, gradua- precisam de células cardía- cardiomiócitos (célula mus-
do em Ciências Biológicas cas para manipular em la- cular cardíaca) produzidos a
na USP, fez seu doutorado boratório, mas não podem partir de células IPS. A insu-
na Faculdade de Medicina retirá-las de uma pessoa ficiência cardíaca acontece
da USP com células IPS. Em viva e o uso de células do porque o coração perde for-
sua pesquisa de doutorado, coração de cadáveres se ça de contração e há a pre-
retirou células da pele de pa- mostrou pouco satisfatório. missa de que a doença pode
cientes com cardiomiopatia Assim, a opção mais viável ser tratada injetando cardio-
hipertrófica e as transfor- e já colocada em prática em miócitos funcionais no co-
mou em células IPS. Em se- outros países é fazer os es- ração do paciente. Estudos
guida, transformou as célu- tudos com células cardíacas nessa linha acontecem em
las IPS em células cardíacas criadas a partir de células outros países, mas até hoje
e, por fim, comparou as cé- IPS, afirma o pesquisador. não se conseguiu desenvol-
lulas de indivíduos portado- Em 2014, Diogo Biagi e ou- ver uma terapia efetiva.
res de mutações associadas tros dois pesquisadores, A startup conseguiu inicial-
à cardiomiopatia hipertrófi- com recursos de um projeto mente avançar no desenvol-
ca com células cardíacas de Pipe/Fapesp, deram início vimento da terapia com tes-
indivíduos saudáveis. à startup Pluricell Biotech, tes pré-clínicos em ratos na
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neficiar tantas pessoas. capacidade de “aprendiza-
Mas por que isso não foi do inato”, como o cérebro
possível no Brasil? humano.
“As condições no nosso Um carro que dirige sozi-
país são desfavoráveis para nho precisa ser treinado a
uma startup de Biotecnolo- identificar todas as varia-
gia. Faltam reagentes, que ções possíveis de outros car-
demoram a chegar. Uma ros, pessoas, cachorros etc.
empresa de pesquisa e de- Esse processo requer muita
senvolvimento precisa de in- energia e tempo e, mesmo
vestimentos e os investido- Alysson Muotri
com um treinamento deta-
res no Brasil ainda não estão lhado, a inteligência artifi-
acostumados com esse tipo Criado em 2008, o Muotri cial tem dificuldade de fa-
de negócio, que demora a Lab é um dos centros de re- zer a distinção, por exemplo,
dar retorno. Nos EUA, existe ferência mundial em estu- entre algo concreto e sua
todo um mercado desde a dos com o cérebro humano. foto. Já uma criança, após
década de 70. Os investido- O laboratório recebe recur- ser apresentada a dois ou
res sabem que vale a pena sos do Estado da Califórnia três cachorros, daí em dian-
e investem em várias em- e do National Institutes of te conseguirá identificar
presas de Biotecnologia. A Health (NIH) – equivalente outros cães intuitivamente.
maioria falha, mas uma dá ao CNPq no Brasil –, além Da mesma forma, um bebê
certo e gera muito dinheiro”, de financiamento de em- aprende uma língua sem ser
pondera Diogo Biagi. presas privadas e dinheiro formalmente ensinado. Mais
de filantropia de fundações do que isso: entende os nu-
Inteligência orgânica na área médica. ances do discurso, mensa-
O Muotri Lab, que é ligado Uma das linhas de pesquisa gens subliminares passadas
à UCSD, ocupa um prédio do Muotri Lab, iniciada em pelo tom de voz, expressão
próximo ao campus e conta 2017, busca desenvolver apli- corporal e outras sutilezas
com equipe de 35 profissio- cações em inteligência arti- que hoje escapam aos siste-
nais, incluindo professores, ficial com base na chamada mas de inteligência artificial.
pós-graduandos, graduan- inteligência orgânica. A Mi- A pesquisa com inteligência
dos e técnicos. crosoft, interessada em ex- orgânica no laboratório visa
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participou do desenvolvi- que conferiram outras cores homogêneas podem ser de-
mento de nanopigmentos às nanopartículas magnéti- positadas mais facilmente”,
magnéticos, num projeto cas”, ressalta Cínthia Bonatto. aponta Cínthia Bonatto. “Já
realizado em parceria entre Uma das potenciais apli- o atributo de cor é importan-
a Embrapa e a TecSinapse, cações da nova tecnologia te. Ele indica que a semente
uma empresa de tecnolo- está no desenvolvimento de foi tratada. E pode ser uma
gia de São Paulo. A pesqui- sensores. Os pigmentos na- assinatura que permita au-
sa já foi concluída com êxito noestruturados criados na mentar a rastreabilidade das
e está em processo de vali- pesquisa podem ser a base sementes e assim diminuir a
dação pela Embrapa e de para sensores de detecção, falsificação. Há um mercado
realização de testes que de- por exemplo, de variações de falsificação de sementes”.
terminarão possíveis aplica- na temperatura ou pH, ex-
ções da tecnologia. plica a Bióloga. Drones
A equipe do projeto contou Um sensor de temperatura Além da pesquisa, a revolu-
com Cínthia Bonatto, que com essa tecnologia poderia ção digital e o rápido avanço
tem mestrado e doutorado ser acoplado, por exemplo, tecnológico impactaram o
pela UnB em Biologia Ani- a embalagens de produtos trabalho dos Biólogos em di-
mal na subárea de Nano- que precisam ser armazena- versas outras áreas. Geopro-
tecnologia, e outros quatro dos a baixas temperaturas cessamento, monitoramento
pesquisadores da Embrapa ou que não podem aquecer de espécies, reflorestamento,
e empresa. A Bióloga relata demais. O sensor na emba- estudos de impacto ambien-
que trabalhou em todas as lagem mudaria de cor para tal – são muitas as aplicações
etapas de desenvolvimen- alertar sobre a elevação da do uso de drones na Biologia,
tos da tecnologia, principal- temperatura. e mais ainda fora dela. O Prof.
mente “na bancada”. Outra aplicação prática dos Dr. Normandes Matos da Sil-
pigmentos nanoestrutura- va, Secretário de Inovação e
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tas e gestores incrementem gravar 1 minuto a cada 5 mi-
o monitoramento de cetáce- nutos, de maneira a aumen-
os (baleias e golfinhos) e do tar a duração da bateria para
ambiente marinho costeiro três meses. Ao fim desse pe-
como um todo. ríodo, eles recolhiam os equi-
O Prof. Dr. Marcos César de pamentos, retiravam o cartão
Oliveira Santos, Biólogo do de memória, trocavam as 16
Instituto Oceanográfico (IO) pilhas e recolocavam os ci-
da USP, conta que diversos lindros novamente nos mes-
animais marinhos emitem mos dois locais. As gravações
sons, inclusive uma parte Marcos César Santos
foram feitas durante 24 me-
considerável das espécies ses, de 2015 a 2017.
de peixes, que produzem o Marcos César Santos res- O trabalho de doutorado de
chamado “coro de peixes”. salta que os hidrofones são Diogo Destros Barcellos ti-
Mas os cetáceos têm apa- adequados para o moni- nha como objetivo compa-
relho vocal com capacida- toramento da fauna e am- rar a ocorrência de baleias e
de de transmitir sons em biente marinhos, porque o golfinhos numa área impac-
diversas frequências e se som se propaga muito bem tada pela ação humana com
valem das vocalizações para por meio da água – a velo- a incidência desses animais
a ecolocalização – as ondas cidade e distâncias superio- numa área protegida.
sonoras funcionam como res às da propagação pelo Ele passou cerca de dois anos
um sonar biológico – e co- ar. O monitoramento por extraindo as informações das
municação com outros indi- câmeras em geral não apre- gravações nos dois locais.
víduos de sua espécie para senta bons resultados, uma Não bastava ouvir, porque
finalidades de alimentação, vez que as águas do mar es- algumas espécies de cetáce-
procriação, coordenação de tão frequentemente turvas. os, como os misticetos (ba-
ações em grupo etc. O Biólogo orientou duas im- leias grandes), emitem sons
O equipamento elétrico cha- portantes pesquisas do IO/ de frequência baixa, que são
mado hidrofone, que capta USP com acústica marinha ininteligíveis ao ouvido hu-
vibrações sonoras transmi- no litoral norte do estado de mano. O pesquisador preci-
tidas na água, é o mais uti- São Paulo. Os projetos, um de sou acompanhar visualmen-
lizado para o monitoramen- doutorado e outro de mes- te na tela do computador o
to de cetáceos. O hidrofone trado, utilizaram estruturas sonograma, gráfico com re-
é um microfone adaptado no mar montadas no Canal presentação da frequência,
para a água e conectado a de São Sebastião (uma área duração e intensidade das
um computador com car- impactada pela ação huma- amostras de som.
tão de memória. O conjunto na) e no Parque Estadual da Diogo Barcellos detectou na
é geralmente encapsulado Ilha Anchieta (área protegi- pesquisa uma disparidade
em algum tipo de material da, com pouco impacto). muito grande na ocorrência
que proveja proteção ao Os cilindros com os hidrofo- de cetáceos nas duas áreas
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bém por meio de óculos de de espécies similares. É pos-
realidade aumentada, que sível até mesmo dispensar o
fazem parecer que o ele- marcador e utilizar o próprio
mento virtual realmente espécime – o usuário apon-
está à nossa frente. É uma ta para o animal e o progra-
tecnologia que antes en- ma reconhece a espécie e
contrava barreiras na pou- apresenta as informações.
ca capacidade de proces- Nesse caso, a identificação
samento dos celulares, que do animal é feita por inteli-
não permitiam essa visua- gência artificial.
lização com boa qualidade. Esse mesmo princípio pode
Frederico Krause
Hoje em dia, no entanto, a ser aplicado a visitações a
qualidade de processamen- museus. É possível até mes- Além dos projetos de reali-
to desses aparelhos melho- mo fazer museus inteira- dade aumentada, o Biólogo
rou muito, permitindo a po- mente virtuais em ambien- também está focado no uso
pularização da ferramenta. tes em que você não tem educacional dos vídeos: ele
Segundo Frederico Krause, condições de ter as espécies participa de um projeto de
os modelos tridimensio- de maneira física, conta Fre- divulgação científica com
nais utilizados na realidade derico Krause. A própria UnB estudantes do Ensino Médio
aumentada são de grande está trabalhando em um de escolas públicas do Distri-
ajuda para representar tan- museu de Biologia virtual, to Federal, em que os alunos
criam vídeos sobre ciência e de abelhas sem ferrão, como ção pública na geração de
tecnologia e postam no You- parte de seu pós-doutora- conhecimentos científicos.
Tube. Trata-se do 1º Vídeo Ci- do no Instituto de Estudos A equipe multidisciplinar
ência, uma mostra virtual de Avançados (IEA) da USP. de sete pesquisadores do
ciência e tecnologia. O projeto BeeKeep criou um protocolo
é vinculado ao Museu Virtu- de pesquisa e desenvolveu
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al de Ciência e Tecnologia da uma plataforma online que
UnB: os alunos buscam temas permitem que criadores –
do museu e criam os vídeos, denominados “cientistas ci-
realizando eles mesmos a edi- dadãos” – realizem o monito-
ção de imagens e narração. ramento de atividade de voo
Frederico Krause acredita de abelhas jataí (Tetragonis-
que ainda há muito espaço ca angustula). Essa ação de
de crescimento para o uso de monitoramento ganhou o
tecnologias como a realidade nome de #cidadãoasf.
aumentada na Biologia, seja O criador grava com o seu
com usos educativos ou ou- celular vídeos de 30 segun-
Sheina Koffler
tras aplicações. E para os que dos da entrada das col-
desejam se aprofundar nes- O Projeto BeeKeep está inse- meias, de acordo com as
sa área, é importante ir além rido no estudo internacional especificações do protocolo,
da universidade e buscar co- Surpass2 (Salvaguardando que estipula a sistemática
nhecimentos em softwares o serviço de polinização em das filmagens, como enqua-
de programação, inteligência um mundo em mudança: dramento, iluminação e dias
artificial, edição de imagens, teoria na prática), cujo braço e horários das captações.
modelagem 3D e animação, brasileiro é financiado pela Em seguida, o cientista ci-
dependendo da área de foco. Fapesp. Além do Brasil, o dadão insere o arquivo do
“Como é uma área em de- Surpass2 engloba pesquisas vídeo na plataforma online
senvolvimento, os currículos sobre polinização no Reino beekeep.pcs.usp.br, uma pá-
ainda não acompanharam a Unido, Chile e Argentina. gina de internet que funcio-
formação desse profissional. O BeeKeep surgiu a partir do na no celular e computador,
Algumas universidades têm Curso de Extensão em Meli- desenvolvida pelo Prof. Dr.
disciplinas que tangenciam ponicultura e Ciência Cidadã, Bruno Albertini, da Poli USP.
o assunto, mas os currícu- uma das iniciativas do Sur- No passo seguinte, o próprio
los têm que se adaptar. Tem pass2, cujas quatro edições produtor do vídeo faz a con-
uma nova geração de profis- online contaram com a par- tagem das jataís que: saíram
sionais atuando nas universi- ticipação de mais de 2.400 da colmeia; entraram na col-
dades, então acho que esses criadores de abelhas de di- meia; e entraram carregan-
cursos vão surgir gradativa- versos estados brasileiros. do pólen. O cientista cidadão
mente”, acredita o Biólogo. Como forma de engajar insere as informações das
os criadores participantes contagens no sistema.
Monitoramento do curso, os pesquisado- A plataforma entrou em ope-
de abelhas res do Surpass2 formata- ração no início de 2021 e já con-
A Dra. Sheina Koffler traba- ram o BeeKeep dentro do ta com mais de 3.800 vídeos e
lha num projeto de ciência conceito de ciência cidadã, uma base de dados robusta.
cidadã de monitoramento que consiste na participa- “Sem essa tecnologia, seria
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ENTOMOLOGIA FORENSE
AJUDA NA INVESTIGAÇÃO
DE CRIMES
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rou. Hoje Patrícia Thyssen é plo, há quanto tempo uma lho de peritos de todo o país,
docente na própria Unicamp pessoa morreu. Além disso, fornecendo ferramentas para
e presta auxílio à polícia técni- a partir da análise de ves- que possam identificar cor-
co-científica de São Paulo. Ela tígios de drogas presentes retamente os insetos encon-
identifica e calcula a idade de nessas larvas, é plausível trados em cenas de crimes e
espécies de insetos coletados fornecer pistas sobre a cau- extrair deles informações que
em corpos, o que contribui sa da morte de alguém. ajudem a responder pergun-
para o avanço do conheci- Ao longo dos anos, os estu- tas que surgem durante as
mento na área de entomolo- dos e análises da Bióloga e investigações.
gia forense, divulga esse cam- de seus alunos ajudaram a São estudos, simulações e
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envolvam insetos e algum
aspecto jurídico.”
Na entomologia forense, a
taxonomia tem grande im-
portância, mas o uso das cha-
ves dicotômicas tradicionais
pode tomar muito tempo e
exigir um nível de conheci-
mento muito mais aprofun-
dado dos peritos. Para tentar
sanar problemas com o diag-
nóstico das espécies, Patrícia
Thyssen tem trabalhado com
a e-taxonomia, por exem-
plo com chaves de múltiplo
acesso no computador. Nes-
sas chaves não há um único
experiências que descre- consultoria, emitindo laudos ponto de início no processo
vem como os insetos coloni- e relatórios técnicos que po- de identificação e o usuário
zam corpos em decomposi- dem ser anexados aos pro- pode começar a análise por
ção, com que velocidade as cessos judiciais. qualquer característica mor-
larvas crescem, como varia “O meu objetivo principal fológica que lhe parecer mais
sua aparência ao longo de na universidade é estudar a fácil ou for mais acessível. As
seu crescimento e como Biologia, saber quais espé- chaves são interativas, suge-
outros fatores podem afe- cies colonizam corpos em rindo novas características
tar o seu desenvolvimento, decomposição, porque exis- a serem comparadas com
entre os quais estão as dro- tem muitas delas: aqui no imagens 3D para referência.
gas. Experimentos de labo- Brasil temos mais de vinte A ferramenta, disponível pela
ratório, por exemplo, mos- espécies diferentes de mos- internet e de acesso gratui-
traram que escopolamina e ca varejeira. Se eu não sou- to a partir de qualquer dis-
Diazepam podem, respec- ber a Biologia da espécie, positivo eletrônico, permite
tivamente, atrasar e acele- qual é a espécie e o que ela aos peritos mais autonomia
rar o desenvolvimento das está fazendo, vou obter um de trabalho e agilidade para
larvas que se alimentam de cálculo de tempo de morte identificar as espécies.
corpos – aspectos que, se equivocado. Então eu estu- Outra tecnologia muito pre-
não forem levados em con- do as espécies que vão nos sente é o DNA, utilizado quan-
sideração, poderiam levar a corpos em decomposição e do o exame morfológico não
conclusões equivocadas so- que tipo de resposta podem é suficiente para a identifica-
bre o tempo de morte. dar para o perito criminal”, ção do inseto – caso de mui-
Patrícia Thyssen também conta ela. “Nós construímos tas larvas, que apresentam
analisa amostras enviadas bancos de dados que os pe- número restrito de caracterís-
por peritos para testes mais ritos podem utilizar no dia a ticas que poderiam ajudar a
avançados no campo da dia, para tentar achar as res- defini-las, especialmente no
morfologia, química ou mo- postas para as questões que primeiro estágio de desenvol-
lecular, além de fornecer eles levantam em casos que vimento. A tecnologia tam-
bém pode ser usada na in- vive e com a sua dieta. Ao com a graduação, sendo
vestigação de crimes sexuais comparar o perfil de hidro- possível ir se especializando
– para comparação do DNA carbonetos de insetos de depois”, conta ela.
encontrado na larva com o de um local onde o corpo foi Mas ainda há espaço para
algum suspeito – e em crime encontrado, é possível sa- crescimento, tanto para
ambientais: como os insetos ber se esses insetos habita- os Biólogos nessa carreira
respondem rápido ao impac- vam aquele ambiente ou se quanto para as técnicas usa-
to ambiental, a ausência de vieram de um lugar diferen- das. De acordo com Patrícia
determinados grupos de in- te, fornecendo assim mais Thyssen, daqui a alguns anos
setos que deveriam estar pre- indícios para a investigação. o uso de inteligência artificial
sentes no bioma pode indicar Quando Patrícia Thyssen na identificação dos insetos
degradação, e para fazer essa começou a trilhar o campo e larvas na área forense deve
identificação da composição da entomologia forense, a ter avançado mais, ajudando
faunística o DNA tem sido área ainda era desconhe- a diminuir a subjetividade da
muito utilizado. cida de muitos, e a partici- interpretação das imagens e
Uma terceira tecnologia uti- pação de Biólogos na área melhorando a precisão dos
lizada é a cromatografia. Pa- forense era vista com estra- diagnósticos.
trícia Thyssen relembra um nheza. Hoje tanto o campo Os bancos de dados de Patrí-
caso em que essa investiga- quanto a presença dos Bió- cia continuarão a se expan-
ção química mostrou traços logos atuando nele já estão dir. No momento, ela está
de cocaína nas larvas que mais consolidados. A ento- envolvida em um projeto fi-
consumiam um cadáver, in- mologia forense é conhe- nanciado pela Fapesp para
dicando que o consumo da cida do público em geral investigar as moscas varejei-
droga tinha relação com a principalmente por seria- ras da região neotropical, co-
morte daquela pessoa – uma dos como CSI, que mostra letando espécimes em toda
relação difícil de determinar o trabalho de peritos em a América do Sul e parte da
em um corpo em avançado diversas áreas. Entre os Bi- América Central para montar
estado de putrefação, em ólogos, o campo também um banco de dados comple-
que análises de sangue e uri- é mais conhecido, graças a to, morfológico, biológico e
na ficam prejudicadas. um trabalho constante de molecular, sobre todas as es-
Da mesma maneira, as téc- divulgação. Na Unicamp, a pécies de larvas que se criam
nicas de cromatografia com Bióloga ministra uma dis- em corpos em decomposi-
análise dos hidrocarbonetos ciplina sobre o assunto na ção nessas localidades.
da cutícula do tegumento graduação, para que os fu-
dos insetos (que os recobre turos profissionais fiquem
externamente) podem aju- cientes de mais essa área Vídeo com entrevista
dar até mesmo a descobrir de atuação e das possibili- da Profa. Dra. Patrícia
se um corpo foi movido de dades de carreira. Jacqueline Thyssen
algum outro lugar para o lo- “Se o Biólogo se interes-
cal onde foi encontrado: es- sar por trabalhar na polícia
ses hidrocarbonetos, conta científica, ele pode ingres-
Patrícia Thyssen, dentro da sar através de concurso. É CLIQUE
mesma espécie variam de uma carreira importante E ASSISTA
BIÓLOGO DESENVOLVE
TECNOLOGIA PARA PREVER
BALNEABILIDADE DE PRAIAS
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globalmente a presença e testar um sistema de pre-
concentração de bactérias visão feito por modelagem
indicadoras de contamina- numérica, que levasse em
ção fecal, como o enteroco- consideração os variados
cos, utilizado no estudo. De aspectos meteorológicos,
acordo com Renan Ribeiro, geográficos, ecológicos e
os atuais sistemas de infor- sociais que afetam as Baí-
mações sobre a balneabili- as de Santos e São Vicente.
dade das praias se baseiam Entre esses aspectos, es-
em métodos microbiológi- tão, por exemplo, o regime
cos, que envolvem coleta pluviométrico da região,
de água nesses locais, cul- afetado por fatores como a
tura das bactérias e poste- presença da Serra do Mar
rior contagem de colônias e o sistema meteorológico
formadas. No entanto, ar- da Zona de Convergência
gumenta o autor, essas cul- do Atlântico Sul; a maré do
turas requerem um tempo sistema estuarino de São
mínimo de 24 horas para Vicente e Santos; as di-
fornecer os resultados, o versas fontes de poluição
que torna impossível para que afetam os canais que
os gestores fornecer avalia- desaguam nas duas baías,
ções da qualidade da água considerando o nível de
para o mesmo dia em que a atendimento do esgota-
amostragem é feita. mento sanitário; a vazão
Como resultado, a indica- desses cursos d’água e os
ção de balneabilidade das eventos de abertura de
praias não está baseada suas comportas. cesso, acurácia satisfatória Renan Braga
Ribeiro
nas condições atuais das O desempenho de previsão e adequada disseminação
águas, e sim em condições do modelo foi avaliado du- da informação com previ-
passadas. A proposta da rante dois anos de monito- são de até três dias, mesmo
tese é que a utilização de ramento da balneabilidade, considerando as simplifica-
modelos de previsão po- testando a precisão das pre- ções e incertezas”.
deria fornecer resultados visões comparadas à reali- O sistema desenvolvido
ágeis e confiáveis, que re- dade. Ao fim do período, o por Renan Ribeiro está em
fletissem de maneira mais autor concluiu que o siste- funcionamento e os dados
precisa as condições re- ma de previsão implantado produzidos pelo modelo
ais de balneabilidade das foi capaz de fornecer uma são repassados às autori-
praias, contribuindo para representação satisfatória dades sanitárias locais. Os
o fornecimento amplo de dos processos que resultam resultados desse sistema
informações que possam em má qualidade da água estão disponíveis no site do
nortear as tomadas de de- nas praias das Baías de San- Núcleo de Pesquisas Hidro-
cisão de agentes públicos tos e de São Vicente, em dinâmicas da Universidade
ou do cidadão comum. especial naquelas localiza- Santa Cecília, laboratório ao
Dessa forma, o objetivo das no município de Santos, qual o Biólogo está vincula-
do trabalho foi construir e “com elevado nível de su- do: (Clique aqui).
UM DIA DE TRABALHO
COM ROV SUBAQUÁTICO
NO LITORAL DE UBATUBA
ACERVO PESSOAL
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Cada
filmagem colegas (André Escudeiro, controle, que é muito pareci- de como serão as atividades
dura 15
minutos Giovana Ciongoli ou Paula do com um joystick de dro- em campo está diretamen-
Escudeiro), que me ajudam ne aéreo. Esse se conecta via te relacionado com as aná-
nos aspectos práticos, pi- wi-fi com o celular, que se lises estatísticas. Então tudo
lotando ou gerenciando o torna a tela do joystick. o que faço numa saída, repi-
cabo que liga o ROV ao con- Embora o ROV já tenha sua to nas próximas.
trole, para que, por exem- própria câmera com infor- Passados os 15 minutos, re-
plo, ele não atinja o hélice mações como data, hora, colhemos o ROV e passamos
do barco acidentalmente, profundidade e direção da ao segundo ponto de coleta.
rompendo a conexão, o que bússola, acoplo uma GoPro São quatro pontos pré-esta-
seria um desastre! (câmera subaquática), que belecidos para filmagens na
Saímos do píer por volta das possibilita uma imagem de Ilha Anchieta. Em seguida,
11h da manhã em direção à alta definição e permite a nos direcionamos à Ilha do
Ilha Anchieta, meu primei- identificação das espécies. Mar Virado, que tem esse
ro local de coleta. A ilha faz Em cada ponto amostral nome por conta do mar agi-
parte de uma Unidade de percorremos uma distância tado. Nessa ilha não há praia,
Conservação, portanto não é de 100 metros com o ROV, mas a pesca é permitida. Da
permitida a pesca, mas exis- perfazendo ziguezagues ao mesma maneira, ficamos
te atividade turística. Lanço longo da coluna d’água por 15 minutos em cada ponto.
o equipamento na água e 15 minutos. Dessa forma, Quando finalizamos o úl-
ele circula e faz filmagens fazemos uma amostragem timo ponto do Mar Virado,
por 15 minutos. Como men- representativa e padroni- aguardamos cerca de uma
cionei, o ROV tem um cabo, zada em todos os pontos. hora até o anoitecer e reco-
o umbilical, que conecta o Ao preparar um projeto de meçamos as filmagens.
equipamento ao módulo de pesquisa, o planejamento Com o tempo gasto em cada
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que abrigam trabalhos de são de questões relativas sas de médio e grande por-
mais de 150 técnicos, mui- ao trabalho dos Biólogos, te com atuação em diversas
tos deles Biólogos. como licenciamento am- áreas, como consultoria am-
Em Cuiabá, a delegação vi- biental”, relata Edison Kubo. biental, análises clínicas e
sitou a Secretaria Municipal As reuniões com as empre- físico-clínicas de água, con-
do Meio Ambiente e Desen- sas também foram muito trole de pragas e produção
volvimento Urbano Susten- proveitosas. Lia Matelli des- de cerveja.
tável, onde foi recebida pe- taca que a delegação visi- “O Conselho foi bem rece-
los Biólogos Tony Schurig tou tanto empresas com bido, e empresas e Biólogos
Siqueira (CRBio 051134/01- registro ativo no CRBio-01 sentiram, de certa forma, um
D), Gelsa Meiri dos Santos como aquelas que cance- apoio do Conselho. Informa-
Lima (CRBio 033495/01-D) laram o registro. Nesse se- mos os serviços prestados
e Marta Cristina Costa Silva gundo caso, em geral, são pelas delegacias e entrega-
(CRBio 100817/01-D). empresas que agora estão mos materiais de instrução
“As visitas foram extrema- inscritas em outros conse- para as empresas e Biólogos,
mente produtivas. Nos en- lhos, como o de Química, como o Manual de Respon-
contros no Imasul, Semadur Biomedicina e Engenha- sabilidade Técnica, elaborado
e Secretaria Municipal de ria, mas que podem contar pelo CRBio-01 para orienta-
Cuiabá, discutimos a pos- com Biólogos em seus qua- ção e atuação cada vez mais
sibilidade de organizarmos dros de funcionários. eficiente e segura dos profis-
eventos locais para a discus- A delegação visitou empre- sionais”, conta Lia Matelli.
LGPD
LEI GERAL DE
PROTEÇÃO DE DADOS
www.crbio01.gov.br
#MINHAFOTONOCRBIO01
FOTO: ACERVO PESSOAL DE MICHEL DE AGUIAR PASSOS
O Biólogo Michel de Aguiar Passos (@aguiarmichel) conseguiu registrar o momento em que um gavião-
-carijó (Rupornis magnirostris) descansava após capturar uma cobra.
“Dentre os maiores predadores de serpentes, estão as aves, sobretudo os rapinantes. Hoje tive o privilégio
de presenciar uma interação dessas. Na foto, um gavião-carijó predando uma serpente da espécie Apos-
tolepis assimilis. Azar da cobra e sorte do gavião”, comentou o Biólogo.
Michel de Aguiar Passos é sócio de uma empresa de consultoria ambiental sediada em Campinas (SP).
Ele fez essa foto com uma câmera Canon SX 50, na região do município de Macedônia (SP).
Para divulgar suas fotografias com o #CRBio01, compartilhe seu trabalho e use a hashtag
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