4 - 3940maria de Fatima Da Silva Melo
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4 - 3940maria de Fatima Da Silva Melo
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MOSSORÓ-RN
2016
MARIA DE FÁTIMA DA SILVA MELO
MOSSORÓ-RN
2016
Catalogação da Publicação na Fonte.
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
131 p.
Orientadora: Profa. Dra. Francisca de Fátima Araújo Oliveira.
A presente pesquisa proporciona uma discussão sobre o Projeto Professor Conectado sob a
ótica da Abordagem do Ciclo de Políticas de Ball e Bowe. Tem como objetivo analisar as
ressignificações desencadeadas nas ações de docentes que atuam no ensino médio de escolas
estaduais situadas na cidade de Mossoró/RN, a partir do Projeto Professor Conectado, tendo
por base o contexto da prática. Para a realização do trabalho, foram utilizados os seguintes
procedimentos: pesquisa qualitativa de natureza exploratória; pesquisa documental sobre o
Projeto Professor Conectado; entrevista semiestruturada com seis (06) docentes que atuam em
02 (duas) escolas estaduais de Mossoró/RN; e levantamento de dados no Banco de Teses da
CAPES. A fundamentação teórica firmou-se nas ideias de Stephen Ball e Richard Bowe
(1992), Mainardes (2006, 2007) e Lopes e Macedo (2011), que discutem sobre a Abordagem
do Ciclo de Políticas. Utilizaram-se, ainda, as ideias de Moran (1995), Moran, Masetto e
Behrens (2000), Valente (1999), Almeida (2000), Kenski (1998, 2012), Bianchi e Hatje
(2007), Tajra (2012) e Nascimento (2007), que contextualizam e discutem sobre as
tecnologias digitais. Os depoimentos dos professores entrevistados apontam para novos
sentidos desencadeados a partir do Projeto Professor Conectado, tendo por base o contexto da
prática, na perspectiva da Abordagem do Ciclo de Políticas de Ball e Bowe. Dessa forma,
constatou-se que as ações dos docentes ganharam novas ressignificações no sentido de
proporcionar uma aproximação pela linguagem entre o docente e o discente; a otimização do
tempo, tanto no que diz respeito à praticidade oferecida pelas ferramentas disponibilizadas
para a elaboração das atividades educacionais do docente quanto ao tempo de trabalho; um
incentivo ao manuseio dos recursos pedagógicos na sua ação docente; um aumento do
interesse e da necessidade dos docentes em buscar aprender mais sobre os conhecimentos
tecnológicos, os quais passaram a se manter mais atualizados frente às transformações
tecnológicas na sociedade. Nesse sentido, a construção dessas ressignificações acontece na
relação existente entre o docente, a política e a realidade dos contextos práticos. Por fim,
considera-se que, apesar da descontinuidade do Projeto Professor Conectado, pontuada pelos
docentes, como, por exemplo, a ausência de uma formação continuada, bem como a falta de
assistências técnicas consistentes para as ferramentas distribuídas, a política proporcionou
benefícios satisfatórios às suas ações.
This study provides a discussion of the Project entitled Connected Teacher from the
perspective of Ball and Bowe’s Policy Cycle Approach. It aims to analyze the resignification
generated in the actions of teachers, participants of the project, who work in public high
schools located in Mossoró/RN, having context of practice as the base. Accordingly, to this
qualitative research of exploratory nature, data were derived from a documentary research on
the Project Connected Teacher; semistructured interview answered by six (06) teachers who
work in 02 (two) state schools in Mossoró/RN; and survey on CAPES thesis database. The
theoretical framework was grounded on the ideas of Stephen Ball and Richard Bowe (1992),
Mainardes (2006, 2007) and Lopes and Macedo (2011) to consider the Policy Cycle
Approach. Moreover, Moran (2000, 1995), Valente (1999), Almeida (2000), Kenski (1998,
2012), Bianchi and Hatje (2007), Tajra (2012) and Nascimento (2007) are utilized to
contextualize and explore the digital technologies. The testimonies of the interviewed teachers
indicate new directions resultant from the abovementioned Project, based on the context of
practice, from the perspective of Ball and Bowe’s Policy Cycle Approach. Thus, the results
show a new interpretation on teachers’ actions as to provide: 1) an approach between teacher
and student through language; 2) time optimization both with regard to the convenience
offered by the tools available for the development of educational activities and the working
time itself; 3) motivation to handle teaching resources in their professional action; and 4)
increased interest and need to learn more about technology. Therefore, the creation of these
new meanings happens in the relationship among teacher, policy and reality of the contexts of
practice. Finally, despite the discontinuity of the Project – materialized, for instance, in the
absence of a continuing education for teachers and in the lack of technical assistance for the
distributed tools, as mentioned by the participant teachers –, the policy provided satisfactory
benefits to their practice.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................12
1.1 O problema de estudo ...................................................................................................... 22
1.2 Caminho metodológico da pesquisa ................................................................................ 23
1.3 O lócus da pesquisa .......................................................................................................... 26
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: O CICLO DE POLÍTICA E O CONTEXTO DA
PRÁTICA................................................................................................................................30
2.1 A Abordagem do Ciclo de Políticas................................................................................. 31
3 AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E O USO DAS TECNOLOGIAS COMO
RECURSO PEDAGÓGIC.....................................................................................................41
3.1 As Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação ...................................... 44
3.2 O computador como recurso pedagógico ....................................................................... 50
3.2.1 Breve relato sobre as políticas governamentais que viabilizaram o uso do computador
como recurso pedagógico no Brasil..........................................................................................51
3.2.2 Propostas educacionais direcionadas às tecnologias: a utilização do computador como
recurso pedagógico...................................................................................................................55
4 O PROJETO PROFESSOR CONECTADO: A VISÃO DOS ENTREVISTADOS.....62
4.1 Sobre a forma de divulgação do Projeto Professor Conectado .................................... 63
4.2 Sobre os encontros formativos ........................................................................................ 67
4.3 Sobre a entrega dos notebooks e dos tablets .................................................................. 71
4.4 Sobre a forma como o Projeto Professor Conectado foi desenvolvido ........................ 75
4.5 Sobre os cursos oferecidos pelo NTE .............................................................................. 80
5 RESSIGNIFICAÇÕES NAS AÇÕES DE DOCENTES A PARTIR DO PROJETO
PROFESSOR CONECTADO................................................................................................87
5.1 O notebook e o tablet como recursos pedagógicos......................................................... 87
5.2 As metodologias construídas a partir do Projeto Professor Conectado ...................... 92
5.3 O computador portátil e o tablet como recursos pedagógicos.................................... 100
5.4 As ressignificações nas ações dos docentes a partir do Projeto Professor
Conectado......... ..................................................................................................................... 103
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................114
REFERÊNCIAS....................................................................................................................119
12
1 INTRODUÇÃO
Mediação Pedagógica, e o trabalho com foco nas políticas educacionais, iniciado no projeto
de iniciação científica.
É importante enfatizar que o fator que impulsionou nossos estudos acerca dos
conceitos “contexto da prática” e “ressignificação” foi a participação no grupo CONTEXTO,
na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Os estudos realizados no
referido grupo se fundamentavam na Abordagem do Ciclo de Políticas de Stephen Ball e
Richard Bowe4, portanto, a partir dessas discussões, tivemos contato com os conceitos que
vão nortear as análises desta pesquisa.
Vale salientar que essa linha de pensamento alimenta o debate acerca das políticas
educacionais. Defende que o desenvolvimento das políticas ocorre num processo de
descentralização, sem fixação permanente e de forma simultânea. Sustenta o debate de que
toda instância da sociedade influencia o desenvolvimento da política, exercendo a sua parte e
proporcionando novos sentidos, ou seja, uma política educacional, ao entrar em ação, tende a
receber múltiplas ressignificações de acordo com cada sujeito envolvido.
Nesse sentido, passamos a conceber o processo de desenvolvimento das políticas
educacionais em uma perspectiva para além do Estado, haja vista que a construção e o
desenvolvimento das políticas não acontecem de modo verticalizado, em que o Estado
estabelece as políticas que devem ser simplesmente implementadas nas escolas e demais
instituições. Dessa forma, para melhor explicitar o objeto do estudo, que consiste no Projeto
Professor Conectado, traçamos a seguir uma discussão sobre o que concerne a proposta dessa
política.
O projeto em questão é uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC), porém, cada
estado brasileiro deve viabilizá-lo de acordo com a sua realidade. No RN, esse projeto foi
desenvolvido pela Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEEC) e consiste em
socializar, com os professores da rede estadual, o uso das novas tecnologias digitais nas
escolas.
Assim, o documento Termo de Recebimento, Guarda e Responsabilidade (2010),
disponibilizado pela 12° Diretoria Regional de Educação, destaca que o professor deve:
4
Pesquisadores ingleses que estudam e pesquisam assuntos relacionados às políticas educacionais.
14
Com base na citação, podemos afirmar que a proposta política do Projeto Professor
Conectado orienta que os docentes devem manusear o computador em uma perspectiva
pedagógica. Chama a atenção para a necessidade de planejarem constantemente as estratégias
que foram e que serão desenvolvidas em suas ações.
Esse planejamento deve ocorrer com base em critérios e objetivos idealizados por
esses docentes, deixando claro, ainda, que os resultados alcançados com a utilização do
computador como recurso pedagógico deverão ser socializados com todos os sujeitos
envolvidos na escola.
Esse Projeto firmou-se no RN, em 2010, com a distribuição de computadores portáteis
para os docentes que atuam nas escolas da rede pública estadual na educação básica e, em
2013, com a entrega de tablets para professores que atuam no ensino médio. Tem a pretensão
de garantir a inclusão digital para os docentes, bem como melhorar a sua ação no processo de
ensino-aprendizagem, ou seja, seu intuito é o de proporcionar melhores condições de trabalho
e, assim, a ampliação de possibilidades para que os educadores planejem com qualidade os
conteúdos necessários ao bom desenvolvimento do educando.
Ocorreu, então, a entrega de computadores portáteis aos educadores estaduais que
estavam atuando em sala de aula, assim como destaca o documento do Termo de
Recebimento, Guarda Responsabilidade (2010): “[...] o equipamento apenas poderá ser
recebido por professores que estejam efetivamente em sala de aula. Sob pena de incorrer nas
sanções previstas no estatuto dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Norte”. A
princípio, os computadores foram entregues nas Diretorias Regionais de Educação e Cultura
(DIREC)5 do RN e, posteriormente, aos professores.
O Projeto Professor Conectado passaria pelas seguintes fases: 1) entrega das
ferramentas tecnológicas; 2) disponibilidade de acesso à internet, viabilizada pelo Governo do
Estado em todas as escolas contempladas com o Projeto; e 3) disponibilização de softwares
específicos para o trabalho pedagógico.
5
1ª DIREC, localizada em Natal. 2ª DIREC, localizada em Parnamirim. 3ª DIREC, localizada em Nova Cruz. 4ª
DIREC, localizada em São Paulo de Potengi. 5ª DIREC, localizada no Ceará Mirim. 6ª DIREC, localizada em
Macau. 7ª DIREC, localizada em Santa Cruz. 8ª DIREC, localizada em Angicos. 9ª DIREC, localizada em
Currais Novos. 10ª DIREC, localizada em Caicó. 11ª DIREC, localizada em Assu. 12ª DIREC, localizada em
Mossoró. 13ª DIREC, localizada em Apodi. 14ª DIREC, localizada em Umarizal. 15ª DIREC, localizada em Pau
dos Ferros. 16ª DIREC, localizada em João Câmara.
15
Assumir sobre o mesmo, inteira e total responsabilidade, pela posse e uso, sob
compromisso de fazer uso conforme a destinação aqui descrita e com
responsabilização pessoal pela posse do mesmo. [...] A qualquer um poderá a SEEC
solicitar o computador portátil ao servidor (a) beneficiado (a) para análise do uso
específico do bem, sendo vinculado o ato que revogue o presente no caso de
irregular utilização (TERMO DE RECEBIMENTO GUARDA E
RESPONSABILIDADE/RN, 2010).
Assim, o docente deve ter total responsabilidade sobre a ferramenta adquirida por meio do
Projeto Professor Conectado, cuidando e zelando para um estado de funcionamento mais
consistente e duradouro, já que a ferramenta está sujeita a devoluções, podendo a qualquer
momento ser solicitada pela SEEC. Além disso, o zelo faz-se necessário pelo fato de que outro
profissional pode, porventura, passar a adquiri-la. Caso isso ocorra, que possa usufruir do seu bom
estado de funcionamento.
As ponderações acima descritas e o fato de o Projeto proporcionar a distribuição de
uma ferramenta, especificamente, o computador/tablet, entre os professores em efetivo
exercício na educação básica das redes estaduais de ensino nos instigaram a buscar
fundamentação em estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC).
A partir das duas últimas décadas do século XX, a produção acadêmica acerca da
importância do uso das tecnologias como recurso pedagógico na ação docente tem se
intensificado, instigando o debate a respeito do tema. Salientamos, ainda, que o conjunto de
ferramentas tecnológicas que compõe as TIC vem sendo estudado pela ciência há algum
tempo em várias áreas do conhecimento, como, por exemplo, na área de letras, por meio do
letramento, como hipertexto, como linguagem; na neurociência, que é colocada como um
campo mais recente da ciência, destacando-se como paradigma, como aprendizagem e como
cognição; na própria área da tecnologia, na realização de programas como softwares e de
planejamentos; e na área da educação, sendo esta a área com a qual vamos dialogar com as
TIC, pesquisando-as como recursos pedagógicos.
17
6
Para alcançarmos esses resultados, pesquisamos assuntos como: “o computador na escola”; “o computador e o
docente”; “o uso do computador pelos docentes”; “o uso do computador na ação docente”.
18
Por fim, Pontes (2011) analisou como os professores que participaram do Projeto Um
Computador por Aluno (UCA) estabelecem a apropriação e a utilização da web em sua escola.
O estudo do autor nos fez compreender que os professores envolvidos não conheciam as
possibilidades de uso da Web 2.0, porém, no decorrer da pesquisa, conseguiram
paulatinamente alcançar mudanças positivas no que se refere ao uso instrumental e
pedagógico dessa ferramenta, subsidiada pelo computador.
O autor ainda enfatiza que o projeto UCA foi percebido como uma oportunidade de
viabilizar novas experiências em salas de aulas por meio do uso do computador
pedagogicamente direcionado e, por fim, alerta que para que o avanço referente à utilização
das tecnologias em sala de aula progrida se faz necessário que os docentes disponham de mais
tempo para se apropriarem e planejarem a aulas com a Web 2.0.
Com base nos resultados alcançados a partir das pesquisas realizadas no levantamento
do Banco de Dados da Capes, foi possível perceber que, apesar de apresentarem uma análise
discursiva sobre o mesmo aparato tecnológico, o computador, os autores das teses e
dissertações propõem enfoques diferenciados em seus trabalhas.
Nesse sentido, o computador é analisado em perspectivas diversas, como, por
exemplo, na prática de docentes no processo de ensino-aprendizagem dos anos iniciais; na
formação docente, como facilitador do processo de alfabetização em sala de aula da educação
básica; na formação inicial de docentes no ensino superior; nas práticas pedagógicas, quando
mediadas pelo uso do computador como recurso didático; na análise dos saberes docentes
pedagógicos computacionais; no debate acerca da inserção do computador na prática docente,
apontando as mudanças no relacionamento entre alunos e docentes em sala de aula; nos
desafios que os docentes enfrentam na utilização do computador, bem como na apropriação e
utilização da web em sua escola.
Outro aspecto diversificado apresentado nas pesquisas desses autores corresponde aos
diferentes resultados alcançados. Percebemos as seguintes oscilações: uma oportunidade de
viabilizar novas experiências em sala de aula, mas se faz necessário que os docentes
disponham de mais tempo para se apropriarem e planejarem suas aulas; o uso da tecnologia na
ação docente não é operado pedagogicamente pelos profissionais docentes em sala de aula;
possibilita atividade colaborativa e reflexiva; o uso do computador e da internet é visto em
consenso como facilitadores para o alcance dos objetivos, fazendo com que os alunos se
interessem mais pelas aulas; o computador contribui para reflexões sobre atuais e futuras
práticas pedagógicas ao serem mediadas mesmo como recurso didático, aperfeiçoando e
melhorando o processo de ensino. Nesse sentido, notamos que os pesquisadores apresentam
21
docentes do que os desencadeados pelas velhas tecnologias, pois, com as novas tecnologias,
os docentes tendem a necessitar de maior formação para o seu manuseio, por exemplo, o
computador como ferramenta que pode proporcionar uma aprendizagem significativa. Nessa
perspectiva, Bianchi e Hatje (2007) também consideram relevante uma formação profissional
que leve em conta o manuseio direcionado pedagogicamente das ferramentas inseridas nas
TIC.
Diante das conclusões expostas pelos autores, é perceptível a amplitude das discussões
direcionadas para as TIC nas esferas sociais. Percebemos essa amplitude de forma mais
específica quando direcionamos o estudo das TIC para a esfera educacional. É com base na
intensidade de estudos que desenvolvemos esta pesquisa, realizando uma discussão sobre a
política do Projeto Professor Conectado, a fim de contribuir com o debate acadêmico, a partir
de reflexões referentes ao uso do computador e sua ressignificação na ação docente.
Por fim, um estudo dessa natureza é importante, uma vez que suscita reflexões para as
instituições escolares referentes às ressignificações desencadeadas nas ações de docentes com
base numa política educacional. Além disso, alimenta essa discussão no Programa de Pós-
Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (POSEDUC/FE/UERN), especificamente na linha de pesquisa Política e
gestão da educação.
Desse modo, idealizamos que abordar a discussão sobre a política do Projeto Professor
Conectado, desencadeando debates sobre as TIC na educação, sobretudo o computador como
enfoque pedagógico, constitui-se como necessário para analisarmos as ressignificações
ocorridas nas ações de docentes, considerando a realidade de cada contexto prático existente
em escolas de Mossoró, em que essa política é desenvolvida. Concebemos ainda que este
estudo possibilita o conhecimento sobre os sentidos que o computador portátil vem
proporcionando aos educadores ao ser utilizado com fins pedagógicos.
qualitativa é indispensável neste estudo, uma vez que trabalhamos de acordo com as falas dos
entrevistados, buscando compreender as ressignificações dos sentidos expressos pelos
docentes que foram beneficiados com o Projeto Professor Conectado.
Nesse sentido, com a pretensão de analisarmos as ressignificações nas ações de
docentes, a partir do Projeto Professor Conectado, indagamos sobre as teorias que
possibilitam uma melhor compreensão da temática abordada, a fim de obtermos, assim, os
dados da pesquisa documental e das entrevistas semiestruturadas.
Corroboramos o pensamento de Lakatos e Marconi (2003, p. 174), quando expõem
que “a característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a
documentos, escritos ou não [...]”. Nesse contexto, escolhemos esse tipo de pesquisa neste
estudo, pois nos baseamos em documentos que nos proporcionaram conhecimentos referentes
à política estudada, bem como às informações sobre as escolas que tivemos como lócus
empírico.
Para a pesquisa documental, valemo-nos dos seguintes documentos: Termo de
Recebimento Guarda e Responsabilidade (2010); Esclarecimento do Projeto Professor
Conectado, levantamento de dados das escolas e Relatório do órgão regional. Os dois últimos
contemplam informações sobre a quantidade de escolas, assim como de docentes, alunos e
monitores contemplados em cada escola estadual da cidade de Mossoró/RN sob a
responsabilidade da 12ª Diretoria Regional de Educação e Cultura (12ª DIREC)7.
Em relação à entrevista, entendemos como “um encontro entre duas pessoas, a fim de
que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional” (LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 195). Utilizamos
esse procedimento metodológico para coletarmos dados concernentes às ressignificações na
ação de docentes a partir da política do Projeto Professor Conectado. Optamos pela entrevista
semiestruturada, na medida em que nos permite trabalhar com perguntas norteadoras sem
necessariamente ficarmos presas a elas, ou seja, estabelece, durante a entrevista, a ampliação
de outras indagações, sem se restringir somente às perguntas norteadoras que principiaram a
entrevista (MINAYO, 2009).
Dessa forma, utilizamos as entrevistas semiestruturadas com seis (06) docentes em
efetivo exercício, no ensino médio, nas escolas estaduais Professor Conectado de Ensino
Médio8 e Professor Conectado de Ensino Fundamental e Médio9, ambas localizadas na cidade
7
Disponibilizados pela coordenadora da 12ª Diretoria Regional de Educação e Cultura (12ª DIREC).
8
Nome fictício para preservar a identidade da escola. Ganhou essa nomeação pelo fato de ser uma escola
estadual exclusiva de ensino médio.
25
9
Nome fictício para preservar a identidade da escola. Ganhou essa nomeação pelo fato de ser uma escola
estadual de ensino fundamental e médio.
26
médio situadas em Mossoró por meio de uma visita realizada com a coordenadora da 12ª
DIRED, responsável pelo setor do ensino médio.
Com isso, conseguimos adquirir dois documentos10, intitulados Levantamento de
dados das escolas e Relatório do órgão regional. Nestes, identificamos a quantidade de escolas
estaduais que ministram o ensino médio em Mossoró e o número de docentes, alunos e
monitores pertencentes a essas escolas.
Segundo a análise dos documentos mencionados acima, o município de Mossoró
apresenta um quadro de 20 escolas da rede estadual que ministram a etapa do ensino médio da
educação básica11, distribuídas entre a zona rural e a zona urbana. Na zona urbana, contamos
com um total de 19 escolas, constando a existência de 01 escola localizada na zona rural do
município.
Sobre o número de alunos existentes nas escolas estaduais de Mossoró, registramos
14.185. Dentre os 14.185 alunos, 12,865 estudam nas escolas situadas na zona urbana e cerca
de 1.320, na escola da zona rural.
Quanto aos docentes que atuam nas escolas da rede pública estadual de Mossoró que
contemplam a etapa do ensino médio, contamos aproximadamente 541. Destes, 499 são
atuantes na zona urbana da cidade e 42, na zona rural.
No que concerne aos monitores responsáveis pela assistência das escolas estaduais do
município de Mossoró, identificamos 110 atuando entre a zona urbana e a zona rural. Nas
escolas contempladas com o ensino médio, há, na zona urbana, aproximadamente 101
monitores e, na zona rural, 09.
Assim, levando em consideração todas as escolas estaduais contempladas com o
ensino médio e que foram beneficiadas com a proposta política aqui estudada, escolhemos
como campo empírico da pesquisa as escolas estaduais Professor Conectado de Ensino Médio
e a Professor Conectado de Ensino Fundamental e Médio.
O que impulsionou a escolha por essas duas escolas dentre tantas apresentadas pelo
panorama geral foi o fato de já termos experiência como pesquisadora em ambas. Conforme
mencionado anteriormente nesta Introdução, o Trabalho de Conclusão de Curso da nossa
graduação em Pedagogia debruçou-se sobre a análise do Projeto Professor Conectado. Dessa
forma, achamos pertinente continuar com as mesmas escolas, já que, na perspectiva atual, a
10
Os dados das escolas apresentados são correspondentes ao ano de 2014. Os documentos mais atualizados são
disponibilizados pela 12ª DIREC.
11
Esclarecemos que as 20 escolas apresentadas nesses dados ministram o ensino médio. Registramos a
existência das demais etapas da educação básica em algumas dessas escolas.
28
pesquisa tem o objetivo de estudar as ressignificações nas ações docentes desencadeadas pelo
Projeto Professor Conectado no contexto da prática.
Em seguida, apresentamos uma breve caracterização das duas escolas, lócus desta
pesquisa, no que se refere ao número de docentes, alunos, monitores e localização.
A Escola Estadual Professor Conectado de Ensino Médio está localizada na zona
urbana da cidade de Mossoró. Seu funcionamento ocorre nos turnos matutino e vespertino. De
acordo com os documentos, apresenta um quadro de 833 alunos regularmente matriculados.
Seus docentes correspondem a um total de 34. Não registra a atuação de monitores
auxiliando. Enfatizamos que os docentes beneficiados com a política do Projeto Professor
Conectado são correspondentes a 30.
Já a Escola Estadual Professor Conectado de Ensino Fundamental e Médio situa-se na
zona urbana de Mossoró. Seu funcionamento ocorre nos turnos vespertino e matutino.
Registramos um total de 1.102 alunos e 06 monitores, que auxiliam na assistência de projetos
e atividades desenvolvidos na escola. Vale ressaltar que a escola conta com um total de 42
docentes atuantes no ensino médio, dos quais 32 foram contemplados com a política do
Projeto Professor Conectado. Já os contemplados com a política do Projeto Professor
Conectado foram 32.
Sob tal panorama, percebemos que os dados referentes ao número de docentes, alunos
e monitores da Escola Estadual Professor Conectado de Ensino Médio apresentam quantidade
inferior aos dados da Escola Estadual Professor Conectado de Ensino Fundamental e Médio.
O que justifica tal acontecimento é o fato de a primeira escola apresentada ser exclusiva da
etapa do ensino médio. Por contemplar somente uma etapa, possui um quadro menor de
sujeitos envolvidos. Já a segunda escola possui a etapa do ensino médio e do ensino
fundamental, o que explica esta possuir uma maior quantidade de docentes, alunos e
monitores, tendo em vista que a demanda que gira em torno dela é maior. Justificamos ainda
que o enfoque no ensino médio da educação básica se deveu porque levamos em consideração
que o Projeto Professor Conectado foi pensado inicialmente para essa etapa.
Dessa forma, a estrutura da pesquisa se coloca da seguinte maneira: discussão acerca
da origem do objeto de pesquisa; elaboração do problema de estudo; detalhamento do
caminho metodológico a ser percorrido para o desenvolvimento da pesquisa; e seleção do
lócus de pesquisa.
O primeiro capítulo refere-se à revisão bibliográfica, em que propomos uma discussão
sobre a Abordagem do Ciclo de Políticas elaboradas por Ball e Bowe (1992) e apresentamos a
29
visão de autores brasileiros que utilizaram essa abordagem metodológica para analisar o
processo de desenvolvimento das políticas educacionais em suas pesquisas.
No segundo capítulo, discutimos as políticas educacionais e o uso das tecnologias
como recurso pedagógico. Enfatizamos um debate sobre a integração das TIC na educação,
bem como uma discussão sobre o uso do computador como recurso pedagógico, viabilizado
por propostas políticas na esfera educacional.
No terceiro capítulo, propomos uma discussão a respeito da visão dos docentes a
respeito da forma de divulgação do Projeto Professor Conectado; os encontros formativos; os
cursos oferecidos pelo NTE; a forma como o Projeto Professor Conectado foi desenvolvido;
bem como a entrega dos notebooks e dos tablet, fazendo uma relação do que a política
preconiza com a forma como é desenvolvida no contexto da prática.
No quarto capítulo, apresentamos as análises das entrevistas, abordando as
ressignificações desencadeadas nas ações dos docentes no contexto da prática, a partir do
Projeto Professor Conectado; o notebook e o tablet como recursos pedagógicos; as
metodologias construídas a partir do Projeto Professor Conectado.
Nas considerações finais, expomos os comentários acerca dos resultados da pesquisa e
das ressignificações das ações dos docentes a partir do Projeto Professor Conectado.
30
[...] se contrapondo a uma perspectiva “top to down”, que coloca o Estado como
emissor de currículos nacionais meramente reproduzidos nas escolas. O grande
destaque que merece o método analítico dos autores é o de complexificar tal visão,
identificando que as políticas são perpassadas por diferentes contextos de produção
da política curricular (VELOSO, 2012, p. 17).
Esse autor ainda deixa claro que as respostas das políticas desenvolvidas no contexto
de textos políticos são percebidas e representadas de forma mais real no terceiro contexto da
Abordagem do Ciclo de Políticas, o contexto da prática.
Nesse sentido, o contexto da prática é onde a política é desenvolvida, entra em ação e
recebe reconstruções e ressignificações que podem proporcionar significativas transformações
na proposta da política original (MAINARDES, 2006).
Ainda sobre o contexto da prática, Veloso (2012, p. 15) reforça a ideia de Mainardes
(2006), enfatizando que:
Por entender que a escola é um espaço dinâmico e vivo, é neste contexto da prática
que professores/as irão lidar diferentemente com o Programa, dependendo de suas
possibilidades, limites, interesses e uma série de outros fatores. Nesse processo as
práticas podem ser retroalimentadoras de novos textos e propostas mais amplas que
fazem o ciclo se manter contínuo.
12
Os assuntos utilizados nas pesquisas das dissertações e das teses apresentadas foram: “ressignificações de
políticas”; “ressignificação no contexto da prática”; “ressignificação e o ciclo de políticas”; “a abordagem do
ciclo de políticas”; e “Ciclo de Políticas e as Tecnologias”.
36
pública após o processo de atuação do Reuni na UFPE; houve o crescimento dos candidatos
participantes de escolas públicas com baixa renda familiar após o Reuni.
Duarte (2012), por sua vez, vem discutir sobre as Salas de Leituras
Polo do Município do Rio de Janeiro à luz da Abordagem do Ciclo de Políticas. Diz respeito a
uma pesquisa que almeja investigar as concepções que vêm sustentando as configurações
desses espaços, bem como as práticas que são desenvolvidas neles. Enfatiza ainda a
contribuição da perspectiva discursiva no encaminhamento das relativas questões para a
ruptura com o modelo padrão de ensino tradicional. Assim, Duarte (2012) busca nessa
pesquisa articular os níveis macro e micro de análise através do Ciclo de Políticas, formulado
por Stephen Ball e Bowe, privilegiando as relações entre os contextos de influência, da
produção de texto e do contexto da prática. Dessa forma, a autora enfatiza em sua dissertação
que a descrição do contexto da prática remete às reconfigurações das Salas de Leituras por
meio das ressignificações desenvolvidas pelos sujeitos envolvidos.
Oliveira (2012) apresenta uma discussão sobre a formação do pedagogo no curso de
Pedagogia como processo de significações e de ressignificações curriculares por estudantes.
Nessa pesquisa, a autora analisa como se dá a atuação dos estudantes do curso de Pedagogia
com base em seus saberes, por meio da leitura do componente curricular Pesquisa e Prática
Pedagógica, na investigação/reflexão, partindo do papel pedagógico realizado na escola e nos
espaços não escolares, porém, educativos, e na perspectiva da Abordagem do Ciclo de
Políticas.
A autora argumenta em seus resultados que os sujeitos entrevistados na pesquisa
possuem a noção do que deve ser entendido por docência, por gestão e sobre o valor da sua
própria experiência no contexto das práticas, porém, não há uma articulação, não
contextualizam e não relacionam esses conceitos em suas práticas. Nesse cenário, deve
acontecer uma cobrança da dinâmica curricular desse curso sobre a integração desses saberes
pedagógicos, concebendo uma integralização curricular entre a gestão/decência a fim de
construir uma relação teoria/prática, numa expectativa interdisciplinar.
Ferreira (2012) apresenta em sua dissertação uma análise da implementação do
Programa Plano do Desenvolvimento da Escola (PDE), tendo como objetivo principal
observar o processo de formulação do PDE, procurando saber ainda como essa política foi
desenvolvida em seu contexto da prática. Assim, a sua pesquisa tem como fundamento
principal a Abordagem do Ciclo de Políticas em Contextos.
Nessa perspectiva, a autora aponta em sua dissertação conclusões como, por exemplo,
que o PDE Federal é uma tentativa de prover ações articuladas entre o governo federal, os
38
discussão se faz relevante em nossa pesquisa, uma vez que este estudo diz respeito a uma
política educacional que aborda uma ferramenta das novas tecnologias, nesse caso, o
computador, e que terá a Abordagem do Ciclo de Políticas como fundamentação
metodológica.
Nesse cenário, a dissertação de Márcia Castro (2011) propõe uma abordagem referente
à enunciação da democracia e à realização do mercado, traçando uma discussão sobre as
tecnologias disponibilizadas pelas políticas públicas na educação, tendo como ponto de
chegada o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (PROINFO). A autora desenvolve a
sua pesquisa na pretensão de analisar os contextos de influência e de produção do texto da
atual política nacional de tecnologia na educação, o ProInfo, orientada sob a luz da proposta
metodológica da Abordagem do Ciclo de Políticas de Stephen Ball e Richard Bowe (1992).
Nunes (2011) apresenta em sua pesquisa uma discussão sobre a constituição da
docência nos Cursos Superiores de Tecnologia, investigada sob as influências da política de
Educação Superior de Tecnologia. Nunes (2011) utiliza a análise crítica do discurso como
referência analítica, bem como a Abordagem do Ciclo de Políticas de Ball e Bowe,
permitindo compreender os movimentos das políticas e dos discursos pedagógicos em seus
processos de recontextualização. O estudo da autora apresenta que a docência nos Cursos de
Graduação de Tecnologia anuncia uma identidade em conflito que resulta, entre outros
fatores, de políticas diferenciadas que projetam identidades distintas para a docência, na
mesma modalidade acadêmica.
Assim, entendemos que as discussões propostas por Castro (2011) e Nunes (2011) se
aproximam do que estamos apresentando em nossa pesquisa, uma vez que as autoras também
proporcionam uma análise das tecnologias na educação viabilizadas por políticas
educacionais, identificando as implicações que essas ferramentas tecnológicas podem causar
na postura dos sujeitos envolvidos com essas políticas, tendo a Abordagem do Ciclo de
Políticas em contextos, de Ball e Bowe (1992), como fundamentação teórica.
Outro fator relevante que observamos ao realizarmos o mapeamento no Banco de
Teses da Capes diz respeito à escassez de estudos direcionados para as discussões
fundamentadas na abordagem de Ball e Bowe relacionadas às tecnologias no setor
educacional. Consideramos, assim, que a presente pesquisa contribuirá para a ampliação das
discussões sobre o uso das tecnologias na educação fundamentando a análise sobre os
conceitos do contexto da prática e da ressignificação utilizados na abordagem metodológica
do Ciclo de Políticas em Contextos de Ball e Bowe.
41
13
Foi idealizada logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, objetivando contribuir para a paz e segurança no
mundo, através da educação, da ciência, da cultura e das comunicações. A sede da Unesco fica em Paris, na
França, e atua em 112 países. Disponível em: <http://www.significados.com.br/unesco/>.
44
pedagógicos que podem possibilitar melhoria no processo da prática docente. Dito de outra
forma, em algumas realidades escolares, elas são utilizadas para reproduzir ações
metodológicas tradicionais, em vez de serem usadas para ressignificar as ações docentes. A
esse respeito, menciona Souza (2015, p. 4-5):
Vale ressaltar que não basta o envolvimento do docente com as tecnologias, pois se
faz necessário que ele estabeleça a ressignificação dessas tecnologias durante a sua ação em
sala de aula, instituindo novos sentidos proporcionados por essas ferramentas digitais em sua
ação pedagógica, o que possivelmente resulta em aprendizagem mais significativa para os
alunos. Dessa forma, consideramos que a melhoria da aprendizagem se coloca como um
resultado relevante que a ressignificação desencadeada pelas ferramentas digitais, nesse caso
o computador, pode proporcionar na prática de docentes, quando estas são utilizadas
pedagogicamente.
Nessa perspectiva, discutiremos a seguir sobre as Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC) viabilizadas por meio das políticas educacionais, afunilando,
posteriormente, para uma discussão com base no computador enquanto recurso pedagógico,
tomando como exemplo políticas educacionais que trabalham diretamente com a integração
dessa ferramenta no espaço escolar.
Por sua vez, na ação do professor em sala de aula e no uso que ele faz dos suportes
tecnológicos que se encontram a sua disposição, são novamente definidas as
relações entre o conhecimento a ser ensinado, o poder do professor e a forma de
exploração das tecnologias disponíveis [...] (KENSKI, 2012, p. 19).
A aproximação das novas tecnologias no campo educacional não deve se firmar tão
somente por meio de contatos físicos, no sentido de existirem ferramentas tecnológicas na
escola ao alcance do docente. Antes, deve ocorrer pelos docentes por meio de contatos
profissionais em que o uso das ferramentas tecnológicas aconteça de forma direcionada
pedagogicamente, havendo, assim, adaptações e ressignificações no contexto da sala de aula.
Ressaltamos ainda que, quando nos referimos à utilização das ferramentas digitais pelo
docente e à ressignificação que proporcionaram ou podem proporcionar a esses educadores,
não estamos defendendo tão somente a ressignificação por meio do uso presencial dessas
ferramentas tecnológicas em sala de aula, pois compreendemos que as tecnologias podem
permitir ressignificações para a prática docente até mesmo se o educador utilizá-las em sua
46
própria casa, vindo a ajudá-lo, por exemplo, no planejamento de uma aula ou em outra
atividade que proporcione novos sentidos à sua prática educacional no contexto da prática.
Nessa perspectiva, vale destacar que, apesar dos múltiplos investimentos na educação
por meio das políticas educacionais e do incentivo dos organismos internacionais, a limitação
de conhecimentos de alguns docentes sobre o uso das tecnologias ainda permanece. Vem
desse fato, então, a importância do investimento em políticas que viabilizem a integração das
tecnologias na educação, bem como a formação continuada do docente.
Com base nesse entendimento, apontamos que, “ainda no século XXI, comumente
encontramos professores recém-formados que não sabem sequer ligar computadores e muito
menos associar tal instrumento em suas atividades educacionais” (TAJRA, 2012, p. 112).
Dessa forma, o fato de os docentes não dominarem as ferramentas digitais como recursos
tecnológicos em suas ações pedagógicas pode resultar na continuidade de aulas baseadas em
metodologias de ensino tradicionais, haja vista que, se o docente não possuir o domínio de
usar o computador pedagogicamente, sentirá dificuldade de proporcionar uma aprendizagem
significativa e dinâmica para o educando.
Compreendemos que a formação continuada dos docentes se faz relevante,
principalmente quando acreditamos que o computador não deve ocupar tempo e/ou ser
colocado como um passa tempo na prática educativa, mas auxiliar o docente em sua ação por
meio de novos sentidos, possibilitando ressignificação e resultando numa aprendizagem mais
qualificada para o discente.
No século XXI, a formação continuada direcionada aos docentes é imprescindível.
Cresce cada vez mais a necessidade do domínio do uso das ferramentas digitais pelos
educadores, uma vez que não podemos deixar despercebido que estamos lidando com dois
sujeitos coletivos distintos: de um lado, o profissional educador pertencente a uma geração
não tecnológica e, de outro, o discente que faz parte de uma geração tecnológica.
Nesse sentido, a formação continuada do docente se coloca como primordial, uma vez
que vivenciamos o desafio do aprender com dois sujeitos diferentes, o educador, que precisa
aprender para ensinar o aluno, que na maioria das vezes já sabe. Assim, a educação está
inserida em um cenário que envolve realidades diversificadas, com aprendizagens, idades e
linguagens distintas, bem como com dois sujeitos e dois projetos de aprendizagens diferentes:
a do professor e a do aluno.
Dessa forma, cabe aos docentes a constante busca pela atualização, no que se refere à
obtenção de conhecimentos sobre as TIC. Em outras palavras, a aproximação e a atualização
constante em relação às TIC na esfera educacional possibilitam aos professores
47
conhecimentos necessários sobre as ferramentas tecnológicas que podem lhes auxiliar como
recursos pedagógicos em suas ações docentes, facilitando o processo de ensino. Acreditamos
que as TIC somente podem contribuir para ressignificar e possibilitar novos sentidos na
prática do docente se esse profissional possuir certo domínio sobre o seu uso.
Diante disso, os docentes necessitam estar cada vez mais abertos e disponíveis para a
realidade das novas tecnologias. Nessa perspectiva, o processo de inserção das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC) no setor educacional tende a provocar mudanças sucessivas
e na maioria das vezes sem volta, principalmente no que se refere à ação do docente.
Enfatizamos que se torna necessária também a constante busca de conhecimentos que
possibilitem a utilização direcionada por parte dos docentes que trabalham diretamente com
essas ferramentas em suas ações pedagógicas, tendo em vista que, como a sociedade está em
desenvolvimento contínuo, principalmente quando o assunto se refere às novas tecnologias, é
indispensável a atualização dos novos conhecimentos propostos pelas ferramentas digitais
atreladas às TIC.
Nesse sentido, concordamos com Freire (1996, p. 28), ao destacar:
Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro antes que foi novo e se fez
velho e se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que seja tão
fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e
aptos à produção do conhecimento ainda não existente.
[...] podem ser consideradas um conjunto de ferramentas tecnológicas, cada vez mais
presentes no cotidiano, e imprescindível para um grande número de profissionais de
diferentes áreas de atuação. Compõem as TIC ferramentas tecnológicas que podem
e/ou são utilizadas na educação como o quadro, o giz, os materiais didáticos, as
novas TIC formadas pela informática (que abrange todo tipo de computador e
periféricos), também as teleconferências, as videoconferências e as mídias
tradicionais (mídia impressa, rádio, televisão, telefone) (BIANCHI; HATJE, 2007,
p. 4).
A UNESCO tem buscado ampliar suas linhas e atuação, produzindo novas políticas
que norteiem esta perspectiva dos usos sociais e políticos encetados pelas TICs.
Questiona-se sobre como as tecnologias podem ser aplicadas em benefício dos
sistemas educativos (VELOSO, 2012, p. 19).
Concordando com a afirmação de Veloso (2012), acreditamos que uma das novas
atitudes das escolas, ao serem beneficiadas com os investimentos de políticas educacionais
voltadas para as novas tecnologias, refere-se à adoção de estratégias que permitem a
adaptação da escola às novas tecnologias, assegurando a atualização do conhecimento dos
sujeitos que se encontram envolvidos com essa nova realidade.
Nesse contexto, para que o professor consiga utilizar as novas tecnologias em suas
ações pedagógicas, estabelecendo ressignificações no processo do ensino-aprendizagem, faz-
se necessário que a sua ação esteja firmada em uma formação profissional contínua e de
qualidade.
Assim, podemos compreender que não basta ocorrer somente a familiarização com as
novas tecnologias no espaço escolar, mas também deve existir, por parte dos profissionais da
escola, nesse caso os docentes, a busca pelo domínio do novo, instigando a sua curiosidade e
aperfeiçoando ainda mais a sua prática educativa, tendo as novas tecnologias como recursos
que lhes auxiliem pedagogicamente e proporcionem de fato ressignificações significativas em
suas ações docentes.
Outra questão sobre a necessidade do domínio pelo docente das Tecnologias da
Informação e da Comunicação que deve ser reforçada diz respeito às mudanças que também
são vivenciadas pelos alunos desde o espaço social até o educacional.
integrados. Diante dessa realidade, o que muitas vezes acaba ocorrendo é uma
inversão de autoridade. A criança, por deter o conhecimento, impõe a sua intenção, o
que é comum em nossas próprias casas, onde geralmente os grandes usuários dos
videocassetes, aparelhos de som e outros são os nossos filhos, que só efetuam as
devidas programações nesses equipamentos quando estão “dispostos” (TAJRA
2012, p. 102).
Vale salientar que o interesse das crianças pela obtenção dos conhecimentos das
ferramentas atreladas às novas tecnologias, na maioria das vezes, é influenciado não somente
pelo espaço escolar, mas também pela cultura advinda dos espaços familiares e sociais. Nesse
sentido, existe a possibilidade de os alunos obterem maior conhecimento sobre as ferramentas
tecnológicas do que os próprios docentes. Em face dessa realidade, o docente, enquanto
agente mediador da educação, encontra-se cada vez mais necessitado de buscar se atualizar no
que se refere ao domínio do uso dessas ferramentas em suas práticas.
Ressaltamos que nessa perspectiva pedagógica o docente tem o papel de mediar o uso
dessas ferramentas tecnológicas em sala de aula, contribuindo para que os alunos possam ser
capazes de as utilizarem de forma crítica, ética e solidária, direcionada para atuarem como
cidadãos e futuros profissionais, ou seja, proporcionando a aprendizagem significativa.
Com base em Freire (1996), os docentes devem primar por uma educação que
promova, tanto nos educadores quanto nos educandos, a capacidade de refletir e agir em uma
sociedade tecnológica, de estar no e com o mundo, garantindo a sua condição histórica, de
gente que vive o seu dia a dia em um tempo e espaço fazedor. É através de uma formação
humana que a sociedade conseguirá formar sujeitos, de fato, comprometidos com o social, o
ético, o solidário e o crítico, capazes de atuarem sobre sua realidade.
Discutiremos nesse ponto sobre o computador como ferramenta que, ao ser utilizada
pedagogicamente, é colocada como recurso na mediação das ações de docentes. Para a
realização desse debate, apresentamos as políticas educacionais que possibilitam a utilização
do computador na escola, fundamentando-nos em autores que discutem a importância do uso
dessa ferramenta como recurso didático que pode contribuir para uma ação docente
significativa.
51
3.2.1 Breve relato sobre as políticas governamentais que viabilizaram o uso do computador
como recurso pedagógico no Brasil
Com base nas ideias de Nascimento (2007), apresentamos uma breve contextualização
dos primeiros indícios do uso do computador na educação brasileira. Segundo esse autor, em
1971, com base no livro Projeto Educom (Educação e Computador), o Brasil começou a
caminhar rumo à utilização da informática na educação. Foi por meio do livro Projeto
Educom que começou o debate acerca do uso de computadores destinados ao ensino de física
na Universidade de São Paulo, em São Carlos, através da realização de seminários
desenvolvidos em colaboração com a Universidade de Dartmouth/EUA.
Nessa perspectiva, vale salientar que a Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) foram as pioneiras no que se refere às investigações sobre o uso do
computador na educação do Brasil.
A UFRJ, por meio do Departamento de Cálculo Científico, criado em 1966, foi a
primeira instituição brasileira a utilizar o computador em suas atividades acadêmicas, através
da criação do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE). A utilização do computador
estabelecia estudos direcionados para o ensino de informática, sendo que nesse período o
computador era usado tão somente como objeto de estudo e pesquisa.
Somente em 1973 o computador passou a ser estudado como ferramenta tecnológica
direcionada à educação, sendo utilizado para a avaliação formativa e somativa de alunos da
disciplina de química no desenvolvimento de simulações. Esse redirecionamento ocorreu
mediante o Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (Nutes) e o Centro Latino-
Americano de Tecnologia Educacional (Clates) da UERJ.
Assim, no mesmo ano, a UFRGS realizou as primeiras iniciativas do uso do
computador nessa perspectiva, com base em diferentes teóricos e linhas de ação, conforme
destaca Nascimento (2007, p. 12):
14
A Universidade de Campinas (Unicamp) foi responsável pelo desenvolvimento do documento intitulado
Introdução de Computadores nas Escolas de 2º grau, financiado pelo acordo do Ministério da Educação (MEC)
em 1975.
15
Seymour Papert e Marvin Minsky.
53
15/1983, que se referia ao interesse governamental no que diz respeito à inserção de centros-
pilotos nas universidades que se interessavam por desenvolver pesquisas voltadas para as
escolas públicas.
Ocorreu ainda, em 1984, a definição em Protocolo de Intenções referente ao suporte
financeiro e à delegação de competência, assinado entre MEC, SEI, CNPq, Finep e Funtevê.
Vale ressaltar que foi a partir disso que o MEC se tornou o líder do processo da
informatização na educação do país.
Em 1984, efetivaram-se os primeiros convênios que promoveram a inserção dos
centros-pilotos entre as Universidades Federais do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Minas
Gerais, Rio de Janeiro, a Universidade Estadual de Campinas e a Funtevê/MEC.
Em 1986, com a criação do Comitê Assessor de Informática na Educação da Secretaria
de Ensino de 1º e 2º graus, Caie/MEC, foi aprovado o Programa de Ação Imediata em
Informática na Educação de 1º e 2º graus, objetivando a criação de uma infraestrutura de
suporte para as secretarias estaduais de educação.
O projeto Formar, desenvolvido pelo Comitê Assessor de Informática e Educação
(Caie) do Ministério da Educação (MEC), sob a coordenação do Nied/Unicamp, e ministrado
por pesquisadores e especialistas dos demais centros-pilotos integrantes do Projeto Educom,
foi o responsável pela capacitação dos professores para atuarem no centro de informática na
educação dos sistemas estaduais e municipais de ensino.
Após proporcionar a capacitação dos docentes, o Projeto Formar lhes passava o
compromisso de projetar e implantar, junto à Secretaria de Educação, um Centro de
Informática Educativa (Cied), sendo implementado com apoio técnico e financeiro do
Ministério da Educação. Nesse sentido, ocorreu a implantação dos Cieds no período de 1988 a
1989 em diversos estados da Federação.
A partir de 1988, começaram as primeiras iniciativas que estabeleciam subsídios para
a criação de um Programa Nacional de Informática Educativa (Proninfe), que tinha o intuito
de desenvolver atividades relacionadas à informática na educação brasileira.
No ano 1990, o MEC aprovou o 1º Plano de Ação Integrada (Planinfe), com metas e
objetivos a serem traçados entre os anos de 1991 a 1993. Dessa forma, tanto o Planinfe quanto
o Proninfe destacavam a necessidade de programas direcionados à formação de professores.
Somente em 1997 foi criado o Programa Nacional de Informática na Educação
(ProInfo), por meio da Portaria n. 522/MEC, promovendo o uso pedagógico da informática na
rede pública de ensino fundamental e médio de escolas das redes estaduais e municipais,
predominante até os dias atuais na realidade da educação brasileira. Desse período em diante,
55
o uso do computador foi ganhando cada vez mais espaço na educação por meio dos
investimentos apoiados pelo MEC, SEI, CNPq e Finep.
Após essa breve contextualização sobre os primeiros vestígios do computador,
baseada nas ideias de Nascimento (2007), torna-se importante afirmar que no século XXI são
significativas a presença e a ampliação de políticas direcionadas às novas tecnologias na
educação, por meio de investimentos e apoios das ações governamentais. Essas políticas
objetivam aproximar e familiarizar profissionais da educação com os recursos tecnológicos,
em especial o computador, sendo importante enfatizar que elas têm o intuito de melhorar a
ação pedagógica dos docentes, ou seja, visam à melhoria da qualidade do ensino brasileiro.
Sob esse panorama, a distribuição de computador enquanto recurso tecnológico,
através de programas governamentais, vem ganhando cada vez mais destaque, uma vez que é
considerado um equipamento relevante na prática educativa do professor. Isso ocorre por ser
um instrumento que, ao ser utilizado de forma direcionada, auxilia o professor no processo
educativo do ensino e da aprendizagem (VALENTE, 1999).
Nessa perspectiva, a influência das políticas educacionais propostas por meio de
programas e projetos viabilizados pelo Ministério da Educação (MEC) ganha notoriedade,
principalmente, os programas e projetos políticos direcionados à distribuição de computadores
no espaço escolar.
Dessa forma, enfatizamos a seguir a relevância de três propostas educacionais em
desenvolvimento, que visam à utilização do computador como recurso pedagógico nas escolas
de vários estados brasileiros. Ressaltamos também a relação das propostas com a política do
Projeto Professor Conectado.
Nesse sentido, o ProInfo foi pensado para universalizar o uso das novas tecnologias no
sistema educacional de ensino, vindo a democratizar as escolas e a permitir assim o acesso
das escolas públicas aos computadores. Esse documento do Programa Nacional de
Informática da Educação enfatiza ainda:
O governo federal propõe o Projeto UCA como uma nova forma de utilização das
tecnologias digitais nas escolas públicas brasileiras, balizada pela necessidade de: (a)
melhoria da qualidade da educação; (b) inclusão digital; (c) inserção da cadeia
produtiva brasileira no processo de fabricação e manutenção dos equipamentos
(PEQUENO; FARIAS, 2010, p. 2).
As ações previstas pelo projeto UCA não só se inserem no PDE como se integram
ao Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) do Ministério da
Educação, com o aproveitamento das iniciativas e bases existentes de gestão e
formação estruturadas nos sistemas Núcleos estaduais e municipais de Tecnologia
Educacional – NTE/M, descentralizados e distribuídos geograficamente, devendo se
beneficiar das redes de formação de professores e dos núcleos de pesquisa em
instituições de ensino superior (PEQUENO; FARIAS, 2010, p. 2-3).
[...] Políticas colocam problemas para os seus sujeitos, problemas que precisam ser
resolvidos no contexto. Soluções para os problemas postos pelos textos políticos
serão localizadas e deveria ser esperado que discernissem determinados fins e
situações confusas. Respostas que precisam, na verdade, ser “criativas”. As políticas
normalmente não dizem o que fazer; elas criam circunstâncias nas quais o espectro
de opções disponíveis sobre o que fazer é reduzido ou modificado ou em metas
particulares ou efeitos são estabelecidos (BALL, 2011, p. 45-46).
Assim, Ball (2011) nos leva a compreender que as políticas nem sempre viabilizarão
soluções imediatas aos problemas existentes nas escolas, pois são propostas com o intuito de
proporcionar “circunstâncias”, para as quais os profissionais responsáveis pelo seu
desenvolvimento no contexto da prática precisam apresentar respostas “criativas”. Com isso,
tomando como base o Projeto Professor Conectado, o fato de as escolas terem sido
contempladas com essa política não significa afirmar que os seus problemas, quanto ao uso do
computador como suporte pedagógico por parte dos docentes, foram solucionados, existindo,
sim, a necessidade de o docente saber lidar com as novas ressignificações que essa política
pode proporcionar em sua ação.
Dessa forma, corroboramos com Mainardes (2007, p. 30) quando menciona que
“Políticas são intervenções textuais, mas elas também carregam limitações materiais e
possibilidades. As respostas a esses textos têm consequências reais, que são vivenciadas
dentro do terceiro contexto, o da prática”. É nessa perspectiva que procuraremos analisar as
ressignificações das ações dos docentes no contexto da sala de aula/contexto da prática, a
partir da política do Projeto Professor Conectado.
Assim, o computador, como ferramenta das novas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC), tende a modificar o tempo e o espaço no qual é inserido. Nos
estabelecimentos educacionais, notamos a significativa predominância do computador, no
entanto, nem sempre essa ferramenta tecnológica é utilizada como recurso que possibilita fins
pedagógicos.
Nesse sentido, apesar de as novas tecnologias proporcionarem subsídios que podem
contribuir para a melhoria da educação, infelizmente, em meio a sociedade atual, ainda nos
deparamos com escolas que utilizam os computadores apenas como digitadores de alguma
tarefa escolar ou simplesmente como armazenador de dados ou registros, a fim de tão somente
substituir ou minimizar as “toneladas de papéis” que outrora predominavam nas escolas.
Concordamos com Kenski (2012), ao mencionar que o computador se encontra como
umas das tecnologias da comunicação e da informação mais utilizadas nos espaços escolares.
Entendemos que se o seu uso não se consolidar de forma direcionada pedagogicamente nos
contextos da educação escolar não possibilitará alterações significativas que venham a
59
Nesse sentido, para que o computador seja um elemento que contribui para a melhoria
da educação e que pode proporcionar ressignificações dos conteúdos a serem ministrados
pelos docentes, é necessário que seja utilizado como um mediador que possibilita o suporte
para as ações pedagógicas.
Por corresponder a uma ferramenta pedagógica detentora de variadas habilidades,
como a de digitar, a de pesquisa conteúdos e atividades educacionais com o apoio da internet
etc., o computador, ao ser utilizado pedagogicamente, pode contribuir de muitas maneiras
para a ação docente, vindo a melhorar significativamente o ensino.
Sobre isso, com base nos estudos de Borges (1999) e Almeida (2000), percebemos que
o uso do computador é capaz de possibilitar, ao docente, diversos caminhos para trabalhar em
sua prática, contribuindo para a ampliação dos conhecimentos sobre o conteúdo que pretende
ensinar, ao mesmo tempo que facilita a compreensão do discente no processo de
aprendizagem.
Enfatizamos ainda que o computador, tido como um recurso midiático, é colocado
como um subsídio pertinente para se trabalhar com os alunos, já que é um meio rápido,
dinâmico e interativo de conseguir uma informação que possibilita a sistematização do
conhecimento. Dessa forma, “[...] o computador pode tanto passar informação ao aprendiz
quanto auxiliar o processo de construção do conhecimento e de compreensão do que fazemos”
(VALENTE, 1999, p. 83).
Com base em Valente (1999), o computador se coloca como recurso pedagógico de
instigação para os discentes, pelo fato de possibilitar múltiplas formas de usos, principalmente
quando é utilizado com o auxílio da internet, que permite acesso a informações em um curto
espaço de tempo e possibilita a comunicação entre sujeitos sem precisar do conato físico.
Assim, cabe ao docente em seu papel de educador saber associar o interesse do aluno
pelo computador e procurar desenvolver seu lado criativo, tentando desenvolver atividades
60
O autor nos permite perceber que o computador enquanto uma tecnologia sofisticada
pode ocasionar mudança significativa nos indivíduos que praticam o seu manuseio, pois
permite a aproximação com a informação e o conhecimento de “mundos” até então
desconhecidos. Além disso, o computador pode ser uma ferramenta de grande utilidade, pois
pode fornecer subsídios indispensáveis para o exercício profissional, no caso dos professores
em suas ações pedagógicas. Cabe a esses profissionais se posicionarem criticamente e
analisarem as vantagens e desvantagens que essas ferramentas pode lhes proporcionar.
Atualmente, a informação, a praticidade e a comunicação estão ao alcance de um clik,
precisando somente ter a ferramenta adequada. No caso da política do Projeto Professor
Conectado, essa ferramenta é o computador. Ou seja, “São possibilidades reais inimagináveis
há pouquíssimos anos e que estabelecem novos elos, situações, serviços, que, dependerão da
aceitação de cada um, para efetivamente funcionar” (MORAN, 1995, p. 03). Assim, é preciso
61
Dessa forma, o computador é uma ferramenta didática na qual o seu uso possibilitará a
mediação necessária para que se alcance o ensino-aprendizagem dinâmico e sistematizado.
Assim, “o computador não é mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com
a qual o aluno desenvolve algo e, portanto, o aprendizado ocorre pelo fato de estar executando
uma tarefa por intermédio do computador” (VALENTE, 1993, p. 13).
Nessa perspectiva, o computador é um recurso didático que pode facilitar tanto o
processo do ensino do professor como o processo do aprendizado do aluno. Além disso, essa
ferramenta trabalhada como recurso pedagógico, podendo ser uma aliada no que se refere à
construção de conhecimentos ainda não existentes dos professores e dos alunos.
62
16
No intuito de preservar a identidade dos nomes dos entrevistados, optamos a nomeá-los, nesta pesquisa, por:
Professor 01, Professor 02, Professor 03, Professor 04, Professora 05 e Professor 06.
63
docente, pois ainda são muitos os casos em que os educadores, ao saírem da universidade, se
acomodam e raramente procuram continuar sua formação.
Vale ressaltar que, mesmo com as titulações, os docentes permanecem trabalhando na
educação básica, já que normalmente os educadores que possuem uma pós-graduação stricto
sensu procuram logo ingressar a sua carreira profissional no ensino superior. Não queremos
dizer que isso não possa acontecer, mas se entende que a educação básica também é um
espaço que necessita de professores capacitados.
Sobre o tempo de profissão dos docentes, notamos que existem educadores que atuam
tanto na profissão como na escola em períodos que variam entre 03 e 20 anos de carreira. Essa
diferença de tempo pode ser determinante no que se refere à limitação do uso das ferramentas
digitais por alguns docentes, tendo em vista que os que mais utilizam as tecnologias digitais
em sua prática educativa são aqueles que pertencem a um contexto histórico atual, enquanto
que os que possuem mais tempo de trabalho tendem a sentir dificuldades no manuseio dessas
ferramentas e, às vezes, preferem não aderir à utilização desses aparatos em suas ações
docentes.
Compreendemos que o tempo de carreira vivenciado por cada professor pode ser
considerado como influente sobre a maneira de pensar e agir desses profissionais. As
diversidades de posicionamentos apresentadas pelos docentes podem ser compreendidas se
levarmos em consideração os seus diferentes contextos formativos.
Nesse sentido, levando em consideração a breve caracterização dos docentes,
abordamos a seguir a visão desses profissionais acerca do Projeto Professor Conectado. Para
tanto, fundamentamo-nos em cinco (05) perguntas norteadoras. A primeira buscou conhecer
como o docente ficou sabendo do Projeto Professor Conectado A segunda procurou saber se
ocorreu algum encontro formativo no intuito de explicar os objetivos dessa política. A terceira
questão visou conhecer como foi a entrega dos computadores portáteis e dos tablets aos
professores. A quarta buscou entender a consideração do docente sobre a forma como o
Projeto foi desenvolvido. A quinta, por fim, diz respeito à participação dos docentes nos
cursos ofertados pelo Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE).
Pronto. Então, eu já atuava em outras escolas da rede pública e esse Projeto foi
divulgado pela Secretaria de Educação e tudo, através da 12ª DIRED também né, de
que iria nos chegar, primeiro foi o computador né, o notebook acho que em 2010, né
que é o ano do Projeto. Depois, posteriormente, o Tablet em 2012. Em 2012 nós
recebemos. Então, foi bastante comentado até nas escolas né, que nós estaríamos
recebendo um notebook que iria facilitar o trabalho em sala. Até então, naquele
período as escolas ainda careciam desses tipos de ferramentas para que o professor
utilizasse. [...] Em 2010 eu tive contato mesmo por meio da Secretaria da Educação
e foi muito propagandeado. [...] Eu já fiquei sabendo do Projeto com esse nome
Professor Conectado (ENTREVISTA PROFESSOR 04, MARÇO 2016).
Bom, esse nome Professor Conectado eu vim escutar agora quando você veio me
convidar para a entrevista. Eu nunca tinha ouvido falar do Projeto, que o nome do
Projeto era esse. Na verdade, quando foi lançado pelo governo do estado, a gente só
falava assim: o governo vai dar computadores para professores do ensino básico, e aí
a gente ainda tava lá na Universidade em 2010. [...] Inclusive isso gerou bastante
polêmica porque foi próximo de uma eleição, ah, tão querendo ganhar votos.
Conversa, vamos dizer assim, da população, conversas mesmo que vinham da
sociedade. Então, assim, eu não escutei o nome, eu não me fixei ao nome do Projeto
que era Professor conectado e em 2010 já saiu com esse nome, né isso? Então, eu
não conhecia pelo nome, mas eu sabia que ia ter essa questão dos computadores.
Então, por nome eu não tive, vamos dizer assim, informação desse Projeto. Fiquei
sabendo depois que eu entrei na escola [...]. Inclusive, eu via alguns colegas com os
computadores todos iguais, aí a gente chegava perto e perguntava: vocês compraram
no mesmo canto, no mesmo dia, aí eles diziam: não, aqui são os computadores que o
Estado deu. Isso era o que eu sabia do Projeto até então. Eu entrei depois, em 2012,
então eu não fiquei sabendo pelo nome, só através de conhecimentos popular
mesmo. Que foi espalhado que iam distribuir esses computadores (ENTREVISTA
PROFESSOR 02, FEVEREIRO 2016).
Na fala do Professor 02, percebemos uma dicotomia com a fala dos Professores 01 e
04, referente à forma como ficaram sabendo do Projeto. Enquanto os Professores 01 e 04
receberam informações claras da política, tanto gerais como burocráticas, advindas da própria
12ª DIRED, vinculada a SEEC, o Professor 02 demonstra em sua fala que não foi bem
informado sobre o Projeto.
A forma de conhecimento sobre a política chegou ao Professor 02 informalmente,
resultante de conhecimentos adquiridos por meio da sociedade. Ressaltamos que o Professor
02 passou a fazer parte da equipe de docentes da rede estadual anos depois que a política
chegou à escola onde trabalha atualmente. Assim, acreditamos que há possibilidades de esse
ser o principal motivo de uma falta de informação mais consistente sobre a política.
O docente ainda destaca a possibilidade de interesses políticos/partidários por trás
dessa proposta política, a partir da qual seria possível conseguir votos, apontados
polemicamente pela população, haja vista o Projeto ter sido pensado e desenvolvido em época
de eleições para presidente.
66
Eu fiquei sabendo por você. Eu não sabia desse Projeto Professor Conectado não.
Não tem pra que eu tá mentindo [risos]. Eu estou sabendo agora que você está
apresentando o Professor Conectado. [...] Recebi as ferramentas do projeto, agora
assim esse nome, talvez assim, é o termo né? Projeto Professor Conectado, pra mim,
é novo. Agora a questão, assim, da informatização, de conteúdo, de professor
trabalhar em sala de aula as novas tecnologias, como é que chama? As TIC né? Isso
aí não, isso aí não é novidade pra mim, não [risos]. Mas assim, o nome do projeto,
Projeto Professor Conectado, assim, eu não sabia não. [...] O governo do estado fez
essa política de divulgar isso né. Que viria primeiro notebook, como realmente veio,
e depois o tablet que eu nunca recebi. Eu não recebi o tablet, mas o notebook foi
direitinho, até quando eu pude fazer fichamentos, fazer uns slides, o próprio curso
do ProInfo ele vai ensinando essas técnicas de como se trabalhar em sala de aula o
notebook, o tablet, né (ENTREVISTA PROFESSOR 03, FEVEREIRO 2016).
Podemos perceber certa semelhança entre o que foi exposto pelo Professor 03 e a fala
do Professor 02, quando afirma que o nome do Projeto Professor Conectado é algo
desconhecido. Porém, observamos que o Professor 03 diverge do Professor 02 quando destaca
que ficou sabendo do Projeto por meio das divulgações realizadas pelo governo do estado.
O Professor 03 se refere aos processos de entrega das ferramentas, já que o governo
cedeu os computadores em 2010 e os tablets em 2013, como consta no documento do Termo
de Recebimento, Guarda e Responsabilidade. Enfatiza que, mesmo atuando por muito tempo
como professor da rede estadual, somente conseguiu ter acesso a um computador por meio do
Projeto. Pontua a Política do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) como
viabilizadora de cursos que ajudam no manuseio das ferramentas a serem utilizadas em suas
práticas educativas.
Sobre o mesmo questionamento, a Professora 05 aborda de forma bem sucinta que
ficou sabendo da política pela própria instituição: “Avisaram-nos que a gente ia participar e
receber os equipamentos, e foi isso” (ENTREVISTA PROFESSORA 05, MARÇO 2016).
O Professor 06, quando questionado sobre a mesma pergunta, destaca:
67
Eu vi pela internet. Entramos no site do professor né. Esse Professor Conectado, até
porque não veio nenhum curso sobre isso aí não, mas o que eu soube dele foi através
da internet. Não teve nenhuma divulgação na escola, não. Se teve, eu não escutei
sobre isso (ENTREVISTA PROFESSOR 06, MARÇO 2016).
Não, pra mim não. Até por que isso aí ta muito recente pra eu ter esquecido né. E
primeiro, que eu não tenho memória curta, graça a Deus. To ficando velho, mas a
minha memória é muito boa. Então, assim, se houve eu não fui informado, porque...
Só houve assim, a divulgação de que o governo do estado iria dar um notebook e
depois mais na frente viria um tablet, mas assim um curso pra preparar isso atrelado
ao programa não teve não (ENTREVISTA PROFESSOR 03, FEVEREIRO 2016).
Conectado, era mais a etapa da entrega do tablet. E aí tivemos meio que uma oficina
rápida sobre o ligar, desligar, aplicativos, né, como era que facilitaria essa coisa
toda, ferramentas de pesquisa, mexer na elaboração de prova [...]. Teve sim esse
encontro, mas confesso que na realidade ficou meio interrompido depois né, não
houve uma continuidade dessa capacitação. A gente sabe que essas ferramentas, elas
estão sempre se atualizando né, os acessórios, esses aplicativos, principalmente pra
uso de tablet, estão sempre inovando e outros estão surgindo e substituindo os
velhos. Mas, é, eu não me recordo de ter sido convidado para um outro não. Posso
também estar sendo negligente entendeu, de não estar também buscando [...]. Então,
não teve um encontro formativo mesmo no intuito de formar o profissional para o
manuseio da ferramenta do Projeto, não. Com uma carga horária satisfatória não,
pelo menos assim eu julgo. Foi muito mais um encontro de apresentação na própria
entrega do tablet houve essa apresentação [...]. Mas, como curso preparatório não,
com carga horária satisfatória não (ENTREVISTA PROFESSOR 04, MARÇO
2016).
Pelo que eu me lembre, não. Não tô lembrado. Para discutir sobre esse trabalho que
está se fazendo aqui na escola, se parou para se discutir, não se parou pra discutir. A
não ser algumas coisas e informações que os professores vão conversando. Mas, se
parou eu não estive presente. [...] Primeiro, as ideias e propagandas que eu vi pela
internet foi que vinham os tablet, os computadores para os professores. Isso aí, eu vi.
Mas, eu tô falando relacionado ao governo do estado. Como governo do estado, a
propaganda ele fez muito bem, isso aí não falta não. Propaganda, o governo faz
muito bem. Agora, atender as possibilidades do uso do material, ele não fez. Porque
o material no caso foi o governo federal que encaminhou, não foi nem o governo do
estado, foi o governo federal [...]. Então apoio do estado em si de formar o professor
para utilizar o material, como deve ser utilizado, quais são as possibilidades dele,
todo um curso de formação em si, com detalhe de avanços não teve, a não ser algo
muito superficial (ENTREVISTA PROFESSOR 06, MARÇO 2016).
O discurso da Professora 05 sobre essa questão não foi diferente, destacando: “Não.
Só chegaram e distribuíram. O do computador foi até bem prático. Já o do tablet foi um
horror, uma fila enorme, gigantesca. A governadora falando e pronto. Só isso. Nada muito
voltado mesmo para o tablet não, e de uso, pior ainda” (ENTREVISTA PROFESSORA 05,
MARÇO 2016).
Nesse sentido, mediante a análise das respostas, podemos considerar uma unanimidade
referente à inexistência dos encontros formativos no intuito de explicar os objetivos da
política do Projeto Professor Conectado e de melhorar o uso dos recursos tecnológicos com
determinado domínio pelos docentes.
Com base na realidade empírica, percebemos que ocorreu uma discussão com a
finalidade de divulgar a política em si, mas não houve maiores interesses direcionados à
maneira como o docente deveria ou poderia utilizar os equipamentos em suas ações
educativas, ou seja, as orientações acerca dos usos dos recursos tecnológicos para a ação dos
educadores não foram direcionadas e muito menos suficientes para serem consideradas como
uma formação.
69
tão somente para falar sobre esse dispositivo, quais seriam as ferramentas que estariam nele e
para fazer a conta no gmail.
Assim, ressaltamos que, felizmente, no caso da maioria dos docentes entrevistados, a
ausência dessa formação mais aprofundada sobre o recurso tecnológico disponibilizado pelo
Projeto não foi motivo para a sua não utilização, pois já possuíam conhecimentos sobre a
ferramenta. Porém, a ausência dessa discussão aprofundada foi pontuada como um dos
principais motivos para a limitação do uso desses recursos em algumas atividades
educacionais.
Ao refletirmos sobre as falas dos docentes dos dois contextos escolares pesquisados,
percebemos pontos semelhantes referentes à ausência de encontros formativos e orientações
sobre a referida política educacional. Essa é uma situação delicada, pois os docentes deveriam
possuir o conhecimento sobre as finalidades da política, suas responsabilidades com os
aparatos tecnológicos, bem como a forma de utilizá-la, como destaca o Termo de
Recebimento, Guarda e Responsabilidade (2010) do Projeto Professor Conectado:
A terceira pergunta feita aos professores foi a seguinte: como ocorreu a entrega dos
computadores portáteis e dos tablets? Sobre esse questionamento, os Professores 01, 03, 05 e
06 apresentaram pontos semelhantes em suas falas, como destacam:
Aconteceu lá na UERN, foi a entrega desses notebooks pela DIRED. Então, foi lá
numa quadra de esportes, lá da UERN, que foi entregue. Foram todos entregues os
equipamentos, até hoje eu tenho o meu. Foi entregue para as escolas, tinha as
escolas, e você chegava lá, apresentava o contracheque, dizia o seu nome a escola
onde era lotado, e pronto, só isso mesmo. Vinha um Kit, uma bolsa, o notebook e os
cabos que ligavam, só isso (ENTREVISTA PROFESSOR 03, FEVEREIRO 2016).
Foi em um local aqui, se eu não me engano foi numa escola. Os tablets, o estado
recebeu do governo federal e marcou um local, reservou um espaço na escola, se eu
não me engano foi no Garbos e numa escola, e lá foram feitas as entregas dos
computadores. [...] E apenas o que se fazia, entregava os materiais ao professor,
colocava-se uma senha e ele levava pra casa. Assinamos os termos. Então, foi
entregue dessa maneira. Por isso que eu acredito que boa parte do material está sem
qualidade. Eu tô com o meu praticamente sem uso, tô sem usar, primeiro que já deu
defeito, não tem a peça do material do tablet. Como o material não foi bem usado,
como o pessoal não foi bem preparado, como não foi feito todo um
acompanhamento do professor para a utilização, possivelmente, e além da máquina
quando o governo seleciona ou faz por processo de licitação de empresa,
possivelmente a empresa tenha, vamos fazer aqui uns cinquenta mil computadores,
quando aumenta essa possibilidade barateia o valor, possivelmente, eles tenham
diminuído a vida útil da máquina. Eu não sei, e como o professor também não sabia
usar, então eles foram na base de tentativas, usando o material da forma que lhes
convém. [...] O problema é você dizer isso aqui não deve fazer isso por conta disso e
daquilo outro, a máquina não resiste a isso, a máquina não trabalha a certa
temperatura tal. Então, é preciso essas informações mais avançadas, e não dizer
como é que liga e como desliga. O manual, se tem no manual não precisa, eu quero
saber além do que tá no manual, porque o manual é o básico de usar (ENTREVISTA
PROFESSOR 06, MARÇO 2016).
As falas dos professores propõem uma visão geral acerca da realidade de alguns
aspectos relacionados à entrega dos computadores e dos tablets proporcionados pelo Projeto
Professor Conectado nos dois contextos escolares.
Nesse sentido, os professores deixam claro que a entrega dos computadores portáteis
ocorreu no Ginásio da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), da qual
todas as escolas foram convidadas a participarem. Já os tablets foram entregues no Hotel
Garbos.
Percebemos no discurso dos docentes a afirmativa de que esses encontros não
ocorreram com finalidades formativas sobre os objetivos do Projeto e o uso das ferramentas,
mas como uma forma que o governo encontrou para chamar atenção sobre o que estava
propondo, fugindo do seu objetivo, que deveria ser a capacitação, a formação do docente e a
finalidade da política. Essa questão pode ser confirmada quando percebemos as inúmeras
fragilidades apresentadas pela política, entre elas, a descontinuidade de assistência formativa
percebida nos discursos dos docentes.
Notamos ainda a ausência de financiamentos por parte dos órgãos públicos para os
docentes ao receberem o computador portátil e o tablet, muito menos se abriu a possibilidade
de optarem por alguma preferência de marca ou modelo, tudo foi gratuito e a critério dos
órgãos responsáveis pelo Projeto, como bem explicitado no documento Termo de
Recebimento Guarda e Responsabilidade (2010):
73
Outro ponto refletido nas falas dos docentes refere-se às fragilidades sobre a política,
como, por exemplo, o surgimento de problemas nas ferramentas disponibilizadas. Segundo o
Professor 01, apesar de não ter recebido o computador portátil, soube de muitas lamentações
sobre o mau ou curto funcionamento dos aparatos tecnológicos, sendo que a situação dos
problemas ocasionados nos tablets foi bem pior.
Essa afirmativa entra em divergência com o descrito no documento, já que as
ferramentas tecnológicas tinham uma proposta de garantia de até dois 02 (dois) anos de uso,
porém no contexto prático a realidade foi outra. Outra fragilidade da política corresponde à
escassez referente à assistência a esses materiais tecnológicos.
Dessa forma, percebemos que, mesmo tendo um técnico à disposição dos recursos,
como consta no documento do Projeto, não foi suficiente para atender as demandas deixadas
pelo Projeto. As burocracias existentes na organização do sistema de ensino acabavam
prejudicando a possibilidade de consertos desses equipamentos. Era muita burocracia para
pouca assistência e manutenção.
De acordo com o Professor 06, uma possibilidade de justificar o problema simultâneo
e frequente nos aparatos tecnológicos proporcionados pelo Professor Conectado seria a
numerosa quantidade de computadores construídos num mesmo período, uma vez que essa
política foi desenvolvida em vários estados brasileiros.
Acreditamos que, em virtude da demanda dos aparatos tecnológicos, há uma
significativa possibilidade de os problemas ocorrentes nesses equipamentos estarem
relacionados às suas construções aligeiradas pela indústria que os fabricaram. Nesse sentido,
por se tratar de uma grande quantidade de equipamentos tecnológicos, pode ter acontecido
que a empresa não tenha dado a devida atenção no momento da produção dessas ferramentas.
Não sabemos se esse fato é verídico, mas, diante dos discursos dos docentes entrevistados, é
uma possibilidade a se pensar.
Ressaltamos a insatisfação destacada pela Professora 05, referente à falta de
organização estabelecida no momento da entrega dos equipamentos tecnológicos
disponibilizados pelo Projeto, principalmente, a do tablet, que, apesar de ter acontecido em
74
local mais elegante, o que submete uma expectativa de maior conforto aos educadores ali
presentes, foi na realidade uma situação exaustiva e desagradável.
Questionados sobre a entrega dos notebooks e dos tablets, os Professores 02 e 04
enfatizam:
Bom. Então, a entrega do meu computado portátil foi feita pela DIRED mesmo, pela
12ª DIRED. Eu entrei em contato com o pessoal pra saber se o Projeto Professor
Conectado ainda valeria pra quem tivesse entrando depois de 2010, me disseram que
sim, e eu recebi realmente pelas coordenadoras do Projeto lá na DIRED. A entrega
do tablet já foi realmente algo feito coletivo né, a gente teve um encontro, um
momento num centro de convenção da cidade, eu acho que no Garbos, no centro de
convenção do Garbos, onde todo corpo docente foi convidado em um dia específico
para receber esses tablets. Então tinha muita gente, foi apresentado o projeto, tinha a
presença do secretário e outras autoridades da educação, diretores e professores teve
a oportunidade de receber ali coletivamente. Eu creio que todas as escolas foram
convidadas, porque me parece que foi em apenas um dia, então todas as escolas
foram convidadas. Quero pensar e até acredito que tenha acontecido de que nem
todo mundo recebeu o tablet naquele dia, entendeu, porque ali era a entrega oficial.
Depois, posteriormente, você poderia requerer junto a direção da sua escola ou até
mesmo na DIRED, o tablet, por não ter ido no dia específico (ENTREVISTA
PROFESSOR 04, MARÇO 2016).
Os Professores 02 e 04 somente tiveram acesso aos notebooks cerca de dois anos após
o desenvolvimento do Projeto, correspondendo ao ano em que foram convocados pelo
concurso público do estado. Nesse sentido, como entraram na escola somente depois da
política já efetivada, não participaram do recebimento coletivo que ocorreu no ginásio da
UERN.
Os recebimentos dos notebooks pelos docentes aconteceram pela 12ª DIRED. Já os
tablets foram recebidos coletivamente junto com os demais professores no Hotel Garbos. É
possível perceber na fala dos docentes que também não receberam informações adicionais
sobre como deveria utilizar o computador. Foi alertado tão somente que deveriam manter o
75
O quarto questionamento buscou saber qual a visão dos docentes sobre a forma como
o Projeto Professor Conectado foi desenvolvido. No tocante a essa questão, os Professores 01,
02, 03, 04, 05 e 06 apresentaram argumentos semelhantes:
Falho, porque não teve essa formação. Por exemplo, na questão dos computadores,
tem-se uma ideia de que todas as pessoas sabem usar essa ferramenta, mas não é
verdade. Então nós temos, na época dos computadores, tínhamos colegas que já
estavam perto da aposentadoria, não tinham muito costumes de usar essas
tecnologias, né? Então, alguns receberam, mas não sabiam como utilizar. Por
exemplo, preparar slides, não sabiam utilizar o programa. Então, primeiro capacitar
o professor para ele entender o que é o Projeto, quais os objetivos do projeto, pra
depois manusear essa ferramenta. Foi muito falho isso aí. Alguns colegas, por
exemplo, que utilizavam transporte coletivo, não traziam o computador para escola
porque tinham medo de ficar na parada de ônibus, aí já entrava algumas questões
sociais, da segurança pública da nossa realidade. Vai ficar com o computador lá na
parada de ônibus, de repente. [...] Assim, eu acho que o projeto, ele foi e é
necessário para a realidade, mas, infelizmente, ele assim como muitos outros
projetos, ele começou de cima pra baixo, na minha opinião (ENTREVISTA
PROFESSOR 01, DEZEMBRO 2015).
técnico responsável para fazer os consertos, deixei aqui na escola pra consertar,
deixei no final do ano, virou de um ano pro outro e quando eu falei com a diretora,
ela falou não, eles disseram que já passou da garantia. Então, levei pra casa, tentei
ajeitar por conta própria, mais ainda assim não está funcionando. [...] Essa formação
do tablet realmente não teve, de como aplicar, pegar aqui e colocar e passar pro
notebook e utilizar. Falaram lá que a gente ia encontrar bastante aula, ferramenta no
portal do MEC, só era entrar, baixar. Só que os tablet apresentaram esse problema.
[...] Os colegas preferem usar os celulares, porque o tablet realmente teve alguns
problemas. Aí o computador eu já vejo eles utilizando, mas alguns aí quando olha
para o meu e ver eu utilizando, eles dizem, o seu ainda tá vivo, pois o meu já se foi,
já gastei tanto no meu, foi muito rápido. Reclamam da marca que foi escolhida,
dizem que não era uma marca muito boa. Mas, a gente sabe que um Projeto desse
são milhões envolvidos, então o estado também não pode dá uma marca que está em
evidência, por exemplo, Del, Hp [...]. O estado não pode dá um computador numa
marca dessas, porque é muito dinheiro público utilizado aí. Então, imagine aí
quantos milhões não seriam. Então, escolheu uma marca mais acessível com
parceria com o programa, mas a maioria mudou do Linux para o Windows, não
ficou o Linux porque não teve formação para utilizar o Linux. Então, eles preferem,
mesmo assinando tudo lá, os papéis né, preferem usar o Windows, porque realmente
é complicado usar o Linux e não teve formação para aprender a usar [...]
(ENTREVISTA PROFESSOR 02, FEVEREIRO 2016).
[...] No meu caso, eu não tinha curso de informática e sem ter tempo de fazer na
época, né? Então, acho que deveria ter trabalhado esse projeto bem antes as
deficiências dos professores na área de informática, né, se tinha algum
conhecimento, né? Eu acho que esse projeto é um projeto bom, porque tudo aquilo
que vem pra melhorar a educação é louvável. Agora eu acho que deveria ter sido
trabalhado de uma outra forma certo? Pra não ter essa deficiência que hoje eu tenho.
Até nessa entrevista com você eu tenho, porque assim, a maneira como se deu foi
dessa forma como eu estou te falando, né? Apenas de entregar um computador pra
mim, que eu não conheço muito bem o instrumento, o equipamento, né? E pronto.
Então assim, deveria ter sido trabalhado assim, com a realidade dos professores [...].
Eu sou prova, que tipo de aula eu dou para os meus alunos? Ou dava até então? Só
aulas expositivas. No máximo o que? Um filme, um mapa, uma pesquisa
bibliográfica. Aí de repente eu me vejo com um instrumento assim avançado [...]
(ENTREVISTA PROFESSOR 03, FEVEREIRO 2016).
[...] inicialmente o projeto foi magnífico. O projeto veio pra realmente tornar até
mais dinâmico essa prática em sala de aula. Bom para o professor e para o aluno. No
entanto, [...] é como a gente conversou anteriormente, talvez a ideia da continuidade
de uma formação né, naquela coisa de não só entregar o tablet e, ah beleza professor
taí, agora você já pode planejar as coisas, belas aulas, suas aulas show aí, agora você
já tem como fazer, não. Esse acompanhamento ele teria que ser feito né, tanto pra
capacitação da utilização do aparelho como também pra manutenção. Eu já vi alguns
colegas em relação ao notebook, principalmente, muitos colegas reclamaram do
notebook ter falhado logo, rápido e dado o prego, vamos falar no nordestinês [risos],
logo rápido e com o tablet também. Então assim, essa assistência de suporte técnico
realmente a gente não tivemos de perto não. O tablet não tá funcionando, vamos lá
na DIRED, vamos ver o que a gente pode fazer lá. Geralmente era assim ou você
recebia um tablet novo e aí eles recolhiam e enviavam, eu acho pra Natal, para a
assistência técnica, ou então, você recebia um tablet novo, no meu caso eu até me
recordo, eu recebi um notebook novo porque o meu veio com o HD queimado, já de
início, e nem ligava. [...] Eu fiquei com o novo e eles ficaram com o que não tava
funcionando pra assistência técnica. Então eu acho que principalmente em relação a
esse suporte técnico né, ficou a desejar demais. E também em relação à capacitação
mesmo certo, acompanhar, ver como tá evoluindo, transcorrendo a coisa né. Depois
da entrega a gente já tem já quase três anos, mais de três anos da entrega do tablet
né, e o que vejo é que foi um projeto massa que foi entregue em 2012, beleza e
pronto. Nesse exato momento, o meu notebook ainda funciona perfeitamente, mas o
meu tablet não. É tanto que eu por conta própria, haja vista que não tinha mais como
77
recorrer a uma assistência técnica, eu procurei uma assistência técnica particular pra
ver se eu conseguiria voltar a fazer funcionar. E aí eu acho que nesses dias eu vou tá
recebendo ele de volta. Especificamente agora, aconteceu isso nesses dias atrás
(ENTREVISTA PROFESSOR 04, MARÇO 2016).
Teria tudo para ser legal se tivesse tido, assim, um treinamento prévio. Como eu
disse anteriormente assim, eu sei mexer com isso, mas eu conheço muitos colegas
nossas que nem tiraram eles da caixinha, porque não sabem usar ou teve alguns que
entregaram aos filhos pra ficarem manuseando porque, eles mesmos, não sabiam
utilizar (ENTREVISTA PROFESSOR 05, MARÇO 2016).
Bom, a forma pra mim, não foi boa não. No meu ver foi sem os devidos cuidados
necessários. Os computadores chegaram? Chegaram. Os tablet chegaram?
Chegaram. Agora, procure saber quantos professores, hoje ainda, estão usando os
computadores ainda, ou os tablet. Ninguém mais, praticamente. Você encontra quase
ninguém usando mais, porque eu fui precisar usar para a escola recentemente, pra
mim, pra cá, alguns programas não estão podendo entrar, não estão aceitando. Então
quer dizer ele foi preparado para a educação, mas alguns recursos que vou usar não
tá funcionando mais (ENTREVISTA PROFESSOR 06, MARÇO 2016).
ferramentas por receio de serem assaltados. Isso acaba limitando também o uso desses
equipamentos diretamente na escola onde trabalham.
Sob tal cenário, apesar das inúmeras ponderações relacionadas às limitações existentes
no desenvolvimento do Projeto, de modo geral, os docentes classificam o Projeto como uma
iniciativa interessante, satisfatória, pois acreditam que somente o fato de ter ocorrido a
distribuição dos equipamentos tecnológicos para os docentes já é uma vantagem para a
educação.
Concordamos com essa visão, uma vez que, para adquirir essas ferramentas por conta
própria, cada docente teria que contar com uma condição financeira favorável, principalmente
se pensarmos na época em que essas tecnologias foram distribuídas. Então, o ato de entrega
dos recursos e o fato de possibilitar aos docentes o acesso aos recursos tecnológicos já se
revelam como uma contribuição para a educação, pois, com as ferramentas digitais, os
docentes podem receber novos sentidos para suas ações educativas, bem como estabelecer
ressignificações por meio de adaptações e inovações no contexto da prática (MAINARDES,
2007).
No entanto, concordamos com Professor 02 quando destaca que, apesar da
contribuição proposta pelo Projeto ao meio educacional, ficaram alguns aspectos a desejar.
Assim, acreditamos que para que todos esses interesses sejam contemplados os professores
deveriam ter recebido assistência continuada também no contexto da prática onde a política
entra em ação por meio do trabalho dos docentes.
Outro ponto interessante apresentado na fala do Professor 02 é quando destaca que
praticamente todos os professores mudaram o sistema operacional Linux para o Windows. Ao
relacionarmos esse fato com o que defende o Termo de Recebimento Guarda e
Responsabilidade (2010), observamos um desacordo, pois o documento propõe a não
substituição do sistema operacional Linux, “podendo ser feito somente com licença original,
no caso de programas proprietários”.
No entanto, defendemos que a mudança entre os sistemas educacionais por alguns
docentes pode ser compreendida, se refletirmos sobre as fragilidades deixadas pela Política
em seu desenvolvimento no contexto prático desses educadores. Entendemos que o Linux é
um sistema pouco conhecido e pouco trabalhado pelos docentes, então, se já havia dificuldade
de trabalhar com os computadores portáteis, distribuídos pelo Projeto, em face de todo o
problema apresentado, imagina a dificuldade que não seria trabalhar com um sistema
operacional para o qual esses profissionais não possuem domínios sobre os conhecimentos
básicos.
79
17
Os Núcleos de Tecnológicas Educacionais “NTEs se configuram como ambientes computacionais com equipe
interdisciplinar de Professores Multiplicadores e técnicos qualificados, para dar formação contínua aos
professores e assessorar escolas da rede pública (Estado e Município), no uso pedagógico, bem como na área
técnica (hardware e software)”. Disponível em:
<http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/nte.jsp?ACAO=acao1>. Acesso em: 19 abr. 2016.
81
12° DIRED (MELO, 2013). Nesse sentido, o quinto questionamento procurou saber se os
docentes têm participado dos cursos oferecidos pelo NTE. A esse respeito, os Professores 01,
02, 04 e 05 destacaram:
[...] Teve um curso aqui na escola que o pessoal veio pra falar sobre a Lousa Digital.
Foi um recurso que chegou na escola também, que foram essas lousas, mas eu
participei desse curso. A moça lá do estado chegou, explicou como é que usava a
lousa e tal [...]. Que também é Linux, continua com o mesmo problema, o pessoal já
todo acostumado com o Windows né? [...] Ela fez através desse Núcleo né, o NTE,
como você falou, eu lembrei agora que ela falou sobre isso. Então ela veio e deu
essa formação pra gente. Do tablet não teve essa formação só disseram o que tinha,
mas para mexer no tablet, nada foi informado pra gente. Então, eu tenho essa
questão por causa do tempo. [...] Certo, então teve essa formação, mas eu ainda
tenho essa resistência por causa da falta de tempo e a própria escola tem a resistência
de está preparando a sala pra receber a lousa porque o aluno é uma coisa
inexplicável, a gente não entende o quê que se passa por alguns alunos. Eles
simplesmente vão lá e arrancam o material que vai ajudar, vai deixar a aula mais
dinâmica, aí eles ficam pedindo professor faz uma aula diferente, e quando a gente
vai fazer, que tem essa possibilidade da lousa que inclusive o aluno pode ir lá no
quadro, interagir com a lousa e tal né. A formação serviu pra isso também, os
professores levantavam e iam participar e foi falado, olha, isso aqui pode ser
utilizado para o aluno, fazer com que o aluno participe. Então, a formação no que
diz respeito a lousa digital a gente teve, não teve do tablet e não sei do computador
né. (ENTREVISTA PROFESSOR 02, FEVEREIRO 2016).
Em relação ao NTE, converso que eu não participei de nenhum não. Acho que pela
conveniência de horários também específicos, né. Outro dia até ocorreu o convite e
tudo, mas eu não tive a oportunidade de ir participar não. A não ser, eu acho, que
não foi o NTE que promoveu, mas lá atrás quando a gente recebeu os tablet, né
houve um encontro, um encontro pedagógico, mas um encontro mesmo só pra gente
se familiarizar com os aplicativos que os tablet proporcionariam para melhorar a
prática do professor. Mas acho que não foi algo planejado pelo NTE não. Foi bem lá
no início (ENTREVISTA PROFESSOR 04, MARÇO 2016).
A Professora 05, no que diz respeito à participação nos cursos oferecidos pelo NTE,
enfatiza que “não. Eu costumo participar nos cursos mais específicos da nossa área”
(ENTREVISTA PROFESSORA 05, MARÇO 2016).
A fala dos professores nos permite perceber a não participação deles nos cursos
ofertados pelo NTE. Os Professores 01, 02 e 04 deixam claro que os cursos disponibilizados
pelo Núcleo não têm sido suficientes para capacitar os docentes, pois seus horários coincidem
com os horários de aulas, o que impossibilita a participação ativa dos educadores.
82
Outro ponto colocado como justificativa para a não participação dos cursos ofertados
pelo NTE refere-se ao destacado pela Professora 05, quando aborda que não costuma
participar desses cursos por se interessar por cursos mais específicos da sua área de formação.
Diferentemente dos Professores 01, 02, 04 e 05, o Professor 03 apresenta em sua fala
uma participação ativa nos cursos formativos, fornecidos pelos Núcleos.
Esse processo de formação continuada é uma coisa que sempre acontece durante o
ano letivo com seminários, cursos de formação para professores. Assim, durante
todo processo. Toda a minha caminhada até hoje enquanto professor, graças a Deus,
eu sou de uma geração que eu estou sempre me atualizando com cursos de
formação. Agora principalmente com o ProInfo no meio da informática, né. Cursos
à vontade para o professor entrar na era da informatização, né, e cursos também
dentro da sua área específica, da área da história né. Alguns precisam que haja
esforço por parte do professor em ir aos encontros, aos seminários, aos congressos,
certo? Mas, sempre está sendo apresentado essa formação contínua, que só deixa de
existir quando a gente ou se aposentar ou quando morrer. Na medida do possível, eu
sempre participo, nunca deixei de participar não. [...] Os do ProInfo tinha alguns que
eram ministrados aqui e outros que eram ministrados lá no Núcleo, certo? Eu
participo muito mais desse do NTM da rede municipal, eu acho bem mais dinâmico
os que acontecem ali na escola de artes. Como eu sou também da rede municipal,
trabalho há 32 anos no município, eu posso participar dos dois, tanto dos cursos
oferecidos pelo NTE quanto do NTM. Tanto faz, quando aqui não está tão bem
administrado esses cursos, aí eu vou para os do município que eu acho bem mais
organizados (ENTREVISTA PROFESSOR 03, FEVEREIRO 2016).
Vale ressaltar que o Professor 03 foi o que apresentou, por meio da sua fala, maior
dificuldade no manuseio com as ferramentas ao ser questionado, anteriormente, sobre a forma
como a política foi desenvolvida, alegando a ausência de formação como o aspecto principal
que o inibiu desse uso.
No entanto, notamos em sua fala que este se classifica como um educador ativo e está
sempre participando, envolvendo-se nos encontros formativos propostos tanto pelo NTE
quanto pelo NTM18. Ainda assim, coloca a ausência de formação como empecilho para o
manuseio das ferramentas.
Ao analisarmos o que o docente explanou, ficamos confusos, uma vez que surge esta
indagação: como um docente se coloca como participante ativo dos cursos de formações
continuadas, relacionadas aos usos das novas tecnologias, e apresenta ao mesmo tempo em
sua fala tanta dificuldade para manuseá-las?
18
Assim como o NTE proporciona curso de formação para a utilização das escolas estaduais, o Núcleo de
Tecnologia Municipal (NTM) também propõe essa formação, contudo se volta para as escolas municipais da
rede pública de ensino. O NTM é sediado na Escola de Artes do município de Mossoró /RN.
83
Não, não porque assim, por uma parte esses cursos eram bons, mas não atendiam as
expectativas, porque assim, eu sempre queria aquela coisa, assim, bem básica de
computação, sabe? Eu pensava que o ProInfo começava por isso. Mas não, já ia
direto para fazer um blog, pelo menos nos cursos que eu participei, criar um blog,
coisas mais avançadas, sabe? Por exemplo, esses cursos que vêm online, eu
participei desses cursos online, que era para responder sobre drogas, essas coisas,
então o básico eu não aprendi. Eu tô aprendendo o básico agora porque eu fui lá pra
um curso de informática aqui da cidade. É uma escola de computação, porque no
ProInfo, eu não aprendi essas coisas não [risos]. Vim aprender a ligar, desligar, ir
para o Word, para o Excel, pra essas planilhas que aqui a gente trabalha, pra fazer
um slide, uma coisa assim, eu aprendi nessa escola de informática, por conta própria
(ENTREVISTA PROFESSOR 03, MARÇO 2016).
[...] NTE tem alguns cursos de computação, mas os cursos básicos, que eu já
conheço. A maioria dos cursos que o NTE passou que é o básico, aprender a mexer
no computador, esse aí eu já conhecia. Para alguns professores que não conheciam
então aí já era sem problema nenhum, era melhor, bom pro professor, mas pra quem
já conhece não tem avanço, você fica apenas com aquilo que já sabia. Então os
cursos que o NTE propôs era o básico, básico do básico. Não era coisa mais
aprofundada para trabalhar em sala de aula, e sim pra você aprender a mexer na
máquina, o computador. [...] Então, os curso que eu fiz pelo NTE, a maioria não
tive, assim, avanço de meus conhecimentos, porque eu já conhecia, a não ser alguns
84
programas que eles tinham que a gente passou a usar que tinha o Rived, que eu não
conhecia, aí esses programas tudo bem. Tinham algumas falhas às vezes até de
acessar com os alunos, até porque tinham alguns computadores que não estavam
funcionando. Então, não tinha como estar constantemente utilizando esse material.
Então, nessa formação do professor todo o aparato foi meu, claro com a ajuda da
direção, porque o governo do estado não contribui com nenhum centavo para
formação (ENTREVISTA PROFESSOR 06, MARÇO 2016).
[...] é preciso buscar informações, realizar cursos, pedir ajuda aos mais experientes,
enfim, utilizar os mais diferentes meios para aprender a se relacionar com a
inovação e ir além, começar a criar novas formas de uso e, daí, gerar outras
informações. Essas novas aprendizagens, quando colocadas em prática, reorientam
todos os nossos processos de descobertas, relações, valores e comportamentos.
atual estabelece. Assim, aumenta-se ainda mais o constante desafio de nos mantermos
atualizados com as novas informações que nos permeiam.
Nesse sentido, ao refletirmos sobre as respostas apresentadas pelos docentes
entrevistados referentes às questões analisadas neste capítulo, podemos ponderar que, no
contexto da prática, a política ganhou uma efetivação verticalizada, na medida em que, na
prática, não atendeu aos processos defendidos na Abordagem do Ciclo de Políticas de Ball e
Bowe (1992). Chegamos a essa conclusão pelo fato de não ter ocorrido uma atenção
direcionada aos interesses de todos os indivíduos envolvidos no desenvolvimento dessa
política.
Enfatizamos ainda que, no decorrer da análise do texto, algumas discordâncias foram
levantadas referentes ao que consta no documento do Projeto Professor Conectado e ao que,
de fato, ocorreu no contexto da prática. Realçamos a relação entre o documento e o que
acontece na prática não para denunciar irregularidades e incumbências nas práticas desses
educadores, até porque compreendemos que o motivo principal de tais atitudes corresponde as
limitações e descontinuidades que a proposta do Projeto Professor Conectado apresentou nos
contextos educacionais analisados. Contudo, assim o fazemos para percebermos as novas
ressignificações que essa relação pode possibilitar quando o Projeto é trabalhado no contexto
da prática.
Não estamos com isso enfatizando que tudo o que foi proposto para o Projeto pode ser
analisado como um fracasso, mas chamamos a atenção para as demandas pendentes do
Projeto, que deixou a desejar em alguns aspectos, e para as estratégias que os docentes
tiveram que desenvolver para sobressaírem das fragilidades apresentadas pela política, além
dos novos sentidos que a própria política estabelece para os docentes.
87
Ao serem indagados sobre como era o desenvolvimento das suas ações docentes antes
da chegada das ferramentas oferecidas pelo Projeto, como recursos tecnológicos, os
Professores 01, 02, 04, 05 e 06 ressaltaram:
Antes eu já tinha né? Mas, falando de uma maneira geral, ela melhora a sua
aproximação nesse mundo com o aluno. O aluno tá conectado o tempo todo, o
tempo todo ele tá ali. O aluno tem o celular em sala, ele tem internet, bônus, né?
Então o que traz essa ferramenta é de aproximar mais o professor do aluno. [...] Já
utilizava. Agora assim, do ano passado para cá a gente tem utilizado ainda mais
porque a escola tá com um número bem maior de data show. Antes ficava aquela
disputa de reservar, porque eram vários colegas, agora a gente tá com um número
bem maior e tá mais fácil (ENTREVISTA PROFESSOR 01, DEZEMBRO 2015).
Bom, essa daqui é uma questão que você vai ter uma comparação melhor com quem
não tinham nada antes né. Eu já tinha computador, então não mudou nada. A minha
metodologia já era a mesma [...]. Já entrei com computador, eu já tinha o
computador, mas em 2011, por exemplo, eu dava aula pelo quadro, porque a escola
não tinha data show. Então, eu só não usava o computador porque na escola não
tinha data show, porque se tivesse eu já tinha começado com data show. Mas
preparava as aulas nos slides assim, e dizia nossa eu queria tanto usar o slide, mas,
não posso, porque lá não tinha. Mas eu já usava o computador pra fazer pesquisa,
pra estudar pra poder dar aula na escola, eu já tinha essa metodologia antes de
receber o computador do estado (ENTREVISTA PROFESSOR 02, FEVEREIRO
2016).
88
Pronto, então assim, antes do Projeto Professor Conectado eu não era professor de
escola pública né. Eu sempre fui professor de escola privada e a partir de 2011 eu
entrei na escola pública. Já na escola privada em 2010 a gente já utilizava de
algumas ferramentas como estas, porque a estrutura da escola privada nos fornece.
[...] Então, eu já ingressei dentro do Projeto Professor Conectado. As escolas já
tinham recebido e eu achei muito massa aquilo, porque até então a visão que a gente
tem de escola pública é sempre de algo extremamente atrasado, retrógado, dos
equipamentos, na prática, das estruturas. [...] Depois a gente descobre que muita
coisa precisa ser melhorada, mas que a coisa tá em evolução, tá em transformação,
lenta, mas tá. [...] Eu sempre utilizei em sala de aula. Evidentemente no meu início
da prática docente, mesmo assim, lá pra 2005, em algumas escolas pequenas que eu
pude atuar, que ainda não tinha essa estrutura, aí a gente, evidentemente, tem que
trabalhar pra desenvolver estratégias do possível ali, tradicionais mesmo, né. Essa
coisa de usar muito o livro, copiar no quadro, fazer rodas de discussão que elas são
importantes até hoje, mas evidentemente que depois que eu tive acesso a essas
ferramentas, ainda na escola privada, deu pra fazer uma comparação de como elas
conseguem alavancar mais rapidamente o conhecimento. Embora, eu gostaria de
frisar isso, muitas coisas de metodologias e de métodos considerados tradicionais
são importantíssimos e às vezes, dependendo da aula, até mais eficazes do que o uso
da tecnologia [...] (ENTREVISTA PROFESSOR 04, MARÇO 2016).
Já usava. É pesquisa e a própria montagem de slides. [...] mas, antes era mais
precário, a gente se limitava a muita coisa né, só em cortar um cartazinho, uma
figurinha, já era mais complicado. Melhorou até o planejamento, eu acho
(ENTREVISTA PROFESSORA 05, MARÇO 2016).
[...] meu uso não mudou em nada, praticamente em nada, porque eu já usava, então
não teve mudança nenhuma. Até certo ponto eu posso dizer isso a você que foi um
problema pra mim. Às vezes, porque eu trazia o material pra usar, do estado, e tava
tendo problema, terminei tendo que trazer o meu computador pra dar aula, porque o
do estado não foi suficiente. Quer dizer aqui, veio do governo federal, mas não teve
um suporte, era pra ter um técnico, o computador do estado deu um problema, então
é pra ter um técnico específico do estado para fazer uma avaliação ou passar nas
escolas e passar alguma informação, não teve, a gente teve que se virar. Então em
termo de complemento de minha aula, não teve porque eu já usava. Provavelmente
pra outros professores tenha tido. [...] Já usava antes de chegar, já usava sim o
computador. E a partir do momento que ele chegou foi mais um acréscimo né, por
isso que eu digo que não houve tanto impacto. Talvez tenha tido impacto para
outros, mas comigo não teve (ENTREVISTA PROFESSORA 06, MARÇO 2016).
pelo Projeto. Aponta ainda que os recursos recebidos, na maioria das vezes, colocavam-se
mais como um problema do que mesmo como contribuintes, pois quase sempre que precisava
do auxílio desses equipamentos acontecia algum problema, atrapalhando o desenvolvimento
da sua aula. Logo, percebemos que o Projeto não proporcionou muitas significâncias na ação
do docente.
O Professor 03, diferentemente dos demais, foi o único que não utilizava o
computador antes do Projeto. Ao ser indagado sobre o uso dessa ferramenta, explanou o
seguinte:
Bom, como eu já falei, antes as minhas aulas sempre foram aulas expositivas, né?
Mas, por serem expositivas, não significava dizer que eram ruins não, certo? Pois eu
procurava dinamizar de alguma forma, também repartindo o conteúdo para que os
alunos estudassem e cada um mostrar. Tinha um dia de aula que só eu falava, mas os
alunos também falavam, certo? Mas, eu digo assim, só eu que ia explicar o
conteúdo. E tinha momento em que o aluno ia explicar o conteúdo também, certo?
Mas, pra isso, eu tinha que orientar. Tinha temas que eles nunca tinham se deparado,
então, como é que eles iam explicar? Então, primeiro eu dividia os grupos e dava
uma orientação para eles poderem explicar na sala. Então, apesar de ser um tipo de
aula tradicional, nunca deixou de ser dinâmica. Eu trabalhei muito assim e não teve
nenhum problema para os alunos aprenderem. E agora que eu tô trazendo o novo,
né? O novo tudo é bom, né? Quem é que não gosta de dar aquele show com o data
show? [risos]. Todo jovem gosta né? Então melhorou e vai melhorar daqui pra
frente, tanto na minha visão enquanto professor, quanto na dos alunos, é recíproco.
É algo que eles querem, o conhecimento, o ensino/aprendizagem, a própria relação
professor-aluno. Ora, teve um aluno que me viu na outra escola e perguntou, você
usa computador? Eu disse assim: por que não uso? Ele disse: porque o senhor já tem
uma certa idade. Eu disse: e só quem usa é gente jovem é? [risos]. Aí, assim a
relação professor-aluno com o computador, com os recursos tecnológicos, isso
ajuda, enriquece, né? Contribui bastante para que as aulas fiquem interessantes. [...]
então, eu nunca, somente a partir do projeto me instiguei a entrar nesse mundo
(ENTREVISTA PROFESSOR 03, FEVEREIRO 2016).
O Professor 03 deixa claro que antes não possuía essa prática em suas aulas,
colocando-se como um docente com algumas perspectivas “tradicionais” referentes às aulas
ministradas com o auxílio das tecnologias.
Observamos que a formação do docente não foi firmada num período em que as
tecnologias eram tão predominantes quanto atualmente. Nesse sentido, a ausência da
influência tecnológica na formação do educador o levou, por muito tempo, a não se sentir
estimulado com os recursos digitais, preferindo aderir ao modelo de ensinos tradicionais.
No entanto, chamamos a atenção e realçamos que essa situação não é uma regra a ser
seguida, pois é provável que existam professores que foram formados nas bases tradicionais e
que não sentiram dificuldades com o uso dos recursos tecnológicos, tornando-se fortes
adeptos do uso das ferramentas digitais na sua prática docente.
92
Nesse contexto, desejamos enfatizar que, às vezes, a nossa formação profissional tende
a ser refletida em nossas ações educacionais. Assim, o fato de o docente ter sido formado em
um contexto educacional em que as tecnologias não eram utilizadas com a mesma frequência
que se usa na atualidade poderá ter ocasionado certo atraso na adesão de alguns docentes no
que se refere ao manuseio das ferramentas na sua ação educativa.
Porém, vale ressaltar que na sociedade atual não há mais condições de o educador
ficar totalmente de fora do conhecimento tecnológico, tendo em vista que os alunos
pertencem a uma geração cada vez mais ativa quanto ao uso desses equipamentos. A esse
respeito, Tajra (2012, p. 102) destaca:
Percebemos, pois, a relevância que o Projeto proporcionou à ação do Professor 03, pois
permitiu que ele identificasse a necessidade do uso das tecnologias no âmbito educacional.
Assim, podemos afirmar que a partir da iniciativa dessa política o docente começou a abrir
possibilidades de aprender mais sobre as ferramentas tecnológicas, bem como a utilizá-las em
sua prática profissional.
[...] No meu caso eu trabalho na área de história, então eu sempre utilizo a questão
da internet para a questão da contextualização. Por exemplo, vou pegar um exemplo
bem dentro da minha área, vou pegar o primeiro ano que eu trabalhei, o feudalismo,
vou pegar lá da idade média. [...] A ideia é a gente começar ver as reportagens que
vêm saindo, o que tá acontecendo em nível de relações de trabalho, pra poder
trabalhar lá no feudalismo. Então, pegando essas ferramentas, uma coisa que eu
gosto de usar muito são imagens. A imagem ela chama muito a atenção do aluno.
Então você pega lá as imagens atuais e vai voltando até chegar aquele conteúdo que
parecia tão distante da relação servo, senhor feudal, né? Então, mudaram os
contextos, mas, é só fazer a ligação através das imagens que tem, você vai
trabalhando. Então, são essas ferramentas que eu utilizo na minha realidade, é dessa
forma. Na minha área é a questão da contextualização que melhora a forma de
trabalhar contextualizado por meio da internet que tá aí compartilhando, às vezes, de
forma positiva ou negativa, mas mostra tudo que tá acontecendo. [...] Trabalho nas
93
aulas, com a questão de slides, a questão de imagens, acho que chama muito a
atenção dos alunos. Colocar eles mesmos para produzirem. [...] vídeos, buscam na
internet, a utilização mesmo do dia a dia. Pra não ser aquela aula tão distante da
realidade deles. Eles vivem uma boa parte do tempo deles, aqui é uma escola
somente de ensino médio, então estão naquela faixa de idade que a gente percebe
quando eles chegam no outro dia que ele passaram a noite todinha na internet. Eles
estão muito ligados nesse mundo aí. É o que eu já falei em outras questões,
aproximou muito da escola, né? E os professores que quiseram passaram a fazer
parte dessa realidade do aluno. [...] Às vezes eu fico questionando eles, eles não
conseguem entender o mundo sem a internet, sem o computador. Pra eles, antes
disso não existia nada. Então afirmo, os professores que entraram nesses recursos,
eles se aproximaram mais dos alunos (ENTREVISTA PROFESSOR 01,
DEZEMBRO 2015).
Com base na fala do Professor 01, notamos como os aparatos tecnológicos podem
contribuir para a ação educacional. Isso ocorre principalmente quando pensamos na elevada
predominância que as tecnologias digitais possuem na sociedade atual, influenciando os mais
diversos contextos sociais, dentre eles, o educacional, em que os alunos, na maioria das vezes,
possuem total domínio sobre esses equipamentos.
Nesse sentido, observamos que o docente está a par dessa realidade tecnológica que
perpassa toda a sociedade. Ciente das mudanças, o professor procura desenvolver uma prática
educacional associada às tecnologias digitais, aproveitando, portanto, o conhecimento
tecnológico que os alunos trazem de outros meios para trabalhar no sentido de proporcionar o
aprofundamento dos conteúdos.
Entendemos que, quando a escola e seus profissionais têm a preocupação de trabalhar
as tecnologias digitais a partir da realidade dos discentes, aumentam as possibilidades da
concretização de uma aula mais atrativa e instigante. Por esse viés, caba por integrar os
conhecimentos prévios dos alunos com os conteúdos a serem trabalhados em sala de aula.
Nesse sentido, concordamos com Tajra (2012, p. 46), quando chama a atenção: “O que
define a atuação de uma escola quanto ao uso da informática é como a tecnologia está sendo
utilizada: se integrada aos interesses educacionais e de formação dos alunos”. Dessa forma,
entendemos que o docente busca construir suas aulas se apoiando numa metodologia que
permite a contextualização dos conteúdos trabalhados, vinculados e adaptados à realidade
atual em que o aluno vive.
Assim, os recursos tecnológicos auxiliam na construção metodológica contextualizada
do docente, por meio de slides, imagens, vídeos, pesquisas em rede, com o uso da internet.
Esses elementos são importantes tanto para a aquisição de conhecimentos, informações e dos
conteúdos a serem trabalhados em sala de aula pelo docente quanto para auxiliar no processo
da autoaprendizagem do aluno como autores de suas próprias construções.
94
O Professor 02 deixa claras as vantagens que o computador trouxe para sua ação
docente. Por meio do recurso adquirido, o docente passou a planejar e organizar as suas aulas
com mais facilidade e agilidade, estreitando a corrida entre o espaço e o tempo. A esse
respeito, Moran (1995, p. 3) defende que “cada tecnologia modifica algumas dimensões da
nossa inter-relação com o mundo, da percepção da realidade, da interação e organização com
o tempo e o espaço”.
O uso do computador na metodologia das aulas trabalhadas proporciona aos alunos
uma visão mais próxima e uma noção mais real de determinadas temáticas. Nesse sentido, o
Professor 02 acredita que o computador estabeleceu vantagens incalculáveis não somente
durante o planejamento, mas também quando do desenvolvimento das aulas, pois, na medida
em que apresenta o conteúdo por meio de slides, pode aprofundar uma temática com o uso da
internet, fazendo pesquisa, detendo-se em imagens com animações que oportunizam um
sentido mais real.
Ainda, o Professor 02 defende que a internet possibilita a aquisição de maiores
informações e de conhecimentos sobre os conteúdos trabalhados em sala de aula. Auxilia o
trabalho do docente como mediador do processo de ensino-aprendizagem, além de contribuir
para a construção da metodologia a ser utilizada.
95
Reforçamos essa ideia com o posicionamento da Tajra (2012, p. 126), ao pontuar que
“a internet apresenta-se como mais um dos motivos das necessidades de mudança do papel do
professor. Ela é uma oportunidade para que professores inovadores e abertos realizem as
mudanças de paradigma [...]”.
Questionado sobre como vem construindo as metodologias da sua ação docente, o
Professor 03 enfatiza:
Perfeito. Então pronto, existem assim, eu vou poder considerar três formas
metodológicas interessantes que eu sempre uso com o notebook e com o tablet.
Primeira delas é organizar algumas aulas em PowerPoint né, que é o programa que a
gente utiliza os slides para apresentação, muita gente já faz isso. A segunda
ferramenta interessante é aquela acoplada ao ambiente virtual que eu sempre utilizo
com o computador para as pesquisas em sala de aula. Às vezes, a gente tá estudando
história em um determinado assunto que nos foge do livro, especificamente, então
com o computador, com os programas corretos e com o ambiente virtual, a gente
pode fazer uma pesquisa ali. Então é meio que levar os alunos a serem
96
pesquisadores também [...]. Existe uma terceira metodologia, que essa, na realidade,
ainda está no início pra mim e eu ainda estou aprendendo, que é tentar relacionar as
minhas práticas docentes como professor de história e a utilização de jogos online.
Então, essa terceira metodologia ainda está muito incipiente, porque eu ainda estou
aprendendo um pouquinho, selecionando que tipo de jogo, que jogo é esse que eu
poderia trabalhar em sala de aula com os meninos que poderiam fazer eles
aprenderem alguma coisa em história, que sabemos já previamente que eles curtem
jogos online. A lógica seria: pra que eu pudesse pôr em prática essa metodologia
seria preciso que todos estivessem conectados. Todos conectados. E aí realmente
esse pode ser um futuro próximo para escola. Conectar todos, todos com tablet ou
todos com notebook não sei né, ou de repente computadores numa sala de
informática em redes que a gente pudesse levar os alunos pra lá e praticar isso.
ações na sala de aula. Muitos acham que só por estarem utilizando a prática softwares
educativos já estão utilizando a prática da informática na educação” (TAJRA, 2012, p. 46).
A esse respeito, o Professor 04, que está iniciando o uso dos softwares educativos,
assume uma postura cautelosa quando o assunto é o trabalho educacional com os jogos
online, na medida em que reconhece os seus limites referentes aos conhecimentos
tecnológicos. Acredita que, além de ser um educador aprendiz sobre o assunto, a escola ainda
não possui uma estrutura que permita o acesso a internet, o que dificulta o bom
desenvolvimento das atividades a serem trabalhadas com esses recursos.
No entanto, o docente se coloca como esperançoso e cogita essa metodologia como
ação com propósitos futuros, tendo em vista que reconhece a relevância educacional que o
trabalho com os jogos online pode proporcionar para a construção dos conhecimentos dos
alunos. Realçamos essa afirmativa por meio da seguinte citação:
Questionada sobre o mesmo assunto, a Professora 05 aborda que constrói suas ações
metodológicas com o uso do notebook e/ou do tablet, por meio da:
Elaboração de slides, de aulas, de pesquisas pela internet né. Eu uso mais assim. Às
vezes eu preciso de uma gravura, de uma imagem, eu faço a pesquisa. Apesar de que
o meu computador não serve mais, só o tablet que está funcionando. Já o
computador não serve mais, inclusive, o que eu tinha anteriormente resistiu mais do
que o do Projeto. Eu nem cheguei a levar para a assistência porque pelo que eu
soube o menino recebeu e o dele já veio com problemas e ele levou pra DIRED, de
volta pra DIRED poder ver a questão da assistência e não obteve resposta, então, eu
preferi já que também me acomodei porque eu já tinha um em casa, então, eu preferi
usar o meu e guardei o que tava com problema (ENTREVISTA PROFESSORA 05,
MARÇO 2016).
quando afirma que, “[...] único e principal fenômeno tecnológico, a internet possibilita a
comunicação entre pessoas para os mais diferentes fins [...]”.
Nesse cenário, entendemos que, dentro dessas possibilidades de comunicação, a
internet permite múltiplas informações que podem ser sistematizadas e transformadas em
conhecimentos para o aluno, dependendo da forma com que for mediada pelo docente.
Já o Professor 06, ao ser questionado sobre as metodologias desenvolvidas a partir das
ferramentas do Projeto Professor Conectado, abordou o seguinte:
Bom, nesse computador aqui, eu to usando nesse momento para preparar a aula. Eu
estou, apesar dele não ter acesso à internet, mas o que eu foco? Em casa, no meu
computador, eu faço a seleção de todo material pela internet, porque aqui não tá
funcionando direito, como hoje, que é a minha extrarregência, então em casa eu faço
isso. Pronto, ontem tarde da noite eu fiz tudo isso, entrei na internet, selecionei o
material, trago em pendrive [...] vou montar minhas aulas nesse computador do
estado que ainda está funcionando, precariamente, mas está. [...] e vou trabalhar. Em
casa eu tenho um computador de mesa que tem internet, porque se eu não tiver pego
o material antes, esse computador aqui não vai adiantar de nada, porque não tem
internet. Por exemplo, textos que eu passo para alunos lerem, artigos que eu passo
para alunos verem, todos eles eu só consigo acessar em casa, aqui eu não consigo, às
vezes o computador que tem na direção ele não funciona bem a internet. Então, você
quer baixar, é lento, cheio de vírus o computador, não tem quem dê conta de ficar
fazendo a limpeza. [...] Eu abri um grupo no Facebook, onde eu alimento o meu
material lá, eu tenho vários alunos que têm o Face, acessam e estão constantemente
recebendo esses materiais.[...] No meu computador, no meu trabalho, eu fazia o uso
dele para dar as minhas aulas. Quando esse computador chegou, do estado, passei a
utilizá-lo, só que quando eu comecei a utilizá-lo o computador passou a aparecer
problemas, então retornei novamente para o meu computador para poder usá-lo.
Terminei usando o meu computador, constantemente. O do estado eu não arriscava,
só que depois que o meu computador sofreu essa queda, teve esse problema com ele,
aí eu passei a usar agora o computador do estado. Só que quando eu comecei a usar
o computador do estado teve esse problema e eu não sei o que foi, nem o técnico
também não me contou, um problema que não tem acesso à internet (ENTREVISTA
PROFESSOR 06, MARÇO 2016).
O uso das TICs, quando bem conduzido, pode promover a interação entre
professores e alunos, intercâmbio de informações e experiências, agindo como uma
“janela para o mundo”, isto é, permite que o educando conquiste outros espaços.
Uma das principais características da educação envolvendo as TICs é a de promover
o acesso às informações que acaba provocando uma descentralização do poder de
comunicar em sala de aula, anteriormente, centrado na figura do professor. Nessa
nova conjuntura, o aluno adquire maior autonomia [...].
Eu acredito que sim. Pra mim ele é um suporte pedagógico porque, ao preparar as
minhas aulas, eu uso o livro como suporte pedagógico também, então o computador,
ele me permite ter acesso a outros livros de outros autores também. Depende de
como eu vou utilizar, né, se for só pra escrever, fazer uma atividade ou apenas
copiar e colar, uma vez colocar e adaptar não. Eu tenho uma biblioteca digital dentro
do meu computador, onde eu posso ir lá e pegar informações de livros diferentes ou
o livro que eles estão usando, posso pegar outro livro do autor, de diferentes autores
para poder se produzir uma aula de um determinado conteúdo. Então pra mim ele é
uma ferramenta que eu sempre incluo em meus planos de aula. Recursos didáticos e
pedagógicos que você está utilizando? Data show, computador, livros didáticos né.
Então, pra mim, ele tem um papel pedagógico sim na minha docência
(PROFESSOR 02, FEVEREIRO 2016).
É interessante porque o computador até parece que não foi criado para a educação. O
computador foi criado muito mais assim, para outras áreas do conhecimento como,
assim para saúde, a medicina, a gente vê que muita coisa é resolvida na medicina
com o computador. Até uma cirurgia, né? O médico tá ali trabalhando naquela
cirurgia com o computador. Então o computador foi levado para muitas áreas.
Parece que na área da educação foi até um atrevimento por parte de nós educadores,
colocar essa ferramenta para a educação. Eu digo assim, um atrevimento porque
assim, pelo o que eu vejo, quando o computador foi criado, ele foi criado, assim,
mais para as outras áreas do conhecimento, de pesquisa na medicina, na astronomia,
naquelas ciências de laboratório, mas nunca se foi pensado nele para educação.
Então, pra mim foi como um atrevimento de nós educadores trazermos essa
ferramenta para sala de aula. E quanto bem ela tem feito. Espero que daqui há alguns
anos eu me torne um expert em computador, pelo menos, a saber, usar bem um
computador [risos]. Eu achei bem interessante. Então é sim um recurso pedagógico
que faz parte do meu dia a dia de professor. É um instrumento que serve também
para se trabalhar. Naquele instrumento pode estar até a minha vida que eu programei
para aquele dia, da minha escola A, B, C ou das várias turmas, que cada turma vai
ter a sua característica própria.
101
Considero. Como eu falei antes exatamente por causa da melhoria para o ensino-
aprendizagem eu acho. Assim, por exemplo, se eu melhoro os meus slides, se eu
melhoro a minha forma de dar aulas utilizando determinados recursos, esse recurso
pra mim, ele já começa a ser bem visto né. Então eu acho nesse sentido de melhorar
a aprendizagem do aluno é o que, digamos, responderia essa pergunta aí
(ENTREVISTA PROFESSORA 05, MARÇO 2016).
Sim. Eu acho que não deve faltar na escola. Não deve faltar o computador de
maneira nenhuma, hoje em dia principalmente. Todas as minhas aulas elas são
preparadas em computadores, eu uso computadores em sala de aula e ainda o aluno
tem que usar os seus computadores, seus celulares, porque eu coloco texto no grupo
do Face, eles baixam, às vezes eles leem até pelo celular, os artigos que eu envio,
que eu encaminho. Então pra mim se sair o computador as minhas aulas acabou,
voltou a época do pau e da pedra, então eu não vejo mais a minha ação como
profissional, professor sem o computador (ENTREVISTA PROFESSOR 06,
MARÇO 2016).
Diante do exposto, observamos, a partir das falas apresentadas pelos docentes, que, de
acordo com as suas práticas educativas, os recursos tecnológicos disponibilizados pela
política do Projeto Professor Conectado estão sendo utilizados e considerados como suportes
pedagógicos que auxiliam nas suas ações docentes.
O Professor 01 classifica o computador como uma ponte de ligação entre a educação
formal e a não formal, que pode estar contribuindo para o trabalho da ação educacional de
maneira contextualizada, ultrapassando os limites dos muros da escola. Essa perspectiva pode
ser colocada como um ponto satisfatório para o docente, pois pode utilizar esse recurso que
tanto atrai e envolve os alunos para desenvolver uma aula mais contextualizada, dinâmica e
participativa, constituindo-se um trabalho educativo baseado no contexto do aluno. Isso pode
ser relacionado com o posicionamento de Moran (1995, p. 7), quando realça que, por meio do
uso das tecnologias, “o processo de ensino-aprendizagem pode ganhar assim um dinamismo,
inovação e poder de comunicação inusitados”.
Ao analisarmos a fala do Professor 02, percebemos inúmeras possibilidades que o
computador pode trazer para a ação docente, como, por exemplo, a praticidade que o
notebook proporciona no que concerne às pesquisas dos conteúdos a serem trabalhados.
102
O docente alerta ainda para o fato de que, se o intuito é “copiar e colar” determinados
assuntos por meio do computador, este não pode ser considerado um recurso pedagógico, mas
se o docente utiliza-o com a finalidade de construção de novos conhecimentos a serem
mediados para o aluno e/ou para o aprofundamento de algum conteúdo que o educador deseja
ministrar, isso sim é condizente com a utilização do recurso como auxílio pedagógico.
Já o Professor 03 propõe uma discussão interessante quando salienta que foi um
“atrevimento” dos profissionais educadores “trazerem” o computador para ser trabalhado no
âmbito da educação. Nessa perspectiva, assim como já mencionado por Nascimento (2007), o
computador não foi criado com finalidades educativas. Foi na década de 1970 que o
computador começou a ser trabalhado no setor educacional, inicialmente, para questões
técnicas e burocráticas; somente a partir da década de 1990 que passou a ser utilizado com
propósitos pedagógicos. Hoje, no século XXI, é tido como indispensável no contexto
educacional.
O Professor 03 ainda destaca que a inserção do computador no contexto educacional
foi bastante satisfatória, pois, dependendo do direcionamento que o docente faz com a
ferramenta em sua ação, pode permitir a ampliação dos conhecimentos, bem como dinamizar
e instigar a interação, estreitando principalmente a relação entre docente e discente. Nesse
sentido, “[...] uma mente aberta, interativa, participativa encontrará nas tecnologias
ferramentas maravilhosas de ampliar a interação” (MORAN, 1995, p. 7).
Na fala do Professor 04, percebemos que o docente se coloca como um defensor de
que esses recursos são imprescindíveis na sua ação docente. Para ele, não há como pensar a
educação sem esses recursos. Como defende Kenski (2012, p. 19), além de considerar a
escola como um espaço no qual as tecnologias são predominantes, ainda enfatiza que “a
escola representa na sociedade moderna o espaço de formação não apenas das gerações
jovens, mas de todas as pessoas”.
Nesse sentido, o educador deve estar constantemente preparado e atualizado quanto
aos conhecimentos advindos das ferramentas digitais, que estão fortemente presentes na
realidade dos alunos, bem como no interior das relações sociais e que, de uma forma ou de
outra, refletirão significativamente no contexto escolar.
Analisando a fala dos Professores 04 e 06, percebemos que, mesmo se identificando
com o modelo de ensino tradicional, os educadores possuem a concepção de que não pode
mais haver distanciamento das inovações tecnológicas que o contexto atual está
proporcionando.
103
5.4 As ressignificações nas ações dos docentes a partir do Projeto Professor Conectado
Nesse ponto, desenvolvemos uma discussão com base nas falas dos Professores
entrevistados sobre as ressignificações ocorridas nas suas ações docentes a partir do Projeto
Professor Conectado no contexto da prática, fazendo relação com a perspectiva da
Abordagem do Ciclo de Políticas de Ball e Bowe (1992).
Nesse sentido, refletimos sobre as diferentes formas de ressignificações no contexto da
prática e sobre como se construíram. Tais reflexões se fundamentaram na Abordagem do
Ciclo de Políticas de Ball e Bowe (1992). Por fim, enfatizamos os mais variados contextos da
prática, em que as ressignificações são desenvolvidas e refletidas pelos educadores ao
trabalharem com a política estudada.
Assim, indagamos os sujeitos entrevistados sobre os novos sentidos/ressignificações
ocasionados em sua ação docente a partir do Projeto Professor Conectado.
Quando questionado, o Professor 01 destaca:
Eu posso falar que presenciei colegas que não tinham e como eu já falei há pouco,
alguns que não sabiam manusear. Mas outros que se interessaram e mudaram as suas
práticas de sala de aula em função do computador. Outros tinham o computador em
casa, mas não o portátil, então, não tinham como trazer. [...] Passaram a ter essa
mobilidade em sala de aula. Aproximou o professor mais do aluno [...] para os
colegas que não tinham acesso, mudou o fato de não ter essa mobilidade do
computador, que o notebook foi bem mais usado do que o tablet. Como eu já falei
aqui na realidade da escola, eu afirmo hoje, não tem nem mais um professor usando
o tablet, porque todos deram problemas, os que não deram problema são lentos
demais, por exemplo, o SIGEduc, que é o sistema do estado, de você fazer a
frequência do aluno, você não consegue fazer a frequência pelo tablet, porque ele
não abre o aplicativo, então a maioria dos professores tem celulares, porque o
SIGEduc agora, ele tem um aplicativo que pode usar ele sem internet, então você faz
a frequência lá, ou você chega na área que tem internet e ele sincroniza, então a
gente faz isso pelos celulares mesmo [...]. O SIGEduc também é visto pelo
computador, a gente não trabalha mais com diários. Tem esse lado aí do projeto,
vamos dizer assim que não vai pegar a área da questão pedagógica, mas a questão
administrativa. A gente não trabalha mais com diários impressos, tudo a gente lança
lá no sistema. Lá você lança a frequência diária do aluno, você só abre aquela data,
você não pode abrir, por exemplo, a aula de amanhã no dia de hoje. Lá você coloca a
frequência do aluno, você coloca o conteúdo que você trabalhou, e acaba o bimestre
eles vão dando um prazo para que você preencha aquele bimestre. As médias, você
coloca lá, e o interessante desse sistema é que o aluno ele pode se cadastrar e ele tem
104
acesso lá e vai acompanhando. [...] É, agora, ainda aquela questão que eu coloquei,
nós não temos ainda internet, assim a gente não consegue utilizar essa ferramenta
como a gente poderia utilizar, ia ser melhor utilizada se tivesse. [...] É assim, porque
eu faço a frequência pelo celular e quando chego em casa, sincronizo. Mas, para
preencher as outras coisas, eu preencho em casa (ENTREVISTA PROFESSOR 01,
DEZEMBRO, 2015).
[...] colocam problemas para seus sujeitos, problemas que precisam ser resolvidos no
contexto. Soluções para os problemas postos pelos textos políticos serão localizadas
e deveria ser esperado que discernissem determinados fins e situações confusas.
Respostas que precisam, na verdade, ser “criativas” [.... (BALL; MAINARDES,
2011, p. 45).
Nesse sentido, a estratégia utilizada pelo Professor 01, referente à utilização do celular
em prol de solucionar uma demanda apresentada pela política do Projeto Professor
Conectado, pode ser vista como criativa, tendo em vista que não se deteve a não execução da
105
atividade pelo fato de o tablet não estar funcionando, antes, procurou ressignificar com base
na realidade oferecida pela política, bem como pela própria escola onde trabalha.
Sobre tal situação, percebemos a ressignificação que o Projeto Professor Conectado
proporciona à ação do docente por meio da limitação do uso do tablet, o que acabou por
mobilizá-lo a agir em prol de alternativas que solucionassem essa situação. Acreditamos que o
fato de o docente ter se mobilizado e agido diante da demanda deixada pelo Projeto configura-
se como a ressignificação encontrada por parte do próprio professor para a política. Nesse
caso, tanto a política ressignificou a ação do docente como o docente conseguiu ressignificar a
política trabalhada.
Compreendemos que ocorreram, de forma simultânea, ressignificações na ação do
docente a partir da política, bem como ressignificações do docente para com a política em
desenvolvimento no contexto da prática. Por esse viés, Mainardes (2007) expõe que o
contexto da prática é onde as políticas estão sujeitas a interpretações, ganhando rumos
diversificados que vão variar da visão do docente que trabalha com essa política.
No que diz respeito ao Professor 02, ao ser questionado sobre os novos
sentidos/ressignificações ocasionados em sua ação docente a partir do Projeto, enfatiza o
seguinte:
Depois que adquiri o novo computador, já tenho falado aqui que eu me preocupo
muito com tempo para eu poder dar o conteúdo, porque uma coisa que a gente fez
agora recentemente foi discutir os direitos de aprendizagens dos alunos, né, na
semana pedagógica a gente fez isso. E a gente se reuniu para ver alguns direitos que
tavam sendo dados pelo MEC e aí a gente basicamente fez o currículo do Ensino
Médio o que os alunos têm direito de aprender. [...] Nessa discussão a gente pode
ver até onde o aluno poderia chegar, o que pode realmente ser alcançado, pra ele ter
aquele direito de aprendizagem, por exemplo, pra ele chegar naquele objetivo, a
gente levou em consideração a tecnologia que existe hoje e que foi proporcionada
para os professores. [...] Então pra mim, o sentido tem sido o tempo, eu me preocupo
com o tempo, porque se o aluno tem direito de aprender aquilo, que tá lá no
currículo, o aluno tem direito de aprender a identificar reações orgânicas, no caso da
Química, só que se eu não trabalhar de forma dinâmica durante o ano e essa forma
dinâmica inclui fazer a contextualização quando é necessário, porque a gente vive
em um tempo em que o Enem é a ferramenta para se entrar na faculdade, então
quando começo a fazer assim, quando eu acabo impedindo o aluno de contextualizar
alguns conteúdos que vão ser trabalhados porque eu estou com medo de não dar
tempo de terminar, eu estou atrapalhando, eu estou impedindo que ele consiga o
direito de aprendizagem, e ele tem direito de aprender aquilo, quando ele
contextualiza, quando ele fala, relaciona com o cotidiano dele, ele consegue
aprender mais. [...] Então, eu me preocupo muito com o tempo. A ferramenta me dá
possibilidades de otimizar meu tempo. Então, pra mim, trabalhar com o computador
é uma otimização de tempo. [...] É dinamizar a aula. Química é uma ciência abstrata,
assim como Física quando o professor tá falando do universo, Biologia quando ele tá
falando de um germe, um vírus, a parte de uma bactéria, se ele não mostrar ao aluno
como é a bactéria né, se ele deixar o aluno só no livro, talvez o aluno não se
interesse muito, mas quando o professor consegue mostrar uma ilustração, uma
animação da bactéria se mexendo, talvez o aluno se interesse mais. [...] O
106
computador ele tem que fazer com que o professor, ele consiga e perceba que ele
tem que dar um sentido diferente nas aulas dele. Ele tem que perceber como é que o
aluno tá vendo a aula dele, se aquela aula tá sendo dinâmica, se tá sendo repetitiva.
Então pra mim, enquanto professor, hoje é claro que a gente tem que ter o plano B,
se faltar energia, não vai dar aula mais porque não tem data show, não, você tem o
plano B. [...] Mas eu prefiro a aula com slides porque eu quero que o aluno
realmente tenha o seu direito de aprendizagem alcançado. [...] Eu já tinha
computador, né, então eu só tive mais uma máquina em casa pra poder trabalhar,
vamos dizer assim, eu deixei um computador com a minha esposa e fiquei com o
outro. Eu fiquei com o do estado, bom o estado que me deu, eu vou usar ele na
escola que é pra todo mundo ver que eu tô usando, que eu tô dando valor. Ajudou
muito porque às vezes eu ficava dividindo o computador com a minha esposa pra
trabalhar, então a otimização do tempo de trabalho melhorou. [...] Melhorou o tempo
mesmo para preparar as aulas, melhorou a pesquisa que eu posso fazer. [...] O tempo
mesmo para preparação de aula ficou melhor com a presença do novo computador
em casa (ENTREVISTA PROFESSOR 02, FEVEREIRO 2016).
De acordo com a fala do Professor 02, os novos sentidos apresentados em sua ação
docente, a partir do Projeto, referem-se à otimização do tempo proporcionada pelas
ferramentas tecnológicas, principalmente pelo notebook. A otimização do tempo oportunizou
novos sentidos para a elaboração das atividades educativas, por parte do docente, com vistas à
construção dos planos de aula, para a montagem de slides e apresentação de conteúdos e/ou
no desenvolvimento de pesquisas. Essas práticas se realizam tanto na escola com os alunos
quanto na própria casa do docente.
Nesse cenário, compreendemos que a ressignificação proporcionada na ação do
docente a partir do Projeto configurou-se na melhoria do tempo que foi possibilitado ao
docente, no que concerne ao “refazer a sua prática de ensino” em um período de tempo mais
favorável e não menos consistente.
Constatamos que o Projeto ressignificou a ação educativa do Professor 02, ao
aumentar as possibilidades de desenvolvimento de aulas em contextos para além da sala de
aula, pois, com o notebook, o docente pode desenvolver aulas com os alunos a serem
trabalhadas também em laboratórios onde a internet funciona. Nesse ambiente, e com o
computador em rede, a aula pode ser desenvolvida e contextualizada com qualidade, haja
vista permitir melhor exploração das situações e representações mais reais sobre determinados
assuntos que o docente desejava trabalhar.
Outro ponto que merece ser ressaltado na fala do docente é que a otimização do tempo
foi significante até em relação à aquisição de outra ferramenta, tendo em vista que, assim
como destaca, após o recebimento do notebook, a sua prática educacional melhorou pelo fato
de não ter mais que dividir o seu computador em sua casa e, consequentemente, com as
atividades a serem desenvolvidas em sala de aula ou no âmbito da escola, o que resultou,
também, na otimização do tempo de trabalho do docente.
107
Assim chamamos a atenção para o fato de que “[...] as políticas são interpretadas de
diferentes modos pelos sujeitos que atuam no nível da prática” (MAINARDES; FERREIRA;
TELLO, 2011, p. 159). Entendemos que o Professor 02 conseguiu proporcionar a sua
ressignificação para com a política e foi beneficiado com o sentido de ressignificação que esta
lhe trouxe.
Ao ser questionado também sobre os novos sentidos/ressignificações, o Professor 03
argumenta:
Se não tivesse vivendo talvez não tivesse me estimulado. Foi ótimo o Projeto, foi
bom porque talvez eu tivesse me acomodado. E nunca tivesse, pelos anos do
magistério e às vezes o professor se acomoda, né? Então, me estimulou né, a
estudar, nunca tive medo, mas me acomodei, aí esse projeto foi um estímulo para
que eu pudesse ver a importância que tem de estar conectado. [...] Não mudou muita
coisa não. Pra mim não mudou não. Como eu tô falando, porque se não eu vou ser
até contraditório com o que eu já falei lá na frente, eu não mudei muito a minha
prática em sala de aula. Agora, agora recentemente do ano passado pra cá, eu
comecei a entrar nesse mundo, eu tô confortável, pegando assim slides, né? Porque
como eu trabalho numa instituição superior, né, lá nos obriga até a isso né? Até pra
não ficar só na aula expositiva, apesar de uma aula expositiva na faculdade, o povo
escuta né? Então assim, agora que eu tô me soltando, eu tô trazendo o computador
com aula já preparada, montando os slides que eu não sabia, mas também com uma
certa moderação, porque de repente você fica nessa aula lendo os slides e não sabe
explicar bem o conteúdo. Então eu acho que a gente também tem que ter cuidado pra
não dar uma mega aula, né, eu dou um show de projeção e no fim ficar só na leitura
e não explicar. Eu também tenho um certo medo de mostrar essa ruma de slides e a
explicação que eu acho que é essencial, ela sumir. E dar a entender para o aluno que
eu não sei de nada do que eu estou lendo, que tá nos slides. Então assim, pra mim
não teve muita mudança de princípio, eu passei a usar o notebook do projeto, porque
ainda tá vivo, o slide, essas coisas, recente (ENTREVISTA PROFESSOR 03,
MARÇO 2016).
Mediante a fala proposta pelo Professor 03, podemos notar que o maior sentido
proporcionado na sua ação docente, a partir do Projeto Professor Conectado, foi o estímulo.
Foi a partir da efetivação dessa política que o docente começou a se instigar e a ingressar no
mundo tecnológico, percebendo a necessidade de se atualizar nesse meio.
Diante do exposto, podemos afirmar que o Projeto Professor Conectado proporcionou
ao Professor 03 uma ressignificação na sua ação docente, tendo em vista que permitiu um
novo sentido referente à sua mudança de posicionamento em face das tecnologias digitais.
Compreendemos, dessa forma, que as intervenções e as possibilidades propostas pela
política estudada representam bem o discurso do Professor, uma vez que a ressignificação
ocorrida em sua ação docente a partir do Projeto diz respeito à motivação e à instigação de
procurar aprender mais acerca do mundo tecnológico.
Entendemos que a política ressignificou quando provocou uma intervenção, não
somente na ação do docente ao permitir a familiarização com os recursos tecnológicos e o uso
108
destes na sua ação profissional, mas também o impulsionou a ampliar sua visão para novas
possibilidades como educador (MAINARDES, 2007).
Ainda sobre o questionamento referente aos novos sentidos/ressignificações
ocasionados na ação docente a partir do Projeto Professor Conectado, o Professor 04 assim se
posiciona:
[...] Então, o sentido que nos passa é aquela ideia de você tá de repente entrando, até
com certo atraso, em relação a outras escolas, em outros países ou em outras regiões,
onde você tá entrando, com certo atraso, mas está entrando, em um novo cenário da
prática da educação e que daqui pra frente será ainda mais diferente. Me arrisco a
dizer que esta roda da história não vai mais voltar certo, uma vez implementando
esses aparelhos em sala de aula, que é o que o Projeto Professor Conectado quer,
com alguns problemas que a gente já identificou, mas tá caminhando, não volta
mais, certo. É daqui pra frente. [...] Bom, melhorou bastante. Assim como eu disse
pra você, vem de um tempo antes 2010 que era difícil pra você dar uma aula,
realmente, um pouco mais dinâmica, usando esses recursos visuais e até de áudio
também, você precisava trazer tudo de casa ou então levar pra sala de vídeo que as
escolas tinham, mas nem todas delas tinham computadores né, às vezes, não dava
pra você baixar um vídeo da internet, rolar um mapa interativo ou pesquisar um site.
Então, com os notebooks, principalmente, isso já melhorou bastante. Já dava pra
planejar a aula e levar pra dentro da sala de aula né, uma coisa diferente para os
alunos. [...] Porque os nossos alunos estão tendo acesso a essas tecnologias antes
mesmo de entrarem na escola, então boa parte dos alunos quando já chegam aqui na
escola já vêm com conhecimento de sistema de informação de aplicativos, de jogos,
de coisas do ambiente virtual, que às vezes eu não tenho. Então um desafio para
mim: correr atrás, como professor, eu não posso ficar, vamos dizer assim, num nível
que seja atrás do nível deles. Se eu ficar assim, eu vou ter que me ressignificar
enquanto professor, então eu tenho que estar ou no nível deles para compreender ou
no nível acima que é pra construir junto com eles. [...] Inclusive em sala de aula,
principalmente na disciplina que eu leciono, história, é muito interessante que você
possa ter um ambiente de pesquisa ali instantâneo, e aí dependendo da sala e da
estrutura que a escola fornece com acesso a internet, tablet, o notebook, passam a ser
ferramentas que você pode fazer essas pesquisas. Então, transformou bastante,
melhorou muito mesmo a dinâmica das aulas. [...] Então esse Projeto todo me fez
ver, me fez perceber que enquanto professor eu tenho que aprender muito mais coisa
ainda e que esse futuro dentro desse contexto de tecnologia em sala de aula é um
universo amplo. Então, o Projeto em si me fez perceber isso, caramba! Não é só isso
não, tem mais coisas aí e eu como professor tenho que acompanhar né, eu tenho que
acompanhar, eu tenho que acompanhar... E isso é bom porque quando você tem a
gana e curiosidade de acompanhar você vai aprendendo mais (ENTREVISTA
PROFESSOR 04, MARÇO 2016).
Nesse contexto, o Projeto foi para o Professor 04 uma ponte que ampliou as suas
percepções acerca da importância de estar atualizado com as tecnologias no processo
educacional. Revelou-se responsável ainda por alertá-lo sobre a necessidade de estar cada vez
mais atento em relação aos aplicativos, aos softwares, aos programas que podem ser utilizados
como ferramentas de suportes na ação docente e em diversos locais. Para utilizar essas
ferramentas, faz-se necessária uma constante atualização no que concerne aos conhecimentos
fundamentais para o manuseio dos seus programas.
Assim, o Projeto Professor Conectado ressignificou a ação do docente, uma vez que
possibilitou mudanças significativas na sua postura e visão como educador, fazendo-o
entender que ainda se encontra em constante processo de transformação e aprendizado. Nesse
contexto, alertou-o para a necessidade de apreensão de múltiplos conhecimentos, percebendo
que a ação docente apresenta vários caminhos e que ser professor é estar num amplo processo
de construção de conhecimentos, de curiosidade e de procurar descobrir mais.
Ao relacionarmos a discussão dos novos sentidos com a Abordagem do Ciclo de
Políticas de Ball e Bowe (1992), podemos compreender que o descrito pelo docente se coloca
como uma ressignificação a partir do momento em que ele incorpora e põe em prática na sua
ação docente essa necessidade de estar constantemente atualizado com os aparatos
tecnológicos, resultando em mudanças significativas de suas aulas, das pesquisas e dos
planejamentos. Desse modo, permitiu-lhe a busca por novas estratégias de ensino que possam
superar o uso comum ao se trabalhar com notebooks e tablets.
Tal atitude se configura também em uma ressignificação do docente para com a
política. O contexto prático do Professor 04 acaba por tornar-se o lugar onde as consequências
reais são vivenciadas, recebendo novos sentidos, sendo, pois, ressignificadas de acordo com a
sua perspectiva como educador (LOPES; MACEDO, 2011).
A ressignificação proporcionada na ação do docente a partir do Projeto aqui em
destaque enfatiza a necessidade de o professor estar em constante busca pela ampliação dos
seus conhecimentos tecnológicos diante do contexto da sociedade atual. Além disso, coloca
em prática a importância dessa necessidade, seja em sala de aula, seja em outros ambientes
sociais onde predomina a educação, em prol de mudanças significativas para a sua ação.
Questionada sobre a mesma pergunta, a Professora 05 expõe:
Antes a gente disputava o computador que tivesse na escola, pra levar pra aula, pra
usar com o data show, e já cada um com o seu pessoal não. Podia trazer, e aí era
melhor, porque, por exemplo, eu comecei a elaborar mais slides, porque antes eu
elaborava e trazia e às vezes não passava porque não dava pra passar na sala, porque
o computador tava ocupado, ou a sala de vídeo tava ocupada. E isso acabava
110
desestimulando né. E aí com o computador próprio, você não tinha mais esses
empecilhos, essa desculpa, você sabia que você podia mostrar o seu material, porque
você já estava levando o seu computador pra casa. [...] O tablet, no caso, ele não me
ajudou tanto quanto o computador. O notebook ajudou mais, em relação, até por ter
mais memória, a gente consegue planejar melhor pra montar uma aula, usar
PowerPoint. Já o tablet ele ficou um pouco mais restrito, pra gente fazer alguma
coisa já ficava lento, e sem falar que o intuito dele maior era entrar no sistema do
governo pra fazer a chamada né, diretamente no tablet e essa frequência direto no
sistema, só que aqui na nossa realidade é que o Wi-fi não pega na escola toda, então,
não adianta você ter vontade de fazer, tentar fazer, digamos chamar a frequência
online se você não tem acesso à internet (ENTREVISTA PROFESSORA 05,
MARÇO 2016).
Afirmamos que, no que concerne à Professora 05, ocorreu o que podemos chamar de
ressignificação do Projeto para a sua ação docente, tendo em vista que, após ter recebido as
ferramentas, a sua ação foi alterada, ganhando novas possibilidades metodológicas, havendo
alterações relevantes. Podemos considerar, ainda, nesse caso, que o Projeto ressignificou,
sobretudo, o contexto prático da escola como um todo, uma vez que veio a suprir com uma
necessidade que a escola estava passando naquele determinado momento, que era a
inexistência de computadores suficientes para os docentes.
Por fim, abordamos a concepção do Professor 06 frente aos novos
sentidos/ressignificações proporcionados pelo Projeto Professor Conectado no contexto da
prática, salientando:
111
É aquilo que te falei, o novo não foi novo porque eu já conhecia. Já tinha, eu já
trabalhava, não foi novo. A única diferença que ele trouxe é que era um tablet,
porque na época eu só tinha um computador. Depois que eu comecei a usar o do
estado que eu vi que não dava conta, eu tive que comprar o meu tablet. Aí sim,
comprei o meu, com uma capacidade maior de memória, melhor facilidade de
acesso, não restringia, porque o computador do estado tem uma restrição, porque
você quer usar além daqueles programas e ele não entra, tá preso, fica sob controle
lá. [...] Então, as mudanças foram maiores de sofrimento pra poder tentar lidar com a
ferramenta, com uma máquina que eu não tive total conhecimento, de como utilizar
ele em si. Então, eu preferi usar o meu computador, o meu tablet, pra não usar mais
o do estado. Aí o meu computador como eu já usava há muito tempo antes né, teve
problemas, tô com esse aqui do Projeto, que, como você tá vendo, já tá dando
defeito né, eu levei três vezes para o conserto, três vezes, e o cara já deu um
conselho, abandona isso aí porque não adianta. E eu tô segurando porque eu tô
fazendo reserva pra poder comprar um. Então, assim, o que mudou na minha vida
com o tablet? Nada, nada. Nada porque eu não consegui usar como era pra ser
usado. E não é porque eu não sei usar, eu sei usar o computador e sei usar o tablet, é
porque alguns programas que eu queria usar não funcionaram. E alguns programas
que tinham nos tablets, precisava de internet e a escola não tinha condições. A
internet é ruim, é fraca, não pega nada praticamente. Inclusive tem alguns
computadores daqui estão com problemas [...]. Então não adianta colocar materiais
tecnológicos se não tem condições de entrar nem na internet, não tem condições de
trabalhar. E hoje em dia um computador sem internet não tem quase utilidade, a não
ser escrever textos. Hoje em dia o computador só vai com internet e a internet da
escola não tá funcionando [...] (ENTREVISTA PROFESSOR 06, MARÇO 2016).
As políticas normalmente não dizem o que fazer; elas criam circunstâncias nas quais
o espectro de opções disponíveis sobre o que fazer é reduzido ou modificado ou em
que metas particulares ou efeitos são estabelecidos. Uma resposta ainda precisa ser
construída no contexto, contraposta ou balanceada por outras expectativas o que
envolve algum tipo de ação criativa (BALL; MAINARDES, 2011, p. 46).
112
Com base em Ball e Mainardes (2011), reforçamos a ideia de que sempre vão existir
embates e conflitos que podem dificultar e/ou até decidir os resultados e consequências de
uma determinada política que está sendo desenvolvida no contexto da prática. Logo,
entendemos que:
Ainda, acrescentamos que esses embates e conflitos não advêm somente dos sujeitos
que estão trabalhando com as políticas educacionais, mas também das próprias políticas. É o
caso do Projeto Professor Conectado, assim como evidenciado pelo Professor 06, que abordou
a ausência da qualidade das ferramentas para se trabalhar, o que dificultou o alcance de
resultados significativos para a sua ação docente.
Devemos entender que, ao serem criadas, as políticas não especificam como ou o que
devemos fazer para trabalhar com elas, mas proporcionam possibilidades e/ou condições para
que o sujeito desenvolva a sua própria atividade com base no que é mais conveniente com a
sua realidade.
Nesse sentido, compreendemos que os educadores não devem ficar estagnados no
desenvolvimento de suas ações se uma política não “funcionar” da forma como desejariam,
mas devem procurar estratégias em prol de soluções para tentar minimizar a demanda em
questão, seja por meio da própria política, seja por outros meios, vindo a ressignificar a
proposta da política, bem como a sua ação docente.
No caso do Professor 06, observamos que, mesmo diante das dificuldades
apresentadas pelo notebook do Projeto, ele conseguiu proporcionar novos sentidos para a
ferramenta, porque usou estratégias para ressignificar e aproveitar o que ainda funcionava da
ferramenta enquanto conseguia comprar um novo computador.
Vale ressaltar que, além dos resultados construídos e refletidos sobre as
ressignificações nas ações dos docentes a partir do Projeto Professor Conectado, sob a ótica
da Abordagem do Ciclo de Políticas de Ball e Bowe (1992), alguns aspectos também
considerados relevantes foram obtidos por meio da análise dos discursos dos docentes
entrevistados.
Enfatizamos a abertura que a política do Projeto Professor Conectado possibilitou para
que os docentes desenvolvessem suas estratégias, suas habilidades e adaptações necessárias e
113
pertinentes à construção das suas ressignificações referentes à própria política, o que resultou
na readaptação e na melhoria do desenvolvimento desta no contexto da prática.
Ao refletirmos sobre esse fato, percebemos que as fragilidades apresentadas pelo
Projeto Professor Conectado podem ser colocadas como relevantes para instigar a autonomia
dos docentes envolvidos com essa política. Uma vez frente a tais fragilidades, os docentes
procuraram novas estratégias e possibilidades para ressignificar a política, melhorando a sua
ação docente.
Ressaltamos que, além das ressignificações desencadeadas nas ações dos docentes a
partir do Projeto Professor Conectado, conseguimos perceber também as ressignificações
realizadas pelos docentes sobre a política do Projeto. Conforme identificamos no decorrer da
discussão, nem todos os docentes entrevistados apontaram ressignificações em suas ações a
partir da política trabalhada, mas todos os Professores entrevistados ressignificaram a política
ao desenvolvê-la com finalidades educacionais no contexto da prática.
Foi possível observarmos, por meio dos discursos dos entrevistados, que o trabalho
com o Projeto Professor Conectado chegou a ultrapassar o contexto da prática referente à sala
de aula. Com base nos discursos, podemos afirmar que as ressignificações propostas pelo
Projeto nas ações dos docentes entrevistados, bem como o trabalho deles com os recursos
pedagógicos com finalidades educacionais, são desenvolvidas em diferentes contextos, como
por exemplo, em suas casas e/ou em outros locais do contexto escolar.
Vale reforçar que “o contexto da prática” aqui trabalhado e “extraído” da Abordagem
do Ciclo de Políticas de Ball e Bowe (1992) não corresponde tão somente ao desenvolvimento
do Projeto Professor Conectado na sala de aula em si, pois o desenvolvimento da política
educacional perpassa o contexto prático da escola, exercendo influência na ação docente em
diversos contextos sociais em que a educação também se faz presente. Assim, os professores
não trabalham com a política educacional somente em sala de aula, mas também nos
contextos em que esse trabalho se faz necessário.
Enfatizamos os mais variados contextos práticos em que essa política é trabalhada
pelos docentes para esclarecer que, assim como defendem Ball e Bowe (1992), toda política
educacional, ao ser desenvolvida, recebe influências diversificadas de acordo com o sujeito e
com o contexto prático no qual está inserida. São os ditos conflitos e debates que entram em
ação entre os contextos sociais, os posicionamentos políticos dos sujeitos. Assim, acontece
desde a construção inicial das políticas públicas, perpassando o contexto de influência, o
contexto da produção de texto e o contexto da prática, como defendem Ball e Bowe (1992).
114
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
educacionais. Quanto às ressignificações, são os novos sentidos estabelecidos nas ações dos
docentes a partir do Projeto Professor Conectado. Essa articulação é sistematizada sob a ótica
da Abordagem do Ciclo de Políticas de Ball e Bowe (1992).
Os dados extraídos da realidade empírica dos professores entrevistados, analisados
com base no referencial teórico, possibilitaram a resposta ao problema que originou este
estudo e culminaram na consecução dos objetivos da pesquisa, conforme as considerações a
seguir.
A respeito da forma de divulgação e de como os professores tomaram conhecimento
da política, observamos nos discursos dos sujeitos entrevistados questões relacionadas à
inconsistência de informações acerca do desenvolvimento e dos objetivos propostos no
Projeto Professor Conectado.
Constatamos certas limitações que resultaram na ausência e/ou na imprecisão da
assistência técnica e da formação continuada dos responsáveis pela efetivação do Projeto nos
contextos escolares, o que afetou o desempenho educacional por parte dos educadores, uma
vez que a ausência de formação continuada, seguida pela falta de assistência técnica, foram
fatores que dificultaram a utilização das ferramentas nas ações dos docentes. Tal fato
denuncia a descontinuidade existente na política do Projeto Professor Conectado bem como o
despreparo, a falta de acompanhamento e avaliação por parte dos órgãos responsáveis pela
efetivação do referido Projeto nas instituições investigadas.
Merece destaque o desinteresse dos professores em participar dos cursos oferecidos
pelo Núcleo de Tecnologia Educacional com foco na utilização das ferramentas digitais. Essa
questão nos leva a refletir sobre a descontinuidade e o despreparo por parte dos órgãos
públicos frente à política estudada, pois, segundo os relatos de docentes, os cursos ofertados
pelo NTE não atendem as suas necessidades referentes aos usos das ferramentas tecnológicas.
Quando o docente necessita de cursos de informática básica, o Núcleo oferece cursos
avançados, e quando o docente necessita de cursos mais avançados, encontra cursos básicos.
Com base nesse entendimento, podemos afirmar que os cursos de formação
continuada ofertados pelo NTE não estão sendo vistos pelos docentes como significativos,
uma vez que não estão enriquecendo os seus conhecimentos frente ao uso das ferramentas
tecnológicas.
Outra questão que pode estar associada a não participação dos docentes nos cursos do
NTE e que também colocamos para reflexão é que a sociedade contemporânea exige, cada
vez mais, um perfil de profissionais autônomos, dispostos a buscar os conhecimentos
necessários para lidar com as demandas existentes no seu contexto de trabalho.
116
a aprender e a utilizar esses recursos tecnológicos acabaram por adentrar mais ainda na
realidade contextual na qual os discentes estão inseridos.
Como exemplo, verificamos que, com as ressignificações desencadeadas pelo Projeto,
os docentes passaram a ressignificar também as suas aulas, respeitando e contextualizando
com a realidade do aluno, aproximando a discussão do que o aluno pesquisa na internet aos
conteúdos estudados e trabalhados nas disciplinas, bem como realizando projetos em
consonância com as necessidades e demandas dos discentes.
Merece ênfase a constatação da ressignificação referente à otimização do tempo, na
medida em que, nesse caso, a ressignificação ocorreu tanto no que concerne à praticidade
oferecida pelas ferramentas disponibilizadas para a elaboração das atividades educacionais do
docente (como, por exemplo, na realização de pesquisas sobre conteúdos, imagens, vídeos ou
na construção de planos de aulas e no uso de slides) quanto na otimização do tempo de
trabalho (ao ministrar as aulas).
Outra ressignificação observada é a que está pautada na instigação e na necessidade
que o Projeto proporcionou ao professor no que diz respeito ao manuseio dos recursos
pedagógicos na sua ação docente. Destacamos que a alguns professores foi proporcionado o
primeiro contato com as tecnologias digitais a partir do Projeto, fazendo-os perceber a
importância de procurar conhecer e aprender mais sobre o meio tecnológico.
Percebemos mais uma ressignificação apontada na ação docente a partir do Projeto
Professor Conectado, referente à necessidade de os docentes se manterem atualizados frente
às transformações tecnológicas na sociedade. Constatamos tal ressignificação na fala de
docentes quando enfatizam que a política ampliou o interesse e a necessidade do docente de
buscar aprender mais sobre os conhecimentos tecnológicos.
Nesse sentido, observamos que a construção dessas ressignificações acontece com
base na realidade dos contextos práticos onde os docentes desenvolvem a política.
Acreditamos que é na relação existente entre o docente, a política e o contexto da prática que
os novos sentidos/ressignificações vão se configurando e sendo construídos. Enfatizamos
ainda que essa construção acontece tanto a partir da realidade proposta pela própria política
quanto pela oferecida pelo contexto em que a política entra em ação.
Diante do exposto, ao relacionarmos a forma como o Projeto Professor Conectado foi
desenvolvido pelos professores no contexto da prática com o que defende a Abordagem do
Ciclo de Políticas de Ball e Bowe (1992), podemos concluir que não ocorreu uma articulação
com os interesses dos sujeitos envolvidos com o Projeto, ou seja, não existiu uma
118
REFERÊNCIAS
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apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades federais (reuni) na
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jul. 2015.
APÊNDICES
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Após os devidos esclarecimentos, e ciente de que minha aceitação ou recusa não acarretará
em nenhum tipo de sanção ou prejuízo, e que mesmo aceitando posso, a qualquer momento,
desautorizar as gravações ou, até mesmo, desistir de participar da pesquisa.
Eu,_______________________________________________________________, autorizo
gravar em áudio as entrevistas realizadas durante a realização da pesquisa.
Assinatura do participante:____________________________________________
CPF:_____________________________________________________________
Testemunhas:
Nome:_________________________________Assinatura:__________________
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em nenhum tipo de sanção ou prejuízo, e que mesmo aceitando posso, a qualquer momento,
desautorizar as gravações ou, até mesmo, desistir de participar da pesquisa.
Eu,_______________________________________________________________, autorizo
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ROTEIRO DA ENTREVISTA
Seu nome:
Sexo:
Escola:
Quanto tempo você esta na instituição?
Qual a sua formação?
Quanto tempo você atua na profissão e na escola?
Fale sobre o seu processo de formação continuada?
PERGUNTAS NORTEADORAS
ANEXOS