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A CAFEICULTURA EM MINAS GERAIS: UMA BREVE COMPARAÇÃO

ENTRE AS REGIÕES SUL/SUDOESTE E TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO


PARANAÍBA

Ana Rute do Vale


Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL
ana.vale @unifal-mg.edu.br

Rodrigo Alexandre Pereira Calderaro


Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL
calderaro.ro@gmail.com

Francielly Naves Fagundes


Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL
fran_xadrez@hotmail.com

Resumo

Em se tratando de cafeicultura brasileira, o estado de Minas Gerais destaca-se como maior


produtor e exportador, uma vez que possui aparato tecnológico e logístico que facilitam o
desenvolvimento dessa atividade agrícola, ou melhor, dessa commodity. As mesorregiões
mineiras Sul/Sudoeste e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba podem ser destacadas pela elevada
produção e produtividade e por sua diversidade na cafeicultura e são, portanto, objeto de estudo
desse trabalho que pretende analisá-las de forma comparativa, buscando compreender as
diferenças e semelhanças entre as seguintes características: processo produtivo, mão-de-obra
empregada e comercialização da produção.

Palavras-chave: Cafeicultura. Análise comparativa. História. Produção. Mão-de-obra.


Comercialização. Exportação.

Introdução

A cafeicultura faz parte da história territorial e socioeconômica do Brasil, já que os


primeiros pés de café foram plantados no século XVI. Mas a partir do século XIX, o
café tornou-se o principal produto do cenário agro-mercantil, além de impulsionar a
industrialização brasileira no início do século XX. Ao longo dessa trajetória, no
entanto,“a cafeicultura brasileira passou por relevantes mudanças geográficas e
estruturais e, alternadamente, por momentos de crise e pujança, sempre mantendo sua
importância relativa para o desenvolvimento brasileiro” (VILELA; RUFINO, p. 15,
2010).
A década de 1960 foi um período importante que marca uma fase em que o Brasil é
responsável por mais de 40% das exportações mundiais de café. Com isso, o café foi se
tornando uma das principais commodities do país. Entretanto, essa participação reduz-se

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a 20% na primeira metade da década de 1990, vindo a se recuperar parcialmente
somente no final desse decênio, com a desvalorização ao real em relação ao dólar. Da
mesma forma, a produção de café em grão no país também decresceu nos últimos 30
anos, sobretudo, por conta de uma política do governo federal de erradicação de pés e
controle de estoques na década de 1990. A produção de café no país “passou a ser
definida por produtores ou por grupos de produtores” (COALIZÃO DO CAFÉ et al.,
2004, p.8). Isso significa que o setor foi se tornando cada vez oligopsônico e esse
processo de concentração está ocorrendo, sobretudo, com a entrada no setor de grandes
grupos estrangeiros, que veem adquirindo empresas e marcas regionais, que, além de
concentrar o mercado, também investem para cada vez mais nacionalizar essas marcas
(RIBEIRO, 2005, p.25). Mais adiante falaremos sobre esse assunto.
No momento atual, Brasil é o maior produtor mundial de café (35% da produção
mundial), sendo que, em segundo lugar, vem a Colômbia e, em terceiro o Vietnã. Com
produções em menor escala estão Indonésia, Índia, México e Guatemala.
Ribeiro (2005) ressalta que, pelo fato de Brasil e Colômbia produzirem café arábica, esse
país é nosso concorrente mais direto. Entretanto, temos um menor custo de produção,
maior produtividade e uma qualidade diferenciada, o que garante o crescimento de nossa
participação no mercado internacional (SAES; NAKAZONE, 2004).
Quanto ao Vietnã, o país dedica-se à produção de café robusta, que é “uma espécie de
café que é utilizada basicamente para compor uma mistura de bebida com a variedade
arábica, formando a base do processamento para a obtenção do café solúvel”
(RIBEIRO, 2005, p. 27).
A produção mundial de café tem aumentado significativamente desde meados da década
de 1990, mas o consumo não tem crescido na mesma proporção. Dessa forma, houve
queda nas cotações do café no início dos anos 2000 e a consequente diminuição do
parque cafeeiro. Saes; Nakazone (2004, p. 1) citando USDA (2004) usam como
exemplo a safra de 2002/03, quando “a produção alcançou o recorde de 125 milhões de
sacas, ao passo que a demanda foi de 109 milhões de sacas”.
Os referidos autores lembram ainda que, por possuir um parque cafeeiro complexo e
diverso, o Brasil é capaz de produzir bebidas de tipos variados e, portanto, ter mais
vantagens competitivas sobre seus concorrentes. Também destacam que em termos de
desenvolvimento tecnológico, o país também exerce liderança, sobretudo com relação à
fertirrigação e mecanização.

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Dessa forma, o complexo do café no Brasil vem consolidando sua grande importância
como gerador de renda e de divisas, por conta das exportações.
Sua cadeia produtiva é considerada, segundo Ribeiro (2005), com curta e de pouca
complexidade, embora tenha um elevado número de participantes. Assim, os setores
que compõem essa cadeia são:

os fornecedores de insumos à cafeicultura, setor industrial a montante da


produção agrícola; o setor agrícola que engloba a produção de café nas
propriedades agrícolas; o setor exportador de café em grão (verde); a
indústria de beneficiamento e processamento de café torrado e moído e a
indústria de processamento de café solúvel. Como podemos observar, dentro
desta cadeia se destacam três produtos de grande interesse comercial; o café
in natura (grãos); o café processado (torrado e moído) e o café solúvel
(RIBEIRO, 2005, p. 27).

Merece destaque nessa cadeia, o papel das cooperativas, presentes tanto nas fases de
beneficiamento e processamento do café, quanto na venda para os mercados interno e
externo. Elas funcionam como um agente financeiro que, ao conceder crédito aos seus
cooperados, acabam também por “viabilizar a aquisição de insumos, máquinas e
implementos agrícolas para a modernização da sua produção, com a ideia de tornarem-
se competitivas no mercado internacional” (REIS, 2009, p. 22). Todavia, em termos
gerais, as cooperativas, na maioria das vezes, nada mais são que atravessadores que
intermediam a relação cafeicultor/mercado consumidor. E nem é preciso explicar quem
leva maior vantagem nessa negociação.
Com relação à produção de café, propriamente dita, o uso de mão-de-obra destaca-se
pala sua intensidade (7 milhões de empregos diretos e indiretos, segundo o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2011), em especial na colheita e nos tratos
culturais. Todavia, Ribeiro (2005) defende a necessidade de melhoria de
competitividade nessa área e que a mesma deverá ocorrer por meio de mudanças em
parte do sistema produtivo, com formas de aperfeiçoamento, tanto dos métodos de
cultivo quanto do processo de colheita e armazenamento, contribuindo assim para que
sejam produzidos café de melhor qualidade. Além do mais, é necessário também
investir no aprimoramento genético do parque cafeeiro do país, plantando novos
cultivares mais produtivos e resistentes à pragas e doenças, por meio de universidades e
institutos de pesquisa existentes no país.
O cultivo de cafés finos e café orgânicos vem ocorrendo no Brasil há alguma tempo e
atendem a determinados nichos de mercado diferenciados, cujos preços pagos pelo
produto são mais elevados. A tendência é que o consumo desses cafés especiais cresça

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cada vez mais, incentivando o aumento de sua área plantada no país, embora ainda faltem
aos seus produtores informações sobre seu manejo, acesso a financiamento e como se
inserir nas estruturas de comercialização desses tipos de café (RIBEIRO, 2005).
No setor industrial do complexo cafeeiro brasileiro também vem modernizando seu
parque industrial com informatização e utilização de máquinas e equipamentos
modernos na moagem , torrefação e embalagem do produto.
No que se refere aos mercados consumidores mundiais de café são, em primeiro lugar,
os EUA e, em segundo, o Brasil, seguido pela Alemanha, Japão, França e Itália. Já na
exportação de café torrado e moído o domínio do mercado externo está nas mãos de
empresas europeias, principalmente alemãs e italianas. Embora exista um grande
número de empresas que operam no ramo de exportação de café, apenas 5 maiores
dominam: Tristão, Unicafé, Esteve, Stockler e Coinbra (36% das exportações brasileiras
de café verde, em 2001) (RIBEIRO, 2005).
Sobre a questão da comercialização do café por parte dos produtores brasileiros, a
situação é bastante complicada, uma vez que estão diante de uma organização de
produção de natureza competitiva e de um mercado oligopsônico, conforme já
mencionamos. Dessa forma, os cafeicultores brasileiros não têm possibilidades de se
apropriar dos valores adicionais dos serviços do processo de industrialização de
produtos advindos da cafeicultura. Ademais, faltam de políticas efetivas direcionadas
para a regularização da oferta de café de modo a estabilizar os preços.

O cafeicultor fica sempre à mercê das decisões de mercado unilateralmente


tomadas pelos compradores. A consequência de todo esse processo é que a
renda auferida pelos cafeicultores é mínima, se comparada com os valores
adicionais obtidos ao longo da cadeia agroindustrial do café, além de
apresentarem grande instabilidade. (TEIXEIRA, 2000, p.178)

Diante de tal situação, não é difícil entender porque eles não tem conseguido capitalizar
os benefícios da inovação tecnológica da indústria de insumos modernos destinados à
produção agrícola. Modernizar a cafeicultura significa investir em implementos e
insumos agrícolas que possuem custos elevados demais (15% da produção) para a
maioria dos cafeicultores brasileiros, sobretudo os médios e pequenos. Sem contar que
nesse mercado também predomina o oligopólio, o que acaba por transferir a renda da
cafeicultura para setores não agrícola, conforme ressalta Teixeira (2000).
O mesmo autor também critica o mercado de trabalho na cafeicultura por suas
imperfeições, tanto com relação à legislação trabalhista rural quanto na mão-de-obra

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familiar. “A legislação referente ao trabalhador rural está inibindo a utilização de mão-
de-obra, principalmente a assalariada, na agricultura, pois o elevado ônus a que o
proprietário rural está sujeito dificulta a sua utilização na propriedade rural”
(TEIXEIRA, 2000, p.180). No entanto, é preciso destacar a exploração dessa mão-de-
obra que existia até então e que ainda continua existindo nas fazendas de café que
possuem alojamentos com condições precárias de moradia e de trabalho, denunciadas
pela mídia.
Os principais estados produtores de café no Brasil, em ordem decrescente são: Minas
Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Bahia e Rondônia.
A liderança do Estado de Minas Gerais na cafeicultura se efetivou a partir da década de
1970, superando os principais Estados produtores, na época, Paraná e São Paulo. Isto se
deu principalmente pela existência de um Plano de Renovação e Revigoramento dos
Cafezais, proposto pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC), a ocorrência de geadas nas
principais áreas de produção desses dois estados, e a incorporação de extensas áreas de
cerrado. Peregrini; Simões (2011, p. 187) explicam que, desde então, a cafeicultura de
Minas Gerais vem apresentando maior produtividade com relação aos demais estados,
devido “em grande medida, aos esforços dirigidos pela pesquisa e transferência de
tecnologias, além da aptidão natural do Estado de Minas para condução desta cultura,
especialmente relacionada com as condições de relevo, clima e solos”. Tendo em vista
essa heterogeneidade, os modelos tecnológicos aplicados na cafeicultura são díspares
cujas potencialidades e fragilidades específicas de cada região produtora do estado
(VILELA; RUFINO, 2010).
Dessa forma, houve a possibilidade da expansão da cafeeira para Minas Gerais,
principalmente para o Sul/Sudoeste de Minas, Zona da Mata e Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba, a qual contou com subsídios governamentais para a instalação e ampliação
da área de cultivo do café. Embora essas três regiões se destaquem na produção de café
em Minas Gerais, seu cultivo também se faz presente nas demais mesorregiões,
conforme podemos observar na tabela1.

Tabela 1: Produção de café em Minas Gerais, de acordo com as mesorregiões


produtoras. Safra 2009/2009.
MESORREGIÃO PRODUÇÃO DE CAFÉ
(sacas de 60 kg)
Sul / Sudoeste 7.507.717
Zona da Mata 3.982.354

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Triângulo Mineiro / Alto Paranaíba 3.610.048
Oeste de Minas 1.485.178
Vale do Rio Doce 1.025.913
Campo das Vertentes 526.214
Noroeste de Minas 441.212
Jequitinhonha 407.497
Norte de Minas 311.300
Vale do Mucuri 116.460
Metropolitana de Belo Horizonte 46.301
Central Mineira 19.040
MINAS GERAIS 19.479.234
Fonte: EMATER (2009) in Pelegrini; Simões (2011, p. 190).

Nessa perspectiva, esse trabalho pretende analisar comparativamente a cafeicultura em


Minas Gerais, desenvolvida nas regiões Sul/Sudoeste e Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba, buscando ressaltar semelhanças e diferenças entre elas, sobretudo no que
tange à estrutura fundiária, processo produtivo (incluindo variedades e tipos de manejo),
mão-de-obra empregada e comercialização da produção. Destacaremos também a
atuação das cooperativas do setor cafeeiro, utilizando o exemplo de uma de cada região:
a COOXUPÉ (Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé Ltda.), no
Sul/Sudoeste e as pertencentes ao CACCER (Conselho da Associação dos Cafeicultores
do Cerrado), no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.
Como procedimento metodológico, utilizamos revisão bibliográfica e coleta de dados,
realizada durante trabalhos de campo da disciplina Geografia Agrária no curso de
Geografia da UNIFAL-MG, junto à COOXUPÉ, em 2010, e à COOCACER
(Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Araguari Ltda..), em 2012.

Cafeicultura no Sul/Sudoeste de Minas

Como o estado maior produtor de café do país, Minas Gerais “tem a economia de
grande parte de seus municípios baseada no agronegócio do café que pode ser
considerado como um fator de desenvolvimento regional”, sendo que 50% da produção
total está na região Sul/Sudoeste do estado (SILVA; SANTOS; LIMA, 2001, p. 1-2). Há
que se ressaltar que essa região é produtora de café do tipo arábica, ou café de altitude o
que contribui para que o estado de Minas Gerais seja maior produtor dessa variedade de
café, sendo responsável pela produção de 15,5 milhões de sacas de café (IBGE, 2007).

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Silva; Santos; Lima (2001, p.9) lembram que alguns fatores podem explicar essa
evolução do sistema agroindustrial do café na região, de acordo com pesquisadores
atuantes no setor do agronegócio cafeeiro: “a existência de financiamento, assistência
técnica, introdução de novas tecnologias, aumento das exportações, aumento dos preços
internacionais e a renovação a cafeicultura via apoio governamental”. Por conta desse
fatores, houve a expansão da área plantada, bem como da lucratividade do café no
Sul/Sudoeste de Minas, sendo que a tecnologia foi fundamental para que a região se
torna-se competitiva, sem esquecer-se da existência de uma boa estrutura de
comercialização e de que, por meio das cooperativas, insumos chegam às áreas de
produção de café.
A expansão da cafeicultura no Sul/Sudoeste mineiro se deu a partir do cultivo do café
no Rio de Janeiro e no Vale do Paraíba, no início do século XIX, que marca sua
primeira fase quando os tropeiros responsáveis pela introdução da planta nas cidades de
Airuoca, Jacuí e Baependi. Nessa época a produção se destinava para consumo próprio.
O segundo período de expansão começou no final do século XIX e ocorreu por conta do
deslocamento da cafeicultura do Oeste Paulista. Foi essa fase que permitiu o grande
desenvolvimento da cafeicultura na região, fazendo dessa mercadoria uma das
principais atividades econômicas agrícolas da região. O terceiro período coincide com a
expansão do meio técnico-científico-informacional para o meio rural e corresponde à
formação de um “moderno” circuito espacial produtivo do café, a partir da década de
setenta (FILETO, 2000).
Segundo Moreira (2007), as lavouras de café se propagaram rapidamente a partir do
século XIX e, no início do século XX, já impulsionavam a economia de municípios do
Sul/Sudoeste de Minas, tais como: Guaxupé, Varginha, Poços de Caldas, São Sebastião
do Paraíso, Cabo Verde, São Sebastião da Grama, Três Corações, Alfenas e Lavras.
Por seu relevo muito acidentado, a cafeicultura no Sul/Sudoeste de Minas destaca-se “a
elevada densidade do trabalho nas operações de cultivo devido à impossibilidade
topográfica de desenvolver uma agricultura mais mecanizada e poupadora de mão-de-
obra” (VILELA; RUFINO, 2010, p. 9). Dessa forma, “os cafeicultores dessa região
montanhosas apresentam graus reduzidos de flexibilidade de ajustamentos no uso de
recursos, capital e trabalho, no curto e no médios prazo, o que leva, pelo menos no curto
prazo, à baixa elasticidade de substituição de trabalho por capital” (TEIXEIRA, 2000, p.
186).

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Por outro lado, nessas regiões montanhosas as possibilidades de produção de cafés
especiais, orgânicos e ecológicos são maiores do que naquelas de relevos mais plainos,
como nas áreas de cerrado.

As dotações naturais de recursos naturais, o microclima, a sua composição de


produção agropecuária onde, em geral, predomina a combinação café com
leite, a grande concentração de pequenos agricultores e de propriedades
familiares, a sua localização estratégica em termos de mercados
consumidores e de corredores de exportação, a sua tradição na produção de
café e outros colocam essas regiões com ampla vantagem comparativa na
produção desses cafés diferenciados (TEIXEIRA, 2000, p. 187).

Podemos classificar, portanto o Sul/Sudoeste do estado de Minas Gerais, como uma


região característica do café, com presença de uma rede produtiva tradicional da cultura,
com extensas áreas de plantio, cooperativas importantes neste circuito produtivo como a
COOXUPÉ (Guaxupé), COOPARAÍSO (São Sebastião do Paraíso), COCATREL (Três
Pontas), Minas Sul (Varginha), a cooperativa de Poço Fundo que tem a particularidade
de produzir um café orgânico, dentre outras.
Segundo Castillo (2008), o sistema de armazenamento do produto, transporte e
escoamento da produção é bem integrado acarretando uma boa logística econômica do
café para a região, uma vez que desenvolveu infraestrutura e benfeitorias próprias que,
juntamente com a qualidade do produto, fez com que a região se especializasse nessa
commodity, por isso, tornou-se uma “região competitiva”.
Em termos de regionalização no Sul de Minas, o café é a principal atividade econômica
em decorrência do grande número de produtores (principalmente pequenos e médios),
das vastas áreas na região com plantações de café, da grande quantidade produzida, e
dos variados empregos indiretos. Por conta deste aglomerado de cooperativas cafeeiras
e de produtores agrícolas, tem-se uma região característica com uma concentração de
empresas de beneficiamento do café.
Para atingir um nível competitivo globalmente o agronegócio do café na região
precisou-se modernizar, levando a consolidação de um complexo agroindustrial, com
parcerias com os produtores, com as fornecedoras de insumos de maneira geral (adubos,
fertilizantes e nutrientes para o solo), e principalmente com a rede industrial, a indústria
transformadora da matéria-prima.
Por outro lado, apesar de toda a modernização da agricultura, do advento da
mecanização, ainda há muitas famílias, muitos pequenos produtores da região que
através de sua simples agricultura familiar produzem o café de maneira tradicional, pois

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o acesso a esses meios modernos, avançados é restrito aos grandes produtores que
possuem capital para investir na sua lavoura e modernizá-la.
Com relação à mão-de-obra utilizada na cafeicultura no Sul/Sudoeste de Minas, a maior
parte é contratada no período da safra, sobretudo na colheita. São os chamados
apanhadores de café e suas origens podem ser as mais variadas: nas unidades de
produção familiar podem ser tanto os membros da família, quanto os vizinhos (troca de
dias de trabalho ou assalariados da comunidade, em geral apenas quando membros da
família não são suficientes); nas propriedades médias os assalariados são predominantes
e podem ser da região ou de fora dela, geralmente do Norte do Paraná, Norte de Minas e
da Bahia (nesse caso, contratados pelos “gatos” em sua região de origem); e, por fim,
mas grandes propriedades o trabalho assalariado predomina praticamente em todas as
fases do ciclo produtivo do café” (COALIZÃO DO CAFÉ et al., 2004).
Em trabalho sobre o município de Campos Gerais/MG, inclusive em conversas com
cafeicultores contratantes que, Pereira (2011, p.5) constatou que a preferência na
cafeicultura pelos trabalhadores sazonais vindos de outros estados e regiões, pode ser
explicada “pela maior resistência física e “submissão” as condições impostas,
geralmente são menos politizados e, portanto, menos ameaçadores do ponto de vista
reivindicativo de direitos”. Isso se explica pelo fato de que por possuem uma
organização sindical débil, seu poder de barganha é reduzido, sendo facilmente
superexplorados no trabalho nas regiões produtoras de café (COALIZÃO DO CAFÉ et
al., 2004).
Outra particularidade na região do Sul de Minas, segundo Santos (2011) é a constituição
de cidades funcionais, desencadeado pela produção de cafeeira. Em decorrência do forte
agronegócio do café e a tecnologia aplicada ocorre uma imposição nos moldes urbanos
regionais visando atender as necessidades do campo, ou seja, uma reestruturação
territorial regional a partir da especialização econômica para a produção cafeeira.
A partir disso em termos regionais ocorreu uma dependência econômica aos arranjos
produtivos do campo, e o surgimento de cidades funcionais e de empresas grandes com
capital vinculado a este ramo econômico. Muita cidade no Sul de Minas tem
cooperativas de café municipais ou têm filiais de cooperativas especializadas de grande
relevância no mercado como é o caso da COOXUPÉ (Cooperativa Regional de
Cafeicultores de Guaxupé Ltda.), sediada no município de Guaxupé, que desenvolve
maior complexo industrial de café do mundo.

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Sobre a COOXUPÉ ela teve sua origem no ano de 1932, exercendo a função de
cooperativa de crédito agrícola, apenas em 1957 se torna cooperativa de cafeicultores. Essas
duas datas correspondem a períodos importantes da cafeicultura nacional e internacional,
pois na década de 1930, após a crise da bolsa de Nova York, o setor cafeeiro nacional
necessitava de incentivos para se reerguer. Assim em 1932 foi editado um projeto de lei
com objetivo de superar as dificuldades vividas pelo setor dando incentivos para a formação
de cooperativas. Já a década de 1950 foi um período de reestruturação do setor cafeeiro,
pois com o fim da 2ª Guerra Mundial, houve um aumento da demanda nos Estados
Unidos e Europa. Além da criação do IBC (Instituto Brasileiro do Café), incentivando
novamente a criação de cooperativas, visando vantagens econômicas. (SOUZA;
BIALOSKORSKI NETO, s/d citado por LIBÂNIO; CALDERARO; VALE, 2011).
Na cooperativa existe a parceria com os produtores da região do Sul de Minas, Alto
Paranaíba (Cerrado Mineiro) e Vale do Rio Pardo em São Paulo que vendem sua
produção de café ou a armazenam. Além disso, ela atua em outras áreas, como produção
de insumos agrícolas, grãos e cereais. Os cooperados compram os insumos usados na
lavoura na própria cooperativa como é de acordo no sistema da parceria e recebem
alguns créditos rurais. Existem mais de 10.000 cooperados. Segundo os dados do IBGE,
em 2002 a renda média dos agricultores brasileiros ligados a cooperativas foi de vinte e
seis mil e duzentos reais ao ano (LIBÂNIO; CALDERARO; VALE, 2011).

Cafeicultura no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba

Os primeiros cafeicultores a instalarem-se no Triângulo Mineiro, sobretudo nos


municípios de Araguari e Patrocínio, os quais mais tarde tornaram-se polos de dispersão
do café pelo cerrado mineiro. Eram cafeicultores de origem alemã, oriundos do Paraná,
que migraram em busca principalmente de terras com preço mais acessível e de
condições climáticas favoráveis livres das geadas, as quais de certo modo encontraram
no cerrado do Triangulo Mineiro, bem como do Alto Paranaíba.
A Revolução Verde ocorrida na década de 1970, desenvolveu uma série de técnicas e
tecnologia a qual possibilitou a expansão da agricultura sobre o cerrado. Nesta expansão
agrícola dois programas foram fundamentais para a difusão das novas técnicas e
tecnologia e dos incentivos, são eles o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados
(POLOCENTRO) e do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o
Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER), que objetivavam produzir grãos e outras

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culturas no cerrado com alta tecnologia. Eles foram fundamentais para a difusão das
técnicas de correção e adubação de solos, para a disseminação de novas espécies e
sementes adaptadas aos solos ácidos do cerrado, que puderam ser corrigidos através da
calagem. Nesse sentido, esse conjunto técnicas e tecnologias foram fundamentais para a
expansão não só do café, como também da soja, milho e o algodão sobre o cerrado
(CARNEIRO et al, 2005).
Para Ferreira; Ortega (2004) a difusão dos programas de desenvolvimento agrícola no
Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba ocorreu não só para a expansão do capital
agropecuário, mas também para o industrial, pois a partir desse momento este também
penetrou na região. Segundo França (1974) citado por Ferreira; Ortega, 2004, p.4) esses
programas governamentais tiveram com objetivo:

[...] viabilizar a exploração capitalista da terra, através de empresários rurais


que foram estimulados a intensificar a demanda de máquinas, equipamentos,
fertilizantes, etc., o que, por sua vez, incrementou a produção industrial [...]
considera que esta foi uma questão subjacente do processo, uma vez que foi
necessário abrir espaço via agricultura, para a expansão do capital não só
agropecuário, como industrial. (FERREIRA;ORTEGA, 2004, p.4)

Carneiro et al (2005) afirmam que, atualmente, o cerrado mineiro apresenta o maior


índice de produtividade no cultivo de grãos, dentro do Estado de Minas Gerais, pois é a
região que conta com maiores investimentos e apresenta os maiores índices do uso de
práticas de controle a erosão e conservação do solo, maior disponibilidade de técnicos
especializados e consequentemente é o mais monitorador por assistências técnica
especializada, maior consumidor de adubos e corretivos agrícolas, existência de um
programa de controle das pragas e pelo uso da irrigação difundido. Além disso, esses
mesmos autores indica que as microrregiões da mesorregião do Triangulo Mineiro/Alto
Paranaíba possuem junto com o Noroeste de Minas os maiores valores do Índice de
Aptidão Agrícola (IAG), sendo que a escassez de nutrientes e os altos níveis de toxidez
de alumínio foram compensados com o uso de adubos e de praticas corretivas do solo,
ou seja, a desvantagem de um solo pobre, ácidos e da falta de chuvas, foram
compensadas pelo uso da tecnologia e da irrigação.
As regiões Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba, na safra de 1995/96 superaram todas as
outras mesorregiões mineira na produção de grãos devido a expansão agrícola no
cerrado mineiro ter como princípios o constante aprimoramento tecnológico e
mecanização, passando neste momento ser a principal região agrícola do Estado, com

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perspectiva de futuros crescimento na produtividade, sobre tudo na cultura do café.
(CARNEIRO et al, 2005)
As áreas de cultivo de café no Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba apresentam
propriedades com áreas médias de 100 hectares, tendo produtividade média de algo
entorno de 40 a 45 sacas/ ha (Figura 1). Além disso, caracteriza-se pelo elevado
investimento em adubação, correção do solo, praticas de irrigação, por gotejamento em
muitos casos - a qual reduz o gasto financeiro e o desperdiço hídrico -, e mecanização,
principalmente nas colheitas.

Figura 1: Número de propriedades acima de 100 hectares nas microrregiões mineiras, em


1995/96.

A ausência de um grande número de pequenas e médias propriedades no Triângulo


Mineiro/Alto Paranaíba é fruto de uma política agrícola "modernizadora e
conservadora", a qual buscava expansão e o aumento continuo da área cultivada e da
produtividade através da inserção de métodos modernos e alta tecnologia no campo,
política que excluiu os pequenos e médios produtores deste processo de
desenvolvimento. Esse novo padrão tecnológico agrícola financiou a compra de terras
aos sulistas, deixando de lado os agricultores locais, pois estes, muitas vezes, não
dominavam as técnicas e tecnologias difundidas na Revolução Verde e não eram
capitalizados o suficiente para adquiri-los. (CARNEIRO et al, 2005)

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Dessa forma, os pequenos agricultores, descapitalizados e sem acesso ao sistema de
crédito, venderam suas terras adequadas a mecanização dada a grande valorização do
mercado. Com isso, muitos migraram para as cidades polos da região (Uberlândia,
Uberaba e Araguari), tornando-se trabalhadores temporários na cultura do café ou
desenvolvendo atividades urbanas, outros adquiriram novas terras em locais mais
acidentados e consequentemente menos valorizados (FERREIRA;ORTEGA, 2004).
Convém ressaltar também que, dado o clima mais quente e seco no inverno, com
temperaturas médias variando entre 18°C e 21°C (tropical de altitude), a região do .
cerrado no Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba não apresenta geadas, pois suas
temperaturas mínimas chegam próximos a 10°C nos meses de junho e julho, ou seja no
inverno, o que favorece o cultivo da cultura do café, uma vez que as geadas podem
proporcionar inúmeras perdas na produção do grão. No verão, época da florada do café,
é quente e chuvoso, o que favorece a formação dos futuros frutos, já no inverno o ar
quente e seco favorece o processo de maturação, retendo aroma e sabor ao café e
dificultando a fermentação por fungos. A precipitação média varia entorno de 1200 a
1800 mm/ano, sendo que os dois meses mais chuvosos são março e outubro, os quais
concentram grande parte da chuva do ano inteiro, no período entre maio e setembro, os
índices pluviométricos reduzem muitos, chegando próximo de zero. Diante da
existência de um longo período de estiagem a irrigação tornou-se uma necessidade
básica para a produção do café no cerrado, sendo que praticamente 100% dos
produtores utilizam desse mecanismo para produzir o café (SAES; JAYO, 1997).
Outra questão importante diz respeito ao tipo de relevo nas mesorregiões do Triangulo
Mineiro/Alto Paranaíba, que embora seja composto por planaltos, serras e chapadas,
com altitudes variando entre 820 e 1100 metros, apresenta extensas áreas planas a onde
a mecanização agrícola é favorecida,

[...] Uma vez que as máquinas automotrizes desenvolvidas para realização de


tratos culturais e colheita de café não são apropriadas para operação em
terrenos inclinados (predominantes na Zona da Mata e Sul/Sudoeste de
Minas), o custo de mão-de-obra corresponde a um percentual próximo de
50% do custo total de produção. [...] (PELEGRINI; SIMÕES, 2011, p.191)

A cafeicultura utiliza-se desta mecanização principalmente na época da colheita, visto


que a contratação de trabalhadores temporários é muito onerosa aos produtores, além
das exigências das leis trabalhistas que acabam por dificultar a contratação de mão-de-
obra, conforme já explicado anteriormente. Dessa forma, o uso da mecanização reduz

13
custos e, ao mesmo tempo agiliza a colheita (FERREIRA; ORTEGA, 2004). Ainda
segundo Pelegrini; Simões (2011) a mecanização da colheita no Triangulo Mineiro/Alto
Paranaíba se deve, entre outros fatores, à falta de mão-de-obra especializada e a busca
de vantagens econômicas.
Se por um lado os programas de desenvolvimento agrícola implantados no Triangulo
Mineiro/Alto Paranaíba, tornaram a agricultura mais moderna, com altos índice de
produtividade na cafeicultura como nas demais culturas, por outro lado a difusão
massiva desta tecnologia e da mecanização do campo, fez com que houvesse uma
diminuição no número de trabalhadores rurais empregados. Essa substituição do homem
pela máquina é bem mais vantajosa porque, segundo Ferreira; Ortega (2004 p.14),
“algumas das máquinas agrícolas, tais como colheitadeiras e derriçadeiras, têm
capacidade para substituir até 200 homens na colheita com a vantagem de trabalhar 24
horas ininterruptas e seu uso ainda pode reduzir em 40% o custo de produção do café”.
Os mesmos autores afirmam, ainda, que estima-se que o número de colheitadeiras
aumentou aproximadamente 375% entre os anos de 1990 e 2004, poupando cerca de
40% a 50% da mão de obra temporária destinada à colheita manual na safra de 2002, no
cerrado mineira. Além do mais, a mecanização da cafeicultura também contribui para o
aumento do êxodo rural, isto é, falta de emprego no campo leva estes trabalhadores
rurais a migrarem para as cidades em busca de emprego, que muitas vezes não
encontram, devido a baixa escolaridade e a falta de qualificação profissional, exigida
pelo mercado de trabalho urbano. Nota-se ainda que ultimamente surgiram empresas
terceirizadoras de atividades agrícolas, as quais estão atingindo até mesmo a agricultura
familiar, sendo que estas busca também na mecanização a redução do custo da colheita,
o que também contribui para a redução de vagas no campo e no êxodo rural
(FERREIRA;ORTEGA, 2004).
É interessante destacar também que para o desenvolvimento/aperfeiçoamento da
colheita mecanizada foi desenvolvida uma serie de modificações biológica, físicas e
química na cafeicultura, a qual possibilitou o aumento continuo da produtividade e
melhor aproveitamento dos espaços na lavoura. Dentre essas modificações podemos
destacar o desenvolvimento de plantas com porte mais baixo, técnicas de adensamento
de plantas de café, técnicas de correção do solo, adubação, controle de pragas e doenças
e de irrigação e de plantas alteradas geneticamente, que tem uma maturação mais longa

14
e uniforme, os quais sem duvida nenhuma viabilizou a intensificação da mecanização,
sobretudo na colheita. (FERREIRA; ORTEGA, 2004)
A diminuição nos empregos temporários na cafeicultura da região também tem gerado
uma transformação social regional, visto que os tradicionais trabalhadores rurais
temporários oriundos do Norte de Minas e Sul da Bahia, que comumente migravam
para a região na época da colheita, já não o fazem com tanta intensidade.
Nas últimas décadas observa-se um grande crescimento na produção de café em todo
Estado de Minas Gerais, mas sobretudo no Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba, este
aumento deve-se não apenas à expansão das áreas produtoras, mas principalmente em
decorrência da melhoria do índice de produtividade, o qual vem sendo alcançado graças
aos grandes investimentos realizados em pesquisas e tecnologias.

Figura 2: Produtividade de café nas Mesorregiões Mineiras, em 2001.

No entanto, algumas dificuldades são compartilhadas pelos cafeicultores do cerrado e os


demais cafeicultores mineiros, entre elas destacam-se a dificuldade de comercialização,
o desconhecimento do cenário econômico das bolsas de cotação do café e a falta de
assistência técnica especializada, conforme já mencionado.

15
Sendo assim, entendemos que a formações de associações e cooperativas, pode
representar um ganho aos produtores, uma vez que se elimina os intermediários nesta
transações o que aumenta significativamente o lucro ao produtor, além é claro de poder
facilitar a compra e o pagamentos de insumos, defensivos e equipamentos para a lida no
campo.
No Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba observamos a existência de muitas
cooperativas/associações e uma grande aceitação dos produtores, as quais parte do ideal
de ajuda mutua aos cafeicultores e de melhorar inserção e aumento da competitividade
dos produtores perante o mercado.
Em 1992, foi criado o Conselho da Associação dos Cafeicultores do Cerrado
(CACCER), com o objetivo de canalizar esforços para buscar a solução e lutar pelos
interesses específicos dos cafeicultores do cerrado e valorizar pela qualidade o café
produzido na região. O CACCER é formado por sete associações (ACARPA, ACA,
ASSOCAFÉ, AMOCA, ASSOGOTARDO, ACANOR e APPCER), sete cooperativas
(EXPOCACCER, COOCACER, COAGRIL, CAPAL, COPERMONTE, COOPA,
CARPEC) e uma fundação (FUNDACCER), reunindo 4.500 produtores numa área de
cultivo de 170.000 ha, espalhado por 55 municípios, produzindo 5 milhões de saca/ano.
O CACCER desenvolveu um mecanismo de crédito ao produtor e sistema que busca
reduzir as perdas dos cafeicultores, dadas as oscilações do mercado.

[...] a parceria entre o CACCER e o Banco do Brasil, que desde 1995 tem
possibilitado o acesso dos cafeicultores à cédula do produtor rural (CPR), que
é uma operação que funciona como uma antecipação da receita da venda do
produto, dando ao produtor condições de aguardar o melhor momento para a
venda de sua safra. Este sistema é uma espécie de mercado futuro em que a
instituição faz um levantamento dos interessados em adquirir o produto e o
vendedor (produtor de café) se compromete a entregar o produto no prazo
estabelecido, o que garante a venda de sua produção, sem que seja
pressionado pela necessidade de vender imediatamente após a colheita para
saldar dívidas de produção (GARLIPP, 1999, p. 45, citado por
FERREIRA;ORTEGA, 2004, p.11)

Outro mecanismo que agrega valor ao café, observado na região do cerrado mineiro, foi
a existência da certificação da qualidade e a indicação geográfica, ou seja, a existência
de um selo certificado produzido por um juiz da Q Grader SCAA a qual é acompanhado
por um laudo que comprava que este café foi produzido dentro de um alto padrão de
qualidade na região do cerrado mineiro, fatos que confere ao produto uma qualidade
singular no mercado. Esse certificado de origem é denominado “Café do Cerrado”, o
qual ao ser registrado, o conselho passou a realizar o controle de qualidade do produto,

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ação que, além da publicidade, inclui a facilidade de venda de máquinas de café
expresso, treinamento dos funcionários de bares e restaurantes e garantia do suprimento
do produto. (FERREIRA;ORTEGA, 2004, p.10-11)
Dentre essas cooperativas pertencentes à CACCER, destacamos a COOCACER, cujo
tamanho médio dos estabelecimentos rurais dos cooperados é 100 hectares, com uma
produtividade média de 40 a 45 sacas por hectares, altamente mecanizado.

Estabelecendo comparações entre as mesorregiões

A partir do que foi exposto sobre as características da cafeicultura nas mesorregiões


mineiras Sul/Sudoeste e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, elaboramos um quando
estabelecendo comparações entre elas.

MESORREGIÕES
CARACTERÍSTICAS Sul/Sudoeste Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba
Aspectos geográficos Relevo muito acidentado; Relevo mais plaino; clima
clima mais ameno mais quente e seco no inverno
(temperaturas baixas no (temperaturas médias entre
inverno, temperatura média 18° e 21°C); bioma
entre 16,5° e 20°C); bioma predominante é o Cerrado.
predominante Mata Atlântica.

Início da cafeicultura Início do século XIX. Década de 1970 (século XX).

Estrutura fundiária Pequenas propriedades Propriedades com áreas


(predomínio da agricultura médias de 100 hectares
familiar)

Processo produtivo Relevo acidentado e baixos Constante aprimoramento


recursos financeiros dos tecnológico e mecanização
pequenos produtores em todas as etapas do
dificultam total mecanização processo produtivo (inclusive
do processo produtivo. na colheita).

Mão-de-obra empregada Maior parte contratada no Tecnologia reduz número de


período da colheita trabalhadores contratados.
(apanhadores de café) e
oriunda do Norte de Minas,
Bahia e Norte do Paraná.

Comercialização da Predomina venda para Predomina venda para


produção cooperativas (que na verdade, cooperativas (auxílio aos
são atravessadores) cafeicultores na melhoria de
sua inserção e
competitividade no mercado

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É possível de observar que nas regiões onde a agricultura é mais mecanizada, há menor
emprego no campo, ou seja, ao realizar uma comparação do Sul/Sudoeste de Minas ao
Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba, perceberemos que o primeiro terá um número maior
de trabalhadores temporários e permanentes na lavoura do café em compensação uma
menor mecanização no campo, enquanto que no segundo ocorre o oposto.
Outro ponto interessante, o qual cabe um destaque, refere-se à influência da cafeicultura
na economia das mesorregiões do Sul/Sudoeste de Minas e no Triangulo Mineiro/Alto
Paranaíba. Enquanto na primeira mesorregião ela é a atividade econômica
predominante, sendo que muitas vezes o dinamismo econômico da região é dependente
da valorização do café; na segunda esta dependência econômica é menor, pois além do
café existem outras culturas influenciando no desenvolvimento regional (soja, cana-de-
açúcar, milho), fato que torna o Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba menos vulnerável
frente uma desvalorização na cotação do café.
Portanto, talvez o ponto comum entre a cafeicultura das referidas mesorregiões seja o
fato de que todos os produtores estão inseridos na produção de uma commodity, sujeita
a oscilações de preço no mercado internacional. Se, por um lado, no Triângulo
Mineiro/Alto Paranaíba o agronegócio do café cada vez mais tem excluído os pequenos
e médios produtores, diante das dificuldades em investir no desenvolvimento
tecnológico exigido para aumentar sua competitividade, embora contem com o apoio
das entidades filiadas à Federação dos Cafeicultores do Cerrado. Por outro, no
Sul/Sudeste há maior oportunidade para a cafeicultura praticada pela agricultura
familiar, mas as cooperativas que comercializam sua produção agem mais como uma
agroindústria, um intermediário entre ele e o mercado, que exige elevado padrão de
qualidade difícil de ser alcançado com poucos recursos.

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