A Responsabilidade Obrigacional Resumo
A Responsabilidade Obrigacional Resumo
A Responsabilidade Obrigacional Resumo
Recentemente, porém, essa equiparação veio a ser contestada por MENEZES CORDEIRO.
Por outro lado, parece-nos que no art. 798.o existe igualmente uma clara distinção entre a
ilicitude (o incumprimento da obrigação) e a culpa (a censurabilidade ao devedor desse
incumprimento), a qual não é diferente da contraposição entre a violação do direito subjectivo e
a culpa no art. 483.o.
Neste âmbito, ir-se-ão analisar os seguintes institutos onde se poderá equacionar essa
autonomização, quer da responsabilidade obrigacional, quer da responsabilidade delitual:
a) a responsabilidade pré-contratual;
b) a culpa post pactum finitum;
c) o contrato com eficácia de protecção para terceiros; d) a relação corrente de negócios.
A responsabilidade pré-contratual
Actualmente a doutrina da culpa in contrahendo torna-se imprescin- dível, uma vez que a
evolução da sociedade tornou cada vez mais com- plexo o processo de formação dos contratos,
levando à existência de con- versações múltiplas, envio de cartas de intenção, elaboração de
acordos de princípio e emissão de declarações negociais sob reserva. Ora, esta com- plexidade
da formação dos contratos vai criando sucessivas situações de confiança nas partes, que seria
inaceitável que não viessem a ser juridica- mente protegidas através da responsabilidade civil. É
essa a função dares- ponsabilidade pré-contratual, consagrada no art. 227.o,coma seguinte for-
mulação:
"1. Quem negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares
como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos
danos que culposamente causar à outra parte.
2. A responsabilidade prescreve nos termos do artigo 498.o".
simultaneamente a fase negociatória, que decorre desde o início das nego- ciações até à
emissão da proposta contratual, e a fase decisória, que decorre desde a emissão da proposta
contratual até à conclusão do con- trato, com a sua aceitação.
A lei impõe a observância das regras da boa fé durante todo o pro- cesso de formação do
contrato, entendendo que o mero facto de se entrar em negociações é susceptível de criar uma
situação de confiança na outra parte, confiança essa que é imediatamente tutelada pelo Direito,
mesmo antes de ter surgido qualquer contrato
deveres de protecção, que determinam que as partes na fase nego- cial devem evitar qualquer
actuação susceptível de causar danos à outra parte, sejam eles pessoais ou patrimoniais. A
jurisprudência alemã utiliza neste âmbito abundantemente a culpa in contrahendo para colmatar
as lacunas do seu direito delitual, talvez por forma excessiva como nos célebres casos do
Iinóleo/'», da casca de banana/s+ e da folha de hortaliça/'». Na jurisprudência portuguesa esse
entendimento não tem sido acolhido.
- deveres de informação, em especial quanto às circunstâncias que possam ser relevantes para a
formação do consenso da outra parte, e com especial intensidade quando uma das partes se
apresenta como mais fraca. Esta situação tem vindo a ser acolhida na jurisprudência.
deveres de lealdade, por forma evitar comportamentos que de tra- duzam numa deslealdade
para com a outra parte, aqui se incluindo a própria ruptura das negociações, quando a outra
parte tinha adquirido justificadamente a confiança de que elas iriam conduzir à celebração do
contrato.
É a violação desses deveres que gera a culpa in contrahendo, a qual, conforme refere GALVÃO
TELLEs769, abrange funda- mentalmente três situações:
1) a interrupção ou ruptura das negociações, levando a que o contrato não se venha a celebrar;
2) a celebração do contrato, em termos tais que este venha a padecer de invalidade ou
ineficácia;
3) a celebração válida ou eficaz do contrato, mas em termos tais que o modo como foi celebrado
gere danos para uma das partes.
A nosso ver, no entanto, a responsabilidade pré-contratual situa-se num meio termo entre a
responsabilidade contratual e a responsabilidade delitual, uma vez que não resulta do
incumprimento de uma obrigação previamente assu- mida, nem da violação de um dever
genérico de respeito dos direitos abso- lutos, mas antes a deveres surgidos no âmbito de uma
relação específica
entre as partes, que impõem a tutela da confiança no âmbito do tráfego negocial.
A culpapostpactumfinitum
culpa post pactum finitum. Consiste esta na responsabilização das partes, após a extinção do
contrato pelos danos causados à outra parte, em consequência de comportamentos que lhe
seriam vedados por força da boa fé. Efectivamente, após a extinção do contrato pode prolongar-
se a necessidade de observância de certas condi- ções para que se mantenha a satisfação do
interesse do credor ou não resul- tem danos para as partes. A boa fé impõe que, após o
cumprimento o deve- dor não venha retirar ou reduzir consideravelmente as vantagens que o
cumprimento proporcionou ao credor. Caso o venha a fazer, justifica-se a sua responsabilização
pelos danos sofridos pela outra parte.
O fundamento dessa responsabilização reside na violação dos deve- res acessórios de boa fé.
Os deveres acessórios que vigoram entre as par- tes por força do princípio da boa fé podem
manter-se após a extinção do vínculo obrigacional, uma vez que, conforme se referiu, a sua
função extravasa da simples realização do programa obrigacional. Assim, no caso de ter sido
criada uma situação de confiança, que se pressupôs ser respei- tada após a extinção do vínculo
obrigacional, não deixará de existir res- ponsabilidade se uma das partes trair a confiança da
outra parte (culpa post pactum jinuumitl>.
Não se trata nestes casos de um contrato a favor de terceiro (art. 443 .o), uma vez que o
terceiro não adquire qualquer direito à prestação, sendo apenas tutelado pelos deveres de boa
fé, que a lei impõe em relação às partes, e cuja violação lhe pemite recla- mar indemnização
pelos danos sofridos.
Também neste caso essa indemnização não corresponde aos pressu- postos da
responsabilidade delitual, uma vez que não se reconduz a deve- res genéricos de respeito, nem
aos da responsabilidade obrigacional, uma vez que o devedor, em relação ao terceiro, tem
apenas uma relação de pro- tecção. Estamos aqui manifestamente também no âmbito da terceira
via da responsabilidade civil.