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Londrina
2014
FABRÍCIO DA SILVA EVARISTO
Londrina
2014
FABRÍCIO DA SILVA EVARISTO
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Orientador: Prof. Me. Emerson dos Santos Dias
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________
Prof. Dr. Osmani Ferreira da Costa
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________
Prof. Dr. Manoel Dourado Bastos
Universidade Estadual de Londrina - UEL
(José Rico)
EVARISTO, Fabrício da Silva. A sobrevivência da música caipira na
programação em rádios de Londrina. 2014.114 fls. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação em Comunicação Social, com habilidade em Jornalismo) –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014.
RESUMO
ABSTRACT
The execution of this project seeks to understand the intense decrease in number of
caipira music shows in Londrina based radio stations brought by the arrival of the
21st century, albeit the city still keeps a modest well established caipira music
programming supported by scholars and followers of this musical style. There was
the concern to identify and understand the life of the historical figure known as
"caipira", the one who started with the trends that later consolidated into Brazilian
tradition and folklore, with the objective of better comprehending the source of current
popular music culture branches: from sertanejo raiz music to sertanejo universitário
music. Specifically on Londrina, the execution of this research work aimed at
understanding the historical conditions that transformed this city - that in 2014 turns
80 years old - in one of the main sertaneja music centers of this century. To this
extent, methods of journalistic investigation and interview were used, as much as
bibliographic research and document analysis.
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12
3 METODOLOGIA ....................................................................................... 30
REFERÊNCIAS......................................................................................... 105
1 INTRODUÇÃO
1
Vale destacar que o termo caipira vem do dialeto nheengatu, desenvolvido pelos jesuítas, na qual
caa significa mato, e pir, aquele que corta. Assim, caipira significa “aquele que corta o mato”.
(OLIVEIRA, p. 6).
14
principalmente foca na música chamada “de raiz” para avaliar a influência desta
mudança sobre a programação das emissoras de rádio londrinenses. A hipótese
deste trabalho é que o espaço da música caipira foi drasticamente reduzido no dial
ao longo das últimas seis décadas em Londrina. Tanto em horas de programação
quanto nas mudanças de horário considerado “nobre” pelas emissoras (início da
manhã e final da tarde).
Para atingir tal objetivo, esta pesquisa foi dividida em seis grandes
blocos que, por sua vez, são novamente divididos em tópicos para melhores
esclarecimentos das abordagens. Após esta introdução, o acadêmico-pesquisador
optou por apresentar as condições históricas e sociais do surgimento, da
consolidação e da drástica redução do sujeito histórico chamado de caipira.
3
A carta de Caminha original está disponível na íntegra no site da Biblioteca Nacional: www.bn.br .
Acesso em: 18 abril 2014.
17
(...) trabalha rijo com o auxílio dos seus e possui a melhor situação entre os
parceiros, podendo, além do plantio para subsistência, dedicar-se a culturas
lucrativas: amendoim, algodão, mais tarde formação de cafeeiros
(CÂNDIDO, 1975, P. 170).
Mas nem sempre foi assim. A folclorista Cascia Frade4 afirma que,
“segundo os historiadores do período medieval, o que existia antes era a cultura da
maioria, transmitida informalmente nos mercados, nas praças, nas feiras e nas
igrejas, aberta, portanto a todos. Monteiro et al nos explica que:
4
Disponível em: <http://www.unicamp.br/folclore/Material/extra_aspectos.pdf (s/data)>. Acesso em:
25 abril 2014.
23
o termo folklore – folk (povo), lore (saber) – foi criado pelo arqueólogo inglês
Willian John Thoms em 22 de agosto de 1846 e adotado com poucas
adaptações por grande parte das línguas europeias, chegando ao Brasil
com a grafia pouco alterada: folclore. O termo identificava o saber
tradicional preservado pela transmissão oral entre os camponeses e
substituía outros que eram utilizados com o mesmo objetivo – “antiguidades
populares”, “literatura popular” (VILHENA,1997 apud CATENACCI, 2001, p.
28).
5
William John Thoms, o primeiro a usar a palavra folk-lore, publicada no jornal The Athenaeum.
24
[...] a difundir pelo interior do país o hábito de tocar viola foram os tropeiros.
[...] Numa época em que a comunicação entre as vilas quase inexistia, os
tropeiros desempenharam também um importante papel cultural, levando
ideias e notícias de um lugar ao outro. Nessas viagens, era comum levarem
consigo suas violas, quase sempre conduzidas dentro de um saco de linho,
amarradas à garupa de seu animal (ANTUNES, 2012, p.14).
26
[...] várias duplas adotaram o humor em seu repertório, mas isso era muito
comum nos anos 1930 – quando o novo gênero que estava se formando
não havia ainda consolidado seu estilo musical. Era um tempo de muito
experimentalismo, e foi nesse momento que surgiu a dupla Alvarenga e
Ranchinho, respectivamente Murilo Alvarenga e Diésis dos Anjos Gaia.
Embora se apresentassem vestidos de caipiras, eles já não vieram da roça,
mas conheciam bem o linguajar e os trejeitos do homem do campo. A dupla
adotou a paródia e a sátira política como sua marca registrada. Outra de
suas características era a de contar anedotas entre os versos de uma
canção. Muito irreverentes, zombaram com enorme sucesso de ditadores,
políticos e dos costumes de sua época (ANTUNES, 2012, p. 33).
27
6
Texto retirado do site da Rede Bandeirantes de Comunicação, Disponível no site:
<http://entretenimento.band.uol.com.br/famosos/noticia/?id=100000501580>. Acesso em: 17 out.
2014.
28
ama a música [caipira] brasileira e não tem aonde ouvir. [...] A gente fica
muito feliz em ver aquele povo do auditório nosso, que tá lá há 25 anos
comigo. Eles vão, e vão levando filhos, vão levando netos... Aquilo vai
crescendo. E a nossa grande glória é que agora estamos arrastando a
criançada e os jovens. Tem muita criança querendo aprender viola.
Seriamente, sabe? E nós também revelamos muitos artistas mocinhos, que
estão gravando e brilhando por aí. Isso é muito agradável pra gente. De vez
em quando se diz: nossa, eu estou cansada... Mas não dá pra cansar,
quando aparece uma coisa dessas que você ama. E é um trabalho de
muitos anos que eu faço em cima do caipira. Eu não vou largar, agora eu
vou até o fim (BARROSO, 2005).
7
Programa “Especial Inezita Barroso”, apresentado em dezembro de 2005, como especial de fim de
ano. O programa foi produzido por Cristina Cortes e Paulo Roberto.
30
3 METODOLOGIA
8
Luiz Carlos Varize, o Havaí, da extinta dupla sertaneja Havaí e Avaré, é apresentador dos
programas “Clássico Sertanejo,” na rádio Igapó FM e do “Canta Viola”, na TV Tarobá, afiliada da
Rede Bandeirantes em Londrina. Havaí decidiu se dedicar ao rádio após a morte de seu
companheiro, e apresentou o seu primeiro programa na extinta Rádio Norte, chamado “Entardecer
Sertanejo”. No princípio, conta ele, que o programa ia ao ar das 3 horas da tarde domingo às 6. Com
o tempo, o horário se fixou entre 5 e 6 da tarde.
32
Por fim, em meio a tudo isso, este acadêmico reforça que não
deixou de fazer investigação jornalística e usar desta técnica profissional um método
de trabalho. O manual da Unesco sobre Jornalismo Investigativo (2013) afirma que
este estratégia também pode – e deve – ser usada em análises sociais e culturais,
principalmente porque todo trabalho de investigação alia dados e números aos
relatos e à História:
movida por palavras, ritmo e estrutura. Por sorte, isso não precisa ser
necessariamente um empecilho. Ao contrário: o domínio de nossas
ferramentas pode nos auxiliar a fazer delas uma grande vantagem. E essa é
outra interessante área que obviamente pode se beneficiar de uma medida
de investimento. O problema real está no entendimento geral – ou na falta
dele – em nossas sociedades sobre o verdadeiro propósito do jornalismo
investigativo (UNESCO, 2013, p. 8).
“refletia com grande realismo a enorme distância entre o mundo real e o urbano do
início do século XX” (ANTUNES, 2012, p. 25).
9
Violeiro e compositor brasileiro. Foi uma das figuras mais importantes da história da música caipira.
Entre suas composições de sucesso estão “Couro de boi”, composta junto com Palmeira, “João de
barro”, com Muibo Curi e “Pagode em Brasília”, com Lourival dos Santos.
41
Brasil rural nos anos 1950, numa época em que o país ainda não havia
alcançado o status de grande produtor mundial de alimentos e a grande
maioria dos seus trabalhadores rurais vivia de favor nas terras de poderosos
latifundiários (ANTUNES, 2012, p. 131, 132).
Eu acho que o sucesso meu e do Milionário foi com sacrifício! Por que é
aquela historia, fazer sucesso não é difícil. O difícil é mantê-lo. Vai muito da
forma como a gente conduz a arte. Por exemplo, tem artistas que fazem
sucesso e às vezes não conserva, ou ele extravasa, e acaba fazendo
alguma coisa que às vezes não é certo... Então ele deixa um pouco a arte.
Tem que saber conduzir a arte. A humildade é a primeira coisa dentro da
arte, por mais sucesso que o artista seja. Tem que ter humildade pra poder
43
10
Programa que dava espaço a duplas ligadas à música sertaneja de raiz, que estreou na Rede
Globo em agosto de 1981. Tendo Boldrin como apresentador, o programa foi ao ar até 1984.
11
O SBT, de olho naquele mercado emergente, coloca no ar o programa Sabadão Sertanejo, com a
apresentação de Gugu Liberato, que lança novos artistas e revive os já conhecidos (ANTUNES,
p.79).
12
A TV Record tinha o Especial Sertanejo, apresentado por Marcelo Costa, que era conhecido pelos
bordões “Caba não mundão” e “ô lugarzin abafadin”. (ANTUNES, p. 79)
13
Um dos poucos redutos em que as modas de viola ainda têm presença e espaço garantido.
44
14
Cartunista brasileiro e criador da famosa Turma da Mônica.
45
Tal fato é que dá a largada para aquilo que ele denominou música
caipira comercial – por envolver o mercado fonográfico e pela encomenda de
composições feitas pelos grandes patrões –, mas que muitos consideraram como
música sertaneja de raiz; outros ainda, somente música sertaneja. Waldenyr Caldas
(apud MONTEIRO et al, p. 20) “entende que música caipira é aquela canção
anônima e tem a ver com folclore, enquanto por música sertaneja, ele classifica
aquela que já é produzida no meio urbano-industrial”.
15
Chapa, geralmente de cor negra, empregada no registro de áudios. RPM se refere às rotações por
minuto do disco.
16
A canção faz parte do primeiro disco em 78 rpm, gravado pela dupla Zé Carreiro e Carreirinho nos
estúdios da gravadora Continental, no dia 5 de julho de 1950. Fonte:
http://www.letras.com.br/#!biografia/ze-carreiro-e-carreirinho .
17
Música presente no disco “Encontro de Poetas”, da dupla Biá e Dino Franco (compositor desta
canção), gravado em 1975, pela gravadora Chantecler. Fonte:
46
(...) as primeiras modas de viola gravadas ora tinham como temas principais
a vida do campo, ora satirizavam assuntos do dia a dia, fazendo uma
espécie de crítica social. Isso fica bem claro ainda nas gravações da dupla
Mariano e Caçula. Em 1930, ainda fazendo parte da Turma Caipira, eles
gravaram “Bonde camarão”, de Cornélio Pires, uma crítica ao transporte
público de São Paulo. O início da música registrava de forma bem clara a
insatisfação dos usuários desse serviço público:
(...) tudo isso mudou com o decreto de 1/2/1932, que autorizava a inclusão
de comerciais em 10% da programação. As rádios então foram em busca de
artistas e produtores e o veículo se tornou extremamente popular, abrindo
assim as portas para a veiculação da emergente cultura caipira (ANTUNES,
2012, p. 20).
20
Os mariachis são uma espécie de seresteiros populares que se apresentam em grupos de oito a
doze pessoas, nos quais os cantores são acompanhados por violões, trompetes e chitarrones. Eles
saíam pelo México se apresentando em cidades, praças, fazendas, sobrevivendo das doações que o
público lhes fazia. (...) O ritmo se tornou para os mexicanos o que o jazz é para os norte-americanos:
a maior expressão da alma daquele país (ANTUNES, 2012, p.44).
52
a bossa nova e o rock. Seu público era aquele mais ligado a festas
tradicionais que aconteciam no interior e na periferia das cidades. Ficou
sendo a música do pobre, do interiorano e do suburbano, e teve seu lugar
definido – era de segunda classe, do quintal, da cozinha. Os nomes do
período áureo, como Tonico e Tinoco e Inezita Barroso, ficaram relegados a
programas do tipo “hora da saudade” (OLIVEIRA, 2003, p. 255).
Outro ponto positivo da dupla foi o fato de que ela trouxe visibilidade
nacional para os artistas sertanejos através do sucesso “Estrada da vida”, que
chegou às paradas de sucesso em 1977 (ANTUNES, 2012, p. 67).
21
Pagode, pagode de viola ou pagode caipira, são denominações de um gênero novo, criado no final
dos anos cinquenta por Tião Carreiro, que se tornou uma das características mais marcantes do
artista, na qual passou a ser considerado o “Rei e Criador do Pagode”. O ritmo combina um complexo
toque de viola com outro no violão, que herda matrizes da(o) catira, dança e gênero muito antigo
praticado pelas populações caipiras, portanto matrizes caipiras (PINTO, 2008).
55
O que aconteceu no campo nos últimos trinta anos foi uma reforma agrária
que estabeleceu relações de trabalho capitalistas com o assalariamento da
mão-de-obra no campo e aumentou a produção. A solução econômica criou
problemas sociais cada vez mais visíveis. Hoje são os excedentes urbanos
desempregados que estão indo para o campo em busca de subsistência, e
há necessidade de expansão da produção para absorver a mão-de-obra
tanto no campo como na cidade (OLIVEIRA, 2003, p. 247-248).
57
Não era mais necessário ir para a capital para ter acesso à informação e a
bens de consumo, a boas universidades e a oportunidades profissionais. Os
interioranos, em vez de seguirem a reboque dos padrões da cidade, foram
buscar no country norte-americano os novos modelos de vestuário, de lazer
e de música. Eles permitiam casar a alma rural com o progresso e com a
riqueza, e não mais a alma ingênua com a pobreza (NEPOMUCENO, 1999,
p. 201).
22
Canção número 6, do disco “Mãe de Carvão”, de Liu e Léu, gravado pela Tocantins em 1989.
23
Composição de Dino Franco, a canção faz parte do disco “Rancho da Boa Paz”, de Dino Franco e
Mouraí. As gravações foram feitas pela Globo, em 1982. Fonte:
http://www.recantocaipira.com.br/duplas/dino_franco/dino_franco.html. Acesso em: 20 ago. 2014.
61
24
Informações contidas no site do grupo executivo da festa de peão de Barretos, “Os Independentes”,
disponível em <http://www.independentes.com.br/festadopeao/historia>. Acesso em: 17 out. de 2014.
62
Eu acho que a música raiz, que no começo de tudo fez um grande bem, por
que ela contou histórias maravilhosas que a gente ouve até hoje, e a gente
25
gosta. O sertanejo clássico deixou músicas lindíssimas que vamos ouvir
pelo resto da vida e não vai cansar também, por que é música que fala de
amor, e o amor tá em alta sempre. O sertanejo universitário, que a princípio
as pessoas torcem o nariz, fez um grande bem para música sertaneja. Por
quê? Por que renovou o público. O velhinho e a velhinha que gostavam da
musica caipira raiz, eles já estão se acabando. Daqui a alguns anos esses
velhinhos não existirão mais. Hoje, você canta uma música raiz num show
de sertanejo universitário e o povo canta junto; a molecada canta junto.
Obviamente que eu prefiro as músicas que falam de amor, e que contam
histórias (VARIZE, 2014).
25
Ele se refere ao sertanejo dos anos 80 e 90.
64
26
Dados apresentados pelo locutor Havaí.
27
Sorocaba chegou a afirmar que, "na posição que estou hoje, conseguiria me manter apenas com
os direitos autorais". A entrevista foi publicada em março de 2012 e está disponível no site do ECAD:
<http://www.ecad.org.br/pt/noticias/Clipping/Paginas/Sorocaba-'Hoje-conseguiria-me-manter-apenas-
com-direitos-autorais'.aspx> . Acesso em: 15 out. 2014.
66
28
Prefixo oficial da Rádio Londrina.
68
valsa). Não há muitos dados sobre a programação dela. Sabe-se apenas, através
dos locutores entrevistados que após a mudança de direção da emissora, 80% da
programação eram dedicadas ao sertanejo, assim como acontecia na Rádio Auri-
verde, já extinta29.
29
Não conseguimos registros sobre a data de fechamento da emissora.
30
Programa exibido das 5h às 8h,todos os dias.
69
31
O precursor da raça zebuína (o conhecido nelore) no Brasil, por exemplo, foi o fazendeiro
londrinense Celso Garcia Cid, também fundador da empresa de transporte terrestre Viação Garcia.
Entre 1957 e 1962, Garcia Cid fez três viagens à Índia e estabeleceu amizade com o marajá de
Bhavnagar, de quem adquiriu e importou o primeiro touro zebu. Mais detalhes da trajetória da família
estão na reportagem da Revista Dinheiro Rural. Disponível em:
<http://revistadinheirorural.terra.com.br/secao/agronegocios/as-racas-dos-garcia>. Acesso em: 11 out.
2014.
70
32
Dados do site da Câmara Municipal de Londrina, disponível em
<http://www1.cml.pr.gov.br/cml/site/historia_londrina.xhtml>. Acesso em: 10 out. 2014.
71
O que o ouvinte quer? Isso eu aprendi com o meu pai. Ele quer carinho,
respeito; você tem que sempre levar na seriedade, não procurar falar
73
33
Informações encontradas no site Recanto Caipira, disponível em:
< http://www.recantocaipira.com.br/mensageiro_mexicano.html>. Acesso em: 13 out. 2014.
74
34
Damos esta data pela falta de documentos de anos anteriores, que poderiam comprovar se o
programa já havia acrescentado os blocos “Atendendo Seus Pedidos” e “Cantinho Viola”, no período
entre os anos 1991 e 1994.
80
Andrey Linhares (2005) nos dá uma visão mais ampla de como tal
processo se dá, através de sua pesquisa realizada no município de Mossâmedes,
em Goiás, sobre a produção e a reprodução da identidade cultural caipira.
Havia e ainda há, entre os mais antigos, uma espécie de calendário lunar
35
que norteia muitas atividades no meio rural. Entre os mossamedinos , para
que haja maior êxito e melhor rendimento, muitas atividades são feitas
obedecendo às fases da lua: o milho, o feijão e o arroz são plantados nas
luas nova, crescente e cheia, evitando-se a lua minguante; a castração de
animais, como porco, cavalo e boi é realizada, preferencialmente, nas luas
nova e cheia; as folhas e verduras são plantadas na fase da lua nova;
espécies que dão em baixo da terra, como mandioca, batata e inhame são
plantadas na lua minguante; a minguante também é a fase mais adequada
para roçar pasto e cortar madeira quando se pretende fazer alguma cerca,
curral, paiol ou madeiramento para cobrir casas, pois, tal lua evita o
carunchamento e deterioração precoce da madeira; de acordo com os
informantes, a lua crescente não é muito apropriada para pescar; quando se
deseja que o cabelo diminua ou afine, a lua mais indicada para cortá-lo é a
minguante, para fazê-lo crescer, é a crescente e para aumentá-lo, a lua
mais favorável é a nova ou a cheia (LINHARES, 2005, p. 80-81).
35
Gentílico de quem é natural de Mossâmedes, município situado no estado de Goiás.
83
amanhece e dorme ouvindo rádio, depois de passar o dia todo nos pastos ou na
lavoura.
Renato Andrade, Almir Sater, para citar apenas os mais influentes. Antes que a
música entrasse no ar se fazia um breve histórico do artista, complementando o que
foi dito no parágrafo acima. Na sequência, é feita a seleção de uma hora com as
músicas mais tocadas nas rádios de todo o Brasil em “O Que Rola Nas Rádios”.
Inclusive são incluídas no repertório algumas duplas sertanejas, como Chitãozinho e
o Xororó, João Paulo e Daniel, Zezé Di Camargo e Luciano, entre outros do gênero.
Observamos que nos primeiros programas um determinado artista era
homenageado nesse bloco.
Foi dada uma atenção especial nesse bloco, não somente pelo fato
de o locutor interagir com o ouvinte, mas por ter-se observado alguns detalhes (ver
na figura 7) curiosos que chamaram a atenção deste pesquisador. Por exemplo, o
locutor anexava quase sempre no roteiro o nome do ouvinte com o pedido feito por
ele, ficando registrado como documento de análise para futuros pesquisadores,
como este.
Figura 10 – “Voz e Viola”: 23 anos sem mudar a fórmula. Programa dominical apresentado
no dia 6 de dezembro de 1998 na Rádio Universidade FM (parte I).
Eu vou, mas o programa vai se chamar “Voz e Viola”. Sou eu quem vai
continuar produzindo e as músicas serão escolhidas por mim, disse aos
diretores da rádio. Eles disseram: “O espaço é seu”! Houve um acordo
comercial aí. Mas, você vai ver na grade que na Universidade FM eu
apresentava 30 músicas por programa. Na Igapó eu não consigo. Por quê?
Tem um break a cada 20 minutos para os comerciais, né? Mas o programa
não sofreu nenhuma influência, continua do mesmo jeito. Eu consigo tocar
Leôncio e Leonel, entre esses outros aí até hoje, o que é muito difícil. Vai
até com chiado a música (risos). [...] Só tive um problema com as
entrevistas. Não tenho tido mais a mesma frequência que tinha na UEL FM,
pelas dificuldades do dia a dia. Se eu estivesse na Igapó o dia todo... Mas
só vou aos domingos. E, pelo programa ser domingo de manhã, fica difícil
pro cara, que muitas vezes trabalhou a noite inteira, ou vai viajar no mesmo
dia. Agora, faço as entrevistas sempre ao vivo. Quando uma dupla está
nessa área sertaneja de raiz eles sempre vão lá pra lançar o seu disco. Aí,
fico uma hora batendo papo com eles (TÓFFOLI, 2014).
Após esta cirurgia, ele buscou um “braço direito” para auxiliá-lo nas
locuções. A primeira parceria veio com Havaí, da dupla Havaí e Avaré. A dupla
natural de Santa Cruz das Palmeiras, São Paulo, veio para Londrina em busca de
um centro um pouco maior que a interiorana cidade onde nasceram para engrenar a
carreira de cantores sertanejos. Após a morte do companheiro, Havaí se dedicou ao
rádio e foi locutor de vários programas sertanejos. Podemos citar o “Especial
Sertanejo”, na Rádio Norte, onde iniciou sua carreira como apresentador.
O segundo parceiro foi Silas Luis, que continua até hoje auxiliando
Cléber Tóffoli na locução do “Voz e Viola”.
36
Conhecido escritor londrinense, vencedor de diversos prêmios Jabuti.
37
O produtor / locutor foi premiado duas vezes com o “Prêmio Rozini de Música”, por ter um dos cinco
melhores programas caipiras do Brasil.
97
Figura 16 – “Voz e Viola”: 23 anos sem mudar a fórmula. Programa dominical apresentado
no dia 31 de agosto de 2014 na Rádio Igapó FM (parte II).
Bom. Primeiro é por que eu tenho o meu comparsa, o meu cúmplice (risos).
E o horário do programa é bom, por que o pessoal tá folgado em casa, tá
fazendo um churrasco, tá lá no barzinho escutando... Um pouco é pela
minha teimosia, né? Porque já era pra eu ter parado. Por outro lado, ele [o
programa] trabalha na preservação da nossa cultura. Aqui, em Londrina e
região, quem não teve o pé na roça, o pai dele teve, o tio teve... De repente,
uma parte da família veio pra cidade, a outra ficou na roça. (TÓFFOLI,
2014)
38
Pesquisa realizada pelo Ibope Media, em 2014. Disponível em: < http://www.ibope.com.br/pt-
br/noticias/Paginas/Consumo-da-internet-pelos-jovens-brasileiros-cresce-50-em-dez-anos-aponta-
IBOPE-Media.aspx>.
102
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
que um estilo musical vai acabar é de praxe. Mas, temos comportamentos que
comprovam a existência e a resistência desse ritmo. Podemos perceber, por
exemplo, que o caipira tornou-se referência para diversos artistas de variados
gêneros musicais, a fim de renovarem seus repertórios.
39
https://www.google.com.br/search?q=radio+viola+viva&oq=radio+viola+viva&aqs=chrome..69i57j69i
65j69i60l3.2091j0j9&sourceid=chrome&es_sm=93&ie=UTF-8. Acesso em: 3 set. de 2014.
40
http://www.radiovioladeouro.com/. Acesso em: 9 set. 2014.
104
REFERÊNCIAS
CALABRE, Lia. A era do rádio. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
CASCUDO, Luís da Câmara, 1898-1986. Literatura oral no Brasil. 2 ed. São Paulo:
Global, 2006.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392001000200005&script=sci_arttext>.
Acesso em: 23 abril 2014.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa. 6ª ed. São Paulo: Editora
Atlas, 2008.
MOREIRA, Sonia Virgínia. O rádio no Brasil. Rio de Janeiro: Rio Fundo Editora,
1991.
NEPOMUCENO, Rosa. Música caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34,
1999.
OLIVEIRA, Cecília Chiarini Sales de; MALLOZZI, Felipe Pereira; BUENO, Noemí
Corrêa. A música brasileira de raiz: da origem à inserção na Indústria Cultural.
In:_______Enciclopédia do Pensamento Comunicacional Latino-Americano On-line.
Disponível em <http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/1/12/30_-
_A_musica_brasileira_de_raiz_-_varios.pdf>. Acesso em: 23 abril 2014.
PINTO, João Paulo do Amaral. A Viola Caipira de Tião Carreiro. 2008. 372 fls.
Dissertação (Mestrado em Música). Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
2008.
ANEXOS
111
ANEXO A
Entrevista com Cléber Tóffoli
CT: Na verdade isso começou nos anos 1800, mais ou menos; a gente não tem
data. Agora quando ela começou a ser sistematizada, isso aconteceu quando
Cornélio Pires se interessou por esse ritmo (1920) e formou a primeira turma
caipira. Mas antes disso, ele já apresentava grupos de dança, fazia palestras,
teatros, enfim. Era um cara totalmente integrado nisso. E a turma caipira
apareceu em 1928. Foi quando ele gravou a primeira serie de musica caipira,
tinha Sorocabinha, tinha Mariano e Caçula, mandi e Sorocabinha... Um monte. A
partir disso ele formou um grupo. E gravou uma musica sertaneja pela primeira
vez. Pagou do bolso dele e fez uma tiragem de 10 mil discos. Voltou e pediu
mais 20. Então as gravadoras se interessaram. Então, passou a ter turma caipira
da RCA Victor, entre outras. E a de Cornélio Pires deu fruto. Então, eu acho que
o inicio da musica caipira é de 1920. E culminou com a primeira gravação em
1928, e passou a ter show de musica caipira.
112
CT: Eu fui pra Igapó com uma condição, que a radio aceitou inclusive: “eu vou,
mas eu programa vai se chamar “Voz e Viola”, eu continuarei produzindo, as
musicas serão escolhidas por mim... “E eles disseram: “ o espaço é teu”! houve
um acordo comercial. Mas, você vai ver na grade que na Universidade FM eu
apresentava 30 musicas por programa. La na Igapó eu não consigo, por quê?
Tem um break a cada vinte minutos, que tem que ter os comerciais, né? Mas o
programa não sofreu nenhuma influencia, continua do mesmo jeito. Ai eu tive um
problema de voz, e sempre tive um locutor junto comigo para ajudar. Primeiro o
Havaí que era do ramo, era parceiro da dupla dele. Fui produtor de duplas tb. E
agora eu tenho um locutor comigo. Achei a minha alma gêmea (risos) pra
trabalhar comigo: o Silas Luiz, que é um locutor conhecido na cidade, que gosta
de musica caipira e sertaneja e ficou junto comigo, e então a gente apresenta o
programa em quatro mãos la na Igapó. Mas a produção continua sendo minha,
pq até hoje eu consigo tocar Leôncio e Leonel, entre esses outros aí, o que é
muito difícil. Vai até com chiado a música (risos). Trabalhei um período na Tv
Viana tb, na mesma produção do radio, mais ou menos.
CT: Bom. A ideia era sempre ter uma entrevista. Desde o primeiro tinha-se uma
entrevista. Todo domingo eu tinha um entrevistado, que fazia o cara contar
historias... e eu peguei todas as duplas regionais. As duplas de fora, quando
apareciam por aqui eu fazia uma entrevista. Quando acabou esse estoque das
duplas regionais, eu já estava mais conhecido... o pessoal passava pela
universidade e eu gravava uma entrevista. Eu estava sempre lá, então o cara
não precisava marcar comigo. Gravei com Leo Canhoto e Robertinho, Helena
Meireles, Pena Branca e Xavantino, Liu e leu... Então fui gravando com essa
turma toda. E eu tenho algum desses programas em fita cassete. Tinha esse
formato. Aí, perceberam que eu tinha que aumentar o horário. E quando eu fui
pra Igapó FM, acabei não tendo essa entrevista. O cara vai ao vivo e a entrevista
115
é ao vivo. Se o cara tiver aqui no domingo... Mas no domingo é difícil, por que o
cara trabalhou a noite inteira, ou tá viajando, mas não tenho tido mais essa
frequência. Mas quando uma dupla dessa esta nessa área sertaneja de raiz eles
vão sempre lá pra lançar o disco. Ai eu faço uma entrevista com eles, fico 1h
batendo papo... Então mudou um pouco esse jeito, ate pelas dificuldades do dia
a dia. Se eu estivesse na Igapó FM o dia todo, mas no. Só vou aos domingos.
Produzo em casa e levo prontinho num pen drive, o script todinho pronto...
CT: Era o “SUCESSOS DE SEMPRE”, que era o bloco das entrevistas. Depois
eu atendia o pedido, que eu trouxe do AM, por que o FM não tem essa cara de
atender pedidos. E eu fui fazendo um acervo de pedido e evitei repetir. Então eu
controlo o acervo. Tem cara que liga o ano inteiro e pede uma musica só (risos).
Então se eu tocar uma musica que o cara liga, se outro não liga,
automaticamente ele já pediu a musica também (risos). Então hoje a divisão é
essa:
F: Você acha que a musica caipira vai sobreviver com a chegada das novas
mídias?
CT: Pois é. o grande problema da musica é se tiver o parceiro que ouve do outro
lado. Enquanto essas pessoas existirem, qualquer mídia que tiver persevera. Os
caras começaram gravando disco de acetato, ebonite. Depois veio o LP, que
queria acabar com tudo isso... Acabou, tudo bem. Nos primeiros LP’s foram
tiradas as musicas dos 78rpm, já estavam gravadas e jogaram. Os primeiros
LP’s tinham quatro musicas de cada lado. Depois passaram a ter 12... Nessa
época lançaram o compacto simples e o compacto duplo, que era um disco que
as vezes era em 45 rotações, as vezes era em 33. O compacto simples tinha 2
musicas. Já no som do LP, aquele som bonito. Então. Ai veio a fita cassete.
Estava nos carros, e tal... E a musica caipira estava lá! Ai apareceu o MD, um
“disquetinho”... Achávamos que ele ia matar tudo. Que era um “cedêzinho” com
qualidade boa, mas tinha que ter o equipamento especial para ler. Ai ninguém
comprou e acabou. Por que a qualidade era excelente. Aí veio o cd né?! E hoje
os caras tão gravando musica de monte, que cabe no DVD, né?! Quer dizer, so
o som. O cara já usa pra caber um monte de musica, sem imagem. E o blu-ray...
e vai indo!! Então eu acho que não tem!! Enquanto o cara do lado de la, ouvinte,
achar interessante, essa musica não vai morrer, independente da mídia que
tiver. E tem mais, a viola sobreviveu, ne?! E a viola renasceu. A viola ajuda a
manter isso ai. O que tem de moleque tocando viola hoje... o que na década de
90, por exemplo, não tinha nenhum violeiro! Hoje esses meninos fazem show no
Brasil inteiro, misturando musica raiz com musica...
F: E você acha que as pessoas vão levar isso para daqui 50, 60 anos, com
todo esse movimento novo do universitário?
CT: Pois é, mas esse movimento já teve, é esse que tá ai! Faz tempo que ele
tem. Daqui a pouco ele é derrubado pelo axé da Bahia e acaba com ele. Vem o
pagode de escritório... (risos). Então, eles vão e vem, nesse espaço, por que ela
tem historia. Então aquilo que tem historia... Eu mesmo toco musica de 78rpm. e
eu sei que tem pouca gente que faz isso no Brasil. mas o que tem de radio hoje
na internet que toca musica raiz, você precisa ver! Então a mídia trabalhando a
117
F: Por que você acha que seu programa resiste até hoje?
CT: Bom. Primeiro é por que eu tenho o meu comparsa, o meu cumplice (risos).
E o horário dele é bom, por que o pessoal tá folgado em casa, tá fazendo um
churrasco, tá lá no barzinho escutando... Um pouco é pela minha teimosia, né?!
Por que já era pra eu ter parado já... Mas, por que ele preserva, trabalha na
preservação da nossa cultura. Aqui, em Londrina e região, quem não teve o pé
na roça, o pai dele teve, o tio... De repente uma parte da família veio pra cidade,
a outra ficou na roça. Eu acho que as rádios comerciais, elas dificultam por que
tocam o momento, né?! Mas daqui a pouco essa internet vai bombar. E aí, vai
ter uma tecnologia no celular, no radio, de casa vai pegar na internet. Eu acho
que ta faltando essas coisas. E acho também que as rádios comerciais é que
vão sofrer. Por que que a FM desbancou o AM? Primeiro por que a parte
técnica, os equipamentos são um quinto do preço. A antena do AM tinha que tá
num penhasco. A FM pode ficar em cima de um prédio. O cara com um
computador, com um microfone o cara poe uma radio no ar.
CT: Acho que é por conta das rádios comerciais, da grande mídia. Oitenta por
cento não gostam dessa musica (caipira). Então, eles gostam da coisa do dia a
dia, do pagode, do axé, do funk, não sei o que... Não tem interesse comercial.
F: Você acha que, por londrina ter sido a capital mundial do café, por ter
muitas pessoas que vieram da roça, não era pra se ter uma coisa mais
engajada?
118
CT: Eu acho que sim. Acho que falta mais gente pra ajudar a arrastar essas
coisas. Por exemplo, tem a universidade FM, que tem o espaço, e mantém. Eu
deixei o rastro lá, mas domingo já não tem. Então não é... e as outras
universidades deveriam ajudar também. Mas elas não têm nem radio educativa,
e precisavam ter.
CT: Muitas coisas! Coisas que a gente nem imaginava. Eu não sou professor (de
formação), não fui radialista. Essas coisas foram acontecendo, ate que um dia
eu me surpreendi e falei: ué mais, eu virei radialista? (risoooos) Será que eu virei
especialista? (risooos) Mas nada assim significativo. Mas algo marcante foi
quando a radio atingiu os seus 10 quilos. Foi muito marcante. Lutamos muito pra
conseguir aquilo. Na Igapó FM, foi duro vencer a barreira lá. Por causa da minha
voz. Demorei muito para ser aceito pelos diretores da rádio. Varias pessoas
tentaram tirar o meu programa do ar. “vamos tirar por que não da mais, não tem
jeito”. E no fim foi passando e tô lá até hoje.
CT: É uma coisa que me surpreende ate hoje, mas passou a ser normal. Eu
passei a ser um cara reconhecido pela minha voz. Que é um contraponto.
Domingos Pellegrini falou isso: você não sabe, mas esse problema que
aconteceu com a tua voz lhe trouxe um benefício. Hoje você é um cara
119
reconhecido; você tem uma marca. Se você falou o cara já sabe que é você. Por
outro lado, eu gostaria de ter uma voz mais livre, pra poder falar mais.
CT: Uma das coisas que eu mais gostava de fazer na vida era dar aula. E hoje
ela empata em mexer com música. Eu ouço musica caipira. eu recebo um disco,
eu ouço. Tem dia que eu não gostei, mas no outro dia ouço de novo e digo: tem
coisa boa li. Eu curto isso. Quem faz o que gosta não trabalha. 70% da minha
vida eu passei dando aula. E os outros 30% tô fazendo agora, mexendo com
musicas, interagindo com as pessoas. Mantendo hoje a companhia da viola. A
cada quinze dias nos reunimos pra tomar uma cervejinha, comidinha e receber a
visita de gente que tá passando por aqui. Recebi dois prêmios de Rosini de
musicas. Um dos cinco melhores programas do Brasil na área. Já fui duas vezes
premiado, lá em MG. Quer dizer, o cara sabe que eu existo. Então, essas são as
gratificações que a musica me traz.
120
ANEXO B
Entrevista com Havaí (Luiz Carlos Varize)
HAVAÍ: Bom. Toda vida eu mexi com musica desde pequeno. Sempre gostei de
cantar, trabalhava na roça e cantava, quando morava no estado de São Paulo. Ai
sempre tem aquele que fala: você canta bem! Por que não grava um disco? Mas na
minha época, gravar um disco era uma coisa meio complicada demais, impensável.
A gente pensava que para gravar um disco tinha que ser muito artista e tal e a gente
não se via como artista na verdade. mas a gente gostava de cantar. E o que
aconteceu? Conheci uma pessoa, um amigo, em Santa Cruz das Palmeiras (SP),
onde a minha família mora ate hoje, e a gente começou a ensaiar uma musicas
juntos e ficou ate bacaninha, e a primeira dupla minha se chamou Ivan e Havaí. E aí
gravamos o primeiro disco, no sofrimento da bexiga, mas gravamos. E viemos pra cá
pra sair da cidade pequena, vim para um centro um pouco maior. Achávamos que
pra cá era bom e aqui eu comecei a conviver com os grandes radialistas, os grandes
apresentadores de musica raiz e tal, e fui vivendo essa musica um pouquinho mais
raiz também. Através do seu Lázaro Calheiros, que é um dos principais radialistas
da nossa região, dos mais antigos, que tem um trabalho muito bacana, ele me
colocou no radio AM, por que ele queria que eu fizesse o programa, por que ele ia
montar uma empresa na praia, e acabei apresentando o sertanejo dele a tarde, das
5h a 6h da tarde pela Radio Norte AM. Em seguida, o Avaré ficou doente e faleceu
rápido, de câncer na cabeça. Aí eu me dediquei ao radio. Fui aprender sobre o radio,
e me apaixonei pelo trabalho de radialista, pelas musicas, pela historia do radio tb, e
fui conhecer um pouco melhor a musica que eu já vivia, que era a musica sertaneja
raiz, chamamos raiz, por que o sertanejo tem varias fases. Tem o raiz, de moda de
viola mesmo, viola e violão só. Depois tem os clássicos sertanejos, que eu denomino
assim por que são a transição entre o Vinil e o CD que ficou muita gente parado no
mercado, por que não inovaram. Por exemplo, Joao Mineiro e Marciano, Trio Parada
Dura, Milionário e J. Rico, enfim. Esses eu chamo de clássico, Chitãozinho e Xororó,
Zezé di Camargo e Luciano. Raiz, Tião Carreiro Tonico e Tinoco, Zilo e Zalo, Zico e
121
Zeca, Lourenço e Lourival, Liu e Leu e uma infinidade de outros artistas. E vim para
na FM pra ajudar o Cléber Tóffoli aos domingos de manha para gravar o programa
voz e viola pela radio Igapó FM. Quando também me deram a oportunidade de
montar um programa só meu. E ai, eu implantei o programa Clássico Sertanejo pela
rádio Igapó FM. Do Clássico Sertanejo, eu implantei também o programa Sucessos
Inesquecíveis, aí eu já toco Erasmo, Wanderleia, Tim maia... Basicamente um
resumo do que eu faço hoje em dia, entre TV e rádio.
H: Era maravilhosa, por que o ouvinte falava comigo. Ele queria falar comigo ele
falava comigo mesmo. Reclamava, pedida, sugeria, era uma relação mais íntima do
que a gente tem no FM hoje. Eu ainda continuo mantendo essa relação do locutor
atender o ouvinte. Por que eu sei o que o ouvinte está pensando a respeito da
programação. Coisa que as rádios estão tirando também. Hoje em dia você não
consegue, na maioria das rádios falar com o locutor, por exemplo.
H: Em torno de quatro anos, mais ou menos. E eu saí do AM por que tomava muito
o meu tempo. E a TV Tarobá que me deu a oportunidade de montar um programa
aqui, quiseram que eu tivesse mais tempo pra me dedicar a televisão. Aprender um
pouco mais da TV, mas sou apaixonado pelo AM até hoje.
H: Enquanto eu estive no ar não mudou nada, por que ele virou um sucesso. Ele era
um programa musical, informativo, com noticias da hora, questionava, reclamava,
dava opinião, por que esse é a vantagem do AM. Cheguei a ter quase 30
123
patrocinadores dentro do meu horário. Para o rádio AM hoje era uma coisa
espetacular.
H: Ela não existe mais. O prefixo dela que era 1160 quilohertz hoje é da rádio Globo.
Eles fizeram um acerto, por que hoje em dia as pessoas compram o prefixo e coloca
o que ele quiser lá. Durante um bom tempo, de Norte foi para Manchete, e depois
virou Globo.
H: O sertanejo universitário quase não tinha pedidos, por que não tínhamos também
ele tão amplo como hoje, mas na época os mais pedidos eram M e JR, JM e M,
Alam e Aladim, Trio Parada Dura, Tião Carreiro, Lourenço e Lourival, Liu e Léu, Zico
e Zeca, tinha muitos artistas que eram bastante pedidos mesmo.
H: Não é a mesma coisa. A música caipira, que a gente chama de raiz, ele sempre
tem uma historia pra contar. E a historia, normalmente é uma historia trágica de um
boi que matou a criança, ou do ranchinho que existia e não existe mais, e não sei o
que, historias saudosas. São historias que aconteciam com o povo, e eram escritas
em forma de musica, como a Morte do Ferreirinha, a Travessia do Araguaia, o
Mineiro e o italiano, Chico mineiro, Cabocla Tereza, enfim. Essas eu chamo de
musica raiz. E a música sertaneja, que eu chamo de sertanejo clássico, seria ai os
mais românticos. A música que fala de amor sem essa depravação que virou depois,
fazendo da mulher um objeto, por que eu te chuto, eu te largo, troco você por outra,
vou beber, vou encher a cara... Esse é o sertanejo que eles chamam de
universitário.
124
F: Você acha que foi ruim essa transição do caipira para o sertanejo?
H: Essa é uma boa pergunta que você faz. Tudo tem a suas mudanças e as suas
transições. Eu acho que a musica raiz, que o começo de tudo, fez um grande bem,
por que, ela contou historias maravilhosas que a gente ouve ate hoje e a gente
gosta. O sertanejo clássico deixou musicas lindíssimas que vamos ouvir pelo resto
da vida e não vai cansar também, por que é musica que fala de amor, e o amor tá
em alta sempre. O sertanejo universitário, que a principio as pessoas torcem o nariz,
fez um grande bem para música sertaneja. Por quê? Por que renovou o publico. O
velhinho e a velhinha que gostava da musica caipira raiz ele já esta se acabando.
Daqui a alguns anos esses velhinhos não existirão mais. Mas a musica veio fazendo
uma transição, e veio trazendo novos públicos. Hoje você canta uma musica raiz,
num show de sertanejo universitário e o povo canta junto, e a molecada canta junto.
Obviamente que eu prefiro as músicas que falam de amor, e que contam histórias,
eu gosto mais. Eu não gosto muito da historia contada pelo sertanejo universitário.
H: Em três. Que são aqueles de Tonico e Tinoco, duplas bastante antigas. Essa foi a
primeira época. Outra época: ML e JR, JM e M, Trio PD, as Marcianas, Nalva Aguiar,
Chrystian e Ralf, Daniel, etc. A terceira fase, é o sertanejo universitário.
F: Você acha que a musica caipira vai sobreviver com a chegada das novas
mídias?
H: Eu acho que sim! A música caipira, obviamente vai ser mais para os saudosos
mesmo. Eu acho que o universitário não fica muito tempo mais, eu acho que o
romantismo deve voltar. É uma perspectiva minha. Acho que vamos conseguir ter
bons compositores ainda, falando de amor, por que tudo é uma fase. Nós vivemos a
fase do pagode, da lambada, isso passou igual... o sertanejo universitário esta
demorando um pouquinho a passar. Mas, eu acho que passa também. Ninguém
aguenta mais esses, tique-tique, tchuqui- tchuqui o tempo todo, toda hora, a mesma
coisa; o cara faz um refrão só e fica repetindo esse refrão até ele enfiar na cabeça
125
da gente. Você vê que as musicas não ficam. Se eu falar pra você citar cinco
músicas universitárias que fizeram bastante sucesso você vai ter dificuldade de
lembrar. Vai lembrar cinco que fazem sucesso hoje, mas as de 5 meses atrás não
lembra mais, por que são musicas feitas para durarem 3 meses. É o tempo de
trabalho da musica. Faz para o radio tocar, tocar e tocar, depois trocam a música.
Na minha época, você tocava uma musica e vivia essa musica para o resto da vida.
Hoje, nos temos artistas que, ate hoje, cantam os mesmo sucessos que cantaram a
cinquenta anos atrás e fazem sucesso ate hoje. Tem publico pra eles ate hoje.
H: Eu sou um apaixonado por musica. Não me vejo sem ela. Desde criança. E eu fui
cantor de noite, era obrigado a cantar de tudo, e acabava que a gente gostava tb.
Então, o que mais me agradou ate hoje, e que eu agradeço a Deus sempre, é por ter
me dado a oportunidade de estar ate hoje na musica, e podendo dar oportunidade
para outras pessoas. Por que hoje em dia a mídia é paga. O cara quer fazer
sucesso, ele tem que pagar. Eu consigo ainda ser aquele cara que não cobro nada.
Ninguém paga para vir tocar no meu programa. E nem para tocar nos meus
programas. Eu ainda consigo manter esse espaço aberto para novos artistas. Eu
lanço gente o tempo todo, eu gostando ou não. Lanço para o mercado e não pra
mim. Então, o que mais me agrada na musica sertaneja é saber que ainda tem
espaço para novos artistas.
H: É tudo! Por que tudo o que eu fiz na minha vida, tudo o que eu tenho eu
conquistei através da musica. Cantando, apresentando, mas sempre com musica.
Sou um cara que tem a musica como uma grande parte de tudo o que eu conquistei
na minha vida. Então, sou um apaixonado pela musica caipira e defensor dela com
unhas e dentes.
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H: Acho que a importância da gente ter bons programas como “Voz e Viola”, é
manter a tradição, daquilo que o seu avo, seu bisa, seu pai viveram. São historias
que eles viveram, e que nos, estamos vivendo uma transição musical na verdade.
Mas que fizeram parte da nossa história. Então eu acho que a importância de ter
programas como o da UEL FM, do Cléber, o meu, do Nhô Batista, enfim. Tem muita
gente tocando, é importante. Pra que não deixe cair a nossa tradição. E toda a
musica universitária de hoje deve a musica raiz, onde tudo começou. A importância
é não deixar a raiz se apagar.
127
ANEXO C
Entrevista com José Rico
JOSÉ RICO: Meu nome é José Alves Dos Santos, depois ganhei o nome de José
Rico, por ser criado em Terra Rica (PR). Então, eu tive que alterar judicialmente;
hoje eu pedi meu nome completo é JOSÉ RICO ALVES DOS SANTOS.
JR: Olha rapaz, eu com o Milionário nós começamos em 1970. E, muito difícil né?!
Na atualidade nós estamos a 43 pra 44 anos de Milionário e José Rico mundo a
fora, levando a mensagem musical... E foi muito difícil! Só que eu tive a sorte de,
antes do Milionário, eu tenho 14 anos. Então 14 com 44 já vão pra quase 58 anos
que eu tenho de arte, sempre defendendo a música sertaneja, por que antigamente
era musica caipira, que era com viola e violão. Depois a gente foi introduzindo outros
instrumentos, a “regimentação”... então foi ampliando. No começo foi muito difícil de
quebrar tabu da música caipira para a música sertaneja. Que já regimentada, escrita
as vezes com partitura, que antes não tinha nada disso. Mas valeu a pena todos
esses anos, tem outros artistas que começaram na nossa época, que hoje também,
ainda se encontram na ativa; perdemos alguns parceiros de arte, mas todos que
participaram sempre deu uma contribuição a mais pra musica sertaneja.
JR: Não, não, foi bacana!!! O Leo Canhoto também, só que ele tinha um estilo de
música, era bang-bang, aquela coisa de velho oeste. Então ele tinha uma maneira
de conduzir os shows, e as musicas dele também, sempre falando... Buck sarampo,
Rock Matador e não sei mais o que... E ele fazia isso num palco, como se fosse um
teatro, era chamado de dramaticidade, e a coisa foi estendendo. O Léo teve uma
fase muito boa na musica, também introduzindo uma instrumentação diferente da
128
moda de viola. Então tudo isso faz parte, mas não deixa de ter sido uma evolução
muito grande... E valeu a pena!
JR: Não, é sempre, sempre! Por exemplo, eu sou admirador da musica mexicana,
paraguaia, argentina, eu gosto de tangos, de boleros, rancheiras; Miguel Aceves, eu
que segui ele durante muitos anos, pra mim poder ter o conhecimento das
rancheiras 6/8. Então a gente foi introduzindo alguma coisa e aprendendo com o
estilo mexicano e adaptando pra gente até formar quase o próprio estilo pra poder
construir a musica sertaneja romântica.
JR: Olha, eu acho que o sucesso foi com sacrifício! Por que é aquela historia, fazer
sucesso não é difícil. O difícil é manter o sucesso. E a gente, de acordo com a
maneira de conduzir a arte, uma coisa vai tocando a outra e beneficiando sem
duvida uma coisa e a outra, pra chegar, realmente, no conhecimento do sucesso.
Agora, tem um artista que faz um sucesso e as vezes não conserva, ou ele
extravasa, ele faz alguma coisa que aas vezes não é certo... Então ele deixa um
pouco a arte. Tem que saber conduzir a arte. A humildade é a primeira coisa dentro
da arte, por mais sucesso que o artista seja. Tem que ter humildade pra poder
conduzir. Agora se for querer dar uma de bacana, abuso, se prevalecer, é o começo
do final.
JR: Sabe o que acontece? No começo, nós tínhamos uma participação do radio,
sempre tocando as musicas e tal. Depois a própria evolução vai criando coisas
diferentes que finda as vezes sendo prejudicial. Por que, na realidade, hoje foi
formando e tornando-se um comercio muito forte da musica, da cultura musical.
Agora, antigamente os artistas viajavam por que sempre gostaram. Depois ,
sabendo que viajando, trabalhando, fazendo show, daria muito dinheiro. E essa
129
coisa começou a comercializar muito. E hoje o artista ele cobra cara para as coisas.
É tão difícil fazer o nome, as vezes quando faz não conserva, e as vezes perde.
Agora, o rádio, tem muitas emissoras que cobram execução, uma série de coisas,
mas são tudo evolução da coisa, né?! E quando descobre que vale a pena, que tem
comercio, então as pessoas lidam diferente. Mas em tudo é assim. Quando você
desenvolve alguma coisa, que alguém passa a entender o que você esta
desenvolvendo para o comercio, vai mudando todas as coisas.
JR: Olha, eu até diria o seguinte, que eles cantavam por gosto. Por que tinha uma
voz bonita, um dueto bonito, diferente, e ninguém tinha, praticamente aquele dueto,
mas era musica de bairro. Não era uma musica que podia ser universal. Nós temos
ai vários tipos da cultura musical, mas uns procurou manter. Outros não!
Abandonaram. Então vamos supor: o fulano hoje vai cantar na casa do fulano na lá
fazenda não sei o que. Então fazia um oba-oba lá, um comes e bebe e ia todo
mundo pra lá. Tantos artistas, cada um apresentava a sua musica do bairro; vamos
supor, eu sou da região de Franca, o outro da região de Ribeirão Preto; por que
Piracicaba, no estado de São Paulo, era a terra do cururu. Cururu era um desafio,
por que no Rio Grande do Sul chata desafio, no nordeste é repente. Então cada
estado, cada região, tinha um segmento da coisa da musica. Era moda de viola,
cateretê, depois vinha congada, folia de reis e cada um tinha um estilo. E quando
chegava o ponto de uma reunião, cada um apresentava aquilo. E muitos seguiam
por arte, por profissão, e outros faziam por que gostavam, estavam se distraindo,
tava vivendo.
F: Dá pra chamar então essa época, antes do anos 70, de musica caipira ou ela
já era musica sertaneja?
130
JR: A música caipira veio de viola e violão. Somente! Por que era solado, você ia
cantando a melodia e solando com a viola, tlan, tlan, tlan, tlan... Então não tinha
aquele ritmo que nos chamamos de levada, que são ritmos de estilo diferente.
Agora, uns vem introduzindo boleros, balanço, uma serie de coisas. Então a gente
vai criando. Então, eu me lembro de quando lancei o meu primeiro balanço, que eu
coloquei o nome de balanço, por que ninguém sabia o que era. Depois a própria
musica sertaneja caipira, quando foi começando a introduzir instrumentos, que ai
precisava de separação de divisão de tempo, e uma serie de coisas... Então foi
complicando. Quem cantava caipira mesmo não conseguia cantar uma musica
sertaneja. Por quê? Por que muitas vezes Tonico e Tinoco, quando iam fazer um
disco, ele eram acostumado a tocar viola e ir tocando. Depois que começou a pintar
maestro, fazendo a separação, ai os caipiras pararam de cantar, por que tinha que
fazer uma adaptação. Quando se falava de divisão eles não conseguiam. Tonico e
Tinoco cansaram de virar o instrumento com a corda pro peito e fazer que tava
tocando nas costas pra poder acertar o ritmo de cantar, se não conseguia. E assim
foi. Dai, quando surgiu os maestros, regimentando, ai os artistas... E quando foi pra
cobrir playback, ai outra dor de cabeça pra quem não tinha costume. Então foi se
adaptando e foi formando. Dai veio a musica sertaneja romântica. Ai foi introduzindo
bolero. Tião Carreiro, por exemplo introduziu muito tango. Então de tudo um pouco.
E o Tião era o rei do pagode, era moda de viola, tocava cururu, cateretê, depois ele
foi introduzindo com guarânea, valseado, e a coisa foi ampliando assim.
JR: Não, não, ela é importante! Por que você fazer uma poesia... é aí que começou
tudo. Agora, cada estado é um estilo. No Rio Grande do Sul nos tínhamos o
Teixeirinha e o Gildo de Freitas, que era repente, xote, vanerão, milonga, boogie. No
nordeste, Luiz Gonzaga, era baião, forro... Ia se adaptando. E cada um foi criando
uma coisa. Então cada um foi se identificando de uma maneira só.
131
JR: Não, não! É que a gente começou cantando, por exemplo, eu sou nordestino eu
cantai muito baião, samba-canção, samba de black, que eu fiz muito quando garoto.
Então tudo isso foi marcando pra gente.
JR: Não, não, eu diria o seguinte: o universitário não existe! Universitário gosta de
musica; seja rock, ou rap, o que for. Agora, inventaram esse nome de universitário; e
faz tempo que inventaram, e até hoje não se apresentou ninguém que se formou.
Então, quer dizer, não representou nada, não disse nada. Eles simplesmente
gostam de cantar e cantam musica sertaneja. Agora, uns, tentando ampliar (!) e
outros até derrubando a música. Eu nunca fui a favor de pornografia na música, por
que musica é cultura, e de repente, as pessoas ficam fazendo ai uma coisa que não
tem nada a ver com a cultura sertaneja, tem nada a ver uma coisa com a outra.
Então, eu acho até uma pena, tenho ate pena de pessoas assim, por que o
universitário... A quem que eu diria universitário... Existem muitos. Agora, ouviu falar
em universitário todo mundo quer ser universitário. Mas a verdade é: cadê a
criatividade? O que construiu? Nada! Só seguiu os outros. Até pegando repertório de
muitos artistas de sucesso e mudando umas coisas que não tem nada a ver uma
com a outra; mudando o vocabulário, palavreado e cortando pela metade muitas
coisas. Agora, por exemplo, eu gosto do Victor e Leo; gosto deles cantando. Agora,
o Fernando e Sorocaba, eles faz a musica deles. Se é considerado universitário eu
também não sei. Ai vem Guilherme e Santiago, que eu vi começando em Goiás, de
repente, vira universitário. O Zezé falhou uma vez em dizer que musica não é
cultura, musica é ficção, e não é. a musica, por exemplo, eu que me dediquei tanto,
e procurei tanto, dentro desse sistema de multiplicar, criar. Eu falo pra você. Quando
morreram os nossos companheiros de arte, Tião Carreiro, Duduca, Tonico, o
Belmonte, eu fiz uma musica que chama “Tributo aos Amigos”. Quando o Senna se
acidentou, que veio a falecer fiz a musica “Herói da Velocidade”. Então gente, é
desse jeito. A música, você retrata assim. Por que às vezes, você tem um
132
JR: É o que eu te falei. Música é cultura. Se você pode falar de coisas boas, que
sirvam de exemplo... se for pra falar absurdo é melhor ficar quieto e não falar nada.
Por que é aquela historia, volto a dizer: musica é cultura!
JR: O segredo é fazer um bom trabalho, ter humildade e seguir em frente. E outra,
se você puder, na oportunidade favorecer alguma coisa, o sucesso multiplica. Mas
se você tem uma parte do sucesso e começa a se prevalecer você vai perdendo o
espaço, de repente, você não representa mais nada.
F: É possível fazer esse tipo de musica, vide que a música esta tão comercial?
JR: Não, não, é sim! Pode ser feita! Por exemplo, só pra você ter uma ideia: eu
tenho uma fazendinha aqui no Paraná, que eu tive o gosto de fazer. Lá é simples,
mas é um cantinho pros meus momentos de folga. (ele recita uma poesia de autoria
própria sobre a fazenda). A gente faz isso com o coração. Isso faz parte, chama-se
criatividade! É vivendo e aprendendo. Então a gente tira os momentos bons disso
dai. É por isso que a musica é cultura, e não ficção, continuo dizendo!
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ANEXO D
Lista de duplas sertanejas/caipiras e artistas solos de Londrina e região
(atualizado em 2014)
Fonte: Luiz Carlos Varize (Havaí)
6. AS MONTEIRO LONDRINA