Plantas em Vasos

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Introdução

1 - Importância e uso das plantas.

A agricultura, em seu aspecto mais amplo, existe a aproximadamente 12 mil anos. Quando nossos ancestrais
abandonaram a vida nômade e passaram a cultivar a terra e a criar animais. Durante a maior parte deste período
estivemos ligados a terra, o homem “primitivo” gastava a maior parte do seu dia na missão de produzir alimentos
para sua subsistência e de sua família. Muita coisa mudou, as revoluções agrícolas, o capitalismo, a revolução
industrial e o avanço científico propiciaram o desligamento da maior parte da população dos meios de produção.
Atualmente, trabalhamos com diferentes atividades e podemos “trocar” dinheiro por alimento. O avanço
tecnológico permitiu um aumento na produção de alimentos nunca vista, assim como a ciência dos alimentos
propiciou a conservação e manipulação destes alimentos. Podemos conservação um alimento durante anos,
enriquece-lo com nutrientes ou simplesmente desconstruí-lo e reconstruí-lo como algo novo, que às vezes pouco
lembra o produto original.

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Apesar de todas as mudanças, duas coisas continuam exatamente iguais:

A primeira, é a importância imensa que as plantas exercem em nossas vidas e sociedade. Como alimento,
podemos dizer que dependemos 100% dos vegetais para nossa sobrevivência. Lembrando que mesmo a produção
de carne se baseia na alimentação dos animais com derivados de vegetais. Mas não para por aí, as plantas nos
fornecem a matéria prima de roupas (algodão e linho), construções (madeira), combustíveis (etanol e biodiesel),
medicamentos e ornamentação.

A segunda, é a necessidade da maior parte da população de se conectar a natureza. Durante milhares de anos
cultivamos plantas e estivemos em contato íntimo com o campo e mesmo morando em grandes centros
comerciais, muitas vezes em apartamentos, mantemos plantas por perto para nos reconectar.

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A arte de cultivar plantas promove ao ser humano prazer e satisfação indescritíveis. A cada conquista, cada flor ou
fruto obtido nos realizamos como humanos, está em nosso DNA. Muitos utilizam como uma forma de terapia
combatendo estresse e ansiedade. Existe até um nome conceitual, “Hortoterapia” que nada mais é que uma
terapia que alia o trabalho direto com a Natureza com técnicas que ajudam o indivíduo na gestão do stress e na
promoção do seu bem-estar.

Mas apesar de toda satisfação, existe um outro lado da moeda. Assim como é gratificante o sucesso no cultivo de
uma espécie, pode ser extremamente frustrante quando fracassamos. As plantas cultivadas evoluíram em regiões
diversas do planeta e foram selecionadas para as mais diversas condições de ambientes, assim exigindo cuidados
diferenciados.

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Essa situação se torna ainda mais complexa quando cultivamos em vasos. No campo ou na natureza, uma planta
tem como se adaptar e “lutar” pela sua sobrevivência. Suas raízes podem se alongar em busca de água e
nutrientes e sua copa se elevar em busca de luz, mas num vaso em um ambiente doméstico aquela planta
dependerá quase que exclusivamente dos cuidados fornecidos pelo seu cultivador.

Quando cultivamos, as dúvidas sempre surgem: Quando plantar? Como plantar? Qual adubo usar e o quanto
aplicar? Qual a época certa? Como controlar pragas e doenças? Por que minha planta não floresce? São tantas
perguntas!

Foi pensando nisto que este curso foi criado, o objetivo é repassar conhecimento e todo um conjunto de técnicas
que permitirão o sucesso no cultivo doméstico de uma variedade de espécies. Queremos que tanto o cultivador
quando a planta cultivada tenha a melhor qualidade de vida e bem-estar possível, em plena convivência e
harmonia.

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2 - Tipos de plantas.

Discorrer sobre os diferentes tipos de plantas significa apresentar uma forma de classificar as mesmas. Apesar de
muito útil didaticamente, classificar é algo difícil e depende muito da referência adotada. As plantas podem ser
classificadas de acordo com a sua família botânica, origem evolutiva, aspectos de sua fisiologia vegetal e/ou
agronômicos. Do ponto de vista deste curso, abordaremos um pouco sobre diferentes classificações, porém
focando principalmente na forma como a mesma é cultivada.

2.1 - Cultivadas e não cultivadas.

Uma primeira divisão é entre as plantas cultivadas, não-cultivadas e potencialmente cultiváveis. Não é necessário
dizer que a proporção de plantas cultivadas é infinitamente menor do que as existentes no mundo. Existem mais
de 200 mil espécies vegetais conhecidas, desse total cerca de 100 foram domésticas e originaram as principais
espécies cultivadas no mundo. Além disso, do total de espécies cultivadas, 20 são responsáveis por 90% da
alimentação mundial e 3 delas (trigo, arroz e milho) por metade dos alimentos no mundo.

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Com o passar do tempo ocorreu padronização do que consumimos e mais, diversas espécies potencialmente
alimentares ficaram de fora do processo. Curiosamente, constantemente estamos redescobrindo plantas com
interesse ornamental ou medicinal, seria muito interessante se redescobríssemos também o valor dessas espécies
alimentares.

2.2 - Plantas agrícolas e hortícolas.

Durante a história algumas plantas foram designadas para o cultivo em campo, no geral grandes extensões de
terra próximo a fontes de água (rios e lagos), enquanto outras foram destinadas ao plantio em hortos, uma área
menor próxima as residências. Assim foi criada uma divisão interessante do ponto de vista agronômico, temos as
plantas agrícolas chamadas de Grandes culturas (grãos e cereais) e as plantas hortícolas (fruteiras, hortaliças,
ornamentais, medicinais e condimentares) que são aquelas que podem ser cultivadas em hortas de pequeno ou
grande porte, pomares, em varandas, terraços e jardins.

2.3 - Plantas hortícolas.

As plantas hortícolas, em geral, são aquelas caracterizadas por apresentar uma maior exigência em recursos
(financeiros e humanos) e cuidados para serem cultivadas. Por outro lado, também são aquelas que apresentam o
maior rendimento por área, para se ter ideia 1 hectare (10 mil m2) de feijão produz cerca de 2 toneladas de grãos
enquanto a mesma área plantada com tomateiros pode render mais de 120 toneladas do fruto. Apesar dos
pontos em comum mencionados, essas plantas podem variar muito em termos de arquitetura, desenvolvimento,
exigências e usos. Vamos discutir um pouco a respeito.

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2.3.1 - Frutíferas.

As frutíferas são compostas por espécies arbustivas e arbóreas caracterizadas pela produção de frutos com
elevado teor de açúcares e por serem perenes, ou seja, apresentarem uma expectativa de vida longa. Desta
forma, todo o planejamento do plantio, manejo e colheitas devem ser feito na expectativa de longo prazo.
Tecnicamente e didaticamente são dividas em fruteiras tropicais (a exemplo das bananeiras e mangueiras) e
fruteiras de clima temperado (macieiras, videiras e pereiras).

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2.3.2 - Olerícolas.

Apesar de ser um termo bem conhecido no meio agronômico pode soar estranho as demais pessoas. Mas as
olerícolas são todas as plantas que produzem os alimentos que chamamos popularmente de verduras e legumes,
além de alguns frutos doces como o morango, a melancia e o melão. O que define estás plantas são seu ciclo curto
e a grande demanda de cuidados no seu cultivo em relação a outras culturas. Podem ser divididas em hortaliças
folhosas (a exemplo da alface, repolho e couve), hortaliças fruto (abóbora, tomate e pimentão), hortaliças
tuberosas (batata, cenoura e beterrabas).

2.3.3 - Ornamentais.

As plantas ornamentais abrangem uma variedade imensa de plantas de famílias, portes, ciclo de vida, exigências e
cuidados diferentes. O que todas têm em comum é o valor paisagístico, sendo cultivadas para embelezar
ambientes e proporcionar a sensação de reconexão com a natureza. Fora isto, temos plantas tão diversas como as
cactáceas e suculentas (capazes de permanecerem dias sem água) até plantas que extremamente exigentes como
os musgos. Existem plantas adaptadas a sombra, meia-sombra e a pleno sol. Todos estes aspectos devem ser
considerados para se ter sucesso no cultivo de ornamentais, por outro lado são as plantas mais trabalhadas e
estudadas para o cultivo em vasos.

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2.3.4 - Medicinais.

Assim como as ornamentais, as plantas medicinais apresentam uma grande variedade de espécies. O que as
agrupam é a existência de princípios ativos capazes de atuarem na prevenção e/ou tratamento de doenças.

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2.3.5 - Condimentares.

Por fim, as plantas condimentares são aquelas utilizadas como ervas aromáticas e temperos dos alimentos. Por
exemplo, salsinha, coentro, manjericão, alecrim, entre outras. No geral, a forma de cultivo é muito semelhante as
das olerícolas. É interessante comentar que estás plantas apresentam princípios ativos à semelhança das
medicinais.

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3 - Cultivo de plantas.

O segredo fundamental para se ter sucesso nessa atividade é saber o que aquela planta necessita. Alguns aspectos
são comuns a todas as plantas, porém existem peculiaridades a depender da espécie cultivada. Vejamos algumas
exigências comuns.

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3.1 - Água.

Água é um fator primordial para existência de vida, não é à toa que existem plantas compostas por até 95% de
água. Então, se você quer que sua planta cresça e se desenvolva será necessário fornece-la água. Entretanto,
fornecer água não significa mata-la afogada. Plantas diferentes vão exigir um volume de água diferente de acordo
com a sua fisiologia, fase de desenvolvimento, idade, porte, ambiente de cultivo e o tipo de substrato.Excesso de
água favorece o apodrecimento da planta e a ocorrência de doenças, por outro lado, sua escassez faz com que a
planta pare de nutrir e crescer. Ambas as situações podem levar a morte.

3.2 - Nutrição.

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Todos os seres vivos necessitam de nutrientes para crescer e se desenvolver. Os nutrientes essenciais das plantas
estão no ar, na água e no substrato em que elas se desenvolvem. São ao todo 16 elementos essenciais e mais 3
benéficos. Como um cultivador de sucesso é fundamental que você forneça todos estes elementos à planta e o
mais importante “na medida certa”. Muito de um dado nutriente poderá atrapalhar seu desenvolvimento e até
mesmo intoxicar e matar a planta. Pouco nutriente fará com que ela não se desenvolva ou produza e em casos
extremos também poderá levar a planta a morte. A chave de tudo está no equilíbrio, para atingi-lo é necessário
conhecer bem a exigência da sua planta e de como se comportam as fontes destes nutrientes (fertilizantes e
adubos minerais e orgânicos). É importante ressaltar que não existe um adubo ou quantidade ideal para todas as
espécies, sendo fundamental conhecer a necessidade da planta a ser cultivada para escolha do adubo certo e
dosagem.

3.3 - Substrato.

O substrato nada mais é do que o meio físico no qual as raízes se desenvolvem e a planta se sustenta. Nem por
isto devemos subestimar sua importância, além de servir de suporte para a planta é no substrato que se
encontram a água e os nutrientes que sua planta absorve e o ar que as raízes respiram. Podemos ir além, o
substrato apresenta uma combinação de natureza física, química e biológica. Estás características influenciaram
diretamente no fornecimento de água e nutrientes, no manejo e na saúde da planta. Ao mesmo tempo não existe
uma receita de substrato para todas as plantas e situações.Para elaboração de um bom substrato devemos
combinar um substrato base, responsável pelas propriedades físicas de sustentação como terra, areia, vermiculita,
entre outros. Mais um condicionador do solo para melhorar as propriedades físico, químicas e biológicas como o
esterco de curral, húmus de minhoca etc. É essencial também utilizar um corretivo da acidez do solo como o
calcário ou a farinha de ossos calcinada. Por fim, devemos empregas uma combinação de adubos ou
fertilizantes, orgânicos ou minerais, que sejam capazes de nutrir a planta com todos os nutrientes essenciais a
mesma.

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3.4 - Luz e temperatura.

Como todos devem se lembrar as plantas realizam fotossíntese, um processo bioquímico que captura a energia do
Sol e a armazena em moléculas. Está energia é responsável pelo funcionamento de todo metabolismo da planta e
consequentemente dos animais que as consomem. Então se você quiser que sua planta se desenvolva obviamente
terá que expô-la a luz, mas existem ressalvas algumas plantas se desenvolveram no meio natural sob o dossel de
matas ou florestas, portanto apresentam uma menor exigência a luz ou até mesmo sofrem se expostas
diretamente (plantas de sombra). Outras plantas, apesar de se desenvolverem bem em exposição direta também
crescem em condições de luz indireta, exigindo um ambiente bem iluminado sem exposição direta ao Sol. Uma
ressalva interessante é que com o surgimento e difusão das lâmpadas de LED é possível o crescimento pleno de
plantas sem a necessidade de luz solar. Uma combinação correta de luz proveniente destas lâmpadas pode suprir
toda a demanda energética de uma planta, entretanto é necessário se considerar o custo desta técnica.

Outro fator ambiental importante é a temperatura, normalmente locais com elevada luminosidade tendem a ter
uma temperatura mais elevada também. A importância da temperatura diz respeito novamente à exigência de
cada cultura, como existem plantas originadas em locais de clima tropical, subtropical e temperado. Elas exigem
certas faixas de temperaturas para se desenvolverem bem, entretanto técnicas de cultivos permitiram o
rompimento de certas barreias a exemplo do cultivo de macieiras no Vale do São Francisco, aonde a temperatura
média anual supera em muito a exigida pela cultura.

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3.5 - Saúde.

Assim como nós, as plantas também ficam doentes e podem ser acometidas por uma variedade de pragas e
patógenos. São uma infinidade de insetos, fungos, bactérias, nematoides (vermes) e vírus prontos para atacar.
Apenas no tomateiro já foram identificadas mais de 200 doenças com importâncias e potencial de danos variados.
Para que uma doença aconteça é necessário que exista o hospedeiro (planta), o patógeno e um ambiente
favorável. Desta forma, devemos manejar nosso cultivo de forma a minimizar a ocorrência de pragas e doenças.
Existem diversas técnicas e produtos, desde aqueles feitos em casa até os que podem ser adquiridos em lojas
especializadas para proteger e/ou tratar suas plantas.

4 - Tipos e tamanho dos vasos.

Todos os tipos de vasos podem ser utilizados no cultivo de plantas. Os principais são os vasos de plástico, barro,
cimento e fibras. Os vasos de plástico são os mais fáceis de encontrar e apresentam os preços mais acessíveis,
além de serem leves e feitos em diversas medidas. As desvantagens deles é com relação a durabilidade quando
expostos ao Sol e por selarem o substrato, ou seja, a única troca gasosa com o meio ocorrerá na parte de cima.
Assim plantas muito suscetíveis ao excesso de água não se adaptam tão bem a este vaso, uma alternativa é fazer
uma excelente camada de drenagem no fundo para facilitar o escoamento do excesso de água.

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Os vasos de barro são excelentes para a maioria das plantas, o material interage tanto com o substrato como com
o meio externo. Permitindo o surgimento de um equilíbrio natural nas trocas gasosas, umidade e auxiliando ainda
a nutrição da planta. A desvantagem, está no preço, menor disponibilidade, no risco de quebra durante o
manuseio e ressecarem facilmente no Sol caso não seja irrigado corretamente. Enquanto os vasos de cimento
apresentam preços acessíveis e são fáceis de encontrar em diferentes tamanhos e formatos. A desvantagem está
no peso elevado o que dificulta o manuseio, além do volume interno ser diminuto em relação ao tamanho do
vaso. Desta forma, temos que observar sempre o interior do vaso para verificar se o volume é adequado para a
planta. Já os vasos feitos a base de fibra, como a fibra de coco, são interessantes para o início do cultivo. Podemos
realizar a semeadura e a produção de mudas neles e depois leve-lo integralmente para o local definitivo que ele
irá decompor naturalmente e não irá interferir no desenvolvimento da planta.

Numa casa, é comum o consumo e descarte de potes e latas, estes recipientes podem ser utilizados para o cultivo
de plantas. É importante uma boa higienização dos mesmos, aberturas de furos para a drenagem da água e
respeitar a exigência da planta com relação ao volume de substrato.

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Outro ponto fundamental diz respeito ao tamanho do vaso. No geral, o tamanho ideal para cada planta depende
da observação e experiência de quem cultiva. Mas além de interferir na estética, um vaso pequeno para uma
planta grande gera problema na drenagem de água, nutrição e fornecimento de água para planta. Da mesma
forma, um vaso muito grande para uma planta pequena poderá gerar problema de drenagem, além do
desperdício de substrato e espaço.

Como eu procedo? Para cada tipo de planta cultivada é conhecido o espaçamento ideal de cultivo em campo,
assim como a área de superfície e volume de solo explorado. Desta forma, caso eu deseje que a planta apresente
um desenvolvimento pleno a semelhança do que seria observado no campo, eu escolhe um vaso cujo volume
permita que as raízes se desenvolvem próximo a condição de campo.

Vou dar um exemplo, vamos supor que eu queira plantar melancia em vaso. As raízes da melancia se espalham
entre 30 a 50 cm da base da planta na horizontal e atingem profundidades de até 50 cm, porém a quase totalidade
das raízes estão nos primeiros 25 a 30 cm. Então, um vaso com pelo menos 60 cm de largura e cerca de 50 cm de
profundidade permitirá o desenvolvimento pleno das raízes e consequentemente da parte aérea.

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Outra situação, vamos imaginar que eu não deseje o desenvolvimento pleno da planta, a exemplo de uma fruteira
cultivada em vaso. Neste caso, eu empregarei técnicas de miniaturização desta planta, não ao ponto de obter um
bonsai. Entretanto, o suficiente para que ela atinja o tamanho desejado e se mantenha produtiva.

Assim, a redução no tamanho do volume disponível para raízes deverá ser proporcional a redução do volume da
copa. Acompanhado de podas frequentes para dar a planta o tamanho e a forma adequada, mantendo um
equilíbrio entre a parte aérea e as raízes.

5 - Considerações.

Essa foi apenas uma primeira explanação geral sobre os fatores e desafios a serem considerados no cultivo de
plantas. Durante o curso aprofundaremos em cada um desses aspectos e forneceremos conhecimento para
tomada de decisões e tutoriais mostrando o emprego das técnicas ensinadas para diferentes espécies cultivadas.

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