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9 Ano - Arte

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Material para análise

A9_L1.indb 8
UN
ID
DeAgostini / DEA PICTURE LIBRARY / Diomedia / Robert Kneschke / Fabryczka Fotografii / shutterstock.com © Balla, Giacomo / AUTVIS, Brasil, 2017.
AD
E
1
Em movimento

11/7/17 9:02 AM
S eria possível uma sociedade como o antigo Egito retratar uma indústria soltan-
do fumaças em cada uma de suas chaminés? Os registros que temos das repre-
sentações artísticas egípcias mostram que não. A arte caminha junto, entre outros
elementos, com as mudanças sociais, culturais e tecnológicas que acompanham a
história da humanidade. Entre essas mudanças, as que começaram a se desenhar já
Material para análise

no século XIX e na primeira metade do século XX, sobretudo na Europa, trouxeram


o nascimento de uma série de movimentos artísticos que tinham em comum a bus-
ca por dialogar com o homem moderno e as cidades industrializadas. Foi assim que
surgiu a arte moderna.

Você sabe como as nuvens ficam


suspensas no ar? Isso é uma prova
do infinito conhecimento de Deus.
Jó 37.16 (NTLH)

Que aspectos do quadro de Giacomo Balla mostram alguma


proximidade com nossa sociedade atual?
Você acredita que os tempos modernos trouxeram elemen-
tos difíceis de retratar? Se sim, quais?
Será que os desafios do que o homem pode ter de retratar
têm fim? Será que já descobrimos absolutamente tudo que
está ao nosso redor?

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1
CAPÍTULO

Arte moderna

A palavra “moderno” tem vários sentidos. Um deles é o sentido de algo que


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está acontecendo agora, no momento em que se fala. Outro sentido refere-se a


um período da História que foi do fim da Idade Média à Revolução Francesa. E ou-
tro, em arte, quando “moderno” recebe o sufixo “ismo” e se transforma em “mo-
dernismo”, diz respeito aos movimentos artísticos que começaram a acontecer
no final do século XIX e seguiram até a segunda metade do século XX, propondo
novos conceitos de belo, de técnica, de arte e de artista. Mas, para criar esses no-
vos conceitos, os antigos conceitos foram revisitados e transformados.
No período da arte conhecido como modernista, nasceram outros movimen-
tos que também receberam o sufixo “ismo” e ficaram conhecidos como vanguar-
das artísticas. Esses movimentos aconteceram no século XX, mais precisamente
entre 1900 e 1950.

Você já ouviu falar de vanguarda? Leia o texto a seguir e faça o que se pede.

O que é vanguarda?
Vanguarda é um dos pontos de direção do
futuro que poucos enxergam com antecedên-
cia. É a primeira ponta do iceberg que será o
próximo espírito da época. Aquele primeiro ti-
jolinho de uma casa que não visualizamos ainda.
IAROSLAV NELIUBOV/SHUTTERSTOCK.COM

Geralmente a vanguarda é encarada, pela maio-


ria, como uma coisa estranha. A palavra vem de
“advanced guard”, como se designava os militares que,
num campo de batalha, abriam o caminho.
O termo começou a ser usado no mundo
das artes, na política, nos negócios e, claro,
na moda.
Precisa ter feeling, e coragem, pra criar uma
tendência, independentemente do campo: como,
por exemplo, sair com um chapéu na rua que quase todos vão
achar feio. [...]
Vanguarda é estranha pra maioria porque ainda não é algo “consolidado”. [...]
Criadores de vanguarda ou não, o que serve para todos os seres viventes que traba-
lham neste mundo de hoje é ter as antenas ligadas. Mesmo que você use o “chapéu
estranho” só dois anos depois do teu vizinho. Vale tentar. Porque dar de cara com a
vanguarda, para quem procura, é uma delícia. É um baque. Uma chance de você se

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sentir agraciado, porque alguém traduz um sentimento teu. Como uma nova banda
que toca exatamente aquele tipo de música que você estava precisando ouvir. Aque-
le novo livro que cai como uma luva na tua pesquisa.
LOPES, Juliana. O que é vanguarda. Disponível em: <ffw.com.br/ffwblog/comportamento/
ffw-blog-vanguarda-e-o-resgate-da-dignidade-nos-dias-de-hoje/>. Acesso em: out. 2012.

Muitos vanguardistas contrariam a clássica linha do tempo, em


que um acontecimento ocorre depois do outro. Quando começam os De acordo com
movimentos de vanguarda na Europa do fim do século XIX e início estudos,
do século XX, os artistas fazem experimentações de técnicas sem o princípio de cobrir a cabe-
ça para protegê-la de amea-
Material para análise

que, necessariamente, uma ocorra depois da outra. De certa forma,


ças externas (desde a mu-
portanto, as vanguardas possibilitam novos espaços na linha do dança do tempo como de
tempo, como alguém hoje querer utilizar um chapéu estranho. possíveis projéteis) foi ob-
servado em civilizações in-
1. Com base no texto O que é vanguarda? Esboce, no espaço a dígenas, ou antigas civiliza-
seguir, um artigo de moda ou um desenho de mobília, car- ções como a chinesa. Esses
primeiros chapéus eram
ro ou objeto que, do seu ponto de vista, tenha um design provavelmente feitos de
vanguardista. corda, palha ou outro mate-
rial disponível para essas
antigas civilizações.
Disponível em:
<www.hatsandcaps.co.uk/
Hat-History-Ahat_history/>.
Acesso em: abr. 2015.

Glossário
Design – Des. Ind. – a concep-
ção de um produto (máquina,
utensílio, mobiliário, embala-
KUCO/SHUTTERSTOCK.COM

gem, publicação etc.), espe-


cífico no que se refere a sua
forma física e funcionalidade.

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Essa transformação da linha do tempo aconteceu porque as van-
Vanguarda
guardas faziam releituras de técnicas e temas anteriores e lança-
é um termo passageiro; o
que é vanguarda hoje dei-
vam sua proposta de estilo, técnica e tema simultaneamente. Nesse
xará de ser com o passar processo, os artistas passam de um movimento a outro. Antes das
dos anos. vanguardas europeias, os historiadores conseguiam perceber, na
O crítico Richard Kostelanetz pintura, dois aspectos predominantes: a técnica de representação
sugere três elementos para alegórica da natureza com base em temas e histórias da tradição
identificar as obras conside-
radas de vanguarda: judaico-cristã e uma técnica de representação mais realista da na-
1o Diferem claramente da-
tureza recuperada da tradição greco-romana ou mesmo da tradição
judaico-cristã. Durante as vanguardas, técnicas, estilos e temas dife-
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quelas até então produ-


zidas, rentes aconteciam quase ao mesmo tempo: não existia o tempo de
2o Rompem com os mode- uma e o tempo da outra.
los clássicos e com a es- Dessa forma, as manifestações desse período muitas vezes são
tética tradicional.
simultâneas, e os artistas podem passar de um movimento a outro
3o Tardam em encontrar
seu público, já que provo- ou utilizar técnicas de diferentes movimentos em uma mesma obra.
cam, de forma geral, es- Os historiadores, para facilitar o entendimento, estabeleceram um
tranhamento, mas, com período de início e fim das vanguardas europeias quase como um
o passar do tempo, elas
inspirarão outras obras.
valor simbólico, porque as técnicas desenvolvidas dificilmente são
abandonadas; elas apenas mudam as formas ou assumem outras.
Na História da Arte, de forma geral, considera-se que as vanguar-
das europeias foram o início da Arte Moderna.
Para lembrar!
Arte renascentista se ca- 2. Observe as pinturas apresentadas a seguir. Que diferenças e
racteriza pelo resgate da semelhanças você consegue observar entre o retrato renas-
arte greco-romana, a in- centista da imagem 1 e o retrato moderno da imagem 2.
trodução da pintura a óleo
e o uso da perspectiva.
O uso da perspectiva, alia-
do à técnica do claro e es-
curo, ajudava a dar a sen-
sação de volume.

A resposta é pessoal, mas o professor pode


encaminhar a discussão seguindo estas
indicações: o primeiro quadro representa uma
pintura renascentista, o pintor tenta ser o
mais fiel possível à realidade reproduzindo
os mais diversos detalhes, como fios de
cabelo. O ponto central da pintura é a
menina, que está banhada de luz como se
LEEMAGE / AFP

tivesse um foco diante dela. Os contornos de


sua figura são claros. No segundo quadro,
em que o personagem é um homem, os
contornos não são tão claros. O pintor não Imagem 1
está preocupado com os detalhes, o que
fica evidente quando se compara a barba
com o cabelo do personagem ao lado. O
tratamento dado à luz também é bastante
diferente: todo o ambiente está iluminado.
LEEMAGE

Apesar das diferenças, a temática, o retrato,


continua como um tema pertinente tanto no
renascentismo quanto na pintura moderna. Imagem 2

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Agora reflita:
A palavra vanguarda originou-se do termo em inglês “advanced
guard”. Esse termo referia-se aos militares que formavam a linha de
frente em um campo de batalha.
Esse termo indica o fato de que os movimentos artísticos desse perío-
do significaram uma revolução estética.
Para você, revolução é necessariamente originalidade?
É possível criar algo completamente novo?
Material para análise

A influência da arquitetura
Alguns artistas modernos fizeram um esforço para inserir as artes considera-
das maiores, como o desenho, a pintura, a escultura e a arquitetura, no campo da
produção industrial. Dessa forma, a arquitetura assumiu um papel fundamental
no que seria o início da arte modernista.
Com a industrialização, os planos de reestruturação urbana começaram a surgir
nas grandes cidades europeias, e os arquitetos modernistas queriam transformar as
cidades industriais – com suas chaminés, sua fuligem e os bairros aglomerados que
se formaram ao redor das indústrias – em espaços mais agradáveis, arejados, claros
e luminosos.
Com materiais industrializados, que podiam ser moldados, como o ferro e o
vidro, os arquitetos pretendiam projetar uma decoração mais agradável e baixar
os custos das construções.
Segundo o historiador Carlo Argan, da arquitetura modernista surgiram duas
linhas: uma inspirada nas formas geométricas, precursora da futura arquitetura
racionalista, que veremos mais adiante, e outra inspirada nas formas sinuosas da
natureza, que assumiu sua forma mais surpreendente nos projetos do arquiteto
espanhol Antoni Gaudí.
DIOMEDIA / IMAGEBROKER RM / SILWEN RANDEBROCK

Projeto de Le
Corbusier. Alemanha.

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Material para análise

PHOTONONSTOP / AFP

Projeto de Antoni Gaudí.


Casa Milà La Pedrera.

1. Na obra de Gaudí, você consegue perceber a sinuosidade? Onde? Identifi-


que com setas na imagem.
Nas varandas, janelas, chaminés e na porta de entrada.

2. No projeto de Le Corbusier, a sinuosidade é perceptível? Há formas geo-


métricas? Aponte-as na imagem, com setas.
Não. Identificam-se formas geométricas como cubos, retângulos e cilindros. O edifício parece um retângulo, composto

por linhas retas sem curvas. As colunas são cilindros.

3. Por que você diria que o projeto de Le Corbusier lembra uma forma mais
racional, e o de Gaudí uma forma mais natural?
Resposta pessoal, mas o professor pode encaminhar para o fato de que os dois projetos exigem um alto conhecimento

de arquitetura, engenharia e matemática, disciplinas absolutamente racionais. No entanto, as formas do edifício de

Gaudí lembram formas que encontramos na natureza, como plantas, árvores ou pedras desgastadas pelo mar, que

podemos observar nas costas brasileiras. Temos a impressão de que a natureza produziu esse edifício. No projeto de

Le Corbusier, as formas são geométricas e precisas, as quais dificilmente encontramos na natureza. Nesse projeto, fica

evidente o uso de recursos industrializados e técnicas desenvolvidas racionalmente.

Alguns pintores, que seriam conhecidos como impressionistas, foram os pri-


meiros a romper com algumas regras e normas da pintura considerada tradi-
cional no século XIX. Foram os primeiros a sair do espaço do estúdio para pintar
ao ar livre. Seus quadros normalmente não contavam com um desenho prévio.
Utilizavam uma técnica composta de pequenas pinceladas de tinta que registra-
vam a incidência da luz sobre um objeto (tema a ser pintado), desconsiderando
a verossimilhança.

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Para os impressionistas, a investigação pictórica tinha um cará-
Glossário
ter sensorial, principalmente baseada na capacidade visual humana.
Verossimilhança – Qualidade
Portanto, era uma investigação a respeito da experiência do olhar do que é verossímil ou veros-
sobre o reflexo das cores em uma superfície. Dessa forma, o artista similhante, que parece verda-
deiro.
observava a realidade e reproduzia a luminosidade segundo sua ob-
Justaposição – Ato ou efeito
servação, com a justaposição de tons que mais tarde se reuniam na de justapor(-se). Pôr(-se) jun-
retina do espectador. Os temas das telas giravam em torno das ati- to, em contiguidade (as cores
complementares, quando se
vidades cotidianas de uma elite europeia, como pessoas passeando justapõem numa pintura, in-
no campo. tensificam-se mutualmente).
Material para análise

4. Você consegue identificar essas características nas obras a


seguir? Quais delas?

Monet
estudou o efeito da luz do sol
sobre as superfícies.
Esse quadro faz parte de uma
série de 12 pinturas realizadas
sobre o mesmo tema e do
mesmo ponto de vista em di-
ferentes momentos do dia.
LEEMAGE / AFP

Claude Monet. As
ninfeias brancas,
1895.

No restaurante Fournaise
LEEMAGE / AFP

Renoir pinta uma série de quadros,


em que capta seus conhecidos em
refeições descontraídas.
Auguste Renoir. Almoço dos remadores, 1879-1880.

No quadro de Renoir, identificamos a atividade cotidiana. Nos dois quadros, os contornos não são evidentes. O estudo

do reflexo da luz fica evidente nos dois trabalhos, mas de forma diferente. No quadro de Renoir, a luz de um dia de

verão banha todo o espaço e, no quadro de Monet, a luz é refletida pelas flores de cores claras e pela água do lago.

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5. Os impressionistas, em suas pesqui-
sas, aprofundaram as experimenta-
ções com as cores primárias, secun-
dárias e complementares.
Observe, ao lado, o ciclo cromático
com cada uma dessas cores.
Agora, escolha um objeto ou uma
fruta e, com essas cores e à seme-
lhança de um impressionista, tente
Material para análise

representar apenas a incidência de


luz sobre o objeto utilizando pince-
ladas de tinta guache em um papel
Canson. Depois de seco, cole uma Cores
primárias
Cores
secundárias
Exemplo de cores
complementares
fotografia de seu trabalho no espa-
ço a seguir.

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Aprimorando
Além dos impressionistas estudados até aqui, nesse período podemos men-
cionar, ainda, quatro pintores que se destacam por apresentar um estilo mais
individual de pintura: Gauguin, Van Gogh, Munch e Cézanne. Esses artistas inves-
tigaram temas e técnicas que foram de fundamental importância para boa parte
das obras de arte e para os movimentos surgidos no século XX. Atentaremos,
sobretudo, a algumas das experimentações de Gauguin e Van Gogh.
Gauguin foi um dos primeiros a superar os limites sensoriais do impressionis-
Material para análise

mo. Ele aprofundou as experiências do visual por meio da cor, passando de tons
suaves a tons mais exagerados. Gauguin avançou por esse caminho e descobriu
que o sentido da cor é dado também pela zona que ela cobre na tela (pelo seu
contorno) e pelo diálogo que ela estabelece com as outras cores.
O artista propôs uma espécie de retorno à arte medieval, já que os pintores da-
quele período não se sentiam obrigados a respeitar o aspecto real das coisas. Du-
rante a Idade Média, era comum a simplificação da imagem em prol da expressão
de sentimentos profundos, relacionados ao sagrado, à vida, ao amor e à morte.
Observe a imagem de Gauguin a seguir e faça o que se pede.

LEEMAGE / AFP

Paul Gauguin. Arearea ou Jocosidades, 1892.

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1. No diagrama ao lado, veja como é pos-
sível obter as cores secundárias por + =
meio da mistura de cores primárias. vermelho amarelo laranja
Na página anterior, há um quadro de
+ =
Gauguin. Identifique as cores primá-
rias e secundárias e descreva como azul vermelho violeta
a temática e as cores utilizadas pelo
pintor retratam, a seu ver, a expres- + =
são de um sentimento profundo. amarelo azul verde
Material para análise

Resposta pessoal. Os alunos podem identificar muitas cores, mas as evidentes são:

Primárias: vermelho (fundo no chão) e azul (caule da árvore).

Secundárias: laranja (cachorro) e verde (fundo).

Enquanto Gauguin descobriu os princípios técnicos do expressionismo e fez


uma investigação sobre as cores, Vincent Van Gogh aprendeu com os impres-
sionistas a valorizar pinceladas rápidas, que, em suas mãos, tomaram outras
dimensões. Van Gogh externava seu estado de espírito no ato de pintar, de for-
ma que suas obras não estavam focadas na representação da luz que refletia os
objetos, mas na sensação e nas emoções que ele queria transmitir. Para colocar
em evidência essa sensação, esse sentimento, utilizou como recurso a distorção
da forma e da cor.
2. Observe esse efeito na pintura a seguir.

LEEMAGE / AFP

Vincent Van Gogh. O quarto do artista em Arles, 1889. Museu d’Orsey, Paris.

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a) Que sentimentos você tem quando olha a pintura?
Trata-se de uma resposta pessoal. Normalmente, o azul evoca paz e tranquilidade, no entanto, as distorções

do quadro podem evocar inquietude (mesmo que o artista tenha buscado outro efeito).

b) A pintura parece favorecer mais a imaginação ou a realidade? Por quê?


Por causa das distorções de espaço e pela falta de precisão, fica evidente que o artista não representa fielmente
Material para análise

a realidade. O artista está interessado em causar uma emoção, e não em descrever fielmente o espaço.

Integrando conhecimentos

E, acima de tudo, tenham amor, pois o amor une perfeitamente todas as


coisas. E que a paz que Cristo dá dirija vocês nas suas decisões [...]
Colossenses 3:14-15a (NTLH)

Apesar de mostrar técnicas de pintura bastante diferentes, tanto as obras de


Gauguin quanto as de Van Gogh, até hoje, são objetos de pesquisa e admiração
em todo o mundo. Isso nos mostra que é possível representarmos nossa reali-
dade por pontos de vista diferentes e, ainda assim, produzirmos algo que seja
pesquisado e admirado por outras pessoas. Entretanto, mesmo sendo diferen-
tes uns dos outros, precisamos considerar o que há de comum entre nós, a fim
de termos critérios para analisar nossas diferenças. Em sua opinião, quais se-
riam esses critérios? Como você tem lidado com as diferenças entre as pessoas
e seus pontos de vista?

Van Gogh escreveu ao irmão sobre o quadro


Van Gogh,
O quarto do artista em Arles. Leia um trecho dessa
assim como Gauguin, tam-
carta a seguir.
bém trabalhava bem com
cores primárias e secundá-
[...] contemplar o quadro deve ser repousante para
rias. Observe que em
o cérebro ou, melhor dizendo, para a imaginação. [...] O quarto do artista em Ar-
Trabalhei nele o dia inteiro, mas você pode ver como a les há cores primárias, como
concepção é simples. As gradações de cor e as sombras o vermelho, na coberta da
estão suprimidas, o quadro está pintado em camadas cama, e o azul, na jarra e em
algumas roupas, além de
leves e planas, livremente jogadas na tela à maneira das cores secundárias, como o
gravuras japonesas [...]. laranja na cama, mesa e em
GOMBRICH, Ernest Hans. objetos de madeira, e o ver-
A história da arte. Rio de Janeiro: de na janela (ainda que
LTC, 2011. p. 548. Trechos selecionados. bem pouco).

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3. Escolha um ambiente que você costuma visitar e, seguindo o que descre-
veu Van Gogh na carta ao irmão, tente pintar esse ambiente de tal forma
que ele favoreça a imaginação de quem o observe. Utilize lápis de cor e
desenvolva seu trabalho no espaço a seguir.
Material para análise

O expressionismo: a primeira das vanguardas


As descobertas e pesquisas realizadas por Vin-
Glossário
cent Van Gogh e Gauguin, as inovações dos impres-
Similares – Que é da mesma
sionistas e o novo cenário político e as reflexões sobre natureza; análogo, equivalen-
a arte estimularam, entre 1902 e 1905, o surgimento, te, semelhante.
na França e Alemanha, de algumas pinturas com ca-
racterísticas similares.

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Essas semelhanças impulsionaram o surgimento de
Impressionismo versus
um movimento de vanguarda denominado expressio-
expressionismo
nismo. Para alguns teóricos, o expressionismo foi uma
Impressionistas e expressionistas de algu-
das primeiras vanguardas europeias, que teve dois cen-
ma forma abordavam a realidade. Mas,
tros diferentes: um representado por um grupo de ar- enquanto os impressionistas se baseavam
tistas na França que, em 1905, recebe o nome de Fauves majoritariamente na experiência do olhar
(feras), ou fauvistas, e outro representado por um gru- para representar a realidade, nas obras
expressionistas, o pintor se projeta, proje-
po de artistas na Alemanha, conhecido como Die Brücke ta seus sentimentos na pintura, ou seja,
(a ponte) ou simplesmente expressionista. imprime a realidade segundo aquilo que
Os fauvistas receberam esse nome em 1905, em sente. Os expressionistas pretendiam ul-
Material para análise

trapassar a superfície das coisas para re-


uma mostra de arte no Salon d’Automne. Nessa mostra,
velar suas inquietações. A figura ou a pai-
as obras expostas causaram um verdadeiro impacto no sagem seguem presentes, mas o artista
crítico de arte Vauxcelles, que definiu os artistas que ex- utiliza a distorção da realidade e da cor
punham seus trabalhos como Fauves (feras). Com esse para expressar seus sentimentos.
nome, o crítico evocava a violência que as pinturas lhe
transmitiam.
Os fauvistas não chegaram a ser um grupo propriamente dito, com diretrizes
definidas. Por isso, considera-se que houve um período fauvista, e não propria-
mente um grupo. Ainda assim, alguns dos fauvistas que se destacaram como
representantes do período foram: Henri Matisse, Raoul Dufy, Kees Van Dongen e
Georges Braque.
1. A obra a seguir é de Henri Matisse. Observe-a e faça o que se pede.

THE PICTURE DESK / AFP / © Succession H. Matisse / AUTVIS, Brasil, 2017

Henri Matisse. O quarto vermelho ou a Mesa de jantar, 1908. Museu Hermitage, São
Petersburgo.

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a) Em sua opinião, por que a obra O quarto vermelho, de Matisse, pode ser
considerada uma representação violenta da realidade? Debata essa ques-
tão com seus colegas e seu professor.
No quadro, o artista elimina as nuanças. O vermelho cobre todo o espaço, os objetos não estão distribuídos em

vários planos, de modo que um objeto pareça estar mais distante que outro. Praticamente tudo parece estar no

mesmo plano.

b) Que semelhanças e diferenças é possível estabelecer entre a representa-


Material para análise

ção do quarto realizada por Van Gogh e a realizada por Matisse?


Os dois utilizam cores fortes, no entanto, Matisse é mais radical, pois cobre toda a superfície de vermelho.

c) Pense no principal sentimento que O quarto vermelho desperta em você.


Faça, em seu caderno ou em um papel Canson, uma releitura da obra de
Matisse mudando a cor do quarto de tal forma que sua releitura expresse
o sentimento oposto ao que você teve ao apreciar a obra original.

Já o grupo Die Brücke foi o mais homogêneo, composto por artistas como
Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff, Erich Heckel, Emil Nolde e Ernst
Barlach. Juntos, esses artistas definiram objetivos e procedimentos para realizar
suas pinturas.
Com temas normalmente vinculados à vida cotidiana e à crítica social, am-
bientados em espaços comuns da época (como cafés, bares e ruas), eles busca-
vam compor a realidade no ato de pintar. As pinturas manifestavam certa rude-
za, uma violência, como a de uma criança que pinta pela primeira vez.
Entretanto, para o grupo Die Brücke, essa ação que muitos críticos conside-
raram violenta e intuitiva requer uma técnica, um trabalho que se assemelha ao
do escultor. Os expressionistas trabalharam com a cor e a tela da mesma maneira
que os escultores com a matéria (bronze, madeira, mármore). Dessa forma, para
os expressionistas, é essa matéria que, por meio da ação do artista, se torna uma
imagem; é o artista que atribui significado à matéria, ou seja, a imagem não exis-
te antes da ação do artista.
É por isso que, para os expressionistas, o céu de um quadro pode estar re-
presentado pelo vermelho, assim como um tronco de árvore pode ser transfor-
mado, depois da ação do escultor, em uma bailarina, por exemplo. As cores na
tela criam a ação, que, na concepção expressionista não existe, antes de ser pin-
tada. Como, portanto, os expressionistas criavam a ação, as ações que pintavam
estavam centradas nas angústias do homem, nos amores trágicos e nos ideais
utópicos. Dizemos que os expressionistas davam um tratamento subjetivo à
forma e à cor: as figuras se tornavam mais angulosas, e as cores, mais disso-
nantes. Mesmo quando os temas sugerem uma situação pacífica, as cores e as
distorções trazem um sentimento de mal-estar.

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De forma geral, os expressionistas defendiam uma arte mais pessoal e in-
tuitiva na qual predominasse a visão interior do artista, que é a expressão, em
contraste com a considerada inércia característica da impressão.
2. Observe as características do expressionismo na obra a seguir.
a) O tema pode ser considerado cotidiano?
Por quê?
Sim. Embora seja difícil identificar especificamente o

espaço, o título da obra – Rua de Berlim – nos remete à


Material para análise

ideia de cotidianidade. Nessa obra, o pintor retratou pessoas

caminhando na rua num dia comum.

b) As formas são angulosas? Explique.

UNIVERSAL IMAGES GROUP/UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/DIOMEDIA


Sim, nas golas dos casacos, no volume dos seios da mulher de

vermelho ou na cabeça dos cavalos.

c) A apreciação da obra lhe dá a impressão


de estar mais diante de uma rua ou de
Ernst Ludwig Kirchner. Rua de Berlim.
um sentimento representado na ideia
de rua? Explique.
Resposta pessoal. O professor pode indicar que chega a ser difícil identificar a rua. O quadro nos dá a

sensação de multidão, de aglomerado.

d) Há algo de “violento”, no sentido de “gerar um incômodo”, na obra? Por


quê?
Existe uma espécie de asfixia, tudo muito apertado. Muita gente em pouco espaço.

Agora reflita:
Uma das características da pintura expressionista é a sensação de incô-
modo gerada no observador, por meio do uso das cores e das distorções.
Em sua opinião, pode haver relação entre incômodo e beleza?

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Aprimorando
O expressionismo desenvolvido pelos artistas pictóricos exerceu influência
também em outra arte, no cinema. Popularizado especialmente na Alemanha, o
cinema expressionista se caracteriza por uma estética distante da representação
realista em prol de uma expressividade subjetiva. Similarmente às telas pictóricas,
as telas do cinema expressionista deixam transparecer a preocupação do artista,
nesse caso, do diretor, com a projeção visual de uma experiência. Esses filmes são
marcados por cenários distorcidos, maquiagens fantásticas, roupas extravagantes
Material para análise

e interpretações retorcidas e rebuscadas, trazendo para a tela o trágico, o estado


de alma, uma mistura de crueldade e inquietações, do fantástico ao frenético.
Atualmente, um cineasta conhecido por produzir filmes com uma estética si-
milar à estética expressionista é o diretor Tim Burton, conhecido por filmes como
Edward mãos de tesoura, A fantástica fábrica de chocolate, Batman entre vários
outros. Em um de seus filmes mais recentes, Tim Burton fez uma adaptação da
obra Alice no país das maravilhas do escritor Lewis Carroll. Observe, nas imagens
a seguir, as diferenças na caracterização do personagem Chapeleiro Maluco na
obra de Tim Burton e na obra de Harry Harris, diretor que também recontou a
mesma história em um filme de 1985.
DIOMEDIA / ENTERTAINMENT PICTURES

O Chapeleiro Maluco no filme Alice no país das


maravilhas de Tim Burton, 2010.
DIOMEDIA / MARKA / MRK MOVIE

O Chapeleiro Maluco no filme


Alice no país das maravilhas de
Harry Harris, 1985.

• Como você pôde notar, o personagem de Tim Burton é apresentado de


modo menos realista do que o de Harry Harris. As cores e as formas da
realidade são manipuladas, destacando alguns aspectos do personagem
como os olhos, a boca e o cabelo. Agora, escolha um objeto da realidade
e o manipule alterando ou intensificando suas formas e cores, à maneira
expressionista. Tire uma foto do seu trabalho e cole em seu caderno.

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EXPERIÊNCIA
DA ARTE

O pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944) teve grande importância


para as artes plásticas a partir do final do século XIX. A infância do pintor foi
marcada pela morte de sua mãe e de uma de suas irmãs. Munch estudou Artes
Plásticas no Liceu de Artes e Ofícios de Oslo (capital da Noruega). Ao visitar
outros países europeus, como Alemanha e França, o jovem artista se interessou
Material para análise

pelo expressionismo e passou a estabelecer um diálogo com obras e técnicas de


pintura de artistas como Gauguin.
Munch é considerado um continuador da proposta de Van Gogh, ao utili-
zar nas pinturas técnicas advindas da caricatura, em que os sentimentos e as
ideias que o desenhista tem sobre determinada pessoa ou fato são aumentados
e exagerados. Ainda que o efeito estético dessa técnica resulte em obras que,
de certa forma, tornam a
realidade mais feia do que
parece ao olhar, essa pro-
posta está de acordo com
a ideia expressionista de
priorizar os sentimentos
daqueles que pintam em
detrimento da aparência
externa do objeto repre-
sentado. Nesse sentido,
imagens que remetem ao
sofrimento, à loucura e à
angústia são temas recor-
rentes na obra de Munch.

DIOMEDIA / SUPERSTOCK FINEART

Autorretrato do
pintor Edvard
Munch, 1893.

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Sua pintura mais conhecida, O grito, causou uma repercussão quando foi
exposta em Berlim, em 1892, pois o público não estava acostumado a esse tipo
de representação, que tem como foco a dor humana.
Observe a obra O grito,
ela serviu de inspiração para
diversos homens contempo-
râneos que se apropriaram
da obra para expressar suas
ideias e sentimentos.
Material para análise
DIOMEDIA / HERITAGE IMAGES

Edvard Munch.
O grito, 1892.

1. Se você pudesse escolher um tema ou aspectos da sua vida ou do mundo


contemporâneo para recriar a obra de Munch, qual escolheria? Justifique
sua resposta.
Resposta pessoal.

2. A partir do tema que tiver escolhido, procure, em revistas, imagens que


possam lhe auxiliar a reconstruir, por meio de uma colagem, o cenário da
obra de Munch. Faça essa sua releitura da obra em colagem em um papel
canson A4 e apresente seu trabalho a seus colegas.

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2
CAPÍTULO

Um pouco mais
das vanguardas

Gauguin e Van Gogh foram artistas que influenciaram aquela que seria con-
Material para análise

siderada uma das primeiras vanguardas europeias: o expressionismo. Já o artis-


ta Paul Cézanne influenciou outra vanguarda: o cubismo.

As descobertas que nos levaram ao


cubismo
O pintor Paul Cézanne viveu na mesma época de Van Gogh e Gauguin. Com sua
maneira diferente de olhar o mundo, abriu as portas para o movimento cubista,
que iria se manifestar anos mais tarde.
Paul Cézanne é considerado, por muitos historiadores, o pai da arte moder-
na. Suas contribuições para a arte moderna e para as vanguardas são inúmeras.
Entre elas, merece destaque suas investigações sobre as formas. Ele abandonou
a perspectiva tradicional e passou a tratar os objetos como figuras geométricas.
Essa geometrização chegaria, mais tarde, ao ápice com o cubismo.
Cézanne passou a maior parte de sua vida praticamente isolado em uma
região da França chamada Provença.
Na juventude, estudou Belas Artes e, no Museu do
Para lembrar!
Louvre, realizou numerosas cópias de mestres da pin-
Perspectiva: técnica de
tura, como Tintoretto, Caravaggio, El Greco, Delacroix, desenho ou pintura que dá
entre outros. Mais tarde, possivelmente influenciado a ilusão de profundidade e
pelo pintor Camile Pissarro, começou a pintar ao ar livre. espessura.
Aproximou-se do grupo impressionista e chegou
a expor na primeira e terceira mostras desse grupo. No entanto, seus temas, ti-
rados da literatura romântica e trabalhados com grossas camadas de tinta, com
certa violência e tons escuros e contrastantes, não agradaram e foram alvo de
críticas.
Possivelmente, isso o impulsionou a desenvolver um estilo próprio e uma gran-
de investigação sobre a forma e cor que, para ele, eram elementos inseparáveis.

Muitos museus…
do mundo permitem que pessoas previamente cadastradas realizem cópias dos grandes mestres,
diante de suas obras originais.

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1. Observe um dos quadros de Cézanne da série Os jogadores de cartas e
faça o que se pede.
Material para análise

LEEMAGE / AFP
Paul Cézanne. Os jogadores de cartas, 1890-1892. Musée d’Orsay, Paris.

a) Com base no quadro, qual dos dois jogadores vai jogar a carta? Justifique
sua resposta. Anote também a opinião de seus colegas.
Resposta pessoal.

b) No quadro, localize cones, cilindros e esferas. Depois, encontre o centro do


quadro e trace uma reta vertical.

Você pode observar que o que divide verticalmente o quadro de Cézanne em


dois é a garrafa que está na mesa, no entanto, esse eixo não está exatamente no
meio, uma coisa incomum para época.
O jogador que se encontra no lado direito ocupa um espaço menor do qua-
dro, foi pintado com cores mais claras e aparece quase como um único volume
bem arredondado. A toalha de mesa do jogador da direita aponta em ângulo
obtuso, enquanto no lado do outro jogador a toalha de mesa cai reta. O joga-
dor representado do lado esquerdo tem, em sua cadeira, um encosto reto, e

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seu chapéu tem formato cônico, que, em direção ascendente, dá a sensação
de certa imobilidade. Todo esse jogo de formas geométricas que compõem o
quadro produz sensações no espectador.
O círculo produz uma sensação de movimento, e as formas cônicas ou cúbicas
a sensação de estático.
2. Faça uma releitura do quadro de Cézanne utilizando somente formas
geométricas.
Material para análise

Aprimorando
Além da influência de Paul Cézanne, o estudo da “arte primitiva” foi funda-
mental para os cubistas. Picasso, um importante artista cubista, ficou fascinado
pelas máscaras africanas em uma exposição realizada no Museu do
Homem de Paris (Musée de l’Homme), em 1907. Nelas fica evidente a A chamada
possibilidade de construir uma imagem partindo de materiais e for- arte primitiva
mas simples. Essa investigação feita por Picasso durou muitos anos. diz respeito às produções
de culturas ágrafas, como
A arte chamada “primitiva” é construída de elementos essen- dos indígenas brasileiros,
ciais para a representação do humano, por exemplo: um círculo re- das tribos africanas, das
presenta um rosto, dois pontos são os olhos, e um traço curvado comunidades da Indonésia
para cima pode lembrar um sorriso ou, para baixo, tristeza. etc.

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O artista primitivo não estava preocupado com a beleza; suas representações
destinavam-se a cerimônias específicas.
Material para análise

DIOMEDIA / SCIENCE SOURCE / VANESSA VICK

DIOMEDIA / HEMIS / FRUMM JOHN


Máscara tradicional da Costa do Marfim. Máscara primitiva. Coleção do museu
Rietberg, Suíça.

• Reproduza em uma folha as máscaras acima, procurando manter os tra-


ços o mais simples possível.

A pintura cubista
Georges Braque, inicialmente participante do movimento fauvista, levou
as teorias de Paul Cézanne ao limite, o que resultou em novas formas de re-
presentar a realidade. Desde muito jovem, Braque teve contato com as cores
por meio do ofício aprendido com a família, já que basicamente seus familiares
trabalhavam como pintores e decoradores de paredes. Mais tarde se dedicou
à pintura de paisagem, expôs com os fauvistas, mas foi com a pintura e o
método de Cézanne que deu o grande passo para concretizar as diretrizes do
movimento cubista junto com Pablo Picasso.
De origem espanhola, desde muito jovem, Picasso já despontava na escola de
Belas Artes de Barcelona. Apesar de ainda não ser um artista conhecido, já mora-
va e trabalhava em Paris, que era considerada, naquele período, a capital da arte.
Suas pinturas produzidas ali estabeleceram um forte diálogo com o movimento
fauvista e expressionista.
É possível afirmar que Picasso trouxe para o cubismo a força da ruptura, por
meio de seu impulso criativo e insaciável curiosidade, e Braque, o rigor e o método

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que desenvolveu seguindo as investigações de Cézanne. Georges Braque e Pablo
Picasso ficaram conhecidos como pintores cubistas.
No cubismo, não estavam em foco as representações da realidade e da ex-
periência do olhar, nem a expressão dos sentimentos. Nas pinturas cubistas, os
artistas organizaram e construíram uma realidade que oferecia uma visão simul-
tânea de muitas perspectivas do mesmo objeto.

A origem do cubismo
é discutida entre os historiadores: alguns indicam Pablo Picasso como criador do movimento;
Material para análise

outros, Georges Braque; e outros dividem a responsabilidade entre os dois.

DIOMEDIA / DEAGOSTINI / G. DAGLI ORTI © Braque, Georges / AUTVIS, Brasil, 2017.

Georges Braque. Viaduto em L‘Estanque, 1908.

Agora reflita:
Um dos principais objetivos do cubismo é mostrar a complexidade de
um objeto, representando num único plano todas as perspectivas dele.
Em sua opinião, os cubistas conseguiram alcançar seu objetivo?

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1. Observe atentamente o quadro cubista apresentado a seguir, de Georges
Braque. Você consegue imaginar vários pontos de vista sobrepostos?
Material para análise

DEA / G DAGLI ORTI / KEYSTONE © Braque, Georges / AUTVIS, Brasil, 2017.

Georges Braque. Femme a la Guitare, 1913. Musèe National D’Art Moderne, Paris,
França.

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2. Tente recriar, no espaço a seguir, um rosto sobrepondo vários pontos de
vista (perspectivas). Para isso, você deve retratá-lo olhando-o de diversos
pontos distintos.
Material para análise

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Fases do movimento cubista
O movimento cubista apresenta duas fases: o cubismo analítico e o cubismo
sintético.
O cubismo analítico foi a primeira fase do movimento cubista. Nessa fase, Pi-
casso e Braque trabalharam juntos tão intensamente que diferenciar suas obras
pode ser uma tarefa difícil.
No cubismo analítico, a tela passa a ser o lugar em que os artistas se pro-
põem a reorganizar a realidade. Diante das obras do cubismo analítico, o es-
pectador pode se perguntar como a obra funciona e estabelecer quase um jogo
Material para análise

imaginário, como se o quadro fosse um quebra-cabeça ou um jogo


Glossário
de ligar os pontos.
Analítico – Relativo a análise.
Os artistas buscavam um diálogo com o observador. A ideia era
Sintético – Relativo a ou que
envolve síntese. Resumo dos
exatamente esta: o observador poderia, por meio dos elementos
tópicos principais ou da es- que se encontram fragmentados no quadro, criar uma imagem pró-
sência de algo.
pria dos objetos representados.
1. Você consegue transformar o desenho abaixo, de Picasso, em um jogo de
ligar os pontos? Tente fazer isso em seu caderno. Peça a um colega que
finalize o desenho.

DIOMEDIA / HERITAGE IMAGES © Succession Pablo Picasso / AUTVIS, Brasil, 2017.

Pablo Picasso.
Centauro com uma
carroça, 1948.

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2. Que objetos você consegue identificar no quadro abaixo?
Material para análise

DIOMEDIA / HERITAGE IMAGES © Braque, Georges / AUTVIS, Brasil, 2017.


Georges Braque. 1910-1912. Garrafa e peixes

Os objetos são uma garrafa e peixes, mas representados de maneira não usual na pintura.

A pesquisa se centrava na decomposição dos objetos de forma


Glossário
tão extrema que, algumas vezes, pode ser difícil ao espectador re-
Monocromático – Que apre-
compô-los. No entanto, mesmo com toda a decomposição do objeto senta uma só cor; monocolor,
e sua reorganização na tela, o quadro tem certa ordem, harmonia, monocrômico.

porque os cubistas utilizavam peças mais ou menos uniformes.


Agora, observe que, além de as pinturas do cubismo analítico
se caracterizarem por estimular a imaginação trabalhando com
formas que tendiam a um certo padrão, um quadro como Garrafa
e peixes é predominantemente monocromático. Isso também foi
uma constante no cubismo sintético: quadros monocromáticos com
a predominância de tons que variam entre cinza e marrom. E esse
monocromatismo também influencia a harmonia das pinturas.

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Os cubistas analíticos, entretanto, tinham ainda questionamentos que os im-
pulsionaram a desenvolver o que seria o cubismo sintético.
Como fruto de novos questionamentos, as obras da fase sintética do cubismo
se compõem de diferentes partes. O artista segue trabalhando com pigmentos,
pintando a tela, mas, outros materiais, além da tinta, começam a ser explora-
dos para o preenchimento da tela. Além disso, em torno de 1912, as cores vivas
voltaram aos quadros. E, em vez de fragmentar os objetos, como no cubismo
analítico, agora o artista compõe novas formas na tela pela junção de diferentes
elementos. Logo, o cubismo analítico, na análise da imagem, separa as partes, e o
sintético, para sistematizar a imagem, torna a reuni-las.
Material para análise

No cubismo sintético, a investigação passou a ser, portanto, sobre a recom-


posição dos objetos. O cubismo sintético apresenta os elementos com menos
pontos de vista, deixando as figuras mais reconhecíveis. Os artistas introduzem
na composição da obra, além de tinta, outros elementos, como areia, e surge o
que será conhecido como paiers collés, já que os artistas buscavam deixar seus
quadros mais concretos e, para isso, introduziam a colagem de objetos na tela,
como pedaços de papel, tecidos ou madeira. Esses materiais assumem outras
formas na tela: um pedaço de jornal dentro do quadro passa a ser um vaso ou
um copo, por exemplo. Observe como funciona esse processo no quadro a seguir.

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM © Succession Pablo Picasso / AUTVIS, Brasil, 2017.

Pablo Picasso. A guarrafa de Suze, 1912-1913. Washington


University Art Gallery, St. Louis, MO.

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3. Que elementos parecem compor a garrafa?
Papel de jornal, papel branco e um pedaço de etiqueta.

4. Compare a garrafa de Picasso nessa obra do cubismo sintético com a obra


Garrafa e peixes, que George Braque realizou no cubismo analítico. Que
Material para análise

diferenças você observa entre elas? E semelhanças?

DIOMEDIA / HERITAGE IMAGES © Braque, Georges / AUTVIS, Brasil, 2017.

Georges Braque. Garrafa e peixes, 1910-1912.

Na obra de Braque, o artista fragmenta os objetos que possivelmente utilizou como modelo para pintar.

Na obra de Picasso, o artista cria objetos com elementos que não representam as imagens propostas.

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Nas obras de Georges Braque, podemos ver exem-
Glossário
plos do cubismo analítico e sintético. Em suas primei-
Chiaroscuro – Em pintura,
ras obras, do cubismo analítico, ele decompõe os ob- desenho, fotografia etc., imi-
jetos por planos, elimina o chiaroscuro e passa a usar tação dos efeitos de contraste
produzidos sempre que certas
variações cromáticas do cinza. Já no período sintéti- partes de um lugar, pessoa ou
co, introduz as colagens para proporcionar sensações objeto recebem luz, ao passo
que outras permanecem mais
não apenas visuais, mas também táteis: de superfície ou menos na sombra.
áspera e cheias de veios. A tela pictórica também se
transforma em tela plástica.
No entanto, essa experiência de volumes e texturas se perde nas reprodu-
Material para análise

ções fotográficas de suas obras. Se você tiver a oportunidade de visitar uma


exposição, não duvide: a experiência de ver os quadros em tamanho real e suas
texturas é inigualável.
5. Agora que você já viu alguns trabalhos realizados pelos cubistas, que tal
criar uma composição seguindo as propostas do cubismo sintético, com
muitas cores e texturas? Eis o material necessário: uma folha densa de
tamanho A4, pincel, guache ou outra tinta, canetinhas, lápis de cor, cola,
tesoura e papéis variados com cores e texturas diferentes. Você também
pode utilizar outros materiais, como tecidos e plásticos.
O título da composição será “Um almoço brasileiro”. Crie a mesa e os ob-
jetos que a compõem.
Lembre-se de que os cubistas não estavam preocupados em reproduzir
a realidade fidedignamente e que utilizavam figuras geométricas para
compor suas obras.

DIOMEDIA / SUPERSTOCK FINEART

Juan Gris. Museu Nacional. Centro de Arte Reina Sofia, 1921. Madrid, Espanha.

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A escultura cubista
A concepção de tela como um espaço para a construção de um
objeto permite que a fronteira entre escultura e pintura fique mais
Glossário
Tênue – Quase imperceptível;
tênue. Assim, o cubismo teve como adeptos muitos escultores. sutil.
Mesmo os fundadores do movimento, Braque e Picasso, realiza-
ram peças escultóricas com propostas cubistas.
Pela ligação que se pode encontrar com as investigações de Pi- O cubismo
casso em As metamorfoses de um touro, é interessante observar também influenciou artis-
o trabalho do escultor Constantin Brancusi. Apesar de ele não ser tas brasileiros, como Tarsi-
Material para análise

considerado um escultor cubista, Brancusi, em suas investigações la do Amaral.


pessoais, parece ter tido como objetivo buscar a simplificação ex-
trema da forma. Chegou a criar a figura humana eliminando o míni-
mo necessário do material original.
DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM

Constantin Brancusi.
O beijo, 1923-1925. Centro
Georges Pompidou, Paris.

• Como você observa essa redução na obra acima?


Resposta pessoal.

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Aprimorando
Picasso, Braque e outros cubistas, escultores e pintores se inspiraram na arte
primitiva para investigar a possibilidade de, com poucos elementos, construir e
representar objetos e figuras.
Para muitos artistas, essa é uma busca incansável ao longo de suas carreiras.
Durante esse processo, o artista trabalha elementos fundamentais para as artes
plásticas, como volume, perspectiva e fluência do traço.
1. Observe alguns trabalhos de Picasso que tiveram o boi como tema.
Material para análise

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM © Succession Pablo Picasso / AUTVIS, Brasil, 2017.


DIOMEDIA / GRANGER © Succession Pablo Picasso / AUTVIS, Brasil, 2017.

Pablo Picasso. Touro atacando um cavalo Pablo Picasso. Natureza


(tradução livre), 1921. morta com cabeça de touro.
(tradução livre), 1958.

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM © Succession Pablo Picasso / AUTVIS, Brasil, 2017.


DIOMEDIA / GRANGER © Succession Pablo Picasso / AUTVIS, Brasil, 2017.

Pablo Picasso. Cabeça de touro,


1942. Pablo Picasso. Tourada, 1934.

• É fácil perceber nesses trabalhos como Picasso transita entre desenhos


com mais informações visuais do boi para desenhos mais elementares.

2. Será que trabalhar com a minimização não acabaria tendo como conse-
quência a desvalorização, o esvaziamento do objeto representado? O que
você pensa a respeito disso?
Resposta pessoal.

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EXPERIÊNCIA
DA ARTE

Selecione uma foto de animal que seja neutra e apresente todo o corpo dele,
como a indicada abaixo, e reproduza o movimento de transitar entre desenhos
mais figurativos para desenhos mais abstratos realizado por Picasso.
Material necessário:
Material para análise

• Três folhas de papel branco denso (cartolina ou papel para desenho)


• Lápis grafite 2B ou no 2 (grafite duro)
• Foto de animal
1. Recorte as folhas de papel em quatro partes iguais.
2. Separe 11 cartões.
3. Pegue a foto do animal.
4. No primeiro cartão, reproduza fielmente a
imagem do animal.
5. No segundo cartão, elimine elementos
de seu desenho.
6. Nos próximos cartões, elimine
mais elementos. ERIC ISSELEE/SHUTTERSTOCK.COM

7. Quando chegar ao último cartão,


deverá ter apenas os traços es-
senciais do animal.

Integrando conhecimentos

Eu o rejeitei porque não julgo como as pessoas julgam. Elas olham para a
aparência, mas eu vejo o coração.
I Samuel 16.7 b (NTLH)

A metamorfose, ou seja, a transformação, acontece em quase tudo o que existe,


e principalmente no ser humano. Transformação é a mudança parcial ou total do
estado natural de um elemento. Porém, algumas pessoas se transformam exte-
riormente, alterando sua aparência ou comportamento, sem uma transformação
de seus valores. Essas pessoas acabam vivendo de modo superficial, de aparência.
Em sua opinião, por que uma mudança apenas de aparência é inútil?
Como é possível uma transformação mais profunda?

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3
CAPÍTULO

Der Blaue Reiter e


o futurismo

Simultaneamente ao cubismo e ao expressionismo, surgiram nesse período


Material para análise

dois outros movimentos artísticos: o grupo alemão Der Blaue Reiter (O cavaleiro
azul) e os futuristas. Os artistas que integravam esses grupos não somente se
opunham ao cubismo e ao expressionismo como também deram novas aplica-
ções às suas descobertas.

Der Blaue Reiter (O cavaleiro azul)


Começaremos nosso estudo pelo grupo alemão Der Blaue Rei-
O movimento ter, fundado em 1911 por Wassily Kandinsky, de origem russa.
Der Blaue Reiter Alguns consideram o grupo como uma espécie de continuação
Seu nome tem origem na ou transformação do grupo Die Brücke, outros entendem que se
paixão que um dos funda-
dores do grupo tinha por
trata de uma oposição aos cubistas.
cavalos e pelo valor simbó-
lico que Kandinsky dava à
1. Observe, a seguir, uma das obras de Kandinsky.
cor azul.

DIOMEDIA / SUPERSTOCK FINEART

Wassily Kandinsky. Sem título, 1911.

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A9_L1.indb 42 11/7/17 9:03 AM


2. Ao comparar a pintura de
Kandinsky com uma obra do
movimento expressionista Die
Brücke, você observa mais seme-
lhanças ou contrastes entre as
obras? Explique.
Mais contrastes. A obra do movimento

expressionista é mais figurativa que a obra de


Material para análise

Kandinsky. Podemos identificar personagens e

elementos que nos remetem a alguma imagem.

PHOTO12 / AFP
Ernst Ludwig Kirchner. Rua de Berlim.

3. Ao comparar a pintura com uma


obra cubista, você observa mais
semelhanças ou contrastes entre
as obras? Explique.
Mais contrastes, pois, embora a obra de

Braque seja menos figurativa que o quadro

de Kirchner, continua apresentando uma

situação determinada, enquanto a tela de

Kandinsky dá asas à imaginação


DEA / G DAGLI ORTI / KEYSTONE © Braque, Georges / AUTVIS, Brasil, 2017.

Georges Braque. Femme


a la Guitare, 1913.

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Considerando que o grupo Der Blaue Reiter, de certa forma,
Simbolismo
buscava mais ou menos, como a música, usar uma linguagem sub-
foi um movimento literário
jetiva, é possível afirmar que ele se contrapôs às forças racionali-
e artístico que ocorreu no
final do século XIX. Influen- zadoras das linhas de investigação cubista.
ciado por culturas orientais, Um dos elementos que colaboram para essa indefinição da re-
o movimento tinha um ca- lação do grupo com expressionistas e cubistas está no fato de o Der
ráter individualista, ou seja,
dava, menos importância Blaue Reiter não ter um programa preciso ou um manifesto. O que
às questões sociais aborda- ajudou os estudiosos a ter, no entanto, mais clareza do que procu-
das em movimentos con- ravam desenvolver artisticamente foram os textos que divulgaram
temporâneos e enfatizava
junto com suas obras nas grandes exposições que fizeram durante
Material para análise

temas místicos, imaginários


e subjetivos. o período em que estiveram em atividade. Esses textos discutiam a
função da arte e defendiam uma tendência simbolista e espiritualista.
No movimento, estabeleceram-se duas frentes: uma em Munique
Glossário
(Alemanha) e outra em Viena (Áustria). Kandinsky foi fundador do
Racionalizadora – Procu-
rar compreender ou explicar
movimento e seu maior representante da linha de Munique, e Paul
(algo) de maneira racional, Klee foi o representante do movimento em Viena. Os dois foram os
lógica, coerente.
maiores representantes desse movimento artístico, mas o grupo tam-
Subjetiva – Pertinente a ou
característico de um indivíduo;
bém contava com os artistas alemães Gabriele Münter (companheira
individual, pessoal, particular. de Kandinsky), Franz Marc, August Macke e o austríaco Alfred Kubin.
O estilo desses artistas era bastante diferente, o que era muito
incomum, já que faziam parte do mesmo movimento, mas o que
os unia era a paixão pela liberdade criativa. Eles acreditavam que o
artista podia escolher a melhor maneira ou forma de expressar sua
visão pessoal.

4. A seguir, observe algumas obras realizadas pelo grupo Der Blaue Reiter.
Você consegue identificar, nos quadros, a defesa por uma liberdade de
expressão do artista? Explique.

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM

Franz Marc. Os grandes cavalos azuis, 1911.

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Material para análise

August Macke.
LEEMAGE / AFP

Senhora com
casaco verde,
1913.

Sim, na liberdade de expressão, no uso livre que os artistas fazem das cores, como no quadro Senhora com casaco

verde em que zonas de cor compõem o quadro sem preocupação com detalhes da realidades. Em Os grandes cavalos

azuis, os cavalos estão representados pela cor azul .

Agora reflita:
Kandisky e Paul Klee, como a maioria dos vanguardistas, prezavam
muito pela liberdade em sua criação.
Para você, a liberdade criativa é algo importante para o artista?
A liberdade dos artistas é absoluta?

Kandinsky
Com o propósito de manifestar sua liberdade de expressão, Kandinsky foi
quem primeiro buscou essa linguagem da arte diferenciada do que alcançaram os
cubistas com os estudos analíticos e sintéticos da forma. Se tivéssemos que bus-
car uma referência fora das artes visuais, poderíamos comparar as obras de Kan-
dinsky com a música. Quando escutamos notas graves, elas, de maneira espontâ-
nea, tendem a suscitar uma sensação, e as notas agudas, outras. Para Kandinsky,
portanto, o artista deve compor seu quadro como um músico compõe uma ópera:
as formas e cores devem ser utilizadas como notas musicais, e o espectador diante
do quadro deve viver uma experiência visual como se estivesse em um concerto.

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Deve-se deixar levar pelo quadro para poder se emocionar. De fato, durante anos,
Kandisnky se correspondeu ativamente com o músico e o compositor Arnold Scho-
enberg para melhor compreender a expressão musical e tentar transpô-la para
uma expressão visual.
1. Observe a obra de Kandinsky apresentada a seguir.
Material para análise

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM

Wassily Kandinsky. Abertura, 1919. Museum of Art, Twer, Rússia.

2. Observe o título da pintura, a referência ao universo da música e as for-


mas. Agora, escolha, individualmente ou em grupo, uma música entre as
que você conhece que, em sua opinião, melhor traduz essa obra de Kan-
dinsky. Apresente sua música à classe enquanto a obra é apreciada e ouça
a música escolhida pelos seus colegas enquanto aprecia a pintura. Depois
debatam: as músicas têm algo em comum? Por quê?

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Em sua explícita relação com a música, a forma de pintar de Kandinsky teria
uma intencionalidade complexa. Ele, de alguma forma, defendeu que um quadro
figurativo se comunicaria diretamente com o observador, seja porque busca re-
presentar a realidade ou representa uma realidade ideal, com elementos conhe-
cidos, enquanto uma pintura abstrata deveria tocar a alma do espectador.
Nessa perspectiva, um quadro cubista estabeleceria um diálogo racional
com o espectador. Ou seja, o pintor explora as formas de uma figura e o es-
pectador aprende os códigos utilizados pelo pintor e, por meio deles, inter-
preta o objeto figurado.
Para Kandinsky, algumas formas geométricas suscitariam determinada sen-
Material para análise

sação, por exemplo, o triângulo daria a sensação de um movimento para o alto,


e o círculo, a ideia de algo concluído. Em seus trabalhos, a forma está subordina-
da à harmonia cromática. Logo, seus quadros são abstratos, ou seja, as formas
não compõem uma figura, elas procuram suscitar uma imagem.
Se, portanto, o movimento cubista usa as formas para que o espectador con-
siga desvendar a figura que está no quadro, o grupo Der Blaue Reiter usa as for-
mas para que o espectador consiga desvendar que figura essas formas suscitam
nele.

3. Observe a diferença entre o grupo Der Blaue Reiter e a proposta cubista,


comparando os quadros a seguir.

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM

Wassily Kandinsky. Improvisações número 28, UK, London, Sotheby’s.

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Material para análise

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM © Succession Pablo Picasso / AUTVIS, Brasil, 2017.


Pablo Picasso. Violino e guitarra, 1913. State Hermitage Museum,
São Petersburgo, Rússia.

a) Em qual deles, a interpretação que você faz das formas leva a descobrir a
figura contida no quadro?
O quadro de Picasso.

b) Em qual deles, a interpretação das formas leva você a imaginar uma figura?
No quadro de Kandinsky.

É interessante observar que a formação de Kandinsky


Glossário
como pintor é figurativa. Ao defender que a arte deve
Pintor figurativo – Que,
expressar o interior do artista no exterior, Kandinsky foi, em diferentes épocas e
aos poucos, afastando-se da pintura figurativa para criar culturas, se volta para
a representação de for-
o que ficou conhecido como pintura abstrata. mas reconhecíveis na
A pintura abstrata, em certo sentido, se assemelha à natureza.
proposta expressionista, no entanto, dá um passo mais Pintura abstrata – Rela-
tivo ou pertencente aos
adiante e se libera quase completamente dos elementos estilos de arte não figu-
figurativos. “Quase” porque, em algumas de suas obras rativos do séc. XX.
ou, estudos preparatórios, ainda há alguns símbolos.

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4. Identifique que símbolos permanecem nas obras de Kandinsky apresen-
tadas a seguir.
Material para análise

DIOMEDIA / ALINARI
Wassily Kandinsky.
Flecha no arco. Coleção
particular. Paris.
DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM

Wassily Kandinsky.
Com o arco negro,
1912. Centro Georges
Pompidou, Paris.

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5. Escolha uma das temáticas dos quadros apresentados no exercício 4 e, no
espaço a seguir, faça um estudo de como trabalhar esse tema, se possível,
sem recorrer aos elementos figurativos.
Material para análise

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Aprimorando
Leia atentamente os dois fragmentos apresentados a seguir, em que Kan-
dinsky explica como entende a própria arte.
“A vida espiritual, a que a arte também pertence e de que é um dos mais po-
derosos agentes, traduz-se num movimento para frente e para o alto, complexo,
mas nítido, e que pode traduzir-se a um elemento simples. É o próprio movimen-
to do conhecimento. Seja qual for a forma que adote, conserva o mesmo sentido
profundo e a mesma finalidade.”
Material para análise

“A cor é a tecla. O olho é o martelo. A alma o piano de inúmeras cordas.”


Kandinsky, Wassily. Do espiritual na arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 12, 31.

Kandinsky acreditava que a arte faria parte das propriedades espirituais da


vida humana. Por isso, as cores e as formas, mais do que objetos em si, seriam
acessos, maneiras de atingir a alma humana. Acreditando nisso, Kandinsky re-
viu os estudos que até então existiam sobre as cores. Antes dele, havia uma
classificação científica das cores, que, entre outras características, as definia por
contraste (o vermelho como contraste do verde).
Kandinsky pensava na natureza da cor e em suas propriedades, em seus efei-
tos, na cor isolada e na cor justaposta a outra. Dessa forma, classificava as cores
em quentes, frias, claras e escuras, e escolhia amarelo e azul como o contraste
fundamental, pois, para ele, eram as cores que tocavam a alma do artista. De
acordo com Kandinsky, o amarelo dava ideia de proximidade, e o azul, a ideia de
distância e profundidade. Já o preto e o branco funcionavam como pausas em
suas telas – como as pausas em uma partitura musical.
1. Você consegue observar essa dinâmica nas cores utilizadas por Kandinsky
no quadro a seguir?
DIOMEDIA / SUPERSTOCK FINEART

Wassily Kandinsky.
Estudo em branco I,
1920. State Russian
Museum,
São Petersburgo.

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2. Na imagem a seguir, faça uma releitura da obra de Kandinsky alterando
as cores. Use lápis de cor, se possível aquarelado. Depois discuta com seus
colegas e com seu professor se a sensação de apreciação da obra muda.
Material para análise

SUPERSTOCK - FINEART/DIOMEDIA
Wassily Kandinsky. Estudo em branco I, 1920. State Russian Museum, São Petersburgo.

Paul Klee
Embora pertencessem ao grupo Der Blaue Reiter, as obras de seus dois maio-
res expoentes, Klee e Kandinsky, se diferenciam. Paul Klee foi, possivelmente, o
primeiro a considerar os estudos da época realizados por cientistas como Freud
e Jung. Em suas obras, os seres que habitam o universo interior, invisíveis para o
resto do mundo, passam a ser visíveis e reais.

Freud e Jung
Sigmund Freud nasceu em 1856, na atual República Tcheca, morreu em 1939 e ficou conhecido
como o pai da psicanálise, pois seus estudos sobre psicologia revolucionaram a forma como as
ciências entendem a psicologia humana. Ao longo de sua carreira, criou conceitos e teorias que
ainda são utilizados pela psicologia e psiquiatria, como a noção de inconsciente.
Carl Gustave Jung nasceu em 1875, na Suíça, e morreu em 1961. Jung foi aluno de Freud e utilizou
diversas ideias deste para desenvolver suas teorias, conceitos e ideias, mas separou-se do mestre
por causa de divergências teóricas.

Na busca pela representação do universo interior, Klee buscou a harmonia e o


equilíbrio, deixando em segundo plano os temas das pinturas. Outra linha de pes-
quisa desse artista é a observação dos traços dos desenhos infantis. Há diversas
obras em que a vivência da imaginação infantil se combina ao uso de uma técnica

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A9_L1.indb 52 11/7/17 9:03 AM


requintada elaborada por um pesquisador que procurava, por meio de símbolos,
pintar como se suas pinturas fossem fotos de seu universo interior.
1. Observe atentamente a pintura de Klee e responda às questões propostas:
Material para análise
DIOMEDIA / SUPERSTOCK FINEART

Paul Klee. 1916.


Museu de Arte
Moderna, Nova
York.

a) Quando observamos a imagem, em que sentido ela parece a fotografia do


universo interior do artista?
Resposta pessoal. O professor pode ajudar os alunos a pensar nos próprios sonhos, em que os espaços são

confusos, como o apresentado no quadro, e há figuras fantásticas, como as que aparecem na imagem. Tudo isso

faz parte da nossa imaginação.

b) Apesar de representar algo considerado, de certa forma, para além da


razão, a obra tem uma estrutura equilibrada (a disposição dos elementos
distribuiu o olhar do observador)? Como?
A composição ocupa praticamente toda a tela, o uso equilibrado de cores claras e escuras faz nosso olhar passear

pela obra, e o traço fino e delicado nos induz a prestar atenção nos detalhes.

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A9_L1.indb 53 11/7/17 9:03 AM


2. Observe, agora, as obras de Kandinsky e Klee.
Material para análise

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM
Wassily Kandinsky. Caracteres acompanhados, 1927. Zeichen Mit
Begleitung 1927; Christie’s Images, Londres, Inglaterra.

THE BRIDGEMAN ART LIBRARY / KEYSTONE BRASIL


Paul Klee. Aviso navio, 1917.

Apesar de ambos terem pertencido ao movimento Der Blaue Reiter, em


busca de uma arte mais abstrata e menos figurativa, o que entenderam
como o caminho para levá-los ao abstrato foi muito diferente. Estabeleça,
então, uma comparação entre as produções de Kandisky e Klee, e identifi-
que semelhanças e diferenças há entre elas.
Nos dois quadros, não vemos uma preocupação em realizar uma obra figurativa que represente algo real; os dois

artistas utilizam figuras geométricas, no entanto, no quadro de Klee, podemos identificar alguns elementos que nos

fazem lembrar barcos, velas ou chaminés. A obra de Kandinsky está totalmente livre de elementos figurativos. Entre

as duas obras, há uma diferença de dez anos. Nesse período, a obra de Klee se aproximou muito da de Kandinsky.

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A9_L1.indb 54 11/7/17 9:03 AM


Futurismo
Uma característica interessante dos movimentos artísticos da primeira me-
tade do século XX foi a publicação de uma série de manifestos que marcaram
seu início. O movimento futurista publicou muitos documentos importantes na
história da arte.
O primeiro manifesto foi publicado pelo poeta Filipo Tomaso Ma-
Glossário
rinetti, que, mesmo sendo italiano, percebeu que, para que as ideias
Modernidade – Qualidade
tivessem o impacto desejado, deveria publicar o documento do gru- ou estado do que é moderno;
Material para análise

po em Paris (que naquele momento era a capital da arte). Então, em modernismo, designação ge-
nérica de vários movimentos
1909, o jornal Le Figaro publicou o primeiro manifesto futurista. artísticos e literários, surgidos
O manifesto futurista evidenciava e aglomerava de forma vio- no fim do séc. XIX e no séc. XX,
que buscavam examinar e
lenta, em um único texto, todos os anseios dos artistas desse gru- descontruir os sistemas esté-
po ligados à modernidade, propondo uma transformação radical da ticos da arte tradicional.
cultura e dos costumes sociais, e negando radicalmente o passado.
Leia abaixo alguns trechos do manifesto escrito por Marinetti e responda
às questões.
“Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.”
“A coragem, a audácia, a rebelião, serão elementos essenciais de nossa poesia.”
“A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós
queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o
salto mortal, o bofetão e o soco.”
“Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma bele-
za nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfei-
tado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um auto-
móvel rugindo, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória
de Samotrácia.”
“Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um ca-
ráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um
violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrarem-se
diante do homem.”
“Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo [...].”
“Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de qualquer na-
tureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.”
Texto traduzido para esta obra. Fonte: Marinetti, F. T. Teoria e invenzione futurista.
Verona: Mondadori, 1968. Trechos selecionados.

1. Nesses fragmentos do manifesto, que palavras ou expressões podem ser


consideradas violentas?
Há várias, como “cantar o amor ao perigo”, rebelião, exaltar, agressivo, entre outras.

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2. O que os futuristas, por esses recortes do manifesto de Marinetti, mais
valorizavam na sociedade?
Os futuristas pretendiam glorificar esteticamente o mundo moderno, a velocidade, a mecanização e a guerra.

3. Por que valorizar esses elementos pode ser considerado uma negação do
passado, uma revolução da cultura e dos costumes sociais tradicionais?
Nunca um grupo de artistas havia publicado um manifesto glorificando a guerra, a luta ou a violência, e isso

representava uma revolução dos costumes. Além disso, alguns elementos, como o automóvel ou a indústria, eram
Material para análise

elementos novos na sociedade e, por isso, não eram objetos comuns nas pinturas até a chegada dos futuristas, que

não tinham como foco retratar o veículo, mas a velocidade que ele representava.

Integrando conhecimentos

Lembrem do passado, daquilo que aconteceu há muitos anos. Perguntem


ao seus pais o que foi que aconteceu e peçam aos velhos que lhes contem o
que se passou.
Deuteronômio 32.7 (NTLH)
O movimento futurista se propõe a uma negação radical do passado.
Seu manifesto exalta a velocidade da era moderna, contrastando-a com obras
de arte consagradas (Vitória de Samotrácia).
Em sua opinião, os futuristas foram cautelosos ou velozes em suas críticas ao
passado?
É possível romper totalmente com o passado?

Os futuristas pretendiam glorificar estetica-


Glossário
mente o mundo moderno, a velocidade, a mecani-
Fascismo – Movimento político e fi-
losófico ou regime (como o estabe- zação e a guerra. Quando Marinetti voltou à Itália,
lecido por Benito Mussolini na Itália, o movimento atraiu pintores, arquitetos, músicos
em 1922) que faz prevalecer os con-
ceitos de nação e raça sobre os valo- e teatrólogos. Nomes como Umberto Boccionie,
res individuais e que é representado Gino Severini, Carlo Carrá e Luigi Russolo parti-
por um governo autocrático, centra-
lizado na figura de um ditador. ciparam da formulação dos princípios futuristas
para as diferentes manifestações artísticas.

O futurismo
utilizou também o escândalo como ferramenta de marketing. As serati futuristi eram festas e
encontros noturnos promovidos pelos futuristas. Normalmente terminavam em pancadaria e
conflitos com a polícia. Também é inegável a vinculação do futurismo com a ascensão do fascismo
na Itália, já que muitos artistas que faziam parte do movimento apoiaram o fascismo. Olhando
hoje em direção ao passado e para esses manifestos, talvez possamos dizer que eles anunciavam
sentimentos latentes na sociedade da época, possivelmente um anúncio macabro das guerras,
como as duas guerras mundiais que estavam por vir e dos ideais que tomariam conta da Europa
nas décadas seguintes.
No Brasil o futurismo influenciou alguns trabalhos expostos na Semana de Arte Moderna, mas é
difícil identificar um artista brasileiro em particular com o movimento italiano.

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A9_L1.indb 56 11/7/17 9:03 AM


Na pintura, as pesquisas futuristas foram em busca, basicamente, de como
representar o movimento e a velocidade. Adotaram o simultaneísmo do cubismo
(que representava vários aspectos do objeto na tela) e utilizaram esse recurso
para representar o movimento. Esses artistas desenvolveram técnicas que, anos
mais tarde, foram e são utilizadas na transmissão de velocidade pela publicidade
e pelas histórias em quadrinhos.
Dessa forma, o artista futurista não se preocupava em pintar um carro, mas
em transmitir a sensação de velocidade deste. Em certo sentido, portanto, ape-
sar de utilizar técnicas cubistas, o movimento é uma espécie de contraponto ao
cubismo, já que nas telas futuristas a carga emocional era um elemento fun-
Material para análise

damental. Afinal, esses artistas buscavam imprimir os estados da alma. Nesse


aspecto, aproximavam-se mais do movimento expressionista.
A busca pela representação do movimento, no caso de alguns artistas, che-
gou a atingir seu ápice com o abandono da figuração. Esse foi o caso de Giacomo
Balla, autor da pintura Dinamismo de um cão na coleira.
Ele levou sua pesqui-
sa ao limite e eliminou o
figurativo em algumas
de suas obras para im-

DIOMEDIA / DEAGOSTINI / DEA PICTURE LIBRARY © Balla, Giacomo / AUTVIS, Brasil, 2017.
primir a sensação de mo-
vimento, desintegrando
o movimento por meio
de espirais, triângulos e
curvas – o que permite
ao espectador captar as
sequências de movimen-
to. As cores se misturam
e se agitam com a velo-
cidade, como no fenô-
meno cinético das cores.
Na escultura Formas Giacomo Balla. Dinamismo de um cachorro na coleira, 1912.
únicas na continuidade
do espaço, Boccioni fez um monumento ao homem Glossário
veloz. As formas utilizadas por ele chegaram a ser Cinética – Ramo da física que
aproveitadas na produção de veículos de alta velo- trata da ação das forças nas
mudanças de movimentos dos
cidade e em outros objetos aos quais se queria dar a corpos.
sensação de velocidade.

Foram realizados…
quatro modelos em gesso dessa obra, um dos originais em gesso e uma fundição em bronze estão
no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC) e outras fundições se encontram em diversos
museus do mundo, como a Tate Gallery em Londres e o Museu de Arte Moderna de Nova York.
A obra foi doada ao MAC por Ciccillo Matarazzo em 1952, junto com o gesso original de outra
célebre escultura de Boccioni, chamada Desenvolvimento de uma garrafa no espaço.

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A9_L1.indb 57 11/7/17 9:03 AM


Nessa obra, o objetivo do artista não era dar a sensação de movimento à es-
cultura, mas estudar a forma que o corpo humano adquire quando sujeito a altas
velocidades. Note que o corpo se distorce e assume uma forma elástica com o
atrito do corpo e o ambiente.
Material para análise

DIOMEDIA / ALINARI / MAGLIANI, MAURO

Umberto Boccioni. Formas únicas na continuidade do espaço, 1913. MAC.

Ciccilio Matarazzo,
nome com que ficou conhecido Francisco Antônio Paulo Matarazzo Sobrinho, nasceu em São
Paulo em 1898 e morreu em 1977. Ciccilio fazia parte de uma rica e tradicional família de imigran-
tes italianos, proprietária de diversas indústrias em São Paulo. Ciccilio ficou conhecido como um
grande incentivador da arte brasileira, tendo criado o Museu de Arte Moderna e a Bienal de Arte,
que é realizada até hoje, entre outras iniciativas ligadas às artes plásticas e dramáticas. Sua atua-
ção foi comparada aos mecenas que financiavam artistas na Itália durante o Renascimento. Em
15 de março de 1912, um ano antes de Boccioni produzir a escultura Formas únicas na continui-
dade do espaço, ele chegou a dizer:
“Nestes dias estou obcecado pela escultura! Creio haver visto uma completa renovação desta
arte mumificada.”
Fonte: BORTULUCCI, Vanessa Beatriz. Formas únicas da continuidade no espaço: um estudo sobre
a escultura futurista de Umberto Boccioni do Museu da Universidade de São Paulo. Disponível em:
<www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000206270&fd=y>. Acesso em: out. 2012.

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A9_L1.indb 58 11/7/17 9:04 AM


4. Quais semelhanças você consegue observar entre a escultura de Boccioni
e modelos de carro como o da imagem abaixo?
Material para análise

JOSSNAT/SHUTTERSTOCK
Como se a matéria relativamente moldável fosse submetida a um vento forte, partes dela ficam para trás.

5. Como esses elementos de velocidade podem ser observados nas pinturas


futuristas a seguir?

DIOMEDIA / UNIVERSAL IMAGES GROUP / PHOTOSERVICE ELECTA © Balla, Giacomo / AUTVIS, Brasil, 2017.

Giacomo Balla. Linhas de velocidade, 1913. Coleção particular.

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A9_L1.indb 59 11/7/17 9:04 AM


DIOMEDIA / DEAGOSTINI / M. E. SMITH © Balla, Giacomo / AUTVIS, Brasil, 2017.
Material para análise

Giacomo Balla. Luz rápida do carro, 1913.

As linhas que cruzam a tela se misturam, são fragmentadas, vibram como se fossem submetidas a um choque

elétrico e dão a impressão de rapidez e velocidade.

6. Escolha um tema que, para você, contenha a velocidade. Pode ser um


carro em movimento, uma pessoa executando um salto ou uma dança.
Como você representaria em pintura a sensação desse movimento, muito
mais do que o movimento em si?
E em escultura? Faça um estudo
de como realizaria essa tarefa em
seu caderno. Uma boa maneira de
começar é tentar tirar uma foto ou
06PHOTO / SHUTTERSTOCK.COM

encontrar uma imagem de revista


ou da internet que capte esse mo-
vimento. Cole-a em seu caderno e
comece seu estudo.

Integrando conhecimentos

Quem planeja com cuidado tem fartura, mas o apressado acaba passando
necessidade.
Provérbios 21.5(NTLH)
Velocidade! Como essa palavra se tornou importante nos dias atuais. A maioria
dos produtos e prestação de serviço tem como um dos fatores principais a ra-
pidez. É claro que a velocidade possui seus benefícios para a vida humana. No
entanto, quando a velocidade se torna o nosso estilo de vida, corremos o risco
de perder outros elementos importantes para a vida.
Para você, quais aspectos importantes da vida humana podemos perder em um
mundo veloz?
Como evitar que isso aconteça conosco?

60

A9_L1.indb 60 11/7/17 9:04 AM


Aprimorando
Também merecem destaque a produção poética dos futuristas e suas investi-
gações no âmbito da música. A poesia sonorista, também conhecida como poesia
fonética, tem como uma de suas principais características uma importância maior
dada ao som das palavras em relação ao seu significado. A poesia sonorista foi
bastante utilizada pelos futuristas e também por artistas ligados a outros mo-
vimentos. Os poemas sonoristas têm uma relação próxima com a música, já que
neles podem ser usados instrumentos musicais ou outros tipos de sons.
Material para análise

O músico Luigi Russolo construiu o Intonarumori: uma espécie de máquinas


de produzir ruídos. Essas máquinas, concebidas como instrumentos musicais, imi-
tavam os ruídos das grandes cidades. Esse experimento levou à produção de uma
peça musical composta pelo francês Edgar Varèse na década de 1930. Na peça, sire-
nes e outros produtores de ruído foram utilizados sistematicamente com elemen-
tos de uma orquestra.
Outras obras, como a Georges Antheil em parceria com Ezra Pound, incluíam
o uso de motores de avião em um concerto. A peça foi chamada de Le testament
de Villon. No âmbito da poesia, Marinetti foi protagonista. Sua poesia Zang tumb
tuum, que descreve a batalha de Adrianopoli, tem a intenção de reproduzir, pela
récita, o efeito sonoro ruidoso da guerra.

PESQUISA

Discuta, com seus colegas e com seu professor que relação é possível es-
tabelecer entre as características da música futurista e alguns músicos
contemporâneos que utilizam ruídos e constroem instrumentos com ele-
mentos do cotidiano. Escreva abaixo suas conclusões.

61

A9_L1.indb 61 11/7/17 9:04 AM


EXPERIÊNCIA
DA ARTE

Moda é arte? Você já pensou nessa pergunta? Qual foi a resposta?


Para Giacomo Balla, a moda e as roupas eram uma forma de expressar um
estilo de vida. A arte não deveria ser somente para as elites, mas também para
toda a sociedade, e a moda podia ser a forma de levar isso à prática.
Balla escreveu um texto chamado Manifesto futurista do traje masculino, no
Material para análise

qual enumerava algumas mudanças necessárias. Sugeria, por exemplo, que nos
vestíssemos e agíssemos como pensamos e de acordo com nosso estado de espí-
rito. Portanto, as roupas seriam um reflexo de nossos sentimentos.
Ao longo de sua trajetória, Balla chegou a realizar alguns estudos e fez alguns
modelos de roupas que os usuários podiam modificar com acessórios. Figuras
geométricas poderiam ser aplicadas sobre a roupa segundo o desejo, o humor ou
a situação.
Utilizando os conceitos trabalhados nas pinturas, como o uso das cores, si-
multaneidade, as linhas em espiral e curvas, Balla desenvolveu uma série de pe-
ças, as quais foram consideradas muito revolucionárias para a época (em que o
corte reto e o preto predominavam).
O corte de gola em V e o moletom são alguns dos elementos que os futuristas
introduziram na moda.

SJGH/SHUTTERSTOCK.COM

62

A9_L1.indb 62 11/7/17 9:04 AM


Temos um desafio para você realizar em grupo com seus colegas: a confecção
de um traje.
Material necessário:
• Lápis preto e lápis de cor • Roupas velhas
• Canetinhas coloridas • Pedaços de tecidos coloridos (co-
• Tesoura res primárias)
• Pistola de cola quente • Espuma
• Bastão de cola quente • Tintas para tecido coloridas (co-
Material para análise

res primárias)

1. Em grupos de cinco pessoas, os alunos deverão desenhar um esboço do traje


a ser confeccionado (um croqui).
2. Cada grupo deve estabelecer o material a ser utilizado nas cores, texturas
e formas.
3. Cada esboço deve deixar claras todas as informações necessárias. Para
isso, vocês podem utilizar flechas, legendas, mostras de tecido etc.
4. Os integrantes de cada grupo devem conversar sobre os materiais neces-
sários e dividir a responsabilidade de providenciá-los.
5. Os grupos devem iniciar o trabalho.
6. É imprescindível que cada grupo seja fiel ao croqui original. Se houver al-
guma mudança imposta pelo material utilizado ou por outras razões, isso
deve ser indicado no croqui original.
REINALDO VIGNATI

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A9_L1.indb 63 11/7/17 9:04 AM


SABER
EM AÇÃO

1. Complete a tabela a seguir com relação aos movimentos artísticos que


você estudou nesta Unidade.

Movimento
Características Principais artistas
artístico
Material para análise

Distorção da imagem e da cor e Erich Heckel, Ernest Ludwig Kirchner e

expressão dos sentimentos na Karl Schmidt-Rottluff


Expressionismo
pintura.

Distorção das cores e expressão dos Henri Matisse e Georges Braque


Fauvismo
sentimentos.

Utilização de figuras geométricas e Pablo Picasso e Georges Braque

fragmentação das figuras a serem


Cubismo
pintadas.

Utilização de figuras geométricas, Wassily Kandinsky e Paul Klee

busca da harmonia das cores, busca

Der Blaue Reiter da relação entre arte e o espiritual e

(O cavaleiro azul) representação do universo do

subconsciente.

Representação do movimento, Umberto Boccioni e Giacomo Balla

expressão dos sentimentos


Futurismo
e exaltação da modernidade.

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A9_L1.indb 64 11/7/17 9:04 AM


2. Qual foi a contribuição dos impressionistas, de Van Gogh e Gauguin para o
expressionismo?
Os impressionistas incentivaram os artistas a deixar de ser fiéis à realidade. Van Gogh e Gauguin defendiam o uso

livre das cores e da distorção.

3. Qual foi a contribuição de Paul Cézanne para o cubismo?


Material para análise

Paul Cézanne foi o artista que pesquisou as formas dos objetos pensando em formas geométricas. Os impressionistas,

expressionistas e fauvistas foram os primeiros a não imprimir a realidade ou o mundo ideal em suas pinturas.

Os cubistas levaram as pesquisas de Cézanne ao extremo e tampouco estavam preocupados com a representação

da realidade. A diferença é que, em vez de imprimirem a sensação da luz sobre o objeto ou exprimirem os

sentimentos, os cubistas organizaram a realidade na tela com o propósito de oferecer ao observador diferentes

pontos de vista sobre o mesmo objeto.

4. Como o movimento Der Blaue Reiter conversou com o cubismo?


Esse movimento representou um contraponto à força racionalizadora do cubismo e utilizou as formas geométricas

introduzidas pelos cubistas nas artes, além de aliar as cores a fim de aproximar o humano do espiritual.

5. Alguns teóricos chegam a dizer que o futurismo foi menos importante


em si do que em sua capacidade geradora de outros movimentos. Ou seja,
diversos artistas e movimentos posteriores se inspiraram em suas ideias
e técnicas. Que características do movimento futurista corroboram essa
afirmação dos teóricos?
A utilização dos recursos descobertos por Balla para a representação do movimento e as técnicas de performances

serão recuperadas por movimentos futuros.

6. Agora que você já sabe um pouco mais sobre os movimentos estudados


nesta unidade, localize-os na linha do tempo utilizando as figuras dis-
poníveis no fim do livro (material de apoio), preenchendo-as conforme
necessário.

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A9_L1.indb 65 11/7/17 9:04 AM


VIVENDO EM
SABEDORIA
O céu e a terra desaparecerão, mas as minhas palavras ficarão para sempre.
Lucas 21.33 (NTLH)
E o mundo passa, com tudo aquilo que as pessoas cobiçam; porém aquele que
faz a vontade de Deus vive para sempre.
I João 2.17 (NTLH)
Material para análise

A Europa do século XIX foi palco de muitas mudanças, grandes descobertas,


novas tecnologias e novas formas de expressão. Isso possibilitou que no universo
das artes surgisse uma variedade enorme de manifestações artísticas. Apesar
das diferenças entre elas, todas tinham um aspecto comum: retratavam o mundo
moderno, impactadas pelo contexto histórico em que surgiram.
1. Você concorda que a arte recebe forte influência do tempo presente?
Resposta pessoal.

2. Para você, isso significa que o artista deve, em tudo, se adequar ao seu
tempo?
Resposta pessoal.

3. A arte pode ser uma ferramenta para levar as pessoas a questionar deter-
minadas práticas e valores de seu tempo?
Resposta pessoal.

4. Que princípios o artista deve usar para avaliar o seu tempo para que possa
se utilizar dos aspectos positivos e rejeitar os negativos?
Resposta pessoal.

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A9_L1.indb 66 11/7/17 9:04 AM


5. Elabore uma composição no espaço abaixo, tendo como tema uma leitura
de nosso tempo. Você pode usar técnicas como o desenho, a xilogravura,
a colagem etc. Procure utilizar tanto aspectos positivos como negativos
que marcam nossos dias.
Material para análise

67

A9_L1.indb 67 11/7/17 9:04 AM


Material para análise

68

A9_L1.indb 68
UN
ID
AD
IMAGENS: © Photothèque R. Magritte, Magritte, René/ AUTVIS, Brasil, 2017; SANTIAGO CORNEJO/SHUTTERSTOCK.COM. MONTAGEM: TIAGO TEPASSÉ
E
2
da sociedade
A arte a serviço

11/7/17 9:04 AM
A Primeira Guerra Mundial, também conhecida como a Grande Guerra, aconteceu
na Europa. Depois do fim da guerra, vieram a reconstrução, o luto e a reestrutu-
ração de sociedades inteiras. Com essa reconstrução, artistas e pensadores reavalia-
ram a função da arte na sociedade. Dessa reavaliação surgiram duas grandes linhas
que orientaram diferentes movimentos artísticos. Uma linha segue o modelo indus-
Material para análise

trial que caracterizava esse tempo de reconstrução. Estabelece uma série de “crité-
rios objetivos” racionais para o trabalho artístico. Nessa linha, poderíamos incluir os
seguintes movimentos artísticos: cubismo, Der Blaue Reiter, suprematismo, cons-
trutivismo russo e De Stijl. A outra linha faz oposição ao sistema industrializado. Ao
ressaltar a individualidade do ser humano, essa linha se propunha a trabalhar com
um universo particular de cada homem, dialogando com as descobertas da psicaná-
lise e do inconsciente. Nessa segunda linha, entrariam o dadaísmo e o surrealismo.
Podemos dizer que as duas linhas tinham em comum uma preocupação com o tra-
balho repetitivo das fábricas. Para ambas, esse trabalho colocava o homem distante
de sua essência criativa e da natureza. Elas, portanto, questionam essa mecaniza-
ção da sociedade industrializada por meio de um processo racional ou inconsciente.

Tudo o que você tiver que fazer faça o


melhor que puder, pois no mundo dos
mortos não se faz nada, e ali não existe
pensamento, nem conhecimento, nem
sabedoria. E é para lá que você vai.
Eclesiastes 9-10 (NTLH)

Você já pensou sobre qual é o papel da arte na vida das


pessoas?
Que função o artista cumpre na sociedade?

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4
CAPÍTULO

Arte e funcionalidade
Depois da Primeira Guerra Mundial, a situação política, econômica e social dos
países da Europa e América se alterou de tal forma que a arte e outras manifes-
tações culturais passaram por profundas mudanças. A guerra tinha produzido
Material para análise

um avanço tecnológico violento e um crescimento ainda maior das populações


urbanas. A mão de obra utilizada para trabalhar nas fábricas até então passou a
assumir um papel protagonista dentro das cidades: tudo precisava ser produzido,
criado e construído.
Surgiu a necessidade do planejamento urbano “inteligente” para evitar o co-
lapso dessas cidades, ainda sem infraestrutura para tanta gente. Logo depois da
guerra, portanto, as sociedades tinham necessidade de se reorganizar. Elas pre-
cisavam encontrar uma maneira de voltar a funcionar. Esse período chegou a ser
classificado por alguns historiadores como a época do funcionalismo.
Entre 1910 e o fim da Segunda Guerra Mundial, a arquitetura e o planejamento
urbano assumiram o papel de protagonistas. Como as cidades precisavam de um
planejamento funcional que atendesse às necessidades de seus cidadãos, a arqui-
tetura e os arquitetos passaram a ter um papel fundamental e trabalharam inten-
samente ao lado de grandes artistas. De fato, em 1933, em um congresso sobre
urbanismo, redigiu-se um manifesto chamado A carta de Atenas, que traçava as
diretrizes para o urbanismo moderno. Leia a seguir um trecho desse documento.

O urbanismo é a ordenação dos diversos lugares e locais que devem abrigar o


desenvolvimento da vida humana em seus aspectos materiais, sentimentais e espi-
rituais, em todas suas manifestações, individuais e coletivas. Abarca tanto as aglo-
merações urbanas como os agrupamentos rurais. Já não pode estar submetido a um
esteticismo gratuito. Por sua própria essência é funcional. As três funções fundamen-
tais pelas quais deve velar o urbanismo são: 1o habitar. 2o trabalhar. 3o recrear-se. Seus
objetivos são: a) a ocupação do solo, b) a organização da circulação e c) a legislação.
IPHAN. Corbusier Le. Carta de Atenas. p. 37. Urbanismo.
Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=233>. Acesso em: nov. 2012.

1. De acordo com esse documento, o que é urbanismo?


Urbanismo é uma área da arquitetura que estuda a ordenação dos espaços onde os homens convivem.

2. Somente a cidade é urbanizada, ou o campo também?


No campo, os espaços sociais onde os homens convivem também estão urbanizados e necessitam de planejamento.

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3. Pelo conceito de urbanismo desse grupo, é coerente pensar em um espaço
rural urbanizado? Explique.
Sim, todos os espaços de convivência humana, sejam eles no campo ou nas cidades, precisam ser organizados.

4. De acordo com o documento, o urbanismo “por sua própria essência é fun-


cional”, deve velar pela moradia, pelos espaços de trabalho e pelos espa-
ços recreativos. Você concorda com essas funções? Debata essa questão
Material para análise

com seus colegas e seu professor.

5. Com base no fato de que esse documento orientou o trabalho de arquite-


tos por toda a Europa, você acredita que todos os espaços urbanos seriam
iguais ou apresentariam diferenças segundo as interpretações realizadas
pelos vários países e arquitetos? Por quê?
A Carta de Atenas é apenas um documento de orientação, mas cada país faz uma interpretação, uma leitura particular

dessas diretrizes. Professor, se possível trabalhe um exemplo disso com os seus alunos, argumentando que o espaço

de lazer apresenta características particulares segundo o país em que está. O Brasil, por exemplo, deveria incluir um

espaço para jogar futebol ou pular amarelinha, e a Inglaterra contemplar um espaço para brincar com a neve.

Para lembrar!
No final do século XIX, arquitetos modernistas queriam transformar as cidades industriais com
suas chaminés e fuligem e bairros operários em espaços mais agradáveis, arejados, claros e lu-
minosos. Na arquitetura modernista, identificam-se duas linhas: uma inspirada nas formas geo-
métricas, precursora da futura arquitetura racionalista, e outra inspirada nas formas curvas da
natureza. Nessa segunda linha, destaca-se o arquiteto espanhol Antoni Gaudí.

Como ocorre com as manifestações artísticas que se tornam mundiais, essa


arquitetura desenvolveu características muito particulares nos diferentes lugares
onde foi desenvolvida.
Nesse processo de modernização, muitos artistas se destacaram, como
Le Corbusier, que desenvolveu a maior parte de seu trabalho na França; Alvar
Aalto, nos países escandinavos; o arquiteto Frank Lloyd Wright, nos Estados Uni-
dos; Walter Gropius, na Alemanha; Vladimir Tatlin, na antiga União Soviética.
O principal objetivo desses artistas era aliar a estética e o planejamento urba-
no à organização social. Outro elemento importante dessa arquitetura foi o diálo-
go com a indústria. Os arquitetos começaram a desenvolver objetos de uso diário

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e estruturas para a construção que poderiam ser fabricados em série. Por esse
tipo de urbanização, pelo fato de que essa arte deveria exigir do artista a cons-
ciência do que fazer para melhor atender a uma necessidade geradora do projeto
de arte, essa arquitetura ganhou o nome de arquitetura racionalista. Tratava-se
de uma clara oposição à produção em série que dominava a época: uma produção
em que não havia consciência do que se fazia e, às vezes, nem para quê.
• A seguir, apresentamos algumas produções dos principais representan-
tes da arquitetura racionalista.
Material para análise

ALAMY STOCK PHOTO / LATINSTOCK


Projeto de Le Corbusier – Vila Savoye (1928-1931).

TEZE/SHUTTERSTOCK.COM

Auditório na Finlândia. Projeto do arquiteto Alvar Aalto.

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Material para análise

DPA PICTURE-ALLIANCE / AFP


Projeto de Frank Lloyd Wright, conhecida como a “casa da cascata”, desenhada em 1936. Trata-se
de uma amostra da arquitetura orgânica que o arquiteto defendia. Essa casa foi construída sobre
uma cascata e integra os elementos naturais em sua estrutura.

1. De qual dessas obras você mais gostou? Por quê?


Resposta pessoal.

2. Como a obra escolhida por você atende, a seu ver, aos ideais da urbanização?
Resposta pessoal.

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3. Fotografe dois espaços localizados na cidade em que você mora: um de
que você gosta e um de que você não gosta. Se preferir, selecione imagens
obtidas em jornais, revistas ou na internet. Cole as fotos ou imagens no
espaço a seguir.
Material para análise

4. Discuta com seus colegas e seu professor os seguintes aspectos:


a) De que maneira o espaço de que você gosta atende aos ideais da urbani-
zação?
b) De que maneira o espaço de que você não gosta não atende aos ideais da
urbanização?

Agora reflita:
A relação de um indivíduo com uma obra de arte arquitetônica é di-
ferente de sua relação com uma obra pictórica, por exemplo. Em sua
opinião, que diferenças podem ser apontadas nessa relação? Você
acredita que no caso da arquitetura existe maior relação entre funcio-
nalidade e estética?

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Aprimorando
Já falamos um pouco do arquiteto de origem suíça e naturalizado francês,
Le Corbusier. Agora veremos sua obra um pouco mais detalhamente. Le Corbusier
nasceu em La Chaux-de-Fonds, na Suíca, em 6 de outubro de 1887, e morreu em
Roquebrune-Cap-Martin, na França, em 27 de agosto de 1965. Além de arquiteto,
foi pintor e um planificador urbano magnífico, capaz de transformar os proble-
mas urbanísticos e arquitetônicos em grandes questões para o século XX. Era
também um grande agitador cultural, com uma inesgotável fonte de ideias.
Material para análise

JOHN MACDOUGALL / AFP

Edifício do Supremo Tribunal, projetado por Le Corbusier em Chandigarh, na Índia.

Edificios da cidade de Chandigarh


Nos anos 1950, Le Corbusier projetou Chandigarh, na Índia, uma das primeiras cidades planeja-
das do mundo, hoje considerada patrimônio da humanidade.

Le Corbusier foi um racionalista cartesiano e considerava que a sociedade ti-


nha uma ligação necessária com a natureza. Isso não impedia o desenvolvimento
tecnológico e o progresso, que ele considerava caminho natural da humanidade.

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Em seus projetos, para resolver problemas urbanísticos, sempre conseguiu
aliar dois caminhos: a natureza e a história da humanidade. Os blocos de aparta-
mentos se encaixam uns nos outros em muitos níveis, e as sacadas com jardins
mostram a natureza entrando nas construções.
Um conjunto de colunas-pilotis ampliam a área livre e permitem separar o
edifício do solo, criando áreas de circulação e jardins em seus edifícios.
Como planejador urbanístico, elaborou projetos para diferentes cidades pela
Europa, Índia, América Latina, incluindo o Brasil, sempre priorizando o bem-estar
humano e combinando as exigências de intimidades individuais e a convivência
coletiva.
Material para análise

Influenciou grandes arquitetos e urbanistas brasileiros, tais como: Oscar Nie-


meyer e Lúcio Costa. Sua influência aparece em edifícios como o Ministério da
Educação e Saúde Pública, no Rio de Janeiro, e nas ideias dos projetos urbanísticos
de Brasília.

Palácio do Congresso Nacional


Edifício localizado em Brasília, cidade que também está na lista de patrimônios da humanidade.
É uma das obras de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

BRUNOPNOGUEIRA86 / SHUTTERSTOCK.COM

PESQUISA

Faça uma pesquisa de imagens de projetos arquitetônicos desenvolvidos


por Le Corbusier e cole-as em seu caderno.

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Arquitetura racionalista na Alemanha
e na Rússia
Estudaremos mais detalhadamente a arquitetura racionalista da Alemanha e
da Rússia e seus respectivos artistas.
Na Alemanha, o propósito da arquitetura racionalista era ensinar o público a
usufruir do espaço urbano. Por isso, era imprescindível que os artistas tivessem
um método para realizar suas obras, ou seja, deveriam definir claramente seus
projetos de tal forma que o público percebesse essa intenção. Nesse país, surgiu o
Material para análise

que podemos denominar a primeira escola democrática: a Bauhaus. Já na Rússia,


o construtivismo se expandiu por todas as disciplinas artísticas e transformou
radicalmente as artes gráficas.

A escola Bauhaus
Fundada por Walter Gropius, em 1919, a escola Bauhaus foi e ainda é uma
referência de educação, desenho e arquitetura.
Gropius convidou grandes artistas para participar do projeto, defendendo
que o lugar do artista é na escola e que a tarefa social do artista é o ensino.
Durante o primeiro período em que a escola funcionou, trabalhou em três
etapas com orientações estéticas e movimentos artísticos diferentes.
Entretanto, foi por volta de 1921 e 1922, com a entrada de Paul Klee, Oscar
Schlemmer e Wassily Kandinsky, que a escola assumiu a forma que a tornou mun-
dialmente conhecida.
Kandinsky trouxe suas investigações, que abordavam os elementos essenciais
para a pintura e as associações do seu interior com as cores e as formas geomé-
tricas euclidianas (círculo, quadrado, triângulo, esfera, cone, pirâmide, cilindro e
cubo). Foi possivelmente o primeiro artista a elaborar uma espécie de gramática
para a pintura e a estudar os elementos essenciais, como linhas e superfícies. Em
seus estudos, buscava identificar que sensações e emoções essas superfícies as-
sociadas às cores podem provocar no homem.
Kandinsky desenvolveu alguns exercícios. Aqui vamos reproduzir alguns de-
les. Para realizá-los, você vai precisar de folhas de papel sulfite branco, lápis preto,
régua e transferidor.
Tenha em mente que o ponto é o primeiro elemento.
As linhas surgem do uso ordenado dos pontos. Considere, então, que entre
um ponto A e um ponto B em uma reta existem infinitos pontos. Para construir
uma linha, você deve trabalhar com infinitos pontos justapostos.
1. Complete as três figuras apresentadas a seguir com linhas. Tenha em
mente que, ao fazer esse exercício, todo o espaço (mesmo o que ainda
não está com linhas traçadas) tem infinitos pontos sobrepostos. Observe
que, a cada linha criada, você torna esses pontos visíveis, criando, dessa
forma, as superfícies. Note que elas transmitem diferentes sensações.

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Material para análise

2. Em uma folha de papel sulfite branca, faça o que se pede.


• Desenhe um quadrado de 20 cm por 20 cm.
• Divida esse quadrado ao meio horizontalmente.
• Divida-o agora ao meio verticalmente.
• Você tem 4 quadrados de 10 cm por 10 cm.
• Deixe em branco o primeiro quadrado.
• Preencha o segundo quadrado (à esquerda) com 20 linhas horizontais
com intervalos (espaços) de 0,5 cm.
• Preencha o terceiro quadrado (à direita) também com 20 linhas, só que
agora verticais, com intervalos (espaços) de 0,5 cm.
• Por fim, pinte de preto o quarto quadrado (à esquerda).

Você acaba de criar diferentes superfícies.

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a) Compare essas superfícies cobertas pelas linhas com os quadrados em
branco e preto.
b) Qual delas é mais pesada?
c) Agora, estude as cores. Repita esse exercício com as seguintes cores: ama-
relo, azul, preto e branco. Qual dos quadrados dá a sensação de mais pro-
fundidade?

• Exercícios desse tipo possibilitaram a criação de objetos como esses apre-


sentados nas imagens a seguir.
Material para análise

GETTY IMAGES / AFP

© GONZALO AZUMENDI / KEYSTONE


DPA / AFP

A principal contribuição de Kandinsky está relacionada à consciência das for-


mas. Por sua vez, as ideias de Klee foram fundamentais para que os projetistas
se conscientizassem de que deveriam elaborar seus trabalhos pensando não ape-
nas em um objeto, mas em um objeto que pudesse ser inserido no cotidiano de
pessoas diferentes, e mesmo que esse objeto desempenhasse a mesma função,
assumiria significados diferentes. Para compreender melhor essa ideia de um ob-
jeto poder desempenhar uma função comum a ele, mas assumindo significados
diferentes, faça o que se pede.

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• Cole no espaço abaixo a foto de um assento de sua casa. Depois, com-
partilhe com seus colegas e seu professor o significado e a história des-
se assento. Ouça o que seus colegas dirão a respeito dos assentos que
trouxeram. Observe, então, como, apesar de todos os assentos terem sido
projetados para uma mesma função básica, os significados que podem
assumir são diferentes.
Material para análise

Para Gropius, o progresso significava educação, a qual deveria ser oferecida


na escola. Por essa lógica, a escola seria a origem de uma sociedade democrática.
A Bauhaus foi um exemplo de escola democrática onde professores e alunos
trabalhavam em parceria com o objetivo de alcançar uma formação recíproca.
Para os professores dessa escola, a sociedade democrática organizava e orien-
tava seu próprio progresso. Assim, a cidade era entendida como a manifestação
concreta dessa comunidade, seus desejos e anseios. Com base nessa perspectiva,
o planejamento urbanístico era fundamental porque era a forma concreta da ci-
dade, a manifestação da sociedade e de como ela vive. Logo, um dos temas mais
importantes tratados na Bauhaus foi a relação entre a arte e o artesanato e como
transpor essa relação para a arte e a indústria. Tudo o que a indústria produzisse,
desde móveis, objetos do cotidiano até uma cidade, deveria atender a uma ne-
cessidade da comunidade da melhor maneira, assim como um artesão aprendia a
fazer um objeto porque as pessoas a seu redor necessitavam dele.

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• Em grupo, você e seus colegas devem identificar, na sociedade, uma ne-
cessidade que as pessoas têm. Indiquem que objetos ou espaços pode-
riam atender a essa necessidade que vocês identificaram. No
espaço a seguir, façam uma proposta para a existência des- Glossário
se objeto ou desse espaço. Apresentem o esboço da criação Emergente – Que ou quem se
encontra em ascensão econô-
para os outros grupos e para o seu professor e expliquem a mica e social.
função democrática dessa criação.
Material para análise

Integrando conhecimentos

O que vocês fizerem façam de todo o coração, como se estivessem servindo


o Senhor e não as pessoas. Lembrem que o Senhor lhes dará como recom-
pensa aquilo que ele tem guardado para o seu povo, pois o verdadeiro Se-
nhor que vocês servem é Cristo.
Colossenses 3:23-24 (NTLH)
A partir do surgimento da escola Bauhaus, alguns artistas, como Kandinsky e
Klee, trabalharam em busca do diálogo entre arte, produção industrial e funcio-
nalidade, a fim de, por meio dessa relação, alcançar o progresso da sociedade.
Isso mostra como, para alguns artistas, a arte trata também de buscar soluções
para algumas questões da vida a fim de torná-la melhor. Em sua opinião, o com-
promisso final de um artista deve ser o de dar soluções a essas questões? Para
você, quais devem ser os compromissos de um artista? E quais tem sido seus
compromissos em relação àquilo você faz?

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Aprimorando
Praticamente nenhuma técnica artística deixou de ser estudada na Bauhaus.
Para observar como era essa relação da escola com as diversas técnicas artísticas,
observe o caso do professor Oskar Schlemmer. Ele era excelente pintor, mas tinha
paixão pelo teatro e pela dança, tendo trabalhado esses temas com os alunos. En-
tre 1925 e 1928, organizou diversos eventos. Encenações como Dança dos gestos,
Dança das formas, Dança das varetas e Dança do metal são alguns dos títulos
desses espetáculos. Observe dois figurinos criados por Schlemmer.
Material para análise

ERICH LESSING / ALBUM / LATINSTOCK

ERICH LESSING / ALBUM / LATINSTOCK


Oskar Schlemmer. Figurino criado para o balé triádico de inauguração da Bauhaus,
1922.

Observe que, com trabalhos assim, os alunos da Bahaus estu-


Em 1930,
daram pintura, escultura, desenho e artes cênicas com oficinas es-
por pressão nazista, a
pecializadas em diferentes materiais, como metal, cerâmica e área
Bauhaus foi fechada e seus
professores foram obrigados têxtil.
a migrar, muitos deles para
os Estados Unidos, onde ini- • Você considera importante que estudantes de arquitetura
ciaram uma nova carreira. ou desenho industrial estudem outras disciplinas artísticas?
Durante a guerra, o edifício Por quê?
da escola sofreu sérias ava-
rias, mas, em 1950, ex-alunos Resposta pessoal.
trabalharam em sua recons-
trução e reforma. As obras
terminaram por volta de
1970, e atualmente a
Bauhaus é uma das melho-
res universidades da Alema-
nha no âmbito das artes e da
arquitetura.

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Construtivismo
O construtivismo teve sua origem na atual Rússia. Por volta de
Glossário
1913, a sua principal ideia era colocar a criação artística a serviço
Diretrizes – Normas de proce-
da sociedade. Para os construtivistas, a arte deveria se apoiar nos dimento, de conduta etc.
avanços tecnológicos e os artistas deveriam se empenhar em gran- Comunismo – Organização so-
des projetos que buscassem introduzir a arte na vida dos cidadãos. cioeconômica baseada na pro-
priedade coletiva dos meios de
Todo esse processo estava estreitamente vinculado às ideias comu- produção.
nistas que se estendiam a todas as correntes artísticas, e a arquite-
Material para análise

tura é apenas uma delas.


Na arquitetura, os construtivistas trataram os elementos das ci-
dades, de uma casa ou de um hospital como um todo. Independen-
temente de ser uma placa de sinalização, um elevador ou um alto-
-falante, todos os elementos estavam na mesma escala de valores.
Uma das grandes diretrizes do construtivismo no que se refere
ao planejamento urbano era imprimir nas cidades um caráter revo-
lucionário por meio das formas dos edifícios, na vida cultural dos
bairros e nas comunicações visuais (propaganda).
O ponto de partida para a nova arquitetura construtivista foi o
Monumento à Terceira Internacional, projeto de 1919 realizado pelo
artista Wladimir Tatlin. Esse monumento contém todas as premis-
sas dos construtivistas: trata-se de uma
obra arquitetônica que assume o caráter
de escultura gigante e, ao mesmo tempo,
cumpre uma função técnica, porque fun-
ciona como uma torre de comunicação e
emissão de notícias. Sua forma em espi-
ral ascendente lhe imprime um caráter
dinâmico, e o material utilizado – ferro
retorcido e vidro – sublinha a vinculação
com a indústria. A torre nunca chegou
a ser construída porque a situação eco-
nômica da Rússia não permitia, mas seu
projeto é um marco.
• Observe ao lado a torre de Wladimir
Tatlin e as características do cons-
trutivismo citadas.
DIOMEDIA / HERITAGE IMAGES / FINE ART IMAGES

Um modelo em escada da Torre


de Tatlin. Exibida na exposição da
“Bacia Tatlin Infinito Grande”. Galeria
Tretyakov, Moscou, Rússia.

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Por volta de 1925, a arquitetura construtivista ficou mundialmente conhecida
quando o pavilhão soviético executado por Melnikov para a exposição internacio-
nal das artes decorativas em Paris recebeu o prêmio principal.
• Observe como o artista mistura arquitetura e escultura para dar forma ao
pavilhão.
Material para análise

DOMÍNIO PÚBLICO

No movimento construtivista, a pintura e a escultura assumem um certo ca-


ráter informativo e funcional, e não de representação da realidade, porque os
construtivistas defendiam que os valores institucionalizados do século XIX deve-
riam ser superados e que caberia à arte o papel de estabelecer uma comunicação
mais direta com a população. Tudo deveria cumprir uma função.
De forma geral, o construtivismo explorou, como os outros movimentos con-
temporâneos, as formas geométricas seriadas que retratam o ser humano em um
mundo veloz e industrial.
• Observe, a seguir, os figurinos de uma das cenas de Aelita, um filme cons-
trutivista.

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Material para análise
DIOMEDIA / ENTERTAINMENT PICTURES

Cena de Aelita.
Direção: Jacob
Protazanov.

1. Nesses figurinos, que elementos são característicos do movimento constru-


tivista?
Verifica-se a utilização das formas geométricas e linhas nos círculos. Na saia, há uma espécie de rastro em tons de

cinza que dá a sensação de movimento. No sapato e nos ombros do figurino masculino, há elementos que lembram

engrenagem de máquinas.

2. Protazanov dirigiu o filme Aelita, a rainha de Marte, cujos cenários são


todos construtivistas. Leia, a seguir, o enredo do filme. Com o objetivo de
expressar a velocidade e a industrialização e explorar as formas geomé-
tricas, tente recriar em seu caderno os figurinos dos personagens.
Enredo: sinais de rádio vindos de Marte são recebidos pela Terra. Todos os
países recebem este sinal e o ignoram, com exceção da Rússia. Um jovem en-
genheiro moscovita constrói um foguete e viaja para Marte. Chegando a Marte
encontra uma rainha, pela qual se apaixona. Apesar de apaixonado descobre que
essa rainha é uma ditadora. Funda um partido socialista em Marte para enfren-
tar a rainha, e o sistema ditatorial.
RIBEIRO, Nádia Corsi. Texto produzido para esta obra.

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EXPERIÊNCIA
DA ARTE

Na Bauhaus, estudam-se teorias relacionadas à produção e padronização


de elementos fundamentais para uma sociedade industrializada e democráti-
ca. Essa padronização é resultado de estudos que definiram as várias utilidades
para determinado produto, as quais devem ser mantidas na produção em escala
industrial.
Material para análise

No entanto, essa padronização é encarada de forma particular pela equipe


da Bauhaus: não significa unificação ou massificação, porque os produtos dese-
nhados por seus alunos ou professores são objetos abertos a uma interpretação
intimamente pessoal. Os artistas defendem que isso é possível porque as linhas
e cores unidas às formas geométricas que lhes serviram de base são elementos
tão universais que diferentes significados podem ser atribuídos a esses objetos.
Dessa forma, o desenho de um determinado objeto é tão importante quan-
to a função que este vai desempenhar. Assim, na Bauhaus, “o como” assume
a mesma importância do “o quê”. A funcionalidade é tão importante quanto a
estética de determinado objeto, porque comunica e transmite informações.
Entre os objetos mais emblemáticos da escola está a cadeira Wassily, criada
por Marcel Breuer, ex-aluno e professor da escola, que lhe deu esse nome em
homenagem a Kandinsky.
Essa cadeira atendia às principais necessidades da época. Como os espaços
das casas eram reduzidos, já não havia lugar para grandes móveis de madeira ma-
ciça. Na produção dessa cadeira, Breuer utilizou tubos de metal. Ela era facilmente
produzida em escala, já que quase tudo podia ser feito de forma industrial.

Glossário
Massificação – Processo pelo qual
valores e produtos frequentemente
restritos a grupos de elites tornam-
-se consumíveis por toda a sociedade
DIOMEDIA / ARCAID / G JACKSON

Projetada entre 1924 e 1928, a


cadeira Wassily, de autoria de
Marcel Breuer, é possivelmente
uma das mais famosas do
mundo. Atualmente, ainda se
comercializa esse tipo de cadeira.

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• Qual seria a cadeira ideal para sua sala de aula? Elabore o design de sua
cadeira no espaço a seguir e apresente-o para seus colegas e seu pro-
fessor, justificando a que necessidades você procurou atender. De acordo
com as recomendações de Bauhaus, você deve pensar nos materiais que
utilizará e se eles são facilmente encontrados e moldados pela indústria.
Material para análise

Arquitetura na Bauhaus
Talvez o grande diferencial da escola Bauhaus e de seus professores e alunos seja a consciência de
que cabe ao pensamento humano racionalizar a natureza, resolver problemas e organizar a vida.
Em 1923, a escola pôde colocar em prática seus preceitos arquitetônicos num projeto para a nova
sede da Bauhaus. A oferta foi feita pelo prefeito de Dessau, uma cidade industrial próxima a
Berlim, para que a escola se transferisse para lá. Isso criou a oportunidade de desenvolver um
edifício sob medida. O projeto foi realizado com a colaboração de alunos e professores.
PECOLD/SHUTTERSTOCK.COM

Edifício da Bauhaus, em Dessau. Projeto de Gropius e dos professores e alunos da Bauhaus.

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5
CAPÍTULO

Dadaísmo e surrealismo:
o inconsciente na arte

Observe a imagem a seguir e responda às questões.


Material para análise

MONDADORI / GETTY IMAGES

Linha de produção de máquinas de escrever, 1957.

1. Trata-se de um ambiente de produção e criação? Explique.


Sim, porque máquinas de escrever são criadas e produzidas nesse ambiente.

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2. Supondo que cada pessoa dessa esteira seja responsável por acrescentar
uma peça à máquina de escrever, sempre a mesma peça, no mesmo lugar,
podemos considerar que, apesar de se tratar de um ambiente de criação,
ele não é um ambiente criativo? Por quê?
( X ) Sim, podemos considerar que esse não é um ambiente criativo porque
o trabalho feito pelas pessoas não exige muito da criatividade delas.
Elas têm de fazer um trabalho mecânico.
( ) Não, não podemos considerar que esse não é um ambiente criativo por-
que o trabalho feito pelas pessoas faz com que elas precisem sempre
Material para análise

pensar o que têm de fazer para decidir a melhor maneira de fazê-lo.

A produção em série foi considerada pelos artistas, em geral, uma amea-


ça à criatividade. Enquanto alguns movimentos, como o cubismo, Der Blaue
Reiter e construtivismo russo, trabalharam para recuperar a criatividade pelo
exercício da racionalidade, o movimento dadaísta e o surrealismo exploraram
aspectos da arte relacionados ao inconsciente.
O inconsciente foi tema de estudo de alguns estudiosos da Europa, como
Sigmund Freud e Carl Gustav Jung. Freud chegou à conclusão, por meio de di-
ferentes experiências clínicas, que os seres humanos possuem a consciência,
mas também a inconsciência.
O conceito de inconsciente se opunha à ciência racionalista em que o ho-
mem é dono absoluto de suas ações. Dessa forma, os artistas que queriam
resgatar o conceito de criatividade pelo estudo do inconsciente tinham, ba-
sicamente, duas questões principais em mente: para os dadaístas, uma das
questões era até que ponto a cultura de produção em massa não estava limi-
tando o inconsciente humano, e se haveria outra forma de arte, de cultura para
a humanidade que pudesse ser resgatada do inconsciente humano; já para os
surrealistas, a questão era descobrir que tipo de produção artística poderia vir
do inconsciente.
Enquanto esses movimentos artísticos discutiam as relações dos homens
com esse sistema da produção industrial em série, outras artes, como a cinema-
tográfica, também colocavam a questão da relação da cultura humana com o
sistema de produção humana em debate. Um dos filmes clássicos dessa discus-
são é Tempos modernos, estrelado por Charles Chaplin (1889-1977). No filme, o
personagem de Charles Chaplin, depois de tanto manter um movimento auto-
mático de trabalho, não consegue parar de realizar o movimento, em todos os
lugares e com todas as pessoas.

Segundo a teoria psicanalítica


a personalidade humana é composta de id, ego e superego, que funcionam conjuntamente. O id
é a parte do inconsciente humano em que estão os impulsos de sobrevivência. O ego refere-se à
parte que dosa os impulsos de sobrevivência com a realidade. Ao superego cabe equilibrar os
impulsos com a realidade, sobretudo em seu aspecto social.

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Material para análise

DIOMEDIA / MARY EVANS / RONALD GRANT


Cena do filme Tempos modernos, de 1936.

3. Esquete é uma pequena encenação teatral – geralmente humorística – de,


no máximo, dez minutos. Em grupo, faça uma esquete que remonte o que
você e seus colegas imaginam terem sido os primeiros momentos da socie-
dade com o sistema de produção industrial em série. Utilize como referên-
cia a imagem de 1957, com a linha de produção de máquinas de escrever.

Dadaísmo
O movimento dadaísta nasceu, quase ao mesmo tempo, em Zu-
Como surge rique e nos Estados Unidos, e se estendeu por muitos países. A data
um movimento simbólica escolhida como nascimento do movimento foi o ano de
artístico? Ele 1916. O dadaísmo era composto por diversos artistas, muitos deles
tem data de exilados de seus países por causa da Primeira Guerra Mundial.
nascimento? O movimento em Zurique foi fundado pelo poeta romeno Tris-
Os movimentos artísticos tan Tzara, pelos escritores alemães Hugo Ball e Richard Huelsenbe-
não surgem de um dia pa-
ck, e pelo pintor e escultor Hans Arp. Já nos Estados Unidos, o mo-
ra o outro, mas são resul-
tados de processos maio- vimento dadaísta era representado pelos artistas Marcel Duchamp,
res ou menores; mais ace- Francis Picabia, Alfred Stieglitz e Man Ray.
lerados ou mais demora- O dadaísmo trouxe um questionamento muito complexo.
dos. Durante o século XX,
houve vários manifestos Além de lidar com a problemática da mudança cultural da socie-
cujas publicações normal- dade industrial, surgiu em plena Primeira Guerra Mundial. Os da-
mente marcavam o nasci- daístas acabaram, portanto, questionando toda a cultura. Na arte,
mento dos movimentos.
por exemplo, começaram a avaliar todos os movimentos artísticos

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anteriores. Por mais que tivessem modificado a forma de pintar, feito com que
artistas saíssem do estúdio, expressassem sentimentos, apresentassem a re-
alidade desde muitas perspectivas, representassem a velocidade e pintassem
abstratamente, no fim, mantinham uma ideia de “arte” a serviço da produção
de um objeto (uma pintura, escultura etc.).
Os dadaístas, portanto, consideravam que a cultura da arte precisava ser re-
vista em sua raiz: a arte estava sempre a serviço da produção de um objeto? E se
ela não fosse isso, o que seria?
Para os dadaístas, a arte deixa de ser uma operação técnica e passa a ser
uma ação, uma ação aleatória e casual. Os dadaístas, dessa forma, não estavam
Material para análise

interessados em produzir obras de arte. Eles estavam interessados em executar


uma série de protestos e experimentos artísticos, não estavam, portanto, à pro-
cura de uma nova forma de produzir objetos de arte, como as outras vanguardas,
mas de uma nova cultura, de uma nova forma de viver, agir e estar no mundo. E
acreditavam que a melhor maneira de achar essa nova cultura era por meio de
experimentos casuais. Desejavam explorar o absurdo, porque o absurdo da cultu-
ra poderia ser o início de uma nova cultura.
Observe a ima-
gem ao lado.

ALBUM / AKG-IMAGES / LATINSTOCK

Abertura da Primeira
Feira Internacional
Dada, 1920.

1. O que existe de absurdo nessa imagem?


Um militar pendurado no teto e a colagem na parede criando personagens desproporcionais são imagens absurdas.

2. Seria possível alguém “comprar” uma obra deste local?


Provavelmente não, porque são obras feitas com recortes, roupas velhas, manequins e cartazes com frases. Além

disso, essas obras têm sentido no contexto em que estão inseridas. Talvez fosse mais interessante reproduzí-las.

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De alguma forma, os dadaístas questionaram a cultura da produção em mas-
sa não apenas na indústria, mas na própria arte. Essa arte em que o artista pro-
duzia um objeto artístico era, para os dadaístas, resultado de uma cultura da
produção, em que o homem é considerado capaz de produzir objetos aos quais se
pode dar um valor monetário, transformando-os em mercadoria e possibilitando
o jogo do capital e do poder. No entanto, era esse “jogo do capital” que, para os
dadaístas, havia levado a humanidade à Primeira Guerra Mundial.
A proposta do movimento era começar do zero, não para voltar a fazer o
mesmo percurso já realizado pelos artistas e movimentos anteriores, mas para
questionar e colocar em crise todo o sistema de valores da época, utilizando de
Material para análise

forma inusitada os recursos técnicos e objetos valorizados pela sociedade, sem-


pre com uma alta dose de humor e irreverência. Isso fica evidente quando Marcel
Duchamp põe bigode e barba em uma reprodução da Gioconda (Monalisa). A
reprodução do quadro deixa de ser feita apenas pelo valor artístico do original,
porque, entre outras coisas, tira o público de seu estado habitual diante de uma
obra de arte: faz com o que a reprodução tenha outro valor artístico.
3. Observe estas duas imagens. Você consegue sentir a diferença de valor
entre elas? Por quê? Explique.

DIOMEDIA / ALINARI / © Association Marcel Duchamp / AUTVIS, Brasil, 2017


DIOMEDIA / UNIVERSAL IMAGES GROUP / UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE

Leonardo da Vinci. La Gioconda, 1503-1506. Marcel Duchamp. Gioconda, 1917-1924,


Roma.

Resposta pessoal.

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Os dadaístas não tiveram dúvidas em se afastar das técnicas
O movimento
artísticas tradicionais e utilizar os recursos industriais, coisa iné-
dadaísta
dita até aquele momento. As fotomontagens de Man Ray, John
precede a Bauhaus, lugar
Hertfield e Raoul Hausmann são um exemplo disso.
onde se discute o papel da
A aproximação dos objetos cotidianos, produzidos industrial- tecnologia e da indústria
mente, chegou ao seu ponto mais alto com os ready-made de Mar- na arte.
cel Duchamp: um objeto qualquer do cotidiano, como um ferro de
passar roupa, é apresentado como obra de arte. Dessa forma, o
artista adiciona valor artístico a algo que normalmente não o teria.
Um dos exemplos clássicos de ready-made é a obra Fonte.
Material para análise

• Observe atentamente a imagem apresentada a seguir e res-


ponda às questões propostas.
THE BRIDGEMAN ART LIBRARY / KEYSTONE BRASIL/ © Association Marcel Duchamp / AUTVIS, Brasil, 2017

Marcel
Duchamp.
Fonte, 1917.
Reprodução.

4. Que objeto cotidiano foi apresentado por Duchamp como obra de arte?
Um mictório.

5. Na cultura, de maneira geral, esse objeto é típico de ambientes privados


ou públicos?
Privados.

6. As fontes são típicas de um ambiente privado ou público?


Público.

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7. Por que podemos, então, afirmar que há algo de um experimento cultural
nessa obra?
( X ) Porque o artista propõe uma cultura que aceite um objeto típico do
espaço privado em um espaço público.
( ) Porque o artista propõe que a forma de fabricação do objeto seja utili-
zada como regra estética para representar todos os objetos semelhan-
tes a esse que lidem com líquidos, como as fontes.

8. O próprio fato de um objeto como esse ser apresentado como arte já é um


Material para análise

experimento cultural?
( X ) Sim, porque esse não é um objeto que a cultura considere ser prove-
niente de um fazer artístico.
( ) Não, afinal, esse objeto também é obra de um artista.

As ações dadaístas são de difícil classificação, pois, como o alvo do movimen-


to era a experimentação da arte como uma ação, é quase impossível definir e
dividir o que eram artes plásticas, poesia, teatro escultura ou música.
As obras de artistas como Hans Arp, Raoul Hausmann e Francis Picabia podem
ser classificadas como esculturas, colagens ou pintura. Nessas obras, há um pre-
domínio de formas geométricas ou manchas. Embora seja difícil definir as obras
desse movimento, um aspecto fica evidente: todos defendiam que a cultura da
guerra estava errada e havia a necessidade de liberar a sociedade desse caminho.
Os dadaístas se propunham, portanto, a defender um artista que oferecesse
uma nova maneira de olhar o mundo ou de usar as coisas do mundo. O artista,
para o dadaísta, era aquele que criava novas possibilidades para a realidade; que
trabalhava a favor de outra cultura. Na verdade, para os críticos do movimento,
por não ser uma arte nos padrões culturais vigentes do que era a arte, o dadaís-
mo era considerado um movimento “antiarte”.

Agora reflita:
O dadaísmo é uma perspectiva que questiona a existência de sentido e
significado na realidade. No entanto, como se pode perceber, uma das
estratégias utilizadas em seu questionamento foi a ressignificação de
princípios estéticos e até mesmo de obras anteriores. Um bigode na
obra da Monalisa e um urinol numa galeria de arte causariam espanto
em um mundo sem significado? Em sua opinião, o que é possível em
um mundo sem significado e sentido?

Toda cultura tem problemas e dificuldades. Os dadaístas viveram um lado


profundo da cultura de seu tempo porque os problemas e as dificuldades se ma-
terializaram em forma de uma guerra mundial. Mas nossa cultura ainda hoje tem

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problemas sérios que, muitas vezes, causam a morte de muitas pessoas, como
a fome, a miséria e o individualismo. Converse com seu professor e seus colegas
sobre esses três problemas e escolha um deles para realizar a atividade a seguir.
9. Agora que você já escolheu o tema de sua composição, faça uma colagem
que mostre esse problema no espaço abaixo. Você pode utilizar imagens
retiradas de revista, jornal ou internet.
Material para análise

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10. Agora, em grupo, faça um protesto artístico mostrando o absurdo cultu-
ral que gera uma situação como esta: você pode utilizar um objeto, um
poema, uma música. Seu propósito será fazer com que as pessoas que
contemplem o projeto artístico do grupo repensem esse aspecto cultural
da sociedade e pensem em como mudá-lo. No espaço a seguir, cole a foto-
grafia do objeto ou transcreva o poema ou a música.
Material para análise

Integrando conhecimentos

O Universo todo espera com muita impaciência o momento em que Deus


vai revelar o que os seus filhos realmente são. Pois o Universo se tornou inú-
til, não pela sua própria vontade, mas porque Deus quis que fosse assim.
Porém existe esta esperança: Um dia o próprio Universo ficará livre do po-
der destruidor que o mantém escravo e tomará parte na gloriosa liberdade
dos filhos de Deus.
Romanos 8.19 - 21 (NTLH)
O Dadaísmo foi, de certa forma, uma resposta a um mundo em crise. Foram as
guerras, a fome, as epidemias que levaram muitos homens a atribuírem falta
de sentido e significado ao mundo. Esta, no entanto, é a única resposta possível
a situações históricas e sociais difíceis? Ou seria possível encarar a dureza da
realidade e fugir do desespero, mantendo acesa a chama da esperança? Os ver-
sos bíblicos acima mostram a visão cristã sobre os problemas e futuro humano.
Para você, ela revela esperança ou desespero? Por quê?

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Aprimorando
O próprio nome do grupo dadaísta é resultado da ação casual que o movi-
mento defendia. Segundo registros, o nome foi escolhido ao acaso quando, ao
abrir um dicionário francês, um dos fundadores do grupo deixou o dedo cair sobre
uma palavra: dada. Existem muitas versões sobre esse episódio, mas todos refor-
çam a importância do acaso.

1. O acaso foi um elemento fun-


Material para análise

damental nas obras dada-


ístas, uma espécie de estra-
tégia utilizada tanto para a
produção de colagens como
para a produção de poemas.
Isso se aplicou também ao
acaso linguístico. Tzara, um
dos fundadores do movimen-
to, deixou uma receita para a
produção de um poema da-
daísta. Com base nas etapas
apresentadas a seguir, elabo-
re um poema e transcreva-o
no espaço da página 98. De-

THE BRIDGEMAN ART LIBRARY / KEYSTONE BRASIL


pois, leia o poema para seus
colegas de classe.

Tristan Tzara.
Boletim dada,1920.

Receita para fazer um poema dadaísta:


• Pegue um jornal.
• Pegue uma tesoura.
• Escolha no jornal um artigo que tenha o tamanho que pensa dar ao seu poe-
ma.
• Recorte o artigo.
• Recorte seguidamente com cuidado as palavras que formam esse artigo e
coloque-as em um saco.
• Agite-o com cuidado.
• Seguidamente retire os recortes um por um.
• Copie […] as palavras segundo a ordem pela qual forem saindo do saco.
Texto adaptado para esta obra. Disponível em <http://pt.scribd.com/doc/43205231/
Tristan-Tzara-Sete-Manifestos-DADA-Hiena-Editora-1987>. Acesso em: nov. 2012.

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Material para análise

Agora reflita:
Tzara defendia que mesmo um poema sem compreensão pode ser
considerado obra de arte. Para você, existe relação entre arte e com-
preensão? Pode haver apreciação estética sem entendimento?

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O surrealismo
O dadaísmo, de certa forma, deu origem ao
surrealismo. Se os dadaístas estavam em bus-
ca de uma nova cultura experimentando uma
arte do acaso, os surrealistas acreditavam que
o inconsciente se fazia presente no acaso.
A data simbólica de nascimento do surrea-
lismo foi o ano de 1924, quando o poeta e psi-
Material para análise

quiatra francês André Breton lançou o primeiro

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM / © Photothèque R. Magritte, Magritte, René/ AUTVIS, Brasil, 2017


manifesto surrealista. Para Breton, o incons-
ciente trabalha com imagens. Se a arte com-
põe imagens, nenhum lugar poderia ser melhor
para expressar o inconsciente humano do que
a manifestação artística.
1. Observe atentamente a imagem ao lado.
Você consegue identificá-la como o retra-
to de um sonho? Por quê?
Resposta pessoal.

René Magritte. A condição humana II, 1935.

2. Se tivesse de contar um sonho, você acha que seria mais fácil contá-lo ar-
tisticamente (com um poema, uma história, uma pintura, uma escultura,
peça de teatro, dança etc.) ou com outra expressão, como a jornalística ou
a científica? Por quê?
Resposta pessoal.

O movimento surrealista chegou a ser um dos mais populares


Outros muitos
do século XX. Era composto por diferentes artistas, alguns deles vin-
artistas da época
dos de outros movimentos, como Man Ray, Hans Arp, Max Ernst e
produziram algumas obras
Tristan Tzara. Outros artistas, como Antonin Artaud, Andre Masson,
que podem ser considera-
Joan Miró, Yves Tanguy, Pierre Roy, Salvador Dali, Luis Buñuel e Al- das surrealistas, mas nunca
berto Giacometti, também são considerados surrealistas. fizeram realmente parte do
Como era comum nas vanguardas, o movimento surrealista se movimento, como Pablo
Picasso.
manifestou no âmbito da literatura, das artes plásticas, das artes
cênicas e da área audiovisual.

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Sobre a perspectiva técnica, o movimento surrealista era um grupo multidis-
ciplinar de artistas. Desse grupo, surgiram obras muito diversificadas tanto na
técnica utilizada quanto no estilo. De maneira geral, no entanto, os surrealistas
se apropriaram de fotografias, colagens e da construção e descontextualização
de objetos do cotidiano utilizado pelo movimento dadaísta. Além disso, os surre-
alistas adotaram técnicas tradicionais muito refinadas.
Umas das técnicas utilizadas pelos artistas foi a frottage. Nessa técnica, o
artista fricciona o lápis em um papel branco apoiado em uma superfície desco-
nhecida e com relevo para justapor as imagens que surjam da fricção.
Outra técnica utilizada é o desenho coletivo, em que os artistas produziam
Material para análise

obras conjuntamente.
3. Em grupo, você e seus colegas devem produzir um desenho coletivo com
base nas etapas apresentadas a seguir.
Forme um grupo com quatro colegas. Pegue uma folha de sulfite e dobre-a
em quatro pedaços como se estivesse fazendo uma sanfona. Passe o papel
dobrado pelos quatro integrantes do grupo. Cada um deve, quando receber
o papel, abrir uma das partes dobradas, fazer um desenho, fechar nova-
mente e passar para o colega. Você poderá ver somente o desenho do úl-
timo colega. Esse desenho servirá como uma espécie de pista gráfica. Faça
o exercício quatro vezes, de forma que cada participante do grupo fique
com uma das folhas desenhadas conjuntamente. Cole a folha que ficou com
você no espaço a seguir.

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Outro recurso utilizado pelos surrealistas foi a fotografia, com Man Ray
(1890-1976) como protagonista, que desenvolveu técnicas como a raiografia
(rayogrammes): o artista entrava em uma câmara escura, colocava diferentes
objetos sobre o papel fotográfico, saía em seguida e expunha o papel fotográ-
fico à luz, a fim de obter a impressão desses objetos diretamente no papel. Essa
técnica permite a sobreposição de diferentes objetos com diferentes níveis de
transparência. Observe a imagem apresentada a seguir.
Material para análise

SUPERSTOCK / AGB PHOTO

Man Ray. Rayograph, 1923.

4. Essa fotografia parece uma fotografia comum?


Resposta pessoal. Espera-se, entretanto, que o aluno responda que não, porque a foto se assemelha mais a uma

radiografia.

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5. Você consegue perceber a presença de objetos na imagem? Cite alguns.
Sim. Uma lâmpada e fios.

6. De alguma forma, a imagem nos remete mais à maneira consciente como


vemos as coisas ou à maneira inconsciente? Por quê?
Remete mais à maneira inconsciente, porque não há definição e clareza.
Material para análise

Man Ray também criou objetos escultóricos ao misturar objetos do cotidiano


com a fotografia. Observe, por exemplo, a composição apresentada a seguir, que
mistura um metrônomo (aparelho utilizado pelos músicos para marcar o ritmo da
execução das músicas) com a fotografia de um olho.
Man Ray inovou a técnica de filmagem, pois, em algumas tomadas, ele jogava
a câmera para o ar com a objetiva (lente da máquina) completamente aberta.
O desafio de Ray era conseguir fotografar sem ter controle do objeto fotogra-
fado. Queria conseguir uma espécie de “fotografia feita ao acaso”.

REX FEATURES / KEYSTONE BRASIL

Man Ray. Metronome, 1923.

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Agora reflita:
Um dos grandes desafios dos surrealistas era conhecer o inconscien-
te. Afinal, podemos conhecer algo (tornar consciente) que é essencial-
mente desconhecido (inconsciente)? A arte teria um papel importante
nessa tentativa de revelar o inconsciente?

Salvador Dalí foi um grande desenhista e pintor do movimento surrealista.


Uma de suas obras mais famosas é a pintura dos relógios que derretem, intitula-
Material para análise

da A persistência da memória.

DIOMEDIA / GRANGER

Salvador Dalí. A persistência da memória, 1931.

O tempo é algo que, por mais que o organizemos com o relógio, nos “prega
peças”, porque nem sempre lidamos com ele de forma absolutamente racional.
É o famoso “um minuto que parece uma eternidade” quando estamos fazendo
nada e “uma hora que passa em um instante” quando estamos fazendo algo de
que gostamos. Quando dormimos, então, o tempo de relógio realmente se per-
de. Sem consultarmos um relógio, podemos saber quanto tempo dormimos: 15
minutos, duas ou seis horas?

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Observe como Dalí, nessa pintura, criou elementos que nos fazem pensar
nessa relação que temos com o tempo: além dos relógios que derretem, a pre-
sença de uma meia face que dorme. Você consegue localizá-la? Tente encontrá-
-la no quadro e circule-a. Agora, tente representar a nossa relação com o tempo
por meio de um desenho, uma colagem, uma montagem ou uma fotografia.
• Discuta antes com seus colegas e seu professor o que você entende sobre
o tempo e como tentará expressar essa relação entre nós e o tempo. Re-
gistre as conclusões dessa discussão a seguir.
Material para análise

Resposta pessoal.

Integrando conhecimentos

Pois a palavra de Deus é viva e poderosa e corta mais do que qualquer


espada afiada dos dois lados. Ela vai até o lugar mais funda da alma e do
espírito, vai até o íntimo das pessoas e julga os desejos e pensamentos do
coração delas.
Hebreus 4.12 (NTLH)
Os surrealistas desejam conhecer as motivações mais profundas do homem.
Esse é um desafio importante. A Bíblia também desafia o homem a se esforçar
para fazer isso, quando a incentiva a conhecer o seu coração. Para você, por que
é importante conhecer-se profundamente? Numa visão cristã, que instrumen-
tos devemos usar para nos conhecermos melhor?

Depois de ter planejado seu trabalho e ter claro o que pretende expressar,
realize sua obra. No caso de um desenho ou uma colagem, utilize o espaço da
página 105. Se preferir, fotografe seu trabalho e cole a imagem no mesmo espaço.

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Material para análise

105

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Aprimorando
Apesar de o termo ready-made ter sido criado por Marcel Duchamp, como parte
do movimento dadaísta, os surrealistas também utilizaram as obras ready-made.
O ready-made clássico de Marcel Duchamp foi a obra Fonte. O ready-made
“clássico”, portanto, tinha como objetivo fazer uma crítica aos objetos do cotidia-
no produzidos em massa, de modo que tivessem um valor artístico que até então
não atribuíam a eles. Todavia, com o tempo e com as apropriações dos surrealistas,
objetos cotidianos ou artísticos, combinados ou alterados, como o telefone apre-
Material para análise

sentado a seguir, uma obra surrealista, passaram a ser considerados ready-made.

DIOMEDIA / HEMIS / FRUMM JOHN

Obra do arquiteto Frank Gehry. Exibida na exposição de 2008, sobre o surrealismo. Espanha.

• A diferença entre o ready-made dadaísta e aquele adotado pelos surre-


alistas está principalmente no fato de que, para os dadaístas, os objetos
são escolhidos ao acaso. Para os surrealistas, ainda que o acaso fosse fun-
damental, o que ditava a escolha de um objeto ou outro era sua beleza
estética. Faça uma pesquisa de imagens, em revistas de decoração e de
moda (acessórios), de objetos que, em sua opinião, têm grande beleza
estética. Apresente sua coletânea para a sala e justifique-a.

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EXPERIÊNCIA
DA ARTE

Escolha um objeto do seu cotidiano e realize uma intervenção ao estilo


surrealista.
Material necessário

• Imagens
Material para análise

• Tesoura
• Cola
• Cola quente
• Lista de material pessoal

ETAPAS e INSTRUÇÕES

1. Escolha um objeto do seu cotidiano pensando nas qualidades estéticas


dele.
2. Pense no tamanho do objeto que você deverá levar à escola.
3. Planeje a intervenção que vai realizar.
4. Faça uma lista do material necessário. Escreva essa lista em seu caderno.
5. Selecione um material que não se degrade com o tempo e que seja relati-
vamente resistente.
6. Realize a intervenção.
7. Numa folha à parte, descreva
as etapas de elaboração de seu
trabalho. Essa folha deve ser ex-
posta com o seu objeto. TRAILEXPLORERS/SHUTTERSTOCK.COM

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6
CAPÍTULO

O modernismo no Brasil

Observe a imagem e responda às questões.


Material para análise

Para lembrar!
Como você já estudou, o
modernismo na Europa foi
composto por diferentes
movimentos artísticos que
tinham compromisso com
o avanço tecnológico e o
rompimento de regras re-
lacionadas à academia. O
modernismo artístico euro-
peu agregou produções em
que os artistas deixaram de
pintar o mundo idealizado
e passaram a colocar mais
os seus pensamentos, sen-

© ELISABETH DI CAVALCANTI
timentos e suas experiên-
cias individuais nas obras.
Pablo Picasso, Georges
Braque e Paul Cézanne são
exemplos de artistas im-
portantes na Europa nesse Di Cavalcanti. Moças com violões, 1937. Coleção Gilberto Chateaubriand.
momento. Reprodução fotográfica de Vicente de Mello. Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro.

1. Essa imagem se assemelha às pinturas das vanguardas europeias? Explique.


Quanto ao aspecto técnico, sim, mas não quanto ao tema. A obra apresenta diferenças, como o fato de as mulheres

retratadas serem negras. Entretanto, as cores, texturas e sombras são similares àquelas utilizadas pelas vanguardas.

2. Pelos elementos da pintura, ela foi realizada em que país?


A obra foi realizada no Brasil. Na pintura veem-se a bandeira brasileira (ao fundo), elementos e personagens que

remetem ao país.

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3. Por essa pintura, é possível afirmar que o Brasil teve artistas que desen-
volveram “arte moderna”?
Resposta pessoal. Espera-se que o aluno diga que sim, pois o quadro apresentado faz parte do movimento

modernista e, portanto, tem propostas diferentes das obras de arte dos movimentos anteriores.

O movimento artístico que ficou conhecido como modernismo no Brasil esta-


beleceu uma relação de troca com os movimentos que compunham a vanguarda
Material para análise

artística nos países da Europa, como o dadaísmo, o surrealismo, o expressionismo


e o futurismo. Como você estudou nos capítulos anteriores, esses movimentos ar-
tísticos buscavam questionar e romper com certas normas e costumes das artes
plásticas que eram consideradas clássicas.
O principal marco desse movimento artístico – que não se restringiu às artes
plásticas, mas teve representantes entre escultores, arquitetos, poetas e outros
artistas – foi a Semana de Arte Moderna, que ocorreu em fevereiro de 1922. No
entanto, alguns artistas que posteriormente seriam conhecidos como modernis-
tas já atuavam desde meados da década de 1910 e continuaram a produzir obras
de arte e receber adeptos até por volta de 1950.
Apesar das diferenças existentes com relação aos princípios e às caracte-
rísticas modernistas adotados pelos diversos artistas que compuseram esse
movimento, é possível identificar características comuns, principalmente duas:
a ideia de produzir uma arte que tivesse como tema central o Brasil (seu povo e
suas características naturais e culturais) e que rompesse com os princípios e as
técnicas artísticas que caracterizaram a arte do final do século XIX e da primeira
década do século XX.

Agora reflita:
O Brasil até os dias de hoje é um país caracterizado pela grande di-
versidade étnica e cultural. Essa diversidade, na década de 1920, era
ainda mais acentuada, tendo em vista que, além dos indígenas e afro-
descendentes, imigrantes de diversos países da Europa e do Oriente
continuavam a chegar ao país. Portanto, naquele momento era uma
preocupação não só dos artistas, mas de diferentes grupos de inte-
lectuais de encontrar e divulgar características que eles acreditavam
que fossem bastante representativas do que era ser Brasil. Como você
percebe ou enxerga a cultura brasileira?

4. Observe novamente a pintura de Di Cavalcanti. Quais são os temas brasi-


leiros utilizados?
A bandeira, o tipo de moradia, os violões, o tapete, a roupa das mulheres etc.

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5. Você também observa temas brasileiros na obra de Debret, artista francês
que viveu parte de sua vida no Brasil?
Material para análise

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM
Jean-Baptiste Debret. Mulheres brasileiras procurando emprego como lavadeiras no Rio de Janeiro.

Sim, é possível perceber a mistura de raças típicas do Brasil, construções que lembram aquelas
Para lembrar!
do tempo da colônia e o Império e hábitos característicos dessas épocas, como carregar objetos
O estilo neoclássico foi mui-
to forte na Europa entre os equilibrados na cabeça.
séculos XVII e XVIII e come-
çou a decair no século XIX
e início do XX (período em
que as vanguardas come- 6. Qual é a diferença entre o estilo do quadro do Di Cavalcanti
çaram a ganhar espaço). (pintor moderno) e o de Debret (pintor neoclássico)?
Nesse período, a família
real portuguesa estava se A proposta de Debret era representar fielmente a realidade. Di Cavalcanti, por sua
transferindo para o Brasil.
Com ela vieram também vez, pretendia ressaltar aspectos da cultura brasileira, sem se preocupar com a
artistas europeus.
reprodução fidedigna da realidade.

Anita Malfatti inaugura o modernismo no


Brasil
Um dos eventos que marcaram o início do movimento modernista no Brasil
foi a exposição feita pela artista plástica Anita Malfatti em 1917. As obras expos-
tas por Anita se caracterizavam pela pincelada livre, pelo uso de sombras e luzes
de forma muito diferente do tradicional claro-escuro e pelas maneiras não realis-
tas de representar figuras humanas. Na imagem apresentada a seguir, observe
como a artista retrata uma figura feminina.

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Material para análise

DOMÍNIO PÚBLICO
Anita Malfatti. A mulher de cabelos verdes, 1915-1916. Coleção
particular. Reprodução fotográfica de Leonardo Crescenti.

1. O que há na representação da figura feminina que a mostra mais como


a artista a vê do que como ela seria retratada por uma fotografia, por
exemplo?
As cores fortes, os ângulos do rosto e a relação entre fundo e figura.

2. Quais são as principais cores utilizadas pela artista nessa pintura?


São os tons de cinza, azul e vermelho.

A exposição de Anita não agradou a todos. A reação contrária à sua exposição


que ficou mais famosa foi uma crítica feita por Monteiro Lobato, que defendia que
a representação de objetos, animais e pessoas deveria ser feita nas artes plásticas
numa tentativa de imitar o real, ou seja, o que nossos olhos veem. Lobato condena-
va os princípios do expressionismo, principalmente a “deformação” dos objetos pela
percepção e pelos sentimentos dos artistas. Dessa forma, podemos afirmar que a
elite intelectual do país tinha seus questionamentos a respeito do que seria essa mo-
dernidade artística. A questão, para muitos, estava longe de estar fechada e definida.

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As obras de Anita Malfatti apresenta-
No mesmo ano da exposição polêmica
das nessa exposição e posteriormente na
de Anita
Semana de Arte Moderna se caracteriza-
despontou um dos principais expoentes do movimento
vam por assimetrias com relação à imagem
modernista: Di Cavalcanti, que se inspirava em artistas
como Pablo Picasso, Georges Braque e Paul Cézanne. Em e à cor. Ela criou, em suas obras, grandes
suas obras, Di Cavalcanti utilizou formas geométricas, massas estruturais assimétricas, utilizando
como Picasso, e diferentes formas de utilizar as cores. principalmente verde, vermelho e amarelo.

3. Represente, no espaço a seguir, uma figura humana. Para ressaltar as assi-


metrias da face, utilize verde, vermelho e amarelo.
Material para análise

A Semana de Arte Moderna de 1922


Ainda que, no Brasil, a exposição de Anita seja considerada a primeira exposi-
ção de arte moderna, o evento que marcou a consolidação do movimento moder-
nista brasileiro foi a Semana de Arte Moderna.

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A Semana de Arte Moderna não por acaso
ocorreu em 1922, ano em que o Brasil comemorou
o centenário da independência. Os artistas apro-
veitaram a comemoração dessa data histórica
para propor novas diretrizes para a arte no Bra-
sil, incitando os artistas brasileiros a olhar para o
próprio país e a fazer dele tema de suas obras. Os
artistas deveriam se desvencilhar das técnicas e
dos princípios que sempre regeram as produções
artísticas, considerados ultrapassados, antigos e
Material para análise

ligados ao que era “velho”. Esses aspectos eram


incompatíveis com o Brasil do século XX.

DOMÍNIO PÚBLICO
Catálogo da exposição da
Semana de Arte Moderna

Agora reflita:
Apesar de ser uma novidade, os princípios modernistas não foram
imediatamente aceitos pelo povo brasileiro. Atualmente, parece que
vivemos uma tendência contrária. O fato de algo ser novidade parece
torná-lo aceitável para a maioria das pessoas. Em sua opinião, tudo o
que é novo é aceitável? Com base em que critério devemos aceitar ou
rejeitar uma novidade?

É importante lembrar que, desde o final do século XIX, mas principalmente


nas primeiras décadas do XX, o Brasil viveu um momento de grande prosperidade
econômica: os lucros obtidos pela exportação do café permitiram grandes inves-
timentos nas indústrias e ferrovias, e grandes cidades se fortaleceram, especial-
mente na Região Sudeste. Dessa forma, os artistas entendiam que o país estava
cada vez mais moderno e que as artes deveriam acompanhar essas mudanças
econômicas e sociais. A
Semana de Arte Moder-
na foi de fato um choque
entre o que era conside-
rado “velho” e “novo”
no mundo das artes
brasileiras. A chamada
TODOROVIC / SHUTTERSTOCK.COM

“Semana”, na verdade,
ocorreu em três dias (13,
15 e 17 de fevereiro), com
atividades e apresenta-
ções artísticas no Teatro Teatro Municipal construído em 1911, no centro da cidade de
Municipal de São Paulo. São Paulo.

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O evento conseguiu reunir artistas de diferentes áreas e que tinham também
variadas interpretações do que era ser “moderno”. Essas diferenças se acirraram
nos anos seguintes à Semana e deram origem a diferentes movimentos artísticos.
No primeiro dia, houve uma palestra de Graça Aranha, e o público pôde apre-
ciar diversas obras de arte que ficaram expostas no salão do Teatro Municipal du-
rante todo o evento. Na segunda noite, houve apresentação musical de Guiomar
Novaes, palestra de Menotti del Picchia, leitura de um poema de Manuel Bandeira
e palestra de Mário de Andrade. No terceiro e último dia, houve apresentação
musical de Heitor Villa-Lobos, um importante maestro e compositor brasileiro.
Material para análise

No terceiro e último dia


da Semana de Arte Moderna de 1922, Villa-Lobos
se apresentou no palco do Teatro Municipal de
São Paulo usando um pé de sapato e um pé de
chinelo. Parte da plateia acreditou que esse ato
era uma crítica modernista à figura dos músicos
e compositores. No entanto, quando indagado,
Villa-Lobos afirmou que se apresentou assim por-
que um calo inflamado o incomodava muito, o que
o impediu de usar os dois pés do sapato.

DIOMEDIA / LEBRECHT MUSIC AND ARTS


Estudiosos acreditam que as obras reunidas na Semana de Arte Moderna não
tinham um ideal comum e consolidado, mas se igualavam pela vontade de rom-
per com o que consideravam “passadismo” e com a arte acadêmica e seu com-
promisso com convenções e belezas idealizadas nas artes brasileiras. A Semana
também serviu para dar visibilidade às ideias defendidas pelos modernistas e
ficou conhecida como marco inicial do movimento no Brasil.
• Os movimentos históricos nunca são completamente de ruptura, porque
sempre há uma permanência. Por exemplo: os modernistas brasileiros fa-
ziam uma crítica à velha arte acadêmica comprometida com os padrões
técnicos europeus, mas o próprio modernismo brasileiro conversava com
o modernismo da Europa. Tendo em mente tanto a ruptura quanto a con-
tinuidade do movimento modernista brasileiro, proponha, na página a se-
guir, em desenho, pintura a guache ou colagem, uma capa para o catálogo
da Semana de Arte Moderna. Não se esqueça de colocar na capa o nome
do evento, o período de exposição e a cidade sede da exposição.

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Material para análise

Lasar Segall (1891-1957)


também foi um artista estrangeiro que teve grande destaque na arte brasileira. Segall nasceu na
Lituânia, estudou pintura na Alemanha, viveu entre esse país e o Brasil durante alguns anos e se
fixou aqui em 1924. Seus trabalhos tinham características ligadas ao modernismo e influenciaram
diversos modernistas brasileiros. No entanto, como era estrangeiro, foi menos criticado aqui do
que os artistas brasileiros.
Ele pintou inspirado em temas brasileiros, mas também pintou obras com temas mais intimistas,
como a solidão e a tristeza. Além de pinturas, produziu também esculturas. Apesar de não ter
nascido no Brasil, foi muito importante para o modernismo brasileiro.

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Manifestos modernistas e desdobramentos da
Semana de Arte Moderna no Brasil
Os artistas reunidos na Semana acabaram se dividindo em pelo menos dois
grupos diferentes nos anos que se seguiram ao evento. Um ponto comum a to-
dos os modernistas era questionar a forma como a arte brasileira se relacionava
com a arte produzida fora do país, especialmente na Europa. Esse questiona-
mento sobre a arte estrangeira e como ela deveria ser utilizada pelos brasileiros
levou à criação de um grupo que acreditava que os brasileiros deveriam negar
a arte vinda do exterior de maneira mais conservadora e totalitária. O grupo
Material para análise

dessa proposta passou a ser denominado de Anta e tinha como um de seus


líderes Menotti del Picchia. Esse grupo lançou em 1924 o Manifesto Nhenguaçu
Verdeamarelo, que defendia princípios ligados à xenofobia e negação de ideias e
manifestações artísticas vindas de outros países. O manifesto surtiu maior efei-
to literatos do que entre artistas das artes plásticas.
Outro grupo, liderado por Oswald de Andrade, acreditava que os artistas
brasileiros deveriam fazer uma espécie de “antropofagia” artística: deveriam
entrar em contato com a arte “importada”, degluti-la e transformá-la em ou-
tra coisa, uma arte brasileira. Ou seja, os artistas brasileiros deveriam dialogar
de forma ativa com a arte produzida em outros países, mas não aceitá-la passi-
vamente nem “copiar” os artistas estrangeiros. Essa proposta ficou conhecida
como antropofagia.
O grupo liderado por Oswald de An-
drade era mais numeroso e teve maior
influência nas artes brasileiras do que o
grupo Anta. Como era comum na época,
o grupo de Oswald de Andrade também
lançou um manifesto em 1928, intitu-
lado Manifesto Antropofágico, que de-
fendia a criação de matéria-prima artís-
tica brasileira por meio da apropriação
do que eles consideravam melhor nas
obras de arte e artistas estrangeiros,
mas com um olhar voltado para o que
era brasileiro, produzindo algo novo e
ligado ao Brasil. Essa ideia não se limi-
tava somente às artes, mas poderia ser
também utilizada para pensar a ques-
tão socioeconômica do país.
FOLHAPRESS/FOLHAPRESS

Oswald de Andrade

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• A artista brasileira Tarsila do Amaral adotou em seus trabalhos os princí-
pios modernistas: suas obras retratam temas relacionados ao Brasil. Aba-
poru, que significa “o homem que come”, é uma das obras mais impor-
tantes do modernismo brasileiro. Essa obra, inclusive, foi importante para
que Oswald de Andrade escrevesse o Manifesto Antropofágico, dado o
simbolismo da obra com relação às ideias antropofágicas. Observe a ima-
gem abaixo.
Material para análise

ROMULO FIALDINI / TEMPO COMPOSTO

Tarsila do Amaral. Abaporu. 1928. Óleo sobre tela. 85 x 73 cm. Museo de Arte
Latinoamericano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina.

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1. Na obra, que partes do corpo humano têm maior destaque?
( X ) Mãos e pés ( ) Cabeça

2. E que partes têm menor destaque?


( ) Mãos e pés ( X ) Cabeça

3. Essa divisão do corpo pode ser entendida como uma crítica à sociedade
brasileira da época?
( X ) Sim, pois o tamanho exagerado das mãos e pés indicam que as poten-
Material para análise

cialidades físicas, ligadas ao trabalho braçal, eram características do


povo brasileiro.
( ) Não, porque a imagem retrata com fidelidade a estrutura física do
povo brasileiro.

4. O retrato do nu da figura feminina é um tema comum na arte europeia.


Como a artista, em sua opinião, apesar de dialogar com essa temática tão
comum à arte, conseguiu realizá-la, como pedia o manifesto antropofági-
co, adequando-a à manifestação de uma brasilidade?
Resposta pessoal. Espera-se que os alunos identifiquem características como as proporções, as cores e os contornos

diferentes utilizados pela artista.

Tarsila
também se dedicou a pintar as paisagens brasileiras, com técnica e uso de cores que a deixaram
famosa. Assim como os modernistas europeus, Tarsila dava ênfase à mistura e à fusão de ele-
mentos típicos dos cenários rurais e urbanos brasileiros, com destaque para elementos ligados à
industrialização e à fábrica, como as rodas dentadas típicas das indústrias, os postes de luz elé-
trica, as estradas de ferro etc.

Estudiosos afirmam que a Semana de Arte Moderna de 1922 serviu para di-
vulgar as experiências e pesquisas artísticas feitas até então e que representou
um momento de ruptura com a arte considerada acadêmica. Entretanto, o moder-
nismo no Brasil como uma escola artística só se consolidou a partir de meados da
década de 1920 e nos anos 1930. Durante essa época, portanto, os artistas tendiam
a utilizar ideias e técnicas vindas do exterior para representar temas brasileiros.
Dessa forma, a Semana de Arte Moderna foi um marco, mas os modernistas
não se restringiram a ela: já produziam obras antes e continuaram a produzir
obras após esse importante marco.

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5. Transforme a imagem do Abaporu em uma propaganda de calçados. Para
isso, faça uma fotocópia colorida da imagem e cole-a em uma folha A4.
Depois, sobre a folha, com colagem, monte sua propaganda. Não se es-
queça de acrescentar um pequeno texto que reforce a ideia do calçado
que você quer promover. Antes de elaborar sua propaganda, discuta com
seus colegas e seu professor as questões a seguir.
a) Com que sapato você calçaria o Abaporu? Por quê?
Resposta pessoal.
Material para análise

b) Qual mensagem sua propaganda teria?


Resposta pessoal.

c) Em que ela seria “antropofágica” a exemplo do que propôs o Manifesto


Antropofágico?
Resposta pessoal.

Integrando conhecimentos

A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos, é luz que ilumina o
meu caminho.
Salmos 119.105 (NTLH)
Os grupos modernistas brasileiros se dividiram em torno da arte produzida no
exterior. Havia aqueles que rejeitavam a arte produzida fora do país, enquanto
outros defendiam sua utilização. Mesmo hoje, muitas pessoas fazem da cultura
o critério para a aceitação de algo. Aceitam as coisas simplesmente porque elas
vêm de fora ou de dentro. Em sua opinião, a cultura pode ser critério para a acei-
tação de algo? Com base em que critério algo deve ser aceitado ou rejeitado?

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Aprimorando
Em 1928, Mário de Andrade, inspirado nas ideias defendidas pelos moder-
nistas, escreveu uma obra literária chamada Macunaíma: o herói sem nenhum
caráter. Macunaíma se tornou um personagem que representa a ideia de brasi-
leiro dos modernistas. O autor utilizou diversas lendas e mitologias dos indígenas
brasileiros para contar a história desse personagem.
Mário de Andrade inovou de várias formas ao escrever essa obra: utilizou-se
largamente da linguagem oral e de regionalismos brasileiros, bebeu de diferentes
Material para análise

fontes da cultura do país e produziu uma narrativa literária que tem um ritmo
próprio e não linear. Muito diferente da literatura produzida no Brasil da década
de 1920. Na história, aparecem personagens ligados à tradição oral e ao folclore
brasileiro, como a mãe d’água e o curupira. Parte da narrativa se passa em flo-
restas brasileiras e outras partes, em grandes cidades como São Paulo e Rio de
Janeiro, demonstrando que o país não é feito só de uma coisa ou de outra, mas de
ambas. O personagem ficou famoso por usar diversas vezes a frase “Ai, que pre-
guiça!”, numa crítica do autor a alguns europeus e brasileiros que consideravam
os indígenas preguiçosos de maneira preconceituosa.
Não por acaso, a obra teve versões para o cinema e teatro e ainda hoje é uma
grande referência da literatura brasileira.

Agora reflita:
Nesse período, tentativas de definir o brasileiro eram muito comuns.
Em geral, acabavam se limitando a defini-lo pelas raças ou etnias
formadoras de nossa nação. Para você, é possível definir o homem
brasileiro? As etnias que formaram o país podem ajudar nessa de-
finição? Existe algum perigo em tentar definir o homem brasileiro
apenas pelas etnias?

• Em Macunaíma, Mário de Andrade tentou retratar, sobretudo, como o


Brasil é um país de muitas culturas. Durante sua história, o personagem
Macunaíma passa por diversas metamorfoses: nasce índio e se trans-
forma em negro e depois em branco. Transforme essa metamorfose em
uma imagem (pode ser com colagem ou desenho) em seu caderno. De-
pois, converse com seus colegas e seu professor como a imagem elabo-
rada demonstra o aspecto multicultural ressaltado na obra de Mário de
Andrade.

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EXPERIÊNCIA
DA ARTE

Na obra Pescadores, de Di Cavalcanti, podemos observar diferentes ele-


mentos ligados ao modernismo no Brasil. No primeiro plano, vemos dois perso-
nagens com perfil bem brasileiro: uma mulher e um homem afrodescendentes.
O homem foi representado com peixes nas mãos, e a mulher tem à sua frente
Material para análise

uma cesta de frutas e flores em suas mãos. O cenário de fundo tem diversos
elementos que nos remetem ao litoral e à atividade pesqueira: barcos, redes, o
mar, outros trabalhadores etc.

© ELISABETH DI CAVALCANTI

Di Cavalcanti. Pescadores, 1951. Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de


São Paulo. Doação Museu de Arte Moderna de São Paulo. Reprodução fotográfica de autoria
desconhecida.

Di Cavalcanti utilizou traços semelhantes aos adotados por Gauguin: grossas


linhas pretas. O jogo de luz e sombra é mais marcado, muito diferente do claro-
-escuro que caracterizava a pintura antes do modernismo. As cores usadas por
Di Cavalcanti são principalmente variações do verde, vermelho e amarelo.
Note que o pintor deu ênfase às grandes mãos dos trabalhadores representa-
dos no primeiro plano, além de uma desproporção entre os corpos e as cabeças.
Escolha um tema para sua composição: uma figura humana, uma paisagem,
objetos etc. Agora realize uma pintura utilizando algumas ideias modernistas,
como as cores saturadas, a relação elemento e fundo, traços simples etc.

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Material necessário Para lembrar!
Como você estudou, os
• Lápis grafite modernistas brasileiros ti-
nham como principal fonte
• Folhas de papel sulfite de inspiração temas liga-
• Folhas de papel couché dos ao país: trabalhadores,
flores, frutas, cenários, ma-
• Pincéis nifestações culturais e fol-
clóricas e animais típicos.
• Guache de várias cores

ETAPAS e INSTRUÇÕES
Material para análise

1. Escolha um tema que, segundo você, é a “cara” do Brasil.

2. Faça em seu caderno um esboço de seu quadro com lápis grafite.

3. Esse esboço serve para compor o quadro. Experimente diferentes elementos.

4. Agora que já definiu a maior parte dos elementos que vão compor seu
quadro, comece sua produção.

5. Na folha de papel couché e com pincéis e guache, comece sua produção.


O esboço feito anteriormente deve servir para orientá-lo na execução do
trabalho.

6. Tire uma foto do seu trabalho e cole no espaço abaixo.

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SABER
EM AÇÃO

1. Complete o quadro a seguir com informações sobre os movimentos artís-


ticos estudados nesta Unidade.

Movimento
Características Principais artistas
artístico
Material para análise

Diálogo com o sistema industrial, busca de

funcionalidade e estudo das formas

geométricas. Le Corbusier
Os arquitetos modernistas desenvolveram Alvar Aalto
Arquitetura
grandes trabalhos no âmbito do desenho Walter Gropius
modernista
industrial.
Frank Lloyd Wright
Vladimir Tatlin

Diálogo com o sistema industrial e ampla

investigação sobre a comunicação gráfica.

Os artistas inovaram no âmbito da tipografia e

comunicação visual. Vladimir Tatlin


Construtivismo Melinikvov
Protazanov

Irreverência, busca pelo inconsciente humano,

questionamentos acerca do objeto artístico,

exposição de objetos do cotidiano como


Tristan Tzara
obras de arte e discussões sobre o papel do
Hans Arp
Dadaísmo capitalismo.
Man Ray
Os artistas se utilizaram de várias vertentes
Marcel Duchamp
artísticas para criar suas obras, como poesia,

artes plásticas e música.

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Busca pelo inconsciente humano e investigação

sobre o automatismo. Nas artes plásticas, a


Salvador Dalí
produção surrealista prima por uma pintura
Ives Tanguy
precisa e detalhista, mas com elementos
Max Ernst
Surrealismo fantasiosos.
Joan Miró
René Magritte
Material para análise

Paul Delvaux

Buscou desenvolver uma arte


tipicamente brasileira que Anita Malfatti,
retratasse personagens e cenários Di Cavalcanti,
brasileiros, estabelecendo uma
Modernismo
relação de diálogo, e não de cópia, Tarsila do Amaral,
no Brasil
com a arte europeia. Uso de cores
Mario de Andrade.
fortes, distorções, contraste, linhas
fluidas etc.

2. Agora que você já sabe um pouco mais sobre o modernismo e suas van-
guardas, localize as obras desses movimentos na linha do tempo, que se
encontra no Material de Apoio (p. 128 e 129). Depois você deve preencher
a legenda das obras que se encontram nas páginas 131 a 135.
3. Qual foi a relação entre as vanguardas europeias e o modernismo brasileiro?
Os modernistas brasileiros se inspiraram em técnicas das vanguardas europeias, no entanto, os objetos que pintavam

e a forma como pintavam eram diferentes. A proposta dos artistas modernistas era introduzir nas produções

artísticas novos elementos e criar uma arte genuinamente brasileira.

4. Como o manifesto do grupo Anta se diferenciava do manifesto do grupo


antropofágico em relação a como cada grupo via a relação que os artistas
brasileiros deveriam ter com a arte europeia?
O grupo Anta pretendia, pelo enaltecimento exacerbado dos elementos tipicamente brasileiros, negar a influência

estrangeira. Já o grupo do Manifesto Antropofágico propunha uma relação de troca entre a arte europeia e a

brasileira.

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VIVENDO EM
SABEDORIA
Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo.
O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo ou-
tra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas
e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não
fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez.
Eclesiastes 1.4-7 (NTLH)
Material para análise

Uma das características dos movimentos artísticos é a sua relação com o


contexto histórico. Os movimentos modernos, em geral, foram influenciados por
acontecimentos como a Primeira Guerra Mundial, a transição para a sociedade
industrial etc. Apesar disso, em todos os momentos históricos, a arte acaba por
trazer à tona dilemas humanos, que parecem perpassar os diferentes tempos e
épocas, como a dificuldade de se desapegar do material, de lidar com o tempo,
entre outros.
1. Para você, em que sentido o contexto histórico dos movimentos moder-
nos se identifica com o nosso contexto?
Resposta pessoal.

2. Você ainda percebe elementos de continuidade entre a arte moderna e a


arte contemporânea?
Resposta pessoal.

3. Que outros dilemas humanos são tratados pela arte, nos diferentes mo-
mentos, principalmente nos dias atuais?
Resposta pessoal.

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Material para análise

A9_L1.indb 126 11/7/17 9:04 AM


Material para análise

Material
de Apoio

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Linha do tempo
1900 1905 1910 1915 1920 1925 1925

Kirchner
Expressionismo Alemão
Material para análise

Matisse
Fauvismo

Kandinsky Klee
Der Blaue Reiter - O Cavaleiro Azul

Picasso Braque
Cubismo analítico Cubismo analítico
Cubismo

Gino Severini
Futurismo

128

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1925 1930 1935 1940 1945 1950
Material para análise

Vladimir Tatlin
Construtivismo

Bauhaus

Duchamp
Dadaísmo

Magritte
Surrealismo

Brecheret
Modernismo Brasileiro

Fonte: Dempsey, Amy. Estilos, escolas & movimentos: guia enciclopédico da arte moderna. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

129

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Material para análise

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Figuras

DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM / 4X5 COLL-PETER WILLI

DIOMEDIA / SUPERSTOCK FINEART


Material para análise

Autor: André Derain


Autor: Ernst Ludwig Kirchner

Título: Pont de Charing Cross ou Pont de Westminster


Título: Street, Dresden

Material e tamanho: Óleo sobre tela, 81 x 100 cm


Material e tamanho: Óleo sobre tela, 150,5 x 200,4 cm

Museu: Museu d’Orsay, Paris


Museu: Museu de Arte Moderna, Nova York

DIOMEDIA / THE ART ARCHIVE / THE ART ARCHIVE / © Braque, Georges /


DIOMEDIA / GRANGER

AUTVIS, Brasil, 2017

Autor: Juan Gris Autor: Georges Braque

Título: Hommage á Pablo Picasso Título: Still life: Le jour

Material e tamanho: Óleo sobre tela, 93,3 x 74,4 cm Material e tamanho: Óleo sobre tela, 115 x 146,7 cm

Museu: Institute of Chicago Museu: Chester Dale Collection

Galeria Nacional de Arte, Washington

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Material para análise

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Figuras

DIOMEDIA / SUPERSTOCK FINEART


Material para análise

LEEMAGE / AFP

Autor: Paul Klee


Autor: Carlo Carrá

Título: A rua principal e ruas laterais, 1929


Título: O funeral do anarquista Galli

Material e tamanho: Óleo sobre tela, 83,7 x 67,5 cm


Material e tamanho: Óleo sobre tela, 198,7 x 259,1 cm

Museu: Wallraf-Richartz Museu


Museu: Museu de Arte Moderna, Nova York
DIOMEDIA / SUPERSTOCK RM

TEZE/SHUTTERSTOCK.COM

Autor: Umberto Boccioni Autor: Alvar Aalto

Título: Estudo para a cidade que sobe Obra: Auditório

Material e tamanho: Têmpera sobre papel, 36 x 60 cm

Local: Helsinki, Finlândia

Museu: Pinacoteca de Brera, Milão

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Material para análise

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Figuras

THE BRIDGEMAN ART LIBRARY / KEYSTONE BRASIL / © Association Marcel

DIOMEDIA / SUPERSTOCK FINEART; © Photothèque R. Magritte, Magritte,


Duchamp / AUTVIS, Brasil, 2017
Material para análise

René/ AUTVIS, Brasil, 2017


Autor: Marcel Duchamp
Autor: René Magritte

Título: Bicycle Wheel


Título: The lovers

Material e tamanho: roda de metal, montada em banco Material e tamanho: Óleo sobre tela, 54 x 73,4 cm

de madeira pintado, 129,5 x 63,5 x 41,9 cm

Museu: Museu de Arte Moderna, Nova York


Museu: Museu de Arte Moderna, Nova York
PECOLD/SHUTTERSTOCK.COM

Autor: Walter Gropius

Obra: Bauhaus

Local: Dessau, Alemanha

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Material para análise

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