TN STP 206 220 27942
TN STP 206 220 27942
TN STP 206 220 27942
METODOLOGIA DE LEVANTAMENTO
DE INDICADORES ESTATÍSTICOS DE
PROCESSOS EM UMA LINHA DE
ENVASE DE ÓLEOS LUBRIFICANTES
Vinicius Alessandro de Aquino Silva (UNISAL)
vinicius.aquino.93@gmail.com
Lucio Garcia Veraldo Junior (UNESP)
lucioveraldo@gmail.com
Jose Lourenco Junior (UNISAL)
jose.lourenco@lo.unisal.br
Emerson Augusto Raymundo (UNISAL)
emersonaugustoray@gmail.com
carlos silvio herculano (UNISAL)
carloherculano@hotmail.com
1. Introdução
As empresas que se adequarem cada vez mais as especificações exigidas para o produto
comercializado permanecerão mais competitivas nos respectivos segmentos de mercado que
atuam, tendo como vantagem, através da produção de produtos de forma padronizada, o
conhecimento das variáveis críticas envolvidas na necessidade de controle, a fim de ser
possível identificar as inúmeras causas de oscilações indesejáveis e adequar constantemente o
processo produtivo.
Milan et al. (2002) destaca que um dos pontos fundamentais para o sucesso das organizações
é a estabilização dos processos de rotina garantindo a confiabilidade do produto. A qualidade
pode ser definida como a capacidade de trabalhar com baixa variabilidade, resultando em
maior confiabilidade e aceitação do produto ou serviço. Montgomery (2001 apud Coelho et
al., 2010) acrescenta esta colocação definindo a qualidade como sendo inversamente
proporcional à variabilidade.
Ramos (2000) destaca que em todo processo há variações inerentes de inúmeros fatores, e que
para essas variações não acarretarem em prejuízos futuros, é necessário controlá-las. Neste
sentido, considerando que um processo possua entradas as quais são transformadas em saídas,
para agir de forma a controlar estas variações, faz-se necessário que as entradas (inputs), e não
apenas as saídas (outputs) do processo, sejam controladas. Isso significa que é preciso agir
não somente sobre os produtos acabados, mas principalmente sobre os fatores de produção.
Ramos (2000) acrescenta o Controle do Processo como sendo o sistema que é conduzido
simultaneamente com o processo produtivo ao invés da inspeção após a produção, em que
ocorre a separação dos produtos conformes e não conformes, sendo restrito neste caso, ao
Controle de Produto.
2
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
Deste modo, visando combater as variações inerentes ao processo, Alencar et al. (2004)
define o Controle Estatístico do Processo (CEP) como um conjunto de ferramentas de
monitoramento on-line da qualidade, havendo a possibilidade de visualização detalhada do
comportamento do processo, a fim de ser possível identificar sua variabilidade e possibilitar
seu controle ao longo do tempo, através da coleta continuada de dados e da análise e bloqueio
de possíveis causas especiais, responsáveis pelas instabilidades do processo.
2. Fundamentação teórica
Lopes (2007 apud Morais et al., 2010) acrescenta que a aplicação de técnicas estatísticas
aplicadas ao controle da qualidade pode ser resumida em dois tipos de ações, onde a primeira
estabelece a aplicação de técnicas matemáticas para análise dos dados de controle, e a
segunda visa à sistematização destes dados, de modo a facilitar a análise dos mesmos,
auxiliando, deste modo, em uma decisão pautada em informações confiáveis.
Dentro deste contexto, Lima et al. (2006) destaca que a ferramenta denominada Controle
Estatístico do Processo (CEP) possui como objetivo principal melhorar os processos de
3
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
Ramos (2000) revela que o processo produtivo é submetido a variações que são oriundas de
dois tipos de causas, as Causas Comuns e as Causas Especiais. As causas comuns, também
conhecidas como causas aleatórias, são tidas como naturais do processo atualmente
executado, possuindo origens e valores individuais que quando combinados obedecem a uma
distribuição normal. Além disto, podemos completar que estas não podem ser removidas sem
que haja muitas vezes uma mudança sistêmica no processo atual. As causas especiais, também
conhecidas como causas atribuíveis, possuem um comportamento totalmente imprevisível,
com resultados discrepantes se comparadas às causas comuns, e para que sua remoção seja
feita não é preciso uma mudança sistêmica do processo, exigindo menores investimentos.
Pinton (1997 apud Lima et al., 2006) conclui que a eficácia na utilização do CEP é baseada
no conceito de que o processo está permanecendo em execução sob condições conhecidas, e
que por sua vez, estas estão sendo cuidadosamente mantidas, resultando em um processo
sujeito aos efeitos de variação com base em Causas Comuns.
Neste sentido, Alencar et al. (2004) explica que as cartas de controle são aplicadas no CEP
possuindo como objetivo a possibilidade de detecção de desvios de parâmetros
representativos do processo, reduzindo a quantidade de produtos fora de especificações e os
custos de produção. Toledo (1987 apud Lima et al., 2006) acrescenta que os gráficos de
controle são utilizados como apoio ao controle da qualidade de um processo, fornecendo
evidências de suas variações, tanto de caráter aleatório quanto de caráter determinável,
permitindo a atuação no processo de forma preventiva, corrigindo possíveis desvios de
qualidade, em tempo real, no momento em que eles estão ocorrendo, não deixando que a
situação de possibilidade de ocorrência de não conformidade perdure e acabe com uma
possível reprovação do lote final.
Restringindo-se ao estudo de caso, o gráfico de controle X (por indivíduos) era utilizado para
controle de pesagem das garrafas processadas na linha fabril. Coelho et al. (2010) define a
aplicação do gráfico ou carta X (indivíduos) quando os dados são obtidos durante um longo
intervalo de tempo sendo necessários controlar os valores individuais da variável de interesse.
Através dos dados obtidos decorrentes de determinada escala de tempo, foi possível ser
realizada uma análise periódica dos índices de capacidade e performance do processo
4
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
Montgomery (2004 apud Vaccaro et al., 2011) aconselha o uso dos índices de capacidade de
um processo Cp e Cpk quando o processo está sob controle, enquanto que quando o processo
não está sob controle é recomendado o uso dos índices do desempenho de um processo Pp e
Ppk, onde estes índices, por sua vez, analisam se a amostra gerada do processo tem condição
de atender as especificações estabelecidas, não sendo adequados para inferências sobre a
condição geral do processo.
Pires (2000) destaca os critérios de análise quanto aos resultados obtidos decorrentes do
cálculo do Cpk, conforme Tab. (1).
3. Materiais e métodos
A capacidade de produção da linha fabril referente à empresa pesquisada é de 6.600 (seis mil
e seiscentos inteiros) garrafas envasadas por hora. Dentro deste contexto, a empresa controla
5
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
a. Absorção dos dados populacionais restringindo-se a escala dos dados colhidos entre
janeiro e dezembro de 2014, envolvendo a variável de pesquisa a unidade de peso, em
gramas [g], quanto às garrafas envasadas referentes a um único produto processado na
linha fabril;
b. Cálculo para obtenção dos valores mensais de média aritmética e desvio padrão;
c. Cálculo para obtenção dos índices mensais de capacidade (Cp e Cpk) do processo
produtivo;
O produto relacionado a esta pesquisa possuiu como alvo de pesagem 876g (oitocentos e
setenta e seis gramas), além de possuir limites de especificação superior em 884,76g
(oitocentos e oitenta e quatro gramas e setenta e seis centésimos) e inferior de 867,24g
(oitocentos e sessenta e sete gramas e vinte e quatro centésimos).
A partir destas informações e dos dados de controle obtidos foi possível gerar, dentro de cada
mês presente no intervalo de tempo a que esta pesquisa se restringiu, alguns dos principais
indicadores estatísticos que serão analisados na pesquisa: média aritmética; desvio padrão;
capabilidade do processo; e índice de centralização do processo. Para cálculo destes
indicadores, foram utilizadas as Eq. (1), Eq. (2), Eq. (3) e Eq. (4), respectivamente.
(1)
(2)
6
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
(3)
(4)
Em restrição a este estudo de caso, foram coletados todos os valores de pesagem registrados
na escala dos meses de janeiro e dezembro do ano de 2014, sendo que esta pesquisa se
restringiu a analisar um único produto processado na linha fabril. A Fig. (1) destaca a
quantidade de pesagens realizadas durante os 12 (doze inteiros) meses estudados.
Fonte: Os Autores.
4. Discussão e Resultados
A Tabela (2) ilustra os valores obtidos decorrentes da aplicação das Eq. (1), Eq. (2), Eq. (3) e
Eq. (4) nos meses de trabalho relacionados a esta pesquisa.
Mês x Cp Cpk
Janeiro 877,03 2,54 1,15 1,01
Fevereiro 876,79 2,83 1,03 0,94
Março 877,19 2,99 0,98 0,84
Abril 873,38 2,92 1,00 0,70
Maio 872,27 3,17 0,92 0,53
7
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
A Figura (2) indica que se baseando somente nas médias de pesagem obtidas ao longo do ano,
o processo aparentemente permanece estável e dentro dos limites de especificação. Porém,
para confirmamos esta suposição, é necessário ser levado em consideração a dispersão mensal
do processo, que obedece neste caso a uma distribuição normal sobre as médias obtidas.
Fonte: Os Autores.
Para análise destes dados, foram gerados os indicadores de capabilidade mensal do processo
produtivo, obtidos através do desvio padrão mensal calculado, conforme Fig. (3).
8
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
Fonte: Os Autores.
Porém, não basta somente recebermos a informação se a variação do processo atual é capaz
de permanecer dentro dos parâmetros de controle exigidos, é preciso, além disto, levarmos em
consideração também o quão este processo está centralizado. Neste sentido, os indicadores
Cpk fornecem ao gestor do processo um indicador que leva em consideração, além da
dispersão do processo, também a sua centralização perante o alvo estabelecido.
9
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
Fonte: Os Autores.
Analisando a Fig. (4), podemos verificar que os meses que tiveram os menores índices de Cpk
foram justamente os mesmos meses (Maio, Julho, Setembro e Outubro) de maior dispersão,
conforme valores obtidos do desvio padrão presentes na Tab. (2). O único mês que informou
que o processo foi capaz de produzir dentro dos limites de especificação foi Janeiro.
Através das análises realizadas, restritamente a cada um dos indicadores estatísticos, podemos
relacioná-los de modo a analisa-los em subgrupos. A Tab. (3) ilustra os indicadores
estatísticos médios obtidos em grupos referentes aos meses estudados.
Analisando a Tab. (3), podemos chegar a algumas conclusões quanto ao processo durante os
12 (doze inteiros) meses que o estudo abrangeu:
A média aritmética ao longo dos meses permaneceu durante 08 (oito inteiros) meses
abaixo do alvo estipulado pela empresa, resultando consequentemente em índices de
Cpk abaixo do desejado;
10
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
A capabilidade do processo, apesar de obter média anual superior a 1,00 (um inteiro),
teve 05 (cinco inteiros) meses que permaneceu abaixo do valor mínimo exigido.
Porém, analisando pelos subgrupos conforme Tab. (3), podemos constatar que a
capabilidade anual do processo foi de certa forma, perto de alcançar a satisfação
mínima de controle exigida;
Ou seja, através destas considerações, podemos afirmar com clareza que a principal causa
atualmente referente à incapacidade do processo foi à falta de objetividade quanto adequar o
processo a alcançar o alvo estipulado de envase para o produto estudado, no caso de 876g.
5. Considerações Finais
Este estudo teve como objetivo demonstrar que através da aplicação de maneira correta do
Controle Estatístico de Processos, podem ser proporcionadas as organizações grande
vantagem competitiva quanto aos seus concorrentes de mercado. Esta vantagem é decorrente
11
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
das informações que esta ferramenta estatística pode trazer para a empresa que o aplica, onde
através destas, os gestores possuem os pontos de partida inicial para buscarem constantemente
melhor desempenho dos seus processos, se mantendo consequentemente cada vez mais
sustentáveis no segmento de mercado que atuam.
É válido ressaltar que apenas alguns indicadores estatísticos que a ferramenta CEP pode
proporcionar foram observados e demonstrados neste artigo, sendo neste caso, apenas os
indicadores de capacidade do processo, Cp e Cpk. Há outros indicadores que podem ser
proporcionados ao(s) gestor(es) que não foram trabalhados nesta pesquisa, como por exemplo,
os indicadores de performance do processo, Pp e Ppk.
Os resultados obtidos deste trabalho foram coerentes com o objetivo proposto, em que através
de dados decorrentes da aplicação de cartas de controle por variáveis pela indústria a que este
trabalho se submeteu, pôde ser demonstrada toda a sistemática metodológica de emissão de
indicadores estatísticos relevantes ao processo produtivo atual, proporcionando informações
fidedignas e úteis a organização de estudo.
Esta pesquisa faz parte do Programa de Iniciação Tecnológica desenvolvido pelos autores e
conta com o apoio do UNISAL (Centro Universitário Salesiano de São Paulo) de Lorena
(Campus São Joaquim).
REFERÊNCIAS
ALENCAR, João Rui B. et al. Uso do Controle Estatístico de Processo (CEP) para Validação de Processo de
Glibenclamida Comprimidos. Revista Brasileira de Farmácia, v. 85, n. 3, p. 115-119, 2004.
ALMEIDA, Camila Silva et al. Controle Estatístico do Processo. Dissertação (Graduação em Gestão da
Qualidade) – CEUNSP, Itu, São Paulo, 2011.
COELHO, Bráulio Moreira Pinto; MENDES, Rodrigo Eduardo; PAULINO, William Bossas. Investigação sobre
o Controle Estatístico de Processos em uma Siderúrgica. Revista INGEPRO, Inovação, Gestão e Produção, v. 2,
n. 9, set/2010.
CORTIVO, Zaudir Dal. Aplicação do Controle Estatístico de Processo em Sequências Curtas de Produção e
Análise Estatística de Processo Através do Planejamento Econômico. Dissertação (Mestrado em Ciências) –
Programa de Pós-Graduação em Métodos Numéricos em Engenharia, Setor de Ciências Exatas e Tecnologia,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.
12
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
HENNING, Elisa et al. Um Estudo para a Aplicação de Gráficos de Controle Estatístico de Processo em
Indicadores de Qualidade da Água Potável. VII Congresso Nacional de Excelência em Gestão, ago/2011.
LIMA, A. A. N. et al. Aplicação do Controle Estatístico de Processo na Indústria Farmacêutica. Revista Ciências
Farmacêuticas Básica Aplicada, v. 27, n.3, p. 177-187, 2006.
MILAN, Marcos; FERNANDES, Ricardo Alves Thomaz. Qualidade das Operações de Preparo de Solo por
Controle Estatístico de Processo. Departamento de Engenharia Rural, USP/ESALQ. Scientia Agrícola, v. 59, n.2,
p. 261-266, 2002.
MORAIS, Tércius Cassius Melo de; DESÁ, Sergio Roque; LIMA, Márcio Botelho da Fonseca. Aplicações do
Controle Estatístico de Processo para o Controle de Tensão Elétrica em Subestações: Estudo de Caso de uma
Empresa Distribuidora de Energia Elétrica. XXX Encontro Nacional de Engenharia de Produção, São Carlos,
SP, Brasil, 2010.
POZZOBON, Estela Mari Piveta. Aplicação do Controle Estatístico do Processo. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil, 2001.
RAMOS, A.W. CEP para processos contínuos e em bateladas. 1º Edição. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.
SOUZA, Adriano Mendonça; RIGÃO, Maria Helena. Identificação de Variáveis Fora de Controle em Processos
Produtivos Multivariados. Revista Produção, v. 15, n. 1, p. 074-086, jan. /abr. 2005.
13