Caderno 03 Empresa de Referencia
Caderno 03 Empresa de Referencia
Caderno 03 Empresa de Referencia
2007
Cadernos de Política Tarifária
Análise do Processo de Revisão Tarifária e da RegulaÇão POR incentivoS
Empresa de Referência
Esta série de cadernos avalia
o ambiente regulatório em
que operam as distribuidoras Sumário Executivo
de energia elétrica, sua
evolução e tendências.
Também são analisados os • O sucesso da Regulação por Incentivos adotada no Brasil depende da criação de um ambiente
principais componentes do estável e previsível que induza as empresas a aumentar sua produtividade e compartilhar os
processo de Revisão Tarifária
ganhos obtidos com o consumidor
Periódica e seu efeito sobre a
sustentabilidade do setor.
• Entretanto, o modelo atualmente utilizado para determinar os custos operacionais eficientes
das empresas (Empresa de Referência) não tem alcançado estes objetivos:
• O modelo é complexo e de difícil entendimento por parte dos agentes, o que favorece a
#1 Política Tarifária e
regulação por incentivoS
discricionariedade do regulador;
• Os resultados provisórios e instáveis decorrentes da falta de um modelo definitivo fazem
com que as empresas desconheçam o alvo regulatório a ser alcançado;
• O modelo não considera todos os custos associados às obrigações impostas às empresas
A Universalização dos
#2 Serviços de Distribuição
de Energia Elétrica pela legislação vigente e pelo regulador.
• Todos esses fatores prejudicam a qualidade da regulação e os incentivos para que as empresas
aumentem sua produtividade de forma contínua e sustentada.
#3 Empresa de referência
• Muitos dos problemas identificados poderiam ser resolvidos com a adoção de uma metodologia
mais simples, desde que implementada de forma imparcial e objetiva pelo órgão regulador.
A qualidade e as tarifas • Dentre as alternativas existentes, a metodologia de Benchmarking Regulatório se mostra a
#4 na distribuição de
mais adequada à realidade brasileira, pois:
energia elétrica
O atual modelo regulatório para a distribuição de ener- Em monopólios naturais2, como é o caso do serviço
gia elétrica segue o regime de Regulação por Incentivos, público de distribuição de energia elétrica, o consumi-
que prevê estímulos ao aumento de produtividade das dor não tem liberdade para escolher seu fornecedor e,
empresas e a garantia de compartilhamento desses conseqüentemente, a qualidade e o preço dos serviços
ganhos de produtividade com os consumidores, via prestados. Assim, faz-se necessária a figura do regu-
redução de tarifa. lador para determinar um nível mínimo de qualidade
A Revisão Tarifária Periódica (RTP) é um dos instrumen- e o custo operacional compatível com este nível a ser
tos regulatórios para que se atinja estes objetivos. Na RTP, repassado às tarifas.
que ocorre geralmente a cada quatro anos, o regulador Se os custos operacionais regulatórios forem superdi-
redefine a receita necessária (Receita Requerida) para mensionados, os consumidores pagarão uma tarifa in-
preservar o equilíbrio econômico-financeiro das empre- justamente alta. Por outro lado, se os custos forem sub-
sas e estimular os ganhos de produtividade do setor. dimensionados, os investimentos feitos pelas empresas
Uma das parcelas da Receita Requerida é o custo não serão adequadamente remunerados, comprometen-
operacional eficiente, que corresponde às despesas de do a qualidade e a sustentabilidade dos serviços.
administração, de atendimento comercial e de operação Este caderno busca diagnosticar a evolução3 da regulação
e manutenção do sistema elétrico que um operador do setor de distribuição de energia elétrica no Brasil no
eficiente deveria incorrer para atender ao seu mercado que tange à metodologia utilizada pela ANEEL para de-
nas condições de qualidade estabelecidas pelo regulador terminar os custos operacionais eficientes das empresas.
ou pelo contrato de concessão. Esta análise é de extrema importância para o setor já que
O Quadro 1 ilustra de forma simplificada a estrutura do a metodologia está em fase de aprimoramento, o que tem
processo de Revisão Tarifária Periódica e a participação dado margem a discricionariedades nas decisões do regu-
dos principais componentes da Receita Requerida. É lador e ao estabelecimento de resultados provisórios que
válido notar que o custo operacional das empresas cor- comprometem a lógica da Regulação por Incentivos.
responde a apenas 15,5% da Receita Requerida total, que
tem como principal componente o conjunto de impos-
tos e encargos setoriais (35,6%)1 .
28,5% Compra de
energia
35,6% Impostos e
encargos
Receita Requerida
15,5% Custos
operacionais
eficientes
Ganhos de
Produtividade Fator X
1. Estes impostos e encargos se referem apenas aos incidentes sobre a distribuição 2. Estrutura de indústria que ocorre quando as empresas operam com custos eleva-
de energia elétrica. A tributação total do setor elétrico (geração, transmissão, dos de implementação de infra-estrutura e custos decrescentes de fornecimento
distribuição e comercialização) chega a 43,7% (2005). Para maiores informações, dos serviços para novos clientes. Nessas condições, o serviço pode ser fornecido ao
ver www.acendebrasil.com.br, seção Estudos, Tributos e Encargos no Setor menor custo quando é ofertado por uma única empresa.
Elétrico Brasileiro 3. Período entre o 1º ciclo de Revisão Tarifária Periódica (2003 – 2006) e o 2º ciclo de
Revisão Tarifária Periódica (2007 – 2010).
Custos Custos Eficientes (T1) Custos Custos Eficientes (T1) Custos Eficientes (T2)
R$ F R$ F
E
E
D I D
I
C1 C1
G
G
A H C2
B A H
B
No Gráfico 2a, os pontos representam os valores dos custos reais de cada uma das empresas que formam parte da indústria. Por sua
vez, a curva é uma função de custos que captura as boas práticas do mercado. Assim, uma empresa cujos drivers são x1 deveria ter
um custo C1 caso seu desempenho operacional refletisse as boas práticas do mercado. Neste exemplo, as empresas B, F, H e I ope-
ram com eficiência (pois estão abaixo da curva), enquanto que as empresas A, D, E e G não estão sendo eficientes quando compara-
das ao mercado (pois estão acima da curva).
O regulador determina os custos a serem reconhecidos na tarifa com base na curva. Assim, todas as empresas buscam obter
ganhos de produtividade para maximizar seus resultados: as menos eficientes tentam atingir o Benchmarking Regulatório
representado pela curva T1, enquanto as de maior produtividade buscam maximizar seus ganhos introduzindo novas práticas
de melhorias no setor.
No ciclo tarifário seguinte (Gráfico 2b), o regulador estabelece o Benchmark de custos em um nível diferente (T2), capturando
através de uma variação nas tarifas os ganhos de produtividade do setor obtido no ciclo tarifário anterior.
Dessa forma, o regulador estimula o aumento de produtividade das empresas menos eficientes e possibilita às mais eficien-
tes o compartilhamento de parte dos ganhos obtidos com o consumidor, preservando os incentivos para que setor como um
todo alcance, na medida do possível, níveis superiores de produtividade.
(*) “Driver de custos” compreende o número de clientes, o grau de dispersão dos clientes, a qualidade do serviço, a quantidade de ativos etc
• De difícil reprodução • R
equer a estruturação de banco de dados
com número significativo de empresas
• N
ão permite analizar a
razoabilidade dos custos
No Brasil, a metodologia adotada para determinar os Essa grande complexidade do modelo inevitavelmente dá
custos operacionais a serem reconhecidos nas tarifas de margem a discricionariedades em sua aplicação, uma vez
energia elétrica é a de Empresa de Referência4. que é praticamente impossível para o regulador dispor de
referências válidas para a definição de tantas variáveis.
3.1 Análise do Modelo de Empresa de Para mitigar essa discricionariedade, o regulador neces-
sita permanentemente de um nível pormenorizado de
Referência no Brasil
informações operacionais de todas as empresas para de-
O modelo de Empresa de Referência adotado no Brasil tem finir os valores de referência de cada um dos parâmetros
se mostrado muito complexo e de difícil reprodutibilida- do modelo, processo por processo, atividade por ativida-
de pelas empresas5. Para calcular os custos operacionais, o de. Entretanto, muitas destas informações têm caráter
modelo precisa detalhar uma série de atividades opera- confidencial, uma vez que implicam completa abertura
cionais e quantificar os recursos e as despesas associadas da estratégia operacional de cada distribuidora. Ou seja,
a cada uma delas, o que exigiu o estabelecimento de uma da forma como foi construído, o modelo de Empresa de
enorme quantidade de variáveis, tais como: Referência, quando não discricionário, é invasivo.
• f reqüências e tempos médios de execução de cada Além disso, ao se basear em auditorias pormenoriza-
tarefa de O&M, das da gestão das empresas, o regulador adota práticas
• quantidades e qualificação de operários, muito próximas da Regulação pelo Custo do Serviço,
• quantidades e tipos de materiais, comprometendo a lógica da Regulação por Incentivos.
• quantidades e tipos e custos de veículos, Esta tendência “invasiva” vem se acentuando nos
• consumos de combustível por distância percorrida, últimos tempos, visto que a ANEEL tem solicitado uma
quantidade exagerada e minuciosamente detalhada de
• percursos médios por tipo de veículo,
informações sobre a gestão das distribuidoras, sem uma
• quantidades de faturas e documentos distribuídas clara explicação de “como” e “para que” estas informa-
por empregado, ções serão utilizadas.
• quantidade de impressões por ano, Além disso, ao utilizar P&As pré-definidos, o modelo
• quantidades de escritórios comerciais, sinaliza, mesmo que indiretamente, que as concessio-
• quantidade de funcionários por área, nárias devem adequar sua estrutura organizacional a
um esquema pré-determinado. Essa condição reduz a
• categoria salarial e remuneração por categorias,
liberdade gerencial das empresas para aumentar sua
• quantidade de computadores por empregado, produtividade, reduzindo os incentivos da regulação.
• superfície de prédios, Também é importante notar que, apesar deste nível
• consumos de luz e água por empregado, de detalhamento e complexidade, o atual modelo de
• consumos de telefonia, Empresa de Referência continua incompleto, já que não
considera todos os processos e atividades relativas às
• materiais de escritório,
obrigações impostas às empresas pela legislação vigente
• c usto de aquisição e implementação dos sistemas e pelo regulador. Como exemplos, pode-se citar os custos
computacionais, associados ao cumprimento das metas de qualidade de
• custo de aluguel, serviço6 e da trajetória de redução de Perdas Não Téc-
• custo de limpeza, nicas e Inadimplência7. O atendimento dessas metas
regulatórias envolve recursos de operação e manutenção
• custo de vigilância
específicos no modelo de Empresa de Referência, recursos
• etc. atualmente não reconhecidos pelo regulador.
Finalmente, destaca-se que o modelo de Empresa de
Não bastando a dificuldade para identificar todos esses Referência carece de uma validação externa para que
Processos e Atividades (P&As), é necessário ainda carac- se analise a coerência e pertinência dos resultados.
terizar as “boas práticas de mercado” associadas a cada
P&A, ou seja, definir produtividades, tipos de equipe e
custos de cada atividade.
4. Na Resolução 234/06 ANEEL propôs uma metodologia mista onde utiliza o 6. As metas de qualidade serviço são reajustadas após cada revisão tarifária. Cor-
Benchmarking como balizador do custo da Empresa de Referência, critério que na respondem aos valores limites DEC e FEC (duração e freqüência média de corte) a
prática não está sendo adotado. partir dos quais as empresas são penalizadas. Note-se, no entanto, que a melhora
5. Para se ter uma idéia, atualmente o modelo consiste de 22 arquivos Excel, aproxi- no DEC e FEC estão diretamente associadas a aumentos nos recursos e custos de
madamente 110 planilhas, todas vinculadas entre si. operação e manutenção e, portanto, aumentos tarifários para o consumidor.
7. Este tema será abordado no 5º Caderno de Política Tarifária.
40 140
132 34 Referência, sem uma prévia discussão com os agentes
30 120
Queda Queda Queda Queda Queda
do setor.Queda
Esses ajustes têm tido caráter redutor, compro-
Queda
20
de 26% de 11% de 19% de 27% de 11%
metendo, em muitosdecasos,
de 9% 16%
a coerência entre as regras
12 do primeiro e do segundo ciclo de RTP.
80
10
Coelce Eletropaulo Escelsa Celpa O quadro
Elektro 8 mostra Piratininga
Bandeirante que neste segundo ciclo de RTP o
0
No primeiro ano após a No segundo ano após a No terceiro ano após a
órgão regulador reduziu os custos regulatórios na ordem
data prevista para data prevista para data prevista para de 10% a 27%, em termos reais, valores que certamente
homologação dos homologação dos homologação dos
resultados do Primeiro resultados do Primeiro resultados do Primeiro não refletem os ganhos de produtividade da indústria
Ciclo de RTP de cada Ciclo de RTP de cada Ciclo de RTP de cada nos últimos anos.
distribuidora distribuidora distribuidora
Fonte: Siglasul, com base em Notas Técnicas ANEEL do 1º ciclo de RTP das
61 concessionárias.
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(,#'
novo patamar de eficiência e contribuir para a modici-
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D\iZX[f :ljkfjI\^lcXki`fj
Bibliografia
ABRADEE (Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica). Jamasb, Tooraj; Pollitt, Michael. Benchmarking and Regulation of Electricity
Avaliação Geral do Primeiro Ciclo de Revisões Tarifárias Periódicas – Transmission and Distribution Utilities: Lessons from International Experien-
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Diagnóstico Metodológico da Empresa de Referência – Anexo III, 2006. Jamasb, Tooraj; Pollitt, Michael. International Utility Benchmarking &
ANEEL, Resolução Normativa Nº234/2006 Regulation: An Application to European Electricity Distribution Companies.
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Green, Richard; Pardina, Martin R. Resetting price controls for privatized
utilities: a manual for regulators. Washington, DC: The World Bank, feb
1999. p. 61-67.
Visão
A evolução sustentável do setor elétrico brasileiro.
Evolução Sustentável: processo de desenvolvimento contínuo que, simultaneamente,
atende às necessidades dos consumidores, remunera os investimentos das empresas,
O Instituto Acende Brasil desenvolve estudos e projetos que visam a e gera benefícios à sociedade.
promover a trasparência e a sustentabilidade do Setor Elétrico Brasileiro.
Missão
Presidente: Claudio J. D. Sales Viabilizar a ação empreendedora privada no Setor Elétrico Brasileiro
Diretor Executivo: Eduardo Müller Monteiro materializando a contribuição dessa ação para a Sociedade.
Relações Institucionais: Maria Célia Musa
Ação empreendedora: é a ação criadora, construtora, que, pela aplicação competente e
Desenvolvimento Sustentável: Alexandre Uhlig
inovadora de recursos, permite atender às demandas da
Assuntos Econômicos e Regulatórios: Fernando Pieroni
sociedade por energia elétrica.
Staff: Eliana Marcon e Melissa Oliveira
Contribuição: competência de gestão do bem/serviço público com eficiência, qualidade
São Paulo: e responsabilidade. Contribuição que também diminui a necessidade de investimentos
Rua Joaquim Floriano, 466 Edifício Corporate, conj. 501 públicos e possibilita ao governo alocar seus recursos em áreas prioritárias como saúde,
CEP 04534-004, Itaim Bibi - São Paulo, SP, Brasil educação, e segurança.
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Brasília: Valores
SCN Quadra 5, Bloco A, sala 1210 Eficiência: Atender com eficiência e qualidade às demandas dos diferentes
Brasília Shopping and Towers públicos por energia elétrica.
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três poderes, a agência reguladora, as comunidades locais onde atuamos, as entidades
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Caderno de Política Tarifária #3 Empresa de Referência 9