Caderno 03 Empresa de Referencia

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#3 dezemBRO

2007
Cadernos de Política Tarifária
Análise do Processo de Revisão Tarifária e da RegulaÇão POR incentivoS

Os Cadernos de Política Tarifária foram desenvolvidos


com o apoio técnico da Siglasul Consultores em Energia.

Empresa de Referência
Esta série de cadernos avalia
o ambiente regulatório em
que operam as distribuidoras Sumário Executivo
de energia elétrica, sua
evolução e tendências.
Também são analisados os • O sucesso da Regulação por Incentivos adotada no Brasil depende da criação de um ambiente
principais componentes do estável e previsível que induza as empresas a aumentar sua produtividade e compartilhar os
processo de Revisão Tarifária
ganhos obtidos com o consumidor
Periódica e seu efeito sobre a
sustentabilidade do setor.
• Entretanto, o modelo atualmente utilizado para determinar os custos operacionais eficientes
das empresas (Empresa de Referência) não tem alcançado estes objetivos:
• O modelo é complexo e de difícil entendimento por parte dos agentes, o que favorece a
#1 Política Tarifária e
regulação por incentivoS
discricionariedade do regulador;
• Os resultados provisórios e instáveis decorrentes da falta de um modelo definitivo fazem
com que as empresas desconheçam o alvo regulatório a ser alcançado;
• O modelo não considera todos os custos associados às obrigações impostas às empresas
A Universalização dos
#2 Serviços de Distribuição
de Energia Elétrica pela legislação vigente e pelo regulador.
• Todos esses fatores prejudicam a qualidade da regulação e os incentivos para que as empresas
aumentem sua produtividade de forma contínua e sustentada.
#3 Empresa de referência
• Muitos dos problemas identificados poderiam ser resolvidos com a adoção de uma metodologia
mais simples, desde que implementada de forma imparcial e objetiva pelo órgão regulador.
A qualidade e as tarifas • Dentre as alternativas existentes, a metodologia de Benchmarking Regulatório se mostra a
#4 na distribuição de
mais adequada à realidade brasileira, pois:
energia elétrica

• É um método mais simples, objetivo e representativo da realidade;


• Permite avaliar a razoabilidade dos resultados finais, evitando distorções que onerem os
PERDAS E INADIMPLÊNCIA
#5 NO SETOR ELÉTRICO consumidores ou as empresas;
• Preserva a lógica de regulação por incentivos atualmente em vigor;
• O Brasil é um dos poucos países no mundo que possui um grande número de
#6 TARIFAS de Baixa Renda distribuidoras, o que é um pré-requisito para a aplicação do modelo.
• Desta forma sugere-se:
• Um rápido aprimoramento da metodologia de Empresa de Referência para o segundo
Os cadernos acima estão disponíveis
ciclo de Revisão Tarifária Periódica, preservando a coerência com as regras definidas no
em www.acendebrasil.com.br primeiro ciclo;
• A aplicação de um modelo de Benchmarking Regulatório a partir do terceiro ciclo de RTP,
após ampla discussão com os agentes do setor.
• O respeito aos princípios de coerência, clareza, legalidade, previsibilidade e imparcialidade
da regulação, visto que a mudança de modelo, embora solucione muitos dos problemas
identificados, não torna as empresas imunes aos riscos de uma visão enviesada do regulador.
1. Introdução

O atual modelo regulatório para a distribuição de ener- Em monopólios naturais2, como é o caso do serviço
gia elétrica segue o regime de Regulação por Incentivos, público de distribuição de energia elétrica, o consumi-
que prevê estímulos ao aumento de produtividade das dor não tem liberdade para escolher seu fornecedor e,
empresas e a garantia de compartilhamento desses conseqüentemente, a qualidade e o preço dos serviços
ganhos de produtividade com os consumidores, via prestados. Assim, faz-se necessária a figura do regu-
redução de tarifa. lador para determinar um nível mínimo de qualidade
A Revisão Tarifária Periódica (RTP) é um dos instrumen- e o custo operacional compatível com este nível a ser
tos regulatórios para que se atinja estes objetivos. Na RTP, repassado às tarifas.
que ocorre geralmente a cada quatro anos, o regulador Se os custos operacionais regulatórios forem superdi-
redefine a receita necessária (Receita Requerida) para mensionados, os consumidores pagarão uma tarifa in-
preservar o equilíbrio econômico-financeiro das empre- justamente alta. Por outro lado, se os custos forem sub-
sas e estimular os ganhos de produtividade do setor. dimensionados, os investimentos feitos pelas empresas
Uma das parcelas da Receita Requerida é o custo não serão adequadamente remunerados, comprometen-
operacional eficiente, que corresponde às despesas de do a qualidade e a sustentabilidade dos serviços.
administração, de atendimento comercial e de operação Este caderno busca diagnosticar a evolução3 da regulação
e manutenção do sistema elétrico que um operador do setor de distribuição de energia elétrica no Brasil no
eficiente deveria incorrer para atender ao seu mercado que tange à metodologia utilizada pela ANEEL para de-
nas condições de qualidade estabelecidas pelo regulador terminar os custos operacionais eficientes das empresas.
ou pelo contrato de concessão. Esta análise é de extrema importância para o setor já que
O Quadro 1 ilustra de forma simplificada a estrutura do a metodologia está em fase de aprimoramento, o que tem
processo de Revisão Tarifária Periódica e a participação dado margem a discricionariedades nas decisões do regu-
dos principais componentes da Receita Requerida. É lador e ao estabelecimento de resultados provisórios que
válido notar que o custo operacional das empresas cor- comprometem a lógica da Regulação por Incentivos.
responde a apenas 15,5% da Receita Requerida total, que
tem como principal componente o conjunto de impos-
tos e encargos setoriais (35,6%)1 .

Quadro 1: Estrutura da Revisão Tarifária

28,5% Compra de
energia

70,5% 6,4% Custos de


Não Gerenciáveis
Parcela A transporte

35,6% Impostos e
encargos
Receita Requerida
15,5% Custos
operacionais
eficientes

Revisão 5% Reposição Gerenciáveis


Tarifária 29,5% Parcela B dos ativos
Periódica
(RTP)
9% Remuneração
do capital

Ganhos de
Produtividade Fator X

1. Estes impostos e encargos se referem apenas aos incidentes sobre a distribuição 2. Estrutura de indústria que ocorre quando as empresas operam com custos eleva-
de energia elétrica. A tributação total do setor elétrico (geração, transmissão, dos de implementação de infra-estrutura e custos decrescentes de fornecimento
distribuição e comercialização) chega a 43,7% (2005). Para maiores informações, dos serviços para novos clientes. Nessas condições, o serviço pode ser fornecido ao
ver www.acendebrasil.com.br, seção Estudos, Tributos e Encargos no Setor menor custo quando é ofertado por uma única empresa.
Elétrico Brasileiro 3. Período entre o 1º ciclo de Revisão Tarifária Periódica (2003 – 2006) e o 2º ciclo de
Revisão Tarifária Periódica (2007 – 2010).

Caderno de Política Tarifária #3 Empresa de Referência 2


2. Metodologias Para Determinação dos Custos
Operacionais Eficientes das Distribuidoras
Para promover uma prestação de serviço ao menor Dessa forma, o enfoque da Empresa de Referência pre-
custo para o consumidor e uma remuneração adequada tende simular as condições que enfrentaria um operador
para as empresas, o regulador deve dispor de instru- entrante no mercado no qual a empresa real presta o
mentos que o permitam calcular os custos operacionais serviço de distribuição de energia elétrica. A Empresa de
eficientes das mesmas. Dentre os diversos mecanismos Referência é única para cada área de concessão.
utilizados no setor elétrico, destacam-se dois: a Regula-
ção pelo Custo do Serviço, ou Cost-Plus, e a Regulação
por Incentivos, ou Price-Cap.
Na Regulação pelo Custo do Serviço, os custos reconhe-
cidos pelo regulador a serem incorporados à tarifa são
Quadro 2: Processos e Atividades –
os realmente praticados pela distribuidora, não haven-
Modelo de Empresa de Referência
do necessidade de metodologia para determinar o seu
valor. É simplesmente um repasse ao consumidor final
(via tarifa) dos custos incorridos na prestação do serviço.
Se por um lado este regime de regulação é metodologi- Gestão Geral
camente simples, por outro ele desestimula as empresas Orientação Geral do Negócio
a melhorar sua produtividade e reduzir seus custos, Direção da Empresa
uma vez que os valores praticados serão integralmente Estratégia e Acompanhamento da Gestão
Assessoria Legal
cobertos pela tarifa independentemente de sua razoabi- Relações Institucionais e Comunicação
lidade e pertinência. Auditoria
Já na Regulação por Incentivos, o regulador procura esti-
Administração e Finanças
mular o ganho de produtividade das empresas a partir do
Direção Administrativa
estabelecimento de níveis de custos operacionais eficien- Gestão de Recursos Humanos
tes a serem reconhecidos e incorporados à tarifa. Existem Gestão Organizacional
duas metodologias para a determinação destes custos: Gestão de Relações Trabalhistas e Sindicais
Gestão de Pessoas
• Bottom-Up ou Empresa de Referência Medicina e Segurança do Trabalho
• Top-Down ou Benchmarking Sistemas de Informática
Direção Financeira
Logística
Gestão Financeira
2.1. M
 etodologia Bottom-up ou de Empresa Planejamento Financeiro
de Referência Contabilidade

Na metodologia Bottom-up ou de “Empresa de Referên-


Comercial
cia”, define-se uma empresa virtual de distribuição de
Gestão Comercial
energia elétrica que, em teoria, presta o serviço de forma
Comercialização
eficiente nas mesmas condições e ambiente em que a Atendimento ao Cliente
empresa real desenvolve suas atividades. Assim, mesmo Call Center
em se tratando de um monopólio natural, a regulação Normalização
Inadimplência
com base em Empresa de Referência estimula a concor- Leitura de Medidores
rência mediante o desenho de uma empresa imaginária Envio de Faturas e Outros Documentos
que teoricamente compete com a empresa real. Edição de Faturas e Outros Documentos
Cobrança de Faturas
Esse modelo se constrói a partir da identificação e
definição detalhada de todos os Processos e Atividades Planejamento Técnico e Operação

(P&As) necessários para prestar o serviço de distri- Gestão da Distribuição


buição de energia elétrica (operação e a manutenção, Gestão de Recursos Humanos
Planejamento e Controle da Operação
gestão técnico-comercial dos clientes e atividades de Planejamento e Controle da Manutenção
direção e administração). Planejamento da Expansão
Gestão Ambiental
O Quadro 2 apresenta os principais processos e atividades
considerados no modelo de Empresa de Referência: Operação e Manutenção

Uma vez identificados todos os Processos e Atividades, Substituição de equipamentos e materiais


Reparos, adequações, limpeza de
são determinados os recursos humanos e materiais ne- equipamentos e materiais
cessários para a execução de cada uma dessas atividades. Poda de árvores
Os custos associados a estes recursos são então calcula- Revisão Termográfica
dos com base nas boas práticas do mercado.

Caderno de Política Tarifária #3 Empresa de Referência 3


2.2. Metodologia Top-Down ou Benchmarking
Na metodologia Top-Down ou Benchmarking, os custos Quadro 4: Benchmarking - Metodologias
eficientes resultam de referências reais construídas com
base na observação das boas práticas da indústria. DEA - Data Envelopment Analysis: Método não para-
O Benchmarking consiste no levantamento dos custos métrico baseado em Programação Linear. Determina o
operacionais das empresas e das variáveis que determi- percentual de redução dos custos reais de cada empresa
nam esses custos (drivers), tais como: extensão de rede, para atingir o nível máximo de eficiência.
número de clientes, dispersão de mercado, qualidade do
SFA - Stochastic Frontier Analysis ou Análise de
serviço etc. A partir do mapeamento dos dados reais das
Fronteira Estocástica: Método paramétrico. Estima uma
empresas são simulados modelos matemáticos que cor-
função de custos eficiêntes com base em uma análise de
relacionam os custos com os drivers (variáveis explicati-
regressão por Máxima-Verossimilhança. Os custos resul-
vas características das empresas), gerando as funções de
tantes da aplicação desta função correspondem à máxi-
custos eficientes.
ma eficiência atingível pelas empresas da indústria.
Dessa forma, o regulador consegue simular, a partir das
características reais da empresa (variáveis de custo), MQO - Mínimos Quadrados Ordinários. Método
quais seriam os custos eficientes que a mesma teria se paramétrico. Estima uma função de custos com base
adotasse as melhores práticas da indústria. em uma análise de regressão multivarável. Os custos
resultantes da aplicação desta função correspondem à
O Quadro 3 mostra, de forma esquemática, o funciona-
eficiência média da indústria.
mento da metodologia de Benchmarking.
O Quadro 4 descreve as metodologias mais usuais 
de Benchmarking:

Quadro 3: Custos Operacionais sob a Ótica do Benchmarking

1º Ciclo Tarifário 2º Ciclo Tarifário

Custos Custos Eficientes (T1) Custos Custos Eficientes (T1) Custos Eficientes (T2)
R$ F R$ F
E
E
D I D
I
C1 C1
G
G
A H C2
B A H
B

X1 Driver de Custos (*) X2 Driver de Custos (*)


Gráfico 2a Gráfico 2c

No Gráfico 2a, os pontos representam os valores dos custos reais de cada uma das empresas que formam parte da indústria. Por sua
vez, a curva é uma função de custos que captura as boas práticas do mercado. Assim, uma empresa cujos drivers são x1 deveria ter
um custo C1 caso seu desempenho operacional refletisse as boas práticas do mercado. Neste exemplo, as empresas B, F, H e I ope-
ram com eficiência (pois estão abaixo da curva), enquanto que as empresas A, D, E e G não estão sendo eficientes quando compara-
das ao mercado (pois estão acima da curva).
O regulador determina os custos a serem reconhecidos na tarifa com base na curva. Assim, todas as empresas buscam obter
ganhos de produtividade para maximizar seus resultados: as menos eficientes tentam atingir o Benchmarking Regulatório
representado pela curva T1, enquanto as de maior produtividade buscam maximizar seus ganhos introduzindo novas práticas
de melhorias no setor.
No ciclo tarifário seguinte (Gráfico 2b), o regulador estabelece o Benchmark de custos em um nível diferente (T2), capturando
através de uma variação nas tarifas os ganhos de produtividade do setor obtido no ciclo tarifário anterior.
Dessa forma, o regulador estimula o aumento de produtividade das empresas menos eficientes e possibilita às mais eficien-
tes o compartilhamento de parte dos ganhos obtidos com o consumidor, preservando os incentivos para que setor como um
todo alcance, na medida do possível, níveis superiores de produtividade.

(*) “Driver de custos” compreende o número de clientes, o grau de dispersão dos clientes, a qualidade do serviço, a quantidade de ativos etc

Caderno de Política Tarifária #3 Empresa de Referência 4


2.3 Comparação entre os Métodos de Empresa de É importante notar que, a princípio, ambas as metodo-
Referência e de Benchmarking logias respeitam a lógica da Regulação por Incentivos,
possibilitando que as distribuidoras de melhor desempe-
A Metodologia de “Empresa de Referência” permite in-
nho atinjam níveis de custos inferiores aos estabelecidos
corporar as particularidades de cada área de concessão.
regulatoriamente, obtendo, assim, ganhos que estimu-
Entretanto, ela acaba sendo demasiado complexa e de-
lam o aumento de sua produtividade.
talhada, o que dificulta a sua interpretação por conces-
sionárias e consumidores e exige, em alguns casos, o uso Outro ponto importante é que, independentemente das
de benchmarks específicos para estimar certos custos vantagens e desvantagens de cada modelo, sua aplicação
de P&A. Outra desvantagem desta metodologia é que só será eficiente se forem respeitados os princípios de coe-
ela não permite analisar o quão razoável é o custo final rência, clareza, legalidade, previsibilidade e imparcialidade
resultante, exigindo validação externa. da regulação, pois os modelos não tornam as empresas
imunes aos riscos de uma visão enviesada do regulador.
O Benchmarking é um método mais simples e represen-
tativo da realidade. Porém, requer informações padroni- O quadro 6 ilustra a aplicação de ambas as metodologias em
zadas e necessita de vasta Contabilidade Regulatória para diferentes países que adotaram a Regulação por Incentivos.
definir as curvas de custos eficientes. Assim, para que a
aplicação do Benchmarking seja representativa é impor- Quadro 6: Metodologias Aplicadas
tante comparar um número significativo de empresas.
em Países que Adotaram a
Dentro da Regulação por Incentivos, tanto o Bench- Regulação por Incentivos
marking quanto a “Empresa de Referência” são meto-
dologias que procuram capturar as boas práticas do Empresa de Referência Benchmarking
setor na determinação dos custos operacionais a serem
considerados nas tarifas. A principal diferença é que a Noruega
Chile
metodologia do Benchmarking se baseia nas boas práti- Suécia
Peru
cas gerais, enquanto que a metodologia da Empresa de Inglaterra
Brasil
Referência considera boas práticas focadas nos recursos Irlanda
Nicarágua
materiais e humanos utilizados em cada Processo e Holanda
Uruguai
Atividade das empresas. Austrália
Guatemala
O Quadro 5 resume as vantagens e desvantagens dos Panamá
métodos de Empresa de Referência e de Benchmarking.

Quadro 5: Comparação entre os Métodos de Regulação por Incentivos

Empresa de Referência Benchmarking

Vantagens • Permite capturar as • Simples


 particularidades das • Representativo da realidade
empresas
• Não Invasivo
 

Desvantagens • Complexo e detalhado • R


 equer informações padronizadas e 
• Invasivo Contabilidade Regulatória

• De difícil reprodução • R
 equer a estruturação de banco de dados 
com número significativo de empresas
• N
 ão permite analizar a
razoabilidade dos custos

Caderno de Política Tarifária #3 Empresa de Referência 5


3. Análise da Regulação no Brasil

No Brasil, a metodologia adotada para determinar os Essa grande complexidade do modelo inevitavelmente dá
custos operacionais a serem reconhecidos nas tarifas de margem a discricionariedades em sua aplicação, uma vez
energia elétrica é a de Empresa de Referência4. que é praticamente impossível para o regulador dispor de
referências válidas para a definição de tantas variáveis.

3.1 Análise do Modelo de Empresa de Para mitigar essa discricionariedade, o regulador neces-
sita permanentemente de um nível pormenorizado de
Referência no Brasil
informações operacionais de todas as empresas para de-
O modelo de Empresa de Referência adotado no Brasil tem finir os valores de referência de cada um dos parâmetros
se mostrado muito complexo e de difícil reprodutibilida- do modelo, processo por processo, atividade por ativida-
de pelas empresas5. Para calcular os custos operacionais, o de. Entretanto, muitas destas informações têm caráter
modelo precisa detalhar uma série de atividades opera- confidencial, uma vez que implicam completa abertura
cionais e quantificar os recursos e as despesas associadas da estratégia operacional de cada distribuidora. Ou seja,
a cada uma delas, o que exigiu o estabelecimento de uma da forma como foi construído, o modelo de Empresa de
enorme quantidade de variáveis, tais como: Referência, quando não discricionário, é invasivo.
• f reqüências e tempos médios de execução de cada Além disso, ao se basear em auditorias pormenoriza-
tarefa de O&M, das da gestão das empresas, o regulador adota práticas
• quantidades e qualificação de operários, muito próximas da Regulação pelo Custo do Serviço,
• quantidades e tipos de materiais, comprometendo a lógica da Regulação por Incentivos.
• quantidades e tipos e custos de veículos, Esta tendência “invasiva” vem se acentuando nos
• consumos de combustível por distância percorrida, últimos tempos, visto que a ANEEL tem solicitado uma
quantidade exagerada e minuciosamente detalhada de
• percursos médios por tipo de veículo,
informações sobre a gestão das distribuidoras, sem uma
• quantidades de faturas e documentos distribuídas  clara explicação de “como” e “para que” estas informa-
por empregado, ções serão utilizadas.
• quantidade de impressões por ano, Além disso, ao utilizar P&As pré-definidos, o modelo
• quantidades de escritórios comerciais, sinaliza, mesmo que indiretamente, que as concessio-
• quantidade de funcionários por área, nárias devem adequar sua estrutura organizacional a
um esquema pré-determinado. Essa condição reduz a
• categoria salarial e remuneração por categorias,
liberdade gerencial das empresas para aumentar sua
• quantidade de computadores por empregado, produtividade, reduzindo os incentivos da regulação.
• superfície de prédios, Também é importante notar que, apesar deste nível
• consumos de luz e água por empregado, de detalhamento e complexidade, o atual modelo de
• consumos de telefonia, Empresa de Referência continua incompleto, já que não
considera todos os processos e atividades relativas às
• materiais de escritório,
obrigações impostas às empresas pela legislação vigente
• c usto de aquisição e implementação dos sistemas e pelo regulador. Como exemplos, pode-se citar os custos
computacionais, associados ao cumprimento das metas de qualidade de
• custo de aluguel, serviço6 e da trajetória de redução de Perdas Não Téc-
• custo de limpeza, nicas e Inadimplência7. O atendimento dessas metas
regulatórias envolve recursos de operação e manutenção
• custo de vigilância
específicos no modelo de Empresa de Referência, recursos
• etc. atualmente não reconhecidos pelo regulador.
Finalmente, destaca-se que o modelo de Empresa de
Não bastando a dificuldade para identificar todos esses Referência carece de uma validação externa para que
Processos e Atividades (P&As), é necessário ainda carac- se analise a coerência e pertinência dos resultados.
terizar as “boas práticas de mercado” associadas a cada
P&A, ou seja, definir produtividades, tipos de equipe e
custos de cada atividade.

4. Na Resolução 234/06 ANEEL propôs uma metodologia mista onde utiliza o 6. As metas de qualidade serviço são reajustadas após cada revisão tarifária. Cor-
Benchmarking como balizador do custo da Empresa de Referência, critério que na respondem aos valores limites DEC e FEC (duração e freqüência média de corte) a
prática não está sendo adotado. partir dos quais as empresas são penalizadas. Note-se, no entanto, que a melhora
5. Para se ter uma idéia, atualmente o modelo consiste de 22 arquivos Excel, aproxi- no DEC e FEC estão diretamente associadas a aumentos nos recursos e custos de
madamente 110 planilhas, todas vinculadas entre si. operação e manutenção e, portanto, aumentos tarifários para o consumidor.
7. Este tema será abordado no 5º Caderno de Política Tarifária.

Caderno de Política Tarifária #3 Empresa de Referência 6


3.2 Análise do Processo Regulatório O quadro 7 ilustra a quantidade de concessionárias que
No primeiro ciclo de Revisão Tarifária Periódica - RTP sofreram alterações nos resultados do modelo de Empre-
(2003- 2006), dado o baixo nível de maturidade da sa de Referência após o término do primeiro ciclo de RTP.
regulação até então, o modelo de Empresa de Referência O estabelecimento de valores provisórios e a definição
foi definido e aprimorado ao longo de todo o processo, de resultados após a efetiva ocorrência dos fatos contra-
o que impossibilitou sua aplicação definitiva desde o ria a lógica da Regulação por Incentivos, uma vez que as
início. Apenas uma das 61 distribuidoras do país teve o empresas acabam por desconhecer o alvo regulatório
valor dos custos operacionais definidos na data de sua que devem atingir.
revisão tarifária. A grande maioria das empresas só A provisoriedade dos resultados, além de eliminar o
conheceu seu “alvo” regulatório definitivo anos após ter estímulo para o aumento da produtividade, prejudica
feito seu planejamento orçamentário. a percepção
Custo Operacional Médio por Consumidor (valores atualizados, 2007)tanto do consumidor quanto das concessio-
nárias no que diz respeito à previsibilidade das tarifas e
320
aos sinais de preço.
Quadro 7: Atraso na Definição dos Em 2007, iniciou-se o segundo ciclo de RTP, que envol-
286
Resultados Finais do Primeiro Ciclo de RTP verá, até o fim do ano,1º sete
Ciclo
distribuidoras. Em todos os
280
casos os valores resultantes
2º Ciclo terão novamente cará-
Número de distribuidoras com alteração ter provisório, uma vez que o modelo de Empresa de
na Empresa
240 de Referência 235 Referência encontra-se em fase de aprimoramento. Ou
226
seja, após quatro anos de desenvolvimento, o modelo de
208
60
cálculo ainda não está concluído.
202
200 193
190
60
179 Diante 178
da falta de uma metodologia definitiva, o regula-
50
157
dor tem implementado,
162 de forma provisória, uma série
162
de ajustes discricionários no modelo de Empresa de
160

40 140
132 34 Referência, sem uma prévia discussão com os agentes
30 120
Queda Queda Queda Queda Queda
do setor.Queda
Esses ajustes têm tido caráter redutor, compro-
Queda

20
de 26% de 11% de 19% de 27% de 11%
metendo, em muitosdecasos,
de 9% 16%
a coerência entre as regras
12 do primeiro e do segundo ciclo de RTP.
80
10
Coelce Eletropaulo Escelsa Celpa O quadro
Elektro 8 mostra Piratininga
Bandeirante que neste segundo ciclo de RTP o
0
No primeiro ano após a No segundo ano após a No terceiro ano após a
órgão regulador reduziu os custos regulatórios na ordem
data prevista para data prevista para data prevista para de 10% a 27%, em termos reais, valores que certamente
homologação dos homologação dos homologação dos
resultados do Primeiro resultados do Primeiro resultados do Primeiro não refletem os ganhos de produtividade da indústria
Ciclo de RTP de cada Ciclo de RTP de cada Ciclo de RTP de cada nos últimos anos.
distribuidora distribuidora distribuidora

Fonte: Siglasul, com base em Notas Técnicas ANEEL do 1º ciclo de RTP das
61 concessionárias.

Quadro 8: Evolução dos Custos Regulatórios

Caderno de Política Tarifária #3 Empresa de Referência 7


4. Proposta: Adoção de
Modelo de Benchmarking
Regulatório
O Quadro 9 mostra a evolução dos custos operacionais Dado que o modelo de Empresa de Referência utilizado
regulatórios reconhecidos para a Escelsa e para a Ban- no Brasil não tem atendido as premissas de uma regu-
deirante. Observa-se uma descontinuidade significativa lação eficiente, propõe-se a substituição da metodologia
registrada no 2º ciclo que não é aderente ao crescimen- por outra mais simples e prática, como o Benchmarking.
to de mercado das empresas e aos ganhos de produtivi- Esta lógica é aderente à proposta do regulador esta-
dade do setor. belecida na Resolução 234/06, onde o Benchmarking é
Além de penalizar as empresas, essas descontinuidades utilizado como balizador dos resultados obtidos para a
geram instabilidade na sinalização de preços. Isto na Empresa de Referência. Além disso, essa alteração pre-
prática significa a perda do “alvo” a ser atingido pela dis- serva a lógica de Regulação por Incentivos atualmente
tribuidora e, portanto, a perda do incentivo. As empresas em vigor no setor elétrico brasileiro.
fazem todo o planejamento baseado na sinalização re- O modelo de Benchmarking permitiria solucionar uma
gulatória, que além de ser conhecida tardiamente, muda série de dificuldades identificadas na aplicação do
abruptamente sem claras justificativas ou discussões modelo vigente, baseado em Empresa de Referência. Ao
com as partes interessadas. se basear em práticas gerais da indústria, não se atendo
a detalhes específicos de cada Processo e Atividade
das empresas, o modelo de Benchmarking diminuiria
Quadro 9: Descontinuidade dos Custos a complexidade da regulação como um todo. A menor
Operacionais Regulatórios complexidade, além de reduzir a margem de discriciona-
riedade do regulador, possibilitaria a melhor reproduti-
bilidade do modelo pelas empresas e a implementação
:ljkfjFg\iXZ`feX`jI\^lcXki`fjoD\iZX[f mais rápida da regulação, evitando o estabelecimento
de resultados provisórios e instáveis que enfraquecem a
<jZ\cjX eficiência da regulação.
)-' ('#' O Benchmarking é uma ferramenta bastante adequada
:ljkfjFg\iXZ`feX`jd`c_‘\jI

0#, à realidade brasileira, visto que o Brasil é um dos pou-


),'
D\iZX[fd`c_‘\jBN_

0#' cos países no mundo que possui um grande número de


)+'
/#,
distribuidoras (61 empresas), o que é fundamental para a
construção de uma base de dados robusta, pré-requisito
)*' /#'
para a adoção do modelo. A definição de uma sólida
.#,
))' contabilidade regulatória permitiria comparar custos de
.#'
áreas semelhantes entre empresas distintas e capturar as
)('
-#, especificidades de cada concessionária. Este conceito já é
)'' -#' aplicado por vários paises com resultados muito positivos.
X^f&)''+X X^f&)'',X X^f&)''-X
alc_f&)''.
X^f&)''.X O estabelecimento permanente de uma metodologia de
alc_f&)'', alc_f&)''- alc_f&)''/
Benchmarking permitiria ainda acompanhar a evolução
9Xe[\`iXek\ ano a ano da eficiência do setor e monitorar o ritmo
de adoção das melhores práticas pelas empresas. Tais
)-' (-#'
medidas podem acelerar a convergência do setor a um
:ljkfjFg\iXZ`feX`jd`c_‘\jI

),'
(,#'
novo patamar de eficiência e contribuir para a modici-
D\iZX[fd`c_‘\jBN_

(+#' dade tarifaria.


)+'
(*#,
É importante ressaltar, entretanto, que o modelo de
)*' ()#' Benchmarking, embora mais simples, objetivo e realista,
((#' não torna as empresas imunes aos riscos de uma visão
))'
('#' enviesada do regulador. Assim, a mudança de modelo
)('
0#'
só será positiva se os princípios de coerência, clareza, le-
galidade, previsibilidade e imparcialidade da regulação
)'' /#'
forem seguidos. Caso contrário, essa iniciativa aumenta-
flk&)''jX X^f&)''+X flk&)'',X flk&)''-X flk&)''.X
j\k&)''+ alc_f&)'', j\k&)''- j\k&)''. j\k&)''/ rá ainda mais as dúvidas sobre a eficácia de regulação.

D\iZX[f :ljkfjI\^lcXki`fj

Caderno de Política Tarifária #3 Empresa de Referência 8


5. Considerações Finais
O modelo de Empresa de Referência utilizado pela ANEEL com o modelo aplicado no primeiro ciclo de RTP, evitando
para determinação dos custos operacionais eficientes das abruptas mudanças na sinalização dos custos eficientes
empresas é complexo e de difícil reprodução por parte dos do 1º ciclo e contemplando os custos associados às obri-
agentes, o que favorece a discricionariedade do regulador. gações legais e regulatórias ainda não consideradas.
Adicionalmente, o aprimoramento deste modelo tem b) A partir do 3º ciclo de RTP: a aplicação de um modelo
levado tanto tempo que faz com que seus resultados se- de Benchmarking Regulatório baseado em ampla dis-
jam sempre provisórios, prejudicando os incentivos para cussão setorial para definir os critérios, as métricas das
que as distribuidoras aumentem sua produtividade, informações a serem utilizadas e a forma de compara-
uma vez que elas só conhecem o alvo regulatório após já ção dos custos homólogos de diferentes empresas.
terem implementado suas decisões de investimento. c) A imparcialidade do regulador e o respeito aos princí-
Em síntese, o modelo de Empresa de Referência aplicado pios de uma regulação eficaz, de forma que a aplicação
pela ANEEL, na prática, não tem se mostrado apto para do novo modelo não fique sujeito a vieses e desvios
estimular a busca pela eficiência e favorecer a modicida- que possam comprometer a qualidade da regulação. O
de tarifária, uma vez que, após quatros anos ele é: i) Pro- atendimento dessas premissas é fundamental para que
visório; ii) Incompleto; iii) Discricionário; e iv) Instável. sejam estabelecidas regras que efetivamente induzam à
Desta forma sugere-se: produtividade das empresas e à modicidade das tarifas
para os consumidores.
a) Para este 2º ciclo de RTP: um rápido aprimoramento da
metodologia de Empresa de Referência de forma coerente

Bibliografia

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1999. p. 61-67.

Visão
A evolução sustentável do setor elétrico brasileiro.
Evolução Sustentável: processo de desenvolvimento contínuo que, simultaneamente, 
atende às necessidades dos consumidores, remunera os investimentos das empresas, 
O Instituto Acende Brasil desenvolve estudos e projetos que visam a e gera benefícios à sociedade.
promover a trasparência e a sustentabilidade do Setor Elétrico Brasileiro.
Missão
Presidente: Claudio J. D. Sales Viabilizar a ação empreendedora privada no Setor Elétrico Brasileiro
Diretor Executivo: Eduardo Müller Monteiro materializando a contribuição dessa ação para a Sociedade.
Relações Institucionais: Maria Célia Musa
Ação empreendedora: é a ação criadora, construtora, que, pela aplicação competente e
Desenvolvimento Sustentável: Alexandre Uhlig
inovadora de recursos, permite atender às demandas da 
Assuntos Econômicos e Regulatórios: Fernando Pieroni
sociedade por energia elétrica.
Staff: Eliana Marcon e Melissa Oliveira
Contribuição: competência de gestão do bem/serviço público com eficiência, qualidade
São Paulo: e responsabilidade. Contribuição que também diminui a necessidade de investimentos
Rua Joaquim Floriano, 466 Edifício Corporate, conj. 501  públicos e possibilita ao governo alocar seus recursos em áreas prioritárias como saúde,
CEP 04534-004, Itaim Bibi - São Paulo, SP, Brasil educação, e segurança.
Telefone: +55 (11) 3167-7773
Brasília: Valores
SCN Quadra 5, Bloco A, sala 1210 Eficiência: Atender com eficiência e qualidade às demandas dos diferentes 
Brasília Shopping and Towers públicos por energia elétrica.
CEP 70710-500 - Brasília, DF, Brasil
Telefone: +55 (61) 3963-6007 Transparência: Um relacionamento transparente é claro e verdadeiro. Ele é base de
confiança para as nossas relações com todos os públicos com os quais interagimos.
Email Corporativo: contato@acendebrasil.com.br Compromisso com o Brasil: Nossa contribuição concreta para o desenvolvimento
Assessoria de Imprensa: Tânia Regina Pinto econômico e social do Brasil consiste na oferta eficiente e sustentável de energia.
Telefone: +55 (11) 3167-7773 / (11) 8383-2347 Públicos: entendemos por públicos nossos consumidores, os contribuintes brasileiros, os
três poderes, a agência reguladora, as comunidades locais onde atuamos, as entidades
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Caderno de Política Tarifária #3 Empresa de Referência 9

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