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FACULDADE DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO PARANÁ

Disciplina: DIREITO APLICADO À INFORMÁTICA


Prof. Felippe Abu-Jamra Corrêa

Unidade 1

INTRODUÇÃO A DISCIPLINA

O HOMEM E O CONTEXTO SOCIAL / OS CONFLITOS DE INTERESSE

Desde quando se fala no homem como um ser social, mesmo nas épocas
mais primitivas, se tem de imaginar eventuais formas de divergências entre os
mesmos, sendo que, muitos desses desacordos se davam em virtude de interesses
convergentes sobre um único bem, o que levava a uma disputa entre os
interessados.

Inicialmente, esses conflitos eram resolvidos diretamente pelos próprios


interessados no bem, sendo que a força física ou moral, via de regra, prevalecia,
restando prejudicado o mais fraco. Mais tarde, aquele que gozava de algum respeito
ou liderança dentro de determinado grupo passou a concentrar o poder, sendo
assim chamado a decidir os eventuais conflitos.

Com a evolução social do homem, deu-se o surgimento do Estado como um


ente maior, e seu consequente aparelhamento no intento de controlar e gerir a vida
dos seus tutelados fez com que chamasse para si o dever de dirimir os conflitos
entre particulares.

Assim, pode-se dizer que a jurisdição “é uma das funções do poder do Estado
que tem o objetivo de aplicar a norma editada ao caso concreto”[1].

Ainda para Fredie Didier Jr, “a jurisdição é a função atribuída ao terceiro


imparcial de realizar o Direito de modo imperativo e criativo,
reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas,
em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se
indiscutível”[2].

Portanto, a jurisdição pode ser entendida como a substituição processual,


pelo Estado, dos indivíduos interessados em um mesmo bem, ou seja, que compõe
uma lide. É através dessa parcela de poder, sempre observando todos os princípios
processuais, que o Estado vai julgar os conflitos de interesses individuais, sempre
visando a pacificação social.

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A jurisdição é dividida em Justiças Especiais e Comuns, sendo as Especiais:


(i) Justiça do Trabalho; (ii) Justiça Militar; e (iii) Justiça Eleitoral; e Comum: (i)Justiça
Estadual; (ii) Juizados Especiais; e (iii) Justiça Federal.

Dentre os princípios que regem a jurisdição, importante destacar os


seguintes:

(i)Inércia: a atividade jurisdicional ocorre somente se a parte interessada


provocar o Estado.

(ii) Indelegabilidade: somente o Poder Judiciário exerce a jurisdição, conforme


os limites Constitucionais, não podendo essa ser delegada ao Executivo ou
Legislativo.

(iii) Inevitabilidade: é inevitável a atuação da atividade jurisdicional do Estado


salvo a possibilidade da resolução do conflito por meio de arbitragem ou
autotutela.

(iv) Indeclinabilidade: não pode o Juiz abster-se ou recusar-se a aplicar a


norma ao caso.

Quanto às características da jurisdição, podem ser destacadas:

(i) Lide: sua existência é constante na atividade jurisdicional, pois “é a


existência de conflito de interesses que leva o interessado a dirigir-se ao juiz e
a pedir-lhe uma solução”[3].

(ii) Substitutividade: O Estado-Juiz após provocação para exercer a atividade


jurisdicional, substitui os sujeitos envolvidos na lide.

(iii) Definitividade: a decisão tomada pelo juiz é suscetível a tornar-se


imutável, obrigando as partes e não podendo mais ser revista, ao contrário
das decisões Administrativas, por exemplo, que podem ser revistas pelo
Poder Judiciário.

Ação

A ação nada mais é que o meio hábil pelo qual o indivíduo pode exigir que o
Estado tome providências, apreciando assim o caso apresentado, e solucionando a
crise através de seu poder, ou seja, da jurisdição.

Ou, nas palavras de Humberto Theodoro Júnior, “o direito a um


pronunciamento estatal que solucione o litígio, fazendo desaparecer a incerteza ou a
insegurança gerada pelo conflito de interesse, pouco importando a solução a ser
dada pelo juiz” [4].

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É, portanto, através dela que se busca a prestação jurisdicional, para que se


aplique a lei aos fatos trazidos ao Estado-Juiz.

Quanto aos elementos da ação, identificamos:

(i) as partes, ou autor e réu, envolvidos na demanda;

(ii) causa de pedir, que “é o resultado da somatória dos fatos com a


fundamentação jurídica do pedido”[5];

No que concerne a causa de pedir, como já dito, tal engloba os fundamentos


jurídicos previstos na legislação, sendo a “causa de pedir próxima”; e ainda os
fatos que fundamentam a pretensão, sendo esses a “causa de pedir remota”.

(iii) pedido, que é exatamente aquilo que busca o jurisdicionado, norteando


assim a lide, sendo necessária relação lógica entre o que se pede e os fatos
narrados.

Dentro do Estado Brasileiro temos os Poderes Legislativo, Executivo e


Judiciário, que coexistem de forma separada, independente uns dos outros e de
forma harmônica, conforme resumo abaixo.

NOTA DO PROFESSOR: vale a ressalva que mesmo dentro dessa divisão de Poderes
o Brasil tem passado nesses últimos anos por uma situação bastante peculiar, no
qual essas instituições têm sido levadas a situações bastante desafiadoras. Assim
mesmo os estudiosos do Direito têm repensado a estrutura jurídica brasileira, incluída
inclusive a possibilidade de alterações na Constituição Federal.

PODER LEGISLATIVO

A forma do Estado brasileiro é federal e o legislativo é, estruturalmente,


bicameral, ou seja, é composto por duas Casas legislativas que compõem o
Congresso Nacional, órgão que desempenha a função legislativa.

Para o desempenho dessa função as Casas podem se reunir separadas ou


conjuntamente.

PODER EXECUTIVO

Conjunto de órgãos e autoridades públicas que têm função administrativa e


adota os princípios da soberania popular e da representação.

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Eleito por sufrágio popular, em eleição de dois turnos

Exercido pelo presidente e seus ministérios

PODER JUDICIÁRIO

O Judiciário tem por função típica o exercício da jurisdição, que consiste no


poder de dizer o direito aplicável a uma controvérsia, deduzida pessoalmente em
caráter definitivo e com força institucional do Estado.

O traço marcante da jurisdição é a definitividade, pois o ato jurisdicional é


capaz de produzir a coisa julgada – art. 5º, XXXVI -, assim as decisões levadas ao
Judiciário, após escoados todos os recursos, se revestem de caráter definitivo,
diferentemente das decisões administrativas que não é definitiva, podendo ser
levada ao Judiciário. Assim como os demais poderes o Judiciário também possui
funções atípicas que tem a natureza administrativa e legislativa.

Sua divisão será melhor vista no módulo dois a seguir.

DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS; CONCEITOS

“Na linguagem comum, a palavra direito geralmente é empregada para


significar o que é correto, pessoa que é correta, ou o comportamento de uma
pessoa. Ou mesmo uma coisa que está em ordem, sem defeitos. Neste sentido se
diz que fulano é um homem direito.”, conforme leciona Hugo de Brito Machado.

“Direito é o conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a


regular a vida humana em sociedade.”, conforme o professor Sérgio Pinto Martins.

Para o mesmo doutrinador “O objetivo do Direito é regular a vida humana em


sociedade, estabelecendo, para esse fim, normas de conduta, que devem ser
observadas pelas pessoas. Tem por finalidade a realização da paz e da ordem
social, mas também vai atingir as relações individuais das pessoas.”

“A convivência, ou vivência em sociedade, exige sejam preservados alguns


valores, entre os quais se destacam, porque de fundamental importância, a
segurança e a justiça. A finalidade essencial do Direito é a preservação desses
valores fundamentais. Para alcançá-la, o Direito limita poderes.” (Hugo de Brito
Machado)

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O Direito tem uma função ordenadora para a sociedade. Sociedade e Direito.


A missão está relacionada à harmonia das relações intersubjetivas.

O Estado moderno reservou para si o exercício da função jurisdicional, como


uma de suas tarefas fundamentais.

Cabe-lhe, pois, solucionar os conflitos e controvérsias surgidos na sociedade,


de acordo com a norma jurídica reguladora do convívio entre os membros desta.

Todavia, a jurisdição é inerte e não pode ativar-se sem provocação, de modo


que cabe ao titular da pretensão resistida invocar a função jurisdicional, a fim de que
esta atue diante de um caso concreto. Assim fazendo, o sujeito do interesse estará
exercendo um direito (ou, segundo parte da doutrina, um poder) que é a ação, para
cuja satisfação o Estado deve dar a prestação jurisdicional.

"Ação, portanto, é o direito ao exercício da atividade jurisdicional (ou o poder


de exigir esse exercício). Mediante o exercício da ação provoca-se a jurisdição, que,
por sua vez, se exerce através daquele complexo de atos que é o processo" (Teoria
Geral do Processo - Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamarco)

A ação nada mais é que o meio hábil pelo qual o indivíduo pode exigir que o
Estado tome providências, apreciando assim o caso apresentado, e solucionando a
crise através de seu poder, ou seja, da jurisdição.

Para Humberto Theodoro Júnior “o direito a um pronunciamento estatal que


solucione o litígio, fazendo desaparecer a incerteza ou a insegurança gerada pelo
conflito de interesse, pouco importando a solução a ser dada pelo juiz”.

A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA PARA O DIREITO

Sociedade da Informação é algo “novo”?

Obras clássicas: Fahrenheit 451 (Ray Bradbury, 1953) e 1984 (George


Orwell, 1948).

Manuel Castells: desde a década de 80 estuda o tema, e tem a importante


obra, uma trilogia chamada “A Era da informação: Economia, sociedade e
cultura”

(Sociedade em Rede, O Poder da Identidade e Fim de Milênio)

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Caso haja interesse segue palestra recente do Autor em Porto Alegre:

Manuel Castells - Redes de indignação e esperança

Adalberto Simão Filho no artigo "Sociedade da Informação e Seu Lineamento


Jurídico" diz que Sociedade da Informação trata-se de transição da idade moderna
para a pós moderna e cita Jeremy Rifkin:“nova etapa do capitalismo baseada no
tempo, na cultura e na experiência vivida transformados em commodities, enquanto
a etapa anterior era fundada na transformação da terra e dos recursos
em commodities”.

"O termo Sociedade da Informação não é necessariamente hermético sendo


representação de um “discurso social recente [...] construído paulatinamente pelos
partícipes desse novo processo revolucionário, de ruptura com o antigo modo de
pensar".

(GARCIA, André Pinto. Certificação Digital: da sociedade da informação às


assinaturas eletrônicas. In: COÊLHO, Marcus Vinicius Furtado; ALLEMAND, Luiz
Cláudio (Coords.). Processo Judicial Eletrônico. Brasília: OAB Conselho Federal,
2014. p. 107)

No Brasil, temos o “Livro Verde da Sociedade da Informação” datado de do


fim da década de 90/ início dos anos 2000, e busca a “formulação de uma estratégia
governamental para conceber e estimular a adequada inserção da sociedade
brasileira na Sociedade da Informação, como forma de se vivenciar uma novo
paradigma lastreado na revolução tecnológica”.

Tinha como objetivos: alavancar setor econômico, social e tecnológico...

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De outro lado o então diretor geral da UNESCO Koichiro Matsuura alertou


que: “informação não é conhecimento. E a incipiente sociedade mundial da
informação, [...] só irá realizar seu potencial se facilitar o surgimento de sociedades
do conhecimento pluralistas e participativas que, mais do que excluir, incluam”

Esse raciocínio nos leva a pensar se de fato a sociedade da informação


promove inclusão ou então se está facilitando com o surgimento de ainda mais
barreiras (digitais) e excluídos digitais...

Assim necessário começarmos a raciocinar se a Internet é um lugar com


regras próprias? Ou é apenas um meio, sendo que teremos que rever a questão de
territorialidade das normas? É possível se falar em uma INTERNÉTICA?

O STF, em 28/10/2015, deu um bom indicativo sobre o alcance do tema,


quando decidiu no julgamento do Recurso Extraordinário 628624 que cabe à Justiça
Federal julgar crime de publicação online de conteúdo pornográfico infantil, pois
conforme discorreu o Ministro Edson Fachin “a questão é de competência da Justiça
Federal ao considerar a amplitude global do acesso ao site no qual as imagens
ilícitas foram divulgadas, caracterizada, com isso, a internacionalidade do dano
produzido ou a potencialidade do dano”.

Logo uma vez mais legitimada a urgência de que o Direito acompanhe as


evoluções tecnológicas, de modo a se alcançar uma efetiva tutela dessa Sociedade
Tecnológica. Sociedade essa que há de estar ciente dos enormes benefícios que
as TICs e a internet podem proporcionar, mas ao mesmo tempo sabedora de que os
atos indevidos praticados nesses ambientes trazem conseqüências e deveres que
serão tutelados adequadamente não só pelo Poder Judiciário, mas também pelo
Executivo, Legislativo e a sociedade como um todo, cada um dentro de sua esfera
de atuação.

Assim se descortina um novo momento de reflexão para o Direito. Todos


esses desdobramentos decorrem do uso cada vez mais maciço e indiscriminado, e
muitas vezes irresponsável, das tecnologias de informação e comunicação e,
também da internet, sendo que a ciência jurídica não pode se furtar a acompanhar e
principalmente, mesmo que em linhas gerais, regulamentar essa nova sociedade
crescente e que sepulta definitivamente a anterior sociedade analógica.

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1] Menna, Fábio de Vasconcellos. Elementos do Direito. São Paulo: RT, 2009, p. 45.

[2] Didier Junior, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Salvador: JusPodium, 2009, p. 67.

[3] CINTRA, A. C. de A.; GRINOVER, A. P.; DINAMARCO, C. R. Teoria Geral do Processo. 24. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008. p. 150.

[4] THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 37. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
p. 29.

[5] Menna, Fábio de Vasconcellos. Ob. cit., p. 31.

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