Antropologia
Antropologia
Antropologia
e medieval do homem é o resultado de um trabalho que fiz a partir do livro Antropologia Filosófica de
Henrique de Lima Vaz [0]. Não se pretende aqui, evidentemente, limitar a conceituação dessas
concepções a esse apanhado de notas, mas apenas apontar algumas chaves interpretativas
fundamentais.
a alma como duplo do corpo (uma “sombra” da mente ou alma no Hades que antes habitava um corpo
na vida terrena) em Homero, e a alma como entidade separada do corpo (pode reencarnar em
sucessivas existências) no orfismo.
vida social e política marcada pela busca da “excelência” (areté); figuras do herói guerreiro e herói
fundador da cidade/civilizador; mais adiante a ideia de areté se transpõem do herói guerreiro para o
sábio e do herói fundador para o legislador (com o declínio da aristocracia guerreira e surgimento das
democracias).
ao ethos da areté política e guerreira junta-se o ethos laborioso do rude trabalho dos campos como
formador da virtude (Hesíodo — Os Trabalhos e os Dias).
os sofistas antecipam a concepção clássica do homem ao tornar o homem e suas capacidades o principal
objeto da filosofia (ilustração sofística).
a valorização da ética individual que encontra sua expressão máxima na interpretação socrática do
preceito do oráculo de Delfos: “conhece-te a ti mesmo”.
surgimento do conceito de alma socrático: para Sócrates, “é a sede de uma areté que permite medir o
homem segundo a dimensão interior na qual reside a verdadeira grandeza humana. É na ‘alma’ […] que
tem lugar a opção profunda que orienta a vida humana segundo o justo ou o injusto […] constitui a
verdadeira essência do homem, sede de sua verdadeira areté”. [1]
a antropologia platônica pode ser considerada uma síntese de três concepções do homem que a
antecederam: a) tradição pré-socrática da relação do homem com o Cosmos; b) tradição sofística do
homem como ser de cultura destinado à vida política c) o conceito de Sócrates de “homem interior” e
da alma.
a tripartição da alma: racional, irascível e concupiscente. As três partes são ordenadas segundo a justiça,
regidas pelas virtudes respectivamente correspondentes: sabedoria, coragem e moderação.
a natureza, a origem e o destino da alma estão diretamente relacionados à Teoria das Ideias.
a experiência fundamental do eros para o homem; encontram sua unidade os polos do eros e logos pela
contemplação, ao mesmo tempo, intelectual e extática, das Ideias do Belo e do Bem.
busca uma síntese entre o fisicismo jônico e o finalismo intelectualista de Sócrates, e a filosofia da
cultura herdada dos sofistas.
o homem tem seu lugar definido na estrutura hierárquica da physis, mas pode elevar-se, pela theoría, à
contemplação das realidades divinas, transcendentes.
“O centro da concepção aristotélica do homem é, assim, a physis, mas animada pelo dinamismo
teleológico da forma (entelécheia) que lhe é imanente e, como forma ou eidos, é seu núcleo inteligível.”
[2]
o homem é um animal racional; a racionalidade é a diferença específica para com os outros animais (o
homem não pode ser considerado um ser simplesmente “natural”, está dotado de logos — da fala e do
discurso).
a atividade racional (logos) do homem se divide em três, de acordo com o fim que estas têm em vista e
assim, dá origem a três ciências; contemplação, práxis e fabricação.
o homem é um ser ético e político; é destinado à vida comum na polis e só assim se realiza enquanto ser
racional; vida ética e política são artes de viver segundo à razão.
o indivíduo é situado no centro da reflexão filosófica devido ao declínio e fim da polis grega enquanto
comunidade soberana.
está no centro da reflexão sobre o homem a busca pela eudamonía: Epicurismo e Estoicismo partem do
pressuposto da submissão ao logos como condição necessária para alcançar a eudaimonía.
a felicidade está identificada com a conquista do prazer (hedoné) verdadeiro para tornar possível a
imperturbabilidade (ataraxia) — condição estável para fruição do prazer (Epicurismo).
condições para fruição estável do prazer: serenidade de ânimo, ausência de temor e sabedoria
(Epicurismo).
através das virtudes o homem deve conformar-se à natureza (physis) e obedecer ao logos nela imanente
(Estoicismo).
as condições para a felicidade que ganham centralidade são aquelas que favorecem a independência do
indivíduo, o senhorio de si mesmo (autárkeia) (Estoicismo e Epicurismo).
“a ideia inteligível do homem compreende a presença da faculdade sensível” [3] — o papel essencial dos
sentidos no processo de conhecimento (Neoplatonismo).
concepção alma-corpo (estrutura ontológica do homem) não dualista em sentido gnóstico — dualista
em sentido finalista: a alma voltada para a inteligência — condição superior; a alma voltada para o corpo
— condição inferior (Neoplatonismo)
sob uma perspectiva soteriológica, é constitutivo do homem uma unidade com Deus em três momentos
(itinerário salvífico — desígnio de salvação): unidade de origem, unidade de vocação, unidade de fim.
antropologia agostiniana (dimensão da interioridade, do Eu): o homem como ser uno (unidade entre
corpo e alma, homem e Deus); o homem como ser itinerante (o tempo como caminho para a
eternidade); o homem como ser para Deus (o homem está ordenado em direção à Deus e ao mundo
espiritual [Civitate Dei]).
o conceito do homem é profundamente influenciado pelo conceito agostiniano de liberdade — tema
fundamental para a concepção de homem da civilização Ocidental.
“a alma intelectiva é, pois, a enteléquia do corpo ou o ato que o integra na perfeição essencial do ser
homem e de sua unicidade deriva a unidade do agir e fazer humanos…” [4]
o homem pode alcançar a perfeição relativa na medida em que pode participar da perfeição absoluta de
Deus; o fim último do homem é alcançar a bem-aventurança, a contemplação das realidades divinas
(Tomás de Aquino).
Referências:
[0] O texto que transcrevo aqui é, em grande parte, construído por paráfrases ou reproduções literais do
próprio texto de Lima Vaz. Contudo, com o intuito de apresentar o conteúdo de uma maneira menos
acadêmica e “carregada” de referências decidi apenas colocar as referências em citações longas
retiradas do texto original. De qualquer maneira, o crédito do conteúdo aqui reproduzido vai
inteiramente para Lima Vaz.
[1] VAZ, Henrique C. de Lima. Antropologia Filosófica I. São Paulo: Loyola, 1992. p.34.