Jussara Leal - Sem Limites (1) - Sem Limites

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“Porque há o direito ao grito.

Então eu grito.”
Clarice Lispector
Copyright © 2021 Jussara Leal

SEM LIMITES

2ªEdição

LIVRO ESCRITO EM 2014

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânico sem consentimento e
autorização por escrito do autor/editor.

Capa: Designer Tenório


Revisão: Gramaticalizando Assessoria
Diagramação: Jussara Leal

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos


são produtos da imaginação do autor(a). Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO


DA LÍNGUA PORTUGUESA.
SUMÁRIO:

Sumário
Quando a vida não era tão louca
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Final
“Ainda deitada debaixo do céu tempestuoso
Ela disse: Oh, oh, oh, oh, oh
Eu sei que o Sol deve se pôr para se erguer”
Paradise – Coldplay

Por trás de uma mulher “perdida” existe uma mulher que foi impiedosamente
ferida.
Quando se diz Mariana Barcelos, a primeira coisa que deve surgir na mente
das pessoas é toda a loucura que carrego comigo. Mari Barcelos é sinônimo
de diversão, felicidade, sensualidade, promiscuidade. Correto? O que poucas
pessoas sabem é que, durante 18 anos da minha vida, eu fui uma pessoa
completamente diferente.
Não posso dizer que minha vida era regida na santidade, isso seria mentira. O
meu primeiro beijo na boca foi aos doze anos de idade, com um garoto de 11
que se chamava André. Acredite, mesmo tendo trocado saliva com ele, aquilo
foi extremamente inocente. Estávamos em um famoso clube da cidade,
éramos namorados há poucos meses e nunca havíamos nos beijado. Então
aconteceu e foi mágico. Uma das cenas mais bonitas que carrego comigo.
Após o ato, ambos saímos correndo, movidos pela empolgação, e nos
jogamos na piscina, onde, acompanhados de nossos dois melhores amigos,
começamos uma guerra de água para comemorar. Depois disso, namoramos
pouco tempo e mal nos beijávamos, o que era no mínimo curioso. Foi a partir
daí que tudo mudou...
O primeiro beijo na boca é um caminho sem volta.
Pense em uma garota beijoqueira? EU! Beijei todos os garotos beijáveis da
cidade, de cidades vizinhas, da torcida adversária, de outros estados... E, pior,
eu anotava todos os nomes em um caderninho. Na festa de 15 anos da minha
amiga beijei 10 garotos e consegui fazer isso com talento, sem que nenhum
deles desconfiasse do meu malfeito. Eu passei a disputar com as minhas
amigas a quantidade de garotos que beijaríamos nas festinhas. Foi o auge da
minha adolescência.
Mas...
Percebeu que só falei de beijos? Pois é! Quando a maioria das pessoas
possuíam a certeza de que eu já tinha transado com metade da cidade, eu
nunca havia feito nada que além de beijar. Tudo bem, até rolou uns apertos
na bunda, mas nunca passou disso. Uns 3 garotos inventaram que transaram
comigo e eu, ao invés de ficar revoltada, apenas ria. Eu era beijoqueira, mas
sempre possuí uma inocência e o sonho de viver um conto de fadas. Sonhava
que um dia encontraria meu príncipe encantado, que ele me pediria em
noivado de uma maneira encantadora, que teria o casamento dos sonhos e
filhos lindos. Afinal, desde pequena ouvi que a gente nasce, cresce, se casa,
tem filhos... Para mim, essa era a vida perfeita e eu guardaria minha
virgindade para poder viver tudo isso com uma só pessoa.
Aos 17 anos eu ainda jogava bola com os meus amigos na rua, brincávamos
de queimada, vôlei, entre muitas outras brincadeiras. Eu não possuía
preocupações na vida, tampouco pensava em meu futuro profissional.
Concluí o ensino médio sem saber qual curso iria fazer na faculdade, então
adiei os planos e entrei em um cursinho de Recursos Humanos. E foi no
trajeto para a casa que ele me viu e a minha vida inteira mudou...
Era domingo, último dia das férias de julho, eu estava sentada na calçada do
meu vizinho, ao lado da minha casa, acompanhada de todos os meus amigos
que moravam na mesma rua. Minha rua era o paraíso dos adolescentes,
parecia um ponto de encontro dos mais jovens; era sem saída, calma... e foi
assim até entrar um carro em alta velocidade, levantando poeira. Fiquei
ligeiramente assustada quando ele parou em frente a minha casa. No som,
tocava bem alto What Goes around, come back around, do Justin
Timberlake, a música que eu temo jamais esquecer.
O surpreendente começou a acontecer assim que do carro desceu um homem
bastante decidido e se aproximou de mim, sem se importar em cumprimentar
os meus amigos.
“— Mariana, bom dia, pode chamar sua mãe para mim, por favor? — Um
homem jovem, levemente acima do peso, que nunca vi antes, pede.
Curiosamente ele sabe meu nome, enquanto eu não faço a menor ideia sobre
quem ele é.
— Claro, só um momento — peço, ficando de pé. Caminho apressada até
minha casa, acompanhada dele. Penso que ele irá esperar no portão, mas
não é o que acontece. Quando dou por mim, ele está me acompanhando
dentro de casa. Por sorte há todos os meus amigos ali fora. Um grito, e serei
socorrida.
— Mari... — minha mãe surge no corredor e seus pés paralisam ao ver o
homem atrás de mim. — Seu amigo?

— Olá, senhora! Qual o seu nome? — O cara questiona a minha mãe e eu


me viro para encará-lo.
— Ana. E o seu? — Minha mãe pergunta e agora me viro para ela. Talvez eu
deva ficar mais de lado, para que possa olhar para os dois de uma só vez.
— Thiago — ele responde. — Eu sou filho do Raimundo, dono da Nacional
Tintas. Minha família é bastante conhecida e respeitada na cidade. Sei que
parece absurdo eu estar aqui, sem vocês terem a mínima ideia de quem sou,
mas gostaria da permissão da senhora e do seu marido para eu poder levar
sua filha para um passeio. — Minha boca vai até o chão, nem mesmo
consigo esboçar reação, diante do choque.
— Conheço bastante o Raimundo — minha mãe diz sorridente. — Diga a ele
que Ana Barcelos enviou os cumprimentos. Meu marido não está no
momento. Mas, me diga, como saberei se é realmente filho dele? Além disso,
o mais importante, quais as suas intenções com a minha filha? Mariana é
minha única filha e tem minha total proteção.
— A senhora acredita em amor a primeira vista? É o que acontece. Eu
gostaria de ter a oportunidade de poder me apresentar melhor a ela, por isso
estou pedindo a permissão para levá-la em um passeio. Está tendo um Rally
na cidade, estaremos em público, em um lugar com muitos conhecidos.
Prometo trazê-la inteira. Por favor, eu posso implorar... — Eu perdi a minha
voz. Essa situação é no mínimo curiosa.
— Preciso do seu documento. Está de carro? — O tal Thiago diz que sim e
entrega tanto a documentação do veiculo, quanto o RG para a minha mãe.
Fico em choque quando ela anota todas as informações e diz: — Mari, pode
ir.
— Oi?
— Pode ir ao passeio com esse garoto. Gostei dele e os documentos são
verídicos — diz a mulher que não deixa eu sair de carro com o meu amigo de
infância.
— Eu não tenho roupa para ir acompanhar um Rally — digo. — E não sei se
quero ir.
— Por favor, eu te peço uma chance. Se após esse encontro você decidir que
nunca mais quer me ver, irei respeitá-la. Só me dê uma chance — Thiago
pede e me vence.
Me pego subindo a escadaria até o meu quarto e vestindo uma roupa
qualquer para ir com ele.”

No mínimo exótico, não? Mas não para por aí. Ao chegarmos no local do
Rally, fiquei admirada com a maneira como Thiago pareceu ser o prefeito da
cidade, cumprimentando a todos. Sem contar que todo mundo parecia
admirá-lo. Ele era querido até por pessoas que faziam parte do meu circulo de
convivência. A cada passo que dávamos, eu questionava ainda mais o motivo
para eu nunca tê-lo visto.
Conversamos bastante. Ele me contou ser estudante de medicina, morava em
Ipatinga, estava tentando transferência para uma faculdade em BH, me
conheceu através de um conhecido nosso em comum. Eu estava saindo do
cursinho e ele me viu passar. Segundo ele, não conseguiu mais me tirar da
cabeça.
Thiago não era o tipo de cara que eu gostava e costumava ficar, ele era
diferente de todos, desde o biótipo à maneira de conduzir as situações.
Comunicativo, extrovertido, determinado, não preciso dizer sobre o modo
cheio de atitude... e foi após ter a atitude de me beijar, que tudo ruiu.

“— Eu vou beijá-la — anuncia sem me dar tempo para negar. Acreditando


que seria apenas mais um beijo insignificante, retribui. Só não esperava que
tudo em mim iria se ascender quando me permiti ser devidamente beijada
por ele.”

Acima do peso, fora dos padrões de beleza que eu tanto fazia questão, ele era
o dono dos melhores beijos que ganhei. Quanto mais ele me beijava, mais eu
queria beijá-lo. Meu corpo se acordou para a novidade, respondia a cada
movimento e investida dele. Naquele dia, quando ele me deixou em casa,
decretou que eu seria dele. E assim foi.
Ele foi embora para Ipatinga, mas me ligava diariamente do hotel em que
morava. Cinco dias após o nosso encontro, recebi um enorme buquê de
flores. Duas semanas depois, ele surgiu de surpresa na porta da minha casa.
Ele conquistou meus pais, a mim... mas nunca caiu no gosto dos meus
amigos, que insistiam em dizer que ele era horroroso para mim, que ele
parecia lunático e perigoso.
Eu, obviamente, me afastei dos meus amigos. No meu conceito, Thiago era o
próprio príncipe do meu conto de fadas e por ele eu deveria fazer muitas
renuncias. Com 1 mês eu me entreguei a ele, em um sexo onde ambos não
atingimos o prazer. A safada beijoqueira que habitava em mim, desconhecia a
pudica que tinha vergonha de gemer e se entregar ao prazer. Ele era
experiente demais, o oposto de mim. Eu queria que ele me ensinasse, mas
tinha vergonha de pedir porque ele sempre demonstrava impaciência. Thiago
esperava uma atriz pornô na cama e recebeu uma menina inexperiente e
tímida, isso levou para ele uma gama de frustração. Mesmo assim
continuávamos juntos. Os momentos bons duraram apenas 2 meses, mas eu
estava apaixonada demais para enxergar que os meus amigos estavam certos.
O abuso começou em uma manhã de sábado, quando estávamos na loja do
pai dele e um amigo me cumprimentou. Thiago não gostou daquilo. Me
enfiou em um carro e saiu comigo em alta velocidade, levando-me para uma
BR onde deu vários cavalinhos de pau enquanto eu gritava em desespero,
acreditando que iria morrer. Depois disso, ele chorou e disse o quanto me
amava, e eu fiz questão de pontuar a reciprocidade do sentimento.
Deixei de ser a mulher perfeita aos olhos dele. Tornei-me a pessoa que ele
fazia questão de pontuar defeitos e encher de criticas destrutivas. Eu comecei
a me enxergar como uma pessoa inferior, deixei de possuir amor-próprio e só
me enxergava sendo todas as coisas ruins que ele me fez acreditar ser. Na
busca pela perfeição precisei passar a frequentar missas, a me vestir da forma
como ele julgava correto, e acreditava que todas as exigências eram
puramente por amor e cuidado, que ele só queria que eu me tornasse uma
pessoa melhor e mais evoluída. Minha vida passou a girar em torno dele e de
todas as suas vontades. Eu não conseguia enxergar o quão manipulador e
abusivo ele podia ser. Perdi amigos, passei a ocultar dos meus pais todos os
acontecimentos, deixei de ser a melhor amiga da minha mãe, me tranquei
dentro da nossa relação de forma que não podia e nem conseguir me abrir
com os meus pais, que amavam o meu abusador por ele passar a imagem de
namorado perfeito. (Sim, ele conseguia fazer todos se apaixonarem por ele,
mas ninguém sabia da crueldade que ele carregava consigo.) Me tornei atriz.
Eu era obrigada a sair com ele e os amigos médicos dele, mas, sempre antes
de sairmos, ele deixava avisado que era para eu me manter calada porque não
entendia de medicina e poderia falar alguma bobagem se abrisse a boca. E
tudo foi só piorando. Cada dia mais, eu me via envolvida na teia do
relacionamento abusivo. Passei a brigar com os meus pais, a ter acessos
explosivos de raiva, achava sempre que ele estava certo, chorava, era
humilhada em restaurantes a cada vez que via um conhecido e ousava
cumprimentá-lo... foi indo até eu pegar a única coisa que me faria acordar.
Não tenho vergonha de dizer que teria continuado com ele se não fosse a
traição. Eu estava em um estágio avançado de uma doença chamada amor
patológico, causada pelo monstro chamado Thiago.
O peguei me traindo dentro de um carro, com uma conhecida minha. Não fiz
barraco algum, mas coloquei um ponto final na situação e ele não insistiu
desta vez... e sabe o que aconteceu? Mesmo traição sendo a única coisa que
eu jamais seria capaz de perdoar, eu me peguei implorando para voltar para o
meu traidor. Pedi ajuda aos meus pais, aos pais dele, aos amigos...e nada
adiantou. Não me bateu fisicamente, mas destruiu o meu psicológico, me
proibiu de ter amigos, fez com que eu me sentisse inútil e inferior, controlou
e julgou duramente o meu modo de ser. É isso que um relacionamento tóxico
faz com a pessoa. Você sabe que os atos do parceiro são errados e, ainda
assim, você se vê presa a ele. O abuso psicológico é algo sútil, doce como
uma melodia, bem arquitetado, carregado de manipulação. Muitas vezes me
culpei por ter sido traída, sendo que o erro nunca esteve em mim.
Aquela foi o que eu achava ser a maior dor da minha vida. Em minha pouca
vivencia, cheguei a acreditar que jamais sentiria dor tão profunda quanto a
que eu sentir por perdê-lo. Eu pensei que iria morrer sem Thiago, mas eu
descobri que, quem eu achava ser a minha vida, era quem me matava todos
os dias. Ele destruiu uma garota que era realmente boa, que o amava acima de
todas as coisas. Ele me pegou inteira e me deixou quebrada, em migalhas,
então precisei reaprender a viver.
O primeiro mês foi o mais difícil, precisei de terapia, felizmente pude contar
com a piedade dos amigos que deixei de lado, tive apoio incondicional dos
meus pais. O segundo mês foi o mês da revolta, foi o mês responsável pela
mudança da minha vida e o mês em que decidi odiá-lo com todas as minhas
forças.
Passei a beber. Pegava uísques caros que meus pais colecionavam e bebia
todas as garrafas. E, para que eles não desconfiassem, as preenchia com água.
Conheci uma turma da pesada. Ter me juntado a eles só piorou a situação, foi
o passaporte para a quase destruição. Eu passei a sair quase todos os dias,
passei a consumir álcool excessivamente, e foi bêbada que tive o primeiro
grande sexo da minha vida, onde me entreguei de corpo e alma, externando a
revolta que habitava em mim. Como eu acreditava ser a culpada por ter sido
traída, por ser a mulher certinha, cheia de valores e sexualmente tímida, fixei
em minha cabeça que tudo seria diferente e que jamais seria corna
novamente. Decidi radicalizar e da adeus à garota boa que fui um dia.
Em minhas buscas por novas sensações e descobertas, encontrei outro cara
ideal: Pedro. Foi com ele que me libertei de verdade sexualmente e aprendi
tudo o que não havia aprendido com Thiago. Descobri todos os prazeres
sexuais, testei as mais diversas posições, deixei de me intimidar e me tornei
uma devassa na cama. Tudo isso impulsionado pela revolta. Pedro era o
homem perfeito para eu me relacionar, mas eu não era mais a mulher
perfeita... o fiz sofrer com a minha falta de juízo e o modo impiedoso que
adquiri. Eu gostava dele, mas gostava mais da libertinagem.
Tomei trauma de relacionamentos e ninguém podia me julgar. Mas, errei em
ter feito desse trauma o carro chefe da minha vida. Novamente meus amigos
deixaram de me conhecer, porque a Mariana que eles conheciam era uma
garota gente boa e de família, totalmente diferente da Mariana que me tornei:
louca, impulsiva e incontrolável.
Bebidas, baladas, sexo...
Precisei até mesmo fingir ser a filha perfeita para que meus pais permitissem
a minha permanência no Brasil quando se mudaram para NY. Eles confiaram
em mim, mas não sabem todas as coisas que aprontei e venho aprontando dia
após dia. Fui mestra em mascarar o quão destruída fiquei.
Eu fui muito quebrada, perdi a fé em mim, perdi a fé nas pessoas, passei a
acreditar mais nas tramas de terror do que nos filmes de romance. É isso que
acontece quando você encontra alguém manipulador, capaz de seduzir a
todos com palavras, e inteligente o bastante para te fazer acreditar que suas
opiniões e intenções são boas e unicamente corretas.
What goes around, comes around… a letra diz que tudo que vai, um dia
volta, mas ele não voltou e eu não fui capaz de recuperar a garota incrível e
cheia de planos que fui um dia. Porém, aos poucos fui me tornando uma outra
mulher; uma versão que descobriu o seu valor e que tornou-se imparável.
A boa notícia é que passa. Como tudo na vida, isso também passa. Somos
capazes de superar os traumas deixados por um relacionamento tóxico, somos
capazes de enxergar que aquela relação era errada, capazes de reencontrar o
amor-próprio perdido, capazes de sacudir a poeira e dar a volta por cima. E,
principalmente, somos capazes de enxergar o nosso verdadeiro valor e esse é
o grande X da questão; uma vez que você enxerga isso, deixa de permitir que
as pessoas te machuquem e, então, você passa a ser grande maestra da própria
vida.
É preciso entender que cada acontecimento ruim traz lições valiosas,
aprendizados que você carregará para o resto da vida. E, dessa história
massacrante, eu tirei extraí tudo que serviria para o meu crescimento.
Durante muito tempo eu me fechei para o amor, mas, quando o verdadeiro
amor tem que acontecer, ele atravessa todas as suas barreiras, te sacode e faz
seu coração bater mais forte do que já foi capaz de bater um dia. Te mostra
que o que você conhecia como amor no passado, não é nada comparado ao
verdadeiro sentimento.
E é sobre isso a minha história: a história da garota perdida que foi
devidamente encontrada. Acredite, perder-se também é o caminho!

Em memoria – ANDRÉ LACERDA


Que no céu tenha alguma grande piscina e que você esteja fazendo guerra
de água e sorrindo, feliz como sempre foi.

PS: “THIAGO”, QUE A SUA VIDA SEJA UM ... (EMOJI DE MACAQUINHO COBRINDO
A BOCA)
4 ANOS ATRÁS
— Precisamos nos casar logo, é o que todos esperam, Arthur, só
assim conseguirei ter parte da empresa do papai — Laís diz pela milésima
vez, conseguindo assim, vencer pela insistência.
Eu gosto dela, mas não o suficiente para assumir algo tão grandioso
como um casamento.
Laís é uma mulher linda, apesar de não ter muitas curvas como gosto.
Magra, esguia, cabelos loiros naturais que batem nos ombros e um sorriso
perfeito. No início do namoro eu investi minhas fichas na relação. Ela era
alegre, animada e toda a junção dessas qualidades, somadas à sua beleza
impecável, fez com que eu levasse as coisas adiante. Porém, aos dois anos de
namoro, tudo que ela faz é me pressionar para um casamento.
É o que todos esperam. Todos, exceto minha família.
Eu não os ouço, eu cedo às vontades de Laís, sempre. Não por amá-la
a ponto de ser capaz de fazer tudo que ela queira, apenas pelo comodismo em
que me encontro. É cômodo tê-la. É bom para minha carreira que eu seja
casado, traz um pouco mais de credibilidade aos meus vinte e oito anos de
idade e aos meus seis anos exercendo o cargo de advogado de uma grande
multinacional. E, convenhamos, não é muito sacrifício se casar com uma
mulher linda.
As coisas são como são, enfim.
— Tudo bem. Nos casaremos.
— Você está falando sério? Posso começar a providenciar tudo? —
pergunta, empolgada, e eu apenas aceno a cabeça em concordância.
P.S.: Esse período em que organizou o casamento foi o último em que
eu a vi animada.

DOIS MESES DEPOIS


— Ainda dá tempo de fugir, irmãozinho — minha linda e doce irmã
diz, com lágrimas nos olhos, quando estou prestes a entrar na igreja para selar
meu destino.
Eu não fujo.
Não sou um homem que foge dos compromissos. Se permiti que isso
acontecesse, eu irei honrar a minha promessa. Estou com a mente anuviada,
doze horas não foram suficientes para dissipar todo o álcool e todo sexo
quente que tive em minha despedida de solteiro. Ainda sinto o gosto das três
mulheres que fecharam minha vida de solteiro com chave de bo... ouro.
Agora, tudo o que espero é que essa cerimônia possa acabar e eu possa ir
dormir por pelo menos 24 horas seguidas.
Talvez, quando acordar, eu esteja mais disposto a consumar o
casamento.

3 ANOS DEPOIS

Mais uma noite trancado no escritório fingindo trabalhar. Até quando


vou me permitir viver dessa maneira? Não faço ideia!
Os dois primeiros anos foram mais fáceis de serem levados. Mas,
desde quando resolvi querer um filho, há um ano, as coisas simplesmente
saíram dos trilhos o suficiente para eu mudar de ideia. Eu quis um filho por
todos os motivos errados. Eu quis para poder, ao menos, ter algo bom nessa
vida infeliz que eu e Laís levamos, quis acreditar que talvez isso pudesse ser
a chama para acender algo, que é completamente inexistente, entre nós dois, e
quis, principalmente, para ter um motivo para ficar.
Ela abomina crianças, logo não quis. Desde então me mudei para o
quarto de hóspedes e estamos vivendo um casamento de fachada. Eu me sinto
tão miserável como homem, que nem mesmo tenho a capacidade de traí-la.
Até meu saldo bancário demonstra minha infelicidade diante da vida.
Eu sou um homem que ganha pouco mais de cinquenta mil reais por mês e
tenho a capacidade de só gastar no máximo três mil reais com despesas
domésticas e lanches. Não há viagens, jantares ou qualquer momento de
lazer, eu nem mesmo tirei férias nos últimos anos. Todo o restante do
dinheiro está lá, aplicado. Tenho praticamente uma fortuna se acumulando e
nem mesmo tenho um herdeiro para que, um dia, possa usufruir disso.

Em algum momento adormeci, pois acordo com a voz de Laís me


chamando. Tento entender onde estou e, quando olho para a porta do
escritório, a encontro encostada nela com uma cara não muito boa.
— Até quando você vai ficar dormindo no escritório ou no quarto de
hóspedes? — pergunta com um tom de amargura, e eu respiro fundo. Não
está bom para mim e tampouco para ela. Eu só vejo infelicidade em seu rosto
que, antes, exalava ao menos o mínimo de alegria, e agora só demonstra
tristeza.
Sabe o que é pior? Eu sou um homem bastante razoável e aberto, ela
poderia facilmente mudar toda a situação, mas apenas não faz e eu cansei de
tentar.
— Vem aqui — chamo, distanciando a cadeira da mesa para que ela
possa se sentar em minhas pernas.
Ela leva um tempo até decidir caminhar em minha direção. Vejo
receio em seu olhar. Eu preciso que ela saiba o quão errado as coisas estão e,
assim que ela se senta em minhas pernas, não perco tempo. Afasto alguns fios
de cabelos dos olhos dela e a encaro.
— Você sabe que não estamos bem, não sabe?
— Eu sei. E sinto muito por isso — responde. Me pergunto por que
não consigo sentir a verdade em suas palavras. Sinto que estou fazendo o
papel de otário às vezes.
— Não temos dezoito anos, mas somos jovens ainda, dá tempo de
consertar as coisas ou sermos felizes com outras pessoas. Nós não somos um
casal, Laís. Nós não transamos, não namoramos, não viajamos, não saímos
juntos, não somos nem amigos. Passamos dias sem conversar e eu não faço
ideia de quando foi a última vez que nos beijamos. É isso que você quer? Que
a gente permaneça juntos apenas para mostrar para a sociedade um falso
casamento perfeito?
— Não — diz, e logo sua boca está em meu pescoço, traçando beijos.
Quantos meses não fazemos sexo? Porra, eu nunca imaginei que um
casamento pudesse ser assim!
— Laís, você sempre acha que uma rodada de sexo pode resolver
tudo. Eu aceito o sexo, mas essa conversa agora é séria, eu estou tentando
salvar pela última vez essa relação, estou aberto a concessões — explico,
tentando afastá-la do meu pescoço, porém, ela rodeia suas mãos em volta
dele e não me solta.
— Eu não quero me separar, quero tentar mais uma vez — fala sua
falsa promessa de sempre. Preciso tentar uma última vez antes que eu possa
seguir minha vida com a consciência tranquila. Ser correto demais, talvez,
seja um defeito. Tudo em excesso torna-se pecado.
— Prometa que vai tentar fazer com que dê certo. — Faço quase uma
súplica e ela responde calando minha boca com um beijo.
Eu sou homem, não consigo controlar tanto as minhas necessidades.
A levo sobre a mesa, derrubando uma pilha de documentos, e tento acalmar
ao menos a necessidade carnal.
É a última chance, a última, antes que eu possa ser livre, porque eu sei
que serei muito em breve. Laís não nasceu para o casamento e para cumprir
promessas.
É uma pena, para ela.
Após um banho demorado, me encontro na empresa passando por
uma sessão tortuosa de entrevistas em busca de uma assistente. Eu já estou de
saco cheio de ouvir as mesmas ladainhas. É triste escutar o discurso
programado de todas as mulheres que entraram aqui. Algumas entrevistas não
duram mais do que dois minutos. Para completar a desgraça toda, a última
garota a ser entrevistada está cinco minutos atrasada, e eu me encontro puto
de raiva o bastante por ter perdido um maldito dia entrevistando dezenas de
pessoas desqualificadas. Ouso dizer que se juntarem as qualidades de todas
elas, ainda assim não chegarão a um nível básico de competência. Algumas
mulheres acham que decote é sinônimo de qualificação em uma entrevista de
emprego, acontece que eu não sou dono de bordel e elas estão fazendo
entrevista no lugar errado.
— Júlia, eu não vou ficar aqui esperando mais — digo ao ligar para a
secretária e ela nem mesmo tem tempo de responder, já que um furacão
irrompe pela porta, me deixando atordoado.
Permaneço com o telefone na orelha observando a mulher diante de
mim, me encarando com a testa franzida, ostentando um cabelo negro
levemente bagunçado e as bochechas coradas. Desço meu olhar e sou
surpreendido pela ausência de um decote, isso já é um ponto a seu favor.
Subo o olhar novamente e a pego encarando minha mão, mais precisamente
minha aliança de casamento. Ela mostra sua autenticidade quando faz uma
careta e respira fundo.
— Boa tarde, senhor. Mil perdões pelo atraso, o trânsito está caótico e
eu bati meu carro na traseira de um idiota — diz e se acomoda na cadeira à
minha frente, e só assim me lembro de desligar o telefone.
Esse jeito despojado e desavergonhado a torna interessante e atrativa
aos meus olhos.
— Seu nome? — pergunto e ela me encara friamente, como se eu
tivesse acabado de dizer uma atrocidade. Ela balança a cabeça, parecendo
dizer algo para si mesma, e logo dá um sorriso que faz minha boca ficar seca.
Ela é tão... cheia de vida.
Radiante.
— Mariana Barcelos. É um imenso prazer, Arthur Albuquerque
Bragança — diz, olhando para a placa com meu nome que está sobre a mesa.
Eu gostaria de falar que o prazer é todo meu, mas apenas me calo, mantendo
o profissionalismo e o respeito ao meu atual estado civil. Gosto como meu
nome soa perfeito em sua boca rosada. Dissipo pensamentos indecorosos e
parto para a pergunta que eu já repeti dezenas de vezes hoje. É deprimente,
mas já estou preparado para ouvir as mesmas respostas.
— Bom, Mariana Barcelos, me diga por que eu deveria contratá-la —
peço e ela abre um sorriso que me faz ficar mais atento e ansioso pela sua
resposta. No fundo, torço para que ela me surpreenda.
É exatamente o que ela faz.
— Primeiro, porque eu sou excepcional em tudo o que faço. Não que
eu tenha trabalhado nisso antes, preciso ser sincera, experiência eu não
possuo, mas me garanto. Se eu não tiver fé em mim, ninguém mais terá —
explica com seriedade. — Obtive as maiores notas na faculdade, e, além de
saber que sou uma mulher competente, tenho sede de independência. Eu
quero, daqui um mês, poder ligar para meus pais em Nova York e dispensar
qualquer tipo de ajuda que eles me dão. Eu quero crescer com as minhas
próprias pernas. Não é justo que eles banquem até a vodca com energético
que eu bebo aos finais de semana. Por esses e por outros fatores, posso
garantir que não irei decepcioná-lo. Seus olhos são azuis? — ela pergunta
quando estou embasbacado o bastante com sua resposta atrevida, mudando
completamente o meu foco. De onde surgiu essa mulher?
— São — respondo e ela se põe a falar novamente. Eu seguro o
sorriso, que se atreve em querer aparecer, e continuo atencioso às suas
palavras.
— Ok. Então, senhor Arthur, eu gostaria que me contratasse, também,
porque eu acabei de terminar um relacionamento, do qual carrego um chifre
de três metros de altura, e eu cansei de ser a Mariana mimadinha que tem pais
ricos e é completamente dependente. Não sou o tipo de mulher que gosta das
coisas fáceis e que aceita pessoas me bancando. Eu tenho vinte e dois anos,
sou recém-formada, mas isso não impede que eu possa mostrar quão
qualificada posso ser como assistente. Eu acredito que o senhor deveria me
dar a chance de crescimento profissional. — Ela termina de dizer e eu
simplesmente quero rir, como não rio há anos. Ela é autêntica, atrevida,
ambiciosa e desinibida. Uma série de fatores que a torna uma bomba-relógio
completa.
Ela é perfeita. Eu preciso dela em minha vida.
— Quando pode começar? — pergunto e ela dá um gritinho agudo
que vai direto ao meu pau, que estava adormecido há alguns meses e só deu
um leve sinal de vida hoje, pela manhã, em um sexo que eu nem mesmo
consegui chegar ao final. Neste momento me sinto um adolescente de quinze
anos sofrendo com bolas azuis.
Estou duro como nunca estive antes.
— Quando o senhor julgar necessário — responde, enfática, e eu
balanço minha cabeça. Por que ela tem que me chamar de senhor? Ninguém
me chama disso.
— Eu a quero aqui amanhã, às oito horas, em ponto — informo, me
colocando de pé, e dou a volta na mesa, parando diante dela, que se apressa
em se levantar após correr seus olhos pelo meu corpo coberto pelo terno.
Devo acrescentar “despudorada” e “quente” à pequena lista mental que estou
fazendo sobre as características que essa mulher, apenas ela, possui.
Mariana me encara e morde o lábio inferior, instantaneamente vejo
seu rosto ganhar um leve toque de rubor.
Foi pega no flagra, senhorita Mariana.
É necessário todo meu autocontrole para encará-la assim, tão
próxima, e demonstrar profissionalismo. Ofereço minha mão a ela e o
simples encaixe de duas partes tão distintas leva toda uma onda de
eletricidade para meu corpo e para minha mente. Incrível!
É quase um frenesi.
Essa mulher tem um grande poder, resta saber se ela tem alguma
noção sobre o que possui. É palpável. Algo me diz que ela pode facilmente
dobrar um homem aos seus pés.
— Estarei aqui amanhã, senhor Arthur — responde, olhando nossas
mãos, e logo se afasta, pegando sua bolsa.
Observo-a caminhar em direção à porta e meus olhos caem
diretamente em uma parte bastante chamativa de seu corpo: ela tem uma
bunda impressionante dentro daquele jeans. A observo de costas, vestindo
uma camisa social preta, calça jeans justa, revelando suas impressionantes
curvas, usando saltos consideravelmente altos. Uau! Ela é dona de um corpo
criado para enlouquecer qualquer homem heterossexual.
— Senhor Arthur? — ela chama e eu balanço a cabeça, tentando
achar um pouco da dignidade que acabei de perder em seu corpo.
— Sim?
— Seus olhos, eles não são apenas azuis, há alguns tons acinzentados
visíveis em determinados momentos, embora, preciso dizer, eles não brilhem
como realmente deveriam brilhar. Posso afirmar que se houvesse um nome
significativo para eles, “azuis nebulosos” soaria a ideia perfeita do que eles
transmitem — diz, sorrindo, e em seguida fecha a porta atrás de si, deixando-
me desconcertado com sua análise pessoal.
Eu não tinha ideia de que no dia seguinte ela me traria uma
casquinha de sorvete de baunilha do McDonald’s, não tinha ideia de que me
ofereceria para levá-la em casa, e eu, muito menos, tinha ideia de que ela se
tornaria uma grande motivação para eu me levantar da cama diariamente.
1 ANO DEPOIS
Profana, promíscua, indecente, imoral, obscena, sem vergonha, sem
limites... Inúmeros adjetivos que combinam exatamente comigo e, ainda
assim, não me fazem sentir uma mulher desvirtuada e corrompida, como
parte da sociedade hipócrita costuma julgar mulheres que possuem tal
liberdade.
Desde que sou eu quem pago minhas contas, ninguém tem o direito de
se meter na forma como conduzo minha vida. Sou dona de mim.
Sou solteira, de carteirinha e tudo mais, há um ano, desde que peguei
meu “namorado” fodendo minha “amiga”, por sinal uma foda muito ruim.
Desde que fiquei solteira, tudo que tenho feito é “gozar” das maravilhas que a
liberdade me oferece.
Esse simples status me dá o direito de ser quem eu quiser e fazer o
que eu bem tiver vontade, desde que não atravesse um caminho infringindo as
regras, como: matar, roubar, destruir famílias, seduzir homens
comprometidos, entre outras.
Ser solteira é ser livre. Ser livre não quer dizer que eu tenha que aderir
à castidade e ao celibato em nome da moral e dos bons costumes. Isso é coisa
do século passado.
Eu gosto de sexo, tanto quanto uma pessoa pode gostar. Eu gosto de
ser tocada, endeusada, gosto da entrega e da troca. Sou solteira, mas nunca
estou realmente sozinha. Eu estou sempre em busca da troca de prazeres, e
isso, ao contrário do que dizem sobre mulheres como eu, não me faz puta,
isso me faz uma mulher bem resolvida, que sabe muito bem de suas
necessidades físicas e carnais. Além disso, sexo é um antídoto poderoso para
a mente.
Eu posso assustar as pessoas com minha autenticidade, mas prefiro
ser autêntica a fazer com que criem uma imagem sobre mim que não existe.
Eu não uso máscaras, sou assim e ponto final. Esse é meu ponto forte.
Algumas atitudes podem vir a assustar, mas só assustam pessoas que
têm a mente fechada. Eu me pergunto como deve ser a vida sexual dessas
pessoas! No mínimo, transam no escuro, de meias e não ousam o bastante.
Ou, talvez, quem me critica é incapaz de conhecer o próprio corpo e o prazer
que pode obter conhecendo a si próprio. De que vale a vida se não existir
qualquer tipo de prazer nela? Prazer é o que me move. E não é apenas o
sexual, mesmo que ele esteja no topo. Tudo o que faço na vida tem a ver com
prazer, tudo.
Eu me conheço, sei o que gosto e o que não gosto, meus limites e,
principalmente, o que me leva além dos limites. Sou boa também em
extrapolar os meus próprios limites.
Sim, não se assuste, essa sou eu!
Não sou amante da hipocrisia. Não quando, nós, mulheres, lutamos
tanto para deixarmos de ser o conhecido “sexo frágil”.
Com todas essas características já citadas sobre minha pessoa, há
outras que precisam ser ditas antes que você construa uma imagem errônea,
deturpada e defasada sobre a minha pessoa. Eu não me envolvo com homens
casados, não sou exibicionista, não me entrego a completos desconhecidos,
muito menos faço sexo sem proteção, ou seja, estou completamente dentro da
“lei”. Então, por que diabos devo viver minha vida em torno de um tabu
imposto pela sociedade hipócrita que me rodeia?
A vida passa como um sopro, e eu estou certa em aproveitá-la.
Se você não o faz, você não sabe o que está perdendo.
Apesar de toda essa loucura, tenho responsabilidades que cumpro
com muito comprometimento. Há um ano trabalho e recebo um salário
excelente, que é o bastante para que eu leve uma vida tranquila, pague
minhas contas e ainda sobre para eu fazer um pé-de-meia. Meus pais foram
advogados bem-sucedidos e agora curtem a aposentadoria vivendo em Nova
York. Desde que nossa família se tornou completamente desunida, somos
apenas eu e eles contra o resto. Estamos felizes assim. Eles são tão loucos
quanto podem ser e eu sou um grão de areia perto da grandeza que os dois
possuem. Meus pais são grandiosos em diversos aspectos.
Eu não nasci para ser “bancada” por ninguém, então, em determinado
momento da vida precisei lutar pela minha independência financeira. Eu
consegui isso. Eu consegui graças ao homem mais gostoso e misterioso que
já conheci em toda minha vida: meu chefe. Não que eu já o tenha visto fora
daqueles ternos de grifes caros e saiba o quão gostoso ele é desnudo, mas
imagino que por trás deles há algo destruidor escondido. O olhar dele é quase
impenetrável, mas eu sei que há algo lá, algo quente e sombrio.
Apenas evito esses pensamentos o quanto posso, mas eles sempre
surgem todas as manhãs e a cada vez que sou solicitada em sua sala.
Moro sozinha no apartamento que meus pais me deram antes de irem
embora. É um apartamento de 120 m², numa excelente localização em Belo
Horizonte, grande e espaçoso o bastante para mim. Morar sozinha é
excelente, realmente excelente, mas, às vezes, sinto falta de um pouco de
caos e me sinto sozinha. Nos momentos em que me sinto assim, sempre surge
alguém para foder minha solidão para fora da mente e me dar o consolo de
uma presença marcante.
É a tal troca que eu tanto amo.
Homens. Descobri muitas coisas sobre eles neste período de liberdade
em que me encontro. Tanto que poderia escrever um guia sexual que ajudaria
centenas de mulheres e até mesmo poderia vir a me tornar um best seller. Há
algo magnífico em ter “amigos coloridos”, há todo um aprendizado da mente
masculina e não apenas sexo.
Eu virei especialista em ler uma boa parte dos homens. Alguns são tão
misteriosos que se torna impossível qualquer chance de descoberta, mas a
maioria não passa de um bando de cafajestes que usam as fraquezas das
mulheres para ganhar vantagens.
Por isso, existe uma característica na minha vida que não abro mão: a
intimidação. Homens tanto adoram quanto morrem de medo de mulheres
intimidantes. Se você mostrar fraqueza logo na primeira frase que trocarem,
fodeu! Homens gostam de mulheres difíceis, mas não as que fazem isso
sendo frescas e manhosas. Eles curtem as que se fazem de difíceis e ao
mesmo tempo brincam com a mente deles, gostam das que deixam no ar
dúvidas e questionamentos sobre as condutas delas.
Por mais que eu não esteja interessada, há muitos homens com quem
jogo. É bom manter muitos em torno de si, há sempre algum tipo de falha no
carinha que você está interessada e, pode ser que, num momento de carência,
você precise optar por escolhas diferenciadas.
Mostre que você é fraca, cheia de mimimi, grudenta e aguarde seu
lugar debaixo dos pés deles.
Mostre que você é foda, bem decidida, independente, conhecedora do
prazer e de si mesma, e assim eles estarão sob seus pés.
É a lei da sedução, atração e algo mais.
Mulheres independentes assustam a merda fora deles.
É fantástico, embora eu tenha aprendido isso um pouco tarde. Aquela
velha história do “bonzinho só se fode” é real.
Eu sei, eu fui boazinha.
Eu era a namoradinha perfeita, dava presentes a cada data
comemorativa, transava com a luz apagada, ansiosa para cada toque que ele
poderia me dar. Eu não tinha um pingo de atitude sexual e me comportava
como a garota perfeita que ia à missa aos domingos de manhã, mesmo
querendo dormir até meio-dia. Possuía um respeito enorme pelos meus
sogros, falava tão baixo que eles mal podiam me ouvir. Eu nunca bati uma
punheta para meu namorado embaixo da mesa enquanto todos estavam
almoçando, e nunca permiti que ele me beijasse na presença das pessoas. O
que eu ganhei? CHIFRE!
Por esse e por todos os demais motivos, eu não pago pau para
homens, apenas faço com que eles paguem para mim. Sou uma ótima
conhecedora de mim mesma. Descobri com o chifre uma nova mulher, e eu
sou apaixonada por ela. Amor-próprio é tudo que uma pessoa precisa ter, o
resto é consequência.
Descobri que não existem príncipes encantados, e essa foi a melhor
descoberta que eu poderia ter feito, porque são os lobos maus, da pior
espécie, que realmente valem a pena.
Eles são mais fortes, mais quentes e... sabe de uma coisa? A maioria
dos homens vão fazer você sofrer, mas, com certeza, você vai sofrer bem
menos se tiver aproveitado cada segundo de fraqueza deles. Permita-se
descobrir o ponto fraco, todos têm, e trabalhe com isso. Não se permita ser
usada, use-os. Tire proveito dos cafajestes que querem apenas te usar.
Obtenha pelo menos prazer, pois prazer é uma das melhores sensações da
vida. O importante de um sexo casual é quantas vezes um homem pode te
fazer gozar. Se ele for realmente bom, você pode colocá-lo em sua lista
“colorida”, se ele for ruim, retribua-o com desprezo. Eles fazem isso com as
mulheres, nós podemos fazer com eles também.
Usar sim, ser usada nunca.
Isso não é toda uma maldita regra. Você não precisa aderir ao
canalhismo deles por completo. Isso significa que, se conseguir descobrir a
real intenção que um homem tem com você, e ver que é algo verdadeiro,
retribua, se for isso que quiser. Todas as regras têm suas exceções. Nem
todos os homens são filhos da puta. Há sempre um que vai chegar e provar o
quão forte ele pode virar seu mundo e derrubar suas barreiras.
Eu espero que assim seja. Enquanto essa pessoa não surge, apenas
vou aproveitar. Quando ele surgir, não poderei dizer que não curti a vida ao
máximo. Isso é tudo. Essa é minha visão sobre a vida. Certa ou não.
Agora mesmo estou me sentindo no auge do poder em cima de um
paredão de som automotivo de cinco metros de altura. Se existe algo que eu
amo nessa vida é ver um homem ansiando por mim. Gosto de jogar com isso.
Por mais que eu não vá fazer nada, sou a porra de uma mulher provocativa.
Gosto realmente do caos, da destruição. Gosto de ver a forma como os
olhares descem pelo meu corpo, e gosto ainda mais de ver a cara de
frustração quando eles descobrem que não têm a menor chance. É nesse
momento que eu dou a mais pura gargalhada e ganho a noite. Porque esses
babacas simplesmente acham que podem conseguir sexo fácil com qualquer
mulher, principalmente com as que vestem roupas curtas e dançam funk
sobre paredões. Eles nos julgam como putas, e eu simplesmente provo que
putas são as mulheres que não os ensinaram a se portarem como verdadeiros
homens. Meu short curto não está relacionado ao meu caráter, assim como
isso vale para milhares de mulheres. Há santinhas que são umas verdadeiras
destruidoras de lares com toda sua devassidão, assim como há eu e meu short
curto, que só ofereço risco a quem eu escolho como adversário. Eu valho
muito mais que muitas freiras que existem espalhadas pelo mundo. Simples
assim! A partir do momento que eu sei do meu valor, nenhuma opinião
contrária vai mudar a ordem dos fatores.
— Você é má! — Duda, minha amiga de baladas, grita
animadamente, rebolando sua enorme bunda. Nós nos damos bem
verdadeiramente. Falamos a mesma língua da night e a cada balada
descobrimos mais sobre nossos limites inexistentes. Descobrimos juntas que
quem tem limite é município, não nós!
Às vezes, meus próprios atos mostram que eu faltei à aula em que foi
ensinada a palavra limite. Na verdade, acho que frequentei até os 18 anos,
mas tive todos os ensinamentos apagados da mente.
Dois homens musculosos sobem no paredão e dou um sorriso de
reconhecimento quando eles se aproximam. Tudo me leva a crer que há uma
força oculta que me dá equilíbrio o bastante para não desmoronar daqui do
alto quando me encontro perdida nos homens ao meu lado.
— Marizinha — um deles diz em meu ouvido, enquanto o outro tem
sua mão em minha cintura.
Não, eu nunca transei com eles. Está aí o problema de ser solteira de
carteirinha e solta, qualquer homem que se aproxima e dança comigo, as
pessoas pensam que eu já transei. O foda é que a maioria dos meus amigos é
do gênero masculino, ou seja, na boca de quem não presta, eu dou pra
caralho.
Eu até dou pra caralho, mas ultimamente tem sido apenas para uma
pessoa específica, que eu tenho meus olhos grudados mesmo estando aqui em
cima.
Voltando aos meus amiguinhos... Os dois são como Debi e Lóide, só
andam juntos e eu já até imaginei como seria fazer um ménage com eles.
Embora nunca tenha feito nada parecido, por falta de coragem, me pego
imaginando se eu conseguiria dar conta de dois gigantes. Um braço deles é da
largura da minha coxa. O pau eu já não tenho ideia, mas, se for comparado ao
tamanho do corpo, tenho certeza de que eu andaria numa cadeira de rodas por
pelo menos três semanas. Meu cu virgem perderia todas as pregas e eu teria
que usar fralda geriátrica.
Assim que os cumprimento, volto meu olhar para um ser que está se
distanciando com uma pequena garota. Não gosto do que vejo, mesmo que
não tenha direito algum sobre ele e seus atos. Acredite em mim, não se trata
de ciúmes, se trata de fogo no rabo!
Eu nunca me permito criar sentimentos, de nenhuma espécie.
Lucas.
Eu esperava ter alguma diversão com ele hoje, assim como em quase
todos os finais de semana temos.
Olho para Duda e a encontro sendo engolida por outro homem
monstruosamente forte. Ela certamente pararia o que estou prestes a fazer.
Minha mente, levemente anuviada pelo álcool, ganha essa batalha
interna e eu me pego descendo do paredão com a ajuda dos meus dois
amiguinhos. Escorrego pelo peitoral desnudo do “Debi” e sorrio de maneira
insana, apertando as mãos sobre seu peitoral duro como aço.
— Isso está ficando bom, amiguinho — digo e ele aperta minha
cintura.
— Marizinha, saia antes que eu deixe de respeitar nossa amizade. —
Ele sorri e fujo das suas garras, afinal, amizade é tudo, ou nada.
Estar num sítio desconhecido não me ajuda muito, mas me pego
caminhando pelo gramado, seguindo mais ou menos a direção em que os vi
do alto. Estou feliz por estar usando uma botinha de cano alto sem salto, caso
contrário essa brincadeira poderia dar muito errado.
Viro o restante da vodca com energético e jogo meu copo longe, sem
me importar com os bons modos de não jogar lixo no chão. Alguns homens
puxam meu braço e os encaro como se eu fosse o verdadeiro diabo, isso faz
com que eles me soltem no mesmo momento. Saber se impor é tão
importante quanto saber fugir. No caso, a imposição me ajudou.
Lucas. Esse é o meu propósito nesse momento.
Eu e Lucas nos conhecemos há pouco mais de quatro meses.
Combinamos de nos conhecer dando uma voltinha de carro pela cidade e
simplesmente terminamos dando voltas e voltas dentro do carro dele. Foi
uma química explosiva e ele ganhou minha eterna admiração quando vi seu
pau pela primeira vez. É algo realmente bonito. Não que seja gigante e tal,
mas o pau dele é tão lindo que eu sinto vontade de colocar em uma moldura e
pendurar no meu quarto, só para poder olhar sempre. É cabeçudinho, rosado
e, para completar, ele sabe usá-lo da melhor forma possível. Desde que fiz a
volta olímpica dentro de seu carro, resolvemos que seria um desperdício não
nos tornarmos amigos de foda. É assim que tem sido desde então, dois
pervertidos atraídos pelo sexo intenso.
Nós temos nosso próprio arranjo. Cada um tem sua vida e seus
amigos. Cada um curte da forma como quer, mas, de alguma forma, nossos
finais de noite são sempre juntos. Somos o verdadeiro lanchinho da
madrugada, um do outro.
A noite não está no final, porém, desde que tê-lo dentro de mim era
meu plano que começou no momento em que acordei no dia de hoje, eu estou
indo buscar o que quero.
Ele está cometendo a infração de levar outra menina quando sabe que
estou vendo. Isso vai ter consequências.
Caminho mais rápido e, quando paro para tomar um fôlego, o
encontro. Ele está na frente de uma enorme árvore e há uma menina, muito
jovem, diante de si, presa entre seus dois braços, que estão apoiados na
árvore.
Aproximo-me em passos lentos e vejo a menina mais de perto,
completamente corada, remexendo suas pernas, demonstrando nervosismo.
Ela está envolvida na névoa poderosa chamada Lucas. Eu sei o poder de
persuasão que ele possui, mas não é justo que ele esteja desperdiçando isso
com uma ninfeta que obviamente é inexperiente e talvez até virgem.
— Olá, coleguinhas! — digo e Lucas se vira para mim. Ele é um puto,
é mais que um puto, pelo simples fato de estar sorrindo de lado para mim,
certo do que vem a seguir.
Eu adoro esses joguinhos...
Game over, Lucas!
Game over, pequena ninfa!
Meu nome é Mariana Barcelos, eu não tenho limites!
— Mari, tudo bem? — Lucas pergunta. É hora do jogo!
— Estaria melhor se sua boca estivesse na minha — respondo,
sorrindo, observando a menina ficar sem cor e boquiaberta ao mesmo tempo.
— Essa é minha amiga, Helô. Helô, essa é minha amiga, Mariana —
ele diz, fazendo as devidas apresentações, que são totalmente desnecessárias.
Para que merda eu iria querer saber o nome dessa garota? Foda-se!
— Você também é amiga de foda dele? — pergunto e a vejo olhar
para ele em um questionamento silencioso, demonstrando descrença e horror,
tudo ao mesmo tempo.
Lucas me encara com uma expressão impagável e ameaçadora. Eu
apenas sorrio e arqueio uma sobrancelha em desafio. Amo uma boa ameaça.
A menina, vendo essa comunicação silenciosa entre nós dois, sai
rapidamente, correndo pelo gramado.
— O que foi isso, Mari? — pergunta, dando dois passos à frente,
parando diante de mim. Eu simplesmente o puxo pela camisa e o beijo forte,
me afastando logo em seguida. Só precisava marcar um ponto: se eu quero,
eu vou e consigo! Preciso apenas sentir que estou no controle da situação.
— Isso foi eu querendo você, por quê? Alguma oposição?
— Não faça isso novamente, você me deixa confuso dessa maneira —
diz, me pegando pela cintura e colando sua boca à minha. Eu recuo, mais
uma vez, ao ouvir as palavras que assustam a merda fora de mim.
— Nós temos um limite estabelecido — digo.
— Você acabou de ultrapassá-lo, você é a única que acabou de fazer
isso.
— Eu nunca fiquei com alguém na sua frente. Se me lembro bem foi
você quem propôs esse acordo após me ver beijando outro homem —
explico.
— Nós estamos tendo uma DR, Mari? Porque se nós estamos indo
discutir a relação, é sinal de que as coisas estão saindo de controle. Estamos
prestes a ir para um caminho onde você é a única que não quer estar. Se você
for por esse caminho, eu vou querer tudo o que tem a oferecer, Mariana.
— Falou o cafajeste master que quer pagar de namorador. O único
caminho que nós iremos, Lucas, é o caminho do sexo, nenhum outro me
interessa. — Deixo bastante claro, para que ele não confunda, embora eu
saiba que foi um ato meu, de completo fogo no cu, que causou essa conversa.
Por sorte, Lucas é um belo prostituto e não perde tempo, logo o clima toma
outra forma.
— E onde fica esse caminho do sexo? Há um atalho? — Ele sorri de
lado enquanto passa o polegar em meu lábio inferior.
— Naquela direção — digo, apontando para o estacionamento, onde
meu carro está.
Como de costume, não perdemos tempo!
No início me sinto estranha o bastante para seguir adiante com essa
transa. Não sou boa em lidar com demais pessoas saindo do controle, o meu
“eu descontrolada” já absorve o suficiente de mim. Só consigo lidar comigo
mesma ultrapassando barreiras, ninguém mais. Porém, sempre há um
porém...
Lucas sabe me ler bem. Com toda sua promiscuidade e sagacidade,
ele é bom em contornar situações adversas.
Ele me leva ao orgasmo facilmente dentro do carro e só paramos
quando ambos estamos esgotados e suados. Era isso que eu precisava,
exatamente isso, a troca...
Nós dirigimos para meu apartamento, onde, após um banho
compartilhado, fazemos mais do mesmo até desmaiarmos de exaustão.

Acordo na manhã seguinte sozinha. Completamente sozinha, como


sempre. Embora seja uma opção, às vezes sinto a solidão mais do que
gostaria de sentir. Minha mente voa ao passado e sinto saudade de quando
acordava aos domingos enroscada em um traidor ou sendo tomada por um
bom sexo matinal.
Entendam bem o que acabei de dizer, eu sinto falta de uma
companhia, e não do filho de uma puta do meu ex.
Ser solteira é realmente minha opção. Não que eu não esteja disposta
a mudar isso se aparecer alguém que valha muito a pena. Apenas no
momento estou envolvida com um bando de cafajestes profissionais do sexo,
tipo o Lucas, e mesmo que eu saiba que ele está se apaixonando por mim, não
é digno da minha confiança.
Talvez demore um tempo até que a confiança no sexo masculino volte
a acontecer na minha vida...
Confiança passou a ter um significado mais relevante desde o
momento em que me vi sendo enganada. A partir daquela noite passei a
confiar apenas em meus pais, ninguém mais. Digamos que sofri um trauma e
não consigo me entregar 100%, apenas metade de mim. Metade de mim
significa: meu corpo e o sexo. Se algum homem, caso consiga ganhar meu
interesse, estiver de acordo com isso, teremos um arranjo, caso contrário, o
“nós” não poderá existir.
NUNCA!
Deixando de rolar pela cama, me levanto e vou até o banheiro, onde
faço minha higiene pessoal e confiro se houve algum estrago no meu corpo.
Sempre acontece, porém, percebo que hoje estou livre de hematomas e isso é
o suficiente para me fazer sorrir. Enfim, após uma noite de sexo com Lucas,
não terei que gastar tubos de base para esconder chupões pelo meu corpo.
Caminho até a cozinha e fico parada alguns longos minutos,
observando a geladeira. Chego à conclusão que meu estado emocional
abalado não permite que eu vá queimar minha barriga no fogão. Se quando
estou alegre minha comida já é uma merda, imagine com certo mau humor?
Sem chance!
Volto ao meu quarto, tomo um banho rápido e visto um vestido floral
estampado, bastante alegre, talvez todas essas cores tragam de volta o meu
ânimo. Deslizo uma rasteirinha pelos meus pés, passo um gloss e faço meus
cabelos molhados ficarem selvagens. Coloco uma argola prata, um bracelete
delicado e pego minha bolsa. Conferindo o resultado no espelho, fico bem
comigo mesma.
Pego uma banana na cozinha, a chave do carro e desço, disposta a me
dar um dia feliz no shopping, sozinha e feliz com a minha própria companhia.
Eu me basto. É isso.
Após colocar uma música animada, dirijo pelas ruas de Belo
Horizonte, cantando e degustando minha banana gigante, minha fruta
preferida. Parada no sinal, olho para o lado e dou de cara com um homem,
bem bonito, me encarando. Congelo a banana na boca e fixo no olhar dele.
Que diabo! Não se pode nem comer uma banana em paz mais?
Franzo a testa para ele e o vejo arquear as sobrancelhas. Esse idiota
está começando a me irritar! Retiro a banana da boca e dou um sorriso dócil
antes de começar a simular um sexo oral quente, lambendo-a e chupando-a
descaradamente, com os olhos fixados nele. O vejo abrir a boca em descrença
e fazer um sinal de V com os dedos, enfiando a língua entre eles. Que
absurdo! É triste ver que existem pessoas tão imorais quanto eu.
Deslizo uma mão ao meu seio esquerdo e o aperto sob o olhar faminto
do homem. Quando desvio o olhar, focando no outro lado, vejo uma senhora,
que deve estar na casa dos setenta anos de idade, me olhando, chocada, com a
mão na boca. Puta merda! Subo os vidros do carro, agradecendo a Deus por
ter colocado insulfilm neles e avanço o sinal rapidamente.
Só quando estaciono meu carro no shopping consigo voltar a respirar
tranquilamente. Tenho um acesso de riso frenético antes de sair e limpo as
lágrimas em seguida.
Caminho, passando de loja em loja, e decido comprar algumas
lingeries e roupas. Perco umas duas horas fazendo compras, e só quando meu
estômago dá sinal de vida, lembro que preciso almoçar.
Passando pela praça de alimentação, encontro Lucas e a tal Helô
andando de mãos dadas. Minha boca vai até o chão observando a cena e
decido fingir uma “trombada”.
Desço meus óculos escuros e caminho, carregando minha enorme
quantidade de sacolas. De repente, sem querer, esbarro neles, fazendo a
casquinha de sorvete que Helô está segurando desmoronar no chão.
— Oh, Deus, me desculpe! — digo, fazendo minha cara de inocente.
— Oh, Lucas? Meu Deus, que coincidência, me desculpe pelo estrago! —
falo, dando um sorriso amoroso.
— Mari, não esperava vê-la por aqui — diz, vermelho, enquanto Helô
fica estática, nos encarando. Tadinha. Por um minuto passo a ter dó. Lucas
vai destruí-la, assim como Vitor (meu ex) me destruiu. A regra número um da
vida é não se permitir se apaixonar por um cafamântico. Eles são as piores
espécies. Cafajestes que trabalham com romantismo são como uma bomba
nuclear.
— Eu esperava vê-lo hoje pela manhã na minha cama, mas, de
repente, aqui está você, levando sua cria para tomar um sorvete de casquinha.
Isso é tão bonitinho! A propósito, Lucas, essa sua fase namoradeira está
fazendo um estrago no seu desempenho sexual, você já foi melhor. Bom, eu
realmente preciso ir agora. Foi bom vê-los.
Sem mais delongas, entro no meu restaurante preferido, o Outback.
Maldito seja quem inventou essa costelinha ao molho barbecue que tanto me
viciou!
Após pedir minha refeição e uma bebida alcoólica, ligo para meu
“amigo” Dudu, que reside em um prédio próximo ao shopping.
Demora menos de quinze minutos para que eu sinta um sopro em meu
pescoço, o que me faz virar e dar de cara com ele. É uma perfeita visão do
inferno, no bom sentido.
Dudu é negro, tem aproximadamente 1,80m ou mais de altura, uns 90
kg bem distribuídos em toda estrutura corporal destruidora, embora eu ache
que pelo menos 1 kg desse pacote todo deve ser apenas reservado ao peso da
arma que ele carrega dentro da cueca. Ou seja, ele é a personificação do
“negão pirocudo” e gostoso. Ele tem vinte e nove anos e já é dono da sua
própria empresa de Marketing e, o mais importante, é solteirão convicto.
Namoro é uma palavra que não existe em seu dicionário.
Ele é indecente. Sua beleza é indecente. Seu sorriso indecente. E sua
boca? Sua boca, com certeza, é minha parte preferida. Dudu é, sem sombra
de dúvidas, a pessoa que nasceu com o dom para o sexo oral.
— Fala, dona Mariana. Estou feliz com a ligação — diz, enquanto me
levanto para cumprimentá-lo.
Seus braços rodeiam minha cintura e me puxam para um abraço
profundo, que demora mais que o esperado. Fico longos e agonizantes
segundos envolvida numa imensidão de músculos e inebriada pelo seu
perfume delicioso de macho alfa. Quando ele me solta demoro alguns
segundos para aguentar ficar firme em meus pés.
— Você está especialmente linda com esse visual menininha. — Ele
dá seu sorriso de dentes brancos, perfeitos e alinhados, e eu suspiro em total
apreciação. Um sorriso é tudo.
— Você também não está nada mal com esse visual bad boy fodido.
— Oh, fodido não, Mari. Não diga uma coisa dessas nem mesmo de
brincadeira. — Ele dá uma gargalhada contagiante e pede sua bebida ao
garçom.
— Então, senhor Eduardo, o que me conta? Faz o quê, dois meses?
— Não, um mês que não a vejo. — Sorri de lado. — Bom, tenho
estado consumido pelo trabalho. Ampliando os negócios. E você?
— O mesmo de sempre. — Sorrio.
— Oh, garota, só festas e álcool, não é mesmo? Não saio para uma
balada desde a última vez que nos encontramos.
— Você deveria se esforçar um pouco mais, baladas são sempre boas
para reencontrar os velhos amigos — digo, enquanto ele desliza uma mão
pela minha coxa direita e a aperta.
— Não necessariamente precisamos de uma balada para reencontrar
velhos amigos. Veja só, eu estava no aconchego do meu lar e uma velha
amiga surge, me tirando do ócio. Enquanto existir meios de comunicação,
nós estaremos bem, Mari. — O observo levar sua caneca de chope à boca e
passar delicadamente a língua pelos lábios após beber. É bastante erótico,
mesmo sendo involuntário e sem segundas intenções. Existem pessoas que
apenas nasceram sexys e são assim até mesmo quando não estão planejando
isso.
— É. Você tem um ponto — digo e um garçom chega com as
travessas de comida, enquanto outro trabalha em alinhar os pratos à nossa
frente.
— Por que não me surpreendo que iremos comer costelinha ao molho
barbecue? — pergunta.
— Não sou mulher de salada, como você bem sabe.
— Eu realmente sei muito sobre seus apetites. — O duplo sentido da
frase não passa despercebido a mim. Antes mesmo que possamos começar a
comer, ele se aproxima o suficiente para que eu o beije.
Ele não me toca, existe apenas o contato dos nossos lábios e, quando
se desfaz, me pego inebriada pela energia que irradia de ambos. Tudo que eu
consigo imaginar agora é sua boca beijando outros lugares mais
interessantes... Ele percebe o que estou pensando, pois sorri e balança a
cabeça.
— Nós vamos comer e em seguida estou levando-a daqui — informa,
fazendo-me sorrir.
O restante do almoço passa rápido quando nos envolvemos em
conversas banais. Gosto do Dudu pelo simples fato dele ter um astral
elevado, acima da normalidade. Ele é leve, alegre, divertido e determinado.
Apesar de já termos feito sexo muitas vezes, já houve episódios em que
saímos apenas para conversar. Ele é um bom ouvinte, um bom amigo. Já
chorei nos braços dele algumas vezes e tudo que ele fez foi me confortar.
— Apenas deixe que eu pague a conta — imploro.
— Oh, nem pensar, eu estou pagando essa conta e uma outra no dia
de hoje — diz, piscando o olho e entregando seu cartão ao garçom.
Me aproximo o suficiente para que apenas ele possa ouvir meu
questionamento.
— Qual outra conta você pagará hoje?
— A do motel que eu te levarei para que minha boca possa se deliciar
nessa sobremesa rosadinha que há entre suas pernas — informa e é o
suficiente para que eu sinta a umidade preencher minha calcinha.
Nunca disse que eu prestava!
Dirijo meu carro até em casa seguida por Dudu, que vem atrás no seu
imponente Camaro. Subo correndo para colocar minhas compras dentro do
apartamento e logo estou de volta, me acomodando ao seu lado.
Seguimos em direção à Avenida Raja Gabaglia e ele para em um dos
motéis mais bem falados e caros da cidade. Motel Sunset. Não sei o motivo
ao certo, mas Dudu tem fixação por esse lugar. Talvez seja por ser um
homem exigente e seletivo. Aliás, toda vez que saímos, noto todo um cuidado
especial da parte dele em me oferecer o melhor. Acho que o ponto principal
sobre isso é por sermos amigos, bons amigos de verdade. Ele não economiza
dinheiro e nem mesmo elogios à minha pessoa. Chega a ser desconcertante às
vezes.
Ele é um homem completamente seguro e intimidador. Gosto de
observar a forma como ele conduz tudo, até mesmo fazendo coisas simples,
como pedir a conta ou uma suíte. É engraçado. Centenas de pessoas devem
temê-lo por sua forma física e seu jeito intimidante de bad boy malvado. Sou
grata por ter o lado “urso de pelúcia” dele.
Assim que entramos, uma funcionária surge para nos atender. É
horrível que funcionários possam ter contato direto com os hóspedes. Ela
demora um pouco, sorvendo a imagem do homem ao meu lado, e só depois
dirige o olhar a mim. Eu a entendo. Dudu traz consigo uma energia que deixa
as mulheres boquiabertas facilmente.
— Boa tarde! — ela diz, sorridente. — Posso ajudá-los?
— Boa tarde, eu quero a melhor suíte que estiver disponível.
— Senhor, no momento temos apenas a suíte presidencial 02
disponível — ela informa e eu corro meu olhar pelo quadro de valores. É
apenas uma suíte de R$900,00/4 horas. Apenas! Nesse momento eu passo a
me sentir uma prostituta de luxo.
— Dudu... — tento argumentar, mas ele me cala.
— Eu quero essa — informa e logo a funcionária libera nossa entrada.
Estacionamos na garagem privativa e, assim que entramos, percebo
que essa é a suíte mais luxuosa em que já estive.
A decoração é impecável e passa uma sensação de aconchego ao
mesmo tempo. É como se fosse uma suíte da casa de um milionário. Minha
visão vai diretamente para a piscina e para a enorme TV de frente a ela.
Quando termino minha análise, me viro e encontro Dudu apenas de
cueca branca, ostentando sua ereção majestosa e assustadora.
— Você sempre me olha com essa carinha assustada e impressionada
quando estou assim — ele diz, rindo.
— É sempre assustador e impressionante. — Rio.
— Você me leva bem, Mari. Você é ótima em me receber dentro de
si. — Ele se aproxima com passos precisos. Traz o polegar à minha boca e
aperta meu pescoço levemente. — Vamos brincar um pouquinho? —
pergunta e eu solto um gemido em resposta. Deslizo as alças do meu vestido
para baixo e jogo minha rasteirinha longe, ficando apenas de calcinha. Vejo
seu olhar ficar mais ameaçador. E quando acho que serei alvo do lobo mau,
ele se afasta e vai até a ducha, me dando uma bela visão de seu corpo
molhado. — Vem cá — convida e eu sorrio, retirando minha calcinha antes
de caminhar até a ducha.
Engancho os dedos nas laterais de sua cueca e deslizo até seus pés,
jogando-a longe em seguida. Agora estamos de igual para igual, nus.
Ele me prende na parede e dá um sorriso antes de começar a lamber
meu pescoço, pressionando sua ereção em mim. Uma mão desce para minha
intimidade, enquanto a outra aperta meu pescoço e sua boca passa a devorar a
minha. Faminto.
Eu quase tenho um colapso conforme ele trabalha em meu clitóris;
monto em seus dedos como se estivesse montando seu pau, de maneira insana
e enlouquecida. Quando ele sente que estou próxima de um orgasmo, se
afasta, deixando-me frustrada e necessitada.
— Eu gosto tanto de foder com você, Mari. Durante a semana nós
vamos foder de novo? — pede, manipulando seu membro, e eu balanço a
cabeça em concordância. — Boa menina. Está com saudade da minha boca
em você?
— Sim — respondo e ele dá um sorriso cafajeste. A boca dele é tudo
que eu desejo realmente, mais do que seu enorme pau.
— Deite-se ali — diz, apontando com o dedo para a cama. Eu me
apresso em chegar até ela e me deito bem na beirada, da maneira precisa para
o sexo oral. Tão logo me acomodo, já estou sendo puxada ainda mais para
baixo. Levanto-me, apoiando em meus cotovelos, apenas para vê-lo se tocar
freneticamente antes de se ajoelhar no chão. Só a cena me daria um orgasmo
louco.
Ele beija a parte interna das minhas coxas lentamente, antes de
deslizar para o meu ponto necessitado. Sua língua desliza em minha carne
escorregadia e eu jogo a cabeça para trás quando ele assume um ritmo
enlouquecedor de tortura oral. Ele me dá tudo que quero e eu retribuo da
melhor forma que consigo.
A melhor parte começa quando o vejo deslizar o preservativo em seu
membro e se acomodar entre minhas pernas. Nesse momento ele perde toda a
compostura e delicadeza, dando lugar à freneticidade. Ele me devora e eu o
devoro de volta.
— Mari, você é a porra de uma virgem sempre! Você não tem ideia
— diz, dando estocadas precisas. Rolamos pela cama e eu fico sobre ele,
montando-o até onde consigo. Sou quase incapaz de levá-lo todo dentro de
mim, é o verdadeiro espancador de útero.
Após transarmos três vezes seguidas, damos um intervalo para comer
e logo retomamos dentro da piscina, sem medo de morrer de indigestão.
Quando enfim ele me deixa em casa, estou tão feliz, que irei dormir
após toda exaustão sexual. Me sinto maravilhosa, muito bem comida.

Os planos mudam por completo quando encontro o Lucas sentado na


porta do meu apartamento. É uma merda que meu porteiro esteja autorizado a
deixá-lo subir, fui eu mesma que permiti isso.
— O que está fazendo aqui? — pergunto e ele se levanta.
— Te liguei centenas de vezes, onde estava?
— Estava curtindo minha vida, por quê? Alguém morreu? —
pergunto enquanto abro a porta, e ele me segue para dentro.
— Mari, desculpa por ter saído de manhã sem me despedir, sinto
muito que tenha me visto com Helô. — Péssimo sinal ele se desculpar.
— Você não precisa se desculpar, não é comprometido, Lucas.
— Você cheira a sabonete de motel — diz. — Seus cabelos estão
molhados. Você estava em um motel?
— Lucas, por favor — respondo, revirando os olhos.
— Eu sou um otário de ficar esperando mais de quatro horas,
enquanto você estava na porra de um motel, dando pra outro. Porra! Mariana,
você é uma fodida colecionadora de corações e paus! Eu sou um babaca! —
diz, saindo pela porta feito um furacão.
Eu não vou atrás, obviamente. Tudo que preciso é dormir feliz e
relaxada.

No dia seguinte, acordo disposta para trabalhar, e isso é quase um


milagre, já que na maioria das segundas-feiras chego ao trabalho com uma
ressaca monstruosa e completamente tomada pelo mau humor. Dessa vez a
ressaca é de sexo. Só estou um pouco dolorida pelo excesso de uso. Lembrar
disso me faz dar um salto estilo Daiana dos Santos e ir me arrumar!
Hoje, opto por uma calça jeans escura, uma camisa social branca e
uma sandália de salto fino branca. Até me animo a passar uma maquiagem
básica e colocar acessórios. Prendo meus cabelos em um coque frouxo e
decido ir com os meus óculos de leitura, porque me deixam como uma
secretária sexy sem ser vulgar. Abro os dois primeiros botões da camisa e
coloco um cordãozinho delicado. Passo meu perfume 212 VIP Rose e saio
saltitante rumo ao subsolo, para pegar meu simplório carrinho New Beetle.
Não tomo café da manhã, pois sei que meu chefe me esperará com um
magnífico café do Starbucks. Ele faz isso todas as segundas-feiras, em busca
de um maior rendimento da minha parte, já que estou sempre em um estágio
pós-alcoolizado.
Ligo o som e coloco Single Ladies para tocar. Dirijo tranquilamente
dessa vez, sem fazer insinuações a ninguém.
Conforme vou me aproximando, meu estômago começa a dar
cambalhotas, sempre é assim, todos os dias em que vou trabalhar. O simples
fato de estar sob o mesmo teto que Arthur Albuquerque é o suficiente para
me causar essas contrações involuntárias. Aliás, não só em mim, mas em
Júlia e Carla também. Na verdade, acho que até a moça da limpeza treme na
base a cada vez que o encontra. Quer saber? Eu acho que qualquer mulher
que goste de homem se sente desesperada por ele.
Estaciono meu carro e entro logo no elevador, brincando de trocar os
pés. Quando enfim chego ao andar, solto um suspiro longo, coloco meu
crachá em minha blusa e entro saltitante no escritório.
— Bom dia, flores do dia! — digo à Júlia e Carla.
— Uau! Você está linda hoje! O final de semana foi bom? — Júlia
pergunta.
— Maravilhosamente bom!
— Qual foi o placar, Mari? — Carla pergunta.
— Dois.
— Dois?! — as duas indagam juntas.
— Sim, queridas, dois. Os de sempre, Lucas e Dudu — explico.
— Sangue e fogo! Você é ninfomaníaca, Mariana! Pelo amor de
Deus!
— Ninfomaníaca, Mariana? Conte-me mais sobre isso. — A voz
imponente do meu chefe preenche todo o ambiente e eu fico paralisada, sem
conseguir virar e encará-lo. — Mariana? — ele me chama novamente e não
tem como eu não o enfrentar.
— Bom dia, senhor Arthur! — respondo e o observo. Ele carrega um
pacote do Starbucks.
— Pode me acompanhar para a nossa reunião?
— Claro. — Sorrio. E ele, após cumprimentar Jú e Carla, sai andando
até sua sala.
Olho para elas e as pego fingindo trabalhar. Cambada de puta!
Acompanho Arthur e aproveito para analisar as costas largas e a bunda
protuberante que está escondida atrás de uma calça social. Puta merda! Deus
me perdoe, mas eu tenho o sonho de ver esse homem pelado. Na verdade,
acho que só morrerei em paz se um dia eu conseguir descobrir tudo que está
escondido ali.
É foda nunca ter o visto na rua com roupas normais. Queria vê-lo ao
menos com uma camisa normal, para descobrir se ele possui músculos ou
não. Ele nunca tirou o maldito paletó... Isso é um inferno!
Gostoso pra caralho!
— Você disse alguma coisa? — ele pergunta enquanto segura a porta
de sua sala para que eu entre.
— Não. Não mesmo. Se existe algo que eu não disse é alguma coisa
— respondo, nervosa por causa sua encarada intimidante.
— Ok.
— Por que o senhor nunca retira o paletó? — pergunto, com todo
respeito, é claro. Sou uma mulher respeitosa.
— Vivo no ar-condicionado, não é como se eu sentisse a necessidade
de tirá-lo — responde, sorrindo e se acomodando em sua cadeira. — Bom,
vamos ao que interessa — diz, retirando dois copos de café e dois croissants
da embalagem.
— Hum! Eu amo!
— Conte-me como foi seu final de semana. Não está com cara de
quem está com ressaca, aliás, esses óculos ficaram fantásticos e seu perfume
dispensa elogios — diz, me deixando sem graça. Eu aceito fácil elogios de
todas as pessoas, mas, de alguma forma, quando é ele a me elogiar, eu fico
completamente desconcertada e sem palavras. Em alguns momentos sinto
que há uma química explosiva entre nós, mas logo trato de tirar esses
pensamentos da mente.
— Foi tranquilo. Fui a uma festa sexta, outra sábado e domingo foi
mais light.
— Agora me conte o porquê estavam a chamando de ninfomaníaca —
pede e eu paraliso o croissant na boca. Que merda!
— Foi apenas uma confusão que elas fizeram, nem faço nada dessas
coisas — respondo muito pudica e ele me encara fixamente, apoiando o
queixo nas mãos. Ele fica assim por longos minutos e eu passo a engolir o
lanche rapidamente, para fugir daqui antes que eu o estupre ou seja comida
de bom grado, o que não seria nada mal se ele fosse solteiro. Santo Deus,
esse demônio é casado, mas é uma tentação! Eu lamberia cada pedaço dele,
até mesmo as sobrancelhas. Preciso fazer uma novena para que Deus possa
perdoar esses pensamentos insanos e inadequados, sou totalmente contra
traição.
Aquela megera da Laís é uma filha da puta sortuda, embora eu tenha a
leve desconfiança que ela é uma puta frígida e interesseira, que só está com
ele por status. Uma grande vaca voadora! Você ser casada com um homem
desses e não querer sexo 24 horas por dia é o mesmo que ir para uma balada e
voltar antes do DJ começar a tocar. Nunca vi qualquer traço de carinho entre
eles.
Eu lamberia seu corpo diariamente e o acordaria com um boquete
todas as manhãs, só para garantir sua fidelidade e uma durabilidade da
relação. Não que isso vá segurar, mas, sei lá, talvez seja apenas uma desculpa
para chupá-lo diariamente, eu faria qualquer coisa.
Cada vez que Laís vem até a empresa, noto um clima tenso entre os
dois. Ela sempre sai soltando fogo pelas ventas e Arthur sempre fica mal-
humorado pelo resto do expediente. Não entendo bem e nem tenho coragem
de perguntar nada a ele a respeito disso.
Estou perdida no café quando o vejo se levantar e abrir o paletó
lentamente. Eu paro de beber, mas permaneço com o copo na boca, na
tentativa de me esconder o mínimo possível. Quando ele termina o processo
de abrir os botões, desço o olhar, ganhando o vislumbre do seu pacote
volumoso. Engasgo com a saliva, fazendo-o correr até mim e me dar tapas
nas costas.
Puta merda! Posso ouvir as trombetas dos anjos me chamando ao céu,
ou talvez o berrante do capiroto me seduzindo até o inferno... Eu morri! Esse
homem é definitivamente o meu sonho de consumo.
Levanto-me e tento respirar.
— Está melhor?
— Sim. Eu preciso ir, senhor Arthur. Há algo que precise de mim?
Antes que eu me esqueça, obrigada pelo lanche, estava delicioso, como
sempre, amém!
— Amém? — pergunta, arqueando a sobrancelha.
— Obrigada — corrijo e ele sorri.
— Tenho uma reunião às 14 horas, preciso que esteja presente para
tomar notas e que revise meus compromissos da semana — informa.
— Tudo bem — respondo, pegando as embalagens vazias, e saio mais
que rapidamente da sala, indo direto para o banheiro, onde me tranco tempo
suficiente para que Júlia venha conferir se eu estou bem.
Não estou bem, na verdade, acho que terei sonhos eróticos com meu
chefe com menos intervalos de tempo a partir de agora.
— Mari, está tudo bem? — Ouço a voz de Júlia do lado de fora do
banheiro. Decido ocultar o motivo, ou talvez eu apenas precise falar.
— Sim, tranquilamente. Quer dizer, Arthur é dono da verdadeira pica
das galáxias. Eu tive um pequeno vislumbre do pacote gigante que ele possui,
estou apenas chocada. Não que eu nunca tenha visto um pirulicóptero
exagerado e tal, mas é Arthur, entende? Arthur, nosso chefe casado. Meu
Deus, Júlia, sou capaz de afirmar que ele estava excitado, caso contrário é
ainda mais assustador imaginar que aquele pacote todo se refere a um pau
desmaiado para a vida. É uma senhora pica, Júlia! Arthur é um maldito
pirocudo proibido — digo quando saio do banheiro. Simplesmente preciso
falar. Tenho costume de andar analisando pacotes pelas ruas, já venci várias
apostas sobre adivinhar tamanhos de paus, mas analisar o de Arthur é mais
complexo e impróprio.
— Você já viu a forma como ele olha para você? — ela pergunta.
— Tá maluca? Não quero nem saber, minha filha. Ele é casado. Posso
dar para caras aleatórios, mas nenhum deles é comprometido e nenhum deles
é meu chefe.
— Agora me conte sobre Dudu e Lucas.
— Eu estava em uma festa sábado, encontrei Lucas e aí você já sabe.
Ele dormiu na minha casa, e quando acordei, ele não estava. O encontrei no
shopping com uma pirralha e decidi ligar para Dudu. Logo uma coisa levou a
outra, porque é sempre assim.
— Seu lugar no inferno está mais que garantido — ela afirma o óbvio
enquanto saímos, indo de volta às nossas respectivas mesas.
— Se o diabo for gostoso e foder bem, não me importa. Já imaginou o
Arthur nu? — pergunto, com a imagem de um sonho viva em minha mente.
— Muitas vezes.
— Meu Santo Cristo, eu vou me demitir qualquer dia desses! —
informo e me acomodo em minha mesa.
Ligo o computador e meu dia começa a ficar azedo quando Laís
irrompe pela porta.
— Eu quero falar com o meu marido — ela diz, se debruçando sobre
a mesa de Júlia. Eu não a suporto.
— Bom dia para você também, Laís, vou ver se o senhor Arthur pode
recebê-la — digo, tomando frente da situação. Ela sabe perfeitamente que sou
a assistente pessoal dele, mas é incapaz de dirigir a palavra a mim. Diaba
loira!
Caminho até a sala e dou duas batidas na porta antes de abri-la.
— Senhor Arthur, Laís está aqui fora querendo...
— Pode nos dar licença, por favor, querida? — ela diz, entrando na
sala, e logo vejo Arthur se pôr de pé e encará-la com sangue nos olhos.
Não espero para ver o que vai acontecer, saio da sala e volto para
minha mesa.
— Essa mulher é uma cadela! — Carla diz.
— O engraçado é que Arthur é tão gentil. Não entendo como ele pode
ser casado com ela — Jú divaga.
— O dia que ela me pegar virada no cão, serei demitida, porque vou
amassar a cara dela no chão — aviso.
Passo a organizar a agenda de Arthur, mas uma conversa mais alta
atrai a atenção de nós três.
“Já basta aturá-la em casa, não venha me aborrecer no trabalho,
Laís. Você não tem o direito de vir aqui e achar que é dona de uma empresa
que nem eu mesmo sou. Você deve respeito à minha assistente e às meninas
da recepção!”
“Eu estou apenas tentando salvar isso.”
— O que ela quer salvar? — pergunto às meninas, que riem.
“Não há mais o que salvar. Agora eu peço, por gentileza, que saia.”
— Recebaaaa, vadia! — Júlia diz, batendo palmas, e quando a porta
abre, fingimos trabalhar atentamente, enquanto Laís sai batendo seus saltos
fortemente sobre o chão.
Meia hora depois um entregador traz três buquês de flores, dois
brancos e um vermelho. Os brancos são entregues à Carla e Júlia, o vermelho
é entregue a mim. O remetente? Arthur Albuquerque. O motivo? Um pedido
de desculpas pela falta de educação da sua digníssima esposa.
— Eu disse que ele paga pau para você, não disse? — Jú diz,
apontando para meu buquê perfeito. Por que apenas o meu é vermelho? Isso
planta logo uma sementinha do mal em minha mente, que é o suficiente para
mudar meu humor. Não sei ao certo o que está se passando dentro de mim,
mas sei que é assustador pensar na possibilidade de um possível interesse
dele em mim.
Sabe aquele homem que você se inspira? Que parece um príncipe
encantado? Que você admira a postura e integridade? Esse homem é Arthur,
e olha que nem o conheço a fundo. Ele sempre foi respeitoso comigo e com
as demais funcionárias e, de repente, pensar que ele está interessado em mim,
enquanto tem um enorme bambolê no dedo (mesmo sabendo que o
casamento dele aparenta ser uma merda), destrói parte da imagem de bom
moço que tenho sobre ele. É a quebra de um paradigma, sem contar que ele
causa um impacto muito grande em mim.
Passo o restante do dia agindo como um robô programado. Às vezes
pego Arthur me fitando com um ar preocupado, porém ele não questiona o
motivo de eu estar agindo como estou. Nem eu mesma sou capaz de
responder algo que não entendo.
No final do dia chego ao meu apartamento e percebo que é apenas
mais um dos dias em que a solidão está me maltratando... Até o silêncio está
insuportável.
Ligo o som numa música eletrônica animada, sirvo um copo de
uísque e preparo minha banheira para um banho relaxante.
Assim que me acomodo e sinto a água quente em contato com meu
corpo, solto um suspiro prazeroso. Pego meu celular e encontro algumas
mensagens de Lucas, Dudu, Pedro, Júlia, Duda... Não estou com saco para lê-
las, porém, decido que gostaria de uma companhia essa noite. Deslizo meu
dedo até o número do Dudu e ele atende no segundo toque.
— Já está com saudades? — brinca.
— Du, eu... Hoje é um daqueles dias difíceis, eu gostaria de você
aqui.
— Você quer um amigo ou está com fome? — pergunta, rindo. Fome
significa sexo no dicionário da nossa amizade.
— As duas coisas.
— Vou levar um lanche delicioso para você. Entrega em domicílio.
— Traga bastante molho — digo e ele geme.
— Porra! Chego em alguns minutos, libere meu acesso. Levarei
embalagens extras — diz, desligando, e eu sorrio. Saio da banheira apenas
para destrancar a porta e logo estou de volta.
Quem tem um pau amigo tem tudo!
Eu sei que presto menos a cada dia, sei que uso sexo para fugir dos
meus problemas emocionais, eu sei que sou toda errada, mas, ao mesmo
tempo em que sei de tudo isso, acho digno e justo ser assim Sexo tem o poder
de desviar minha mente de qualquer luta interna que eu esteja travando.
Escolhi Dudu, sempre o escolho quando estou me sentindo assim. Ele é
realmente meu amigo, ele sabe o que falar e como agir diante das minhas
neuras, e eu sei que amanhã estarei com as energias renovadas.
Demoram menos de 20 minutos para que eu possa ouvir sua voz.
— Mari?
— No banheiro do meu quarto — grito.
— Você bebendo uísque numa segunda-feira exige um estado de
alerta — ele diz, sorrindo quando me vê.
O observo retirar suas roupas e dou espaço para que entre atrás de
mim. A banheira se torna pequena diante da grandiosidade corporal desse
homem.
— O quão carente você está? — pergunta, me puxando para mais
perto de si.
— Muito.
— Então isso merece uma sessão de terapia completa — diz, sorrindo.
— Vamos lá, conte-me o que aconteceu para essa mudança de humor
repentina, já que ontem você estava deliciosamente feliz e relaxada em torno
do meu pau — pede, apertando meus seios e beijando meu pescoço.
E então eu relaxo, contando cada detalhe do meu dia a ele. Limitados
às poucas posições que podemos improvisar dentro da minha banheira, ele
me ouve quase que atentamente e ouço mais uma vez a velha história “você
só está sozinha porque quer”.
Felizmente, na manhã seguinte estou mais alegre e relaxada, tudo
após ter acordado com um magnífico sexo oral feito pelo melhor.
— Seu chefe deve enlouquecer vendo essa bunda o dia inteiro — ele
diz enquanto caminhamos para o elevador. — Sabe, se você quiser namorar
comigo, abro até uma exceção da minha filosofia de não relacionamento.
— Se até os trinta anos cansarmos dessa vida de solteiro, nos casamos
— digo, rindo.
— Então este é o nosso pacto. Mas faço trinta antes de você, como
isso pode funcionar? — indaga.
— Você espera até que eu complete os trinta. Simples assim.
— Espertinha.
— Du, obrigada por ter vindo, obrigada mesmo — agradeço quando
chegamos ao subsolo.
— Eu virei sempre que precisar, não é sacrifício algum, você sabe. —
Ele lança seu sorriso cafajeste e me puxa para um beijo, onde retira todo meu
batom junto à minha sanidade.
O jogo contra meu carro e tomo um ritmo mais insano. Pela primeira
vez chego atrasada no trabalho...

Eu sou um homem prestes a explodir. Tenho tentado, lutado para


manter a calma, mas Laís é apenas a porra de um calo no meu pé. Hoje, terça-
feira, acordei decidido a colocar um ponto final nessa merda.
A primeira coisa que faço é ligar para a empresa e informar que
estarei ausente nos próximos dias. Logo em seguida me acomodo na sala e
espero pacientemente até que Laís desperte do coma, que ela se refere como
sono.
Cada minuto parece uma provação divina, um teste para verificar
minha paciência e autocontrole, e quando, enfim, a vejo descer os degraus,
me levanto impaciente. Isso não é uma conversa, é um comunicado. É o
mínimo que posso fazer.
Ela está usando uma camisola de seda curta, e nem mesmo deixando
suas pernas à mostra, consigo nutrir qualquer sentimento que não seja raiva.
Nem um fio de cabelo que ela possui me atrai mais. Ela exterminou com
tudo.
— Preciso falar com você — digo.
— Bom dia para você também, amor.
— Laís, eu estou saindo de casa. Eu não quero nada, quero apenas
minhas roupas, fique com tudo.
— Não! Você não está saindo de casa! — ela grita.
— Eu estou saindo de casa. Não há nada que você possa fazer sobre
isso. Absolutamente NADA!
— Não, Arthur, por favor, nós podemos tentar... — Ela se ajoelha no
chão e agarra minhas pernas enquanto transborda em lágrimas.
Eu não consigo sentir dó, sinto apenas que eu deveria interná-la em
um manicômio. A última chance não durou dois meses, e desde então voltei
ao quarto de hóspedes. São mais de dez meses vivendo essa merda. Eu
desconfio que Laís sofra de algum problema mental. Não é possível que ela
se conforme apenas com a minha presença sob o mesmo teto. Não existe nem
mesmo diálogo entre nós. O que ela espera que eu faça?! Foda-se!
Desvencilho-me de suas mãos e subo as escadas para ir pegar minhas
roupas no closet que dividimos. Encho cinco malas e peço à empregada que
me ajude a descê-las. Vou até o escritório e pego meus principais pertences.
Enfim, não há mais nada que eu queira nesse lugar, nenhuma lembrança,
nada.
Laís está deitada em posição fetal no sofá, morrendo em lágrimas, e
eu sinto a necessidade de me aproximar, por não conseguir ser a merda de um
homem sem coração.
— Laís, eu estou indo. Não quero que você fique dessa maneira.
— Arthur, por favor.
— Você é uma mulher linda, jovem, nós dois merecemos ser felizes.
Juntos, nunca existiu a felicidade. Nós esgotamos todas as possibilidades,
tivemos todas as chances possíveis. Você tem consciência disso? — pergunto
e ela balança a cabeça em concordância. — Eu estou indo, ligarei mais tarde
para saber como você está. — Me levanto, e ela está segurando minha mão
tão forte quanto consegue. Vê-la assim dói. É foda fazê-la sofrer, mas nesse
caso é inevitável. Não há mais nenhum tipo de sentimento bom dentro de
mim em relação a ela.
Com muita dificuldade, sua mão escorrega da minha.
Pela última vez.
Eu deveria ter feito isso há muito tempo, deveria ter deixado de ser
algo que nunca fui: um babaca frouxo.
Entro no meu carro, após pedir um amigo para buscar minha moto, e
vou em busca de um flat até que eu possa encontrar um apartamento.
No dia seguinte vou até uma imobiliária. A corretora mostra centenas
de apartamentos, mas há um em específico que atrai minha atenção. Ao ver
as fotos, lentamente descubro que é o prédio que levei Mariana uma vez, de
carona. É o prédio onde ela mora. Isso só pode ser obra do destino.
— Há quantos apartamentos disponíveis neste prédio? — pergunto.
— Há bastantes, em diversos andares. Tem preferência?
— Só preciso conferir uma coisa e voltarei para marcarmos uma visita
— digo antes de sair, confiante.
Estou indo invadir os registros dos funcionários...
Quinta-feira. Trancado no quarto do apart-hotel, pondero se devo ou
não comparecer à confraternização de metas duplicadas da empresa. Será um
baile de máscaras, traje passeio completo. Eu não tenho máscara alguma e
nunca fui a quaisquer confraternizações da empresa.
Tirei dois dias para tentar colocar a cabeça no lugar e focar em novos
horizontes. A vida ganhou uma nova perspectiva após anos vivendo em torno
de uma relação fracassada. Me encontro como um jovem garoto que não sabe
qual o próximo passo a ser dado, o que é bastante comum, já que os últimos
seis anos da minha vida foram comprometidos com Laís. Eu não quero
agarrar o mundo com as mãos, atropelar acontecimentos ou até mesmo
recuperar o tempo perdido. Prefiro pensar que tudo o que aconteceu valeu
como ensinamentos que levarei comigo por toda eternidade.
Na verdade, agora sinto uma necessidade de viver. Viver de maneira
racional. Eu estive envolto a uma prisão, e enfim estou livre. Essa simples
constatação me faz decidir ir ao baile. Troco de roupa rápido e vou em busca
de uma maldita máscara.
Não é tão difícil encontrar quando se tem internet para pesquisar lojas
específicas, e, assim que estou com a máscara em mãos, decido mudar o corte
do meu cabelo e fazer a barba por completo, como não fazia há anos. Espero
não ser reconhecido, não estou preparado para especulações. Quando olho o
resultado no espelho, encontro um Arthur pelo menos cinco anos mais jovem,
não sei se gosto. Preciso me acostumar.
Após colocar uma gravata borboleta preta, pego um copo de uísque e
decido esperar pelo menos umas três horas que a festa tenha iniciado para ir.
Quero fugir dos discursos e, principalmente, de ser solicitado ao palco.
Assim que ganho tempo o bastante, dirijo até o salão de festas.
Colocando minha máscara de Darth Vader do Star Wars, que cobre todo meu
rosto, desço do carro e me dirijo à recepção, onde sou obrigado a me
apresentar para ter acesso livre à festa.
Observo centenas de pessoas espalhadas por todos os cantos
possíveis. Descubro que estou velho, ou melhor, enferrujado. Há um DJ no
palco principal tocando músicas que eu desconheço, enquanto as pessoas se
acabam de dançar. No telão há fotos de todos os convidados mascarados
passando num slide, e uma delas faz minha boca ficar seca. É obra do destino
querendo me foder completamente logo na entrada.
Mariana, minha assistente, minha Mariana. Ela está envolvida em um
vestido dourado, os cabelos estão selvagens e ondulados, suas costas estão
levemente descobertas e há uma máscara dourada de leão em suas mãos.
É fodidamente injusto que ela esteja com o mínimo de maquiagem e
ainda assim seja a mulher mais linda de todas que passaram pelo telão. Eu
preciso encontrá-la, apenas para vê-la de perto. Eu preciso saber o quão
perfeito o vestido adorna suas curvas e se ele é tão colado em seu traseiro
quanto parece. Preciso saber se ela está com alguém ou se está apenas
curtindo a festa. Eu preciso saber qualquer porra do caralho que tenha a ver
com ela!
Um garçom passa, servindo bebidas, e eu pego um copo de uísque.
Levanto a maldita máscara o suficiente para beber todo o líquido depressa e
coloco o copo vazio sobre a bandeja em seguida. Caminho decididamente
entre as pessoas, que fixam seus olhares em minha máscara, e sorrio,
vangloriando-me do meu feito. Vocês não descobrirão quem está por trás
dela.
Não demora muito para que eu tenha um vislumbre de algo brilhante
na frente do palco. Eu logo sei que é ela. Porém, ao me aproximar, não sei se
gosto do que vejo.
Mariana está visivelmente alcoolizada. Seus cabelos agora estão
envolvidos em um penteado que não consigo entender e ela está descalça, se
acabando de dançar com Júlia, Carla e outra garota. E, o mais importante,
elas estão rodeadas de homens.
Fecho meus punhos com força. Eu gostaria de pegá-la no colo e
arrastá-la dali.
Eu não posso fazer isso.
Estou de mãos e pés atados, por enquanto.
É assim que ela se diverte? É isso que ela faz todos os finais de
semana?
Beira ao erotismo a forma como ela move seu corpo, deixando suas
curvas tão evidentes. Eu nem sei o porquê, mas odeio que tenham tantos
homens a observando. Odeio que ela esteja rebolando e indo até o chão. Eu
odeio o quão forte o sorriso dela se sobressai, atraindo atenção direta ao seu
rosto perfeito. Eu odeio que ela seja tão livre, leve e completamente solta.
É um inferno que ela seja perfeita da cabeça aos pés.
Eu gostaria de vê-la se movendo dessa maneira sobre mim, assim
como eu gostaria de tê-la sob mim e ensiná-la boas maneiras. Eu bateria tão
forte naquela bunda, por estar atentando todos os homens da festa.
Não é o momento ainda...
Soltando um maldito suspiro exasperado, me sento em uma das
banquetas do bar. Levanto a máscara o suficiente para beber doses extras de
uísque e decido vigiá-la de longe. Tenho medo de como pode vir a ser o final
dessa noite.
Não sei quantas horas passam. Aos poucos o salão vai esvaziando e
Mariana parece não ter limite, pois é incapaz de sair da frente do palco. Suas
mãos estão jogadas para o alto e ela está se movendo ao som de uma música
mais lenta. Agora há apenas uma garota com ela e três funcionários da
empresa.
Passam alguns minutos até que eu a vejo caminhando em direção ao
bar. Abaixo a minha máscara rapidamente e ela se joga sobre o balcão,
morrendo de rir.
— Moço, eu necessito de uma água, por gentileza, em toda sua
magnitude — pede ao barman e eu sinto vontade de rir, tanto quanto sinto de
estapear sua bunda jogada para o alto.
Vejo seu rosto virar em minha direção e, após uma gargalhada, ela se
aproxima. Seu maldito perfume me causa um desconforto momentâneo
devido à proximidade. Seguro o impulso de levar minhas mãos em sua
cintura e puxá-la para mim.
— Ei — ela diz. — Você levou a sério esse troço de máscara. Faltou
um bastão de luz — fala, rindo.
— Um sabre, você quer dizer — digo, tentando engrossar mais a voz,
para que ela não perceba quem sou.
— É a mesma porra, você sabe. Você tem um bastão? — pergunta,
mordendo o lábio inferior, segurando um sorriso. Ela está perguntando no
duplo sentido? Eu não posso acreditar.
— Eu tenho — respondo.
— Você pode ficar de pé e tirar sua máscara?
— Eu posso ficar de pé, tirar a máscara não — digo e ela sorri.
— Só ficar de pé já basta, então. É o que temos para hoje.
Fito-a por alguns segundos e fico de pé. Sou surpreendido quando ela
se aproxima e abre os botões do meu blazer, se afastando logo em seguida.
Eu sinto que minha calça será furada a qualquer momento. Essa mulher é
infernal e tentadora o bastante. O choque maior vem quando ela retira um
celular da bolsa e acende a lanterna do mesmo, mirando bem no meu pau.
Que diabos?
— O que você está fazendo? — pergunto.
— Porra! Você tem um big bastão! Retire sua máscara. — Ela se
aproxima e coloca a mão sobre minha máscara, porém, seguro seus pulsos, a
detendo. — Ah, você é sem graça! Que graça há em ter um bastão desses e
não deixar as pessoas saberem se seu rosto faz jus a todo esse pacote?
— Você deveria ir embora agora — digo, soltando seus pulsos, em
seguida caminho até a saída.
Tive o suficiente por hoje. Não quero acreditar que o álcool a
transforme nessa confusão insana.
Dentro do meu carro, aguardo até que ela saia, apenas para ter a
certeza de que chegará bem em casa. Por sorte, a vejo entrar em um táxi,
sozinha. Só então sou capaz de seguir meu caminho.

Acordo com uma ressaca absurda e vou direto tomar uma ducha fria
para acordar.
Faço um lanche leve e tomo duas doses de Epocler antes de me dirigir
ao trabalho. Essa semana tem sido desmotivadora, já que meu querido chefe
não tem comparecido. É triste saber que não terei um copo gigante de café do
Starbucks me esperando.
Hoje, Carla e Júlia estão no mesmo barco que eu de ressaca. Nosso
bom dia sai num tom quase indecifrável e eu vou direto entrar de cabeça no
trabalho.
— Bom dia! — A voz de Arthur me faz levantar a cabeça e ficar de
pé. Assim que o vejo, fico boquiaberta real. Ele mudou completamente.
Seus cabelos estão em um corte moderno, alto em cima e um pouco
baixo nas laterais, não sei nem mesmo descrever. Ele tirou a barba por
completo, deixando assim seu maxilar mais evidente, assim como sua
perfeição. Eu estou embasbacada o bastante. Ele está ainda mais lindo do que
o convencional.
Sem saber o que fazer ou como agir, dou um tapa forte no meu rosto,
para me certificar de que é tudo uma miragem.
— Merda, Mariana! — A voz de Júlia me traz de volta à realidade e
eu começo a rir descontroladamente. Carla se aproxima e me coloca sentada
de volta na cadeira.
— Mariana, você está bêbada? — Arthur pergunta e percebo que
acabei de fazer uma cena ridícula na frente do meu chefe. Quando crio
coragem de encará-lo, o encontro debruçado em minha mesa. Ele realmente
está aqui. Puta merda!
— Não, senhor Arthur, desculpe por essa cena.
— Tudo bem. Tem certeza de que está se sentindo bem? — questiona.
— Eu estou.
— Eu trouxe café para você, pode me acompanhar até minha sala?
Apenas se estiver se sentindo realmente bem — pede e eu balanço a cabeça
em concordância.
— Me dê apenas dois minutos e estarei lá — informo. Ele dá um
sorriso antes de sair. Assim que vejo a porta da sua sala se fechar, bato a
cabeça no teclado.
— Mari, o que deu em você? Puta merda! Eu sei que ele está
diferente, mas você poderia ter sido menos óbvia, você se deu um tapa na
cara! — Júlia diz.
— Estou alcoolizada ainda, pensei que estava tendo uma visão, já que
fui informada que ele só voltaria segunda-feira — falo e respiro fundo
algumas vezes, antes de pegar a agenda e alguns papéis que precisam da
assinatura dele. Após conferir meu rosto vermelho no espelho, faço a
caminhada da vergonha até a sala do desperdício.
Antes que eu possa bater na porta, ele a abre, me dando passagem. Eu
quase me esfrego em seu corpo no processo, e isso me deixa quente como o
inferno. O que deu em mim? Santa misericórdia! Acomodo-me na cadeira em
frente à mesa e logo ele está diante de mim. Puta merda, como olhar para essa
nova versão de Arthur Albuquerque?!
— Tome seu café — diz, colocando-o diante de mim, e eu bebo
rapidamente sob seu olhar... curioso?! Por que merda ele está me olhando
dessa maneira? Isso é tão desconcertante e invasivo.
E sexy.
— Senhor Arthur, tem alguns documentos que preciso que assine. Há
alguns processos trabalhistas que precisam ser analisados. — Tento focar no
trabalho, e ele sorri, percebendo que estou completamente desconfortável.
— Mariana, eu me separei de Laís. Há um advogado vindo hoje à
tarde acompanhado dela. É um assunto pessoal, mas, como minha assistente,
eu peço que você os receba e peço também sua discrição. A partir de segunda
retomo as atividades e assino tudo que for necessário — ele diz e eu quero
gritar. Primeiro por ele estar solteiro, segundo por estar livre daquela cadela.
De um minuto para o outro não existe mais ressaca ou álcool no meu
sangue. Agora estou tomada pela incredulidade completa. Preciso ser atriz e
dar meus mais sinceros sentimentos a ele em nome da moral e dos bons
costumes.
— Senhor Arthur, eu sinto muito, deve estar sendo um momento
muito difícil. Conte com minha discrição e meu apoio.
— Não, você não sente muito — afirma. Que inferno está
acontecendo?!
— Eu sinto. É claro que me compadeço da sua atual situação. Sinto
muito, mesmo. — Faço minha cara angelical e ele arqueia as sobrancelhas,
segurando um sorriso.
— Mariana — repreende e eu solto uma lufada de ar. Ele quer a
verdade? A verdade ele terá!
— Eu não sinto. Desculpe-me os termos, mas ela é uma cadela com
todos. Em um ano, hoje é a primeira vez que vejo algum brilho em seus
olhos. Eles não são mais azuis nebulosos, e sim azuis reluzentes. Ela parece
frígida, do tipo que só transa uma vez a cada dois meses. Pronto, falei, me
demita! — digo, porque ele pediu e eu não sou obrigada a mentir. Não sou
obrigada a nada! Foda-se! Gostoso pra caralho! Pausudo da porra! Lamberia
até as axilas!
— Autenticidade. Aí está a assistente que eu escolhi a dedo. — Ele ri
e eu quase gozo.
Em minha mente já começo a maquinar uma balada em
comemoração, já que hoje é sexta-feira, dia do crime. A separação dele é a
mesma coisa que uma carta de alforria.
— Há algo mais que precise? — pergunto.
— Por enquanto, não. Apenas por enquanto — responde e eu o
encaro, tentando entender. Depois de alguns segundos, desisto e salto da
cadeira, fugindo o mais rápido que consigo. Obviamente não consigo manter
o segredo de Júlia e Carla, que ficam tão chocadas quanto eu.
Hoje, é um novo dia, de um novo tempo que começou... Nesses novos
dias, as alegrias, não serão de todos, porque Laís vai se foder!
Cantarolando minha música ultra power moderna, volto ao trabalho,
ansiosa para ver Laís chegando com o rabo entre as pernas.
Hoje a festa é minha!
São 16h quando Laís chega, elegante, acompanhada de um advogado.
É impossível não reparar no seu look divórcio. Ela está usando uma saia
secretária rosa bebê, que vai um pouco abaixo do seu joelho, e um blazer da
mesma cor. Há um vislumbre de uma camisa preta por baixo e isso faz
combinar bastante com o scarpin preto que está em seus pés. Seu rosto está
praticamente coberto pelos óculos gigantes, onde se pode ler Gucci na lateral,
e em seu braço descansa uma bolsa Louis Vuitton preta. Puta de grife!
Ela passa como um furacão, sem ao menos anunciar sua chegada,
porém, entretanto, todavia, contudo, sou mais rápida e entro na sua frente.
— Posso lhe ser útil? — pergunto com meu sorriso Colgate, a marca
número um em recomendação dos dentistas.
— Eu estou indo falar com Arthur, licença?
— Vou anunciá-la — digo e caminho até a sala do meu poderoso
chefinho. — Senhor Arthur, Laís...
— Saia! Não há necessidade de você fazer isso todas as vezes que
venho aqui, é a sala do meu marido — ela diz, alterada, e eu mordo meu
dedo, buscando controle, me segurando para gritar que ele agora é seu EX-
MARIDO. Preciso manter a classe ao menos diante do meu chefe.
— Bom, senhor Arthur, vim apenas cumprir parte da função a qual fui
designada — digo antes de sair... Porém, fico atrás da porta, porque já que fui
humilhada, não sou obrigada a perder a fofoca.
Logo estamos eu, Júlia e Carla com os ouvidos atentos, grudados à
porta.
Não conseguimos escutar praticamente nada, apenas o choro
constante de Laís, e isso já basta para fortalecer ainda mais meus planos de
comemoração. Essa vadia merece sofrer. Quando o choro se torna frenético o
bastante, eu recolho minha insignificância e decido voltar ao trabalho, que na
verdade é nenhum, já que fiz tudo que deveria ser feito. Então entro no
Google e começo a brincar de adivinhar tamanhos de pênis. Busco alguns
famosos e logo em seguida abro outra aba, onde busco seus nudes. Primeiro
analiso as fotos com roupas e decido se é P, M, G ou EX, em seguida vou
para a foto dele nu e vejo se acertei ou não. Depois de meia hora nessa
brincadeira, vejo que errei apenas dois e descubro uma nova teoria para levar
para a vida. Há apenas alguns homens que você não dá nada quando estão
vestidos e podem te surpreender por uma piroca gigante quando estão nus e
duros. Ou seja, isso só confirma a tese de que “as aparências enganam”.
Quando a porta se abre, fecho rapidamente as páginas do Google e me
coloco de pé. Laís sai arrasada, amparada por seu advogado, e quando ela me
olha, dou um sorriso incrível, agora no estilo Oral B 3D White, seus dentes
visivelmente mais brancos em três dias.
— Desclassificada! — ela rosna.
— Vadia, mal-amada, solteirona! — rosno de volta e o advogado a
retira da empresa antes que um caos se instale.
— Mari! Pelo amor de Deus! — Júlia diz, chocada, e eu morro de rir.
Ah, me poupe dessa merda! Esse diabo sempre veio aqui se achando a dona
da porra toda. Desde que ela não é mais esposa do meu chefe tesudo, não sou
obrigada a nutrir nenhum tipo de respeito por ela.
— Não sei vocês, mas hoje estou indo comemorar!
— Comemorar o quê, sua doida? — Carla pergunta, virando-se em
sua cadeira de rodinhas.
— Comemorar o divórcio de Arthur, o que mais teria para
comemorar? Eu comemoraria por qualquer homem que tivesse livre dessa
mulher. Como Arthur é nosso chefe, nada mais justo do que estar feliz pela
sua carta de alforria — informo, batendo palmas e dando uma sambadinha até
minha mesa.
Pego meu celular e combino com Duda uma ida ao Caribbean essa
noite. Depois tento convencer Carla e Júlia, porém, só Júlia aceita, já que
Carla é comprometida.
Às 17h30, arrumo minhas coisas e vou até a sala de Arthur me
despedir. O encontro de pé, com as mãos no bolso, observando a cidade
através da enorme parede de vidro.
— Senhor Arthur?
— Oi, Mariana. Pode falar — diz, virando-se para mim.
— Está tudo bem? Eu estou indo, mas... Precisa conversar? —
pergunto.
— Sabe, tudo que você disse sobre Laís é verdade, exceto uma coisa
— diz e eu arqueio uma sobrancelha, esperando-o completar. — Você disse
que ela parece o tipo frígida, que faz sexo de dois em dois meses. Você errou
nessa, Mariana.
— Eu errei? Desculpe-me...
— Ela é frígida, muito mais do que você possa imaginar. Eu não faço
sexo há exatos dez meses — diz, deixando-me boquiaberta. Como assim,
população do meu Brasil?! Dez meses sem foder com um homem desses?!
Puta que pariu, eu chuparia até o nariz dele!
— Você... Como? O que você fazia? Eu não sei se quero saber, me
desculpe por estar sendo invasiva. Meu Deus, dez meses sem sexo!
— Não é o momento, mas em breve eu contarei a você o que fiz
durante os últimos dez meses — diz de uma maneira enigmática, que faz cada
pelo do meu corpo se arrepiar. Caminha até a porta, segurando-a para que eu
possa sair e diz: — Divirta-se, Mari, bom final de semana.
Não há mais nada que eu possa falar ou responder, apenas o encaro
alguns segundos e movo meus pés rapidamente para fora dali, mais uma vez
quase me esfregando em seu corpo, já que ele decidiu deixar pouco espaço
para mim no dia de hoje.
— Misericórdia! — falo alto.
— Disse algo, Mari?
— Disse apenas... nada. Tenha uma boa noite, senhor Arthur.
Dessa vez dirijo para casa sem música. Já basta todo barulho que
minha mente está fazendo. Eu estou chocada pela forma como Arthur contou
algo tão íntimo a mim. Nós nunca entramos em méritos sexuais e, de repente,
eu descubro que faz dez meses que ele não fode e ainda deixa no ar que fez
algo durante todos esses meses. A forma como ele falou... Puta merda! Ele
está fora dos limites.
Não existe mais a desculpa de casamento, mas eu me agarro
fortemente na desculpa dele ser meu chefe. Essa maldita atração que ele faz
as mulheres nutrirem por ele... Esse homem solteiro é uma bomba-relógio
que a qualquer momento vai explodir. Eu não quero fazer parte disso. Eu
quero apenas beber e transar com Lucas, Dudu ou Pedro, ou qualquer outro.
Arthur não!
Em casa, abro um vinho e bato com leite condensado, transformando-
o num maravilhoso pau na coxa! Coloco um funk estrondoso para foder com
a minha mente e tomo um banho demorado.
Demoro mais que o normal para escolher uma roupa, e acabo
escolhendo um vestidinho sexy e ao mesmo tempo solto e confortável.
Coloco uma cueca feminina por baixo, pois não sou obrigada a mostrar
minha bunda caso eu perca o controle sobre minha pessoa.
Capricho na maquiagem dos olhos. Passo um delineador forte, esfumo
uma sombra e coloco um batom vermelho.
Como estou virada no samurai essa noite e temo pela minha
sobrevivência, chamo um táxi.
Pego um copo de plástico e coloco um pouco de pau na coxa, em
seguida pego minha bolsinha, atravessando-a em meu ombro, e desço para
aguardar na portaria.
Fico alguns bons minutos conversando com Chico, o porteiro, até o
táxi buzinar e eu sair saltitante para o crime.

São onze horas quando chego na porta da boate, já encontrando Duda


e Júlia. Por ser uma vaca catalogada na boate, logo o segurança libera nossa
entrada. Eu já entro dançando ao som da batida eletrônica. Vamos direto para
o bar, onde as meninas bebem dois shots de tequila e eu bebo uma bebida
chamada Diabo azul, cinco vezes mais forte que tequila. Tomo duas seguidas
e pego mais uma antes de seguirmos para a pista de dança, onde me sinto
numa verdadeira rave.
Passo parte da noite perdendo a dignidade, rebolando até o chão e
bebendo tudo que me é dado. Duda já está atracada com um bombado e Júlia
desapareceu, somos apenas eu e eu mesma agora.
Alguns boys tentam me agarrar às vezes, outros se sentem no direito
de tentar dar uma passada de mão na minha bunda, como quem não quer
nada, e eu derrubo minha bebida sem querer sobre eles. Isso é a porra de um
desperdício e eu estou de saco cheio de ter que ir ao bar encher meu copo.
Puxo um moreno que está me dando confiança, apenas para me
certificar sobre uma dúvida que vem me afligindo a essa altura do
campeonato.
— Tem horas pra dar? — pergunto, gritando no ouvido dele.
— Eu não dou, só como, mas se você quer saber as horas, são duas e
meia da manhã, gata. Hora de você ir pra minha casa — ele diz, segurando
minha cintura, e eu dou um sorriso angelical antes de dar uma joelhada em
suas bolas.
O mau do álcool é que ele me transforma em uma pessoa que eu juro
por Deus que não sou. Eu não bebo muito, mas o pouco que bebo me
transforma em uma devassa que bebe pra caralho! Eu odeio bebidas
alcoólicas e odeio que elas sejam tão necessárias nesse momento! Percebo
que nem meu nome eu sei mais e decido ir buscar mais uma rodada, para ver
se relembro quem sou, de onde vim e porque o céu é preto à noite e dizem
que é azul.
Remexendo ao som do ritmo do Olodum, caminho até o bar. É
incrível que eu não saiba o meu nome, mas saiba exatamente o caminho que
me leva a pecar.
Pego meu best amigo barman pela camisa e o puxo até mim.
— Essa música não parece com aquela “requebra, requebra, requebra
assim” do Olodum? — pergunto, rindo, e ele me olha, segurando o riso.
— Mari, tá na hora de parar — ele diz e eu faço uma careta.
— Mais uma dose. É claro que eu tô a fim, a noite nunca tem fim —
canto, sinalizando para ir pegar a birita, o mé, a cachaça.
Enquanto ele some do meu campo de visão, me viro, apoiando meus
cotovelos sobre a bancada. Rio para caras aleatórios, só por rir mesmo, não
sou capaz de pegar ninguém nessa noite bela com céu estrelado e lua cheia,
onde os lobos devem estar uivando.
Olho para o lado e dou uma gargalhada de dobrar a barriga ao ver o
cara sentado em uma banqueta me encarando. Sangue e fogo!
— Meu Jeová bendito! — exclamo, incrédula, e me viro para o meu
amigo, que está com meu maravilhoso drinque na mão. Coloco o canudinho
na boca e chupo eroticamente, voltando meu olhar para o homem. Do nada,
ele arranca brutalmente o copo da minha mão e pede uma água para meu
friend. — Cara, cê está de zoeira! Cadê as câmeras? Só pode ser uma
pegadinha. Você é dublê do meu chefe! E vem tirar minha bebida?! Que o
diabo que te carregue! Eu não te dou essas confianças! — digo, rindo, e me
aproximo o suficiente para quase grudar nossos narizes. — Você! Eu não te
contratei para vir aqui, ok? Essa é a despedida de casado do meu chefe, e não
quero um dublê!
— Beba — ele ordena, colocando a garrafa de água diante de mim, e
eu mostro o dedo do meio a ele antes de pegá-la.
— Eu só vou beber porque estou com sede, porque já vou te avisar, eu
não sou obrigada a nada nessa vida. Mesmo você sendo um gostoso, fodido
de maravilhoso com esses braços fortes e essa calça marcando seu pau... EU
NÃO SOU OBRIGADA! Santo Graal, será que meu chefe é gostoso igual
você?! Ele é meio tiozão, sabe?! Nunca o vi descamisado, embora tenha esse
fetiche, porque eu já te disse, né? Não sou obrigada a não querer foder com
ele sobre a mesa todas as vezes que o vejo. Onde está no contrato que eu não
posso desejar esse homem? Onde está no contrato da vida que pode existir
chefe desse porte? Eu vi... Misericórida... Ele é gostoso e há algo que marca a
calça toda. Onde está isso no meu contrato? Eu me demito! Cadê os papéis
pra eu assinar? — pergunto, socando o balcão. — Que diabo!
— Você quer foder com seu chefe? — ele pergunta, me encarando
sério, e eu volto a rir de dobrar a barriga, até que as lágrimas estejam
borrando toda minha make bafônica. Só paro de rir quando percebo que meu
rosto está na direção da sua virilha, onde encontra-se escondida uma
anaconda sinistra, volumosa. Isso me faz retomar a compostura.
— Oh! Meus Deus! Sua voz é tão igual! Tipo, você quer ser meu best
friend? Tipo, melhor amigo forever? Eu gosto de amigos...
— Somos amigos.
— Ebaaaaaaaaaaa! — grito e pulo no colo dele, o abraçando, em
seguida me afasto. — Preciso desabafar, viado! — Ele franze a testa, tão
bonitinho... — O que foi? Amigas chamam amigos de viado!
— Eu juro que não te conheço. — Ele parece decepcionado ao dizer
isso, mas foda-se. Arthur não sai da minha mente e preciso desabafar com
alguém que não me conheça e não vá me julgar.
— Então, meu chefe é a coisa mais perfeita, um tesão. Não, tesão é
pouco. Ele é mais que um tesão. Eu daria tudo, inclusive meu precioso a ele.
Hoje é a festa dele.
— Festa dele?
— Ele se separou da diaba loira que ele chamava de mulher e que não
fodia há dez meses — digo e cubro minha boca com as mãos, após perceber
que era um segredo secreto. — Migo, shiuuu, eu não falei isso, eu juro por
Jesus de Nazaré. Era um segredo de mindinho — informo e ele se coloca de
pé.
— Mariana, você está louca.
— Best, eu te amo por ser gostoso assim. Meu Merry Christmas, você
é um absurdo de gostoso. Quer entrar para a friendzone e ser meu amigo de
foda? Ou quer casar comigo? Eu me casaria com você na capela do Elvis
agora. Eu tenho passaporte, você tem? Vamos para Las Vegas curtir a night,
fazer coisas ilícitas. Eu pago. — Envolvo minhas mãos em seu pescoço, o
puxando para mim, e cheiro do seu peitoral até o pescoço, sem classe. —
Meu Deus, seu perfume quase me faz desmaiar! SENHOR ME AJUDE!
Foda-me tão duro quanto conseguir! — digo.
— Basta, Mariana. Estou te levando embora.
— Meu sonho era falar essa frase para meu chefe. Foda-me tão duro
quanto conseguir, Arthur Albuquerque... — Morro de rir enquanto ele me
segura firme pela cintura. — Foda-me, foda-me, foda-me, foda-me... Foda-
me!!!!! Foda-me, foda-me... Genteee, eu preciso dançar! — Me desvencilho
dos braços do friend e tento caminhar novamente para a pista, porém ele me
puxa tão forte, que caio sobre seu corpo, sem chance de equilíbrio. — Migo,
eu não posso ir com você. Você é apressadinho. Eu sou uma bêbada
consciente. Se você tá achando que cu de bêbada não tem dono, saiba que o
meu tem, eu mesma. Agora, se você estiver indo para um casamento em Las
delícias Vegas, eu até aceito.
— Cala a boca, Mariana, pelo amor de Deus! — ele implora, me
pegando no colo e me tirando da boate.
— Oh, meu Deus, serei abusada! Minha mãe vai me matar!
Nossinhora, eu juro pelo cordeiro que nunca mais vou beber, só não me mate!
Por favor, vamos ser best friends, viado!
— Mariana, cale a maldição da sua boca! — ele grita e me dá um tapa
na bunda, sinistro.
— Seu... Seu... Seu Titanic! Você é o tipo que só porque é gostoso,
acha que pode sair pegando mulheres inocentes e indefesas em festas — grito
e ele me coloca no chão. Coloco minhas mãos sobre seu peitoral duro e ouço
o barulho de um alarme de carro sendo aberto. — Até seu carro é igual...
Bicha... Tu és destruidora mesmo, viu. Eu te dou sem precisar forçar...
Vamos lá... Foda-me tão duro quanto conseguir na minha casa — digo, mas
me lembro de um pequeno detalhe. — Onde é minha casa?
Maldita seja essa mulher criada especialmente para foder a mente dos
homens!
Tenho certeza de que a frase “Foda-me tão duro quanto conseguir”
vai atormentar o resto dos meus dias e das minhas noites! Que maldição, ela
tinha que falar todas essas coisas obscenas para mim? Ela apenas não
consegue parar de falar e, a cada segundo que passa, sinto mais vontade de
deitá-la sobre minhas pernas e estapear essa bunda gigante que possui.
Coloco-a sentada no banco do carona e afivelo seu cinto. Ela ri, como
se isso fosse a coisa mais engraçada do universo. Ela nem sabe quem eu sou
e, ainda assim, está se permitindo entrar no carro de um completo “estranho”.
Mariana é um perigo ambulante; para ela, para mim e para a sociedade.
Merda, eu nem fazia ideia de que ela poderia ser tão louca! Agora que sei,
estou ligeiramente preocupado e cheio de questionamentos.
Quando decidi segui-la esta noite, jamais imaginei que terminaríamos
dessa maneira. Eu, inocente, pensei que ela estava indo se divertir como uma
pessoa normal, mas tudo o que vi foi o bastante para me deixar chocado e...
duro. Eu a acompanhei grande parte da noite através do camarote no segundo
andar. De lá, eu tive a visão perfeita da pista e, na maior parte da noite, eu
fiquei orgulhoso de como ela botou para correr cada homem que ousava se
aproximar. Vi jogar bebidas em alguns, chutou as bolas de outros, em
determinados momentos até tive dó de alguns deles. Eu me peguei rindo
diversas vezes quando ela errava algum passo de uma dança que só ela é
conhecedora, e me repreendi ao mesmo tempo por saber que todas as
maluquices que ela estava aprontando na pista de dança eram ocasionadas
pelo excesso de álcool. Ela bebeu. Ela bebeu pra caralho. Ela bebeu a porra
da noite toda e eu fiquei apenas a observando. Eu queria saber mais da
mulher que está há um bom tempo infiltrada em minha mente e eu descobri
mais do que esperava.
Eu espero que esse seja o limite de loucura que ela possui. Prefiro
acreditar que eu conheci o pior dela essa noite.
Nem por um maldito momento ela se parece com a minha assistente.
Mari sóbria é uma mulher responsável, madura, comprometida. Já tive alguns
vislumbres de um pouco de loucura, mas nada que me fizesse mudar o
conceito que tenho sobre ela. Simplesmente sempre achei sua conduta
impecável. Até hoje.
— Qual seu nome, viado? — ela pergunta enquanto tomo meu
assento e agarro o volante. Essa é a terceira ou quarta vez que ela me chama
de veado, viado com “i” na língua dela. Eu estou ficando puto pra caralho. Se
ela estivesse em sã consciência, eu mostraria o quão “viado” eu posso ser.
— Pare de me chamar de viado, Mariana. Apenas fique calada, durma
e eu te levarei para casa — aviso.
— Isso é injusto. Diga-me seu nome, best gostoso, para que possamos
ter um momento bom.
— Arthur Albuquerque Bragança! E nós não estamos indo ter um
momento bom! — grito e ela começa a rir. Porra, ela é tão linda rindo que
quase faz dissipar a raiva que estou sentindo nesse momento.
Por que eu sinto que estou fodido? Essa noite foi o divisor de águas
da minha vida e eu nem mesmo esperava nada disso. Eu era apenas um
homem que queria ver sua assistente gostosa na balada, nada mais que isso.
Eu sempre fantasiei com ela, desde o momento em que a vi pela primeira vez.
Não é só pela beleza inigualável ou o corpo feito para o pecado. É pela
autenticidade, sinceridade, inteligência, pelo poder de persuasão que ela
possui. Ela é uma bomba atômica, um pacote completo e malditamente sexy.
Ouvir de sua boca bêbada que tem o fetiche de transar comigo sobre a mesa
do escritório fodeu a merda toda! Qual a chance de ela entrar na minha sala
segunda-feira e eu não imaginar exatamente a cena? Nenhuma. Nada mais
será como antes. A cada vez que eu a vir, vou lembrar-me dela falando sobre
meu pau ficar evidente na calça. Jesus! Ela disse que daria seu precioso para
mim. Que diabo é esse precioso? Eu apenas quero que ela dê. Ela disse que
sou pirocudo. Eu nunca fui chamado de palavras tão infames e infantis, e o
pior, quando elas saíram daquela boca, simplesmente se tornaram as mais
eróticas que já ouvi algum dia.
Eu gostaria de ouvi-las quando ela estiver sã. Eu vou trabalhar para
obter isso.
— Você é tão lindo. Seus olhos são como os do meu chefe — diz
baixo e eu a encaro, quase perdendo o controle do carro. Por que ela não pode
apenas ficar caladinha e obedecer? Só essa noite. Eu já estou perdendo a fé
em mim mesmo sobre ter algum controle e respeito.
— Você gosta mesmo do seu chefe — digo inutilmente, já que é
impossível manter um diálogo sério com ela agora.
— Eu gosto dele. Ele merece ser feliz. Ele é gostoso, lindo e gentil
também. Eu lamberia até o dedão do pé dele. Mas ele é meu chefe. Você
entende? Ele é meu chefe! Eu queria não sentir tudo o que sinto quando o
vejo, mas é inevitável. — Ela ri e bate palma. Que inferno!
— Ok, Mari. Eu não posso mais ouvir nada de você hoje.
— Você não quer mais conversar comigo, best? Eu me sinto tão
sozinha e você não quer falar comigo — diz, começando a chorar. Ela parece
sentir uma dor na alma e me deixa ligeiramente curioso. Isso basta para que
eu acelere e chegue até seu apartamento o mais rápido possível. Assim que
estaciono na rua, pego sua bolsa e encontro a chave. Em seguida dou a volta e
a ajudo descer. O senhor da portaria fica nos encarando, em choque, e ela ri,
tão bipolar quanto é possível ser. — Chicooooooo!
— Olá, eu estou indo levá-la. Pode me ajudar a abrir a porta do
elevador? — peço, e ele gentilmente abre.
— O que houve com ela?
— Bebeu mais do que deveria — informo e ele balança a cabeça
positivamente, em compreensão..
— Se precisar de qualquer coisa, é só interfonar — diz e fecha a porta
em seguida.
Mari coloca as mãos em meus ombros e eu a seguro contra o espelho.
Seu olhar sobe até o meu e engulo em seco. Por que ela tem que estar tão
bêbada? Sua mão passeia delicadamente pelo meu rosto e eu fecho os olhos,
absorvendo seu toque. Eu a beijaria tão forte. Chego a estar arrepiado. Há
uma química.
— Eu te amo — diz, fazendo-me abrir os olhos, espantado. Quando
eu faço isso, ela começa a rir descontroladamente. — Foi tão romântico isso.
Você acreditou. — Eu ignoro, enquanto ela ri freneticamente, a ponto de
chorar. Foda-se, ela vai me deixar maluco.
Assim que o elevador chega em seu andar, vou em busca de seu
apartamento. Não demora para que eu o encontre e abra a porta.
— Onde é seu quarto? — pergunto e ela aponta para o final do
corredor. Pego-a no colo e a carrego, colocando-a sobre a cama em seguida.
Assim que ela está devidamente acomodada, vou até a cozinha em
busca de remédios. Encontro um pote gigante com todos os tipos de remédios
para ressaca possíveis. Isso me faz crer que é comum ela ficar dessa maneira.
Isso é foda! Mil vezes foda!
Pego um Epocler, um Advil e um copo de água. Quando chego ao
quarto, a encontro de pé, deslizando o vestido pelo corpo. Maldição, eu não
estava preparado para vê-la usando apenas uma calcinha tipo short. Acho até
que é mais sexy do que se estivesse ostentando um fio dental. Quando ela se
vira de frente, me engasgo ao observar seus seios. Eu não deveria estar
olhando, mas sou incapaz de mover meus olhos. Eles são perfeitos e
proporcionais. Seus mamilos são rosados e minha boca se enche de água ao
vê-los tão durinhos, pedindo para serem beijados.
Eu fecho os olhos e peço ajuda às forças ocultas. Quando volto a abri-
los estou resignado. Caminho até ela fixando apenas em seu rosto, ela sorri e
morde o lábio inferior tão forte que faz meu pau quase explodir nas calças.
— Beba, Mari. Onde ficam suas roupas? Claro, no guarda-roupa, tudo
bem. Apenas tome esses comprimidos e eu vou pegar algo para você vestir.
— Coloco o comprimido em suas mãos e ela obedientemente os engole junto
à água. Em seguida abro o Epocler e ela vira o líquido amarelado todinho,
fazendo uma careta em seguida.
Viro-me para ir em busca de uma roupa, porém ela me puxa pela
camisa e gruda seu corpo no meu.
— Você vai embora? Não me deixe sozinha, por favor. Eu odeio ser
sozinha. Eu sinto falta de dormir abraçada, eu sinto falta de carinho. Por
favor. Não vá, moço. — Vejo lágrimas em seus olhos e meu coração se
contorce dentro do peito. Essa mulher tem um efeito sobre mim... Eu sinto.
— Eu não vou embora. Vou pegar uma blusa para você.
— Eu gosto de dormir assim, só de calcinha — diz.
— Hoje não, Mari. Por favor, apenas hoje não. — Me desvencilho
dos seus braços e vou até o armário, onde pego uma camisa qualquer e a
ajudo a vestir. A diaba vai até a cama engatinhando, me dando a visão mais
perfeita de sua bunda, e se acomoda em seguida, soltando um suspiro
prazeroso. Eu fico parado alguns segundos, sem saber o que diabos devo
fazer, mas, como a tentação completa, ela choraminga, pedindo para que eu
me deite ao seu lado.
Chuto meu tênis longe, retiro minha camisa e meu cinto. Em seguida,
estou deitado ao lado da mulher mais gostosa que já conheci na vida,
completamente bêbada. Não há nada que possa ser feito nessas
circunstâncias.
— Você pode me abraçar, best friend? — pede, virando-se de lado.
Ela simplesmente está querendo dormir de conchinha. Um dia eu a farei
pagar caro por toda essa tortura, mas agora simplesmente vou abraçá-la tão
forte quanto eu puder, mesmo que isso signifique ter uma cãibra no meu pau
pelo resto da noite.

Acordo num sobressalto. Meu coração parece querer sair do corpo, de


tão forte que está batendo. Esfrego meus olhos e tento entender onde estou.
Sorrio ao perceber que estou em meu quarto, na minha cama e segura.
Levanto-me, preparada para ter o mundo girando aos meus pés, porém nada
acontece. Não há dor de cabeça ou qualquer tipo de mal-estar. A última
memória que tenho é de chegar à boate, após isso não me recordo de
absolutamente nada. Como cheguei em casa? Por que eu não estou
morrendo? Por que estou usando uma camisa? Eu odeio dormir vestida!
Olho para a cama novamente e descubro uma bagunça completa.
Alguém dormiu ao meu lado. Quem? Júlia? Duda? Ou será que encontrei o
Dudu? Lucas não pode ser, eu não dormiria com ele tão cedo, mesmo que
estivesse bêbada.
Vou até o banheiro e faço minhas necessidades. Em seguida pego
meu celular e percebo que já passa de uma da tarde. Que merda! Checo as
mensagens e não encontro absolutamente nada que possa servir de
informação. Ligo para Júlia e ela não atende, nem mesmo Duda está
disponível. Eu apenas preciso saber como cheguei aqui. Meu senhor, eu estou
com a sensação de que algo terrível aconteceu. Eu nunca mais beberei
qualquer bebida que contenha vodca. Amnésia não é nada bom.
Retiro a camisa e começo a fiscalizar meu corpo. Não há nenhum
indício de que fui estuprada ou nem mesmo que eu tenha dado por vontade
própria, isso já é algo. Graças a meu bom Deus, definitivamente Ele protege
os bêbados.
Tomo um banho rápido e, quando estou me enxugando, meu telefone
toca. O nome de Júlia brilha no visor e eu atendo rapidamente.
— Mari, sua louca! — ela diz, empolgada. — Onde você foi ontem,
safada? Sumiu! Eu estava com um boy e de repente você desapareceu e eu
não tive tempo de ligar, sabe como é. Mari, ele é gostoso de todas as
maneiras — grita.
— Não vim embora com você? — pergunto, receosa.
— O quê? Tá louca? Mariana, você não está dizendo que não sabe
como chegou em casa, está? — ela pergunta, séria, e eu solto um suspiro,
optando por mentir.
— Sei, só queria fazer uma pegadinha. Jú, mais tarde nos falamos,
acabei de sair do banho — digo antes de desligar.
De volta ao meu quarto, tropeço em algo inusitado: um cinto,
masculino. Puta merda! Há um cinto masculino caído no chão do meu quarto!
Meu JESUS! Corro até a cama e cheiro o travesseiro, tentando identificar
algum resquício de perfume. Encontro um perfume totalmente diferente de
todos, tão masculino quanto é possível, e eu simplesmente quero abraçar o
travesseiro e beijá-lo de tão bom. Ao menos o cara era cheiroso, mas isso não
faz diminuir o tamanho da merda que aconteceu. Eu simplesmente vim para
casa com um estranho, e ele, aparentemente, dormiu na minha cama, sem
cinto, sem calça? Virgem Maria, eu preciso sair dessa vida bandida,
definitivamente! Eu não sairei pelo resto do final de semana, é uma
promessa!
Visto um short, uma camiseta, minhas havaianas e sinto a necessidade
de colocar um casaco gigante com capuz e pegar uns óculos escuros antes de
sair de casa. Meu foco é o mercado! Vou comprar todos os tipos de besteiras
possíveis para fazer meu tempo em casa valer a pena.
Após pegar a chave do carro e minha bolsa, chego na portaria
decidida.
— Boa tarde, Jair — digo ao porteiro.
— Boa tarde, dona Mari. Em que lhe posso ser útil?
— Eu gostaria de analisar as câmeras de segurança do meu andar,
existe possibilidade?
— A senhora foi assaltada?
— Não, ao menos acho que não. Só gostaria de ver como eu cheguei
em casa. O senhor Chico vem hoje? Ele deve ter me visto chegar.
— Chico só segunda-feira agora, dona Mariana. E as câmeras de
segurança só podem ser acessadas portando um boletim de ocorrência — ele
diz.
— Cê tá zoando?! Você tem ideia do quanto custa esse condomínio?
— Não tenho, senhora — ele responde e eu solto um suspiro,
frustrada.
— Nem eu, minha mãe que paga o condomínio anualmente, mas,
ainda assim, todo morador deveria ter acesso livre a isso! Sou proprietária de
um apartamento e o condomínio está devidamente pago!
— Desculpe, dona Mariana, são ordens.
— Que seja. Obrigada, Jair — digo, pegando o elevador para o
subsolo.
Entro no carro, coloco o capuz na cabeça e meus óculos estilo
besouro. Não abaixo os vidros, crendo que o insulfilm pode me proteger de
todos os males.
Não demora muito para que eu chegue ao mercado e comece a encher
um carrinho com chocolates, congelados, sorvetes, refrigerantes e pego até
duas garrafas de vinho.
Quando estou no caixa, meu telefone toca. Um número desconhecido
surge e eu decido que é melhor atender, preciso de qualquer informação sobre
a noite passada.
— Alô.
— Mariana, como está? — Reconheço a voz.
— Ar-Arthur? — pergunto, chocada por estar recebendo uma ligação
do meu chefe.
— Sim. Responda minha pergunta — ordena, soando mandão.
— Eu estou muito bem, e você, como está? Estou preocupada com
você! — digo.
— Preocupada comigo? Você saiu ontem à noite, Mari?
— Sim. Eu saí.
— Ah é? Onde você foi? — pergunta. Por que ele está interessado em
saber? Pensando num possível sexo casual dia desses, decido mostrar outra
Mariana.
— Eu fui a uma vigília.
— Uma vigília? — ele pergunta.
— Sim, vigília de oração. Minha mãe ia todas as sextas-feiras quando
morava aqui. Às vezes eu vou para ouvir uma palavra, uma oração. Sou uma
mulher de fé. Eu rezei pelo senhor, senhor Arthur. Eu espero que possa
superar essa separação. Logo vai surgir uma mulher bondosa, religiosa,
enfim, com inúmeras qualidades para o senhor.
— Você é uma mulher de fé? — ele indaga enquanto entrego meu
cartão para a caixa.
— Sim. O senhor não é religioso? O senhor deveria ser. Adorar ao
Senhor é sempre magnífico. Sinto minha fé renovada — digo, orgulhosa,
carregando o carrinho de compras até meu carro.
— Mariana, você conhece ao menos um dos dez mandamentos? Mais
precisamente um que diz “não tomai Seu santo nome em vão”? — ele
pergunta enquanto eu termino de guardar as compras no porta-malas e me
acomodo no banco de motorista.
— É claro que eu conheço, senhor Arthur — digo, não entendendo
bulhufas de onde ele quer chegar com essa conversa. Assim que ligo o carro,
uma imponente moto surge na minha frente, com um homem tremendamente
gostoso envolvido numa jaqueta de couro preta. Meu foco vai diretamente
para as coxas grossas, puta merda! Até me esqueço que estou numa ligação
estranha.
— Então por que está fazendo o contrário? Você não está agindo
como uma beata perfeita ou uma mulher virtuosa e religiosa — diz, me
deixando em choque. — Vamos lá, responda-me. Como você chegou em sua
casa essa noite, Mariana?
— Não... não sei.
— Mariana, nessa vigília em que participou fielmente, por acaso
você se lembra de pedir para que eu a fodesse tão duro quanto conseguisse?
— ele pergunta ao mesmo tempo em que o motoqueiro retira seu capacete,
revelando... ele mesmo.
Arthur Albuquerque está diante de mim e eu apenas deixo meu
telefone escorregar das minhas mãos. Foi ele quem me levou para casa!
PUTA MERDA! PUTA MERDA! Eu não posso ter pedido para ele me foder,
não posso, isso é um pesadelo!
Soco minha cabeça no volante diversas vezes, até ouvir uma batida no
vidro do meu carro. Eu não tenho coragem de abrir. Não tenho!
Que diabos eu vou fazer?
Não vou abrir, não vou abrir... É tudo que eu consigo dizer a mim
mesma. Abaixo a cabeça, rezando para que ele desista, porém isso não
acontece. Rezo um Pai Nosso e abro o vidro em seguida.
— Mariana, você está fugindo de mim logo após termos
compartilhado a madrugada? Isso machuca, sabia? Não mereço seu desprezo
— diz, obviamente segurando o riso.
— Não. Não estou fugindo. Claro que não. Eu fugindo do senhor? Eu
não seria capaz — respondo, nervosa.
— Eu acho que precisamos conversar. Tendo em vista que eu tenho
um encontro marcado com uma corretora em seu prédio, sugiro que
possamos nos encontrar lá.
— Você tem o quê? — pergunto, gritando.
— Coincidentemente estou indo ver um apartamento no mesmo
prédio que você reside, mais especificamente ao lado do seu apartamento. Eu
estou confiante que seremos vizinhos, Mariana. — Ele dá um sorriso
malicioso e eu volto a socar a cabeça no volante.
— Isso deve ser uma provação — digo a mim mesma, porém percebo
que falei em voz alta, porque ele acaba de dar uma gargalhada.
— Provação foi vê-la praticamente nua, Mariana — fala e sinto meus
olhos saltarem para fora, tamanho o absurdo. Isso não pode ser real.
— Você me viu nua? Você não pode estar falando sério!
— Como acha que eu vesti uma camisa em você? Aliás, foi a
senhorita quem ficou nua, eu fui um cavalheiro pegando uma blusa e a
obrigando a vesti-la. Mas isso não é um assunto para ser tratado no
estacionamento do mercado. Eu estarei em seu apartamento em breve. Dirija
com cuidado — diz antes de sair, me deixando desnorteada.
O observo subir em sua moto e colocar o capacete. Santo Cristo,
Arthur no estilo motociclista é tão quente quanto no estilo advogado chefe!
Inferno astral, tenha piedade de mim! Ele acelera e essa é a deixa para que eu
ligue meu carro e siga meu caminho. Dirijo o tempo todo com ele ao meu
lado. Em cada sinal que paramos, sou obrigada a vê-lo sorrir para mim e
piscar o olho. Tento manter o controle da mente e do corpo, tamanha
confusão está sendo tudo isso. Eu mereço! Espero que esse trauma seja o
suficiente para eu evitar a bebida pelo resto da vida.
Quando chego ao prédio estou nervosa o bastante para sair do carro.
Fico alguns minutos apenas olhando para o nada, mas o destino resolveu
enfiar um mastro de 50 cm na minha traseira sem lubrificante, pois Arthur
surge novamente, batendo no vidro do carro. Suspiro forte e desço.
— Você está fugindo — afirma, sorrindo. PORRA, PARE DE
SORRIR DEMÔNIO!
— Eu não estou.
— Me diga, por que está usando um casaco com capuz e esses óculos
gigantes? Esse casaco é desproporcional ao tamanho minúsculo do seu short.
Aliás, com todo respeito, suas pernas são fantásticas — diz, indo abrir meu
porta-malas e pegando minhas compras. Desde quando ele é abusado? Tranco
o carro e ele me segue até o elevador. Eu não tenho ideia alguma do que
dizer, então subimos silenciosamente. Em alguns momentos arrisco olhar
para ele e o pego fixado em mim. Seu olhar quase me incendeia. Acho que
nunca senti tanto tesão em um homem como sinto nele. Ele é gato, viu?! Se
tem uma coisa que ele é, é gato! Graças a Deus ele não pode ler meus
pensamentos.
Quando o elevador chega, caminhamos até meu apartamento. O vejo
caminhar até a cozinha e depositar as sacolas sobre o balcão. Eu retiro meu
casaco e o vejo retirar a jaqueta. Não consigo disfarçar quando percebo que
ele possui músculos. Os mais fantásticos deles... Seus braços simplesmente
possuem veias saltadas. Meu bom Deus!
— O que foi? — ele pergunta, sorrindo.
— Você tem veias e músculos.
— Eu tenho — diz, surpreso. — O que há de mais nisso? Eu malho.
— Obviamente você malha. Acontece que eu nunca tinha te visto fora
de um terno, e chefes não podem ser musculosos... — explico.
— Onde está escrito isso? Há mais alguma coisa que chefes não
podem ter, como tatuagens e abdômen definido? — provoca e eu balanço
minha cabeça, descrente.
— Por que você está fazendo isso, Arthur?
— O que eu estou fazendo, Mariana? — pergunta, se aproximando a
passos lentos. Meu Deus! Alguma alma penada precisa me dar o mínimo de
controle agora ou irei agarrá-lo como uma selvagem.
— Você está aqui, na minha casa, vestido e agindo de forma
inapropriada, e vai alugar um apartamento ao lado do meu. Isso parece
normal para você?
— O prédio é na melhor localização da cidade, é conhecido por
oferecer serviços que os demais não oferecem. Eu gosto dele. Eu posso te dar
carona diariamente para a empresa. Sinceramente, você deveria estar
preocupada com outras questões agora, e não com o fato de estarmos prestes
a nos tornarmos vizinhos e eu poder ver suas calcinhas penduradas no varal.
— Ele está flertando comigo, é isso? Eu não posso acreditar.
— É excesso de informações o suficiente para um dia.
— Por que permitiu que um estranho a trouxesse em casa? —
pergunta e eu me desvencilho de sua proximidade, indo até a cozinha. O
bendito homem está centrado em me deixar louca. Por que ele está me
acompanhando?
Começo a retirar as compras da sacola e ele me ajuda.
— Meu Deus, Mariana, como consegue manter esse corpo comendo
esse monte de besteiras? Não há nada saudável aqui! — diz.
— Não como só besteira. Digamos que hoje é um caso à parte. Como
não vou sair, eu preciso ter bons motivos para ficar em casa, chocolate é uma
parte deles.
— Você está sem sutiã, é uma bela visão. Esse visual despojado
dentro de casa combina muito bem com você.
— Arthur, o que está acontecendo aqui? Eu sinto que estou em
desvantagem. Você tem uma tatuagem? — pergunto e ele dá uma gargalhada.
— Você é tão maluca. Você se sente em desvantagem por qual
motivo realmente? Por não saber se possuo uma tatuagem?
— Não. Isso foi apenas um pensamento aleatório que surgiu. Eu me
sinto em desvantagem por não estar entendendo nada. Eu acho que você
precisa me contar desde o início. Começando por ter me encontrado na boate.
— Isso vai precisar de chocolates, sabe, talvez um vinho seja o ideal
para essa conversa — fala, dando um sorrisinho e levando a garrafa de vinho
até a geladeira. A campainha toca e eu caminho para abrir a porta. Que
merda! Esse não é meu chefe!
— Pois não? — digo simpaticamente a uma senhora que está na porta
do meu doce lar.
— Eu sou a corretora, meu cliente disse que eu poderia chamá-lo aqui
— explica.
— Dona Mariza, que bom que chegou! — Arthur fala atrás de mim e
eu me viro para encará-lo, incrédula. Como ele simplesmente dá o número do
meu apartamento para a corretora vir buscá-lo? Isso deve ser uma espécie de
um reality show, no mínimo.
— Podemos ir? É ao lado do apartamento da sua namorada.
Espertinho você, senhor Arthur — diz, rindo.
— Nós não somos namorados — falo, tentando soar tranquila, em
vão. Eu estou enjaulada em uma situação completamente louca.
— Dona Mariza, ela não sabe ainda, mas, certamente, no futuro, será
a mãe dos meus filhos — ele diz e me pega pela mão, saindo do apartamento.
Só tenho tempo de bater a porta e logo estamos entrando no apartamento ao
lado.
— Eu não serei a mãe dos seus filhos, eu não sou namorada e não
tenho vocação para a maternidade. Nós não demos nem um único beijo e
você está me propondo ser mãe dos seus filhos?! Meu Deus! Você está
usando entorpecentes. Você é irmão gêmeo do meu chefe, Arthur não agiria
dessa maneira insana.
— O problema é o beijo? — pergunta baixo em meu ouvido, levando
arrepios involuntários ao meu corpo. Que inferno de homem é esse? — Eu
posso resolver esse problema tão logo estivermos sozinhos. — Eu fico
boquiaberta e sou salva pela corretora. Eu acho que a amo.
— Bom, essa é a sala. Na verdade, senhor Arthur, é um apartamento
igual ao da sua namorada, apenas decorado de maneira diferente. A sala está
totalmente vazia, exceto pelo painel de TV. A cozinha possui todos os
armários, máquina de lavar, cooktop, exaustor, forno — a senhora diz, nos
levando até a cozinha, e em seguida nos faz caminhar até os quartos. — São
duas suítes e outro quarto que pode ser usado como escritório. Há armários
em todos eles, só há necessidade de comprar camas. Todo o apartamento está
equipado com ar-condicionado split. Acredito que já é uma grande economia.
Só vai precisar comprar cortinas, camas, mesa de jantar, sofá... — fala.
— Amanhã irei comprar com Mariana — ele informa.
— Eu? — pergunto. EU? POR QUE, SENHOR? É tentação demais!
— Está fechado, dona Mariza. Eu ficarei com ele — ele diz e eu
quase desmaio. Tento soltar sua mão, mas ele aumenta o aperto, me
impossibilitando. Vejo dona Mariza tirar um contrato já feito de dentro da
bolsa, com todos os dados dele, e ele apenas assina, recebendo as chaves em
seguida. Ou seja, já estava tudo planejado. É isso aí, sociedade, eu estou
fodida!
Meu chefe, a partir de agora, vai ver minhas roupas íntimas no varal,
vai me ver recebendo visitas íntimas dos meus “amigos”, vai ver quando eu
chegar bêbada. Vai ser um inferno. E eu também, provavelmente, estarei
dentro da sua intimidade, vendo mulheres aleatórias saindo do seu
apartamento. Eu espero que ele não seja um gemedor. Aliás, eu preciso
começar a pesquisar alguma empresa que trabalhe com isolamento acústico.
Preciso colocar essa bagaça no meu quarto!
Eu adoraria ouvi-lo gemer.
— Não vai parabenizar seu novo vizinho? — ele diz, dissipando meu
pesadelo.
— Eu não posso acreditar nisso ainda.
— Você pode me ajudar a comprar o que preciso? — pede.
— Eu ajudo. Mas não sei se vai dar certo, Arthur, você não podia ser
meu vizinho. Entende isso?
— Eu serei o melhor vizinho que você pode ter — informa e, após
fechar a porta, com apenas três passos, estamos de volta ao meu apartamento.
Ele enfim solta minha mão, pega uma caixa de chocolates no balcão e
se acomoda no sofá. Tudo bem. É muito normal tudo isso. Eu devo estar
surtando ou tendo um vislumbre do umbral.
— Sente-se aqui. Nós precisamos conversar — avisa.
Prendo meu cabelo num coque frouxo, tiro meu chinelo e caminho até
o sofá, sentando-me a um metro de distância dele e puxando a caixa de
bombom para o meio do sofá.
— Eu não vou te morder agora — informa.
— Ok, Arthur, apenas me conte tudo e pare de flertar. Você está
querendo me enlouquecer? Eu sempre o tratei com respeito, e agora você está
me deixando num nível alto de loucura.
— Nós ganhamos certo tipo de intimidade desde a noite passada.
Compartilhamos a mesma cama e você me confidenciou muitas coisas a meu
respeito. Nós vamos chegar a esse ponto, mas, primeiramente, eu preciso que
me diga. Esse comportamento que teve ontem é uma constante? Você permite
que qualquer pessoa a traga em casa quando está bêbada? Você fica nua com
facilidade para todos? — Puta merda! Ele jogou baixo agora.
Tomo uma respiração e decido terminar logo com isso.
— Não, Arthur. Você pode não acreditar, mas eu sempre estou em
torno de amigas e amigos, pessoas confiáveis. Ontem eu viria embora com
Júlia ou Duda, mas não sei como tudo aconteceu — digo, enquanto ele me
analisa friamente.
— Eu estava no bar quando você chegou bêbada. Você me viu e
começou a rir, dizendo que eu era o dublê do seu chefe. Você disse que não
havia contratado um dublê para minha despedida de casamento e disse que eu
era gostoso, que eu tenho braços fortes e que minha calça estava marcando
meu pau. Você disse que tinha o fetiche de transar comigo na mesa do
escritório, disse que eu era um tesão, me convidou para casar na capela do
Elvis em Las Vegas com tudo pago por você mesma, disse que me daria seu
precioso e que falaria para eu te foder tão duro quanto conseguisse. Eu devo
presumir que precioso é o seu...
— Não, não termine de dizer isso! Pelo amor de Deus, eu não posso
ter dito isso — digo e quero chorar.
— Mariana, eu sempre a admirei pela autenticidade, por isso tenho
obrigação de ser transparente com você. Eu não gostei do que vi essa
madrugada, não gostei do seu comportamento e creio que toda essa loucura
tenha um motivo obscuro por trás. Eu não sei como foi sua vida ou como é.
Você é uma mulher linda, jovem, incrível, sou a favor do divertimento e de
testar limites, desde que isso não possa vir a se transformar em um episódio
trágico. Poderia ter virado se não fosse eu a trazê-la para casa — ele diz sério,
mordendo um chocolate sensação, que escorre pelos seus lábios. O observo
passar a língua pelo lábio e minha calcinha umedece instantaneamente. Eu
estou bebendo a imagem como uma perfeita voyeur, me sinto embriagada a
ponto de perder a noção da realidade. — Não me olhe dessa maneira, Mari,
por favor — pede, exterminando meu filme erótico ao vivo.
— Eu não sei o que dizer.
— Comece respondendo uma única pergunta. Quanto das coisas que
me disse é verdade? — pergunta, se movendo no sofá, colocando-se numa
postura completamente diferente. Eu diria que agora ele está apreensivo e
tenso, me encarando como se pudesse ver através dos meus olhos. Engulo em
seco. — Eu preciso da sua autenticidade agora — pede baixo, como se
estivesse fazendo uma oração. Isso parece ter uma importância grandiosa
para ele, e decido bancar a merda que fiz na noite passada. Ele me admira por
ser verdadeira, e eu quero que essa admiração permaneça. Unindo toda a
coragem que possuo, decido respondê-lo.
— Tudo — digo e abaixo minha cabeça, incapaz de encará-lo. Eu
acabei de assumir tudo o que sempre pensei sobre ele. Não há uma maneira
que eu possa continuar essa conversa.

Ela confirmou. Ela apenas confirmou quando podia jogar toda a culpa
na bebida, como muitas pessoas costumam fazer.
Surpreendente.
Ela está olhando para todas as coisas, menos para mim.
Compreensível. Até ontem tínhamos uma relação estritamente profissional e
agora estamos aqui, sentados na sala, discutindo sobre a madrugada e sobre
as revelações inusitadas e fetichistas.
— Mari, olhe para mim — peço e a vejo suspirar. Demora alguns
segundos antes que eu tenha sua atenção. Seu rosto está tomado por um
rubor. É engraçado e fofo vê-la dessa maneira. Meu coração parece que vai
explodir no peito a qualquer momento. — Está tudo bem. É normal.
— É normal? Acabei de assumir que realmente penso tudo que falei
quando estava bêbada e você acha que é normal? Eu quero enterrar minha
cabeça no chão, Arthur.
— Ajudaria se eu assumisse que desde a entrevista de emprego
imagino-a curvada sobre minha mesa, dando-me uma magnífica visão dessa
bunda maravilhosa que possui? Você se sentiria melhor se eu dissesse que é
recíproco e que talvez eu possua mais pensamentos impróprios que você? A
questão aqui é que está claro que ambos temos interesses um pelo o outro,
porém, até o início da semana, eu nada poderia fazer. Fidelidade é algo
importante para mim e, por mais que eu nunca tenha amado Laís e que o
casamento tenha sido uma furada, eu sempre fui fiel. Agora eu estou livre,
agora eu posso fazer algo sobre o que sinto por você — digo, a analisando.
— O que você sente por mim? — ela pergunta, completamente
tomada pela tensão. Isso não deveria ser assim, há algo errado.
— Você está infiltrada na minha mente há um ano. Eu a admiro de
todas as maneiras possíveis. Eu sinto uma atração descontrolada por você,
Mari. Fantasio mil e uma possibilidades, eu me toco pensando em você...
— Oh, meu Deus, Arthur, você acabou de dizer que toca punheta
pensando em mim! — Ela surta, se levantando, e eu sorrio. Não estou aqui
para jogar limpo, estou tornando as coisas difíceis. Me levanto e a vejo
respirar com dificuldade, mirando seu olhar para minha virilha. Ok, essa
mulher é mais complexa do que eu podia imaginar. Em um minuto está
ruborizada e com vergonha, no outro está olhando meu pau fixamente.
— Você nunca se tocou pensando em mim? Você se toca, Mari?
Conte-me.
— Arthur, isso está errado. Completamente. Nós estamos lidando
com a autenticidade, mas há informações demais, demais mesmo. Você tem
uma tatuagem? Sua barriga é do estilo rasgada e cheia de gomos? — Rio.
Novamente ela e a bendita tatuagem.
— Você vai descobrir por si mesma em breve. Agora não fuja da
pergunta. Eu sei que você manja meu pau, eu sei que me acha gostoso, que
me daria sua traseira e que quer fazer sexo comigo sobre a mesa. Assumir
que se toca não vai tornar as coisas piores aqui — digo e ela rodeia o balcão,
se colocando do outro lado. O que ela acha que eu vou fazer?
— Isso é um jogo erótico? Eu sei brincar disso — ela diz de repente e
dá um sorriso. — Eu me toco, Arthur, mas vou te dar algo além disso. Eu já
transei com homens imaginando você e eu tive um orgasmo delicioso
gritando seu nome — fala e eu quase esmago a banqueta com as mãos. —
Era isso que você queria ouvir? Agora eu preciso acrescentar algumas coisas.
— Se for sobre os homens com quem fez sexo, dispenso.
— Não, é sobre mim mesma. Eu vou falar e peço que você saia em
seguida, não sou mais capaz de lidar com você hoje. Amanhã é outro dia, nos
encontraremos de manhã, vamos ao shopping comprar tudo que precisa e não
vamos mais tocar nesse assunto. Está bem? — diz.
— Diga.
— Primeiro preciso perguntar uma coisa. O que você espera de mim?
O que você quer de mim? — pergunta, bastante decidida.
— Eu quero você, por completo. Eu a terei. Se for falar o contrário,
saiba que consigo o que eu quero. Eu quero você para um relacionamento
sério, não vai existir outro homem em sua vida a partir do momento que eu a
pegar, farei com que você não queira nenhum outro. Ainda tem o agravante
de você ter me chamado de “viado” três vezes ou mais, e isso só aumenta a
vontade de provar o contrário — explico e ela bebe um copo de água,
desesperada.
— Aí entra uma questão. O comum é um homem usar essas palavras
para dispensar as mulheres... Antes que pense, não estou te dispensando,
estou apenas sendo realista. Eu não sou mulher para você. Eu sou solteira
assumida, prezo esse status. Tenho trauma de relacionamentos. Eu gosto de
dançar funk em paredões de som e beber, curto apenas sexo casual. Embora
você seja o homem por quem eu cultivo um desejo sexual desesperador há
um ano, isso se resume a sexo. Eu sinto vontade de transar com você, Arthur,
mas nada além disso. Eu não me imagino namorando. Todos os homens com
quem fiz sexo e tentaram um relacionamento, deixaram de existir para mim.
Sexo casual é o meu limite — diz de maneira firme, querendo mostrar sua
postura dura e decidida. Ela está tão longe de conseguir me intimidar.
Eu preciso provar um ponto. Caminho até ela, a viro, sentando-a no
balcão, e me acomodando entre suas pernas. Eu seguro firme sua cintura e a
faço me encarar bem próxima.
— Você não parece possuir limites, não é uma mulher limitada. Eu
adoraria transar com você, Mari. Eu gostaria de provar que todos os
orgasmos que você teve pensando em mim não chegam nem perto do que eu
posso fazê-la sentir. Eu gostaria de beijar essa sua boca esperta agora tão
duramente que poderia machucá-la. Você tem trauma de relacionamentos
porque seu namorado era a porra de um moleque, ele passou longe de ser um
homem. Os caras com quem você praticou sexo casual só deixaram de existir
porque não foram homens o bastante para foderem a merda fora da sua
mente. Há bons anos de diferença entre nós, você está lidando com um
homem, aqui não é um garotinho que vai ficar excitado ou intimidado
ouvindo você ditar as regras da situação. Aqui é um homem calejado da vida
e que quer você. O principal nós dois já temos, a atração e a química. Eu não
vou fazer sexo com você, não vou beijá-la, não vou tocá-la até que eu consiga
fazê-la implorar por todas essas coisas, até que eu consiga perceber que você
se tornou minha, porque é isso que está indo acontecer. Nada casual entre nós
dois vai acontecer. Você vai se tornar minha antes mesmo que possa perceber
e sem chances de controlar a si mesma — digo e a vejo engolir em seco. —
Estarei passando aqui amanhã, às 11h, para pegá-la. Esteja pronta. E já ia me
esquecendo de dizer, aproveite suas últimas semanas de solteira. Eu estou
vindo para fazê-la minha — digo e deixo-a sozinha. Já dei conteúdo o
bastante para entretê-la pelo resto do dia e da noite. Eu espero que ela
pondere friamente minhas palavras, pois elas foram as mais sinceras
possíveis.

Meu cu!
Não há uma maneira na vida que eu possa conseguir permanecer
trabalhando com Arthur. Eu estou indo ficar desempregada, não há outro
caminho.
O mal de brincar com a vida é quando ela resolve entrar na
brincadeira... É realmente uma merda quando ela decide revidar. Uma coisa é
certa: de ontem para hoje já perdi todas as pregas do meu cu, de tanto que
tomei nele! Não é justo! Não existe um meio-termo nessa vida ingrata. Ou eu
estou bem ou estou completamente fodida.
Como não ficar tentando imaginar o tamanho do membro de ouro que
Arthur possui? Como não imaginar ele se tocando e pensando em mim? Eu
estou atropelada pelos acontecimentos e minha mente não sabe para que lado
atirar. Ao mesmo tempo em que penso em seu pênis, penso nas demais coisas
que ele disse. Na verdade, nesse momento, o sexo está em alta, eu preciso
assumir ou estaria enganando a mim mesma. Eu nunca ouvi palavras tão
quentes em toda minha existência, e olhe que já ouvi muita coisa, do tipo
“rebola na minha pica, esfrega essa boceta”. Isso tudo é fichinha perto da
intensidade com que Arthur falou comigo, e ele foi um cavalheiro na escolha
de palavras, nenhuma delas remete às putarias em que minha mente está
acostumada. Eu gozaria apenas se ele continuasse falando e me olhando
daquela maneira desconcertante.
Ele disse que eu irei implorar por ele, meu ânus que vou! Até posso
tentar dar uma seduzida, só para provar que consigo sexo e todas as coisas,
mas implorar jamais. O que ele tem contra fodas casuais? Seria tão simples.
Eu assumi tudo que disse e então ele poderia arrancar minha roupa ainda na
sala e me foder no sofá. Aí eu ficaria um pouco receosa por ele ser meu
chefe, mas no dia seguinte já estaria de boa, com a cara de pau que Deus me
presenteou. Mas aí, como nem tudo pode ser perfeito, o diabo vem agir na
minha vida e Arthur me lança uma granada, dizendo que me quer por
completo. Completo para mim seria querer sexo oral, anal e vaginal... Mas,
para ele, completo significa um relacionamento sério. Que inferno! Eu
morrerei sem brincar naquele tronco que ele tem entre as pernas! Isso é uma
tristeza. A gente deseja o cara por um ano maldito, aí o cara fica solteiro e
você pensa “vou dar para ele”, e tudo que ele te oferece é um relacionamento.
Eu esperava mais de Arthur. Estou decepcionada!
Estou na minha segunda garrafa de vinho e no segundo prato de
lasanha congelada Perdigão, assistindo um filme de homens gostosos, para
tentar achar qualquer solução para essa vida infeliz. Não a encontro. Por fim,
ligo para Lucas e pergunto se ele está a fim de fazer as pazes. Quando ele
responde que sim, apenas o mando tomar no cu e desligo o telefone. Não sou
obrigada a lidar com homens frouxos.

Acordo às onze da manhã, com a maldição da campainha tocando


justo no meio de um sonho erótico com Arthur. Caminho cambaleando até a
porta e a abro para encontrar o empata foda do homem que estava dando duro
em meu sonho.
— Você está péssima — ele diz, entrando. — Eu disse que a pegaria
às onze e você parece ter acabado de acordar de um pesadelo, onde um trator
a atropelava.
— Um big trator, delicioso — penso alto.
— Ok, era um sonho quente... Era comigo? — pergunta, dando um
sorrisinho.
— Não. Eu estou indo me trocar — falo, o deixando na sala e me
arrastando até o quarto.
Minutos mais tarde já fiz minha higiene e já estou devidamente
vestida com um vestido longo, uma rasteirinha e apenas um batom claro.
Quando volto à sala o vejo me olhar da cabeça aos pés e aproveito para fazer
o mesmo. Maldito seja! Ele está com uma camisa completamente apertada,
que se ajusta a todos seus músculos, bermuda e tênis. Até as panturrilhas dele
são gostosas e másculas. Eu as morderia! É como se estivéssemos fazendo
sexo com os olhos... Nesse momento estou o montando como uma amazona.
— Deus, você é linda demais, Mari — ele diz e eu nem coro, porque
sou descarada mesmo.
— Você também é um pedaço quente. Digo... você é lindo.
— Pedaço quente, hein?! Gostei disso. Vamos? — fala. Saímos e eu
fecho a porta do apartamento.
— Vamos. Eu fiz uma lista ontem à noite do que você precisa
comprar de imediato — informo, enquanto caminhamos até o elevador.
— Você fez?
— Eu fiz. Não é legal ir de loja em loja sem saber o que comprar.
Acrescentei utensílios domésticos, roupas de cama, essas coisas...
— Obrigado por isso! — Ele sorri lindamente e eu desvio meu olhar.
Eu sobreviveria a um ataque de zumbis, mas não sei se sou capaz de
sobreviver a mais um dia na companhia desse homem. Que Deus me proteja!
No decorrer da minha vida posso dizer que já andei de carro com
muitos homens, quando digo muitos, é porque realmente são muitos. Uma
porrada deles. Altos, baixos, negros, morenos, brancos, pardos, japoneses
ainda não (acredito na tese de que seus órgãos genitais são minúsculos),
fortes, magricelos, meio-termo... Enfim... Um homem dirigindo um carro é
algo comum, ao menos era antes de eu andar de carro com Arthur. Não sei
explicar, mas a forma como ele dirige é sexy. Suas mãos em torno do volante
são sexys, seu aperto é firme e deixa o monte de veias em evidência. Seus
braços ficam ainda mais musculosos e seu rosto sério e atento ao trânsito é
uma das mais belas visões, absolutamente magnífico! Suas coxas se
sobressaem a cada vez que ele pisa no freio e suas pernas levemente abertas
deixam um pacote notável no meio. Eu estou ficando doente por analisar
todos esses absurdos e morrer de excitação pelo simples fato de estar num
carro sendo conduzido pelo meu chefe! Me internem!
Nós fazemos todo o trajeto até o shopping no mais profundo silêncio.
Eu gostaria de poder entrar em sua mente e descobrir todos os pensamentos
que estão infiltrados nela nesse momento. Gostaria de saber se ela está
gritando tão alto quanto a minha.
No momento em que ele estaciona o carro, corre rapidamente para
abrir minha porta e, quando saio, nossos corpos se colidem de uma maneira
que me faz gemer instantaneamente. Eu acredito que as coisas estão piorando
para mim, e eu sinto que estou prestes a assediá-lo de maneira imoral. Nós
ficamos alguns segundos nos encarando, antes que ele possa se afastar e me
dar passagem, e assim que o faz, consigo voltar a respirar normalmente.
Caminhamos em direção às lojas e o sinto pegar minha mão,
entrelaçando nossos dedos. Nem no maldito inferno permitirei que ele faça
uma aberração dessas!
— Não, senhor! Você nunca me beijou e quer andar de mãos dadas?
E se encontrarmos sua esposa magnífica? Isso não pode ser feito dessa
maneira, Arthur.
— Você é um pé no meu saco, Mariana. Se eu tivesse te beijado
ajudaria? — pergunta.
— Talvez. Não sei. Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas
feitas pelo coração? — questiono e ele sorri.
— Eu estou entendendo. Nós estamos jogando, isso é bom — diz e eu
começo a guiá-lo pelo setor de móveis.
É tão programa de casal ir em um shopping de decoração... Uma
atendente vem até nós e Arthur decide que a primeira coisa a ser comprada é
uma cama. Ela nos conduz a um enorme stand, onde tem as mais variadas
camas, de todas as formas, cores e modelos. Há uma que atrai minha atenção
no mesmo momento, e parece que a de Arthur também, pois ele caminha
diretamente a ela.
— Esse modelo é o mais recente que temos — a atendente diz.
— Eu gosto, é enorme. Você gosta, amor? — ele me pergunta e eu
fico boquiaberta. — Sabe, ela gosta de espaço para brincar — diz à
funcionária, que tem seu rosto tomado por um tom de vermelho tomate. —
Você quer essa, minha gostosa?
— Arthur, você não está fazendo isso — respondo, mortificada,
enquanto ele me puxa para sentarmo-nos na cama. Fico em choque quando
ele se move para mostrar que ela tem molas.
— Há apenas um pequeno problema. Eu gostaria de uma cabeceira
diferente, é possível? Eu quero um modelo que dê para eu colocar algemas.
Minha namorada ama ser algemada.
— Claro, senhor, podemos providenciar isso.
— Oh, meu Deus! Isso não é real — digo, tampando meu rosto com
as mãos, e ele dá uma gargalhada alta.
— Há mais alguma coisa em que eu possa ajudar?
— Nós queremos tudo que uma casa precisa. Sofá, mesa de jantar,
móveis em geral. Há apenas uma questão, eu preciso que ao menos o básico
seja entregue ainda essa semana. A cama é o principal — diz e olha para
mim, dando um sorrisinho sacana. CAFAJESTE master! Eu não sabia que ele
era assim, esse depravado completo. Sou santa perto desse homem.
Mentira.
Ficamos pelo menos 40 minutos nessa loja e Arthur compra todos os
móveis nela, graças a Jesus. Em seguida vamos a uma loja de roupas de cama
e utensílios domésticos. Em duas horas já temos tudo que é necessário para
uma casa funcionar e bastantes itens de decoração. Arthur deixou essa parte
ao meu critério, quando viu que eu estava muito próxima de como uma
criança fica em um parque de diversões. O engraçado é que compramos tudo
como se fosse para nós dois usufruirmos, como se fôssemos morar juntos,
porém nada existe entre nós. Em determinados momentos eu até esqueci esse
pequeno detalhe e encarei a personagem “namorada”.
Agora estamos sentados no Outback, esperando a magnífica
costelinha que eu tanto amo e tomando chope enquanto conversamos.
— Você já pensou em fazer arquitetura ou designer de interiores? —
pergunta.
— Eu estava completamente perdida assim que concluí o segundo
grau. Eu tinha muitas coisas em mente e ao mesmo tempo nenhuma. Optei
pela Administração porque todas as profissões devem ser bem administradas,
então esse curso se encaixa a tudo. Na época eu não tinha ideia sobre
arquitetura e tal... Só após morar sozinha descobri uma paixão por decoração.
Talvez um dia eu volte à faculdade e faça um dos dois cursos.
— Você tem um gosto refinado para isso. Seria muito bem-sucedida
— diz.
— E você, Direito sempre foi sua primeira opção?
— Sempre. Quando eu era criança já tinha um talento para contornar
situações, eu era o advogado de defesa dos meus amigos. Aí, quando
adolescente, descobri que era bom com a vara criminal.
— Meu Senhor... Você está perdendo a noção, Arthur — digo, rindo.
Não sabia desse lado bem-humorado dele. É encantador, mesmo que
desconcertante.
— Estar com você em um domingo ensolarado me deixa bem-
humorado. É bom não ter que ficar um final de semana inteiro esperando pela
segunda. Para a maioria dos mortais, segunda-feira é o pior dia, para mim é
apenas o melhor — diz, me deixando verdadeiramente sem graça. — Você
cora! — afirma e logo em seguida dá uma gargalhada deliciosa.
— Isso não tem graça.
— Você acha que aqui conseguiremos encontrar um colchão inflável?
Não quero mais ficar no flat. É muito impessoal e eu quero estar no
apartamento quando começarem a entregar as compras.
— Eu posso te emprestar. Só não te convido para dormir na minha
casa pois não sou capaz de aguentar a situação — digo.
— Eu não aceitaria, de qualquer forma. Tenho autocontrole, mas não
sou de ferro. Já estou bem próximo de perdê-lo — explica e dá uma piscadela
de olho.
Arthur está entrando rápido demais no meu sistema, preciso conter a
situação antes que o estrago seja feito.
O restante do almoço transcorre dentro da normalidade esperada.
Felizmente, Arthur não faz mais insinuações desconcertantes. Assim que
saímos do shopping, passamos em um hipermercado, onde ele compra alguns
produtos de higiene e eu compro mais alguns chocolates, os quais ele não
deixa que eu pague.
Ele me deixa em casa, segue para o flat para buscar suas coisas, e eu
finalmente consigo voltar a raciocinar. Um simples final de semana está
sendo mais intenso que a minha vida toda.
Desfaço-me das minhas roupas em tempo recorde e pego uma garrafa
de vinho e chocolates, enquanto minha banheira enche.
Tento relaxar de todas as maneiras possíveis, mas Arthur não sai da
minha mente de forma alguma. Quando percebo, uma garrafa de vinho já foi
embora e já comi mais de 15 chocolates. Não sei lidar com ansiedade e com
um monte de acontecimentos. No fundo, torço para que esse montante de
chocolate desça para minha bunda ao invés de descer para a barriga.
Frustrada comigo mesma, pego o telefone e ligo para Lucas. Dessa
vez decido não o mandar para o inferno. Eu estou desesperada para um monte
de coisas, mas, principalmente, para esquecer meu maldito chefe.
— Olha, apareceu a margarida. — Ele atende no primeiro toque.
— Vamos fazer as pazes? Dessa vez é de verdade — digo, simples e
direta.
— Eu sinto que precisamos realmente resolver nossas diferenças.
Estou indo para sua casa.
— Nãooo! — grito. — Na minha casa não. Ou eu vou pra sua ou
iremos para um motel.
— É melhor o motel. Estou duro de saudades, Mari.
— Eu passo para te pegar em 40 minutos! — aviso e desligo em
seguida.
Destino cruel! Eu me sinto tão fodida. Arthur podia ser um homem de
uma pentada violenta, mas decidiu fazer o estilo Wando: “quero te dar todo
meu amor”. Na verdade, Arthur nem deveria existir, sua existência é o
bastante para fazer um estrago em mim. Esse negócio de atração pode ser
fatal. Quando ele era proibido eu conseguia lidar facilmente, era apenas mais
um homem gostoso e tesudo. Mas ele solteiro é demais para minha mente,
meu coração e meu corpo. Eles não conseguem chegar a um denominador
comum.
Com todo fogo no furico que pode existir no universo, me torno uma
mulher decidida. Após me secar, escolho um vestidinho solto e curto, opto
por ir sem calcinha, para já ir adiantando as coisas. Prendo meus cabelos num
coque frouxo, calço uma havaiana combinando e pego a chave do carro em
seguida. Passando pela cozinha, bebo um enorme copo de água e como mais
dois chocolates. Quando abro a porta de casa, quase infarto.
— PUTA QUE ME PARIU, CARALHO! — grito, deixando a chave
do carro cair e colocando as mãos na cabeça. Maldito inferno que estou
vivendo! Quando vou sair desse umbral?
— Mariana do céu, além de eu descobrir que você é ninfomaníaca,
tarada e louca, acabo de descobrir que é desbocada também — Arthur diz.
Ele está usando apenas uma bermuda.
— Nossa senhorinha da bike, Deus tá de zoeira comigo... Ele resolveu
que é o momento de pagar todos os meus pecados. Prefiro levar 100
chicotadas a ter que conviver com esse tipo de situação. Eu vou me sentar no
chão e chorar, meu Jesus. Eu quero morrer! — digo.
— O que é? — pergunta.
— O que você está fazendo na minha porta, vestido dessa maneira?
Em nome de Jesus, não faça isso!
— Nós compramos todas as coisas, acontece que eu pedi tudo para
entrega e agora estou sem toalha de banho. Gostaria de saber se eu poderia
tomar banho na sua residência.
— Oh, meu cu! Eu sinto que vou desmaiar! — digo, chorando, e ele
entra, fechando a porta atrás de si. Puxa-me até o sofá e se senta, me olhando
fixamente.
— Está acontecendo alguma coisa? Eu posso te ajudar? — questiona,
preocupado. — Você está de saída? Há algo para resolver? Está sentindo
alguma coisa? — Estou, estou sentindo uma enorme vontade de agarrá-lo!,
penso.
— Eu ia para a missa, mas realmente posso desmarcar com o padre.
— O quê? Como desmarcar com o padre? Existe uma nova
modalidade de missa agora?
— Oh, não, esqueça. Apenas tome tudo que você quiser. Um banho,
dois banhos, eu... — Se quiser, eu lavo cada parte do seu corpo! Maldito!
— Sabia que minha vizinha não me deixaria na mão! Aliás, tenho
estado na mão há dez meses, pensando em você — diz, se levantando, e eu
me levanto em seguida.
— Pare de falar que se masturba pensando em mim, diabo! — grito e
ele ri.
Estou desnorteada, mas vou até a cômoda no meu quarto e pego uma
toalha para ele.
— Bom, há três banheiros. No meu há uma hidro, se preferir.
— Deixe a hidro para outra ocasião — diz, piscando o olho, e eu toco
o foda-se. O deixo no meu quarto para que ele faça o que quiser. Me jogo no
sofá e choro. Eu estou chorando por ele ser absolutamente perfeito, gostoso e
por eu não poder usufruir. Essa é a maneira que ele encontrou de me torturar,
estou certa disso.
Meu telefone toca e é uma mensagem de Lucas, dizendo que estou
mais do que atrasada. Puta merda! Respondo dizendo que surgiu um
imprevisto e não poderei ir, então volto a chorar. É muita sacanagem fazer
isso com uma pessoa que tem um coração tão puro e bondoso como eu. Eu
nunca roubei doces de crianças, nunca chutei um gato ou taquei na fiação
elétrica, nunca maltratei um animal, exceto lagartixas e baratas, nunca neguei
nada a ninguém e agora estou sendo fodida pela vida. O que é aquela
tatuagem deliciosa descendo na lateral da sua barriga? E aquela no alto do
peito? Gente, Arthur não faz o estilo tatuado, eu nunca imaginaria qualquer
traço de tinta pelo seu corpo, e simplesmente agora descubro que elas existem
e são um pacote quente, ainda mais quente que toda a quentura. E aquele V
perfeito que leva direto para seu pau? OMG! Pego uma almofada e cubro
minha cabeça com ela... É o fim do mundo. Agora sou capaz de entender as
pessoas que dizem que o fim está próximo. Ele realmente está.
— Mariana, você ia para a missa sem calcinha? — Ouço sua voz
alterada e saio do transe completo em que me encontro.
FODE MESMO VIDAAA!
Entrei nessa guerra com um armamento pesado. Não há como jogar
limpo quando se quer algo com uma vontade tão insana. O primeiro tempo
desse jogo é tortuoso para ambos, mas estou em busca de um controle físico e
mental para reverter a situação e marcar um gol de placa. Na verdade, estou
ansioso por isso. É um sacrifício que vale a pena.
Eu quero romper todos os muros de proteção que Mariana construiu
em torno de si. Estou certo de que minhas atitudes não estão sendo em torno
de nada, basta um olhar e eu sempre recebo a confirmação do quanto ela quer
isso também. Essa percepção é boa e ruim ao mesmo tempo. É boa como um
incentivo para eu me manter no jogo, e é ruim para eu manter o controle do
meu corpo, que grita por um alívio que apenas ela será capaz de
proporcionar. Mari, de certa maneira, está me ensinando algumas coisas. Já
aprendi que às vezes a cabeça de baixo rouba toda a concentração da cabeça
de cima. Tem sido uma luta constante.
Eu estou impondo minha presença e ao mesmo tempo tenho que ser
forte para suportar a presença dela e toda eletricidade que traz consigo.
Mariana exala energia sexual, fogo, lascívia. Ela é tudo que eu preciso e
desejo, a junção de nós dois pode ser algo completamente explosivo e quente.
Não faço ideia de como será a primeira vez em que eu botar as mãos sobre
ela, pode durar dias até que eu as retire. É um desejo louco, desenfreado. Em
apenas um final de semana eu passei a conhecê-la de maneira mais intensa. O
porre louco de sexta-feira foi o suficiente para me motivar a tomá-la para
mim. É foda que eu saiba que devo ir com calma, por mim e por ela mesma.
Há um trauma de relacionamentos no meio de tudo isso. Eu não me considero
traumatizado, mas vivi merda o suficiente. E Mari, porra, Mari só namorou
um moleque que fez um grande estrago na personalidade dela. Ela é
perfeitamente quebrada, e eu estou disposto, ansioso, para juntar todos os
caquinhos que ela possui.
Enquanto tomo banho, me pego sorrindo ao lembrar a reação dela ao
me ver sem camisa. Foi proposital, há ao menos duas toalhas em uma das
minhas malas. Eu apenas quis matar a curiosidade dela, dando um pouco
mais do meu corpo para ela descobrir. Foi uma reação inusitada e engraçada.
É tão comum ver homens sem camisa na rua, mas, quando ela me olhou,
parecia que ela nunca tinha visto nada igual, que era a cena mais absurda de
toda sua existência. Eu causei um efeito e continuarei causando assim que
sair do banho, deixando um pouco de água sobre meus cabelos para escorrer
pelo meu peitoral. Eu aposto muitas coisas que ela ficará momentaneamente
possuída e isso servirá de conteúdo para ela pensar durante o resto da noite.
Eu quero deixá-la louca a ponto de pensar em mim em todos os momentos
em que eu estiver ausente. Eu quero que ela sinta necessidade. Eu vou testá-la
de muitas formas.
E faço exatamente isso. Visto minha cueca, a bermuda e saio do
banheiro vagarosamente, para pegá-la desprevenida. Acontece que, quando
eu chego na sala, eu quem sou pego, diretamente pelas bolas.
Mariana está deitada no sofá, com as pernas levemente abertas e
esticadas no encosto dele, até aí tudo bem. O problema é que ela está sem
uma maldita calcinha e eu acabo de ter um vislumbre de sua boceta
deliciosamente rosada. Meu pau quase explode em minha bermuda, clamando
por liberdade. Sou capaz de sentir sua cabeça molhada só pela visão. Fecho
minhas mãos em punhos e respiro fundo, repetidas vezes. Um lado meu quer
continuar com os planos e esperar, mas o outro, o outro quer apenas abrir
suas pernas e se enterrar fundo naquela bendita carne rosada que parece
apetitosa e apertada. Eu mal consigo ver seu clitóris... É a porra da boceta
mais delicada que já vi. Pequena... Maldita!
— Mariana, você ia para a missa sem calcinha? — pergunto e a vejo
me encarar desesperada. Em seguida tudo acontece em um borrão. Em um
momento ela tem seu olhar fixo em meu peitoral e no outro está caída em
meio a dezenas de cacos de vidro da sua mesa de centro. Eu nem mesmo
consigo entender o que acabou de acontecer. — Maldição! — digo antes de
correr até ela, e o que vejo faz meu estômago revirar. Ela está chorando,
bastante.
— Meu tornozelo! — ela grita e eu a pego em meus braços.
— Calma, eu vou colocá-la na cama e vamos ver o que aconteceu —
falo assim que a pego, caminhando com ela até o quarto e a depositando
sobre a cama. Ela se encolhe, parecendo uma garotinha indefesa.
— Está doendooo!
— Shiu, vamos olhar, ok? Se for necessário vamos até um hospital —
a tranquilizo, pegando em suas pernas e tentando não olhar para o meio delas.
— Só o tornozelo dói? — pergunto.
— Sim... Muito, Arthur. O tornozelo direito — ela choraminga, se
apoiando em seus cotovelos e me encarando enquanto analiso seus pés. Deus,
até os pés dela são perfeitos! Meu pau vai gozar por conta desses malditos
pés!
Lentamente começo a massagear o pé que está vermelho e logo
começo a ouvir sons de gemidos. Maldita seja! Parece ter sido apenas uma
torção, porém eu ficaria a noite inteira massageando-a, se isso significar ouvir
esses sons maravilhosos.
Olho para seu rosto e a vejo analisando minha virilha descaradamente
enquanto morde o lábio inferior. É uma tentação infernal essa mulher!
— Está gostoso? — pergunto.
— Hummm, delicioso, Arthur. É tão grande. Eu acho que vou me
machucar mais vezes... — diz, ainda focada na minha virilha. Descarada!
— Eu não tenho culpa, você está sem calcinha e gemendo, porra —
justifico e ela tampa o rosto.
— Merda, me desculpe por isso — fala e eu começo a subir minhas
mãos pela sua panturrilha, mantendo o ritmo da massagem. Seus sons vão
aumentando conforme minhas mãos sobem e, quando chego à sua coxa, sinto
que estou prestes a enfiar minha cara em sua boceta e dar-lhe um bom
momento. Isso me faz parar. Não pode ser dessa maneira.
Eu retiro minhas mãos e ela solta um som em protesto.
— Está melhor? Acho que não é necessário um médico. — Me afasto
rapidamente.
— Estou, um pouco, foi apenas uma torção. Não sei como não fui
cortada...
— Eu preciso ir. Obrigado pelo banho. Da próxima vez eu posso não
ter autocontrole, lembre-se disso — aviso e saio do quarto, deixando-a
sozinha. Está foda.
Antes mesmo que eu possa alcançar a porta, ela está me puxando e
me jogando contra a parede.
— Você disse que não me beijaria, mas não disse que eu não poderia
beijá-lo — diz, me puxando pelo pescoço. Automaticamente minha mão está
entre seus cabelos, os puxando com força. Eu encaro sua cara tomada pelo
tesão e pondero se devo ou não permitir que esse beijo aconteça.
O não vence!
— Não sei, Mariana. Você acha isso sensato a se fazer?
— Por favor! Um beijo... Eu preciso ter ao menos um beijo — ela
implora e eu sei que posso fazê-la implorar mais.
— Você quer minha boca na sua? Você quer que eu a foda? —
pergunto, a puxando mais firme pelo vestido e esfregando minha ereção em
sua barriga.
— Sim.
— Então seja minha. Esteja certa de que quer ser minha e eu farei
qualquer coisa que você queira. Eu te darei tudo e não apenas sexo — digo, e
ela se afasta, entorpecida, perdida. É uma confusão de luxúria e ódio
correndo pelos seus olhos. É a deixa para que eu finalmente saia e a deixe.
Eu caminho para o apartamento, mais precisamente para o banheiro,
onde me toco e em questão de segundos estou gozando mais uma vez por
ela... Apenas ela.
Tranco a porta, dando duas voltas na chave. Eu, mais uma vez, quero
chorar. Meu corpo está tomado por um calor insuportável, parece que estou
dentro de um forno.
A campainha toca e eu abro, já preparada para morrer aos pés dele.
Porém, ele entra apenas para pegar o colchão que emprestei, e se vai,
deixando um vazio desesperador. E o fogo na pepeca também...
Olho para o lado e vejo minha linda mesinha destruída. Não tem a
menor chance de eu arrumar essa bagunça agora, isso nem chega perto da
bagunça que eu estou por dentro, então pode esperar.
Eu me sinto em plena fúria quando rasgo meu vestido. Meus seios
nunca foram tão pesados antes. Na verdade, todo meu corpo está numa tensão
que eu nunca vivi. Sempre foi tão fácil. Eu sentia necessidade de algo e então
eu ia lá e fazia. Eu poderia fazer isso hoje também, acontece que nenhum
outro homem será capaz de apagar essa merda de mim, apenas um. Arthur
acabou de me levar ao topo da excitação, acabou de explodir o limite fora de
mim. Eu estou puta por estar caindo no jogo dele, estou prestes a implorar.
Implorar o quê? Nada que ele vá querer. E novamente eu ficarei
frustrada, puta e revoltada o bastante. Eu me odeio por estar tocando meus
seios, me odeio tanto que paro e me dou um belíssimo tapa na cara, para
acordar para a vida.
Esse homem tem alguma maldição em torno dele. Ele é obra do cão,
fato. Não é normal essa merda. Ele tem que ter algum defeito. O que são as
mãos dele? E olha que só as senti em minhas pernas... e entre meus cabelos.
Meu Deus, nunca ninguém puxou meus cabelos tão forte. Foi uma mistura de
dor com prazer. Eu não quero imaginá-lo na cama, mas eu imagino, porque
minha mente também é seguidora nata da frase “não sou obrigada”. Ela me
trai, essa vadia, cachorra, devassa, pilantra, boqueteira, me trai. Ela me leva
diretamente para a imagem do taco de beisebol que ele carrega dentro
daquela bermuda. É uma anaconda disfarçada de pica. Essa merda atrai meu
olhar com uma facilidade que mal consigo disfarçar. É como se eu fosse um
cachorro olhando uma máquina, onde dezenas de frangos assados giram
brilhantes, com a pele suculenta, dourada... Foda-me, ARTHUR! Você foi
criado para destruir vaginas e mentes de mulheres inocentes, como eu!
Até mesmo a boca dele é hipnótica. Eu, Mariana, a mulher que já
beijou mais da metade da torcida do Cruzeiro, 10% da torcida do Atlético e
5% das demais torcidas do Brasil, estou aqui, fascinada por um homem,
como se eu nunca tivesse tido dezenas deles.
Caminho para o banheiro e tomo uma ducha gelada. Logo faz efeito e
estou batendo o queixo. Desligo a maldição e saio em busca de uma toalha.
Me enxugo e vou direto para o guarda-roupa, pegar meu pijama da Hello
Kitty. Acomodo-me na minha cama, em busca de algo que me distraia de
toda essa bagunça mental, e decido pegar um livro que descansa na minha
cabeceira. O título é “Intenso demais – S.C. Stephens”. Logo começo a
leitura.
“Sentindo-se sozinha, confusa e precisando de conforto, Kiera volta
sua atenção para uma fonte inesperada”. Vá tomar no meu cu... Esse povo
está me zoando! Olha a porra do início do livro. Vai se foder sei lá o quê
Stephens! Até os livros estão contra mim. Arthur é minha própria fonte
inesperada!
Sinto-me sozinha e devastada. Talvez eu devesse pedir uma xícara de
açúcar para Arthur, usando nada além da minha cara de pau. Será que ele
resistiria me vendo nua na sua porta? Merda, ele não tem açúcar em casa
ainda!
Eu apenas preciso esquecê-lo.
Coloco o livro de volta na mesinha e chego à conclusão que é o
momento de mudança em minha vida. Sinto necessidade de começar a fazer
coisas diferentes, como malhar, cozinhar mais, ir à missa de verdade. Talvez
seja o momento de dar um tempo das minhas loucuras e me isolar um pouco
do mundo. Estou começando a ficar confusa com tudo. Tenho me sentido
sozinha com mais frequência e agora surge Arthur para me deixar ainda mais
à flor da pele. Talvez seja o momento de pedir minhas férias da empresa e
fazer uma viagem sozinha. Talvez eu até decida passar uma semana em Nova
York com meus pais... Não sei. Eu apenas me sinto vulnerável como nunca
me senti antes. É o momento em que preciso colocar minha mente no lugar e
repensar todos os meus atos, todas as confusões mentais em que me encontro.
Preciso de um afastamento.
É exatamente isso.
Acomodo-me na cama, sentindo uma exaustão mental de repente, e
logo estou apagada, sonhando com braços fortes, pegadas fortes e uma mala
de respeito.
Eu estou enlouquecendo.
Acordo na manhã seguinte com um leve toque de mau humor.
Felizmente é uma das poucas segundas em que não acordo com ressaca pelo
excesso de álcool, porém, a ressaca que habita em mim é a ressaca moral
vinda diretamente do inferno. Eu implorei ao meu chefe um beijo, e mais que
isso, eu o pedi que me fodesse, e ele não o fez. Isso é humilhante.
Decidida a tirá-lo do meu sistema, me arrasto da cama direto para o
banheiro. Após minha higiene completa e um banho demorado, me sinto mais
disposta a encarar a semana. Visto uma calça jeans preta, uma blusa social
branca sem mangas, que é fechada por um laço no colarinho. Calço uma
sandália branca de salto fino, faço uma maquiagem básica, coloco alguns
acessórios nos braços e me sinto elegante o bastante quando me olho no
espelho.
Não é sempre que tenho ânimo para cuidar da aparência antes de ir ao
trabalho, mas hoje sinto uma estranha necessidade de fazer.
Na cozinha preparo uma vitamina de bananas com morangos e aveia,
e bebo rapidamente, antes de pegar minha bolsa e a chave do carro. Saio
receosa, pensando que encontrarei Arthur ainda no prédio, mas, felizmente,
saio sem vê-lo.
Assim permanece quando chego à empresa. Arthur ainda não chegou.
— Uau, o final de semana te fez bem, Mari! — Júlia diz, apontando
para minha roupa.
— Oh, fez foi uma merda de um estrago na minha vida! Na verdade,
não sei se foi um estrago ou uma bênção, em breve irei descobrir — digo,
sentando-me em minha cadeira.
— Como assim? Conte-me o que aconteceu! Desde sábado à tarde
você sumiu.
— Se eu contar você não vai acreditar, no momento eu prefiro me
calar e tentar entender tudo. Aí conto.
— Bom dia! — Carla diz, saltitante. — O chefinho ainda não chegou?
— cochicha ao ver a porta da sala dele aberta e vazia.
— Parece que não — respondo.
— Alguém está mal-humorada hoje! — ela diz e eu mostro meu dedo
do meio, porque sou infantil mesmo.
— Bom dia! — Dessa vez é Arthur quem chega. Eu tento ignorá-lo,
mas me lembro que aqui somos apenas chefe e assistente, então levanto
minha cabeça e engulo em seco ao pegá-lo me encarando. Ele está usando um
terno azul-marinho, que faz seus olhos ficarem ainda mais reluzentes, camisa
branca por baixo, uma gravata azul e sapatos pretos. Ele é um absurdo! As
meninas não sabem o que ele esconde por trás desse terno, mas eu sei. E,
porra, é uma coisa quente!
Minha análise termina com Júlia pisando em meu pé, volto a terra no
mesmo instante.
— Bom dia, senhor Arthur — cumprimento.
— Mariana, pode me acompanhar? Precisamos ver minha agenda
semanal e fazer alguns ajustes — diz, sério, e eu balanço a cabeça em
concordância, ficando de pé.
Pego a agenda e o sigo. Quando ele tranca a porta, sinto que meus
batimentos aceleram consideravelmente. Eu respiro fundo e decido apenas
tentar agir como sempre fiz. Me acomodo na cadeira e abro sua agenda. Logo
ele está ocupando sua cadeira e começamos a discuti-la.
— Eu vou precisar que me acompanhe na reunião de quarta-feira e
preciso que desmarque todos os compromissos de sexta. Os móveis irão
chegar e eu pretendo dar uma cor em ao menos uma parede de cada cômodo
— explica e eu já começo um filme pornô mental, com Arthur
protagonizando uma cena quente todo sujo de tinta. Meu Deus, que
mentalidade fértil o Senhor me deu! Eu pegaria naquele rolo...
— Tudo bem. De qualquer forma, sexta não tem compromissos —
respondo.
— Você está especialmente linda hoje — ele diz, atraindo meu olhar.
— Me diga, você está bem?
— Estou.
— Por que eu sinto que está mentindo? — pergunta, cruzando suas
mãos sobre a mesa e me encarando de uma maneira insana. Ele gosta de
autenticidade...
— Porque eu estou.
— O que eu preciso fazer para que se sinta bem? Você quer que eu
me afaste? — pergunta, sério.
— Eu não quero que se afaste. Eu não estou bem comigo mesma.
Apenas isso.
— Estou acessível, Mari, para o que quer que você precise. Basta me
dizer e eu farei — diz.
— Não prometa algo que não vai cumprir — respondo, dando um
sorriso antes de me levantar para deixar sua sala. — Licença, senhor Arthur,
se precisar de qualquer coisa basta chamar — digo, fechando a porta atrás de
mim.
— Hoje não rolou um café do Starbucks — Júlia diz, me avaliando.
Querida Júlia, na escola de atriz da vida eu sou a Júlia Roberts, não vou
permitir transparecer absolutamente nada.
— Graças a Deus, eu já enjoei de café — digo, rindo.

Na hora do almoço decido fazer uma ligação. Dudu atende no terceiro


toque.
— Marizinha.
— Que tal irmos jogar uma partida de sinuca, num boteco pé-sujo,
tomar umas garrafas de cerveja barata e degustar uns tira-gostos sinistros? —
pergunto e ele dá uma gargalhada.
— Em plena segunda-feira?
— Exatamente. Cidade grande nunca dorme, Eduardo. Me admira que
esteja assustado. Eu vou buscá-lo — digo. — Às 18h30. — Desligo. Não
quero voltar para casa hoje.
Fico alguns minutos com o celular na mão, aguardando-o ligar de
volta e desmarcar, para que eu possa partir para o plano b, e assim
sucessivamente. Felizmente, ele não faz.
Preciso de um amigo e preciso mais ainda descobrir numa escala de 1
a 10 quão fodida Arthur me deixou em um único final de semana.
O restante do dia passa num borrão e, às 18h25, estou na portaria do
prédio de Dudu, o esperando. Vejo seu carro entrar na garagem e minutos
depois ele surge de terno, retirando a gravata e a enrolando na mão. Nós
estamos indo para um boteco completamente vestidos com o traje errado.
— Linda — me cumprimenta, entrando no carro e me dando um beijo
na testa. Eu adoro que ele pondere se estou como amiga ou como amante esta
noite. É engraçado. É um nível íntimo de amizade. — Bora mexer essa
traseira gostosa em uma mesa de sinuca.
— Você de terno é engraçado.
— Você sem um shortinho ou vestido curto é instigante. Devo temer
um apocalipse? — indaga e sorrio. — Vamos, motorista, me leve onde quer.
— Coloca a mão em minha perna e eu dirijo, parando no primeiro boteco que
encontro com mesas de sinuca.
— Bora, boy — digo.
— Você levou a sério esse lance de pé sujo, Mari. Tá doida. Podemos
encontrar algo melhor.
— Ah, agora vai virar um playboy metido? Poupe-me, Dudu — digo,
descendo do carro, e ele me puxa de volta.
— É sério. Vamos procurar algo melhor. Olha a quantidade de
homens esquisitos ali dentro, não quero ter que bater em nenhum deles por
sua causa. — Ele está certo. Esse ponto me faz recuar. Volto a dirigir até
encontrarmos um boteco que ele julgue bom o bastante.
Já chegamos pedindo um balde de cerveja e uma porção de bolinho de
bacalhau. Em seguida, caminhamos rumo a uma mesa de sinuca e eu pego o
taco, observando Dudu tentar me ler.
— Você já jogou isso? — pergunta.
— Uma vez. — Sorrio. Ele caminha até mim.
— Vem. Vou ensiná-la a segurar o taco direito. — Me puxa pela
cintura e me vira de costas para ele. Sutilmente me empurra para frente e eu
sinto sua ereção crescendo em minha bunda. Eu tento não focar nisso e me
obrigo a prestar atenção em sua explicação. Tão logo eu consigo encaçapar
uma bola, ele se afasta e pega seu próprio taco para jogarmos. Por que eu não
me apaixonei por ele? Há uma fila de mulheres enlouquecidas por esse
homem. Eu apenas não estou entre uma delas, e ele está aqui, comigo,
jogando sinuca em plena segunda-feira. Tão disponível e atencioso. Eu
deveria ter me apaixonado por ele, seria tudo mais fácil.
Tomo alguns longos goles de cerveja e finjo estar cem por cento
atenta a cada jogada.
— Du, você já se apaixonou por alguém que nunca, nem sequer,
beijou? — pergunto enquanto me concentro em acertar mais uma bola.
— Tipo amor platônico?
— Mais que isso. No caso, você é correspondido — explico.
— Mas aí não há motivos para não terem se beijado. — Rindo, ele diz
o que é bem óbvio. É a porra de uma verdade... Não há motivos.
— Mas, tipo, você já se apaixonou por alguém apenas pela
convivência, sem ter existido qualquer tipo de contato físico?
— Não. Porém, sou frio em questão de sentimentos. Meu coração é de
aço. Então não sei se sou a pessoa mais ideal para você perguntar. Mas posso
me apaixonar por você fácil, viu?! Quer namorar comigo? — ele brinca.
— Não. Não quero andar exibindo um par de chifres — respondo,
rindo.
— Assim você magoa meus sentimentos. Mas me diga, qual o motivo
da pergunta? Não me diga que está apaixonada! Você é minha versão
feminina, Mari. E há apenas algo que eu deva completar: eu já dormi de
conchinha com você, já demos beijo esquimó, já te fodi de mil e uma
maneiras. Você não se apaixonou por mim. Se vier dizer que se apaixonou
por alguém que nunca sequer a tocou, estarei indo entregar o Oscar a esse
mito. O cara deve ser um highlander da sedução. — Eu rio. Rio até que sinto
lágrimas descendo pelo meu rosto. Rio não por ser engraçado, mas sim pelo
desespero de ser absolutamente tudo isso que ele acabou de falar. É um
completo absurdo que eu sinta estar apaixonada por um homem que nunca
beijei, toquei ou que me tenha fodido a ponto de me dar o melhor orgasmo da
minha vida.
Eu só paro de rir quando Dudu me abraça forte, tendo a consciência
de que estou quebrando.
— Respira, Mari. Respira e não pira. É esse seu lema, lembra? — ele
diz.
— Não, meu lema é respira e pira. Você errou, rapaz.
— Quem é o cara? — pergunta.
— Não há ninguém — minto.
— Então você acabou de chorar por ninguém? Sem motivo algum?
— Eu chorei de rir — explico.
— Não. Isso que você acabou de ter foi um acesso de desespero
completo. A conheço bem, Mariana.
— Não foi. Vai lá, vamos voltar ao nosso jogo — digo, me afastando,
mas ele me puxa pelo braço.
— Você está quebrando diante de mim, Mari. Eu sou seu amigo,
estou disponível para ouvi-la — oferece seu apoio.
— Eu não estou quebrando. Só é mais uma crise existencial.
— Deixe-me saber se for algo além disso — pede. — Agora vamos
para mais uma partida.

É pouco mais de meia-noite quando estaciono na porta de seu prédio.


Nós ficamos sentados no carro, olhando para o nada. Eu sou a primeira a
quebrar o silêncio, quando uma ideia suja surge na mente.
— Desça do carro — digo, descendo.
Encontramo-nos na frente do carro. Sorrio com a forma assustada que
Dudu está me encarando, esperando o próximo passo.
— Eu quero que me beije e me dê uma sarrada violenta — peço, me
aproximando e o puxando pela camisa.
— Suba. Passe a noite aqui — propõe e eu fecho meus olhos. Por que
eu me sinto uma traidora?
— Eu não posso. Não tenho roupas aqui e preciso trabalhar... —
explico e ele me pega no colo, sentando-me sobre o capô do carro. Ele se
encaixa entre minhas pernas e me puxa, grudando nossas intimidades. Uma
mão sobe para meus cabelos e a outra apenas me mantém firme, sem chance
de escapatória.
Ele passa seu nariz em meu pescoço antes de subir até minha boca. Eu
fecho os olhos e a primeira imagem que surge em minha cabeça é a de
Arthur. Seus lábios deslizam duramente contra os meus e sua língua pede
passagem. Eu permito. Eu o beijo de volta imaginando Arthur. É tão bom...
Eu o puxo mais firme, ele geme em minha boca. Arthur... Seu beijo é tão
bom... Meu corpo começa a ganhar um nível alto de calor conforme eu me
remexo sob ele. Sua mão sobe para meu seio e o aperta no mesmo instante
em que sua boca deixa a minha e desce para meu pescoço.
— Deus, Arthur... — gemo, e logo o vazio me invade. Demoro a abrir
meus olhos e, quando os abro, Dudu está me fitando.
— Arthur? É esse o nome dele? — pergunta.
— Como? Não! Não há nenhum Arthur — respondo, chocada. Não
fiz isso, não pode ser.
— Você gemeu esse nome, Mari — diz, colando sua testa na minha.
— Me desculpe. Merda, me desculpe! Não existe nenhum Arthur.
— Você não vai subir? — pergunta.
— Eu não posso, não hoje — rejeito o convite, forçando meus pés ao
chão, ainda agarrada à sua camisa. Ele tem um olhar... frustrado. Merda!
— Então vá. Já está tarde, Mari. Me ligue quando chegar ou mande
mensagem — pede e se afasta.
Entro no carro e dirijo para casa me sentindo pior que antes. Sinto
muito. Era isso que eu fui buscar, não foi? Então por que me sinto tão mal?
Por que sinto que traí Arthur e Dudu? Eu usei Dudu apenas para descobrir o
óbvio. Sou uma cadela perfeita!
Chego à minha casa cega pelo ódio e por todos os tipos de frustrações
existentes. Tomo um banho rápido, escovo os dentes cinco vezes e vou atrás
do que está me matando: Arthur Albuquerque. Ele não sabe, mas está vindo
dormir comigo essa noite.
Toco a campainha em seu apartamento e aguardo impaciente.
Quando ele abre, eu não perco tempo, o puxo pela camisa e saio o
arrastando para fora.
— Que merda! O que é isso, Mariana?
— Feche com chave, você está vindo dormir comigo! — O seguro
enquanto pego a chave por dentro e o entrego.
Ele faz o que mando e eu seguro o riso que insiste em sair. Um riso do
tipo que cobre todo o rosto, indo até acima dos olhos. Sabe como é?
Em seguida, o arrasto até meu apartamento e o libero das minhas
garras quando fecho a porta.
Aproveito o momento para descobrir que ele está usando apenas uma
camisa e uma cueca boxer, nada além disso. Infelizmente, a camisa cobre o
ângulo perfeito onde descansa seu pau e eu não tenho a chance de dar uma
manjada descarada. Por enquanto...
— Ok, me diga o que é isso, já estou em seu cativeiro — diz.
— Você tem obrigação de dormir comigo, já que vem me torturando
durante todo o final de semana. Eu não vou atacá-lo, mas terei seu corpo
grudado ao meu, em uma conchinha perfeita. Não quero ouvir reclamações e
não estou interessada em saber se suas bolas vão ficar além de azuis! O único
que está fugindo de sexo é você, então assuma as consequências dessa traição
— aviso e ele me encara em desafio.
— Onde você estava? — pergunta, fazendo meu estômago se
contorcer.
— Você quer mesmo que eu diga?
— Eu estou esperando por isso, Mariana — ele responde e eu decido
usar apenas meias verdades.
— Eu estava tentando buscá-lo em outros corpos, Arthur, mas parece
que você está vencendo esse jogo. Você está infiltrado na minha mente e
agora terá que arcar com as consequências até que eu entenda o que diabo
está acontecendo aqui dentro — digo, colocando uma mão sobre meu
coração.
— Você transou com outro homem? — pergunta, receoso, e eu sorrio.
— Não. Eu não fiz e, ainda que eu tivesse feito, teria sido com você.
Eu estaria transando apenas com um corpo diferente, mas seria você que
estaria me fazendo gozar, seria seu nome que eu estaria gemendo. — Minha
resposta faz com que ele solte um ruído alto antes de me colocar contra a
parede.
— Maldita. — Ele segura meus cabelos com força total e eu mordo
meu lábio inferior. Ele é selvagem, um maldito selvagem.
— Você vai me foder? — pergunto e ele solta um suspiro.
— Eu vou, quando você entender o que está se passando aí dentro e
descobrir que é minha desde o momento em que nos encontramos pela
primeira vez. Assuma as consequências da sua insegurança — diz, rebatendo
meus argumentos.
— Então, enquanto isso, você está indo dormir comigo, Arthur. E eu
não vou fazer isso fácil para você. Agora eu o quero na minha cama e sem
camisa, pois sinto muito calor. Eu sou quente, ardo em chamas.
— Você acha que está em condições de exigir? — pergunta.
— Eu acho — respondo com firmeza e ele bufa.
— Saiba que só estou indo porque você está implorando quase de
joelhos! — avisa antes de caminhar para o quarto. Eu retiro minha camisola
sexy da Hello Kitty ainda na sala e caminho atrás dele. O quarto está
completamente escuro, assim como toda a casa.
Rastejo pela cama, tentando descobrir de qual lado ele está. Como se
estivesse lendo em braile, vou passando minha mão até encostar nas suas
pernas.
— Porra, Mari! — grita e segura minha mão que, provavelmente, está
muito próxima do seu taco... Ele me puxa e me coloca totalmente deitada.
Seus suspiros me fazem sorrir. — Você não está nua, está?
— Por que não descobre? — provoco e ele se vira de lado. Logo sua
mão está em minha barriga.
— Maldição! Ou você veste a merda da camisola daquele bicho
esquisito ou eu estou indo embora!
— Você não fale assim da Hello Kitty, seu insensível! Nunca mais a
chame de bicho esquisito, ou nós estamos acabados! — ameaço.
— Nós nem começamos ainda, Mariana. — Ele ri.
— Então vamos começar pela parte principal, vamos transar!
— Você acha que o sexo é a parte principal? — pergunta,
demonstrando seriedade.
— Querido, mas é lógicooooo! Sexo é 70% de uma relação, ao menos
para mim. Sem um bom sexo não há motivo para ficar preso a uma pessoa.
Se um dia acontecer de ficarmos juntos, nós vamos transar 70% do tempo em
que estivermos no mesmo ambiente. Aliás, podíamos fazer um teste drive,
testar a mercadoria antes... — Disfarço, tentando mover minha mão, porém
ele me pega de novo.
— Isso não vai acontecer!
— Cara, isso tá igual um casamento no século passado, onde os
noivos esperavam até a noite de núpcias para foder. Agora veja, já pensou se
minha vagina é problemática ou você tem disfunção erétil? Nós estaremos
apenas fodidos. Eu acho digno testarmos logo nossos órgãos genitais na
sedução sexual, no cruzo frenético. Tipo, colocamos os dois para brincarem e
ficamos olhando como eles vão se sair... — digo e consigo dar uma apalpada
veloz em seu pau. — Deus, Arthur, eu estou chorando, e não é pelos olhos!
— choramingo quando ele retira minha mão.
— Você deveria ir em uma dessas tais sessões de descarrego. Você
não pode estar normal, há algo errado aí. Sua mente é excessivamente fértil e
louca — diz e ficamos em silêncio. Eu não sei se vou conseguir dormir, acho
que essa foi uma péssima ideia. — Mari?
— Oi.
— Você está sem calcinha e sem sutiã? — pergunta.
— Estou de calcinha e sem sutiã. Eu durmo nua, estou sendo
respeitosa o bastante por estar usando uma calcinha. Sou uma mulher
virtuosa, cheia de boas intenções e pureza, está vendo? Só você não enxerga
isso! — provoco.
— Você faz valer o ditado “o inferno está cheio de boas intenções”.
Você é o próprio demônio, Mariana — ele diz, rindo. — Agora vista algo,
meu amor, eu estou pedindo — pede, se afastando, e pega algo no chão. Em
seguida sou puxada pelos braços e ele me veste com sua camisa, evitando a
todo custo encostar-se em meu corpo. Seu cheiro impregnado nela me faz
gemer em satisfação. Eu até me jogo de volta na cama, sem precisar ser
obrigada. Sou uma boa garota!
Ele volta a se acomodar ao meu lado e me puxa para uma conchinha,
onde pressiono minha bunda em seu tronco duro.
— Arthur.
— Oi, Mari.
— Seu pau é grande, né? Cara, isso nunca vai caber dentro de mim, e
acho que vai ser tipo uma amostra de parto normal invertido, ao invés de sair,
vai entrar essa anaconda sinistra.
— Mari, cala a boquinha, meu amor. Vamos dormir. A propósito, ele
é proporcional ao tamanho da sua bunda, cabe direitinho. Agora durma e
sonhe comigo. Amanhã temos trabalho.
— Meu chefe vai me comer viva se eu atrasar? — provoco.
— Ele vai, ele só sabe pensar em te comer viva.
— Então serei rebelde, vou perder a hora e chegar bem tarde. Será
que ele me comeria na mesa dele?
— Mariana, diabo, eu mandei calar a boca e dormir! — ele xinga,
dando um tapa absurdo em minha bunda, que me faz gritar.
— Arthur, você é selvagem, né? Você gosta de sexo duro, sujo e
suado ou gosta apenas de sexo comum, tradicional, enfia e tira de leve? Você
geme? Você diz palavras bem sujas? Quem olha você naquele terno,
trabalhando, acha que só faz papai e mamãe, que possui o pau minúsculo,
transa de meia e tem ejaculação precoce. Seu pau consegue subir por
completo ou fica só meia-bomba? Ele parece ser pesado e grosso — digo e
ele me larga, saindo da cama. — Nãooo... Volte! Eu fico caladinha. Eu juro
por Jesus Cristinho! Por favor! — choramingo e ele finalmente volta sem
falar nada, passa o braço pela minha cintura e me puxa ainda mais para seu
corpo. Ficamos em silêncio até que ele começa a rir em minha nuca.
— Santo Deus, Mariana, você é maluca demais! Ejaculação precoce...
Nunca ninguém me disse um absurdo desses! Em menos de uma semana
você me chama de “viado” e diz que eu tenho ejaculação precoce. Você é tão
bandida, que eu nem consigo ficar puto.
— Você responderá minhas perguntas? — peço. — Conte-me mais
sobre sua sexualidade, conte-me como você se torna tomado pelo ritmo do
serumaninho transante!
— A única coisa que eu vou responder é que não transo de meia,
Mari. O resto você vai descobrir. Durma, anjinho de chifres transante. Acho
que é sério esse lance de ninfomaníaca... — diz, e sorrio antes de me
aconchegar mais em seus braços.
Não demora muito para que eu esteja envolvida numa noite de sono
tranquila.

Acordo com a claridade, antes mesmo que o despertador possa dar


sinal de vida. Eu estou deitada sobre um peitoral perfeito e minha perna
esquerda está jogada sobre as pernas de Arthur. Eu sinto vontade de chorar,
de tão bom que é acordar com uma maravilha dessas na cama. Eu não quero
acordá-lo, mas me remexo apenas o suficiente para conseguir levantar minha
cabeça e dar uma analisada no pacote completo.
Eu quase solto um grito quando vejo sua ereção matinal firme dentro
da cueca boxer preta Calvin Klein. Olho em suas coxas e minha boca se
enche de saliva... São potencialmente definidas. Subo e paraliso no perfeito V
de sua barriga, onde consigo contar seis gominhos acima. A parte mais
incrível de tudo isso, é o rosto perfeito que ele possui. A barba por fazer... Eu
gostaria de senti-la roçando entre minhas pernas... Eu gostaria de fazê-lo de
cavalo e cavalgar na cabeça do seu pau, já que toda a extensão pode vir a
furar meu útero e meus pulmões... Eu imagino a cena, e não é nada bonita.
Imagino que ele carrega um monstro ali dentro, que possui dentes e tudo
mais... Isso me faz rir.
Malandramente, caminho com meus dedos pelo seu peitoral e desço
até seu pacotão. Caminho com eles, tentando contar quantos passos meus
dedos conseguem dar da base até as bolas.
— Mari — Arthur geme meu nome, advertindo.
— Quando ele está fora da cueca bate acima do umbigo, eu chuto um
balde se não bater! Quando você goza deve dar para encher duas embalagens
vazias de leite Longa Vida... — Eu não tenho tempo de terminar, pois antes
mesmo que eu possa raciocinar, sua boca está na minha e seu corpo está
pedindo passagem entre minhas pernas.
Não sei nem mesmo em que devo prestar atenção: se é na sua ereção
dura moendo firme contra minha boceta necessitada, ou se é em seus lábios,
que parecem ter sido criados para beijarem os meus. Eles são tão macios, que
me fazem suspirar; e exigentes, que me fazem incendiar. Eu gozaria apenas o
beijando por alguns minutos. Seu beijo é firme e possessivo, sua língua é
esperta e perspicaz. Eu o imagino deslizando pelas minhas dobras... Minhas
pernas são incapazes de fecharem em torno dele, tudo que faço é deixá-las
bem abertas, dando e recebendo tudo que ele pode me dar. Remexo-me,
roçando sem um pingo de vergonha na cara, é a melhor sensação senti-lo
dessa maneira... Eu não quero imaginar como será quando ele estiver dentro,
tomando tudo de mim. Assim que engancho meus dedos em sua cueca, ele sai
de cima de mim de maneira desesperada, como se estivesse fugindo de algo.
— Arthur...
— Nos encontramos na empresa, Mari. Preciso ir — diz, e some do
quarto, deixando-me estirada de desejo na cama.
Eu fico paralisada, perdida em todas as sensações. Toco meus lábios,
tentando entender se o que acabou de acontecer é real ou apenas fruto da
minha imaginação. Quando me certifico do quão verdadeiro é, rolo na cama,
frustrada e absurdamente feliz. Eu consegui vencer uma barreira quando nem
mesmo estava tentando... Ele me deu o beijo que eu tanto desejava e... Uau!
Valeu a pena esperar, valeu a pena todo período de desejo reprimido. Esse
beijo foi muito além das minhas expectativas. Tudo tem sido além...
Eu repenso mais um pouco e uma dor quase insuportável perfura meu
peito. Eu sinto que essa foi a melhor e a pior nova experiência da minha vida,
pois agora eu tenho a certeza absoluta de que essa também pode ter sido a
última. Eu nunca fui beijada dessa maneira, tampouco fui nocauteada por um
beijo. De repente, percebo que não há nada mais que eu queira na vida do que
receber esse beijo todas as manhãs. Eu deveria estar pulando na cama,
gritando de felicidade, mas, ao invés disso, estou sofrendo pelo medo dos
meus próprios sentimentos.
Eu sinto que nunca mais serei capaz de beijar qualquer outro homem
na vida...
Mais uma vez não encontro Arthur pelo condomínio quando estou
saindo. Eu agradeço a Jesus essa bênção, pois não sou capaz de encará-lo
após a troca que acabamos de ter. Eu não faço ideia de como será o restante
do meu dia estando sob o mesmo teto que ele, e nem posso me dar ao luxo de
desabafar com Júlia e Carla, já que o desabafo é sobre o nosso chefe gostoso
e sexy.
É a porra de um inferno eu já ter passado o rodo geral e nunca,
nenhum dos homens, ter conseguido o feito de me tornar essa bagunça
completa; tudo por conta de um único beijo ou um final de semana
diferenciado. Eu sou uma sofredora neste momento.
Hoje sinto a necessidade de dirigir escutando música. Eu gostaria de
estar indo para qualquer outro lugar que não fosse a empresa. Preciso de um
pouco de distância para pensar. De repente, o trauma que adquiri no meu
antigo namoro parece estar se intensificando, talvez seja por eu estar quase
certa de que em breve estarei envolvida em um relacionamento. Eu não sei o
que quero, essa é a maior das verdades. Eu não me sinto pronta para dar
passo algum. Trabalhei minha mente para o casual e agora estou sendo
testada por todos os meios. Seria mais fácil se tudo em mim gritasse que não.
Mas, infelizmente ou não, nutro algo por Arthur desde a bendita entrevista de
emprego. Não sei explicar, mas houve uma conexão, algo estranho, uma
ligação que não se explica.
Sou a primeira a chegar na empresa e, dez minutos depois, Júlia entra
com um sorriso de orelha a orelha.
— Bom dia, flor do dia! Madrugou na empresa? — pergunta.
— Cheguei agora pouco. Que felicidade é essa? — questiono.
— Uma boa noite de sexo com o boy que conheci sexta.
— Oh, está rendendo! — digo, sorrindo.
— Muita coisa. Com quem você foi embora mesmo?
— Ah, um carinha qualquer. Nada relevante — explico.

— Você está escondendo algo, Mari! — diz. Carla chega dando bom
dia, já se acomodando em sua mesa.
— Ser casada é uma merda às vezes! — ela fala, bufando.
— Mas você nem é casada, só namora — digo, rindo.
— Dá no mesmo. É uma merda! No início tudo é maravilhoso, mas
chega uma hora que a coisa desanda, estou farta! — fala.
— Só existe uma coisa pior que ser solteira, ser casada! — brinco.
— Você realmente pensa isso? — A voz de Arthur invade o ambiente
e meu cu quase suga todo meu corpo para dentro.
— Até que me provem o contrário, sim, eu penso isso — respondo.
— Vamos estipular um prazo e eu farei isso... — ele me desafia e só
depois se dá conta de que estamos discutindo isso sob o olhar curioso de
Carla e Júlia. — Bom dia, meninas. Mariana, minha sala. Preciso agendar
algumas reuniões, estipular alguns prazos. — Disfarça sem um pingo de veia
artística. Decepcionante. Nem o coelhinho da Páscoa vai acreditar nessa
merda.
Ele entra em sua sala e eu me viro para encarar as duas.
— O que foi isso?
— Não sei, talvez ele esteja sentindo falta do casamento — minto. —
Ter escutado sobre o quão fodido é ser casado pode ter surtido algum efeito
indesejado dentro daquele coração. Pobrezinho, deve estar chorando dia e
noite. Laís era uma cadela, mas uma cadela bonitona, né?! Estilo Lulu da
Pomerânia.
— Verdade. Você deveria controlar a língua, Mari — Carla diz, rindo.
— Eu acredito que sim — respondo e pego a agenda, caminhando
para a sala dele em seguida.
Arthur está sentado em sua cadeira, brincando com uma caneta em
suas mãos. Me acomodo de frente para ele e aguardo o que quer que ele
queira, o encarando fixamente. Nós ficamos nessa troca de olhares por um
tempo, no mais completo silêncio. Em alguns momentos, observo seus olhos
descerem até minha boca e logo subirem novamente até os meus olhos. Eu
me mantenho firme, perdida em suas íris perfeitas e lutando contra a vontade
de agarrá-lo.
— Eu tenho um mês para transformar o conceito de relacionamento
em algo fantástico em sua mente e sua vida — diz.
— Você está desafiando a si mesmo? — pergunto em tom de
provocação.
— A mim e a você. Eu estou a desafiando a aceitar que é minha e que
teremos um relacionamento.
— E eu estou tentando arduamente descobrir o tipo de sentimento que
está crescendo rapidamente dentro de mim. Eu preciso descobrir se é
realmente o desejo de me relacionar a fundo com você ou se é apenas
vontade de dar a pepeca incansavelmente para o seu pau. Arthur, eu nutro
uma atração física muito forte por você desde o primeiro dia em que o vi. Eu
preciso entender o que está passando aqui dentro de mim antes de tomar
qualquer atitude. Isso é muito mais por você do que por mim, eu não me
perdoaria se o machucasse — digo com toda a sinceridade que habita em meu
ser e o vejo sorrir com um brilho diferente nos olhos.
— Cada palavra que sai dessa boca me deixa ainda mais louco por
você, Mari. Até mesmo as merdas que você fala, tentando descobrir mais
sobre meu pau. Eu estou esperando por você, apenas não demore muito.
Quanto menos demorar, mais cedo poderemos começar a brincar, Mariana —
diz, centrado e enfático.
— Brincar?
— Há muitas brincadeiras que eu quero fazer com você — ele fala, se
levantando e dando a volta, até estar ao meu lado. Minha bunda parece colada
na cadeira, eu apenas giro um pouco para que possa contemplar o homem
mais magnífico que eu já vi. Lindo! Absurdamente lindo!
Minha cabeça está na direção da sua virilha e isso torna impossível
que eu não olhe. Mordo meu lábio tão forte, que sinto o gosto ferroso de
sangue. Subo lentamente até seu rosto e o pego fazendo o mesmo que eu. É
uma tensão sexual absurda que rola entre nós dois. Poderíamos facilmente
colocar fogo num prédio apenas com essa troca de olhar.
Sua mão me puxa gentilmente pelo braço e eu sou obrigada a ficar de
pé, de frente para ele, quando eu nem mesmo sou capaz de sentir estabilidade
nas pernas. Eu sei o que vai acontecer e já estou sofrendo por antecipação
quando ele me pega pela cintura e cola nossos lábios para mais um beijo
destruidor. Acontece que, dessa vez, ele não é explosivo, é tão doce quanto é
possível. Isso toca um ponto dentro de mim que eu não estava esperando. Eu
sinto as lágrimas descendo de meus olhos antes mesmo que eu possa contê-
las. Sinto uma dor tão profunda no peito, que me falta o ar. Isso é surreal.
Que efeito arrebatador esse homem tem sobre mim! A cada palavra ou gesto,
sinto meu coração bater mais forte, como se fosse explodir.
— Mari, o que está acontecendo, princesa? Por que está chorando? —
pergunta com a maior de todas as delicadezas. Não colabora que ele seja tão
perfeitamente perfeito, apenas ajuda a doer mais. É um punhal sendo cravado
em meu coração a cada segundo. Esse belo homem diante de mim não
merece uma mulher louca e distorcida como eu.
— Eu... Deixe-me tirar o dia de folga? Por favor. Eu não sou capaz...
Eu preciso entender... Eu apenas nunca... Eu nunca senti nada assim — digo
tão desesperadamente, que ele parece assustado. Nunca me senti tão
vulnerável.
— Eu estou lhe causando algum mal? — pergunta, preocupado.
— Não. Eu preciso ir. Por favor. Desconte meu dia...
— Vá, apenas não fique incomunicável. Você está apta a dirigir?
— Eu estou. Eu... Deus! Arthur... — Estou quebrando novamente.
Saio da sala dele e pego minha bolsa mais que rápido. Não ouço nada
e nem ninguém enquanto deixo a empresa.
Chego à minha casa e me jogo na cama. Choro tudo o que tenho
direito e um pouco mais. Eu sou a única que está dificultando as coisas, tudo
por culpa do medo de me entregar e sofrer uma desilusão. Eu me sinto em
meio a um desespero completo.
Eu o quero tão forte quanto o medo que sinto de querer.
Quando, enfim, consigo algum controle sobre mim mesma, pego o
telefone e ligo para minha mãe. Eu sinto falta dela, muita.
— Oi, projeto de filha — ela diz.
— Mãe. Eu estou com saudades!
— Eu também estou, filha. Seu pai está mais ainda. Eu deveria ser
menos liberal e ter a obrigado a vir conosco. Como é bom ser vida louca! —
ela diz e eu rio, enquanto choro. — Você está chorando. O que aconteceu?
— Eu me sinto confusa e sozinha. Eu queria vocês.
— Deixe-me adivinhar, há alguém por trás dessa confusão? —
pergunta.
— Sim. Há alguém que merece alguém muito superior a mim, mãe.
— Ah, meu ovo, Mariana! Começou com essa crise de inferioridade.
Eu deveria ter atolado um tronco de árvore no cu daquele bastardo do seu ex-
namorado. Foi ele quem colocou essas merdas na sua cabeça! Apenas pare
com isso ou te internarei em uma clínica.
— Obrigada pelas palavras de consolo, mamãe.
— Filha, eu preciso desligar. Prepare-se, pois aparecerei aí a qualquer
momento. Comporte-se, Mari, e pare com essas baboseiras. Permita-se viver,
filha. Eu amo você — ela diz e desliga.
Filha da puta!, xingo mentalmente antes de tomar qualquer atitude.
Assim que retiro minha roupa para tomar um banho, o porteiro
interfona, dizendo que chegou uma encomenda para mim. Autorizo o
entregador a subir.
Coloco um roupão e fico aguardando na porta. Surge um enorme
buquê de rosas rosa e por trás dele um entregador com uma caixa nas mãos.
Meu sorriso rasga meu rosto e eu estendo as mãos para recebê-las, porém, o
entregador passa reto e bate no apartamento do outro lado do corredor.
A vizinha atende e ele entrega as flores para ela. Eu posso ver seu
rosto de contentamento. A entendo. Receber flores é sempre fantástico. Sinto-
me mortificada pela vergonha e pela inveja também, porque eu não sou
perfeita. Entro rápido, mas o entregador me impede de fechar a porta, me
entregando uma caixa. Ao menos a caixa é para mim.
— Obrigada — o agradeço e o vejo sumir pelo elevador.
A maldita caixa tem como conteúdo apenas algumas maquiagens que
comprei pela internet. Isso me faz chorar de novo. Eu queria flores do Arthur.
Sou tão bipolar!
Entro no banho chorando, como na cena em que Camila raspa a
cabeça na novela Laços de Família, ao som de Celine Dion (prefiro a versão
da Celine).
Estou tão complexa e contraditória, que saio do banho e visto uma
roupa de academia, decidida a ir correr na lagoa da Pampulha e almoçar por
lá mesmo. Talvez um pouco de ar puro resolva a bagunça mental.

Estaciono meu carro e coloco as chaves dentro do meu top, assim


como meu celular, deixando o fone para fora.
Entenda, eu não sou o tipo fitness que corre, eu não tenho aquelas
baboseiras de compartimentos para colocar o celular que prendem no braço.
Acredito muito que meus seios sejam o local adequado para mantê-los em
segurança.
Faço um alongamento rápido e começo a correr ouvindo funk batidão
pelos fones de ouvido.
Aos poucos vou encontrando alguns corredores. Vários homens,
bastante interessantes, por sinal. Talvez seja o momento ideal para fazer mais
um dos meus testes. Sorrio com a ideia maravilhosa que só minha mente
consegue ter.
Meu telefone toca e eu estou muito ocupada olhando homens para
verificar o número. Aperto pelo fone e atendo.
— Alô.
— Mari? — Arthur diz. — Você está ofegante. O que está fazendo?
— Tocando siririca. Eu tenho meus dedos enfiados bem fundo neste
momento, Arthur — digo, segurando o riso.
— Você pediu para não trabalhar e foi tocar uma siririca? É isso? Se
for, saiba que eu estarei realmente descontando seu dia.
— Eu vim correr na lagoa, apenas isso. Eu precisava respirar um
pouco, Arthur. Você é intenso, gostoso, tesudo e sexy demais para minha
sanidade. Se você tivesse aceitado um sexo casual, meus problemas já
estariam resolvidos — digo enquanto olho uma bunda perfeita na minha
frente.
Dessa vez é de uma mulher. Que inveja, Deus! Todos dizem que
minha bunda é perfeita, mas a dela está realmente de parabéns! Eu gostaria de
ser fitness, ter as pernas marcadinhas e o mínimo de gordura necessária no
corpo. Mas eu prefiro comer chocolate, hambúrguer e todas as coisas
calóricas que podem existir na terra. Por sorte, minha genética é boa e eu não
estou explodindo, ainda.
— É a falta de sexo que a está perturbando?
— Não. Para sexo basta eu fazer uma ligação e consigo. É a falta de
sexo com você. Eu gostaria de tê-lo dentro de mim num grauuuu... Complete
a frase, Arthur: eu estava no fluxo e avistei a novinha no grau, sabe o que ela
quer?
— O quê? Que diabos, Mariana!
— Ela quer pau. Na frase eu sou a novinha e o pau é o seu!
— Uau, hein, gata! — um cara passa gritando.
— Que isso? Quem está aí?
— Muitas pessoas, Arthur. Estou em um local público, ponto turístico
da nossa cidade — provoco.
— E, ainda assim, está no telefone falando de sexo — ele fala,
parecendo transtornado. — Eu estou indo buscá-la.
— Não, você não está. Não banque o namorado ciumento e
possessivo. Se ao menos fôssemos namorados ou você já tivesse me dado
uma sarrada voadora sexual, eu pensaria em aceitar. Mas agora fique
quietinho aí e me deixe tentar buscar a lógica para todo esse estrago que você
conseguiu fazer em menos de quatro dias — imploro. — A não ser que você
esteja vindo me buscar para me foder tão forte quanto conseguir... É isso?
Nós estamos indo trepar, fazer o coito, cruzar, fornicar?
— Nós não estamos. Você já está louca o bastante por conta de um
beijo, eu não quero imaginar o estrago se eu enfiar meu pipi no seu popo. —
Ele ri e eu rio junto. Parece que alguém já está sendo contaminado pela
minha loucura.
— Você já comeu um cu? — pergunto, tomada pela curiosidade.
— Mari, vejo que você está muito bem. Nos vemos à noite.
— Nãoooo! Nós vamos ficar sem nos ver alguns dias. Estou indo
pedir férias — digo.
— Nem por um caralho, você está ouvindo?! — ele grita.
— É exatamente pelo seu caralho que eu estou indo, meu amor. Nós
conversamos sobre isso depois — aviso e desligo o telefone.
Um homem negro passa correndo e eu me viro para correr atrás dele.
Nós estamos indo testar mais uma boca... Eu espero que isso surta algum
efeito e desbanque o beijo de Arthur.
Estou fazendo uma micareta na lagoa da Pampulha. Já estou no
terceiro beijo e, até o momento, nenhum deles conseguiu fazer o efeito
desejado. Quão estúpida e infantil eu sou por tentar enganar o meu próprio
coração?
Estou desistindo dessa merda de teste.
Game over, Mariana Barcelos!

Mari desligou na minha cara. Ela quer que eu concorde com sua fuga.
Não posso chamar de férias algo que ela está usando para fugir do que sente.
Nós, certamente, iremos conversar sobre isso. Eu entendo que ela precisa de
um tempo, embora eu ache um desperdício, mas daí ir viajar por longos dias
é outra história.
Uma batida na porta, Júlia surge.
— Senhor Arthur, Laís está aqui, querendo falar com o senhor — ela
diz, e Laís, mais uma vez, quase a derruba, entrando pela porta como um
furacão.
— Pode ir! — ela fala para Júlia, que sai.
Eu não me levanto. Apenas fico acomodado em minha cadeira,
observando sua audácia e completa falta de educação, além da falta de senso.
— Oi — ela diz, melosa, se sentando na cadeira diante de mim.
— Você nunca vai aprender que aqui não é minha empresa e eu sou
um funcionário, assim como as secretárias? Eu não sou dono daqui, você não
tem o direito de sair entrando dessa maneira, como se fosse esposa do dono.
— Eu peço desculpas a você e pedirei a elas. Aliás, está faltando uma
— diz, e eu sou um otário que acredita em Papai Noel.
— Sim, está, mas isso não é da sua maldita conta, não é mesmo? O
que a traz aqui? — pergunto.
— Eu estou sentindo sua falta. Esses dias afastados...
— Não. Nós estamos afastados há bastante tempo, e não há poucos
dias, desde a separação — informo, pois ela parece não saber.
— Esses dias afastados estão sendo os piores da minha vida. Eu sinto
falta de você em casa, Arthur. Nós podemos tentar um filho, ou qualquer
coisa que você queira. Eu sei que assinei a autorização para o divórcio dar
continuidade, mas somos capazes de reverter isso, não somos? Vamos
cancelar o divórcio e retomar o casamento.
— Não mais — afirmo.
— O quê? Você já está com outra pessoa, é isso? — pergunta,
austera.
— Laís, eu não quero ferir você. É melhor terminarmos essa
conversa. Não há mais como reverter nada, porque eu não estou disposto a
isso. O máximo que você vai conseguir de mim é o respeito, isso se parar de
insistir numa reconciliação. Eu gostaria de manter a educação e a
cordialidade com você, Laís, não torne isso impossível.
— Arthur, foram quatro anos de casamento. Não podemos jogar isso
fora. Podemos começar de novo e construir nossa família.
— Laís, você odeia crianças. Quando ousei sugerir um filho, você
quase me esfaqueou, isso não vai ser possível. Como eu disse, não mais.
— Mas você me amava... — insiste.
— Eu nunca a amei. Eu gostava de você, apenas isso. Eu gostava
quando você era alegre, interessada, disposta, atrativa... Isso acabou quando
nos casamos. Eu me casei achando que poderíamos dar certo, mas foi um
erro, você mesma sabe disso. Com um ano já estávamos vivendo um
relacionamento falido, os últimos três só duraram por conta da minha boa
vontade, você não fez nada para ajudar. Eu tentei, eu conversei, eu lutei.
Você não. Agora já foi. Eu estou bem, eu estou feliz.
— Há outra! Desde quando? Você começou uma relação enquanto
ainda estávamos casados? — pergunta quase em tom de afirmação.
— Eu não comecei nada enquanto estava casado, eu deveria, mas não
fiz. Você conhece o mínimo de mim para saber que fidelidade está no topo do
que eu julgo mais importante num relacionamento. Eu não a traí.
— Mas há outra? — insiste.
— Laís, por favor!
— Vamos tentar, eu voltarei a ser a Laís de quando namorávamos, eu
estou jurando, Arthur — ela diz, dando a volta e se sentando em minha mesa.
Isso é uma tentativa de sedução? Ela está fracassando.
Eu agora tenho um novo conceito sobre tentativas de sedução. Eles
envolvem frases do tipo: “foda-me tão duro quanto puder”, “eu tenho meus
dedos enfiados bem fundos”, “eu gostaria de tê-lo dentro de mim num grau”
e “você já comeu um cu?”... Isso é tudo que seduz agora, é tudo que me deixa
duro e desesperado. Eu amo a Mariana de todas as formas. Não restam mais
dúvidas sobre isso. Ela é uma diabinha louca que me ganhou por completo
desde a primeira vez que a vi.
— Arthur? Eu estou falando com você. Por que está rindo?
— Desculpe, eu não estava prestando atenção — respondo,
lembrando-me da teoria de Mariana. — Você sabia que 70% de um
relacionamento deve ser baseado em sexo?
— De onde tirou esse absurdo? — ela pergunta. — Sexo não é nem
10% de um relacionamento, Arthur.
— Você está errada. É 70% de um relacionamento — informo e me
levanto. — Bom, eu preciso trabalhar, Laís. Eu peço, por gentileza, que saia.
Não há mais nada a ser tratado, apenas assuntos que digam respeito ao
divórcio.
— Eu vou solicitar o cancelamento da entrada do divórcio e nós
vamos brigar no litigioso, Arthur. Eu não quero me separar! — ameaça e eu
sorrio.
— Faça como quiser. Você é a única que sairá perdendo. Enquanto
você estiver nessa briga, perdendo tempo em algo que não tem mais chance
de acontecer, eu estarei vivendo minha vida e sendo feliz. Litígio não é uma
dor de cabeça para mim. Já renunciei a praticamente todos os meus bens.
Litígio vai servir apenas para você ouvir na frente de um juiz e de uma plateia
que eu não voltarei atrás na minha decisão — aviso e caminho até a porta,
abrindo-a para que ela possa se retirar.
— Eu te amo, Arthur.
— Eu não correspondo a esse sentimento, Laís. Não é recíproco —
aviso e ela sai com relutância, chorando.

Após jantar em um restaurante no shopping e comprar alguns livros,


vou para casa, tomo um banho e durmo.
Acordo com o som da campainha. Quando abro, Mariana está
novamente na minha porta, com cara de sono e um pijama comprido da Hello
Kitty. Qual é a dela com esse bicho? É tão destoante da sua personalidade
quente. É algo fofo em um mulherão...
— Mari, que horas são? Aconteceu algo? — pergunto.
— São quase duas horas. Eu apenas preciso de você, para que eu
possa conseguir dormir. Você pode fazer isso mais uma vez? Eu prometo que
não vou importuná-lo com nada sexual, eu preciso apenas que me abrace
forte e durma grudado comigo — ela diz, me afastando e entrando no
apartamento agarrada a um travesseiro. Essa mulher está me deixando louco,
ela será minha morte.
Fecho a porta e sigo atrás dela, que já está acomodada no colchão. Eu
me deito e ela puxa meu braço. A abraço forte, enquanto ela acomoda seu
corpo deliciosamente grudado ao meu, e logo está dormindo.
Dormir comigo está começando a virar um hábito, dona Mariana. Ou,
quem sabe, esteja se tornando uma necessidade...
Quando acordo ela já não está mais. Na cozinha encontro um bolo de cenoura
com cobertura de chocolate e uma garrafa de suco. Isso me faz sorrir...
Eu estou sentindo que não consigo mais dormir sem Arthur, e isso é
uma merda das maiores. Eu rolei na cama até duas da manhã e me vi
obrigada a ir pedir arrego em seu apartamento. Eu durei menos de 4 minutos
acordada assim que ele me envolveu em seus braços. O quão fodido isso é?
Bastante!
Acordei novamente enrolada naquele corpo incrível e, mais uma vez,
antes do relógio despertar. Então voltei para meu apartamento, peguei metade
do bolo que eu havia feito ontem, uma garrafa de suco e resolvi deixar para
ele em forma de gratidão, já que não posso dar minha pepeca em
agradecimento.
Agora já estou na empresa, trabalhando em algumas planilhas e
pesquisando alguns pacotes de viagens nos momentos livres. Arthur está duas
horas atrasado.
— Mari, esqueci de te contar do bafão! — Júlia diz.
— Qual?
— Laís esteve aqui ontem — ela fala e meu sangue ferve. Que merda!
Eu me sinto irada e nem sei o porquê.
— Como? — pergunto, quase gritando.
— Ela veio com aquele jeito escroto de ser. Eles ficaram alguns bons
minutos trancados na sala. Quando ela saiu estava chorando e até me pediu
desculpa por ter me empurrado da sala dele.
— E você e Carla não conseguiram ouvir nada? — indago.
— Não, não temos a sua desenvoltura e cara de pau, Mari.
— E ele? Como ficou o restante do dia? — pergunto, movida pela
curiosidade.
— Todos os momentos em que o vi ele estava feliz, relaxado. Eu diria
radiante.
— Merda!
— Mariana, está rolando algo entre vocês? Seja sincera — Carla
pergunta.
— O quê?! Eu e Arthur?! Tá louca? Ele não faz muito meu tipo e
parece ser frígido na cama...
— Oh, assim você está ferindo minha masculinidade, Mariana! Um
homem pode vir a ficar seriamente deprimido após ouvir um absurdo desses.
Bom dia, meninas! — ele diz, rindo, e eu quero matá-lo. Todos os dias ele
chega nos momentos mais impróprios. Pau no cu! Eu não estou para
brincadeira hoje!
— Bom dia — respondo mal-humorada.
— Você pode vir na minha sala, Mari? — pergunta e se corrige em
seguida. — Mariana.
— Já vou — respondo, fazendo uma careta.
— Mari, você acabou de confirmar. Você está com ciúmes de Arthur,
vocês estão tendo alguma coisa, está óbvio — Júlia diz.
— Não. Já disse. Ele parece frígido e era casado com uma cobra
peçonhenta. Deve ter sido picado e se transformado em um ser igual — digo,
pegando minha agenda e indo até a sala dele.
— Frígido, Mari? Você acha que eu sou frígido? — pergunta de pé,
encostado na mesa.
— Eu não acho isso, mas elas precisam pensar que eu acho.
— Vem aqui — me chama e eu nem me finjo de difícil, apenas me
coloco diante dele. Seus braços rodeiam em minha cintura e ele me puxa. —
Você dormiu bem?
— Eu dormi. Desculpa por tê-lo acordado tarde.
— Eu não me importo, desde que seja por uma causa como essa —
responde. — Obrigado pelo bolo, estava delicioso. Foi você quem fez?
— Sim. Eu não sabia se você iria gostar...
— Eu amei. Você tem mãos de fada na cozinha. Posso me acostumar
com isso — diz.
— Laís esteve aqui — falo, olhando seus olhos azuis...Tão perfeitos.
— Ela esteve.
— Hummm... Esteve mesmo — digo, esperando que ele me fale o
que ela veio fazer aqui, mas ele parece estar se divertindo com a minha cara,
pois está segurando um sorriso.
— É — responde.
— Tá, o que ela queria? — pergunto, perdendo a paciência. Foda-se,
eu apenas preciso saber essa merda!
— Você está com ciúmes, Mariana?
— Eu? Não! Nunca. Não temos nada — respondo, brincando com as
pontas dos meus cabelos.
— Nós não temos nada? Você está certa disso? Assuma que está com
ciúmes, que há algo mais entre nós dois e eu contarei o que ela veio fazer
aqui.
— Eu não estou com ciúmes e nós dois somos solteiros! — aviso.
— Assuma!
— Eu não estou com ciúmes — digo, revirando os olhos, e ele me
repreende:
— Mariana!
— Eu estou puta de raiva, eu quero matá-la friamente, arrancar todos
os cabelos loiros que habitam naquela cabeça de iglu. E você é meu! — digo
em alto e bom som!
— Eu sou seu, e você? Você é minha? — pergunta, rindo.
— Não sei ainda. Eu estou tentando descobrir.
— Então vejamos se eu entendi bem. Eu sou seu, mas você ainda não
sabe se é minha?
— É exatamente isso — confirmo.
— Então você espera fidelidade de mim, já que eu sou seu, mas você
está sendo fiel a mim? — questiona. Eu realmente preciso jogar limpo.
— Eu beijei três homens tentando apagar seu beijo da minha memória
— digo e vejo seu rosto endurecer.
— Você fez o quê, Mari?
— Eu sou sincera e verdadeira. Nós não temos um relacionamento,
então você não pode levar isso como traição. Fidelidade é importante para
mim também, Arthur, eu já fui vítima de um ato infiel. Eu não quero mentir
para você. Eu beijei quatro homens nos últimos dias tentando esquecê-lo, e
nenhum deles chegou nem perto de conseguir isso.
— Você disse três e agora já são quatro? — pergunta, sério.
— Um na segunda-feira e os outros três ontem, enquanto eu corria —
respondo e ele me afasta.
— O que você quer? Quer tentar convencer a si mesma que não sente
nada por mim? Quantos homens você vai beijar até cair na realidade,
Mariana? É tão difícil para você ceder?
— É, Arthur. Está sendo. Eu não vou mentir. Você está me
oferecendo algo que eu havia riscado da minha vida. A única forma de eu tê-
lo é passando por cima de traumas e convicções que criei nos dois últimos
anos — explico. — Eu já desisti de testar possibilidades. Agora só preciso
confirmar se é isso mesmo, se eu não vou fazê-lo sofrer. Isso me leva a outro
assunto. Férias.
— Porra, Mari! Eu estou ficando louco — ele diz, passando as mãos
pelos cabelos e andando de um lado para o outro.
Eu me aproximo e o faço parar.
— Quinze dias de férias, não trinta. Eu quero viajar, eu preciso sair
um pouco daqui. Estou olhando pacotes, pretendo fechar algum e viajar
segunda-feira que vem.
— Você vai ficar quinze dias viajando, Mari? Quinze malditos dias?!
— pergunta.
— É o plano. Eu vou colocar a cabeça no lugar. Acredite, vai ser bom
para você também. — Ele me analisa e solta um longo suspiro.
— É isso que você precisa? — pergunta.
— É — respondo e ele se afasta novamente.
— Tudo bem, Mariana, mas não pense que eu estou feliz ou de acordo
com isso. Eu estou dando o que você quer e diz precisar. Eu espero que não
haja mais beijos ou algo mais a partir de agora. Estou esperando isso e estou
dando isso a você também. Eu te esperarei. Quinze dias a partir de segunda-
feira. Avise à Júlia para providenciar a papelada e o pagamento das suas
férias — diz e eu consigo voltar a respirar.
— Obrigada por isso, Arthur. É muito importante para mim.
— Deixe-me apenas saber seu roteiro — fala enquanto olha pela
janela, tentando me evitar. Eu odeio isso.
— Eu estou decidindo, avisarei assim que souber.
— Nós não dormiremos juntos ou nos beijaremos novamente até que
você encontre as respostas que está buscando — avisa e eu engulo em seco.
Meu ovo que não!
— Tudo bem — minto e deixo sua sala.

Quando chego à minha casa após mais um dia de trabalho, encontro


Lucas me aguardando na portaria. Descubro que foi uma péssima ideia ter
escolhido justo hoje para pegar as correspondências com Arthur ao meu lado.
— Mari — ele diz e eu volto o olhar para Arthur, que passa a olhar
avaliativo por Lucas, com um semblante carregado.
— Oi. Tudo bem? — pergunto a Lucas, que parece mais sem graça do
que eu mesma.
— Será que poderíamos conversar? — pede e eu torno a olhar para
Arthur. Por que uma conversa com Lucas parece tão errado? Por que eu sinto
que preciso pedir permissão?
— Bom, eu vou subindo. Jantar? — Arthur questiona baixo, de
maneira que só eu possa ouvir. Graças a Deus ele é um homem maduro. Se
fosse o contrário, eu estaria demarcando território.
— Sim. Eu cuidarei disso — respondo e ele me dá um beijo na testa,
deixando-me a sós com Lucas e Jair, o porteiro.
— Seu namorado? — Lucas pergunta.
— Não — respondo vagamente. Não há necessidade de explicações.
— Bom, vamos ali ao barzinho do outro lado da rua e conversamos.
— Ele está morando no seu apartamento? É por isso que não me
convida para subir? — pergunta.
— Ele mora no apartamento ao lado — respondo, caminhando para
que ele possa se situar e me seguir.
Me acomodo em uma mesa e Lucas senta-se logo em seguida. Peço
uma cerveja e dois copos, essa é minha maneira de tocar conversas que
certamente serão embaraçosas. Um pouco de álcool no sangue sempre salva.
— Mari, você tem certeza de que não está namorando? Você parece
diferente da Mariana que eu conheço. Parece mais madura, séria...
— Eu não estou — digo. Não ainda.
— Eu queria pedir desculpas pela Helô — fala e eu sorrio, incrédula.
— Não há necessidade, Lucas. Nós não temos e nunca tivemos um
relacionamento sério. Eu sei que você fica com outras, assim como você sabe
que eu fico com outros. Está tudo certo — digo.
— Acontece que eu gosto de você, Mari, eu gosto muito. Eu tenho
trabalhado há meses, tentando ter algo mais de você, mais do que sexo. Eu
conheci a Helô, ela é novinha, virgem, inexperiente e quer um
relacionamento. Eu estou vindo aqui para uma conversa definitiva. É minha
tentativa direta, Mari. Preciso que você saiba dos meus sentimentos por você
e gostaria de um posicionamento. Eu gostaria de elevar nossa situação a um
novo patamar — diz, nervoso.
— Você está me propondo um relacionamento sério? — pergunto,
chocada com o destino, que resolveu colocar namorados no meu caminho.
— Estou. Você é a mulher mais top que conheci, Mari. Independente,
experiente, quente, alegre, receptiva. Você é linda, é gostosa, é tudo, Mari.
Não é justo você brigar com todos os homens que se apaixonam por você. É
difícil não nutrir sentimentos. — Eu devo elevar minha autoestima? Puta
merda, isso é tão confuso! O único homem com quem consigo imaginar um
possível relacionamento é Arthur, qualquer outro me faz entrar em desespero.
Nenhum dos homens com quem me envolvi nos últimos tempos são
confiáveis. São todos cafajestes, gostosos, porém cafajestes.
— Lucas, volte três casas nesse jogo. Eu deixei claro desde o início
que isso não aconteceria. Eu não consigo e não quero, você entende? Seria
mentira se eu dissesse que não gosto de você, eu gosto, sabe, mas não para
um relacionamento. Você é incrível, somos mega compatíveis sexualmente,
rola eletricidade, química, física e tudo mais. Mas relacionamento não, Lucas.
Não daria certo. Você é mais novo que eu, cheio de vida, uma piranha habita
dentro de si, há muitas mulheres em volta... Eu não quero nada assim na
minha vida. O dia que eu entrar em um relacionamento novamente, vai ser
porque eu me sinto segura, porque me sinto sossegada, entende? Você sabe
que fiz terapia e tal, mas, ainda assim, não foi o bastante. Eu não consigo.
Não podemos.
— Mari...
— Sabe, você deveria ficar com a Helô. Pode ser algo novo na sua
vida. Uma oportunidade de dar certo. Mas te dou um conselho pela nossa
amizade: não cometa um deslize com ela. Ela é novinha, Lucas, dependendo
do trauma, você pode destruir uma garota que parece ser boa. Você pode
transformá-la em uma segunda Mariana, e isso não é bom. É sofrido ter
traumas e não conseguir confiar nas pessoas. Apenas pense antes de fazer
qualquer coisa com ela. Não traia. Ela é virgem, inocente sexualmente. Você
pode moldá-la ao seu gosto, entende? De maneira que não precise de outra
mulher para suprir suas necessidades. Eu apoio essa relação, mesmo que eu
tenha te roubado dela naquela noite — digo e sorrio ao lembrar. Santo Deus,
parece que isso tem um ano, sendo que tem apenas duas semanas. Minha vida
tem sido tão intensa desde o último final de semana... Caramba!
— Aquele cara te mudou, Mari, eu deveria parabenizá-lo. Ele
conseguiu um feito. Eu sei que foi ele apenas pela troca de olhares que vocês
deram. Havia algo ali. Isso é fodido para mim, mas fico feliz por você. Se
estiver rolando entre vocês o que estou deduzindo — diz.
— Eu não quero entrar nesse assunto — falo, sorrindo.
— Bom, nós podemos ser amigos sem benefícios?
— Nós podemos.
— Se eu me casar com Helô, a chamarei para ser madrinha — diz.
— Oh, não. Isso não! — Rio.
— Bom, Mari, isso é tudo. Eu acho que ficarei por aqui tomando mais
algumas, você está liberada, se não quiser me acompanhar — fala.
— Eu admiro isso. — Rio. — Eu deveria ir agora.
— Eu sei. O cara lá parecia apreensivo quando me viu. Sério que
vocês não estão namorando?
— Nós não estamos. Eu nunca fui para a cama com ele com fins
sexuais, nunca rolou nada além de dois beijos...
— Porra, Mariana! Coloca no meu cu, mas coloca devagar! Você está
dessa maneira por conta de dois beijos? Eu tentei minhas melhores
performances sexuais e não consegui derrubá-la. O cara te dá dois beijos e
você está aí, pagando paixão, exalando maturidade. Foda-se! Isso é mais
fodido do que eu pensava! Eu preciso de uma pinga! — diz, gritando para o
garçom. — Me deixa curtir minha dor de cotovelo de boa aqui — pede sério.
— Por que ao invés de encher o cu de cachaça, você não vai fazer
uma visita à sua nova futura namorada? Sabe, você precisa trabalhar o
território, deixá-la com vontades antes de dar o bote... Se é que me entende. É
melhor fazê-la implorar do que forçar a situação.
— É, você tem um ponto aí. Vou só tomar a cachaça e irei fazer um
sexo a seco. — Ele ri e eu me levanto. Helô é uma felizarda. Lucas é
excelente no que faz entre quatro paredes. Não quero pensar nisso.
Lucas se levanta junto e me puxa para um abraço forte, que dura
longos minutos. Eu percebo que é uma despedida. Quando percebo, estou
chorando em seu ombro. Todas as emoções que estou vivendo nos últimos
dias simplesmente transbordam. Sinto que estou começando uma nova vida e
deixando meu outro “eu” para trás rápido demais. É difícil lidar com isso,
muito difícil.
— Foi bom enquanto durou, Mari. Obrigado por tudo — ele agradece.
Me afasto e não consigo mais olhar em seus olhos. Engulo em seco e
atravesso de volta para o meu prédio. Estou certa de que estou vivendo um
processo de transição. Todo processo de transição é doloroso. Eles nos levam
a outro processo chamado aceitação. É isso que estou indo buscar nessa
viagem: aceitação.
O senhor Jair me encara, assustado, e eu apenas faço um sinal com a
mão para ele. Não há como falar, não com o porteiro.
— Como foi? — Arthur pergunta assim que me vê. — Você está
chorando.
— Foi... bom — respondo, dando um leve sorriso. — Estou chorando,
mas não é por Lucas. É por tudo que a conversa simbolizou.
— E o que ela simbolizou?
— Mais do que sou capaz de explicar, Arthur. Tudo o que está
acontecendo... apenas... tudo isso foge do que eu havia imposto para a minha
vida desde que tive uma decepção no passado. Você me tirou da zona de
conforto. Lucas fazia parte disso, por mais que seja difícil para você ouvir
sobre.
— E você quer voltar para a zona de conforto? — pergunta,
mostrando maturidade e receio ao mesmo tempo.
— Não. Lá não me cabe mais — respondo. — Tudo o que eu quero
está do outro lado da zona de conforto.
— Aquele cara... ele ama você? — questiona, com os olhos azuis
intensos fixados aos meus.
— Talvez.
— Você o amou ou o ama? — A pergunta quase me faz sorrir.
— Nunca. — Com a minha resposta, ele apenas acena a cabeça e solta
um suspiro profundo. Eu sinto que amo você... sinto que já era amor antes de
ser....
Nessa noite, após preparar o jantar, eu e Arthur dormimos juntos,
mais uma vez.

Hoje é sexta-feira e estou terminando minhas coisas no trabalho para


ir para casa. Arthur não veio trabalhar, pois todos os móveis chegaram e ele
contratou um montador para ajudá-lo a montar.
— E aí, Caribbean hoje? — Júlia diz.
— Não, hoje tenho um compromisso. — Ajudar Arthur na decoração.
Oculto esse detalhe.
— Uau, um compromisso? Você nunca tem compromissos!
— É. Eu fiquei de visitar uma amiga da minha mãe que operou de
hemorroidas — digo, chocada com a minha mente fértil.
— Oh, que merda, Mari! É sério?
— É, uai! Minha mãe me ligou de Nova York e eu não podia negar.
— Mas isso não impede de você ir depois. A boate só abre às 23
horas — ela diz.
— É, mas ela não mora aqui, ela mora numa cidadezinha aqui perto.
Aí não sei que horas devo voltar.
— Entendi. Então, já vou indo.
— Eu também, Jú. Nos falamos ainda esse final de semana — digo e
ela se vai, deixando apenas eu e Carla.
— Que mentira horrorosa, Mari, você já foi melhor em mentir —
Carla fala, rindo.
— É sério, carai! Eu não estou mentindo. Já estou indo também.
Você vai demorar?
— Não, estou só terminando um contrato de rescisão para segunda-
feira — diz. — Vou sentir sua falta nessas férias, Mari.
— São apenas quinze dias.
— Você vai fazer micareta em Porto Seguro, que inveja!
Sim, eu estou indo para Porto Seguro, mais precisamente para Axé
Moi. Além de tudo que eu tenho sentido, eu sinto também que essa é minha
despedida de solteira. Então por que não estar num lugar como esse? Não que
eu vá pegar alguém, pois já aceitei que estou perdida na teia de sedução de
Arthur, mas ao menos vou poder me divertir um pouco sozinha. Eu até acho
que aqueles dançarinos são meio gays, não que eu esteja discriminando, mas
eles dançam de uma maneira... mesmo sendo gostosos. Bom, Arthur não sabe
que estou indo diretamente para o Axé Moi, eu espero que permaneça sem
saber.
— Sim, eu vou — minto. Eu me tornei uma boa mentirosa nos
últimos dias.
Eu me despeço mais uma vez e dirijo para casa com uma ansiedade
fora do normal. Paro em um restaurante e encomendo o jantar. Assim que
chego em casa, vou direto para o banho.
Coloco um short, uma camiseta, calço minhas Havaianas e prendo
meu cabelo num coque. Pego meu travesseiro, um pijama e corro para o
apartamento ao lado.
Arthur abre e eu fico bons segundos contemplando seu tanquinho sujo
de tinta.
— Não vai entrar?
— Tu é gostoso, viu, e não é pouco não! Puta merda, Arthur, “seje”
menos tentador! Você como pedreiro é um sexy symbol do caralho! Terei
sonhos eróticos com você pintando com seu pinto — digo, o empurrando
levemente e entrando em seu apartamento. — Uau, está tudo montado já!
— Com esse shortinho está montado além do que você pode imaginar
— ele fala e eu olho para sua virilha descaradamente.
— Mentira! Não estou vendo um volume tão considerável.
— É porque ele está torto para esquerda — diz, pegando em seu pau
por cima do short, e eu engulo em seco. Ele está se contaminando por mim
rápido demais. Essas provocações eram para ser minhas.
— Eu nem sei o que dizer. O que dizer do seu pau, que eu nem
conheço e já considero tanto? Nada! — falo e ele dá uma gargalhada.
— Bom, eu preciso de um banho. Você se incomoda?
— Claro que não, vamos lá! — respondo, mexendo em minha
cutícula. — Ok, brincadeira, Arthur. Eu apenas vou ficar aqui e abrir as
caixas de decoração.
— Tudo bem. Peça algo pra gente comer.
— Eu já encomendei no restaurante, daqui a pouco deve estar
chegando — informo e ele me dá um beijo na testa.
— Você é a melhor, sabia?
— É claro que sim. Eu sou incrível, eu ficaria horas descrevendo quão
perfeita sou — digo e ele sorri, caminhando até seu quarto.
Solto um suspiro e me abano. Esse homem é um pedaço quente, eu
não estou aguentando mais. Meu autocontrole está sendo testado há uma
semana, vinte e quatro horas por dia, e certamente está se esgotando.
Eu tenho tentado respeitá-lo, mas isso está sendo uma grande bosta,
uma provação das piores. O fato dele não querer transar casualmente caiu em
forma de desafio sobre mim, tudo que penso é que transar com Arthur virou
minha meta na vida. Eu tenho até domingo para fazer sua decisão mudar. Eu
preciso provocá-lo até que se torne insuportável a necessidade de sexo. Eu
não posso ficar mais quinze dias sem sexo com ele.
Caminho até uma caixa e a abro, colocando os objetos decorativos
para fora. Demoro um tempo estudando o local ideal para cada peça, parece
que estou decorando minha própria casa, isso é cômico.
Arthur parece demorar mais que o limite do aceitável para um banho,
e meu lado diabólico me faz caminhar até o quarto. Tento dar uma olhada
pela fechadura da porta do banheiro, quem sabe eu ganho um vislumbre de
Arthur no auge da nudez?! Eu queria ser um mosquitinho para estar dentro
daquele banheiro...
Infelizmente, há um pano branco tampando minha visão, mas isso não
basta para que eu desista. Corro até a cozinha e pego o palitinho extra que
sobrou da comida japonesa que comemos ontem e volto para o quarto. Enfio-
o na fechadura e começo a forçar para o pano cair. Tento cutucar de todas as
maneiras, mas a bodega não cai nem por um caralho! Quando tento me
concentrar ainda mais, a porta se abre e eu caio de bunda no chão, tamanho o
susto.
— Eu não estou acreditando que você estava me espionando pelo
buraco da fechadura, Mariana! — Arthur diz, morrendo de rir, enrolado em
uma toalha, e eu solto um suspiro de frustração e admiração. O quão infantil
é isso que eu acabei de fazer?
Analiso as gotículas de água escorrendo pelo seu corpo molhado.
Sinto vontade de lamber cada uma delas. Vou descendo meu olhar e fico
revoltada quando percebo que até os pés e as panturrilhas dele são uma
divindade. Suas coxas estão parcialmente tampadas e, sem que eu perceba,
estou tentando olhar por baixo da toalha. É nesse momento que ele se afasta e
me puxa pelo braço, fazendo eu me levantar.
— É muita cara de pau! Não basta olhar pela fechadura, ainda quer
ver debaixo da toalha?
— Você é muito cara de pau, Arthur! Deixar o maldito chuveiro
aberto só pra me pegar no pulo? É o cumulo do absurdo! É, senhor Arthur, eu
estou chocada com sua audácia! — xingo, sem tirar meus olhos de seus
músculos salientes.
— O que você quer? Tudo isso é pra me ver nu? Não seja por isso,
bastava pedir! — ele diz, deixando a toalha cair sob seus pés, me
proporcionando um teste cardíaco. Tudo que eu consigo pensar é que Jesus
está vindo me buscar...
A personificação de todos os meus sonhos!
— Oh, Deus! Arthur... É apenas o pau mais lindo que eu já tive a
oportunidade de ver, incluindo os dos filmes pornôs. Puta que pariu, puta que
pariu, puta que pariu! — digo em completo estado de choque. — Pelo amor
de Deus, Arthur, me come! Por favor! Eu imploro. Nunca te pedi nada.
Apenas me foda! Eu vou morrer se não souber como é tê-lo dentro de mim.
Já pensou se meu avião cai? Você vai morrer de remorso por não ter me
comido. Apenas vamos transar gostoso — falo, deitada sobre o chão,
agarrando sua perna. É o auge da humilhação! Eu estou como uma criança
fazendo pirraça no mercado por conta de um chocolate.
O que é aquilo que ele tem entre as pernas? O que são essas coxas? O
que é o corpo desse homem e como ele conseguiu esconder essa maravilha
toda durante um ano inteiro?
— Por favor, vamos, Arthur!
— Nós iremos, Mari. Eu comerei qualquer coisa que você queira me
dar — ele diz e eu dou o sorriso do gato da Alice.
— Obrigada, Senhor! Eu darei até meus poros. Quero que você entre
em tudo. Vamos! — falo, me levantando, preparada para arrancar minha
roupa, e retiro tudo, ficando apenas de calcinha e sutiã.
Arthur solta um longo suspiro e me puxa para seus braços. Eu mal
consigo me conter quando ele me pega pela bunda, fazendo-me rodear as
pernas em torno de sua cintura. Ele me leva para dentro do banheiro e retira
meu sutiã, em seguida sou colocada sob a água fria do chuveiro. SOZINHA e
de CALCINHA!
— Nós iremos transar, Mari, não hoje, quando você voltar de viagem
— avisa, cutucando minha ira, e eu saio rápido da água, decidida a
exterminá-lo.
— Você só pode estar de brincadeira! Eu não estou crendo nisso,
Brasil! Você está nu diante de mim e eu apenas tenho que esperar? Foda-se,
Arthur! Se você não me comer, eu estou indo achar alguém que queira isso!
— digo, revoltada. Me enxugo e retiro minha calcinha molhada pela água e
pelo tesão, jogando na cara dele em seguida.
— Hum... molhadinha — diz, rindo, e eu visto minha roupa
rapidamente, deixando a calcinha de lado. O interfone toca e eu praguejo até
minha última geração.
— Atenda, por favor, eu vou me trocar. Nós precisamos conversar,
Mariana. Eu preciso apenas pontuar algumas coisas importantes com você —
ele diz, caminhando até o guarda-roupa, e eu ganho um vislumbre da sua
bunda perfeita. Não é possível que não haja um defeito nesse homem. Ele
provavelmente deve ter ejaculação precoce.
Eu o deixo, não sendo mais capaz de estar no mesmo ambiente
enquanto ele está nu.
Recebo o jantar e arrumo a mesa para que possamos comer. Fico
aguardando e pensando na névoa de pecados que eu estou cometendo sem
perceber.
Estou cometendo o pecado da Gula a cada vez que o vejo. Sinto uma
fome por esse homem completamente absurda, e não há um momento do dia
em que eu não o cobice.
Estou cometendo, de certa forma, o pecado da Avareza, por estar o
idolatrando acima de todas as coisas. Arthur se tornou o centro do meu
universo. Tudo que eu vejo, tudo que eu quero e tudo o que sinto... Quer
dizer, eu ainda não senti, mas nos meus sonhos eróticos ele é maravilhoso.
A Luxúria certamente eu nem preciso dizer. Tenho convivido
diretamente com a lascívia completa, o desejo sexual intenso. Que caralho, eu
só penso em dar para ele!
Sou pecadora também pela Ira. A cada vez que ele me diz NÃO, a
cada vez que ele me nega o prazer, eu sinto um ódio descontrolado. Eu quero
matá-lo friamente.
E agora estou prestes a cometer o pecado do Orgulho e da Vaidade.
Meu orgulho não permite que Arthur saia ileso da provocação que acabou de
cometer. O mesmo vento que sopra em mim, vai ser soprado nele também.
Não sou idiota.
— Pronto — diz, sentando-se diante de mim. — Mari, não fica
emburrada. Nós vamos conversar — fala, pegando meu prato e servindo a
refeição, em seguida servindo no seu próprio. Ele enche nossas taças com
vinho e eu não brindo. Por que brindar com o inimigo?
— Diga logo — mando enquanto como, e ele me encara com um
sorriso no rosto. Babaca!
— Mari, você exala sexualidade. Tudo em você grita sexo, tem ideia
do quanto isso é desconcertante para mim?
— É simples resolver isso. Aliás, seria, porque agora sou eu quem não
quero — minto e ele ri. Eu daria para ele sobre essa mesa agora.
— Acontece, Mariana, que você está acostumada a transar com
moleques. Qual homem na Terra não vai querer te comer? É difícil resistir,
você é absurdamente linda e extremamente gostosa. Porém, eu não resistiria
se a quisesse apenas para sexo, Mari. Eu quero mais do que isso. Eu quero o
pacote completo. Porque, por mais que você exploda em sexualidade o tempo
todo, eu vejo coisas muito mais grandiosas que isso. Eu sei que você está
puta, sei que estamos testando nossos próprios limites, as coisas estão
esquentando a cada dia e estão tornando-se impossíveis, mas eu não quero ser
mais um cara que você vai transar casualmente. Eu estou agindo dessa
maneira, evitando o sexo, porque quero conhecer mais sobre a mulher que
estou perdidamente interessado. Eu quero conhecer a Mariana além do sexo,
eu quero quebrar os tabus que você impôs para si mesma, não quero apenas
usá-la. Estou tentando te mostrar isso diariamente, Mari, mas você parece não
entender. Você prefere encarar como um desprezo da minha parte, e não é
isso. Eu estou duro o tempo todo por você, mas creio que, se partimos para o
sexo agora, nós vamos ser massacrados pela onda de luxúria, pelo desejo, e
vamos deixar outras questões mais importantes de lado, como os seus
traumas. Eu preciso vencê-los, estou trabalhando focado nisso, Mari. Não é
só você que está sofrendo uma frustração sexual, eu também estou. Acontece
que estou lutando pelo controle, a fim de atingirmos um nível mais alto de
confiança, e o sexo agora poderia confundir ainda mais sua mente. Como
posso saber se o seu sentimento é pelo sexo ou pelo Arthur que você está
conhecendo? Sexo é uma arma perigosa em potencial que pode confundir
tudo agora. Eu quero apenas ter a certeza de que você me quer como eu a
quero, por completo, e não apenas sexualmente. Não serei a merda de um
amigo com benefícios, não serei o casual da sua vida. Eu serei o seu tudo ou
serei o seu nada. Não existe meio-termo para mim — ele diz e eu fico
paralisada, apenas tentando digerir e distinguir o que acabou de falar.
Não quero dar o braço a torcer, mas ele está certo. Se nós transarmos
agora, eu, provavelmente, serei a mais afetada. Seria capaz de eu desistir da
viagem e desistir de tentar colocar as ideias em ordem, tudo para entrar num
jogo de prazer. Eu não posso, eu ainda tenho ao menos 5% de relutância em
relacionamento, eu preciso estar 100% certa se é o que quero ou não.
Estou irada com ele, mas também estou encantada. Ele não quer
apenas me usar, ele quer tudo, inclusive os meus problemas e meus traumas.
Ele quer compartilhar tudo comigo e espera o mesmo de mim. É incrível que
eu nunca tenha conhecido um homem tão decidido e centrado como ele. É
um pé no saco também, é tentação demais ter que abnegar meus desejos.
— Não vai falar nada? — pergunta.
— Eu entendo seu ponto. Sabe, eu costumava achar que era fodona
até o final de semana passado. Agora eu percebo que você é mais foda que eu
— confesso.
— Fodona? Que linguajar impecável! — zomba, rindo. — Eu me
surpreendo com seu vocabulário próprio, sério, eu fico mais doido por você.
É diferente de tudo que estou acostumado. Sabe, Mari, eu já fui o tipo de cara
que você está acostumada. No auge dos meus vinte e dois anos de idade eu
comia qualquer mulher que surgisse no meu caminho. Agora minhas
prioridades são outras. Estou recém-separado, meu casamento foi uma merda,
Mariana, você não faz ideia. Eu quero um relacionamento diferente, e não
voltar a ser um puto. Chega um momento em que as prioridades mudam.
Tenho trinta e dois anos, não dá mais para ficar cometendo erros. Estou
apostando minhas fichas em nós dois.
— Você disse que eu iria implorar. A profecia está se cumprindo —
penso alto.
— Mari... — repreende e eu apenas sorrio. Nós voltamos a comer
num silêncio total. No fim, já não faço ideia de quantas taças de vinho tomei.
Assim que termino, coloco os pratos na pia e vou até o banheiro
escovar os dentes. Sim, eu tenho uma escova de dentes no apartamento de
Arthur, surpreendente.
Passamos o restante da noite terminando de organizar o apartamento e
quando são duas da manhã resolvemos assistir um filme. Tomo um banho
enquanto deixo que ele escolha um filme qualquer, e em seguida me
acomodo ao seu lado no enorme sofá.
— Sabe, a gente deveria ao menos dar uns pegas — digo, atraindo sua
atenção.
— Dar uns pegas?
— Sim, sem sexo, apenas uns beijos quentes, umas sarradas. Estamos
de bobeira, sem fazer nada... — proponho e percebo-o ponderando minha
ideia magnífica.
A seguir, tudo acontece rápido demais. Em um momento eu estou
observando-o e no outro estou montada em seu colo, moendo forte sobre sua
ereção enquanto ele me beija.
Estamos muito além de selvagens. O conceito de “dar uns pegas” de
Arthur é, definitivamente, mais quente que o meu.
Suas mãos apertam firmemente minha bunda e eu me sinto
terrivelmente mal por não estar usando uma camisola. Seria mais fácil sentir
a fricção deliciosa que ele está me proporcionando. Eu vou explodir em um
orgasmo alucinante apenas com isso.
Ele dá um tapa forte em minha bunda e eu pulo em seu colo. Puta
merda!
— Gostosa! Estou ansioso para tê-la cavalgando no meu pau, Mari —
diz, fazendo-me gemer. — Eu vou te deixar toda assadinha, Mari, você vai
deixar?
— Oh, Deus... Você está indo longe, Arthur. Nós deveríamos parar
com isso se você não quer ir além. Sua versão de pega é a melhor, mas é
terrivelmente quente. Insuportável — digo, gemendo, e ele sobe as mãos para
meu pescoço. Afasto o suficiente para observar seu lindo rosto. Encontro o
rosto de um macho completamente tomado pelo tesão. Sua expressão está
dura, como se estivesse travando uma luta tortuosa.
Rebolo contra ele e suas mãos sobem para meus cabelos, os apertando
com uma força súbita e intensa. Eu gemo contra sua boca e sinto a enorme
necessidade de ficar nua. Agora eu entendo a música do Charlie Brown, que
diz “deixa eu te beijar até você sentir vontade de tirar a roupa”. Por Cristo,
isso é tudo que eu quero, ficar nua e entregue.
— Você quer gozar, Mari? Você vai gozar roçando em mim? —
pergunta.
— Só se eu puder fazer você gozar.
— Você tem feito todos os dias. Eu gozo todos os dias por você,
Mari, e vou gozar hoje de novo — diz em um sussurro ofegante. Santo Deus,
eu preciso sair daqui! — Deixe-me fazer uma pergunta, você faz uso de
anticoncepcional? — pergunta, me puxando pelo cabelo e olhando fundo em
meus olhos.
— Sim, desde quando menstruei — respondo enquanto ele usa sua
mão livre para movimentar minha bunda.
— Quando formos transar, você vai deixar eu foder sua boceta sem
camisinha, Mari? Diz pra mim. Eu quero foder sem, você deixa?
— Meu Deus, Arthur... — gemo, abaixando a cabeça, e ele me força a
encará-lo novamente. Ele é pior que eu, mil vezes.
— Responda, Mari, responda olhando para mim. Você vai deixar?
— Eu vou... Eu deixo o que você quiser, Arthur — respondo e ele dá
um sorriso sacana. Eu quero fugir...
— Eu quero ver você gozando agora, acha que pode fazer isso por
mim? — pede e eu balanço a cabeça, concordando. Não se recusa um
orgasmo. — Boa menina, Mari. Eu vou fazê-la gozar apenas para acalmar um
pouco do seu fogo, você entende isso? Eu consigo sentir o cheiro dos seus
feromônios, Mariana. Você está doidinha para me dar. Vou apenas te dar um
alívio agora, entendeu? — pergunta e concordo de novo. Eu concordo com a
porra toda. Estou tomada pelo espírito de uma devassa total, eu não sei de
mais nada nessa vida. Só sei que estou fodida e perdida por esse homem mau
que está no corpo do meu chefe. Eu duvido que meu chefe seja esse homem,
deve ser o irmão gêmeo, com uma pitada de sexy appeal a mais.
Ele se levanta comigo no colo e puxa minha calça para baixo,
deixando-me totalmente livre, já que minha única calcinha está molhada. Em
seguida torna-se a sentar e eu o sinto ainda mais intensamente.
— Grude sua testa na minha e mantenha os olhos abertos. Se você os
fechar, vou parar e não vamos brincar mais — avisa enquanto coloca suas
mãos firmes em meus quadris. Balanço a cabeça mais uma vez, concordando,
e ele começa a moer sua ereção contra mim. Eu amo seu conceito sobre
brincar... É diversão garantida.
Aos poucos, manter os olhos abertos torna-se uma difícil missão.
Sinto meu orgasmo crescer segundo a segundo e aperto seus ombros.
— Você vai gozar comigo, Arthur? — pergunto, olhando seus olhos,
que agora estão azuis sombrios, mais escuros que o oceano. É o homem mais
perfeito que eu já vi. Eu preciso saber como é seu rosto quando goza.
— Você quer me ver gozando com você?
— Eu quero — respondo.
— Então eu irei gozar gostoso com você, Mari. Diga-me se está perto.
— Eu estou — aviso e ele desce o polegar, fazendo movimentos
circulares em meu clitóris. Por Deus, ninguém nunca me levou dessa
maneira. Eu sempre precisei muito mais que uma esfregada para gozar.
— Eu vou, Arthur...
— Deixe vir — diz, retirando seu dedo e pressionando mais forte em
mim, até que eu explodo, acompanhada dele, olhos nos olhos. Nunca serei
capaz de esquecer essa imagem. Seu rugido gutural explode em minha mente,
enquanto meu corpo mole cai. Seus braços me envolvem e lágrimas escorrem
dos meus olhos. Foi a coisa mais perfeita que eu já vivi... Não sou nem mais
capaz de imaginar o sexo com esse homem. Se o sexo a seco foi mais incrível
do que todos os sexos que eu já fiz na vida, eu devo dizer que vou morrer
quando for devidamente fodida por ele.
Eu acho que estou me apaixonando. Ou talvez eu já esteja em um
estágio avançado da paixão. Irei descobrir em breve.

Saindo do banho, vejo Mari completamente desmaiada na cama.


Mulheres tendem a ser complicadas, mas Mariana está de parabéns,
ela supera a maioria, ultrapassa todos os limites. Tudo que ela precisava era
de um bom orgasmo para relaxar e dissipar um pouco da tensão sexual. Ela
gozou, eu a limpei, vesti seu pijama e a levei para a cama já apagada,
parecendo um verdadeiro anjo, destoando por completo da fêmea necessitada.
Eu não sei se o que fizemos foi certo, mas ao menos serviu para eu
descobrir que o orgasmo é a única ferramenta capaz de acalmá-la. Vou usar
isso para vida.
Após vestir uma cueca boxer e uma camiseta, me acomodo ao lado
dela. Dessa vez evito abraçá-la, já que seu sono está tão profundo e eu não
tenho intenção de interrompê-lo.
Acordo às dez da manhã e ela ainda está dormindo na mesma posição.
Após fazer minha higiene, decido que preciso ir ao mercado abastecer a
geladeira. Deixo um bilhete e a chave reserva do apartamento para ela em
cima do meu travesseiro e deposito um beijo em sua testa, ela nem se move.
Talvez toda essa tensão a tenha deixado exausta. Essa semana tivemos
intensidade para um ano inteiro.
No meio do caminho, ligo para meus pais. Eles moram em uma
chácara em Contagem. A maioria dos meus finais de semana eu passava com
eles, para fugir de Laís. Ela não ia porque odeia mato, logo meus pais
ficavam felizes e satisfeitos, principalmente minha irmã.
Por falar em irmã, Alice virá passar o final de semana em Belo
Horizonte com o namorado e insistiu para que eu aceitasse sair com eles essa
noite. Ponderei no início, mas depois achei que poderia ser bom para me
distrair um pouco. Não é só Mariana que precisa pensar, e eu não sei se
resisto a mais uma noite de pegação com ela. Esse lance de dar uns pegas é
sinistro.
Quando volto para casa, ela já não está mais. Bato em seu
apartamento, mas ela não atende. Como não quero parecer o tipo pegajoso,
resolvo deixá-la um pouco. Ela deve estar no auge da confusão, tentando se
autoafirmar de alguma forma. Eu espero que ela não esteja por aí beijando
dezenas de homens, tentando me tirar do circuito, isso não vai acontecer.
Passo o resto do dia arrumando minhas roupas no guarda-roupa.
Termino de arrumar meu escritório e já passam das 21h quando me dou por
satisfeito. Não há mais nada a ser feito. Graças ao bom gosto de Mari, meu
novo apartamento está aconchegante e agradável aos olhos.
Às 22h30 estou saindo para encontrar Alice e vejo Mari chegando
com uma amiga.
— Olá — ela fala, enquanto sua amiga me analisa friamente.
— Oi — digo e a puxo, depositando um beijo em sua testa.
— Uau! — a amiga dela fala. — Esse é o Arthur? — pergunta à Mari.
— Sim. Arthur, essa é Duda, minha amiga — explica e eu ofereço um
aperto de mão a ela.
— Prazer, Duda.
— Satisfação total — responde e logo entendo o motivo dela ser
amiga da Mariana.
— Fora dos limites, Duda — Mariana diz, num código que eu não
consigo decifrar. Seria ciúme? — Você está saindo? — pergunta.
— Eu estou indo encontrar minha irmã e meu cunhado. E você?
— Eu vou sair para distrair um pouco, vamos a um Pub — explica.
— Tudo bem — digo e a puxo mais para perto. — Juízo. Não vai se
embebedar e perder a linha. Lembre-se que pertence a mim, só não se deu
conta ainda — aviso em seu ouvido e vejo arrepios surgirem em seu corpo.
— Leve seu celular, me ligue se precisar.
— Você é mandão, né? Acha que pode me domar? — pergunta e eu
apenas sorrio. Ela sabe que sim. Em menos de uma semana já consegui
quebrar metade do seu muro de proteção.
Me despeço e entro no elevador. Não quero admitir e nem parecer um
machista controlador, mas saber que ela vai sair para a noite me deixou
receoso o bastante.
Eu marquei de encontrá-los no Caribbean, a mesma boate onde
encontrei Mari perdendo a dignidade, pois lá há três tipos de ambientes e,
como estou enferrujado de baladas, o lugar possui um excelente lounge.
Chegando à boate, a primeira pessoa que encontro é Júlia, que fica
pelo menos um minuto inteiro me encarando de cima a baixo, como se eu
fosse uma miragem ou uma assombração.
— Se-senhor Arthur? — gagueja.
— Apenas Arthur, Júlia. — Sorrio. Ela pega seu celular e some sem
dizer nada. Que diabos há com essas mulheres?
Não demoro muito para achar Alice e o babaca do meu cunhado.
Pedimos algumas bebidas e ficamos conversando por horas. Quando enfim
estou contando a eles sobre Mariana, ela surge do nada ao meu lado,
altamente alcoolizada, sorrindo de orelha a orelha e vestida em um pedaço de
pano minúsculo, que com certeza ela chama de vestido.
— Você está de vela! Eu sou a Mulher-Maravilha! — diz, rindo.
— O que eu disse sobre não beber? — pergunto e a vejo fazer uma
careta, enquanto minha irmã parece chocada.
— Essa é a Mariana? — pergunta, divertida, e eu aceno a cabeça,
confirmando.
— Prazer! Você é beautiful! What’s your name? — Mari pergunta e
eu sinto que vai começar a sessão “defecar pela boca”.
— Alice, e esse é meu namorado, Luiz Eduardo — Alice responde,
rindo, e Mari dá uma leve desequilibrada. A coloco sentada ao meu lado.
— Satisfação. Prazer é só com o Arthur — responde, rindo. — Alice
tipo Alice no País das Maravilhas? — pergunta à minha irmã, que ri.
— Tipo isso.
— Uau, eu queria me chamar Ariel... Não, não, eu queria me chamar
Cinderela, que é meu desenho preferido no mundo. Eles podiam recriar a
história em uma versão adulta, para mostrar o que o príncipe faz com ela, né?
Só eu que penso nisso? Eu queria saber o que rola entre quatro paredes com
os personagens infantis. Se o príncipe revirou tudo atrás da dona do
sapatinho, imagina o que ele não é capaz de fazer com ela? Senhor! Deve ser
quente. Igual tipo os príncipes que salvam as princesas com um beijo de amor
verdadeiro. Se um beijo faz com que elas voltem à vida, imagina sexo? Elas
devem ganhar o poder da imortalidade. Caramba, não sei que ônibus eu
peguei para chegar nesse ponto! — diz com firmeza, como se estivesse
falando de algo realmente sério. De onde surgiu Mariana? Ela deveria ser
estudada.
— Eu sei, foi um caminhão de vodca, Mariana — falo e ela dá uma
gargalhada.
— Oh, meu Deus, Arthur, ela é o oposto da Laís, totalmente. Eu já a
amo — Alice diz, rindo.
— Laís parece que nem caga. Ela é frígida e uma vadia completa. Eu
daria três socos na cara dela e arrastaria ela no asfalto — Mari fala, rindo, e
volta o olhar para mim. — Eu acho que nós precisamos de um apelido de
casal. Todos os casais têm apelidos. Eu sei que não somos um casal ainda e
não fizemos sexo, mas isso não diz nada. Sei lá, estamos dormindo juntos há
uma semana e eu acho que deveríamos ter um apelido carinhoso. Você pode
me chamar de mor, neném, amorzinho, tigresa...
— Que isso, Mariana? Você vai se lembrar disso amanhã? —
pergunto, tentando me manter sério, o que é quase impossível.
— Provavelmente não. Você me lembra? Você vai dormir comigo
hoje? Por favor! Eu preciso da sua conchinha, porque já estou viciada. Eu te
amo de verdade! Você é tudo pra mim. Você é o melhor homem que conheci
em toda minha existência, eu quero me casar com você e ter cinco filhos.
Quanto dá vinte e quatro anos de existência revertidos em dias? Você sabe,
Tutu? — pergunta.
— Tutu? Oh, Deus! — Alice se desfaz, rindo, e eu encaro Mariana,
sério. Olha a maldição que ela acabou de dizer bêbada! Eu gostaria de ouvir
quando ela tivesse sóbria, não dessa maneira.
— Tutu é sacanagem — Eduardo zomba.
— Ele é meu Tutu mais lindo do Universo, que conspira a nosso
favor. Se alguma mulher olhar para ele, eu vou mostrar minha arma — diz,
séria.
— Que arma, Mariana? Que caralho de arma?! — pergunto.
— Não sei, arrumarei uma na hora — responde. — Vocês não vão
rebolar a bunda na pista? — pergunta. — O que ela é sua, Arthur? — Aponta
para Alice e a encara seriamente. Será que ela está cogitando mostrar sua
“arma” para minha irmã? Por Deus, Mariana bêbada é uma pessoa
completamente descontrolada!
— Minha irmã, Mari.
— Oh, minha cu! Posso te chamar de cu? Você é a mais linda do
mundo! Eu te amo, cu! Não haja como um cu! — diz, morrendo de rir. — Ela
é minha cu, Tutu!
— Eu acho que eu deveria levá-la para casa! — aviso.
— Poxa, Arthur, ela é a mais divertida. Não estraga nossa diversão.
Deixe minha cu aqui conosco! — Alice fala, rindo.
— É, Arthur, não haja como um tiozão. Só se tiver um fetiche...
— Mari, cala a boquinha, amorzinho. Fica quietinha aqui comigo.
Vou pedir uma água para você.
— Eu queria um chocolate. Não, eu queria um McLanche Feliz.
Hummmm, eu comeria um McLanche Feliz e um chocolate.
— Por que logo um McLanche Feliz ? — Alice pergunta.
— Porque eu gosto das surpresinhas. Eu passo todos os meses na
expectativa de lançarem uma coleção da Hello Kitty.
— Aquele troço que estampa seus pijamas? — pergunto e ela me
bate.
— Não fale assim — diz com os olhos cheios de lágrimas. Puta que
pariu!
— Oh, Deus, Arthur, você feriu os sentimentos dela! — Eduardo diz,
rindo. — Como é namorar alguém que usa pijama da Hello Kitty?
— É empolgante. Mari fica quente naquelas merdas. Uma completa
felina — digo, rindo, e a sinto fugir do aperto dos meus braços. Ela vai se
esgueirando, achando que ninguém está vendo, e eu me levanto para segui-la.
— Ela é demais, Arthur, quero conhecê-la quando estiver sã — Alice
fala.
— Eu vou pegá-la antes que apronte alguma coisa — digo e vou atrás
da minha maluquinha, que entra no ambiente dançante da boate. A encontro,
está começando a dançar. Fico apenas observando, com alguns metros de
distância. Enquanto ninguém a está incomodando, eu estou bem. Mas a partir
do momento que uns babacas começam a rodeá-la, me aproximo e a pego
pela cintura.
— O que acha de irmos embora, mocinha? — digo em seu ouvido.
— Eu gostaria de ficar até amanhecer, obrigada, de nada — grita e
rebola contra mim diabolicamente.
— Você está bêbada, meu amor. Não vou deixá-la aqui — aviso. Ela
se vira de frente para mim com uma cara de safada que faz meu pau se
contorcer na calça.
— A gente vai dar uns pegas? Você vai me fazer gozar novamente?
Eu quero gozar enquanto me beija e me toca... — diz e eu decido não a
contrariar. Assim que estiver sobre a cama, sei que ela vai desmaiar.
— Eu vou. Você quer gozar na minha boca? — provoco, tentando
persuadi-la.
— Você vai deixar? Isso é sexo... oral. — Ora, não me diga? Rio.
— Eu vou. Vamos para casa.
— Você passa no McDonald’s? Você passa em algum lugar que tenha
chocolate? — pede, parecendo uma menininha, e isso eu não sou capaz de
negar. Essa filha de uma puta me tem pelas bolas mesmo. É uma feiticeira do
caralho! A cada vez que ela age com essa falsa inocência, fico mais louco por
ela.
— Eu passo — respondo e ela pula no meu colo.
— Ahhh, eu te amo, Tutu! Você é o melhor! Nós podemos ir agora?
Eu estou ansiosa! — diz, animada. Ela me ama? Porque é a segunda ou
terceira vez que ela fala isso. Será que a teoria de que bêbado só fala verdade
é confiável? Bom, foi com ela bêbada que descobri tudo que ela pensa sobre
o “chefe”. Ela é uma fodida confusão na minha mente.
Caminhamos até minha irmã, para nos despedirmos.
— Nós estamos indo fazer sexo oral — Mari explica a eles e minha
irmã começa a rir descontroladamente.
— É sério isso? — pergunta e eu balanço a cabeça, negando.
— Precisei apenas persuadi-la para a levar embora — informo,
sorrindo. Será que Mariana vai ficar pouco constrangida ou muito quando
souber tudo o que falou para minha irmã? Eu faço questão de contar cada
detalhe, talvez ela aprenda.
Minutos depois a levo para casa, passando antes no McDonald’s e em
um posto de conveniência, para comprar o bendito chocolate.
Surpreendentemente, ela come tudo, feliz e sorridente, e assim que a coloco
na cama, desmaia em um sono profundo.
O que essa diaba vai aprontar em Porto Seguro? Eu espero que ela
não descubra o caminho da tal passarela do álcool.

A primeira coisa que percebo ao abrir os olhos é que não estou no


meu quarto. Dou um salto na cama e a ficha cai sobre mim de imediato: eu
estou no quarto do Arthur. Alívio e desespero começam a duelar firmemente
dentro de mim. Há apenas uma questão que está batendo forte em minha
mente: como eu vim parar aqui?
Um enorme sino de igreja bate dentro de minha cabeça e eu sinto uma
secura absurda na boca. Vodca! Eu me lembro de ter tomado muitas delas.
Maldito inferno! Eu não pude resistir. Ela me olhou de uma maneira
sedutora, e eu cedi. Eu deveria processar a pessoa que inventou a Ciroc,
certamente ele tem ligações ocultas com o capiroto.
Caminho para o banheiro da suíte e encontro Arthur escovando os
dentes, vestido apenas com uma cueca preta, agora com a escrita Tommy
Hilfiger. Uma belíssima visão para uma manhã tortuosa.
— Oi! — ele diz, enxugando seu rosto, deixando-me de frente para
seu peitoral esculpido e seu pau gigante e duro. Esse homem tem problemas
com ereção, na verdade, não é disfunção erétil, como eu temia, o problema é
paudurecência prolongada, algo que eu inventei agora. Se possível, minha
boca agora está ainda mais seca. Eu gostaria de levá-lo em minha boca,
mesmo que eu ache que é quase impossível passar da cabecinha. Ainda não
me acostumei a vê-lo dessa maneira, tão à vontade. Deveria ser proibido.
— Oi. Eu preciso fazer xixi.
— Faça — ele fala, encostado na pia, com os braços cruzados.
— Com você aí? — pergunto e ele me ignora. Beleza, eu farei xixi
diante dele.
— Como se sente? — questiona com um sorrisinho que eu não
consigo decifrar.
— Mal — respondo, ponderando o que estou prestes a fazer. — O que
eu estou fazendo aqui? — pergunto, temerosa.
— Oh, vamos deixar esse assunto para o café da manhã, é uma longa
história e eu não pretendo poupá-la dos detalhes mais sórdidos — ele fala e
eu levo a mão à minha genitália. Eu não acredito que transamos! É a porra de
uma putaria da vida se tivermos chegado tão longe e eu não recorde dessa
façanha. Felizmente, não sinto nenhum tipo de incômodo, nada. Certamente
eu sentiria algo se essa anaconda tivesse decidido se esconder em minha toca.
Sento-me no trono e logo meu amigo xixi está saindo. É horrível que Arthur
esteja me observando neste momento. Deixo isso de lado e o respondo:
— Tudo bem, eu apenas vou terminar minha higiene e logo você pode
começar a me explicar essa situação. — Ele ri.
— Leve seu tempo, eu vou terminar de arrumar a mesa do café. Estou
realmente ansioso para contar tudo! — Ele sai e eu demoro alguns segundos,
parada, sentada no querido trono, popularmente conhecido como vaso
sanitário. Há algo de errado nessa história. Arthur está calmo e sorridente. Eu
perdi algo sobre a noite de ontem... A última coisa que me lembro é de
receber uma ligação de Júlia, avisando que Arthur estava no Caribbean, após
isso tudo é um borrão completo.
Eu termino meu xixi, tomo um banho rápido, escovo os dentes, visto
uma camisa e uma cueca de Arthur e sigo para a sala, onde ele está sentado,
lendo um jornal.
— Olha ela aí! — Sorri e começa a analisar minha vestimenta. Ele se
levanta e se aproxima de mim a passos lentos. Pega na barra da camisa e dá
um sorriso capaz de derreter as maiores geleiras do mundo. — Eu amei isso,
Mari. — Surpreendentemente, eu coro.
Sua mão varre minha bochecha e ele segura meu queixo, puxando-o
para cima. Seus olhos duelam com os meus intensamente, e a luta termina
quando seus lábios grudam aos meus, em um beijo amoroso.
É justamente quando ele me beija dessa maneira que eu sinto algo
forte e desesperador. Esse beijo calmo é o que mais aterroriza e faz doer meu
peito, é mais poderoso que qualquer outra coisa. Sinto vontade de correr para
as colinas, só para fugir desse sentimento forte e quase sufocante.
Eu preciso lutar contra essa merda. Nenhum trauma pode ser maior
que minha força de vontade.
Enfio minhas mãos entre seus cabelos e aprofundo o beijo. Ele toma
outro direcionamento, um que é menos desesperador ao coração e mais
explosivo ao meu corpo. Em determinado momento, a dor volta a fazer
presença de maneira enérgica, porém, agora a dor é a da necessidade. Santo
Deus, eu estou apaixonada, só pode ser isso! Não há uma explicação
plausível para essa vontade desenfreada que se apossa em mim a cada vez
que ele me toca ou a cada vez que eu tenho meus olhos sobre ele. Para piorar,
ele não está tocando meu corpo, e isso torna ainda mais difícil minha
situação. Quão fodido é um homem nem precisar me tocar para me ter
derretida?
— Mocinha quente — ele diz, grudando nossas testas, e eu vibro com
a forma carinhosa com que ele me trata. — Vamos tomar café. Você precisa
se alimentar. — Pegando minha mão, ele nos conduz até a mesa, onde um
verdadeiro banquete matinal me espera.
Meus olhos voam direto para a mortadela defumada. Abro um pão,
colocando duas fatias. Eu amo isso, muito.
Preparo um copo de achocolatado e vejo Arthur tomar Toddynho de
caixinha enquanto come pão de queijo.
— Toddynho? — pergunto, rindo.
— É bonzão! Porra, tinha mais de quinze anos que eu não tomava isso
— explica e eu sorrio com a forma como ele pareceu um pré-adolescente
agora.
— Bom. Você pode me explicar as coisas agora? Você me beijou,
então não devo ter aprontado tanto! — enfatizo.
— Oh, você aprontou, acredite. Mari, você conheceu minha irmã e
meu cunhado essa madrugada — diz e eu me engasgo com o leite.
— Eu o quê?
— Pois é. Você precisa de um tempo para digerir a informação ou
prefere que eu solte tudo de uma vez? — pergunta, divertido. — O que você
se lembra, Mariana?
— Lembro da Júlia me ligando e dizendo que você estava no
Caribbean. Lembro de muitas vodcas, Arthur, só. Eu prefiro que fale tudo de
uma vez, assim eu decido se me mato agora ou dou mais uma chance para
minha vida.
— Bom, então se prepare, vou jogar tudo sobre a mesa agora —
avisa, rindo. — Você chamou minha irmã de cu, disse que não era para ela
agir como um cu, falou que sonhava em assistir uma versão pornô dos contos
de fadas, insistiu que tivéssemos um apelido de casal e até bolou um para
mim, porém não irei dizê-lo, é bastante humilhante. Bom, você disse que não
sabia qual ônibus pegou para chegar nesse ponto da sua vida. — Ele ri e eu
estou em choque. — Você disse que tinha uma arma e ia matar todas as
mulheres que se aproximassem de mim. Disse que eu era o melhor homem do
mundo, que estava viciada em dormir comigo e que me amava. Você disse
que me amava mais de uma vez, Mariana.
— Você está inventando essa última parte — afirmo.
— Eu não estou. Você disse realmente. E, para finalizar, você só
aceitou vir embora depois que eu prometi passar no McDonald’s e fazer um
sexo oral em você. A propósito, suas lembrancinhas estão no armário da
cozinha, eu comprei todas da coleção, era de uma tal de Pucca. Tão esquisita
quanto essa merda de Hello Kitty.
— Você comprou todas? — pergunto.
— Sim, você disse que gostava. Além disso, se comportou como uma
mocinha obediente, comendo todo o lanche e o chocolate. Você mereceu.
— Oh, merda! Você é perfeito e detestável ao mesmo tempo. Você
falou como se eu fosse sua filha — repreendo e ele ri.
— Você agiu como uma criança travessa ontem, Mariana, eu apenas a
tratei como tal. Desempenhei o papel que me foi dado.
— O que sua irmã deve estar pensando de mim... Oh, Deus! — digo,
abaixando minha cabeça sobre a mesa.
— Na verdade, ela amou você, Mari. Já me mandou três mensagens,
sendo enfática sobre o quanto gostou de você — fala e eu me levanto.
— Sério?
— Sério. Você conquistou sua cu. — Ele ri. — Você precisava ver,
Mari, estava muito engraçada. Nem consegui ficar puto por estar bêbada. Isso
nos leva a um assunto sério. Você pensa que eu não sei que está indo viajar
para o tal de Axé Moi? Eu sei. Lá não é local mais apropriado para pensar,
mas eu vou respeitar isso. Eu apenas peço que não extrapole, Mari. Lembre-
se que você vai estar em outra cidade, longe de todas as pessoas que podem
ajudá-la em um caso extremo. Tenha ao menos um pouco de juízo e não saia
beijando aqueles dançarinos. Eu ficarei sabendo. Você não é boa em mentir,
eu saberei se fizer — diz, sério, e seguro sua mão por cima da mesa.
— Irei me comportar. Eu tenho um pouco de consciência.
— Eu espero que tenha, ou a dobrarei sobre meus joelhos e encherei
sua bunda de palmadas, sem misericórdia, e não tem nada a ver com
dominação ou sadomasoquismo, tem a ver com ficar puto o bastante — avisa.
— Ok, daddy!
— Eu não sou seu pai, por isso mesmo estou avisando — informa.
— Nossa, é para eu sentir medo? Porque se for, você está fazendo
errado, estou apenas sentindo tesão.
— Gosta de ser mandada? — pergunta, demonstrando interesse.
— Não disse nada. Disse apenas que você sendo ditador está me
deixando com tesão.
— Em qual momento você não está com tesão? — pergunta,
arqueando a sobrancelha.
— Em qual momento seu pau não está duro, senhor ereção?!
— Quando estou longe de você! — responde e eu volto a comer meu
lanche por falta de argumento.
Após almoçarmos em um restaurante mais intimista, ficamos mais de
uma hora em uma loja, escolhendo biquínis. Estamos na minha casa e eu
estou preparando a mala. Já está anoitecendo e Arthur parece mais tenso a
cada minuto, assim como eu.
A vontade de descobrir esse sentimento tão forte que está brotando
aqui dentro não impede que eu sinta uma leve tristeza por deixá-lo quinze
dias. É tão contraditório que eu não queira deixá-lo e não consiga assumir
logo as coisas. Eu preciso da distância para me situar, para entender que isso
não é fogo de palha, antes de me atirar de cabeça. Quando digo que é mais
por ele do que por mim, eu falo sério. Eu quero estar certa antes de tomar
qualquer atitude que possa magoá-lo.
— Só há biquínis e saídas de praia nessa mala — diz, analisando parte
do meu trabalho.
— Claro, foram as únicas peças que eu coloquei até o momento —
respondo, revirando os olhos.
— Porra, eu odeio que um bando de homens vai vê-la praticamente
nua! Estou puto pra caralho! — Ele soca a parede e eu seguro o riso. — Você
é indecente, para piorar a situação, e sua bunda chama a porra de uma atenção
descabida! Você só vai levar calcinha grande, e tenho dito! Isso não tem
graça, Mariana!
— Tem muita graça. Pense pelo lado positivo, eu vou voltar sexy,
ostentando marquinhas... — digo e ele me encara, revoltado. — O que você
quer? Que eu vá de burca?
— Seria perfeito — fala, andando de um lado para o outro. Eu juro
que estou ficando nervosa por vê-lo dessa maneira.
Pego algumas roupas e alguns conjuntinhos de lingerie. Ele para e
volta a observar a mala, em seguida se põe a andar novamente, suspirando.
Quando termino, o faço parar. Ele me encara com seus fulminantes
olhos azuis, tão perfeitamente lindos. Seus traços firmes relaxam quando
envolvo meus braços em sua cintura e o abraço. Eu entendo que ele esteja
inseguro e sei também que não serei capaz de passar qualquer tipo de
segurança a ele sobre essa viagem, não quando estive completamente bêbada
na noite anterior.
Eu gostaria que ele confiasse em mim, ou melhor, eu gostaria de
poder demonstrar que eu posso ser confiável. Eu faria milhões de juras sobre
me comportar de maneira impecável e, ainda assim, ele estaria com um pé
atrás. Vai ser assim até que eu volte decidida, então não vou gastar minha
saliva, vou apenas cuidar de fazer minha parte nessa viagem. Eu não vou
decepcioná-lo. Eu não quero decepcioná-lo.
Nós dormimos tão grudados quanto possível em meu apartamento, e
quando o despertador toca, às 6h da manhã, Arthur já não está mais na cama.
Levanto-me, faço minha higiene e visto uma roupa confortável para a
viagem. Na cozinha, o encontro sentado no balcão, me esperando, vestindo
impecavelmente seu terno feito sob medida, no estilo advogado quente.
— Bom dia, linda. — Ele salta e me pega em seu colo. — Eu vou
sentir sua falta pra caralho. Eu quero você para mim, Mari, mais do que já
quis qualquer outra coisa nessa vida.
— Não diga isso agora, por favor — peço, limpando as lágrimas que
saltam no mesmo instante dos meus olhos.
— Eu falo porque já sei sua resposta. Essa viagem é apenas para
aceitar algo que você mesma já sabe. Só não queria ficar tanto tempo longe,
Mari. Eu já me acostumei com a rotina que estabelecemos nos últimos dias,
eu gosto de estar com você. Eu quero amar você... — Oh, maldição! Ele
precisava dizer quase com um gemido?
— Eu também... — digo, chorosa, e não é só pelos olhos.
Eu não sabia que seria tão difícil...
— Tome seu café e eu a levarei. — Deposita um beijo casto em
minha boca e me coloca de volta ao chão.
Eu não tenho apetite. Os pensamentos apenas estão consumindo tudo
de mim nesse momento. Me forço a tomar um copo de iogurte, e é o
suficiente.
Arthur dirige silenciosamente até o aeroporto e, quando chegamos,
andamos de mãos dadas por todo saguão. É engraçado vê-lo puxando minha
mala preta e rosa, é fofo e atencioso também.
Eu faço todo o procedimento usual e enfim aguardamos na sala de
espera. Eu deitada sobre o ombro dele, e ele brincando com alguns fios dos
meus cabelos. É uma cena tão melancólica, como se fosse uma despedida
completa. Eu quero dizer a ele que vai passar rápido, mas não faço. Não
precisamos de palavras agora.
Quando meu voo é chamado, sinto uma tremenda vontade de fugir
daqui, mas encaro, mais uma vez encaro, afinal, foi escolha minha ir, preciso
seguir adiante.
Abaixo meus óculos escuros quando me levanto, não quero chorar, e
sinto que eles podem impedir essa catástrofe.
— Vá! — ele diz, beijando minha testa, e eu o puxo para um beijo na
boca cinematográfico, sem me importar com as dezenas de pessoas à nossa
volta.
— Eu...
— Vá, Mari! Não diga nada ainda, apenas vá e volte para mim. Volte
dizendo que é minha, para que possamos partir adiante — diz e eu balanço a
cabeça em concordância.
Passo pela revista e em seguida caminho pelo corredor coberto por
uma vidraça. Em alguns momentos me pego olhando para Arthur, que está lá
embaixo, me observando. Quando se aproxima do fim, meus pés congelam e
eu pego meu celular. Eu preciso apenas dizer a ele, só assim conseguirei ir.
Vejo o momento exato em que ele pega o telefone e volta seu olhar para
mim, o colocando sobre o ouvido.
— Oi — fala e eu o vejo sorrir enquanto me encara.
Esse homem... é apenas tudo!
— Eu sou sua. Eu estou apaixonada por você, Arthur. Na verdade,
sempre estive — comunico e vejo seu sorriso morrer quando encerro a
ligação, o observando permanecer estático, com o celular no ouvido.
Com um último aceno que ele não retorna, sigo meu caminho.
Talvez quinze dias seja tempo demais... Nós vamos descobrir isso em
breve.
Uma hora e quarenta minutos depois que deixei Arthur, estamos
aterrissando em Porto Seguro. Estranhamente, ter dito aquelas palavras a ele
fez surgir um alívio imenso em meu interior. Foi como se um peso tivesse
saído dos meus ombros, desde então posso dizer que me sinto um pouco mais
animada para essa viagem. Aceitar o que não podemos mudar ou lutar contra,
é realmente vital para a saúde mental.
Sinto que, desde que Arthur resolveu entrar na minha vida de vez,
tenho amadurecido diariamente. Estou em um processo de redescoberta
pessoal incrível. Tenho descoberto muito sobre o quanto lutar contra a
aceitação de um fato é estressante e exaustivo. Tudo que preciso agora é
relaxar o corpo, a mente e o coração. É um processo de preparação para tudo
que Arthur vai trazer consigo. A intensidade é gigante e eu sei que vou ser
atropelada por ele assim que nos reencontrarmos.
Chegando ao hotel, coloco minha mala na suíte e contemplo a visão
do mar bem diante de mim. A brisa invade meus sentidos, trazendo uma
incrível sensação de paz. Não vai ser um sacrifício ficar nesse lugar alguns
dias. O hotel está aparentemente vazio, exceto por mim e por uma excursão
de senhorinhas da terceira idade, que já têm todo um cronograma traçado de
diversão, então eu acho que essa praia privativa vai ser apenas minha na
maior parte do tempo.
Quero me desligar do mundo, então, desde que entrei no avião, meu
celular está completamente desligado, e eu vou tentar ser forte para que ele
permaneça dessa maneira, ao menos por um período.
Tomo um banho rápido, visto um biquíni e uma saída de praia. Logo
em seguida desço para tomar um café da manhã e poder aproveitar as águas
límpidas do oceano. É incrível que até o azul do mar me faz lembrar daqueles
olhos... Eu não vou evitar os pensamentos sobre Arthur. Eu quero saber o
nível de quão fodida estou. Quero saber se vou sofrer por ele esses dias,
quero ser uma sádica comigo mesma apenas para descobrir a grandiosidade
do sentimento que cresceu em meu coração.
No refeitório do hotel, quando estou degustando uma torta alemã,
recebo uma cartilha completa sobre tudo que é oferecido. Descubro que aqui
possui um SPA completo, com direito a massagistas e tudo mais. Faço uma
anotação mental para marcar uma massagem. Recebo também o guia de
passeios, mas descarto essa opção por enquanto. Eu quero ficar uns dias aqui,
no hotel mesmo, pondo a mente no lugar antes de me aventurar em qualquer
passeio maluco. Há em mim, bem no fundo, um pouquinho de juízo e noção.
Minutos depois estou estirada em uma espreguiçadeira, tentando
pegar um bronze e com a mente completamente fora de órbita.

Dirigir para a empresa após a Mariana jogar aquilo sobre mim está
sendo uma difícil missão. Já perdi as contas de quantas vezes soquei o
volante nesse período. Eu tentei burlar o sistema para ir buscá-la pelos
cabelos, mas fui impedido pelos seguranças. Eu tentei comprar uma maldita
passagem, só para poder entrar naquele avião e retirá-la de lá, mas não havia
mais passagens disponíveis e eu me fodi.
Passo o dia com um leve mau humor, não o bastante para descontar
em ninguém, mas, ainda assim, isso está me corroendo por dentro. A maldita
deve estar queimando aquela bunda maravilhosa, enquanto me sinto fodido.
Chegando em minha casa, quase vou bater na porta dela, mas aí me
lembro de que ela não está e caminho para meu apartamento, sentindo-me
sozinho pra caralho.
Minha rotina é a mesma durante os próximos dias. Só muda o fato de
que vou para a academia malhar dobrado, para descontar minhas frustrações
nos pesos. Eu malhava uma hora, agora malho duas, às vezes três horas por
dia. Eu não vou suportar quinze dias sem a diaba mais linda que eu conheci
na vida.
Não resistindo mais, pego meu telefone e ligo para ela. Preciso ao
menos ouvir sua voz para voltar a ter sanidade mental.
— Sua ligação foi direcionada para a caixa postal...
— É pra rir, Mariana? Eu não achei graça nenhuma! — digo e ela ri,
fazendo meu coração disparar.
— Parece que alguém está de mau humor! — fala.
— Parece que alguém está felizinha demais — rebato.
— Eu estou bem, Arthur, de verdade. Estou há quatro dias aqui, em
uma praia privativa, completamente vazia. Minha rotina é acordar, comer e
ir para a praia, comer de novo, tomar banho e dormir. Não fiz nada além
disso. Tem sido como se eu estivesse me reconectando comigo mesma —
explica e eu tento imaginá-la fazendo todas essas coisas.
— Isso é bom de verdade, Mari, mas eu sinto sua falta — digo.
— Faltam onze dias — avisa como se faltassem onze horas. Inferno!
Eu não quero parecer um maluco!
— Ao menos você conseguiu entender as respostas que foi buscar? —
pergunto.
— Eu estou conseguindo. Estou no caminho. E tenho sentido sua
falta. Inclusive, tenho me masturbado todas as noites gritando seu nome —
diz baixinho, e meu pau se contorce na bermuda.
— Mari, não me teste.
— Você não tem feito? — pergunta e eu tenho certeza de que ela está
sorrindo.
— Não, eu estou guardando todo estoque para quando colocar minhas
mãos em você. — Ela solta um gemido no telefone que me deixa puto. Eu
sinto uma vontade de bater naquela bunda. Ela está me torturando com essa
merda de viagem.
— O que vai fazer esse final de semana? — indaga.
— Eu vou para a chácara dos meus pais. Minha vizinha gostosa não
vai estar em casa, então não há nada que me interesse aqui — explico e ela ri.
— Onze dias, Arthur.
— É muito — afirmo e ela suspira no telefone. Lide com isso,
Mariana, você está me fodendo!
— Eu preciso desligar. O jantar tem horário. Nos falamos em breve.
Se cuide. Estou com saudades, de verdade. Cheque seu e-mail mais tarde —
avisa e desliga o telefone.
Antes de dormir checo o bendito e-mail e encontro algo que faz meu
coração vibrar. Uma foto dela ao lado de um coração desenhado na areia. Eu
fico perdido no coração e em como a bunda dela realça, mesmo coberta.
Quem foi o filho da puta que fotografou minha mulher?!

Cinco dias no paraíso e tudo tem sido completamente diferente do que


imaginei. Há cinco dias não bebo, não me divirto, não faço 1% do que a
velha Mariana faria.
Hoje, enfim, acordei animada para conhecer todo o complexo Axé
Moi e me dar alguns cuidados no SPA. Talvez falar um pouco com Arthur
tenha sido essencial para a melhora do meu humor, que estava tenebroso. O
SPA é o primeiro lugar que entro após meu desjejum. Após passar por uma
atendente e preencher uma lista com tudo o que eu gostaria de fazer, sou
enviada para uma sala de massagem. O que eu não esperava era encontrar um
deus grego descamisado, usando um avental e uma bermuda indecente.
— Bom dia, meu nome é Gabriel, sou fisioterapeuta e massagista do
SPA. Eu esperava encontrar senhorinhas... — diz, sorrindo. Gabriel, nome de
anjo e corpo do pecado.
— Prazer, eu sou Mariana. Pelo que parece, eu sou a única menor de
trinta anos aqui — informo, sorrindo.
— Bom, eu espero que não se incomode com a minha vestimenta, é
uma exigência da excursão das coroas. Todas as vezes que elas vêm, eu tenho
que me expor ao ridículo — explica e eu só consigo imaginar aqueles filmes
pornôs de massagens, onde a mulher fica completamente nua e o massagista
joga litros de óleos diversos pelo corpo dela e a massageia em todas as partes,
inclusive nas partes baixas e, em seguida, a fode de maneira escorregadia. Por
Deus, eu devo ir embora. — Então, você quer uma massagem completa? —
pergunta, desviando meus pensamentos e lendo o papel que eu preenchi.
— Bom, o que é uma massagem completa? — pergunto com receio.
— Eu preenchi a porra toda achando que seria uma massagista do sexo
feminino.
— Oh, não é nada disso que você está pensando. — Ele ri. — É
apenas uma massagem dos pés à cabeça, não envolve nada demais —
explica.
— E eu devo ficar nua? — pergunto e ele dá outra gargalhada.
— Olha, nunca ninguém ficou nua aqui, mas se você quiser, eu não
irei me opor a isso — brinca, divertindo-se com a minha cara.
— Não, eu acho melhor apenas nas costas, se puder. Não quero nada
completo hoje, só aliviar a tensão das costas mesmo.
— Você é engraçada. Tudo bem, vamos lá, retire essa saída de praia e
se deite na maca — ordena e eu faço, completamente tensa. Há um homem
lindo prestes a colocar suas mãos sobre mim e eu só consigo pensar que é
uma traição completa, embora eu não tenha interesse algum além da
massagem.
Sinto um líquido sendo despejado em minhas costas, e quando suas
mãos me tocam é tão bom, que eu sinto a tensão se esvair, deixando meu
corpo relaxado. Seu aperto é firme e parece saber exatamente os pontos
certos a serem tocados. Eu mordo meus lábios algumas vezes, para não
gemer.
— Então, você veio na excursão das tiazinhas? — pergunta enquanto
pressiona meus ombros.
— Não. Eu vim sozinha — respondo.
— Está gostando?
— Sim, apesar de não ter feito muita coisa. Aqui é um bom lugar para
relaxar a mente.
— Realmente — concorda e voltamos a ficar em silêncio.
Provavelmente dormi em algum momento, pois acordo sozinha, na
sala de massagem, com uma luz baixa e um lençol me cobrindo. Santo Deus,
que vergonha!
Levanto-me, quase caindo da maca alta pra caramba.
Visto minha saída de praia e saio.
— Você dormiu — o massagista diz, rindo, na recepção.
— Quanto tempo? Sabe me dizer?
— Umas duas horas, não mais que isso — explica e eu sorrio.
— Desculpe por isso. Eu fiquei realmente relaxada.
— Acontece sempre. Não se preocupe. Quando precisar, é só marcar
novamente — diz e nos despedimos.
Subo para a suíte, visto um short e uma camisa por cima do biquíni,
decidida a não postergar mais meu passeio.
O carro do hotel me leva até o local onde a música de axé explode
pelos alto-falantes. Gritos de mulheres atraem minha atenção na hora e eu
tento encontrar onde a putaria está rolando solta.
Eu encontro. Há um palco com cinco homens dançando e há centenas
de pessoas na plateia, os admirando. Me aproximo e os analiso. Eles estão
fazendo a tal dança da cadeira, que parece mais uma simulação de sexo. Eu já
disse, não é um preconceito, mas todos eles parecem gays, embora eu saiba
que nem todos devam ser. Eu só não consigo me sentir atraída por um
homem que dança dessa maneira, não sei o porquê. Nem eu danço assim.
Não acho sexy mesmo. Não me atiça em absolutamente nada.
Os pênis deles nem se movem, parecem não existir. Tudo que vejo é
volume de pano no short, e olha que sou especialista em manjar paus. Eles
devem estar amarrados, é a única explicação.
Desistindo de ver a cena, decido passear por outros cantos. Então
encontro a famosa passarela do álcool. Há centenas de barraquinhas de
bebidas, mas há também algumas lojinhas, a grande maioria fechada, por ser
dia e baixa temporada.
Alguns minutos se passam, até que eu descubro o quão chato está
sendo essa viagem e decido voltar para o hotel, onde passo o restante do dia
na praia, comendo tudo o que tenho direito. Ao menos está valendo a pena
para pegar um bronze e comer besteiras o dia todo. Estou certa de que estaria
me divertindo muito mais se tivesse na cama do meu chefe, ou sobre sua
mesa no escritório...
Mais dez dias aqui parecem muito agora.
Acordo me dando conta de que é meu oitavo dia aqui. São sete da
manhã e eu já me encontro com um humor horrível. Dou um salto da cama,
completamente frustrada, e decido que é o momento de tomar uma atitude
drástica: matar quem está me matando.
O que está te matando, Mariana? Oh, você sabe, querida! No topo da
lista está a falta de sexo, obviamente. Isso poderia ser resolvido em poucos
minutos, aqui no hotel mesmo, mas acontece que é a falta de sexo com
apenas uma pessoa: Arthur Albuquerque Delicioso!
Mas como você pode sentir falto de algo que ainda não experimentou,
Mariana? Foda-se, não é da sua conta! Nem eu sei explicar!
Visto uma roupa, pego minha carteira e vou para o refeitório, onde
tomo meu café da manhã na velocidade de um cometa. Dispenso até gastar
saliva com um “bom dia” aos funcionários, isso prova o quão mal-humorada
me encontro. Assim que termino meu desjejum, vou para a recepção do hotel
e começo a incrível batalha para mudar meu voo, que está programado para
daqui a sete dias. Os atendentes dizem que não podem fazer nada e eu
simplesmente invado a sala da administração para falar com o gerente.
Fico trancada com ele por pelo menos três horas. É preciso usar toda
minha veia artística para convencê-lo de que minha vó morreu engasgada
com um osso de galinha e meus pais estão em Nova York, logo, eu preciso
organizar o velório. Ele me deu até um lenço com a logo do hotel para limpar
minhas lágrimas, eu chorei real. Bastou pensar no membro de ouro do meu
chefe e as lágrimas surgiram com uma facilidade absurda, descendo como a
queda d’água de uma cachoeira pelos meus olhos.
Enquanto o aguardo resolver tudo, fungando repetidas vezes, ando de
um lado para o outro, o observando digitar coisas em seu computador.
— Senhorita — ele me chama e eu paro de andar prontamente,
completamente tomada pela ansiedade. — Está feito, seu voo sai hoje às
15h30, foi o máximo que consegui.
— Oh, Deus! — grito e voo para abraçá-lo. — Eu beijaria sua boca!
Muito obrigada! Mil vezes obrigada! Eu te amo eternamente! — De repente
percebo que estou rindo e pulando. Felizmente, minha mente é inteligente e
percebe a burrada a ponto de dar tempo para despistar. Eu o abraço e choro
em seus ombros. — Minha vó, a ficha ainda não caiu. Eu preciso de um
calmante... Pobrezinha... Ela foi achada por um vizinho enquanto eu estava
aqui, queimando minha bunda nessa praia maravilhosa. Eu vou morrer de
remorso. O senhor me entende?
— Tudo bem, senhorita — ele diz, me afastando. Eu estava realmente
agarrada a esse senhor lindo e maravilhoso que deve ter uns setenta anos. —
Vamos fazer um depósito dos próximos dias de hospedagem que estão pagos.
— Não se preocupe, de verdade. Trocar a passagem era tudo o que eu
queria, digo, tudo que eu precisava para chegar a tempo de proporcionar um
enterro digno para ela — falo, e após agradecer mais quinhentas vezes e
chorar mais uns três litros, vou direto almoçar, para poder arrumar minha
mala.
Às 15h em ponto o carro particular do hotel me deixa no aeroporto.
Minha vó deve estar se revirando em seu caixão, eu consegui comover toda a
equipe do hotel. O gerente fez questão de depositar os sete dias que estavam
pagos e ainda ganhei um final de semana gratuito, a ser utilizado quando eu
quiser. Sinto que a Globo está perdendo uma grande estrela, eu poderia muito
bem ser protagonista de uma novela das nove.
Às 17h estou aterrissando no aeroporto de Belo Horizonte. Agora eu
preciso apenas contar com a sorte nesse trânsito caótico para chegar até a
empresa. Antes, passo no banheiro e confiro meu visual. Sexy não é o que
vejo no espelho, estou muito mais infantil do que sexy nesse vestidinho solto
e uma rasteirinha nos pés, mas está bom, tendo em vista que o vesti no
desespero e precisei desempenhar o papel de neta destruída pelo luto. Não dá
tempo nem de passar uma maquiagem ou trocar de roupa.
Saio correndo com a minha mala e entro no primeiro táxi disponível
que encontro. Pago cinquenta reais apenas para que ele possa fazer uma
ligação para a empresa e confirmar se Arthur está. Júlia o atende e informa
que ele está, porém, ocupado, em uma reunião com a diretoria. Ao menos ele
está lá. Conforme vamos nos aproximando, balanço minhas pernas
inquietamente no banco de trás. Abro e fecho o vidro repetidas vezes,
também recebendo um xingamento do taxista. Eu estou o verdadeiro burro do
Shrek “tá chegando? Já chegou? Tá chegando?”. Minhas mãos estão soando e
meu coração parece ter perdido a noção de qual ritmo deve bater. É apenas o
Arthur, Mariana, minha mente grita, como se isso fosse algo normal. Apenas
o Arthur, sua vadia?!, brigo com ela. É apenas meu chefe, o homem que
cobicei um ano inteiro e que me fez gozar com apenas algumas
esfregadinhas. Por mais que eu tenha tentado sexo quando ele dizia NÃO,
agora que está tão perto de acontecer, estou apenas surtada. Ansiedade, medo,
nervosismo, desespero, uma confusão completa. Parece que vou perder
minha virgindade. Na verdade, nem quando fui perdê-la estava tão nervosa
como agora, estava mais para fogo no cu do que nervosa, realmente.
Arthur tem trinta e dois anos e vivência de cinquenta. Eu estou me
borrando por dentro, sou uma maldita inexperiente perto dele e nunca fui para
a cama com alguém que eu tivesse tanto respeito e... amor?! Isso muda tudo.
Isso está me levando além de tudo que já vivi.
Quando o táxi para em frente à empresa, começo a ponderar
seriamente se devo ou não descer. Pareço uma garotinha medrosa. Aliás, não
me lembro de ter sentido tanto medo assim na vida. Aceitação e entrega...
andam lado a lado. Minha mente grita de novo e eu quase a mando tomar no
cu.
— Senhorita? Já chegamos ao seu destino — o taxista avisa pela
terceira vez e suspiro, abrindo minha carteira para pagá-lo. Desço do carro
com as pernas completamente bambas e o coração quase saltando pela boca.
Ele pega minha mala e coloca diante de mim.
— Muito obrigada — agradeço e entro no prédio. Entro no elevador,
e quando ele para no andar da empresa, respiro fundo antes de sair. Quando
vejo Júlia, sinto uma enorme vontade de correr dali, mas sua voz me diz que
não dá mais para fugir.
— Mari? — grita e eu faço um sinal para que ela fale baixo. Carla se
dobra ao balcão e me observa.
— Uau, você está gostosa e bronzeada! O que está fazendo aqui
vestida dessa maneira? — questiona e eu puxo minha mala, aproximando-me
delas.
— Arthur está? — pergunto, corando. É óbvio que elas agora terão a
confirmação de suas suspeitas.
— Ele está numa reunião há horas, deve estar quase acabando — Júlia
responde, intrigada, segurando um sorriso.
— Eu preciso de um favor. Eu vou ficar na sala dele, apenas não
avisem que estou aqui. Por favor — peço.
— Você e Arthur? — Carla pergunta, chocada.
— Sim.
— Eu sabia, demônia! Eu sabia! Pode me pagar cinquenta reais,
Carla! Você perdeu a aposta! — Júlia diz, rindo.
— Aposta? Suas cadelas! Vocês apostaram? Que decepção! Isso é
humilhação demais para fazerem com uma amiga, colega de trabalho,
respeitosa e gentil — digo.
— Nossaaaa! Arthur é um pacotão de homem, Mari! Que inveja de
você! — Carla diz. — É uma pena que não podemos mais comentar sobre
aquela bunda perfeita nas calças sociais...
— Podem comentar, eu sou de boa com vocês. Eu deixo dá uma
cubada no pacotão completo — falo simpática.
— Vá, demônia. Me dê sua mala e eu a esconderei aqui no balcão —
Júlia diz e eu a beijo no rosto antes de caminhar para a sala do meu chefinho.
Acomodo-me na cadeira dele e observo a foto, que eu enviei, como
papel de parede de seu laptop.
Isso é realmente sério?! Puta merda!

Quatro horas trancado numa sala de reunião com mais dez homens,
entre eles o dono da empresa. Dizer que eu estou mal-humorado é pouco.
Estou puto e sinto que vou explodir a qualquer momento.
Quando o presidente encerra a reunião, quase dou um grito de alívio.
Tudo que eu quero agora é ir para a academia e socar todos os sacos de areia
possíveis.
— Vai ficar para o Brunch? — o presidente pergunta, me oferecendo
um aperto de mãos.
— Não será possível, tenho um compromisso — aviso.
— Mas nos vemos na convenção?
— Certamente, não perderia esse evento — informo e, após me
despedir de todos, saio o mais rápido que consigo.
Passo pela recepção como o The Flash, e quando abro a porta da sala
percebo que estou ficando louco, totalmente alucinado. Dou três passos para
trás e saio da sala o mais rápido que consigo. Soco a primeira parede que
encontro na minha frente e vejo Júlia e Carla me encararem, assustadas.
— Está tudo bem, senhor Arthur? O senhor parece nervoso — Júlia
pergunta, receosa. Porra! Eu estou perdendo a cabeça. Respiro fundo,
tentando não soar como um maluco. Penso mil vezes antes de fazer uma
única pergunta que pode vir a ser meu atestado de insanidade:
— Há alguém na minha sala? — pergunto, e Júlia demora alguns
segundos me encarando, até que acena positivamente com a cabeça. Eu não
posso acreditar.
Respiro fundo e abro a porta novamente, com mais cuidado. Não é
uma pegadinha da minha mente. Mariana está apoiada na beirada da mesa,
usando um vestidinho indecente, que realça claramente o bronzeado de suas
pernas. Eu vou fodê-la tão duro!
— Alguém está mal-humorado! — ela diz, sorrindo, e eu fecho a
porta com chave.
Caminho até ela e a pego no colo. Puta que pariu! Eu senti uma falta
do caralho desse cheiro de morango, framboesa, frutas comestíveis, sei lá que
diabo é esse cheiro, mas apenas ela tem.
Meu coração bate tão forte quanto a força que eu a esmago em meus
braços. Ela enrola suas pernas em minha cintura e eu a levo para a parede ao
nosso lado. Observo um misto de emoções passando em seus olhos. Tão
linda, minha mocinha...
— Diga, por que voltou antes da hora? — ordeno e ela morde o lábio.
— Estava entediante — responde e eu sorrio. Maldita mentirosa de
merda...
— Diga a verdade.
— Eu estava com vontade de transar com você — responde.
— Só isso? Você veio antes da hora por que queria transar? Vamos lá,
Mari, você pode fazer melhor que isso. Não teste meus nervos hoje! — aviso.
— Você está mal-humorado! — afirma.
— Eu estou, e é culpa sua — informo.
— Você vai me bater? Eu sou uma menina malvada! Você vai me
deitar sobre suas pernas e bater forte em minha bunda? — pergunta em meu
ouvido, se esfregando contra minha ereção.
— Eu farei. Agora responda. Diga aquilo que disse ao telefone
quando estávamos no aeroporto. Eu quero ouvir — peço, beijando seu
pescoço.
— Você quer que eu diga que eu sou sua? — provoca.
— Eu quero que me diga que esse é o motivo para ter voltado sete
dias antes.
— Tudo bem. Eu vou dizer. Eu voltei porque sou sua, porque eu
quero você, e isso inclui transar, ou seja, o que eu disse antes não era uma
total mentira. Eu voltei porque quero transar com você — ela diz, gemendo, e
leva tudo de mim para não fodê-la aqui, agora.
— Há dezenas de visitantes aqui hoje. Eu gostaria de fodê-la contra
essa parede, Mari, mas você sabe que não vai dar. Então nós estamos indo
para casa agora, para que eu possa fazer... — A coloco de volta ao chão e
espero até que consiga se equilibrar.
Pego tudo que preciso e saio a arrastando pela recepção.
— Minha mala, calma! — diz, e Júlia a entrega. Não há tempo de se
despedir de ninguém, eu sou um homem que precisa provar essa mulher, não
há mais como adiar. Estou enlouquecendo.
Nós descemos pelo elevador em um completo silêncio e só voltamos a
falar quando entramos no carro.
— Numa escala de Velozes e Furiosos, o quão rápido você consegue
dirigir agora? — pergunta.
— Consigo dirigir na escala de Toretto! Eu estou louco por você,
Mariana! — respondo, ligando o carro e saindo do prédio.
Eu dirijo feito um maluco. Quando paramos em algum sinal, posso
notar sua ansiedade e seu nervosismo. Ela vai o tempo todo com as mãos
cruzadas em cima da bolsa e mordendo os lábios. Eu sinto vontade de rir, há
poucos dias ela estava implorando de joelhos para eu fodê-la e, agora que vai
se realizar, está tímida?! É um absurdo essa mulher!
— Você está nervosa, mocinha.
— Eu? Óbvio que não — diz, olhando para os lados. — Isso vai
acontecer... Eu estou me cagando por completo — suspira.
— Por que se cagando?
— Nunca transei com um homem que eu amo — fala e eu quase
perco o controle do carro. — Digo, nunca transei com um homem que eu...
— Não deixo que ela termine de dizer uma desculpa qualquer para corrigir
uma verdade.
— Eu entendi. Não precisa corrigir — digo, rindo. — Se você
inventar outra viagem para tentar descobrir que me ama, eu irei trancá-la
dentro de uma jaula! — aviso e ela dá um sorriso tímido. Isso não combina
com ela. Essa timidez destoa de tudo que ela já fez até hoje.
Quando chegamos ao prédio, noto seu desespero aumentar
significativamente. Torno as coisas mais difíceis quando retiro meu paletó e
afrouxo a gravata antes de descer do carro. A medrosa não se move, só
depois que eu abro a porta e a puxo para fora.
Bato a porta e a encosto no carro, colocando minha mão na direção do
seu coração. Está batendo como uma bateria de escola de samba. Eu também
estou ansioso, não tem como não estar. Eu pegarei para mim a mulher que
tem todo meu coração e minha mente.
— Por que você não me beijou ainda? — ela pergunta, abaixando a
cabeça.
— Porque se eu a beijasse perderia todo o controle, Mari — explico.
— Há algo que vá precisar na sua mala? — pergunto.
— Não.
— Então nós a pegaremos amanhã — informo e encaixo sua mão na
minha quando caminhamos para o elevador.
A subida até o sexto andar parece mais lenta que o normal. No
primeiro andar, ela pega a chave do seu apartamento, e no terceiro já estou a
puxando para mim, beijando sua boca insanamente.
Quando enfim soa o sinal do sexto, nós saímos tropeçando até o
apartamento. Eu pego a chave de sua mão e tento abrir. É uma merda difícil.
Quando abre, meu peito quase salta para fora. Eu vou fodê-la. Não vai ser
amor agora, vai ser uma foda bem dada, por todos os meses que eu me
masturbei fantasiando-a.
Ela arranca minha camisa, fazendo todos os botões caírem ao chão, e
eu rasgo seu vestido. Ela abre meu cinto e eu rasgo sua calcinha, enquanto
nossas bocas travam uma batalha voraz. E quando ela pega meu pau por cima
da cueca, solto um rugido de um animal feroz e aperto suas coxas com
firmeza.
— Parem! Esperem aí que eu vou pegar a pipoca! — uma voz
feminina diz e eu a solto, deixando-a cair no chão.
— Mãeeee?! — Mari grita, puta pra caralho. Eu não sou homem o
bastante para olhar para trás e conhecer minha sogra.
Oh, maldito inferno astral!
Ok, eu vou parecer uma filha da pior espécie agora, uma maldita mal-
agradecida da porra, uma insensível; mas, precisava realmente da minha mãe
estar aqui agora? Hoje? Sem avisar? De surpresa?
Meu foco está todo no homem descamisado à minha frente, que está
fechando seu cinto enquanto respira com dificuldade. Santa frustração que
nos envolve...
— Mãe! O que a senhora está fazendo aqui? — pergunto, tentando
tapar o rasgo enorme do meu vestido. Enquanto isso, ela está linda e plena,
sentada no sofá com uma cara divertida.
— Eu disse que quando menos esperasse eu estaria aqui. Aliás, é uma
sorte seu pai ser um fofoqueiro de uma figa e estar na portaria, ou ele não
ficaria satisfeito com essa cena. — Ela gargalha e bate palmas. — Que
desempenho incrível! Agora vá ao seu quarto e vista uma roupa decente,
antes que seja tarde. E você, garotão, embora seja uma imagem e tanto
vislumbrar essas costas largas, eu ficaria feliz se pudesse vestir uma camisa
— diz a Arthur, que após respirar fundo, se vira para mim. — Oh, santo
Deus! Mariana! Esse homem é uma aberração divina! — grita, se levantando.
— Obrigado?! — Arthur parece confuso, com o rosto tomado por um
vermelho tomate.
— Bom, me apresente esse deus grego, esse espetáculo divino... —
ela diz a mim.
— Mãe, esse é Arthur, um... amigo?! — pergunto a ele.
— Amigo? Que amizade moderna. — Ela sorri e ele toma frente da
situação.
— Prazer, Arthur Albuquerque, namorado de Mariana.
— Nem venha querer me dar um aperto de mão. Eu vi bem onde sua
mão estava minutos atrás. Embora seja na minha filha, eu só me permiti tocar
nessa perereca quando ela era criança — ela fala sem filtro algum e Arthur
me encara, com um pedido de socorro. Vejo o puro sofrimento estampado em
seu belíssimo rosto. — Então você é namorado de Mariana? Por que eu não
sei disso, filha?
— Porque é recente, mãe.
— Ele é o motivo por trás daquela ligação? — pergunta, sem se
importar com a presença dele.
— Ele é.
— Bom, eu irei ao meu apartamento tomar um banho e vestir algo
decente — ele diz.
— Oh, querido, sua blusa está realmente destruída. Bom, permita-me
convidá-lo para um jantar em família? Vamos a um restaurante aqui no bairro
mesmo, onde fazem a melhor carne de sol com mandioca — mamãe diz.
— Claro. Eu voltarei — ele fala cordialmente.
— Seu prédio é muito longe daqui?
— Não, eu moro no apartamento ao lado — ele informa e ela ri.
— Incrível! Bom, então vá e nós o aguardaremos. Mariana também
precisa de um banho frio, congelante.
Arthur sai após me dar um beijo na testa, deixando apenas eu e a
empata foda da minha mãe.
— Vá tomar um banho para que eu possa te abraçar — diz, sorridente.
— Você está bronzeada!
— Eu estava viajando, só voltaria daqui a sete dias, mas resolvi
antecipar e cheguei hoje. Minha mala está no carro de Arthur — digo.
— Você não parece feliz em me ver.
— Eu estou, dona Ana, eu só não estava esperando por isso — falo,
tentando soar o mais bem-humorada que consigo no meio de tanta frustração
sexual.
— Walter já deve estar subindo, filha, arrume logo essa bagunça
rasgada em você. Eu estarei aqui esperando. — Deposito um beijo em sua
testa e me tranco em meu quarto.
Eu me nego a chorar. Nós estamos apenas tendo um adiamento, mais
um. Não posso mentir, eu senti falta dos meus pais, em especial da minha
mãe, que sempre foi minha melhor amiga e confidente. Pensando dessa
maneira, permito deixar um pouquinho de felicidade entrar.
Termino de destruir meu vestido e tomo um banho morno, não frio,
como minha mãe sugeriu. Quando termino, pego um vestido um pouco mais
digno para o jantar, escolho um lingerie decente e calço uma sandália de salto
fino que prende no tornozelo. Faço uma maquiagem não muito exagerada e
seco meus cabelos, os deixando um pouco mais ferozes.
Quando volto à sala, meu pai ainda não chegou. Minha mãe, enfim,
me dá um abraço forte.
— Você está linda, filha. Eu diria que você está parecendo mais...
mais mulher — ela fala, me analisando.
— Obrigada, a senhora também está ótima! — digo e logo meu pai
entra.
— Jesus, eu e Jair vimos um casal de pegação no elevador. Essas
pessoas perdem a linha — ele fala, caminhando até mim, que estou
petrificada. — Que saudade da minha menina! — Me abraça, e quando me
solta, seus olhos estão inundados com lágrimas. Tão lindo! — Nós já
podemos ir jantar ou ainda está cedo? Talvez possamos ir e tomar umas
biritas antes de pedirmos o jantar — diz, visivelmente tentando fugir da
emoção.
— Sim. Mariana, vá buscar Arthur — minha mãe ordena, atraindo o
interesse de meu pai.
— Quem é Arthur?
— Meu namorado — explico, ainda sem me acostumar com o novo
rótulo. Chefe, vizinho, pretendente e agora namorado. Tão rápido quanto a
luz do sol.
— Ora, quer dizer que eu irei conhecer um namorado que eu nem
sabia da existência?
— É recente — mamãe me defende e eu seguro o riso.
— Bom, vou buscá-lo.
— É muito longe? Posso ir com você?
— É no apartamento ao lado — mamãe informa, divertida, e meu pai
faz uma careta. É a deixa para que eu fuja rapidamente, antes que comece um
longo interrogatório. Toco a campainha e logo Arthur abre. Ele está
terminando de se vestir, e eu estou engolindo em seco, bebendo seu corpo
com os olhos.
— Sua mãe é tão louca quanto você — diz e eu me aproximo para
fechar sua camisa. Porém, irresistível como ele é, o beijo. — Vou poder
raptá-la após o jantar? — ele pergunta quando nos afastamos.
— Não tenha dúvidas. Se não puder, fugirei. — Sorrio, fechando os
botões. — Me desculpe por toda essa mudança de planos — digo e ele me
abraça.
— Eu estou feliz por conhecer seus pais, não se desculpe. Em breve
você irá conhecer os meus também.
— Sua irmã mora com eles? — pergunto, receosa, e ele dá uma risada
gostosa.
— Sim, ela mora.
— Oh, Deus! Tudo bem, eu terei que enfrentar a vergonha. — Coloco
minha cabeça em seu peito e ele faz um cafuné em meus cabelos. Porra, ele é
tudo que pode conter em uma listinha de qualidades que procuramos em
homens.
A campainha toca e eu reviro os olhos.
— Você vai aguentar a loucura dos meus pais? Minha mãe tende a ser
invasiva.
— Eu nem percebi isso. — Ele ri. — Eu quero você e toda a loucura que vem
no pacote. Vamos jantar, preciso surpreender seu pai.

Vamos caminhando até o restaurante, falando sobre o crescimento de


Belo Horizonte. Arthur e meu pai se dão bem logo no início, justamente pelo
fato de compartilharem do mesmo time: Cruzeiro. Se ele fosse atleticano, a
morte estaria próxima.
Meu pai é um fanático, que teve que parar de assistir os jogos após
quebrar a sétima TV consecutiva. É tudo bem dentro da normalidade, não é?!
É normal uma pessoa quebrar a TV por causa de futebol!
Sentamo-nos em uma das mesas do lado de fora do restaurante, e eu e
Arthur resolvemos acompanhá-los na carne de sol com mandioca. Enquanto o
pedido não chega, eu e mamãe tomamos vinho, já meu pai tenta embebedar
Arthur com cachaça.
— Por favor, não vá ficar bêbado — peço em seu ouvido e o vejo
sorrir.
— Não ficarei. Não arruinaria essa noite por nada, mocinha. Quem
tem tendências a embriaguez é você, então, por favor, não vá ficar bêbada —
responde, me dando um selinho.
— Vinho tem um efeito diferente da embriaguez em mim. — Pisco o
olho e ele aperta minha coxa por baixo da mesa.
— Eu trouxe alguns Louboutins para você e umas roupinhas de grife
que você gosta — dona Ana diz, enquanto Arthur sorrateiramente tenta se
aproximar da minha intimidade. Cruzo as pernas, impedindo, pois não sei
lidar com tanta pressão psicológica.
— Oh, você é a melhor, mas não precisava gastar tanto, mãe.
Louboutins são uma fortuna.
— Eu sou uma velha cheia da grana, não me ofenda. — Ela ri.
— Velha de quarenta e quatro anos? A senhora é uma jovem coroa
gostosona!
— Seu pai diz. — Ela ri.
— Mari? — uma voz me chama e eu olho na direção, encontrando
Dudu. Santa merda!
— Oiii. — Me levanto para cumprimentá-lo e ele demora um tempo
segurando em minha cintura. Minha mãe tosse e eu forço a afastá-lo.
— Tudo bem? Está bronzeada — ele diz, colocando uma mecha do
meu cabelo atrás da orelha, e eu vejo Arthur começar a ficar puto.
— Tudo bem. Bom, esses são meus pais, Ana e Walter, e esse é
meu...
— Namorado. Prazer, Arthur! — Arthur se apresenta, levantando e
oferecendo um aperto de mão a Dudu, enquanto me laça pela cintura. E
assim, Dudu descobriu que existe mesmo um Arthur...
— Prazer, sou Eduardo, um amigo de Mariana — responde em uma
quase guerra de testosterona. — Bom, foi um prazer conhecê-los. Nos
falamos depois, Mari. — Planta a discórdia e vai embora.
— Isso mesmo, meu camarada! — meu pai diz a Arthur quando nos
sentamos. — Só por isso vou pagar mais uma dose para nós.
— Quem é esse cara? Que intimidade vocês possuem? — pergunta
em meu ouvido.
— Um amigo, apenas.
— Casual? — Arqueia a sobrancelha e eu solto um suspiro. Não vou
mentir.
— Sim, no passado, agora não mais.
— Ele quer você — afirma.
— Eu quero você, isso é tudo o que importa.
— Se ele a tocar novamente, nós teremos um problema, Mariana —
avisa, virando um copinho de cachaça. Essa possessividade é algo doido,
hein? Mexe comigo!
O resto da noite transcorre dentro da anormalidade, não existe ter uma
noite normal com meus pais. Arthur e meu pai quase se mataram no caixa
para pagar a conta, mas, no fim, meu pai venceu, ameaçando nosso namoro.
Meu pai me força a ir para casa e Arthur quase tem um mini ataque
cardíaco diante de mim. Ainda dentro do elevador, digito uma mensagem,
informando que eu fugirei para dar a preciosa a ele, e isso o faz relaxar.
Felizmente.
Despedimo-nos e logo estou dentro do meu apartamento. Puta e
ansiosa.
Aproveito e tomo um novo banho. Visto apenas um roupão, para
facilitar as coisas. Sento-me na sala e começo a rezar a todos os santos para
meus pais dormirem logo. Eu estou desesperada, caralho! Me sinto uma
garota de quinze anos.
Minha mãe está sentada ao meu lado, viajando por completo, e decido
que é o momento ideal para bancar a filha preocupada.
— Mãe, vá descansar. Está tarde — falo, mexendo em seus cabelos.
— São apenas onze da noite — rebate.
— Mas a senhora acabou de chegar de uma viagem internacional e
está cochilando o tempo todo.
— Tudo bem, eu irei, seu pai já desmaiou de tanta cachaça. — Ela se
levanta, beija minha testa e some para o quarto de hóspedes.
Meu coração começa a acelerar em um nível assustador novamente.
Espero meia hora, até que eu me sinta segura, para escapulir.
A porta do apartamento de Arthur está aberta, como combinamos.
Quando ele surge vestindo apenas uma cueca boxer, perco o controle real.
Retiro meu roupão e dessa vez sou eu quem o jogo contra a parede.
Começo a beijá-lo com extrema necessidade. Beijo sua boca
demoradamente, enquanto arranho seu peitoral e desço minha boca para seu
pescoço. Ele me pega pelos cabelos e tenta conter minha fúria.
— Calma — diz delicadamente, tentando enganar a própria ereção
desesperadora que está dentro de sua cueca.
— Nem fodendo — respondo, completamente louca, retomando as
atividades. A primeira coisa que faço é abaixar sua cueca e liberar o monstro
que ele tem entre as pernas.
Ele salta gloriosamente duro e empinado para o alto, batendo em
minha barriga. Santo Deus... Minha boca começa a salivar em necessidade de
sentir seu gosto, mas, quando vou me ajoelhar, Arthur me puxa pelos cabelos.
— O único lugar que quero sua boca hoje é na minha, Mari.
Ele começa a tomar o controle da situação e eu quase me desintegro
quando suas mãos descem até meus seios e os apertam. Seus polegares
brincam em meus mamilos e eu fico na ponta dos pés, tentando escorregar
sua ereção entre minhas pernas.
— Você está desesperada por ele, Mari? Você quer meu pau? —
pergunta em meu ouvido e desce sua boca até o vão do meu pescoço. Eu me
sinto insana. Eu quero gritar, quero bater e apanhar, eu estou uma completa
maníaca, e quando ele escorrega seus dedos em minhas dobras, eu quase me
desfaço. — Molhadinha, mocinha — geme em apreciação e me afasta um
pouco para chupar meus seios. Porra! Eu vou explodir em faíscas a qualquer
momento.
Quando ele volta a me beijar, me agarrando pelos cabelos, eu começo
a implorar.
Ele segura meu pescoço com uma mão e com a outra ele me pega pela
cintura. Enrolo minhas pernas em volta dele e logo estou contra a parede. O
diabo disfarçado de anjo me tortura, beijando grande parte do meu corpo. Sua
ereção, enfim, começa a esfregar em minha entrada, e eu entro em um estágio
avançado de voracidade. O arranho de todas as formas e imploro. Eu peço
pelo amor de Deus para que ele apague logo essa necessidade carnal de
possuí-lo.
Ele me encara uma última vez antes de satisfazer nossas vontades. E,
porra... Se não é a melhor sensação que eu já senti no mundo... Dói, bastante,
mas é uma dor lasciva, gostosa. Eu agarro em seus cabelos e tento me
acostumar com a invasão de um gigante.
— Acho que você é virgem mesmo. Acho que nenhum homem que
você ficou tenha o pau como o meu, Mari. Sinto que serei o primeiro a
realmente te foder — ele diz, mordendo meu pescoço. — Você é tão
apertadinha... Porra, Mariana! Você já é meu vício. Posso me mover?
— Foda duro, Arthur! Dê-me tudo — imploro e ele solta um gemido
rouco antes de tomar um ritmo quase frenético. — Oh, Deus, eu vou gozar
tão rápido — gemo.
— A noite toda, Mari. Eu só vou sair de dentro de você quando tiver
satisfeito essa necessidade carnal, sua e minha. Nós não vamos dormir hoje,
isso soa bem para você?
— Perfeito — respondo.
— Então me dá seu primeiro orgasmo, Mari. Goze com meu pau
dentro de você. — Ele incita meu corpo e minha mente. Meu corpo obedece
ao seu comando de imediato, desfazendo-se em um orgasmo intenso. De
prêmio, sou inundada com o seu próprio prazer, me enchendo por completo.
Minha satisfação se torna ainda maior. Após Arthur estar há dez meses sem
sexo, sou eu a mulher quem está dando prazer a ele. Ele me escolheu. É em
meu corpo que ele está se perdendo, e é exatamente no corpo dele que eu
acabei de descobrir o verdadeiro sentido da palavra prazer.
— Nós estamos indo para a cama, Mariana. Eu não sei você, mas
estou longe de ficar satisfeito! — avisa e sou jogada em seus ombros
enquanto ele nos leva a mais uma rodada de sexo da melhor qualidade.
Eu não sei ele, mas eu acabo de me tornar uma ninfomaníaca, viciada
em sexo com Arthur Albuquerque.
Eu nunca tive tanto sexo em uma única noite.
Eu não me lembro do momento em que dormi, talvez eu tenha apenas
desmaiado devido à exaustão.
Quando enfim desperto e abro meus olhos, encontro os mais lindos
olhos azuis. Por um minuto me pergunto se estou em um sonho erótico, mas
sua mão toca meu rosto e eu percebo o quão real é.
— Bom dia — diz docilmente.
— Bommm... — respondo preguiçosamente. Eu ficaria o dia todo
aqui, nessa preguiça, oscilando entre dormir e observar esse homem. É
sempre uma bela visão acordar ao lado dele.
— Como está se sentindo? — pergunta, demonstrando preocupação.
— Eu não sei. Ainda é cedo para dizer — respondo, sorrindo. Eu mal
sinto meu corpo... — E você?
— Eu estou bem, realmente muito bem. Eu me sinto excelente —
responde, me fazendo rir. — Tirando o fato de que sua mãe me acordou e eu
tive que usar meu poder de persuasão para ela não incomodar seu sono, e
tirando o fato que seu pai surgiu parecendo um tirano prestes a me matar...
Realmente está tudo maravilhoso.
— Oh, merda, eles fizeram isso? — Estou em choque.
— Eles fizeram — Arthur responde, rindo. — Bom, há outra coisa
que devo comunicá-la.
— O quê?
— Bom, eu iria acordá-la com sexo oral, porém, acredito que teremos
que nos abster de sexo por alguns dias. — A primeira coisa que penso é que
estou menstruada, mas aí lembro que ainda faltam bons dias para meu fluxo e
relaxo. Em nome de Jesus eu não estou passando por essa humilhação.
— Por quê? Nem venha com isso novamente, Arthur!
— Você está um pouco ferida aí embaixo, mocinha. Acho que
exageramos um pouco — ele explica e eu provavelmente me encontro com
cinquenta tons de vermelho espalhados em meu rosto.
— Você analisou? — pergunto, receosa, e ele dá um sorrisinho.
— Eu estava prestes a enfiar minha língua nessa boceta gostosa,
porém ela está bastante irritada, então preferi adiar, para não piorar a situação
— fala de boa, como se fosse tranquilão. — Por isso perguntei se você está se
sentindo bem. Não está doendo?
— Ainda não consegui sentir nada. Talvez quando eu for ao banheiro.
Mas você sabe, nós não podemos nos abster de sexo se não estiver
incomodando.
— Eu não me perdoaria se piorasse as coisas aí embaixo. Não está
bonito, Mari — diz, rindo.
— Oh, merda, isso é constrangedor, Arthur!
— Você é minha mulher, eu sou seu homem, não vejo isso como um
constrangimento. Precisamos ter essa intimidade. Nós, daqui a pouco, iremos
procurar algo para melhorar essa situação. Talvez possamos ir ao
ginecologista — ele fala, sério, e eu quase infarto.
— Você está zoando? Só pode. Como vou ao ginecologista dizer que
por excesso de uso estou esfolada de todas as formas possíveis? Nós vamos à
farmácia e compraremos Hipoglós, ou vou pesquisar algo no Google — digo
e ele gargalha. — Nós estamos mesmo conversando sobre isso?
— Nós estamos, e você está bastante engraçada agora, Mari, minha
maluquinha.
— Você se sentiria à vontade se eu ficasse analisando seu cu? —
pergunto.
— É totalmente diferente. Meu cu não está em pauta e nunca estará
— responde, rindo.
— Seu pau está normal?
— Ele está. Inclusive, está duro — diz e eu dou uma apalpada de leve,
que o faz gemer. Ele retira minha mão no mesmo instante.
— É injusto! Seu pau deveria estar esfolado — protesto.
— Só não acredito que vá sair porra dele por pelo menos um mês, de
resto está tudo bem, meu amor. Ele sobreviveu à guerra que travamos essa
madrugada.
— Que conversa matinal incrível, Arthur — zombo e ele sorri.
— Bom, que tal tomarmos um café da manhã?
— Merda, você não foi trabalhar! — falo, me dando conta desse fato
inusitado. É óbvio que as meninas saberão que há uma Mariana por trás
disso.
— Eu liguei avisando que hoje trabalharei em Home Office.
— Claro, obviamente nesse momento estamos sendo alvo de
especulações da Júlia e Carla — digo.
— Mari, você precisa comer, está ficando mal-humorada — sugere,
se levantando e vestindo uma cueca boxer cinza, ostentando sua ereção
maravilhosa. É injusto que eu esteja literalmente fodida e ele não! É meu
playground e eu simplesmente estarei impedida de usufruir de uma das
maravilhas do mundo.
É óbvio que eu estou ficando mal-humorada!
Quando me levanto, começo a sentir o quão grave está minha
situação. Minhas pernas doem absurdamente, como se eu tivesse corrido
daqui ao Japão. Há um incômodo vaginal grande. Até mesmo sinto a parte
interna das minhas coxas ardendo. Minha vagina parece estar bem próxima
de expelir lavas de um vulcão, e não é um exagero. Caminho até o banheiro
parecendo uma pata choca, e vejo Arthur rir, de dobrar a barriga.
— Seu parente do satã, não me faça odiá-lo agora, Arthur! Seu puto
promíscuo! Olha o que você fez comigo, isso é culpa sua! Nós faremos uma
greve de sexo de um mês se você não parar de rir — alerto e ele não para.
— Na hora de virar os olhos, você não reclamou. Já viu o que fez em
minhas costas? Parecia uma gata no cio, cravando as garras em mim — ele
fala e se vira, mostrando suas costas completamente arranhadas. Antes as
costas do que o pau, né? No caso, eu sou a única prejudicada nessa história.
— Vou cuidar de você como um bebê, eu prometo. Vou te dar um
remedinho, passar pomadinha e polvilho anticéptico nessa pepeca. Se tudo
der certo, em dois dias adentrarei nessas carnes novamente — diz
carinhosamente.
— Pepeca? Que maldição, Arthur! O que fizeram com você? Você
não era assim!
O deixo e bato a porta do banheiro. Quando enfim vou urinar, a dor
me faz gritar. Oh, meu Deus, eu nunca senti uma maldição dessas! Arde até
meu cérebro...
— Mari, abre a porra da porta! — Arthur diz, esmurrando a porta.
— Nãooo! Oh, meu Deus, Arthur, eu estou parindo, ou sei lá que
diabo é isso! — digo. Pego o chuveirinho ao lado do vaso e ligo contra minha
querida amiga destruída. Eis aqui um verdadeiro frango assado. A água fria
traz um pouco de alívio, mas ainda assim a irritação se faz presente. Dói, viu,
e não é pouco não!
— Eu estou trocando de roupa, nós iremos ao médico. Aliás, você tem
algum ginecologista a quem eu possa contatar? — ele pergunta, soando
desesperado. Eu sinto que não tenho mais como me opor a isso. Meu médico
é extremamente necessário agora, qualquer coisa para parar essa ardência do
diabo.
— Sim. Há um cartão dentro da minha carteira. A bolsa está no meu
quarto. Tente não parecer desesperado quando for ao meu apartamento, ou
meus pais terão uma síncope. Eu preciso de uma calcinha e uma roupa
também.
— Tudo bem, aguarde aí — diz e o silêncio se faz presente, exceto
pelo barulho do chuveirinho delicioso na minha pepeca. Que humilhação,
Senhor!
Mais de vinte minutos depois, Arthur bate à porta e eu a abro,
enrolada em uma toalha. Ele me entrega um vestido e uma calcinha
horrorosa, que me faz encará-lo.
— Bom, essa parece mais confortável, deve ser sua calcinha “TPM”,
considerando sua atual situação, não queremos uma calcinha apertada, não é
mesmo? Felizmente, seus pais não estavam — fala e eu relaxo diante do seu
cuidado.
Me troco diante de seu olhar avaliativo, e quando estou pronta, ele me
pega no colo.
— Me coloque no chão!
— Não. Eu já liguei para seu ginecologista, ele arrumou um encaixe.
Nós iremos lá e em seguida comeremos algo.

No consultório, eu e Arthur embalamos uma discussão acalorada,


porque ele insiste em entrar na sala comigo, tudo isso pelo fato do meu
ginecologista ser homem. Por fim, ele vence a batalha e se acomoda ao meu
lado, já que fiz a exigência de ele não ficar na frente, observando todo o
procedimento.
— Bom, o que temos aqui, Mari — o médico diz e Arthur solta um
suspiro.
— Quer mesmo que eu diga?
— Mariana — Arthur repreende e eu reviro os olhos. O médico
apenas ri.
— Que seja. Bom, está bastante irritada. No interior também, mas não
pode ser considerada uma doença. Durante o ato sexual, não é o tempo todo
que a mulher fica lubrificada, há momentos que a lubrificação cessa, mesmo
que ainda esteja excitada. Pode ter sido essa a causa, somada ao excesso
sexual. Há também o agravante da sua musculatura vaginal ser apertada além
da média — ele diz, me deixando no auge da vergonha. Arthur está se
sentindo o fodedor, eu tenho certeza.
— Eu vou recomendar uma pomada para aplicação interna e outra
para aplicação externa.
— Como esse homem sabe da sua musculatura vaginal apertada? —
Arthur pergunta quando o médico nos deixa por alguns segundos.
— Talvez por que ele seja o meu ginecologista desde os treze anos de
idade? Arthur, ele tem idade para ser meu pai — digo e ele se cala. Não
acredito que ele é tão ciumento.
— Bom, Mari, além de prescrever as pomadas, receitarei também
alguns comprimidos que vão auxiliá-la. A aplicação das pomadas deve ser
feita durante cinco dias, duas vezes ao dia internamente e quatro ou mais
vezes externamente. Eu recomendo sete dias de abstinência sexual e o uso de
lubrificante durante a relação. Ele pode auxiliar em caso de ressecamento
vaginal durante uma relação duradoura. Evite alimentos cítricos por esses
dias. No mais, é isso, pode se vestir.
— Obrigada, doutor.
— Nós encontramos tudo isso em qualquer farmácia? — Arthur
pergunta e eu quero montá-lo só pela preocupação.
— Com toda certeza.

Pouco depois estou dentro do carro, aguardando Arthur que,


provavelmente, está comprando a farmácia inteira. Eu estou chateada por não
poder fazer sexo durante sete dias, é um cu isso! Estou tentando duramente
não ficar mal-humorada. Acabo de conhecer o paraíso e já tenho que me
abster dele!
Arthur vem caminhando em direção ao carro com várias sacolas e eu
me pergunto o que foi que ele comprou.
— Pronto — ele diz, se acomodando ao meu lado e colocando as
sacolas em meu colo.
— O que são todas essas coisas?
— Estoque de lubrificantes, chocolates, seus remédios e um presente
— responde com uma pequena satisfação em seu rosto.
— Presente na farmácia? — pergunto.
— Sim, procura aí dentro — ele fala, ligando o carro.
Eu procuro. Vejo pelo menos sete tubos grandes de lubrificantes e
encontro também um kit com três esmaltes da Hello Kitty, um protetor de
olhos e uma pelúcia linda da minha personagem preferida. O quão fofo ele
consegue ser? Eu ganhei na loteria! Ele é tão doce e atencioso, mesmo tendo
exagerado no lubrificante.
— Oh, Deus, é lindo, Arthur! — digo com os olhos marejados e o
agarro para um beijo.
— Eu achei sua cara. Pensei que talvez isso pudesse fazê-la um pouco
feliz após toda a tragédia sexual — explica.
— Não foi uma tragédia, eu não mudaria nada. Foi o momento mais
incrível que eu já vivi — declaro. Quando foi que eu me tornei romântica? Eu
estou mega apaixonada.
— Que bom, Mari, pois eu nunca vivi nada assim também. Estou
sentido por tê-la deixado nesse estado, mas foi a perfeição.
— Sim, senhor big pau. Você tem uma arma de alto poder destrutivo
entre as pernas. Eu amo isso, de verdade — digo, sorrindo.
— Eu prometo só fazer amorzinho a partir de agora.
— Nós estamos terminando nesse minuto, então. Eu gostei de como
você pode ser áspero e quente, chefinho. Eu gosto da destruição, gosto de
como você tirou todo o controle de mim e foi implacável a noite toda. Eu
nunca imaginaria toda essa voracidade e volúpia por trás daquele terno e do
perfil “chefe perfeito.” Eu gostei de como você fode duro, Arthur — digo e
ele solta um gemido.
— Não vamos mais falar de sexo, ao menos enquanto estiver
impossibilitada, tudo bem?
— Sabe, você não precisa sofrer as consequências junto comigo, eu
posso aproveitar o momento para praticar chupadas incríveis em seu pau —
falo e ele freia o carro no sinal.
— Mari... Porra! Apenas pare, por enquanto.
— Apenas por enquanto — informo. O sinal abre, permitindo que
sigamos nosso passeio até um restaurante.
Decidimos pedir a comida para viagem. Escolhemos uma suculenta
picanha com fritas, arroz e farofa, pegamos dois litros de Coca e vivemos
felizes para sempre...
Nós comemos sentados no tapete de sala, conversando banalidades.
Quando terminamos, ambos estamos envolvidos em um cansaço físico e a
preguiça pós-almoço.
Aplico as pomadas, tomo um comprimido e em seguida me deito na
cama, ao lado de Arthur. Com as pernas abertas e o ventilador direcionado à
minha querida perseguida, tento relaxar e esquecer a mortificação. Eu me
sinto um frango assado, recém-saído do forno e em meio a uma tempestade
de ventilação. O quão degradante é isso? Eu e Arthur começamos com o pé
esquerdo, definitivamente. Arthur está tendo uma amostra grátis da minha
pior fase...
— Você ainda gosta de mim, mesmo eu estando parecendo uma
galinha depenada? — pergunto e ele sorri com os olhos fechados.
— Eu te amo, Mari, estou certo disso — responde sonolento e eu me
calo diante da grande revelação repentina.
Ele me ama? Como ele pode me amar?
Após acordar da soneca da tarde, decido que é o momento de ficar um
pouco em casa com meus pais. Deixo Arthur, no estilo advogado sexy de
cueca e óculos de grau, analisando alguns processos da empresa.
Ainda estou andando um pouco desengonçada quando adentro em
meu lar doce lar, e obviamente minha mãe é a primeira a notar isso. Como
sempre, tenho as melhores desculpas, então não me preocupo.
— O que é isso? Está andando assim por quê? — ela pergunta,
sorrindo, e eu sinto o cheiro de seu tempero maravilhoso na cozinha.
— Eu fui brincar de ginástica rítmica e acabei estirando o músculo
vaginal.
— O quê?! — ela grita e começa a rir sem parar. — Daniele Hypólito,
Daiane dos Santos ou quê? Diga-me, que tipo de posição você estava fazendo
para estirar o músculo vaginal?
— Foi só abertura total, eu acho, apenas testando minha flexibilidade
em um alongamento diferenciado e mais trabalhado — explico e ela volta a
rir.
— Flexibilidade que quase não existe. Meu Deus, Mariana, você já
foi melhor! Eu te pari, demônio! Invente algo menos absurdo. Nem seu
cabelo é flexível. — Rio.
— Não é só isso, ok?! Também estou com uma infecção urinária das
bravas — respondo. — Já fui ao médico e já estou tomando a medicação.
— Nunca vi infecção urinária fazer as pessoas andarem dessa
maneira, você está parecendo uma rã. Ah, não, esqueci que foi uma
apresentação particular de ginástica rítmica. Mas se você está dizendo...
— Cadê o papai? — pergunto, sentando-me no balcão e tentando
mudar o foco.
— Está no banho. Estou fazendo espaguete à bolonhesa, que você
ama!
— Com batatas fritas? — pergunto, animada, e ela sorri. Minha
comida preferida! Obviamente a batata frita não fica misturada ao macarrão,
mas eu amo comê-los juntos, principalmente acompanhados de uma Coca-
Cola geladinha.
— Eu não me esqueceria desse detalhe. Vamos lá, me conte mais
sobre o Arthur — ela pede e eu sorrio. Meus pais gostaram dele.
— Bom, ele foi casado durante quatro anos com uma megera frígida.
Ele é advogado da empresa que eu trabalho, tem trinta e dois anos, é
incrivelmente inteligente, bem-humorado, maduro e bastante centrado. Ele é
um homem extremamente decidido. Há três semanas começamos a nos
envolver, quer dizer, mais ou menos isso, porém, ele é tão intenso, que parece
que já se passaram três anos. Bom, por trás dessa intensidade toda há também
um cara extremamente carinhoso e cuidadoso. Ele é encantador de todas as
maneiras possíveis... — suspiro. Estou sentimental demais.
— Eu estou com inveja desse cara — meu pai diz, se acomodando ao
meu lado.
— Não fique, o senhor é o meu homem favorito no mundo inteiro —
falo, o abraçando.
— Você nem viu os mimos que eu comprei, isso feriu meus
sentimentos — minha mãe dramatiza e caminha até o quarto, em seguida
volta com algumas sacolas. Três delas posso ver que são de Louboutins, e eu
quase tenho um orgasmo só de ler o imponente nome escrito em letras
douradas.
Quando os abro, recebo a visão dos três mais belos sapatos que eu já
vi em toda minha existência.
— Oh, Deus! São lindos, mãe! — grito enquanto os analiso.
— Eu tenho um ótimo gosto. Bom, na outra sacola há algumas
blusinhas. Eu espero que goste delas também — ela diz e eu abro a sacola
para encontrar seis blusas de marcas: Gucci, Calvin Klein e Colcci. São
simples e maravilhosas.
Não sou uma mulher ligada a futilidades e roupas de grife, mas
sempre que vou a Nova York me dou ao luxo de comprá-las. E, quando
minha mãe vem, eu também vou à forra, ela sempre traz algumas coisinhas.
— Tudo perfeito! Eu realmente amei, dona Ana — suspiro, a
abraçando.
— Bom, talvez possamos chamar Arthur para o jantar, o que acha? —
ela questiona e eu sorrio.
— Eu vou buscá-lo. — Meu pai se levanta e some pela porta. Fico um
pouco boquiaberta pela atitude.
A situação é séria, realmente, Arthur já conquistou até meus pais.
Esse homem não é de Deus.
Aproveito para organizar a mesa. Coloco a toalha, os talheres, pratos
e copos. Meu pai demora pelo menos quinze minutos até voltar com Arthur
ao seu lado.
A imagem dele vestido de maneira tão casual ainda faz meu sangue
bombear mais forte. Acho que nunca me acostumarei a vê-lo em um chinelo
havaiana branco, bermuda e camiseta. É incrível que, mesmo ele vestido de
maneira despojada, ainda tenha uma postura imponente e poderosa. Aliás,
poder é algo que realmente emana dele. Sexo também.
— Alguém ganhou presentes — ele diz, me pegando pela cintura.
— Eu ganhei, são fantásticos! — Ele sorri e caminha até o balcão,
onde faz questão de analisar um por um. Passa alguns minutos, até que ele
diz algo que me surpreende:
— Eu gostei desse, gostei muito. — Me mostra um dos modelos. Um
scarpin preto de salto agulha.
— Você tem um ótimo gosto. Foi meu preferido também —
respondo, sorrindo, e ele caminha até mim novamente.
— Eu adoraria vê-la usando-o quando voltar ao trabalho — sussurra
em meu ouvido e eu seguro um gemido. — Usando esse sapato, um vestido
tipo secretária executiva e nada por baixo. Você me deixaria feliz, Mariana.
Mais do que feliz, você me deixaria duro.
— Vamos jantar, crianças! — meu pai interrompe a putaria de Arthur
e até fico grata. Ao menos acabei de descobrir que ele gosta quando eu me
visto elegante para o trabalho. Também, lá é o único lugar que ele me vê
verdadeiramente em um look mais sério e elegante. Fora de lá são apenas
shorts, vestidos curtos ou longos, sandálias plataformas. O tipo de vida
noturna que eu costumava levar não permitia saltos finos.
Meus dias naquela empresa estão contados, definitivamente. Não vai
dar certo nós dois trabalhando juntos a partir de agora.
— Vai querer vinho, filha? — minha mãe pergunta enquanto nos
acomodamos.
— Não posso, devido à medicação, ficarei com a Coca — respondo.
— Que medicação? — meu pai pergunta e Arthur tosse.
— Infecção urinária, papai.
— E ginástica rítmica. Ela estirou o músculo vaginal — mamãe diz e
meu pai se engasga, ao mesmo tempo que Arthur me encara, abismado. Sem
ter o que dizer, apenas levanto os meus ombros, para que ele possa entender
que foi o melhor que eu consegui.
— Oh, sim, claro, pobrezinha. Eu tive que levá-la às pressas ao
médico hoje. A situação estava realmente feia, vocês não fazem ideia. —
Arthur fazendo cara de inocente é terrivelmente ruim. Ele realmente não
serve para ser um ator.
Minha mãe pega nossos pratos e serve. Enquanto eles se distraem,
abro lentamente a bermuda de Arthur e puxo seu pau para fora da cueca. Ele
faz um ruído na garganta quando começo a fazer movimentos de vai e vem,
sentindo-o crescer em minhas mãos.
— Está boa essa quantidade, filha? — mamãe pergunta e eu dou meu
sorriso mais doce enquanto brinco com o copo com a minha mão que está
livre.
— Está ótimo — respondo e encaro meu namorado, que está
vermelho e apertando sua taça de vinho fortemente, tentando dar
continuidade na conversa com meu pai.
Passo o polegar em sua glande e desço a mão até embaixo. Aumento
meu aperto e ele se vira para me encarar. É incrível que minha delicada mão
não consiga fechar completamente em torno dele.
— Está bom essa quantidade, Arthur? — mamãe pergunta e ele
apenas acena a cabeça em concordância.
— Eu vou chupá-lo tão deliciosamente, Arthur. Estou salivando por
isso! — digo em seu ouvido e ele solta um suspiro. Retiro minha mão e
coloco seu pau de volta em sua casinha.
Vejo-o abaixar as mãos e arrumar devidamente seu menino. Graças a
Deus escolhi uma grande toalha de mesa! É para glorificar de pé minha
genialidade.
É um maldito pecado que eu esteja molhada de tesão na hora do
jantar. Minha mãe sempre dizia que refeição é um momento sagrado. Isso me
leva a crer que eu sou pecadora pra caralho mesmo. Meu lugar ao lado do
tinhoso está garantido, eu sei disso. O castigo já até veio, sete dias sem
cavalgar nesse monumento que Arthur chama de pau.
Um pouco mal-humorada por lembrar esse detalhe, me volto à
comida, enquanto Arthur e meus pais estão envolvidos em assuntos
advocatícios. Sinto-me meio perdida, a única coisa que entendo a respeito
disso é sobre a Vara Criminal que Arthur possui, nada mais. Sua vara é
destruidora mesmo, uma potência absurda. Dá até vontade de ser enquadrada.
A sobremesa é um pudim de leite condensado que eu como quase
chorando, de tão bom. Meus pais não permitem que eu lave a louça, então
eles trabalham juntos na cozinha, enquanto eu e Arthur ficamos na sala.
— E minha bocetinha, como está? — pergunta em meu ouvido.
— Está dodói, está até lacrimejando agora.
— Continue provocando e eu comerei sua bunda essa noite — alerta,
sério, e eu começo a rir. Gosto de provocá-lo, ele perde as estribeiras muito
fácil, e é por isso que eu continuo:
— Você vai me deixar chupar seu pau? Eu quero lambê-lo, chupá-lo e
sentir como é seu gosto. Por acaso você gostaria de foder minha boca,
Arthur? — pergunto angelicalmente e ele aperta meu cabelo com força.
— Você vai me deixar fodidamente duro em público sempre, não vai?
— pergunta quase em um gemido.
— Eu vou.
— Você é uma garota malvada e suja. Eu gostaria de foder sua
boceta, Mariana, mais forte do que já fodi — diz, colocando uma almofada
em seu colo, para tapar o enorme volume. Isso me faz rir, porém eu paro
quando ele puxa meu cabelo mais forte. Por Deus, eu não vou conseguir ficar
no mesmo ambiente que esse cara nos próximos dias. É tortura física e
psicológica o suficiente. Talvez eu deva voltar correndo para Porto Seguro e
pegar os próximos sete dias de hospedagem.
Que fogo é esse que está consumindo cada parte de mim? Eu estou no
cio constante. Quero trepar em seu colo e ser devidamente saciada. Seus
olhos parecem duas armas atirando contra os meus. Eu poderia dizer que
estamos fodendo com o olhar, e fodendo sujo.
— Você quer gozar — afirma e eu não nego. — Dói quando você
toca nela? — pergunta.
— Eu não sei... As pomadas já deram um alívio bom.
Sinto um pouco de ardência quando vou urinar.
— E seu clitóris, ele dói?
— Eu posso descobrir isso — digo, mordendo o lábio, e ele dá um
sorriso perverso.
— Tome um banho gostoso, passe mais pomadinha nela e venha
dormir comigo — intima e meu corpo quase explode em chamas. Eu estou
pagando caro demais com essa merda na minha vagina. Podia ser na parte
traseira, ao menos não ia fazer muita falta.
Podia ter machucado todos os lugares, menos lá...
— Eu vou embora agora, para você curtir um pouquinho dos seus
pais. Preciso terminar de analisar um contrato e dois processos. Eu espero
você mais tarde — fala, levantando e me puxando junto.
Ele me dá um beijo casto (em respeito aos meus pais) e se despede
deles em seguida.
Quando ele sai pela porta, carrega toda intensidade e eletricidade
junto. É incrível. É como se eu pudesse respirar ar puro novamente. Na
presença dele eu só respiro sexo, vivo sexo, penso em sexo...
— Mari? — A voz do meu pai me atrai.
— Oi?
— Você está olhando para a porta há pelo menos dois minutos — diz,
me observando. — Você gosta mesmo dele, não é?
— Eu gosto — respondo. — Bom, vou tomar um banho e passar
meus medicamentos. Um filme depois? — pergunto e ele sorri.
— Esperaremos. — Me dá um beijo na testa e eu corro para o banho.
Preparo minha banheira, logo me acomodo, deixando a água quente e
os jatos relaxarem meu corpo. Aliás, minutos depois eu percebo que meu
corpo está relaxado, mas a mente está gritando absurdamente.
Arthur está se tornando mais do que um vício, uma necessidade.
Rápido demais. Intenso demais. Prazeroso demais. Durante o longo banho
que tomei, tentei duramente colocar em minha mente que eu não iria ao seu
apartamento hoje. Tentei me convencer que precisávamos de um espaço e até
acreditei nisso, eu até acreditei na minha força de vontade. Acontece que eu
terminei o banho, assisti um filme com meus pais, eles foram dormir e, sem
que eu pudesse me dar conta, me vi na cama de Arthur, mais uma noite.
Sem que eu pudesse lutar e sem que eu tivesse a menor vontade de
tentar lutar, seus lábios tomaram os meus e o fogo se alastrou entre nós dois.
O incêndio se fez e eu desisti de lutar, apenas me entreguei. É como uma
droga, um círculo vicioso de prazer...
FODA QUE EU NÃO POSSO SENTI-LO DENTRO DE MIM!
INFERNO ASTRAL!
— 3. Deferida liminarmente a medida preparatória, com a sustação do
protesto do título, ajuíza-se agora esta ação principal ali anunciada... — Ela
não sai da minha mente. Apenas isso. Meu apartamento está impregnado com
seu cheiro maravilhoso. Ela simplesmente chegou de mansinho e tomou
conta de tudo. Não há como se concentrar nesse quarto. Mesmo Mariana não
estando aqui agora, sua presença está em todos os lugares desse apartamento,
em especial nesse quarto.
Pego todos os documentos e processos, meu laptop e me acomodo na
sala.
Talvez aqui seja mais fácil me concentrar.
— Do direito: 1. Autorizando a suplicante a recusar o pagamento, a
parte inicial do art. 1.092 do Código Civil assegura:
“Nos contratos bilaterais, nenhum dos contraentes, antes de cumprida
a sua obrigação, pode exigir o implemento dado ao outro.” Justifica-se,
assim, a postulada declaração de inexigibilidade do débito, eis que o
cumprimento da obrigação pela suplicada em primeiro lugar era condição
sine qua non para que pudesse cobrar o implemento da suplicante.”
Insanamente, a sala me remete à noite anterior, não há como me
concentrar aqui também. Basta olhar para a parede e eu sou capaz de
vislumbrar, ainda tão vivo em mim, o desejo e a troca que tivemos. Porra! Eu
me sinto como um jovem garoto apaixonado que acabou de viver a primeira
experiência sexual. Estar dentro daquela mulher é como ir ao céu, sentar-se
ao lado de Deus e ainda compartilhar da Santa Ceia. Eu sou um pecador por
comparar sexo ao céu, mas não consigo nenhuma outra comparação que
chegue tão perto do que realmente é...
Eu não consigo tirar da mente o quão quente e safada ela pode ser
entre quatro paredes, o quão sensível ela é ao meu toque e aos meus
comandos. Ela vai além da receptividade, é a perfeição. O momento em que
mais perdi o controle sobre mim mesmo foi quando a coloquei de quatro e
pude fodê-la tendo como regalo a magnífica imagem do seu traseiro. Eu
sempre ansiei por isso. Sempre imaginei como ela era por trás daquelas
calças, shorts e vestidos. É apenas uma das mais significativas maravilhas do
mundo. Sua bunda, com toda certeza, deveria ser posta num seguro, eu
mesmo pagaria por isso. Seus gemidos e suas palavras sujas tornaram-se
meus sons preferidos no mundo. A forma como ela implorava pelo meu pau...
Maldição! Eu estou constantemente duro por essa diaba, mal consigo me
conter. Mariana perdeu a linha, e junto me fez perder a sanidade e o controle.
Agora, por conta do desejo desenfreado, estaremos sem sexo por sete
malditos dias. Eu estarei sete dias vivendo no inferno, de braços dados com
Lúcifer.
Ficar dez meses sem transar com Laís foi uma escolha minha, tão
fácil como respirar, não surtiu nenhum impacto negativo em minha vida,
apenas impactos positivos. Mas, por outro lado, ficar sete dias sem transar
com Mariana beira ao desespero, é como um maldito castigo. Não que eu
esteja apenas ligado ao sexo, mas ela é como uma dor na minha bunda. Ela é
a tentação em pessoa, tudo nela grita sexo. E, como ela mesma disse, 70% do
relacionamento é sexo, então não estou totalmente fora dos padrões. Estou
apenas seguindo à risca as teorias que ela mesma impôs. Eu sinto que estou
indo morrer de sexo...
Eu desisto do caralho do trabalho e pego uma cerveja na geladeira.
Estou com uma ereção do inferno e não consigo pensar em nada além da
pessoa que está me causando isso. É um vício, apenas algumas poucas horas
sem ela e eu já me sinto em meio a uma crise de abstinência das mais
furiosas.
Volto a me acomodar no sofá e relembro da conversa que eu e meu
querido sogro tivemos. Talvez isso ajude meu pau a ficar tranquilo.
— Eu estou aqui por dois motivos, rapaz, primeiro para convidá-lo
para jantar, e segundo para falar sobre minha filha — Walter diz, deixando-
me intrigado.
— Claro, sente-se — convido, apontando para o sofá, e ele dá um
sorriso acolhedor.
— Apartamento bonito — diz, correndo os olhos para todos os
cantos, avaliando.
— Graças ao bom gosto da sua filha — respondo, orgulhoso da
minha garota. Mari está na profissão errada, mas graças a esse pequeno
erro de escolha a conheci...
— Não há cachaça nessa casa? — Sua pergunta me pega
desprevenido.
— Não há, eu não tenho costume de beber, mas providenciarei para
quando o senhor voltar. Há cerveja, serve? — Sorrio.
— Tudo bem, sem cerveja, amigo. Bom, eu quero saber se isso que
está acontecendo entre você e minha filha é realmente sério. Eu não moro no
Brasil e sinto um pouco de culpa, misturado com receio, por não estar aqui a
observando de perto, entende? Tenho uma grande preocupação com minha
garota. Eu não quero ser o tipo de sogro chato, mas preciso saber que isso
não é uma brincadeira que vai feri-la em determinado momento. — Vai
direto ao ponto.
— Não é brincadeira, senhor Walter. Eu sou um homem maduro,
sério e centrado. Eu amo sua filha, sinto por ela coisas que nunca senti por
nenhuma outra mulher. Eu estou, definitivamente, levando a sério esse
relacionamento. Na sua ausência, quero ser o homem que estará aqui para
ela, para o que quer que precise. Quero cuidar dela, quero dar tudo o que
ela merece. O senhor não sabe o quanto esperei por uma oportunidade de tê-
la para mim, e já que consegui, não estou indo desperdiçar a grande chance
que a vida me deu.
— Você é um homem paciente? — questiona, me fitando, buscando a
verdade em meus olhos. Eu não sei onde ele quer chegar, mas estou disposto
a dar o que quer que ele queira. Eu amo Mariana.
— Eu sou. — Eu sou mesmo, não é uma mentira. Exceto quando a
filha dele decide me deixar maluco, porém oculto esse fato.
— Você sabe que ela vai testar seus limites, não sabe? — pergunta e
dá uma risada. — Mariana é como a mãe. Eu preciso ser realista. Ana me
deixa enlouquecido até hoje, não há como mudar... — diz, divertido.
— Eu já tive algumas amostras sobre isso. Mari me testa como
ninguém, mas, sinceramente?! Eu gosto disso. Não seria tão apaixonado se
ela fosse diferente do que é. Sua “loucura” é como um combustível para o
relacionamento — respondo, rindo, e ele me dá um tapa nas costas.
— Tudo bem, rapaz. Estou feliz que minha filha tenha encontrado um
homem como você. Espero que não a machuque, eu tenho uma arma e um
álibi.
— Oh, não quero morrer tão jovem — me defendo. — Acredite, eu
nunca moverei uma folha se isso significar o sofrimento dela. Eu a amo,
senhor Walter, verdadeiramente.
— Então vamos jantar, minhas meninas estão nos esperando — diz,
encerrando nossa pequena conversa. Não há chance de eu recusar.
A cada movimento do ponteiro do relógio tenho mais certeza do quão
certo estou sobre Mariana. Eu depositei e estou depositando todas as minhas
fichas nesse relacionamento. Quero fazer com que dê certo, isso é tudo em
que estou envolvido. Pode parecer louco e precoce, na verdade eu sei que é
realmente, mas, em algum momento, não muito longe, eu quero me casar
com Mariana. Eu consigo imaginá-la sendo mãe dos meus filhos, um futuro
juntos. Mari tem minhas bolas e meu coração nas mãos, eu espero possuir o
coração dela também.
Ouço o barulho da fechadura e sorrio, observando sua entrada
sorrateira. Ela está usando uma camisola de seda preta e um chinelo peludo
preto, toda combinando e sexy como um inferno. A camisola é curta e deixa
suas belas pernas bronzeadas à mostra. Há um decote em V que exibe parte
da marquinha do biquíni nos seios... Santo Deus! Não sabia que um pau
conseguia ficar tanto tempo ereto.
— Ei — diz, corada e tímida? Oh, mulher do caralho! Como entender
essas suas mudanças súbitas? Minha mocinha contraditória e perfeita.
— Oi — respondo, bebendo um gole da minha cerveja.
— Não está trabalhando? — pergunta de pé, mexendo em seus
cabelos.
— Não. Desisti. Amanhã no escritório eu trabalho — explico e ela
passa por mim, indo até a varandinha. Eu ganho uma bela visão da sua bunda
e solto um gemido baixo, tentando controlar meu amigo. Essa bunda é tudo
que eu preciso sentir.
Coloco a garrafa na mesa de centro e caminho até ela. Retiro seus
cabelos da nuca e a beijo enquanto aperto sua cintura. Ela se esfrega em meu
volume e solta um gemido. Não há timidez quando ela traz sua mão para trás
e agarra meu pau. Onde diabos ela enfiou a merda da timidez de minutos
atrás?
— Como está nossa menina? — pergunto em seu ouvido.
— Está irritada ainda, mas um pouco melhor. Meu Deus, Arthur, eu
quero apenas chorar por não poder dar para você. — Virando-se de frente
para mim, choraminga. Sinto meu pau se contorcer com as palavras. Espero
não passar por uma provação dessas nunca mais. Ela queria me dar e eu
queria comê-la.
— É tão ruim assim ficar sem sexo? — pergunto, observando seus
lábios rosados. Essa boca... Até essa boca é demasiadamente quente.
— É uma merda! Está doendo...
— Dói em mim também, mas vai passar rápido — minto, tentando
esconder o quão desesperado estou por isso. Tenho certeza de que esses sete
dias durarão uma eternidade. Tudo que não quero é que ela se sinta pior do
que já está.
— Vem comigo?
— Sim — responde e eu a levo para nosso quarto.
A primeira coisa que faço ao fechar a porta é beijá-la carinhosamente,
sem o desespero que se tornou tão comum entre nós dois. Seus lábios se
moldam aos meus em uma mistura estonteante. Nossas línguas se envolvem
numa sincronia perfeita e excitante, e, de repente, o que era sereno torna-se
abrasador. Quando me dou conta, ela já está nua, colada ao meu corpo. É
necessário eu usar meu último fio de autocontrole para me afastar e respirar.
Nós não podemos... Não pelos próximos dias. Eu preciso respeitar seu atual
estado de impedimento.
A sento sobre a borda da cama e me ajoelho aos seus pés. Eu preciso
ver como está a situação dela. Sinto-me responsável.
— Não faça isso! — reclama. — Eu pareço um frango à milanesa,
Arthur! Pelo amor de Deus, isso é... íntimo demais.
— Nós somos íntimos, você ainda não entendeu isso? — questiono e
ela solta um suspiro exasperado.
— Arthur...
— Nós estamos brincando de ginecologista. Eu quero ver como você
está e se está sensível ao toque. É um meio para um fim, Mari — explico.
— Apague a luz, não quero que você veja esse filme de terror! — diz,
cobrindo o rosto, e dou uma risada antes de ir apagar a maldita luz.
A puxo para o meio da cama e afasto suas pernas enquanto me
acomodo, deitando-me de lado. Ela tenta me beijar e eu a contenho.
— Calma. Preciso examinar você — digo, descendo meu dedo médio
até sua intimidade. Só preciso tocar em um lugar, um pequeno pontinho que
vai trazer um pouco de alívio a ela. A necessidade de aliviá-la é muito maior
do que a necessidade de obter meu próprio alívio, isso é algo que eu nunca
senti antes.
Eu quero cuidar da minha mocinha, quero ser tudo o que ela precisa.
Quero ser seu alívio e seu tormento. Quero ser testado e testá-la. Quero que
ela sinta ao menos um pouco da necessidade que eu sinto. Quero ser seu tudo
e nunca seu nada. Mais do que isso tudo, nesse exato momento eu quero ser o
nome que ela vai gritar quando estiver gozando em meus dedos...
— Arthur... — ela geme meu nome quando alcanço seu clitóris
inchado.
— Dói?
— Não... Meu Deus... Não dói. — Ela se contorce e eu me sinto um
grande filho da puta orgulhoso por vê-la dessa maneira, desesperada por
mim.
Ela tenta envolver sua pequena mão em minha ereção, mas a
contenho, é tudo sobre ela. Apenas ela.
— Concentre-se em sentir, Mari — ordeno e ela geme quando eu faço
delicados movimentos circulares em seu pontinho de maior excitação, usando
apenas meu dedo médio. Eu faço lento por não querer machucá-la e para
torturá-la.
Com toda sensibilidade em que se encontra, não preciso de muito para
receber exatamente o que eu queria. Ela se contorce e goza, gemendo meu
nome em uma oração deliciosa. Um pequeno orgasmo faz seu corpo
amolecer e eu aproveito para beijar seus lábios mais uma vez.
— Durma, princesa.
— Eu quero chupar seu pau! — diz com a voz embriagada, me
fazendo sorrir.
— Em breve, mocinha. Agora tudo que eu preciso é abraçá-la e
dormir. Amanhã preciso trabalhar — digo e, relutante, ela se acomoda em
meus braços.
Melada de excitação, ela dorme poucos minutos depois, e eu a
acompanho, dormindo completamente duro.

Acordo mais uma manhã com a visão de longos cabelos negros


espalhados no travesseiro e uma bunda completamente tentadora para fora da
coberta. É a imagem que eu nunca me cansarei, estou certo disso.
Alivio minha tensão tomando um banho demorado, deixo a mesa de
café da manhã arrumada e caminho para mais um tortuoso dia de trabalho
sem a minha assistente deliciosa. Na hora do almoço faço uma pausa, o bom
humor faz surgir algumas ideias e me pego dirigindo até o shopping. Espero
que ela goste de surpresas, pois é isso que eu estou indo fazer, surpreendê-la.
Eu acordo sozinha na enorme cama de Arthur.
Quatro casais caberiam tranquilamente nela.
Espreguiço-me e rolo até o travesseiro dele, onde seu cheiro está
impregnado. Esse é o primeiro motivo que me faz sorrir no dia de hoje. Passo
alguns bons momentos me embebedando em seu cheiro. Que homem gostoso
da porra!
Ainda sorrindo, olho para os pequenos detalhes do quarto, dando
conta de como me sinto em casa aqui. Consigo ver características minhas por
todos os lados, inclusive nos quadros pendurados nas paredes. Aquele
apartamento sem vida tornou-se um lar, Arthur tornou-se meu lar.
É o momento de levantar e encarar a vida. Estou num sonho constante
desde que voltei de viagem. Espero que essa boa fase perdure por muito
tempo.
Caminho até o banheiro e paro de frente ao enorme espelho, que vai
do chão ao teto. Contemplo minha nudez como não fazia há um bom tempo.
É engraçado, eu me sinto mais mulher, sinto que estou passando por uma
transição completa. Eu gosto do que vejo. Pela primeira vez há uma grande
satisfação em observar meu corpo.
Mesmo meus seios — que eu sempre achei pequenos demais — agora
parecem bons. Minha barriga, completamente nula, destoa por completo da
quantidade de porcarias que eu como. Pura sorte. Já a minha querida bunda é
um pouco exagerada. Sim, tenho uma senhora bunda, e é praticamente um
milagre que ela seja tão lisa e desprovida de celulites ou estrias, já que sou
uma amante de Coca-Cola. Bom, eu sempre gostei da minha bunda, mas hoje
descobri que a amo. Eu a amo porque Arthur nutre uma idolatria exagerada
por ela.
Desço para as minhas pernas e fico satisfeita com o quão femininas
elas são. As coxas são devidamente grossas, totalmente proporcionais a todo
meu corpo. Até mesmo meu pé eu admiro, são delicados e o vermelho-
sangue em minhas unhas faz com que eles se pareçam sexys. Subindo a
avaliação para meu rosto, noto um brilho diferente em meus grandes e
expressivos olhos castanhos. Há quanto tempo eles não brilhavam dessa
maneira? Na verdade, eu nem sei se algum dia eles já atingiram o ápice do
brilho.
Sorrio em uma satisfação silenciosa.
Por falar em sorriso, é visível o efeito do clareamento em meus
dentes. Eles estão perfeitamente alinhados e brancos, gosto de mantê-los
perfeitos, tendo em vista que considero meu sorriso um próprio cartão postal.
Sou uma risonha incurável, que ri até mesmo da própria desgraça.
Meus lábios estão rosados e levemente rachados pelas mordidas
incansáveis que eu mesma dei. Arthur... É tudo sobre ele. Tenho mordido
meus lábios em desespero a cada vez que ele está perto de mim.
Meus longos cabelos negros também estão perfeitos, naturalmente
bagunçados e trazendo um ar mais selvagem (mulherão) ao meu rosto. Eu
não gostava disso, mas agora gosto bastante. A rebeldia está sendo bem-vinda
neste momento.
Entre minhas pernas encontro minha delicada amiguinha vagina: lisa
e coberta por um tom de vermelho. Maldição! Eu a odeio nesse momento por
ter escolhido ser frágil logo quando precisava demonstrar seu rigor. Mesmo
assim, ela é bonitinha e pequenina, quase invisível olhando desse ângulo.
É, acabo de chegar à conclusão de que estou extremamente satisfeita
comigo mesma. Arthur, involuntariamente, despertou meu amor-próprio. Ele
tem feito o que nenhum outro chegou próximo de fazer. Quisera todos os
homens tivessem esse efeito positivo e avassalador nas mulheres. Ele me faz
me sentir segura e exalta minha beleza em todos os momentos. Ele faz com
que eu me sinta bonita, poderosa, desejada e extremamente sexy. Enaltece um
poder que eu nem sabia possuir. É por isso que sinto-me renascendo como
mulher.
Quando termino de fazer minha higiene matinal, que incluiu um
banho demorado, caminho para minha casa (após roubar um pacote de
cookies cobertos com chocolate).
Encontro meus pais sentados à mesa, almoçando, e entro em choque,
verificando o relógio. São uma e meia!
— Boa tarde! — meu pai diz.
— Não acredito que dormi tudo isso! — Caminho até ele e o beijo.
Em seguida faço o mesmo com a minha mãe.
— Já comeu? — ela pergunta.
— Não, mas o cheiro está divino. Terei que pular o café da manhã
para comer esse magnífico nhoque. — Sorrio, pegando um prato e me
acomodando ao lado deles.
— Há alguns presentes na sua cama — meu pai fala, sorrindo.
— Pai, não quero que fiquem me enchendo de presentes.
— Não fomos nós. Parece que tem alguém muito apaixonado — ele
responde e eu dou um salto da cadeira, correndo até meu quarto.
Encontro em minha cama três grandes buquês de flores. Há um com
rosas brancas, um com rosas rosa e um com as mais belas rosas vermelhas.
Meus olhos se enchem de lágrimas e eu corro para pegar os cartões grudados
a eles. Antes que eu possa ler, me deparo com uma enorme sacola de uma
boutique chiquérrima, porém escolho ler os cartões antes de descobrir o que
há dentro dela.
Abro o primeiro e vejo a caligrafia perfeita de Arthur Albuquerque...
Até sua letra é sexy. Maldito!
“Branco simboliza a paz, e você simboliza meu encontro com ela.
Pela primeira vez em anos me sinto em paz, porque finalmente tenho você.
Na verdade, hoje tenho certeza de que não é o branco que simboliza a paz, e
sim você, Mari. Você é toda minha paz.”
Eu não preciso dizer que estou chorando, estou debulhando em
lágrimas de alegria. Esse homem é um sonho, deve ser fruto da minha
imaginação, não sei. É apenas perfeito demais.
Abro o segundo cartão e tento ler, mesmo com os olhos embaçados.
“Dizem que a cor rosa simboliza o amor. Para mim essa cor
simboliza não apenas isso, vai além. Simboliza a beleza, a pureza, a
suavidade, a ternura e até mesmo a fragilidade. Você coloriu minha vida, seu
amor me fez sair da escuridão, e tudo que posso enxergar é a beleza, Mari, a
sua beleza. Não apenas física, a beleza interior que você possui. A cada dia
conheço um pouco mais sobre você e sinto o sentimento expandir bem dentro
do meu peito. O rosa não chega nem perto de simbolizar o amor, você é a
única que simboliza esse sentimento para mim. Eu amo você, Mari, eterna e
irremediavelmente.”
Oh, Deus!
Cubro minha boca com a mão e tento abafar meu choro. Eu nunca
recebi nada tão lindo e verdadeiro em toda minha vida. Eu deveria correr na
casa da vizinha e esfregá-los na cara dela. Me lembro da cara que a cadela fez
quando recebeu o buquê que eu achei que era meu! Ao invés de agir como
louca, decido ir para o próximo.
Abro o terceiro e tudo que eu faço é sorrir.
“O vermelho... Mari, você sabe o que dizem sobre essa cor? Dizem
que simboliza a paixão. Mas novamente há a necessidade de acréscimos
nessa simbologia. No nosso caso, simboliza o fogo e a intensidade. É a cor
mais quente e a que mais combina com você. Você é a explosão em minha
vida, é a personificação do sexo cru e primitivo. É essa cor que eu vejo a
cada vez que a tenho diante de mim e a cada vez que penso em você. Isso é
muito mais que paixão, Mariana. É a lascívia, luxúria e gula. Não há como
resumir nosso encontro em amor, nem mesmo nossos sentimentos. Preciso
acrescentar que, além de amá-la, eu também sou completamente apaixonado
por você. Não é vermelho que simboliza a paixão, é você.
P.S.: Estou mandando um presente para usar quando voltar ao
trabalho. Ficará perfeito com aquele sapato que eu gostei.”

Limpando as lágrimas, vou direto à sacola. Enrolado em um papel de


seda, encontro um magnífico vestido preto. Sorrio quando entendo que é um
vestido “secretária executiva”. Ele havia mencionado isso ontem... É um
vestido aparentemente sério e básico, mas quando o analiso por completo,
encontro nas costas um fecho em toda sua extensão, que não deixa em
dúvidas o quão sexy ele é. Abrindo outro embrulho, encontro o conjunto mais
sexy de cinta liga que já vi. É impecável, e sua renda preta o torna
extremamente elegante, exaltando o luxo e o bom gosto. Novamente não
combina com quem eu costumava ser antes dele. É extremamente refinado
para uma mulher que usava vestidos tubinhos indecentes e bijuterias baratas.
Será que foi Arthur que escolheu?
Estou completamente surpresa e sem saber como reagir a tudo isso.
Após limpar minhas lágrimas, pego meus três buquês e os levo para a
cozinha.
— Já deixei alguns vasos separados, filha — minha mãe diz.
— Tudo bem. — Os encho de água e misturo todas as cores,
formando um arranjo colorido. Os coloco em três jarros diferentes, deixo um
na sala e levo os outros dois para meu quarto.
Quando volto para almoçar, minha mãe está esquentando meu prato
no micro-ondas e meu pai está me olhando quase internamente.
— Gostei desse rapaz — diz. — Ele está te fazendo bem, filha. Você
está ainda mais linda.
— Ele é incrível.
— Bonito, gostoso, rico e completamente apaixonado. Alguém
ganhou na loteria premiada — mamãe diz, entregando meu prato e se
sentando diante de mim.
— Você o chamou de gostoso, Ana? Pelo amor de Deus! — Papai
finge braveza.
— Você era tesudão também — ela rebate e aperta a bochecha dele,
que dramatiza:
— Eu era? Não sou mais?
— Ainda é, mas já foi mais. Pelo menos seu órgão sexual não sofreu
consequências com os anos... — ela responde. — Bom, filha, eu e seu pai
iremos viajar amanhã para Campinas, vamos passar o final de semana na
chácara de Beth.
— Vocês querem meu carro? — ofereço e ela ri.
— Não, nós iremos de avião. Beth nos buscará no aeroporto.
Voltaremos terça e ficaremos mais duas semanas com você antes de
partirmos — ela diz e eu seguro a vontade de chorar.
Sempre fico um mês extremamente desolada quando eles vão embora.
— Eu os levarei até o aeroporto, então — informo, tentando não
pensar em coisas tristes.
— Arthur escreve muito bem, né, filha? Incrível! — ela diz e eu me
engasgo com o nhoque.
Tomo um longo gole de Coca-Cola e a encaro.
— Você leu? Mãe!
— Eu fiquei curiosa, uai. Sorry! Não foi por querer. O bilhete do
vermelho fez o cu cair da minha bunda!
— Ana! Você não me mostrou o vermelho. — Meu pai soca a mesa e
percebo que existem pessoas mais loucas que eu.
— Ele era proibido para pais, meu amor. Você ficaria chocado.
— Isso é invasão de privacidade, posso processar vocês — alerto, mas
acabo rindo. Santo Deus, meus pais são completamente loucos!
— Nossas OABs ainda são válidas, querida, nós mesmos faremos
nossas defesas. — Rio. — Eu duvido que você esteja com infecção urinária,
viu?! Pelo bilhete, sei muito bem o que aconteceu.
— Mãe! — esbravejo e meu pai se levanta, colocando a mão sobre o
peito.
— Eu não sou capaz de sobreviver a essa conversa. Me deem licença.
Minha princesinha não faz essas coisas de adulto. É muito para o meu velho
coração.
— Seu pai acha que você dorme com Arthur para compartilhar um
terço — ela diz, rindo, e grita para meu pai: — Querido, aceita que dói
menos. Nossa filha é uma transante!
— Mãe, pelo amor de Deus! Menos!
— Arthur tem cara de que tem um bom material. Estou feliz por você.
Agora mamãe vai se arrumar para visitar as velhas amigas, minha princesinha
que transa. — Ela me dá um beijo na testa e desaparece pelo corredor.
Eu termino de comer e logo eles saem.
Aproveito o momento para “atochar” pomada na minha arqui-inimiga
e fico uns cinco minutos deitada, até ela fazer o servicinho. Após tomar o
comprimido, visto uma calcinha “TPM”, uma calça jeans, uma blusa
comportada e decido ir visitar meu chefe no trabalho.

— Olá! — falo animada com Júlia e Carla.


— Mari! Que saudade!
— Na próxima segunda estarei de volta — aviso, dando um abraço
em cada uma.
— Você está linda! Radiante. Preciso avisar ao nosso chefe sua
presença? — pergunta e eu sorrio. Isso vai ser tão embaraçoso a partir de
segunda-feira. Não quero nem imaginar.
— Ele está ocupado? — questiono.
— Não há ninguém além dele no escritório — informa, piscando o
olho.
— Eu irei dar uma palavrinha com ele, então.
— Vá dar... A palavrinha, é claro — Júlia diz, rindo.
— Não posso dar nada além da palavrinha, Jú, infelizmente. E não
pensem que a cada vez que eu entrar na sala dele vai ser para transar, trabalho
para mim é local sagrado, vocês sabem! — minto descaradamente, como a
perfeita atriz que consigo ser.
Bato na porta duas vezes e ouço sua voz dizer “pode entrar”.
Encontro hipnotizantes olhos azuis focados na tela do computador,
completamente sério e centrado. Sinto que acabei de molhar minha calcinha
com excitação e creme vaginal!
Passam alguns segundos até que ele perceba o silêncio e levante sua
cabeça para me encontrar diante dele. Eu perco totalmente o fôlego quando
ele abre o maior dos sorrisos e se levanta.
— Mari!
— Ouça! — digo, o parando. — Eu não vim aqui para roubar, eu não
vim aqui para matar, eu vim aqui para duas coisas. Primeiramente, acho que
nós estamos na fase que um apelido se encaixaria perfeitamente na relação,
tipo: amorzinho, mor, pipoquinha, ursinho...
— Você já tem um apelido para mim — ele me corta, sorrindo.
— Já?
— Você estava bêbada quando o criou — informa, divertido.
— Qual?
— Tutu — diz, rindo, e eu apenas amo esse apelido e esse sorriso.
— Tutu! É ótimo! Eu amei! — Sorrio, feliz com o quão bem minha
mente trabalha bêbada.
— Bom, eu te chamo de Mari e você me chama de Tutu, apenas entre
quatro paredes, ok? Agora, me diga o segundo motivo da sua presença.
— O segundo é... Bom, eu vim aqui para beijá-lo e oferecer meu mais
sincero boquete — aviso. Ele dá uma gargalhada gostosa antes de se
aproximar.
Ele me puxa pela cintura e olha fixamente em meus olhos. Vejo
quando eles se tornam azuis nebulosos e seu sorriso morre. Noto a tensão em
seu maxilar e seu rosto toma uma expressão totalmente indecifrável. Eu me
sinto a verdadeira Chapeuzinho Vermelho diante do Lobo Mau. Ele coloca a
mão em meus cabelos e me beija devastadoramente. O escritório torna-se
pequeno demais para tanta intensidade...
Eu deveria mudar para o apartamento de Arthur, obviamente.
Mais um dia acordo só, nessa cama perfeita e com cheiro de macho
que esse homem possui. Há em mim uma frustração nessa manhã. Arthur não
permitiu que eu lhe desse um boquete ontem, minha mãe empatou de eu
receber um orgasmo e, na hora de dormir, ele não durou dois minutos
acordado. Tenho certeza de que ele fingiu dormir grande parte da noite, tudo
para fugir do meu fogo no cu.
Com esse pensamento revolto, me levanto da cama para encarar a
sexta-feira. Semanas atrás eu estaria feliz e saltitante. Sairia do trabalho
desesperada, tomaria um banho, encheria o rabo de cachaça, acabaria
pegando um boy magia e passaria parte do sábado com uma ressaca
monstruosa, moral e física. Hoje, estou feliz e saltitante também, porém
minha sexta-feira tem outro tipo de empolgação, teria ainda mais se eu
pudesse dar. Minha empolgação é saber que passarei o final de semana, sem
interrupções, com o homem por quem estou perdidamente apaixonada. Um
homem quente e carinhoso, dominador e compreensivo. Um homem que tem
todas as qualidades capazes de enlouquecer uma mulher, uma verdadeira
bomba-relógio. Minha perseguida já até se sente curada e pronta para outra...
Eu acho. Arthur acreditaria se eu dissesse que fui beneficiada com um
milagre divino e minha vagina alcançou a cura inesperada? Eu realmente
acredito em milagres, talvez ele possa acreditar também.
Meu dia é preenchido com atividades incomuns. Vou ao shopping
com meus pais, almoçamos no meu restaurante preferido, os ajudo a arrumar
uma pequena mala de viagem e até consigo um tempo para queimar o bacon
na academia do prédio. O fato de eu ter malhado confirma ainda mais o
quanto acredito em milagres, eles realmente acontecem.
Assim que tomo um banho rápido, é o momento de levar meus
queridos pais ao aeroporto. Dirigir com eles falando na minha cabeça é quase
uma provação dos céus, e a cada dia se confirma mais a certeza de que eu irei
diretamente para o inferno.
Enquanto o voo não é anunciado, eu e minha mãe fazemos a forra na
loja de doces do aeroporto e, quando chega o momento de eles partirem, eu
começo a chorar.
— Fiquemmm! — dramatizo, envolvendo meus braços em seus
pescoços. — Não me deixem!
— Puta que pariu, pare com essa merda, Mariana! Que vergonha,
senhor! — minha mãe esbraveja.
— Mãeee, apenas não vá! — imploro.
— Que maldição, Mariana! Nós não estamos indo para Nova York, é
apenas Campinas, caralho! — ela grunhe em meu ouvido e eu me lembro que
é uma pequena viagem. Isso me faz soltá-los e limpar minhas lágrimas. Onde
eu estava com a minha cabeça? Oh, eu sei... Recomponho-me e dou o mais
largo dos sorrisos.
— Tudo bem, boa viagem — digo e meu pai é o único a ter
compaixão de me abraçar. Minha mãe mostra o dedo do meio e sai andando
elegante. Filha da puta! Afrontosa!
— Comporte-se, filha — ele fala, dando um beijo em minha testa.
— Eu sou ajuizada, vocês sabem — informo e ele sorri.
— Ah, com toda certeza, filha. — Pisca um olho e vai atrás da minha
amável mãe, tão meiga quanto um coice de mula.
De mãos dadas com meu saco de doces, caminho de volta para o carro
e coloco uma música animada. Passam das sete horas da noite quando
estaciono no condomínio, ao lado do carro de Arthur e sua moto imponente.
Só de pensar nele pilotando me dá um tesão desenfreado. Nunca vou
esquecer a imagem... Nunca. Não sei como eu não bati o carro aquele dia.
Confiro meu visual no espelho do elevador. Dou uma levantada nos
seios e uma leve abaixada no decote. Tiro minha calcinha, que estava atolada
no meu foreves, e solto um suspiro, aliviada. Estou indo tentar conseguir uma
foda, e pode ser que eu tenha dado uma boa visão para o porteiro através da
câmera do elevador, sem querer.
Quando enfim chego ao meu andar de destino, vou diretamente para o
apartamento do meu amado chefinho quente. De hoje o boquete não passa!
Coloco a chave na fechadura com um misto de ansiedade e adrenalina
correndo em minhas veias. É incrível que ele consiga fazer com que eu me
sinta dessa maneira insana e incontrolável. Nunca me senti tão viva e
empolgada. A chave não gira, indicando que a porta está destrancada, então
giro a maçaneta e estou dentro da minha “casa-fora-de-casa”.
Acontece que assim que entro, não é ele quem eu vejo, e sim Laís. A
visão embrulha meu estômago e um arrepio frio percorre todo meu corpo
quando nossos olhos se encontram.
— Você? O que você está fazendo no apartamento do meu marido?
Como você tem a chave? — Ela se levanta da banqueta atrás do balcão da
cozinha e caminha em minha direção.
— Eu não estou no apartamento do seu marido, estou no apartamento
do seu ex-marido, que é atualmente meu namorado. O que você está fazendo
aqui? — pergunto e ela dá uma gargalhada. Onde Arthur está?
— Seu namorado? Arthur é meu marido e eu estou aqui justamente
por isso. Nós estamos reatando nosso casamento — ela diz e eu sinto meu
coração parar de bater.
— Não... — É a única coisa que eu consigo dizer enquanto ela se
aproxima ainda mais de mim. Sinto meu coração sendo estraçalhado
minuciosamente. Reatando o casamento? O quão horrível isso é?
— O que é, pequena secretária vadia?! Deixe-me adivinhar, ele fez
juras de amor e prometeu um relacionamento? Ele fez você se apaixonar
perdidamente? É assim que os homens agem quando querem foder
menininhas mais novas. Eles iludem até conseguirem. Você acha mesmo que
ele ia abandonar um casamento de quatro anos, um relacionamento de seis,
por causa de uma jovem secretária sem classe? Você é uma vadia patética —
ela diz e, sem conseguir medir minhas forças, estapeio seu lindo rosto de
porcelana, deixando-o vermelho-sangue.
— A única vadia patética aqui é você! Eu tenho muito mais classe do
que você jamais conseguirá ter. Você acha que o fato de ser rica significa
classe? — Rio. — Você é rica de dinheiro e pobre em caráter, além de ser
frígida e extremamente mal-amada e mal-comida! Eu tenho dó de você, Laís.
Inclusive, agora estou com pena do quão baixo você está descendo. Eu
duvido que, em seis anos, você conseguiu fazer com Arthur o que eu fiz em
apenas uma semana — informo, sorrindo entre lágrimas. Ela parece o
verdadeiro diabo, cheia de ódio.
— Saia! — ela grita. — Me entregue a chave e saia da casa do meu
marido! — É nesse momento que Arthur irrompe pela sala, usando apenas
uma toalha enrolada em sua cintura e seu corpo completamente molhado. Por
que ele está dessa maneira e Laís está aqui?
O encaro fixamente e o vejo ficar completamente sem cor. Essa é a
confirmação que eu precisava. Tudo que eu consigo ver é culpa e traição.
— Você não me disse que estava com essa piranha, amor — Laís
grita e eu perco o resto de controle.
— Piranha é a puta que te pariu, cadela! — digo, a empurrando, e
contemplo o momento exato em que sua bunda alcança o chão. Não consigo
conter as lágrimas quando encaro pela última vez os olhos azuis de Arthur.
Porra! Sinto-me devastada como nunca. É a pior de todas as dores que eu já
senti. Arthur entrou rápido demais em meu sistema, eu me apaixonei, eu o
amo. Deus, ele conseguiu tudo de mim em tempo recorde! — Eu não sabia
que sua esposa estava de volta, amor!
— Mari...
— Foda-se, Arthur! Você é o pior homem que eu conheci em toda
minha existência! — grito e deixo seu apartamento.
— Mari, não é nada disso, amor! — Ele corre atrás de mim e me
segura pelo braço.
— Me solte e nunca mais toque em mim! Você acabou de cravar uma
espada em meu coração, Arthur. Eu era quebrada e você apenas contribuiu
para o resto da minha destruição. Você conseguiu. Você me destruiu, Arthur
Albuquerque! Você me destruiu. — Me desvencilho de seu aperto e desço
pelas escadarias de segurança do prédio, completamente cega e desesperada.
Escuto alguns gritos ecoando, mas não quero dar atenção a nada.
Desço os sete andares de escadarias, que me levam até o subsolo, e entro no
meu carro. O ligo e limpo minhas lágrimas antes de dar partida.
Dirijo sem rumo, e quando percebo estou diante da igreja da
Pampulha. Talvez seja exatamente isso o que eu preciso...
Estaciono o carro e caminho até ela. Eu nunca fui uma pessoa
religiosa. Tenho minha fé e minhas crenças, acredito que minha religião é
Deus, mas não sou tapada o bastante. Assim que entro, sei que a imagem
diante de mim é de São Francisco.
A igreja está completamente vazia, sei que deve ter alguém cuidando,
mas no momento somos apenas eu e São Francisco.
O encaro sem ter a menor ideia do que fazer ou como fazer. Então
deixo as lágrimas novamente transbordarem e me ajoelho diante do altar,
abaixando minha cabeça. Eu quero apenas ficar aqui e chorar. Sei que São
Francisco vai entender minha dor.
Não sei quanto tempo fico aqui, mas sei que há alguém ao meu lado
agora. Eu levanto minha cabeça e encontro um senhor de meia-idade, com o
semblante preocupado.
— Senhorita, está tudo bem? Eu a chamei dezenas de vezes. A igreja
já está sendo fechada — ele diz.
— Eu... É, desculpe. Já estou indo. — Me levanto e saio rapidamente
dali, cambaleando em meus pés.
— Senhorita? — ele chama e eu paro para lhe dar atenção.
— Sim?
— A igreja abre novamente amanhã, às sete da manhã — informa e
eu balanço a cabeça em agradecimento.
Não sei para onde ir ou o que fazer, a única certeza que tenho é que
minha casa é o único lugar ao qual não voltarei hoje.

— O que diabos você fez? Como você entrou aqui?! — grito,


segurando Laís pelos braços. Por Deus, eu nunca encostaria um dedo para
machucar qualquer mulher nessa vida, mas eu mataria Laís nesse momento.
— Quanto tempo você esteve comendo aquela assistente de quinta
categoria enquanto estávamos casados? — ela grita, me empurrando, e a
deixo. A deixo porque não estou confiando em mim mesmo.
— Eu nunca a traí, Laís, você sabe disso, porra! Nós estamos
separados e eu não estou comendo minha assistente de quinta categoria.
Mariana é minha namorada, entende? MINHA NAMORADA! — grito alto o
suficiente para que ela possa ouvir e não restar dúvidas.
— Nós ainda não estamos separados, é sobre isso que eu vim falar. Eu
não estou assinando mais quaisquer papéis, principalmente agora! — ela
debocha.
— Enfia todos os papéis no seu cu, Laís! Foda-se você e os malditos
papéis! Saia da minha casa, saia da minha vida! Eu deixarei ordens expressas
proibindo sua aproximação até mesmo da portaria!
— Tente a sorte, Arthur — ameaça.
— Eu quem digo isso. Tente a sorte, Laís, apenas tente. Aproxime-se
de mim ou de Mariana e sofrerá as consequências.
— Oh, você é tão patético, Arthur. Sempre foi um tolo, calado,
quieto. Resolveu mostrar suas garras? Você não coloca medo nem em uma
criança — diz e eu a pego pelo braço, levando-a até a porta.
— Saia, antes que eu chame os seguranças do condomínio.
— Eu vou infernizar sua vida, Arthur Albuquerque, vou destruir você,
pode apostar — fala, caminhando até o elevador.
Maldita! Que merda ela fez?
Visto uma roupa o mais rápido que consigo e vou atrás de encontrar
minha mulher. Meu maior medo é que algo pior tenha acontecido. Mari
parecia transtornada quando saiu.
Paro na portaria e tento não matar o senhor Jair.
— Quem autorizou aquela mulher a subir? — pergunto, socando o
balcão.
— Ela disse que era sua esposa, senhor Arthur. Ela mostrou até
mesmo a certidão de casamento. Disse que vocês reataram e queria fazer uma
surpresa. — Desgraçada doente!
— Senhor Jair, nunca mais permita a entrada de alguém sem a minha
permissão, por favor.
— Ela causou problemas?
— Ela fodeu minha vida — digo e ele me encara, assustado. — Por
acaso o senhor viu a Mariana? — pergunto.
— Não — ele responde pesaroso.
— Tudo bem.
Desço até a garagem, monto em minha moto, coloco o capacete e
acelero sem saber para onde ir.

Rodo por toda a cidade e a cada minuto sinto meu peito se comprimir
mais. Eu nunca senti essa merda, mas, desde que ela surgiu, tenho sentido um
monte de coisas inexplicáveis.
Paro a moto pela vigésima vez e ligo para Mariana. Ela rejeita a
ligação mais uma vez.
Mando mais uma mensagem de texto e não obtenho resposta. Essa
mulher vai me enlouquecer, eu tenho certeza. Já passam das onze e estou
completamente perdido. Olho para trás e encontro a igreja da Pampulha.
Porra, eu já passei aqui pelo menos seis vezes só essa noite, deve ser algum
sinal. Sem que eu possa raciocinar, me pego caminhando até ela.
Nunca fui um homem religioso, mas eu acredito em Deus, eu acredito
que há uma força superior a todos nós. Paro diante da porta fechada e observo
através dos vidros a enorme pintura de São Francisco. Eu sei quem é apenas
por estar escrito em uma placa no gramado ao lado “Igreja São Francisco de
Assis.”
Quando dou por mim, estou de joelhos ao chão, fazendo algo que eu
nunca fiz antes: um pedido, suplicando às forças ocultas.
“Eu estou envergonhado, sei que não sou merecedor de suas bênçãos
e que estou aqui no desespero. Sei que nunca vim até aqui antes e não vou à
missa desde que era um moleque, mas, por favor, eu estou aqui agora
pedindo, me ajude a encontrá-la, São Francisco, não me deixe perdê-la. Estou
sendo feliz pela primeira vez na vida, Mari é tudo que eu sempre quis e eu a
tenho agora. Imploro, a proteja onde quer que ela esteja, não deixe que ela
faça qualquer besteira e me ajude a encontrá-la. Eu sei que estou pedindo
muito e sei que não conheço sua história, mas se o Senhor já amou uma
mulher como eu a amo, o Senhor sabe o que estou sentindo.”
Limpo minhas lágrimas, faço o sinal da cruz e me levanto. Olho para
a imagem através dos vidros mais uma vez e caminho de volta para a moto
sem olhar para trás.
Não ando mais de 2 km até que avisto o carro dela parado na porta de
uma boate. Instantaneamente, meu corpo se arrepia por completo e sinto meu
coração disparar. Estaciono minha moto e olho para o céu, soltando um
suspiro de alívio.
Porra, São Francisco, te devo uma! Eu vou me casar com essa mulher
nessa igreja!
Foi a partir da quinta dose de tequila que senti minha mente sair um
pouco de órbita, não o suficiente para ficar bêbada, mas o suficiente para dar
uma relaxada.
Eu não tenho ideia do motivo pelo qual aceitei entrar nessa boate, mas
Duda afirmou que tudo que eu precisava era de uma noite de garotas com
muita cachaça na mente. Onde diabos eu estava com a cabeça quando resolvi
dar ouvidos a uma pessoa alcoolizada?
Ela, na quinta dose, já está louca como o Batman. Antes de vir para
cá, já estava alta o suficiente devido a um happy hour após o trabalho. Eu
chorei em seus ombros e tudo que ela fez foi rir, como uma hiena insensível.
Essa boate é de quinta categoria, não que eu seja metida e mimizenta,
mas é. Se existe algo que sou, é realista, graças a Deus. Ô lugar xexelento do
caralho! Há tequileiros espalhados por todos os cantos, pessoas dançando
sobre os balcões e um DJ “arregaçando” no funk proibidão. Não aguento
mais escutar as palavras “piroca” e “boceta”. O que leva um ser humano a
criar uma música cuja letra contém as seguintes frases: “se eu não me
controlar é rapidinho já tô gozando” e “ela senta, ela quica, não pode parar,
vou gozar, vou gozar, vou gozar”. Santo Deus, eu amo funk, mas tudo tem
limite. Isso é quase um conto erótico. Meu ouvido não é penico para aguentar
esse tanto de merda.
Eu queria ficar bêbada a ponto de permitir que um cachorro de rua
lambesse minha boca, mas não sou mais a mesma. Nesse exato momento
estou detestando não ser a velha Mariana, ela era muito mais inconsequente e
divertida. Há uma boa concentração de homens gostosos nesse ambiente.
Todos eles musculosos, do tipo que parecem se entupir de bombas e,
provavelmente, são brochas. Felizmente, nunca peguei bombados com paus
pequenos e brochas, mas, de alguma forma, todos esses que estão aqui
aparentam ser exatamente assim.
Enquanto estou só um pouco anuviada pelo álcool, fico observando
como eles tratam as mulheres que estão nesse ambiente como perfeitas
cadelas. Entendo que algumas realmente são cachorronas, estão loucas atrás
de uma piroca e de obter bebidas grátis, mas chega a dar nojo do sexo
masculino, e um pouco de vergonha do sexo feminino também. Há alguns
homens que não querem saber, apenas levam suas mãos imundas na bunda de
qualquer fêmea que passa. Pior é vê-las sorrindo, felizes com isso, se achando
as bocetudas. O quão desvalorizadas elas são?! Meu nível de loucura não
permite essa putaria. Quando quero ser puta é apenas entre quatro paredes,
sou seletiva e escolho bem meus parceiros. Eu daria um chute no saco do
primeiro que ousasse tocar em mim sem minha permissão.
Tento dançar e enlouquecer, mas sinto-me destruída por dentro. Sinto
que minha vida nunca mais será como antes. Arthur fez um estrago grande
dentro de mim e não sei se pode ser consertado. Estou apenas cansada de
tomar no cu. Vitor me apunhalou pelas costas, e agora Arthur, o homem em
quem eu confiei com todas as forças. Eu me agarrei a ele com tanta esperança
e me entreguei, confiando que ele poderia ser meu próprio super-herói.
Talvez relacionamentos não sejam para mim. Talvez eu deva mudar de
emprego, me tornar uma profissional renomada e, quando eu tiver meus trinta
e cinco anos, posso tentar adotar uma criança. Nada de filhos com estranhos!
Estou alucinando, é isso. Só consigo ver um futuro solitário, nada além disso.
Eu gostaria de ser puta para Arthur. Maldito inferno! Eu odeio!
— Vem! — Duda me puxa pelo braço e me carrega até um enorme
balcão, onde estão concentrados alguns tequileiros bons de serem olhados.
Não tenho tempo de me opor, quando dou por mim já tem um me
sentando em uma banqueta e se acomodando atrás de mim.
Ele me entrega uma dose e eu a viro. Em seguida ele puxa minha
cabeça para trás e sacoleja. Fecho meus olhos e quando os abro vejo o mundo
girar. Parece que estou numa roda-gigante que está girando a 200 km por
hora. Isso me faz rir.
— Mais uma, em nome de Jesus! — peço, rindo, e o gostosinho me
entrega outra dose.
— Você é a mais gata desse lugar — diz em meu ouvido.
— Thank you — falo e viro. — Mais uma. — Ele me entrega outra e
eu viro mais uma vez, sentindo o líquido descer queimando pelo meu corpo.
Devolvo os copinhos e, novamente, puxa minha cabeça para trás e faz o
sacolejo maluco.
Sinto que estou morrendo e que irei cair a qualquer momento de cima
da banqueta. Abro meus olhos e vejo Arthur no lugar do tequileiro. Eu
começo a rir de nervoso. Esse diabo não vai sair da minha mente, sei disso.
Sinto-me tão fodida, que quero chorar.
— Mais uma! Em nome de Josué. — O puxo pela camisa e logo sou
arrancada da banqueta como um saco de batatas.
— Que merda! — grito e recebo um tapa na bunda, que quase me faz
chorar como uma criancinha desamparada. — Diabo, seja quem for, me
coloque no chão! Eu vou chutar suas bolas — ameaço, movimentando
minhas pernas, vendo o mundo de cabeça para baixo e uma bunda admirável.
De repente, um ventinho sopra em minha bunda e eu escorrego em
uma parede de músculos. Ergo minha cabeça e encontro os olhos azuis e
tempestuosos de Arthur. Ele parece bravo. Deus, ele fica lindo bravo.
— Babaca! — grito e ele me puxa de novo, dando outro tapa em
minha bunda. — Filho da puta! Eu odeio você. EU ODEIO VOCÊ!
Ele me segura pelos cabelos e me coloca deitada no capô do carro. Eu
prefiro beijar o capô a olhar para ele. Preferia ainda mais que ele me fodesse
aqui e, então, quando eu gozasse, sairia correndo.
Sua mão desce em minha coxa e eu luto para não gemer. Meu corpo é
traidor, o odeio agora, estou odiando tudo sobre hoje! Inferno astral do
caralho!
— Diga mais uma vez que me odeia — ele pede e eu faço, mesmo
não sendo obrigada a nada, apenas para torturá-lo.
— Eu odeio você. Eu odeio muito você — digo e ele bate novamente
em minha bunda. Engulo em seco, sentindo lágrimas queimarem em meus
olhos. Lágrimas de raiva, de uma dor tão profunda que jamais imaginei
sentir, e lágrimas de tesão. Esse homem sendo rude é o céu.
— Continue dizendo e eu não irei parar — ameaça com sua voz
rouca.
— Foda-se, Arthur, você não tem esse direito! Isso só faz aumentar
meu ódio! — grito e levo outro tapa. — Eu odeio você! — repito, chorando,
e ele me dá outra palmada. Acontece que eu estou chorando pelo fato de estar
sentindo tesão de uma maneira doentia. Estou chorando porque ele está aqui e
tudo que faço é desejá-lo com todas as forças.
— Eu amo você, Mariana — declara, me dando outro tapa.
— Eu odeio você, Arthur.
— Você me ama. — Ele me puxa, agora com de delicadeza, e me vira
de frente para ele. Dói olhar para ele. Dói ver que seus olhos estão brilhando
em lágrimas.
— Eu não amo você. Você me quebrou, Arthur.
— Não. Eu não quebrei você, Mari. Eu não fiz nada para ferir você,
acredite em mim — pede, me puxando em seus braços. — Diz que acredita
em mim, amor?
— Eu... Você reatou... — Choro e ele me abraça mais forte.
— Eu não fiz, Mari, nunca faria. Só soube como Laís entrou no meu
apartamento quando estava vindo atrás de você. — Seu aperto sobre mim é
tanto, que consigo sentir seu coração bater descompassadamente.
— Você não está com ela? — pergunto, me afastando para olhar em
seus olhos.
— Estou destruído por você cogitar isso, Mari. Você me tem muito
baixo. Eu não sou um moleque, Mariana. Porra, eu sou um homem e abri
tudo de mim para você! Não enxerga isso? Estou aqui, de braços abertos,
dando tudo de mim a você, Mariana, tudo — ele diz, demonstrando
desespero, e eu o beijo enlouquecidamente.
O agarro forte, enfiando minhas mãos por dentro de sua camisa, e me
sento no capô, o puxando para mim. Ele geme, segurando firme em minha
bunda, e eu me esfrego em sua ereção, desesperada. Usando uma mão, puxo
seus cabelos e guio sua cabeça para meu pescoço.
Só quando um carro buzina, lembro onde estamos e nos afastamos. Eu
gozaria em alguns segundos...
— Eu ainda odeio você por não fechar a maldita porta do seu
apartamento com chave! — esbravejo, cheirando seu pescoço.
— Eu vou bater em sua bunda se falar a palavra ódio mais uma vez.
Quão bêbada você está? — pergunta.
— Eu não estou bêbada. Estou levemente zoada. Consigo fazer um
quatro e sei bem tudo que está acontecendo ao meu redor. Como me
encontrou?
— Foi um milagre, Mari. Você acredita em milagre? — pergunta e eu
seguro um sorriso.
— Eu ia te fazer essa pergunta hoje mais cedo, quando entrei em seu
apartamento.
— Por quê?
— Eu ia perguntar se você acreditava em milagre porque eu estou
curada. Os deuses do amor me curaram — respondo e ele se afasta, me
analisando.
— Curada de quê?
— Você vai descobrir. Não sei você, mas eu estou indo para minha
casa — informo, escorregando até meus pés tocarem o chão.
— Nós não estamos indo para casa. Nós estamos indo conversar,
como dois adultos normais, Mariana. Pegaremos seu carro mais tarde — diz,
me pegando pela mão e caminhando até sua moto.
— Você veio de moto — afirmo, feliz da vida.
— Sim.
— Posso pegar em seu pau enquanto pilota? — peço com o olhar do
Gato de Botas, e ele me encara sério.
— Não faça isso ou morreremos cedo demais. — Ele coloca o
capacete e pega um reserva dentro de um compartimento ultra power secreto.
Acomoda-se na moto e me ajuda a subir. O abraço tão forte quanto consigo e
logo o motor está ganhando vida.
Nós saímos rumo ao desconhecido e nossa primeira parada é no
McDonald’s, onde ele pede quatro McLanches Felizes e dispensa os
refrigerantes, pedindo uma Coca de dois litros.
Enquanto aguardamos na fila, me sinto em paz agarrada a ele, que
tem uma mão sobre as minhas.
A atendente entrega nossos lanches e Arthur coloca as sacolas no
guidão, mesmo eu insistindo em carregá-las.
Pilotando mais vagarosamente, ele nos leva a uma estradinha e sobe
uma pequena rampa. Eu leio em letras garrafais “Mirante das Mangabeiras” e
sorrio. Eu nunca estive aqui.
Arthur buzina e um segurança aparece. Quando Arthur tira o
capacete, noto um sorriso de reconhecimento.
— Arthur, quanto tempo, camarada!
— Você me deixaria levar essa linda senhorita para um passeio? —
pergunta, dando um aperto de mão no segurança.
— Claro. Fique à vontade. Às seis da manhã é minha troca de turno,
então preciso que até as cinco vocês desçam — alerta.
— Tranquilo, amigão. Muito obrigado, te devo essa!
O segurança libera nosso acesso e subimos outra rampa.
Quando estaciona, ele me ajuda a descer da moto e eu retiro o
capacete, completamente embasbacada com a vista desse local. Dá para ver a
cidade toda, milhares de luzes acesas e um céu extremamente estrelado numa
noite de lua cheia.
— É lindo, Arthur!
— Não pense que eu estou sendo romântico. Você não está
merecendo — avisa. Eu seguro um sorriso.
Ele pega uma jaqueta no compartimento ultra power secreto de sua
moto e eu me pergunto o que mais cabe ali dentro.
Nós deixamos nossos capacetes no chão e, após pegar as sacolas de
lanche, ele entrelaça nossos dedos e caminhamos até uma árvore. Estende a
jaqueta no chão e nos acomodamos. Por Deus, esse lugar é incrível!
— Lindo demais!
— Eu sei. Você também é linda, é uma pena que seja tão louca — diz
enquanto arruma nossos lanches. Aproveito e roubo uma batata, porque estou
faminta.
Assim que coloco o sanduíche em minha boca, suspiro. Esse Ronald é
fodão mesmo, esse McLanche é incrível de tantas maneiras, que nem sei
explicar.
— Você me fez viciar nessa merda, Mariana. Não sei se te amo ou
odeio nesse momento.
— Me ame, estou apenas te ensinando algumas coisas boas da vida,
Tutu — digo e ele sorri.
— Tutu, isso é apelido de homem brocha — resmunga.
— Você não é brocha.
— Não sou — diz, me dando um friozinho na barriga.
Estou doente.
Nós terminamos de comer silenciosamente, cada um perdido em seus
pensamentos, e ele é o primeiro a falar:
— Nós precisamos conversar, mocinha.
— Você fez uma merda hoje, Arthur, então não venha julgar meu
comportamento. Eu ainda estou fodida — aviso de uma vez.
— Você deveria ter me ouvido, deveria ter ficado. Teria evitado esse
monte de merda, Mariana. Mas você preferiu agir como uma louca
desacreditada. Estou muito mais ferido que você. Nós precisamos estabelecer
parâmetros, e o primeiro deles é você entender que eu não sou um moleque.
— Toma na cara, Mariana demônia!
— Eu também não sou uma criança.
— Você agiu dessa maneira hoje — rebate.
— É só isso, Arthur? — dramatizo, porque sou dessas.
— Nós estamos conversando, Mariana, eu não quero que seja mulher
só na cama, quero que seja uma mulher em tudo, em todos os sentidos. — Ele
me olha tão profundamente, que sinto vontade de correr pelas colinas. É
desconcertante. Nunca tive um relacionamento adulto, maduro. É isso que
Arthur está oferecendo, e eu preciso me adequar.
Me calo diante desse esculacho. Tomar no meu rabo! O que eu ia
fazer? A mulher simplesmente estava lá, se comportando como se tivesse em
sua própria casa e dizendo que eles haviam reatado. Obviamente me senti
uma intrometida naquele ambiente.
Foda-se! Parece que o jogo inverteu, não é mesmo, Mariana?, meu
subconsciente grita e eu quase o assassino.
Me embebedo em sua imagem, enquanto ele olha o horizonte, tão
absorto em seus pensamentos.
Volto meu olhar para as luzes distantes abaixo de nós e a realidade cai
sobre mim. Eu errei. Eu fugi. Eu o deixei quando ele chamou pelo meu nome
tantas vezes. Sou um ser humano, passível de erros e totalmente imperfeita.
Não busco a perfeição nas pessoas e nem espero que busquem isso em mim.
Estou apenas no início de um relacionamento inesperado, aprendendo a lidar
com as situações que eu mesma havia removido da minha vida.
Relacionamentos não estavam em minha mente até ele surgir. Eu quero
Arthur, não há dúvidas, apenas não sei como lidar com os problemas que
surgirão. Vou errar outras dezenas de vezes até aprender. Essa é a lei da vida.
Só há uma coisa certa: entre erros e acertos, descobriremos quem
somos.
Será que eu sou mesmo um tolo como Laís falou? Mari acreditou
nela. E eu, o que eu fiz?
Desesperado, rodei horas em busca dela, mesmo sabendo que estava
totalmente errada e pensou o pior de mim. Eu deveria bater nessa bunda mais
vezes...
Não sou tolo, não quando fiz isso pela mulher por quem estou
apaixonado. Não posso ser tolo, posso? Foda-se! Eu precisava tê-la de volta,
e aqui está ela, ao meu lado. Será que eu significo para ela o mesmo que ela
significa para mim? Porra, ela significa tudo, inclusive minha insanidade, e
agora está muda, olhando para o além.
Levanto-me e junto todo o lixo em uma sacola, em seguida o jogo
numa enorme lixeira próxima a nós. De alguma forma, o clima entre nós dois
está um pouco frio, não sabia que isso era possível. Ainda há muito que
conversar, mas certamente não será essa noite.
— Vamos para casa, mocinha — digo, oferecendo minha mão para
puxá-la e, quando ela está de pé, a envolvo em meus braços e beijo sua testa.
Há em mim uma necessidade de protegê-la de tudo e todos.
— Nós estamos bem? — pergunta, demonstrando-se vulnerável,
fazendo meu peito se comprimir, mais uma vez, essa noite.
— Nós estamos. Não estamos? — questiono de volta e ela sorri.
— Eu acho que sim — responde.
— Será que em todos os problemas que tivermos você vai fugir para
alguma boate maluca?
— Eu não sei. Não quero ter muitos problemas. É desgastante. Eu te
amo, Arthur, fiquei com tanto medo de ter perdido você. Não quero sentir o
que eu senti hoje nunca mais. Perdoe-me por ter agido dessa maneira, mas
você não sabe o que senti, não sabe as coisas que ela me falou. Ela parecia
tão certa, tão firme. Me senti uma intrusa quando a vi lá, tão cheia de si.
— Eu não vou te machucar, Mari, você precisa acreditar em mim —
digo quase em uma súplica.
— Da próxima vez eu darei uma voadora nela, Arthur, estou falando
sério.
— Não haverá próxima vez, se Deus quiser não haverá — tranquilizo
ela e a mim mesmo. Eu espero que não haja mesmo, fodida Laís.
— Me leve para casa — pede docilmente.
— Para a minha ou para a sua? — brinca.
— A minha é mais perto — respondo.
— Temos que pegar seu carro, mocinha.
— Ah, ele não pode ficar lá? Eu apenas não quero ficar sozinha —
choraminga. Consigo ver a grandeza da carência e vulnerabilidade que ela
está. Eu vou morrer ao lado dela e não terei a conhecido por completo.
— Pode ser perigoso. Você pode chegar lá amanhã e não o encontrar.
— Não importa. Tendo uma carona do meu chefe para o trabalho,
ficarei bem. — A beijo e em seguida pego meu casaco ao chão.
— Bom, há uma blusa da minha irmã dentro da moto, acho que você
pode querer usar.
— Sua irmã? — questiona, me encarando friamente.
Quase não é ciumenta!
— Se eu estou dizendo que é da minha irmã, você precisa acreditar.
Ela é a única mulher, além de você, que já andou na minha moto — informo
e ela dá um sorriso sem graça.
— Laís nunca andou com você?
— Foda-se a Laís, Mari! Ela nunca andou nem no meu carro! Não
vamos mais tocar no nome dessa mulher, ela atrai coisas ruins para nossas
vidas — digo e ela balança a cabeça em concordância.
A ajudo a subir na moto e subo logo em seguida. Ter seus braços em
volta de mim, confiando em mim, é uma sensação indescritível. Não vou
lento dessa vez, vou um pouco mais rápido, e a ouço gargalhar atrás de mim,
impulsionando mais meus instintos selvagens. Em determinado momento, ela
me solta e abre os braços, gritando “uhul” como uma garota travessa,
aumentando ainda mais a certeza de que eu faria qualquer coisa apenas para
vê-la sorrir dessa maneira.
Ao menos o clima de tensão foi substituído pela adrenalina e pela
alegria. Isso é tudo que eu posso querer.
Quando estaciono a moto no condomínio, sinto-me desesperado para
tê-la. Meu pau pulsa dentro de minhas calças, pareço como um maníaco
sexual completo, tudo por ela, tudo para ela. Não há ninguém no mundo que
tenha conseguido despertar tais sensações esmagadoras dentro de mim como
Mariana.
Ela desce da moto e retira o capacete, dando um sorriso que bate
diretamente em meu coração. Maldito seja esse jejum de sexo obrigatório! Eu
vou morrer se não tiver dentro dela nas próximas 24 horas. Isso afeta meu
humor, pra caralho!
— O que foi? Parece tenso, Tutu — diz, me puxando pela camisa
enquanto passo as mãos em meu rosto, completamente consternado.
— Não foi nada. Vamos subir. — Pego o capacete da mão dela e
coloco sobre o guidão, em seguida estou a arrastando para a merda do
elevador. Incrível é que ela está com um sorriso grandioso e eu estou um
maldito mal-humorado agora.
Mariana é exatamente como a encarnação de uma fantasia erótica, não
tem como ter controle sobre isso. É um efeito devastador e extremamente
intenso. Nós dois dentro desse elevador é quase claustrofóbico.
Mari se remexe feito uma minhoca e eu fico imóvel, tentando
demonstrar controle e impassibilidade.
Nós chegamos ao nosso andar e ela demora alguns minutos com a
chave na fechadura. Seguro um gemido de frustração e tomo a chave de sua
pequena mão.
— Eu abro — digo, abrindo, e ela entra, enquanto eu fico parado na
porta, decidindo entre ir para o meu próprio apartamento, só para manter a
distância e o controle, ou entrar e ficar com as bolas azuis e roxas.
— Ui, ele está nervoso! — ela debocha e eu não rio. Sou um homem
que está sofrendo profundamente. — Você está com distúrbio de
bipolaridade, Tutu? Conta pra sua Mari e eu vou te fazer um carinho. Sabia
que eu já estou curada? — provoca, me puxando pela camisa e fechando a
porta atrás de mim.
— O que está curado, Mari? — pergunto e ela diz em meu ouvido:
— Minha boceta está curada e implorando pelo seu pau.
— Só tem três dias, Mari — digo quase chorando, e não é um
exagero.
— Eu quero você dentro de mim, pode ser bem devagar, embora eu
prefira forte e duro. Não posso aguentar mais tempo. — Ela lambe meu
pescoço e abre os botões da minha camisa. Eu perco a porra do único fio de
controle e bondade que ainda restava em mim. Apenas facilito tudo o que ela
está fazendo, pior, eu a ajudo a terminar o serviço, porque preciso disso como
preciso de oxigênio e do meu coração batendo.
— Você vai me dar o que quero, Tutu?
— Tudo, Mari. Eu vou te dar tudo, e foda-se, diga-me que você está
mesmo melhor, por favor.
— Eu estou — responde, abrindo meu cinto enquanto chuto meus
sapatos para longe. — Preciso de você tanto... — geme. A pego no colo e a
carrego até o quarto.
— Eu vou fazer isso lento, Mariana.
— Eu te amo, Arthur Albuquerque. Eu te amo — sussurra quando a
coloco de pé sobre o chão do quarto.
Termino de tirar minha roupa enquanto ela retira a sua, me olhando
descaradamente.
Nós ficamos nos encarando, olhos nos olhos, por alguns segundos,
antes de voarmos um até o outro. Parece um jogo onde dois jogadores lutam
duramente pela vitória, em nosso caso, os dois serão vitoriosos, estou certo
disso.

Não sei se ele vai conseguir ir lento, não quando ele está me beijando
dessa maneira insana. Sua mão esperta desce para minha intimidade e eu o
noto receoso.
— Toque, Arthur, não está doendo mais, por favor... — incito e ele
corre o olhar por todo meu corpo até chegar lá.
Ele observa seus próprios dedos me acariciando lentamente e solta um
gemido ao perceber o quão molhada estou.
— Eu quero você, Mari.
— Estou aqui para você, completamente nua e molhada — respondo
enquanto a ponta do seu dedo traça um círculo em meu sexo.
Ele arrisca a levar seu dedo um pouco fundo, apenas testando, e
quando os retira lambe com um misto de admiração e desejo.
— Seu gosto é o meu sabor preferido no mundo — diz com uma cara
de safado e logo está levando sua boca a um mamilo e chupando forte. É
demais para mim. É algo que não sei explicar, mas suas mãos e sua boca em
meu corpo são demais, absurdamente muito para mim. A única coisa que
impede meus olhos de fecharem pelo prazer é a vontade de vislumbrar seu
rosto tomado por tesão enquanto cuida de cada parte de mim. Arthur excitado
vai além da luxúria.
— Deus, Mari, você me deixa com tanto tesão, amor! Olha só para
você, é maravilhosamente perfeita. — Sinto uma nova onda de calor
percorrer meu corpo. Essas palavras... Ele me endeusa de todas as formas
possíveis.
— Arthur... — gemo quando ele torna a levar seus dedos em minha
entrada.
— Às vezes você fica tão louca, Mari, que parece que eu nunca vou
conseguir ter controle algum sobre você. E agora você está aqui, tão carente e
excitada, ansiando pelo meu pau, por minhas mãos em seu corpo, tão
vulnerável.
— Eu preciso de você, Arthur...
— Eu vou fazer você feliz pelo resto da vida, Mari. Acredita em
mim? — fala, levando seus dedos molhados da minha excitação até minha
boca. — Prove como você é gostosa. — Abro minha boca e chupo seus dedos
lentamente, sem quebrar nosso contato visual. — Porra... Malditamente bom,
Mari...
— Você está me destruindo, Arthur.
— Você está me destruindo, Mari. Olha como você me deixa duro.
Fico assim o tempo todo por você. — Ele leva minha mão até sua ereção e
envolvo minhas mãos em volta, bombeando lentamente. Santo Deus... Minha
mão apenas não fecha... Esse homem é um deus grego puramente sexual.
O masturbo e ele faz o mesmo em mim, aumentando a pressão dos
seus dedos. Eu me contorço e me sinto bem próxima de explodir. Ele está me
levando bem perto da loucura.
— Não goze ainda — ordena, como se essa única ordem não fosse
fazer a necessidade pulsar ainda mais forte. Deveria ser proibido falar durante
esses momentos, mas tudo que ele faz é me torturar com suas palavras. — Só
vai gozar quando eu meter todo meu pau dentro de você, entende?
— Sim, sim. O que você está esperando? Pelo amor de Deus, Arthur!
— choramingo e ele se ajeita entre minhas pernas, retirando seus dedos e
substituindo-os pela ponta de seu membro. Ansiedade rasga através de mim e
me vejo empurrando contra ele, que mantém seus olhos fixados em nossa
junção. — Anda logo, Arthur...
— Você precisa me deixar entrar, amor. Relaxe para mim. Não quero
machucá-la. Apenas relaxe. Deixe a tensão de ter meu pau dentro se esvair.
Relaxa pra mim, amor.
— Oh, Deus, o Senhor me mandou esse homem diretamente das
profundezas para torturar minha vida!
Ele força mais e eu me forço a relaxar. É quase impossível. Sinto-me
mais virgem do que nunca quando ele entra por completo e joga sua cabeça
para trás, uivando ferozmente. Há uma dor, mas eu não direi isso, pois a
partir do momento em que as palavras saírem da minha boca, eu sei que
nossa brincadeira estará arruinada.
— Você é gostosa demais, Mariana. Você é tão apertada, porra. —
Ele movimenta lentamente e eu estou insana o bastante para querer que ele
me foda duro.
— Por favor, mais rápido.
— Negativo — repreende. — Pense em quão bom é ter meu pau em
você, Mari.
— Sim...
— Você vai querer ele amanhã? — pergunta em um gemido.
— Sim...
— Então nós estamos indo devagar agora, bem lento, bem gostoso. É
assim que eu quero que seja hoje.
— Sim... Eu... Está desesperador.
— Shiiu! Vamos resolver isso, tudo bem? — Estou perdendo a porra
da minha mente... Sinto isso!
Ele chupa seu polegar e o desce até minha intimidade. Começa uma
tortura agoniante, massageando meu clitóris com precisão, e outra nova onda
de calor me toma, dessa vez muito mais intensa. Sinto meu corpo se tornar
febril e ele aumenta mais o ritmo de sua massagem.
Eu explodo de prazer, gozando em torno dele. Todo meu corpo treme
e sinto minha carne se contrair cada vez mais. Ele não goza, apenas me
observa, tornando o meu show ainda mais íntimo. É impossível não me sentir
vulnerável diante dele, todo glorioso, acompanhando minha entrega. Seus
olhos brilham, enquanto ele permanece paralisado, apenas acompanhando
meu prazer e esperando meu corpo se acalmar. Essa é uma daquelas cenas
que sei que nunca irei esquecer, e antes que eu possa controlar, estou
chorando, com todos os meus sentimentos completamente aflorados.
Ele me pega em seus braços no mesmo instante e me coloca sentada
em seu colo, sobre seu delicioso pau. O sinto pulsar dentro de mim, tão forte
quanto sinto seu coração bater.
— Por que está chorando, amor?
— Eu nunca senti isso antes... — respondo.
— Você é tão linda, mocinha, sou tão louco por você. Quero que me
beije — pede e eu inclino minha cabeça para ele.
Suas mãos seguram minha bunda firmemente enquanto enfio meus
dedos entre seus cabelos e levo minha boca até a dele.
O beijo apaixonadamente e me movo lentamente com sua ajuda.
Passo a língua pelos seus lábios e ele geme selvagemente. O monto um pouco
mais rápido e quando estou prestes a ir mais longe, ele contém meus
movimentos, acalmando pouco a pouco minha insanidade.
Afasto nossos lábios e olho para baixo, observando como seu corpo se
encaixa tão bem ao meu. Apoio minhas mãos em seus ombros e rebolo
lentamente em seu colo. Uma mão entra em meus cabelos e ele os puxa
fortemente, fazendo-me olhar em seus olhos.
— Quero que olhe em meus olhos, Mari, eu estou gozando por você.
— Goze, por favor. — O monto mais rápido e dessa vez ele não
impede. O sinto crescer mais e mais dentro de mim e, quando ele derrama sua
excitação em mim, o observo fechar os olhos e gemer alto.
Seus braços me envolvem em um abraço que é a mistura perfeita de
amor, desejo e gratidão. Sinto-me inebriada nessa mistura de sentimentos e
nessa troca que acabamos de ter.
Deito meu rosto em seu peito e ouço seu coração bater bem forte.
— Eu amo você... Eu quero ter você o tempo todo. Quero ver você
sorrindo, ouvir o som da sua gargalhada, quero dormir com você, Mari, e
acordar também. Quero conversar e discutir. Quero que você me deixe
sempre louco, só para depois eu ter o prazer de domá-la. Eu quero minha vida
com você, Mari, então esteja preparada, isso vai acontecer logo e não há
nenhuma maneira nessa vida de ser o contrário — promete e apenas fico
aqui, assim, o apertando. Não há o que dizer, ele sabe que me tem. Ele me
tem como ninguém.
Acordo com beijos sendo distribuídos pelas minhas costas e meus
cabelos sendo levemente puxados. Dando um sorriso preguiçoso, viro-me de
frente para contemplar a visão matinal do meu lindo homem.
— Bom dia, mocinha. — Seu sorriso invade minha mente e meu
coração passa a bater mais forte. Quando eu iria imaginar que um singelo
sorriso teria um efeito tão grande e devastador em meu interior? É como ver o
sol escaldante numa manhã de verão...
— Bom dia.
— Já busquei seu carro e vim trazer seu café da manhã na cama —
diz, satisfeito.
— Você é o meu café da manhã? Por favor, diga sim! — provoco,
sorrindo.
— É tentador, mas não sou eu, amor. Nós estamos indo almoçar em
um lugar, e, tendo em vista que não podemos fazer uso abusivo da sua
pequena boceta, não vamos perder tanto tempo na cama essa manhã —
explica, sorrindo.
— Tão romântico — zombo.
— Eu sou realmente. Trouxe café da manhã na cama e ainda coloquei
uma flor de enfeite na bandeja. — Orgulho atravessa suas palavras e me
apoio nos cotovelos em busca da bandeja. Tudo que há nela é um copo de
iogurte e uma flor. Isso que ele chama de café da manhã romântico?
— Um copo de iogurte? — Arqueio a sobrancelha e ele dá uma
gargalhada.
— Não me olhe assim. Acredite, você vai querer apenas esse copo de
iogurte. Estou prestes a levá-la para um banquete e tanto, princesa.
— Onde será esse banquete, pequeno Arthur? — brinco.
— Pequeno? Bom, é surpresa. Agora beba tudinho e vá se arrumar.
— Que tipo de roupa eu devo vestir? — pergunto, tentando obter
alguma ideia de onde iremos. Ele está usando uma camisa cinza-escura, calça
jeans clara e um tênis preto. Mega casual e ao mesmo tempo sexy.
— Alguma confortável, nós estamos indo para um lugar onde há um
pouco de mato — diz, me deixando intrigada. — Não vamos sofrer antes da
hora, mocinha. Eu estou ansioso para irmos.
Me levanto, bebo o copo de iogurte e vou até o guarda-roupa escolher
algo leve e confortável, enquanto Arthur fica deitado, observando. Não tenho
um look “meio do mato” e nem botas de montaria... Mato exige bota?
No banheiro, faço minhas necessidades, escovo os dentes e tomo um
banho rápido. Quando desligo o chuveiro decido não perder a oportunidade
de provocá-lo. Enrolo-me em uma toalha e vou me vestir no quarto,
obviamente fingindo ser um ato impensado.
Abro a tolha e a deslizo suavemente pelo meu corpo, secando cada
parte. O ouço suspirar e seguro um sorriso.
De pé, me abaixo o suficiente para deslizar uma calcinha pelo meu
corpo. Visto um cropped de tricô e minha saia longa de cintura alta, que tem
um rasgo até acima das coxas. Coloco um bracelete e calço uma rasteirinha
simples. Bagunço meus cabelos e passo apenas um brilho labial. Quando me
viro para Arthur, ele parece envolvido numa viagem alucinante.
— Sabe, você deixa as coisas injustas para as outras mulheres
meramente mortais, Mari — diz, se levantando e aproximando. — Você é
naturalmente linda e sexy. Fodidamente sexy, Mariana.
— Você também, então eu acho que somos um bom casal, não
somos? — pergunto, segurando-o pela camisa.
— Eu tenho certeza de que somos além de bons, Mari — responde,
trazendo sua boca até a minha para um beijo doce e delicado.
Eu amo que, mesmo em meio a toda intensidade explosiva que há
entre nós, conseguimos ter alguns momentos doces e suaves, como esse.
— Você precisa tomar o remédio, ao menos ele, princesa. Embora eu
ache que seria interessante você usar a pomada ao menos uma vez ao dia.
Nós não estamos indo transar, então o que acha de passá-la? — pergunta,
demonstrando preocupação com a minha vagina. Na verdade, acho que ele
está pensando em seu próprio interesse.
— Tudo bem. Você tem certeza de que não vai rolar um sexo quente e
suado no meio do mato? — pergunto apenas para testá-lo, e ele sorri.
— Estou quase certo disso.
— Tudo bem, então eu farei. — Caminho até o banheiro, trancando a
porta atrás de mim, e faço tudo que é necessário, passando menos pomada
que de costume. Estou certa de que vou tentar sexo no meio do mato, já posso
sentir a grama me pinicando... Eu sou louca!
Dez minutos depois estamos em seu carro, saindo do condomínio.
— Coloque o cinto — ordena.
— Sério?
— Absolutamente, Mariana. Vai dizer que dirige sem cinto?
— Às vezes — respondo, sendo sincera, e ele faz uma carinha de
bravo.
Pego um pen drive da minha bolsa e ligo no som do carro. Passo por
várias músicas antes de escolher uma que eu realmente goste e não seja funk.
Coldplay vence e uma versão acústica de The Scientist começa a soar pelos
alto-falantes. Irresistível que só, começo a cantarolar a música para Arthur.
Mariana não é só funk, Mariana também ama músicas excelentes, talvez eu
ainda tenha um lugar no céu.
— Coldplay, hein? — Arthur diz, sorrindo, quando paramos em um
sinal.
— Você gosta?
— Eu realmente gostava, mas agora eu descobri que amo ouvir você
cantando em inglês — responde, pegando minha mão para beijá-la.
Parecemos tão certo, nós dois.
Noto ele pegar a saída de Belo Horizonte, sentido Contagem, e
começo a temer. Ele não está me levando na casa dos pais dele, está?
— Arthur, diga que não estamos indo na casa dos seus pais, em nome
de Jesus!
— Relaxa, eles estão ansiosos para conhecê-la, Mari. — Suas
palavras confirmam minha suspeita e eu sinto meu coração acelerar.
— Eu nem trouxe um mimo, olha como estou vestida! Deus, Arthur,
você deveria ter me falado!
— Você está linda e eles não precisam de um mimo, ok? Apenas
relaxe. Eles vão amar você, minha mocinha. Não existe nenhuma forma deles
não a amarem, porque eu te amo e estou feliz com você, isso é tudo. — Suas
palavras são perfeitas, mas ainda assim eu temo. Eu estou indo conhecer os
pais do meu namorado/chefe. Eu estou indo almoçar com eles. Santo Deus!
— Sua irmã vai estar lá? — pergunto, temerosa.
— Eu diria que ela já deve estar do lado de fora nos esperando. — Ele
ri e eu quase choro. — Mari, eu conheci sua mãe quando estava prestes a
estar dentro de você, foi desconcertante. Ao menos meus pais estão ansiosos
esperando você. Você ainda não sabe, mas eles já adoram você.
— Eles adoram? Como? — questiono em choque.
— Eu falei muito de você a eles, e Alice também falou. Eles estão
entusiasmados para conhecê-la.
— Não diga que sua irmã contou sobre minha bebedeira?
— Ela contou, não vou mentir — responde, sorrindo.
— Deus, Arthur, eu vou morrer aqui!
— Apenas relaxe, Mari, não é todo esse bicho de sete cabeças que
você está pensando. Meus pais são tão legais quanto os seus. Os seus são
mais loucos, obviamente. — A maneira dele me tranquilizar é excelente para
um bom terrorista.
Quando leio a placa escrita CONTAGEM, quero fugir. Não sei como
é conhecer os sogros, embora eu já tenha tido um namorado. Não rolou esse
lance de apresentações e eu não ia à casa do meu namorado. Agora é tudo
diferente. Não tenho mais dezessete anos e estou indo conhecer os pais do
meu primeiro namorado realmente maduro.
Arthur passa a dirigir usando uma só mão, enquanto a outra fica firme
em minha perna. Eu passo todo o restante do tempo memorizando o caminho
e observando a vegetação. Há centenas de pinheiros gigantes na estradinha de
terra que nos leva até a chácara. É relaxante estar em meio à natureza,
fugindo do caos da cidade grande.
Quando chegamos, Arthur aperta um botão em seu carro, que faz uma
enorme porteira de madeira se abrir, e eu fico encantada com a linda casa
diante de nós. Há dezenas de coqueiros, árvores frutíferas, piscina, um
gramado de dar inveja. Mas o que me chama mais atenção é o modelo da
casa colonial moderna. De repente, minha ansiedade é toda transferida para
conhecer o interior da casa. Parece que estou entrando em um hotel fazenda
ou uma pousadinha de luxo.
— Uau, Arthur, você não me disse que a casa dos seus pais era assim
— digo, embasbacada.
— Assim como?
— Parece uma pousada de luxo em meio às montanhas! Eu viveria
aqui! — Ele sorri com as minhas palavras.
— É ótimo aqui, não é? Longe do caos da grande BH.
— É um estilo colonial moderno, estou ansiosa para conhecer o
interior.
— Você deveria fazer arquitetura, eu já falei isso, não falei? — Sim,
ele já falou, e eu estou seriamente pensando nisso. — Nós teremos uma casa
longe do caos, eu prometo. — Suas palavras me pegam de surpresa enquanto
ele estaciona o carro. Não tenho uma resposta. Está tudo tão veloz e intenso,
que eu acho que esse dia não vai demorar muito para chegar.
Uma linda mulher, com longos cabelos castanhos claros, se aproxima
da entrada da casa com um sorriso radiante. Ela é alta e faz o estilo falsa
magra.
— É sua irmã, não é? — pergunto e ele dá uma gargalhada.
— Sim, é Alice, sua cu.
— Arthur, por favor, não me faça passar vergonha, eu imploro. Estou
com vergonha por tê-la chamado de cu. Não sei onde enfiar minha cara —
informo, aterrorizada, e ele sai do carro.
Eu fico sem ação e só saio quando ele abre minha porta e me pega
como um saco de batatas em seus ombros. Uma magnífica entrada triunfal.
— Eu disse para não me envergonhar! — grito, batendo em sua
bunda, e ele me coloca no chão. É bom vê-lo tão radiante de felicidade, eu
nunca tinha o visto assim durante um ano inteiro, é tão surpreendente.
Ele me dá a mão, entrelaçando nossos dedos, e caminhamos juntos.
Estou transpirando, de tão desconcertada.
— Mari! — Alice grita, parecendo ter mais do que uma intimidade
comigo, e logo estou sendo envolvida num abraço de urso. — Você se lembra
de mim? — ela pergunta, rindo, e eu só consigo olhar seus olhos azuis. Deus,
ela é linda! É o Arthur de saia!
— Eu não lembro. Desculpe-me pelo episódio, estou tão sem graça
por isso — digo, fingindo ser uma moça de família comportada.
— Não se desculpe, você é fantástica! — fala, indo abraçar Arthur. —
Você está lindo, maninho!
— Você também, pequena.
— Venham, mamãe e papai estão ansiosos lá dentro. Ela exagerou na
comida, Arthur, você não tem ideia! — enfatiza enquanto a seguimos.
Como previsto, o interior da casa é ainda mais deslumbrante. Todos
os móveis são da cor branca com um toque de tabaco. Não há nada rústico
além dos pisos laminados de madeira. É tudo moderno e de extremo bom
gosto. Minha boca está no chão quando uma linda senhora, que deve ter na
faixa de uns cinquenta anos, surge. Agora eu sei exatamente de quem Arthur
herdou os olhos azuis.
— Meus filhos! — Ela se aproxima de nós dois e me puxa para um
abraço de urso, tão apertado quanto o de Alice. — Menina querida, eu sou
Lúcia, e é um prazer imenso conhecê-la. Você é ainda mais linda do que
Arthur falou. Olhe para ela, Mário! — diz a um senhor, que também deixa
bem óbvio ser o pai de Arthur pela fisionomia.
Ele me puxa dos braços dela e eu ganho meu terceiro abraço de urso
do dia. Deus, eles são tão carinhosos e fofos! Estou encantada!
— É um prazer conhecer os senhores.
— Não, nada de senhores. Somos jovens! — Mário diz, sorrindo
carinhosamente.
— Ok, vocês já abraçaram muito minha linda e deslumbrante mulher!
— Arthur me puxa de volta para seus braços e eu sorrio, satisfeita, me sinto
segura quando estou assim. É impossível não notar os três olhos nos
encarando com admiração. Consigo até vislumbrar o resquício de lágrimas
nos olhos de sua mãe.
— Oh, filho, eu estou tão feliz por você! Ela é realmente linda! Estou
encantada!
— Eu estou começando a achar que sou tudo isso mesmo — digo,
rindo.
— Oh, cu, você é. E esse corpo? Eu estou me sentindo diminuída.
Deus, Arthur! Olha o corpo dessa mulher! — Ok, ela me chamou de cu, então
eu posso chamá-la também, perfeito.
— É tudo que eu tenho feito no último mês — responde, me deixando
vermelha.
— Venha, querida, vou te apresentar o restante da casa.
— A mãe dele me puxa dos braços dele e me arrasta pela casa.
— Aqui embaixo é apenas a enorme sala de estar, a cozinha, um
lavabo e as varandas com redes. — Me mostra cômodo por cômodo e eu
encontro a maior cozinha que já vi na vida. Há um enorme fogão a lenha, que
destoa de todos os itens modernos e deixa ainda mais incrível a decoração.
— A senhora tem um extremo bom gosto, sua casa é magnífica! —
digo, encantada, enquanto subimos ao andar de cima.
Há outra sala com uma TV cinematográfica assim que terminamos de
subir os degraus. Depois ela me mostra quarto por quarto e para em um
último.
— Esse é o quarto de Arthur, você vai amar a vista — diz, satisfeita, e
abre a porta para eu perder o fôlego.
Há uma enorme cama de casal com dossel, um guarda-roupa pequeno
e uma mesa onde há um laptop e alguns papéis. Há outra porta que acredito
ser um banheiro. De frente para a cama há uma enorme porta que leva a uma
varandinha. A abro e suspiro ao vislumbrar a vista.
— É incrível! — digo, olhando uma enorme quantidade de árvores de
todos os tipos e algumas montanhas distantes. É absurdamente lindo!
— Sim. Bom, quando era casado, ele estava aqui todos os finais de
semana — conta e eu a observo. Ele não me disse sobre passar os finais de
semana aqui com Laís. Por sorte, minha querida e carinhosa sogra parece
entender o que meu olhar quer perguntar... — Sozinho. Laís só pisou nessa
casa umas três vezes, e mesmo assim foi rápido. Nunca passou um dia inteiro
ou uma noite aqui.
— Oh! Entendo.
— É a primeira vez que vejo meu filho feliz, Mariana. Estou certa de
que você é o motivo e sou imensamente grata por isso, querida. Você trouxe
a felicidade e vitalidade para meu filho. Não há como agradecer.
— Seu filho trouxe o mesmo para a minha vida. Agora consigo
entender de onde ele tirou tanta perfeição. Vocês são extremamente
carinhosos e acolhedores, estou feliz por estar aqui hoje e pretendo vir
sempre que possível. Esse lugar é de uma paz e tranquilidade, é como um
lugarzinho no céu — digo, sorrindo, e ela me abraça mais uma vez.
— Eu ficarei feliz por recebê-los sempre. Agora, vamos descer e
almoçar. Espero que vocês possam passar a noite aqui conosco.
— Eu não trouxe nada para dormir — informo.
— Há dezenas de blusas do Arthur no armário, tenho certeza de que
você não vai se importar de vesti-las. — Ela pisca um olho e eu fico como
um pimentão. Consigo vislumbrar um pouco da minha mãe nessa senhora.
Quando estamos saindo, Arthur me detém.
— Nós já vamos descer, mãe — ele diz e ela dá um sorriso maléfico.
Santo Deus! Eu quero cavar um buraco na terra e me enterrar.
— Seu quarto, hein... — brinco quando ficamos a sós.
— Nunca trouxe nenhuma namorada aqui, apenas você — fala, me
puxando.
— É lindo, Arthur! Deve ser fantástico dormir aqui e ouvir apenas o
som da natureza.
— Eles querem que passemos a noite, você quer? — pergunta,
colocando meus cabelos para trás.
— Se você quiser, eu quero, mas há uma condição.
— Qual?
— Nós vamos poder transar? Se a resposta for negativa, nós iremos
embora no final do dia — informo e ele sorri.
— Você tem dúvidas? — pergunta, beijando meu pescoço e
pressionando sua ereção em minha barriga.
— Acho que não. — Me beija calmamente e em seguida se afasta.
— Vamos almoçar, mocinha. Estou ansioso para passar a noite aqui.
— Pisca um olho e pega minha mão.
— Oh Deus! Arthur! Como? — Mari geme e diz palavras desconexas,
enquanto eu tento duramente calar sua boca.
— Eu vou ter que colocar uma mordaça em você? Quer que meus pais
escutem? — pergunto, tirando minha boca de sua incrível e doce boceta
rosada.
— Não. Apenas não pare.
— E não vou parar se você ficar caladinha, tudo bem? — digo e a
vejo balançar a cabeça freneticamente em concordância. Sou obrigado a
segurar a vontade de rir.
Essa mulher é um absurdo sexual completo. Realmente acredito que
ela seja ninfomaníaca, é a única resposta compreensível para esse apetite
voraz. Estou mais que disposto e realmente feliz por saciar essa vontade
incontrolável, minha e dela.
Ainda demoro um pouco tapando sua boca, mas, quando percebo que
estamos a salvo de seus gritos, retiro a mão de sua deliciosa boca e a uso para
me auxiliar.
Seguro sua bunda e uso meu polegar e indicador para ganhar um
pouco mais de abertura em sua entrada molhada. Pergunto-me se aquele
médico realmente quis dizer que Mari não tem lubrificação suficiente, sendo
que seu sabor está escorrendo por toda minha língua.
Eu poderia gozar apenas com seu gosto, uma especiaria
significativamente afrodisíaca.
Deslizo minha língua ponta a ponta e faço círculos certeiros num
ponto alto de seu clitóris. Suas mãos voam diretamente aos meus cabelos e
suas pernas começam a tremer descontroladamente. As abro mais, para
intensificar as sensações, e Mari grita, fazendo-me parar.
— Não... Eu estava...
— Shiu! Quero você caladinha — ordeno e ela força sua pequena
boceta para minha boca. Porra de mulher gostosa! Preciso estar dentro dela.
Minha boca volta a trabalhar firme no propósito e eu deslizo a mão
em meu pau, que está doendo por um alívio.
O envolvo nas mãos e me toco enquanto sinto o gosto do seu orgasmo
intenso, bebendo tudo que ela oferece e limpando-a com a minha boca. Seu
corpo ainda treme, sua barriga dá contrações involuntárias e agora sou eu
quem geme, sentindo meu próprio orgasmo crescer.
Noto seu corpo ficar paralisado e levanto minha cabeça para pegá-la
em flagrante, me observando.
— Oh, não pare! Continue — pede, ofegante.
— Você gosta de ver?
— Sim, é a cena mais quente que eu já vi, Arthur. Me deixe te ajudar?
— pede com um carinha de falsa puritana e eu realizo seu desejo. É algo que
ela tem insistido e eu tenho sido ruim em satisfazê-la. Não que eu não goste,
mas, porra, a última coisa que quero quando estou perto dela é ter sua boca
em meu pau. O desejo de me enterrar em sua boceta é muito mais voraz e
incontrolável, é uma necessidade.
— Você quer ajudar como? — provoco e ela dá um sorriso, mordendo
o canto do lábio inferior.
— Eu quero você em pé — pede e eu me levanto. Seus olhos
passeiam pelo meu corpo e ela solta um suspiro que me faz pulsar.
Em um salto de uma garota travessa, ela desce da cama e se aproxima
como uma felina prestes a atacar. Com as mãos travadas em punhos ao lado
do corpo, uso todo meu autocontrole quando sua boca desliza em meu
pescoço e percorre meu peitoral lentamente. Quando chega aos gomos da
minha barriga, ela os morde, um por um, intercalando com beijos molhados.
E, quando chega à minha virilha, vejo seus joelhos alcançarem o chão e seu
sorriso perverso enquanto olha meu rosto contorcido de prazer. Mocinha
malvada!
Suas mãos envolvem em torno do meu membro e eu fecho os olhos
com força quando sua língua traça parte da minha extensão. Quando ela
envolve a ponta em sua deliciosa boca, agarro seus cabelos.
— Maldição, Mariana!
— Shiu, você quer que seus pais nos ouçam? Vou ter que colocar uma
mordaça em você? — provoca, forçando uma cara de brava. O jogo inverteu
fodidamente.
Ela não consegue levá-lo por inteiro em sua boca, mas trabalha
fodidamente bem em me deixar desesperado. Ela arranha minhas coxas e
massageia minhas bolas doloridas. Empurro, fodendo-a e observando como
ela se sente bem fazendo isso. Santo Deus, eu amo a devassidão dessa
mulher!
Ela o morde levemente e eu vejo seus dedos deslizarem entre suas
pernas. Isso me leva ao limite.
— Eu vou gozar, Mari — informo, como um cavalheiro. Não estou
certo se ela vai querer que eu goze em sua boca.
— Eu não estou te impedindo — diz. — Eu quero que você se toque e
goze em minha boca, pode fazer isso? — pede, gemendo, e eu seguro seu
cabelo mais forte, levando sua cabeça para trás. O toco com força e precisão,
observando a cara desejosa da minha mulher. Porra, ela anseia por isso mais
do que eu mesmo!
Quando começo a gozar, sua boca voa diretamente em minha
extensão e ela toma tudo, dando-me a visão mais quente. Levo minhas mãos
aos meus próprios cabelos e os seguro, tomado por uma onda de adrenalina e
luxúria quando a vejo limpar o canto da boca e chupar seu dedo indicador.
Maldição, essa mulher é o diabo num corpo de anjo!
— Porra, Mariana... Fodidamente bom — digo, encostando-me na
parede, sem conseguir ter muito controle sobre minhas pernas.
A vejo ficar de pé e caminhar até o móvel onde há uma jarra de água
e um copo. Ela bebe, deixando um pouco escorrer pelo seu corpo, e sorri
diabolicamente.
— Muito gostoso, Arthur. Você é totalmente gostoso — diz,
apertando os seios, e eu sinto que essa mulher vai destruir minha sanidade.
Ela tem um contato direto com meu pau, o maldito já está pronto para invadi-
la.
Minhas pernas ganham vida e eu a pego no colo, jogando-a na cama.
Como um ímã, eu estou dentro dela, fodendo-a sem reservas e esquecendo
por completo os limites de onde estamos.
Eu morreria enterrado nessa mulher...

Acordo com a forte claridade invadindo o quarto. É incrível acordar


aqui e o primeiro vislumbre do dia ser a natureza.
Arthur não está na cama ou em qualquer outro lugar no quarto. Pego a
escova de dentes dele e escovo meus dentes, em seguida lavo meu rosto,
repetidas vezes, para acordar para a vida. Visto uma cueca dele e escolho
uma das roupas que Alice separou para mim.
Escolho um vestido que, teoricamente, parece ser soltinho, mas em
mim fica levemente apertado e um pouco curto. Além de eu ser um pouco
mais alta que Alice, minha bunda dá ao menos duas comparada a dela.
Molho um pouco meus cabelos e sacudo-os, deixando-os mais
selvagens. Calço minha rasteirinha e desço em busca do meu homem.
Ele está sentado na mesa, bem de frente para a escada, e congelo
quando vejo seus olhos varrerem meu corpo de maneira indecente, o auge do
descaramento.
— Gostosa! — ele fala e vejo minha amada cunhada engasgar-se com
algo. Quase subo correndo de volta para o quarto, de tanta vergonha, quando
seus pais viram para trás e me encaram sorridentes.
— Bom dia. — Forço um sorriso sem graça e caminho até eles.
— Bom dia, linda, dormiu bem? — minha sogra pergunta de maneira
doce, me dando um abraço.
— Não, ela e Arthur não dormiram, definitivamente! — Alice diz,
rindo, e quero morrer!
— Alice! — meu sogro adverte e Arthur dá uma gargalhada.
— Eu dormi muito bem. O dia está lindo hoje. É muito bom acordar
ao som dos pássaros — falo, tentando mudar o foco. Quando estou prestes a
me sentar ao lado de Arthur, ele me puxa e eu caio sentada em seu colo.
— Você não é muito boa em tentar mudar o foco sobre a noite
passada — diz em meu ouvido.
Ele me abraça e cheira meu pescoço sob o olhar de todos os presentes,
e eu não sei se o dia poderia ter começado de maneira mais embaraçosa.
— Vocês são lindos juntos! — Lúcia diz, orgulhosa, e abraça meu
sogro.
— Eu estou de vela nessa casa! Preciso ligar para Eduardo, licença!
— Alice fala, nos deixando na sequência.
Felizmente, o café da manhã corre de maneira tranquila após ela sair.
Conversamos sobre assuntos diversos e Arthur não me deixa sair de seu colo,
mesmo eu forçando.
Tenho uma verdadeira manhã de rainha, já que ninguém deixa eu
ajudar em nada.
Eu e Arthur ficamos deitados na rede grande parte do dia, oscilando
entre carinhos e cochilos. Nunca me senti tão em paz como hoje. Não há nem
mesmo toda a tensão sexual que rola quando estamos perto, há apenas a
calmaria e os sons dos pássaros contribuindo para o clima pacífico.
Estou envolvida em uma onda de sono quando Arthur me acorda com
um beijo.
— Princesa dorminhoca, eu acho que deveríamos ir — diz, abraçado a
mim.
— Deus, já está anoitecendo! — exclamo quando abro os olhos. —
Nós dormimos o dia todo!
— Sim, para compensar a madrugada acordados. — Ele ri e eu me
levanto completamente tomada por uma tonteira. Tento firmar as pernas e
esfrego meu rosto.
— Você está bem?
— Sim, é só tonteira por todo o sono. — Sorrio.
Subimos para nos vestir devidamente e em seguida nos despedimos
de todos. Por incrível que pareça, estou sentindo uma leve tristeza por estar
indo embora. Eu moraria aqui, de verdade!
Minha sogra diz que vai à cidade durante a semana e combinamos de
nos encontrar. Após inúmeros beijos e abraços de ursos, nós seguimos nosso
caminho.
— Eu amei seus pais! Eles são fantásticos, Arthur! — comento e ele
sorri.
— Eles também amaram você.
— Alice parece que não. Me deixou constrangida a manhã toda —
brinco.
— Nós perdemos um pouco da noção em algum momento. Eu tinha
consciência dos gemidos, mas não conseguia mais detê-los — diz, rindo.
— Eu te amo, estou feliz como nunca estive — falo e ele olha para
mim com seus olhos reluzentes.
— Eu também amo você. Você é o verdadeiro significado da palavra
felicidade — diz, voltando seu olhar para a estrada.
— Eu já li isso em algum lugar... — provoco, lembrando os buquês.
— Você vai ler em muitos outros, eu prometo.
— Eu sei que irei. Meu namorado é um romântico incurável.
— Está preparada para voltar à rotina de trabalho? — pergunta.
— Não sei. Meu chefe é estupidamente gostoso e não sei como lidar
com a situação. Não acho que teremos mais quaisquer reuniões sem
imaginarmos sexo sobre a mesa de trabalho.
— Eu também estou crendo nisso. Mas vamos nos sair bem, não
vamos?
— Eu prometo me comportar. Local de trabalho é sagrado. Você
promete também? — pergunto, sorridente.
— Eu quero que use meu presente. — E lá vamos nós, o casal tarado,
para um clima de tensão puro na estrada...
— Eu vou usar, mas não será amanhã. Será quando menos você
esperar, Tutu.
— Esse bendito apelido me deixa duro a cada vez que sai da sua boca
— suspira e eu sorrio.
— O que não te deixa duro, Arthur Albuquerque?
— Tudo que não tenha você envolvida — responde.
— Então teremos que nos afastar para manter o controle. Vou pedir
demissão amanhã — zombo e ele freia o carro. — Tá doido? Eu estou
brincando — digo, rindo.
— Não brinque com isso, Mariana! — avisa antes de seguir.

No dia seguinte, acordo e já o encontro completamente vestido em


seu terno e gravata. É uma visão melhor do que a visão da natureza,
absolutamente.
— Bom dia!
— Bom dia, amor. O café da manhã está te aguardando. Preciso ir um
pouco mais cedo, devido a uma reunião — informa, me dando um beijo na
testa e se afastando.
Levanto e o puxo pela gravata.
— Te amo — informo, apenas para controle, e ele sorri.
— Também amo você. Nos vemos daqui a pouco. — Me beija e vai
embora.
Tomo um banho demorado e visto uma roupa comum para o dia de
trabalho. Uma calça jeans cintura alta preta, sandália de salto fino e uma
blusa soltinha branca, que coloco uma parte dentro da calça. Fico satisfeita,
porém não me sinto extremamente feliz por estar voltando. Os últimos dias
foram incríveis o bastante para eu querer apenas continuar vivendo-os sem
compromissos, como o trabalho.
Ligo para meus pais e eles avisam que eu não precisarei buscá-los no
aeroporto, pois virão de táxi, para não atrapalhar meu trabalho. Fico feliz ao
perceber que os dois estão felizes e tiveram um bom final de semana, assim
como eu.
Quando chego à empresa, obviamente Júlia e Carla já estão com um
sorrisinho descarado no rosto.
— Bom dia! — digo sorridente e elas respondem em uníssono.
— Que bom você voltou, Mari. Já viu como nosso chefe está quente
hoje? — Júlia provoca e dá uma gargalhada.
— Eu vi quando acordei — respondo e Carla ri.
— Ui, precisava ter levado essa, Jú? Mariana, não esfregue na nossa
cara uma bênção dessas, é maldade. Senti sua falta.
— Também senti falta de vocês. Digam que eu não tenho muito
trabalho. — Me acomodo na cadeira e ligo o computador.
— Digo. Arthur não deixou nada para você, cara amiga — Júlia diz e
eu mordo o lábio, isso já virou um vício, por sinal.
Estou concentrada nos e-mails do trabalho quando um rapaz surge
trazendo um enorme buquê de flores silvestres coloridas.
— Mariana? — ele diz e eu me levanto sob os suspiros de Júlia e
Carla.
Assino o recibo e pego o bilhete para ler:

“Bem-vinda de volta ao trabalho, amor. Você é o motivo para eu vir


trabalhar feliz todos os dias. Te amo.”

Leio e Júlia toma o cartão da minha mão. Eu estou rindo quando Laís
surge na recepção e me encara friamente, com os olhos vacilando entre os
meus e o buquê. Vejo seu rosto ser tomado por um vermelho-sangue e ela me
empurra com o ombro quando passa feito um furacão rumo à sala de Arthur.
Dessa vez decido não a deter. Não posso deixar que a vida pessoal
interfira na profissional. Acho que ganhei um pouco de maturidade nos
últimos dias ou, caso contrário, já estaria a puxando pelos cabelos.
Carla, como boa funcionária, faz o serviço de detê-la. Viu? Eu
realmente não preciso fazer isso quando há duas outras pessoas focadas em
impedi-la.
— Saia da minha frente! — Laís grita enquanto Carla a cerca. Eu e
Júlia observamos a cena.
— Eu preciso apresentá-la, senhorita. Não sei se o senhor Arthur vai
poder recebê-la agora.
— É meu marido! — Laís grita furiosamente.
— Desculpe, senhorita, mas não é a informação que possuímos —
Carla rebate. — Queira aguardar, por favor. Vou ver se ele pode recebê-la. —
Laís, com sua ira, a joga longe, e entra na sala de Arthur batendo a porta atrás
de si.
— Cadela! — Carla grita e eu estou embasbacada com a audácia
dessa mulher.
— Você não vai fazer nada? — Júlia pergunta, me olhando como se
eu fosse uma alienígena.
— Não. Arthur vai saber resolver. Só vou intervir caso ela desrespeite
nosso trabalho — informo, indo até a cozinha colocar minhas flores no jarro
com água.
Minha manhã, que estava gloriosamente maravilhosa, transformou-se
em tensão. Estou curiosa para saber do que se trata essa “visita” da ex-
mulher-frígida-cadela.
Quando um furacão entra brutalmente pela porta, não preciso nem
olhar para saber quem é. Laís. Ela é a única pessoa que não tem um pingo de
educação e respeito pelo meu local de trabalho.
— Tudo bem, Laís, diga a que veio — falo, observando-a sentar-se
diante de mim.
— Eu vim para surpreendê-lo. Estou aqui por todos os motivos que
você jamais imaginou — diz confiante e eu até paro de digitar em meu
notebook para lhe dar atenção.
— Surpreenda-me, então. Sou todo ouvidos.
— O divórcio saiu e eu assinei. Vim apenas entregá-lo pessoalmente
— fala, realmente me surpreendendo.
— Excelente, mas não era necessário. Eu pago um advogado para
fazer exatamente isso — informo.
— Eu fiz questão. Eu ainda amo você, Arthur, percebi que segurar o
divórcio e ir para o litígio iria desgastar mais a relação. Se você quer um
documento que o livre do compromisso matrimonial, tudo bem, aqui está.
Mas eu não vou desistir de você. Eu aceito não sermos mais casados, só não
aceito te perder de vez — diz com uma confiança assustadora.
— Laís, eu não entendo. Quando eu informei que estaríamos nos
separando, você aceitou e até mesmo concordou. Diga-me o motivo pelo qual
você está insistindo nessa história novamente. — Estou frustrado.
— Há algo realmente verdadeiro na teoria de que a gente só dá valor
quando perde. Eu vi o homem que perdi, sinto muito por isso, sinto muito por
não ter me dedicado mais à nossa união, sinto muito por não ter lhe dado
filhos quando quis. Eu acredito que podemos recomeçar. Foram seis anos de
relacionamento. Nós podemos recomeçar, eu sei que sim. Podemos começar
do zero, começar por um jantar essa noite. — Era tudo que eu precisava para
o dia de hoje.
— Não, Laís. Eu já estou em um relacionamento.
— Mas só tem um mês que nos separamos, não é nada sério. Ela é só
uma menina novinha que tem atributos físicos atrativos, eu duvido que ela vá
te dar um relacionamento sólido e sério como o que tivemos. Nós ficamos um
bom tempo sem sexo, você só está com ela porque, provavelmente, está tendo
isso fácil demais. Eu posso te dar sexo também, muito.
— Não subestime minha capacidade de arrumar uma namorada. Eu
não sou o tipo que se ilude por sexo, Laís. Embora esteja realmente tendo
muito sexo com a minha namorada, não é o sexo que me move. Se fosse,
você não conseguiria andar, tamanho o chifre que estaria habitando em sua
cabeça. Agora, vamos direto ao ponto, eu lhe agradeço imensamente por ter
assinado o divórcio, foi fácil e rápido, sem estresses desnecessários para
ambos. Você é uma mulher linda e atraente, eu torço pela sua felicidade, não
a odeio, Laís. A estimo pelos seis anos que vivemos juntos. Eu espero que
você possa arrumar um cara legal e recomeçar sua vida ao lado dele — digo e
ela começa a chorar. Eu estou farto dessas cenas.
— Por favor, uma última chance — implora, deitando sua cabeça na
mesa.
— Nós tivemos dezenas delas, nós tentamos muito, Laís, apenas
acabou — ressalto e ela se levanta. Caminha de um lado para o outro e, de
repente, não há mais lágrimas em seus olhos. Isso é dissimulação.
— Tudo bem. O divórcio está aí, mas isso não significa que eu darei
sossego a você, Arthur, isso está longe de acontecer. Eu não vou deixar você
ficar com ela tão facilmente! — grita.
— É exatamente por isso que não podemos ter outra chance. Você age
como uma criança mimada, Laís. Você não sabe perder. Deveria saber, já que
o fracasso do casamento começou por sua culpa. Chega! Nós poderíamos ter
um relacionamento amigável, mas vejo que não há possibilidades, você
apenas me afasta mais e mais a cada vez que abre a boca. Suas ameaças não
afetam minha vida em absolutamente nada, elas servem como um
combustível para eu perder o respeito por você. Queira retirar-se, por
gentileza, pois eu preciso trabalhar — peço.
Levanto-me e caminho até a porta, a abro e Laís me agarra pela
gravata.
— Eu te amo. Se você não vai ser feliz comigo, não será com mais
ninguém — avisa e sai.
Caminho até as meninas e noto a tensão estampada no rosto de Mari.
— Júlia, ligue para a recepção do prédio e proíba a entrada de Laís
terminantemente. Mandarei um e-mail confirmando, caso for necessário —
peço.
— Sim, senhor Arthur.
— Mariana, podemos ver a agenda? — pergunto à minha mocinha e
noto-a tentando lutar para se manter profissional.
— Sim, senhor Arthur, nós podemos — responde e eu rio, sem
conseguir controlar, ganhando o olhar de Carla e Júlia.
— Senhor Arthur, é estranho agora... — explico, erguendo as mãos
enquanto Mari se levanta e caminha em direção à minha sala.
Essa bunda na minha frente é uma boa distração. É triste que ela não
tenha vindo com a roupa que eu dei para sua volta ao trabalho ou qualquer
fodida saia que facilitaria meu acesso nesse momento.
Fecho a porta atrás de nós e a observo sentar-se toda séria. Uma
verdadeira assistente pessoal. Orgulho-me da sua conduta madura, porém um
pouco exagerada.
— Não há nada na agenda, na verdade, hoje é você quem deve me
atualizar — diz e eu a entrego duas folhas impressas com meus
compromissos futuros. Ela os analisa, item por item, e eu apenas observo
seus olhos se moverem. — Eu sei que não é o local ideal e que aqui somos
patrão e funcionária, mas eu não vou aguentar até a noite para descobrir o
motivo, a causa ou a circunstância da visita de Laís — fala sem me encarar,
fingindo concentração total.
— Você leu algum dos compromissos? — pergunto, segurando o riso.
— Sim, eu li, inclusive li que teremos uma convenção em Itaipava
mês que vem. Já adianto que dormiremos no mesmo quarto e teremos sexo
excessivamente. Agora pode me dizer? — pede com toda sua autenticidade
cativante.
— Claro. Ela veio me entregar o divórcio. Agora somos oficialmente
divorciados — digo e ela arqueia a sobrancelha em descrença.
— Isso é sério? O que a fez mudar de opinião? — pergunta,
brincando com a caneta.
— Eu não faço ideia, mas estou imensamente feliz por isso. Já tenho
alguns planos em mente — digo e ela solta um suspiro.
— Graças a Deus estamos livres dessa mulher — fala, me fazendo
sorrir.
— Agora, voltando ao trabalho, eu preciso que anote aí, quinta-feira
há uma reunião e eu preciso que me acompanhe. — Ela sorri e eu suspiro.
— Tudo bem, vou passar para a agenda e fazer as devidas ressalvas. É
só isso, senhor? — ela pergunta, fazendo sua anotação.
— Sim, apenas isso, senhorita.
— Bom, eu posso fazer apenas uma pergunta importante? Vale
ressaltar, diante das circunstâncias em que nos encontramos, que o NÃO eu
já tenho, então qualquer outra resposta que eu obtiver é lucro — diz, me
encarando.
— Claro. Fique à vontade para fazer quaisquer perguntas.
— Nós podemos transar? Eu estou realmente tensa. Ver Laís causou
quase um dano cerebral em mim, achei que iria infartar ou ter um AVC. A
situação está complexa de verdade. Talvez eu tenha problemas cardíacos.
Estou tendo palpitações e lutando contra um desmaio repentino. É
incongruente passar por essas provações celestiais — diz, gastando seu
português em excesso.
— Eu deveria levá-la a uma unidade de pronto atendimento? —
pergunto, tentando soar sério e preocupado. Aprendi em poucas semanas que
a melhor maneira de lidar com a loucura é fingindo ser louco. O mais
intrigante é que Mariana fala realmente séria, não há um único traço de um
sorriso ou algo do tipo. Talvez o caso dela seja pior do que eu imagino.
— Não é necessário. Aliás, o melhor lugar a ser levada seria para um
motel. Eu acredito na cura pelo sexo. Há inúmeros benefícios em transar
muito, como: sexo alivia as crises de enxaqueca. Faço aqui uma ressalva.
Quando seu parceiro reclamar, dizendo que não quer sexo porque está com
dor de cabeça, reverta a desculpa a favor da saúde dele, já que sexo melhora
significativamente as crises de enxaqueca e dores fortes de cabeça. Melhora
também o aspecto da pele, alivia as cólicas da TPM, melhora o sono, por isso
durmo igual pedra depois de uma maratona sexual com você. Diminui o
estresse, eu me tornei uma pessoa pacífica, nem bati na Laís. Diminui os
riscos de infarto, queima calorias, aumenta a imunidade. Então, como o foco
do meu problema é infarto, sexo é superindicado — ela explica, pontuando
item por item pausadamente. Nós estamos tendo nossa própria reunião
sexual, é incrível tratar de sexo como um “negócio”, estou admirado com o
poder de persuasão dessa mulher. Ela deveria virar sócia majoritária da
multinacional, seria extremamente bem-sucedida se conduzisse as reuniões
dessa maneira sagaz.
— Entendo — respondo como se estivesse fazendo um acordo
processual. — Essas teorias são significativas, de onde você conseguiu
adquirir tanta sabedoria sexual? Não vai dizer que foi com os mais velhos....
— Posso dizer que certamente eles contribuíram muito para os
estudos científicos. Cientistas afirmam que os antigos faziam sexo
exageradamente, o fato de não ter TV em casa ajudava muito, tanto que eles
tinham, em média, cerca de 15 a 20 filhos. Eles praticavam sexo o bastante e
até mesmo viviam muito mais tempo que as pessoas de hoje em dia. Há no
mundo pessoas que possuem mais de cem anos de idade, obviamente esses
seres místicos fodiam em todos os momentos livres. Sexo é longevidade, meu
querido Arthur. Por isso, atualmente, tantos jovens morrem, apenas por não
praticarem o suficiente e não praticarem da forma correta. Há ao menos 100
jovens morrendo de infarto diariamente — explica com sua astúcia e
inteligência. Eu amo essa mente brilhante.
— 100 jovens? De onde tirou esse dado? — pergunto apenas para
prolongar esse debate interessantíssimo.
— Eu realmente não tirei de lugar algum, apenas chutei um número
que julgo alto. 100 é muito, não? — pergunta, franzindo a testa.
— É, depende da sua análise. É só para BH, América do Sul ou
mundialmente falando? — pergunto.
— Isso não vem ao caso, mas caso queira realmente saber com mais
precisão, nós podemos sempre contar com a ajuda do Google.
— Claro, como eu não pensei nisso? Você é um gênio, meu amor. Eu
te amo. A propósito, você pretende ter acima de 15 filhos? — pergunto e ela
me encara, séria.
— Eu não sei se sou capaz de educar uma única criança, Arthur,
imagina 15? Estou sentindo fisgadas no peito e a sala parece estar rodando,
só de imaginar. Eu vou morrer diante de você.
— Não pode ser gases? Sabe, quando eles ficam muito tempo presos,
pode parecer infarto ou outras doenças fatais — digo.
— Não é, eu estou inteiramente abalada emocionalmente. Ver Laís
causou um impacto profundo em meu ser.
— Bom, então você acredita que a única chance de ser curada é
fazendo sexo? — questiono e ela passa as mãos em seu belo rosto.
— É sério, Arthur.
— Tudo bem, eu não estou dizendo que não é sério. E não estou
negando sexo a você. Se a única maneira de a manter viva é fazendo sexo,
nós estamos indo fazer, meu amor. Eu zelo pelo seu bem-estar e prezo pela
longevidade. Vida longa à minha rainha — digo, mas ela se mantém séria. De
onde surgiu essa mulher? Deus do céu, ela é linda e completamente
perturbada.
— Você pode ficar de pé? — pergunta, se pondo de pé, e eu faço o
que ela pede.
— Eu estou de pé.
— Ok, então eu estou indo até você, tudo bem?
— Claro, só vem — falo, sorrindo, e ela caminha até mim.
— Eu posso puxá-lo pela gravata e beijá-lo?
— Vai ser assim? Você vai ficar perguntando tudo? Será que eu vou
ter que perguntar se devo levar meu pau mais para a direita ou mais para a
esquerda? Se você quer raso ou fundo? Devagar ou rápido?
— Pode ser interessante para mantermos um índice de precisão
sexual. Nós podemos fazer uma análise profunda do quão rápido você
consegue me fazer gozar e de quantos minutos você consegue segurar seu
próprio orgasmo e... — Ela é interrompida por uma batida na porta. Eu tento
não rir quando ela corre e se senta diante de mim, como se absolutamente
nada estivesse acontecendo.
— Entre.
— Senhor Arthur, seu advogado está aqui — Júlia informa.
— Tudo bem, diga para aguardar. — Ela se vai e eu volto o olhar para
a minha mocinha. — Bom, parece que teremos que adiar um pouco esse sexo
teórico.
— Minha vida está em risco, mas acho que consigo sobreviver até lá
— diz, se levantando com um sorrisinho safado. — Foi bom discutirmos
sobre sexo, senhor Arthur, tenha um excelente dia! Eu amei as flores e eu
amo você. Estou ansiosa para ser fodida por você — fala, me mandando um
beijo ao sair.
Como trabalhar a partir de agora? Como encarar uma reunião chata
com meu advogado? A reunião com minha Mari estava muito mais
interessante.
Meus dias não serão mais os mesmos nessa empresa, estou certo
disso.
Incrivelmente, nessa linda terça-feira, eu acordo primeiro que meu
Tutu. Estou começando a considerar a possibilidade de entrar no crossfit, em
busca de um melhor preparo físico para encarar esse relacionamento.
Meu corpo está deliciosamente dolorido por todas as coisas sujas e
depravadas que fizemos durante grande parte da noite anterior. Nós fizemos
algo inédito e incrível, que deveria ter sido filmado. Arthur simplesmente me
mandou “plantar bananeira” e me chupou dessa maneira, enquanto eu
mantive a boca ocupada em seu pau, quando enfim gozei, ele se deitou no
chão e eu virei um mortal para trás, quase caindo sobre seu incrível pau na
posição cowgirl invertida. Definitivamente, eu deveria me tornar atleta
olímpica após essa cena incrível. Depois desse episódio demoramos pelo
menos uns dez minutos rindo, como dois malucos, rolando pelo chão, e então
ele me pegou de quatro e isso ocasionou em minha mãe batendo na porta uma
hora da manhã e o porteiro interfonando com reclamações dos vizinhos.
Talvez seja o momento de mudarmos para um sítio afastado da cidade, longe
da civilização.
O observo envolvido num sono profundo, tão bonito. Seu rosto
relaxado, suas bochechas levemente rosadas e um pouco encobertas pela
barba por fazer, seus lábios fechados mostram o quão bem esculpidos são, há
uma pequena pintinha abaixo de sua boca, mais precisamente do lado direito,
que dá todo um charme à sua aparência incrível. Até as sobrancelhas e os
cílios dele são perfeitos, e o nariz? Parece ser fruto de uma cirurgia plástica
perfeita. Esse homem é fodidamente lindo!
Levo minha mão em seu peitoral firme e contorno suas tatuagens com
o dedo, isso é algo que eu nunca imaginei que ele podia possuir. Arthur ser
tatuado foi uma das coisas mais surpreendentes que descobri.
Continuo minha exploração e juro que é sem intensões sexuais. É
apenas para explorar mais do homem que me tem nas mãos, que está
infiltrado em minha mente e meu coração.
Desço pelos seis gomos extremamente rijos de sua barriga e sorrio
com pura admiração. Gosto do quão forte ele é fisicamente. Não há um
exagero de músculos, mas seu corpo é altamente bem definido e atraente. Até
sem forçar dá para ver algumas veias saltadas em seus braços. Eu gostaria de
entender como Laís deu um mole de perder esse homem. Quem, em sã
consciência, não iria valorizar Arthur Albuquerque? O homem é
excessivamente bonito, gostoso, tem um pau digno do Oscar, é absurdamente
atencioso, carinhoso e zeloso. É quente como um inferno, bem-sucedido e
fode como um profissional do sexo. É inadmissível não aproveitar dessa
perfeição. Ela deve ter sérios problemas mentais. Deus, o cara queria ter um
filho e ela apenas recusou! Nunca vou entender, na verdade, há uma parte
realmente excelente em tudo isso: Arthur agora é meu! Talvez eu devesse
agradecê-la pelo resto da vida. Eu saberei ser tudo o que ele precisa e saberei
aproveitar cada segundo ao lado dele.
Traço levemente o V que leva até a felicidade completa, mais
conhecida como pau, e sua mão toma a minha.
— Peguei você! — diz com a voz rouca pelo sono e um sorriso
preguiçoso.
— Só estava apreciando meu namorado quente.
— Eu faço isso todos os dias com a minha namorada quente — fala,
me puxando para um abraço. — Hum, eu ficaria aqui o dia todo assim. Tem
certeza de que é apenas terça-feira?
— Eu tenho, infelizmente. Bom, hoje é meu dia de preparar o café da
manhã para você — informo, me desvencilhando de seu aperto, e me levanto,
lutando contra a vontade de passar o dia aqui.
— Você deveria fazer o uso de pijamas, camisolas e afins — reclama
da minha nudez matinal, fazendo-me sorrir.
— Você acha mesmo? — questiono, apertando meus seios.
— Não, eu não acho. — Sorri e eu pego uma blusa dele no guarda-
roupa, visto e faço um desfile forçado pelo quarto, nada sexy, apenas
ridículo.
— Melhorou?
— Fica mais quente ainda usando uma camisa minha. Eu sobreviverei
a essa tentação matinal, minha ginasta linda. — Sorri.
— Eu vou me inscrever na categoria acrobacias sexuais nos Jogos
Olímpicos. Você será meu treinador — digo e caminho até a cozinha.
Preparo uma vitamina de banana com morango, faço algumas torradas
e pego um patê na geladeira. Há ao menos meio bolo de prestígio, e eu o
pego também, é irresistível. Pego uma jarra de suco e alguns croissants que
compramos ontem. Coloco tudo sobre a mesa e sorrio satisfeita com a minha
arrumação. É incrível que agora eu tenha alguém diariamente para
compartilhar o café da manhã. Antes eu comia apenas uma fruta, totalmente
desmotivada pela solidão.
Arthur surge semipronto em um dos seus ternos habituais, deixando
de fora a gravata e o casaco.
— Hum, eu poderia me acostumar com esse tratamento — diz,
sorrindo.
— Você já se deu conta de que estamos praticamente morando
juntos? — pergunto, me acomodando ao lado dele.
— Sim. Talvez devêssemos fazer uma obra, quebrar a parede que
separa nossos apartamentos e transformá-los em um só — fala, pegando uma
fatia do bolo de prestígio.
— Não. Se um dia formos realmente morar juntos, meu voto é para
mudarmos para uma casa espaçosa, longe de vizinhos, num condomínio
tranquilo e levemente isolado da cidade grande.
— Nós não somos muito silenciosos, não é? — pergunta, rindo.
— Não — respondo.
— Na verdade, você estava bem escandalosa essa noite, eu não sei
como encarar dona Ana e seu pai agora — diz, pensativo.
— O que sugere? Uma mordaça ou abstenção sexual?
— Mordaça, certamente — responde, rindo. — Então quer dizer que
hoje a senhorita irá almoçar com dona Lúcia?
— Sim. Sua mãe é uma fofa, Arthur.
— Ela está perdidamente encantada por você, Mari. Ela sempre quis
ter uma nora — explica.
— Ela teve uma.
— Você sabe que não. Você é a primeira nora que dona Lúcia tem e
que realmente vale a pena. É muito importante para mim tudo o que você está
fazendo e essa proximidade com ela, Mari. O carinho que você demonstrou
com meus pais e Alice, me encantou ainda mais.
— Não foi forçado. É apenas meu jeito de tratar as pessoas. Sua mãe
é um doce, não poderia tratá-la de maneira diferente — explico. — Fora que
a comida dela... Deus, Arthur, eu comeria diariamente e engordaria uns 30
quilos! Sua mãe tem mãos de fada para comida.
— Quero que meus pais conheçam os seus. O que acha de passarmos
o final de semana lá? Há quartos de hóspedes, onde eles podem ficar, e
podemos levar roupas de banho para usufruirmos da piscina com mais
tranquilidade.
— É incrível! Vou falar com meus pais — respondo, empolgada. —
Bom, agora eu preciso ir. Preciso me arrumar para o trabalho, pois se eu
chegar atrasada, meu chefe me comerá viva.
— Eu vou te comer chegando cedo ou tarde. Eu sempre estou
disposto a comê-la. Você vai comigo? — pergunta.
— Não. Como vou almoçar no shopping, irei com meu carro —
informo, lhe dando um selinho, e ele me puxa para um beijo mais profundo.
Não é normal esse tipo de relação que estamos tendo.
Um beijo e eu quero tê-lo dentro de mim. É explosivo.
— Acho que podemos nos atrasar um pouco — ele diz, me pegando
no colo e me levando para a cama. — Eu quero você tão insanamente, Mari.
— Eu também quero você, agora e em todos os momentos — digo e
em seguida fazemos amor. Sim, ele me ama delicadamente, esquecendo o
mundo e as obrigações lá fora. Ele chega meia hora atrasado e eu chego vinte
minutos depois.

Quando dá o horário do almoço, saio com um friozinho na barriga. É


meu primeiro encontro com a minha sogra sem a presença de Arthur.
— Oi, minha linda! — minha sogra diz, me dando um dos seus
abraços de urso assim que nos encontramos no estacionamento do shopping.
— A senhora está linda! — elogio e ela sorri.
— Não me chame de senhora. Você está radiante hoje! — diz e eu
quase falo “claro, seu filho me comeu deliciosamente poucas horas atrás”.
— Estou feliz — falo, ocultando o motivo. — Bom, vamos à busca de
um restaurante acolhedor.
Conforme começamos a caminhar, ela envolve seu braço em torno do
meu, pegando-me de surpresa. Tão linda! Eu amo que ela seja como a minha
mãe.
— Como meu filho está? — pergunta.
— Ele está bem. Vai almoçar no escritório mesmo. Há dezenas de
papéis burocráticos para ele analisar. Ele cuida de todos os contratos,
admissões e demissões, requisições. Não sei como dá conta — explico.
— Ele tem o projeto de abrir a própria empresa. Lá ele cuidaria de
processos de várias empresas. Há algumas dezenas de empresas que batalham
para tê-lo. É um orgulho, não é? — ela diz com os olhos brilhantes.
— Eu não sabia disso. Bom, eu sei que ele é um excelente
profissional, obviamente, mas não sabia que havia empresas disputando por
seus serviços.
— Há muitas — responde orgulhosa.
— Por que ele nunca aceitou? — pergunto com curiosidade.
— Não sei dizer, querida. Mas torço para que em breve ele abra seu
próprio escritório, para que possa cuidar de todas. É um crescimento
significativo — ela explica e eu me sinto um pouco tola por nunca ter
conversado sobre trabalho com meu namorado. Só discutimos assuntos
sexuais, o quão louco é isso?
— Com certeza. E Alice? — pergunto.
— Ela disse que viria almoçar conosco. Aliás, ela está ali. — Ela
aponta e eu vejo uma Alice sorridente, envolta em um terno feminino preto e
com saltos consideráveis, enquanto estou no look almoçar com sogra: um
vestido social rosa-bebê, uma sandália de salto fino branca e uma bolsinha
combinando. Arthur ficou pelo menos cinco minutos me analisando
silenciosamente quando entrei para discutirmos sua agenda. Felizmente,
conseguimos resistir ao sexo frenético e a pomada está intacta em minha
perseguida.
— Você está linda! — digo, a abraçando.
— Você que está. Não preciso repetir sobre esse corpo, né? — Ela
sorri e abraça minha sogra. — Bom, eu estava pensando em uma comida
mais light para o dia de hoje, estão de acordo? — pergunta.
— Eu aceito! Sinto que preciso parar de comer como uma maluca —
digo e elas riem.
Nós caminhamos para um restaurante fitness com um cardápio
excelente. Eu peço uma salada caesar com frango, um suco de acerola e todas
me acompanham.
— Seus pais já voltaram para Nova York? Deus, Mari, como você
pode não morar lá? New York City é um luxo! — Alice comenta..
— Eu prefiro minha casinha aqui em Belo Horizonte. Além do mais,
se morasse lá, não teria encontrado Arthur — respondo. — Gosto de Nova
York apenas para passeio, não me imagino morando num lugar como aquele.
É muita confusão, uma cidade que não dorme. Eles ainda não foram embora,
inclusive, Arthur sugeriu que pudéssemos passar o final de semana na casa de
vocês, para todos se conhecerem — informo.
— Claro, querida, adorarei receber a todos. Estou tão feliz! — Lúcia
exclama.
— Minha mãe sente falta de visitas. Ela ama casa cheia e sempre quis
ter uma nora participativa — Alice explica.
— Vocês são incríveis. Adoraremos ir. Eu amei a casa de vocês, me
senti tão bem e em paz lá.
— Lá é realmente assim, Mari, a calmaria completa. Acho que não
sairei de lá nem quando me casar. Não que eu esteja noiva, Eduardo é um
pouco lento nesse quesito — Alice comenta, rindo. — Por falar nisso, estou
feliz com o divórcio oficial de Arthur.
— Todos estão — afirmo. — Foi inesperado, já que Laís disse que
não iria assinar.
— Ela é terrível — Lúcia diz, fazendo uma careta. — O que importa é
que agora meu filho encontrou você e estamos todos felizes. Isso merece um
brinde de suco de acerola!
— Um brinde aos recomeços — Alice propõe, sorridente, levantando
seu copo, e brindamos aos recomeços. Sinto-me tão à vontade com elas,
como se eu as conhecesse há anos.
Nós passamos o resto do almoço falando banalidades e rindo. Quando
dá meu horário, nos despedimos e combinamos sobre o final de semana.
Entro no carro e saio do shopping completamente feliz. Eu ganhei
uma nova família e minha vida ganhou um novo sentido desde que Arthur
entrou nela.
Parada, esperando o sinal abrir, sinto vontade de ligar para minha
mãe. Digito os números, coloco no viva-voz e sorrio quando ela atende no
primeiro toque.
— Oi, filha.
— Oi, dona Ana, como estão? — pergunto.
— Muito bem. Estamos na piscina do condomínio e seu pai está
bebendo cachaça como se fosse água.
— Ele está bêbado? — indago, rindo.
— Não, é mais fácil ele ficar bêbado com água do que com cachaça
— ela responde.
— Ótimo. Só liguei para saber como vocês estão e avisar para não
prepararem o jantar, pois estou inspirada hoje, então eu mesma farei.
— Oh, claro que está inspirada! A cidade inteira escutou seus
gemidos, Mariana, eu tive que enganar seu pai dizendo que o barulho estava
vindo dos vizinhos do lado esquerdo e não do apartamento de Arthur. Ele até
ficou preocupado com a perturbação da sua noite de sono...
— Oh, mãe, isso é tão desconcertante! Você poderia não me dizer
essas coisas? É vergonhoso — peço e ela ri.
— Vergonha é gemer daquela forma. Esse Arthur deve ser foda
mesmo... Deve ter um...
— Mãe!
— Até mais tarde, filha. — Ela encerra a ligação e o sinal abre.
Sorrio.
Coloco uma música qualquer e continuo dirigindo até parar em outro
sinal, onde percebo que estou prestes a enfrentar um possível
engarrafamento. Dessa vez decido ligar para Arthur, que também atende
prontamente.
— Oi, mocinha.
— Oi. Só liguei para dizer que te amo e que já estou voltando ao
trabalho. Me desculpe pelo pequeno atraso. Alice apareceu para o almoço e
nos perdemos na conversa. E o trânsito está um pouco caótico — explico.
— Você nem está atrasada, princesa, não se preocupe. Eu te amo,
Mari — fala.
— Tudo bem. Beijos, Tutu — digo e desligo. Estou muito apaixonada
mesmo, não é possível. Eu sou louca por esse homem, quero estar perto 24
horas por dia. Isso é ser possessiva? Será que estou sendo invasiva?
O sinal abre e decido pegar um atalho para conseguir não atrasar
tanto. Não pelo Arthur, mas pelas meninas. Não quero que pensem que eu
posso chegar a hora que quiser e receber benefícios apenas por ser namorada
do chefe. A estrada, felizmente, está pouco movimentada e eu consigo dirigir
mais rápido. Pelo retrovisor noto um carro preto se aproximar em alta
velocidade e, quando se emparelha ao meu carro, meu sangue gela
completamente. Há três homens, contando com o motorista, e dois deles
estão com armas apontadas para mim.
Num ato de loucura e impulsividade, acelero, e eles disparam tiros
nos pneus do carro. Eu começo a tremer, mas tento segurar o choro quando
meu carro para por completo e os vejo descendo.
— Desce rápido, se não quiser morrer — um homem mascarado diz,
apontando a arma, e eu desço.
— Porra, a chefa não disse que era uma gostosa — outro mascarado
grita e eu mal consigo manter minhas pernas de pé ou raciocinar. É algo que
eu nunca pensei que viveria...
— Cala a boca, animal! — O primeiro mascarado me pega pela
cintura e coloca a arma em minha cabeça, enquanto me carrega até o carro
deles.
O motorista dá uma gargalhada assim que sou posta entre os dois
brutamontes no banco de trás e eu começo a temer.
— O que vocês vão fazer? Levem meu carro, meu dinheiro, levem
tudo, apenas me deixem sair — imploro, tentando me desvencilhar.
— Cala a boca, cadela! Nós estamos indo dar uma voltinha. É uma
pena ter que destruir um rosto tão lindo... — ele diz e eu luto mais forte para
que ele me solte, porém ele me agarra com força e sou obrigada a ficar
imóvel.
— É, dona Mariana Barcelos, nós vamos dar uma voltinha, está
preparada? — o motorista pergunta e eu começo a chorar. — Coloque-a para
dormir, Tizil.
— Isso é um sequestro? Não é um assalto? Vocês sabem meu nome.
Como? — pergunto, chorando.
— Anda, porra, coloca a cadela para dormir! — o motorista ordena.
— Não quero ouvir mais um pio e nem choradeira, entendido?
Minha última visão é de um lenço sendo colocado em meu nariz.
É três da tarde quando meu instinto vence.
Há algo errado com Mariana. Ela deveria ter chegado há duas horas.
Já liguei centenas de vezes para seu celular e não obtive qualquer tipo
de resposta, nem mesmo uma rejeição à minha ligação.
O desespero me toma por completo e decido dar por encerrado todos
os meus compromissos pelo resto do dia.
— Senhor Arthur, desculpe-me parecer invasiva, mas Mari não volta
hoje? — Júlia pergunta quando passo pela recepção.
— Eu estive me perguntando isso por duas horas, Júlia. Ela não
atende minhas ligações, algo está errado. Estou indo em busca dela —
informo.
— Nossa! Se não for pedir muito, o senhor poderia nos manter
informadas? — Carla pede.
— Assim que eu obtiver respostas entro em contato — aviso.
Após me despedir e passar algumas coordenadas a elas, desço ao
subtérreo e entro em meu carro. Não quero desesperar os pais dela e nem os
meus antes de saber o que realmente está acontecendo, então ligar para eles
não é uma opção. Minhas únicas opções são delegacias e hospitais. Mari
sempre foi responsável com o trabalho, ela certamente avisaria se qualquer
imprevisto tivesse acontecido, é isso que está me deixando preocupado.
Tento ligar para seu celular uma última vez, e dessa vez atende um
homem.
— Eu poderia falar com Mariana? — peço.
— Cara, eu acabei de achar esse telefone dentro de um carro na
estrada do contorno, estava ligando para a polícia nesse exato minuto — o
homem responde.
— Como assim? — pergunto, tentando manter o controle.
— Estava passando de carro com a minha esposa e achei estranho
um carro parado, vazio e com a porta do motorista aberta. Paramos para ver
se alguém estava precisando de ajuda ou até mesmo se era um assassinato,
mas tudo que encontramos foi o carro vazio, uma bolsa e o celular — o cara
diz, me deixando gelado.
— Eu estou indo. É o carro da minha namorada — informo,
transtornado.
— Devo chamar a polícia? — pergunta.
— Por favor. Chego em cinco minutos. Obrigado por atender —
agradeço e tento me concentrar em chegar vivo lá.
Divido minha atenção ao trânsito, rezando a São Francisco de Assis,
que se tornou meu santo preferido. Ele há de ajudar que nada de ruim tenha
acontecido à minha mocinha. Eu preciso que ela esteja bem...

Quando chego ao local, o homem ainda está lá com sua esposa.


— Arthur Albuquerque. — Dou um aperto de mãos em cada um.
— Aldo, e essa é minha esposa, Jéssica — eles se apresentam.
— Ficamos aqui para não correr o risco de levarem tudo. Parece que
foi sequestro, cara. Está tudo aqui: a chave do carro, a bolsa... — ele fala e eu
começo a analisar o carro.
Abro a bolsa de Mari e está tudo no lugar. Sua carteira está com
dinheiro, os cartões estão todos dentro. Isso deixa em evidência o sequestro.
Puta merda! Minha Mari!
— Está tudo aqui. Porra! — digo, exasperado.
— Nós já ligamos para a polícia, já devem estar chegando. Há alguma
suspeita? — a mulher pergunta.
— Não... — digo e logo Laís vem à minha mente. Ela não faria isso,
faria? — Na verdade, há minha ex-mulher. Só é difícil imaginar que ela faria
algo estúpido como isso.
— Vai dar tudo certo, cara, você vai encontrá-la bem — Aldo fala,
batendo em minhas costas. Queria ter essa esperança. Agora tudo que sinto é
medo.
Demora uns dez minutos até que a polícia chega e, felizmente, Aldo e
sua esposa me ajudam a explicar o ocorrido. Quando dou conta, estamos
envolvidos em uma megaoperação e há ao menos seis carros da polícia civil
em torno de mim. É assustador e ao mesmo tempo reconfortante. Alguns
peritos examinam todo o carro e o levam para a delegacia, enquanto as
viaturas saem na busca.
Eu sou obrigado a acompanhar os policiais, que colheram todas as
informações enquanto seguimos até a delegacia. Pelo menos daqui consigo
acompanhar o serviço de inteligência, que busca imagens de câmeras de
segurança.
São quase cinco da tarde e a falta de notícias me corrói a cada
segundo. Relutante, ligo para nossos familiares e informo o ocorrido.
— Nós temos algo — uma policial informa e eu caminho até ela, que
me mostra um vídeo onde vejo a cena mais terrível da minha vida. Dois
homens mascarados levando minha Mari, e um deles com uma arma
apontada para a cabeça dela.
— Porra! — digo para mim mesmo.
— Já repassei todas as informações para as viaturas. Eles vão
encontrá-la, senhor. Estou tentando buscar todo o trajeto que eles fizeram
após isso — ela fala, na tentativa de me tranquilizar.
Me torno insano, andando de um lado para o outro. Ficar aguardando
é a pior parte. Sinto-me um completo inútil.
Já são seis da noite e está escurecendo quando nossos pais chegam à
delegacia, coincidentemente juntos.
— Aqui não é o melhor lugar para se conhecerem, mas esses são os
pais de Mari — os apresento aos meus pais e Alice.
— Oh! Meu Deus! Onde está a minha menina? — Minha sogra
questiona desesperada, sendo amparada pelo meu sogro. — Diga que ela está
bem! Pelo amor de Deus!
—Dona Ana, se Deus quiser, Mari será encontrada bem. Há muitas
pessoas trabalhando e eu farei tudo o que estiver ao meu alcance — digo na
tentativa de tranquilizá-la, porém, em minha voz, o medo está explicito. —
Vamos encontrá-la, prometo a vocês! — É preciso manter a fé e a calma, mas
está difícil o bastante.
— O que houve? — Alice caminha até mim, dando um abraço
reconfortante.
— Sequestro premeditado. Não levaram nada e nem pediram nada até
o momento.
— Deus, Arthur! — ela diz.
— Não comente com ninguém, mas há um vídeo onde dois homens a
levam e um deles tem uma arma apontada para a cabeça dela, Alice. Eu estou
desesperado. Não aguento mais ficar esperando por notícias — desabafo.
— Vamos atrás dela! — ela fala.
— Eu não sei se é o certo. — A minha razão teima em dizer essa
merda.
— Deixamos nossos pais e os pais dela aqui, se eles obtiverem
notícias entrarão em contato conosco. Vamos rodar por lugares isolados, pelo
menos a sensação de inutilidade some, Arthur. Ela é minha cu... — Alice diz,
tirando-me um sorriso. Eu não posso viver sem a cu dela, definitivamente.
Passo pelo menos meia hora explicando o ocorrido a todos, e a ideia
de Alice ganha força dentro de mim.
Eu vou em busca da minha mocinha e só voltarei quando encontrá-la.
Acordo em um lugar completamente estranho. Meus olhos tentam se
ajustar à escuridão e minhas mãos varrem o chão, ou seria grama?! A
primeira coisa que percebo ao fazer movimentos com os braços é uma dor
esmagadora nas costelas, do tipo que dói só de respirar.
Com muita dificuldade, consigo ficar de pé. Meu corpo inteiro dói.
Como eu não me lembro de nada? Por Deus, será que eu fui estuprada?
Pânico corre através de mim. Começo a passar as mãos pelo meu corpo e,
felizmente, não sinto nada em minhas partes íntimas. Minha roupa está
completamente no lugar, meus saltos estão jogados ao meu lado e meus
cabelos estão extremamente embolados. Passo as mãos pelo rosto e grito ao
sentir algo viscoso e muita dor em meus olhos. Meus lábios também doem
significativamente.
Estou no meio de um matagal e não faço ideia de como sair daqui.
Minhas pernas estão bambas e me sinto destruída de dor em todas as partes.
Minhas costelas são onde está a maior concentração de dor. É uma dor
fodida, a pior que já senti.
Ao longe, consigo ver um poste de iluminação. Isso me faz tirar
forças do olho do cu para caminhar. A cada passo que dou, tornar-me
portadora de uma arma se torna uma ideia mais fixa em minha mente.
Quero chorar, mas só de pensar na dor que isso vai trazer à minha
costela, deixo a ideia de lado. Eu sou forte, sempre fui e sempre serei, digo a
mim mesma. Na minha mente agora só há duas pessoas: Arthur e Laís.
Arthur é o que me faz continuar a longa caminhada, e Laís... Laís é quem está
fazendo a adrenalina correr forte em minhas veias, estou certa de que ela é a
“chefa”. Não há outra pessoa que me odeie nessa cidade e seja louca o
bastante para isso, apenas ela. Eu vou descobrir, e quando descobrir ela vai
estar fodida, vou transformá-la em um personagem de zumbi do The Walking
Dead. Esse pensamento me faz parar para calçar os sapatos. Estou fodida?
Estou! Estou quebrada? Estou! Estou um monte de merda nesse momento,
mas se tem uma coisa que eu tenho é glamour, e eu não sou obrigada a
parecer um espantalho completo. Pisando com dificuldade na grama, devido
ao salto de quase 15 centímetros, sigo o fluxo, rezando para não aparecer
nenhuma espécie de animal.
O glamour custa caro quando chego ao asfalto e tento respirar. Meus
pés vacilam, mas tomo uma lufada de ar e levanto a cabeça. Preciso de um
banho, alguns comprimidos e um bom sexo. Doce ilusão eu achar que Arthur
vai querer me tocar essa noite, mas a esperança é a última que morre, e eu sou
brasileira, não desisto nunca mesmo.
Não faço a mínima ideia de onde estou. Continuo andando em linha
reta, em busca de alguma civilização ou até mesmo um telefone público. Na
verdade, eu gostaria de achar um espelho, para tentar dar um up no visual, eu
preciso ver se estou com os olhos roxos. Há sangue no meu lindo vestido
Gucci e em minhas mãos. O vestido me machuca profundamente. Ele custou
o que eu ganharia me prostituindo durante um mês, se fosse uma puta de
luxo.
Minhas lindas sandálias da Carmen Steffens, que eram brancas,
também machucam meu coração por estarem um pouco estragadas, sujas com
terra e grama. Eu espero que meu carro não tenha sido roubado e que ao
menos tenham tido a consciência de deixar minha bolsinha Louis Vuitton
intacta.
Jesus me defenda, agora só vou andar com roupas baratas! Esse look
de impressionar a sogra me fodeu no dia de hoje! Ao menos estou viva e
minhas partes íntimas estão intocadas, principalmente meu ânus.
Estou com uma fome de trinta mendigos e uma sede do deserto. Eu
daria muitas coisas por um Mc Lanche agora, inclusive mostraria as tetas e a
bunda em troca disso.
Após percorrer uma longa distância, gemendo de dor, avisto um
orelhão. Eu quero correr, mas me detenho. Jogo meu cabelo para o lado e
sorrio triunfante enquanto caminho como uma modelo da Victoria’s Secret,
sou a própria Angel nesse momento. A quem eu quero enganar? Ninguém!
Sou apenas um lixo humano que acabou de ser libertada de um sequestro e
está toda machucada.
Será que Arthur ainda vai me achar sexy? Foda-se, ele vai, nem que
eu tenha que rasgar meu vestido caro e ostentar minha lingerie sexy. Talvez,
tendo um primeiro vislumbre do meu corpo, ele se esqueça de olhar o meu
rosto, que certamente aparenta estar assustador como um filme de terror.
Tá, eu me sinto tola pensando esse monte de merda agora, mas se eu
pensar no que realmente aconteceu, não chegarei a lugar algum. O que me
move é a loucura, ela é a única que está comigo nesse momento.
Pego o telefone e leio as instruções de como fazer ligação a cobrar,
acontece que a inteligente aqui só sabe de cor o número da própria casa. Eu
tento, mas como previsto, ninguém atende. Todos devem estar desesperados
atrás de mim, obviamente terei que dramatizar ainda mais o ocorrido, só para
ficar sendo mimada por uns dias, principalmente para deixar Arthur
descompensado.
Puta merda, não é possível que não haja uma única casa nesse lugar!
Eu devo estar em algum condomínio de chácaras e sítios. Onde já se viu estar
em uma rua asfaltada sem casas? Deve ser um loteamento novo, deve ser a
casa do caralho essa merda de lugar, o cu do Judas, o fim do mundo!
Respiro fundo mais uma vez e tomo mais um fôlego para seguir
minha caminhada. A chuva começa a cair e eu amaldiçoo o destino e São
Pedro. A roupa gruda ainda mais em meu corpo e, em um determinado
momento, retiro os saltos e decido mandar o glamour pra casa do caralho. Já
estou molhada e destruída, então é impossível manter a classe e elegância.
— Sapo cururu, na beira do rio, vai tomar no cu, vai pra puta que
pariu! — cantarolo, chorando, para não ficar com medo. Eu sinto que se olhar
para trás vou ver a Samara de O Chamado me seguindo, ou talvez o Chucky.
As folhas das árvores mexem com o vento e eu quero sair correndo igual um
peido. Eu tenho certeza de que há fantasmas aqui, espíritos, sei lá. Será que
alguém já morreu nesse lugar? Tá amarrado!
Andando por mais ou menos uns vinte minutos, sentindo frio, fome e
sede, ouço um som de carro se aproximar. Inshallah! Eu quero é ouro! Glória
a Deus! Espero que não seja um estuprador ou um casal que queira transar
escondido. Odeio ser empata foda. Não desejo para ninguém ter uma noite de
sexo interrompida.
O carro surge e é igual ao carro de Arthur. Uma freada me faz pôr a
mão sobre o coração.
— Mari! — Seu grito quase me faz chorar de emoção e o vejo sair do
carro correndo. Paraliso, completamente encharcada.
— Cuuuu! — A voz de Alice me faz chorar de raiva.
Foda-se, ele tinha que ser meu super-herói sozinho!
Ele se aproxima e eu tenho meus pés congelados ao chão. É o
momento de começar a dramatizar. Ele me pega em seus braços e me aperta
forte, fazendo-me gritar de dor. Essa parte certamente não é drama, só a
próxima.
— Minhas costelas! — choramingo. — Quem é você? — pergunto,
tentando ser atriz e ganhar o Oscar.
— Você está brincando, certo? — Ele olha para meu rosto e abre os
olhos com espanto. Ok, eu deveria ficar nua agora?
— Não. Quem é você? Solte-me! Se for me seduzir e tentar um sexo
selvagem até deixo, porque você é gato, mas vai ter que ser de quatro, porque
de outra forma está meio foda. Talvez dê pra fazer só um boquete, não sei se
aguento sexo nesse momento — digo.
— Mari, sua atuação não convenceu agora. — Ele chora, passando as
mãos em meu rosto, e eu paro de brincar, tomada pela emoção. — O que
fizeram com você, amor? Seu lindo rosto...
— Você me encontrou. — Choro, o abraçando, e o solto rápido,
sentindo a dor insuportável. — Está doendo pra caralho! Minha roupa custou
mais de mil reais e minha sandália seiscentos reais — choramingo. — Você
sabe se meu carro está a salvo e se minha bolsa estava dentro dele? É uma
Louis Vuitton. — Choro ainda mais e ele me encara, incrédulo.
— Você está falando sério?
— Eu estou. Amava esse look, minha sandália era tão perfeita com
esse lacinho. — Ele suspira.
— Eu te darei uma de cada cor, amor, eu comprarei a fábrica desse tal
Luís, isso não importa agora. E seu carro estava intacto, nada foi levado —
diz, suspirando. — O que fizeram com você? Eu vou matar quem fez isso,
Mari.
— Eu fui cortar caminho para chegar mais rápido ao trabalho e um
carro com três homens mascarados me cercou e fizeram-me descer. Achei
que era um assalto, mas eles não levaram nada, apenas me pegaram e me
colocaram dentro do carro. Um deles disse que a chefa não tinha informado
que eu era gostosa e o outro disse que era uma pena ter que estragar meu
rosto. Eles colocaram algo em meu nariz e eu não me lembro de nada mais.
Acordei no meio de um matagal e vim andando em busca de ajuda. — Choro,
e não é drama. Foi fodido. Eu podia estar morta feat enterrada nesse
momento. Ele me vira de costas e abre o fecho do meu vestido. — O que está
fazendo? Pensei que teria que ser mais persuasiva para conseguir sexo, e sua
irmã está bem ali, encostada em seu carro — digo e ele dá um riso fraco.
— Verificando você, amor. Eu envelheci cem anos hoje, Mari. Há
uma grande quantidade de policiais atrás de você e eu fui o único a encontrá-
la, São Francisco está comigo — diz com admiração e em seguida grita: —
Porra, Mari, há dezenas de hematomas no seu corpo! — Rodeando meu
corpo, ele verifica cada parte chorando.
— Não chora. Estou bem. Eu consegui andar até aqui. Precisamos sair
da chuva — tento tranquilizá-lo.
— Será que eles... — Ao ver seu rosto tomado por dor, não deixo que
ele termine a pergunta.
— Não, eles não fizeram. Foi a primeira coisa que verifiquei. Entrei
em pânico só com a possibilidade. Estou bem, Tutu, estou bem — digo,
limpando suas lágrimas e segurando as minhas.
— Você não está bem, Mari, você é apenas a mulher mais forte que
eu já conheci. Vou levá-la ao pronto atendimento e vou cuidar de você —
informa, fechando meu vestido e me pegando no colo.
— Dói, Arthur, apenas me deixe ir caminhando — peço e ele me
coloca de volta ao chão. Segurando minha cintura, caminhamos até o carro, e
Alice voa até mim.
— Cu, ainda bem que te encontramos.
— Alice, ela está machucada. Não esmague ainda mais — Arthur
repreende e eu quase o agradeço.
— Está tudo bem — informo aos dois. — Obrigada por vir, cu, você é
minha super-heroína e Arthur é meu super-herói — digo. — Nós deveríamos
entrar no carro, estamos completamente molhados.
— Não importa. Já avisei a todos que te encontramos. Deus, Mari, seu
rosto... — ela fala com lágrimas nos olhos.
— Vamos levá-la a um hospital e teremos que ir até a delegacia para
você depor, Mari. Ou, talvez, eles possam ir ao hospital — Arthur diz.
— Tudo bem. Estou dolorida e com fome, você passar no
McDonald’s? — peço, batendo os dentes de frio.
— Eu posso fazer o que você quiser, apenas não quero passar por esse
susto novamente — fala e me puxa para um beijo molhado, literalmente.
Estamos bem envolvidos quando Alice arranha a garganta.
— Mari precisa de cuidados agora, Arthur.
— Sim. Ainda bem que você está viva, amor, ainda bem que te
encontrei — ele choraminga e me aperta novamente. Luto contra a dor
apenas para não sair dos seus braços. Inspiro seu perfume e o aperto mais
forte. Eu amo esse homem, absurdamente.
— Eu te amo, Tutu, obrigada por estar aqui por mim — agradeço.
— Eu sempre estarei, não deixarei que nada de ruim aconteça a você
mais. Prometo — diz, me acomodando ao carro e me dando seu casaco para
me cobrir.
Quem precisa de policiais quando se tem um homem desses?
Ninguém!
Ver meu rosto com marcas avermelhadas e roxas, fez com que a ficha
caísse. Desde então tenho estado enjoada, sentindo-me verdadeiramente
doente.
Uma fodida alteração no meu exame de sangue e eu tive que passar a
noite toda em observação, com o agravante de Arthur e meu pai serem
impedidos de passar a noite por mau comportamento. Agora me responda,
quão problemáticos os dois são? Quanto tempo vai demorar até eu
enlouquecer de vez? Não faço a mínima ideia.
A noite foi tumultuada. Recebi a ilustre visita de um delegado no
hospital, passei pelo menos quarenta e cinco minutos dando os mínimos
detalhes dos acontecimentos e Arthur fez questão de colocar Laís como
suspeita, já que ela nos ameaçou algumas vezes. Apenas estou ansiosa para
descobrirem. Vou até começar a fazer MMA, porque quando eu obtiver a
confirmação, vou socá-la de todas as formas!
Estou acordada a mais ou menos cinco minutos, olhando para o teto.
O barulhinho do soro com medicação caindo gota por gota está me irritando o
bastante para querer arrancar essa merda do braço.
Não há ninguém para conversar, ninguém para brigar, é entediante
ficar presa aqui. Minhas costelas estão protestando de dor, e minha bunda,
provavelmente, está quadrada como a do Bob Esponja. Meus olhos devem
estar absurdamente horrorosos, como se eu fosse um panda diferenciado. No
lugar do preto que o panda possui em torno dos olhos, os meus certamente
estão roxos, uma cena maravilhosa!
Tento me levantar um pouco, apenas para ficar sentada, mas, quando
faço, uma tonteira sinistra quase me faz cair da cama. Por sorte, a enfermeira
lembra-se da minha existência e surge no quarto. Por que diabos ela está
corada? Pergunto-me e logo vejo a resposta entrando em seu impecável terno
chumbo.
— Olá, mocinha.
— Olá, você — respondo, corando também. É, até mesmo as pessoas
“cara de pau” às vezes coram com uma visão dessas.
— Como está se sentindo? — Arthur pergunta, beijando minha testa.
— Quero ir para casa logo! — informo e ele sorri. Ouço a enfermeira
suspirar e a encaro como uma psicopata perfeita.
— A senhorita está bem? Sentiu alguma coisa? — ela pergunta,
fingindo preocupação e demonstrando serviço. Meu cu! Estou certa de que
ela adoraria me ver morta nesse momento, só para consolar esse pedaço
quente de homem.
— Tontura ao me sentar, apenas isso.
— Vou pedir ao doutor para vir examiná-la, se tudo estiver bem,
provavelmente terá sua alta — ela informa e nos deixa.
— Cadela!
— Mariana! — Arthur adverte com um sorriso. — Por que está a
chamando de cadela?
— Porque ela está te despindo com os olhos, ela suspirou quando
você riu.
— Por que eu não percebi isso? — pergunta, duvidoso, e eu sorrio. —
Oh, eu já sei a resposta. Eu não percebi porque você é a única mulher que
tem toda minha atenção. — Esse homem...
— Eu só queria cavalgar em seu pau agora — choramingo.
— Você é tão romântica, Mari, às vezes fico até embasbacado com o
quão romântica consegue ser. É um doce — responde, rindo. — Como
passou a noite, mocinha?
— Sozinha e desmaiada pela quantidade de medicação. — Sabe, foi
uma maldita merda dormir sem você.
— Foi culpa do seu pai! — protesta.
— Vocês dois pareciam ter doze anos de idade, Arthur. É óbvio que
seriam impedidos de passar a noite. Deus, Arthur, vocês estavam tentando
subornar o médico para ver quem iria ficar comigo!
— Eu pagaria apenas para dormir com você aqui, é justo — explica.
— Você é advogado e estava agindo totalmente fora da lei.
— Seu pai também! — defende. — Ele já é até aposentado.
— Não justifica. Mas, tudo bem, eu espero não dormir aqui hoje.
Quero ir para casa.
— Para a minha casa! — enfatiza, me fazendo sorrir.
— Para a sua casa realmente. E você vai fazer amor lento comigo.
— Ora, amor, hein? — o médico diz, me deixando boquiaberta.
Quando ele entrou? — Vamos fazer alguns exames e então veremos se a
senhorita está livre para amar — ele fala e Arthur parece um pouco chocado.
O médico fica pelo menos dez minutos apertando meu corpo em
diversos pontos e retira a medicação da minha veia. Passo por mais um
exame de sangue e logo chega o meu café da manhã de hospital. Felizmente,
sou surpreendida por torradas, patê e suco de laranja.
— Dói até para comer — digo, gemendo.
— Fraturou as costelas, princesa, não há muito o que fazer, é um dos
piores lugares para fraturar.
Quarenta minutos depois o médico volta com um sorrisinho.
— Senhorita Mariana, você poderá ir para casa. Eu receitei um
analgésico anti-inflamatório para você. Ouça com atenção! Você só pode
tomar esse, nenhum outro. Vou precisar que volte dentro de quinze dias para
repetirmos os exames.
— Está tudo bem com ela, doutor? — Arthur parece preocupado.
— Sim, nada que deva se preocupar agora. Apenas certifique-se dela
se alimentar bem, evitar exercícios físicos, evitar andar muito e tomar a
medicação nas horas marcadas.
— Esse “evitar exercícios” inclui tudo? — pergunto.
— O que você quer dizer com tudo? Sexo? — o médico pergunta,
rindo.
— Exatamente. Sexo é...
— Mari! — Arthur repreende, passando as mãos pelos cabelos.
— Ah, tá, Arthur, você não quer saber isso também? — Rio e volto a
olhar para o médico. — Conte em meu ouvido, doutor, e eu usarei isso contra
esse meliante!
— Olha, o relacionamento de vocês deve ser bastante interessante. Há
quantos anos estão juntos?
— Menos de um mês? Um mês? — pergunto, pois não sou boa em
fazer as contas...
— Um mês ou um pouco mais. Vou conferir — Arthur responde,
rindo.
— Um mês? Vocês estão brincando! — o doutor diz, demonstrando
susto, e não respondemos. — Ok, uau, um mês e... enfim, vamos aos fatos.
Vocês podem fazer sexo moderado, lento, como a senhorita estava propondo
quando cheguei — brinca e eu quero beijá-lo na boca de emoção. Porque,
sinceramente, se eu e Arthur tivermos que nos abster de sexo mais uma vez
esse ano, eu me mato.
Primeiro não fizemos porque ele não queria casual, aí fizemos um dia
e no outro minha periquita estava pegando fogo. Foda-se, apenas precisamos
de mais sorte na nossa vida sexual. Parece que fizeram uma bonequinha de
vodu para mim e estão costurando sua vagina constantemente.
— Eu amo o senhor, você sabe, né? Amo-te eternamente! — digo e
ele dá uma gargalhada.
— Me desculpe, camarada, mas sua mulher me ama!
— Oh, eu acredito que ela me ame mais. Sou o super-herói dela —
Arthur fala, piscando um olho.
— É, doutor, realmente eu o amo mais, apenas por esse pequeno
detalhe.
— Vamos para casa, mocinha — Arthur diz, me ajudando a descer da
cama, e novamente fico tonta. — Está tudo bem?
— É apenas porque fiquei muito tempo deitada — explico e ouço o
médico rir.
— Bom, vou deixá-los. Aguardo a senhorita em quinze dias para
fazermos uma reavaliação e novos exames.
— Muito obrigada, doutor, por todos os cuidados e pela simpatia —
agradeço, dando um aperto de mão nele.
Após Arthur agradecê-lo, ele enfim se vai, e nós também.

Arthur me deixa em casa e, infelizmente, segue para uma reunião


importante. Mas, não sem antes me acomodar em minha banheira de
hidromassagem.
Após tomar um banho demorado, sigo para o meu querido e amado
sofá retrátil, enquanto meus pais tentam me mimar de todas as maneiras
possíveis.
Nesse momento estou almoçando, mas não da maneira convencional,
meu pai está dando comida na minha boca, quase de aviãozinho. Estou quase
pedindo para minha mãe pegar um leque e me abanar. Seria bom Arthur aqui
também, ele poderia massagear meus pés.
Fiquei tanto tempo só, eu por mim mesma, e agora estou aqui,
rodeada das pessoas mais importantes da minha vida, sendo cuidada.
— Está satisfeita, filha? — meu pai pergunta, mostrando o prato
vazio, porém, não me sinto satisfeita. Estou faminta!
— Seria incômodo dizer que quero mais? Eu posso comer sozinha! —
digo e ele sorri.
— Vou servir mais — fala e a campainha toca. Tento virar para trás,
para ver quem é, mas as benditas costelas doem infernalmente.
— Chegaram para você, filha — minha mãe diz, trazendo um enorme
buquê de flores brancas, e eu pego o cartão.

“Minha querida, estimamos melhoras a você. Com amor, Lúcia, Alice e


Mário.”

Choro, emocionada com o carinho, e logo depois devoro mais um


prato de comida.
Minha mãe faz um pavê de Sonho de Valsa, que eu choro comendo de
tão bom, e passamos todo o dia no sofá, assistindo filmes.
Já está anoitecendo quando a campainha toca novamente. Dessa vez
minha mãe surge acompanhada do zelador. Há dois buquês de flores, um de
flores coloridas e o outro de rosas vermelhas. Há também três sacolas escritas
Carmen Steffens.
Primeiro pego os cartões.

“Mari, torcemos pela sua melhora, volte logo! Trabalhar sem você é
extremamente sem graça. Beijos carinhosos, Jú e Carla.”

“Mesmo se o médico nos impedisse de fazer sexo, eu ainda daria um jeito de


fodê-la. Espero que esteja sentindo-se melhor, hoje vou te usar! P.S.: estou
aprendendo a ser romântico como você.
Me saí bem? Te amo.”

O último me faz rir e logo estou chorando de dor. PAU NO MEU CU!
EU VOU MATAR QUEM ME ESPANCOU!
— Arthur enviou os dois? — minha mãe pergunta, sorrindo.
— Não, apenas um. O outro é das meninas do trabalho — respondo.
— Agora as sacolas!
Ela retira três caixas de sapatos e me entrega.
Há apenas três sandálias idênticas a que eu estava usando ontem e tive
que jogar fora hoje. Uma branca, uma rosa e uma preta.
— Oh, Deus! — Tapo minha boca com a mão, completamente
chocada. — Estou começando a achar que seu pai não me ama como deveria.
Ele nunca fez essas coisas para mim — minha mãe fala.
— Fiz sim, não excessivamente, mas fiz. Te dei um apartamento
quase de frente para o Central Park, cadela! — ele responde, irado.
— Cadela é a senhora sua mãe, que Deus a tenha nas profundezas! —
Minha mãe ri e pega algo em uma das sacolas e me entrega, é outro cartão.
Bom que o relacionamento deles é super saudável de se ver. Pobre vovó, que
Deus a tenha!

“Eu disse que te daria uma de cada cor, acontece que só havia essas três
cores. Amo-te, mocinha. Você é meu sol.”

Começo a chorar como uma louca e meu pai me consola, sem


entender o motivo exato. É apenas pelo fato de Arthur ser extremamente
perfeito e eu estar certa de que, se algo nos separar, vou tomar no cu como
nunca tomei em toda minha vida. Acho que nunca serei capaz de superar se
um dia o perder.
— Não chora, princesinha.
— E se ele me deixar um dia? — digo aos prantos.
— Eu o matarei, filha.
— Promete? — pergunto.
— Prometo, bebê. Apenas pare de chorar — papai diz e eu solto um
suspiro, contendo o choro.
— Mas, e se...
— Cala a boca, Mariana! Suas costelas não doem para falar merda,
né?! Eu vou descer para a academia, ninguém merece conviver com essa
loucura! — minha mãe, a normal, diz, indo para o quarto após colocar meus
buquês nos jarros. Aliás, preciso comprar mais alguns, pois estou quase
abrindo uma floricultura.
— Não liga para sua mãe, ela não sabe o que diz, princesinha do
papai.
— O que está acontecendo? — A voz de Arthur quase me faz saltar
do sofá.
— Ele tem a chave do seu apartamento?
— Eu tenho, senhor Walter. Vou me casar com sua filha em breve
também, só para informar — Arthur responde, rindo, e meu pai coloca a mão
sobre o peito, enquanto eu limpo as lágrimas.
— Eu estou passando mal!
— Mal é meu ânus, Walter! Agora vá se trocar e queimar essa
cachaça na academia comigo! Afinal, sou inteirona ainda, os manos piram na
minha sedução. — Minha mãe sorri e meu pai sai como um cachorrinho. —
Arthur, meu lindo e delicioso genro, como foi seu dia? Você sabe que existe
dia da sogra, não sabe? — ela pergunta.
— Claro que sei, amada sogra. — Ele a abraça e ela inspira seu
perfume, me deixando petrificada.
— Só disse para lembrá-lo que esse dia existe e lembrá-lo de que é o
melhor genro do universo.
— Eu sei que sou! — Ele sorri, fazendo um cafuné nos cabelos dela.
Ok, Brasil, apenas parem o mundo que eu quero descer!
— Ah, me poupem. Eu estou ficando enjoada já — digo. — Isso é
tudo por conta dos buquês e das sandálias?
— Jamais! — minha mãe se defende, rindo. — Agora, falando sério,
há alguma notícia sobre as investigações?
— Ainda não. Mas eu contratei um detetive particular à parte,
descobriremos quem fez isso com a minha mocinha — ele diz e caminha até
mim, se acomodando ao meu lado. Como eu não sabia do detetive?
— Ulalá, isso é quente! Walter deveria aprender a ser esse tipo
dominante, que resolve tudo sem perguntar — mamãe diz.
— Você está passando dos limites hoje, Ana! Vamos malhar essa
bunda! — papai fala, a puxando pelos braços e nos deixando a sós.
Nós não fizemos sexo hoje.
Nós não fazemos sexo no dia seguinte.
Nós não fazemos sexo por cinco malditos dias! Malditas costelas do
inferno!

Após dez dias de molho, sem ir ao trabalho, sem sair de casa, sem
fazer sexo quente, apenas amorzinho delicadinho, enfim estou pronta para
uma happy hour com Júlia, Duda e Carla.
É a primeira vez que saio à noite sem Arthur e não sei descrever como
me sinto. Enquanto caminho rumo ao barzinho, sinto como se estivesse
faltando algo; é apenas sua mão que não está entrelaçada à minha, e isso está
fazendo com que eu me sinta altamente vazia.
É exatamente esse o preço que se paga ao adquirir uma rotina louca
como a que temos vivido. Pergunto-me diariamente o que está acontecendo
conosco. Às vezes é um pouco assustador perceber que já não consigo ficar
sem ele nem para fazer coisas simples, como ir a um bar beber com as
amigas. Ele me mudou profundamente sem fazer o menor esforço.
Passando em meio a dezenas de mesas rodeadas de homens bem-
apessoados, eis que encontro Jú e Duda quase cobertas por uma torre de
chope. Quando elas me veem, me encaram seriamente de cima a baixo e as
vejo franzir as respectivas testas.
— Olá! Estou cagada? — pergunto, me acomodando em uma cadeira.
— Cadê o look “night com as amigas”? — Duda pergunta.
— Não posso usar salto. As costelas...
— E o short curto? — É a vez de Jú perguntar.
— Optei por um vestido apenas para transar no carro quando Arthur
me buscar. Sabe que vestido é mais fácil, né?! — explico, rindo.
— Ok, eu sobrevivi para ver Mariana com um vestidinho angelical de
tia e uma sapatilha! Mereço um brinde! — Duda diz, enchendo um copo para
mim, e em seguida brindamos ao meu novo estilo.
— E essa postura imponente, Mariana?
— É apenas por causa das costelas, doem significativamente. Aí sou
obrigada a sentar como mocinha — explico. — Vocês vão ficar me avaliando
durante a noite toda? — pergunto, rindo.
— Não. Eu esperei dias para saber da sua vida sexual com Arthur,
apenas desembuche, para que eu possa fantasiar com nosso chefe! — Júlia
diz e eu taco um pacotinho de sal na cara dela.
— Ele não é Lucas ou Dudu. Ele é meu e não quero ninguém
fantasiando sexo com ele — digo, rindo. — Cadê Carla?
— Não pôde vir. Brigou com o namorado, para variar.
— Entendo. Bom, então vamos lá. Cada uma tem direito a duas
perguntas sobre Arthur — falo na brincadeira, mas elas levam realmente a
sério.
— P, M, G OU GG? — Júlia pergunta.
— EX — digo e ela faz um “O” gigante com a boca, o que me faz rir.
— Ele é bruto ou é o tipo lovezinho no sexo? — Júlia mais uma vez...
Eu devo matá-la?
— Bruto. Bastante bruto. Na nossa primeira vez acabei no hospital —
conto.
— Como? — ela berra.
— Ele é grande e bruto, eu sou pequena, logo deu muito ruim. Minha
amada vagina não aguentou a pressão. — Ela gargalha.
— Oh, Deus, Mari, isso é realmente verdade? — ela pergunta.
— A mais pura verdade!
— Ok, minha vez. Você o ama, Mari? — Duda pergunta.
— Eu o amo, absurdamente e enlouquecidamente — respondo e elas
suspiram.
— Uau, precisamos de mais um brinde antes da próxima pergunta. —
Duda ergue seu copo e brindamos mais uma vez, ao amor!
— Vamos para a última, para que possamos falar de homens alheios e
de vocês. Estou desatualizada dos babados.
— Bom, já que você ama Arthur, será que eu poderia dar uns pegas
no Dudu? — Duda pergunta e eu faço um silêncio mortal, apenas para
torturá-la.
— Por que o Dudu? — pergunto.
— Por quê? Ele é um gostoso! Você já falou tanto daquele pau, que
eu preciso prová-lo!
— Ele é todo seu, amiguinha. Um brinde! — grito, rindo, e brindamos
dessa vez aos velhos amigos coloridos.
E é exatamente no terceiro brinde que a cerveja bate errado em meu
estômago e eu tenho que sair correndo para o banheiro.
Não me lembro de ter vomitado com tanta intensidade em toda minha
vida. Por sorte, sou uma mulher prevenida e carrego em minha bolsinha uma
escova de dentes pequena, de viagem, e um mini creme dental. Virou
costume fazer isso desde quando comecei a trabalhar.
Escovo meus dentes e lavo meu rosto, em busca de controlar a mim
mesma. Quando levanto a cabeça, preciso me apoiar na pia, devido a uma
leve tonteira. Óbvio que eu não deveria misturar álcool com medicação!
Francamente, até uma criança sabe disso. Sinto-me como uma tola completa.
Respiro e inspiro, inspiro e respiro... Faço isso repetidas vezes, antes
de me sentir segura para sair do banheiro.
— Você está bem? — Júlia pergunta quando me acomodo em minha
cadeira.
— Sim. Eu quis esquecer as medicações, meu estômago apenas
resolveu me lembrar — explico. — Sem álcool para mim esta noite. Vou
pedir um suco natural.
— Mari, seus olhos ainda estão levemente amarelados — Duda diz.
— Sim, na verdade, eles não estão levemente, estão completamente.
Tive que passar corretivo e base para esconder um pouco. Dá para ver até um
pouco de roxo ainda.
— Você está certa de que foi Laís realmente? — Jú pergunta.
— Eu estou. Basta apenas confirmarem isso logo, para que eu possa
ter minhas mãos sobre ela.
— Apenas me leve, não quero perder essa cena por nada! — diz,
rindo.
Nós ficamos mais duas horas conversando, e, na saída, Duda fica
comigo na calçada, aguardando Arthur me buscar.
— Não me acostumei a essa nova Mari ainda — ela fala, rindo.
— Como? — questiono.
— Você está tão madura, tão sóbria. É estranho. Eu perdi minha
parceira no crime — explica, me abraçando.
— Só no crime você me perdeu, Dudinha.
— Ele é tão fantástico assim? Você saiu com centenas de homens
gatos, sarados, tops. Você pegou o Mister Minas Gerais, você fez a limpa no
Carnaval de Ouro Preto, pegou chinês, britânico, angolano. O que há nesse
homem? — pergunta e eu rio.
— Ele é homem, apenas isso. Homem com H muito maiúsculo. Ele é
tão certo sobre todas as coisas, Duda. É envolvente sem ao menos forçar.
Quando você percebe, está tão envolvida e apaixonada, que não consegue
mais lutar contra o sentimento. Arthur me prende sem fazer força, me instiga,
me excita naturalmente sem nem mesmo precisar me tocar. Envolve-me
numa névoa de paixão avassaladora. É algo completamente diferente de tudo.
— Apenas exijo ser madrinha do casamento — ela diz e eu vejo Dudu
se aproximar.
Ele me puxa pela cintura e me dá um mega beijo no rosto. Em seguida
se vira para Duda e vejo uma troca de olhares nunca vista antes.
— Olá, Maria Eduarda.
— Olá, Eduardo! — ela responde, sorridente.
— Ok, isso é estranho! — digo.
— Você deixou! — Duda se defende.
— Está tudo bem, só é estranho realmente — falo, rindo, e Eduardo
pisca um olho. Santo Deus, isso é mais que estranho! Sou salva pela buzina
do carro de Arthur. Despeço-me dos dois e entro rapidamente no veículo.
— Aquele cara não é aquele tal de Eduardo? — Arthur pergunta,
sério.
— Exatamente, e antes que comece, ele não estava com a gente. Ele
acabou de chegar e está com a Duda. Parece que vai rolar um romance ou
apenas uma pentada, não sei ao certo — explico.
— Eu espero que ele não se aproxime de você novamente.
— Hum... ciumento. Gosto disso. — Sorrio, apertando sua coxa
enquanto ele dirige.
— Você está bem, amor? Estou te achando um pouco abatida.
— Passei mal. Bebi cerveja e não desceu muito bem. A medicação
está me ajudando de um lado e ferrando de outro — explico e noto-o pegar
um caminho diferente. — Onde estamos indo?
— Surpresa.
— Hum, surpreenda-me se for capaz — brinco e ele sorri.
— Linda! — Fico o resto do trajeto observando-o dirigir.

Sou louca, eu sei, mas Arthur dirigindo é sexy.


Paramos em frente a um dos hotéis mais luxuosos de Belo Horizonte,
o Ouro Minas. Ele desce do carro e abre a porta para eu descer. Não estou
entendendo nada!
— Nós vamos ficar aqui? — pergunto.
— Sim. Os últimos dias não têm sido fáceis para você. Não estamos
podendo diversificar muito os programas, então pensei em passarmos a noite
aqui. Um jantar agradável, essas coisas. — Sorrio, cheia de segundas
intenções, fazendo algo se contrair em meu interior.
— Você é perfeito. Será assim para sempre? Diga que sim! — peço.
— Tudo por você. Agora vamos entrar, pois há um jantar nos
esperando. — Ele beija minha testa e, após entrelaçarmos nossos dedos,
caminhamos.
Não fazemos check-in, pois Arthur já está com o cartão de acesso,
então vamos direto aos elevadores.
Assim que entramos em um, ele me abraça por trás e eu descanso
minha cabeça em seu peitoral firme. Estou emocionada, bastante. Há até um
pouquinho de medo por estar vivendo tudo isso. Sinto-me insegura e o
pensamento de perdê-lo me assombra. Nós demos muitos passos progressivos
ao longo do mês, mas ainda há um pouquinho de trauma em mim. Não o
suficiente para me fazer parar, mas o suficiente para me deixar com medo.
Os pensamentos ruins se dissipam quando chegamos ao último andar
e caminhamos até uma suíte. Quando ele a abre, minha boca voa até o chão,
ao contemplar o lindo quarto recheado de pétalas de rosas.
— Arthur, isso é demais! — digo, sentindo as lágrimas descerem em
meus olhos. — Parece uma suíte nupcial.
— Talvez seja — fala enquanto fecha a porta e eu caminho em outra
direção. Minha boca vai ao chão novamente e meu estômago protesta ao
vislumbrar a incrível mesa de jantar próxima à lareira.
— Fondue! — exclamo. — Isso é tão romântico!
— Você gostou? Dá para explorarmos os dois tipos de romantismo, o
meu e o seu — diz.
— Eu amei, Arthur, é incrível. — Ele sorri e eu o abraço.
— Há outro lugar. Venha. — Me puxando, ele nos conduz até outro
ambiente, onde encontro uma piscina aquecida com vista para a cidade. —
Você vai me deixar fazer amor com você aqui? — pergunta em um tom que
me faz arrepiar.
— Eu sou sua, você pode fazer amor comigo onde e quando quiser —
informo e ele me beija deliciosamente, lento e apaixonante.
Sinto meu vestido cair aos meus pés e retiro sua camisa tomada por
uma necessidade alucinante. Eu tenho estado constantemente excitada. Basta
um leve toque e eu estou rendida ao desejo.
— Não está com fome? — pergunta, passando a língua pelo meu
pescoço.
— Muita. Mas pode esperar — informo, arranhando suas costas, e
suas mãos descem para meus seios.
— Eles estão pesadinhos, deliciosos.
— Mais forte, aperte-os mais forte — peço e ele sorri, levando sua
boca a um dos meus mamilos e apertando o outro.
Ele trabalha duro, dando a devida atenção a cada um, e sua boca desce
à minha barriga, onde ele distribui inúmeros beijos enquanto olha em meus
olhos. Seus dedos engancham em minha calcinha e ele a desce lentamente.
Fecho os olhos e ele me gira, encostando-me contra a parede. Sua língua
traça um caminho molhado em minha intimidade e eu agarro seus cabelos,
tomada pelo desejo ardente.
De repente, ele para e eu abro os olhos, o encarando. O vejo sorrir.
— Mari, me diga o que foi que a deixou tão necessitada hoje? Você
está excitada de uma maneira que eu nunca vi, está escorrendo de tesão.
— Você.
— Ótima resposta, mocinha. — Ele sorri e se levanta, me pegando no
colo. — Vou cuidar de você agora, pequena — diz, me colocando sobre a
cama e retirando a calça. Sua ereção salta em toda sua glória e minha boca se
enche de água. Eu quero chupá-lo como um picolé, mas ele não permite. Ele
está dentro de mim tão rápido quanto consegue. Imóvel, me olha nos olhos.
Com uma mão agarra meus pulsos e os posiciona acima da minha
cabeça, mantendo-me imóvel, enquanto sua mão livre me segura pela bunda,
erguendo-a para alcançar o mais fundo em mim. Esqueço até mesmo das
minhas costelas conforme ele se move lentamente.
— Eu sou tão louco por você. Adoro meter em você, mocinha.
— Não, hoje não, não essas palavras... — choramingo.
— Elas te levam muito rápido, não é mesmo? Você gosta quando falo
coisas sujas estando dentro de você — sussurra em meu ouvido.
— Eu quero agarrar você.
— Não. Estou no controle. Quero você assim, presa — rebate,
deixando-me sem argumentos. Ao menos consigo movimentar a parte
inferior do meu corpo, e isso basta para eu rebolar em torno dele.
Sua mão sai da minha bunda e captura algo sobre a mesa. Não
consigo ver, apenas encontro seu sorriso de satisfação quando sua boca cai
sobre a minha em um beijo molhado e sensual. Ele libera minha mão direita
e, ainda me beijando, escorrega algo em meu dedo anelar. É o suficiente para
eu tentar afastar nossas bocas, mas ele não permite. Ele me envolve na sua
dominação e eu me perco.
Ele fode minha boca com a sua e arremete com vontade sobre mim.
Delicadeza e ferocidade estão bem equilibrados em seus movimentos
precisos. Eu gozo rápido, muito rápido. Esse homem tem todo um pacto com
meu corpo. Sinto meu clitóris tremer a cada impacto de sua pélvis contra a
minha.
— Mais um — ordena em minha boca e tento segurar ao máximo.
Não quero demonstrar que meu corpo é tão obediente a ele. Mas, então, ele
aumenta o ritmo e começa a gemer em minha boca, meu cérebro e meu corpo
não conseguem mais duelar. Meu corpo simplesmente vence, obedecendo aos
comandos de Arthur. Como sou muito teimosa, não deixo barato, o levo junto
comigo quando rebolo, fazendo quase um pompoarismo em seu pau. —
Fodida Mariana! Me fez gozar para você, mocinha. Muito rápido.
— Você precisa aprender que eu sempre estou no controle. — Sorrio
e ele me beija, liberando minhas mãos e apoiando as suas sobre a cama.
— Você daria a honra de ser minha esposa? — pergunta, me olhando
com intensidade e lágrimas nos olhos, enquanto continua arremetendo
lentamente dentro de mim. Eu estou alucinando. Aperto sua bunda, o fazendo
ir mais profundo, e ele solta um rugido, como um animal selvagem. —
Responda, para que eu possa fazê-la gozar de novo.
— É sério? — pergunto.
— Deus, Mari, é muito sério! Foda, essa sua boceta está moendo meu
pau! — choraminga, indo mais forte.
— Você está me pedindo em casamento enquanto me fode?
— Exatamente. Leve-me mais fundo, mais, Mari... — ele geme,
mordendo meu pescoço.
— Só temos um mês de relacionamento — digo.
— Você é minha. — Ofega. — Case-se comigo. Eu amo você, quero
viver o resto da vida ao seu lado — confessa e eu arranho suas costas
enquanto fecho minhas pernas mais forte em torno da sua cintura. — Porra,
Mari...
Tirando forças não sei de onde, o forço a virar e fico por cima.
Arranho seu peitoral e começo a montá-lo. Observo um anel nada delicado
brilhando em meu dedo e engulo a vontade de chorar.
— Você é meu.
— Case-se comigo — pede, segurando em meus quadris. — Case
comigo, meu amor.
— Eu caso — respondo, sorrindo, e ele agarra meus cabelos com
força. Ele inverte a posição novamente e me beija apaixonadamente enquanto
goza mais uma vez, acompanhado por mim.
Nunca na vida imaginei um pedido de casamento desses.
Quando nossas respirações se acalmam, ele se acomoda ao meu lado e
me puxa para seus braços. Não consigo controlar, começo a rir. Eu devo estar
sonhando.
— O que foi?
— Não sei. Talvez o convencional seja fazer um jantar romântico e
pedir em casamento — explico, rindo.
— Eu fiz tudo isso — se defende. — Há um jantar nos aguardando,
uma linda suíte com flores, champanhe e uma piscina aquecida. Isso é puro
romantismo — informa, sorrindo. — Nós dois não somos convencionais.
Nunca fomos e nunca seremos. Ainda assim, eu fiz questão de agir
convencional quando pedi sua mão ao seu pai.
— Você pediu? — pergunto, me levantando, e ele me puxa de volta.
— Eu pedi. Acredito que é o certo a fazer. É o que vemos nos filmes e
novelas...
— Você já propôs uma outra vez — o lembro, mordendo o lábio.
— Não. Você está completamente enganada. É a primeira vez em
toda minha vida que estou fazendo isso — diz de maneira enfática e firme.
— Laís...
— Nunca a pedi em casamento. Ela pediu, ela sugeriu, e eu nem
mesmo aceitei de bom grado. Mas agora não é o momento de lembrarmos
dela. Agora é o momento de nos alimentarmos e ganharmos forças para
continuar curtindo a noite. Há outros lugares além dessa cama que eu quero
fazer amor com você. — Levantando-se, ele me puxa em seus braços. —
Futura senhora Mariana Albuquerque, dê-me a honra de compartilharmos o
jantar. O nosso jantar de noivado.
— Com toda certeza, meu cavalheiro da armadura brilhante. —
Sorrio. — Eu estou noiva! Eu nunca achei que ficaria noiva um dia! — grito,
pulando em seu colo. Foda-se as costelas malditas!
— Você é minha noiva e muito em breve será minha esposa.
Acostume-se. Vai ser logo — informa, me abraçando.

Quarenta minutos depois, envolvidos em roupões, bebemos nossa


quarta taça de champanhe. Arthur molha um morango na calda de chocolate e
coloca em minha boca. A calda é extremamente doce, e assim que bate em
meu estômago, corro como uma velocista ao banheiro, trancando a porta atrás
de mim.
Coloco tudo que comi para fora violentamente, enquanto Arthur soca
a porta.
— Abra ou eu vou arrombá-la, Mariana!
— Calma — digo, agarrada ao vaso sanitário. Meus olhos estão
escorrendo em lágrimas e estou vendo o vaso dar giros de 360 graus.
— Mari, por favor.
— Eu estou bem, já vou — aviso, tentando ficar de pé.
Após dar descarga, lavo meu rosto e escovo os dentes com uma das
escovas novas que estão sobre a pia. O luxo é bom às vezes, ele paga escovas
de dentes novas em hotéis diversos...
Ligo o chuveiro na água fria e tomo um banho rápido.
Definitivamente, o remédio não combina nem com um champanhe fraco. Seis
jatos fortes de água batem em meu corpo e em minha cabeça. É um pouco
relaxante, embora doa quando batem forte contra minhas costelas. Volto a
olhar para o anel em meu dedo e me sinto completamente em estado de
choque. Eu estou noiva do meu chefe gostoso! É surreal! É alucinante! Nunca
imaginei que um dia ficaríamos noivos...
Assim que termino, me enxugo e visto o roupão. Abro a porta e
encontro Arthur sentado no chão, me esperando.
— Você está bem? — pergunta.
— Sim. Álcool e remédio não combinam, mas estou bem melhor
agora. Renovada — explico enquanto ele se levanta.
— Vem aqui — diz, me puxando para a cama, onde senta-se na
beirada e me posiciona de frente para ele.
Nossos olhares estão presos um ao outro fixamente.
Arthur solta um suspiro e abre um lindo sorriso, daqueles de tirar o
fôlego. Desliza suas mãos ao laço que prende meu roupão e o desfaz. Seus
olhos descem pelo meu corpo, enquanto suas mãos deslizam em minha
cintura. Observo o momento exato em que ele se curva para frente e deposita
um beijo demorado em minha barriga, bem abaixo do meu umbigo. Não
compreendo seu ato, mas quando ele se afasta e me olha, vejo seus olhos
brilhando em lágrimas.
— O que há? Por que está chorando, Tutu? — pergunto, mergulhando
meus dedos em seus cabelos, enquanto ele descansa sua cabeça em minha
barriga.
— Eu amo vocês.
— Eu também amo você — digo, emocionada.
— Você não entendeu bem, Mari. Eu disse que amo vocês, no plural.
Eu amo você e nosso filho.
— Filho? — questiono e fico alguns segundos tentando entender seu
ponto. Um filme começa a rodar em minha cabeça... Menstruação... Quando
foi a última vez que minha menstruação veio? Ferida na “perseguida”...
Antibiótico... Tonturas... Enjoos nos últimos cinco dias... Alteração no exame
de sangue... Não... Absolutamente não!
Afasto-me e sou invadida pela maior das tonturas que já tive. Minha
visão fica turva e meu coração acelerado. Conforme a possibilidade se fixa
em minha mente, caio sobre o chão e não vejo mais nada.
Desperto do desmaio sobre a cama. Arthur está apertando
demasiadamente forte minha mão entre as suas, e abre um sorriso assim que
me vê abrir os olhos.
— Você está bem? — pergunta carinhosamente.
— Eu não estava sonhando? — questiono e ele sorri amplamente.
— Não — responde e eu suspiro. É real! Santo Deus!
— Nós teremos um pajem ou uma daminha para nosso casamento —
digo, ainda incrédula. — Arthur, eu não sei, entende? Não me julgue, mas
começamos outro dia, já estou noiva e possivelmente grávida. Nós estamos
indo como um jato a todo vapor. Há algumas semanas eu vivia bêbada em
baladas, nunca tive um único pingo de juízo, como posso ser mãe? Eu canto
músicas infantis na versão proibidona e imagino filme pornô com as
princesas da Disney! Eu deixei meu tamagotchi morrer! Imagina o que farei
com um bebê?
— O que diabo é um tamagotchi? — ele pergunta, segurando um
sorriso. Por que ele tem que ser assim? Tão certo e desconcertante!
— Um bichinho virtual, era febre na minha pré-adolescência —
explico e ele ri. Não há graça nisso. Nenhuma. — Arthur, eu não possuo toda
a experiência de vida que você possui, é assustador para mim.
— Você tem a mim, nós vamos fazer isso juntos. Você se subestima
muito, Mari. É um pouco assustador que pense tão pouco de si mesma. Mari,
você é capaz de tudo o que quiser.
— Se for confirmado, eu não sei o que farei — digo, cobrindo meu
rosto. — Aliás, isso é algo que nunca pensei em me tornar nessa vida, mãe. O
quão louco é eu ser mãe? Na verdade, eu nem esperava namorar novamente.
Eu não esperava nada disso. Eu serei uma péssima mãe, não serei? — Me
sinto atordoada.
— Óbvio que não. Vamos enumerar alguns fatores que farão com que
você seja a melhor.
— Arthur...
— Cale-se, eu preciso provar isso a você, Mari — ele diz com
convicção. — Você é carinhosa, inteligente, dedicada, amorosa, generosa,
autêntica. Habita dentro de você uma leoa, Mari. É destemida, extrovertida,
verdadeira, cheia de vitalidade. Possui um coração grandioso. Eu não consigo
ver um único defeito que me leve a pensar que será uma péssima mãe.
— Você tem muita fé em mim. — Limpando as lágrimas, tento não
demonstrar o quão assustada estou. Ele parece extremamente feliz e
satisfeito. Acredito que eu vá chegar a essa fase, mas, por enquanto, o medo
está dominando.
— Eu tenho fé em você assim como tenho fé em nós. Eu sei que é
assustador por ter acontecido tão rápido, mas me desculpe, Mari, não consigo
conter a felicidade e muito menos transformar o maior presente que eu já
recebi em toda minha vida em um problema. — Ele ri. — Você me fez pai, e
com isso me fez o homem mais feliz do mundo.
— Eu não estava preparada ainda... — Sorrio, me sentando. — Você
sabe que eu poderia ter perdido o bebê no sequestro? Eu poderia ter o perdido
por inúmeros motivos. Arthur, eu não sei como ele ainda está aqui, se é que
ele está, se é que ele existe mesmo. É um milagre completo se eu tiver
grávida mesmo.
— Ele está e eu vou cuidar de vocês. Eu vou cuidar de você, Mari.
Sempre que você se sentir incapaz ou perdida, estarei aqui para te mostrar o
caminho se eu souber ou para descobrirmos a direção juntos, eu e você. Nós
estamos juntos, eu a amo intensamente. Você está realizando o maior sonho
da minha vida e eu irei retribuir isso a você até o final dos meus dias.
— Você já estava desconfiado e por isso me pediu em casamento? —
pergunto, receosa.
— Já estava desconfiado, nos últimos cinco dias você tem passado
mal o bastante para eu desconfiar, mas não foi por isso que a pedi em
casamento. Ninguém é obrigado a casar por conta de um filho. Eu a pedi em
casamento porque eu realmente acredito num futuro entre nós dois, quero
constituir uma família com você. Nós temos uma conexão forte e intensa. Eu
sinto por você algo que nunca senti por nenhuma outra mulher, e isso não
começou há um mês, isso começou no dia em que te conheci. E acredite, não
foi apenas fisicamente meu interesse, a coisa que mais me chamou atenção é
sua autenticidade e transparência. Isso me ganhou no dia da entrevista. Eu
sinto ter demorado tanto, mas também acredito que foi a demora que fez tudo
se tornar demasiadamente interessante entre nós dois. Basta ter meus olhos
sobre você e consigo imaginar uma vida toda ao seu lado — diz, me
surpreendendo de todas as maneiras possíveis. Eu me sinto um pouco mais
segura por não ser a única a se sentir dessa maneira. Preciso parar de relutar...
— O que é isso que está acontecendo entre nós dois? — pergunto, me
aconchegando em seus braços.
— Eu não faço ideia. Nós vamos descobrir juntos, dia após dia. —
Me acalenta.
— Vamos manter segredo até obtermos a confirmação. Eu ainda acho
que pode ser efeito dos remédios.
— Nós manteremos segredo, mas eu já tenho a confirmação — ele
diz, seguro, e eu fecho os olhos. Um único mês e toda minha vida mudou por
completo.
Como pode haver um espermatozoide vencedor dentro de mim? Um
bebê. Um filho. Meu filho. Quão surtada ficarei durante a gravidez?
Senhor, eu não imagino um ser humano saindo de dentro da minha
vagina!
— Eu quero cesariana, litros de peridural — informo e Arthur ri.
— Já está pensando nisso? Eu acho que, no fundo, você já tem a
confirmação também, mocinha.
— Arthur, estou em estado de choque. Estou desesperada com essa
possibilidade, não vou mentir. Desculpe se isso te desaponta, apenas preciso
ser autêntica, já que é isso que te atrai.
— Esse bebê é fruto do nosso amor, Mari, é fruto de uma imensidão
de amor completa. Mesmo quando estou fodendo você como um animal, é
amor. — Ele ri. — Semana que vem teremos a confirmação e então o choque
vai ser substituído. — Eu gostaria de ter essa maturidade... — Você se sente
bem para passarmos a noite aqui?
— Eu me sinto ótima, foi apenas o susto momentâneo. Um filho,
Arthur! Não é possível! Acredito na sua capacidade de foder as coisas fora da
minha mente.
— Eu não vou foder a gravidez da sua mente, eu vou foder sua mente
para a gravidez. Vou te mostrar uma ou duas vezes como é delicioso
fazermos um bebê.
Cuidadosamente, ele me mostra o quão gostoso é fazer um bebê...

— Senhorita Mariana, o resultado do exame é positivo. Você está


grávida! — O médico anuncia sorridente, enquanto eu o encaro tomada pela
perplexidade.
Quando era só uma desconfiança, pareceu fácil. Agora tenho a
confirmação. A ficha caiu com força neste momento. Alguém me explica
como serei mãe? Oh! Claro que fiz sexo, aliás, acho que ultrapassei os 70%
nos últimos dias, mas... que caralhos! Estou apavorada! Porém...
Ah! Meu Deus! Eu sou completamente louca, mas sou alucinada por
bebês. Me lembro de ter pedido uma irmãzinha aos meus pais até os meus 17
anos de idade. Sim, eu não aceitaria nada diferente de uma menininha como
irmã, era exigente nisso. Minha mãe quis me matar uma ou dez vezes devido
aos pedidos constantes. Enfim. A questão é: Uma mulher levemente
maluquinha pode ser mãe, não é mesmo? Ok! Estou nervosa! Não estava
mesmo preparada para esse evento, mas...
Pode até ser menino.
Eu acho que amo estar grávida. Porém, também acho que, neste exato
momento, estou mais louca do que jamais fui. Não estou fazendo sentido
algum. Eu não queria, mas agora quero. Claro! Eu TENHO que querer, visto
que já estou grávida. Meu Deus!!!!! Eu vou amar muito ser mãe, ensinarei
meu filho (ou filha) a ser vida louca. Quero que essa criança seja muito
bagunceira. Qual a graça em ser mãe e não ter um filho bagunceiro,
destruidor? É sinal de saúde! É isso! E se alguém mexer com ele ou ela,
mesmo que seja uma criança de 4 anos, irei brigar! Ninguém mexe com um
filho de Mariana Barcelos! É isso! Com quantos anos uma criança pode
entrar na aula de defesa pessoal? Não quero que seja violento, mas quero que
saiba mesmo se defender.
Imagina uma pessoa saindo de dentro da minha vagina? Se o pau do
Arthur entrando em mim fez um estrago na primeira vez, imagina um bebê,
que possui cabeça e ombros, passando pela minha fenda?
NUNCA!
Admiro as mamães que fazem parto natural, mas essa parada não é
para mim.
E por que estou pensando em todas essas coisas?
Eu serei mãe e agora preciso dar a notícia ao cara que já nasceu
pronto para a paternidade.
Nada será normal...

DIAS DEPOIS
Estou sentado na sala de reuniões, puto pra caralho por não estar
acompanhando minha mulher nos exames. Felizmente, ela já voltou a
trabalhar, e apenas hoje tirou o início da manhã para ir ao médico.
Brincando com a caneta sobre a mesa, a ideia de abrir meu próprio
escritório se torna cada vez mais fascinante e necessária. Para ser sincero, eu
posterguei esse projeto por comodismo e por ter uma assistente pessoal
intrigante o bastante. Era cômodo ficar aqui e de quebra ganhar uma bela
visão. Agora há coisas que precisam ser analisadas friamente.
Tudo mudou de proporção. Nós teremos um filho e isso me leva a um
novo planejamento. Quero construir um futuro pensando totalmente em meus
filhos e dar toda uma base familiar para eles e Mari. Ter meu próprio
escritório e trabalhar para empresas diversas me levará a um novo patamar,
algo grandioso, e me ajudará a ter a disponibilidade que Mari vai precisar. Eu
falei sério quando disse que estarei ao lado dela, quero fazer parte de cada
momento da gravidez.
Desde domingo estou envolvido na busca pela casa perfeita, sem que
Mari saiba. Quero algo grande, espaçoso, arejado e seguro para nossa família.
Quero espaço para um playground, espaço para relaxar, área de lazer e,
principalmente, privacidade para fazer minha mocinha gritar meu nome.
Mariana está incontrolável sexualmente, perdendo a noção total, e estou
considerando tomar multivitamínicos para aguentar a pressão, além de
comprar uma mordaça, algemas e objetos de dominação. Amarrá-la agora
parece necessário.
Ainda não sei se é certo transar feito um coelho quando está
carregando um bebê em seu ventre, mas ela está em um nível que, se eu fizer
qualquer objeção a isso, serei capado. Estou ansioso pela confirmação, para
que possamos marcar uma consulta com algum obstetra, assim conseguirei
tirar todas as dúvidas e possivelmente irei à busca de um terapeuta sexual.

Após sair da sala de reuniões, minha primeira visão é de Laís, sentada


na recepção, mesmo após ter sua entrada proibida, me aguardando. Meu
estado “puto da vida” só piora e fecho minhas mãos em punhos, para conter a
raiva. Eu só quero viver em paz, será que é possível?
— Nós precisamos conversar — ela diz, se levantando.
— Não há mais nada a ser discutido. Olha, Laís, eu não sou dono
dessa empresa e o presidente está aqui hoje, não é um bom dia.
— Apenas me leve até seu escritório, preciso falar com você. É
melhor lá do que aqui, não acha? O que o presidente acharia de uma
discussão acalorada na recepção? — diz, olhando para Júlia e Carla.
Não há opção. Caminho até o escritório seguido por ela e me
acomodo em minha cadeira.
— Fale.
— Eu quero você.
— Eu não quero você. Aliás, aconteceu algo com a minha noiva —
digo, observando friamente sua expressão de fingimento.
— Noiva? — ela esbraveja, procurando a aliança em meu dedo.
— Como eu estava dizendo, aconteceu algo à minha noiva. Eu posso
quase afirmar que foi você, Laís. Só estou aguardando a confirmação, e assim
que obtiver, eu aconselho você a sumir, ir para bem longe. É um conselho,
desapareça enquanto é tempo. Vá para o Japão, para a China, para a puta que
te pariu, apenas suma — aviso e ela sorri.
— Você acha que eu faria mal à sua noiva? — pergunta
dissimuladamente.
— Eu não conheço você mais, aliás, acho que nunca conheci. Eu acho
tudo de você e nenhum dos meus conceitos são bons. Estou alertando. Não
ouse se aproximar ou tentar qualquer coisa com Mariana.
— Isso é uma ameaça? — questiona, rindo.
— É um aviso — digo e ela espalma suas mãos sobre a mesa.
— Então ouça meu alerta também, preste bastante atenção, Arthur,
pois eu não estou brincando. Você não faz ideia do que sou capaz de fazer
para conseguir algo que almejo. Eu quero você e vou até o fim.
— Você com certeza vai até o fim, até o fim dos seus dias! —
Mariana diz, irrompendo pela porta como um furacão. Eu não sei se fico
assustado com seu semblante de ira ou admirado por ela estar vestindo a
roupa que eu dei. O maldito vestido preto, as meias, o sapato que gostei.
Santo Deus! Que mulher gostosa! Laís está atrapalhando minha foda. Não
consigo tirar os olhos dessa diaba sexy diante de mim. — Saia! — Mari
ordena, dissipando meus pensamentos indecorosos. Eu nunca a vi tão irada.
Minha mocinha tem sangue nos olhos, tanto que me faz ficar de pé
prontamente.
— Olha, você está ótima! — Laís diz, a observando de cima a baixo.
— Você achou que ia me destruir? Você acha que eu sou fraca, Laís?!
Eu sou uma fortaleza. Não é uma surrinha que vai me derrubar, não me
subestime. Eu agora tenho todos os motivos do mundo para lutar, se eu fosse
você desistiria enquanto é tempo. Não se atreva a mexer comigo — ela fala e
sinto meus olhos encherem de lágrimas. É a confirmação que eu tanto
esperava, minha mulher está grávida! Por mais que eu já tivesse quase certo,
a confirmação torna tudo real. Minha vontade é de abrir as janelas e gritar ao
mundo que serei pai e que minha mulher é a mais gostosa do universo. Meu
filho vai ter a mãe mais fodidamente sexy e quente.
Vejo seus olhos caírem aos meus e ela segura um sorriso. Esqueço-me
de Laís, esqueço do mundo quando ando até ela e a pego no colo.
— Eu te amo! Porra, eu te amo tanto! — digo e logo escuto a porta
bater. Foda-se, Laís! Eu serei pai!
— Nós temos um bebê! — ela fala sorridente.
— Eu sei que temos! Um bebê tão forte quanto a mãe.
— Eu não sei como fazer isso, mas sei que tendo você ao meu lado
tudo vai ficar bem, não vai? — Senhor, ela se parece tão frágil falando assim!
Não parece a mulher que segundos atrás estava enxotando Laís. É minha
mocinha com toda sua delicadeza agora.
— Vai, meu amor. Esse é só o primeiro dos cinco filhos que teremos
— digo e ela ri.
— No seu sonho! — Ela se afasta e arranha a garganta. Eu já sei que
agora ela vai começar seu papel de funcionária modelo. Isso me deixa
orgulhoso e maluco, tudo na mesma proporção. — Bom, eu preciso trabalhar,
chefinho.
— Essa roupa... Estou começando a me arrepender.
— Você pediu que eu usasse no trabalho, escolhi usar hoje. Não foi
uma boa escolha? — Eu amo essa falsa santidade.
— Aquele médico deve ter ficado duro o tempo todo. Diga-me, ele te
viu envolvida nessas ligas? — pergunto, tentando diminuir a distância.
— Eu não tenho pretensão de deixar qualquer outro homem além de
você duro, e eu tirei as ligas para os exames, assim como toda a roupa —
provoca, me puxando pela gravata.
— Eu vou castigá-la por isso.
— Você vai? — Sorri de lado, me atiçando.
— Eu vou. Quero você debruçada sobre a mesa — informo.
— Você quer agora? — Segurando um sorriso, pergunta. Sinto meu
pau se contrair duramente em minhas calças.
— Agora.
— Você vai descer o zíper do meu lindo vestido por completo e em
seguida me deixar apenas na impecável lingerie que me deu? — Diaba! Ela
sabe jogar.
— Eu vou — afirmo, fechando minhas mãos com força.
Meu autocontrole é praticamente inexistente perto dela.
— E vai tirar minha calcinha ou só deslizá-la para o lado quando for
me foder?
— Eu vou deslizá-la para o lado quando for socar meu pau fundo em
você — digo e ela solta um gemido.
— Bem fundo?
— Muito fundo — respondo.
— Mas eu quero beijar sua boca enquanto me fode, como vai ser?
— Eu vou segurá-la pelo pescoço e vou beijar essa boca para abafar
os gemidos. Deus, Mari, faça logo! Quero você. — Desesperadamente quero.
— É uma pena que nem tudo na vida pode ser feito na hora que
queremos. Tenha uma excelente manhã de trabalho, chefinho! — Ela se
afasta apressadamente, sem me dar chance de agarrá-la, e sai da sala, me
deixando com um enorme problema.
No almoço ela não escapará tão facilmente! Eu a terei dobrada sobre
essa mesa e degustarei minha sobremesa com voracidade.
Na hora do almoço, Júlia, Carla e eu resolvemos almoçar em um
restaurante perto da empresa.
Enquanto caminhamos, noto estar atraindo mais atenção do que
quando me visto como uma periguete perfeita. Noto também uma atenção
mais seletiva, que inclui homens engravatados. Talvez eles gostem do estilo
secretária-executiva-sexy. Enquanto eles me olham, chego a uma conclusão
bastante plausível: a curiosidade de descobrirem o que há por baixo de todas
essas roupas atrai muito mais atenção do que quando eu andava mostrando
metade da popa num short curto e metade dos seios num decote ousado.
Agora eu acabei de descobrir que fui periguete em vão. Se eu tivesse solteira,
investiria meu dinheiro em roupas luxuosas, como essa.
Acomodamo-nos em uma mesa e fazemos nossos pedidos. Não
demora muito para o garçom trazer as bebidas. No primeiro gole que dou em
meu suco de acerola, Júlia foca o olhar na minha mão e se engasga.
— Como eu não percebi esse bambolê no seu dedo? — ela pergunta e
Carla pega minha mão.
— Deus! É a primeira vez que vejo um diamante tão de perto. É
enorme! — exclama, empolgada.
— Você está noiva? Você está noiva do Arthur Albuquerque? Você
está noiva do nosso chefe tesudo master? — Júlia pergunta, eufórica, e eu não
respondo. Abro minha bolsa e pego o resultado do exame de gravidez,
sentindo uma pontada de culpa por contar para elas antes dos meus pais
saberem.
O coloco na frente delas e Júlia demonstra perplexidade total,
enquanto Carla abre e fecha a boca repetidas vezes.
— Oh, Deus! Isso é sério? Mari, quanto tempo vocês estão juntos?
Menos de um mês? Pouco mais de um mês? Ou sempre estiveram juntos?
Santo Deus, Mariana, é inacreditável! Você, grávida? Eu estou no chão!
— Aconteceu. E você sabe que estamos juntos há pouco mais de um
mês. Apenas parece que estamos juntos há anos. Quando eu disse que as
coisas entre nós eram intensas, realmente estava falando sério. A ficha ainda
está caindo para mim também. Nunca me imaginei mãe — explico, ganhando
a compreensão das duas.
— Nós seremos titias! — Carla propõe um brinde, levantando seu
copo, e sorrio.
— É chocante, Mari, mas estou feliz por você e por Arthur. Santo
Cristo, quando Laís souber, ela vai surtar! — Jú ri e um arrepio frio percorre
todo meu corpo só de pensar. Involuntariamente, levo a mão ao meu ventre,
em uma necessidade de proteger esse pequeno ser aqui dentro. Embora a
ficha não tenha caído, sinto que já o amo, com todas as forças. Ele é fruto de
todas as coisas sujas e apaixonantes que eu e Arthur compartilhamos.
— Eu vou esconder até quando der — digo.
— Sim, mas não vejo a hora de te ver barrigudinha! — Carla expressa
sua satisfação com brilho nos olhos.
— Não consigo imaginar. — Rio. Como eu ficarei quando estiver
barriguda? Preciso começar a me cuidar logo! Não quero ser uma grávida
caída, quero ser gostosa!
— Mari, você fisgou Arthur, diaba! Não consigo acreditar. Você tem
mel nessa pepeca! Arthur está anos luz à frente de todos os homens que você
já pegou. Ele é quente, ele é tipo UAU! Você precisa arrumar um amigo
advogado dele para mim! — Júlia está chocada realmente, é visível. Não
quero nem imaginar Duda, que já me conhece há muitos anos. Ela vai
desmaiar assim que souber da novidade.
— Ainda não conheci os amigos dele, mas terei isso em mente
quando conhecê-los — informo.
Voltamos animadas do almoço, rindo, mesmo após eu ter um pouco
de enjoo. Porém, meu riso morre assim que vejo Arthur debruçado sobre o
balcão da recepção, com uma cara séria e impassível.
— Pegue sua agenda e me acompanhe até a sala — diz e sai.
— Uau, o que você fez? — Jú pergunta.
— Eu? Absolutamente nada — respondo, indo até o banheiro escovar
os dentes.
Retoco a maquiagem e confiro se está tudo certo com minha roupa.
Voltando à recepção, pego a bendita agenda e faço um sinal da cruz antes de
caminhar até a sala do meu chefinho.
— Licença, senhor Arthur — digo da forma mais angelical e
profissional que consigo, ganhando um sorriso preguiçoso.
Ele se levanta e passa por mim, em seguida fecha a porta com chave.
— Você não faz ideia do mau humor em que me encontro — diz atrás
de mim.
— Eu estou tendo ideia, sim. O que houve? Sua mulher dormiu de
calça jeans? — pergunto, virando para ele.
— Minha mulher me provocou pela manhã e fugiu. Mas agora está
indo realizar a fantasia que eu tanto ansiei. Foram tortuosos meses
imaginando isso, Mariana — diz, me abraçando o suficiente para deslizar o
fecho traseiro do meu vestido.
Olhando-me intensamente, ele envolve seus dedos em meus ombros,
enganchando-os nas alças do vestido, e desliza a peça pelo meu corpo. Assim
que o vestido cai aos meus pés, ele dá dois passos para trás e vejo seu olhar
passar lentamente por todo meu corpo, ganhando uma intensidade crua e
primitiva.
Por Deus, não posso acreditar no que estamos prestes a fazer! É a
maior fantasia dos últimos tempos. A cada vez que eu entrava nessa sala, me
imaginava embaixo de sua mesa, o chupando avidamente. Me imaginava
cavalgando em seu pau enquanto ele se mantinha sentado em sua cadeira, me
imaginava sentada de pernas abertas sobre a mesa enquanto sua língua
deslizava em minha intimidade... Eu imaginava tudo... Só não imaginava que
um dia todos os meus sonhos sexuais com esse homem iriam se concretizar.
— Eu acabei de perder o fôlego e o foco — diz, satisfeito. — Vire de
costas, eu quero ver o quão perfeita sua bunda fica nessa lingerie — ordena
de um modo quente.
— Você está mandão hoje.
— Estou mandão e extremamente exigente, então faça enquanto ainda
estou pedindo. — Uau. Molhei!
Viro-me, mas faço questão de observar sua feição mudar.
— Oh, Mari, fodida Mari... Vou fazer um seguro milionário para essa
bunda. — Eu amo quando ele me endeusa dessa maneira, me sinto tão sexy e
poderosa.
— Você gostou? — pergunto, rebolando lentamente, tipo panicat.
— Eu amei. Extremamente gostosa e sexy. Deus, você é tão safada,
Mariana! — suspira, apertando seu membro por cima da calça, me deixando
com a boca seca e o coração palpitando.
— Sou sua puta particular, disponha. — Pisco um olho e ele vem para
cima de mim como um tufão.
— Você gosta que eu te chame de puta? — pergunta, apertando
minha bunda.
— Entre quatro paredes você pode me chamar do que quiser, eu irei
gostar e não irei me opor. Você pode me chamar, pode me pedir e eu apenas
farei tudo o que você quiser. Peça-me o que quiser e eu te darei. O que você
quer de mim, Arthur? — pergunto, citando o nome de um livro que amo, de
forma bem provocativa. Arthur ama que eu me mostre tão disponível ao seu
bel prazer, isso o leva ao ápice facilmente.
— A típica dama na sociedade e puta na cama. Eu aprecio isso em
você, minha lady. Agora quero que você seja minha puta sobre a mesa, que se
debruce sobre ela e empine essa bunda perfeita para mim — ele ordena,
abrindo o fecho da calça e liberando sua ereção grossa e pulsante. Juro, eu
nunca vi um pau tão lindo como o dele. E olha que eu já vi muitos...
Expectativa está sobre mim enquanto afasto uma pilha de papéis e me
debruço como ele pediu. Ignoro a pontada nas costelas, já que o fogo supera
tudo.
Sinto seus dedos deslizarem pelas extremidades das minhas pernas e
sufoco um gemido angustiante de desejo. Suas mãos espalmam sobre minha
bunda e a apertam ferozmente, enquanto sua boca morde lentamente minhas
polpinhas de modo nada delicado.
Ele se põe de pé e pressiona seu corpo ao meu, enquanto leva uma
mão até minha intimidade, deslizando a calcinha para o lado. Seus dedos
entram em contato direto com meu clitóris e eu gemo, recebendo um forte
tapa na bunda por isso.
— Eu preciso lembrá-la onde estamos? Ou devo apenas parar? —
pergunta em meu ouvido.
— Não pare!
— Então comporte-se como uma boa dama. Não demonstre seu tesão
quando existe a possibilidade de sermos ouvidos, você entendeu? — ordena,
segurando meus cabelos.
— Eu entendi — respondo num choramingo.
— Ótimo. Você está escorrendo de tesão, mocinha. A gravidez a está
deixando necessitada o tempo todo, não é?
— Sim.
— Eu amo você grávida — fala e esfrega seu pau em minha entrada.
Antes que possa processar, está entrando lentamente.
Arthur vai mais lento do que de costume, parece querer prolongar o
sofrimento dos nossos corpos para a liberação. Aliás, o sofrimento do corpo
dele, porque eu já me libertei logo no início, com toda a confusão hormonal
ocorrendo em meu interior.
Nós estamos em um ritmo extremamente perfeito quando ele sai, me
deixando em um vazio completo. Levanto-me para protestar e o vejo
caminhar até a cadeira, sentando-se na mesma.
— Monte-me — ordena. Sem precisar ao menos terminar a frase, o
monto, e ele até permite que eu solte gemidos baixos em seu ouvido,
enquanto ele fala coisas sujas, que me levam além de todos os limites. É
incrível como ele tem classe até para falar todos os tipos de putaria. Ele me
testa e me envolve numa situação desesperadora a cada palavra.
Nós ficamos ao menos uns quarenta e cinco minutos trancados no
escritório, e depois levo pelo menos mais dez minutos trancada no banheiro,
tentando ocultar o que estávamos fazendo. Não sei se vai ser possível, tendo
em vista o quão corado meu rosto está.
— Está óbvio, não está? — pergunto a ele, que está sentado
gloriosamente, como se nada tivesse acontecido. É injusto! A vida é injusta!
— Não. Só está um pouco coradinha. — Sorri. — Diga que eu tive
um problema em um dos contratos e você estava me ajudando com algumas
ligações.
— Sim, senhor — concordo e ele me fita de maneira implacável. — O
que foi?
— Você é a mulher mais linda que eu conheço.
— E você é o homem mais lindo, mais encantador e mais galanteador
que eu conheço. Nos vemos em casa? — pergunto.
— Com toda certeza, na minha!
— Na sua! — Pisco para ele.
— Estou indo para casa em alguns minutos para resolver algumas
questões, senhorita Mariana. Dirija com cuidado, princesa — diz, me
mandando um beijo, e eu deixo sua sala com as energias renovadas.
— Vocês estavam transando! — Júlia afirma assim que me acomodo
em meu lugar.
— Nós não estávamos. Trabalho é lugar sagrado para mim.
Estávamos resolvendo a merda de um contrato cheio de erros. Minha orelha
está doendo de tanto ficar ao telefone — minto seriamente e elas parecem
acreditar, felizmente.

Quando chego em casa no início da noite, não encontro meus pais.


Deixo minha bolsa sobre o sofá e retiro meus sapatos, caminhando até meu
quarto.
Retiro minha roupa e cuidadosamente a lingerie. Certamente terei que
mandá-la a uma lavanderia especializada, para ser lavada cuidadosamente.
Paro diante do enorme espelho e contemplo meu corpo em busca de
alguma mudança. Não há nada, é apenas cedo demais para eu notar quaisquer
diferenças, minha barriga continua reta como uma tábua. As únicas coisas
que vejo são meus seios levemente avermelhados e minha bunda marcada
pela ferocidade do meu homem. Só de pensar, me sinto necessitada! Sinto
que estou ultrapassando o limite do aceitável e da normalidade do tesão, mas
ultimamente tem sido difícil de controlar. Talvez haja algum remédio que
acalme esse fogo durante a gravidez, meus hormônios estão além de
enlouquecidos.
Tomo um banho demorado e lavo meus cabelos. Passo um hidrante
corporal, visto um short de algodão e uma camiseta básica. Após calçar
minhas lindas e amadas havaianas brancas, caminho até o apartamento ao
lado, minha casa fora de casa.
Assim que Arthur abre a porta, a primeira coisa que noto é ele estar
envolvido em um avental, a segunda, é toda nossa família reunida. Nossas
mães sentadas no sofá, junto à Alice, e nossos pais sentados nas banquetas,
tomando pinga.
— Cuuuu! — Alice grita enquanto estou olhando para um Arthur
sorridente.
— Olá! — Entro e cumprimento a todos. — Por que eu não sabia
dessa pequena grande reunião familiar? Você está cozinhando? — pergunto a
Tutu.
— Eu estou. Venha, pequena mocinha. Nós temos um anúncio a fazer
em alguns minutos — diz baixo, apenas para que eu possa ouvir. — Vou
fazer um suco natural para você, o que quer?
— Eu quero morango com leite! — respondo sorridente, amando ser
mimada. Ganho um beijo casto nos lábios e caminho até as três lindas
mulheres.
Minha mãe me puxa e me coloca sentada em seu colo, como se eu
tivesse cinco anos de idade e pesasse quase nada. Abraço-a forte e do nada
me sinto emocionada. Que caralho!
— Como você está, minha linda? — minha sogrinha pergunta,
segurando minha mão.
— Estou bem melhor, embora ainda sinta um pouco de fisgadas nas
costelas — explico e Alice pega minha mão.
— Uau! Olha isso, mãe! Meu irmão tem um excelente gosto! — diz,
sorrindo.
— Vocês já sabiam? — pergunto.
— Sim. Arthur nos ligou e contou antes mesmo de propor a você —
Lúcia fala, exalando felicidade.
— Incrível! Imagina se eu tivesse dito não? — brinco e as três me
olham, assustadas. — Não, eu nunca diria não. Eu o amo! — corrijo, rindo.
— Bom, ele disse que teremos outra novidade hoje. Estamos
ansiosas! — mamãe diz.
— Eu tenho uma suspeita, mas vou me manter calada por ora. —
Alice pisca um olho e eu engulo em seco em ansiedade. Ele deveria ter me
comunicado a decisão de falarmos hoje, mas, uma hora ou outra, teríamos
que fazer o comunicado, então não há razão para reclamar dessa decisão.
— Para minha linda noiva! — Arthur se aproxima, me entregando o
copo, e sorrio, me levantando.
— Eu te amo.
— Eu também amo vocês. — Sorri lindamente e retira o avental. —
Bom, o jantar está pronto! — diz a todos.
— Quero ver seus dotes culinários... — provoco em seu ouvido e ele
aperta minha cintura.
— Você verá todos meus dotes essa noite — responde com uma cara
de safado e me sinto sensível demais para essa troca quente.
Todos se acomodam na mesa de jantar e logo Arthur coloca sobre ela
duas travessas de escondidinho de carne moída, arroz branco e uma tigela de
salada. Meu estômago dá um lindo sinal de vida e eu sou a primeira a me
servir.
Solto um gemido nada educado assim que provo o delicioso tempero
do meu noivo, recebendo o olhar de todos e um aperto forte na coxa. Olho
para Arthur e ele sorri.
— Desculpem por isso — digo e todos riem. — Senhor, eu nunca
mais cozinharei na vida! Arthur, você foi eleito o mais novo cozinheiro do
nosso relacionamento!
— Se for para ouvi-la gemer dessa maneira, eu aceito o cargo — ele
fala em meu ouvido e coro quando ele dá um sorriso inocente.
— Realmente está bom. Já que vai levar minha filha de mim, é justo
que ela não fique queimando a barriga no fogão sozinha! — meu pai
“elogia”, fazendo todos explodirem em gargalhadas.
Comemos envolvidos numa conversa divertida e, felizmente, ninguém
além de Arthur nota que eu comi três vezes.
Quando terminamos, ele pega sua taça de vinho e se põe de pé.
— Bom, eu e Mariana temos um anúncio a fazer — fala e eu
permaneço sentada. Fixo o olhar em meu pai que, provavelmente, vai infartar
em alguns segundos.
— Prossiga, querido — mamãe diz, impaciente.
— Eu e minha futura esposa, encantadoramente linda, estamos
grávidos — fala tão orgulhoso e feliz, que começo a chorar de emoção.
Enquanto todos se levantam empolgados e Alice grita que sabia, vejo meu pai
dirigir o olhar para a mim e colocar sua mão sobre o peito.
— Eu estou morrendo! Ana, me leve para o hospital — dramatiza e
eu me levanto. Limpo as lágrimas, me aproximo e fico de joelhos diante dele.
— Ei, está tudo bem, pai, é apenas um bebê — explico.
— Minha princesinha. — Ele chora, emocionado, e eu tento conter
minhas emoções.
— É só um neto ou uma neta. Vou continuar sendo sua filha e sua
princesinha. Isso nunca vai mudar. — Tento acalmá-lo e ele dá um sorriso
que me tranquiliza.
— Eu deveria socar a cara desse homem, mas ele é bom para você,
então eu apenas tenho que aceitar — diz, me fazendo ficar de pé, e me
abraça. — Eu estou feliz por você, pequena Marizinha. Estou muito feliz. —
Mamãe entra no abraço e ficamos assim alguns segundos.
— Um netinho ou uma netinha. Que rapidez! Não sou velha o
suficiente para ser avó. Ele terá que me chamar de nana — ela diz, rindo.
Quando nos afastamos, recebo felicitações de todos em meio às
lágrimas de felicidades. Todos choram, até mesmo Arthur tem seus olhos
brilhando em lágrimas.
Quando nossos amados familiares voltam a ocuparem seus lugares à
mesa, eu e Arthur ficamos de pé, abraçados. Ele mantém suas mãos
carinhosamente contra minha barriga, acariciando-a com os polegares.
Coloco minhas mãos sobre as dele e juntos observamos todos brindarem à
chegada de um novo membro da família. É um momento lindo, que eu nunca
esperei viver. Nossas famílias agora são uma só, estamos repletos de amor e
felicidade.
Eu serei mãe!
UM MÊS DEPOIS
Sexo é a coisa mais fantástica da vida, sem sombra de dúvidas. Amor
é uma coisa, sexo é várias coisas. Houve um pensador que disse uma vez a
seguinte frase: “o sujeito que só pensa em sexo o dia inteiro é muito
saudável”. Essa frase explica muito sobre minha saúde de ferro. A alegria do
sexo supera o prazer do sono e muitos outros prazeres da vida.
Eu não estou certa se esse aumento de apetite é devido aos hormônios
ou apenas por Arthur ter se tornado um vício. Eu prefiro acreditar que é pela
forma como ele me toca, a forma como ele me despe até mesmo quando está
distante. Ele me desnuda a alma, transforma meu corpo em brasas e calafrios
constantes. Seu toque é libertador, me deixa entregue à loucura. Ele é o
combustível perfeito para minha sede insana. Nós estamos sentados na
recepção do consultório da minha mais nova médica obstetra, aguardando
minha primeira consulta. Estou impaciente por diversos motivos, mas,
principalmente, pelo fato de duas secretárias estarem engolindo Arthur com
os olhos. Vou ser sincera, os hormônios descontrolados parecem uma bomba
atômica em meu interior. Tenho perdido as estribeiras fácil demais. Tornei-
me ciumenta e psicopata!
Semana passada, eu e Arthur estávamos no shopping, lindos e plenos,
como um casal normal e apaixonado, então passou uma loira peituda com
cara de atriz pornô e deu um sorriso descarado para ele. Eu vi o momento
exato em que seus olhos voaram para os países baixos do meu futuro marido
e vi o momento exato em que ela caiu no chão após receber uma bundada de
responsa. Tutu, como bom conhecedor de mim mesma, viu que o assassinato
iria acontecer, então me arrastou até o carro e fizemos sexo no
estacionamento do shopping até eu me acalmar, em seguida me levou para
casa, me deu um banho demorado e me fez dormir calmamente. Ele nunca
me contraria, em hipótese alguma! Foi nesse dia que eu dei o primeiro tapa
na cara dele enquanto transávamos e descobri ter um pouco de tendências
dominadoras, sádicas. Talvez seja um bom momento para eu começar a fazer
terapia, eu sei. É uma força maior do que eu posso aguentar.
A parte fofa das últimas semanas, tem sido por conta do protagonista
da minha vida também. É ele, sempre ele. É o dono da porra toda. Arthur
chega diariamente com todos os tipos de coisas para bebês, em especial
roupinhas e sapatos encantadores. Inclusive, nosso filhote já tem duas gavetas
dos nossos armários separados para todos os mimos e uma estante de
ursinhos diversos. A maioria das peças de roupas e sapatos são de cores
neutras: amarelas, brancas, bege. Nossa família toda está envolvida em dar o
mundo para nosso bebê, tem sido uma experiência única, embora minha ficha
esteja custando muito para cair. Às vezes me pego de frente para vitrines de
lojas de bebê, namorando o futuro próximo, mas até hoje não entrei em
nenhuma. Sempre paraliso quando estou prestes a entrar. Hoje,
provavelmente, vamos ouvir o pequeno coração do nosso filho e, talvez,
finalmente, eu entenda a veracidade dos fatos.
Há também duas novas novidades. Estou cumprindo aviso prévio e
irei deixar a empresa, assim como Arthur também está. Ele finalmente
decidiu que esse é o momento ideal para abrir sua própria empresa e eu estou
o ajudando em todas as etapas. O coquetel da empresa em São Paulo será
nossa despedida, mas Arthur, como excelente advogado, continuará
prestando serviços para a empresa.
Estou saindo por três motivos: para ajudá-lo, porque não estou
produzindo muito e o último e mais importante, para ter disponibilidade de
transar com ele em seu próprio escritório! É incrível! Voltando à minha falta
de produção, tenho estado com um sono profundo, os enjoos parecem estar se
intensificando e eu quero cuidar e aproveitar de cada minuto da gestação.
Como eu tenho um bom pé-de-meia guardado, posso me dar a esse luxo
provisoriamente. Inclusive, eu e Arthur estamos tendo um embate, por ele
querer bancar todas as minhas contas. Eu aceito que ele pague restaurantes,
motéis e tal, mas minhas contas? Não sou esse tipo de mulher. Sempre
busquei independência e, felizmente, conquistei. A ideia de ter alguém
pagando tudo para mim é tortuosa o bastante.
— Mari, apenas pare de balançar as pernas — ele diz enquanto estou
perdida em pensamentos. Faço uma careta. Ele aperta minha perna e
guerreamos entre olhares. Estou certa de que ele me poria em suas pernas
nesse instante e bateria em minha bunda repetidas vezes.
Meu homem lindo e perfeito! Ele tem me mimado de todas as formas
possíveis. Tem até sido um pouco estressante a forma como ele tem cuidado
da minha alimentação, das minhas vontades. Ele achou a merda de um site de
gestantes e virou meu próprio médico. Agora sou obrigada a comer de três
em três horas, tenho todo um cardápio saudável e uma rotina regrada. Mas
quando sinto vontade de comer porcarias, ele não se opõe, faz todas as
minhas vontades, literalmente. É um verdadeiro guerreiro com sua espada
afiada. Até mesmo quando está exausto, seu pau está lá, ereto, pronto para
saciar meus desejos incontroláveis.
— Quando será que descobriremos o sexo do bebê? — pergunto,
agoniada, e ele sorri.
— Ainda é cedo.
— Eu espero que não seja uma menina, Arthur, se for, estaremos
fodidos. Quero um menino! — digo.
— É, se for menina terei cabelos brancos cedo demais, principalmente
se ela puxar à mãe — brinca.
— Deus me livre, Arthur, coloque seu pau para fora — peço
gentilmente.
— Para quê?
— Para eu bater três vezes na madeira — explico e ele ri.
— Você quer que aquelas duas senhoritas olhem meu pau? — ele
provoca com um sorrisinho e meus olhos se enchem de sangue.
— Eu arrancaria os olhos delas se ousassem — informo com um
instinto mortal. Ele sabe que causa um efeito, e eu odeio isso!
— Mariana Barcelos — uma delas diz e nos levantamos. — Segunda
porta à direita. — Ela sorri, olhando para Arthur, e ele trata logo de me tirar
de perto.
— Controle-se, pequena psicopata — fala em meu ouvido.
— Você gosta, não é? Gosta de toda atenção que atrai e gosta de me
irritar!
— Mari, se eu fosse bater em todos os homens que te fodem com os
olhos, eu já estaria preso. Olhar não tira pedaço — explica com sua maneira
simples de levar a vida, completamente diferente dos meus pensamentos
assassinos.
Nós entramos no consultório e a médica também foca seu olhar nele
prontamente. Óbvio, o demônio veio com uma camisa que marca todos os
seus músculos e uma calça jeans que contorna seu pau (que vive duro o
tempo inteiro). Para interromper seu sexo mental, tomo frente da situação e
me apresento.
— Mariana Barcelos, e esse é meu noivo, Arthur — digo, oferecendo
um aperto de mão, e noto uma aliança em seu dedo. Vadia casada!
— Claro. Sejam bem-vindos. — Ela se levanta e pega um avental, em
seguida me entrega. — Você pode vesti-lo para começarmos a consulta.
Vamos ver tudo sobre esse bebê. — Sorri e eu caminho até uma portinha,
onde retiro toda minha roupa de baixo e visto o incrível avental azul.
Acomodo-me em uma cadeira horrível, onde eu tenho que ficar com
as pernas arreganhadas, como uma rã. A doutora surge com o assustador
aparelho de ultrassonografia transvaginal. Ela o encapa com um preservativo,
despeja lubrificante exageradamente e vai até sua mesa; olho para Arthur, que
está do meu lado, segurando minha mão com uma cara assustada, que quase
me faz rir.
— Ela vai enfiar isso em você? — cochicha.
— Isso é fichinha perto do que você tem entre as pernas — informo, o
deixando exasperado.
— Preparados? Mariana, vai ser um pouco incômodo, mas é rápido —
ela diz e eu aceno com a cabeça.
Ela começa a enfiar a merda do negócio na minha linda e delicada
amiguinha e eu me sinto completamente desconfortável com essa caceta!
Estou de olhos fechados quando ela exclama, empolgada:
— Aqui está! — Volto meu olhar para a tela. Há apenas um pontinho
pequeno, que faz meu coração bater mais forte e meus olhos encherem de
lágrimas. É meu filho. Meu inesperado filho é aquele pontinho na tela. Olho
para Tutu e o encontro limpando algumas lágrimas com sua mão livre.
— Bom, pelo que vejo aqui, tem por volta de quatro semanas.
— Nós já conseguiremos ouvir os batimentos? — Arthur pergunta.
— Por volta da sexta semana conseguiremos isso. Ele ainda está em
formação, é só um pequenino ser — ela explica, demonstrando paixão pela
profissão. — Está tudo certo, papais, tudo dentro do esperado. Você já pode
se vestir para conversarmos. E, como solicitado, ao final da consulta
receberão o vídeo do ultrassom. — Basta olhar para Arthur e eu descubro que
isso foi obra dele. Tem dúvidas que ele será o melhor pai do mundo? Não!
Será apenas o mais perfeito.
Desço da cadeira e vou até o banheiro me vestir. Aproveito o
momento para contemplar minha barriga. De repente me sinto ansiosa para
vê-la crescer. Eu estou mesmo grávida! Não sei quantas vezes repetirei essa
mesma frase, mas é tão surreal e inacreditável.
Voltando à sala, sou obrigada a me pesar. A médica passa uma série
de exames e vitaminas.
— Bom, você é mamãe de primeira viagem, então tente não praticar
esportes, fazer atividades pesadas agora nesse início. Os três primeiros meses
são os mais importantes e que precisam de mais cuidado. Agora me conte,
como tem se sentido?
— Tenho sentido fome, sono, enjoo, tonturas e... — Olho para Arthur
e ele está mordendo os lábios de nervoso. Ela precisa saber dos detalhes. —
Tesão. Deus, eu sinto um tesão absurdo por esse homem! Ele parece ainda
mais incrível desde que eu engravidei, eu quero transar com ele o dia inteiro,
o tempo todo. Se a senhora não tivesse aqui, eu transaria com ele agora —
desabafo e ela dá uma gargalhada, ao mesmo tempo em que Arthur aperta
minha mão e me encara, puto pra caralho. Foda-se, eu o quero o dia inteiro.
Chuparia até as sobrancelhas dele.
— Tudo dentro da normalidade. Em algumas mulheres a libido
diminui e em outras aumenta consideravelmente. Vocês estão tendo algum
problema em lidar com isso? — ela pergunta a mim.
— De forma alguma. Estou lidando maravilhosamente bem —
respondo, sorrindo.
— Você, papai? — ela pergunta.
— De forma alguma. Não tenho sossego para dormir, não tenho
sossego para trabalhar, não tenho sossego na academia do prédio ou andando
no shopping, às vezes não tenho sossego para comer, mas não tenho que
reclamar, não é mesmo? Eu sou homem, saudável, gosto muito de sexo com
minha mulher. Minha única preocupação é saber se todo esse sexo pode
interferir em uma gestação saudável — ele diz e eu me sinto excitada pela
declaração. É tão quente ele falando de sexo de maneira “profissional”. Por
que ele não se abre sinceramente como eu? Provavelmente, a médica ficaria
chocada com nossa vida sexual.
— Sexo é super saudável e indicado. Atividade sexual é importante
para a saúde não só da mulher, mas do casal. Mariana está saudável, não há
nada de errado na gestação, então não há porque se privarem disso.
Aproveitem o quanto quiserem e puderem.
— Fodeu! — Arthur diz sem pensar, só depois percebe que falou em
alto e bom tom. A médica ri e balança sua cabeça. Deve, provavelmente,
estar com inveja de eu ter uma máquina sexual quente de primeira linha em
casa.
— Há algo que pode acalmar um pouco os ânimos, Mariana. Yoga
ajuda bastante, hidroginástica também é uma boa opção. Se puder fazer os
dois, melhor ainda.
— Procurarei algum lugar bom — digo, sorrindo.
— Tenho indicações, vou anexar às receitas. No mais, sua
alimentação está adequada, está tudo certo, então nos veremos em duas
semanas para os resultados dos exames e para ouvirem os batimentos desse
bebê.
Minutos depois estamos dentro do carro, indo para casa. Arthur está
me dando um sermão da montanha pelo meu descaramento sexual. Como se
ele não gostasse!
Aumento o som e o deixo falando sozinho. Ele abaixa e eu aumento
de novo. Nós repetimos essa luta até estacionarmos no prédio.
Subimos pelo elevador sem trocarmos uma única palavra, ele
encostado de um lado e eu do outro. As portas se abrem, eu caminho para
meu apartamento e ele caminha para o dele. Por que nós estamos brigados?
Eu não faço ideia. Só respondi as perguntas da médica. Não foi o bastante
para uma DR. Aliás, precisamos comemorar nossa primeira DR em algum
momento.
Como meus pais estão passando uns dias em Petrópolis, o
apartamento é todo meu. Dispo-me de todas as roupas e tomo uma ducha
relaxante, que se torna infernal assim que toco meu corpo. Por Deus, meus
mamilos parecem ter um contato direto com minha amiga vagina! É uma
sensibilidade que não é normal. Saio mais rápido do que entrei e fico de
frente para o ventilador, tentando conter o fogo. Desde que tenho um homem
gostoso no apartamento ao lado, me tocar não é uma opção.
Visto um vestido básico e vou até a cozinha beber um pouco de
iogurte. Sinto-me totalmente sem lugar dentro do meu próprio apartamento.
Coloco uma música bem alta, apenas para irritá-lo, e em questão de
segundos ele irrompe pela porta com uma toalha preta envolvida em sua
cintura. O observo fechar a porta com chave e logo estou sendo arrastada até
a cama.
— Que diabo está acontecendo? — pergunto.
— Uma foda de reconciliação, alguma oposição? — indaga, entrando
entre minhas pernas e colocando minha calcinha para o lado.
— Nenhuma — informo e sou invadida brutalmente.

DIAS DEPOIS
Quem, em sã consciência, consegue se manter centrado numa sessão
de yoga? Estou aqui, juntamente com mais umas oito mulheres, que parecem
felizes e relaxadas, enquanto estou tensa e desesperada. Dá uma agonia
manter os olhos fechados em meio a pessoas desconhecidas. E essa
musiquinha parece feita mais para sexo tântrico do que para yoga. O
indicador e o polegar colados só conseguem me remeter à “anal” e esse
cheiro de essência que eles jogam no ambiente está começando a me enjoar.
— A senhorita está tensa — uma voz fala em meu ouvido e eu quase
dou um mortal para trás de tanto susto.
— Santo Cristo, nunca mais faça isso! — digo ao samurai, karatê kid,
seja lá o nome que dão para professores de yoga.
— Vamos lá, inspira e expira — fala em meu ouvido e eu faço. —
Esqueça tudo e todos à sua volta. Tente levar sua mente para seu lugar
preferido. — Minha mente vai direto para meu noivo tesudo, seu pau é meu
lugar preferido no mundo! — Pense no som dos pássaros, na grama verde,
nos rios...
— Não tá dando certo — informo.
— Você está sendo relutante. Se entregue, relaxe os ombros, relaxe a
mente — ele diz, apertando meus ombros quando se posiciona atrás de mim.
— Novamente, Mariana, inspira e expira, inspira e expira. Pense no barulho
agradável das ondas do mar, deixe sua mente te levar à calmaria.
— Nós vamos ficar só assim todas as aulas? Sentados, viajando como
maconheiros? — pergunto.
— Não. — Ele ri. — Nós vamos trabalhar o corpo também, mas nessa
primeira sessão vamos tentar acalmar essa mente. Yoga é criar uma harmonia
perfeita entre o corpo e a mente. Como você é gestante, vai ajudar até na
respiração na hora do parto.
— Você acha que eu vou deixar meu filho nascer de parto normal? —
pergunto.
— Esqueça isso. — Ele ri de novo. — Você será um grande desafio
para mim, Mariana. Será que vou conseguir adequá-la à yoga?
— Não faço ideia — respondo, quase decidida a acabar com essa
loucura.
— Então vamos ficar em silêncio antes que atrapalhemos as demais
alunas. Esqueça o mundo, Mari, concentre-se em tudo que te falei. Pode fazer
isso? Pense na sua saúde e na saúde do seu bebê. — Assim que fala sobre
meu bebê, tudo muda e eu decido continuar apenas por esse pequeno
grãozinho que tem todo meu coração.
— Eu vou tentar — falo, ganhando um último aperto no ombro.
— Boa menina.
Eu relaxo. Penso em peixinhos, ondas do mar, pássaros cantando,
bebês lindos de olhos azuis... E deixo o sono ganhar a melhor. Eu durmo na
primeira aula de yoga!
Mariana entra no apartamento e eu já dou um salto com vara do sofá.
Estou tentando controlar seu apetite sexual à força, isso inclui colocá-la em
atividades diversas e eu mesmo me dedicar mais à academia.
Não venha dizer que isso é uma coisa horrível de se fazer. Acontece
que ela precisa aprender a ter controle de suas vontades. Felizmente, eu tenho
dado conta de suprir seu desejo sexual, mas ela realmente chega a ser
assustadora às vezes. É um desespero, que parece que o mundo está prestes a
acabar. Outro dia ela chorou na empresa porque queria transar, parecia uma
criança pirraçando por conta de um brinquedo, só que no caso dela, o
brinquedo era meu pau. Eu não sei se existe um grupo de apoio aos futuros
pais desesperados, mas estou tentado a procurar e descobrir se toda essa
loucura é mesmo normal.
— Oi, amor — digo carinhosamente, a abraçando, e ela solta um
suspiro. — Como foi a aula?
— Péssima. Eu nunca fumei maconha, mas tenho certeza de que a
sensação deve ser bastante parecida. É uma viagem louca e estressante. Por
fim, eu dormi, Arthur! Acordei com o professor me cutucando.
— Professor? — pergunto, começando a não gostar dessa merda. Eu
não sabia que era um professor.
— Sim, um professor, e tem apenas um detalhe: acho que ele não é
gay! — ela provoca, se afastando. — Mas isso não vem ao caso, não é
mesmo, amorzinho?
— Vem ao caso sim. Você se lembra o que fez semana passada por
causa da personal da academia do prédio? — pergunto e vejo seu olhar se
tornar psicótico.
Esse episódio da academia... Não posso nem lembrar que dá vontade
de encher essa bunda grande de tapas. Tudo porque eu agradeci sorrindo
quando ela me entregou um papel com a nova série de exercícios!
Mariana chegou bem na hora e já foi pegando o papel das minhas
mãos, certa de que era o número do telefone da personal. Antes mesmo de ler
o que estava escrito, ela jogou a mulher longe com um empurrão, que até eu
fiquei sem ação. O foda é que tudo ela culpa a gravidez, e já descobriu que
esse é meu ponto fraco.
— É diferente, o professor só me faz relaxar — diz.
— Como? Como ele te faz relaxar, porra? — pergunto, tomado pela
ira, e ela começa a rir.
— Ele me ensinou técnicas de respiração, massageou meus ombros...
As mãos dele são tão feitas para massagear, que eu dormi logo em seguida.
Não foi nada demais, não recebi nenhum papel e nem retribuí seu gesto com
um sorrisinho de molhar calcinha. — Não foi nada demais? Ele massageou
minha mulher! Maldito! Não haverá uma segunda vez.
— Você está fora. Vou encontrar outro lugar, apenas com mulheres
— informo, pegando minha squeeze.
— Você está indo malhar?
— Estou! — respondo em desafio e ela dobra os braços na altura dos
seios. Muito engraçadinha essa Mariana diaba.
— Eu estou indo junto! — afirma com convicção e eu quase rio.
— Não, a senhorita não está indo junto por três motivos: o primeiro é
que não faremos sexo novamente no banheiro da academia; o segundo é
porque precisa tomar um banho, se alimentar e descansar um pouco no
aconchego dos seus pais, que estão prestes a ir embora; e o terceiro é que já
verifiquei e hoje é o personal HOMEM que estará lá! — falo pausadamente o
terceiro item e ela dá um sorrisinho canalha.
— Você sabe que eu posso ligar para a portaria e confirmar o último
item. — Ela finge olhar suas unhas.
— Eu acho que você está indo confiar em mim, porque eu baterei na
sua bunda se não fizer — aviso e a observo morder seus lábios. Eu gostaria
de beijá-la, mas ela não está merecendo no momento, só mais tarde.
— Eu não vou mudar de professor de yoga. — Rio ao ouvir seu
atrevimento.
— Você já mudou e não sabe, querida. Passar bem!
— Argh! Você está insuportável hoje! Vou dormir no meu
apartamento, sozinha! — diz de um jeito que nem ela mesma acreditaria em
suas palavras.
— Você pode tentar, Mariana, mas vai vir implorar pelo meu pau de
madrugada. Então é uma perda de tempo completa, já que vindo dormir aqui,
eu te comerei antes de dormir, durante a madrugada e antes de irmos ao
trabalho. Você quem sabe, querida!
— Querida é o caralho, Arthur Albuquerque! Chame-me de querida
novamente e eu chutarei suas bolas.
— Você não faria isso, querida — provoco e ela vem para cima de
mim como um furacão. Me desvencilho dos seus tapas e a agarro firme pela
cintura, depositando minha mão em sua barriga. Meu filho há de me salvar
dessa ira.
— Me solta!
— Não. Nosso filho está muito bravo com você por estar batendo no
pai dele. Assim que ele tiver tamanho o suficiente, vai encher sua barriga de
chutes e vai destruir suas costelas — explico e ela começa a se acalmar,
sorrindo.
— Merda!
— Olha a boca suja, mocinha — alerto em vão. Ela é muito louca
mesmo, sua calmaria dura apenas dois segundos.
— Foda-se, me solte e vá fazer exposição da sua figura na academia!
— diz, desvairada. — Vai mostrar esses braços fortes cheios de veias, essas
pernas bem torneadas, esse tanquinho de seis gomos. Vai lá, bonitão, mostra
esse pau veiudo e duro, quase explodindo pela bermuda. — O que diabos ela
está falando? É preciso fazer uma terapia profunda sobre Mariana para
entendê-la.
— Não vou mostrar nada a ninguém, vou apenas malhar, Mariana
Barcelos. Vou ficar mais forte para dar conta de você — digo, a soltando, e
ela se joga nos meus braços.
— Te amo. — Ela enche meu rosto de beijos e, por fim, meus lábios.
Eu sorrio.
— Eu também amo você, maluquinha. Você e nosso bebê. — Dou um
beijo casto em sua testa e ela se afasta.
— Vá, antes que eu decida algemá-lo na cama. Estarei com meus
pais.
— Quando eu voltar, tomarei um banho e irei buscá-la — aviso e ela
sorri.
— Eu sei que irá, garotão, não sou a única com os hormônios
ouriçados — diz, caminhando até a porta e rebolando sua traseira. Ela não é a
única, realmente, eu a foderia nesse minuto.

Estou doente, me sinto terrivelmente doente pelo simples fato de estar


tendo minha vida controlada.
Estou trancada no banheiro com a desculpa de um enjoo, enquanto
meus pais e Arthur estão na sala com Amélia, uma ex-empregada dos meus
pais, que é quase da família. A questão não é sua presença, ainda mais que
ela está com sua neta, Jéssica, que é a coisinha mais linda desse mundo. A
questão é que acabei de descobrir que ela está vindo me auxiliar aqui em
casa. Ninguém me consultou, ninguém me disse nada. Eu odeio ser pega de
surpresa.
Oh, Mariana, deixa de ser mimada! Mimada é o caralho! É difícil
aceitar as imposições quando tudo que você fez nos últimos anos foi lutar
pela independência. Eu não sou a porra de uma dondoca que quer ficar
rodeada de empregados. Eu sou uma mulher que dá conta de cozinhar e
manter a casa limpa. Sempre tive tudo sob controle! Sempre! Isso é obra de
Arthur e Ana, minha amada e delicada mãe. Delicada como um coice! Pau no
cu dela! Pau no cu do Arthur também!
— Mari, me deixe entrar? — Arthur, o diabo controlador, bate na
porta, atraindo minha atenção, e eu a abro. Verás que um filho teu não foge à
luta, não é assim? Eu o encaro através do espelho e ele solta um suspiro. Ele
sabe que estou puta. — Eu posso explicar?
— Claro, faça esse favor. Nunca é tarde — digo e ele se senta no vaso
sanitário elegantemente. Até cagando ele deve ser gato.
— Eu vi como você olhou para sua mãe, não é culpa dela. Eu tenho
visto você cansada e indisposta. Você sente sono em grande parte do dia e em
breve sua barriga estará grande o suficiente para o trabalho doméstico se
tornar um problema. Seus pais estão indo embora, Mari, não terá mais ajuda
em tempo integral. Eu falei com sua mãe sobre isso, expus minha
preocupação com seu bem-estar, e então ela disse que conhecia a pessoa
perfeita e de confiança. Eu não sei se você está sabendo, mas Amélia perdeu
a filha e o genro num acidente, ela está criando aquela criança sozinha e
precisa de um emprego. Eu a pagarei bem e ela cuidará não só do seu
apartamento, mas do meu também. Com isso, ela estará nos ajudando e nós a
ajudaremos a dar uma vida melhor para a Jéssica. A garotinha tem nove anos,
Mari, ela merece um futuro brilhante, assim como Amélia merece um
emprego onde possa ter certa liberdade para cuidar da neta. — Com isso ele
me ganha por completo. Não há como argumentar ou ficar possuída pelas
forças do mal. Eu solto um suspiro em derrota e entendimento.
— Tudo bem, só não faça nada sem me perguntar antes, é apenas isso
que me incomoda, Arthur. Você está dominando tudo...
— A questão é que você sempre esteve no controle e não sabe viver
de maneira diferente — ele diz.
— É exatamente isso. Eu não vou negar.
— Isso não vai acontecer mais, Mariana. Nós dois mantemos o
controle um do outro, nós estamos levando uma vida conjugal e precisamos
aprender a conviver com isso — explica, me puxando para seu colo. — Eu
vou dominar cada parte de você.
— Eu não gosto de ser controlada.
— Você fica excitada quando eu estou no controle — diz com a
firmeza de quem me conhece tão bem.
— Sim, Arthur, mas isso tem um limite — falo, bebendo seus olhos
azuis profundos.
— Você vai ser minha mulher, Mariana, nós viveremos
definitivamente juntos e então eu quero contar com pessoas nos ajudando em
casa, para que possamos ter um maior tempo juntos e disposição de sobra
para aproveitá-lo da forma que gostamos.
— Transando? — pergunto, rindo, e ele permanece sério.
— É exatamente isso. E agora mesmo você me deve uma foda de
pedido de desculpas.
— Eu me desculpar? Pelo quê, exatamente? Não que eu vá negar uma
foda, seja ela do tipo que for, mas eu não vou me desculpar nem pra porra,
Arthur! Foda-se, você é o único que me deve desculpas por estar decidindo as
coisas sem me comunicar — esbravejo, tentando me desvencilhar dos seus
braços, e ele me segura mais firme.
— Fale assim comigo mais uma vez e eu estarei a fazendo gritar para
todos lá fora ouvirem, inclusive aquela garotinha inocente — ameaça e eu
dou uma gargalhada.
— FODA-SE, ARTHUR! TENTE ME CONTROLAR E EU IREI
MOSTRAR QUÃO DESCONTROLADA EU POSSO SER! — falo alto e
pausadamente, para que ele possa entender.
— Eu não vou responder sua petulância agora. Mais tarde nós
voltaremos a ter essa conversa. — Ele me tira do seu colo e se levanta. —
Agora vá para a sala e comporte-se como uma mocinha obediente. Na
primeira cara feia, você ficará de castigo.
— Ok, pai! — digo, levando um tremendo tapa na bunda. Estou
prestes a reclamar, quando Arthur me prensa contra a pia e puxa meus
cabelos com força. Minha cabeça tomba para trás, da mesma forma que
minha bunda empina involuntariamente.
— Abaixe esse maldito short — manda.
— Não! Não sou obrigada! Não recebo ordens! Você não é meu pai, e
mesmo que fosse, eu não obedeceria!
— Um... — É ridículo, mas ele começa uma contagem.
— Eu não vou abaixar — aviso. — Está perdendo tempo.
— Dois...
— Eu não tenho medo. — Merda! Ele é tão gostoso!
— Três! — Termina sua contagem e me faz debruçar sobre a enorme
bancada da pia enquanto desce meu short. Eu estou beijando o mármore
quando ele força uma abertura maior das minhas pernas e pressiona sua
ereção em minha entrada, socando tão forte, que eu sinto meu corpo ir ainda
mais para frente. — Porra de boceta apertada! Você me deixa louco, ao
extremo!
— Não, é você que me deixa louca. Por que está tentando me
controlar? — questiono em meio ao prazer delicioso que ele está me fazendo
sentir.
— Porque sinto que é o certo a fazer — diz, movendo em círculos
dentro de mim, bem forte, bem preciso e bem rápido. Deus, esse homem sabe
foder! Ele é realmente bom. — Santo Deus, Mari, onde você esteve minha
vida toda?
— Talvez eu tenha estado esperando por você... — Minhas palavras
fazem com que ele diminua o ritmo.
— Eu estou fodendo você no banheiro enquanto estão todos na sala,
nos esperando. Você tira minha razão completa — diz, me deixando vazia e
fazendo com que eu vire de frente. Suas mãos envolvem minha cintura e ele
me senta sobre a bancada, se acomodando entre minhas pernas. Sua ereção
brinca por todo meu clitóris antes dele empurrar para dentro. Mordo meus
lábios tão forte, que sinto o amargo gosto de sangue em minha boca. — Mas
agora que já comecei, eu não sou capaz de parar, Mari. Eu estou quase, e
você? Quero gozar para você, princesa, quero você cheia com a minha porra.
— Eu também... — digo, apertando sua bunda e o puxando ainda
mais perto. Eu mordo seus ombros enquanto ele faz todo o trabalho sujo.
Arthur é o rei das rapidinhas geniais...
Nós gozamos juntos e ele nos limpa antes de, finalmente,
caminharmos até a sala. Minha mãe nos dá um olhar reprovador, de quem
sabe exatamente o que estávamos fazendo.
Vejo Arthur ir direto para Jéssica e os dois embalam em uma
conversa que parece estar bastante divertida, já que ela ri o tempo todo.
Nunca o vi com uma criança, mas agora estou certa de que ele nasceu para
conviver com elas. Meu coração se derrete os observando.
— Amélia começa na segunda! — mamãe diz e eu sorrio.
— Isso é ótimo! Amélia limpou minha bunda e vai me ajudar a limpar
a bunda do meu filho em breve — falo, rindo.
— De geração em geração — ela responde sorridente e eu me
pergunto de onde ela tira forças após ter perdido uma filha.
— Como tem sido com Jéssica? — pergunto, tentando não soar
invasiva.
— Ela é uma criança fácil, Mari. Não me dá problema algum e é
super prestativa. Acredita que ela já gosta de me ajudar nos afazeres
domésticos? É claro que eu não deixo muito, mas sempre deixo uns três
copos para ela lavar e a vejo ficar radiante, achando que é a verdadeira
heroína. — Amélia sorri e meus olhos se enchem de lágrimas. Que fase
chorona!
— E ela está estudando onde? — pergunto, de repente preocupada
com o colégio da garota. Eu já tenho um instinto maternal e não sabia? É
isso? Não estou me reconhecendo.
— Numa escola perto de casa — ela explica.
— Vai ficar longe, com você vindo trabalhar aqui. Talvez seja legal
se mudarmos ela para algum colégio aqui perto. — Amélia mora na zona
rural, bem distante do centro.
— Não tem como, Mari, ela estuda em colégio público. Ela não pode
perder a vaga — Amélia diz.
— Eu vou cuidar para conseguir uma transferência para ela. Deus me
livre, imagina acontecer qualquer coisa com ela e demorarmos tempo demais
para chegarmos até lá? Não! Jamais! Eu ficaria louca.
— Não se preocupe, Mari, vai dar certo. — Sua confiança não me
convence. Vejo uma leve preocupação sendo escondida.
— Não tem discussão, dona Amélia. Vamos ajudá-la e fazer o melhor
para a pequena. Essa é minha condição para tê-la me ajudando. Caso
contrário, não ficarei feliz e sossegada.
— Tudo bem, eu aceito. Tem sido eu e ela sozinha por muito tempo.
Os familiares do pai não a procuram — diz baixo e meu coração se contorce
no peito.
— Não estarão mais sozinhas. É uma promessa — informo, dando um
beijo em sua cabeça.
Minha mãe está arrumando a mesa de jantar com várias guloseimas.
Acomodamo-nos e eu fico apenas observando meu Tutu com Jéssica. Ela se
sentou ao lado dele, parece completamente fascinada. Começo a prestar uma
atenção maior e capturo a conversa animada dos dois:
— O que vamos comer? Bom, eu sou fã de bolo de cenoura com calda
de chocolate. Eu como escondido da tia Mari às vezes, mas é um segredo.
— Eu quero um pão de queijo e um bolo também, tio Arthur. Mas
seria falta de educação comer os dois? — A pequena pergunta para ele e o
vejo segurar um sorriso.
— Claro que não. Vou te acompanhar nessa jornada. Vamos beber o
quê? Eu quero chocolate quente, é meu preferido.
— É o meu preferido também, mas vovó diz que dá dor de barriga se
beber demais.
— Sério? Oh, meu Deus, Jéssica, eu bebo muito, será que vou ficar
com dor de barriga? — Ele faz uma cara de assustado e a menina começa a
rir.
— Eu acho que vai.
— Vou arriscar mesmo assim. É o melhor do mundo inteiro — ele diz
e volta seu olhar para mim. — Tia Mari está bisbilhotando nossa conversa,
Jéssica.
— Eu não, jamais faria isso! — defendo-me e a menina me olha
timidamente. Preciso conquistá-la e mostrar que sou mais divertida que
Arthur. — Eu acho que quero comer o mesmo que vocês, o que acham?
— Eu acho uma boa ideia, e você, Jé? — Arthur pergunta.
— Eu também. Tia Mari pode comer mais, porque ela tem um bebê.
— Exatamente! Eu posso comer o dobro. — Sorrio.
— Ela vai ficar gordinha, não vai, Jé? — Arthur provoca e eu faço
uma careta.
— Ela vai ficar com uma barriga gigante de bebê — ela responde,
rindo, e eu me derreto com sua voz.
Agora acho que serei uma boa mãe.
Me encontro deitada sobre o divã ginecológico, com as pernas
escarranchadas de uma maneira nada legal. O que me conforta é Arthur
segurando minha mão possessivamente, enquanto a médica faz os
procedimentos para ouvirmos pela primeira vez os batimentos cardíacos do
nosso bebê.
Estou sendo novamente invadida por aquele óvni gigante que
incomoda minha vagina delicada. Segundo a médica, essa será a última vez
que passarei por essa provação. Estou fitando o lindo rosto do meu futuro
marido, alheia a todas as coisas, inclusive alheia à penetração indesejada. Ele
está no seu habitual terno e gravata, totalmente sexy, com a postura de dono
do mundo. Sua ansiedade é palpável e o deixa ainda mais sexy e comestível.
Sorrio com a imensa satisfação de ser a única mulher que ele come,
insanamente, devo dizer.
— Estou vendo uma alteração aqui — a doutora diz, atraindo minha
atenção, e sinto Arthur apertar minha mão com mais força.
— Há algo errado? — ele pergunta, exalando tensão, e eu engulo em
seco, começando a sentir a porra de um medo incontrolável. Desvio meu
olhar da tela do monitor e foco no teto, enquanto rezo para que não haja nada
de errado com nosso bebê.
— Não há um bebê — ela fala e eu volto a encará-la. — Há dois
bebês. Parece que um deles estava bem escondidinho. — Ela sorri e eu morro
mil mortes morridas. Meu coração para de bater, eu paro de respirar, o
sangue começa a jorrar dos meus olhos e eu sinto que estou bem próxima de
ir cumprimentar o diabo, obviamente é ele, porque Deus não me aceitaria no
céu.
Olho para Arthur e ele está focado na tela, completamente sério,
absorvendo o que a médica acabou de dizer. Vejo um V perfeito formado
entre suas sobrancelhas. Eu me sinto fodida pra caralho. O silêncio é
angustiante, até que ele resolve quebrá-lo.
— São dois. Eu vejo dois pontinhos — ele diz e eu vejo um sorriso
crescer. Ele parece incrédulo. — Dois bebês. Meu esperma é potente, pra
caralho! Nós teremos gêmeos! Porraaaaaaa, Mariana, gêmeos! É incrível!
Isso é fodidamente incrível! Nós teremos dois bebês em uma leva só!
A médica parece escandalizada com a escolha de palavras dele,
enquanto ele está pouco se fodendo com o fato de não estarmos sozinhos.
Arthur parece estar em outra dimensão. Queria estar 1% tão feliz
quanto ele está, mas apenas estou desesperada. Um já seria uma loucura,
dois? Eu não sei cuidar de dois serumaninhos. Eu não tenho mentalidade para
isso. Deus, eu virarei a própria baleia Jubarte! A médica está errada, eu não
tenho históricos de gêmeos na família e acredito que Arthur também não. Eu
estou renunciando a sexo pelo resto da vida. Nunca mais eu transo!
Um barulho começa a soar em dose dupla e percebo que são os
batimentos cardíacos dos bebês. Santa merda, é verdade, são dois! Eu quero
fugir para as colinas, mas me encontro chorando, emocionada,
principalmente por ver as lágrimas de Arthur descendo em cascata. Os
corações dos meus bebês, eles batem tão rápido em completa sintonia. É o
melhor som que já ouvi em toda minha existência.
— Nossos filhos, Mari, eles têm corações! — ele fala todo bobo e isso
faz meu coração se apertar. É óbvio que eles têm corações! Meus filhos terão
um paizão, não sei se conseguirei chegar perto da dimensão que Arthur será
como pai. Estou chocada, tanto que não consigo dizer uma única palavra. Há
uma mistura de alegria, incredulidade e falta de fé em mim mesma. Resta
saber qual dos sentimentos eu irei alimentar mais.
— Há alguma dúvida que queiram tirar? Nós estaremos agora
trabalhando em torno da gravidez gemelar. Ela envolve um pré-natal
diferenciado. Quando os bebês estão ligados à mesma placenta, se chama
monocoriônicos, o acompanhamento do pré-natal requer que seja ainda mais
cuidadoso. Eu já tenho experiência nessa área, vocês estão em boas mãos —
ela diz sorridente e meu medo apenas aumenta. — Fique tranquila, Mari, vai
dar tudo certo, não é um bicho de sete cabeças.
— Ok. — É a única coisa que consigo dizer antes dela me liberar para
trocar de roupa.
— Eu tenho algumas dúvidas. — Ouço Arthur falar. Claro que ele
tem. Eu estou apenas fodida, ele vai ser muito mais controlador a partir de
agora. O deixo conversando com ela e caminho até o banheiro. Olho-me no
espelho e vejo meu rosto sem cor. É apenas assustador. Não estou em
negação, estou apenas tentando uma aceitação. Não posso imaginar tudo em
dobro...
Assim que eles nascerem, Arthur vai usar três camisinhas, uma por
cima da outra, e eu tomarei pílula e usarei preservativo feminino, além de
colocar um adesivo anticoncepcional e tomar injeção trimestral. Esse esperma
dele é realmente FODEROSO, não conhece os limites.
Visto meu vestido, calço minhas sandálias e me dou quatro tapas na
cara, dois em cada lado, antes de voltar à sala. Arthur está sorridente,
terminando sua conversa, e eu estou extremamente silenciosa.
— Alguma dúvida, Mari? — ela pergunta carinhosamente.
— Não. Acredito que Arthur já tenha cuidado disso. — Forço um
sorriso em meio ao choque completo.
— Nos vemos em quinze dias — diz, antes de Arthur segurar minha
mão firmemente e sairmos.
Chegando ao carro, me acomodo ao lado do passageiro e Arthur já
começa sua loucura dominadora, colocando o cinto em mim e ajustando à
minha barriga, que ainda nem existe direito.
Pego minha garrafinha de água e a viro completamente, até ele me
tomar.
— Vai afogar os bebês dessa maneira — ele fala e eu tento acreditar
que ele está apenas brincando. Não pode ser normal isso, pode?
— Você está brincando? Apenas diga que sim! — repreendo e ele
sorri.
— Eu não estou brincando — afirma e eu reviro os olhos. Não há
dúvidas que estou fodida em dobro também.
— Não comece, Arthur. Apenas me deixe absorver essa novidade —
digo e ele liga o carro.
— Você não está feliz? — pergunta, receoso, enquanto manobra,
saindo do estacionamento.
— Eu estou, mas estou assustada também. Como cuidarei de dois
bebês?
— Você não cuidará, nós dois cuidaremos, Mari. Nunca sozinha,
entende? Nunca — diz. — Eu estou feliz pra caralho. Sempre quis ser pai, e
agora descubro que serei em dose dupla.
Claro, ele não vai explodir, não terá estrias na barriga, não ficará igual
uma bola gigante de parque de diversões.
— Você vai esquecer de mim quando eles nascerem — falo,
começando a chorar. Não sou capaz de imaginar ficar em último plano.
Óbvio que nossas prioridades serão os bebês, mas tenho medo de que Arthur
vá ser apenas pai em tempo integral, já que ele sonha tanto com a
paternidade. Meu Tutu, meu tesudinho, meu homem mais lindo do mundo,
não será mais meu!
— Mari, nós poderíamos ter quadrigêmeos e eu ainda teria tempo o
suficiente para cuidar de você, amor. Você não entende, não é mesmo? —
questiona.
— Não entendo o quê? — pergunto, fungando.
— Meu desejo por você, Mari, isso nunca vai ter fim. É sem limites,
meu amor. Nós sempre vamos estar nos enroscando em um canto e sempre
terminaremos os dias em nossa cama, juntos. Vamos ter apenas que ser mais
cuidadosos, mas acho que vamos nos sair bem, escondidinho é mais
gostoso... — Ele sorri e eu começo a acalmar meu coração.
— Você vai me desejar mesmo gorda, com as tetas despencando e
cheia de estrias?
— Isso não vai acontecer, mas, se essa for uma possibilidade,
certamente eu continuarei a desejando. Meu desejo por você não é apenas
físico, Mari, ele vai além, muito além.
— Você promete? — peço.
— Eu prometo, Mari. Prometo e meto para enfiar isso na sua
cabecinha perturbada. — O vejo sorrir e estacionar em frente a um luxuoso
restaurante. Observando meu olhar, ele diz: — Nós estamos indo comemorar
nossos gêmeos. Preciso alimentá-la, a senhorita agora come por três.
Ele desce do carro e faz questão de abrir a porta para mim, entregando
a chave para o manobrista em seguida. Entramos no restaurante e meu
estômago começa a ficar ouriçado assim que o cheiro de comida invade
minhas narinas.
Acomodamo-nos e o garçom nos entrega dois cardápios.
— Hummmmm... Eu já tenho minha escolha — digo, desesperada
para comer.
— Qual, princesa?
— Quero um medalhão de filé mignon ao molho de mostarda, com
arroz à piamontese e batatas rústicas. Para beber quero um suco de laranja
com acerola, já que o vinho está fora de cogitação.
— Eu a acompanharei. — Ele sorri e chama o garçom, fazendo
nossos pedidos. Fico pasma ao ouvir ele acrescentar: — Por favor, quero que
seja ao ponto para bem passado. Minha linda esposa está grávida, nada cru,
nada malpassado.
— Uau. — Sorrio. — Como sabe de todos esses cuidados?
— Tenho um guia de gestação — diz, me deixando boquiaberta.
— O quê?
— Sim, do tipo “o que esperar quando está esperando” — responde
com toda a tranquilidade de quem está dominando o assunto gestação.
— Isso vai me enlouquecer, não vai? — pergunto, tentando me
manter séria.
— Provavelmente. Eu estou cuidando de você, maluquinha.
— Estou percebendo isso, senhor controlador.
— Eu te amo — fala, olhando em meus olhos. — Tanto. — Sorrio.
— Eu sei. Eu também te amo, tanto, tanto, tanto.
— Eu vou tentar não te sufocar, Mari. Sei que ficarei chato em torno
de você, então apenas tenha um pouco de paciência e me diga quando eu
ultrapassar os limites — pede, fazendo uma carinha de bom moço. Ele vai me
atropelar, sinto isso.
— Eu gosto de você sendo protetor, sinto um tesão absurdo. Mas, se
exagerar, eu protestarei — informo.
— É claro que você sente tesão — diz, me olhando intensamente, e eu
posso apostar que ele está duro em suas calças.
O jantar chega e nos deliciamos silenciosamente. Meu apetite
descontrolado chega a dar medo, e Arthur acha isso a coisa mais fantástica.
De sobremesa, comemos um delicioso pudim, e em seguida vamos para casa,
mais especificamente para o meu apartamento.

Meus pais foram embora há três dias e eu fiquei muito mal. Chorei
um dia inteiro e Arthur me deu seu mais sincero consolo.
Enquanto ele coloca a banheira para encher, me desfaço de todas as
roupas.
Estou demasiadamente distraída quando suas mãos envolvem
carinhosamente minha barriga e sou puxada contra seu corpo rijo.
— Eu amo que nossos filhos estejam aqui — diz, beijando meu
pescoço, e eu me viro de frente para ele.
— Eu amo que nós vamos fazer um sexo quente e suado agora.
— Oh, tão romântica, minha mocinha. — Ri enquanto eu desfaço o
nó de sua gravata e a jogo longe.
Ele está praticando o “deboísmo”, enquanto eu estou praticando a
perversidade completa.
Seu casaco voa ao chão e eu arranco sua camisa, fazendo dezenas de
botões voarem por todos os cantos. Gosto quando ele me deixa ter um pouco
de controle, mesmo quando estou descontrolada. Abro seu cinto e ele chuta
seus sapatos, enquanto abaixo sua calça juntamente com a cueca. Seu
membro, já duro, salta glorioso em minha barriga, e eu me ajoelho aos seus
pés, necessitada para tê-lo em minha boca.
O levo até onde é possível, o chupando como um picolé delicioso,
meu picolé sabor Arthur Albuquerque.
— Porra... — ele grita quando me concentro em sua glande grande
rosada e sinto suas mãos puxando firmemente meu cabelo. Estou seguindo
meu caminho de volta até o limite quando o enjoo me rasga. Levanto-me
rapidamente, correndo até o banheiro, onde me tranco e luto para não
vomitar. — Mari, abra a maldita porta!
— Só um minuto — grito.
— Está tudo bem? Por que diabos você tem que fechar o caralho da
porta?
— Foi um enjoo — explico, lavando meu rosto na água fria e
tomando lufadas de ar. O exercício de respiração que aprendi na yoga, enfim
está sendo de grande ajuda.
— Você está vomitando? — pergunta, preocupado.
— Não, estou apenas tentando fazê-lo passar.
— Então abra a maldita porta ou vou arrombá-la — grita como um
louco e eu a abro.
— Não quero que fique me vendo mal assim.
— Não importa o que você quer, importa como me sinto sobre você.
Eu estou aqui por você, Mari, vomitando ou não. Na saúde e na porra da
doença! Não faça isso novamente, não se tranque ou fuja de mim por um
mal-estar! — ele esbraveja irado, acho que nunca o vi dessa maneira.
Encolho-me no canto da pia e ele suspira, quase arrancando os cabelos. —
Me desculpe. Apenas morreria se qualquer coisa acontecesse a você, Mari.
Eu me preocupo, o tempo todo. Vê-la vomitar não vai diminuir meu amor por
você, ainda mais que eu sei que são nossos filhos que estão causando essa
bagunça toda.
— Me desculpe.
— Não peça desculpas, apenas não me deixe louco, mocinha. De
qualquer forma, eu não gozaria em sua boca.
— Por quê? — pergunto, movida pela curiosidade.
— Tudo que você come ou bebe vai para os bebês. Eu não os quero
bebendo da minha porra.
— Arthur, você não leu esse absurdo no tal guia de gestante, não pode
ser sério — digo e ele apenas sorri, sem responder. Ele está surtado!
— Venha, quero cuidar de você. — Me oferece suas mãos e eu as
pego.
Assim que ele se acomoda na banheira, me encaixo entre suas pernas,
de costas. Meus cabelos estão presos em um coque frouxo e isso facilita suas
mãos deslizarem pelos meus ombros em uma massagem deliciosa. Conforme
gemo em apreciação, seu pau cutuca minhas costas e eu suprimo a vontade de
rir.
As mãos dele são mais mágicas que quaisquer outras que já tiveram
sobre mim. Seu toque suave envia ondas de excitação por todo meu ser.
— Está gostando, mocinha?
— Eu estou amando, amor — respondo e o sinto deslizar em meus
seios.
— Eles estão crescendo um pouco a cada dia — diz em meu ouvido e
mordo meu lábio inferior, reprimindo o desejo de dar um gemido
desesperado.
— Eu quero sentar...
— Você está sentada, mocinha.
— Sentar em você, sentar nele — peço, ofegante, e Arthur desliza sua
mão em minha intimidade.
— Eu posso senti-la pulsando de necessidade.
— Então acabe logo com isso — ordeno e ele ri.
— Você está se sentindo bem, meu amor? — pergunta de maneira
preocupada e eu reviro os olhos sem que ele possa ver.
— Eu estou bem — digo, virando-me de frente para ele e montando
em suas pernas.
Seu olhar cai diretamente em meus seios e ele leva um deles à boca.
Eu gemo longa e profundamente satisfeita, apoiando minhas mãos em seus
ombros e inalando seu aroma delicioso.
— Está agradável? — pergunta.
— Sim, bastante.
— Mari, eu não sei como me sinto sobre dividir eles com nossos
filhos — sussurra, envolvendo cada um deles em suas mãos. — Eu os amo.
Sabendo que estou prestes a jogar seu autocontrole para o espaço,
começo a me remexer em torno da sua ereção. Ele quer fazer isso lento, eu
aposto que a partir de agora ele vai querer sempre lento, mas não estou
disposta a aceitar esse absurdo.
— Droga, Mari, calma...
— Foda-me agora, Arthur, eu esperei a porra do dia todo para isso! —
Levo minha boca a dele e o beijo descontroladamente, enquanto ele tenta
conter meu desespero segurando em minha cintura.
— Eu estou tentando me controlar.
— Eu não quero que se controle. Deus, Arthur, os bebês estão
protegidos, eu preciso disso duro, selvagem!
— Eu acho que faremos isso na cama, pequena torturadora.
— Maldição, Arthur! Você tem um minuto e nada mais para estar
dentro de mim! — esbravejo, saindo da banheira, puta pra caralho. Se homem
sofre de bolas azuis, mulheres sofrem de quê? Ovários rosados? Útero arco-
íris?
Enxugo-me de qualquer jeito, e pisando duro vou até meu quarto,
onde o aguardo, impaciente.
Sou pega de surpresa quando, de uma maneira que oscila entre
delicadeza e selvageria, ele me joga sobre a cama e está entre minhas pernas.
Ele me tortura, brincando com sua ereção em meu clitóris, ora esfregando,
ora batendo levemente no meu pequeno ponto delicado.
— Gosta disso?
— Sim — respondo, deixando minha mente voar apenas para o
prazer.
Seus olhos estão fixados aos meus enquanto me encara de maneira
séria. Ele simplesmente empurra gradualmente seu caminho dentro de mim e
sou abençoada com seus quadris moendo duramente.
— Santo Deus, Arthur... — Ofego, sentindo a pressão em meu núcleo,
do jeito que só ele sabe fazer.
Ele se afasta e retira seu membro, em seguida mergulha diretamente
para dentro, começando a trabalhar no ritmo constante que eu necessito. A
visão diante de mim é de um homem poderoso e demasiadamente controlado.
Gemo a cada vez que ele mói contra mim e sinto meu corpo todo tremer
alucinadamente.
— Você está perdendo o controle, mocinha? — pergunta, suspirando
baixo, e eu agarro o edredom abaixo de mim, sacudindo minha cabeça
freneticamente. Ele sustenta suas mãos firmes em meus quadris e me leva da
forma como bem entende, dominando cada sensação.
Por mais que ele esteja num ritmo constante, isso não é nada perto do
que sei que ele pode fazer, ainda assim é bom e um pouco duro, como gosto.
Começo a me mover sob ele, perdendo a noção da minha mente, e o
vejo sorrir.
— Eu estou te deixando louca, Mari? Desesperada? — pergunta e
fecho os olhos, incapaz de olhá-lo. Ele está indo mais profundo e a cada vez
que bate em meu clitóris, tento controlar a vontade de gozar. Quero
prolongar, mas a cada segundo isso se torna um desafio completo.
Incapaz de lutar, minha intimidade começa a dar espasmos
desesperadores e eu mordo meus lábios para não gritar o quão bom ele está
fazendo. Estou tremendo e gemendo enquanto gozo, já Arthur permanece
seguro de si, completamente controlado.
— Você não sabe como me sinto vendo-a gozar, Mari. Eu me sinto
além de selvagem — fala, deitando levemente seu corpo sobre o meu e
agarrando meus cabelos com uma mão. — O que você acha de me dar mais
um? — pergunta e eu balanço a cabeça em concordância. — Responda, eu fiz
você perder a voz?
— Sim, sim para tudo! — Ele sorri e começa toda a tortura em um
ritmo mais selvagem agora.
— Ela está pulsando novamente com vontade, Mari. Eu estou
sentindo e é malditamente bom. Eu não sei se vou conseguir segurar, quero
gozar em você.
—Mais... — peço, me movimentando, e ele me prende o suficiente
para ser o único a se mover. Me sinto desequilibrada enquanto ele bate bem
forte e profundamente. Meu corpo traidor está extasiado e completamente à
mercê desse homem.
O orgasmo de agora parece vir ainda mais intenso e eu cravo minhas
unhas em seus braços, como minha tábua da salvação. Sinto que se
tivéssemos de pé, eu desmoronaria.
— Eu estou vindo pra você, mocinha, vou te encher agora, olhe para
mim — ordena e eu forço para abrir meus olhos. — Você vai gozar?
— Agora... — respondo e ele geme enlouquecidamente, deixando sua
selvageria vencer o controle. O agarro e deixo meu corpo cair no êxtase da
liberação, o arrastando junto a mim.
Nós demoramos um tempo para recuperar. Arthur tem seu rosto
pressionado em meu pescoço, enquanto tenta controlar a respiração, e eu me
sinto exausta.
— Eu quero beijar você, Mari, preciso beijar você agora — diz e
sorrio, feliz da vida.
— Eu quero isso, beije-me — incentivo com a voz sonolenta e ele se
levanta para me dar um beijo explosivo.
— Não era um pedido — diz em minha boca e eu sorrio.
— Eu sei.
— Eu te amo, eu amo nossos bebês.
— Eu amo vocês também — respondo e ele se aconchega ao meu
lado. Não vejo mais nada. Meu corpo está incrivelmente relaxado e minha
mente devidamente fodida. Me entrego ao sono profundo, sem nem mesmo
tomar banho.
Manhã de sábado e eu estou sendo acordada em grande estilo. O estilo
Arthur de me acordar é perfeito. Meu incrível noivo tem sua boca deslizando
por todo meu corpo e nem mesmo a preguiça tem chance contra ele. Eu
realmente gosto dessa vida de casado que estamos levando. A melhor parte
de todos os meus dias é amanhecer ao lado desse homem.
Manhosamente, abro os olhos e sorrio, satisfeita.
— Bom dia, dorminhoca! Eu odeio acordá-la cedo aos finais de
semana, mas há um bom motivo — diz. É muita informação para minha
mente sonolenta registrar.
— Sexo matinal? — pergunto e ele sorri em minha barriga. Se for
sexo matinal, é realmente um excelente motivo para ser despertada do coma
em que me encontrava.
— Nossa futura casa. Preciso alimentá-la e em seguida iremos
conhecê-la.
— Nós já temos uma possível casa? — pergunto, acordando para a
vida de uma vez por todas.
— Nós já temos. Eu recebi muitas imagens e muitas opções, essa é a
mais incrível, Mari. Há espaço de sobra para as crianças brincarem à vontade
e você vai amar a vista — ele diz, satisfeito. O bom gosto dele é inegável,
mas estou com receio de que seja “demais”. Arthur está pirado depois da
descoberta dos gêmeos.
Ele se arrasta para fora da cama e me puxa junto. Relutante, caminho
até o banheiro, onde faço minhas necessidades e taco água em abundância no
rosto, tentando acordar mais.
Há um pouco de enjoo matinal, por isso bebo um enorme copo de
água gelada, que ajuda a terrível sensação passar. Como se não bastasse o
enjoo, a tonteira também surge para dar o ar da graça e me apoio no balcão da
cozinha.
— Merda, merda, merda! — digo, totalmente tomada pela forte
vertigem. Tudo parece estar rodando a 120 km por hora, inclusive meu
estômago.
— Respira, Mari, estou no controle. Tenho você. — Arthur surge, me
segurando pela cintura, como um verdadeiro anjo guardião. Respiro fundo,
repetidas vezes, e tento controlar essa sensação ruim.
Solto meu corpo e ele me coloca sentada no sofá.
— Está tudo bem? Talvez seja melhor você deitar, amor, e dormir
mais um pouco — diz, pesaroso.
— É só uma tontura, tem acontecido com frequência, mas já está
passando — explico, olhando seu rostinho de sofrimento, dá até dó. — No
seu guia de gestante não contém essa informação? — Decido provocá-lo e ele
me encara bravo.
— Não me teste, senhora Mariana Albuquerque.
— Eu ainda não sou essa senhora, não sei se você sabe. — Sorrio.
— Será muito em breve, Mariana Barcelos Albuquerque.
— Eu acho que um banho me fará me sentir renovada — digo,
suspirando.
— O que você quer comer? Diga e eu preparei, enquanto você faz seu
ritual de renovação.
— Ficaria feliz com uma vitamina e alguns cookies. Eu estou sedenta
por alguns com cobertura de chocolate. Há alguns pacotes no armário. —
Sorrio e fico de pé, testando meus pés por um segundo. Não há mais tontura,
felizmente me sinto estabilizada.
Ganho um beijo delicado de Arthur e volto ao quarto, diretamente
para o banheiro. Desfaço-me da minha calcinha e da blusa dele, que está em
meu corpo, e entro debaixo da ducha morna, lavando-me por completo.
Após despejar um pouco de xampu em minhas mãos, massageio meu
couro cabeludo e o enxáguo. Estou com os olhos fechados quando a sensação
familiar de suas mãos se conecta à minha barriga. Ele não ia preparar meu
café? Sorrio, mordendo o lábio em seguida. Tenho que dizer, a cada vez que
temos esses momentos únicos de carinho, me sinto confortavelmente em paz.
Despejo o condicionador em minhas mãos e ele o pega, deslizando
em meus cabelos. Eu gemo de apreciação quando seus dedos se conectam à
minha cabeça e uma deliciosa massagem começa. Meu corpo fica
completamente leve e eu me sinto flutuando no meu próprio paraíso
particular. Se estivéssemos na banheira, certamente eu dormiria.
A paz é tão grande, que abstemos de toda energia sexual. Estamos
curtindo o outro lado do relacionamento, um que faz parte dos 30% que não
envolve sexo.
Ele me ajuda a secar, e eu escolho um vestidinho branco e uma
rasteirinha para o nosso passeio. Resolvo deixar meus cabelos secarem
naturalmente.
Arthur está incrível com uma camiseta branca e uma calça jeans
escura. Eu amo quando ele se veste de maneira casual e deixa seus cabelos
levemente espetados.
Tomamos o café da manhã juntos e seguimos rumo a tão esperada
casa que fez os olhos dele brilharem. Pegamos um caminho que já me deixa
em total estado de alerta. Lindas mansões começam a surgir dentro de alguns
condomínios imponentes. Nós estamos indo para a parte milionária da
cidade, e isso é quase assustador.
Minha boca vai ao chão quando ele sinaliza sua entrada em um dos
condomínios mais fodas e famoso de Belo Horizonte, Lagoa dos Ingleses.
Pelos boatos, só moram gringos e alguns famosos. Eu até era famosinha no
bairro, mas não o suficiente para entrar nesse ambiente que cheira a dinheiro.
Após passarmos por um sistema de segurança rigoroso, nossa entrada é
liberada e surge um frio gigante na minha barriga.
Ele dirige com um sorriso em seu rosto, passando pelas ruas do
condomínio. Há até mesmo um supermercado dentro do local. Há alguns
poucos prédios, com apartamentos que devem custar muito mais que o olho
do meu cu, não que meu orifício anal tenha tanto valor. É cada casa
cinematográfica, que me faz querer virar corretora de imóveis. Uma única
venda e eu teria o resto do ano de férias em Maldivas.
Após uma volta completa, ele para de frente a uma casa gigante, que
faz minha boca ir ao chão. Não sou capaz de opinar e muito menos de
acreditar. Do meu lado esquerdo está a casa e do meu lado direito a famosa
Lagoa dos Ingleses. Há alguns barcos ancorados próximo a um píer, tem
lógica? Isso aqui é passatempo de rico, definitivamente. Voltando meu olhar
para a casa, só consigo imaginar que a vista do segundo andar deve ser de
tirar o fôlego, com toda certeza, mas essa casa é apenas absurda.
— É essa a casa? — pergunto, tentando não soar chocada, mas falho
miseravelmente.
— Eu posso te pedir uma coisa? — diz, sério.
— Claro — respondo com curiosidade.
— Mantenha sua mente aberta. Isso é tudo.
— Arthur...
— Por favor, Mari, é só um único pedido simples, mantenha a mente
aberta. Agora vamos descer, mocinha. Temos uma linda casa para conhecer.
— A empolgação em que ele se encontra basta para que eu fixe a ideia de
mente aberta, mesmo estando diante de uma mansão ostentação. Ela não é a
mais imponente desse lugar, mas certamente está na lista das mais bonitas.
Surpreendo-me com ele pegando uma chave do bolso, mas deixo esse
detalhe passar batido quando ele abre a porta, revelando de cara um charmoso
jardim de inverno de frente para o hall de entrada. Há até mesmo algo como
um lago abaixo da escada. Isso é um caralho de casa!
Dando conta de que eu estou paralisada, Arthur aperta minha mão e
me vejo obrigada a fechar a boca.
— Gosta disso? — pergunta e eu começo a rir. Rio tudo que tenho
direito, até sentir vontade de fazer xixi nas calças. Agacho ao chão, rindo, e
seguro minha barriga, de tanta dor por rir. As lágrimas descem pelos meus
olhos, mas não é de tristeza, é apenas de rir. Eu já disse que estou rindo? Puta
que pariu! Eu estou rindo pra caralho, desgovernadamente!
Volto o olhar para cima e Arthur está me encarando de maneira
impassível, isso me faz rir ainda mais. Se eu sou louca, Arthur é o
responsável pela existência da loucura mundial. Ele fez o impossível, se
tornou muito mais louco do que eu, anos luz à frente.
— Mariana!
— Oh, Deus, eu preciso ir ao banheiro! — Choro, rindo, e me sento
ao chão.
— Mari, puta merda! Às vezes quero apenas te matar — diz, me
pegando no colo e me colocando de pé.
Tento de todas as maneiras recobrar meu controle e a maldita técnica
de respiração começa a fazer seu efeito. Com toda a classe que não tenho,
levanto a barra do meu vestido e limpo os olhos. Viu? Eu e essa casa não
combinamos!
— Você ainda quer fazer xixi? O show já acabou? — pergunta, puto
pra caralho. Ele combina com essa casa. Todo imponente, elegante, um porte
absurdo, definitivamente se encaixa aqui. Eu apenas gosto de comer
cachorro-quente sentada no meio-fio de uma rua qualquer após sair de uma
balada, descalça e bêbada. Essa casa é para pessoas que curtem champanhe e
caviar. Eu gosto de costelinha de porco, pinga com limão e toucinho de
barriga gorduroso. Gosto de pastel com caldo de cana, coxinha com catupiry,
fandangos com ketchup. Lambo a tampa do iogurte e coloco feijão na
embalagem vazia de sorvete. — Mariana! Porra! — ele grita, assustando a
merda fora de mim. Puta que pariu!
— Oi?
— Você está bem? Ainda quer fazer xixi?
— Quero — respondo, balançando minha cabeça em descrença.
Ele me leva no primeiro banheiro próximo à entrada. É pequeno, mais
como um lavabo, e ainda assim é mais chique que o banheiro do meu
apartamento, que tem uma hidro.
Faço meu xixi e lavo meu rosto antes de me sentir pronta para
continuar a exploração.
O primeiro cômodo perto do banheiro é a cozinha, e, puta que pariu,
eu viraria MasterChef apenas para cozinhar nela. É maior que todo meu
apartamento e está completamente mobiliada com tudo de inox. A geladeira
tem duas portas gigantes e eu estou babando muito. Me imagino fazendo sexo
sobre essa enorme bancada de mármore incrível.
— Gosta? — ele pergunta novamente e eu não respondo. Posso ver
até outra crise de riso se aproximar.
A casa é realmente cinematográfica. Fico louca com os pés-direitos
duplos em diversos ambientes. A sala, cinematográfica também, já é toda
mobiliada, e possui uma TV que nunca vi igual em toda minha vida.
Pacientemente, ele me mostra todo o andar térreo e subimos ao segundo piso,
onde os quartos ficam. São seis quartos ao total. Todos eles possuem uma
vista incrível e não estão mobiliados. Há um escritório também, que não está
mobiliado; uma biblioteca, que possui toda uma parede preparada para
receber livros; e outro quarto livre, que pode vir a ser uma brinquedoteca.
Descendo de volta, é o momento de conhecer a área externa. É apenas linda.
Na área de churrasqueira tem playground e uma imponente piscina com vista
para a lagoa, mesas espalhadas e espreguiçadeiras, uma sauna e uma pequena
academia, fora uma casa de apoio, que tem três cômodos. É uma verdadeira
mansão, nem em novela já vi algo desse porte.
No final da jornada me sinto escandalizada e apaixonada.
Me sento em uma das mesinhas e já me imagino tomando café da
manhã aqui diariamente, lendo um jornal e contemplando a belíssima visão
da linda lagoa. Imagino crianças catarrentas dando saltos mortais na piscina,
um Lulu da Pomerânia descansando abaixo da cadeira, ostentando uma
presilha de brilhantes. Imagino Arthur correndo lindamente na esteira da
academia e acenando para mim. Imagino meu pai na área da churrasqueira
tomando pinga e minha mãe destruindo todo o serviço de paisagismo,
plantando mudas de rosa.
Eu imagino um verdadeiro hospício, para falar a verdade.
— Você gostou? — Arthur pergunta, sentando-se ao meu lado.
— Como poderia não gostar? É maravilhosa, Arthur! Quantos metros
quadrados?
— 900m².
— Deus, é absurdo! Você sabe disso, não sabe?! Isso foge da
compreensão, Arthur — falo, tentando trazer um pouco de sanidade à sua
cabecinha.
— Eu quero o melhor para minha família. O melhor para nossos
filhos. Esse condomínio é um dos mais seguros e que oferece mais lazer. Essa
casa é perfeita para tudo que tenho em mente.
— Desculpe, Arthur, sempre tive uma vida boa, mas isso aqui foge da
realidade. Nós podemos conseguir algo menos ostentoso — digo, temendo
chateá-lo.
— Eu já comprei — confessa, me deixando em choque.
— Você o quê?
— Eu a comprei, Mariana — ele afirma e eu estou incrédula demais.
— Você a comprou?
— Sim. Eu pensei que você ficaria feliz — diz com um ar de tristeza,
e me sinto uma cadela. — Mari, é um sonho que estou tendo o prazer de
realizar pela primeira vez. Eu imagino uma vida feliz nesse lugar. Imagino
nossos filhos correndo por todos os cantos. Isso aqui é qualidade de vida,
Mari. Longe da confusão e em contato com a natureza, além de toda a
segurança que eles oferecem. — Com toda essa explicação eu não tenho mais
o que dizer. Apenas preciso sentir que faço parte disso de alguma maneira.
— Eu venderei o apartamento e irei ajudar a mobiliar essa brincadeira
aqui — informo.
— Não!
— Sim, ou não temos um acordo. Deus, Arthur, isso é demais, deixe-
me apenas sentir que algo aqui dentro foi eu quem ajudou.
— Você está fazendo pirraça, merda! — ele suspira, exasperado.
— Eu venderei meu apartamento, é pegar ou largar — digo, batendo
os pés, e ele me encara em derrota.
— Tudo bem, caralho! Você vende a merda do apartamento e usa o
dinheiro para a decoração. Está melhor para você agora?
— Sim. Agora está perfeito. Beije-me! — ordeno e ele enfim sorri.
— Não, mulher infernal! Você tem essa mania de querer se
autoafirmar, isso me enlouquece.
— Arthur, eu imagino o preço dessa casa e tenho certeza de que a
venda do apartamento não vai ser nem perto dos 10% dessa monstruosidade.
Me sentirei melhor podendo ajudar de alguma forma — explico.
— Eu já entendi, Mari. Vamos olhar a venda segunda-feira, já que
isso te fará feliz. Quero mudar pra cá nos próximos meses.
— Nenhum beijo? — pergunto e ele bufa antes de trazer sua boca à
minha. É um beijo xoxo, mas válido. Ele está um pouco puto comigo, mas
não tenho culpa. Nunca me imaginei morando em algo assim. Estou passada.
— Eu tenho dinheiro, Mari, muito. Ao longo dos anos fui acumulando
dinheiro o bastante, pouco gastava com a vida sem graça que levava. Agora
eu tenho com quem gastar. Darei sempre o melhor para vocês, você querendo
ou não. Agora mova esse traseiro e vamos passear. Onde a senhorita quer ir
nesse lindo sábado?
— Podemos almoçar na casa dos seus pais? Eu estou com desejo de
comer a comida da sua mãe — digo, o fazendo abrir um sorriso gigante.
— Claro que podemos. Eles ficarão felizes, Mari, imensamente.

A ida é, como sempre, maravilhosa. Eu amo observar todas essas


árvores, é relaxante.
Do nada, um arrepio frio percorre meu corpo e a imagem de Laís
surge em minha mente. Com todas as novidades nos últimos dias, acabei
deixando de lado sua insignificante existência.
— Arthur, há alguma notícia ou novidade sobre Laís? — pergunto e
ele abaixa o som. Esse assunto é uma merda fodida para ele.
— Ainda em investigação. Por que, princesa?
— Nada. Eu tenho medo do silêncio dela — explico.
— Eu a matarei se ela fizer qualquer coisa com você novamente.
— Eu sei que sim — digo, colocando minha mão em sua coxa firme.
Sorrio quando ele a pega e a coloca sobre a direção do seu pau. O aperto e ele
suspira. Logo sinto algo crescer sob minha mão e o maldito calor começa a
surgir. Eu estava quieta e comportada, ele foi o único que começou com essa
provocação.
— É quase automático, não é? — Rio.
— Sim. Basta um toque seu...
— Nós podemos parar o carro? Eu preciso transar, de verdade. Só
uma rapidinha antes de chegarmos à sua mãe — peço e, assim que entramos
na estradinha de terra, sou surpreendida por ele atendendo meu pedido.
Eu criei um monstro. Estava certa de que ele não pararia. Estou tão
descrente, que me encontro sem ação enquanto o observo abrir o fecho da sua
calça e liberar o monstro.
— Não vai vir? — pergunta com um sorriso safado e logo estou em
cima dele, totalmente desajeitada, batendo a cabeça no teto.
Ele afasta minha calcinha para o lado e posiciona em minha entrada.
Desço de uma só vez e ele ruge, segurando minha bunda e tentando me
conter.
Comando o ato tomando meu próprio ritmo e ele me xinga de todos
os nomes possíveis.
Nós chegamos à casa da minha amada sogra quarenta minutos depois.
Enfim o grande dia da convenção. Devido a um resfriado, Arthur foi
com Júlia e Carla ontem à noite. É estranha a sensação de vazio, quase não
dormi essa noite. A cama estava solitária e fria, o quarto silencioso. Após me
recuperar do enjoo matinal, estou sentada na sala, tomando meu chato café da
manhã, enquanto Amélia está lavando o banheiro, e Jéssica, está apagada no
outro sofá. Seria muita maldade eu acordá-la para trocarmos algumas ideias?
Talvez irmos ao shopping comprar porcarias nas lojas de doces ou
brinquedos, talvez um videogame para distrair.
Não descobri ainda se serei uma boa ou uma péssima mãe, mas
pensamentos como esse me levam a crer que louca, certamente serei. Aliás,
loucura é a única certeza que tenho na vida.
Estou secando tanto a pequena criança, que logo ela desperta. Vejo-a
abrir os olhos e tentar se situar. Quando ela me encontra, grito de felicidade e
a vejo tremer de tanto susto.
— Olá, pequenina!
— Oi — ela diz timidamente, sentando-se e esfregando seus pequenos
olhinhos.
— Vamos passear no shopping? Preciso de uma amiga e você é a
amiga ideal! — Sorrio e ela parece começar a ficar empolgada.
— Minha vó deixou?
— Ela vai deixar. Tia Mari vai falar com ela — aviso e vou até o
banheiro. Como esperado, Amélia aprova nosso passeio e eu troco de roupa
rapidamente.
Assim que termino, encontro Jéssica parada na porta do quarto, me
olhando receosa. Eu pareço maluca? Sou tão legal!
— Vem aqui, vamos passar um batom! — digo, estendendo minhas
mãos para ela, e a coloco sobre a cama. Seus pés não alcançam o chão, isso
me faz rir.
Pego minha bolsinha de batons e escolho um mais clarinho. Ela faz
um biquinho engraçado e eu faço meu serviço lindamente.
— Ficou maravilhosa, Jé! Que tal fazermos um mega penteado
estiloso? — pergunto e ela balança a cabeça, empolgada.
— Eu quero, tia Mari. — Eu passo pelo menos quinze minutos
brincando de Barbie com ela. No caso, ela é a Barbie e eu sou a desvairada
testando os mais loucos penteados. Eu acho que gostaria de ser mãe de
menina.
Quando termino, a levo de frente para o espelho e fico ao seu lado.
— Está vendo como você é linda, princesinha? — Ela balança a
cabeça negando, demonstrando falta de amor-próprio. Ok, ela é muito nova
para isso, mas ela precisa se amar. Eu estou aqui para ensiná-la. — Repita
comigo Jéssica: eu sou linda!
— O quê?
— Diga “eu sou linda” — explico e ela dá um sorriso, voltando o
olhar para o espelho.
— Eu sou linda.
— Mais uma vez — peço.
— Eu sou linda.
— Agora diga mais alto.
— EU SOU LINDA! — ela exclama, rindo, e eu me dou por
satisfeita.
— Você é maravilhosa, pequena, nunca deixe que digam o contrário.
Você é linda, maravilhosa e uma verdadeira princesa.
— Você também é uma princesa linda, tia Mari — ela diz e eu sinto
meus olhos se encherem de lágrimas.
Deus, retire de mim essa vontade de chorar!
Após nos despedirmos de Amélia, descemos ao subsolo e eu abro a
porta para ela se acomodar no banco do passageiro. Coloco o cinto de
segurança e vejo seu olhar de desaprovação.
— Tia Mari, eu não posso ir no banco da frente — ela adverte e eu
rio.
— É claro, tia Mari só estava testando se você é uma garota esperta
— digo, piscando um olho, e a mudo para o banco de trás. Santo Deus, essas
crianças do século XXI estão espertas realmente! Não dá nem para fazer a
egípcia.
Dirijo escutando uma música animada. Quando paramos em um sinal,
pego um homem quase se jogando dentro do meu carro e sou obrigada a
evitar os gestos obscenos em respeito à pequena Jéssica. Eu acho que ela
entrou na minha vida no momento exato, estou praticamente fazendo um
workshop de como me portar sendo mãe.
Chegando ao shopping, ela está tão quieta, que quase a esqueço no
carro. Só lembro quando ela bate no vidro e atrai minha atenção.
Nós passeamos pelas lojas de mãos dadas. É uma experiência nova ter
uma pequena mão sob as minhas. É engraçado como criança parece um
chamarisco para homens, eu estou recebendo mais olhares que o normal, e já
fui obrigada a ouvir a velha piadinha ridícula “com uma mãe dessas eu mamo
até os trinta”.
Vislumbrando algumas vitrines, paro diante de uma loja infantil. Na
vitrine há tanto looks para bebês quanto para crianças. Sinto-me dividida e
resolvo entrar.
— O que você acha de alguns vestidinhos? — pergunto para Jéssica.
— Não, tia Mari, não é meu aniversário e nem Natal — ela diz,
cortando meu coração, e eu quero apenas rolar no chão e chorar. Em minha
mente conflitante tento imaginar o majestoso pau de Arthur, para segurar o
choro e fingir que não estou afetada.
— É para comemorarmos nossa incrível amizade. Você disse que
seria minha amiga, não é?
— Sim, eu sou sua amiga — ela responde sorridente e em seguida me
ajuda a escolher alguns vestidos e acessórios. Enquanto ela entra no
provador, olho algumas roupinhas de bebês. Não resisto e acabo comprando
algumas de cores neutras. Jéssica não aceita levar todos os vestidos e então
escolhe três. Eu escolho acessórios que combinem com eles sem que ela se dê
conta, e em seguida vamos para a loja de doces.
Fazemos a festa e eu posso dizer que sou três vezes mais criança que
ela. A garota é mega controlada, já eu sou o oposto.
Na loja de brinquedos, escolho um lançador Nerf, é uma arma que
lança dardos, e estou ansiosa para brincar. Pego três, uma para mim, uma
para Arthur e uma para Jéssica. Ela, boazinha e delicada que só, escolhe uma
boneca estranha que vem com fraldas, mamadeira e papinha. A boca da
boneca é sinistra e me causa arrepios.
Como já é horário de almoço, caminhamos para a praça de
alimentação. Eu deveria levá-la para comer algo saudável, mas ela está
apenas de olho no McDonald’s e, como sabem, isso é meu ponto fraco.
Eu peço dois para mim, sendo que um é para mim mesmo e o outro é
para meus filhos dividirem, e peço um para ela.
Estou molhando minha batata no ketchup quando o celular toca,
mostrando o nome “Júlia” na tela. Por que ela me ligaria?
— Oi — atendo, lambendo eroticamente a batata e gemendo de
prazer.
— Que merda é essa?
— Batata do McDonald’s — respondo, rindo.
— Mari, você não vai acreditar — ela diz de forma estranha.
— O que houve?
— Laís estava fazendo chek-in na recepção do hotel — responde e eu
dou um soco na mesa, que faz Jéssica engasgar-se.
— Um minuto — grito para Júlia e corro até o outro lado da mesa,
para bater em suas costinhas. — Respira — ordeno e vejo sair lágrimas dos
olhinhos dela quando se recupera. — Oh, Deus! Que susto, Jé!
— Já passou — diz, bebendo Coca-Cola para aliviar, e eu suspiro de
alívio, voltando ao meu lugar.
— Pronto. Como assim? — Tento soar calma para não assustar a
pequena, mas por dentro estou degolando Laís.
— Parece que ela estava na lista de convidados, porque o hotel foi
reservado apenas para a empresa.
— Arthur sabe disso? — pergunto.
— Parece que não. Ele está em reunião a manhã toda. Daqui a pouco
é o almoço, eu estarei de olho, Mari. E o resfriado?
— Estou bem melhor hoje. Que horas é a festa? — pergunto.
— Começa às vinte e duas horas. Eu ligo mais tarde, Mari, não se
preocupe, estou no pé dela — ela diz e desliga.
Passo o resto do lanche tentando tirar essa merda da cabeça e me
concentro em fazer Jéssica rir. Ela é o único motivo para eu me manter sã
diante dessa notícia horripilante.
Chego em casa decidida.
Após uma ligação para a companhia aérea, às seis da tarde tenho uma
mala feita e um táxi me esperando. Felizmente, tive algumas horas para
escolher um look sexy sem ser vulgar em meu guarda-roupa, tomando um
cuidado especial em observar se o look conseguiria esconder a leve
protuberância em minha barriga.
Quase ajoelho no chão para Amélia não contar a Arthur, caso ele
ligue, e ela acaba cedendo aos meus encantos.
Só quando estou dentro do avião consigo voltar a respirar e acalmar
um pouco meu coração. Júlia não deu mais notícias e muito menos atendeu
minhas ligações, então terei que ver e investigar por mim mesma.
Felizmente, o voo é curto e não demoro a chegar ao hotel, onde
solicito o quarto que estava separado para mim desde o início.
A primeira coisa que faço é tomar um bom banho, a segunda é
mandar uma mensagem para Júlia, solicitando sua presença secreta em meu
quarto.
Eu tomaria uma garrafa de champanhe se pudesse, mas há apenas dois
pequenos seres humanos que são as coisas mais valiosas em minha vida, e
por eles eu renuncio à bebida, que me faria relaxar.
Estou observando o anoitecer quando a batida na porta indica a
chegada de Júlia. Abro e ela entra como um furacão.
— Você sabe que Arthur vai te matar? É bom que saiba! Você ainda
está abatida.
— Eu me sinto bem, de verdade. Já fui até o shopping hoje — explico
e ela solta um suspiro. — Laís?
— Ela não saiu do quarto até esse momento. Estou à espreita o tempo
todo. Ela não participou do almoço ou do lanche da tarde, está pedindo
serviço de quarto e o quarto dela é bem afastado do quarto de Arthur. Isso é
tudo que sei. E, a propósito, ele está se comportando como um lorde, olha o
celular o tempo todo.
— Merda! — Corro até minha bolsa e ligo meu celular, que estava
desligado desde o momento em que entrei no avião. Vários SMS indicando
ligações dele aparecem na tela e uma chamada surge no mesmo instante.
Faço um sinal para Júlia se calar e atendo. — Oi, amor.
— Onde você está? Estou desesperado aqui, Mariana, estou quase
pegando um avião e indo embora. Diga-me que está bem.
— Eu estou bem. Sinto-me bem melhor, fui ao shopping com Jéssica
e agora estou na casa de Duda.
— Tomou todos os remédios? As vitaminas? O ácido fólico?
Alimentou-se corretamente? Teve enjoo ou tontura? — pergunta e eu reviro
os olhos.
— Eu fiz tudo isso e tive apenas um leve enjoo matinal.
— Estou com saudades, princesa. Estou louco para voltar para casa
— ele choraminga e eu sorrio.
— Eu também... Deus, Arthur, estou desesperada para ter suas mãos
em mim — digo e Júlia abre a boca em espanto.
— Você está? Está com tesão, amor? — pergunta com a voz rouca e
baixa.
— Absurdamente.
— Oh, Mari... Amanhã ficarei a noite toda dentro de você.
— Promete? — pergunto.
— Prometo, agora preciso desligar. Pelo amor de Deus, mantenha o
celular perto e dê um beijo nas crianças. — Como darei um beijo nas
crianças?
— Sim, senhor. Eu te amo, Arthur Albuquerque.
— Eu te amo, Mariana Barcelos Albuquerque. — Ele desliga e eu
suspiro apaixonada. O encanto acaba quando Júlia começa a rir.
— Deus, eu nunca vou acreditar que essa é você, Mari. Pagando
paixão total! É surreal.
— Onde Carla está? — pergunto após mandá-la tomar no @#$.
— Sassaricando no propósito de arrumar um multimilionário para
substituir seu namorado.
— Que bonito, né... — Rio.
— Bom, já são quase nove da noite, preciso me arrumar e volto em
seguida.
— Tudo bem, vou pedir algo para comer e me arrumar também.
— Capriche no blush, para Arthur não perceber que está abatida —
diz e se vai.

Às dez e meia estou diante do espelho, observando meu look. Estou


usando um macacão frente única, com alguns detalhes abertos na cintura e
um decote generoso, mas não vulgar. Na maquiagem trabalhei em realçar os
olhos e apliquei um batom vermelho-sangue. Nos pés, uma sandália básica,
preta, de salto fino, encerra meu visual. Estou satisfeita e confiante. Sinto-me
quase uma femme fatale.
Júlia já está no salão do hotel e informou que Arthur já chegou. Estou
apenas esperando sua ligação, avisando que Laís surgiu, e aí sim descerei.
Eu confio em Arthur cem por cento. Minha vinda até aqui se deve à
audácia e à cara de pau dessa mulher surgir na festa da empresa. Obviamente,
o nome dela está na lista por ser ex-mulher dele e os registros na empresa não
terem sido alterados. Isso não importa, na verdade. O que importa é a
ousadia, e eu estou aqui apenas para mostrar que ela está no lugar errado.
Talvez, impondo minha presença, ela caia na real. Bebendo um copo de água,
fingindo ser champanhe, caminho de um lado para o outro, ansiosa. O celular
toca e eu atendo no primeiro toque.
— Desceu e está na cola de Arthur. Ele está puto, Mari. Eles estão no
bar principal — ela diz.
— Estou indo.
— Eu serei demitida, Jesus! Arthur vai saber que fui eu quem te
avisou, Mari.
— Você pode trabalhar na nova empresa dele, amiguinha. — Rio e
desligo.
Dou uma última olhada no visual, faço a dança da Joelma, jogando o
cabelo, e faço um carão sexy. Agora sim o show vai começar nessa bagaça!
O elevador para diretamente no salão principal, onde a festa acontece,
e eu saio gloriosamente decidida.
Andando a passos lentos e certeiros, desfilo por entre várias pessoas.
Estou atraindo olhares o bastante, tanto dos homens quanto das mulheres.
Isso me faz manter a postura confiante. Levantando minha cabeça,
empinando os seios, eu me sinto a verdadeira Angel da Victoria’s Secret,
exceto pelo corpo, que é um pouco exagerado, principalmente pela bunda.
Esse pensamento quase me faz vacilar, mas aí lembro o quão louco de tesão
meu homem é por mim e até abro um sorriso, exibindo meus dentes brancos e
certinhos.
Júlia chega me empurrando e extermina meu momento garota Miss
Sunshine. Filha da puta, eu estava me sentindo a verdadeira Afrodite!
— O que você vai fazer?
— Pegar meu homem.
— Vai rolar uma pancadaria? — pergunta e eu rio.
— Eu tenho classe agora. Não descerei do salto. Só irei pegar meu
homem e vai ser de jeito — informo, a deixando, e volto a caminhar em
direção ao bar.
Alguns homens acenam suas cabeças para mim e eu sorrio em
simpatia. Sou uma lady, se eles soubessem o que faço entre quatro paredes...
Não demora muito para eu achar quem estava procurando. Arthur tem
um braço apoiado no balcão e Laís está praticamente se jogando em cima
dele. Eu suspiro e tento controlar o instinto assassino.
Aproximo-me mais e o observo olhar para todos os lados, menos para
a galinha depenada da sua ex-mulher. Ele bebe um pouco de champanhe e
seu olhar passeia pelo salão até parar em mim.
O vejo forçar as vistas, como se estivesse incrédulo, e sorrio. Ele
endireita sua postura e seus olhos descem pelo meu corpo de maneira
indecente. Ele sobe o olhar e fixa em meu decote. Seu olhar parece queimar
meu corpo e eu decido que é o momento ideal para pegá-lo.
O que é esse homem de gravata borboleta? Quero chupá-lo.
Laís percebe que algo está errado e se vira de frente, em busca do que
está atraindo a atenção do seu lindo ex-marido. Eu contenho a vontade de rir
assim que seus olhos caem sobre mim.
— Olá, Laís — digo, sorridente, antes de puxar meu homem pelo
paletó. Bebo um pouco dos seus azuis tempestuosos e ele enlaça suas mãos
em minha cintura, grudando nossos corpos. Deus, ele está duro em suas
calças! Meu homem está completamente duro por mim. — Olá, Arthur
Albuquerque.
— Olá, Mariana Albuquerque. Você está sem sutiã — diz, ignorando
a presença de sua ex e de todos à nossa volta. Seu tom é erótico e sedutor.
— Eu estou — respondo.
— Você está gostosa pra caralho!
— Você acha? — provoco.
— Eu te amo.
— Eu também amo você.
Meu coração vacilou em algumas batidas quando vi minha linda
mulher parada a alguns metros diante de mim.
Primeiro foi seu sorriso perfeito que me tirou o ar, depois foi todo o
restante do pacote quente e fodidamente sexy, envolvida em um macacão
preto quase discreto, exceto pelo decote, que fez meu pau se contrair em
minhas calças. Mari está tentadoramente elegante e maravilhosamente
perfeita.
Santo Deus, essa Mariana não seria tão perfeita se tivesse sido
desenhada!
Quando ela se aproximou e inalei seu delicioso perfume, foi como se
tudo ao meu redor tivesse desaparecido. Ela tem o cheiro de lar, o meu lar. Eu
voltei a me sentir em casa assim que a tive em meus braços, e nada mais
passou a importar.
Não importa o que ela está fazendo aqui, como ou o porquê. O que
importa é que sua presença aqueceu meu coração significativamente e me
trouxe um conforto inesperado.
— Você não vai brigar? — ela pergunta em meu ouvido e eu sorrio.
— Deveria. Você sabe que a pressurização do avião pode ser ruim aos
bebês, mas sei que eles estão bem e me sinto feliz por tê-la em meus braços.
Quero levá-la para o quarto, eu senti sua falta.
— Arthur! — Uma voz irritante chama meu nome e acaba com a
magia em que estava envolvido. Que diabos mesmo essa mulher está fazendo
aqui? Vou pedir uma ordem de restrição de pelo menos 1km.
— Laís, nós não queremos ser deselegantes, não é mesmo? — Mari
diz a ela de maneira segura e encantadora. Estou surpreso com sua atitude.
Mariana está tão madura, como nunca esteve. A forma como ela está
conduzindo a presença de Laís é surpreendente. Ela está mostrando uma
classe fora do comum e cumprindo bem seu papel de dama na sociedade. Eu
não sei se ela é mais quente quando está agindo como louca ou se é mais
quente quando está agindo dessa maneira, centrada e segura. Talvez ela seja
quente de todas as malditas maneiras. Ela é apenas ela, e isso é tudo.
— Eu vou matar você, Mariana. Não é uma ameaça, é uma afirmação
— Laís diz e sai pisando duro pelo salão, enquanto Mari tem um leve tremor
em meus braços.
— Essa mulher está descompensada, Arthur, ela precisa de
tratamento.
— Eu vou tomar providências, Mari — digo e ela dá um sorriso
perfeito com esses lábios vermelhos.
— Me leve para uma dança, senhor.
— Que decepcionante, Mariana, você já foi melhor. Eu pensei que
iria ouvir um “me leve para o quarto, senhor” — brinco e ela morde os lábios.
— O quarto é realmente mais tentador.
— Você comeu? — pergunto e ela balança a cabeça afirmativamente.
Termino de beber meu champanhe, coloco a taça sobre o balcão e a
seguro pela mão antes de pegar o caminho da saída. Alguns executivos nos
param no meio do caminho, mas sou um homem com um único propósito:
levar minha mulher para o quarto, longe de todos os olhares masculinos e
exclusivamente para os meus próprios olhos. MINHA! É meio homem das
cavernas, mas não tenho culpa se minha mulher é apenas a mais linda e
gostosa desse lugar.
Na privacidade da suíte, retiro meu casaco e gravata, enquanto ela fica
com suas mãozinhas para trás, balançando seu corpo, parecendo uma
menininha tímida. Tentando ver até quando ela vai se comportar assim,
caminho até o frigobar e sirvo em um copo um pouco de uísque.
Observo-a caminhar até o enorme espelho do quarto e prender seu
cabelo em um desses coques malucos que não precisa de elástico. É uma
técnica ultrarrevolucionária.
Termino de beber o líquido âmbar e a pego por trás.
Encaramo-nos através do espelho e ela sorri.
Ouvi dizer várias vezes que o amor é cego, e cada vez que olho para
essa mulher, discordo mais e mais dessa frase estúpida. Quando olho para
Mari não há nenhum tipo de escuridão, há apenas a clareza, limpidez, luz. Eu
era cego quando não tinha ela, era cego quando não tinha amor. Minha vida
era uma escuridão profunda, tudo preto e branco, parecia irresolúvel. Era...
até ela surgir.
Mari desperta em mim tantos sentimentos, alguns conflitantes, como
o medo. Pela primeira vez na vida sinto medo de perder alguém, e esse
alguém é ela.
Deixando os pensamentos indesejados de lado, permito-me continuar
contemplando a visão mais incrível. Nossos corpos se atraem e se chamam,
essa é a coisa mais maluca de todas. É uma força magnética.
— Cadê aquela mulher audaciosa que chegou ao salão de festas
reivindicando o noivo? — pergunto em seu ouvido e ela fecha os olhos.
Minha mocinha está excitada e tem seus braços arrepiados. — Eu nunca
achei que poderia amar alguém tão forte como amo você, Mariana.
— Arthur...
— Você tem todo meu coração e toda minha mente. Você tem tudo de
mim, Mari — digo enquanto ela empina sua bunda contra mim.
— Desculpa por isso. É difícil fazer declarações com seu enorme pau
cutucando minha bunda. Quando você está tão perto, tudo que penso é sexo,
não há espaço para mais nada. Você é tudo que eu quero. Quero te dar o
tempo todo, amor. Quero ser comida e devorada, só como você faz. Eu amo
você duro o tempo todo para mim. Amo me perder em todas as sensações que
você me causa.
Essa mulher é quase um William Shakespeare com todo seu
romantismo. Não sei se devo ficar ofendido ou grato. Minha mulher é uma
ninfomaníaca do caralho.
— O que foi? — ela pergunta, contendo os movimentos de sua bunda
gostosa.
— Essa é sua versão de romantismo e declaração de amor? —
questiono, segurando a vontade de rir.
— Eu te amo muito, Tutu. Eu amo tudo em você, e é tão forte, que o
sexo com você se torna a coisa mais fantástica da minha vida. Eu amo tocar
sua pele, sentir o seu corpo, beijar sua boca e cada pedacinho de você. Eu
preciso, quero isso a cada segundo, e apenas por ser você. Acredite, é
romântico quando estou gritando, implorando para você me foder mais forte,
é romântico quando estou tentando te provocar ou quando estou com seu pau
em minha boca. E é ainda mais romântico quando estou dizendo que te amo.
É além de romântico, é verdadeiro. — Porra, eu amo essa autenticidade
enlouquecedora.
Agarro seus cabelos com uma mão e deslizo a outra até seu pescoço,
trazendo sua boca à minha. Vamos fazer um romantismo ao modo Mariana
agora. Ela é tão safada que estou tomado pela necessidade de fodê-la duro.
Eu provo o sabor dos seus lábios até senti-la bamba em suas pernas.
Gosto de vê-la afetada, isso me deixa insano.
Ela se desvencilha dos meus braços e retira sua roupa, ficando apenas
com uma calcinha minúscula; em seguida fica parada, observando enquanto
eu retiro cada uma das minhas roupas e fico nu. Manipulo meu membro
pulsante, que clama por alívio, e a vejo fixada nele. Mari ama meu pau, isso é
romântico, não é? Para ela, isso é tudo de mais romântico.
Vejo fome, sede, luxúria e desespero em seus olhos.
— Você o quer? — pergunto e ela balança a cabeça afirmativamente
antes de enlouquecer.
— Oh, meu bom Deus! — diz, correndo até a mim.
Recebo-a em meus braços e a carrego para a cama. Ela deixa suas
pernas bem abertas, convidativamente. Dou um sorriso antes de me acomodar
entre elas e rasgar sua calcinha, deixando sua brilhante boceta exposta para
mim.
— Vem — ela chama, se contorcendo de vontade, e eu vou. Não
existe nenhum outro lugar que eu queira estar senão dentro dela. Seguro meu
pau e o guio em sua entrada apertada e molhada. Ele desliza pouco a pouco,
até estar atolado por completo. Ela está quente e sugando firme em sua carne
estreita. Fico parado alguns segundos, absorvendo a intensidade e lambendo
seus mamilos pequeninos. Ela começa a se contorcer e gemer, e isso me leva
ao limite.
A fodo como um completo animal e nada parece o suficiente para
conter o fogo dessa mulher. Ela me leva ao ato total da insanidade e eu perco
o controle até a exaustão nos vencer.
Nós dormimos abraçados e esgotados.

Na manhã seguinte, acordo com batidas insistentes na porta. Mari está


em um sono pesado e, felizmente, permanece apagada. Olho sua bunda
gostosa virada para mim e suspiro, sentindo meu pau despertar. Seja quem
for, está atrapalhando um convidativo sexo matinal.
Levanto-me e visto um roupão. A insistência está tão grande, que
acabo suspeitando sobre quem está do outro lado da porta. Fechando a porta
do quarto, caminho até o primeiro ambiente da suíte e abro a porta. Uma
merda de início de manhã do caralho me espera.
— Oi, Laís.
— Nós podemos conversar? — ela pede, já entrando.
— O que mais nós temos para conversar? — pergunto.
— Você nunca olhou para mim como olha para ela. Em seis anos,
Arthur, em seis malditos anos você nunca me olhou dessa maneira! Parecia
que nada mais existia, apenas ela. Essa mulher te enfeitiçou, não percebe
isso?! Parece a merda de uma magia! Eu estou horrorizada com o que
presenciei, Arthur. Pelo amor de Deus, em que terra você vive? Você estava
vidrado! Não percebe? — ela diz, começando a chorar, e eu passo as mãos no
cabelo em frustração.
— Você está se automachucando, Laís — falo e ela me olha com uma
cara assustadora, enquanto limpa as lágrimas. Vejo-a decidida e isso é
assustador pra caralho.
— Eu sei que ela está grávida e sei que estão noivos. Sei que está
abrindo sua própria empresa e que está saindo do trabalho. Sei que ela tem
frequentado aulas de yoga três vezes por semana, no horário de seis e meia da
noite. Sei que os pais dela foram embora e que ela tem se encontrado
frequentemente com sua irmã e com os idiotas dos seus pais. Sei quem são as
amigas dela e o que ela costumava fazer aos finais de semana. Sei que ela tem
uma empregada e que existe uma criança. Sei onde os pais dela moram em
Nova York, sei que você está olhando casas para vocês dois morarem juntos.
Sei tudo sobre vocês, Arthur.
— Você está perdendo a noção — digo. — Foi você quem armou
aquele falso sequestro para ela? — pergunto, mesmo sabendo a resposta, e
ela apenas ri. Essa mulher precisa ser presa ou internada. — Você é tão
fodida, Laís. A cada palavra que sai da sua boca, meu nojo aumenta.
— Você olha para ela como se ela fosse o centro do mundo, uma
miragem do inferno.
— Ela é o centro do mundo — explico e ela me olha aturdida.
— Se você a ama dessa maneira e ama esse ser humano detestável
que ela está carregando na barriga, deveria apenas deixá-la. Afaste-se dela —
diz, parecendo uma verdadeira psicopata.
— Nunca mais se dirija aos meus filhos como seres humanos
detestáveis. Você está agindo como uma cadela patética e fria. Pare com essa
imbecilidade e recomponha-se, porra! Você está surtada, Laís!
— Você pode salvá-la, volte para mim e prometo esquecê-la. Prometo
deixá-la viva. Prometo ser uma boa madrasta para o bebê que ela está
carregando. Nós podemos até mesmo criá-lo juntos, Arthur. — Ela está louca
e não sei se há chances de recuperação. Estou perplexo.
— Laís, você precisa de tratamento. Eu irei pessoalmente falar com
seus pais. É absurdo tudo isso que você está falando e fazendo.
— Você não acredita nas minhas palavras, não é mesmo? — ela
pergunta, rindo de uma maneira bizarra.
— Eu não acredito que você é a mulher com quem eu me casei anos
atrás.
— Eu vou tirar seu chão, Arthur, vou fazer você se sentir um lixo
inútil — ela avisa e sai.
Decido não comentar com Mariana sobre o ocorrido, mas faço várias
ligações. Laís vai fazer merda e vai ser algo grande. Preciso detê-la.

Acordo e Arthur não está na cama.


Enrolando o lençol em meu corpo, saio à sua procura.
O vejo sair do banheiro enrolado em uma toalha e noto sua
preocupação ao não me ver na cama.
— Estou aqui, amorzinho — digo, encostada no batente da porta,
aspirando sua imagem sexy. Ele não diz nada, apenas caminha até mim, retira
o lençol do meu corpo e me pega em seus braços firmemente, nos guiando até
a cama.
— Eu te amo, Mari.
— Eu também amo você, Arthur. Há algo errado? — pergunto,
receosa, enquanto ele joga sua toalha longe e se encaixa em minhas pernas.
— Tudo fica bem quando estou com você. Você é a mulher da minha
vida, sempre será. Meu dia só se torna bom quando a encontro ao meu lado.
Minhas noites só fazem sentido quando terminam com você em meus braços
— ele diz, como se cada palavra tivesse o machucando. Eu não sei o que está
acontecendo, mas sei que há algo errado. — Você é a luz da minha vida,
Mari, meu oxigênio, minha sanidade. Eu quero amar você, amor. Você pode
me amar de volta?
— Deus, Arthur, eu sempre vou amá-lo de volta. Diga-me o que está
errado.
— Não há nada. Só queria dizer o quão importante você é para mim.
— Há dor, eu sinto. Mas em mim agora há apenas a vontade de dissipar essa
angústia que estou vendo em seus olhos.
Segurando seu pescoço, trago sua boca até a minha. Nós fazemos
amor lentamente, como nunca fizemos antes, olhando fixamente um nos
olhos do outro. Nós nunca paramos de nos olhar, exceto quando o prazer
explode, tomando conta dos nossos corpos e mentes.
Tomamos um banho silencioso e, enrolados em nossos roupões,
tomamos o café da manhã.
Arthur busca minha mala na outra suíte e faz eu tomar todos os
remédios e vitaminas, como faz todas as manhãs. Visto uma roupa
apresentável e, quando termino, ele me puxa para seu colo e solta um longo
suspiro.
— Vamos embora do país? — Sua pergunta me pega totalmente
desprevenida.
— O quê? Como assim?
— Ir embora, Mari. Podemos ir para França, México, Itália, qualquer
outro lugar nesse mundo. Eu, você e nossos bebês, deixando tudo para trás.
— E sua nova empresa? E nossa casa? Nossas famílias? — pergunto,
receosa.
— Eles vão entender. Foda-se a casa, foda-se a empresa! Nós
podemos recomeçar nossas vidas longe daqui.
— Quando? — questiono, o vendo tão decidido.
— O quanto antes — responde. Essa é a proposta mais louca que ele
já me fez.
— Aconteceu algo, meu amor? Eu vou com você para onde quer que
você queira ir, menos para o Japão ou China, enfim. Me conte o que houve
— peço, sem tentar forçar uma barra.
— Eu quero proteger você e nossos filhos. Isso é tudo. Prefiro morrer
ao ver qualquer coisa ruim acontecer a você, Mari. Diga que aceita ir embora
comigo — ele pede e eu passo minha mão carinhosamente em seu rosto.
— Eu aceito, amor. Se for isso que preciso fazer para vê-lo feliz, eu
estou indo com você para qualquer lugar nesse mundo. Nós não vamos
recomeçar, nós vamos dar continuidade. Não há nada para ser reconstruído.
— Obrigado, Mari, muito obrigado por isso. Eu cuidarei de tudo,
prometo a você. Vamos dar continuidade...
— Está mais calmo agora? Podemos dar uma volta? O dia está bonito
— digo e ele dá um sorriso fraco.
— Eu estava pensando em prolongarmos nossa estadia e passar uns
dias aqui. Hoje podemos ir conhecer o parque Ibirapuera e depois arrumar um
restaurante bacana para almoçar.
— Eu acho essa ideia realmente incrível — falo, o beijando.
Nós ficamos por mais cinco dias em São Paulo.
Quando voltamos não há mais tempo para mudanças...
A única mudança que acontece é uma que nunca esteve em nossos
planos.
Para os que amam, o tempo é uma eternidade.
A melhor parte do dia é quando chega à noite, faz sentido essa frase?
É durante a noite que eu tenho Arthur inteiramente à minha disposição e que
nos curtimos mais e mais.
Estou agachada atrás do sofá, me escondendo. Minha arma está
preparada com todos os dardos, e assim que ele surgir, vai ser bombardeado.
Somos duas crianças inconsequentes brincando de tiro ao alvo. No caso, ele é
meu alvo e eu sou o alvo dele. Porém, a brincadeira foi modificada devido à
gravidez. Não posso correr muito, subir em cima das coisas está fora de
cogitação, e ele não pode atirar na minha barriga. Eu tenho uma vantagem de
dez passos antes que ele possa atirar. Parece que ficou chata, mas, na
verdade, não ficou. É tão engraçado, como se eu estivesse dando saltos
mortais.
Estou distraída quando levo um tiro nas costas e grito.
— Diabo do cãoooo!
— Você é muito fraquinha, Mariana. Nós vamos levar as armas para a
chácara dos meus pais e aí a brincadeira vai ficar boa. Aqui você só se
esconde no mesmo lugar! — ele diz, rindo, e eu miro no seu pau. Aperto
todos os gatilhos e seis dardos disparam, o fazendo cair ajoelhado. —
Porraaaaaaaaa, sua filha da puta! Nunca mais faremos filhos. Nunca mais
meu pau vai se reerguer desse trauma — ele geme e eu vejo seu rosto tomado
por um vermelho-sangue. Pobrezinho. Mesmo o vendo sofrer, não consigo
parar de rir.
— Oh, Deus, eu vou fazer xixi nas calças, merda! Não consigo
respirar.
— Você não está de calça, inteligência! — ele xinga.
— É mesmo. — Rio e começo a engatinhar para o banheiro.
Estou sentada no vaso sanitário, linda e plena, reinando no trono,
quando ele invade o banheiro com seu pau semimorto na mão. Por Deus,
quem inventou a intimidade deveria estar com o pau atolado no ânus! A única
coisa que não aceito é que ele me veja cagando, mas já que é xixi, deixo para
lá. Esse homem conhece minha vagina mais que eu mesma, então isso é
indiferente.
— Dobra o papel para mim, benzinho — peço para irritá-lo e ele me
surpreende, fazendo o que pedi.
— Quer que eu limpe também?
— Não, porque você enlouquece com a mão na minha Marianinha e
vai deixá-la assada com papel higiênico — explico e ele ri.
— Marianinha, meu pau não quer ficar duro, e isso é culpa sua!
— É disfunção erétil, devido à idade — digo, observando pontos
vermelhos em sua virilha. Merda, machuquei meu playground! — Arthur, se
eu quiser fazer o número dois, você vai ficar aí encostado, em plenitude
completa, me observando?
— Não. Xixi basta.
— Por que está pelado, segurando esse pau morto? — pergunto,
rindo.
— Você tem a obrigação de trazê-lo de volta à vida. Estou apenas
esperando você limpar a Marianinha, para ajoelhar aos meus pés e fazer o
serviço.
— Então vire de costas, para que eu possa limpar.
— Sério? — pergunta, descrente, e eu faço uma careta. Ele resmunga
e se vira, me presenteando com a imagem de sua linda bunda. Sério, a bunda
dele merece um memorial, nunca vi nada igual! É tão máscula e perfeita, que
nem tem como descrever.
Eu termino de me limpar e me coloco de joelhos aos pés dele.
— Estou aqui para servi-lo, mestre — digo, segurando o riso, e ele
começa a rir.
— Não, é melhor se levantar. Assim não vai rolar. Precisamos de um
clima — fala, me puxando para cima. — Vou vestir algumas roupas e fazer
um streap para você. Serei seu gogo boy essa noite. Sente-se em uma cadeira
no meio da sala e me espere — ele diz e eu saio correndo.
Pego a cadeira, afasto a mesa de centro e a coloco no meio do tapete.
Me acomodo e fico na expectativa. Ele surge ainda nu, com uma enorme
lanterna na mão, e me entrega. Em seguida apaga a luz e some.
Estou tentada a ir ao quarto, seduzi-lo, quando uma música começa a
tocar.
Seguro a vontade de rir e gritar, então aponto a lanterna para o
corredor. Meu homem surge de terno e gravata, inclusive com sapatos em
seus pés. Ele sabe que eu tenho tara por ele em um terno.
— Preparada? — pergunta.
— Sim.
— Abra as pernas para mim, Mariana — ele ordena com a voz tão
rouca, que sinto minha garganta ficar seca.
Eu as abro e ele fica de pé entre elas. Rio e ele agarra meus cabelos.
— Silêncio e concentração. Não tem nenhum palhaço aqui.
— Isso está um pouco amador, Tutu.
— Você não vai dizer isso quando tiver meu pau em sua boca. Agora,
cale-se! Serei o único a falar aqui — diz e eu me calo, segurando duramente a
vontade de rir.
Ele pega em sua gravata e me dá um sorriso safado quando desfaz o
nó. Ele começa a mover seu corpo e eu percebo que ele poderia ganhar
dinheiro sendo gogo boy. Eu pagaria muito dinheiro, e tenho certeza de que
as coroas ricas iriam investir uma grana pesada nesse show.
Seus quadris se movem em sintonia com a música e ele retira o
casaco, o jogando longe.
Lentamente abre um por um dos botões de sua camisa e minha pepeca
fica em chamas quando ele a retira por completo e a roda no ar. Não tem
graça agora, esse corpo dele foi projetado para foder a mente de uma mulher,
esse peitoral é uma obra de arte. É sempre como se eu o estivesse vendo pela
primeira vez.
— Quantas vezes você imaginou que ganharia um streap do seu
chefe, Mariana? — ele pergunta, abrindo seu cinto.
— Nunca.
— Quantas vezes você me imaginou nu?
— Infinitas vezes — respondo, sendo sincera.
— Quantas vezes você ficou molhada por mim quando não podia me
ter?
— Mais do que eu possa me lembrar.
— Eu sou seu agora e você é completamente minha. — Ele retira seu
cinto e o segura firmemente em uma mão, enquanto usa a outra para abrir sua
calça. Observo atentamente ele deslizar o fecho até o final. Antes de retirá-la,
ele chuta seus sapatos para longe e só então fica de cueca diante de mim. Seu
pau morto agora está vivo em abundância e minha boca saliva quando ele o
pega por cima da cueca, dançando. Eu sou uma espectadora desesperada e ele
nota isso. Eu tenho sede e todos os desejos mais sujos em mim. — Deus,
Mari, você tem fome pelo meu pau!
— Sim.
— Levante e deixe a lanterna sobre a cadeira — ordena e eu faço
prontamente. — Vire de costas para o seu macho.
— Eu me viro e ele gruda seu corpo à minha traseira. — Retire sua
roupa para mim, quero você peladinha — ordena e eu desço meu vestido e
minha calcinha. Estou nua para ele e agradecida. A roupa parecia totalmente
desconexa à cena que estamos protagonizando.
Ele desliza o cinto que estava em sua mão por toda extremidade do
meu corpo. O contato do couro e sua respiração em meu pescoço fazem
surgir um calor ainda mais latente e explosivo dentro de mim. Ele me priva
de seu toque e a única coisa a me tocar é o cinto. Isso me deixa ansiando por
mais. Eu o quero todo. Quero suas mãos e sua boca por todos os lugares.
Quero sentir o peso do seu corpo sobre o meu e ser consumida de maneira
voraz.
— Coloque suas mãos para trás e libere meu pau da cueca, Mari.
— Eu estou morrendo aqui, Arthur.
— Faça o que eu estou mandando — diz, agarrando meus cabelos e
passando o cinto próximo à minha intimidade. Isso é tortura.
Levando minhas mãos para trás, faço exatamente o que ele ordenou.
De presente, ganho um gemido rouco quando o seguro firme.
— Vire de frente e sente-se na cadeira. Agora, Mariana.
— Algo em sua voz e nessa maldita música me deixa enlouquecida.
Me sento após retirar a lanterna e ele se põe entre minhas pernas. Ele
se toca, gemendo, e, a cada movimento de sua mão, eu quero morrer e chupá-
lo. Quero tê-lo em todos os buracos do meu corpo. Todos.
Não existe nada, absolutamente nada, que seja mais sexy do que o que
ele está fazendo. Meu olhar oscila entre seu rosto coberto de tesão e seu
membro grosso, pesado e grande. A ponta brilha com indícios da sua
excitação e eu me sinto um fantoche aguardando os comandos para devorá-
lo.
— Estou imaginando sua boceta no lugar da minha mão, Mari, está
tão bom.
— Você está sendo um torturador do caralho, Arthur! Nossos filhos
vão nascer com cara de pênis — digo e ele ri.
— Você o quer em sua boca? — pergunta.
— Sim, por favor, querido marido. — Eu não percebo as palavras que
saíram da minha boca, só quando vejo seu rosto tomado pela incredulidade.
Eu o chamei de marido, pela primeira vez. Puta merda!
— Repita o que acabou de dizer.
— Sim, por favor, querido — repito, tentando fazer a egípcia, mas
não cola.
— Não, porra, não foi isso que você disse! Você disse marido. Repita.
— Sim, por favor, querido marido — repito e ele deixa o cinto cair
das suas mãos quando me puxa pelas mãos e devora minha boca.
— Oh, Deus!
— Não tem Deus não, Mariana, tem é Arthur te fodendo agora. Grite
meu nome.
— Puta que pariu! Eu deveria tê-lo chamado de marido antes! É a
pegada mais sinistra dos últimos tempos. — Em um minuto estamos na sala e
no outro estamos na cama e ele está dentro de mim como um louco.
Perdemo-nos em nossa própria versão de loucura e eu descubro que
exterminei o momento streap usando apenas uma palavra. Talvez eu tenha
sido a única que estava no controle o tempo todo.
Quando terminamos o primeiro round, ficamos deitados.
— Precisamos nos casar logo. — Ele é o primeiro a quebrar o
silêncio. — Precisamos começar a organizar tudo.
— Já parou para pensar no tanto de coisas que temos que organizar?
Mudança de país, casamento, venda de propriedades...
— Quando você me chamou de marido... Porra, foi a primeira vez que
me senti um marido, Mari. Eu senti orgulho de mim mesmo, senti uma
grande quantidade de coisas inexplicáveis, que reforçaram o quanto quero ser
seu marido.
— Você praticamente é meu marido — digo, sorrindo, e ele beija
minha testa.
— Eu quero que tenha o meu sobrenome.
— Eu quero ter seu sobrenome, o mesmo sobrenome dos nossos
filhos.
— Eu vou ser pai, tem ideia disso, Mari? Tem ideia do quão feliz
estou? — Eu amo vê-lo tão feliz e relaxado. Eu amo esse homem, caralho!
— Eu tenho, porque serei mãe dos seus filhos, e isso é fantástico —
digo, me aconchegando mais em meus braços, e ficamos num silêncio
confortável por um tempo.
— Você sabe fazer brigadeiro? — pergunta.
— Óbvio que sei!
— Faz para mim? Eu te ajudo — ele pede de um jeito tão bonitinho,
que sinto vontade de mordê-lo.
— Você é a coisa mais fofa da Mari!
— E você é a mais linda do Tutu — responde, rindo, e eu vou para a
cozinha fazer brigadeiro para meu homem de trinta e dois anos, que parece
um meninão completo.
TRÊS DIAS DEPOIS

Desde as ameaças de Laís, eu me tornei motorista particular de


Mariana. Após uma conversa, registramos um boletim de ocorrência e muitas
coisas mudaram. Estou sempre em torno dela e, quando preciso me ausentar,
a deixo sob os cuidados de Amélia ou de um amigo meu, um policial
aposentado, que agora trabalha como segurança particular. Esse detalhe ela
não sabe, mas foi a única maneira que encontrei de mantê-la segura. Há
também o detetive que está buscando uma maneira de indiciar Laís pelo
atentado à Mari.
Não tem como eu mantê-la dentro de uma gaiola vinte e quatro horas
por dia, então tenho tentado viver dentro da normalidade e não mudar tão
radicalmente a rotina. Mari sempre foi um espírito livre. Pelo menos está
sendo bastante sensata sobre tudo e sua cooperação tem me ajudado bastante.
A única forma que vejo de protegê-la completamente é mudando de
país, mas isso não é algo que dá para ser feito do dia para noite, ainda mais
com ela estando grávida. Estou buscando lugares bons e com alto índice de
qualidade de vida, isso é tudo em que tenho trabalhado desde que voltamos
de São Paulo.
Em minha noite de segurança particular, estou sentado na bendita
recepção da aula de yoga da minha linda mulher inquieta (mudamos o horário
dela para as nove da noite). As paredes de vidros não estão me ajudando
nesse momento. A cada vez que o filho da puta do professor sorri para ela, eu
quero matá-lo. Em alguns minutos ela sairá da aula relaxada e eu estarei puto
pra caralho!
Até estou tentando me distrair com a porra de um joguinho chamado
Farm Heroes, mas essa porra enche o saco.
Estou tentando não olhar, quando um movimento atrai minha atenção.
Minha MULHER está rindo lindamente de algo e o filho da puta está
ajoelhando atrás dela. Isso me faz ficar de pé no mesmo instante. Eu deveria
ter sido mais firme na decisão de mudá-la de yoga! Vejo as mãos dele se
moverem para os ombros dela e vejo quando ela quase joga sua cabeça para
trás, satisfeita com a merda de uma massagem.
Foda-se! Eu estou cego! Essa porra é aula de yoga ou de massagem?!
Consumido pelo desespero, invado a merda da sala, exterminando o
momento relax de várias alunas. Mas há apenas uma que tem minha atenção
e essa uma está me olhando com a testa franzida.
— Vamos? — pergunto em pé, diante dela, oferecendo minha mão.
Felizmente, ela a pega e eu a ajudo a levantar-se.
— Que merda é essa, Arthur Albuquerque? — pergunta em meu
ouvido enquanto olho para o infeliz de joelhos. Eu deveria chutar essa cara de
pamonha, mas apenas pego minha mulher pela cintura e a levo para pegar
suas coisas.
Nós vamos em silêncio até o carro e quando acomodo-a, ela dá um
grito.
— Que merda você acabou de fazer?!
— Ele estava com as mãos em você! É aula de yoga, não de
massagem. Nenhum homem toca minha mulher!
— Você é louco? Ele faz isso com todas as mulheres que não
conseguem relaxar durante a aula! — Ela está realmente brava.
— Não com a minha. Você agora vai ter uma sessão de sexo intensa
comigo no horário que seria sua aula de yoga. Vou ficar uma hora fazendo
amor lento e suave com você e recitando o mantra Arthur Albuquerque. É
melhor que yoga! Vai te deixar muito mais relaxada.
— Você está sendo ridículo! — briga.
— Você gostaria de ver uma mulher fazendo massagem em mim? —
pergunto, só porque sou idiota mesmo. Ela mataria a primeira que ousasse.
— É diferente — ela diz baixo.
— É diferente porque é com você, bonitona. Você é minha!
— Eu sou sua! Merda! Idiota! Arrogante! Bastardo! Infeliz!
Ignorante! Grosseirão! Gostoso! — ela grita descompensada e eu a pego
pelos cabelos, trazendo sua boca até a minha. Ela relaxa na hora, só
confirmando que minha pegada é mais relaxante que essa tal yoga do caralho.
Quando ela está devidamente seduzida, eu ligo o carro e dou partida.
— Estou com desejo — diz, cruzando os braços.
— Já estamos chegando em casa e eu mato seu desejo, pequena.
— Estou com desejo de picolé Tablito! Hummmm, eu mataria por
três deles, Arthur. Você pode parar em algum lugar para comprar? Por
favorzinho! Eu quero muito — ela pede e eu sorrio. É claro que eu busco esse
tal Tablito até nas estrelas, se preciso for.
Paro em uma enorme drogaria, que mais parece um mercado. Quando
saio do carro, ela abre o vidro e grita só para me fazer vergonha:
— Compra KY, gostoso! — Viu? Essa mulher vai ser minha morte
por infarto. A que ponto um relacionamento pode chegar! Há algumas
pessoas me olhando e rindo, por desaforo vou comprar três tubos de KY e
comer essa filha da puta até no ouvido.
Caminho até o freezer e pego uma caixa que tem pelo menos dez
Tablitos, não sei se três serão o suficiente e não quero que meus filhos
nasçam com cara de picolé. Pego os lubrificantes e caminho até o caixa,
segurando o meu riso. Aliás, tudo que tenho feito desde o momento em que
Mariana entrou na minha vida é sorrir. Ela é toda minha felicidade.
Um barulho ensurdecedor faz todos gritarem de susto, algumas
pessoas se abaixam e consigo ouvir o som de disparos. Meu coração começa
a bater descompassado e meu sangue gela em desespero. Todo mundo da
farmácia começa a correr para fora e eu deixo minhas compras no balcão para
ver o que está acontecendo.
Quando chego do lado de fora, todo meu mundo parece ruir. Meu
coração para de bater e é como se eu tivesse acabado de levar um tiro no
peito. Eu não sei como, mas meu carro está completamente destruído e
tombado de lado. Os vidros parecem ter sido destruídos e há buracos, como
se tivesse sido alvejado por disparos de arma.
Minha mulher e meus filhos! É apenas neles que penso quando
consigo colocar minhas pernas para funcionarem.
Não escuto nada, não vejo nada, apenas corro até o carro e agacho ao
chão para encontrar a pior cena que já vi em toda minha existência. Estou no
meio de um filme de terror, mas dessa vez é real. Minha Mari, minha mulher,
está completamente coberta de sangue e desacordada.
Enquanto aguardo a ambulância, há dezenas de pessoas em volta de
mim.
— Mari, pelo amor de Deus, amor, fale comigo! — grito e tento tirá-
la do carro. Sou impedido, completamente impedido.
— Se acalme, você não pode retirá-la daí. Qualquer movimento pode
piorar a situação — uma senhora de meia-idade diz e a vejo fazer algumas
verificações em minha mulher. — Eu sou enfermeira aposentada, a boa
notícia é que ela está respirando.
— Ela... Meus filhos... Como eu posso ficar calmo? Ela está coberta
de sangue. — Choro e sou amparado. Foda-se! Era eu quem deveria estar no
lugar dela. Era eu.
Felizmente, consigo escutar sons de sirenes se aproximando, logo há
policiais e uma equipe médica tentando retirá-la do carro. Fico de pé,
observando o circo de horrores se desenvolver, e observo os policiais
tentando colher informações.
— O senhor é o quê da vítima? — um deles pergunta e eu me lembro
do que ela disse: marido. Eu sou marido da Mari, eu sempre serei o marido
dela.
— Marido.
— O senhor sabe explicar o que aconteceu? — ele pergunta e eu
balanço a cabeça em negação.
— Um carro preto, parecia blindado, surgiu do nada, alvejando
disparos. Até aí é um pouco dentro da normalidade, mas, para fechar, ele deu
ré a uma longa distância e voltou com tudo, atingindo o veículo. O carro
parecia de outro planeta, não havia condições deles saírem ilesos após a
violência da batida, mas, de alguma forma, o carro parecia inteiro — um
homem diz e vejo Mari ser retirada em uma maca.
— Há alguma marca de tiro? — pergunto aos paramédicos.
— Ainda não analisamos, senhor. Aparentemente não. O senhor vai
nos acompanhar?
— É óbvio, é minha esposa. Ela está grávida — digo, subindo na
ambulância, e me acomodo em um banco. Olho para minha mulher e é a
imagem mais fodida que já tive em minha vida. Mari parece tão frágil e
pequena em cima dessa maca, envolvida em um cordão cervical. Há sangue
na cabeça, nos braços e há sangue nas pernas. Há a porra de uma enorme
quantidade de sangue nas pernas. Eu não consigo ser forte agora. Abaixo
minha cabeça e choro, rezo, choro e rezo. Encontro um pouco de força
apenas para ligar para o meu pai. Sinto que se não tiver ninguém ao meu lado
nesse momento, não conseguirei passar pelo que imagino que está por vir.
Não há como ser confiante, não diante de um mar de sangue, por mais
que eu esteja lutando bravamente pela esperança.
Assim que chegamos ao hospital, eles a levam rapidamente por uma
porta, uma porta na qual sou impedido de entrar. Após assinar uma série de
papéis, me resta a sala de espera. Não sou um homem calmo ou controlado
nesse momento, ando de um lado para o outro. Não penso em nada além de
Mariana. Parte de mim quer me culpar pelo ocorrido, mas a outra parte grita
tão alto o contrário. Eu jamais imaginaria uma tragédia dessas, tudo que
temos feito é nos precaver. Até mesmo Mari tem me surpreendido com seu
cuidado e precaução. O pior de tudo é saber exatamente quem é a culpada e
saber que ela venceu. Eu estou devastado num nível que nunca imaginei estar
um dia. Me sinto devidamente destruído, me sinto inútil, me sinto exatamente
da forma que ela disse que eu me sentiria.
De pé, aqui nessa enorme recepção, eu prometo a mim mesmo pará-
la. Por bem ou por mal. Se o pior acontecer à minha mulher, Laís não estará
aqui para saber.
Cada minuto sem uma notícia, triplica minha angústia.
Quando meus pais chegam, acompanhados de Alice, eu deixo toda
minha dor transbordar nos braços deles.
— Eu sinto muito, filho, eu sinto muito. — Minha mãe me acalenta e
não há qualquer palavra nesse momento que vá me confortar.
— O que houve? — meu pai pergunta.
— Eu não sei. Ela estava com desejo de tomar um picolé, eu parei na
farmácia e em menos de dois minutos tudo se foi. Houve um estrondo
horrível, pessoas correndo, barulhos de tiro, e quando olhei era minha Mari,
pai. Ela estava coberta de sangue, o carro tombado de lado. Havia tantos
furos, pai... muitos. Eles atiraram no carro. Era minha Mari, era para ser eu.
— E a Mari? Ela foi alvejada? — Alice pergunta, chorando.
— Eu não sei. Nenhuma notícia. Eu só vi sangue, muito. Não
consegui ver nenhuma perfuração. Eu não sei. Não sei. Só sei que ela estava
respirando.
— Oh, meu Deus! Se acalme, filho. Ela é uma fortaleza, você sabe
disso melhor que eu. Vai dar tudo certo.
— Eu não sei, mãe.
— Onde foi? Há quanto tempo? — meu pai pergunta.
— Na Drogaria Araújo da Raja. Tem uma meia hora. Eu deixei tudo
lá, pai. Eu precisava vir com Mari.
— Fique aqui com sua irmã e sua mãe. Eu tomarei todas as
providências. Você suspeita quem fez isso?
— Eu tenho certeza, foi Laís. Não é uma suspeita, é um fato — digo e
ele balança a cabeça antes de sair.
— Ela não vai viver para saber notícias de Mariana — Alice fala,
pegando sua bolsa e indo até a saída.
— Oh, merda! Fique aqui, filho — minha mãe diz, indo atrás dela, e
eu não tenho força para me levantar.
Apoio os cotovelos em minhas pernas e abaixo minha cabeça.
Mentalmente começo uma contagem, eu preciso saber da minha esposa,
preciso saber dos nossos bebês.
Todo um filme começa a passar pela minha mente. A vejo na
entrevista, a vejo chegando à empresa de ressaca, vejo seu rosto após darmos
o primeiro beijo, ouço seus gemidos, o som da sua gargalhada, vejo seu
sorriso, o sorriso mais incrível do mundo. O sorriso que desde sempre faz
meu coração vacilar. Eu imagino o pior, imagino minha vida sem essa mulher
e entendo que uma vida sem ela não pode ser considerada vida, apenas
existência. Mari entrou em minha vida como um furacão, um tornado de
maior escala. Eu já a amava antes mesmo que ela pudesse saber. Foi tudo
forte, rápido, intenso e insano. Em quase três meses juntos, nós vivemos o
que eu não vivi em trinta e dois anos. A voracidade, a luxúria, o desejo, a
felicidade, nada disso existiu antes.
Mari me deu a chance de ser pai, a chance de ser um marido, a chance
de cuidar dela. Eu falhei. Falhei em proteger o que construímos.
Em minha mente consigo ouvir perfeitamente os batimentos cardíacos
dos nossos filhos e consigo ver a emoção vibrar através dos olhos dela.
Pensar nesses momentos faz a dor se intensificar e uma claustrofobia me
invadir.
Levanto-me, incapaz de esperar mais. Invado a sala da emergência e
no mesmo minuto uma correria começa a se formar atrás de mim. São
necessários três homens para me conter.
— Eu só preciso saber como minha mulher está!
— O senhor terá notícias em breve. Agora, por favor, sente-se para
não dificultar meu trabalho — uma enfermeira diz, e antes que eu perceba, há
um medidor de pressão em meu braço.
Nós estávamos tão felizes, felizes pra caralho mesmo. Nesse
momento era para estarmos em casa, deitados, perdidos um ao outro, como
em todas as noites.
— Vai dar tudo certo, Arthur. — Alice surge, sentando-se ao meu
lado, e em seguida minha mãe.
— Todos nós estamos rezando, filho.
— E se o pior acontecer? — questiono, pensando no pior. É inevitável
não ter esses pensamentos.
— Pensamento positivo. Foi você quem me ensinou a pensar positivo,
irmão, agora é minha vez de te relembrar. Você a ama muito, não é?
— Mais que qualquer coisa. Mari se tornou meu oxigênio, meu ar,
meu mundo. Não saber nenhuma notícia está me matando. Se eu a perder,
Alice, serei um homem destruído. — Choro.
— Você não vai perdê-la. Ela é teimosa, tenho certeza de que ela está
lutando de alguma forma.
— Arthur Albuquerque — uma médica diz meu nome e me levanto,
temendo de todas as maneiras o que ela vai dizer.
— Sou eu — falo, enquanto minha mãe mantém uma mão em meu
ombro direito e Alice no meu ombro esquerdo.
— Sua esposa está fora de perigo. Não foi alvejada, houve apenas um
tiro de raspão no braço direito e alguns cortes superficiais pelo corpo devido
aos estilhaços de vidro. Ela está sedada, porque acordou um pouco nervosa.
O senhor pode ir vê-la, ela está em um quarto normal.
— E nossos bebês? — pergunto e ela solta um suspiro.
Não preciso que ela confirme com palavras. Os bebês se foram.
— Acabamos de realizar a curetagem. Eu sinto muito, senhor. Se
quiser vê-la, basta me acompanhar.
Dor. Eu choro como se minha dor fosse se dissipar através das
lágrimas, mas não dissipa. O choro se torna em vão. É uma nova dor, a dor da
perda. A dor de perder algo que chegou do nada e fez toda minha vida ganhar
um novo sentido. Sinto-me mutilado.
Chegou rápido e foi embora, na mesma velocidade. Eu os matei por
ingenuidade. Eu mereço cada pedacinho da dor que estou sentindo, mas a
Mari não merece absolutamente nada disso.
A cada passo que dou em direção ao quarto onde Mari está, mais
devastado me sinto. Eu não verei meus filhos mexendo em sua barriga, eu
não verei seus rostos e, por mais que eu não tenha tido a chance de conhecê-
los, a dor é esmagadora. Nós os amávamos com a mesma intensidade ou mais
do que nos amamos. Eles eram frutos de um amor completamente verdadeiro
e de uma paixão incontrolável. Eu idealizei toda uma vida para eles, eu
planejei a chegada deles, comprei uma casa, fiz um seguro de vida em nome
de Mari. Eu me tornei pai antes mesmo dos meus filhos estarem totalmente
formados no ventre da minha mulher. Nada restou, apenas a desolação e a
culpa.
A doutora abre a porta de um quarto e eu entro para encontrar minha
Mari destruída. Há uma faixa em torno da sua cabeça e alguns curativos no
braço. A médica nos deixa a sós e seguro sua mão. Pela primeira vez, não
sinto calor irradiando dela. Sua mão está fria e fraca. Ela está dopada, num
sono profundo.
— Me perdoe, Mari. Não sei se você vai me ouvir, mas preciso dizer
isso agora. Eu nunca quis passar por isso, nunca quis vê-la dessa forma. Daria
minha vida para estar no seu lugar. Sinto-me destruído, foi culpa minha,
Mari. Eu causei dor a você, mas sou incapaz de sair daqui, sou incapaz de
deixá-la. Eu deveria me manter longe, para poupar você de todos os
problemas, mas não consigo. Ela me avisou que eu deveria deixá-la. Se eu
tivesse feito, você estaria bem com nossos bebês. Nunca vou me perdoar. Eu
te amo tanto, mocinha. Perdoe-me. Você é jovem, tem toda uma vida pela
frente, você poderá ter outros bebês, vou pedir a Deus por isso, Mari... Eu
sinto muito.
Incapaz de me manter em pé, me acomodo em uma cadeira. Minha
mente está duelando entre o que é certo e o que é errado. Uma enfermeira
surge e me entrega um saquinho com alguns pertences de Mari, entre eles o
anel de noivado.
Deixando as outras coisas de lado, o seguro em minhas mãos,
lembrando-me do momento exato em que o coloquei em seu dedo. Mari
estava tão envolvida pelo prazer, que nem mesmo sentiu o objeto deslizando
em seu dedo. A cara de surpresa dela ao se dar conta... É apenas uma imagem
que nunca serei capaz de apagar da memória.
Eu não acredito que de um minuto para o outro tudo mudou
drasticamente.
Há uma série de coisas que eu deveria fazer agora, e todas elas
terminam comigo no pior estado da devastação: no fundo do poço.
Sinto-me perdido. Eu caminho de volta para minha Mari e a única
certeza é de que não sou forte o bastante para suportar toda essa merda, não
sem ela.
— Por Deus, Mari, eu queria te arrancar dessa cama e fazer tudo ficar
bem. Eu deveria deixá-la. Você seria mais feliz sem mim.

Estou em meio a um horrível pesadelo quando abro os olhos. A


primeira coisa que noto é que não estou em casa. Há uma luz fraca no quarto.
Um choro baixo é a indicação de que não foi um pesadelo, é real.
Viro minha cabeça lentamente e vejo a pior cena da minha vida: meu
Arthur está sentado, com a cabeça apoiada nas mãos, chorando e dizendo
palavras que não consigo entender. Volto minha cabeça para a posição
anterior e tento escutar. Eu ouço e engulo em seco.
— Eu deveria deixá-la, é culpa minha. Mari merece ser feliz, ela
nunca será feliz comigo. Ela merece arrumar outra pessoa e ter filhos. Eu a
amo mais que a mim mesmo.
Eu estava me sentindo vazia quando a médica disse as piores palavras
que já ouvi em toda minha existência, mas agora me sinto muito mais que
vazia. Eu sinto que, além de perder meus filhos, estou perdendo meu noivo, o
grande amor da minha vida. O que será de mim se eu o perder também?
Na verdade, eu não sei como me sinto ainda. Estou anestesiada, em
choque. Mas sei que nunca imaginei perder meus bebês. Nunca passou pela
minha cabeça.
Você arruma um namorado e engravida em uma velocidade recorde.
No início, o susto vem com força. Você começa a se perguntar se é capaz de
ser mãe, começa a questionar sua conduta, sua capacidade. E então você vai e
ouve o coraçãozinho dele e descobre que são dois bebês. Novamente o susto,
novamente os questionamentos. E então você percebe que eles estão dentro
do seu ventre e entende que foram gerados através de um amor inabalável.
Você vê a felicidade do noivo e o apoio incondicional, e passa a se sentir
segura. Sente que vai conseguir passar por tudo e começa a se sentir mãe. Um
amor grandioso cresce em seu peito, algo que você nem mesmo consegue
entender. Você nunca os viu, mas sabe que eles estão ali, crescendo e vivos.
Você os ama acima de todas as coisas. Você começa a planejar todo um
futuro em cima deles, as vitrines infantis tornam-se sua imagem favorita.
Você olha para as roupinhas e tenta imaginar como seus bebês ficarão dentro
delas, e você chora de emoção, porque todos os seus hormônios estão
bagunçados, e por amor. Você se torna devota dos pequenos seres e percebe
que não existe uma única coisa que não faria por eles. Você muda sua rotina,
começa a cuidar mais da alimentação, muda os costumes, passa a temer pela
segurança. Começa a caminhar com mais cuidado para evitar tombos, começa
a ser mais atenta a tudo... Tudo com um único objetivo: mantê-los seguros. A
sua segurança se torna a segurança deles. O seu alimento é o alimento deles.
O seu amor... Eles sentem isso. Eu sei.
Houve medo, mas houve muito mais amor. De todas as partes.
Houve um pai ansioso, extremista, um pai totalmente apaixonado e no
auge da sua felicidade como homem. Um pai que fez todas as vontades da
mãe. Um pai que se preocupou com o futuro dos bebês, com a comodidade
deles. Um pai que nunca imaginei que meus filhos teriam algum dia. Óbvio,
eu nunca me imaginei ser mãe até me tornar.
Eles vieram numa rapidez absurda e foram embora com a mesma
velocidade. Eles vieram trazendo união, alegria e amor. Foram embora
deixando o vazio, a dor, a desolação. Eu tenho que conviver com a minha dor
e com a dor de Arthur. Vê-lo dessa maneira me dilacera de inimagináveis
maneiras. Eu deveria ter morrido. A fortaleza deixa de existir em situações
extremas como essa. Eu gostaria de estar morta apenas para não o ver dessa
forma.
Virando minha cabeça, olho para ele mais uma vez, mas dessa vez os
olhos dele encontram os meus e ele parece surpreso. Ele se levanta e caminha
até mim.
— Você acordou! — exclama.
— Você também vai me deixar? Eu também vou perder você? —
pergunto, vendo as lágrimas escorrendo de seus olhos.
— Você não acha que seria mais feliz sem mim? Olha o que eu fiz,
Mari. Eu matei nossos filhos. A coloquei em cima de uma cama de hospital
— ele diz, chorando, e meu peito se rasga em dor.
— Não. Você não fez, Arthur. Você não tem culpa. Nenhuma culpa.
— Eu amo você, Mari. Pelo menos você eu ainda não perdi. Você
está viva. Eu morri mil vezes quando vi todo aquele sangue em você. Eu
nunca quis isso. Eu fui condescendente.
— Você está me deixando? — Choro e ele segura em minha mão.
— Eu deveria, Mari, mas...
O corto, tomada pelo desespero. Perdê-lo nunca foi uma
possibilidade.
— Como vou superar isso sem você? Diga-me, Arthur. Você vai
deixar Laís nos destruir? Você não percebe o quanto minha vida mudou
desde que você surgiu? Eu fui feliz como nunca havia sido antes. Eu sei que
está doendo em você, está doendo em mim também. Mas está doendo ainda
mais por saber que você quer me deixar. O que eu vou fazer, Arthur? Apenas
me diga. Eu não consigo imaginar um único passo sem você ao meu lado. Se
eu soubesse que iria perdê-lo... Eu deveria ter entrado na frente daquelas
balas ao invés de abaixar. — Seguro suas mãos, usando todas as forças que
me restam. Eu quero gritar com ele, mas preciso muito mais do seu toque
agora do que de qualquer outra coisa.
— Eu não sei como, mas nós vamos superar isso. Sou egoísta demais
para deixá-la, sou egoísta demais para imaginar você ao lado de outro homem
no futuro. Eu acho que nunca serei capaz de deixar você, Mari. Perdoe-me
pelos nossos bebês. Por favor, me desculpe por não ter cuidado de vocês.
— Você fez tudo por nós, Arthur, nunca mais me peça perdão. Só
diga que nunca irá me deixar e todo o resto nós conseguiremos superar. Não
me deixe nunca, nunca e nunca. Não me deixe! Nunca me deixe. Eu te amo
como nunca amei alguém na vida. Eu te amo, Arthur. Obrigada por ter me
feito mãe, obrigada por ter me feito mulher. Obrigada por existir. Apenas não
me deixe.
— Nunca. — Nós choramos e eu o puxo para um abraço desajustado.
— Sem seu amor, eu nada seria. Nós vamos superar, não vamos?
— Nós vamos — digo, tentando acreditar firmemente em minhas
palavras.
Eu me sinto vazia. Quem estou tentando enganar? Eu sinto que nunca
serei capaz de superar.
Arthur e eu estamos passando por todas as fases do luto.
Nas duas primeiras semanas não saímos da cama para absolutamente
nada, exceto para ir ao banheiro, para fazer nossas necessidades.
Ainda não temos conversado muito, mas o importante é que estamos
juntos, unidos nessa fase difícil. Na maior parte do dia ficamos deitados,
abraçados, olhando para o nada, no mais completo silêncio. Há momentos em
que o silêncio fica agoniante o bastante, então ele liga a TV, mas não estou
certa se ele assiste.
Descartamos quaisquer possibilidades de visita, inclusive demos folga
para Amélia. Nós dois criamos uma rede de proteção ao nosso redor e tem
sido assim desde então.
Atendemos ao telefone duas vezes ao dia, uma quando meus pais
ligam e outra quando os pais dele ligam. Com isso recebemos a notícia de
que Laís está presa e em breve enfrentará um julgamento. Eu deveria estar
feliz por isso, mas não há felicidade alguma. Há apenas o vazio e a certeza de
que ela conseguiu nos desestruturar.
Estou tentando ser forte, embora não pareça. Faz apenas quatro dias
que meu sangramento cessou e eu não sei como me sinto. Não consigo tocar
em minha barriga, ela parece vazia e isso é angustiante. Estou uma confusão
completa, e é como se estivesse em um estado vegetativo completo.
A Mariana está escondida em algum lugar cheio de luz dentro de
mim. Mas a escuridão agora é grande o bastante para ocultar todos os demais
sentimentos.
A Mariana quebrada não é legal, não é divertida, inconsequente, sexy,
tentadora, fogosa. A Mariana quebrada é sono, preguiça, tristeza e dor.
O Arthur quebrado? Eu não sei a fundo como ele se sente, mas sei que
ele está tão destruído quanto eu. E continua lindo como sempre. Sempre
lindo, sempre. Até mesmo chorando, triste e com olheiras abaixo de seus
lindos olhos.
Os olhos dele agora são azuis atormentados e sem vida. Eu não gosto
disso, mas não há nada que eu possa fazer para modificar. Eu daria muitas
coisas para mudar o que o destino nos reservou. Perdi um pouco da fé na vida
e nas pessoas. O ser humano é cruel e irracional. É capaz de fazer coisas
absurdas para conquistar o que almeja. É incapaz de ficar feliz pela felicidade
dos outros.
Hoje faz dezessete dias e eu permaneço do mesmo jeito. Estou
sozinha, curtindo a solidão. Arthur foi resolver um problema do seu novo
escritório e eu fiquei.
Agora estou sentada no chão do quarto, rodeada de roupinhas dos
nossos bebês, e isso está dilacerando a minha alma. Eu me pergunto se serei
mãe algum dia. Não quero doar nenhuma dessas coisas, quero apenas guardá-
las, como a lembrança de dias felizes. Dias em que eu sonhava em ver meus
bebês usando cada uma delas. Dias em que meu noivo era um homem
extremamente feliz e controlador. Dias em que eu me senti mãe.
Eu sinto falta até dos enjoos e das tonturas.
Ouço a porta do apartamento e tento guardar tudo correndo, mas é em
vão. Arthur irrompe pelo quarto e paralisa ao ver todas as coisas espalhadas.
O vejo engolir em seco e ele se ajoelha diante de mim.
— Você está bem? — pergunta, demonstrando preocupação.
— Eu não sei — respondo sincera e ele balança a cabeça em
concordância.
— Vamos guardar essas roupas. Vou ajudá-la e depois nós vamos a
um lugar.
— Eu não quero sair — aviso.
— Você vai, é importante.
— Eu quero dormir. — Ele me encara, frustrado.
— Eu não vou deixar você entrar em depressão, então você está vindo
comigo.
— Eu...
— Não tem eu, Mari. Eu também estou quebrado, mas vou juntar
nossos cacos e ponto final.
Me calo e dobro roupa por roupa com a ajuda dele.
Quando termino, ele me puxa do chão, retira a minha roupa e me
enfia embaixo do chuveiro. Eu quero matá-lo, mas não tenho força, então
tomo um banho em silêncio, sob seu olhar avaliador.
Ele me seca e eu não me oponho. Ele também escolhe minha roupa e
me ajuda a vesti-la. O choque vem quando ele penteia meus cabelos, pega um
batom e passa em meus lábios, sem borrar!
— Onde está aquele troço rosado de passar nas bochechas? Você está
pálida — pergunta.
— Blush, está na gaveta — digo, apontando, e ele pega. Pela primeira
vez em dias sinto vontade de rir quando o vejo estragar o negócio com sua
força. Ele está socando o pincel ao invés de movimentá-lo lentamente. —
Não é assim, tem que ser delicado. — Ele me olha, pega outro pincel e faz
vagarosamente. Em seguida passa em meu rosto com toda delicadeza e, por
incrível que pareça, não estou parecendo um palhaço.
Para fechar o pacote, ele me passa perfume.
— Você está linda, Mari.
— Obrigada, você também está.
Segurando minha mão com firmeza, ele nos guia até o elevador.
Quando chegamos na garagem, sou surpreendida quando ele para
diante de um carro novinho. Não é um carro, é O carro.
— Eu o comprei hoje, é blindado e o mais seguro da categoria —
explica.
— Ok. — É minha única resposta. Ele abre o carro para eu entrar e o
estofado bege atrai minha atenção. É lindo por dentro e por fora, além de
confortável.
Coloco o cinto e apoio minha cabeça no encosto.
Arthur dirige e estou alheia à vida até ele estacionar e me fazer descer.
Nós estamos na lagoa da Pampulha e ele está nos guiando até a igreja.
— O que estamos fazendo aqui? — pergunto antes de entrarmos.
— Eu pedi ao padre que fizesse uma pequena celebração em nome
dos nossos bebês — diz e as lágrimas começam a descer em meus olhos. —
Mari, eu quero que hoje seja nosso último dia chorando, quero que, ao
sairmos daqui, possamos finalmente recomeçar. Nós não podemos ficar nessa
tristeza pelo resto da vida, temos que continuar por eles e por nós. Nós ainda
estamos vivos, saudáveis e nos amamos. Há dezessete dias parece que eu a
perdi. Há dezessete dias eu não ganho um sorriso, um beijo, nada. Eu também
estou fodido, Mari, mas realmente queria a chance de continuar. Nós
podemos ter outros filhos, podemos continuar com nossos projetos, mas
precisamos de força de vontade. Ainda resta um pouco de esperança em mim,
e preciso que você tenha um pouco também. Você quer ser feliz ao meu lado,
Mari? Você ainda quer a vida que planejamos? — pergunta e eu não consigo
responder. O abraço e choro agarrada à sua camisa. — Eu amo você, nós
precisamos continuar.
— Eu sei, só não sei como.
— Aqui, diante de nós, está o primeiro passo. Nós vamos aceitar a
perda e vamos pedir a Deus para Ele receber nossos bebês e nos abençoar
com outro em breve. De acordo?
— Sim — respondo e ele limpa minhas lágrimas.
Suspiro fundo e dou minha mão a ele, para seguirmos rumo ao
interior da igreja.
Nos sentamos em duas cadeiras que estão posicionadas de frente ao
altar e eu deito minha cabeça em seu ombro.
Parece uma celebração normal, como se houvesse dezenas de fiéis,
mas há apenas eu e ele.
O padre diz coisas lindas e emocionantes, palavras de acalento e de
esperança. Arthur e eu choramos em alguns momentos, mas nunca
desgrudando nossas mãos.
Quando chega a hora da comunhão, fico com o cu na mão. Eu não fiz
catecismo ou crisma e, quando eu era criança, diziam que quem não faz
catecismo não pode receber a hóstia, porque ela vira sangue na boca ou a
pessoa fica amaldiçoada. Eu não faço ideia se isso é verdade, mas estou
desesperada.
— Eu não fiz catecismo ou crisma — digo no ouvido de Arthur, que
me encara em choque.
— Sério?
— Sim. Eu devo fugir? — pergunto e ele começa a rir. — Vai sair
sangue na minha boca? Eu serei amaldiçoada se enganar o padre e receber a
hóstia? — Ele chora, tentando segurar o riso, e fica vermelho como um
pimentão. Sangue do cordeiro, não sei o que fazer! — Pare de rir!
— Por Deus, Mari, você é toda errada! Aceite a hóstia, não vai matá-
la. Vou te colocar no catecismo. Vamos acordar todos os sábados cedo e te
levarei às aulas — ele diz, rindo, e suspiro, puta pra caralho. Imagino eu, aos
vinte e quatro anos, fazendo catecismo com crianças? Isso não é real.
O padre volta, segurando algo que eu vou denominar como porta-
hóstia, e Arthur se levanta, me puxando junto. Eu estou tremendo da cabeça
aos pés quando o padre a coloca em minha boca. Me desvencilho de Arthur,
caminhando rapidamente e ajoelhando ao chão. Eu não rezo por nós ou pelos
bebês, eu rezo para que Deus não me castigue e a hóstia não vire sangue.
Quando a celebração termina, incrivelmente me sinto melhor e com
um pouco mais de energia. Arthur espera entrar no carro para começar a rir
como uma hiena.
— Você tinha que ver sua cara, Mariana, você destruiu o propósito da
missa. Pelo menos me fez voltar a rir. Eu te amo pra caralho, Mari. Você
sempre tem o poder de mudar minha vida — diz, limpando as lágrimas de
riso. — Por que diabos você não fez primeira comunhão ou crismou?
— Eu matava aula. Não tinha paciência, mas juro que ia às missas —
respondo e ele ri mais.
— Você vai precisar fazer para nos casarmos, está ciente disso?
— Não. Não acredito! Não tenho idade. — Que merda, por que eu
fugi das aulas?
— Eles devem conseguir uma turma especial, amor. Não se preocupe.
— Ele ri e soca o volante. Eu perco a paciência e desço do carro.
— Babaca! Isso não tem graça — grito e ele corre atrás de mim,
rindo. Eu corro mais e ele corre ainda mais, até me pegar no colo e me
arrastar de volta ao carro. Nesse momento sinto um pouco de adrenalina
voltar a bombear em meu sangue.
— Eu juro que não vou rir — diz, me colocando de volta ao chão.
— Idiota.
— Linda.
— Babaca.
— Gostosa.
— Imbecil.
— Deliciosa.
— Safado.
— Quero te beijar — diz e avança sobre mim, fazendo com que eu
bata as costas no carro.
Eu não sentia nada durante os últimos dias, mas é só agora que
percebo o quanto senti falta do seu beijo.
Enrosco meus dedos em seus cabelos e ele aprofunda o beijo, nos
levando a um outro nível de intensidade.
Suas mãos, que estão firmes em minha cintura, descem para minha
bunda, e ele nivela nossos corpos, pressionando sua ereção em mim. Eu
quase grito nesse momento e descubro que todas as sensações avassaladoras
ainda estão aqui, com toda força.
A parte errada é que estamos em uma espécie de sarrada violenta na
frente da igreja e eu não sei se posso acrescentar mais esse item para a minha
lista de pecados.
— Nós precisamos sair daqui. Estamos de frente para a igreja — digo,
afastando nossos lábios, e Arthur suspira, coberto de tesão.
— Ok. Vamos para outro lugar.
— Mas...
— Nós estamos indo para outro lugar! — ele pontua cada palavra
pausadamente e me coloca dentro do carro.
Pensei que estaríamos indo para casa, mas ele apenas para na primeira
rua que encontra e voa para cima de mim como um homem decidido e
insano, altamente tarado pela necessidade.
Ele me beija como um selvagem, enquanto desce as alças do meu
vestido e encontra um dos meus seios. Ele os aperta e eu gemo em sua boca.
Eu não sei quando ou como, mas sei que ele afasta seu banco e me coloca
montada em cima dele. Abro sua calça e libero sua extensão, o bombeando
tão urgente quanto ele está me beijando. Ele afasta minha calcinha e toca em
minha boceta latejante, é necessário tudo de mim para não gritar.
Eu não me lembro de termos sido tão selvagens e insanos antes.
Soltando sua ereção, retiro sua camisa e a jogo no banco de trás. Eu
quero lamber meu homem e eu começo pelo seu pescoço, arrancando um
rugido feroz dele. Ouço som de algo rasgando e vejo meu vestido aberto no
meio. Arthur está no auge de sua força bruta, parece uma bomba de
testosterona explodindo, trabalhando intensamente. Não há tempo para
reclamar do vestido, não quando sua boca suga meu mamilo e distribui
mordidas alucinantes em meus seios. Ele afasta minha calcinha molhada para
o lado e encaixa sua ereção em minha entrada lentamente. O cuidado com
meu atual estado é até bonito, mas dura pouco. Nós dois estamos virados no
Jiraya sexual.
— Desculpe por isso — diz com sua rouquidão e começa num ritmo
que me faz apoiar as mãos no vidro e na poltrona. Me sinto num rodeio,
montada num touro bravo e incontrolável. Minha cabeça chega a bater no teto
com força. O galo é certo, mas o fogo na pepeca é mais.
Meus seios balançam e Arthur tem suas mãos cravadas em minha
bunda. Eu quero chorar de dor e prazer, tudo ao mesmo tempo. E eu não
quero parar, em hipótese alguma.
É meu homem que dita todos os movimentos do meu corpo. Eu subo,
desço e depois esfrego, subo, desço e esfrego... Tudo numa velocidade
recorde.
— Eu estou gozando, Mariana — ele quase grita e assumo o controle
imediato quando ele segura meus cabelos, pressionando meu corpo mais
abaixo.
Sinto seu líquido me inundar e ele geme de forma gutural, nos
levando a um ritmo mais lento. Ele beija minha boca e pressiona seu polegar
em meu clitóris, induzindo meu corpo ao ápice. Eu sou tomada por uma força
oculta e pelo desespero quando meu corpo começa se construir para a
explosão.
— Vem pra mim, Mari, goza pra mim — ele pede, se movendo sob
mim, enquanto rebolo fortemente. Meu homem segura meu pescoço de um
jeito que nunca fez antes e arremete forte e certeiro. O que cresce dentro de
mim é muito maior que qualquer coisa que tivemos. Eu gozo, mas a sensação
do orgasmo parece nunca parar. Eu tento conter meu corpo, mas ele está
explodindo junto à minha mente. Eu sinto algo muito, muito molhado saindo
de mim, e Arthur solta meu pescoço.
— Foda! — ele rosna, agarrando minha cintura e a movendo para
frente e para trás. Sem que eu consiga segurar, começo a chorar. Eu não sei o
que acabou de acontecer, mas sei que nunca tive isso. Demora um tempo até
meu corpo se acalmar e os espasmos sumirem. Eu não quero olhar por medo.
Não sei se foi xixi ou se pode ser sangue. Enfio minha cabeça na curva do
pescoço de Arthur e choro baixinho.
— O que foi?
— Isso foi intenso — digo.
— Você ejaculou pela primeira vez, mocinha. Foi a porra mais quente
do mundo. Estou molhado de você.
— Eu fiz? — Uau!!!!!!!!!
— Sim.
— Você acha injusto eu ter ejaculado após sair da missa dos nossos
bebês? — pergunto, chorando.
— Eu acho injusto nós pararmos de viver. Nada, além disso, é injusto.
Foi o melhor sexo que já tivemos, o melhor. Nada se compara a isso que
acabamos de compartilhar. Foi uma reconexão, minha e sua.
— Obrigada por isso. Se não tivesse você, nem sei como estaria
agora.
— Eu tenho você, você me tem, Mariana. Só você.
— Você é meu marido!
— E você é minha esposa, minha mulher, minha mocinha, meu tudo.
Nós vamos superar — ele diz, confiante.
— Nós vamos. — Eu estou confiante agora.
Estou em uma farmácia, com uma cesta nas mãos, que está repleta de
preservativos. Desde o “acidente sexual” no carro, temos nos prevenido de
uma possível gravidez. O médico orientou que só tentássemos novamente a
partir do meu próximo período menstrual, e eu não estou fazendo uso de
anticoncepcional para manter meu organismo limpo.
Aos poucos, a vida está voltando ao normal.
Arthur está envolvido na obra do seu novo escritório, e eu? Eu tenho
feito muay thai e continuo na yoga, mesmo em meio a todo ciúme dele.
Tenho cuidado da minha mente e do meu corpo. Uma vez por semana tenho
feito terapia, mas saio de lá quase batendo na psicóloga, devido ao seu
discurso ensaiado e sua falta de originalidade. Não tenho paciência para
obviedade. Quando você busca terapia, você está buscando ajuda para lidar
com alguns problemas da sua mente, não para a terapeuta abrir um livro e ler
uma história sem nexo. Essa semana, perguntei se ela fode, porque,
sinceramente, parece que não. Ela, definitivamente, precisa de uma surra de
pica. Acho que vou oferecer a ela para eu ser sua terapeuta sexual.
Estou andando pelas prateleiras da farmácia quando sinto alguém se
aproximar.
— Mari! — É a voz de um outro Lucas, um carinha que fiquei uma
vez, e eu estou rezando para Arthur permanecer quietinho dentro do carro.
— Oi! Quanto tempo — digo, o abraçando.
— Você está linda e animada, hein?! — ele diz, olhando para a pilha
de camisinhas na cesta, e eu rio.
— Sempre.
— Vamos sair um dia desses — fala, mordendo o lábio, e eu balanço
minha cabeça. O cara é gato, muito mesmo, mas meu futuro marido é meu
único objeto de desejo.
— Eu estou praticamente casada. Não vai rolar.
— Oh! Claro, desculpe — ele diz, olhando para alguém atrás de mim,
e eu nem preciso olhar para saber que é meu homem.
— Algum problema? — Arthur pergunta, se apossando da minha
cintura.
— Nenhum. Arthur, esse é Lucas, um ex... amigo. Lucas, esse é
Arthur, meu namorado.
— Noivo e marido muito em breve — Arthur diz, estendendo sua
mão, e os vejo dar um aperto firme. É muita testosterona junta.
— Bom, eu vou indo. A gente se vê, Mari.
— Com certeza — Arthur responde por mim quando Lucas vai se
afastando.
— Você quase, praticamente, não é ciumento! — repreendo.
— Ele quer você.
— Ele pode querer, é um direito dele — digo, enquanto ele analisa a
cestinha e retira as camisinhas de menta.
— Vai arder essa bocetinha — explica. — E não precisamos de sabor,
já que você chupa meu pau livremente.
— Entendo — respondo, o observando. Ele caminha com seu jeito
imponente pela farmácia e eu o sigo. Na seção de camisinhas, ele troca todas
que escolhi por modelos maiores e ultrassensíveis. Ele pega muito mais do
que eu peguei, tanto que chego a ficar com vergonha. Ninguém precisa saber
que fodemos como coelhos.
Na seção que tem doces, ele pega duas caixas de Ferrero Rocher, um
pacote grande de M&M’s, um pacote de jujubas e dois tabletes de Talento
com passas. Arthur é apenas uma criança grande.
— Quer mais alguma coisa? — pergunta e eu pego um pirulito,
usando meu rosto mais angelical.
No caixa, a atendente olha para ele demonstrando curiosidade. Eu
sinto até vontade de rir quando vejo suas bochechas corarem. Arthur despeja
as camisinhas e a mulher parece impactada. Nesse momento ela deve estar
com um pinguinho de inveja. Eu também ficaria. Estou ao lado de um
homem espetacular, lindo, gostoso e com um apetite sexual voraz. Quem não
gostaria disso?
Arthur está atento aos olhares dela e está beliscando minha bunda. Eu
não vou brigar com a mulher por algo que eu mesma faria se fosse solteira.
— Oh, merda! — ele diz e eu o encaro. — Eu esqueci daquele
negócio. Já volto.
Ele some pela farmácia e dou um sorriso fraco para a atendente, que
espera sua volta. Meu lindo noivo surge com três tubos de lubrificante
anestésico, rindo.
— Quase esqueci, gostosa. — Me beija e se afasta, suspirando. Eu
quero enfiar minha cara num buraco. — Eu sou muito tapado — diz para a
atendente.
Abaixo minha cabeça e começo a tamborilar meus dedos no balcão.
Isso não pode ser real, mas é.
Nós saímos da farmácia no mais completo silêncio, exceto pelo riso
dele.
— Você está tão engraçado, que estou rindo por dentro — falo,
tomando a chave da mão dele e sentando-me no banco do motorista. O riso
dele morre na hora.
— Se você bater meu carro, eu te mato, Mariana.
— Uai! Acabou a graça, Tutu? — pergunto.
— Tutu vai comer seu cu! Eu estou falando sério, Mari. Esse carro é
algo que sempre sonhei, se você o bater...
— Não vai acontecer nada, porque você me ama e não vai me largar
por causa dele. Agora pare de dramatizar e aperte o cinto. Vou levá-lo para
jantar fora.
— Não estamos vestidos para um jantar — reclama e eu rio.
— Nós não estamos indo num restaurante padrão, Arthur
Albuquerque, e sim num lugar padrão Mariana de qualidade, então estamos
ótimos de havaianas.
— O que você quer dizer com isso? — pergunta seriamente,
preocupado.
— Eu quero dizer que nós estamos indo fazer um programa
diferenciado, tipo vida louca.
— É... fodeu!
— Você quer dizer o quê com isso? — pergunto, lançando um olhar
assassino para ele.
— Que vai ser legal, uai.
— Bom garoto! — Rio e ligo o som antes de começar a dirigir.
Imagine Dragons explode nos alto-falantes e eu dirijo como uma
verdadeira pilota de fuga. Arthur está tenso, agarrando o banco, mas não diz
nada. Fico apenas curtindo seu silêncio com cara de desespero.
Quando chego ao meu destino, faço quase um cavalinho de pau para
estacionar e ele grita.
— Nunca mais, ouça, Mariana, nunca mais você dirige!
— Tente me conter, delicioso! Agora mexa essa traseira e desça!
— Não há nenhum restaurante visível — argumenta.
— Há — digo, apontando para uma barraquinha de cachorro-quente.
Eu sempre vinha aqui quando saía faminta de uma balada.
Seguro a mão dele e o carrego até lá.
— Mari, quanto tempo! Nem é madrugada ainda.
— Vim trazer meu noivo para comer o melhor cachorro-quente da
cidade! — respondo sorridente.
— Oh! — Dona Teresa abre a boca, surpresa. — Bem-vindo!
— Obrigado. — Arthur sorri e ela suspira.
— O meu você já sabe como é. — Sorrio.
— Queijo por baixo, sem mostarda, sem maionese, sem passas. — Ela
sorri. — E o do senhor?
— O mesmo que o da minha mulher. A senhora tem Coca de 2 litros?
— ele pergunta, tipo se sentindo em casa já, e ela pega a Coca e dois copos.
Nos acomodamos em um lugar alto no meio-fio e Arthur começa a rir.
— Você acha que eu sou metido só porque ando enfiado num terno
caro oito horas por dia? Acha que tenho um padrão de qualidade? —
pergunta.
— Não acho você metido. Só pensei que você não gostava dessas
coisas e queria te mostrar o quão gostoso é esse hot dog. — Sorrio.
— Há muitos anos não como nada assim, mas na universidade eu não
comia outra coisa, Mari.
— Eu não consigo imaginar mesmo. Olha só pra você, sentado no
meio-fio, relaxadão. Estou surpresa de verdade. Mas estou feliz por sairmos
da rotina e saber que poderei te carregar para a feira aos domingos, para
comermos pastel e bebermos caldo de cana. — Sorrio.
— Minha maluquinha, só você mesmo, Mari. — Dona Teresa nos
entrega os cachorros-quentes e Arthur geme em apreciação na primeira
mordida. — É o melhor, realmente. Já vou pedir mais um de uma vez.
— Muito bom, não é? Eu comeria todos os dias!
— Nós voltaremos mais vezes, sem dúvidas, maluquinha. Você está
feliz, Mari? — ele pergunta com seu olhar intenso. Eu não me sinto cem por
cento feliz, mas me sinto bem. Há dias difíceis ainda, mas aos poucos
estamos conseguindo nos reerguer.
— Eu estou bem, e você?
— Eu estou bem também, acho que estamos conseguindo ficar bem
aos poucos.
— Sim, nós estamos. Somos bons juntos. — Ele sorri.
— Nós somos realmente, somos ótimos, querida. Somos uma dupla
excelente.

Eu não sei onde foi que as coisas começaram a tomar proporções


diferentes, mas sei que a atmosfera mudou assim que estacionamos o carro no
prédio.
Arthur tem as sacolas da farmácia no chão do elevador e tem sua boca
pressionada a minha, em um beijo enlouquecedor e urgente.
Quando as portas do elevador se abrem, ele está grudado em minha
bunda e mordendo meu pescoço por trás. Isso dificulta que eu abra a porta do
apartamento e, quando eu abro, ele perde a noção, jogando as sacolas longe e
vindo pra cima de mim como um leão. Esse homem tem sido um selvagem
perfeito.
Ele abaixa minha camiseta, expondo meus seios, e aperta meus
mamilos com precisão. Eu retiro sua camisa e ele retira o meu short. Ele me
beija para foder minha mente, beija para me levar a um nível de necessidade
extrema.
Pegando-me no colo, ouço o som de algo quebrando ao chão, mas não
estamos dispostos a parar o que estamos fazendo. Dois dedos invadem minha
boceta e eu os monto.
— Me deixa foder sua bunda?
— Oh, meu Deus, Arthur! O que estamos fazendo das nossas vidas?
— pergunto, lambendo seu pescoço e agarrando seus cabelos.
— Fodendo de todas as maneiras, sem limites — responde e me leva
para a cama, onde retira todo o resto das nossas roupas.
Sem me dar tempo de raciocinar, ele tem sua cabeça entre minhas
pernas. Arthur e sexo oral... Eu sou uma mulher muito abençoada pelo
simples fato dele saber cuidar de uma boceta maravilhosamente bem? Eu sou.
Ele é bom com os dedos, com a boca e com seu enorme pau.
— Eu nunca tenho o suficiente — rosna e eu levanto minha cabeça
para observá-lo. — Não sei como seria se eu não pudesse ter você todos os
dias. É como uma maldita droga forte, um vício que nem o mais foda dos
tratamentos pode conter. Alguma vez você já se sentiu assim, Mariana? — A
forma como ele diz meu nome inteiro, com sua voz rouca, me faz querer
pressionar as pernas para obter qualquer tipo de alívio, mas ele mantém suas
mãos firmes em minhas coxas, as mantendo abertas, enquanto aguarda minha
resposta sincera.
— Não, eu nunca me senti assim. Eu nem sabia que podia me sentir
assim.
— Eu vou manter você para sempre, Mariana, eu quero possuir cada
pedacinho de você. E você vai me dar tudo de boa vontade, porque quer isso
também, tanto que mal consegue se conter. Você me quer tanto, está
encharcada entre suas pernas e eu ainda nem comecei. — Ele quer me
enlouquecer! É isso.
E ele enlouquece quando abaixa seu rosto novamente. O ar quente de
sua respiração contrasta com sua língua molhada e eu seguro seus cabelos.
Ele agarra meus quadris com as mãos, os apertando e mantendo-me
imobilizada. Traçando círculos perfeitos em meu clitóris, ele lança choques
em todas as minhas terminações nervosas, fazendo meu corpo tremer
descontroladamente.
— Jesus!
— Apenas Arthur — diz, aumentando a pressão e me invadindo com
sua língua esperta. Sou invadida por uma onda de luxúria e adrenalina, que
me faz esfregar descaradamente em seu rosto. É uma questão de segundos até
que eu esteja quebrando em milhões de pedacinhos devido à pressão
construída em minha virilha.
A mão é arrancada do meu quadril e logo sou invadida por dois
dedos. Isso me leva à insanidade e ouço Arthur rir.
— Bom? — pergunta e eu não sou capaz de responder. E então sua
língua começa a trabalhar num ritmo constante junto aos dedos. Arthur
golpeia controladamente, lambendo e sugando, e eu gozo, gritando para o
mundo ouvir o quão bem meu homem pode me fazer sentir.
Meu coração está acelerado e ainda estou tremendo quando ele sobe
até mim e leva seu polegar em minha boca. Eu provo meu próprio gosto e
vejo seus olhos azuis selvagens e seu rosto tomado de prazer.
— É o melhor sabor da porra do mundo, Mariana — diz,
pressionando sua ereção em minha entrada, e eu ofego quando ele a empurra
de uma vez.
— Camisinha — o lembro.
— Eu não vou gozar em sua boceta hoje. Eu já disse que quero sua
bunda. Estou no controle aqui.
— Eu disse que quero? — pergunto e ele soca forte, parando em
seguida.
— Não me lembro de ter perguntado se você queria. Coloque os dois
travesseiros em suas costas. Quero que você veja meu pau entrando e saindo
da sua boceta. É bom, não é?
— Por Deus, você está me deixando sem noção — choramingo e ele
ri.
— Gostosinha demais ela, tão apertada quanto uma virgem. Ela
engole meu pau tanto que mal consigo vê-lo.
— Cale a boca! — imploro.
— Minhas palavras fazem um efeito aí, não é? Eu acho que você está
querendo gozar de novo. Eu vou foder mais forte e então nós vamos por outro
caminho, você vai gostar e então vai pedir por isso sempre. E eu vou comer
essa bunda como um banquete suculento.
— Oh, Deus! Mais forte!
— Se você continuar chamando Deus, eu vou parar. Grite meu nome,
peça para eu foder você mais forte, agora.
— Me foda mais forte, Arthur, mais forte — imploro e ele ruge em
satisfação, batendo duramente em mim. Me desfaço num segundo orgasmo,
que deixa meu corpo completamente mole e vazio.
Estou totalmente relaxada quando sinto algo frio em meu centro
traseiro e seu dedo me invade lá. Oh, não, ele estava falando sério! Isso é
assustador pra caralho...
— Relaxe, Mari, nós estamos indo com calma — sussurra. Eu não
posso negar, isso é quente, mesmo que seja assustador. Arthur não tem um
pau pequeno e fino, nem de longe, eu nunca imaginei levá-lo lá.
Sou invadida novamente e involuntariamente todos os meus músculos
congelam, não é algo que eu consiga controlar.
— Relaxe pra mim.
— Tem ideia do que tá me pedindo? Como eu vou relaxar? Olha o
tamanho dessa naja — digo e o ouço rir, ao mesmo tempo que leva seus
dedos mais forte, acendendo a necessidade em mim. Esse homem tem pacto
com alguma força maligna. Ele tem o dom. Ele se afasta, me deixa vazia e
necessitada, então algo frio entra novamente em minha traseira. Puta merda!
Isso é doído demais!
— Relaxe, ok?
— Maldição, eu odeio você, Arthur Albuquerque! — Ele invade com
mais um dedo e eu novamente prendo. Como me manter relaxada? E por que
eu quero isso? Eu quero tudo dele.
— Relaxe, eu prometo fazer você gozar quando eu estiver comendo
sua bunda. Você quer gozar de novo, Mari?
— Sim — respondo e ele retira seus dedos. Eu relaxo até sentir a
cabeça enorme de sua ereção tentando uma invasão.
— Ah, meu Deus, isso vai doer, não vai? Eu vou ficar arrombada.
Não vou sentir mais nada no cu. Minhas pregas irão se romper, vai sangrar e
eu terei hemorroidas! — Ele ri e eu quase choro.
— Se você relaxar não vai doer tanto. É só o início, Mari. Se você
permitir relaxar, vai pedir mais e mais e eu vou dar meu pau todo pra você.
Vamos fazer melhor — diz, me virando de ladinho e se acomodando atrás.
Eu acho quente quando ele abre minha popa e volta a posicionar seu pau em
meu buraco virgem. Ao mesmo tempo em que ele vai empurrando lá, seus
dedos trabalham em meu clitóris. Minha mente entra num conflito entre focar
no prazer frontal ou na dor traseira.
— Relaxe, nós estamos indo bem. Eu te amo... Eu amo ser o primeiro
e último aqui.
Centímetro por centímetro, vai adentrando e, eu estar rebolando em
seus dedos, facilita bastante. Sinto-me alargando a cada segundo, há uma dor.
Estranho seria se não houvesse.
— Calma, mocinha, nós estamos quase lá. — Sua voz é cheia de
tensão e irregularidade. É a voz de um homem lutando pelo próprio controle.
Eu amo que seja eu a estar quase o fazendo perder.
Ele segura minha cintura e então empurra tudo, soltando um rugido
estrangulado. Essa merda dói como um inferno, eu tenho lágrimas nos olhos.
Estou dividida entre o prazer e a angústia.
— Você é extremamente apertada, porra!
— Isso dói — choramingo e solto um gemido, totalmente confusa.
— Pare de lutar, amor. Eu estou com tanto tesão agora, que nem
consigo explicar — diz, ofegante. Vê-lo assim é um efeito poderoso.
Ele se move um pouco e morde meu ombro. A dor está presente, mas
o prazer? Ele está nublando tudo. Seus músculos estão todos tensionados em
minhas costas, consigo sentir todas suas veias pulsando dentro e fora de mim.
O prazer é tão inesperado e surreal. Eu nunca imaginei que fosse possível.
— Essa sensação é tão malditamente boa, Mari. Você sente isso bom
ou ainda está ruim?
— Eu estou tomada pelo prazer agora, Arthur. Totalmente.
— Eu vou me mover mais rápido, posso? — pede e eu decido deixá-
lo louco.
— Você pode o que quiser.
— Eu amo como se entrega a mim — diz, retirando-se e colocando de
novo. É uma sensação completamente nova.
Ele retira a mão do meu clitóris e aperta meu seio com força,
enquanto estoca em minha bunda. Eu sinto que não há ar em meus pulmões e
quaisquer pensamentos racionais em minha mente. Quanto mais ele perde o
controle, maior é o prazer que sinto.
Eu levo meus dedos em meu clitóris e Arthur geme quando começo a
me tocar. Estou enlouquecendo meu homem da mesma forma que ele está
fazendo comigo. Um tapa forte em minha bunda e o mundo vira do avesso.
Ele finalmente começa a foder minha bunda sem sentido, alcançando um
nível alto de insanidade. A cada tapa, eu grito e ele geme. Eu nasci para dar
para ele, isso é certo.
— Você gosta de apanhar nessa bunda, você gosta de levar meu pau
nela, Mari. Você é além de perfeita. Diga a quem pertence essa bunda! —
ordena.
— A você.
— Você é minha, Mari, para toda a maldita eternidade será minha e
apenas minha.
— Sim... Sua! — Dele, para sempre dele.
— Eu quero que você goze junto comigo.
— Eu estou... — digo e ele retira minha mão, a substituindo pela sua.
Eu gemo conforme ele trabalha em meu orgasmo, atingindo minha traseira.
Os tremores estão de volta e Arthur está ganhando essa luta por nocaute. Eu
me sinto obscena, devassa, me sinto a própria puta dele. Isso é louco.
Eu gemo, ele geme e nós gozamos. É uma libertação irracional,
carnal, emocional, é tudo. Eu acho que atingimos todos os limites da
perversão agora, ou não. Ele sempre está me surpreendendo.
Arthur está meio esquisito hoje, desde o momento em que acordou.
Para começar, ele me acordou às seis da manhã em um sábado. Eu estou só
observando. Ele já lavou a louça, trocou o lençol da cama e as fronhas,
arrumou a cama, colocou a roupa para lavar. Está um pouco impaciente
também, se preocupa com cada coisa que vou comer e pergunta de minuto a
minuto se estou bem, sentindo alguma dor ou incômodo e se eu quero alguma
coisa. Eu acho que é pelo mar vermelho ter se aberto em minha vagina, ou
talvez ele esteja apenas com medo, é a primeira vez que ele me vê “nesses
dias”. Eu já estou assim há três dias, mas hoje ele está realmente exagerando.
Também estou tentando entender por que Amélia foi dispensada hoje, mas
ainda não consegui chegar em uma resposta.
— Tudo bem? — ele pergunta mais uma vez.
— Cara, tu tá gostoso pra caralho bancando o doméstico. Até lavando
os copos dá vontade de ajoelhar entre essas pernas musculosas e te fazer um
boquete sinistro, segurando suas bolas e concentrando na cabecinha do seu
pau, que é a única coisa que entra na minha boca, mas, enfim, já deu!
— O quê? — ele pergunta com o pano de prato jogado no ombro.
Puta merda, que homem!
— É exatamente tudo isso, desde chupar seu pau até o já deu. Estou
dizendo, pare com isso. Qual o motivo de você estar agindo assim? Eu sou
surtada, mas não vou te matar por causa de uma menstruaçãozinha de merda.
A única parte triste é a vontade de dar e não poder. Porque eu não sou
obrigada a dar quando estou espirrando sangue, nem tenho coragem, acho
mega nojento. Santo Deus, eu já sou cheia dos pecados! Você poderia comer
meu cu, mas também não me sinto à vontade.
— Mari?
— Oi. — Sorrio.
— Só tem 75 horas e 23 minutos que não transamos, relaxa! — diz e
eu o encaro em choque.
— Você está contando as horas que não transamos? — pergunto.
— O quê? Não! Tá louca? Isso seria doentio! — responde, mexendo
na geladeira, e eu rio.
— Oh, Deus, você está! Você é um tarado total. Seu puto safado!
Tome puto! Cafajeste tesudo do caralho! Roludo! — Rio, rolando no sofá, e o
ouço suspirar.
— Vá arrumar suas malas — diz.
— Malas? Pra quê? — pergunto, sentando-me.
— Estamos saindo de férias, por um mês.
— Isso inclui Natal e Réveillon. Você não vai querer passar com seus
pais? — Estou surpresa.
— Não esse ano. Esse ano vou passar com minha mulher numa ilha
deserta.
— Ilha deserta? — Isso é tentador.
— Vá arrumar as malas, sem mais perguntas. — Ele está falando
sério, caralho. Puta merda!
— É sério mesmo? Assim, do nada?
— É sério, Mari, já está tudo organizado, não foi do nada — informa.
— Por isso você está agindo estranho?
— Eu só quero que seu período menstrual seja tranquilo, você sofreu
alguns traumas. Agora nós vamos viajar em busca da felicidade, só
voltaremos quando tivermos uma boa notícia. Nós estamos tentando, Mari,
mas eu sei que está faltando algo para conseguirmos reerguer desse baque,
por isso a viagem. Nós vamos ficar um tempo longe de tudo e todos, em um
lugar paradisíaco, curtindo, buscando...
— Fodendo como animais! Deus, Arthur, essa é a melhor ideia que eu
nunca teria! Isso tudo que eu estava precisando — digo, o beijando, e corro
para o quarto. Pego duas malas e começo a encher de roupas, em especial
biquínis. Eu coloco todos os que tenho e todas as minhas roupas periguetes,
ou melhor, ex-periguete, praia pede uma quase nudez. Coloco também meus
pijamas sexys da Hello Kitty, que uso bastante nos períodos sanguinários da
vida. Estou empolgada, como não estive por um longo tempo.
Corro até a sala e vejo Arthur entrar no apartamento com sua mala
prontinha.
— Quando você arrumou? — pergunto.
— Estava no meu apê.
— Você sabe que mulheres levam mais tempo para arrumar as coisas?
Porque parece que você não sabe. A sua sorte é que sou uma mulher
diferenciada! Agora só falta eu pegar alguns itens de higiene pessoal, tipo
O.B. Mas, tudo bem. Eu estou tão empolgada! Que horas é nosso voo? Nós
vamos de avião? Nós vamos pra uma ilha como? Me explique!
— Nós vamos de avião até o Rio, de carro até Mangaratiba e de
lancha até a nossa ilha isolada da civilização — explica.
— Tipo Tarzan, né? Tipo homem das cavernas? Tipo era primitiva?
Tipo Colômbia?
— Mari, eu amo você empolgada, mas puta que pariu! Vá lá,
princesinha do Tutu. Eu vou trocar de roupa do seu ladinho, enquanto
termina de arrumar tudo — diz.
— Está bem. — Caminho de volta para o quarto, acompanhada do
meu homem. Ele é fofinho demais. Ninguém no mundo tem um Tutu igual ao
meu.
Termino de pegar todas as minhas coisas e visto um vestidinho
confortável (após colocar um absorvente noturno, tipo fralda, para garantir a
segurança vaginal). O meu fluxo já está terminando, mas antes precaver do
que passar vergonha. Eu preciso saber se meu organismo ainda é o mesmo
após um aborto. Eu não gosto de pensar nisso, na verdade. A cada vez que eu
lembro, me dá vontade de cair sobre uma cama e não levantar mais.
Três horas depois chegamos ao aeroporto de táxi. É minha primeira
viagem com Arthur, eu amo nossas primeiras vezes.
Após passarmos por todas as merdas burocráticas, entramos no avião.
Estou como uma lacraia em meu assento. Quando o avião aterrissa no Rio de
Janeiro, a empolgação começa a tomar conta de mim. Arthur aluga um carro
e seguimos para Angra. Pareço uma criança e Arthur já está perdendo a
paciência de tanto que estou falando na cabeça dele. De cinco em cinco
minutos, pergunto se estamos chegando e ele responde que não.
— Amor.
— Que caralho, Mariana, o que foi?! — esbraveja e eu quase choro.
— Credo, amor! Eu, hein, está estressado? — Cruzo os braços,
emburrada.
— Porra, você não para de falar um minuto e ainda estamos
enfrentando um trânsito infernal!
— Desculpa, só estou empolgada.
— Tudo bem, Mari, tudo bem. Desculpa, princesinha do Tutu — ele
fala, segurando em minha perna.
— Quer que eu dirija? — pergunto e ele começa a rir.
— Você dirigindo no Rio de Janeiro? Nem morto!
— Ei, eu dirijo bem — defendo minha capacidade de ser foda na
direção.
— Dirige, Mari, mas não estamos em Belo Horizonte.
— Tudo bem, mas a lancha você deixa? — peço angelicalmente.
— Deixo.
— Ok. Já estamos chegando? — pergunto uma última vez antes dele
gritar.
— Porraaaaa, Mariana!
Depois dessa eu fico muda o resto da viagem. Parece que nunca
vamos chegar.
Uma hora depois chegamos em uma cidade chamada Mangaratiba,
que é onde iremos deixar o carro e pegaremos a lancha que o Arthur
reservou. Saio do carro pulando de alegria e pulo no colo dele, talvez ele
deixe de ser um noivo emburrado. Eu sei que tenho culpa, mas...
— Te amo, meu Tutu nervosinho.
— Também te amo, sua chatinha. Você me irritou como nunca,
Mariana, puta merda!
— Desculpa, prometo ser uma ótima noiva a partir de agora. Vamos
logo!
— Você é mais do que uma ótima noiva — anuncia, me beijando.
O sol queima forte enquanto ele pega nossas malas no porta-malas e
resolve tudo com o funcionário do local, que vai ficar com o carro.
Seguimos por um deque e logo dou de cara com uma senhora lancha.
Não entendo muito disso, mas essa, com certeza, não é uma lancha do tipo
comum. Ela tem dois andares, o principal e um embaixo. É superluxuosa e
parece ter sido retirada da loja. No andar principal tem a cabine de direção,
um painel com som, um sofá em L de couro branco, um frigobar, e na frente
um grande espaço que dá para deitar e apreciar o passeio. Ao lado da cabine
de direção tem uma pequena porta que nos leva ao andar de baixo. Suspiro
quando entro e encontro uma grande cama, maravilhosas janelinhas com vista
para o mar e um banheiro. Uau! Eu já imagino toda uma cena erótica aqui
dentro. Já quero experimentar. Quando me viro para subir para o andar
principal, dou de cara com Arthur trazendo nossas malas.
— Gostou, minha delícia? — pergunta com maldade na mente que eu
sei.
— Amei. Podemos experimentar assim que o mar vermelho fechar?
— Ele ri.
— Vamos ter tempo suficiente para isso. Agora, vamos, porque temos
que almoçar e explorar um pouco da ilha.
— Tudo bem. Eu me sinto feliz agora.
— Isso é tudo que eu quero, Mari. — Seu sorriso atinge meu coração
e eu quase suspiro.
— Você tem autorização para pilotar essa lancha? — pergunto.
— Sim. Eu tirei habilitação arrais aos dezoito anos. Está tudo em dia.
— Tudo bem. — Sorrio. — Vou trocar de roupa.
— Eu estarei lá em cima arrumando tudo para sairmos.
Ele sobe, eu pego um maiô e short na mala e minha nécessaire. No
banheiro, confiro como está a situação e sorrio ao ver que está praticamente
escassa. Coloco um absorvente interno e apenas o maiô. Escolhi um preto
mais discreto, porém bastante bonito. Eu gosto do que vejo e espero que
Arthur também.
Subo os degraus e ele se vira para me encarar. Me olha de uma
maneira intensa e assovia, depois balança a cabeça, exasperado. Eu causei um
efeito, hein...
— Oh, Deus, por que o senhor faz isso comigo? — ele questiona,
passando as mãos na cabeça.
— Gosta do que vê, Tutu?
— Eu apenas tenho a mulher mais gostosa do mundo nas mãos. Vem
aqui, tentação do caralho! — convida e eu vou. Sou agarrada de jeito pela
cintura, sem chance de me mover.
— E eu tenho o homem mais delícia do mundo todo para mim.
Gostoso, duro...
— Você andou nesses trajes em Porto Seguro. Diga-me, por que eu
deixei você ir?
— Eu fui e voltei antes da hora, porque queria você, queria sentir
você, queria tudo de você — respondo.
— Senhor, Mariana! Não vou nem colocar sunga.
— Por quê? — pergunto, sorrindo.
— Porque meu pau não caberá dentro dela. Vai ficar muito óbvio que
estou duro de tesão pela minha mulher.
— Eu posso abaixá-lo, se você quiser — provoco, o segurando por
cima da bermuda.
— Não vai dar, Mari, você sabe disso. Ainda bem que ficaremos em
uma ilha privativa, eu não suporto a ideia de outros homens vendo o que foi
feito apenas para meus olhos verem.
— É, vamos trepar sem reservas estando numa ilha privativa.
Ninguém vai ver você me comendo.
— Meu Deus, Mariana! Vamos sair daqui. — Ele liga a lancha, um
pouco desesperado, e aos poucos o cais vai sumindo. Deve ser muito maneiro
pilotar um brinquedinho desses, não vejo a hora! Ele percebe minha cara de
cachorrinho carente e me coloca na frente dele. Me ensina como guiar o
brinquedinho e eu empolgo, até ele me tirar. — Você é um perigo ambulante
em todos os sentidos.
— É empolgante! — Ele ri.
Caminho até a frente da lancha. A velocidade faz a água saltar e
molhar meu corpo levemente. Fecho os olhos e sinto a sensação de liberdade,
adrenalina e tudo mais. Sou a própria Rose de Titanic. Estar aqui, em meio a
todas as belezas naturais, é reconfortante.
Olhando para trás, contemplo a visão do meu homem, que agora está
com óculos de sol. É muito sexy vê-lo todo imponente pilotando uma lancha.
Estou tão bem servida...
Não consigo manter minha mão longe. Eu sigo atrás dele, o
abraçando, e assim vamos pelo resto do caminho.
Ele para na praia principal de Ilha Grande e um senhor de meia-idade
em uma lancha pequena diz para o seguirmos. Quinze minutos depois, ele
para em frente à casa dos meus sonhos e desce. Logo em seguida, ele me
ajuda a descer. Subimos uma escadaria de madeira.
— Senhor Arthur, senhora Mariana, estão devidamente entregues.
Qualquer coisa que precisarem, é só ligarem para meu celular, vou deixar um
mapa explicadinho com o senhor, senhor Arthur. Através dele vocês
conseguirão chegar às outras Ilhas próximas daqui e voltar onde nos
encontramos. A geladeira está devidamente abastecida, como o senhor pediu,
e a casa está limpa. Minha esposa está preparando o almoço de vocês e dentro
de 20 minutos trago.
— Muitíssimo obrigado, senhor Antônio.
— Por nada. Tenham uma boa estadia e aproveitem bem esse visual
para namorarem.
— Oh, pode ter certeza que sim, senhor Antônio — Arthur responde,
rindo. Nos despedimos e o senhor Antônio vai embora. Namorar é tudo que
eu posso pensar.
Por Deus, há até mesmo um heliporto aqui!
— Não acredito, Arthur, isso é o paraíso. Você exagerou, como
sempre.
— Acha que vai dar para esquecermos um pouco os problemas? —
pergunta, fazendo carinho em meu rosto. Eu amo esse homem.
— É o que viemos tentar. Eu quero esquecer tudo, Arthur. Quero que
a partir de agora esse seja nosso recomeço. Eu estou de alma aberta a isso. E
corpo também, só pra deixar claro. Meu corpo está aberto pra caralho. — Rio
e ele me beija.
— Esse corpo... É isso aí, minha menina! — Ele me deixa na casa e
volta ao barco para pegar nossas malas.
Senhor, esse lugar é muito mais que um sonho. A casa é toda em
madeira e vidro. Tem um deque de madeira com diversas espreguiçadeiras e
guarda-sóis bastante imponentes. Do lado de dentro tem uma grande sala com
lareira, TV, sofás espalhados e chaises, em seguida uma sala de jantar, uma
cozinha, tudo com vista privilegiada para o mar. Um pouco atrás, um grande
quarto de casal com uma enorme cama e uma banheira de hidromassagem,
duas chaises e um banheiro ao lado. Estou apaixonada!
No segundo andar há mais quatro quartos, e um deles me tira o
fôlego. Ele possui uma enorme cama, há uma lareira, um ofurô e um banheiro
completamente de vidro. Eu posso cagar olhando o mar!!! É tão incrível que
beira ao absurdo. Ainda no quarto, há passagem para uma piscina na área
externa.
— Eu quero morar aqui! — digo enquanto Arthur deixa as malas no
quarto e começa a explorar todo o lugar.
— Nossa, é realmente bonito pessoalmente — fala. — Vamos curtir
muito esse mês ou mais, bem juntinhos. Vai ser a primeira de muitas luas de
mel que teremos.
— Eu quero fazer amor com você aqui, nesse quarto, com essa vista...
— Eu vou fazer amor com você em cada cantinho dessa casa, Mari.
Eu prometo. — Eu sei que sim! — Bom, o senhor Antônio já deve estar
voltando com a comida.
— Obrigada por ser o melhor noivo do mundo!
— Ora, obrigado por ser essa mulher maravilhosa e maluquinha que
eu tanto amo. Gostosa! Esse maiô tá fodendo minha mente! Você não está
usando um absorvente...
— Interno.
— Oh! — ele exclama. — Claro. Agora acho que somos realmente
íntimos. Já sei até como você funciona em seu período... — Sorri.
— Nós somos íntimos, muito.
— Tentação! Eu estou sofrendo aqui.
— Eu também, mas faz parte. Ao menos estamos vendo como é ser
privado de sexo juntos e estamos inventando outras ocupações — argumento.
— Com sexo ou sem sexo, estar ao seu lado é o que importa — diz,
me beijando.
Esticada na parte frontal da lancha, estou oscilando entre o sono e a
realidade, enquanto meu noivo nos conduz há um lugar que nos dê a visão
perfeita do pôr do sol.
Almoçamos há pouco tempo e agora estamos curtindo o paraíso, o
nosso paraíso particular.
Esse lugar tem me feito pensar na vida, muito. Parece ter o poder de
purificar a mente, o coração, o corpo e a alma.
Estar aqui tem sido maravilhoso. Chegamos ontem e eu já me sinto
em paz. Aquela dor profunda está cessando aos poucos, por mais que eu saiba
que nunca deixará de doer por completo. Já posso sentir um pouco de alívio e
a vontade de continuar.
Nós passamos a noite toda jogando videogame, já que sexo estava
fora de questão, e dormimos até as três da tarde.
Não houve um único barulho além do barulho das ondas e dos
pássaros. Isso é além de relaxante, longe de toda loucura da cidade e perto o
bastante do céu. Sim, eu penso que esse lugar é o mais perto do céu que eu
posso chegar. Não há como ser diferente. Tudo aqui é paz.
Apaixonada, amando sem limites, é assim que eu me sinto. Deus me
presenteou com um homem maravilhoso e, a cada dia de convivência com
ele, me torno uma pessoa melhor. Arthur é um presente ou muito mais que
isso. A perda dos nossos bebês nunca poderá ser esquecida, mas juntos temos
batalhado para amenizar toda a dor que sentimos. Se eu não o tivesse ao meu
lado, não conseguiria passar por isso da mesma forma que estou passando.
Ele me ensinou a encarar os problemas de frente e não sentir medo de nada.
Ele me mostrou que sou mais forte do que imaginava, que ainda posso amar e
ser amada, que nem todos os homens são iguais. Me mostrou que às vezes
temos que abaixar a guarda e seguir nosso coração, que devemos nos arriscar,
nos permitir viver uma grande paixão, nos entregar sem reservas. Ele me
mostrou que, mesmo estando quebrados, nós temos que continuar
caminhando e seguindo em frente. A vida não oferece promessas ou
garantias, apenas possibilidades e oportunidades. Ele me ensinou a ser
madura, me ensinou a ser forte e me fez enxergar todas as qualidades que
possuo e até então eram despercebidas por mim mesma. Ele é um grande
homem, um grande amante, um grande parceiro para vida. Ele tem sido
minha âncora desde o momento em que entrou na minha vida. Eu virei uma
nova mulher, uma mulher que tenho orgulho de ser.
Aquela letra de música que diz que “panela velha é que faz comida
boa” é uma grande verdade. Não existe nada melhor que estar ao lado de um
homem mais experiente, maduro. Além de passar toda a segurança, Arthur
sabe como me agradar, como cuidar de mim, sabe cuidar de cada pedacinho
do meu corpo, sabe o que fazer para me enlouquecer na cama. Por outro lado,
é triste dizer isso, mas ele entende bem de mulher, eu odeio isso. Queria ter
sido a única e queria que ele tivesse sido o único em minha vida. Ele me dá
tudo que preciso emocionalmente e me faz sentir coisas que nunca imaginei
sentir um dia. Nós somos fogo, somos paixão fulminante, somos o amor mais
puro e verdadeiro que vivi. Nós dois realmente somos um encaixe perfeito.
Eu me sinto completa e realizada. Me sinto amada e endeusada. Arthur me
valoriza de todas as maneiras e isso me encanta.
— Ei, minha delícia, por que está quietinha aí? — ele pergunta lá de
trás e sorrio.
— Estou curtindo o visual e pensando na vida, meu Tutu.
— Espero que esteja pensando em coisas boas — diz, desligando a
lancha, ancorando, e se senta ao meu lado em seguida. Eu levanto do meu
estado de morte e o abraço.
— Apenas coisas boas. Como pensar coisas ruins num lugar desse e
com você de companhia?
— Esse lugar é lindo, não é? Chama Lagoa Azul — diz.
— Pra falar verdade, eu estava olhando para os olhos azuis que são
mais lindos que qualquer lagoa azul. Agora sim vou ver se esse lugar chega
aos pés do meu homem.
— Uau, hein, alguém está romântica de verdade! Acho que vou trazê-
la mais vezes aqui. — Ele sorri e eu admiro o local.
— Sempre fui romântica — me defendo.
— Claro, princesa. Sempre depois de um “te amo” rola um “me fode
forte”. Mas eu a amo por ser dona de uma devassidão entre quatro paredes.
— Obrigada, amor, a pureza do nosso amor é algo memorável. —
Rio.
A água cristalina é tão azul quanto os olhos de Arthur. É possível ver
centenas de peixes coloridos, algas e até mesmo a areia no fundo, devido à
profundidade. Não entendo disso, mas deve ter uns quatro metros de
profundidade, não mais que isso. O melhor desse lugar é não ter ninguém
para nos atrapalhar. Somos apenas eu, ele e a natureza paradisíaca. E a tensão
sexual que estava adormecida.
— Lindo é muito pouco, Arthur, isso aqui é a amostra grátis do céu.
— Então vamos dar um mergulho nesse paraíso. — Ele se levanta, me
pega no colo e pula na água sem avisar. Merda, mesmo eu sabendo nadar, é
um pouco desesperador não conseguir encostar o pé em terra firme. Sinto-me
um pouco agoniada e Arthur fica rindo. — Está com medinho, Mariana?
— Não, idiota, é só nervoso mesmo. Isso não foi romântico!
— Olha essa boca, dona Mariana.
— Ah, é? Vai fazer o quê, idiota? Romântico do caralho! — Ele
mergulha e eu começo a nadar, fugindo dele. Mas, como ele é mais forte que
eu, acaba me alcançando. Me pega e quando encosto nele sinto sua ereção a
todo vapor. Misericórdia, não tenho nem o que dizer desse pau, eu o
considero tanto. Isso é mais que uma barraca armada, é um acampamento
completo.
— Eu te amo — diz, me abraçando.
— Eu te amo mais. — O beijo e em seguida o afogo. Ele tenta puxar
minhas pernas e entramos num “pega pra capar” marítimo sinistro. É quase
um pique e pega. Foda é que ele é mais veloz e mais gostoso, o que não tem
nada a ver com o contexto, mas, de qualquer forma, me alcança fácil. Esqueci
de mencionar que nós parecemos ter treze anos de idade desde que chegamos
aqui. Nós temos feito só merda e infantilidade, o tempo todo.
— Peça desculpas! — ordena, segurando meus braços.
— Não.
— Mariana, peça desculpas ao homem que te fode!
— Você não me fode há uns quatro dias, pelo menos. — Rio.
— O mar vermelho se fechou? — pergunta seriamente e rio ao vê-lo
corado.
— Eu acho que você deveria descobrir por si próprio — provoco.
— Que tal nadarmos até aquelas pedras ali, para eu te dar um
corretivo? — Ele aponta para as pedras e olha para mim, sorrindo safado.
— Um corretivo?
— Ora, você é uma garota má. Está se comportando muito mal. E isso
tudo é apenas uma invenção para foder você. — Ele ri e eu gozo, mentira. —
Estou com saudades.
Merda! Eu também estou.
— Só se for agora, estou me comportando muito mal — digo e nado
até chegar nas pedras. Quando chego, percebo que ele não está atrás de mim
e começo a procurá-lo. Quando começo a me desesperar, o sinto me agarrar
por trás e consigo voltar a respirar. O medo de perder esse homem chega a
ser irracional. — Seu idiota, você quase me matou de susto!
— Eu só estava esperando para te dar o bote. Ficou mesmo
preocupada? Seu coração está acelerado.
— Não brinque assim mais. Eu tenho medo — digo, o abraçando,
tentando não chorar.
— Medo de quê?
— De perder você — choramingo.
— Você não vai me perder, Mari — afirma, deitando e me puxando
para cima dele.
— Promete? — peço e ele sorri.
— Sim, eu prometo. Agora fica nua para mim, todinha.
— E se alguma lancha passar e nos ver? — questiono.
— Não vai passar não, essa época é vazia, anda logo — diz, retirando
sua bermuda e expondo seu pau duro feito pedra. Que pau! Ele deveria ser
esculpido. Se Davi de Michelangelo ficou famoso com aquele piruzinho
esculpido, imagina Arthur com sua trombeta gigante?
Se Davi é o símbolo do Renascimento, Arthur é o símbolo da minha
morte. Eu morro um pouco a cada vez que o vejo nu. Que Michelangelo me
perdoe! Não tem nada a ver o que estou falando, mas nada na vida faz sentido
mesmo.
Estou nua e ele está me encarando sedento. Rio da sua cara de
maníaco sexual e corro de volta para o mar.
— Vem me pegar agora, espertinho! Isso é para você aprender a me
assustar.
— Mariana, não faça eu ir aí te pegar, estou falando sério.
— Eu também estou. — Passo as mãos pelos meus seios e ele fica
olhando. Viro-me de costas e empino minha bunda, seduzindo-o. Ele está
maluco, do jeito que eu amo. — Você quer isso, Arthur? — pergunto,
segurando meus seios pesados e sensíveis.
— Quero, Mariana. Vem aqui, amor.
— Você quer minha bunda, amor? — pergunto, passando minhas
mãos por ela e dando um tapa leve. Passo a mão pela minha intimidade e
fecho os olhos. — Você quer isso, Arthur? — De repente, ele pula na água e
me pega feito um homem das cavernas.
— Eu ia fazer amor com você, Mariana, nesse visual romântico. Mas
agora vou fodê-la, para você aprender — ele diz, me colocando nas pedras de
novo. Ok, ele vai me foder só porque eu fugi e minha mãe é a mamãe Noel.
— Quero você de quatro, agora. — Me viro, satisfeita, e ele pega meus
cabelos com força, fazendo-me arquear as costas, e me penetra sem nem
saber se eu estou pronta. Felizmente, estou. — É isso que você queria,
Mariana? — Só consigo gemer e ofegar. — Responda, Mariana, você queria
ser fodida, não é? — Me dá alguns tapas fortes na bunda. Mais fortes que os
de costume. —Responde, minha safada.
— Sim, sim.
— Você gosta, não é, minha gostosa? Gosta quando me torno insano.
— Para de falar essas coisas, Arthur. — Por Deus, é mais do que
consigo suportar.
— Por quê? Você adora que eu fale coisas sujas para você. Estava me
provocando segundos atrás com essa carinha de santa — sussurra, também
ofegante e com a voz rouca. — Você gosta de me manter ligado. Caralho,
que saudade eu estava de tê-la assim, sem camisinha, sem reservas. Você só
vai menstruar agora daqui nove meses.
— Arthur, porra...
— Sim. Essa foda está inaugurando a temporada de jogos vorazes. A
partir de agora você é minha escrava sexual. Vamos fazer sexo, Mari,
excessivamente, até eu te engravidar. E então você vai ficar com um fogo
incontrolável e eu vou continuar fazendo sexo com você, amor, pra saciar
esse desejo insano de me dar o tempo todo.
— Oh, Deus! Oh, Deus! — digo e aperto seu pau quando gozo.
— Inferno de mulher apertada! — Admira, me dando um tapa na
bunda. — Eu amo você gozando. Amo que esteja gozando no meu pau. Amo
que esteja fazendo isso com você. Você é uma virgenzinha gostosa e toda
minha.
— Falante... Vá mais forte e cale essa boca! — mando e ganho outro
tapa.
— Olha essa maldita boca!
— Mais, por favor. Eu me sinto insana.
— Por Deus, Mari! Vou dar tudo o que você quer. — Ele vai num
ritmo mais forte, até gozarmos juntos e, em seguida, cai sobre meu corpo.
— Eu amo você, Arthur, chega a doer.
— Eu também amo você, minha menininha travessa.

Quando voltamos para a lancha estamos até um pouco mais leves,


inclusive parece que fumamos maconha nesse momento. Estamos deitados,
um ao lado do outro, rindo de nada. Um simples sexo sem sentido muda tudo.
Para comemorarmos o fim do recesso sexual, hoje sairemos da nossa
bolha e iremos até a praia de Abraão, jantarmos em um charmoso restaurante
que o caseiro nos indicou.
Sair de lancha é a perfeição. Queria morar em um lugar assim, que
qualquer coisinha é só entrar na lancha e ir resolver, sem enfrentar um
trânsito caótico. Eu dormiria aqui todas as noites. Imagina que incrível viver
dentro de uma lancha, passeando por lugares afrodisíacos e exóticos? Mas
somente o dono de motel vive de amor, infelizmente.
Eu ainda hei de pilotar essa belezinha, mas não hoje.
Arthur se levanta com muita preguiça para podermos ir para casa.
Não foi dessa vez que vimos o pôr do sol. Dessa vez vimos o pôr do pau. Não
me arrependo, nem me queixo. O que é o pôr do sol comparado ao pôr do
pau? Arthur com o pau em mim é tudo que interessa.
Quando chegamos em casa, tomamos um banho inocente, embora
Arthur tenha ficado de pau duro, e começamos a nos arrumar. Coloco um
vestidinho soltinho, curto, com estampa floral e uma havaiana combinando.
Arthur coloca uma bermuda jeans, uma camisa branca e havaiana branca. Tão
bom sair à vontade! Arthur está completamente sexy vestido assim. Eu babo
no meu homem mesmo, não tem como ser diferente. O pé dele é muito sexy e
tentador. E os pelinhos dourados do corpo? Sangue de Josué!
Tiramos uma selfie juntinhos e vamos rumo ao restaurante na incrível
lancha!
Passear de lancha à noite consegue ser ainda mais incrível que durante
o dia.
A lua cheia e as estrelas parecem estar a poucos metros acima de nós.
Nosso passeio está em puro clima de romance. Deus parece estar nos
abençoando com toda essa perfeição.
Chegando, me encanto. As mesas ficam na areia, bem em frente ao
mar, e a iluminação é toda à luz de velas, tornando o local mais aconchegante
e romântico. A brisa marítima e o barulho das ondas deixam tudo ainda mais
acolhedor e mágico.
Pedimos um vinho e, para variar, pedimos uma belíssima picanha
com arroz com brócolis e batatas sauté. Simples e maravilhoso. Até nisso
combinamos. Saladas são para os fracos. Aqui nós comemos prato de
pedreiro. O glamour é minha característica mais marcante.
— Oh, estou muito romântica — digo ao meu homem e ele ri.
— Está mesmo. Calma, romântica, estou começando a me preocupar.
— De tudo, ao meu amor serei atento — digo e ele dá uma
gargalhada.
— Continue e me diga de quem é esse poema — pede e eu tomo um
pouco do vinho.
— Não faço ideia, só sei essa parte mesmo. — Ele pega minha mão e
começa a declamar, eu quase choro.
— “De tudo, ao meu amor serei atento antes. E com tal zelo, e
sempre, e tanto. Que mesmo em face do maior encanto. Dele se encante mais
meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento. E em seu louvor hei
de espalhar meu canto. E rir meu riso e derramar meu pranto. Ao seu pesar ou
seu contentamento. E assim quando mais tarde me procure. Quem sabe a
morte, angústia de quem vive. Quem sabe a solidão, fim de quem ama. Eu
possa lhe dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama.
Mas que seja infinito enquanto dure”. Vinícius de Moraes, Mariana Barcelos.
— Oh... isso é tão romântico! Você é o mais inteligente da relação. —
Beijo sua mão e ele ri.
— Você é muito inteligente também, principalmente para maldades.
Sua mente chega a ser assustadora, Mari.
— Obrigada? — pergunto e ele ri. Ele só sabe rir agora.
— Mal começou e já é a melhor viagem da minha vida, Mari. Eu
sinto que estamos conseguindo, aos poucos nós estamos superando.
— É a melhor viagem da minha vida também, e nós estamos, Tutu,
nós somos invencíveis. — Ele me olha com brilho nos olhos e eu rio. — Nós
estamos tão melosos!!! Romântico pra caralho, né, Tutu?
— Pra caralho, Mari! Vou te comer de sobremesa.
— Quero chantili pra chupar seu pau — provoco.
— Vamos para o barco.
— Não, a vontade de foder é grande, mas a fome está sobressaindo —
digo. — Estou com muita fominha!
— Eu estava só brincando, princesa. Quero degustar uma refeição
calórica romântica com o amor da minha vida! Minha maluquinha.
— Te amo, mas a parte do chantili não foi brincadeira. — Comemos e
ficamos bebendo, contando histórias do nosso passado, rindo e namorando.
Uma noite perfeita e romântica, brindamos à vida e ao nosso amor.
Nunca imaginei que um dia eu poderia ser tão feliz ao lado de um homem,
agora só falta um bebê para nossa felicidade ficar completa. E nós vamos
fazê-lo, não importa quanto tempo demore.
Dia 24 de dezembro. Pouco mais de um mês no paraíso. O nosso
próprio paraíso particular. O que eu e Arthur estamos construindo aqui foge
de quaisquer explicações. Como se antes fosse pouco, agora nossa relação se
intensificou demasiadamente, de um jeito que eu não consigo expressar. Foge
à lógica. Além de toda diversão que temos tido, parece que atingimos o limite
da intimidade. Estamos extremamente íntimos, ligados e grudados.
Ele está em minha pele e eu na dele.
Estou na cozinha, preparando nossa mini ceia. Decidimos por algo
simples, um arroz, pernil, salpicão, uma salada diferenciada e uma farofa.
Bem típico de uma ceia natalina. O peru, nós abrimos mão, porque o dele é o
único que eu preciso e tenho fome.
De sobremesa, descubro a cada dia que Arthur é uma criança feliz.
Ele me pediu pudim, pavê de Sonho de Valsa e gelatina colorida com creme.
Ou seja, três sobremesas para um casal de formigas.
A parte desconcertante é ele ficar vindo o tempo todo na cozinha me
sarrar e roubar um pouco de cada coisa que estou cozinhando. Eu o entendo.
São quase onze da noite e estou na cozinha desde às quatro da tarde. Ele me
ajudou picando coisas e depois dispensei seus serviços, quero ser a única a
fazer uma ceia natalina para meu homem.
Quando enfim termino tudo e há apenas o pernil no forno, decido ir
tomar um banho. Mas, ao chegar na sala, encontro meu noivo de cabeça
baixa e uma cara de cachorro sem dono.
— Que foi, Tutu? — pergunto, me ajoelhando ao chão, e ele levanta o
olhar ao meu. Olhos azuis reluzentes e intensos me fazem arrepiar dos pés à
cabeça, devido à eletricidade enérgica. Ô homão do caralho!
— Você me abandonou o dia todo.
— Você está assim por causa de mim? — questiono, sorrindo, mas
ele não ri de volta. Que tipo de jogada de mestre é essa?
— Eu fiquei abandonado. Estive na cozinha e você nem ligou pra
mim, nem escutou o que eu disse. — Sério, ele parece um garoto de cinco
anos de idade.
— Tutu... eu estava preparando nossa ceia, a primeira ceia juntos.
— Mas eu sou muito mais importante que um pedaço de pernil. —
Ele está sendo fofo, tenho que confessar.
— Você é.
— Eu fiquei muito abandonado. Todos esses dias ficamos juntos o
tempo todo, menos hoje. Não é justo.
— Eu estou aqui agora. Quer dizer, vou tomar banho e então estarei
com você.
— Eu te amo.
— Eu também amo você, Arthur.
— Eu sou muito egoísta, Mari, quero você só pra mim. Quero seu
amor. — Se o olhar dele tem um poder, esse poder é deixar minhas pernas
bambas e minha boca seca.
— Você já tem tudo isso — digo.
— Eu sou insaciável, Mariana, completamente. Um viciado.
— Você está falando de sexo? — pergunto.
— Eu estou falando de você, logo isso envolve muito sexo, 70% para
ser mais preciso — confessa, remexendo nas pontas dos meus cabelos.
Seu olhar malicioso desvia todo meu foco sobre um possível banho e
eu seguro seus cabelos, trazendo sua boca à minha. Ele me beija
deliciosamente, sua boca tem sabor de menta suave e seu beijo é um daqueles
que exige muito autocontrole. Afastando nossas bocas, ele acaricia meu
pescoço com o nariz e eu ofego. Esse homem e as coisas que ele me faz
sentir. Estou começando a ficar com o corpo mole, tomado pela necessidade
de ser possuída, quando sua boca crava uma mordida em meu pescoço, que
faz meus mamilos enrijecerem. Então, com uma mão em minhas costas, ele
roça meus seios levemente com seu polegar. Sua boca sobe até a minha
novamente e me beija mais profundamente que antes.
Estou bamba, ofegante e excitada quando ele se afasta, me privando
do seu toque.
— Você está com vontade de tirar a roupa? — pergunta.
— Sim.
— Está excitada, Mari, posso sentir seu cheiro daqui — diz e eu
avanço em cima dele, consumida pela vontade. — Você quer me dar?
— Quero, agora.
— Vá tomar seu banho. Após a ceia, Mari, meu presente de Natal é
você.
— Por que não podemos transar agora? — pergunto, desesperada pelo
tesão forte e incontrolável.
— Esperei o dia inteiro para ter sua atenção, agora você vai esperar
para ter a minha. — Ele se levanta e eu fico puta pra caralho.
— Babaca! Te odeio! — grito e o ouço rir.
Subo as escadas correndo e fico tontinha por isso. Me apoio na parede
até a sensação de ser engolida pelo chão cessar.
Ligo a ducha de água fria e retiro toda minha roupa antes de entrar.
Eu me toco. Não sei há quanto tempo não fazia isso, mas minhas mãos
parecem se lembrar perfeitamente. Uma trabalha em meu seio esquerdo
enquanto a outra desce para minha intimidade. Estou pouco me fodendo se
Arthur vai me ver perder a compostura, estou muito excitada, de um jeito que
preciso de alívio. Encosto na parede fria e deixo meus dedos traçarem
círculos em meu clitóris.
— Abra mais as pernas, Mari. — Ouço sua voz rouca, sorrio e
obedeço. — Agora deixe seu clitóris de lado e leve seus dois dedos para
dentro e para fora, como se fosse meu pau. Escorregue eles na sua entrada
apertada.
Eu os levo, mas nunca será a mesma coisa como seria se fossem seus
dedos ou seu membro grande e grosso.
— Enfie eles, Mari, mais rápido — ordena. — Isso, agora retire e
esfregue esse grelinho duro. Aperte seus dedinhos e esfregue fazendo
círculos. Aperte esse seio gostoso com força também. Bem forte, como se
fosse as minhas mãos.
— Arthur.
— Não, concentração. Seu foco é gozar gostoso agora. Esfrega essa
bocetinha linda pra eu ver — pede entre gemidos e eu abro os olhos.
O vejo com a cabeça encostada no blindex, tocando seu pau com a
mesma velocidade que estou me tocando. Eu não sou capaz de conter. Eu
toco mais forte e gozo, observando-o atingir sua própria libertação. Os jatos
de sêmen escorrem pelo vidro, assim como eu escorro pelo chão, incapaz de
manter controle sobre minhas pernas. Ainda o vejo se tocar mais lento e me
arrasto pelo chão.
— Estou duro pra caralho, Mari. Tome seu banho.
— Eu quero você — choramingo sob seu olhar instigante e seu
sorriso de quem sabe foder um psicológico.
— Você me tem. Você estava tão linda se tocando. Porra, Mari, você
me deixou tão duro! Vá tomar banho, mais tarde a gente brinca, princesa.
— Saia daqui, diabo! Agora! Inferno! Some da minha frente — grito,
levantando e tacando água nele, que começa a rir. Eu saio, deixando tudo
aberto, e me sinto disposta a cometer um assassinato.
Jogo um frasco de xampu nas costas dele e tranco a porta com chave.
Enfim tomo meu banho, lavo meus cabelos e me seco.
Sinto-me muito mais calma e controlada agora.
Saindo do quarto, ouço o som do chuveiro do banheiro do quarto ao
lado, indicando que meu amado noivo está tomando banho.
Desço e começo a pôr a mesa. Coloco uns pratos mais decorados,
taças para o vinho e para água, guardanapos temáticos, talheres comuns
mesmo, porque não sou obrigada a usar prata. Coloco as comidas em tigelas
bonitas e por fim dou o toque final, espalhando algumas velas decorativas.
Nossa ceia será romântica, porque sou a rainha do romance.
Quando vejo que a mesa está perfeita, pego uma caixa de estalinhos,
que comprei escondida, e os coloco na cadeira que Arthur vai sentar, os
cobrindo com um pano da mesma cor do estofado. Acomodo-me em meu
lugar, plena, linda, maravilhosa e aguardo meu deus grego.
Não demora muito para ele surgir na escadaria, usando apenas uma
cueca boxer preta.
Será que é pecado passarmos a ceia vestidos em nossas roupas
íntimas? Que Deus nos perdoe por isso. É muita ousadia e sucessagem.
— Mais calma, amor do Tutu? — ele pergunta, puxando a cadeira.
— Muito, amor da Mari — respondo e ele se senta, ocasionando um
monte de estalos explosivos. Eu começo a rir, até cair da cadeira.
— Filha da puta! Diaba do cão! — diz, vindo para cima de mim.
Levanto e começo a andar de costas. — Pode fugir, mas hoje você vai dormir
com a bunda ardendo.
— Não! — Rio até sentir a parede em minhas costas. Ele me prende
entre seus braços fortes e ofego.
— Você é a própria mamãe Noel pornô com essa lingerie vermelha.
Quente como o inferno! Vermelho, definitivamente, é a sua cor, Mari. É um
pecado ser indecente dessa maneira.
— Você acha? — pergunto, o provocando.
— Você tem ideia de tudo que já aprontou nesses dias que estamos
aqui? — pergunta.
— Sim.
— Você roubou a lancha no terceiro dia, roubou o jet ski do senhor
Antônio, nadou nua e quase foi pega pela marinha. Chupou meu pau
enquanto eu estava pilotando, me acordou com um balde de água fria, me
embebedou, jogou duas latas de leite condensado no meu corpo, pulou da
lancha em movimento, me maquiou enquanto eu dormia bêbado, cantou o
caixa do mercado pra me fazer ciúmes. Mari, eu ficaria até amanhã
enumerando tudo.
— Ficaria. — Sorrio.
— Eu amo você, mas você tem tirado meu sossego. Tem sido uma
garota desobediente e má.
— Eu tenho realmente — digo, mordendo o lábio inferior.
— Você quer ser castigada, o tempo todo. Você faz tudo para me
fazer perder o controle e consegue. Eu perco a sanidade, o controle, eu perco
a porra toda, Mari, porque é isso que você gosta e por isso que me tenta.
Você gosta da coisa insana e fora de controle, você gosta de forte, alucinante.
— Não vou negar — informo e ele dá um sorrisinho.
— Mas eu vou. Você pode colocar um rojão na minha cadeira e eu
não vou agir feito o insano que me tornei, não essa noite, bebê. Nós vamos
ter nossa primeira ceia juntos, com romantismo e respeito. Esse é o melhor
Natal da minha vida, estou com a mulher que eu amo, isolado em uma ilha
deserta e conquistei tudo que vim buscar aqui: paz, felicidade e um filho —
diz com os olhos lacrimejantes. — Isso nunca vai substituir a nossa perda, é
apenas uma chance de recomeçar. Nós conseguimos, Mari, juntos
conseguimos.
— Um filho? — pergunto, temendo que ele esteja numa alucinação
sinistra.
— Ou uma filha. O que importa é que eu sei que está aí, dentro do seu
ventre.
— Eu não estou grávida — falo, me apoiando em seus ombros.
— Você está, meu amor. Os sintomas estão evidentes há alguns
poucos dias. Fome excessiva, tonturas moderadas, fome sexual extrema, você
passou mal há dois dias, quando bebeu vinho no restaurante...
— Não. Você realmente acha? — Estou chocada. Como ele pode
estar notando isso quando eu mesma não estou?
— Nós vamos confirmar na virada do ano. Eu quero começar o ano
com a melhor notícia. Por ora, vamos esquecer isso e curtir nossa ceia.
Espero que você não tenha aprontado mais nada! Já passam da meia-noite e
não quero interrupções — diz sério e rio.
— Estou um pouco chocada.
— E eu vou dar na sua bunda assim que comermos — fala, segurando
minhas mãos e nos conduzindo até a mesa.
Eu faço questão de servir o prato dele e só depois sirvo o meu. Ouvir
Arthur gemendo de satisfação é meu próprio presente de Natal.
— Fantástico, Mari, eu te amo tanto!
— Eu amo você, Arthur Albuquerque, e cozinhei com todo amor que
há dentro de mim — explico e ganho um sorriso de tirar o fôlego. Sirvo
vinho em nossas taças e agora estou com certo receio em bebê-lo.
— Só um golinho não vai fazer mal — diz, me observando. — Um
brinde, minha rainha, por tudo que você é. Por ser maluquinha, inteligente,
audaciosa, empolgante. Por ser tudo que eu sempre quis e mais, além de tudo
que esperei. Que esse seja o primeiro de muitos Natais que passaremos
juntos. Eu espero que no próximo ano tenhamos um motivo maior para
comemorarmos essa data importante. — Eu limpo as lágrimas e sorrio.
— Você é tão perfeito. Esse é o primeiro de muitos. Sempre achei
clichê esse negócio de “quero passar o resto da vida com você” ou essa frase
“primeiro de muitos”. Eu sou o próprio clichê agora, Arthur. O amor é a
porra de um clichê completo. Eu quero tudo isso. Quero outros Natais, filhos,
jantares românticos, envelhecer juntos. Quero tudo isso com você. Você me
satisfaz em tudo, Arthur, você me completa, me envolve, me enlouquece e
me acalma. Eu quero mais, quero tudo.
— Eu vou te dar tudo e mais, Mari, assim como você me dá.
— Eu sei que sim. — Nós brindamos e eu bebo apenas um pouco do
vinho. Arthur pega refrigerante e eu enfim consigo comer.
Quando terminamos, pegamos o pavê de Sonho de Valsa, duas
colheres e nos sentamos no deque. Contemplando o céu estrelado e o barulho
constante do mar, devoramos a travessa inteira do doce.
Me deito em suas pernas e ficamos num silêncio confortável por um
tempo.
— Mari...
— Oi.
— Feliz Natal, amor.
— Feliz Natal, Tutu, para nós. — Me sento direito e o beijo. O beijo
do nosso jeito alucinante.
Sinais, as evidências estão por toda parte, se intensificando a cada dia.
Seja num simples abrir de olhos ou em um incrível ato de se alimentar, um
descanso na rede ou um passeio magnífico de lancha. E tudo muda, outra vez.
Nós fomos agraciados pela benevolência celestial. Não há nada que mude a
certeza que habita em meu interior, mas iremos confirmar dentro de algumas
horas. Embora eu já saiba, estou ansioso para a revelação.
Deitado na cama, em uma linda manhã de céu azul limpo e sol
escaldante, em meio aos cantos dos pássaros e o barulho das ondas batendo
sobre as pedras que sustentam a casa, espero minha mulher voltar de mais
uma sessão de enjoo matinal. Estou só na suíte, já que ela se recusa a vomitar
no banheiro de vidro, sob meus olhos.
Mariana é uma mulher louca, e sua loucura é incurável.
Já estou convicto disso.
Absorto em pensamentos, permito-me lembrar de todos os momentos
magníficos que passamos aqui, nesta linda casa. Não há como negar, não
resta dúvidas, nós escrevemos uma nova história aqui desde que chegamos,
há pouco mais de um mês.
Segredos foram compartilhados, verdades foram ditas. Atingimos um
novo nível no relacionamento. Eu passei a conhecer mais de Mariana,
intimamente e intensamente. Eu que achava que já sabia tudo sobre minha
mulher, descobri que estava terrivelmente enganado. Eu descobri detalhes
importantes da sua infância e sua juventude, descobri segredos sobre sua
transição de jovem para adulta, conheci um pouco mais sobre seus medos,
receios e planos. Descobri uma mulher de um coração extremamente puro,
beirando ao inocente. Uma mulher carente e indefesa por trás de uma
máscara de aparência. Eu também descobri mil e um motivos a serem
agregados a todos os outros motivos para amá-la ainda mais e mais.
Minha Mari, minha futura esposa, além de todos os atributos físicos
impecáveis que possui, é também a mulher mais incrível e absurda que
conheci. Eu, que não acreditava em sorte, agora me considero o homem mais
sortudo do planeta.
Habitam tantas qualidades, tantas características incríveis dentro dela,
que a tornam única e inalcançável a todas as outras meras mortais. Ela é uma
bomba-relógio prestes a explodir, assim como é dócil, sensível, gentil,
bondosa, caridosa, honrosa, eu diria que ela é até mesmo pura, mas todos
sabem que pureza é uma linha tênue a se cruzar quando se trata de Mariana.
Como dizer pureza após toda troca sexual que estamos tendo nesse
lugar? Ok, já tínhamos tido todo sexo antes de chegarmos até aqui, mas eu
não sei se é correto utilizar a palavra sexo para explicar tudo o que vivemos
todos esses dias aqui.
Foi e está sendo muito além do carnal, é uma busca mútua do prazer
absoluto. Uma fonte inesgotável de prazer e doação. Houve momentos
realmente de loucura sexual extrema, onde nós dois perdíamos totalmente a
noção e a razão de pensar. Mas a maioria dos momentos que tivemos aqui
foram momentos de entrega, uma entrega além do sexo, uma entrega de
almas. Duas almas conectadas a um só fim. Eu passei a possuí-la por
completo nesse lugar, assim como me dei por completo. Desvendei suas
fraquezas, caminhei por zonas intocadas e descobri o dom da libertação
absoluta sexual. Nós nos libertamos juntos, nos perdemos e nos encontramos
mil e uma vezes.
Não há um único local dentro e fora dessa casa que eu olhe e consiga
não ter uma lembrança de Mari. Uma lembrança de um momento engraçado,
um momento tenso, um momento de desejo ou um momento de troca. Nós
vivemos tudo isso, cada um deles.
Foi aqui que eu a vi voltar a sorrir sem reservas, a vi se permitir ser
feliz após todos os acontecimentos ruins que vivemos.
Eu vi Mari se reerguer, renascer das cinzas e me trazer junto com ela.
Sim, juntos. Mari tem o grande poder de contagiar e eu fui contagiado. Se ela
está feliz, então eu também estou. O amor é isso, se importar mais com a
felicidade da minha mulher do que com a minha própria, afinal, minha
felicidade é a dela. Nós estamos felizes e radiantes, principalmente após a
perspectiva da possível gravidez, mesmo possuindo marcas que nunca serão
apagadas em nossas almas.
Quando perdemos os gêmeos, eu quase desisti de tentar de novo, por
medo. Medo apenas da minha mulher, da mulher que eu amo, sofrer
consequências indesejadas. Em todos os momentos que pensei em desistir,
houve uma força que me impulsionava a tentar: o amor.
O amor foi o que nos ajudou a superar.
O amor foi a nossa fonte limpa e pura de cura.
O amor foi a forma justa que encontramos de buscar nossa felicidade.
O amor é a resposta para todas as coisas, é uma religião, a nossa
religião!
O amor faz tudo valer a pena, eu descobri isso.
Certa vez li a seguinte citação “nem só de amor vive o homem”, mas
passei a discordar. Atualmente, desde que encontrei Mari, discordo veemente.
Eu diria: “principalmente de amor vive o homem”. De que vale a vida sem
amor? Eu posso dizer que vegetei por muitos anos. Perdoem-me os poetas, os
citadores, mas sem amor eu nada seria. Aliás, o que seria da humanidade sem
esse sentimento que move o mundo? Estou virando poeta e o motivo disso
está caminhando de volta ao quarto.
Ela está sorridente em toda sua plenitude matinal, como se nada
tivesse acontecido. Como a louca perfeita que ela é, se joga na cama, vira
para o lado e cobre sua cabeça. Passam alguns segundos e ela se descobre,
espreguiça e sorri.
— Bom dia, amor da minha vida! Não existe nada mais perfeito que
acordar ao seu lado e contemplar esses olhos azuis intensos e reluzentes sobre
mim! Fora esse corpo feito para o pecado carnal! É uma ótima manhã! — diz
enquanto a observo no auge da insanidade. — O quê? Você acha que é bonito
acordar quase vomitando na cama e ter que correr para o banheiro como uma
velocista? Eu não acho! Só queria apagar o terror matinal da minha mente,
fingindo ter acabado de acordar sexy, com os dentes escovados e uma
aparência perfeita — diz de forma séria.
— Claro, amor! Como não pensei nisso? É uma encenação perfeita —
concordo e dou um sorriso radiante que a faz voar sobre mim
inesperadamente. Ela retira meus travesseiros, os jogando ao chão, e sobe
mais, montando em meu rosto com sua boceta gulosa e sedenta.
— Por Deus! Isso era tudo em que pensava enquanto estava
vomitando. Estava sonhando com isso, Arthur! — exclama sem me dar o
direito à resposta. Eu chupo minha mulher do jeito que ela quer, até perder os
sentidos...

Conforme a noite se aproxima, a ansiedade se intensifica, tornando-se


quase palpável.
Ainda não acredito em tudo que vivi esse ano, foram inúmeros
acontecimentos inesperados.
Lembro-me do Réveillon passado. Eu estava tão bêbada, comendo
grama como uma vaca perfeita, que nem mesmo vi a queima de fogos.
Naquele dia não havia perspectivas, sonhos ou planos. Havia apenas
inconsequências, loucura e atos impensados. Hoje há alguns motivos que
tornam tudo diferente.
Eu conquistei tudo o que nunca planejei: um namorado, um noivo, um
homem quente, pelando, que virou meu mundo do avesso e mostrou que o
avesso é meu lado certo. No ano que está acabando, fui feliz, fui triste e, para
fechá-lo com chave de ouro, consegui reencontrar a verdadeira felicidade.
Hoje, apenas hoje, não quero pensar nos momentos tristes ou nas perdas.
Hoje quero pensar em todas as conquistas incríveis que fiz. Arthur, sem
dúvidas, está no topo, liderando a porra toda.
Esse ano eu encontrei o amor, o prazer, a segurança, o lazer, a
felicidade, o controle, a maturidade e muitas outras coisas, tudo em um único
homem. O meu homem!
Além de tudo isso, há também a diversão inesperada. Algo que eu
achava impossível existir nesse homem que sempre demonstrou
impassividade e seriedade. Nós nos divertimos muito, nos completamos. Ele
é meu par. A loucura dele combina perfeitamente com a minha. Não consigo
ficar longe dele, em H-I-P-Ó-T-E-S-E alguma. É como uma questão de vida
ou morte. Dormir e acordar ao lado dele tornou-se essencial para minha
sanidade e para minha felicidade.
Tornei-me mulher, amante, me tornei mãe! Tornei-me tudo que nunca
imaginei me tornar algum dia. A vida mudou, a percepção mudou, os
extremos mudaram. Tudo ganhou um novo sentido.
“O que não faz você mover um músculo, o que não faz você
estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.”
Minha biografia passou a ser escrita quando Arthur entrou em minha
vida. Tão pouco tempo juntos e tantas mudanças, tantos momentos, tanto
amor, tanto sexo, tanto carinho, tanto desejo, tanto, tanto. Eu o amo tanto,
que não acho que exista uma explicação lógica para descrever esse
sentimento.
Cinco! Esse é o número de vezes que transamos hoje. Nós acordamos
a uma da tarde e são apenas sete da noite. Nós transamos cinco vezes nesse
intervalo de tempo.
Após um banho delicioso, onde Arthur gritou por causa do ardor
causado pelos arranhões nas costas, estamos quase um dentro do outro,
deitados na cama. Nossos lábios possuem ímãs e não conseguimos desgrudá-
los. São tão bons esses momentos nossos, sem sexo, apenas carinho, apenas
um derramando todo o amor no outro. A ereção dele está tentando destruir
esse momento romântico, mas até mesmo um pau, às vezes, precisa de
descanso. Eu começo a rir no meio do beijo, porque isso é muita loucura.
— O que foi, amor? — pergunta, sorrindo.
— Esse trem aí no meio das suas pernas — digo, escondendo meu
rosto em seu pescoço.
— Eu sei, preciso procurar um médico, isso não pode ser normal.
Acho que ele está até afinando — ele divaga, tamborilando os dedos em
minhas costas.
— Não está afinando mesmo, querido! Nunca diga uma coisa dessas,
é grosso como um tronco. É excessivo, claro, mas eu amo que você sinta esse
tesão incontrolável por mim e eu por você.
— Já disse isso antes, Mari, basta estar na sua presença que fico
assim. Isso nunca aconteceu comigo antes — diz, me fazendo sorrir.
— Eu amo você e seu pau, meu amor! Preciso de um apelido para ele.
— Nem inventa, Mariana. Você é muito doida, não quero nem
imaginar o apelido. Tutu já basta! Pau já está ótimo e me deixa louco quando
essa palavra sai da sua boca. Amo ouvi-la dizendo pau, o meu pau.
— Tudo bem, pau. Apenas pau.
— Isso, pau e boceta! Meu pau e a sua boceta para sempre juntos. —
Caímos na risada.
— Muito romântico isso. Te amo!
— Também te amo, mas estou com fome de comida. De outra coisa
também, mas acho que precisamos educá-lo.
— Ele já é super educado, ele sempre se levanta para eu me sentar. —
Rimos novamente.
— Essa foi péssima, Mariana.
— Às vezes ele cospe em mim, mas, ainda assim, o acho muito
educado — digo e ele ri ainda mais, em seguida fica em silêncio. Já sinto
toda uma tensão tomar conta do momento. A eletricidade está começando a
fluir desenfreada. Isso é doentio!
— Caralho, eu juro que preciso te comer de novo!
— Eu acho que podemos dar uma rapidinha, um papai e mamãe
apenas.
— Então abre suas pernas para mim. — Eu abro e já era, mais uma
vez!
Dormimos, tomados pela exaustão.
Acordamos e já passam das dez da noite. Nós simplesmente perdemos
todo o dia de hoje. Eu nem sequer preparei algo para comemorarmos na
nossa festa particular.
— Eu vou ligar para o senhor Antônio e pedir para que traga algo do
restaurante — Arthur diz, tentando me tranquilizar. — Veja pelo lado bom,
pelo menos há um pudim intocado na geladeira e champanhe para
estourarmos.
— Culpa sua, que só pensa em sexo! — esbravejo e ele franze a testa.
— A culpa é minha? É só minha? Você não pensa em sexo nunca? Só
eu! — grita, me fazendo rir de dobrar a barriga.
— Exatamente, é sua! Ninguém mandou ser bonito, gostoso. Agora
estamos aqui, passando fome e nus para a virada de ano!
— Não estamos passando fome, e muito menos nus! — rebate, rindo.
— Eu tenho uma ótima ideia! Esse lance de escolher roupas para a
virada nunca dá certo, acho que devemos passar do jeito que mais gostamos,
nus! E fodendo! Nosso ano será incrível, teremos sorte sexual e isso é...
— 70% do que precisamos no nosso relacionamento!
— Também. — Rio. — Na contagem regressiva gozaremos à
felicidade!
— Que horas são? — pergunta.
— Dez e meia! Oh, meu Deus, são quase onze! — grito. Ele vai em
busca do celular e liga para o senhor Antônio. Entro numa paranoia e começo
a andar por todos os lados.
Meia hora depois, Antônio chega com algumas sacolas, que estão
recheadas com embalagens de comida, e bato palmas.
— Era para um casal que estava esperando no restaurante, Mari, você
tem ideia disso? — Arthur pergunta e eu rio.
— Estou grávida, tenho direito a preferencial — digo sem pensar, e
Arthur, o babão, vem até mim. Seus olhos agora brilham, e não é por
safadeza, é por algo maior, superior.
— Você também acha isso?
— Sim, mas estou arrependida de ter dito em voz alta. Tenho receio
de não estar e você ficar decepcionado. — Abraço-o forte e ele ri.
— Nunca, Mari. Se você não estiver grávida, vamos apenas continuar
tentando, fodendo sem limites — promete, apertando minha bunda.
— Tudo bem. Foder sem limites é algo bom.
— Nós vamos comer agora e então iremos fazer os testes — avisa,
ansioso.
— Tudo bem, senhor Arthur. — Sorrio.
— Sente-se, senhora Albuquerque, eu irei arrumar a mesa.
Me acomodo em uma das cadeiras e ele passa ao menos dez minutos
arrumando tudo. Ele até mesmo serve comida em meu prato.
É um delicioso nhoque à bolonhesa, tudo a ver com Ano-Novo!
— Estava pensando aqui, te comi feito um maníaco hoje o dia todo,
será que está tudo bem com o bebê? — Engasgo com a comida.
— Meu Deus, eu não sei se eu estou grávida, Arthur! E se tiver, você
sabe que sexo é excelente e o bebê não vai sofrer por fodermos.
— Então come logo, amor, por favor. Sou um pobre homem
desesperado para saber se minha mulher vai ser mamãe.
— Own, amor, você é tão lindo e perfeito — digo, emocionada, e ele
sorri, carinhoso.
— Eu amo você, Mariana.
— Eu também amo você, meu nervosinho.
— Então termina de comer essa porra logo! — diz, dando um
sorrisinho forçado. Eu contagiei esse homem, ele agora é um louco completo.
Meu lugar no inferno é garantido.
— Tão romântico! — suspiro e dou um murro na mesa. — Olha aqui,
não pense que só porque eu te amo, sou tarada em você e quero chupar seu
pau, que vou seguir ordens. Eu acabei de começar a comer, quero degustar
minha última refeição do ano com o amor da minha vida num clima de
romance e sensualidade. Não sou obrigada a entupir a boca de comida! Faz
gracinha e eu não faço os testes — ameaço.
— Ah, faz! Se tem uma coisa que você vai fazer essa noite, além de
sexo, são os testes!
— Então, comporte-se! — exijo e brindamos. Ele com vinho e eu
com suco.
Comemos em silêncio, conversando apenas através de olhares e
palavras não ditas. No fundo, estou rezando para não ser algo da minha mente
essa gravidez. Nós merecemos um bebê após tudo que vivemos. Dessa vez é
planejado.
Terminamos, coloco as louças na pia e juntos vamos escovar os
dentes. Eu enrolo o pouco, sou a última a terminar e, assim que enxugo
minha boca, ele me entrega uma sacola cheia de testes.
— Você não espera que eu urine em todos esses testes, não é? —
pergunto, embasbacada.
— Eu espero que faça — diz, seguro de si, com os braços cruzados.
Eu não vou discutir, mas também não farei todos. Vou relevar essa loucura,
tendo em vista a ansiedade em que ele se encontra. — São onze e cinquenta e
quatro, esse é o momento, Mari.
— Ok. Vamos combinar o seguinte, Arthur. Vou tentar fazer gotinha
por gotinha em todos os testes e só vamos ver o resultado quando eu terminar
todos, tudo bem?
— Ok — concorda, mas não sai do banheiro.
— Arthur, sei que já temos intimidade o suficiente, mas não vou fazer
xixi com você parado na minha frente, observando. Isso é como se eu
estivesse sob pressão e minha boceta não libera nesses termos.
— Tudo bem — ele diz, bufando, e sai do banheiro.
Faço apenas quatro testes, um de cada tipo, pois me recuso a fazer
xixi em 16 testes. Assim que faço o último, me limpo e saio do banheiro, os
deixando sobre a pia.
— E aí? — pergunta, impaciente.
— Não sei ainda, precisamos esperar quatro minutos.
— Tudo bem, vou colocar o cronômetro no celular. — Seguro o riso
enquanto ele coloca no cronômetro. Tudo bem, confesso, estou tão nervosa
quanto ele, mas dois nervosos dando show juntos não vai dar certo, então
alguém tem que se controlar, e, no caso, esse alguém sou eu. Logo eu, a
descontrolada!
Me sento na sala após acender uma dezena de velas e apagar as luzes.
Ligo a TV em um canal de músicas e ele fica andando de um lado para o
outro. A cena é hilária e desesperadora.
— Vem aqui, amor — o chamo e ele se senta ao meu lado. Seguro
suas mãos, que agora estão frias, e tento acalmá-lo. — Calma, meu anjo,
estou ficando com medo de não estar grávida, porque você vai ficar arrasado.
— Não vou ficar arrasado, vamos continuar tentando. Eu disse isso,
amor, e estava falando sério. Juro que não vou ficar arrasado.
— Sim, amor, mas fica calmo. — E... de repente, o cronômetro apita
e ele se levanta feito um maluco, indo para o banheiro. Fico na sala de cabeça
baixa, enquanto o silêncio toma conta da casa. Estava engraçado, mas agora
estou seriamente com medo, não consigo nem mais raciocinar e não tive
coragem de acompanhá-lo. Estou rezando muito firme agora.
Que eu esteja grávida, que eu esteja grávida...
Escuto seus passos vindo em minha direção, mas não tenho coragem
de olhar para ele. Tenho medo de vê-lo devastado...
Ele se ajoelha aos meus pés e segura minhas mãos, enquanto sinto
lágrimas caindo em minhas pernas. Eu crio coragem e levanto minha cabeça
para encará-lo. Ele está chorando, muito. Eu sabia que ele ficaria devastado.
Merda, é assim que me sinto agora! Me levanto e abaixo até ele. Ofereço a
única coisa que posso oferecer agora: um abraço.
— Eu sinto muito, nós vamos continuar tentando — acalento e ele me
afasta, olhando em meus olhos. Inesperadamente, me beija com volúpia,
paixão e ferocidade. Eu nem mesmo consigo entender, mas sou consumida
em questão de segundos. Pela TV começa a contagem regressiva para o novo
ano. Como uma cena de filme, ele começa a arrancar meu roupão no dez.
No nove, ele volta a me beijar desesperadamente.
No oito, sua boca desliza para meu pescoço. No sete, eu libero seu
membro da cueca. No seis, ele aperta meus seios. No cinco, eu puxo seus
cabelos. No quatro, seu pau brinca, provocando em minha entrada. No três,
ele morde meu ombro. No dois, ele segura minha bunda. No um, ele me
penetra de uma só vez. E no zero, uma explosão de fogos acontece na ilha.
Então ele diz algo em meu ouvido, que faz meu mundo parar:
— Feliz Ano-Novo, Mari. Obrigado, muito obrigado! Eu juro que
dessa vez não deixarei nada de ruim acontecer a vocês. Eu amo vocês!
Não é o fim... é apenas o começo!
RELANÇAMENTO EM DEZEMBRO
CONTATO COM A AUTORA:
https://www.instagram.com/autorajussaraleal

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