Jussara Leal - Sem Limites (1) - Sem Limites
Jussara Leal - Sem Limites (1) - Sem Limites
Jussara Leal - Sem Limites (1) - Sem Limites
Então eu grito.”
Clarice Lispector
Copyright © 2021 Jussara Leal
SEM LIMITES
2ªEdição
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânico sem consentimento e
autorização por escrito do autor/editor.
Sumário
Quando a vida não era tão louca
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Final
“Ainda deitada debaixo do céu tempestuoso
Ela disse: Oh, oh, oh, oh, oh
Eu sei que o Sol deve se pôr para se erguer”
Paradise – Coldplay
Por trás de uma mulher “perdida” existe uma mulher que foi impiedosamente
ferida.
Quando se diz Mariana Barcelos, a primeira coisa que deve surgir na mente
das pessoas é toda a loucura que carrego comigo. Mari Barcelos é sinônimo
de diversão, felicidade, sensualidade, promiscuidade. Correto? O que poucas
pessoas sabem é que, durante 18 anos da minha vida, eu fui uma pessoa
completamente diferente.
Não posso dizer que minha vida era regida na santidade, isso seria mentira. O
meu primeiro beijo na boca foi aos doze anos de idade, com um garoto de 11
que se chamava André. Acredite, mesmo tendo trocado saliva com ele, aquilo
foi extremamente inocente. Estávamos em um famoso clube da cidade,
éramos namorados há poucos meses e nunca havíamos nos beijado. Então
aconteceu e foi mágico. Uma das cenas mais bonitas que carrego comigo.
Após o ato, ambos saímos correndo, movidos pela empolgação, e nos
jogamos na piscina, onde, acompanhados de nossos dois melhores amigos,
começamos uma guerra de água para comemorar. Depois disso, namoramos
pouco tempo e mal nos beijávamos, o que era no mínimo curioso. Foi a partir
daí que tudo mudou...
O primeiro beijo na boca é um caminho sem volta.
Pense em uma garota beijoqueira? EU! Beijei todos os garotos beijáveis da
cidade, de cidades vizinhas, da torcida adversária, de outros estados... E, pior,
eu anotava todos os nomes em um caderninho. Na festa de 15 anos da minha
amiga beijei 10 garotos e consegui fazer isso com talento, sem que nenhum
deles desconfiasse do meu malfeito. Eu passei a disputar com as minhas
amigas a quantidade de garotos que beijaríamos nas festinhas. Foi o auge da
minha adolescência.
Mas...
Percebeu que só falei de beijos? Pois é! Quando a maioria das pessoas
possuíam a certeza de que eu já tinha transado com metade da cidade, eu
nunca havia feito nada que além de beijar. Tudo bem, até rolou uns apertos
na bunda, mas nunca passou disso. Uns 3 garotos inventaram que transaram
comigo e eu, ao invés de ficar revoltada, apenas ria. Eu era beijoqueira, mas
sempre possuí uma inocência e o sonho de viver um conto de fadas. Sonhava
que um dia encontraria meu príncipe encantado, que ele me pediria em
noivado de uma maneira encantadora, que teria o casamento dos sonhos e
filhos lindos. Afinal, desde pequena ouvi que a gente nasce, cresce, se casa,
tem filhos... Para mim, essa era a vida perfeita e eu guardaria minha
virgindade para poder viver tudo isso com uma só pessoa.
Aos 17 anos eu ainda jogava bola com os meus amigos na rua, brincávamos
de queimada, vôlei, entre muitas outras brincadeiras. Eu não possuía
preocupações na vida, tampouco pensava em meu futuro profissional.
Concluí o ensino médio sem saber qual curso iria fazer na faculdade, então
adiei os planos e entrei em um cursinho de Recursos Humanos. E foi no
trajeto para a casa que ele me viu e a minha vida inteira mudou...
Era domingo, último dia das férias de julho, eu estava sentada na calçada do
meu vizinho, ao lado da minha casa, acompanhada de todos os meus amigos
que moravam na mesma rua. Minha rua era o paraíso dos adolescentes,
parecia um ponto de encontro dos mais jovens; era sem saída, calma... e foi
assim até entrar um carro em alta velocidade, levantando poeira. Fiquei
ligeiramente assustada quando ele parou em frente a minha casa. No som,
tocava bem alto What Goes around, come back around, do Justin
Timberlake, a música que eu temo jamais esquecer.
O surpreendente começou a acontecer assim que do carro desceu um homem
bastante decidido e se aproximou de mim, sem se importar em cumprimentar
os meus amigos.
“— Mariana, bom dia, pode chamar sua mãe para mim, por favor? — Um
homem jovem, levemente acima do peso, que nunca vi antes, pede.
Curiosamente ele sabe meu nome, enquanto eu não faço a menor ideia sobre
quem ele é.
— Claro, só um momento — peço, ficando de pé. Caminho apressada até
minha casa, acompanhada dele. Penso que ele irá esperar no portão, mas
não é o que acontece. Quando dou por mim, ele está me acompanhando
dentro de casa. Por sorte há todos os meus amigos ali fora. Um grito, e serei
socorrida.
— Mari... — minha mãe surge no corredor e seus pés paralisam ao ver o
homem atrás de mim. — Seu amigo?
No mínimo exótico, não? Mas não para por aí. Ao chegarmos no local do
Rally, fiquei admirada com a maneira como Thiago pareceu ser o prefeito da
cidade, cumprimentando a todos. Sem contar que todo mundo parecia
admirá-lo. Ele era querido até por pessoas que faziam parte do meu circulo de
convivência. A cada passo que dávamos, eu questionava ainda mais o motivo
para eu nunca tê-lo visto.
Conversamos bastante. Ele me contou ser estudante de medicina, morava em
Ipatinga, estava tentando transferência para uma faculdade em BH, me
conheceu através de um conhecido nosso em comum. Eu estava saindo do
cursinho e ele me viu passar. Segundo ele, não conseguiu mais me tirar da
cabeça.
Thiago não era o tipo de cara que eu gostava e costumava ficar, ele era
diferente de todos, desde o biótipo à maneira de conduzir as situações.
Comunicativo, extrovertido, determinado, não preciso dizer sobre o modo
cheio de atitude... e foi após ter a atitude de me beijar, que tudo ruiu.
Acima do peso, fora dos padrões de beleza que eu tanto fazia questão, ele era
o dono dos melhores beijos que ganhei. Quanto mais ele me beijava, mais eu
queria beijá-lo. Meu corpo se acordou para a novidade, respondia a cada
movimento e investida dele. Naquele dia, quando ele me deixou em casa,
decretou que eu seria dele. E assim foi.
Ele foi embora para Ipatinga, mas me ligava diariamente do hotel em que
morava. Cinco dias após o nosso encontro, recebi um enorme buquê de
flores. Duas semanas depois, ele surgiu de surpresa na porta da minha casa.
Ele conquistou meus pais, a mim... mas nunca caiu no gosto dos meus
amigos, que insistiam em dizer que ele era horroroso para mim, que ele
parecia lunático e perigoso.
Eu, obviamente, me afastei dos meus amigos. No meu conceito, Thiago era o
próprio príncipe do meu conto de fadas e por ele eu deveria fazer muitas
renuncias. Com 1 mês eu me entreguei a ele, em um sexo onde ambos não
atingimos o prazer. A safada beijoqueira que habitava em mim, desconhecia a
pudica que tinha vergonha de gemer e se entregar ao prazer. Ele era
experiente demais, o oposto de mim. Eu queria que ele me ensinasse, mas
tinha vergonha de pedir porque ele sempre demonstrava impaciência. Thiago
esperava uma atriz pornô na cama e recebeu uma menina inexperiente e
tímida, isso levou para ele uma gama de frustração. Mesmo assim
continuávamos juntos. Os momentos bons duraram apenas 2 meses, mas eu
estava apaixonada demais para enxergar que os meus amigos estavam certos.
O abuso começou em uma manhã de sábado, quando estávamos na loja do
pai dele e um amigo me cumprimentou. Thiago não gostou daquilo. Me
enfiou em um carro e saiu comigo em alta velocidade, levando-me para uma
BR onde deu vários cavalinhos de pau enquanto eu gritava em desespero,
acreditando que iria morrer. Depois disso, ele chorou e disse o quanto me
amava, e eu fiz questão de pontuar a reciprocidade do sentimento.
Deixei de ser a mulher perfeita aos olhos dele. Tornei-me a pessoa que ele
fazia questão de pontuar defeitos e encher de criticas destrutivas. Eu comecei
a me enxergar como uma pessoa inferior, deixei de possuir amor-próprio e só
me enxergava sendo todas as coisas ruins que ele me fez acreditar ser. Na
busca pela perfeição precisei passar a frequentar missas, a me vestir da forma
como ele julgava correto, e acreditava que todas as exigências eram
puramente por amor e cuidado, que ele só queria que eu me tornasse uma
pessoa melhor e mais evoluída. Minha vida passou a girar em torno dele e de
todas as suas vontades. Eu não conseguia enxergar o quão manipulador e
abusivo ele podia ser. Perdi amigos, passei a ocultar dos meus pais todos os
acontecimentos, deixei de ser a melhor amiga da minha mãe, me tranquei
dentro da nossa relação de forma que não podia e nem conseguir me abrir
com os meus pais, que amavam o meu abusador por ele passar a imagem de
namorado perfeito. (Sim, ele conseguia fazer todos se apaixonarem por ele,
mas ninguém sabia da crueldade que ele carregava consigo.) Me tornei atriz.
Eu era obrigada a sair com ele e os amigos médicos dele, mas, sempre antes
de sairmos, ele deixava avisado que era para eu me manter calada porque não
entendia de medicina e poderia falar alguma bobagem se abrisse a boca. E
tudo foi só piorando. Cada dia mais, eu me via envolvida na teia do
relacionamento abusivo. Passei a brigar com os meus pais, a ter acessos
explosivos de raiva, achava sempre que ele estava certo, chorava, era
humilhada em restaurantes a cada vez que via um conhecido e ousava
cumprimentá-lo... foi indo até eu pegar a única coisa que me faria acordar.
Não tenho vergonha de dizer que teria continuado com ele se não fosse a
traição. Eu estava em um estágio avançado de uma doença chamada amor
patológico, causada pelo monstro chamado Thiago.
O peguei me traindo dentro de um carro, com uma conhecida minha. Não fiz
barraco algum, mas coloquei um ponto final na situação e ele não insistiu
desta vez... e sabe o que aconteceu? Mesmo traição sendo a única coisa que
eu jamais seria capaz de perdoar, eu me peguei implorando para voltar para o
meu traidor. Pedi ajuda aos meus pais, aos pais dele, aos amigos...e nada
adiantou. Não me bateu fisicamente, mas destruiu o meu psicológico, me
proibiu de ter amigos, fez com que eu me sentisse inútil e inferior, controlou
e julgou duramente o meu modo de ser. É isso que um relacionamento tóxico
faz com a pessoa. Você sabe que os atos do parceiro são errados e, ainda
assim, você se vê presa a ele. O abuso psicológico é algo sútil, doce como
uma melodia, bem arquitetado, carregado de manipulação. Muitas vezes me
culpei por ter sido traída, sendo que o erro nunca esteve em mim.
Aquela foi o que eu achava ser a maior dor da minha vida. Em minha pouca
vivencia, cheguei a acreditar que jamais sentiria dor tão profunda quanto a
que eu sentir por perdê-lo. Eu pensei que iria morrer sem Thiago, mas eu
descobri que, quem eu achava ser a minha vida, era quem me matava todos
os dias. Ele destruiu uma garota que era realmente boa, que o amava acima de
todas as coisas. Ele me pegou inteira e me deixou quebrada, em migalhas,
então precisei reaprender a viver.
O primeiro mês foi o mais difícil, precisei de terapia, felizmente pude contar
com a piedade dos amigos que deixei de lado, tive apoio incondicional dos
meus pais. O segundo mês foi o mês da revolta, foi o mês responsável pela
mudança da minha vida e o mês em que decidi odiá-lo com todas as minhas
forças.
Passei a beber. Pegava uísques caros que meus pais colecionavam e bebia
todas as garrafas. E, para que eles não desconfiassem, as preenchia com água.
Conheci uma turma da pesada. Ter me juntado a eles só piorou a situação, foi
o passaporte para a quase destruição. Eu passei a sair quase todos os dias,
passei a consumir álcool excessivamente, e foi bêbada que tive o primeiro
grande sexo da minha vida, onde me entreguei de corpo e alma, externando a
revolta que habitava em mim. Como eu acreditava ser a culpada por ter sido
traída, por ser a mulher certinha, cheia de valores e sexualmente tímida, fixei
em minha cabeça que tudo seria diferente e que jamais seria corna
novamente. Decidi radicalizar e da adeus à garota boa que fui um dia.
Em minhas buscas por novas sensações e descobertas, encontrei outro cara
ideal: Pedro. Foi com ele que me libertei de verdade sexualmente e aprendi
tudo o que não havia aprendido com Thiago. Descobri todos os prazeres
sexuais, testei as mais diversas posições, deixei de me intimidar e me tornei
uma devassa na cama. Tudo isso impulsionado pela revolta. Pedro era o
homem perfeito para eu me relacionar, mas eu não era mais a mulher
perfeita... o fiz sofrer com a minha falta de juízo e o modo impiedoso que
adquiri. Eu gostava dele, mas gostava mais da libertinagem.
Tomei trauma de relacionamentos e ninguém podia me julgar. Mas, errei em
ter feito desse trauma o carro chefe da minha vida. Novamente meus amigos
deixaram de me conhecer, porque a Mariana que eles conheciam era uma
garota gente boa e de família, totalmente diferente da Mariana que me tornei:
louca, impulsiva e incontrolável.
Bebidas, baladas, sexo...
Precisei até mesmo fingir ser a filha perfeita para que meus pais permitissem
a minha permanência no Brasil quando se mudaram para NY. Eles confiaram
em mim, mas não sabem todas as coisas que aprontei e venho aprontando dia
após dia. Fui mestra em mascarar o quão destruída fiquei.
Eu fui muito quebrada, perdi a fé em mim, perdi a fé nas pessoas, passei a
acreditar mais nas tramas de terror do que nos filmes de romance. É isso que
acontece quando você encontra alguém manipulador, capaz de seduzir a
todos com palavras, e inteligente o bastante para te fazer acreditar que suas
opiniões e intenções são boas e unicamente corretas.
What goes around, comes around… a letra diz que tudo que vai, um dia
volta, mas ele não voltou e eu não fui capaz de recuperar a garota incrível e
cheia de planos que fui um dia. Porém, aos poucos fui me tornando uma outra
mulher; uma versão que descobriu o seu valor e que tornou-se imparável.
A boa notícia é que passa. Como tudo na vida, isso também passa. Somos
capazes de superar os traumas deixados por um relacionamento tóxico, somos
capazes de enxergar que aquela relação era errada, capazes de reencontrar o
amor-próprio perdido, capazes de sacudir a poeira e dar a volta por cima. E,
principalmente, somos capazes de enxergar o nosso verdadeiro valor e esse é
o grande X da questão; uma vez que você enxerga isso, deixa de permitir que
as pessoas te machuquem e, então, você passa a ser grande maestra da própria
vida.
É preciso entender que cada acontecimento ruim traz lições valiosas,
aprendizados que você carregará para o resto da vida. E, dessa história
massacrante, eu tirei extraí tudo que serviria para o meu crescimento.
Durante muito tempo eu me fechei para o amor, mas, quando o verdadeiro
amor tem que acontecer, ele atravessa todas as suas barreiras, te sacode e faz
seu coração bater mais forte do que já foi capaz de bater um dia. Te mostra
que o que você conhecia como amor no passado, não é nada comparado ao
verdadeiro sentimento.
E é sobre isso a minha história: a história da garota perdida que foi
devidamente encontrada. Acredite, perder-se também é o caminho!
PS: “THIAGO”, QUE A SUA VIDA SEJA UM ... (EMOJI DE MACAQUINHO COBRINDO
A BOCA)
4 ANOS ATRÁS
— Precisamos nos casar logo, é o que todos esperam, Arthur, só
assim conseguirei ter parte da empresa do papai — Laís diz pela milésima
vez, conseguindo assim, vencer pela insistência.
Eu gosto dela, mas não o suficiente para assumir algo tão grandioso
como um casamento.
Laís é uma mulher linda, apesar de não ter muitas curvas como gosto.
Magra, esguia, cabelos loiros naturais que batem nos ombros e um sorriso
perfeito. No início do namoro eu investi minhas fichas na relação. Ela era
alegre, animada e toda a junção dessas qualidades, somadas à sua beleza
impecável, fez com que eu levasse as coisas adiante. Porém, aos dois anos de
namoro, tudo que ela faz é me pressionar para um casamento.
É o que todos esperam. Todos, exceto minha família.
Eu não os ouço, eu cedo às vontades de Laís, sempre. Não por amá-la
a ponto de ser capaz de fazer tudo que ela queira, apenas pelo comodismo em
que me encontro. É cômodo tê-la. É bom para minha carreira que eu seja
casado, traz um pouco mais de credibilidade aos meus vinte e oito anos de
idade e aos meus seis anos exercendo o cargo de advogado de uma grande
multinacional. E, convenhamos, não é muito sacrifício se casar com uma
mulher linda.
As coisas são como são, enfim.
— Tudo bem. Nos casaremos.
— Você está falando sério? Posso começar a providenciar tudo? —
pergunta, empolgada, e eu apenas aceno a cabeça em concordância.
P.S.: Esse período em que organizou o casamento foi o último em que
eu a vi animada.
3 ANOS DEPOIS
Acordo com uma ressaca absurda e vou direto tomar uma ducha fria
para acordar.
Faço um lanche leve e tomo duas doses de Epocler antes de me dirigir
ao trabalho. Essa semana tem sido desmotivadora, já que meu querido chefe
não tem comparecido. É triste saber que não terei um copo gigante de café do
Starbucks me esperando.
Hoje, Carla e Júlia estão no mesmo barco que eu de ressaca. Nosso
bom dia sai num tom quase indecifrável e eu vou direto entrar de cabeça no
trabalho.
— Bom dia! — A voz de Arthur me faz levantar a cabeça e ficar de
pé. Assim que o vejo, fico boquiaberta real. Ele mudou completamente.
Seus cabelos estão em um corte moderno, alto em cima e um pouco
baixo nas laterais, não sei nem mesmo descrever. Ele tirou a barba por
completo, deixando assim seu maxilar mais evidente, assim como sua
perfeição. Eu estou embasbacada o bastante. Ele está ainda mais lindo do que
o convencional.
Sem saber o que fazer ou como agir, dou um tapa forte no meu rosto,
para me certificar de que é tudo uma miragem.
— Merda, Mariana! — A voz de Júlia me traz de volta à realidade e
eu começo a rir descontroladamente. Carla se aproxima e me coloca sentada
de volta na cadeira.
— Mariana, você está bêbada? — Arthur pergunta e percebo que
acabei de fazer uma cena ridícula na frente do meu chefe. Quando crio
coragem de encará-lo, o encontro debruçado em minha mesa. Ele realmente
está aqui. Puta merda!
— Não, senhor Arthur, desculpe por essa cena.
— Tudo bem. Tem certeza de que está se sentindo bem? — questiona.
— Eu estou.
— Eu trouxe café para você, pode me acompanhar até minha sala?
Apenas se estiver se sentindo realmente bem — pede e eu balanço a cabeça
em concordância.
— Me dê apenas dois minutos e estarei lá — informo. Ele dá um
sorriso antes de sair. Assim que vejo a porta da sua sala se fechar, bato a
cabeça no teclado.
— Mari, o que deu em você? Puta merda! Eu sei que ele está
diferente, mas você poderia ter sido menos óbvia, você se deu um tapa na
cara! — Júlia diz.
— Estou alcoolizada ainda, pensei que estava tendo uma visão, já que
fui informada que ele só voltaria segunda-feira — falo e respiro fundo
algumas vezes, antes de pegar a agenda e alguns papéis que precisam da
assinatura dele. Após conferir meu rosto vermelho no espelho, faço a
caminhada da vergonha até a sala do desperdício.
Antes que eu possa bater na porta, ele a abre, me dando passagem. Eu
quase me esfrego em seu corpo no processo, e isso me deixa quente como o
inferno. O que deu em mim? Santa misericórdia! Acomodo-me na cadeira em
frente à mesa e logo ele está diante de mim. Puta merda, como olhar para essa
nova versão de Arthur Albuquerque?!
— Tome seu café — diz, colocando-o diante de mim, e eu bebo
rapidamente sob seu olhar... curioso?! Por que merda ele está me olhando
dessa maneira? Isso é tão desconcertante e invasivo.
E sexy.
— Senhor Arthur, tem alguns documentos que preciso que assine. Há
alguns processos trabalhistas que precisam ser analisados. — Tento focar no
trabalho, e ele sorri, percebendo que estou completamente desconfortável.
— Mariana, eu me separei de Laís. Há um advogado vindo hoje à
tarde acompanhado dela. É um assunto pessoal, mas, como minha assistente,
eu peço que você os receba e peço também sua discrição. A partir de segunda
retomo as atividades e assino tudo que for necessário — ele diz e eu quero
gritar. Primeiro por ele estar solteiro, segundo por estar livre daquela cadela.
De um minuto para o outro não existe mais ressaca ou álcool no meu
sangue. Agora estou tomada pela incredulidade completa. Preciso ser atriz e
dar meus mais sinceros sentimentos a ele em nome da moral e dos bons
costumes.
— Senhor Arthur, eu sinto muito, deve estar sendo um momento
muito difícil. Conte com minha discrição e meu apoio.
— Não, você não sente muito — afirma. Que inferno está
acontecendo?!
— Eu sinto. É claro que me compadeço da sua atual situação. Sinto
muito, mesmo. — Faço minha cara angelical e ele arqueia as sobrancelhas,
segurando um sorriso.
— Mariana — repreende e eu solto uma lufada de ar. Ele quer a
verdade? A verdade ele terá!
— Eu não sinto. Desculpe-me os termos, mas ela é uma cadela com
todos. Em um ano, hoje é a primeira vez que vejo algum brilho em seus
olhos. Eles não são mais azuis nebulosos, e sim azuis reluzentes. Ela parece
frígida, do tipo que só transa uma vez a cada dois meses. Pronto, falei, me
demita! — digo, porque ele pediu e eu não sou obrigada a mentir. Não sou
obrigada a nada! Foda-se! Gostoso pra caralho! Pausudo da porra! Lamberia
até as axilas!
— Autenticidade. Aí está a assistente que eu escolhi a dedo. — Ele ri
e eu quase gozo.
Em minha mente já começo a maquinar uma balada em
comemoração, já que hoje é sexta-feira, dia do crime. A separação dele é a
mesma coisa que uma carta de alforria.
— Há algo mais que precise? — pergunto.
— Por enquanto, não. Apenas por enquanto — responde e eu o
encaro, tentando entender. Depois de alguns segundos, desisto e salto da
cadeira, fugindo o mais rápido que consigo. Obviamente não consigo manter
o segredo de Júlia e Carla, que ficam tão chocadas quanto eu.
Hoje, é um novo dia, de um novo tempo que começou... Nesses novos
dias, as alegrias, não serão de todos, porque Laís vai se foder!
Cantarolando minha música ultra power moderna, volto ao trabalho,
ansiosa para ver Laís chegando com o rabo entre as pernas.
Hoje a festa é minha!
São 16h quando Laís chega, elegante, acompanhada de um advogado.
É impossível não reparar no seu look divórcio. Ela está usando uma saia
secretária rosa bebê, que vai um pouco abaixo do seu joelho, e um blazer da
mesma cor. Há um vislumbre de uma camisa preta por baixo e isso faz
combinar bastante com o scarpin preto que está em seus pés. Seu rosto está
praticamente coberto pelos óculos gigantes, onde se pode ler Gucci na lateral,
e em seu braço descansa uma bolsa Louis Vuitton preta. Puta de grife!
Ela passa como um furacão, sem ao menos anunciar sua chegada,
porém, entretanto, todavia, contudo, sou mais rápida e entro na sua frente.
— Posso lhe ser útil? — pergunto com meu sorriso Colgate, a marca
número um em recomendação dos dentistas.
— Eu estou indo falar com Arthur, licença?
— Vou anunciá-la — digo e caminho até a sala do meu poderoso
chefinho. — Senhor Arthur, Laís...
— Saia! Não há necessidade de você fazer isso todas as vezes que
venho aqui, é a sala do meu marido — ela diz, alterada, e eu mordo meu
dedo, buscando controle, me segurando para gritar que ele agora é seu EX-
MARIDO. Preciso manter a classe ao menos diante do meu chefe.
— Bom, senhor Arthur, vim apenas cumprir parte da função a qual fui
designada — digo antes de sair... Porém, fico atrás da porta, porque já que fui
humilhada, não sou obrigada a perder a fofoca.
Logo estamos eu, Júlia e Carla com os ouvidos atentos, grudados à
porta.
Não conseguimos escutar praticamente nada, apenas o choro
constante de Laís, e isso já basta para fortalecer ainda mais meus planos de
comemoração. Essa vadia merece sofrer. Quando o choro se torna frenético o
bastante, eu recolho minha insignificância e decido voltar ao trabalho, que na
verdade é nenhum, já que fiz tudo que deveria ser feito. Então entro no
Google e começo a brincar de adivinhar tamanhos de pênis. Busco alguns
famosos e logo em seguida abro outra aba, onde busco seus nudes. Primeiro
analiso as fotos com roupas e decido se é P, M, G ou EX, em seguida vou
para a foto dele nu e vejo se acertei ou não. Depois de meia hora nessa
brincadeira, vejo que errei apenas dois e descubro uma nova teoria para levar
para a vida. Há apenas alguns homens que você não dá nada quando estão
vestidos e podem te surpreender por uma piroca gigante quando estão nus e
duros. Ou seja, isso só confirma a tese de que “as aparências enganam”.
Quando a porta se abre, fecho rapidamente as páginas do Google e me
coloco de pé. Laís sai arrasada, amparada por seu advogado, e quando ela me
olha, dou um sorriso incrível, agora no estilo Oral B 3D White, seus dentes
visivelmente mais brancos em três dias.
— Desclassificada! — ela rosna.
— Vadia, mal-amada, solteirona! — rosno de volta e o advogado a
retira da empresa antes que um caos se instale.
— Mari! Pelo amor de Deus! — Júlia diz, chocada, e eu morro de rir.
Ah, me poupe dessa merda! Esse diabo sempre veio aqui se achando a dona
da porra toda. Desde que ela não é mais esposa do meu chefe tesudo, não sou
obrigada a nutrir nenhum tipo de respeito por ela.
— Não sei vocês, mas hoje estou indo comemorar!
— Comemorar o quê, sua doida? — Carla pergunta, virando-se em
sua cadeira de rodinhas.
— Comemorar o divórcio de Arthur, o que mais teria para
comemorar? Eu comemoraria por qualquer homem que tivesse livre dessa
mulher. Como Arthur é nosso chefe, nada mais justo do que estar feliz pela
sua carta de alforria — informo, batendo palmas e dando uma sambadinha até
minha mesa.
Pego meu celular e combino com Duda uma ida ao Caribbean essa
noite. Depois tento convencer Carla e Júlia, porém, só Júlia aceita, já que
Carla é comprometida.
Às 17h30, arrumo minhas coisas e vou até a sala de Arthur me
despedir. O encontro de pé, com as mãos no bolso, observando a cidade
através da enorme parede de vidro.
— Senhor Arthur?
— Oi, Mariana. Pode falar — diz, virando-se para mim.
— Está tudo bem? Eu estou indo, mas... Precisa conversar? —
pergunto.
— Sabe, tudo que você disse sobre Laís é verdade, exceto uma coisa
— diz e eu arqueio uma sobrancelha, esperando-o completar. — Você disse
que ela parece o tipo frígida, que faz sexo de dois em dois meses. Você errou
nessa, Mariana.
— Eu errei? Desculpe-me...
— Ela é frígida, muito mais do que você possa imaginar. Eu não faço
sexo há exatos dez meses — diz, deixando-me boquiaberta. Como assim,
população do meu Brasil?! Dez meses sem foder com um homem desses?!
Puta que pariu, eu chuparia até o nariz dele!
— Você... Como? O que você fazia? Eu não sei se quero saber, me
desculpe por estar sendo invasiva. Meu Deus, dez meses sem sexo!
— Não é o momento, mas em breve eu contarei a você o que fiz
durante os últimos dez meses — diz de uma maneira enigmática, que faz cada
pelo do meu corpo se arrepiar. Caminha até a porta, segurando-a para que eu
possa sair e diz: — Divirta-se, Mari, bom final de semana.
Não há mais nada que eu possa falar ou responder, apenas o encaro
alguns segundos e movo meus pés rapidamente para fora dali, mais uma vez
quase me esfregando em seu corpo, já que ele decidiu deixar pouco espaço
para mim no dia de hoje.
— Misericórdia! — falo alto.
— Disse algo, Mari?
— Disse apenas... nada. Tenha uma boa noite, senhor Arthur.
Dessa vez dirijo para casa sem música. Já basta todo barulho que
minha mente está fazendo. Eu estou chocada pela forma como Arthur contou
algo tão íntimo a mim. Nós nunca entramos em méritos sexuais e, de repente,
eu descubro que faz dez meses que ele não fode e ainda deixa no ar que fez
algo durante todos esses meses. A forma como ele falou... Puta merda! Ele
está fora dos limites.
Não existe mais a desculpa de casamento, mas eu me agarro
fortemente na desculpa dele ser meu chefe. Essa maldita atração que ele faz
as mulheres nutrirem por ele... Esse homem solteiro é uma bomba-relógio
que a qualquer momento vai explodir. Eu não quero fazer parte disso. Eu
quero apenas beber e transar com Lucas, Dudu ou Pedro, ou qualquer outro.
Arthur não!
Em casa, abro um vinho e bato com leite condensado, transformando-
o num maravilhoso pau na coxa! Coloco um funk estrondoso para foder com
a minha mente e tomo um banho demorado.
Demoro mais que o normal para escolher uma roupa, e acabo
escolhendo um vestidinho sexy e ao mesmo tempo solto e confortável.
Coloco uma cueca feminina por baixo, pois não sou obrigada a mostrar
minha bunda caso eu perca o controle sobre minha pessoa.
Capricho na maquiagem dos olhos. Passo um delineador forte, esfumo
uma sombra e coloco um batom vermelho.
Como estou virada no samurai essa noite e temo pela minha
sobrevivência, chamo um táxi.
Pego um copo de plástico e coloco um pouco de pau na coxa, em
seguida pego minha bolsinha, atravessando-a em meu ombro, e desço para
aguardar na portaria.
Fico alguns bons minutos conversando com Chico, o porteiro, até o
táxi buzinar e eu sair saltitante para o crime.
Ela confirmou. Ela apenas confirmou quando podia jogar toda a culpa
na bebida, como muitas pessoas costumam fazer.
Surpreendente.
Ela está olhando para todas as coisas, menos para mim.
Compreensível. Até ontem tínhamos uma relação estritamente profissional e
agora estamos aqui, sentados na sala, discutindo sobre a madrugada e sobre
as revelações inusitadas e fetichistas.
— Mari, olhe para mim — peço e a vejo suspirar. Demora alguns
segundos antes que eu tenha sua atenção. Seu rosto está tomado por um
rubor. É engraçado e fofo vê-la dessa maneira. Meu coração parece que vai
explodir no peito a qualquer momento. — Está tudo bem. É normal.
— É normal? Acabei de assumir que realmente penso tudo que falei
quando estava bêbada e você acha que é normal? Eu quero enterrar minha
cabeça no chão, Arthur.
— Ajudaria se eu assumisse que desde a entrevista de emprego
imagino-a curvada sobre minha mesa, dando-me uma magnífica visão dessa
bunda maravilhosa que possui? Você se sentiria melhor se eu dissesse que é
recíproco e que talvez eu possua mais pensamentos impróprios que você? A
questão aqui é que está claro que ambos temos interesses um pelo o outro,
porém, até o início da semana, eu nada poderia fazer. Fidelidade é algo
importante para mim e, por mais que eu nunca tenha amado Laís e que o
casamento tenha sido uma furada, eu sempre fui fiel. Agora eu estou livre,
agora eu posso fazer algo sobre o que sinto por você — digo, a analisando.
— O que você sente por mim? — ela pergunta, completamente
tomada pela tensão. Isso não deveria ser assim, há algo errado.
— Você está infiltrada na minha mente há um ano. Eu a admiro de
todas as maneiras possíveis. Eu sinto uma atração descontrolada por você,
Mari. Fantasio mil e uma possibilidades, eu me toco pensando em você...
— Oh, meu Deus, Arthur, você acabou de dizer que toca punheta
pensando em mim! — Ela surta, se levantando, e eu sorrio. Não estou aqui
para jogar limpo, estou tornando as coisas difíceis. Me levanto e a vejo
respirar com dificuldade, mirando seu olhar para minha virilha. Ok, essa
mulher é mais complexa do que eu podia imaginar. Em um minuto está
ruborizada e com vergonha, no outro está olhando meu pau fixamente.
— Você nunca se tocou pensando em mim? Você se toca, Mari?
Conte-me.
— Arthur, isso está errado. Completamente. Nós estamos lidando
com a autenticidade, mas há informações demais, demais mesmo. Você tem
uma tatuagem? Sua barriga é do estilo rasgada e cheia de gomos? — Rio.
Novamente ela e a bendita tatuagem.
— Você vai descobrir por si mesma em breve. Agora não fuja da
pergunta. Eu sei que você manja meu pau, eu sei que me acha gostoso, que
me daria sua traseira e que quer fazer sexo comigo sobre a mesa. Assumir
que se toca não vai tornar as coisas piores aqui — digo e ela rodeia o balcão,
se colocando do outro lado. O que ela acha que eu vou fazer?
— Isso é um jogo erótico? Eu sei brincar disso — ela diz de repente e
dá um sorriso. — Eu me toco, Arthur, mas vou te dar algo além disso. Eu já
transei com homens imaginando você e eu tive um orgasmo delicioso
gritando seu nome — fala e eu quase esmago a banqueta com as mãos. —
Era isso que você queria ouvir? Agora eu preciso acrescentar algumas coisas.
— Se for sobre os homens com quem fez sexo, dispenso.
— Não, é sobre mim mesma. Eu vou falar e peço que você saia em
seguida, não sou mais capaz de lidar com você hoje. Amanhã é outro dia, nos
encontraremos de manhã, vamos ao shopping comprar tudo que precisa e não
vamos mais tocar nesse assunto. Está bem? — diz.
— Diga.
— Primeiro preciso perguntar uma coisa. O que você espera de mim?
O que você quer de mim? — pergunta, bastante decidida.
— Eu quero você, por completo. Eu a terei. Se for falar o contrário,
saiba que consigo o que eu quero. Eu quero você para um relacionamento
sério, não vai existir outro homem em sua vida a partir do momento que eu a
pegar, farei com que você não queira nenhum outro. Ainda tem o agravante
de você ter me chamado de “viado” três vezes ou mais, e isso só aumenta a
vontade de provar o contrário — explico e ela bebe um copo de água,
desesperada.
— Aí entra uma questão. O comum é um homem usar essas palavras
para dispensar as mulheres... Antes que pense, não estou te dispensando,
estou apenas sendo realista. Eu não sou mulher para você. Eu sou solteira
assumida, prezo esse status. Tenho trauma de relacionamentos. Eu gosto de
dançar funk em paredões de som e beber, curto apenas sexo casual. Embora
você seja o homem por quem eu cultivo um desejo sexual desesperador há
um ano, isso se resume a sexo. Eu sinto vontade de transar com você, Arthur,
mas nada além disso. Eu não me imagino namorando. Todos os homens com
quem fiz sexo e tentaram um relacionamento, deixaram de existir para mim.
Sexo casual é o meu limite — diz de maneira firme, querendo mostrar sua
postura dura e decidida. Ela está tão longe de conseguir me intimidar.
Eu preciso provar um ponto. Caminho até ela, a viro, sentando-a no
balcão, e me acomodando entre suas pernas. Eu seguro firme sua cintura e a
faço me encarar bem próxima.
— Você não parece possuir limites, não é uma mulher limitada. Eu
adoraria transar com você, Mari. Eu gostaria de provar que todos os
orgasmos que você teve pensando em mim não chegam nem perto do que eu
posso fazê-la sentir. Eu gostaria de beijar essa sua boca esperta agora tão
duramente que poderia machucá-la. Você tem trauma de relacionamentos
porque seu namorado era a porra de um moleque, ele passou longe de ser um
homem. Os caras com quem você praticou sexo casual só deixaram de existir
porque não foram homens o bastante para foderem a merda fora da sua
mente. Há bons anos de diferença entre nós, você está lidando com um
homem, aqui não é um garotinho que vai ficar excitado ou intimidado
ouvindo você ditar as regras da situação. Aqui é um homem calejado da vida
e que quer você. O principal nós dois já temos, a atração e a química. Eu não
vou fazer sexo com você, não vou beijá-la, não vou tocá-la até que eu consiga
fazê-la implorar por todas essas coisas, até que eu consiga perceber que você
se tornou minha, porque é isso que está indo acontecer. Nada casual entre nós
dois vai acontecer. Você vai se tornar minha antes mesmo que possa perceber
e sem chances de controlar a si mesma — digo e a vejo engolir em seco. —
Estarei passando aqui amanhã, às 11h, para pegá-la. Esteja pronta. E já ia me
esquecendo de dizer, aproveite suas últimas semanas de solteira. Eu estou
vindo para fazê-la minha — digo e deixo-a sozinha. Já dei conteúdo o
bastante para entretê-la pelo resto do dia e da noite. Eu espero que ela
pondere friamente minhas palavras, pois elas foram as mais sinceras
possíveis.
Meu cu!
Não há uma maneira na vida que eu possa conseguir permanecer
trabalhando com Arthur. Eu estou indo ficar desempregada, não há outro
caminho.
O mal de brincar com a vida é quando ela resolve entrar na
brincadeira... É realmente uma merda quando ela decide revidar. Uma coisa é
certa: de ontem para hoje já perdi todas as pregas do meu cu, de tanto que
tomei nele! Não é justo! Não existe um meio-termo nessa vida ingrata. Ou eu
estou bem ou estou completamente fodida.
Como não ficar tentando imaginar o tamanho do membro de ouro que
Arthur possui? Como não imaginar ele se tocando e pensando em mim? Eu
estou atropelada pelos acontecimentos e minha mente não sabe para que lado
atirar. Ao mesmo tempo em que penso em seu pênis, penso nas demais coisas
que ele disse. Na verdade, nesse momento, o sexo está em alta, eu preciso
assumir ou estaria enganando a mim mesma. Eu nunca ouvi palavras tão
quentes em toda minha existência, e olhe que já ouvi muita coisa, do tipo
“rebola na minha pica, esfrega essa boceta”. Isso tudo é fichinha perto da
intensidade com que Arthur falou comigo, e ele foi um cavalheiro na escolha
de palavras, nenhuma delas remete às putarias em que minha mente está
acostumada. Eu gozaria apenas se ele continuasse falando e me olhando
daquela maneira desconcertante.
Ele disse que eu irei implorar por ele, meu ânus que vou! Até posso
tentar dar uma seduzida, só para provar que consigo sexo e todas as coisas,
mas implorar jamais. O que ele tem contra fodas casuais? Seria tão simples.
Eu assumi tudo que disse e então ele poderia arrancar minha roupa ainda na
sala e me foder no sofá. Aí eu ficaria um pouco receosa por ele ser meu
chefe, mas no dia seguinte já estaria de boa, com a cara de pau que Deus me
presenteou. Mas aí, como nem tudo pode ser perfeito, o diabo vem agir na
minha vida e Arthur me lança uma granada, dizendo que me quer por
completo. Completo para mim seria querer sexo oral, anal e vaginal... Mas,
para ele, completo significa um relacionamento sério. Que inferno! Eu
morrerei sem brincar naquele tronco que ele tem entre as pernas! Isso é uma
tristeza. A gente deseja o cara por um ano maldito, aí o cara fica solteiro e
você pensa “vou dar para ele”, e tudo que ele te oferece é um relacionamento.
Eu esperava mais de Arthur. Estou decepcionada!
Estou na minha segunda garrafa de vinho e no segundo prato de
lasanha congelada Perdigão, assistindo um filme de homens gostosos, para
tentar achar qualquer solução para essa vida infeliz. Não a encontro. Por fim,
ligo para Lucas e pergunto se ele está a fim de fazer as pazes. Quando ele
responde que sim, apenas o mando tomar no cu e desligo o telefone. Não sou
obrigada a lidar com homens frouxos.
— Você está escondendo algo, Mari! — diz. Carla chega dando bom
dia, já se acomodando em sua mesa.
— Ser casada é uma merda às vezes! — ela fala, bufando.
— Mas você nem é casada, só namora — digo, rindo.
— Dá no mesmo. É uma merda! No início tudo é maravilhoso, mas
chega uma hora que a coisa desanda, estou farta! — fala.
— Só existe uma coisa pior que ser solteira, ser casada! — brinco.
— Você realmente pensa isso? — A voz de Arthur invade o ambiente
e meu cu quase suga todo meu corpo para dentro.
— Até que me provem o contrário, sim, eu penso isso — respondo.
— Vamos estipular um prazo e eu farei isso... — ele me desafia e só
depois se dá conta de que estamos discutindo isso sob o olhar curioso de
Carla e Júlia. — Bom dia, meninas. Mariana, minha sala. Preciso agendar
algumas reuniões, estipular alguns prazos. — Disfarça sem um pingo de veia
artística. Decepcionante. Nem o coelhinho da Páscoa vai acreditar nessa
merda.
Ele entra em sua sala e eu me viro para encarar as duas.
— O que foi isso?
— Não sei, talvez ele esteja sentindo falta do casamento — minto. —
Ter escutado sobre o quão fodido é ser casado pode ter surtido algum efeito
indesejado dentro daquele coração. Pobrezinho, deve estar chorando dia e
noite. Laís era uma cadela, mas uma cadela bonitona, né?! Estilo Lulu da
Pomerânia.
— Verdade. Você deveria controlar a língua, Mari — Carla diz, rindo.
— Eu acredito que sim — respondo e pego a agenda, caminhando
para a sala dele em seguida.
Arthur está sentado em sua cadeira, brincando com uma caneta em
suas mãos. Me acomodo de frente para ele e aguardo o que quer que ele
queira, o encarando fixamente. Nós ficamos nessa troca de olhares por um
tempo, no mais completo silêncio. Em alguns momentos, observo seus olhos
descerem até minha boca e logo subirem novamente até os meus olhos. Eu
me mantenho firme, perdida em suas íris perfeitas e lutando contra a vontade
de agarrá-lo.
— Eu tenho um mês para transformar o conceito de relacionamento
em algo fantástico em sua mente e sua vida — diz.
— Você está desafiando a si mesmo? — pergunto em tom de
provocação.
— A mim e a você. Eu estou a desafiando a aceitar que é minha e que
teremos um relacionamento.
— E eu estou tentando arduamente descobrir o tipo de sentimento que
está crescendo rapidamente dentro de mim. Eu preciso descobrir se é
realmente o desejo de me relacionar a fundo com você ou se é apenas
vontade de dar a pepeca incansavelmente para o seu pau. Arthur, eu nutro
uma atração física muito forte por você desde o primeiro dia em que o vi. Eu
preciso entender o que está passando aqui dentro de mim antes de tomar
qualquer atitude. Isso é muito mais por você do que por mim, eu não me
perdoaria se o machucasse — digo com toda a sinceridade que habita em meu
ser e o vejo sorrir com um brilho diferente nos olhos.
— Cada palavra que sai dessa boca me deixa ainda mais louco por
você, Mari. Até mesmo as merdas que você fala, tentando descobrir mais
sobre meu pau. Eu estou esperando por você, apenas não demore muito.
Quanto menos demorar, mais cedo poderemos começar a brincar, Mariana —
diz, centrado e enfático.
— Brincar?
— Há muitas brincadeiras que eu quero fazer com você — ele fala, se
levantando e dando a volta, até estar ao meu lado. Minha bunda parece colada
na cadeira, eu apenas giro um pouco para que possa contemplar o homem
mais magnífico que eu já vi. Lindo! Absurdamente lindo!
Minha cabeça está na direção da sua virilha e isso torna impossível
que eu não olhe. Mordo meu lábio tão forte, que sinto o gosto ferroso de
sangue. Subo lentamente até seu rosto e o pego fazendo o mesmo que eu. É
uma tensão sexual absurda que rola entre nós dois. Poderíamos facilmente
colocar fogo num prédio apenas com essa troca de olhar.
Sua mão me puxa gentilmente pelo braço e eu sou obrigada a ficar de
pé, de frente para ele, quando eu nem mesmo sou capaz de sentir estabilidade
nas pernas. Eu sei o que vai acontecer e já estou sofrendo por antecipação
quando ele me pega pela cintura e cola nossos lábios para mais um beijo
destruidor. Acontece que, dessa vez, ele não é explosivo, é tão doce quanto é
possível. Isso toca um ponto dentro de mim que eu não estava esperando. Eu
sinto as lágrimas descendo de meus olhos antes mesmo que eu possa contê-
las. Sinto uma dor tão profunda no peito, que me falta o ar. Isso é surreal.
Que efeito arrebatador esse homem tem sobre mim! A cada palavra ou gesto,
sinto meu coração bater mais forte, como se fosse explodir.
— Mari, o que está acontecendo, princesa? Por que está chorando? —
pergunta com a maior de todas as delicadezas. Não colabora que ele seja tão
perfeitamente perfeito, apenas ajuda a doer mais. É um punhal sendo cravado
em meu coração a cada segundo. Esse belo homem diante de mim não
merece uma mulher louca e distorcida como eu.
— Eu... Deixe-me tirar o dia de folga? Por favor. Eu não sou capaz...
Eu preciso entender... Eu apenas nunca... Eu nunca senti nada assim — digo
tão desesperadamente, que ele parece assustado. Nunca me senti tão
vulnerável.
— Eu estou lhe causando algum mal? — pergunta, preocupado.
— Não. Eu preciso ir. Por favor. Desconte meu dia...
— Vá, apenas não fique incomunicável. Você está apta a dirigir?
— Eu estou. Eu... Deus! Arthur... — Estou quebrando novamente.
Saio da sala dele e pego minha bolsa mais que rápido. Não ouço nada
e nem ninguém enquanto deixo a empresa.
Chego à minha casa e me jogo na cama. Choro tudo o que tenho
direito e um pouco mais. Eu sou a única que está dificultando as coisas, tudo
por culpa do medo de me entregar e sofrer uma desilusão. Eu me sinto em
meio a um desespero completo.
Eu o quero tão forte quanto o medo que sinto de querer.
Quando, enfim, consigo algum controle sobre mim mesma, pego o
telefone e ligo para minha mãe. Eu sinto falta dela, muita.
— Oi, projeto de filha — ela diz.
— Mãe. Eu estou com saudades!
— Eu também estou, filha. Seu pai está mais ainda. Eu deveria ser
menos liberal e ter a obrigado a vir conosco. Como é bom ser vida louca! —
ela diz e eu rio, enquanto choro. — Você está chorando. O que aconteceu?
— Eu me sinto confusa e sozinha. Eu queria vocês.
— Deixe-me adivinhar, há alguém por trás dessa confusão? —
pergunta.
— Sim. Há alguém que merece alguém muito superior a mim, mãe.
— Ah, meu ovo, Mariana! Começou com essa crise de inferioridade.
Eu deveria ter atolado um tronco de árvore no cu daquele bastardo do seu ex-
namorado. Foi ele quem colocou essas merdas na sua cabeça! Apenas pare
com isso ou te internarei em uma clínica.
— Obrigada pelas palavras de consolo, mamãe.
— Filha, eu preciso desligar. Prepare-se, pois aparecerei aí a qualquer
momento. Comporte-se, Mari, e pare com essas baboseiras. Permita-se viver,
filha. Eu amo você — ela diz e desliga.
Filha da puta!, xingo mentalmente antes de tomar qualquer atitude.
Assim que retiro minha roupa para tomar um banho, o porteiro
interfona, dizendo que chegou uma encomenda para mim. Autorizo o
entregador a subir.
Coloco um roupão e fico aguardando na porta. Surge um enorme
buquê de rosas rosa e por trás dele um entregador com uma caixa nas mãos.
Meu sorriso rasga meu rosto e eu estendo as mãos para recebê-las, porém, o
entregador passa reto e bate no apartamento do outro lado do corredor.
A vizinha atende e ele entrega as flores para ela. Eu posso ver seu
rosto de contentamento. A entendo. Receber flores é sempre fantástico. Sinto-
me mortificada pela vergonha e pela inveja também, porque eu não sou
perfeita. Entro rápido, mas o entregador me impede de fechar a porta, me
entregando uma caixa. Ao menos a caixa é para mim.
— Obrigada — o agradeço e o vejo sumir pelo elevador.
A maldita caixa tem como conteúdo apenas algumas maquiagens que
comprei pela internet. Isso me faz chorar de novo. Eu queria flores do Arthur.
Sou tão bipolar!
Entro no banho chorando, como na cena em que Camila raspa a
cabeça na novela Laços de Família, ao som de Celine Dion (prefiro a versão
da Celine).
Estou tão complexa e contraditória, que saio do banho e visto uma
roupa de academia, decidida a ir correr na lagoa da Pampulha e almoçar por
lá mesmo. Talvez um pouco de ar puro resolva a bagunça mental.
Mari desligou na minha cara. Ela quer que eu concorde com sua fuga.
Não posso chamar de férias algo que ela está usando para fugir do que sente.
Nós, certamente, iremos conversar sobre isso. Eu entendo que ela precisa de
um tempo, embora eu ache um desperdício, mas daí ir viajar por longos dias
é outra história.
Uma batida na porta, Júlia surge.
— Senhor Arthur, Laís está aqui, querendo falar com o senhor — ela
diz, e Laís, mais uma vez, quase a derruba, entrando pela porta como um
furacão.
— Pode ir! — ela fala para Júlia, que sai.
Eu não me levanto. Apenas fico acomodado em minha cadeira,
observando sua audácia e completa falta de educação, além da falta de senso.
— Oi — ela diz, melosa, se sentando na cadeira diante de mim.
— Você nunca vai aprender que aqui não é minha empresa e eu sou
um funcionário, assim como as secretárias? Eu não sou dono daqui, você não
tem o direito de sair entrando dessa maneira, como se fosse esposa do dono.
— Eu peço desculpas a você e pedirei a elas. Aliás, está faltando uma
— diz, e eu sou um otário que acredita em Papai Noel.
— Sim, está, mas isso não é da sua maldita conta, não é mesmo? O
que a traz aqui? — pergunto.
— Eu estou sentindo sua falta. Esses dias afastados...
— Não. Nós estamos afastados há bastante tempo, e não há poucos
dias, desde a separação — informo, pois ela parece não saber.
— Esses dias afastados estão sendo os piores da minha vida. Eu sinto
falta de você em casa, Arthur. Nós podemos tentar um filho, ou qualquer
coisa que você queira. Eu sei que assinei a autorização para o divórcio dar
continuidade, mas somos capazes de reverter isso, não somos? Vamos
cancelar o divórcio e retomar o casamento.
— Não mais — afirmo.
— O quê? Você já está com outra pessoa, é isso? — pergunta,
austera.
— Laís, eu não quero ferir você. É melhor terminarmos essa
conversa. Não há mais como reverter nada, porque eu não estou disposto a
isso. O máximo que você vai conseguir de mim é o respeito, isso se parar de
insistir numa reconciliação. Eu gostaria de manter a educação e a
cordialidade com você, Laís, não torne isso impossível.
— Arthur, foram quatro anos de casamento. Não podemos jogar isso
fora. Podemos começar de novo e construir nossa família.
— Laís, você odeia crianças. Quando ousei sugerir um filho, você
quase me esfaqueou, isso não vai ser possível. Como eu disse, não mais.
— Mas você me amava... — insiste.
— Eu nunca a amei. Eu gostava de você, apenas isso. Eu gostava
quando você era alegre, interessada, disposta, atrativa... Isso acabou quando
nos casamos. Eu me casei achando que poderíamos dar certo, mas foi um
erro, você mesma sabe disso. Com um ano já estávamos vivendo um
relacionamento falido, os últimos três só duraram por conta da minha boa
vontade, você não fez nada para ajudar. Eu tentei, eu conversei, eu lutei.
Você não. Agora já foi. Eu estou bem, eu estou feliz.
— Há outra! Desde quando? Você começou uma relação enquanto
ainda estávamos casados? — pergunta quase em tom de afirmação.
— Eu não comecei nada enquanto estava casado, eu deveria, mas não
fiz. Você conhece o mínimo de mim para saber que fidelidade está no topo do
que eu julgo mais importante num relacionamento. Eu não a traí.
— Mas há outra? — insiste.
— Laís, por favor!
— Vamos tentar, eu voltarei a ser a Laís de quando namorávamos, eu
estou jurando, Arthur — ela diz, dando a volta e se sentando em minha mesa.
Isso é uma tentativa de sedução? Ela está fracassando.
Eu agora tenho um novo conceito sobre tentativas de sedução. Eles
envolvem frases do tipo: “foda-me tão duro quanto puder”, “eu tenho meus
dedos enfiados bem fundos”, “eu gostaria de tê-lo dentro de mim num grau”
e “você já comeu um cu?”... Isso é tudo que seduz agora, é tudo que me deixa
duro e desesperado. Eu amo a Mariana de todas as formas. Não restam mais
dúvidas sobre isso. Ela é uma diabinha louca que me ganhou por completo
desde a primeira vez que a vi.
— Arthur? Eu estou falando com você. Por que está rindo?
— Desculpe, eu não estava prestando atenção — respondo,
lembrando-me da teoria de Mariana. — Você sabia que 70% de um
relacionamento deve ser baseado em sexo?
— De onde tirou esse absurdo? — ela pergunta. — Sexo não é nem
10% de um relacionamento, Arthur.
— Você está errada. É 70% de um relacionamento — informo e me
levanto. — Bom, eu preciso trabalhar, Laís. Eu peço, por gentileza, que saia.
Não há mais nada a ser tratado, apenas assuntos que digam respeito ao
divórcio.
— Eu vou solicitar o cancelamento da entrada do divórcio e nós
vamos brigar no litigioso, Arthur. Eu não quero me separar! — ameaça e eu
sorrio.
— Faça como quiser. Você é a única que sairá perdendo. Enquanto
você estiver nessa briga, perdendo tempo em algo que não tem mais chance
de acontecer, eu estarei vivendo minha vida e sendo feliz. Litígio não é uma
dor de cabeça para mim. Já renunciei a praticamente todos os meus bens.
Litígio vai servir apenas para você ouvir na frente de um juiz e de uma plateia
que eu não voltarei atrás na minha decisão — aviso e caminho até a porta,
abrindo-a para que ela possa se retirar.
— Eu te amo, Arthur.
— Eu não correspondo a esse sentimento, Laís. Não é recíproco —
aviso e ela sai com relutância, chorando.
Dirigir para a empresa após a Mariana jogar aquilo sobre mim está
sendo uma difícil missão. Já perdi as contas de quantas vezes soquei o
volante nesse período. Eu tentei burlar o sistema para ir buscá-la pelos
cabelos, mas fui impedido pelos seguranças. Eu tentei comprar uma maldita
passagem, só para poder entrar naquele avião e retirá-la de lá, mas não havia
mais passagens disponíveis e eu me fodi.
Passo o dia com um leve mau humor, não o bastante para descontar
em ninguém, mas, ainda assim, isso está me corroendo por dentro. A maldita
deve estar queimando aquela bunda maravilhosa, enquanto me sinto fodido.
Chegando em minha casa, quase vou bater na porta dela, mas aí me
lembro de que ela não está e caminho para meu apartamento, sentindo-me
sozinho pra caralho.
Minha rotina é a mesma durante os próximos dias. Só muda o fato de
que vou para a academia malhar dobrado, para descontar minhas frustrações
nos pesos. Eu malhava uma hora, agora malho duas, às vezes três horas por
dia. Eu não vou suportar quinze dias sem a diaba mais linda que eu conheci
na vida.
Não resistindo mais, pego meu telefone e ligo para ela. Preciso ao
menos ouvir sua voz para voltar a ter sanidade mental.
— Sua ligação foi direcionada para a caixa postal...
— É pra rir, Mariana? Eu não achei graça nenhuma! — digo e ela ri,
fazendo meu coração disparar.
— Parece que alguém está de mau humor! — fala.
— Parece que alguém está felizinha demais — rebato.
— Eu estou bem, Arthur, de verdade. Estou há quatro dias aqui, em
uma praia privativa, completamente vazia. Minha rotina é acordar, comer e
ir para a praia, comer de novo, tomar banho e dormir. Não fiz nada além
disso. Tem sido como se eu estivesse me reconectando comigo mesma —
explica e eu tento imaginá-la fazendo todas essas coisas.
— Isso é bom de verdade, Mari, mas eu sinto sua falta — digo.
— Faltam onze dias — avisa como se faltassem onze horas. Inferno!
Eu não quero parecer um maluco!
— Ao menos você conseguiu entender as respostas que foi buscar? —
pergunto.
— Eu estou conseguindo. Estou no caminho. E tenho sentido sua
falta. Inclusive, tenho me masturbado todas as noites gritando seu nome —
diz baixinho, e meu pau se contorce na bermuda.
— Mari, não me teste.
— Você não tem feito? — pergunta e eu tenho certeza de que ela está
sorrindo.
— Não, eu estou guardando todo estoque para quando colocar minhas
mãos em você. — Ela solta um gemido no telefone que me deixa puto. Eu
sinto uma vontade de bater naquela bunda. Ela está me torturando com essa
merda de viagem.
— O que vai fazer esse final de semana? — indaga.
— Eu vou para a chácara dos meus pais. Minha vizinha gostosa não
vai estar em casa, então não há nada que me interesse aqui — explico e ela ri.
— Onze dias, Arthur.
— É muito — afirmo e ela suspira no telefone. Lide com isso,
Mariana, você está me fodendo!
— Eu preciso desligar. O jantar tem horário. Nos falamos em breve.
Se cuide. Estou com saudades, de verdade. Cheque seu e-mail mais tarde —
avisa e desliga o telefone.
Antes de dormir checo o bendito e-mail e encontro algo que faz meu
coração vibrar. Uma foto dela ao lado de um coração desenhado na areia. Eu
fico perdido no coração e em como a bunda dela realça, mesmo coberta.
Quem foi o filho da puta que fotografou minha mulher?!
Quatro horas trancado numa sala de reunião com mais dez homens,
entre eles o dono da empresa. Dizer que eu estou mal-humorado é pouco.
Estou puto e sinto que vou explodir a qualquer momento.
Quando o presidente encerra a reunião, quase dou um grito de alívio.
Tudo que eu quero agora é ir para a academia e socar todos os sacos de areia
possíveis.
— Vai ficar para o Brunch? — o presidente pergunta, me oferecendo
um aperto de mãos.
— Não será possível, tenho um compromisso — aviso.
— Mas nos vemos na convenção?
— Certamente, não perderia esse evento — informo e, após me
despedir de todos, saio o mais rápido que consigo.
Passo pela recepção como o The Flash, e quando abro a porta da sala
percebo que estou ficando louco, totalmente alucinado. Dou três passos para
trás e saio da sala o mais rápido que consigo. Soco a primeira parede que
encontro na minha frente e vejo Júlia e Carla me encararem, assustadas.
— Está tudo bem, senhor Arthur? O senhor parece nervoso — Júlia
pergunta, receosa. Porra! Eu estou perdendo a cabeça. Respiro fundo,
tentando não soar como um maluco. Penso mil vezes antes de fazer uma
única pergunta que pode vir a ser meu atestado de insanidade:
— Há alguém na minha sala? — pergunto, e Júlia demora alguns
segundos me encarando, até que acena positivamente com a cabeça. Eu não
posso acreditar.
Respiro fundo e abro a porta novamente, com mais cuidado. Não é
uma pegadinha da minha mente. Mariana está apoiada na beirada da mesa,
usando um vestidinho indecente, que realça claramente o bronzeado de suas
pernas. Eu vou fodê-la tão duro!
— Alguém está mal-humorado! — ela diz, sorrindo, e eu fecho a
porta com chave.
Caminho até ela e a pego no colo. Puta que pariu! Eu senti uma falta
do caralho desse cheiro de morango, framboesa, frutas comestíveis, sei lá que
diabo é esse cheiro, mas apenas ela tem.
Meu coração bate tão forte quanto a força que eu a esmago em meus
braços. Ela enrola suas pernas em minha cintura e eu a levo para a parede ao
nosso lado. Observo um misto de emoções passando em seus olhos. Tão
linda, minha mocinha...
— Diga, por que voltou antes da hora? — ordeno e ela morde o lábio.
— Estava entediante — responde e eu sorrio. Maldita mentirosa de
merda...
— Diga a verdade.
— Eu estava com vontade de transar com você — responde.
— Só isso? Você veio antes da hora por que queria transar? Vamos lá,
Mari, você pode fazer melhor que isso. Não teste meus nervos hoje! — aviso.
— Você está mal-humorado! — afirma.
— Eu estou, e é culpa sua — informo.
— Você vai me bater? Eu sou uma menina malvada! Você vai me
deitar sobre suas pernas e bater forte em minha bunda? — pergunta em meu
ouvido, se esfregando contra minha ereção.
— Eu farei. Agora responda. Diga aquilo que disse ao telefone
quando estávamos no aeroporto. Eu quero ouvir — peço, beijando seu
pescoço.
— Você quer que eu diga que eu sou sua? — provoca.
— Eu quero que me diga que esse é o motivo para ter voltado sete
dias antes.
— Tudo bem. Eu vou dizer. Eu voltei porque sou sua, porque eu
quero você, e isso inclui transar, ou seja, o que eu disse antes não era uma
total mentira. Eu voltei porque quero transar com você — ela diz, gemendo, e
leva tudo de mim para não fodê-la aqui, agora.
— Há dezenas de visitantes aqui hoje. Eu gostaria de fodê-la contra
essa parede, Mari, mas você sabe que não vai dar. Então nós estamos indo
para casa agora, para que eu possa fazer... — A coloco de volta ao chão e
espero até que consiga se equilibrar.
Pego tudo que preciso e saio a arrastando pela recepção.
— Minha mala, calma! — diz, e Júlia a entrega. Não há tempo de se
despedir de ninguém, eu sou um homem que precisa provar essa mulher, não
há mais como adiar. Estou enlouquecendo.
Nós descemos pelo elevador em um completo silêncio e só voltamos a
falar quando entramos no carro.
— Numa escala de Velozes e Furiosos, o quão rápido você consegue
dirigir agora? — pergunta.
— Consigo dirigir na escala de Toretto! Eu estou louco por você,
Mariana! — respondo, ligando o carro e saindo do prédio.
Eu dirijo feito um maluco. Quando paramos em algum sinal, posso
notar sua ansiedade e seu nervosismo. Ela vai o tempo todo com as mãos
cruzadas em cima da bolsa e mordendo os lábios. Eu sinto vontade de rir, há
poucos dias ela estava implorando de joelhos para eu fodê-la e, agora que vai
se realizar, está tímida?! É um absurdo essa mulher!
— Você está nervosa, mocinha.
— Eu? Óbvio que não — diz, olhando para os lados. — Isso vai
acontecer... Eu estou me cagando por completo — suspira.
— Por que se cagando?
— Nunca transei com um homem que eu amo — fala e eu quase
perco o controle do carro. — Digo, nunca transei com um homem que eu...
— Não deixo que ela termine de dizer uma desculpa qualquer para corrigir
uma verdade.
— Eu entendi. Não precisa corrigir — digo, rindo. — Se você
inventar outra viagem para tentar descobrir que me ama, eu irei trancá-la
dentro de uma jaula! — aviso e ela dá um sorriso tímido. Isso não combina
com ela. Essa timidez destoa de tudo que ela já fez até hoje.
Quando chegamos ao prédio, noto seu desespero aumentar
significativamente. Torno as coisas mais difíceis quando retiro meu paletó e
afrouxo a gravata antes de descer do carro. A medrosa não se move, só
depois que eu abro a porta e a puxo para fora.
Bato a porta e a encosto no carro, colocando minha mão na direção do
seu coração. Está batendo como uma bateria de escola de samba. Eu também
estou ansioso, não tem como não estar. Eu pegarei para mim a mulher que
tem todo meu coração e minha mente.
— Por que você não me beijou ainda? — ela pergunta, abaixando a
cabeça.
— Porque se eu a beijasse perderia todo o controle, Mari — explico.
— Há algo que vá precisar na sua mala? — pergunto.
— Não.
— Então nós a pegaremos amanhã — informo e encaixo sua mão na
minha quando caminhamos para o elevador.
A subida até o sexto andar parece mais lenta que o normal. No
primeiro andar, ela pega a chave do seu apartamento, e no terceiro já estou a
puxando para mim, beijando sua boca insanamente.
Quando enfim soa o sinal do sexto, nós saímos tropeçando até o
apartamento. Eu pego a chave de sua mão e tento abrir. É uma merda difícil.
Quando abre, meu peito quase salta para fora. Eu vou fodê-la. Não vai ser
amor agora, vai ser uma foda bem dada, por todos os meses que eu me
masturbei fantasiando-a.
Ela arranca minha camisa, fazendo todos os botões caírem ao chão, e
eu rasgo seu vestido. Ela abre meu cinto e eu rasgo sua calcinha, enquanto
nossas bocas travam uma batalha voraz. E quando ela pega meu pau por cima
da cueca, solto um rugido de um animal feroz e aperto suas coxas com
firmeza.
— Parem! Esperem aí que eu vou pegar a pipoca! — uma voz
feminina diz e eu a solto, deixando-a cair no chão.
— Mãeeee?! — Mari grita, puta pra caralho. Eu não sou homem o
bastante para olhar para trás e conhecer minha sogra.
Oh, maldito inferno astral!
Ok, eu vou parecer uma filha da pior espécie agora, uma maldita mal-
agradecida da porra, uma insensível; mas, precisava realmente da minha mãe
estar aqui agora? Hoje? Sem avisar? De surpresa?
Meu foco está todo no homem descamisado à minha frente, que está
fechando seu cinto enquanto respira com dificuldade. Santa frustração que
nos envolve...
— Mãe! O que a senhora está fazendo aqui? — pergunto, tentando
tapar o rasgo enorme do meu vestido. Enquanto isso, ela está linda e plena,
sentada no sofá com uma cara divertida.
— Eu disse que quando menos esperasse eu estaria aqui. Aliás, é uma
sorte seu pai ser um fofoqueiro de uma figa e estar na portaria, ou ele não
ficaria satisfeito com essa cena. — Ela gargalha e bate palmas. — Que
desempenho incrível! Agora vá ao seu quarto e vista uma roupa decente,
antes que seja tarde. E você, garotão, embora seja uma imagem e tanto
vislumbrar essas costas largas, eu ficaria feliz se pudesse vestir uma camisa
— diz a Arthur, que após respirar fundo, se vira para mim. — Oh, santo
Deus! Mariana! Esse homem é uma aberração divina! — grita, se levantando.
— Obrigado?! — Arthur parece confuso, com o rosto tomado por um
vermelho tomate.
— Bom, me apresente esse deus grego, esse espetáculo divino... —
ela diz a mim.
— Mãe, esse é Arthur, um... amigo?! — pergunto a ele.
— Amigo? Que amizade moderna. — Ela sorri e ele toma frente da
situação.
— Prazer, Arthur Albuquerque, namorado de Mariana.
— Nem venha querer me dar um aperto de mão. Eu vi bem onde sua
mão estava minutos atrás. Embora seja na minha filha, eu só me permiti tocar
nessa perereca quando ela era criança — ela fala sem filtro algum e Arthur
me encara, com um pedido de socorro. Vejo o puro sofrimento estampado em
seu belíssimo rosto. — Então você é namorado de Mariana? Por que eu não
sei disso, filha?
— Porque é recente, mãe.
— Ele é o motivo por trás daquela ligação? — pergunta, sem se
importar com a presença dele.
— Ele é.
— Bom, eu irei ao meu apartamento tomar um banho e vestir algo
decente — ele diz.
— Oh, querido, sua blusa está realmente destruída. Bom, permita-me
convidá-lo para um jantar em família? Vamos a um restaurante aqui no bairro
mesmo, onde fazem a melhor carne de sol com mandioca — mamãe diz.
— Claro. Eu voltarei — ele fala cordialmente.
— Seu prédio é muito longe daqui?
— Não, eu moro no apartamento ao lado — ele informa e ela ri.
— Incrível! Bom, então vá e nós o aguardaremos. Mariana também
precisa de um banho frio, congelante.
Arthur sai após me dar um beijo na testa, deixando apenas eu e a
empata foda da minha mãe.
— Vá tomar um banho para que eu possa te abraçar — diz, sorridente.
— Você está bronzeada!
— Eu estava viajando, só voltaria daqui a sete dias, mas resolvi
antecipar e cheguei hoje. Minha mala está no carro de Arthur — digo.
— Você não parece feliz em me ver.
— Eu estou, dona Ana, eu só não estava esperando por isso — falo,
tentando soar o mais bem-humorada que consigo no meio de tanta frustração
sexual.
— Walter já deve estar subindo, filha, arrume logo essa bagunça
rasgada em você. Eu estarei aqui esperando. — Deposito um beijo em sua
testa e me tranco em meu quarto.
Eu me nego a chorar. Nós estamos apenas tendo um adiamento, mais
um. Não posso mentir, eu senti falta dos meus pais, em especial da minha
mãe, que sempre foi minha melhor amiga e confidente. Pensando dessa
maneira, permito deixar um pouquinho de felicidade entrar.
Termino de destruir meu vestido e tomo um banho morno, não frio,
como minha mãe sugeriu. Quando termino, pego um vestido um pouco mais
digno para o jantar, escolho um lingerie decente e calço uma sandália de salto
fino que prende no tornozelo. Faço uma maquiagem não muito exagerada e
seco meus cabelos, os deixando um pouco mais ferozes.
Quando volto à sala, meu pai ainda não chegou. Minha mãe, enfim,
me dá um abraço forte.
— Você está linda, filha. Eu diria que você está parecendo mais...
mais mulher — ela fala, me analisando.
— Obrigada, a senhora também está ótima! — digo e logo meu pai
entra.
— Jesus, eu e Jair vimos um casal de pegação no elevador. Essas
pessoas perdem a linha — ele fala, caminhando até mim, que estou
petrificada. — Que saudade da minha menina! — Me abraça, e quando me
solta, seus olhos estão inundados com lágrimas. Tão lindo! — Nós já
podemos ir jantar ou ainda está cedo? Talvez possamos ir e tomar umas
biritas antes de pedirmos o jantar — diz, visivelmente tentando fugir da
emoção.
— Sim. Mariana, vá buscar Arthur — minha mãe ordena, atraindo o
interesse de meu pai.
— Quem é Arthur?
— Meu namorado — explico, ainda sem me acostumar com o novo
rótulo. Chefe, vizinho, pretendente e agora namorado. Tão rápido quanto a
luz do sol.
— Ora, quer dizer que eu irei conhecer um namorado que eu nem
sabia da existência?
— É recente — mamãe me defende e eu seguro o riso.
— Bom, vou buscá-lo.
— É muito longe? Posso ir com você?
— É no apartamento ao lado — mamãe informa, divertida, e meu pai
faz uma careta. É a deixa para que eu fuja rapidamente, antes que comece um
longo interrogatório. Toco a campainha e logo Arthur abre. Ele está
terminando de se vestir, e eu estou engolindo em seco, bebendo seu corpo
com os olhos.
— Sua mãe é tão louca quanto você — diz e eu me aproximo para
fechar sua camisa. Porém, irresistível como ele é, o beijo. — Vou poder
raptá-la após o jantar? — ele pergunta quando nos afastamos.
— Não tenha dúvidas. Se não puder, fugirei. — Sorrio, fechando os
botões. — Me desculpe por toda essa mudança de planos — digo e ele me
abraça.
— Eu estou feliz por conhecer seus pais, não se desculpe. Em breve
você irá conhecer os meus também.
— Sua irmã mora com eles? — pergunto, receosa, e ele dá uma risada
gostosa.
— Sim, ela mora.
— Oh, Deus! Tudo bem, eu terei que enfrentar a vergonha. — Coloco
minha cabeça em seu peito e ele faz um cafuné em meus cabelos. Porra, ele é
tudo que pode conter em uma listinha de qualidades que procuramos em
homens.
A campainha toca e eu reviro os olhos.
— Você vai aguentar a loucura dos meus pais? Minha mãe tende a ser
invasiva.
— Eu nem percebi isso. — Ele ri. — Eu quero você e toda a loucura que vem
no pacote. Vamos jantar, preciso surpreender seu pai.
Rodo por toda a cidade e a cada minuto sinto meu peito se comprimir
mais. Eu nunca senti essa merda, mas, desde que ela surgiu, tenho sentido um
monte de coisas inexplicáveis.
Paro a moto pela vigésima vez e ligo para Mariana. Ela rejeita a
ligação mais uma vez.
Mando mais uma mensagem de texto e não obtenho resposta. Essa
mulher vai me enlouquecer, eu tenho certeza. Já passam das onze e estou
completamente perdido. Olho para trás e encontro a igreja da Pampulha.
Porra, eu já passei aqui pelo menos seis vezes só essa noite, deve ser algum
sinal. Sem que eu possa raciocinar, me pego caminhando até ela.
Nunca fui um homem religioso, mas eu acredito em Deus, eu acredito
que há uma força superior a todos nós. Paro diante da porta fechada e observo
através dos vidros a enorme pintura de São Francisco. Eu sei quem é apenas
por estar escrito em uma placa no gramado ao lado “Igreja São Francisco de
Assis.”
Quando dou por mim, estou de joelhos ao chão, fazendo algo que eu
nunca fiz antes: um pedido, suplicando às forças ocultas.
“Eu estou envergonhado, sei que não sou merecedor de suas bênçãos
e que estou aqui no desespero. Sei que nunca vim até aqui antes e não vou à
missa desde que era um moleque, mas, por favor, eu estou aqui agora
pedindo, me ajude a encontrá-la, São Francisco, não me deixe perdê-la. Estou
sendo feliz pela primeira vez na vida, Mari é tudo que eu sempre quis e eu a
tenho agora. Imploro, a proteja onde quer que ela esteja, não deixe que ela
faça qualquer besteira e me ajude a encontrá-la. Eu sei que estou pedindo
muito e sei que não conheço sua história, mas se o Senhor já amou uma
mulher como eu a amo, o Senhor sabe o que estou sentindo.”
Limpo minhas lágrimas, faço o sinal da cruz e me levanto. Olho para
a imagem através dos vidros mais uma vez e caminho de volta para a moto
sem olhar para trás.
Não ando mais de 2 km até que avisto o carro dela parado na porta de
uma boate. Instantaneamente, meu corpo se arrepia por completo e sinto meu
coração disparar. Estaciono minha moto e olho para o céu, soltando um
suspiro de alívio.
Porra, São Francisco, te devo uma! Eu vou me casar com essa mulher
nessa igreja!
Foi a partir da quinta dose de tequila que senti minha mente sair um
pouco de órbita, não o suficiente para ficar bêbada, mas o suficiente para dar
uma relaxada.
Eu não tenho ideia do motivo pelo qual aceitei entrar nessa boate, mas
Duda afirmou que tudo que eu precisava era de uma noite de garotas com
muita cachaça na mente. Onde diabos eu estava com a cabeça quando resolvi
dar ouvidos a uma pessoa alcoolizada?
Ela, na quinta dose, já está louca como o Batman. Antes de vir para
cá, já estava alta o suficiente devido a um happy hour após o trabalho. Eu
chorei em seus ombros e tudo que ela fez foi rir, como uma hiena insensível.
Essa boate é de quinta categoria, não que eu seja metida e mimizenta,
mas é. Se existe algo que sou, é realista, graças a Deus. Ô lugar xexelento do
caralho! Há tequileiros espalhados por todos os cantos, pessoas dançando
sobre os balcões e um DJ “arregaçando” no funk proibidão. Não aguento
mais escutar as palavras “piroca” e “boceta”. O que leva um ser humano a
criar uma música cuja letra contém as seguintes frases: “se eu não me
controlar é rapidinho já tô gozando” e “ela senta, ela quica, não pode parar,
vou gozar, vou gozar, vou gozar”. Santo Deus, eu amo funk, mas tudo tem
limite. Isso é quase um conto erótico. Meu ouvido não é penico para aguentar
esse tanto de merda.
Eu queria ficar bêbada a ponto de permitir que um cachorro de rua
lambesse minha boca, mas não sou mais a mesma. Nesse exato momento
estou detestando não ser a velha Mariana, ela era muito mais inconsequente e
divertida. Há uma boa concentração de homens gostosos nesse ambiente.
Todos eles musculosos, do tipo que parecem se entupir de bombas e,
provavelmente, são brochas. Felizmente, nunca peguei bombados com paus
pequenos e brochas, mas, de alguma forma, todos esses que estão aqui
aparentam ser exatamente assim.
Enquanto estou só um pouco anuviada pelo álcool, fico observando
como eles tratam as mulheres que estão nesse ambiente como perfeitas
cadelas. Entendo que algumas realmente são cachorronas, estão loucas atrás
de uma piroca e de obter bebidas grátis, mas chega a dar nojo do sexo
masculino, e um pouco de vergonha do sexo feminino também. Há alguns
homens que não querem saber, apenas levam suas mãos imundas na bunda de
qualquer fêmea que passa. Pior é vê-las sorrindo, felizes com isso, se achando
as bocetudas. O quão desvalorizadas elas são?! Meu nível de loucura não
permite essa putaria. Quando quero ser puta é apenas entre quatro paredes,
sou seletiva e escolho bem meus parceiros. Eu daria um chute no saco do
primeiro que ousasse tocar em mim sem minha permissão.
Tento dançar e enlouquecer, mas sinto-me destruída por dentro. Sinto
que minha vida nunca mais será como antes. Arthur fez um estrago grande
dentro de mim e não sei se pode ser consertado. Estou apenas cansada de
tomar no cu. Vitor me apunhalou pelas costas, e agora Arthur, o homem em
quem eu confiei com todas as forças. Eu me agarrei a ele com tanta esperança
e me entreguei, confiando que ele poderia ser meu próprio super-herói.
Talvez relacionamentos não sejam para mim. Talvez eu deva mudar de
emprego, me tornar uma profissional renomada e, quando eu tiver meus trinta
e cinco anos, posso tentar adotar uma criança. Nada de filhos com estranhos!
Estou alucinando, é isso. Só consigo ver um futuro solitário, nada além disso.
Eu gostaria de ser puta para Arthur. Maldito inferno! Eu odeio!
— Vem! — Duda me puxa pelo braço e me carrega até um enorme
balcão, onde estão concentrados alguns tequileiros bons de serem olhados.
Não tenho tempo de me opor, quando dou por mim já tem um me
sentando em uma banqueta e se acomodando atrás de mim.
Ele me entrega uma dose e eu a viro. Em seguida ele puxa minha
cabeça para trás e sacoleja. Fecho meus olhos e quando os abro vejo o mundo
girar. Parece que estou numa roda-gigante que está girando a 200 km por
hora. Isso me faz rir.
— Mais uma, em nome de Jesus! — peço, rindo, e o gostosinho me
entrega outra dose.
— Você é a mais gata desse lugar — diz em meu ouvido.
— Thank you — falo e viro. — Mais uma. — Ele me entrega outra e
eu viro mais uma vez, sentindo o líquido descer queimando pelo meu corpo.
Devolvo os copinhos e, novamente, puxa minha cabeça para trás e faz o
sacolejo maluco.
Sinto que estou morrendo e que irei cair a qualquer momento de cima
da banqueta. Abro meus olhos e vejo Arthur no lugar do tequileiro. Eu
começo a rir de nervoso. Esse diabo não vai sair da minha mente, sei disso.
Sinto-me tão fodida, que quero chorar.
— Mais uma! Em nome de Josué. — O puxo pela camisa e logo sou
arrancada da banqueta como um saco de batatas.
— Que merda! — grito e recebo um tapa na bunda, que quase me faz
chorar como uma criancinha desamparada. — Diabo, seja quem for, me
coloque no chão! Eu vou chutar suas bolas — ameaço, movimentando
minhas pernas, vendo o mundo de cabeça para baixo e uma bunda admirável.
De repente, um ventinho sopra em minha bunda e eu escorrego em
uma parede de músculos. Ergo minha cabeça e encontro os olhos azuis e
tempestuosos de Arthur. Ele parece bravo. Deus, ele fica lindo bravo.
— Babaca! — grito e ele me puxa de novo, dando outro tapa em
minha bunda. — Filho da puta! Eu odeio você. EU ODEIO VOCÊ!
Ele me segura pelos cabelos e me coloca deitada no capô do carro. Eu
prefiro beijar o capô a olhar para ele. Preferia ainda mais que ele me fodesse
aqui e, então, quando eu gozasse, sairia correndo.
Sua mão desce em minha coxa e eu luto para não gemer. Meu corpo é
traidor, o odeio agora, estou odiando tudo sobre hoje! Inferno astral do
caralho!
— Diga mais uma vez que me odeia — ele pede e eu faço, mesmo
não sendo obrigada a nada, apenas para torturá-lo.
— Eu odeio você. Eu odeio muito você — digo e ele bate novamente
em minha bunda. Engulo em seco, sentindo lágrimas queimarem em meus
olhos. Lágrimas de raiva, de uma dor tão profunda que jamais imaginei
sentir, e lágrimas de tesão. Esse homem sendo rude é o céu.
— Continue dizendo e eu não irei parar — ameaça com sua voz
rouca.
— Foda-se, Arthur, você não tem esse direito! Isso só faz aumentar
meu ódio! — grito e levo outro tapa. — Eu odeio você! — repito, chorando,
e ele me dá outra palmada. Acontece que eu estou chorando pelo fato de estar
sentindo tesão de uma maneira doentia. Estou chorando porque ele está aqui e
tudo que faço é desejá-lo com todas as forças.
— Eu amo você, Mariana — declara, me dando outro tapa.
— Eu odeio você, Arthur.
— Você me ama. — Ele me puxa, agora com de delicadeza, e me vira
de frente para ele. Dói olhar para ele. Dói ver que seus olhos estão brilhando
em lágrimas.
— Eu não amo você. Você me quebrou, Arthur.
— Não. Eu não quebrei você, Mari. Eu não fiz nada para ferir você,
acredite em mim — pede, me puxando em seus braços. — Diz que acredita
em mim, amor?
— Eu... Você reatou... — Choro e ele me abraça mais forte.
— Eu não fiz, Mari, nunca faria. Só soube como Laís entrou no meu
apartamento quando estava vindo atrás de você. — Seu aperto sobre mim é
tanto, que consigo sentir seu coração bater descompassadamente.
— Você não está com ela? — pergunto, me afastando para olhar em
seus olhos.
— Estou destruído por você cogitar isso, Mari. Você me tem muito
baixo. Eu não sou um moleque, Mariana. Porra, eu sou um homem e abri
tudo de mim para você! Não enxerga isso? Estou aqui, de braços abertos,
dando tudo de mim a você, Mariana, tudo — ele diz, demonstrando
desespero, e eu o beijo enlouquecidamente.
O agarro forte, enfiando minhas mãos por dentro de sua camisa, e me
sento no capô, o puxando para mim. Ele geme, segurando firme em minha
bunda, e eu me esfrego em sua ereção, desesperada. Usando uma mão, puxo
seus cabelos e guio sua cabeça para meu pescoço.
Só quando um carro buzina, lembro onde estamos e nos afastamos. Eu
gozaria em alguns segundos...
— Eu ainda odeio você por não fechar a maldita porta do seu
apartamento com chave! — esbravejo, cheirando seu pescoço.
— Eu vou bater em sua bunda se falar a palavra ódio mais uma vez.
Quão bêbada você está? — pergunta.
— Eu não estou bêbada. Estou levemente zoada. Consigo fazer um
quatro e sei bem tudo que está acontecendo ao meu redor. Como me
encontrou?
— Foi um milagre, Mari. Você acredita em milagre? — pergunta e eu
seguro um sorriso.
— Eu ia te fazer essa pergunta hoje mais cedo, quando entrei em seu
apartamento.
— Por quê?
— Eu ia perguntar se você acreditava em milagre porque eu estou
curada. Os deuses do amor me curaram — respondo e ele se afasta, me
analisando.
— Curada de quê?
— Você vai descobrir. Não sei você, mas eu estou indo para minha
casa — informo, escorregando até meus pés tocarem o chão.
— Nós não estamos indo para casa. Nós estamos indo conversar,
como dois adultos normais, Mariana. Pegaremos seu carro mais tarde — diz,
me pegando pela mão e caminhando até sua moto.
— Você veio de moto — afirmo, feliz da vida.
— Sim.
— Posso pegar em seu pau enquanto pilota? — peço com o olhar do
Gato de Botas, e ele me encara sério.
— Não faça isso ou morreremos cedo demais. — Ele coloca o
capacete e pega um reserva dentro de um compartimento ultra power secreto.
Acomoda-se na moto e me ajuda a subir. O abraço tão forte quanto consigo e
logo o motor está ganhando vida.
Nós saímos rumo ao desconhecido e nossa primeira parada é no
McDonald’s, onde ele pede quatro McLanches Felizes e dispensa os
refrigerantes, pedindo uma Coca de dois litros.
Enquanto aguardamos na fila, me sinto em paz agarrada a ele, que
tem uma mão sobre as minhas.
A atendente entrega nossos lanches e Arthur coloca as sacolas no
guidão, mesmo eu insistindo em carregá-las.
Pilotando mais vagarosamente, ele nos leva a uma estradinha e sobe
uma pequena rampa. Eu leio em letras garrafais “Mirante das Mangabeiras” e
sorrio. Eu nunca estive aqui.
Arthur buzina e um segurança aparece. Quando Arthur tira o
capacete, noto um sorriso de reconhecimento.
— Arthur, quanto tempo, camarada!
— Você me deixaria levar essa linda senhorita para um passeio? —
pergunta, dando um aperto de mão no segurança.
— Claro. Fique à vontade. Às seis da manhã é minha troca de turno,
então preciso que até as cinco vocês desçam — alerta.
— Tranquilo, amigão. Muito obrigado, te devo essa!
O segurança libera nosso acesso e subimos outra rampa.
Quando estaciona, ele me ajuda a descer da moto e eu retiro o
capacete, completamente embasbacada com a vista desse local. Dá para ver a
cidade toda, milhares de luzes acesas e um céu extremamente estrelado numa
noite de lua cheia.
— É lindo, Arthur!
— Não pense que eu estou sendo romântico. Você não está
merecendo — avisa. Eu seguro um sorriso.
Ele pega uma jaqueta no compartimento ultra power secreto de sua
moto e eu me pergunto o que mais cabe ali dentro.
Nós deixamos nossos capacetes no chão e, após pegar as sacolas de
lanche, ele entrelaça nossos dedos e caminhamos até uma árvore. Estende a
jaqueta no chão e nos acomodamos. Por Deus, esse lugar é incrível!
— Lindo demais!
— Eu sei. Você também é linda, é uma pena que seja tão louca — diz
enquanto arruma nossos lanches. Aproveito e roubo uma batata, porque estou
faminta.
Assim que coloco o sanduíche em minha boca, suspiro. Esse Ronald é
fodão mesmo, esse McLanche é incrível de tantas maneiras, que nem sei
explicar.
— Você me fez viciar nessa merda, Mariana. Não sei se te amo ou
odeio nesse momento.
— Me ame, estou apenas te ensinando algumas coisas boas da vida,
Tutu — digo e ele sorri.
— Tutu, isso é apelido de homem brocha — resmunga.
— Você não é brocha.
— Não sou — diz, me dando um friozinho na barriga.
Estou doente.
Nós terminamos de comer silenciosamente, cada um perdido em seus
pensamentos, e ele é o primeiro a falar:
— Nós precisamos conversar, mocinha.
— Você fez uma merda hoje, Arthur, então não venha julgar meu
comportamento. Eu ainda estou fodida — aviso de uma vez.
— Você deveria ter me ouvido, deveria ter ficado. Teria evitado esse
monte de merda, Mariana. Mas você preferiu agir como uma louca
desacreditada. Estou muito mais ferido que você. Nós precisamos estabelecer
parâmetros, e o primeiro deles é você entender que eu não sou um moleque.
— Toma na cara, Mariana demônia!
— Eu também não sou uma criança.
— Você agiu dessa maneira hoje — rebate.
— É só isso, Arthur? — dramatizo, porque sou dessas.
— Nós estamos conversando, Mariana, eu não quero que seja mulher
só na cama, quero que seja uma mulher em tudo, em todos os sentidos. — Ele
me olha tão profundamente, que sinto vontade de correr pelas colinas. É
desconcertante. Nunca tive um relacionamento adulto, maduro. É isso que
Arthur está oferecendo, e eu preciso me adequar.
Me calo diante desse esculacho. Tomar no meu rabo! O que eu ia
fazer? A mulher simplesmente estava lá, se comportando como se tivesse em
sua própria casa e dizendo que eles haviam reatado. Obviamente me senti
uma intrometida naquele ambiente.
Foda-se! Parece que o jogo inverteu, não é mesmo, Mariana?, meu
subconsciente grita e eu quase o assassino.
Me embebedo em sua imagem, enquanto ele olha o horizonte, tão
absorto em seus pensamentos.
Volto meu olhar para as luzes distantes abaixo de nós e a realidade cai
sobre mim. Eu errei. Eu fugi. Eu o deixei quando ele chamou pelo meu nome
tantas vezes. Sou um ser humano, passível de erros e totalmente imperfeita.
Não busco a perfeição nas pessoas e nem espero que busquem isso em mim.
Estou apenas no início de um relacionamento inesperado, aprendendo a lidar
com as situações que eu mesma havia removido da minha vida.
Relacionamentos não estavam em minha mente até ele surgir. Eu quero
Arthur, não há dúvidas, apenas não sei como lidar com os problemas que
surgirão. Vou errar outras dezenas de vezes até aprender. Essa é a lei da vida.
Só há uma coisa certa: entre erros e acertos, descobriremos quem
somos.
Será que eu sou mesmo um tolo como Laís falou? Mari acreditou
nela. E eu, o que eu fiz?
Desesperado, rodei horas em busca dela, mesmo sabendo que estava
totalmente errada e pensou o pior de mim. Eu deveria bater nessa bunda mais
vezes...
Não sou tolo, não quando fiz isso pela mulher por quem estou
apaixonado. Não posso ser tolo, posso? Foda-se! Eu precisava tê-la de volta,
e aqui está ela, ao meu lado. Será que eu significo para ela o mesmo que ela
significa para mim? Porra, ela significa tudo, inclusive minha insanidade, e
agora está muda, olhando para o além.
Levanto-me e junto todo o lixo em uma sacola, em seguida o jogo
numa enorme lixeira próxima a nós. De alguma forma, o clima entre nós dois
está um pouco frio, não sabia que isso era possível. Ainda há muito que
conversar, mas certamente não será essa noite.
— Vamos para casa, mocinha — digo, oferecendo minha mão para
puxá-la e, quando ela está de pé, a envolvo em meus braços e beijo sua testa.
Há em mim uma necessidade de protegê-la de tudo e todos.
— Nós estamos bem? — pergunta, demonstrando-se vulnerável,
fazendo meu peito se comprimir, mais uma vez, essa noite.
— Nós estamos. Não estamos? — questiono de volta e ela sorri.
— Eu acho que sim — responde.
— Será que em todos os problemas que tivermos você vai fugir para
alguma boate maluca?
— Eu não sei. Não quero ter muitos problemas. É desgastante. Eu te
amo, Arthur, fiquei com tanto medo de ter perdido você. Não quero sentir o
que eu senti hoje nunca mais. Perdoe-me por ter agido dessa maneira, mas
você não sabe o que senti, não sabe as coisas que ela me falou. Ela parecia
tão certa, tão firme. Me senti uma intrusa quando a vi lá, tão cheia de si.
— Eu não vou te machucar, Mari, você precisa acreditar em mim —
digo quase em uma súplica.
— Da próxima vez eu darei uma voadora nela, Arthur, estou falando
sério.
— Não haverá próxima vez, se Deus quiser não haverá — tranquilizo
ela e a mim mesmo. Eu espero que não haja mesmo, fodida Laís.
— Me leve para casa — pede docilmente.
— Para a minha ou para a sua? — brinca.
— A minha é mais perto — respondo.
— Temos que pegar seu carro, mocinha.
— Ah, ele não pode ficar lá? Eu apenas não quero ficar sozinha —
choraminga. Consigo ver a grandeza da carência e vulnerabilidade que ela
está. Eu vou morrer ao lado dela e não terei a conhecido por completo.
— Pode ser perigoso. Você pode chegar lá amanhã e não o encontrar.
— Não importa. Tendo uma carona do meu chefe para o trabalho,
ficarei bem. — A beijo e em seguida pego meu casaco ao chão.
— Bom, há uma blusa da minha irmã dentro da moto, acho que você
pode querer usar.
— Sua irmã? — questiona, me encarando friamente.
Quase não é ciumenta!
— Se eu estou dizendo que é da minha irmã, você precisa acreditar.
Ela é a única mulher, além de você, que já andou na minha moto — informo
e ela dá um sorriso sem graça.
— Laís nunca andou com você?
— Foda-se a Laís, Mari! Ela nunca andou nem no meu carro! Não
vamos mais tocar no nome dessa mulher, ela atrai coisas ruins para nossas
vidas — digo e ela balança a cabeça em concordância.
A ajudo a subir na moto e subo logo em seguida. Ter seus braços em
volta de mim, confiando em mim, é uma sensação indescritível. Não vou
lento dessa vez, vou um pouco mais rápido, e a ouço gargalhar atrás de mim,
impulsionando mais meus instintos selvagens. Em determinado momento, ela
me solta e abre os braços, gritando “uhul” como uma garota travessa,
aumentando ainda mais a certeza de que eu faria qualquer coisa apenas para
vê-la sorrir dessa maneira.
Ao menos o clima de tensão foi substituído pela adrenalina e pela
alegria. Isso é tudo que eu posso querer.
Quando estaciono a moto no condomínio, sinto-me desesperado para
tê-la. Meu pau pulsa dentro de minhas calças, pareço como um maníaco
sexual completo, tudo por ela, tudo para ela. Não há ninguém no mundo que
tenha conseguido despertar tais sensações esmagadoras dentro de mim como
Mariana.
Ela desce da moto e retira o capacete, dando um sorriso que bate
diretamente em meu coração. Maldito seja esse jejum de sexo obrigatório! Eu
vou morrer se não tiver dentro dela nas próximas 24 horas. Isso afeta meu
humor, pra caralho!
— O que foi? Parece tenso, Tutu — diz, me puxando pela camisa
enquanto passo as mãos em meu rosto, completamente consternado.
— Não foi nada. Vamos subir. — Pego o capacete da mão dela e
coloco sobre o guidão, em seguida estou a arrastando para a merda do
elevador. Incrível é que ela está com um sorriso grandioso e eu estou um
maldito mal-humorado agora.
Mariana é exatamente como a encarnação de uma fantasia erótica, não
tem como ter controle sobre isso. É um efeito devastador e extremamente
intenso. Nós dois dentro desse elevador é quase claustrofóbico.
Mari se remexe feito uma minhoca e eu fico imóvel, tentando
demonstrar controle e impassibilidade.
Nós chegamos ao nosso andar e ela demora alguns minutos com a
chave na fechadura. Seguro um gemido de frustração e tomo a chave de sua
pequena mão.
— Eu abro — digo, abrindo, e ela entra, enquanto eu fico parado na
porta, decidindo entre ir para o meu próprio apartamento, só para manter a
distância e o controle, ou entrar e ficar com as bolas azuis e roxas.
— Ui, ele está nervoso! — ela debocha e eu não rio. Sou um homem
que está sofrendo profundamente. — Você está com distúrbio de
bipolaridade, Tutu? Conta pra sua Mari e eu vou te fazer um carinho. Sabia
que eu já estou curada? — provoca, me puxando pela camisa e fechando a
porta atrás de mim.
— O que está curado, Mari? — pergunto e ela diz em meu ouvido:
— Minha boceta está curada e implorando pelo seu pau.
— Só tem três dias, Mari — digo quase chorando, e não é um
exagero.
— Eu quero você dentro de mim, pode ser bem devagar, embora eu
prefira forte e duro. Não posso aguentar mais tempo. — Ela lambe meu
pescoço e abre os botões da minha camisa. Eu perco a porra do único fio de
controle e bondade que ainda restava em mim. Apenas facilito tudo o que ela
está fazendo, pior, eu a ajudo a terminar o serviço, porque preciso disso como
preciso de oxigênio e do meu coração batendo.
— Você vai me dar o que quero, Tutu?
— Tudo, Mari. Eu vou te dar tudo, e foda-se, diga-me que você está
mesmo melhor, por favor.
— Eu estou — responde, abrindo meu cinto enquanto chuto meus
sapatos para longe. — Preciso de você tanto... — geme. A pego no colo e a
carrego até o quarto.
— Eu vou fazer isso lento, Mariana.
— Eu te amo, Arthur Albuquerque. Eu te amo — sussurra quando a
coloco de pé sobre o chão do quarto.
Termino de tirar minha roupa enquanto ela retira a sua, me olhando
descaradamente.
Nós ficamos nos encarando, olhos nos olhos, por alguns segundos,
antes de voarmos um até o outro. Parece um jogo onde dois jogadores lutam
duramente pela vitória, em nosso caso, os dois serão vitoriosos, estou certo
disso.
Não sei se ele vai conseguir ir lento, não quando ele está me beijando
dessa maneira insana. Sua mão esperta desce para minha intimidade e eu o
noto receoso.
— Toque, Arthur, não está doendo mais, por favor... — incito e ele
corre o olhar por todo meu corpo até chegar lá.
Ele observa seus próprios dedos me acariciando lentamente e solta um
gemido ao perceber o quão molhada estou.
— Eu quero você, Mari.
— Estou aqui para você, completamente nua e molhada — respondo
enquanto a ponta do seu dedo traça um círculo em meu sexo.
Ele arrisca a levar seu dedo um pouco fundo, apenas testando, e
quando os retira lambe com um misto de admiração e desejo.
— Seu gosto é o meu sabor preferido no mundo — diz com uma cara
de safado e logo está levando sua boca a um mamilo e chupando forte. É
demais para mim. É algo que não sei explicar, mas suas mãos e sua boca em
meu corpo são demais, absurdamente muito para mim. A única coisa que
impede meus olhos de fecharem pelo prazer é a vontade de vislumbrar seu
rosto tomado por tesão enquanto cuida de cada parte de mim. Arthur excitado
vai além da luxúria.
— Deus, Mari, você me deixa com tanto tesão, amor! Olha só para
você, é maravilhosamente perfeita. — Sinto uma nova onda de calor
percorrer meu corpo. Essas palavras... Ele me endeusa de todas as formas
possíveis.
— Arthur... — gemo quando ele torna a levar seus dedos em minha
entrada.
— Às vezes você fica tão louca, Mari, que parece que eu nunca vou
conseguir ter controle algum sobre você. E agora você está aqui, tão carente e
excitada, ansiando pelo meu pau, por minhas mãos em seu corpo, tão
vulnerável.
— Eu preciso de você, Arthur...
— Eu vou fazer você feliz pelo resto da vida, Mari. Acredita em
mim? — fala, levando seus dedos molhados da minha excitação até minha
boca. — Prove como você é gostosa. — Abro minha boca e chupo seus dedos
lentamente, sem quebrar nosso contato visual. — Porra... Malditamente bom,
Mari...
— Você está me destruindo, Arthur.
— Você está me destruindo, Mari. Olha como você me deixa duro.
Fico assim o tempo todo por você. — Ele leva minha mão até sua ereção e
envolvo minhas mãos em volta, bombeando lentamente. Santo Deus... Minha
mão apenas não fecha... Esse homem é um deus grego puramente sexual.
O masturbo e ele faz o mesmo em mim, aumentando a pressão dos
seus dedos. Eu me contorço e me sinto bem próxima de explodir. Ele está me
levando bem perto da loucura.
— Não goze ainda — ordena, como se essa única ordem não fosse
fazer a necessidade pulsar ainda mais forte. Deveria ser proibido falar durante
esses momentos, mas tudo que ele faz é me torturar com suas palavras. — Só
vai gozar quando eu meter todo meu pau dentro de você, entende?
— Sim, sim. O que você está esperando? Pelo amor de Deus, Arthur!
— choramingo e ele se ajeita entre minhas pernas, retirando seus dedos e
substituindo-os pela ponta de seu membro. Ansiedade rasga através de mim e
me vejo empurrando contra ele, que mantém seus olhos fixados em nossa
junção. — Anda logo, Arthur...
— Você precisa me deixar entrar, amor. Relaxe para mim. Não quero
machucá-la. Apenas relaxe. Deixe a tensão de ter meu pau dentro se esvair.
Relaxa pra mim, amor.
— Oh, Deus, o Senhor me mandou esse homem diretamente das
profundezas para torturar minha vida!
Ele força mais e eu me forço a relaxar. É quase impossível. Sinto-me
mais virgem do que nunca quando ele entra por completo e joga sua cabeça
para trás, uivando ferozmente. Há uma dor, mas eu não direi isso, pois a
partir do momento em que as palavras saírem da minha boca, eu sei que
nossa brincadeira estará arruinada.
— Você é gostosa demais, Mariana. Você é tão apertada, porra. —
Ele movimenta lentamente e eu estou insana o bastante para querer que ele
me foda duro.
— Por favor, mais rápido.
— Negativo — repreende. — Pense em quão bom é ter meu pau em
você, Mari.
— Sim...
— Você vai querer ele amanhã? — pergunta em um gemido.
— Sim...
— Então nós estamos indo devagar agora, bem lento, bem gostoso. É
assim que eu quero que seja hoje.
— Sim... Eu... Está desesperador.
— Shiiu! Vamos resolver isso, tudo bem? — Estou perdendo a porra
da minha mente... Sinto isso!
Ele chupa seu polegar e o desce até minha intimidade. Começa uma
tortura agoniante, massageando meu clitóris com precisão, e outra nova onda
de calor me toma, dessa vez muito mais intensa. Sinto meu corpo se tornar
febril e ele aumenta mais o ritmo de sua massagem.
Eu explodo de prazer, gozando em torno dele. Todo meu corpo treme
e sinto minha carne se contrair cada vez mais. Ele não goza, apenas me
observa, tornando o meu show ainda mais íntimo. É impossível não me sentir
vulnerável diante dele, todo glorioso, acompanhando minha entrega. Seus
olhos brilham, enquanto ele permanece paralisado, apenas acompanhando
meu prazer e esperando meu corpo se acalmar. Essa é uma daquelas cenas
que sei que nunca irei esquecer, e antes que eu possa controlar, estou
chorando, com todos os meus sentimentos completamente aflorados.
Ele me pega em seus braços no mesmo instante e me coloca sentada
em seu colo, sobre seu delicioso pau. O sinto pulsar dentro de mim, tão forte
quanto sinto seu coração bater.
— Por que está chorando, amor?
— Eu nunca senti isso antes... — respondo.
— Você é tão linda, mocinha, sou tão louco por você. Quero que me
beije — pede e eu inclino minha cabeça para ele.
Suas mãos seguram minha bunda firmemente enquanto enfio meus
dedos entre seus cabelos e levo minha boca até a dele.
O beijo apaixonadamente e me movo lentamente com sua ajuda.
Passo a língua pelos seus lábios e ele geme selvagemente. O monto um pouco
mais rápido e quando estou prestes a ir mais longe, ele contém meus
movimentos, acalmando pouco a pouco minha insanidade.
Afasto nossos lábios e olho para baixo, observando como seu corpo se
encaixa tão bem ao meu. Apoio minhas mãos em seus ombros e rebolo
lentamente em seu colo. Uma mão entra em meus cabelos e ele os puxa
fortemente, fazendo-me olhar em seus olhos.
— Quero que olhe em meus olhos, Mari, eu estou gozando por você.
— Goze, por favor. — O monto mais rápido e dessa vez ele não
impede. O sinto crescer mais e mais dentro de mim e, quando ele derrama sua
excitação em mim, o observo fechar os olhos e gemer alto.
Seus braços me envolvem em um abraço que é a mistura perfeita de
amor, desejo e gratidão. Sinto-me inebriada nessa mistura de sentimentos e
nessa troca que acabamos de ter.
Deito meu rosto em seu peito e ouço seu coração bater bem forte.
— Eu amo você... Eu quero ter você o tempo todo. Quero ver você
sorrindo, ouvir o som da sua gargalhada, quero dormir com você, Mari, e
acordar também. Quero conversar e discutir. Quero que você me deixe
sempre louco, só para depois eu ter o prazer de domá-la. Eu quero minha vida
com você, Mari, então esteja preparada, isso vai acontecer logo e não há
nenhuma maneira nessa vida de ser o contrário — promete e apenas fico
aqui, assim, o apertando. Não há o que dizer, ele sabe que me tem. Ele me
tem como ninguém.
Acordo com beijos sendo distribuídos pelas minhas costas e meus
cabelos sendo levemente puxados. Dando um sorriso preguiçoso, viro-me de
frente para contemplar a visão matinal do meu lindo homem.
— Bom dia, mocinha. — Seu sorriso invade minha mente e meu
coração passa a bater mais forte. Quando eu iria imaginar que um singelo
sorriso teria um efeito tão grande e devastador em meu interior? É como ver o
sol escaldante numa manhã de verão...
— Bom dia.
— Já busquei seu carro e vim trazer seu café da manhã na cama —
diz, satisfeito.
— Você é o meu café da manhã? Por favor, diga sim! — provoco,
sorrindo.
— É tentador, mas não sou eu, amor. Nós estamos indo almoçar em
um lugar, e, tendo em vista que não podemos fazer uso abusivo da sua
pequena boceta, não vamos perder tanto tempo na cama essa manhã —
explica, sorrindo.
— Tão romântico — zombo.
— Eu sou realmente. Trouxe café da manhã na cama e ainda coloquei
uma flor de enfeite na bandeja. — Orgulho atravessa suas palavras e me
apoio nos cotovelos em busca da bandeja. Tudo que há nela é um copo de
iogurte e uma flor. Isso que ele chama de café da manhã romântico?
— Um copo de iogurte? — Arqueio a sobrancelha e ele dá uma
gargalhada.
— Não me olhe assim. Acredite, você vai querer apenas esse copo de
iogurte. Estou prestes a levá-la para um banquete e tanto, princesa.
— Onde será esse banquete, pequeno Arthur? — brinco.
— Pequeno? Bom, é surpresa. Agora beba tudinho e vá se arrumar.
— Que tipo de roupa eu devo vestir? — pergunto, tentando obter
alguma ideia de onde iremos. Ele está usando uma camisa cinza-escura, calça
jeans clara e um tênis preto. Mega casual e ao mesmo tempo sexy.
— Alguma confortável, nós estamos indo para um lugar onde há um
pouco de mato — diz, me deixando intrigada. — Não vamos sofrer antes da
hora, mocinha. Eu estou ansioso para irmos.
Me levanto, bebo o copo de iogurte e vou até o guarda-roupa escolher
algo leve e confortável, enquanto Arthur fica deitado, observando. Não tenho
um look “meio do mato” e nem botas de montaria... Mato exige bota?
No banheiro, faço minhas necessidades, escovo os dentes e tomo um
banho rápido. Quando desligo o chuveiro decido não perder a oportunidade
de provocá-lo. Enrolo-me em uma toalha e vou me vestir no quarto,
obviamente fingindo ser um ato impensado.
Abro a tolha e a deslizo suavemente pelo meu corpo, secando cada
parte. O ouço suspirar e seguro um sorriso.
De pé, me abaixo o suficiente para deslizar uma calcinha pelo meu
corpo. Visto um cropped de tricô e minha saia longa de cintura alta, que tem
um rasgo até acima das coxas. Coloco um bracelete e calço uma rasteirinha
simples. Bagunço meus cabelos e passo apenas um brilho labial. Quando me
viro para Arthur, ele parece envolvido numa viagem alucinante.
— Sabe, você deixa as coisas injustas para as outras mulheres
meramente mortais, Mari — diz, se levantando e aproximando. — Você é
naturalmente linda e sexy. Fodidamente sexy, Mariana.
— Você também, então eu acho que somos um bom casal, não
somos? — pergunto, segurando-o pela camisa.
— Eu tenho certeza de que somos além de bons, Mari — responde,
trazendo sua boca até a minha para um beijo doce e delicado.
Eu amo que, mesmo em meio a toda intensidade explosiva que há
entre nós, conseguimos ter alguns momentos doces e suaves, como esse.
— Você precisa tomar o remédio, ao menos ele, princesa. Embora eu
ache que seria interessante você usar a pomada ao menos uma vez ao dia.
Nós não estamos indo transar, então o que acha de passá-la? — pergunta,
demonstrando preocupação com a minha vagina. Na verdade, acho que ele
está pensando em seu próprio interesse.
— Tudo bem. Você tem certeza de que não vai rolar um sexo quente e
suado no meio do mato? — pergunto apenas para testá-lo, e ele sorri.
— Estou quase certo disso.
— Tudo bem, então eu farei. — Caminho até o banheiro, trancando a
porta atrás de mim, e faço tudo que é necessário, passando menos pomada
que de costume. Estou certa de que vou tentar sexo no meio do mato, já posso
sentir a grama me pinicando... Eu sou louca!
Dez minutos depois estamos em seu carro, saindo do condomínio.
— Coloque o cinto — ordena.
— Sério?
— Absolutamente, Mariana. Vai dizer que dirige sem cinto?
— Às vezes — respondo, sendo sincera, e ele faz uma carinha de
bravo.
Pego um pen drive da minha bolsa e ligo no som do carro. Passo por
várias músicas antes de escolher uma que eu realmente goste e não seja funk.
Coldplay vence e uma versão acústica de The Scientist começa a soar pelos
alto-falantes. Irresistível que só, começo a cantarolar a música para Arthur.
Mariana não é só funk, Mariana também ama músicas excelentes, talvez eu
ainda tenha um lugar no céu.
— Coldplay, hein? — Arthur diz, sorrindo, quando paramos em um
sinal.
— Você gosta?
— Eu realmente gostava, mas agora eu descobri que amo ouvir você
cantando em inglês — responde, pegando minha mão para beijá-la.
Parecemos tão certo, nós dois.
Noto ele pegar a saída de Belo Horizonte, sentido Contagem, e
começo a temer. Ele não está me levando na casa dos pais dele, está?
— Arthur, diga que não estamos indo na casa dos seus pais, em nome
de Jesus!
— Relaxa, eles estão ansiosos para conhecê-la, Mari. — Suas
palavras confirmam minha suspeita e eu sinto meu coração acelerar.
— Eu nem trouxe um mimo, olha como estou vestida! Deus, Arthur,
você deveria ter me falado!
— Você está linda e eles não precisam de um mimo, ok? Apenas
relaxe. Eles vão amar você, minha mocinha. Não existe nenhuma forma deles
não a amarem, porque eu te amo e estou feliz com você, isso é tudo. — Suas
palavras são perfeitas, mas ainda assim eu temo. Eu estou indo conhecer os
pais do meu namorado/chefe. Eu estou indo almoçar com eles. Santo Deus!
— Sua irmã vai estar lá? — pergunto, temerosa.
— Eu diria que ela já deve estar do lado de fora nos esperando. — Ele
ri e eu quase choro. — Mari, eu conheci sua mãe quando estava prestes a
estar dentro de você, foi desconcertante. Ao menos meus pais estão ansiosos
esperando você. Você ainda não sabe, mas eles já adoram você.
— Eles adoram? Como? — questiono em choque.
— Eu falei muito de você a eles, e Alice também falou. Eles estão
entusiasmados para conhecê-la.
— Não diga que sua irmã contou sobre minha bebedeira?
— Ela contou, não vou mentir — responde, sorrindo.
— Deus, Arthur, eu vou morrer aqui!
— Apenas relaxe, Mari, não é todo esse bicho de sete cabeças que
você está pensando. Meus pais são tão legais quanto os seus. Os seus são
mais loucos, obviamente. — A maneira dele me tranquilizar é excelente para
um bom terrorista.
Quando leio a placa escrita CONTAGEM, quero fugir. Não sei como
é conhecer os sogros, embora eu já tenha tido um namorado. Não rolou esse
lance de apresentações e eu não ia à casa do meu namorado. Agora é tudo
diferente. Não tenho mais dezessete anos e estou indo conhecer os pais do
meu primeiro namorado realmente maduro.
Arthur passa a dirigir usando uma só mão, enquanto a outra fica firme
em minha perna. Eu passo todo o restante do tempo memorizando o caminho
e observando a vegetação. Há centenas de pinheiros gigantes na estradinha de
terra que nos leva até a chácara. É relaxante estar em meio à natureza,
fugindo do caos da cidade grande.
Quando chegamos, Arthur aperta um botão em seu carro, que faz uma
enorme porteira de madeira se abrir, e eu fico encantada com a linda casa
diante de nós. Há dezenas de coqueiros, árvores frutíferas, piscina, um
gramado de dar inveja. Mas o que me chama mais atenção é o modelo da
casa colonial moderna. De repente, minha ansiedade é toda transferida para
conhecer o interior da casa. Parece que estou entrando em um hotel fazenda
ou uma pousadinha de luxo.
— Uau, Arthur, você não me disse que a casa dos seus pais era assim
— digo, embasbacada.
— Assim como?
— Parece uma pousada de luxo em meio às montanhas! Eu viveria
aqui! — Ele sorri com as minhas palavras.
— É ótimo aqui, não é? Longe do caos da grande BH.
— É um estilo colonial moderno, estou ansiosa para conhecer o
interior.
— Você deveria fazer arquitetura, eu já falei isso, não falei? — Sim,
ele já falou, e eu estou seriamente pensando nisso. — Nós teremos uma casa
longe do caos, eu prometo. — Suas palavras me pegam de surpresa enquanto
ele estaciona o carro. Não tenho uma resposta. Está tudo tão veloz e intenso,
que eu acho que esse dia não vai demorar muito para chegar.
Uma linda mulher, com longos cabelos castanhos claros, se aproxima
da entrada da casa com um sorriso radiante. Ela é alta e faz o estilo falsa
magra.
— É sua irmã, não é? — pergunto e ele dá uma gargalhada.
— Sim, é Alice, sua cu.
— Arthur, por favor, não me faça passar vergonha, eu imploro. Estou
com vergonha por tê-la chamado de cu. Não sei onde enfiar minha cara —
informo, aterrorizada, e ele sai do carro.
Eu fico sem ação e só saio quando ele abre minha porta e me pega
como um saco de batatas em seus ombros. Uma magnífica entrada triunfal.
— Eu disse para não me envergonhar! — grito, batendo em sua
bunda, e ele me coloca no chão. É bom vê-lo tão radiante de felicidade, eu
nunca tinha o visto assim durante um ano inteiro, é tão surpreendente.
Ele me dá a mão, entrelaçando nossos dedos, e caminhamos juntos.
Estou transpirando, de tão desconcertada.
— Mari! — Alice grita, parecendo ter mais do que uma intimidade
comigo, e logo estou sendo envolvida num abraço de urso. — Você se lembra
de mim? — ela pergunta, rindo, e eu só consigo olhar seus olhos azuis. Deus,
ela é linda! É o Arthur de saia!
— Eu não lembro. Desculpe-me pelo episódio, estou tão sem graça
por isso — digo, fingindo ser uma moça de família comportada.
— Não se desculpe, você é fantástica! — fala, indo abraçar Arthur. —
Você está lindo, maninho!
— Você também, pequena.
— Venham, mamãe e papai estão ansiosos lá dentro. Ela exagerou na
comida, Arthur, você não tem ideia! — enfatiza enquanto a seguimos.
Como previsto, o interior da casa é ainda mais deslumbrante. Todos
os móveis são da cor branca com um toque de tabaco. Não há nada rústico
além dos pisos laminados de madeira. É tudo moderno e de extremo bom
gosto. Minha boca está no chão quando uma linda senhora, que deve ter na
faixa de uns cinquenta anos, surge. Agora eu sei exatamente de quem Arthur
herdou os olhos azuis.
— Meus filhos! — Ela se aproxima de nós dois e me puxa para um
abraço de urso, tão apertado quanto o de Alice. — Menina querida, eu sou
Lúcia, e é um prazer imenso conhecê-la. Você é ainda mais linda do que
Arthur falou. Olhe para ela, Mário! — diz a um senhor, que também deixa
bem óbvio ser o pai de Arthur pela fisionomia.
Ele me puxa dos braços dela e eu ganho meu terceiro abraço de urso
do dia. Deus, eles são tão carinhosos e fofos! Estou encantada!
— É um prazer conhecer os senhores.
— Não, nada de senhores. Somos jovens! — Mário diz, sorrindo
carinhosamente.
— Ok, vocês já abraçaram muito minha linda e deslumbrante mulher!
— Arthur me puxa de volta para seus braços e eu sorrio, satisfeita, me sinto
segura quando estou assim. É impossível não notar os três olhos nos
encarando com admiração. Consigo até vislumbrar o resquício de lágrimas
nos olhos de sua mãe.
— Oh, filho, eu estou tão feliz por você! Ela é realmente linda! Estou
encantada!
— Eu estou começando a achar que sou tudo isso mesmo — digo,
rindo.
— Oh, cu, você é. E esse corpo? Eu estou me sentindo diminuída.
Deus, Arthur! Olha o corpo dessa mulher! — Ok, ela me chamou de cu, então
eu posso chamá-la também, perfeito.
— É tudo que eu tenho feito no último mês — responde, me deixando
vermelha.
— Venha, querida, vou te apresentar o restante da casa.
— A mãe dele me puxa dos braços dele e me arrasta pela casa.
— Aqui embaixo é apenas a enorme sala de estar, a cozinha, um
lavabo e as varandas com redes. — Me mostra cômodo por cômodo e eu
encontro a maior cozinha que já vi na vida. Há um enorme fogão a lenha, que
destoa de todos os itens modernos e deixa ainda mais incrível a decoração.
— A senhora tem um extremo bom gosto, sua casa é magnífica! —
digo, encantada, enquanto subimos ao andar de cima.
Há outra sala com uma TV cinematográfica assim que terminamos de
subir os degraus. Depois ela me mostra quarto por quarto e para em um
último.
— Esse é o quarto de Arthur, você vai amar a vista — diz, satisfeita, e
abre a porta para eu perder o fôlego.
Há uma enorme cama de casal com dossel, um guarda-roupa pequeno
e uma mesa onde há um laptop e alguns papéis. Há outra porta que acredito
ser um banheiro. De frente para a cama há uma enorme porta que leva a uma
varandinha. A abro e suspiro ao vislumbrar a vista.
— É incrível! — digo, olhando uma enorme quantidade de árvores de
todos os tipos e algumas montanhas distantes. É absurdamente lindo!
— Sim. Bom, quando era casado, ele estava aqui todos os finais de
semana — conta e eu a observo. Ele não me disse sobre passar os finais de
semana aqui com Laís. Por sorte, minha querida e carinhosa sogra parece
entender o que meu olhar quer perguntar... — Sozinho. Laís só pisou nessa
casa umas três vezes, e mesmo assim foi rápido. Nunca passou um dia inteiro
ou uma noite aqui.
— Oh! Entendo.
— É a primeira vez que vejo meu filho feliz, Mariana. Estou certa de
que você é o motivo e sou imensamente grata por isso, querida. Você trouxe
a felicidade e vitalidade para meu filho. Não há como agradecer.
— Seu filho trouxe o mesmo para a minha vida. Agora consigo
entender de onde ele tirou tanta perfeição. Vocês são extremamente
carinhosos e acolhedores, estou feliz por estar aqui hoje e pretendo vir
sempre que possível. Esse lugar é de uma paz e tranquilidade, é como um
lugarzinho no céu — digo, sorrindo, e ela me abraça mais uma vez.
— Eu ficarei feliz por recebê-los sempre. Agora, vamos descer e
almoçar. Espero que vocês possam passar a noite aqui conosco.
— Eu não trouxe nada para dormir — informo.
— Há dezenas de blusas do Arthur no armário, tenho certeza de que
você não vai se importar de vesti-las. — Ela pisca um olho e eu fico como
um pimentão. Consigo vislumbrar um pouco da minha mãe nessa senhora.
Quando estamos saindo, Arthur me detém.
— Nós já vamos descer, mãe — ele diz e ela dá um sorriso maléfico.
Santo Deus! Eu quero cavar um buraco na terra e me enterrar.
— Seu quarto, hein... — brinco quando ficamos a sós.
— Nunca trouxe nenhuma namorada aqui, apenas você — fala, me
puxando.
— É lindo, Arthur! Deve ser fantástico dormir aqui e ouvir apenas o
som da natureza.
— Eles querem que passemos a noite, você quer? — pergunta,
colocando meus cabelos para trás.
— Se você quiser, eu quero, mas há uma condição.
— Qual?
— Nós vamos poder transar? Se a resposta for negativa, nós iremos
embora no final do dia — informo e ele sorri.
— Você tem dúvidas? — pergunta, beijando meu pescoço e
pressionando sua ereção em minha barriga.
— Acho que não. — Me beija calmamente e em seguida se afasta.
— Vamos almoçar, mocinha. Estou ansioso para passar a noite aqui.
— Pisca um olho e pega minha mão.
— Oh Deus! Arthur! Como? — Mari geme e diz palavras desconexas,
enquanto eu tento duramente calar sua boca.
— Eu vou ter que colocar uma mordaça em você? Quer que meus pais
escutem? — pergunto, tirando minha boca de sua incrível e doce boceta
rosada.
— Não. Apenas não pare.
— E não vou parar se você ficar caladinha, tudo bem? — digo e a
vejo balançar a cabeça freneticamente em concordância. Sou obrigado a
segurar a vontade de rir.
Essa mulher é um absurdo sexual completo. Realmente acredito que
ela seja ninfomaníaca, é a única resposta compreensível para esse apetite
voraz. Estou mais que disposto e realmente feliz por saciar essa vontade
incontrolável, minha e dela.
Ainda demoro um pouco tapando sua boca, mas, quando percebo que
estamos a salvo de seus gritos, retiro a mão de sua deliciosa boca e a uso para
me auxiliar.
Seguro sua bunda e uso meu polegar e indicador para ganhar um
pouco mais de abertura em sua entrada molhada. Pergunto-me se aquele
médico realmente quis dizer que Mari não tem lubrificação suficiente, sendo
que seu sabor está escorrendo por toda minha língua.
Eu poderia gozar apenas com seu gosto, uma especiaria
significativamente afrodisíaca.
Deslizo minha língua ponta a ponta e faço círculos certeiros num
ponto alto de seu clitóris. Suas mãos voam diretamente aos meus cabelos e
suas pernas começam a tremer descontroladamente. As abro mais, para
intensificar as sensações, e Mari grita, fazendo-me parar.
— Não... Eu estava...
— Shiu! Quero você caladinha — ordeno e ela força sua pequena
boceta para minha boca. Porra de mulher gostosa! Preciso estar dentro dela.
Minha boca volta a trabalhar firme no propósito e eu deslizo a mão
em meu pau, que está doendo por um alívio.
O envolvo nas mãos e me toco enquanto sinto o gosto do seu orgasmo
intenso, bebendo tudo que ela oferece e limpando-a com a minha boca. Seu
corpo ainda treme, sua barriga dá contrações involuntárias e agora sou eu
quem geme, sentindo meu próprio orgasmo crescer.
Noto seu corpo ficar paralisado e levanto minha cabeça para pegá-la
em flagrante, me observando.
— Oh, não pare! Continue — pede, ofegante.
— Você gosta de ver?
— Sim, é a cena mais quente que eu já vi, Arthur. Me deixe te ajudar?
— pede com um carinha de falsa puritana e eu realizo seu desejo. É algo que
ela tem insistido e eu tenho sido ruim em satisfazê-la. Não que eu não goste,
mas, porra, a última coisa que quero quando estou perto dela é ter sua boca
em meu pau. O desejo de me enterrar em sua boceta é muito mais voraz e
incontrolável, é uma necessidade.
— Você quer ajudar como? — provoco e ela dá um sorriso, mordendo
o canto do lábio inferior.
— Eu quero você em pé — pede e eu me levanto. Seus olhos
passeiam pelo meu corpo e ela solta um suspiro que me faz pulsar.
Em um salto de uma garota travessa, ela desce da cama e se aproxima
como uma felina prestes a atacar. Com as mãos travadas em punhos ao lado
do corpo, uso todo meu autocontrole quando sua boca desliza em meu
pescoço e percorre meu peitoral lentamente. Quando chega aos gomos da
minha barriga, ela os morde, um por um, intercalando com beijos molhados.
E, quando chega à minha virilha, vejo seus joelhos alcançarem o chão e seu
sorriso perverso enquanto olha meu rosto contorcido de prazer. Mocinha
malvada!
Suas mãos envolvem em torno do meu membro e eu fecho os olhos
com força quando sua língua traça parte da minha extensão. Quando ela
envolve a ponta em sua deliciosa boca, agarro seus cabelos.
— Maldição, Mariana!
— Shiu, você quer que seus pais nos ouçam? Vou ter que colocar uma
mordaça em você? — provoca, forçando uma cara de brava. O jogo inverteu
fodidamente.
Ela não consegue levá-lo por inteiro em sua boca, mas trabalha
fodidamente bem em me deixar desesperado. Ela arranha minhas coxas e
massageia minhas bolas doloridas. Empurro, fodendo-a e observando como
ela se sente bem fazendo isso. Santo Deus, eu amo a devassidão dessa
mulher!
Ela o morde levemente e eu vejo seus dedos deslizarem entre suas
pernas. Isso me leva ao limite.
— Eu vou gozar, Mari — informo, como um cavalheiro. Não estou
certo se ela vai querer que eu goze em sua boca.
— Eu não estou te impedindo — diz. — Eu quero que você se toque e
goze em minha boca, pode fazer isso? — pede, gemendo, e eu seguro seu
cabelo mais forte, levando sua cabeça para trás. O toco com força e precisão,
observando a cara desejosa da minha mulher. Porra, ela anseia por isso mais
do que eu mesmo!
Quando começo a gozar, sua boca voa diretamente em minha
extensão e ela toma tudo, dando-me a visão mais quente. Levo minhas mãos
aos meus próprios cabelos e os seguro, tomado por uma onda de adrenalina e
luxúria quando a vejo limpar o canto da boca e chupar seu dedo indicador.
Maldição, essa mulher é o diabo num corpo de anjo!
— Porra, Mariana... Fodidamente bom — digo, encostando-me na
parede, sem conseguir ter muito controle sobre minhas pernas.
A vejo ficar de pé e caminhar até o móvel onde há uma jarra de água
e um copo. Ela bebe, deixando um pouco escorrer pelo seu corpo, e sorri
diabolicamente.
— Muito gostoso, Arthur. Você é totalmente gostoso — diz,
apertando os seios, e eu sinto que essa mulher vai destruir minha sanidade.
Ela tem um contato direto com meu pau, o maldito já está pronto para invadi-
la.
Minhas pernas ganham vida e eu a pego no colo, jogando-a na cama.
Como um ímã, eu estou dentro dela, fodendo-a sem reservas e esquecendo
por completo os limites de onde estamos.
Eu morreria enterrado nessa mulher...
Leio e Júlia toma o cartão da minha mão. Eu estou rindo quando Laís
surge na recepção e me encara friamente, com os olhos vacilando entre os
meus e o buquê. Vejo seu rosto ser tomado por um vermelho-sangue e ela me
empurra com o ombro quando passa feito um furacão rumo à sala de Arthur.
Dessa vez decido não a deter. Não posso deixar que a vida pessoal
interfira na profissional. Acho que ganhei um pouco de maturidade nos
últimos dias ou, caso contrário, já estaria a puxando pelos cabelos.
Carla, como boa funcionária, faz o serviço de detê-la. Viu? Eu
realmente não preciso fazer isso quando há duas outras pessoas focadas em
impedi-la.
— Saia da minha frente! — Laís grita enquanto Carla a cerca. Eu e
Júlia observamos a cena.
— Eu preciso apresentá-la, senhorita. Não sei se o senhor Arthur vai
poder recebê-la agora.
— É meu marido! — Laís grita furiosamente.
— Desculpe, senhorita, mas não é a informação que possuímos —
Carla rebate. — Queira aguardar, por favor. Vou ver se ele pode recebê-la. —
Laís, com sua ira, a joga longe, e entra na sala de Arthur batendo a porta atrás
de si.
— Cadela! — Carla grita e eu estou embasbacada com a audácia
dessa mulher.
— Você não vai fazer nada? — Júlia pergunta, me olhando como se
eu fosse uma alienígena.
— Não. Arthur vai saber resolver. Só vou intervir caso ela desrespeite
nosso trabalho — informo, indo até a cozinha colocar minhas flores no jarro
com água.
Minha manhã, que estava gloriosamente maravilhosa, transformou-se
em tensão. Estou curiosa para saber do que se trata essa “visita” da ex-
mulher-frígida-cadela.
Quando um furacão entra brutalmente pela porta, não preciso nem
olhar para saber quem é. Laís. Ela é a única pessoa que não tem um pingo de
educação e respeito pelo meu local de trabalho.
— Tudo bem, Laís, diga a que veio — falo, observando-a sentar-se
diante de mim.
— Eu vim para surpreendê-lo. Estou aqui por todos os motivos que
você jamais imaginou — diz confiante e eu até paro de digitar em meu
notebook para lhe dar atenção.
— Surpreenda-me, então. Sou todo ouvidos.
— O divórcio saiu e eu assinei. Vim apenas entregá-lo pessoalmente
— fala, realmente me surpreendendo.
— Excelente, mas não era necessário. Eu pago um advogado para
fazer exatamente isso — informo.
— Eu fiz questão. Eu ainda amo você, Arthur, percebi que segurar o
divórcio e ir para o litígio iria desgastar mais a relação. Se você quer um
documento que o livre do compromisso matrimonial, tudo bem, aqui está.
Mas eu não vou desistir de você. Eu aceito não sermos mais casados, só não
aceito te perder de vez — diz com uma confiança assustadora.
— Laís, eu não entendo. Quando eu informei que estaríamos nos
separando, você aceitou e até mesmo concordou. Diga-me o motivo pelo qual
você está insistindo nessa história novamente. — Estou frustrado.
— Há algo realmente verdadeiro na teoria de que a gente só dá valor
quando perde. Eu vi o homem que perdi, sinto muito por isso, sinto muito por
não ter me dedicado mais à nossa união, sinto muito por não ter lhe dado
filhos quando quis. Eu acredito que podemos recomeçar. Foram seis anos de
relacionamento. Nós podemos recomeçar, eu sei que sim. Podemos começar
do zero, começar por um jantar essa noite. — Era tudo que eu precisava para
o dia de hoje.
— Não, Laís. Eu já estou em um relacionamento.
— Mas só tem um mês que nos separamos, não é nada sério. Ela é só
uma menina novinha que tem atributos físicos atrativos, eu duvido que ela vá
te dar um relacionamento sólido e sério como o que tivemos. Nós ficamos um
bom tempo sem sexo, você só está com ela porque, provavelmente, está tendo
isso fácil demais. Eu posso te dar sexo também, muito.
— Não subestime minha capacidade de arrumar uma namorada. Eu
não sou o tipo que se ilude por sexo, Laís. Embora esteja realmente tendo
muito sexo com a minha namorada, não é o sexo que me move. Se fosse,
você não conseguiria andar, tamanho o chifre que estaria habitando em sua
cabeça. Agora, vamos direto ao ponto, eu lhe agradeço imensamente por ter
assinado o divórcio, foi fácil e rápido, sem estresses desnecessários para
ambos. Você é uma mulher linda e atraente, eu torço pela sua felicidade, não
a odeio, Laís. A estimo pelos seis anos que vivemos juntos. Eu espero que
você possa arrumar um cara legal e recomeçar sua vida ao lado dele — digo e
ela começa a chorar. Eu estou farto dessas cenas.
— Por favor, uma última chance — implora, deitando sua cabeça na
mesa.
— Nós tivemos dezenas delas, nós tentamos muito, Laís, apenas
acabou — ressalto e ela se levanta. Caminha de um lado para o outro e, de
repente, não há mais lágrimas em seus olhos. Isso é dissimulação.
— Tudo bem. O divórcio está aí, mas isso não significa que eu darei
sossego a você, Arthur, isso está longe de acontecer. Eu não vou deixar você
ficar com ela tão facilmente! — grita.
— É exatamente por isso que não podemos ter outra chance. Você age
como uma criança mimada, Laís. Você não sabe perder. Deveria saber, já que
o fracasso do casamento começou por sua culpa. Chega! Nós poderíamos ter
um relacionamento amigável, mas vejo que não há possibilidades, você
apenas me afasta mais e mais a cada vez que abre a boca. Suas ameaças não
afetam minha vida em absolutamente nada, elas servem como um
combustível para eu perder o respeito por você. Queira retirar-se, por
gentileza, pois eu preciso trabalhar — peço.
Levanto-me e caminho até a porta, a abro e Laís me agarra pela
gravata.
— Eu te amo. Se você não vai ser feliz comigo, não será com mais
ninguém — avisa e sai.
Caminho até as meninas e noto a tensão estampada no rosto de Mari.
— Júlia, ligue para a recepção do prédio e proíba a entrada de Laís
terminantemente. Mandarei um e-mail confirmando, caso for necessário —
peço.
— Sim, senhor Arthur.
— Mariana, podemos ver a agenda? — pergunto à minha mocinha e
noto-a tentando lutar para se manter profissional.
— Sim, senhor Arthur, nós podemos — responde e eu rio, sem
conseguir controlar, ganhando o olhar de Carla e Júlia.
— Senhor Arthur, é estranho agora... — explico, erguendo as mãos
enquanto Mari se levanta e caminha em direção à minha sala.
Essa bunda na minha frente é uma boa distração. É triste que ela não
tenha vindo com a roupa que eu dei para sua volta ao trabalho ou qualquer
fodida saia que facilitaria meu acesso nesse momento.
Fecho a porta atrás de nós e a observo sentar-se toda séria. Uma
verdadeira assistente pessoal. Orgulho-me da sua conduta madura, porém um
pouco exagerada.
— Não há nada na agenda, na verdade, hoje é você quem deve me
atualizar — diz e eu a entrego duas folhas impressas com meus
compromissos futuros. Ela os analisa, item por item, e eu apenas observo
seus olhos se moverem. — Eu sei que não é o local ideal e que aqui somos
patrão e funcionária, mas eu não vou aguentar até a noite para descobrir o
motivo, a causa ou a circunstância da visita de Laís — fala sem me encarar,
fingindo concentração total.
— Você leu algum dos compromissos? — pergunto, segurando o riso.
— Sim, eu li, inclusive li que teremos uma convenção em Itaipava
mês que vem. Já adianto que dormiremos no mesmo quarto e teremos sexo
excessivamente. Agora pode me dizer? — pede com toda sua autenticidade
cativante.
— Claro. Ela veio me entregar o divórcio. Agora somos oficialmente
divorciados — digo e ela arqueia a sobrancelha em descrença.
— Isso é sério? O que a fez mudar de opinião? — pergunta,
brincando com a caneta.
— Eu não faço ideia, mas estou imensamente feliz por isso. Já tenho
alguns planos em mente — digo e ela solta um suspiro.
— Graças a Deus estamos livres dessa mulher — fala, me fazendo
sorrir.
— Agora, voltando ao trabalho, eu preciso que anote aí, quinta-feira
há uma reunião e eu preciso que me acompanhe. — Ela sorri e eu suspiro.
— Tudo bem, vou passar para a agenda e fazer as devidas ressalvas. É
só isso, senhor? — ela pergunta, fazendo sua anotação.
— Sim, apenas isso, senhorita.
— Bom, eu posso fazer apenas uma pergunta importante? Vale
ressaltar, diante das circunstâncias em que nos encontramos, que o NÃO eu
já tenho, então qualquer outra resposta que eu obtiver é lucro — diz, me
encarando.
— Claro. Fique à vontade para fazer quaisquer perguntas.
— Nós podemos transar? Eu estou realmente tensa. Ver Laís causou
quase um dano cerebral em mim, achei que iria infartar ou ter um AVC. A
situação está complexa de verdade. Talvez eu tenha problemas cardíacos.
Estou tendo palpitações e lutando contra um desmaio repentino. É
incongruente passar por essas provações celestiais — diz, gastando seu
português em excesso.
— Eu deveria levá-la a uma unidade de pronto atendimento? —
pergunto, tentando soar sério e preocupado. Aprendi em poucas semanas que
a melhor maneira de lidar com a loucura é fingindo ser louco. O mais
intrigante é que Mariana fala realmente séria, não há um único traço de um
sorriso ou algo do tipo. Talvez o caso dela seja pior do que eu imagino.
— Não é necessário. Aliás, o melhor lugar a ser levada seria para um
motel. Eu acredito na cura pelo sexo. Há inúmeros benefícios em transar
muito, como: sexo alivia as crises de enxaqueca. Faço aqui uma ressalva.
Quando seu parceiro reclamar, dizendo que não quer sexo porque está com
dor de cabeça, reverta a desculpa a favor da saúde dele, já que sexo melhora
significativamente as crises de enxaqueca e dores fortes de cabeça. Melhora
também o aspecto da pele, alivia as cólicas da TPM, melhora o sono, por isso
durmo igual pedra depois de uma maratona sexual com você. Diminui o
estresse, eu me tornei uma pessoa pacífica, nem bati na Laís. Diminui os
riscos de infarto, queima calorias, aumenta a imunidade. Então, como o foco
do meu problema é infarto, sexo é superindicado — ela explica, pontuando
item por item pausadamente. Nós estamos tendo nossa própria reunião
sexual, é incrível tratar de sexo como um “negócio”, estou admirado com o
poder de persuasão dessa mulher. Ela deveria virar sócia majoritária da
multinacional, seria extremamente bem-sucedida se conduzisse as reuniões
dessa maneira sagaz.
— Entendo — respondo como se estivesse fazendo um acordo
processual. — Essas teorias são significativas, de onde você conseguiu
adquirir tanta sabedoria sexual? Não vai dizer que foi com os mais velhos....
— Posso dizer que certamente eles contribuíram muito para os
estudos científicos. Cientistas afirmam que os antigos faziam sexo
exageradamente, o fato de não ter TV em casa ajudava muito, tanto que eles
tinham, em média, cerca de 15 a 20 filhos. Eles praticavam sexo o bastante e
até mesmo viviam muito mais tempo que as pessoas de hoje em dia. Há no
mundo pessoas que possuem mais de cem anos de idade, obviamente esses
seres místicos fodiam em todos os momentos livres. Sexo é longevidade, meu
querido Arthur. Por isso, atualmente, tantos jovens morrem, apenas por não
praticarem o suficiente e não praticarem da forma correta. Há ao menos 100
jovens morrendo de infarto diariamente — explica com sua astúcia e
inteligência. Eu amo essa mente brilhante.
— 100 jovens? De onde tirou esse dado? — pergunto apenas para
prolongar esse debate interessantíssimo.
— Eu realmente não tirei de lugar algum, apenas chutei um número
que julgo alto. 100 é muito, não? — pergunta, franzindo a testa.
— É, depende da sua análise. É só para BH, América do Sul ou
mundialmente falando? — pergunto.
— Isso não vem ao caso, mas caso queira realmente saber com mais
precisão, nós podemos sempre contar com a ajuda do Google.
— Claro, como eu não pensei nisso? Você é um gênio, meu amor. Eu
te amo. A propósito, você pretende ter acima de 15 filhos? — pergunto e ela
me encara, séria.
— Eu não sei se sou capaz de educar uma única criança, Arthur,
imagina 15? Estou sentindo fisgadas no peito e a sala parece estar rodando,
só de imaginar. Eu vou morrer diante de você.
— Não pode ser gases? Sabe, quando eles ficam muito tempo presos,
pode parecer infarto ou outras doenças fatais — digo.
— Não é, eu estou inteiramente abalada emocionalmente. Ver Laís
causou um impacto profundo em meu ser.
— Bom, então você acredita que a única chance de ser curada é
fazendo sexo? — questiono e ela passa as mãos em seu belo rosto.
— É sério, Arthur.
— Tudo bem, eu não estou dizendo que não é sério. E não estou
negando sexo a você. Se a única maneira de a manter viva é fazendo sexo,
nós estamos indo fazer, meu amor. Eu zelo pelo seu bem-estar e prezo pela
longevidade. Vida longa à minha rainha — digo, mas ela se mantém séria. De
onde surgiu essa mulher? Deus do céu, ela é linda e completamente
perturbada.
— Você pode ficar de pé? — pergunta, se pondo de pé, e eu faço o
que ela pede.
— Eu estou de pé.
— Ok, então eu estou indo até você, tudo bem?
— Claro, só vem — falo, sorrindo, e ela caminha até mim.
— Eu posso puxá-lo pela gravata e beijá-lo?
— Vai ser assim? Você vai ficar perguntando tudo? Será que eu vou
ter que perguntar se devo levar meu pau mais para a direita ou mais para a
esquerda? Se você quer raso ou fundo? Devagar ou rápido?
— Pode ser interessante para mantermos um índice de precisão
sexual. Nós podemos fazer uma análise profunda do quão rápido você
consegue me fazer gozar e de quantos minutos você consegue segurar seu
próprio orgasmo e... — Ela é interrompida por uma batida na porta. Eu tento
não rir quando ela corre e se senta diante de mim, como se absolutamente
nada estivesse acontecendo.
— Entre.
— Senhor Arthur, seu advogado está aqui — Júlia informa.
— Tudo bem, diga para aguardar. — Ela se vai e eu volto o olhar para
a minha mocinha. — Bom, parece que teremos que adiar um pouco esse sexo
teórico.
— Minha vida está em risco, mas acho que consigo sobreviver até lá
— diz, se levantando com um sorrisinho safado. — Foi bom discutirmos
sobre sexo, senhor Arthur, tenha um excelente dia! Eu amei as flores e eu
amo você. Estou ansiosa para ser fodida por você — fala, me mandando um
beijo ao sair.
Como trabalhar a partir de agora? Como encarar uma reunião chata
com meu advogado? A reunião com minha Mari estava muito mais
interessante.
Meus dias não serão mais os mesmos nessa empresa, estou certo
disso.
Incrivelmente, nessa linda terça-feira, eu acordo primeiro que meu
Tutu. Estou começando a considerar a possibilidade de entrar no crossfit, em
busca de um melhor preparo físico para encarar esse relacionamento.
Meu corpo está deliciosamente dolorido por todas as coisas sujas e
depravadas que fizemos durante grande parte da noite anterior. Nós fizemos
algo inédito e incrível, que deveria ter sido filmado. Arthur simplesmente me
mandou “plantar bananeira” e me chupou dessa maneira, enquanto eu
mantive a boca ocupada em seu pau, quando enfim gozei, ele se deitou no
chão e eu virei um mortal para trás, quase caindo sobre seu incrível pau na
posição cowgirl invertida. Definitivamente, eu deveria me tornar atleta
olímpica após essa cena incrível. Depois desse episódio demoramos pelo
menos uns dez minutos rindo, como dois malucos, rolando pelo chão, e então
ele me pegou de quatro e isso ocasionou em minha mãe batendo na porta uma
hora da manhã e o porteiro interfonando com reclamações dos vizinhos.
Talvez seja o momento de mudarmos para um sítio afastado da cidade, longe
da civilização.
O observo envolvido num sono profundo, tão bonito. Seu rosto
relaxado, suas bochechas levemente rosadas e um pouco encobertas pela
barba por fazer, seus lábios fechados mostram o quão bem esculpidos são, há
uma pequena pintinha abaixo de sua boca, mais precisamente do lado direito,
que dá todo um charme à sua aparência incrível. Até as sobrancelhas e os
cílios dele são perfeitos, e o nariz? Parece ser fruto de uma cirurgia plástica
perfeita. Esse homem é fodidamente lindo!
Levo minha mão em seu peitoral firme e contorno suas tatuagens com
o dedo, isso é algo que eu nunca imaginei que ele podia possuir. Arthur ser
tatuado foi uma das coisas mais surpreendentes que descobri.
Continuo minha exploração e juro que é sem intensões sexuais. É
apenas para explorar mais do homem que me tem nas mãos, que está
infiltrado em minha mente e meu coração.
Desço pelos seis gomos extremamente rijos de sua barriga e sorrio
com pura admiração. Gosto do quão forte ele é fisicamente. Não há um
exagero de músculos, mas seu corpo é altamente bem definido e atraente. Até
sem forçar dá para ver algumas veias saltadas em seus braços. Eu gostaria de
entender como Laís deu um mole de perder esse homem. Quem, em sã
consciência, não iria valorizar Arthur Albuquerque? O homem é
excessivamente bonito, gostoso, tem um pau digno do Oscar, é absurdamente
atencioso, carinhoso e zeloso. É quente como um inferno, bem-sucedido e
fode como um profissional do sexo. É inadmissível não aproveitar dessa
perfeição. Ela deve ter sérios problemas mentais. Deus, o cara queria ter um
filho e ela apenas recusou! Nunca vou entender, na verdade, há uma parte
realmente excelente em tudo isso: Arthur agora é meu! Talvez eu devesse
agradecê-la pelo resto da vida. Eu saberei ser tudo o que ele precisa e saberei
aproveitar cada segundo ao lado dele.
Traço levemente o V que leva até a felicidade completa, mais
conhecida como pau, e sua mão toma a minha.
— Peguei você! — diz com a voz rouca pelo sono e um sorriso
preguiçoso.
— Só estava apreciando meu namorado quente.
— Eu faço isso todos os dias com a minha namorada quente — fala,
me puxando para um abraço. — Hum, eu ficaria aqui o dia todo assim. Tem
certeza de que é apenas terça-feira?
— Eu tenho, infelizmente. Bom, hoje é meu dia de preparar o café da
manhã para você — informo, me desvencilhando de seu aperto, e me levanto,
lutando contra a vontade de passar o dia aqui.
— Você deveria fazer o uso de pijamas, camisolas e afins — reclama
da minha nudez matinal, fazendo-me sorrir.
— Você acha mesmo? — questiono, apertando meus seios.
— Não, eu não acho. — Sorri e eu pego uma blusa dele no guarda-
roupa, visto e faço um desfile forçado pelo quarto, nada sexy, apenas
ridículo.
— Melhorou?
— Fica mais quente ainda usando uma camisa minha. Eu sobreviverei
a essa tentação matinal, minha ginasta linda. — Sorri.
— Eu vou me inscrever na categoria acrobacias sexuais nos Jogos
Olímpicos. Você será meu treinador — digo e caminho até a cozinha.
Preparo uma vitamina de banana com morango, faço algumas torradas
e pego um patê na geladeira. Há ao menos meio bolo de prestígio, e eu o
pego também, é irresistível. Pego uma jarra de suco e alguns croissants que
compramos ontem. Coloco tudo sobre a mesa e sorrio satisfeita com a minha
arrumação. É incrível que agora eu tenha alguém diariamente para
compartilhar o café da manhã. Antes eu comia apenas uma fruta, totalmente
desmotivada pela solidão.
Arthur surge semipronto em um dos seus ternos habituais, deixando
de fora a gravata e o casaco.
— Hum, eu poderia me acostumar com esse tratamento — diz,
sorrindo.
— Você já se deu conta de que estamos praticamente morando
juntos? — pergunto, me acomodando ao lado dele.
— Sim. Talvez devêssemos fazer uma obra, quebrar a parede que
separa nossos apartamentos e transformá-los em um só — fala, pegando uma
fatia do bolo de prestígio.
— Não. Se um dia formos realmente morar juntos, meu voto é para
mudarmos para uma casa espaçosa, longe de vizinhos, num condomínio
tranquilo e levemente isolado da cidade grande.
— Nós não somos muito silenciosos, não é? — pergunta, rindo.
— Não — respondo.
— Na verdade, você estava bem escandalosa essa noite, eu não sei
como encarar dona Ana e seu pai agora — diz, pensativo.
— O que sugere? Uma mordaça ou abstenção sexual?
— Mordaça, certamente — responde, rindo. — Então quer dizer que
hoje a senhorita irá almoçar com dona Lúcia?
— Sim. Sua mãe é uma fofa, Arthur.
— Ela está perdidamente encantada por você, Mari. Ela sempre quis
ter uma nora — explica.
— Ela teve uma.
— Você sabe que não. Você é a primeira nora que dona Lúcia tem e
que realmente vale a pena. É muito importante para mim tudo o que você está
fazendo e essa proximidade com ela, Mari. O carinho que você demonstrou
com meus pais e Alice, me encantou ainda mais.
— Não foi forçado. É apenas meu jeito de tratar as pessoas. Sua mãe
é um doce, não poderia tratá-la de maneira diferente — explico. — Fora que
a comida dela... Deus, Arthur, eu comeria diariamente e engordaria uns 30
quilos! Sua mãe tem mãos de fada para comida.
— Quero que meus pais conheçam os seus. O que acha de passarmos
o final de semana lá? Há quartos de hóspedes, onde eles podem ficar, e
podemos levar roupas de banho para usufruirmos da piscina com mais
tranquilidade.
— É incrível! Vou falar com meus pais — respondo, empolgada. —
Bom, agora eu preciso ir. Preciso me arrumar para o trabalho, pois se eu
chegar atrasada, meu chefe me comerá viva.
— Eu vou te comer chegando cedo ou tarde. Eu sempre estou
disposto a comê-la. Você vai comigo? — pergunta.
— Não. Como vou almoçar no shopping, irei com meu carro —
informo, lhe dando um selinho, e ele me puxa para um beijo mais profundo.
Não é normal esse tipo de relação que estamos tendo.
Um beijo e eu quero tê-lo dentro de mim. É explosivo.
— Acho que podemos nos atrasar um pouco — ele diz, me pegando
no colo e me levando para a cama. — Eu quero você tão insanamente, Mari.
— Eu também quero você, agora e em todos os momentos — digo e
em seguida fazemos amor. Sim, ele me ama delicadamente, esquecendo o
mundo e as obrigações lá fora. Ele chega meia hora atrasado e eu chego vinte
minutos depois.
“Mari, torcemos pela sua melhora, volte logo! Trabalhar sem você é
extremamente sem graça. Beijos carinhosos, Jú e Carla.”
O último me faz rir e logo estou chorando de dor. PAU NO MEU CU!
EU VOU MATAR QUEM ME ESPANCOU!
— Arthur enviou os dois? — minha mãe pergunta, sorrindo.
— Não, apenas um. O outro é das meninas do trabalho — respondo.
— Agora as sacolas!
Ela retira três caixas de sapatos e me entrega.
Há apenas três sandálias idênticas a que eu estava usando ontem e tive
que jogar fora hoje. Uma branca, uma rosa e uma preta.
— Oh, Deus! — Tapo minha boca com a mão, completamente
chocada. — Estou começando a achar que seu pai não me ama como deveria.
Ele nunca fez essas coisas para mim — minha mãe fala.
— Fiz sim, não excessivamente, mas fiz. Te dei um apartamento
quase de frente para o Central Park, cadela! — ele responde, irado.
— Cadela é a senhora sua mãe, que Deus a tenha nas profundezas! —
Minha mãe ri e pega algo em uma das sacolas e me entrega, é outro cartão.
Bom que o relacionamento deles é super saudável de se ver. Pobre vovó, que
Deus a tenha!
“Eu disse que te daria uma de cada cor, acontece que só havia essas três
cores. Amo-te, mocinha. Você é meu sol.”
Após dez dias de molho, sem ir ao trabalho, sem sair de casa, sem
fazer sexo quente, apenas amorzinho delicadinho, enfim estou pronta para
uma happy hour com Júlia, Duda e Carla.
É a primeira vez que saio à noite sem Arthur e não sei descrever como
me sinto. Enquanto caminho rumo ao barzinho, sinto como se estivesse
faltando algo; é apenas sua mão que não está entrelaçada à minha, e isso está
fazendo com que eu me sinta altamente vazia.
É exatamente esse o preço que se paga ao adquirir uma rotina louca
como a que temos vivido. Pergunto-me diariamente o que está acontecendo
conosco. Às vezes é um pouco assustador perceber que já não consigo ficar
sem ele nem para fazer coisas simples, como ir a um bar beber com as
amigas. Ele me mudou profundamente sem fazer o menor esforço.
Passando em meio a dezenas de mesas rodeadas de homens bem-
apessoados, eis que encontro Jú e Duda quase cobertas por uma torre de
chope. Quando elas me veem, me encaram seriamente de cima a baixo e as
vejo franzir as respectivas testas.
— Olá! Estou cagada? — pergunto, me acomodando em uma cadeira.
— Cadê o look “night com as amigas”? — Duda pergunta.
— Não posso usar salto. As costelas...
— E o short curto? — É a vez de Jú perguntar.
— Optei por um vestido apenas para transar no carro quando Arthur
me buscar. Sabe que vestido é mais fácil, né?! — explico, rindo.
— Ok, eu sobrevivi para ver Mariana com um vestidinho angelical de
tia e uma sapatilha! Mereço um brinde! — Duda diz, enchendo um copo para
mim, e em seguida brindamos ao meu novo estilo.
— E essa postura imponente, Mariana?
— É apenas por causa das costelas, doem significativamente. Aí sou
obrigada a sentar como mocinha — explico. — Vocês vão ficar me avaliando
durante a noite toda? — pergunto, rindo.
— Não. Eu esperei dias para saber da sua vida sexual com Arthur,
apenas desembuche, para que eu possa fantasiar com nosso chefe! — Júlia
diz e eu taco um pacotinho de sal na cara dela.
— Ele não é Lucas ou Dudu. Ele é meu e não quero ninguém
fantasiando sexo com ele — digo, rindo. — Cadê Carla?
— Não pôde vir. Brigou com o namorado, para variar.
— Entendo. Bom, então vamos lá. Cada uma tem direito a duas
perguntas sobre Arthur — falo na brincadeira, mas elas levam realmente a
sério.
— P, M, G OU GG? — Júlia pergunta.
— EX — digo e ela faz um “O” gigante com a boca, o que me faz rir.
— Ele é bruto ou é o tipo lovezinho no sexo? — Júlia mais uma vez...
Eu devo matá-la?
— Bruto. Bastante bruto. Na nossa primeira vez acabei no hospital —
conto.
— Como? — ela berra.
— Ele é grande e bruto, eu sou pequena, logo deu muito ruim. Minha
amada vagina não aguentou a pressão. — Ela gargalha.
— Oh, Deus, Mari, isso é realmente verdade? — ela pergunta.
— A mais pura verdade!
— Ok, minha vez. Você o ama, Mari? — Duda pergunta.
— Eu o amo, absurdamente e enlouquecidamente — respondo e elas
suspiram.
— Uau, precisamos de mais um brinde antes da próxima pergunta. —
Duda ergue seu copo e brindamos mais uma vez, ao amor!
— Vamos para a última, para que possamos falar de homens alheios e
de vocês. Estou desatualizada dos babados.
— Bom, já que você ama Arthur, será que eu poderia dar uns pegas
no Dudu? — Duda pergunta e eu faço um silêncio mortal, apenas para
torturá-la.
— Por que o Dudu? — pergunto.
— Por quê? Ele é um gostoso! Você já falou tanto daquele pau, que
eu preciso prová-lo!
— Ele é todo seu, amiguinha. Um brinde! — grito, rindo, e brindamos
dessa vez aos velhos amigos coloridos.
E é exatamente no terceiro brinde que a cerveja bate errado em meu
estômago e eu tenho que sair correndo para o banheiro.
Não me lembro de ter vomitado com tanta intensidade em toda minha
vida. Por sorte, sou uma mulher prevenida e carrego em minha bolsinha uma
escova de dentes pequena, de viagem, e um mini creme dental. Virou
costume fazer isso desde quando comecei a trabalhar.
Escovo meus dentes e lavo meu rosto, em busca de controlar a mim
mesma. Quando levanto a cabeça, preciso me apoiar na pia, devido a uma
leve tonteira. Óbvio que eu não deveria misturar álcool com medicação!
Francamente, até uma criança sabe disso. Sinto-me como uma tola completa.
Respiro e inspiro, inspiro e respiro... Faço isso repetidas vezes, antes
de me sentir segura para sair do banheiro.
— Você está bem? — Júlia pergunta quando me acomodo em minha
cadeira.
— Sim. Eu quis esquecer as medicações, meu estômago apenas
resolveu me lembrar — explico. — Sem álcool para mim esta noite. Vou
pedir um suco natural.
— Mari, seus olhos ainda estão levemente amarelados — Duda diz.
— Sim, na verdade, eles não estão levemente, estão completamente.
Tive que passar corretivo e base para esconder um pouco. Dá para ver até um
pouco de roxo ainda.
— Você está certa de que foi Laís realmente? — Jú pergunta.
— Eu estou. Basta apenas confirmarem isso logo, para que eu possa
ter minhas mãos sobre ela.
— Apenas me leve, não quero perder essa cena por nada! — diz,
rindo.
Nós ficamos mais duas horas conversando, e, na saída, Duda fica
comigo na calçada, aguardando Arthur me buscar.
— Não me acostumei a essa nova Mari ainda — ela fala, rindo.
— Como? — questiono.
— Você está tão madura, tão sóbria. É estranho. Eu perdi minha
parceira no crime — explica, me abraçando.
— Só no crime você me perdeu, Dudinha.
— Ele é tão fantástico assim? Você saiu com centenas de homens
gatos, sarados, tops. Você pegou o Mister Minas Gerais, você fez a limpa no
Carnaval de Ouro Preto, pegou chinês, britânico, angolano. O que há nesse
homem? — pergunta e eu rio.
— Ele é homem, apenas isso. Homem com H muito maiúsculo. Ele é
tão certo sobre todas as coisas, Duda. É envolvente sem ao menos forçar.
Quando você percebe, está tão envolvida e apaixonada, que não consegue
mais lutar contra o sentimento. Arthur me prende sem fazer força, me instiga,
me excita naturalmente sem nem mesmo precisar me tocar. Envolve-me
numa névoa de paixão avassaladora. É algo completamente diferente de tudo.
— Apenas exijo ser madrinha do casamento — ela diz e eu vejo Dudu
se aproximar.
Ele me puxa pela cintura e me dá um mega beijo no rosto. Em seguida
se vira para Duda e vejo uma troca de olhares nunca vista antes.
— Olá, Maria Eduarda.
— Olá, Eduardo! — ela responde, sorridente.
— Ok, isso é estranho! — digo.
— Você deixou! — Duda se defende.
— Está tudo bem, só é estranho realmente — falo, rindo, e Eduardo
pisca um olho. Santo Deus, isso é mais que estranho! Sou salva pela buzina
do carro de Arthur. Despeço-me dos dois e entro rapidamente no veículo.
— Aquele cara não é aquele tal de Eduardo? — Arthur pergunta,
sério.
— Exatamente, e antes que comece, ele não estava com a gente. Ele
acabou de chegar e está com a Duda. Parece que vai rolar um romance ou
apenas uma pentada, não sei ao certo — explico.
— Eu espero que ele não se aproxime de você novamente.
— Hum... ciumento. Gosto disso. — Sorrio, apertando sua coxa
enquanto ele dirige.
— Você está bem, amor? Estou te achando um pouco abatida.
— Passei mal. Bebi cerveja e não desceu muito bem. A medicação
está me ajudando de um lado e ferrando de outro — explico e noto-o pegar
um caminho diferente. — Onde estamos indo?
— Surpresa.
— Hum, surpreenda-me se for capaz — brinco e ele sorri.
— Linda! — Fico o resto do trajeto observando-o dirigir.
DIAS DEPOIS
Estou sentado na sala de reuniões, puto pra caralho por não estar
acompanhando minha mulher nos exames. Felizmente, ela já voltou a
trabalhar, e apenas hoje tirou o início da manhã para ir ao médico.
Brincando com a caneta sobre a mesa, a ideia de abrir meu próprio
escritório se torna cada vez mais fascinante e necessária. Para ser sincero, eu
posterguei esse projeto por comodismo e por ter uma assistente pessoal
intrigante o bastante. Era cômodo ficar aqui e de quebra ganhar uma bela
visão. Agora há coisas que precisam ser analisadas friamente.
Tudo mudou de proporção. Nós teremos um filho e isso me leva a um
novo planejamento. Quero construir um futuro pensando totalmente em meus
filhos e dar toda uma base familiar para eles e Mari. Ter meu próprio
escritório e trabalhar para empresas diversas me levará a um novo patamar,
algo grandioso, e me ajudará a ter a disponibilidade que Mari vai precisar. Eu
falei sério quando disse que estarei ao lado dela, quero fazer parte de cada
momento da gravidez.
Desde domingo estou envolvido na busca pela casa perfeita, sem que
Mari saiba. Quero algo grande, espaçoso, arejado e seguro para nossa família.
Quero espaço para um playground, espaço para relaxar, área de lazer e,
principalmente, privacidade para fazer minha mocinha gritar meu nome.
Mariana está incontrolável sexualmente, perdendo a noção total, e estou
considerando tomar multivitamínicos para aguentar a pressão, além de
comprar uma mordaça, algemas e objetos de dominação. Amarrá-la agora
parece necessário.
Ainda não sei se é certo transar feito um coelho quando está
carregando um bebê em seu ventre, mas ela está em um nível que, se eu fizer
qualquer objeção a isso, serei capado. Estou ansioso pela confirmação, para
que possamos marcar uma consulta com algum obstetra, assim conseguirei
tirar todas as dúvidas e possivelmente irei à busca de um terapeuta sexual.
DIAS DEPOIS
Quem, em sã consciência, consegue se manter centrado numa sessão
de yoga? Estou aqui, juntamente com mais umas oito mulheres, que parecem
felizes e relaxadas, enquanto estou tensa e desesperada. Dá uma agonia
manter os olhos fechados em meio a pessoas desconhecidas. E essa
musiquinha parece feita mais para sexo tântrico do que para yoga. O
indicador e o polegar colados só conseguem me remeter à “anal” e esse
cheiro de essência que eles jogam no ambiente está começando a me enjoar.
— A senhorita está tensa — uma voz fala em meu ouvido e eu quase
dou um mortal para trás de tanto susto.
— Santo Cristo, nunca mais faça isso! — digo ao samurai, karatê kid,
seja lá o nome que dão para professores de yoga.
— Vamos lá, inspira e expira — fala em meu ouvido e eu faço. —
Esqueça tudo e todos à sua volta. Tente levar sua mente para seu lugar
preferido. — Minha mente vai direto para meu noivo tesudo, seu pau é meu
lugar preferido no mundo! — Pense no som dos pássaros, na grama verde,
nos rios...
— Não tá dando certo — informo.
— Você está sendo relutante. Se entregue, relaxe os ombros, relaxe a
mente — ele diz, apertando meus ombros quando se posiciona atrás de mim.
— Novamente, Mariana, inspira e expira, inspira e expira. Pense no barulho
agradável das ondas do mar, deixe sua mente te levar à calmaria.
— Nós vamos ficar só assim todas as aulas? Sentados, viajando como
maconheiros? — pergunto.
— Não. — Ele ri. — Nós vamos trabalhar o corpo também, mas nessa
primeira sessão vamos tentar acalmar essa mente. Yoga é criar uma harmonia
perfeita entre o corpo e a mente. Como você é gestante, vai ajudar até na
respiração na hora do parto.
— Você acha que eu vou deixar meu filho nascer de parto normal? —
pergunto.
— Esqueça isso. — Ele ri de novo. — Você será um grande desafio
para mim, Mariana. Será que vou conseguir adequá-la à yoga?
— Não faço ideia — respondo, quase decidida a acabar com essa
loucura.
— Então vamos ficar em silêncio antes que atrapalhemos as demais
alunas. Esqueça o mundo, Mari, concentre-se em tudo que te falei. Pode fazer
isso? Pense na sua saúde e na saúde do seu bebê. — Assim que fala sobre
meu bebê, tudo muda e eu decido continuar apenas por esse pequeno
grãozinho que tem todo meu coração.
— Eu vou tentar — falo, ganhando um último aperto no ombro.
— Boa menina.
Eu relaxo. Penso em peixinhos, ondas do mar, pássaros cantando,
bebês lindos de olhos azuis... E deixo o sono ganhar a melhor. Eu durmo na
primeira aula de yoga!
Mariana entra no apartamento e eu já dou um salto com vara do sofá.
Estou tentando controlar seu apetite sexual à força, isso inclui colocá-la em
atividades diversas e eu mesmo me dedicar mais à academia.
Não venha dizer que isso é uma coisa horrível de se fazer. Acontece
que ela precisa aprender a ter controle de suas vontades. Felizmente, eu tenho
dado conta de suprir seu desejo sexual, mas ela realmente chega a ser
assustadora às vezes. É um desespero, que parece que o mundo está prestes a
acabar. Outro dia ela chorou na empresa porque queria transar, parecia uma
criança pirraçando por conta de um brinquedo, só que no caso dela, o
brinquedo era meu pau. Eu não sei se existe um grupo de apoio aos futuros
pais desesperados, mas estou tentado a procurar e descobrir se toda essa
loucura é mesmo normal.
— Oi, amor — digo carinhosamente, a abraçando, e ela solta um
suspiro. — Como foi a aula?
— Péssima. Eu nunca fumei maconha, mas tenho certeza de que a
sensação deve ser bastante parecida. É uma viagem louca e estressante. Por
fim, eu dormi, Arthur! Acordei com o professor me cutucando.
— Professor? — pergunto, começando a não gostar dessa merda. Eu
não sabia que era um professor.
— Sim, um professor, e tem apenas um detalhe: acho que ele não é
gay! — ela provoca, se afastando. — Mas isso não vem ao caso, não é
mesmo, amorzinho?
— Vem ao caso sim. Você se lembra o que fez semana passada por
causa da personal da academia do prédio? — pergunto e vejo seu olhar se
tornar psicótico.
Esse episódio da academia... Não posso nem lembrar que dá vontade
de encher essa bunda grande de tapas. Tudo porque eu agradeci sorrindo
quando ela me entregou um papel com a nova série de exercícios!
Mariana chegou bem na hora e já foi pegando o papel das minhas
mãos, certa de que era o número do telefone da personal. Antes mesmo de ler
o que estava escrito, ela jogou a mulher longe com um empurrão, que até eu
fiquei sem ação. O foda é que tudo ela culpa a gravidez, e já descobriu que
esse é meu ponto fraco.
— É diferente, o professor só me faz relaxar — diz.
— Como? Como ele te faz relaxar, porra? — pergunto, tomado pela
ira, e ela começa a rir.
— Ele me ensinou técnicas de respiração, massageou meus ombros...
As mãos dele são tão feitas para massagear, que eu dormi logo em seguida.
Não foi nada demais, não recebi nenhum papel e nem retribuí seu gesto com
um sorrisinho de molhar calcinha. — Não foi nada demais? Ele massageou
minha mulher! Maldito! Não haverá uma segunda vez.
— Você está fora. Vou encontrar outro lugar, apenas com mulheres
— informo, pegando minha squeeze.
— Você está indo malhar?
— Estou! — respondo em desafio e ela dobra os braços na altura dos
seios. Muito engraçadinha essa Mariana diaba.
— Eu estou indo junto! — afirma com convicção e eu quase rio.
— Não, a senhorita não está indo junto por três motivos: o primeiro é
que não faremos sexo novamente no banheiro da academia; o segundo é
porque precisa tomar um banho, se alimentar e descansar um pouco no
aconchego dos seus pais, que estão prestes a ir embora; e o terceiro é que já
verifiquei e hoje é o personal HOMEM que estará lá! — falo pausadamente o
terceiro item e ela dá um sorrisinho canalha.
— Você sabe que eu posso ligar para a portaria e confirmar o último
item. — Ela finge olhar suas unhas.
— Eu acho que você está indo confiar em mim, porque eu baterei na
sua bunda se não fizer — aviso e a observo morder seus lábios. Eu gostaria
de beijá-la, mas ela não está merecendo no momento, só mais tarde.
— Eu não vou mudar de professor de yoga. — Rio ao ouvir seu
atrevimento.
— Você já mudou e não sabe, querida. Passar bem!
— Argh! Você está insuportável hoje! Vou dormir no meu
apartamento, sozinha! — diz de um jeito que nem ela mesma acreditaria em
suas palavras.
— Você pode tentar, Mariana, mas vai vir implorar pelo meu pau de
madrugada. Então é uma perda de tempo completa, já que vindo dormir aqui,
eu te comerei antes de dormir, durante a madrugada e antes de irmos ao
trabalho. Você quem sabe, querida!
— Querida é o caralho, Arthur Albuquerque! Chame-me de querida
novamente e eu chutarei suas bolas.
— Você não faria isso, querida — provoco e ela vem para cima de
mim como um furacão. Me desvencilho dos seus tapas e a agarro firme pela
cintura, depositando minha mão em sua barriga. Meu filho há de me salvar
dessa ira.
— Me solta!
— Não. Nosso filho está muito bravo com você por estar batendo no
pai dele. Assim que ele tiver tamanho o suficiente, vai encher sua barriga de
chutes e vai destruir suas costelas — explico e ela começa a se acalmar,
sorrindo.
— Merda!
— Olha a boca suja, mocinha — alerto em vão. Ela é muito louca
mesmo, sua calmaria dura apenas dois segundos.
— Foda-se, me solte e vá fazer exposição da sua figura na academia!
— diz, desvairada. — Vai mostrar esses braços fortes cheios de veias, essas
pernas bem torneadas, esse tanquinho de seis gomos. Vai lá, bonitão, mostra
esse pau veiudo e duro, quase explodindo pela bermuda. — O que diabos ela
está falando? É preciso fazer uma terapia profunda sobre Mariana para
entendê-la.
— Não vou mostrar nada a ninguém, vou apenas malhar, Mariana
Barcelos. Vou ficar mais forte para dar conta de você — digo, a soltando, e
ela se joga nos meus braços.
— Te amo. — Ela enche meu rosto de beijos e, por fim, meus lábios.
Eu sorrio.
— Eu também amo você, maluquinha. Você e nosso bebê. — Dou um
beijo casto em sua testa e ela se afasta.
— Vá, antes que eu decida algemá-lo na cama. Estarei com meus
pais.
— Quando eu voltar, tomarei um banho e irei buscá-la — aviso e ela
sorri.
— Eu sei que irá, garotão, não sou a única com os hormônios
ouriçados — diz, caminhando até a porta e rebolando sua traseira. Ela não é a
única, realmente, eu a foderia nesse minuto.
Meus pais foram embora há três dias e eu fiquei muito mal. Chorei
um dia inteiro e Arthur me deu seu mais sincero consolo.
Enquanto ele coloca a banheira para encher, me desfaço de todas as
roupas.
Estou demasiadamente distraída quando suas mãos envolvem
carinhosamente minha barriga e sou puxada contra seu corpo rijo.
— Eu amo que nossos filhos estejam aqui — diz, beijando meu
pescoço, e eu me viro de frente para ele.
— Eu amo que nós vamos fazer um sexo quente e suado agora.
— Oh, tão romântica, minha mocinha. — Ri enquanto eu desfaço o
nó de sua gravata e a jogo longe.
Ele está praticando o “deboísmo”, enquanto eu estou praticando a
perversidade completa.
Seu casaco voa ao chão e eu arranco sua camisa, fazendo dezenas de
botões voarem por todos os cantos. Gosto quando ele me deixa ter um pouco
de controle, mesmo quando estou descontrolada. Abro seu cinto e ele chuta
seus sapatos, enquanto abaixo sua calça juntamente com a cueca. Seu
membro, já duro, salta glorioso em minha barriga, e eu me ajoelho aos seus
pés, necessitada para tê-lo em minha boca.
O levo até onde é possível, o chupando como um picolé delicioso,
meu picolé sabor Arthur Albuquerque.
— Porra... — ele grita quando me concentro em sua glande grande
rosada e sinto suas mãos puxando firmemente meu cabelo. Estou seguindo
meu caminho de volta até o limite quando o enjoo me rasga. Levanto-me
rapidamente, correndo até o banheiro, onde me tranco e luto para não
vomitar. — Mari, abra a maldita porta!
— Só um minuto — grito.
— Está tudo bem? Por que diabos você tem que fechar o caralho da
porta?
— Foi um enjoo — explico, lavando meu rosto na água fria e
tomando lufadas de ar. O exercício de respiração que aprendi na yoga, enfim
está sendo de grande ajuda.
— Você está vomitando? — pergunta, preocupado.
— Não, estou apenas tentando fazê-lo passar.
— Então abra a maldita porta ou vou arrombá-la — grita como um
louco e eu a abro.
— Não quero que fique me vendo mal assim.
— Não importa o que você quer, importa como me sinto sobre você.
Eu estou aqui por você, Mari, vomitando ou não. Na saúde e na porra da
doença! Não faça isso novamente, não se tranque ou fuja de mim por um
mal-estar! — ele esbraveja irado, acho que nunca o vi dessa maneira.
Encolho-me no canto da pia e ele suspira, quase arrancando os cabelos. —
Me desculpe. Apenas morreria se qualquer coisa acontecesse a você, Mari.
Eu me preocupo, o tempo todo. Vê-la vomitar não vai diminuir meu amor por
você, ainda mais que eu sei que são nossos filhos que estão causando essa
bagunça toda.
— Me desculpe.
— Não peça desculpas, apenas não me deixe louco, mocinha. De
qualquer forma, eu não gozaria em sua boca.
— Por quê? — pergunto, movida pela curiosidade.
— Tudo que você come ou bebe vai para os bebês. Eu não os quero
bebendo da minha porra.
— Arthur, você não leu esse absurdo no tal guia de gestante, não pode
ser sério — digo e ele apenas sorri, sem responder. Ele está surtado!
— Venha, quero cuidar de você. — Me oferece suas mãos e eu as
pego.
Assim que ele se acomoda na banheira, me encaixo entre suas pernas,
de costas. Meus cabelos estão presos em um coque frouxo e isso facilita suas
mãos deslizarem pelos meus ombros em uma massagem deliciosa. Conforme
gemo em apreciação, seu pau cutuca minhas costas e eu suprimo a vontade de
rir.
As mãos dele são mais mágicas que quaisquer outras que já tiveram
sobre mim. Seu toque suave envia ondas de excitação por todo meu ser.
— Está gostando, mocinha?
— Eu estou amando, amor — respondo e o sinto deslizar em meus
seios.
— Eles estão crescendo um pouco a cada dia — diz em meu ouvido e
mordo meu lábio inferior, reprimindo o desejo de dar um gemido
desesperado.
— Eu quero sentar...
— Você está sentada, mocinha.
— Sentar em você, sentar nele — peço, ofegante, e Arthur desliza sua
mão em minha intimidade.
— Eu posso senti-la pulsando de necessidade.
— Então acabe logo com isso — ordeno e ele ri.
— Você está se sentindo bem, meu amor? — pergunta de maneira
preocupada e eu reviro os olhos sem que ele possa ver.
— Eu estou bem — digo, virando-me de frente para ele e montando
em suas pernas.
Seu olhar cai diretamente em meus seios e ele leva um deles à boca.
Eu gemo longa e profundamente satisfeita, apoiando minhas mãos em seus
ombros e inalando seu aroma delicioso.
— Está agradável? — pergunta.
— Sim, bastante.
— Mari, eu não sei como me sinto sobre dividir eles com nossos
filhos — sussurra, envolvendo cada um deles em suas mãos. — Eu os amo.
Sabendo que estou prestes a jogar seu autocontrole para o espaço,
começo a me remexer em torno da sua ereção. Ele quer fazer isso lento, eu
aposto que a partir de agora ele vai querer sempre lento, mas não estou
disposta a aceitar esse absurdo.
— Droga, Mari, calma...
— Foda-me agora, Arthur, eu esperei a porra do dia todo para isso! —
Levo minha boca a dele e o beijo descontroladamente, enquanto ele tenta
conter meu desespero segurando em minha cintura.
— Eu estou tentando me controlar.
— Eu não quero que se controle. Deus, Arthur, os bebês estão
protegidos, eu preciso disso duro, selvagem!
— Eu acho que faremos isso na cama, pequena torturadora.
— Maldição, Arthur! Você tem um minuto e nada mais para estar
dentro de mim! — esbravejo, saindo da banheira, puta pra caralho. Se homem
sofre de bolas azuis, mulheres sofrem de quê? Ovários rosados? Útero arco-
íris?
Enxugo-me de qualquer jeito, e pisando duro vou até meu quarto,
onde o aguardo, impaciente.
Sou pega de surpresa quando, de uma maneira que oscila entre
delicadeza e selvageria, ele me joga sobre a cama e está entre minhas pernas.
Ele me tortura, brincando com sua ereção em meu clitóris, ora esfregando,
ora batendo levemente no meu pequeno ponto delicado.
— Gosta disso?
— Sim — respondo, deixando minha mente voar apenas para o
prazer.
Seus olhos estão fixados aos meus enquanto me encara de maneira
séria. Ele simplesmente empurra gradualmente seu caminho dentro de mim e
sou abençoada com seus quadris moendo duramente.
— Santo Deus, Arthur... — Ofego, sentindo a pressão em meu núcleo,
do jeito que só ele sabe fazer.
Ele se afasta e retira seu membro, em seguida mergulha diretamente
para dentro, começando a trabalhar no ritmo constante que eu necessito. A
visão diante de mim é de um homem poderoso e demasiadamente controlado.
Gemo a cada vez que ele mói contra mim e sinto meu corpo todo tremer
alucinadamente.
— Você está perdendo o controle, mocinha? — pergunta, suspirando
baixo, e eu agarro o edredom abaixo de mim, sacudindo minha cabeça
freneticamente. Ele sustenta suas mãos firmes em meus quadris e me leva da
forma como bem entende, dominando cada sensação.
Por mais que ele esteja num ritmo constante, isso não é nada perto do
que sei que ele pode fazer, ainda assim é bom e um pouco duro, como gosto.
Começo a me mover sob ele, perdendo a noção da minha mente, e o
vejo sorrir.
— Eu estou te deixando louca, Mari? Desesperada? — pergunta e
fecho os olhos, incapaz de olhá-lo. Ele está indo mais profundo e a cada vez
que bate em meu clitóris, tento controlar a vontade de gozar. Quero
prolongar, mas a cada segundo isso se torna um desafio completo.
Incapaz de lutar, minha intimidade começa a dar espasmos
desesperadores e eu mordo meus lábios para não gritar o quão bom ele está
fazendo. Estou tremendo e gemendo enquanto gozo, já Arthur permanece
seguro de si, completamente controlado.
— Você não sabe como me sinto vendo-a gozar, Mari. Eu me sinto
além de selvagem — fala, deitando levemente seu corpo sobre o meu e
agarrando meus cabelos com uma mão. — O que você acha de me dar mais
um? — pergunta e eu balanço a cabeça em concordância. — Responda, eu fiz
você perder a voz?
— Sim, sim para tudo! — Ele sorri e começa toda a tortura em um
ritmo mais selvagem agora.
— Ela está pulsando novamente com vontade, Mari. Eu estou
sentindo e é malditamente bom. Eu não sei se vou conseguir segurar, quero
gozar em você.
—Mais... — peço, me movimentando, e ele me prende o suficiente
para ser o único a se mover. Me sinto desequilibrada enquanto ele bate bem
forte e profundamente. Meu corpo traidor está extasiado e completamente à
mercê desse homem.
O orgasmo de agora parece vir ainda mais intenso e eu cravo minhas
unhas em seus braços, como minha tábua da salvação. Sinto que se
tivéssemos de pé, eu desmoronaria.
— Eu estou vindo pra você, mocinha, vou te encher agora, olhe para
mim — ordena e eu forço para abrir meus olhos. — Você vai gozar?
— Agora... — respondo e ele geme enlouquecidamente, deixando sua
selvageria vencer o controle. O agarro e deixo meu corpo cair no êxtase da
liberação, o arrastando junto a mim.
Nós demoramos um tempo para recuperar. Arthur tem seu rosto
pressionado em meu pescoço, enquanto tenta controlar a respiração, e eu me
sinto exausta.
— Eu quero beijar você, Mari, preciso beijar você agora — diz e
sorrio, feliz da vida.
— Eu quero isso, beije-me — incentivo com a voz sonolenta e ele se
levanta para me dar um beijo explosivo.
— Não era um pedido — diz em minha boca e eu sorrio.
— Eu sei.
— Eu te amo, eu amo nossos bebês.
— Eu amo vocês também — respondo e ele se aconchega ao meu
lado. Não vejo mais nada. Meu corpo está incrivelmente relaxado e minha
mente devidamente fodida. Me entrego ao sono profundo, sem nem mesmo
tomar banho.
Manhã de sábado e eu estou sendo acordada em grande estilo. O estilo
Arthur de me acordar é perfeito. Meu incrível noivo tem sua boca deslizando
por todo meu corpo e nem mesmo a preguiça tem chance contra ele. Eu
realmente gosto dessa vida de casado que estamos levando. A melhor parte
de todos os meus dias é amanhecer ao lado desse homem.
Manhosamente, abro os olhos e sorrio, satisfeita.
— Bom dia, dorminhoca! Eu odeio acordá-la cedo aos finais de
semana, mas há um bom motivo — diz. É muita informação para minha
mente sonolenta registrar.
— Sexo matinal? — pergunto e ele sorri em minha barriga. Se for
sexo matinal, é realmente um excelente motivo para ser despertada do coma
em que me encontrava.
— Nossa futura casa. Preciso alimentá-la e em seguida iremos
conhecê-la.
— Nós já temos uma possível casa? — pergunto, acordando para a
vida de uma vez por todas.
— Nós já temos. Eu recebi muitas imagens e muitas opções, essa é a
mais incrível, Mari. Há espaço de sobra para as crianças brincarem à vontade
e você vai amar a vista — ele diz, satisfeito. O bom gosto dele é inegável,
mas estou com receio de que seja “demais”. Arthur está pirado depois da
descoberta dos gêmeos.
Ele se arrasta para fora da cama e me puxa junto. Relutante, caminho
até o banheiro, onde faço minhas necessidades e taco água em abundância no
rosto, tentando acordar mais.
Há um pouco de enjoo matinal, por isso bebo um enorme copo de
água gelada, que ajuda a terrível sensação passar. Como se não bastasse o
enjoo, a tonteira também surge para dar o ar da graça e me apoio no balcão da
cozinha.
— Merda, merda, merda! — digo, totalmente tomada pela forte
vertigem. Tudo parece estar rodando a 120 km por hora, inclusive meu
estômago.
— Respira, Mari, estou no controle. Tenho você. — Arthur surge, me
segurando pela cintura, como um verdadeiro anjo guardião. Respiro fundo,
repetidas vezes, e tento controlar essa sensação ruim.
Solto meu corpo e ele me coloca sentada no sofá.
— Está tudo bem? Talvez seja melhor você deitar, amor, e dormir
mais um pouco — diz, pesaroso.
— É só uma tontura, tem acontecido com frequência, mas já está
passando — explico, olhando seu rostinho de sofrimento, dá até dó. — No
seu guia de gestante não contém essa informação? — Decido provocá-lo e ele
me encara bravo.
— Não me teste, senhora Mariana Albuquerque.
— Eu ainda não sou essa senhora, não sei se você sabe. — Sorrio.
— Será muito em breve, Mariana Barcelos Albuquerque.
— Eu acho que um banho me fará me sentir renovada — digo,
suspirando.
— O que você quer comer? Diga e eu preparei, enquanto você faz seu
ritual de renovação.
— Ficaria feliz com uma vitamina e alguns cookies. Eu estou sedenta
por alguns com cobertura de chocolate. Há alguns pacotes no armário. —
Sorrio e fico de pé, testando meus pés por um segundo. Não há mais tontura,
felizmente me sinto estabilizada.
Ganho um beijo delicado de Arthur e volto ao quarto, diretamente
para o banheiro. Desfaço-me da minha calcinha e da blusa dele, que está em
meu corpo, e entro debaixo da ducha morna, lavando-me por completo.
Após despejar um pouco de xampu em minhas mãos, massageio meu
couro cabeludo e o enxáguo. Estou com os olhos fechados quando a sensação
familiar de suas mãos se conecta à minha barriga. Ele não ia preparar meu
café? Sorrio, mordendo o lábio em seguida. Tenho que dizer, a cada vez que
temos esses momentos únicos de carinho, me sinto confortavelmente em paz.
Despejo o condicionador em minhas mãos e ele o pega, deslizando
em meus cabelos. Eu gemo de apreciação quando seus dedos se conectam à
minha cabeça e uma deliciosa massagem começa. Meu corpo fica
completamente leve e eu me sinto flutuando no meu próprio paraíso
particular. Se estivéssemos na banheira, certamente eu dormiria.
A paz é tão grande, que abstemos de toda energia sexual. Estamos
curtindo o outro lado do relacionamento, um que faz parte dos 30% que não
envolve sexo.
Ele me ajuda a secar, e eu escolho um vestidinho branco e uma
rasteirinha para o nosso passeio. Resolvo deixar meus cabelos secarem
naturalmente.
Arthur está incrível com uma camiseta branca e uma calça jeans
escura. Eu amo quando ele se veste de maneira casual e deixa seus cabelos
levemente espetados.
Tomamos o café da manhã juntos e seguimos rumo a tão esperada
casa que fez os olhos dele brilharem. Pegamos um caminho que já me deixa
em total estado de alerta. Lindas mansões começam a surgir dentro de alguns
condomínios imponentes. Nós estamos indo para a parte milionária da
cidade, e isso é quase assustador.
Minha boca vai ao chão quando ele sinaliza sua entrada em um dos
condomínios mais fodas e famoso de Belo Horizonte, Lagoa dos Ingleses.
Pelos boatos, só moram gringos e alguns famosos. Eu até era famosinha no
bairro, mas não o suficiente para entrar nesse ambiente que cheira a dinheiro.
Após passarmos por um sistema de segurança rigoroso, nossa entrada é
liberada e surge um frio gigante na minha barriga.
Ele dirige com um sorriso em seu rosto, passando pelas ruas do
condomínio. Há até mesmo um supermercado dentro do local. Há alguns
poucos prédios, com apartamentos que devem custar muito mais que o olho
do meu cu, não que meu orifício anal tenha tanto valor. É cada casa
cinematográfica, que me faz querer virar corretora de imóveis. Uma única
venda e eu teria o resto do ano de férias em Maldivas.
Após uma volta completa, ele para de frente a uma casa gigante, que
faz minha boca ir ao chão. Não sou capaz de opinar e muito menos de
acreditar. Do meu lado esquerdo está a casa e do meu lado direito a famosa
Lagoa dos Ingleses. Há alguns barcos ancorados próximo a um píer, tem
lógica? Isso aqui é passatempo de rico, definitivamente. Voltando meu olhar
para a casa, só consigo imaginar que a vista do segundo andar deve ser de
tirar o fôlego, com toda certeza, mas essa casa é apenas absurda.
— É essa a casa? — pergunto, tentando não soar chocada, mas falho
miseravelmente.
— Eu posso te pedir uma coisa? — diz, sério.
— Claro — respondo com curiosidade.
— Mantenha sua mente aberta. Isso é tudo.
— Arthur...
— Por favor, Mari, é só um único pedido simples, mantenha a mente
aberta. Agora vamos descer, mocinha. Temos uma linda casa para conhecer.
— A empolgação em que ele se encontra basta para que eu fixe a ideia de
mente aberta, mesmo estando diante de uma mansão ostentação. Ela não é a
mais imponente desse lugar, mas certamente está na lista das mais bonitas.
Surpreendo-me com ele pegando uma chave do bolso, mas deixo esse
detalhe passar batido quando ele abre a porta, revelando de cara um charmoso
jardim de inverno de frente para o hall de entrada. Há até mesmo algo como
um lago abaixo da escada. Isso é um caralho de casa!
Dando conta de que eu estou paralisada, Arthur aperta minha mão e
me vejo obrigada a fechar a boca.
— Gosta disso? — pergunta e eu começo a rir. Rio tudo que tenho
direito, até sentir vontade de fazer xixi nas calças. Agacho ao chão, rindo, e
seguro minha barriga, de tanta dor por rir. As lágrimas descem pelos meus
olhos, mas não é de tristeza, é apenas de rir. Eu já disse que estou rindo? Puta
que pariu! Eu estou rindo pra caralho, desgovernadamente!
Volto o olhar para cima e Arthur está me encarando de maneira
impassível, isso me faz rir ainda mais. Se eu sou louca, Arthur é o
responsável pela existência da loucura mundial. Ele fez o impossível, se
tornou muito mais louco do que eu, anos luz à frente.
— Mariana!
— Oh, Deus, eu preciso ir ao banheiro! — Choro, rindo, e me sento
ao chão.
— Mari, puta merda! Às vezes quero apenas te matar — diz, me
pegando no colo e me colocando de pé.
Tento de todas as maneiras recobrar meu controle e a maldita técnica
de respiração começa a fazer seu efeito. Com toda a classe que não tenho,
levanto a barra do meu vestido e limpo os olhos. Viu? Eu e essa casa não
combinamos!
— Você ainda quer fazer xixi? O show já acabou? — pergunta, puto
pra caralho. Ele combina com essa casa. Todo imponente, elegante, um porte
absurdo, definitivamente se encaixa aqui. Eu apenas gosto de comer
cachorro-quente sentada no meio-fio de uma rua qualquer após sair de uma
balada, descalça e bêbada. Essa casa é para pessoas que curtem champanhe e
caviar. Eu gosto de costelinha de porco, pinga com limão e toucinho de
barriga gorduroso. Gosto de pastel com caldo de cana, coxinha com catupiry,
fandangos com ketchup. Lambo a tampa do iogurte e coloco feijão na
embalagem vazia de sorvete. — Mariana! Porra! — ele grita, assustando a
merda fora de mim. Puta que pariu!
— Oi?
— Você está bem? Ainda quer fazer xixi?
— Quero — respondo, balançando minha cabeça em descrença.
Ele me leva no primeiro banheiro próximo à entrada. É pequeno, mais
como um lavabo, e ainda assim é mais chique que o banheiro do meu
apartamento, que tem uma hidro.
Faço meu xixi e lavo meu rosto antes de me sentir pronta para
continuar a exploração.
O primeiro cômodo perto do banheiro é a cozinha, e, puta que pariu,
eu viraria MasterChef apenas para cozinhar nela. É maior que todo meu
apartamento e está completamente mobiliada com tudo de inox. A geladeira
tem duas portas gigantes e eu estou babando muito. Me imagino fazendo sexo
sobre essa enorme bancada de mármore incrível.
— Gosta? — ele pergunta novamente e eu não respondo. Posso ver
até outra crise de riso se aproximar.
A casa é realmente cinematográfica. Fico louca com os pés-direitos
duplos em diversos ambientes. A sala, cinematográfica também, já é toda
mobiliada, e possui uma TV que nunca vi igual em toda minha vida.
Pacientemente, ele me mostra todo o andar térreo e subimos ao segundo piso,
onde os quartos ficam. São seis quartos ao total. Todos eles possuem uma
vista incrível e não estão mobiliados. Há um escritório também, que não está
mobiliado; uma biblioteca, que possui toda uma parede preparada para
receber livros; e outro quarto livre, que pode vir a ser uma brinquedoteca.
Descendo de volta, é o momento de conhecer a área externa. É apenas linda.
Na área de churrasqueira tem playground e uma imponente piscina com vista
para a lagoa, mesas espalhadas e espreguiçadeiras, uma sauna e uma pequena
academia, fora uma casa de apoio, que tem três cômodos. É uma verdadeira
mansão, nem em novela já vi algo desse porte.
No final da jornada me sinto escandalizada e apaixonada.
Me sento em uma das mesinhas e já me imagino tomando café da
manhã aqui diariamente, lendo um jornal e contemplando a belíssima visão
da linda lagoa. Imagino crianças catarrentas dando saltos mortais na piscina,
um Lulu da Pomerânia descansando abaixo da cadeira, ostentando uma
presilha de brilhantes. Imagino Arthur correndo lindamente na esteira da
academia e acenando para mim. Imagino meu pai na área da churrasqueira
tomando pinga e minha mãe destruindo todo o serviço de paisagismo,
plantando mudas de rosa.
Eu imagino um verdadeiro hospício, para falar a verdade.
— Você gostou? — Arthur pergunta, sentando-se ao meu lado.
— Como poderia não gostar? É maravilhosa, Arthur! Quantos metros
quadrados?
— 900m².
— Deus, é absurdo! Você sabe disso, não sabe?! Isso foge da
compreensão, Arthur — falo, tentando trazer um pouco de sanidade à sua
cabecinha.
— Eu quero o melhor para minha família. O melhor para nossos
filhos. Esse condomínio é um dos mais seguros e que oferece mais lazer. Essa
casa é perfeita para tudo que tenho em mente.
— Desculpe, Arthur, sempre tive uma vida boa, mas isso aqui foge da
realidade. Nós podemos conseguir algo menos ostentoso — digo, temendo
chateá-lo.
— Eu já comprei — confessa, me deixando em choque.
— Você o quê?
— Eu a comprei, Mariana — ele afirma e eu estou incrédula demais.
— Você a comprou?
— Sim. Eu pensei que você ficaria feliz — diz com um ar de tristeza,
e me sinto uma cadela. — Mari, é um sonho que estou tendo o prazer de
realizar pela primeira vez. Eu imagino uma vida feliz nesse lugar. Imagino
nossos filhos correndo por todos os cantos. Isso aqui é qualidade de vida,
Mari. Longe da confusão e em contato com a natureza, além de toda a
segurança que eles oferecem. — Com toda essa explicação eu não tenho mais
o que dizer. Apenas preciso sentir que faço parte disso de alguma maneira.
— Eu venderei o apartamento e irei ajudar a mobiliar essa brincadeira
aqui — informo.
— Não!
— Sim, ou não temos um acordo. Deus, Arthur, isso é demais, deixe-
me apenas sentir que algo aqui dentro foi eu quem ajudou.
— Você está fazendo pirraça, merda! — ele suspira, exasperado.
— Eu venderei meu apartamento, é pegar ou largar — digo, batendo
os pés, e ele me encara em derrota.
— Tudo bem, caralho! Você vende a merda do apartamento e usa o
dinheiro para a decoração. Está melhor para você agora?
— Sim. Agora está perfeito. Beije-me! — ordeno e ele enfim sorri.
— Não, mulher infernal! Você tem essa mania de querer se
autoafirmar, isso me enlouquece.
— Arthur, eu imagino o preço dessa casa e tenho certeza de que a
venda do apartamento não vai ser nem perto dos 10% dessa monstruosidade.
Me sentirei melhor podendo ajudar de alguma forma — explico.
— Eu já entendi, Mari. Vamos olhar a venda segunda-feira, já que
isso te fará feliz. Quero mudar pra cá nos próximos meses.
— Nenhum beijo? — pergunto e ele bufa antes de trazer sua boca à
minha. É um beijo xoxo, mas válido. Ele está um pouco puto comigo, mas
não tenho culpa. Nunca me imaginei morando em algo assim. Estou passada.
— Eu tenho dinheiro, Mari, muito. Ao longo dos anos fui acumulando
dinheiro o bastante, pouco gastava com a vida sem graça que levava. Agora
eu tenho com quem gastar. Darei sempre o melhor para vocês, você querendo
ou não. Agora mova esse traseiro e vamos passear. Onde a senhorita quer ir
nesse lindo sábado?
— Podemos almoçar na casa dos seus pais? Eu estou com desejo de
comer a comida da sua mãe — digo, o fazendo abrir um sorriso gigante.
— Claro que podemos. Eles ficarão felizes, Mari, imensamente.