Design de Mobiliário

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DESIGN DO

MOBILIÁRIO

Laila Janna Canto


Tavares
História do mobiliário
no mundo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os movimentos estéticos da história do mobiliário do séc.


XVIII ao séc. XX.
 Explicar a temática do design industrial sob o ponto de vista
histórico-crítico.
 Reconhecer os estilos artísticos e estéticos do passado aplicados ao
design contemporâneo.

Introdução
É interessante analisarmos a função do artista criativo e a importância das
suas obras na sociedade, considerando as suas contribuições históricas e
buscando compreender a construção do pensamento no seu papel criador.
Nesse contexto, é importante refletir sobre as seguintes questões: qual é o
papel do design? Seria ele composto por preceitos unicamente estéticos?
Ou se trata de uma manifestação que retrata uma época, uma cultura e
uma sociedade?
Partindo dessas questões, neste capítulo, você vai analisar as mudanças
históricas e a construção do pensamento artístico em um período de grande
transformação tecnológica, social, cultural, econômica e política. Estamos
falando das contribuições da Revolução Industrial para o desenvolvimento
do design e de como ele acompanhou essa quebra de pensamentos sociais.
Assim, você vai estudar os movimentos estéticos da história do mobiliário
do séc. XVIII ao séc. XX e vai verificar a temática do design industrial sob o
ponto de vista histórico-crítico. Por fim, você vai analisar os estilos artísticos
e estéticos do passado e a sua influência no design contemporâneo.
2 História do mobiliário no mundo

Movimentos estéticos da história do mobiliário:


do neoclássico ao moderno
Para começar este capítulo, vamos estudar um pouco sobre o contexto histórico
do início do século XVIII, o período denominado neoclassicismo. Esse período
vem a partir de uma revolução social e cultural resultante do pensamento
iluminista e se estendeu até as três primeiras décadas do século XIX.
Os estudos de Alencar (2011) sobre o mobiliário do fim do século XVIII
nos mostram a representatividade do modelo neoclássico no design. Com a
negação dos excessos do barroco, os adornos começam a perder força, sendo
substituídos por formas mais simples, ângulos retos e superfícies mais planas,
com inspirações clássicas greco-romanas.
Na França, após a queda da monarquia durante a Revolução Francesa, havia
o predomínio de móveis grandes e exageradamente decorados, herança do
período barroco de Luís XIV (Figura 1). Eles eram simétricos, volumosos
e bastante luxuosos, com acabamentos dourados. Os estilos posteriores a este,
conhecidos como mobiliários Luís XV e Luís XVI, formaram um contraponto,
apresentando características mais ligadas ao movimento rococó.

Figura 1. Móvel estilo Luís XIV.


Fonte: Adaptada de Kimerly (1912).

As principais características dos mobiliários Luís XV (Figura 2) eram seus


pés arredondados, com a presença de cabriolé (encurvamento das pernas da
cadeira em forma de garra, conforme mostra a Figura 3) e braços mais curtos.
História do mobiliário no mundo 3

Eram móveis mais largos (para acomodar os vestidos da época) e mais leves
em ornamento, conforme aponta Alencar (2011). Os móveis eram simétricos,
de estilo livre, com formas sinuosas, uso de tecidos florais e entalhos em suas
superfícies, bem como elementos dourados, prateados e em bronze.

Figura 2. Móvel estilo Luís XV.


Fonte: Adaptada de Kimerly (1912).

Figura 3. Exemplo de móvel com pernas cabriolé.


Fonte: Adaptada de Kimerly (1912).

Já o estilo neoclássico do mobiliário Luís XVI (Figura 4) representava


a necessidade de uma retomada dos preceitos clássicos para a criação de um
novo design, mais leve, com menos ornamentos, mas ainda muito refinado.
4 História do mobiliário no mundo

Figura 4. Móvel estilo Luís XVI.


Fonte: Adaptada de Kimerly (1912).

As peças não eram pensadas de forma isolada, mas, sim, formando um


conjunto com o ambiente disposto. Nesse período surge o canapé, um tipo
de sofá em que duas ou mais cadeiras eram unidas formando um conjunto,
conforme leciona Alencar (2011) e mostra a Figura 5.

Figura 5. Exemplo de móvel canapé (sofá de dois lugares).


Fonte: Adaptada de Kimerly (1912).

O período de transição e o conflito de identidade


A construção desse estilo neoclássico gerou diversas ramificações, como o
estilo Chippendale (Figura 6), do marceneiro Thomaz Chippendale (Ingla-
terra), que elaborou uma nova versão do neoclássico unindo o rococó francês
e o neogótico oriental (1760–1790), o Hepplewhite (Inglaterra), a partir de
um estilo mais simples e delicado (Figura 7), com ornamentos inspirados
no rococó, o Sheraton (Inglaterra), com o seu grande domínio de técnicas
construtivas, do desenho e da perspectiva (Figura 8), e o estilo D. João V
História do mobiliário no mundo 5

(Portugal), que sofreu influências do estilo Chippendale e do rococó francês


de Luís XV, misturando-se ao rococó de D. José I (Portugal). É importante
ressaltar que o período neoclássico precede uma grande transformação na
sociedade como um todo. Entender esse processo é importante para a análise
dos períodos subsequentes.

Figura 6. Cadeira Chippendale.


Fonte: Adaptada de Kimerly (1912).

Figura 7. Cadeira Hepplewhite.


Fonte: Adaptada de Kimerly (1912).
6 História do mobiliário no mundo

Figura 8. Cadeira Sheraton.


Fonte: Adaptada de Kimerly (1912).

O neoclassicismo levou à interrupção da tradição e dos preceitos clássicos,


com uma revisão conceitual e uma busca por sua própria natureza, conforme
leciona Pereira (2010). Nesse processo, a linguagem deixou de ter valor absoluto
e passou a ser um mero instrumento de comunicação do período retratado. Nos
seus estudos de composição, nos quais utilizam o passado para tentar explicar
os problemas do presente, Pereira (2010) levanta o problema da identidade de
estilo e linguagem que conduz a diversos historicismos ou revivescimentos,
afirmando que, se o estilo é a adaptação de uma linguagem a um sistema
espaço-temporal concreto, no séc. XIX, a separação entre arquitetura e lin-
guagem fez desta uma roupagem de algo que permanece embaixo. O conceito
de estilo — antes algo quase universal — limita-se de forma implícita até ser
considerado como uma mera forma decorativa que se aplica a um esqueleto
portante genérico (Pereira, 2010).
No início do século XIX, o mundo passou por uma grande transformação,
que mudaria completamente a sociedade como um todo: paralelamente a esse
conflito de identidade de linguagem, o mundo vivia o processo de Revolução
Industrial. A sociedade passou a ter novos preceitos, modificando totalmente
sua morfologia. Houve, então, o crescimento das cidades e, com elas, surgiram
novas necessidades.
História do mobiliário no mundo 7

Design industrial sob o ponto de vista


histórico-crítico
Com a Revolução Industrial, os artesãos foram substituídos por grandes maqui-
nários e pela necessidade de um design funcional, com ênfase no baixo custo
de produção, conforme leciona Maia (2011). O resultado disso foi a associação
entre o design e a personalização estética dos produtos, mesmo que estes
sejam fabricados industrialmente. Foi daí que surgiu um novo conceito para
o design, o de design industrial. No design industrial, temos como principal
característica a separação entre projeto e produção.
Entenda que, a partir de então, uma série de produtos poderiam ser con-
feccionados com maior velocidade e baixo custo, se comparado ao modelo
artesanal, que, apesar de único, rendia ao artesão poucas peças e uma dedicação
imensa a cada uma delas, influenciando em seu preço final, que se tornava
muito mais caro. Surgiram também novos materiais, como o ferro, novas
fontes de energia, como o carvão, e novos métodos que visavam a atender a
uma nova sociedade, com diferentes interesses, valores e realidades. A atenção
principal agora estava voltada para conciliar arte e técnica, tentando dotar de
sentido e significado os produtos para essa sociedade de consumo dominada
pelo poder aquisitivo. Esse poder aquisitivo se tornou possível devido ao fácil
acesso a produtos produzidos industrialmente, conforme aponta Maia (2011).

O processo de mecanização acelerou a produção. Foram, então, levados ao mercado


produtos de qualidade inferior, por conta da redução de custos e pelo pouco cuidado
em sua criação. Diz-se que os produtos foram submetidos ao chamado “fanatismo
tecnológico”.

O artista William Morris, no fim do século XIX, questionou essa falta de


sentido na arquitetura e nas teorias estéticas de 1880. Os seus pensamentos
originaram um movimento que passou a questionar o papel da industrialização
no processo e no desenvolvimento do design. Nesse cenário, a arte não tinha
um caminho certo a seguir, e passou-se a questionar o prestígio dos artistas
8 História do mobiliário no mundo

de épocas passadas ao executar seus trabalhos. Com isso, esse movimento


passou a mover suas ideias no campo das ciências sociais, dando origem a um
novo modelo de produção, chamado arts and crafts (Figura 9).

Figura 9. Cadeira Morris estilo arts and crafts.


Fonte: Adaptada de Gonzalo-Fernandez-Chair ([2018]).

Esse movimento pretendia mostrar aos artistas a necessidade de se manter


o lado artesanal no processo de criação das peças, cuja forma deveria ser
proveniente de sua própria expressão artística. O problema, nesse caso, eram
os altos valores das peças para o consumidor final, contrapondo a ideia base
de Morris sobre a arte das pessoas para as pessoas, pois apenas uma parcela
da população teria acesso a essa arte. Para Morris, o baixo custo da vida
humana e do trabalho eram os principais responsáveis pelo baixo custo da
produção; por outro lado, ele admitia que a arte nunca deveria ser algo barato,
pois demanda uma dedicação exclusiva e única a cada peça feita pelo artesão.
A esperança de Morris em eliminar o capitalismo pela renovação do trabalho
do artesão acabou não dando certo, mas ele se tornou uma importante fonte de
inspiração para o futuro questionamento sobre o papel das máquinas e dos bens
produzidos pela indústria. Ficou clara, a partir de então, a incompatibilidade do
trabalho artesanal com a produção industrial, conforme leciona Maia (2011).
Pretendendo solucionar essa incompatibilidade, outro movimento tomou
forma no período de 1833 a 1888. Denominado art nouveau, esse estilo, que
surgiu na Bélgica, almejava a reconciliação entre arte e indústria com novas
História do mobiliário no mundo 9

ideias, sem a pretensão de voltar ao passado (Figura 10). Era clara a preocupação
com as questões humanas na transição para o século XX, principalmente na
arquitetura de edifícios e cidades. Nesse momento, surgem novos questiona-
mentos quanto ao mobiliário dessas novas edificações e aos novos mobiliários
urbanos, sob o aspecto do movimento higienista, ainda conforme Maia (2011).

Figura 10. Cadeira estilo art nouveau.


Fonte: Adaptada de Kimerly (1912).

É chamado movimento higienista a tentativa de arquitetos e urbanistas modernos


em solucionar os problemas de salubridade decorrentes da Revolução Industrial.
Com o aumento da população, as cidades foram cada vez mais sendo abarrotadas
de pessoas, e questões relacionadas à moradia e, principalmente, à higiene foram
pauta de diversos questionamentos. Hoje em dia, esse movimento é questionado pela
artificialidade de seus processos e sua visão pouco humanista em relação à escala das
cidades e a seus moradores.

Inspirado na arte ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, temos


outro importante movimento que teve origem na França, denominado art
decó (Figura 11). Este não se tratava de um estilo de design destinado ao povo,
pois era voltado à sociedade parisiense, sem a menor intenção de se tornar
um estilo banalizado e destinado à grande massa, por conta de seu design
arrojado e diferenciado.
10 História do mobiliário no mundo

O art decó sofreu influências artísticas do movimento cubista, baseado em


formas naturais simples, como o cilindro, o cone e a esfera, foi impulsionado
pela abstração e pelo movimento futurista, que abraçava a tecnologia e o
conceito de velocidade, e teve inspiração no movimento construtivista, aliando
arte ao trabalho, com um design socialmente útil a todos os grupos sociais,
isento de ambiguidades e ornamentos. Esse estilo trazia um design geométrico,
com extrema expressividade, conforme aponta Maia (2011).

Figura 11. Cadeira estilo art decó.


Fonte: Fotosoroka/Shutterstock.com.

Os estilos artísticos e estéticos do passado


aplicados ao design contemporâneo
O grande marco do desenvolvimento do design aconteceu em 1919, com a cria-
ção da Escola de Artes Aplicadas Bauhaus (1919–1933). Não era exatamente
um movimento artístico, mas reunia propostas de construção e planejamento
de peças com produção artística e industrial, conforme leciona Maia (2011).
A Bauhaus foi a primeira e mais importante escola de design, artes plásti-
cas e arquitetura, considerada muito à frente de sua época. Foi fundada pelo
arquiteto Walter Gropius ao final da Primeira Guerra Mundial, a partir da
união de duas escolas da época, a de Belas Artes e a de Artes e Ofícios. Sua
História do mobiliário no mundo 11

1º fase (1919–1923) se deu na cidade de Weimar, na Alemanha; o objetivo era


tornar a Bauhaus uma instituição educacional para atender ao comércio e à
indústria e exercer influência no design mundial.
Na 2º fase (1923–1928), por desacordos com as autoridades nacionalistas,
a Bauhaus foi transferida para Dessau, na Alemanha, entre 1925 e 1926. Essa
fase teve como principal objetivo a aproximação da indústria e da produção em
série. Buscou-se a viabilização econômica por meio da produção em oficinas.
Nessa fase, eram desenvolvidos projetos mais complexos e diversificados.
Já na 3º fase (1929–1933), Gropius, fatigado pela pressão política do cres-
cente partido de direita, resolve sair da direção da Bauhaus para trabalhar em
Berlim como arquiteto. Com isso, o também arquiteto e chefe do departamento
de arquitetura da Bauhaus Hannes Meyer assumiu a direção. A Bauhaus então
abandonou definitivamente a ideia de uma escola de Arte; tornou-se absolu-
tamente imperiosa a ideia de um local de produção voltado à satisfação de
necessidades sociais. Essa fase é caracterizada pela desintegração da Bauhaus.
Por motivos políticos, Hannes Meyer foi substituído, em 1930, por Mies
van der Rohe.
Em consequência da derrota dos social-democratas em Dessau, em
1932, a Bauhaus viu-se forçada novamente a deixar sua sede, movendo-se
para Berlim como um instituto privado, dando continuidade ao seu traba-
lho. Porém, no ano seguinte, o partido nazista fechou de vez a escola. As
Figuras 12 a 17 mostram exemplos de cadeiras estilo Bauhaus.

Figura 12. Cadeira estilo Bauhaus.


Fonte: Wilk (1981, documento on-line).
12 História do mobiliário no mundo

Figura 13. Cadeira estilo Bauhaus.


Fonte: Wilk (1981, documento on-line).

Figura 14. Cadeira estilo Bauhaus.


Fonte: Wilk (1981, documento on-line).
História do mobiliário no mundo 13

Figura 15. Cadeira estilo Bauhaus.


Fonte: Bayer (1938, documento on-line).

Figura 16. Cadeira estilo Bauhaus.


Fonte: Bayer (1938, documento on-line).

Figura 17. Cadeira estilo Bauhaus.


Fonte: Bayer (1938, documento on-line).
14 História do mobiliário no mundo

A ideia principal da escola era unir a arte e o artesanato com a tecnologia.


Para isso, foi utilizado o conceito de “forma segue a função” ( form follows
function), sem o aspecto da estética pela estética. A ideia era que as obras
pudessem passar uma mensagem social e comunitária, por meio do acesso
aos produtos pela grande massa e da valorização do trabalho manual, sem
impedir sua reprodução em larga escala (processo industrial).
O curso da Bauhaus era interdisciplinar; ou seja, conhecimentos de tece-
lagem, marcenaria, metalurgia, cultura, desenho, pintura, entre outros, eram
trabalhados de forma interligada, pois acreditava-se que o bom design partiria
da imersão completa nas artes.

A mulher possuía pouca expressividade no design moderno; entretanto, podemos


listar alguns nomes importantes de mulheres que agregaram valor aos movimentos
da época. São elas:
 a arquiteta e designer italiana Gaetana Aulenti (1927–2012), que se destacou no
período pós-Guerra;
 a arquiteta e designer irlandesa Eileen Gray (1878–1976), pioneira no movimento
moderno da arquitetura e autora da icônica poltrona Bibendum;
 a arquiteta italiana Cini Boeri, que trabalhava com arquitetura e design de produto,
criadora de peças icônicas como o Bobo Divano e a Ghost Chair; e
 a arquiteta, desenhista e artista Charlotte Perriand, conhecida por sua colaboração
com Le Corbusier e Fernand Léger na criação da icônica Chaise LC4.

No ano de 1952, foi fundada a Escola de Ulm, com ideais políticos, que
discutia o papel social do design, que naquele momento precisava de uma
função social definida. Essa escola passou, então, a ramificar a área em dois
segmentos, sendo eles produto e comunicação; tal segmentação é aplicada
até hoje e é conhecida como método de Ulm, mudando e consolidando o
conceito de design.
De acordo com Pereira (2010), o período contemporâneo teve início antes
de 1970, com a morte de três grandes mestres da arquitetura e do design: Le
Corbusier, em 1965, Walter Gropius e Mies Van Der Rohe, ambos em 1969.
Houve um período de retrocesso do movimento moderno na década de 1950,
com a desaceleração da economia e o fracasso das cidades modernas; a mu-
dança pautava os debates sobre arquitetura e design.
História do mobiliário no mundo 15

Segundo o autor, é impossível solucionar os desafios da contemporaneidade,


pois trata-se do momento atual, e é impossível termos certezas concretas para
resolvê-los. Para Pereira (2010), os ideais estéticos da modernidade foram
substituídos por alguns ideais estéticos identificados como um jogo gramatical
sem conteúdo — trata-se da era da individualidade coletiva frenética, que
abrange os séculos XX e XXI. Técnicas avançadas com base em desenhos
desenvolvidos por software de computador dão origem a propostas amorfas,
conforme criticam os autores. Talvez seja essa a razão da banalidade das for-
mas atuais, embora se possa esperar que, a partir do aprofundamento de seu
conceito, possa-se recuperar a originalidade da arquitetura. Ainda conforme
Pereira (2010), ao nos perguntarmos sobre a arquitetura contemporânea,
estamos formulando uma questão impossível de responder, pois estamos
imersos nessa realidade.
Como você pode observar, o conhecimento dos estilos arquitetônicos e
artísticos anteriores não nos proporciona apenas uma base para reflexão sobre
a evolução e a construção do raciocínio formal e funcional, em termos de
ordem, tipo e método. Acima de tudo, esse conhecimento condiciona nossos
novos caminhos ao modelo simplificado inicial, aperfeiçoando-o nos aspectos
sensoriais e da memória e vivência e adaptando-o à sociedade atual, que se
molda a partir das transformações do mundo.

ALENCAR, A. Designers de mobiliário: um estudo de caso sobre o processo de confi-


guração dos designers contemporâneos brasileiros. 2011. Dissertação (Mestrado em
Design) — universidade federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em De-
sign, Recife, 2011. Disponível em: <https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/3548>.
Acesso em: 13 nov. 2018.
BAYER, H. Bauhaus 1919-1928. New York: The Museum of Modern Art, 1938. Disponível
em: <https://www.moma.org/documents/moma_catalogue_2735_300190238.pdf>.
Acesso em: 13 nov. 2018.
KIMERLY, W. How to know period styles in furniture. Michigan: Grand Rapids, 1912. Dispo-
nível em: <http://www.woodworkslibrary.com/repository/how_to_know_period_sty-
les_in_furniture.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2018.
GONZALO-FERNANDEZ-CHAIR. Gregory Paolini, [2018]. Largura: 1506 pixels. Altura: 1609
pixels. Formato: JPG. Disponível em: <http://www.gregorypaolini.com/wp-content/
uploads/2012/12/Gonzalo-Fernandez-Chair.jpg>. Acesso em: 3 dez. 2018.
16 História do mobiliário no mundo

MAIA, M. M. B. O que é o design? a dimensão cognitiva da actividade de design — os


designers nas organizações portuguesas de Design Industrial. 2011. Tese (Doutorado
em Sociologia Econômica e das organizações) — Universidade Técnica de Lisboa,
Instituto Superior de Economia e Gestão, Lisboa, 2011. Disponível em: <https://www.
repository.utl.pt/handle/10400.5/4238>. Acesso em: 13 nov 2018.
PEREIRA, J. R. A. Introdução à história da arquitetura das origens ao século XXI. Porto
Alegre: Bookman, 2010.
WILK, C. Marcel Breuer, furniture and interiors. New York: The Museum of Modern
Art, 1981. Disponível em: <https://www.moma.org/documents/moma_catalo-
gue_1782_300296422.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2018.

Leituras recomendadas
BRANDÃO, A. Anotações para uma história do mobiliário brasileiro do século XVIII.
Revista CPC, São Paulo, n. 9, p. 42-64, 2009. Disponível em: <http://www.revistas.usp.
br/cpc/article/view/15654/17228>. Acesso em: 13 nov. 2018.
DAUFENBACH, K. E sempre Bauhaus. Vitruvius, ano 17, v. 201, nº. 3, fev. 2017. Disponível
em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.201/6434>. Acesso
em: 13 nov. 2018.
GIEDION, S. Espaço, tempo e arquitetura: o desenvolvimento de uma nova tradição. São
Paulo: Martins Fontes, 2004.
HAYDEN, A. The furniture designers of Thomas Sheraton. London: Gibbings and Company,
1910. Disponível em: <http://www.survivorlibrary.com/library/the_furniture_designs_
of_thomas_sheraton_1910.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2018.
MARTINS, E. et al. O papel do designer contemporâneo a partir das contribuições eu-
ropeias na formação do profissional. Arcos Design, Rio de Janeiro, v. 7, nº. 1, p. 138-156,
jul. 2013. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/arcosdesign/
article/download/10000/7877>. Acesso em: 13 nov. 2018.
Conteúdo:
ERGONOMIA
APLICADA

Dulce América de Souza


Normas para mobiliários
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar mobiliários e o seu uso residencial, corporativo e urbano.


 Aplicar as normas técnicas relativas aos mobiliários e à ergonomia.
 Desenvolver projetos de mobiliários ergonômicos.

Introdução
O projeto de mobiliário representa uma importante atribuição dos pro-
fissionais de arquitetura e design. As abrangentes áreas de atuação da
arquitetura exigem conhecimentos técnicos para o projeto de móveis,
seja em escala urbana ou voltados para os espaços internos. Desses
conhecimentos, a ergonomia é de comprovada relevância, pois a inter-
face usuário–arquitetura é intermediada pelo mobiliário. As pesquisas
antropométricas consolidadas prescrevem dimensionamentos mínimos,
médios e até padronizados para a execução de móveis que atendam aos
quesitos de segurança e conforto dos indivíduos.
Neste capítulo, você vai estudar os aspectos ergonômicos envolvidos
no projeto de mobiliário. Você também vai verificar as normas técnicas
publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e os
padrões dimensionais referenciais para projetos de mobiliários ergonô-
micos, desenvolvidos com o objetivo de auxiliar os projetistas.

Mobiliário nos âmbitos doméstico,


urbano e corporativo
O termo mobiliário representa um conjunto de móveis ou mobília. A compre-
ensão generalista do termo móvel o associa a algo que pode ser transportado
2 Normas para mobiliários

ou deslocado, cujo termo oposto é “imóvel”. Oates (1991) alega que a palavra
francesa meubles (traduzido como algo transportável) é uma reminiscência
da Idade Medieval, quando os senhores feudais costumavam deslocar-se
permanentemente para administrar as suas propriedades distantes e levavam
consigo alguns dos seus pertences pessoais, como os móveis.
Rybczynski (1999, p. 40) afirma que “[...] as palavras francesa e italiana
para mobília — mobiliers e mobili — significam, como a palavra portuguesa,
‘o que pode ser movido’ (este sentido não existe na palavra inglesa furniture)”.
No século XVII, uniram-se, à noção de transportabilidade, as influências de
moda e estilo por todo o continente europeu. O móvel sempre foi reflexo da vida
e da sociedade no qual está inserido, conforme defende Mancuso (2004, p. 167):

A história da humanidade possui direta ligação com a história do mobiliário.


Existe um paralelo entre ambas: enquanto a humanidade foi evoluindo, foi-se
evoluindo a forma de morar, e cada época colocou-se, representativamente,
fosse a austeridade de um rei, fosse a feminilidade de uma rainha, enfim, os
estilos são a história agregada das características de viver de cada momento.

Às ideias de mobilidade e estilo foram agregados conceitos complemen-


tares ao longo do tempo. As questões de estilo, ocasionalmente associadas
apenas à construção do gosto, passaram a acompanhar a funcionalidade.
As questões relativas ao conforto e à função emergiram paralelemente aos
estudos ergonômicos durante o século XX. Segundo Devides (2006, p. 37):

O século XX fez emergir um aspecto que antes era privilégio de apenas uma
pequena parcela da população, o conforto. A democratização do conforto se
deveu à produção em massa e à industrialização, que introduziu em milhares
de casas equipamentos e aparelhos que facilitavam o serviço doméstico e que
melhoravam as condições de aquecimento e iluminação e agora para uma
grande parcela da população.

Atualmente, quanto à função a que se destinam, podemos identificar os


mobiliários em três âmbitos (Figura 1), segundo Mancuso (2004):

 residencial (destinado aos interiores domésticos);


 corporativo ou comercial (presentes nos postos de trabalho, empresas
e serviços);
 urbano (equipamentos instalados em espaços públicos).
Normas para mobiliários 3

Ao mobiliário urbano se contrapõe a característica original de mobilidade;


isso porque a natureza da construção desses equipamentos normalmente
inviabiliza a sua remoção, e não é comum o transporte desses elementos para
outra área da cidade. Portanto, a possibilidade de ser movido não se adequa
à categoria de mobiliário urbano, conclui Araújo (2008).

Figura 1. Tipos de mobiliário: (a) residencial, (b) comercial e (c) urbano.


Fonte: Antoha713/Shutterstock.com; Eviled/Shutterstock.com; Lester Balajadia/
Shutterstock.com.
4 Normas para mobiliários

Ching (2013) defende que os móveis tornam os espaços habitáveis ao dar


conforto e utilidade às tarefas e atividades que executamos. O mobiliário
intermedia a relação entre a arquitetura (ou o espaço público) e as pessoas,
qualquer que seja a escala de inserção ou a funcionalidade do equipamento.
Há algumas distinções na concepção e no nível de exigência ergonômica
do mobiliário conforme a sua função. Em todos os casos os móveis podem,
conforme a qualidade do seu projeto, oferecer ou limitar conforto físico aos
usuários. Ainda conforme Ching (2013, p. 320):

Nossos corpos dirão se uma cadeira é desconfortável ou se uma mesa é alta ou


baixa demais para o nosso uso. Há uma retroalimentação clara que nos diz se
um item de mobiliário é adequado ao seu fim. Os fatores humanos (ergonomia)
são uma grande influência na forma, proporção e escala dos móveis. Para dar
utilidade e conforto na execução das nossas tarefas, os móveis devem ser, antes
de tudo, projetados para responder ou corresponder a nossas dimensões, aos
espaços vazios necessários aos nossos padrões de movimento e à natureza
da atividade que executamos.

A percepção de conforto está condicionada à natureza das atividades que desempenhamos.


Ao sentarmos em um banco de concreto em uma praça, por exemplo, provavelmente não
desenvolveremos fadiga; ao contrário, uma longa permanência em um assento ergono-
micamente inadequado pode nos ser muito incômodo. Os requisitos ergonômicos são
específicos para cada função e exercem um importante papel no projeto de produtos,
atendendo aos ambientes e às finalidades para as quais são criados os móveis.

Breve classificação do mobiliário: uma perspectiva


ergonômica
A maioria dos móveis consiste em peças unitárias ou individuais que permitem
flexibilidade de arranjo, como mesas, cadeiras, armários, aparadores, sofás,
etc. Os móveis podem ser fabricados em madeira, metal, vidro, concreto,
plástico e outros materiais sintéticos; cada material possui especificidades
quanto à resistência, à funcionalidade e/ou aos aspectos construtivos. Dentre
as tecnologias mais utilizadas para a fabricação de móveis, a madeira é
considerada o material padrão, conforme leciona Ching (2013).
O mobiliário isolado é normalmente produzido em larga escala por in-
dústrias do segmento e segue as prescrições ergonômicas consolidadas pelos
Normas para mobiliários 5

estudos antropométricos. O desenho do móvel isolado (como um projeto de


produto) pode ser desenvolvido por arquitetos e designers; porém, é mais
comum que os profissionais projetem móveis sob medida e especifiquem o
mobiliário isolado nos arranjos espaciais propostos.
Além dos móveis isolados, duas terminologias recorrentes no design são os
móveis sob medida e os móveis planejados. Os móveis sob medida (também
conhecidos como móveis embutidos), segundo Ching (2013, p. 315), são “[...] con-
juntos de móveis que permitem flexibilidade de uso e mais espaço. Há geralmente
mais continuidade de forma entre os elementos de mobiliário e menos espaços
livres entre eles”. São aqueles conjuntos produzidos sob demanda de acordo com
o projeto que foi concebido exclusivamente para um determinado espaço. Já os
móveis planejados (também conhecidos como modulares) são “[...] unidades que
combinam a aparência unificada dos móveis embutidos com a flexibilidade de
mobilidade das peças unitárias individuais”, conforme conceitua Ching (2013, p.
315). Nesse caso, a indústria fabrica módulos (partes de um conjunto) que podem
ser montados conforme a necessidade e as condições do espaço.
Sobre o aspecto ergonômico, é importante observar que, no caso de móveis
planejados, os módulos possuem dimensões predeterminadas pelas indústrias,
resultantes de critérios ergonômicos validados. Nos móveis sob medida não
há dimensões predeterminadas — a limitação se dá somente em relação à
dimensão da chapa (madeira e derivados, vidro, etc.) disponível no mercado.
Essa produção, portanto, é considerada artesanal, aquela em que o domínio dos
conhecimentos de ergonomia é diretamente aplicado na concepção dos projetos,
conforme leciona Dal Piva (2007). Os requisitos de ergonomia são recomendados
pelas normas técnicas (ABNT), cujo objetivo é estabelecer regras, diretrizes ou
características acerca de um material, produto, processo ou serviço.

Ergonomia do mobiliário regulamentada pela


ABNT
A ABNT disponibiliza vastas publicações de normas técnicas (nacionais)
para móveis, bem como referencia consulta às normas internacionais ISO
(International Organization for Standardization), que estabelecem alguns
critérios a serem aplicados a mobiliários (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, [2018]). As normas são constantemente atualizadas
ou substituídas.
Os Quadros 1 e 2 elencam as normas mais relevantes para auxiliar o
desenho de mobiliário.
6 Normas para mobiliários

Quadro 1. Normas nacionais aplicadas ao mobiliário

Norma ABNT Título

NBR 13962:2018 Móveis para escritório — Cadeiras —


Requisitos e métodos de ensaio

NBR 16671:2018 Móveis escolares — Cadeiras escolares com


superfície de trabalho acoplada — Dimensões,
requisitos e métodos de ensaio

NBR 15860-1:2016 Móveis — Berços e berços dobráveis


infantis tipo doméstico
Parte 1: Requisitos de segurança

NBR 15860-2:2016 Móveis — Berços e berços dobráveis


infantis tipo doméstico
Parte 2: Métodos de ensaio

NBR 16332:2014 Móveis de madeira — Fita de borda e suas


aplicações — Requisitos e métodos de ensaio

NBR 16067-1:2012 Móveis — Berços, berços de balanço ou pendular


de até 900 mm para uso doméstico
Parte 1: Requisitos de segurança

NBR 16067-2:2012 Móveis — Berços, berços de balanço ou pendular


de até 900 mm para uso doméstico
Parte 2: Métodos de ensaio

NBR 16045:2012 Móveis — Camas de uso doméstico

NBR 15996-1:2011 Móveis — Camas beliche e camas


altas para uso doméstico
Parte 1: Requisitos de segurança

NBR 15996-2:2011 Móveis — Camas beliche e camas


altas para uso doméstico
Parte 2: Métodos de ensaio

NBR 13967:2009 Móveis para escritório — Sistemas de estação de


Emenda 1:2011 trabalho — Classificação e métodos de ensaio

NBR 13967:2011 Móveis para escritório — Sistemas de estação de


trabalho — Classificação e métodos de ensaio

NBR 14488:2010 Tampos de vidro para móveis —


Requisitos e métodos de ensaio

NBR 15786:2010 Móveis para escritório — Móveis para tele


atendimento, call center e telemarketing
— Requisitos e métodos de ensaio

(Continua)
Normas para mobiliários 7

(Continuação)

Quadro 1. Normas nacionais aplicadas ao mobiliário

Norma ABNT Título

NBR 13961:2010 Móveis para escritório — Armários

NBR 15761:2009 Móveis de madeira — Requisitos e métodos


de ensaios para laminados decorativos

NBR 13966:2008 Móveis para escritório — Mesas — Classificação


e características físicas dimensionais e
requisitos e métodos de ensaio

NBR 14535:2008 Móveis de madeira — Requisitos e


ensaio para superfície pintadas

NBR 14006:2008 Móveis escolares — Cadeiras e mesas


para conjunto aluno individual

NBR 15141:2008 Móveis para escritório — Divisória


modular tipo piso-teto

NBR 14033:2005 Móveis para cozinha

NBR 15164:2004 Móveis estofados — Sofás

NBR 14049:1998 Móveis — Ferragens e acessórios —


Rodízios e suportes para pé

Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas ([2018]).

Quadro 2. Normas internacionais aplicadas ao mobiliário

Norma Título

ISO/TR Móveis para Escritório — Cadeiras de escritório —


24496:2012 Métodos para determinação das dimensões
Office furniture — Office work chairs — Methods
for the determination of dimensions

ISO 21015:2007 Móveis para Escritório — Cadeiras de escritório


— Métodos de ensaio para determinação de
estabilidade, resistência e durabilidade
Office furniture — Office work chairs — Test methods for
the determination of stability, strength and durability

(Continua)
8 Normas para mobiliários

(Continuação)

Quadro 2. Normas internacionais aplicadas ao mobiliário

Norma Título

ISO 21016:2007 Móveis de escritório — Mesas e escrivaninhas


— Métodos de ensaio para determinação de
estabilidade, resistência e durabilidade
Office furniture — Tables and desks — Test methods for
the determination of stability, strength and durability

ISO 22879:2004 Rodízios e rodas — Requisitos para rodízios para móveis


Castors and wheels — Requirements for castors for furniture

ISO 7174-2:1992 Móveis — Cadeiras — Determinação da


estabilidade — Parte 2: cadeiras com inclinação
ou com mecanismos reclináveis, quando
totalmente reclinado, e cadeiras de balanço
Furniture — Chairs — Determination of stability —
Part 2: Chairs with tilting or reclining mechanisms
when fully reclined, and rocking chairs

ISO 9221-1:1992 Móveis — Cadeiras para crianças —


Parte 1: Requisitos de segurança
Furniture — Children's high chairs —
Part 1: Safety requirements

ISO 9221-2:1992 Móveis — Cadeiras para crianças —


Parte 2: Métodos de ensaio
Furniture — Children's high chairs — Part 2: Test methods

ISO 7173:1989 Móveis — Cadeiras e bancos — Determinação


da resistência e durabilidade
Furniture — Chairs and stools — Determination
of strength and durability

ISO 5970:1979 Móveis — Cadeiras e mesas para instituições


educacionais — Tamanhos Funcionais
Furniture — Chairs and tables for educational
institutions — Functional sizes

Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas ([2018]).

O escopo das normas mencionadas, em geral, especifica as características


físicas e dimensionais, classifica o referido mobiliário, determina os requisitos
ergonômicos de segurança e define os métodos de ensaio para atendimento desses
requisitos. Um exemplo relevante é o que dispõe a ABNT NBR 14006:2008 (Móveis
escolares — Cadeiras e mesas para conjunto aluno individual) cujo escopo é:
Normas para mobiliários 9

Esta norma estabelece os requisitos mínimos, exclusivamente para conjunto


aluno individual, composto de mesa e cadeira, para instituições de ensino
em todos os níveis, nos aspectos ergonômicos, de acabamento, identificação,
estabilidade e resistência (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2008, documento on-line).

A ABNT NBR 14006:2008 é umas das normas que regem as cartilhas


de especificação de mobiliários e equipamentos de instituições de ensino no
País, incentivadas por uma ação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) denominada Mobiliário Escolar. O objetivo dessa iniciativa
é “[...] renovar e padronizar os mobiliários das escolas do país, garantindo
qualidade e conforto para estudantes e professores nas salas de aula e contri-
buindo para a permanência dos alunos nas escolas” (FUNDO NACIONAL
DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, 2012, documento on-line).

A Cartilha de especificação de móveis e equipamentos da Universidade Federal de Pelotas


adota as prescrições da NBR 14006. Acesse a Cartilha pelo link abaixo:

https://goo.gl/qTukTK

Tantos as normas técnicas quanto os demais padrões dimensionais para


projeto devem ser consultados e analisados conjuntamente no momento de
executar um design de mobiliário. Os dados antropométricos consultados
para a elaboração desses documentos e diretrizes objetivam garantir a me-
lhor ergonomia para a interface entre o corpo humano e os vários móveis e
equipamentos de um determinado espaço.

Padrões dimensionais de referência para


projetos de mobiliário
O mobiliário, assim como os demais produtos produzidos, é considerado como
um meio para que o homem possa executar suas tarefas, conforme defende
Iida (2005). Para que haja qualidade de interação com o usuário, o móvel
precisa apresentar qualidade ergonômica: facilidade de manuseio, adaptação
antropométrica e todos os itens de conforto e segurança.
10 Normas para mobiliários

A aquisição de um móvel ocorre em função de alguns aspectos — estética


(aparência visual) e durabilidade são os mais citados, conforme Ramos (2013).
O nosso compromisso com a ergonomia lança um olhar para as questões de
conforto e segurança, quando nos questionamos se um móvel esteticamente
agradável e aparentemente durável foi projetado respeitando as características
físicas humanas e obedecendo aos devidos padrões ergonômicos.
A bibliografia de referência fornece apontadores antropométricos que
contribuem significativamente para dimensionarmos todo tipo de mobiliário.
Conhecendo a função a que se destina, sabemos que o móvel deve ter dimensões
máxima e mínima para permitir que as tarefas e atividades sejam executadas de
forma adequada. Segundo Gurgel (2005, p. 142), “[...] abaixar, sentar alcançar um
arquivo, ou seja, movimentar-se, requer uma distância, uma área, um espaço para
os movimentos envolvidos na ação específica”, conforme demonstra a Figura 2.

Figura 2. Alturas (em centímetros) e distâncias recomendadas para acessar bancadas e


prateleiras e para facilitar movimentos.
Fonte: Gurgel (2005, p. 142).

Da Figura 2 podemos adotar algumas alturas referenciais para projetos


em geral:

 a altura máxima para alcançar objetos em um nicho ou prateleira é de


2,00 m — com uma altura de 1,95 m a maioria das pessoas consegue
alcançar sem erguer os pés;
 a linha média de visão de um indivíduo corresponde a 1,50 m de altura;
 a altura padrão para bancadas de cozinha é de 0,90 m;
 a altura padrão para mesas de jantar é 0,75 m.
Normas para mobiliários 11

Para particularizar as diferentes situações que envolvem a interface ho-


mem–mobiliário, optamos por trabalhar alguns aspectos dos móveis resi-
denciais: assentos, sistema mesa–assento e bancadas de cozinha. A escolha
desses quesitos é justificada pela maior complexidade projetual em relação
aos aspectos ergonômicos.

Assentos
Como orientações gerais, Ching (2013, p. 324) postula: “Os assentos devem
ser projetados para sustentar confortavelmente o peso e a forma do corpo do
usuário”. O estudo antropométrico relacionado aos assentos é vasto; dele
extraímos alguns princípios para serem aplicados nas distintas situações de
“sentar”, mostrados na Figura 3.

Figura 3. Condições gerais — assentos.


Fonte: Ching (2013, p. 324).
12 Normas para mobiliários

A natureza da tarefa à qual se destina a cadeira (ou qualquer outra mo-


dalidade de assento) determina o fator conforto. Da Figura 3, destacamos
as seguintes recomendações: “A altura do assento deve permitir que os pés
possam repousar no piso” e “A profundidade do assento deve ser levemente
menor do que o comprimento da coxa” (CHING, 2013, p. 324). Os princípios
de desenho ergonômico se aplicam especialmente a assentos que se destinam
a longos períodos de uso, como cadeiras de mesa para computador (Figura 4).

Figura 4. Diretrizes de ergonomia para um posto de trabalho com computador.


Fonte: Ching (2013, p. 320).

As dimensões adequadas dos assentos dependem tanto das dimensões do


corpo humano e particulares do usuário quanto de fatores culturais e questões
de escala e estilo. O fator de conforto também é afetado pela atividade que
o usuário possa estar desenvolvendo, conforme explica Ching (2013). As
várias formas de sentar determinam as dimensões ideais aproximadas, como
verificamos na Figura 5.
Normas para mobiliários 13

Figura 5. Formas de sentar.


Fonte: Pronk (2003, p. 1).

A Figura 5 confirma a prescrição de Panero e Zelnik (2008) quanto à


altura ideal das cadeiras polivalentes na dimensão de 41 cm, em média, o
que significa dizer que os usuários de menor estatura serão instalados com
conforto. Percebemos também que a profundidade do assento equivale a 45 cm,
medida bastante utilizada nas cadeiras produzidas em larga escala no Brasil.
14 Normas para mobiliários

Um tema bastante estudado na área da ergonomia é o caso das cadeiras de trabalho.


Ching (2003) as identifica como “cadeiras de escritório” e sugere que elas possuam
alturas de assentos reguláveis e apoio para as costas, permitindo que diferentes usuários
adaptem as suas próprias cadeiras. Para efeitos de projeto, embora não seja habitual
projetarmos essas cadeiras, devemos estar atentos para especificar o produto de modo
a garantir conforto às estações de trabalho.

Sistema mesa–assento

Nos espaços de alimentação, a relação mesa–assento é muito significativa


para os arquitetos e designers. A utilização de gabaritos (blocos de softwares
gráficos) pode mascarar um dimensionamento inadequado — do ponto de
vista ergonômico — nesses espaços. O que ocorre com muita frequência é a
aplicação de um espaçamento de centro a centro das cadeiras (eixo central)
de 61 centímetros. Essa medida padronizada é utilizada para determinar a
dimensão da mesa em relação ao número de assentos.
No caso dos espaços destinados à alimentação, muitos arranjos espaciais
são possíveis e dizem respeito ao leiaute. No entanto, para o nosso estudo
específico sobre mobiliário, vamos nos ater aos dados ergonômicos para
garantir conforto às mesas e bancadas para refeições e trabalho. Panero e
Zelnik (2008, p. 139) orientam:

Para garantir uma boa interface entre o corpo humano e mesa durante refeições,
não só as dimensões antropométricas devem ser analisadas, mas também o
corpo humano, a cadeira, a mesa e a área individual de acesso à mesa devem ser
vistos como um sistema. Deve-se observar ainda que o tamanho desta última
irá determinar a percentagem livre da área central da mesa para colocação de
bebidas e pratos a serem servidos.

Para as mesas de refeição, deve-se considerar a largura corporal máxima


da pessoa de maiores dimensões; portanto, a largura ótima sugerida para o
espaçamento entre assentos varia de 61 cm a 76,2 cm. Em torno do perímetro
de uma mesa de jantar, deve-se prever um mínimo de 60 cm por pessoa, con-
forme orientam Ching (2013) e Panero e Zelnik (2008). A Figura 6 apresenta
uma sugestão de dimensões adequadas.
Normas para mobiliários 15

Figura 6. Sistema mesa–assento para refeições: (a) espaçamento para


assentos e bordas e (b) alturas para mesa de refeições (em milímetros).
Fonte: Ching (2013, p. 53).

Um importante aspecto a ser respeitado para efeitos de projeto é o espaçamento


entre a superfície da mesa e o assento. A movimentação das pernas abaixo do tampo
deve ser confortável em qualquer situação. A Figura 6 especifica um espaçamento
de aproximadamente 20 cm; porém, esse valor é considerado muito próximo ao
mínimo. Gurgel (2005, p. 142) orienta o seguinte para os sistemas mesa–assento
ou bancada–assento: “Aproximadamente 30 cm entre a altura do assento e a da
bancada. Portanto, para mesas de 75 cm de altura, o assento deve ter 45 cm; para
bancadas de 90 cm de altura, o banco deve ter 60 cm; e para bancadas mais altas,
de 1 metro ou 1,10 m, opte por bancos de aproximadamente 70 cm”.
As dimensões sugeridas são importantes para os arquitetos e designers
porque é comum projetarmos áreas de refeição integradas às cozinhas (como
no caso das cozinhas gourmet) ou mesmo bancadas de trabalho sob medida
(como no caso dos home offices). A correta especificação das alturas está
diretamente relacionada com o desempenho ergonômico do mobiliário.
16 Normas para mobiliários

Bancadas de cozinha
Dentre os ambientes domésticos, as cozinhas foram os espaços de serviço que
mais mudaram nas últimas décadas. Os novos designs dos equipamentos, a
redução dos espaços de habitação, que impulsionou a integração da cozinha
com a sala de jantar, e a própria forma de vida social, que incorporou o ato de
cozinhar para receber em casa, podem ser considerados como influências da
nova configuração das cozinhas, conforme defende Mancuso (2004).
A complexidade das atividades executadas nas cozinhas é um desafio para
os arquitetos e designers, conforme lecionam Panero e Zelnik (2018, p. 157):

A altura de uma bancada de trabalho da cozinha, os espaços livres adequados


para a circulação entre armários ou eletrodomésticos, o acesso a armários
altos, acima da cabeça, e a visibilidade adequada estão entre as principais
reflexões de um projeto de cozinha.

Nas cozinhas, tudo deve atender às dimensões humanas; devem ser veri-
ficadas as medidas de largura e profundidade corporal máximas dos usuários
de maiores dimensões, as projeções dos eletrodomésticos, os sistemas de
aberturas de portas e gavetas dos armários e o espaço livre por onde o usuário
vai circular, conforme ilustra a Figura 7.

Figura 7. Dimensões funcionais das cozinhas.


Fonte: Ching (2013, p. 54).
Normas para mobiliários 17

As configurações espaciais das cozinhas são variáveis, em função das


dimensões da área e do desenho do espaço. As bancadas de cozinha padro-
nizadas normalmente possuem uma altura de 91,4 cm do piso, conforme
apontam Panero e Zelnik (2018). Certas atividades da cozinha podem ser mais
bem desenvolvidas sobre um balcão com uma altura inferior a 91,4 cm, com
o usuário em pé, como é o caso da bancada da pia.
Gurgel (2005, p. 142) orienta que:

[...] bancadas com pia devem estar aproximadamente 5 cm abaixo do cotovelo


(braço dobrado a 90°); a altura ideal para bancadas de trabalho e preparação
de alimentos com a utilização de utensílios de pequeno e médio porte é de 17
cm a 25 cm abaixo do cotovelo dobrado a 90°.

Desde que não exista nenhuma janela acima da pia, a colocação de armá-
rios suspensos na parede deverá obedecer ao mínimo de 55,9 centímetros de
altura entre o topo da bancada e a parte inferior desses armários, conforme
lecionam Panero e Zelnik (2008).
Em um projeto ergonômico de mobiliário para cozinha, devemos destacar
também os seguintes aspectos:

 os espaços disponíveis para circulação;


 a abertura das portas dos eletrodomésticos;
 a capacidade de alcance dos armários elevados e o acionamento das
suas portas;
 as zonas de trabalho em torno do forno e fogão;
 o revestimento das superfícies da bancada;
 as especificações técnicas dos eletrodomésticos.

Os arquitetos e designers são significativamente requisitados para desenvolver


também projetos corporativos (ou comerciais) e, para cada programa arquitetônico,
devem propor soluções eficientes, personalizadas e ergonomicamente adequadas.
Programas de necessidades para arquitetura escolar, ambientes de saúde, espaços
de alimentação, moda e serviços exigem domínios do saber específicos para o pro-
jeto de mobiliários. A consulta às normas técnicas proporcionará conhecimentos
sobre classificação, características físicas dimensionais, requisitos de segurança
e métodos de ensaio, entre outros. Contudo, no quesito ergonomia, as normas
não consideram a diversidade de móveis existentes, bem como a diversidade
das dimensões humanas. Reiteramos, então, a relevância dos conhecimentos de
ergonomia para a excelência do desempenho da nossa profissão.
18 Normas para mobiliários

ARAÚJO, R. G. O mobiliário urbano ao longo dos tempos. In: Colóquio sobre história e
historiografia da arquitetura brasileira, 2008, Brasília. Anais... Brasília: ICC, 2008. Dispo-
nível em: <https://sites.google.com/site/coloquiohh08/trabalhos-apresentados-3>.
Acesso em: 9 out. 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Catálogo. Rio de Janeiro, [2018]. Dispo-
nível em: <http://www.abntcatalogo.com.br/normagrid.aspx>. Acesso em: 9 out. 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14006: móveis escolares. Cadeiras
e mesas para conjunto aluno individual. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <file:///D:/
Documentos/Downloads/kupdf.net_nbr-14006-moveis-escolares-cadeiras-e-mesas-
-para-aluno-indivdual.pdf>. Acesso em: 9 out. 2018.
CHING, F. D. K. Arquitetura de interiores ilustrada. Porto Alegre: Bookman, 2013.
DAL PIVA, R. Processo de fabricação dos móveis sob medida. Porto Alegre: SENAI-RS, 2007.
DEVIDES, M. T. C. Design, projeto e produto: o desenvolvimento de móveis nas Industrias
do polo moveleiro de Arapongas, PR. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura)
— Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, 2006. Disponível em: <http://web.faac.unesp.br/
Home/Pos-Graduacao/Design/Dissertacoes/mariatereza.pdf>. Acesso em: 9 out. 2018.
FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Portal de compras da FNDE.
Mobiliário escolar: apresentação. Brasília, [2018]. Disponível em: <http://www.fnde.gov.
br/portaldecompras/index.php/produtos/mobiliario-escolar>. Acesso em: 9 out. 2008.
GURGEL, M. Projetando espaços: Guia de interiores para áreas comerciais. São Paulo:
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IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. ver. e ampl. São Paulo: Edgard Blucher, 2005.
MANCUSO, C. Arquitetura de interiores e decoração: a arte de viver bem. Porto Alegre:
Sulina, 2004.
OATES, P. B. História do mobiliário ocidental. Lisboa: Presença, 1991.
PANERO, J.; ZELNIK, M. Dimensionamento humano para espaços interiores. São Paulo:
Gustavo Gili, 2008.
PRONK, E. Dimensionamento em arquitetura. 7. ed. João Pessoa: Editora Universitária
da UFPB, 2003.
RAMOS, L. F. M. D. Uma contribuição ao estudo dos móveis de madeira e seus derivados.
2013. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) — Faculdade de Arquitetura, Engenha-
ria e Tecnologia, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá. 2013. Disponível em:
<http://200.129.241.80/ppgeea/sistema/dissertacoes/15.pdf>. Acesso em: 9 out. 2018.
RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história de uma ideia. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1999.
Normas para mobiliários 19

Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-1: edificações ha-
bitacionais. Desempenho. Requisitos Gerais. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em:
<http://360arquitetura.arq.br/wp-content/uploads/2016/01/NBR_15575-1_2013_Final-
-Requisitos-Gerais.pdf>. Acesso em: 9 out. 2018.
BOUERI FILHO, J. J. Antropometria aplicada à arquitetura, urbanismo e desenho industrial.
São Paulo: Estação das Letras e Cores Editora, 2008.
BOUERI FILHO, J. J. Projeto e dimensionamento dos espaços da habitação: espaço de
atividades. São Paulo: estação das Letras e Cores, 2008.
BUXTON, P. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto. 5. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2017.
NEUFERT, E. Arte de projetar em arquitetura. 13. ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.
PEDRO, J. B. et al. Dimensões do mobiliário e do equipamento na habitação. Lisboa:
Lnec, 2011.
SANTOLIN, C. B.; LIMA, D. F. As dimensões do mobiliário: disponível aos escolares e
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Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/variascientia/article/view/3530>.
Acesso em: 9 out. 2018.
Conteúdo:
ERGONOMIA
APLICADA

Dulce América de Souza


Normas técnicas: espaços
planejados para pessoas
com deficiência
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir pessoas com deficiência e as suas necessidades.


 Identificar as normas que regem a acessibilidade universal.
 Aplicar as regras de acessibilidade universal no desenho de edificações
e de mobiliários.

Introdução
Projetar para todos é um desafio para os arquitetos e urbanistas. A acessi-
bilidade universal não é apenas uma premissa legal, mas, acima de tudo, é
um posicionamento contra a segregação de grande parte da população
mundial. Os direitos humanos assegurados às pessoas com deficiência
requerem a contrapartida da elaboração de edifícios inclusivos. Por isso,
o estudo das deficiências mais frequentes — e as respectivas restrições
espaciais por elas causadas — é um conhecimento importante para
nossas atribuições profissionais.
Neste capítulo, você vai estudar as classificações das deficiências e
as condições do meio ambiente que podem agravar as dificuldades
dos indivíduos acometidos por alguma dessas disfunções fisiológicas.
O caminho para a acessibilidade universal acompanha legislações e
normas técnicas para edifícios e espaços públicos ao ar livre e recebe
um importante aporte dos princípios do desenho universal. Assim, você
também vai identificar as normas que regem a acessibilidade universal e,
por fim, vai verificar as ferramentas projetuais que auxiliam na concepção
de projetos arquitetônicos integralmente inclusivos.
2 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

Deficiências e restrições espaciais


em um mundo de obstáculos
Segundo a Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH ORGANI-
ZATION, 2001, apud DISCHINGER; ELY; PIARDI, 2012, p. 16):

A incapacidade não é um atributo da pessoa, mas um conjunto complexo de


condições, muitas das quais criadas pelo meio ambiente social. Consequen-
temente a solução do problema requer ação social e é de responsabilidade
coletiva da sociedade fazer as modificações necessárias para a participação
plena de pessoas com deficiências em todas as áreas da vida social. A questão
é, pois, atitudinal ou ideológica quanto às mudanças sociais, enquanto que no
nível político é uma questão de direitos humanos.

Embora o significado final da arquitetura seja servir aos interesses do


habitat dos seres humanos, os planejamentos urbanos e projetos arquitetônicos
têm evoluído ao longo dos tempos, mas de maneira mais lenta do que a tec-
nologia. As contradições inevitáveis se situam na idealização do ser humano,
considerando que, se as cidades fossem concebidas para todos os indivíduos,
não ocorreria a segregação de grande parcela da população, que tem dificul-
dade para utilizar ambientes e equipamentos projetados pelos arquitetos e
urbanistas, conforme apontam Neufert (2013) e Cambiaghi e Mauch (2017).
O termo deficiência é adotado para designar o problema específico de uma
disfunção no nível fisiológico do indivíduo (por exemplo, cegueira, surdez,
paralisia). Por sua vez, o termo restrição está associado às dificuldades re-
sultantes da relação entre as condições dos indivíduos e as características do
meio ambiente na realização de atividades. Dischinger (2012, p. 16) esclarece:

É, no entanto, importante notar que a presença de uma deficiência não impli-


ca, necessariamente, incapacidade. Uma pessoa com baixa visão, apesar da
deficiência visual, pode ler utilizando lentes especiais. Por outro lado, qual-
quer pessoa pode em algum momento ser incapaz de realizar uma atividade
devido a fatores ambientais, culturais ou socioeconômicos. Exemplos dessas
situações podem ser: subir uma ladeira muito íngreme para um idoso ou uma
mulher grávida; não compreender o idioma em placas informativas urbanas
para um turista estrangeiro; não poder ler instruções num terminal bancário
para pessoas iletradas; ou não poder deslocar-se por não ter dinheiro para
pagar uma passagem de ônibus.

Partindo das definições mencionadas, podemos citar o exemplo de uma


pessoa com catarata, que tem comprometimento visual e está incluída nos
Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência 3

indivíduos com deficiência visual. As dificuldades advindas da sua condição


são evidenciadas no meio ambiente: ela não distingue com nitidez os ele-
mentos físicos do espaço — como desníveis ou mudança de planos — e não
reconhece a fisionomia de uma pessoa a uma determinada distância. Então,
as condições do meio ambiente podem agravar essas dificuldades, gerando
restrições (Figura 1).

Figura 1. Visão normal e visão com catarata.


Fonte: Adaptada de Ben Hur (2018).

A restrição de mobilidade abrange as deficiências físicas, mas não se


limita a elas. A idade (avançada ou reduzida), o estado de saúde e as carac-
terísticas antropométricas (altura e peso) dos indivíduos podem desencadear
necessidades especiais para atividades desejadas: receber informações,
acessar e manusear equipamentos e mobiliários, deslocar-se, adentrar em
veículos, etc. Devemos lembrar também que há possíveis alterações nas
dimensões e posições corporais ocasionadas por patologias. Segundo Dor-
neles (2014, p. 60), “[...] uma pessoa com artrose pode ter dificuldades em
movimentar seus braços, diminuindo seu alcance”.
A Organização Mundial da Saúde (2008) utiliza o termo restrição para
designar a relação entre as características de um meio físico e social e as
condições de um indivíduo na realização de atividades. Para a arquitetura
4 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

e urbanismo, é fundamental o conhecimento das relações conflitantes entre


as habilidades e/ou dificuldades dos usuários e o espaço; por isso, o termo
restrição é adequado. Ao compreendermos as restrições que os ambientes
podem gerar nas pessoas, abrimos possibilidades para pensar espaços que
não ofereçam barreiras e facilitem as atividades. Na nossa abordagem, o
termo restrição significa dizer que um ambiente está inadequado para atender
às necessidades de uma pessoa, com ou sem deficiência, na realização das
atividades desejadas em sua vida.
O termo deficiência física tem sido utilizado no Brasil para identificar todos
os tipos de deficiência, em particular na adaptação dos sistemas de transpor-
tes, nos quais se adotou o ícone do usuário com cadeira de rodas (BRASIL,
2006a). A imagem pontual do cadeirante comprometeu uma abordagem mais
abrangente do problema de exclusão nos espaços públicos, pois desconsiderou
os demais tipos de deficiência existentes.

O documento publicado em 2001 pela OMS, o International Classification of Functioning,


Disability and Health, traduzido no Brasil como Classificação Internacional de Funcionali-
dade, Incapacidade e Saúde (CIF), proporciona uma linguagem unificada e padronizada
sobre a saúde e os estados relacionados a ela.

Os termos funcionalidade e incapacidade são utilizados na CIF para des-


crever o que uma pessoa pode ou não fazer a partir de uma determinada
condição de saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001, documento
on-line, grifos nossos).

Funcionalidade é um termo genérico para as funções do corpo, estruturas do


corpo, atividades e participação. Ele indica os aspectos positivos da interação
entre um indivíduo (com uma condição de saúde) e seus fatores contextuais
(fatores ambientais e pessoais).
Incapacidade é um termo genérico para deficiências, limitações de atividade
e restrições de participação. Ele indica os aspectos negativos da interação
entre um indivíduo (com uma condição de saúde) e seus fatores contextuais
(fatores ambientais e pessoais).

A CIF define também os fatores ambientais que constituem o am-


biente físico, social e de atitudes em que as pessoas vivem e conduzem
Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência 5

suas vidas. Eles incluem o papel do meio ambiente no estado funcional da


saúde dos indivíduos, atuando como barreiras ou como facilitadores no
desempenho das atividades e na participação social (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2001, documento on-line, grifos nossos).

Facilitadores são fatores ambientais que, por meio da sua ausência ou


presença, melhoram a funcionalidade e reduzem a incapacidade de uma
pessoa. Esses incluem aspectos como um ambiente físico acessível, dispo-
nibilidade de tecnologia de assistência apropriada, atitudes positivas das
pessoas em relação à incapacidade, bem como serviços, sistemas políticos
que visam aumentar o envolvimento de todas as pessoas com uma condição
de saúde em todas as áreas da vida. A ausência de um fator também pode
ser facilitador; por exemplo, a ausência de estigma ou de atitudes nega-
tivas. Os facilitadores podem impedir que uma deficiência ou limitação
de atividade transforme-se em uma restrição de participação, já que o
desempenho real de uma ação é aumentado, apesar do problema da pessoa
relacionado à capacidade.
Barreiras são fatores ambientais que, por meio da sua ausência ou presença,
limitam a funcionalidade e provocam a incapacidade. Esses incluem aspectos
como um ambiente físico inacessível, falta de tecnologia de assistência apro-
priada, atitudes negativas das pessoas em relação à incapacidade, bem como
serviços, sistemas e políticas inexistentes ou que dificultam o envolvimento
de todas as pessoas com uma condição de saúde em todas as áreas da vida.
(CIF, 2008, p. 244, grifos nossos)

O conceito geral dos componentes da CIF (WORLD HEALTH ORGA-


NIZATION, 2001) é exemplificado pela Figura 2. O modelo descreve o fun-
cionamento do corpo do indivíduo e a sua interação com o meio ambiente.

Figura 2. Conceito geral dos componentes da CIF.


Fonte: Adaptada de Benvegnú (2009).
6 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

A classificação das deficiências provocadas por doenças ou anomalias é


muito complexa. Interessa, aqui, compreender a natureza dos problemas fisio-
lógicos humanos, para relacioná-los com os fatores ambientais e, se possível,
reverter situações que conduzem à exclusão espacial. Adotamos, portanto, as
definições de Dischinger (2012), acrescidas dos estudos de Dorneles (2014),
Benvegnú (2009), Ely, Dorneles e Papaleo (2008), Siaulys (2006), Bruno
(2006), Damázio (2007) e Godói (2006), para sintetizar as deficiências que se
relacionam com as habilidades funcionais humanas. São elas: físico-motoras,
sensoriais, cognitivas e múltiplas.

Deficiências físico-motoras, restrições


e orientações espaciais
As deficiências físico-motoras alteram a capacidade de motricidade geral do
indivíduo, acarretam dificuldades ou até incapacidade para a realização de
movimentos. Pode haver alteração total ou parcial de uma ou mais partes do
corpo, prejudicando principalmente os movimentos dos membros superiores
e inferiores. Normalmente há necessidade de utilização de equipamentos
assistivos como cadeira de rodas, andadores, muletas, aparelhos ortopédicos
ou próteses, conforme lecionam Benvegnú (2009) e Dischinger (2012).
As restrições físico-motoras ocorrem quando o ambiente ou seus equi-
pamentos impedem ou dificultam a realização de tarefas que exigem força
física, coordenação motora, precisão ou mobilidade. Segundo Ely, Dorneles e
Papaleo (2008) e Dischinger (2012), cadeirantes, isto é, pessoas que possuem
deficiências nos membros inferiores, podem estar restritas a:

 transpor obstáculos com diferença de níveis;


 subir rampas que não estejam adequadas à Norma;
 alcançar equipamentos com alturas superiores à extensão do seu braço
enquanto sentadas;
 aproximar-se de equipamentos que não possuam previsão de espaço
de aproximação para cadeira de rodas.

Porque as suas mãos estão ocupadas, usuários de muletas têm dificul-


dade para:

 utilizar escadas com grande número de degraus sem patamares para


descanso;
 locomover-se rapidamente na travessia de vias;
Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência 7

 sentar-se em áreas de estar sem prejudicar a circulação com as muletas;


 acionar botões ou comandos de equipamentos (como bebedouros), pois
as mãos estão ocupadas com as muletas.

As pessoas sem uma mão ou um braço têm dificuldades de coordenação


motora fina, limitação de força nos membros superiores e problemas no
acionamento de botões ou comandos de equipamentos. Também os indivíduos
carregando volumes ou sacolas nas mãos têm dificuldade para abrir portas
cujas maçanetas não são de alavanca, conforme apontam Ely, Dorneles e
Papaleo (2008).
Para reduzir as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência
físico-motoras — além da aplicação integral do previsto na ABNT NBR
9050:2020(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
2015) — algumas orientações espaciais são propostas por Dischinger (2012,
p. 18-19):

 prever espaço suficiente para aproximação e uso de espaços e


equipamentos;
 eliminar desníveis verticais ao longo de percursos ou ambientes;
 prover suportes para apoio (corrimãos);
 criar superfícies uniformes com inclinação leve ou inexistente,
com pisos de boa aderência, antiderrapantes, e que não provoquem
trepidação;
 observar dimensões mínimas adequadas para o deslocamento (ASSO-
CIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020);
 para vencer desníveis verticais, devem ser criados percursos alternativos
utilizando rampas ou elevadores, e nos percursos longos deve haver
locais de repouso;
 equipamentos e mobiliário devem ser acessíveis também na posição
sentada, tais como telefones públicos, balcões de atendimento, lavatórios,
etc., devendo-se atentar ao desenho, ao layout e à altura destes;
 informações e avisos devem estar no nível do olho de pessoas mais
baixas e com cadeira de rodas;
 priorizar operações com apenas uma mão ou mesmo com o cotovelo,
por exemplo, na abertura de portas, por meio de maçanetas em forma
de alavanca e com dimensões adequadas;
 acionamento de dispositivos, como torneiras, com o pé, por sistema
ótico ou por pressão.
8 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

Deficiências sensoriais, restrições e orientações espaciais


As deficiências sensoriais dizem respeito à ausência ou à perda significativa na
capacidade dos sistemas de percepção do indivíduo para obter e organizar as
informações ambientais. Essas perdas geram dificuldades no uso dos espaços
e comprometem a participação social do indivíduo em diferentes atividades,
conforme apontam Ely, Dorneles e Papaleo (2008) e Dischinger, Ely e Piardi
(2012). Dischinger (2012) adota a seguinte classificação para as deficiências
sensoriais: sistema de orientação, sistema háptico, sistema visual, sistema
auditivo e sistema paladar–olfato.
As restrições sensoriais ocorrem quando as características dos ambientes
ou de seus elementos dificultam a percepção das informações pelos sistemas
sensoriais. As pessoas com deficiência visual possuem dificuldades em se
locomover com segurança em espaços com amplas dimensões, identificar
mobiliário e obstáculos no caminho e perceber informações adicionais, como
placas e totens com informações visuais apenas, conforme lecionam Ely,
Dorneles e Papaleo (2008).
Na audição reduzida, as dificuldades diversas do indivíduo não impedem que
ele compreenda a fala humana e consiga expressar-se oralmente, com ou sem
a ajuda de aparelhos. Quando há perda total de audição em um dos ouvidos, a
orientação espacial é afetada devido à impossibilidade de localizar a origem dos
eventos sonoros. Para as pessoas surdas, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é
preferencial, porém, alguns indivíduos podem adquirir a linguagem oral, conforme
aponta Dischinger (2012). Pessoas com deficiência no sistema de orientação/
equilíbrio têm comprometimento de todas as atividades sensoriais, podendo
significar desde a perda da capacidade de equilíbrio (tontura, vertigens) até a
dificuldade de orientar-se espacialmente, pois não conseguem distinguir direções.
Para minimizar as restrições decorrentes das deficiências sensoriais, as
premissas superam as questões apenas de mobilidade, uma vez que a recepção
das informações de qualquer natureza pode ser prejudicada. As normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) regulamentam os requisitos
de acessibilidade, com enfoque especial às deficiências visuais, e, portanto,
devem ser atendidas. Além do disposto nas Normas, recomenda-se, segundo
Dischinger (2012, p. 20):

 criar ambientes e espaços bem organizados e de fácil legibilidade


espacial;
 prever superfícies niveladas;
 garantir a presença de apoios (corrimãos);
Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência 9

 implantar sistemas de monitoramento remoto (aparelhos que auxiliam


na orientação geográfica, agendas eletrônicas, etc.);
 adotar a grande variedade dos equipamentos de tecnologias assistivas dis-
poníveis (decodificação de legendas, linguagens alternativas por meio de
pictogramas, versores de linguagem pictórica e/ou escrita para oral, etc.);
 utilizar as linguagens LIBRAS e braile;
 utilizar sinalização visual e sonora;
 instalar sistema de incêndio com sinalização luminosa;
 instalar sistema de alarme luminoso.

Deficiências cognitivas, restrições e orientações espaciais


As deficiências cognitivas se referem às dificuldades para compreender e tratar
as informações recebidas (atividades mentais), podendo afetar os processos
de aprendizado e aplicação de conhecimento e a comunicação linguística e
interpessoal. Também conhecida como deficiência mental/intelectual, pode
comprometer as habilidades de raciocínio, memória e concentração. Conse-
quentemente, o indivíduo pode apresentar dificuldades de concentração, de
convívio social e para resolução de problemas, o que implica na dependência
de outras pessoas, no caso de deficiência mais acentuada, conforme apontam
Benvegnú (2009) e Dischinger (2012).
As restrições cognitivas ocorrem quando o espaço e suas características
dificultam ou impedem o tratamento das informações disponíveis ou o desen-
volvimento de relações interpessoais e tomadas de decisão. No caso de alguns
níveis de autismo, por exemplo, há indivíduos que possuem dificuldades na
compreensão de informações ou que não conseguem associar símbolos às
informações, segundo Ely, Dorneles e Papaleo (2008) e Dischinger (2012).
Para projetar ambientes que incluam as pessoas com deficiências cogni-
tivas, devemos atender às determinações das Normas e atentar para alguns
aspectos referentes à segurança e à compreensão espacial, conforme recomenda
Dischinger (2012):

 priorizar a presença de dispositivos de segurança;


 evitar ambientes muito complexos e com poluição visual;
 propiciar apelo visual e contraste de cores, evitando monotonia e repetição;
 fornecer mensagens ou informações por meio de suportes distintos
(escrita, visual, auditiva);
 prover iluminação adequada evitando pisca-pisca de luzes de 10-50 Hz
(causa desconforto visual e pode desencadear convulsões).
10 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

Deficiências múltiplas, restrições e orientações espaciais


As deficiências múltiplas são aquelas em que o indivíduo apresenta mais de um
tipo de deficiência. Conforme exemplifica Dischinger (2012, p. 22), “[...] uma
pessoa com lesão cerebral congênita pode possuir uma deficiência cognitiva
associada a uma deficiência sensorial (baixa-visão) e físico-motora (dificuldade
de coordenação de movimentos)”. Deve-se considerar que, mesmo o indivíduo
não possuindo deficiências múltiplas, a ocorrência de uma deficiência acarreta
alterações em outras estruturas ou funções corpóreas.
As restrições múltiplas ocorrem em diversos níveis; no caso das crianças,
elas precisam ser encorajadas a locomover-se, realizar atividades e brincar. Um
tipo especial de deficiência múltipla é a surdo-cegueira, quando um indivíduo
possui diferentes graus de deficiências auditiva e visual associadas. Estas
comprometem tanto a sua comunicação social e o seu aprendizado quanto a sua
orientação espacial e a sua percepção geral da informação do meio ambiente
físico, conforme apontam Dischinger (2012) e Godói (2006).
Os critérios para projetos de ambientes voltados às deficiências múltiplas
devem atender aos requisitos necessários para a solução dos problemas de
forma integrada, buscando evitar conflitos. As orientações espaciais para as
deficiências físico-motoras, sensoriais e cognitivas são válidas.

Legislação internacional e nacional: o caminho


para a acessibilidade universal
As legislações internacional e nacional estabelecem diretrizes com força
de lei para a inclusão das pessoas com deficiência e determinam requisitos
para promover a equiparação de oportunidades no meio ambiente. Em 13 de
dezembro de 2006, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
(ONU) adotou a resolução que estabeleceu a Convenção dos Direitos das
Pessoas com Deficiência, cujo propósito “[...] é o de promover, proteger e
assegurar o desfrute pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liber-
dades fundamentais por parte de todas as pessoas com deficiência e promover
o respeito pela sua inerente dignidade” (BRASIL, 2008b, documento on-line).
Em 2008, o Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, adotada pela ONU, bem como o seu Protocolo Facultativo.
O documento obteve equivalência de emenda constitucional e é assim
intitulado: Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência:
protocolo facultativo à convenção sobre os direitos das pessoas com
Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência 11

deficiência. Ele envolve o Decreto Legislativo nº. 186, de 09 de julho de


2008, e o Decreto nº. 6.949, de 25 de agosto de 2009 (BRASIL, 2011). No
art. 4º, “Obrigações Gerais”, a Convenção determina que os Estados Partes
se comprometam a:

[...] f) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento de produtos,


serviços, equipamentos e instalações com desenho universal, conforme de-
finidos no Artigo 2 da presente Convenção, que exijam o mínimo possível
de adaptação e cujo custo seja o mínimo possível, destinados a atender às
necessidades específicas de pessoas com deficiência, a promover sua dispo-
nibilidade e seu uso e a promover o desenho universal quando da elaboração
de normas e diretrizes (BRASIL, 2011, documento on-line)

O desenho universal é definido no art. 2º, “Definições”, da referida Con-


venção como:

[...] a concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados,


na maior medida possível, por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação
ou projeto específico. O “desenho universal” não excluirá as ajudas técnicas
para grupos específicos de pessoas com deficiência, quando necessárias
(BRASIL, 2011, documento on-line).

A busca pela acessibilidade universal é expressa na legislação e nos demais


documentos que balizam a concepção de projetos arquitetônicos, hoje com
obrigatoriedade de inclusão das pessoas com deficiência. Nos Cadernos do
Programa Brasil Acessível — Programa Brasileiro de Acessibilidade Urbana
(2006), uma das ações previstas é a difusão do conceito de desenho universal
no planejamento de sistemas de transportes e equipamentos públicos. A Lei
nº. 13.146, de 6 de julho de 2015, chamada de Lei Brasileira da Inclusão (LBI),
art. 3º, II, retoma a definição de desenho universal nos termos das demais
legislações (BRASIL, 2015).
A atual Constituição Brasileira determina o tratamento igualitário que deve
ser atribuído a todas as pessoas, bem como igual proteção à Lei. Do mesmo
modo, no ordenamento jurídico brasileiro, há leis, decretos e normas abordando
a inclusão — a Lei Federal nº. 10.098, de 19 de dezembro de 2000, o Decreto nº.
5.296, de 2 de dezembro de 2004, e a ABNT NBR 9050:2015 — que estabelecem
os critérios básicos para a promoção da acessibilidade como garantia dos direitos
das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, além de pessoas
idosas, obesas, mulheres grávidas e outras (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2015; BRASIL, 2000; BRASIL, 2004; BRASIL,
2020)
12 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

No Brasil, a ABNT NBR 9050:2020 — Acessibilidade a edificações, mobiliá-


rio, espaços e equipamentos urbanos — representa um avanço em prol da inclusão
social, pois apresenta parâmetros técnicos de projeto que garantem o mínimo de
condições de acesso às pessoas com deficiência para (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020). Contudo, a promoção de
espaços inclusivos extrapola a garantia de condições mínimas estabelecidas na
Norma.
Os estudos voltados à acessibilidade universal instituídos pelo desenho
universal proporcionam ferramentas adicionais aos arquitetos para que se possa
desenhar, ou projetar, para todas as pessoas. O conjunto de estudos e pesquisas
já realizados nos fornece conhecimentos das demandas específicas dentro da
diversidade humana, de forma a atendermos às necessidades específicas de
todos os usuários sem evidenciar as diferentes necessidades de cada pessoa.

Acessibilidade universal: um conceito


a ser alcançado
O desenho universal é a proposta metodológica que apoia tecnicamente o
processo de projetar para alcançar a acessibilidade universal. O projeto para
todos, ou desenho universal, deve ser o princípio fundamental para qualifi
car ambientes desde o início de um projeto. O desenho universal apresenta
sete princípios que devem ser considerados ao se pensar em soluções para
ambien-tes, produtos e serviços, conforme apontam Cambiaghi e Mauch
(2017, p. 144): 1. Uso Equitativo: o design é útil às pessoas com habilidade diversas;
2. Uso Flexível: o design considera ampla diversidade de habilidades e pre-
ferências individuais;
3. Uso simples e intuitivo: o uso do design é de fácil entendimento sem depender
da experiência, habilidade ou nível de concentração do usuário;
4. Informação perceptível: o design comunica com eficácia as informações
necessárias ao uso, independente de condições ambientais ou da habilidade
sensorial do usuário;
5. Tolerância ao erro: o design deve prever e minimizar consequências ad-
versas de ações acidentais;
6. Pouco esforço físico: o design deve ser usado com o máximo de conforto
e o mínimo de fadiga;
7. Tamanho e espaço para aproximação e uso: o design deve fornecer tamanho
e espaço para utilização considerando diversos portes de usuários, posturas
e formas de mobilidade.
Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência 13

O desafio iminente dos arquitetos é alcançar, nos seus projetos, a aces-


sibilidade universal. Para orientar as metodologias projetuais desde a sua
concepção, Dischinger (2012) classificou os componentes de acessibilidade
espacial em quatro categorias: orientação espacial, comunicação, deslocamento
e uso. Além de atender integralmente ao disposto na ABNT NBR 9050:2020,
os projetos arquitetônicos podem apropriar-se desses componentes para adotar
soluções de desenho universal que permitam a acessibilidade para todos.

Orientação espacial
Segundo Dischinger (2012, p. 29): “[...] as condições de orientação es-
pacial são determinadas pelas características ambientais que permitem
aos indivíduos reconhecer a identidade e as funçõe
s dos espaço
s e defi nir
estratégias para seu deslocamento e uso”. O Quadro 1 apresenta diretrizes
de projeto para criar ambientes seguros e sem barreiras, observando o
quesito orientação espacial.

Quadro 1. Recomendações projetuais

Imagens Orientação espacial

Piso tátil As pessoas com deficiência visual têm


dificuldades para perceber onde começa
e onde termina uma escada ou mesmo
uma rampa; assim, é fundamental que
exista sinalização tátil de alerta no piso.
Do mesmo modo, em espaços amplos,
é necessário utilizar a sinalização tátil
direcional, indicando o caminho a
Escada com projeção no piso
ser percorrido, bem como placas de
sinalização.
As escadas também podem ser obstáculos
nas circulações horizontais para as
pessoas com deficiência visual ou mesmo
para pessoas distraídas; assim, torna-se
importante a presença de algum tipo
de elemento que delimite a projeção da
escada.

(Continua)
14 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

(Continuação)

Quadro 1. Recomendações projetuais

Imagens Orientação espacial

Contraste cromático para portas As diferenciações cromáticas e de texturas


são elementos auxiliares que devem ser
considerados no projeto arquitetônico
como parâmetros importantes para a
orientação e o deslocamento de pessoas
com deficiência visual. As cores e a
iluminação são elementos complementares
Informações táteis para melhor percepção dos espaços.
Deve-se evitar ofuscamento, produção de
fadiga ocular e mudanças bruscas de luz
entre os diversos espaços. A iluminação
interior deve ser adequada ao exterior,
dispondo de níveis de iluminação diurna
maior que a noturna, e, de igual modo,
nas áreas próximas aos acessos e, em
particular, nas saídas de emergência.
A porta, a maçaneta, o piso, a parede e os
equipamentos de um sanitário devem ser
cromaticamente contrastados com seus
respectivos entornos, de forma a facilitar
a visualização por uma pessoa com baixa
visão, conforme leciona Benvegnú (2009).

Fonte: Adaptado de Dischinger (2012) e Benvegnú (2009).

Comunicação
Conforme Dischinger (2012, p. 30):

[...] as condições de comunicação em um ambiente dizem respeito às possibi-


lidades de troca de informações interpessoais, ou troca de informações pela
utilização de equipamentos de tecnologia assistiva, que permitam o acesso,
a compreensão e participação nas atividades existentes.

O Quadro 2 sugere orientações para projetar buscando a máxima comunica-


bilidade dos ambientes.
Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência 15

Quadro 2. Recomendações projetuais

Imagens Comunicação

Identificação de percursos É importante identificar e hierarquizar os


percursos e trajetos existentes a partir de
características arquitetônicas e dos suportes
informativos, como as saídas de emergência,
as circulações verticais e outros.
A sinalização tem por objetivo informar sobre
as demandas reais dos usuários; por isso, deve-
-se evitar o excesso de informação. Os fatores
que intervém na percepção dependem do
Demarcação de vaga para receptor, do meio e da própria sinalização (o
pessoas com deficiência emissor). Em relação ao receptor: os receptores
dispõem de diferentes níveis de percepção
nos diversos órgãos sensoriais. A percepção
visual tem de levar em conta a altura de visão
do receptor em função de sua altura e posição
em pé ou sentada, assim como o ângulo de
visão. Em relação ao meio: a boa percepção
auditiva depende de condições ambientais
Painéis de informação à altura que permitam o uso de mensagens audíveis
dos olhos que superem o ruído do ambiente.
A iluminação deverá evitar reflexos sobre a
sinalização, sendo realizada preferencialmente
de forma indireta. Quando a luz for direta,
deve se situar atrás da sinalização.
Os painéis com informações gráficas devem
ser postos perpendicularmente ao desloca-
mento, de tal forma que não fiquem ocul-
Sinalização visual de segurança tos por obstáculos como portas abertas e
mobiliários.
Em relação à sinalização: as informações
essenciais no mobiliário e nos espaços devem
ser sinalizadas de forma visual, tática e sonora.
As informações orais devem ser emitidas com
respectivos textos escritos e linguagem de
sinais para atender as pessoas com deficiência
auditiva, conforme leciona Benvegnú (2009).

Fonte: Adaptado de Dischinger (2012) e Benvegnú (2009).


16 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

Deslocamento
Segundo Dischinger (2012, p. 30), “[...] as condições de deslocamento em
ambientes edificados referem-se à possibilidade de qualquer pessoa poder
movimentar-se ao longo de percursos horizontais e verticais (saguões, escadas,
corredores, rampas, elevadores) de forma independente, segura e confortá-
vel, sem interrupções e livre de barreiras físicas para atingir os ambientes
que deseja”. O Quadro 3 expõe ferramentas projetuais a fim de garantir um
deslocamento acessível e seguro a todos os usuários.

Quadro 3. Recomendações projetuais

Imagens Deslocamento

Alternativas para circulação As pessoas com mobilidade reduzida encon-


vertical tram dificuldades para se deslocar entre um
nível e outro da edificação. A capacidade funcio-
nal entre esse grupo de pessoas é variável; por
isso, é importante estabelecer meios de acesso
alternativos, como rampa, escada e elevador.
Quando o acesso entre um pavimento e outro
só pode ser realizado por meio de uma escada,
faz-se necessário acoplar um equipamento
eletromecânico para o deslocamento de pes-
Cadeira elevatória para soas em cadeira de rodas — por exemplo, uma
deslocamento plataforma elevatória acoplada à escada.
Quando existir uma rampa prévia a uma
porta, deverá existir um espaço que permita à
pessoa usuária de cadeira de rodas aproximar-
-se, abrir e fechar a porta de forma segura.
Deverá existir desde o acesso principal um iti-
nerário acessível que permita o deslocamento
entre os diferentes espaços dentro de um
edifício. A pavimentação tem de ser antiderra-
pante, sem desníveis, sem excesso de brilho e
firmemente fixada.

(Continua)
Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência 17

(Continuação)

Quadro 3. Recomendações projetuais

Imagens Deslocamento

Portas automáticas Quando existem mecanismos com


acionamento eletrônico — por exemplo,
uma porta eletrônica com abertura por
meio de sensor e temporizador —, é
necessário que eles atendam aos tempos
para deslocamento de diferentes pessoas,
como crianças, idosos, pessoas com
deficiência, entre outras.
Sinalização visual nos degraus Todos os degraus de uma escada devem
ter sinalização visual na borda do piso;
deve-se evitar revestir o piso das escadas
com revestimentos lisos ou que causam
ofuscamento visual, conforme aponta
Benvegnú (2009).

Fonte: Adaptado de Dischinger (2012) e Benvegnú (2009).

Uso
Conforme Dischinger (2012, p. 32), “[...] as condições de uso dos espaços e dos
equipamentos referem-se à possibilidade efetiva de participação e realização
de atividades por todas as pessoas”. O Quadro 4 traz recomendações de projeto
para o uso efetivo de espaços e equipamentos.
18 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

Quadro 4. Recomendações projetuais

Imagens Uso

Sanitários acessíveis O dimensionamento dos espaços relativos à


circulação horizontal tem de levar em conta
a diferença na velocidade de deslocamento
entre os diferentes usuários.
O desenho dos espaços e do mobiliário deve
considerar as diferenças dimensionais de
forma a atender aos alcances visuais e manu-
ais de diversos usuários.
Aproximação para o uso A abertura das portas deve ter uma largura
de passagem que permita o uso por parte de
pessoas cadeirantes. O sistema de fechadura
deve ser de fácil acionamento e manipulação
para pessoas com problemas de mobilidade
das mãos.
Recomenda-se, por exemplo, que o ferrolho
da porta de um boxe sanitário informe a dis-
ponibilidade de uso desde o exterior e tenha
possibilidade de desbloqueio de ambos os
Sistema de fechadura
lados, para emergências.
de fácil acionamento
O interior dos espaços para higiene sanitária
deve atender a um círculo de 1,50 m livre de
obstáculos, que possibilita espaço para aber-
tura e fechamento da porta, como também
possibilita área de manobra, aproximação e
uso dos equipamentos por uma pessoa em
cadeira de rodas.
Quando necessário permitir a permanência
da iluminação nos ambientes, recomenda-
-se utilizar sensores de presença em vez dos
usuais mecanismos com temporizador.
De modo geral, os mecanismos de controle
Cadeira para obesos ambiental, como os interruptores elétricos, têm
de estar dispostos de forma a permitir o fácil
manuseio e o alcance das pessoas cadeirantes.
Deve-se evitar os interruptores com botão
giratório, que dificultam o manuseio para as
pessoas com limitações nos membros superio-
res, conforme leciona Benvegnú (2009).

Fonte: Adaptado de Dischinger (2012) e Benvegnú (2009).


Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência 19

As orientações para alcançarmos a acessibilidade universal em projetos são


um aporte ao cumprimento obrigatório das leis, normas e códigos nas respectivas
áreas de jurisdição relativas à segurança e acessibilidade. Estratégias adicionais
das normas técnicas e ideias inovadoras poderão ser aceitas por meio de avaliação
e aprovação de usuários e peritos, conforme apontam Cambiaghi e Mauch (2007).
A acessibilidade universal é um objetivo que deve permear a concepção
de todos os edifícios, ambientes e espaços públicos. Conforme expusemos,
muitas pessoas com deficiência se encontram dependentes de outras pessoas
para realizar inúmeras tarefas no dia a dia. O arcabouço legal e normativo,
associado aos princípios do desenho universal, são importantes instrumentos
para alavancar os processos de participação social dos indivíduos, em condição
de igualdade, bem como para adotarmos boas práticas em arquitetura e design.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: acessibilidade e edificações, mo-


biliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.
ufpb.br/cia/contents/manuais/abnt-nbr9050-edicao-2015.pdf>. Acesso em: 205 fev.
2022
BEN HUR. Catarata: recupere sua visão e volte a apreciar a beleza da vida. Revista Saúde.
nº. 12, jun. 2018. Disponível em: <http://rsaude.com.br/aracatuba/materia/catarata-
re-cupere-sua-visao-e-volte-a-apreciar-a-beleza-da-vida/8504>. Acesso em: 05 fev.
2022
BENVEGNÚ, E. M. Acessibilidade espacial: requisito para uma escola inclusiva. 2009.
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BRASIL. Decreto nº. 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nº. 10.048, de
8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica,
e nº. 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios
básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou
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2 dez. 2004 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm> Acesso em 05 fev. 2022
20 Normas técnicas: espaços planejados para pessoas com deficiência

BRASIL. Lei nº. 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e


critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de
deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 20 dez. 2000. Disponível em: 19 dez. 2000. Disponível em :<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm> Acesso em 05 fev. 2022
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DAMÁZIO, M. F. M. Atendimento educacional especializado: pessoa com surdez. Brasília:
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DORNELES, V. G. Estratégias de ensino de desenho universal em cursos de graduação em
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Florianópolis: PetARQ/UFSC, 2008.
GODÓI, A. M. (Org.). Educação infantil saberes e práticas da inclusão: deficiência física.
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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação internacional de funcionalidade,


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SIAULYS, M. O. C. A inclusão do aluno com baixa visão no ensino regular. Brasília: MEC,
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Leituras recomendadas
CAMBIAGHI, S. Desenho universal: métodos e técnicas para arquitetos e urbanistas. 2.
ed. São Paulo: SENAC, 2011.
CARLETTO, A. C.; CAMBIAGHI, S. Desenho universal: um conceito para todos. São Paulo:
Mara Gabrilli, 2008.
DORNELES, V. G.; AFONSO, S.; ELY, V. H. M. B. O desenho universal em espaços abertos:
uma reflexão sobre o processo de projeto. Gestão e Tecnologia de Projetos, São Paulo,
v. 8, n. 1, p. 55-67, jan./jun. 2013. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/gestao-
deprojetos/article/view/62203/65031>. Acesso em: 29 out. 2018.
GURGEL, M. Projetando espaços: guia de interiores para áreas comerciais. São Paulo:
SENAC, 2005.
MANCUSO, C. Arquitetura de interiores e decoração: a arte de viver bem. Porto Alegre:
Sulina, 2004.
NEUFERT, E. Arte de projetar em arquitetura. 13. ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.
PANERO, J.; ZELNIK, M. Dimensionamento humano para espaços interiores. São Paulo:
Gustavo Gili, 2008.
PRADO, A. R. C.; LOPES, M. E.; ORNSTEIN, S. W. Trajetória da acessibilidade o Brasil. In:
PRADO, A. R.; LOPES, M. E.; ORNSTEIN, S. W. (Org.). Desenho universal: caminhos para a
acessibilidade no Brasil. São Paulo: Annablume, 2010.
STEINFELD, E. Arquitetura através do desenho industrial. In: Seminário sobre acessibi-
lidade ao meio físico, 6., 1994, Brasília. Curso básico sobre acessibilidade ao meio físico.
Brasília: Corde, 1994.
Conteúdo:
DESIGN DO
MOBILIÁRIO

Laila Janna Canto Tavares


Materiais empregados
em um projeto mobiliário
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir o comportamento dos materiais e as suas possibilidades de uso.


 Identificar os materiais mais adequados para cada tipo de móvel e
ambiente.
 Descrever o uso de ferragens e acessórios adequados para cada tipo
de móvel e ambiente.

Introdução
A maioria dos móveis produzidos antes do século XX era confeccionada
por artesãos locais e a partir de materiais como madeira. Porém, com a
Revolução Industrial, novos materiais e novos processos construtivos
impulsionaram o desenvolvimento tanto de novos modelos quanto de
novas formas de construção do mobiliário. As diversas possibilidades
encontradas pelos designers também contribuíram para o surgimento de
grandes novidades nesse ramo, especialmente com o desenvolvimento
da tipologia industrial e de novos materiais de construção, como o ferro,
o aço, o vidro, o concreto armado, etc.
Neste capítulo, você vai estudar os materiais e seus usos no processo
de desenvolvimento do design do mobiliário a partir da Revolução In-
dustrial. Você vai identificar os materiais mais adequados para cada tipo
de móvel e ambiente, além de verificar as ferragens e os acessórios mais
adequados para cada tipo de móvel e ambiente.
2 Materiais empregados em um projeto mobiliário

O comportamento dos materiais


e as suas possibilidades de uso
Nesta seção, você vai analisar alguns tipos mais comuns de materiais usados
na fabricação de móveis e as suas principais características.

Madeira
Segundo Mello (2007 apud CABRAL et al., 2016), algumas características
são relevantes nas construções em madeira, como trabalhabilidade, excelente
relação entre peso e resistência mecânica, beneficiamento com baixo consumo
energético, reaproveitamento e renovabilidade. Outra característica relevante
reside no fato de a madeira apresentar resistência em relação à densidade,
superando o aço e o concreto. Com relação ao teor de umidade, a madeira
apresenta comportamento semiporoso, podendo absorver ou perder umidade
de acordo com as condições do meio. Já a densidade, ou peso específico — a
quantidade de massa contida na unidade de volume, ou a relação entre peso
e volume de uma amostra —, tem relação direta com o tipo de madeira. Um
ponto importante a citar sobre a densidade é que varia de acordo com o grau
de umidade (MELLO, 2007 apud CABRAL et al., 2016).
Quando comprimida ou tracionada na direção da fibra, a madeira pode ser
amassada ou esmagada; porém, quando a carga for aplicada perpendicularmente,
acaba por resistir menos ao cisalhamento na direção da sua fibra. Ainda, a madeira
expande ou contrai perpendicularmente a sua fibra conforme mudanças no nível
de umidade (CHING; BINGGELI, 2013). Veja, a seguir, os tipos de madeira.

 Madeira compensada: material que possui inúmeras lâminas finas


dispostas entre si em ângulos retos na direção da fibra, dando resistência
em ambas as direções. Já a madeira aglomerada é feita a partir de uma
colagem de pequenas partículas de madeira sob calor ou pressão. Esse
último modelo é bastante utilizado em painéis decorativos e armários
(CHING; BINGGELI, 2013).
 Medium Density Fiberboard (MDF): chapa de fibras de madeira agluti-
nadas com resinas sintéticas submetidas a temperatura e pressão. Substitui
as chapas de aglomerado e a madeira maciça. A distribuição uniforme da
fibra em toda a sua espessura permite a incorporação de novas tecnologias.
Sua usinabilidade é explorada no móvel torneado. No móvel retilíneo, o
MDF é aplicado na parte frontal, enquanto a chapa dura é empregada nos
fundos e o aglomerado nas prateleiras e laterais.
Materiais empregados em um projeto mobiliário 3

 Medium Density Particleboard (MDP): é formado por três camadas de


chips ou cavacos de madeira, geralmente pinus, sendo as duas camadas
externas de pequena gramatura e a interna de gramatura maior. Essa
separação dos cavacos confere estabilidade dimensional, isolamento
acústico e resistência a empenamentos e deformações. Pode ser bas-
tante utilizado em móveis retilíneos, como mesas, armários, balcões e,
principalmente, onde há necessidade de resistência mecânica.
 Madeira reflorestada: obtida de espécies que apresentam um ciclo de
crescimento rápido no solo e clima brasileiros. Apresenta período de
abate bem menor em relação aos praticados em seus hábitats originais
e abastecimento por volume de plantação de manejo sustentável. As
qualidades podem ser manipuladas (clonagem), e os defeitos podem ser
contornados por vias tecnológicas. Tratamentos químicos enobrecem o
uso das madeiras comuns de pinus. As ripas e cavacos são utilizados
na fabricação de painéis de compensado e aglomerado. O eucalipto
reflorestado, além da obtenção de celulose, destina-se à fabricação de
painéis de chapa dura e painéis sarrafeados para o segmento de móveis,
conforme leciona Teixeira (2000).
 Madeira plástica: é composta de matéria-prima proveniente do lixo
plástico reciclado, adicionado de aditivos que conferem ao produto
características mecânic as e físico-químicas distintas de cada material
isoladamente, além de propriedades iguais ou até melhores do que as
da madeira natural. Em alguns casos, adiciona-se, inclusive, serragem
da própria madeira (AMARAL, 2009 apud CABRAL et al., 2016).
A durabilidade dos plásticos é uma das razões que fazem com que
estes sejam altamente utilizados, consequência da sua estabilidade
estrutural, podendo levar séculos para a degradação. Se a durabilidade
pode ser uma vantagem, por outro lado, o plástico pode representar um
sério problema ecológico se descartado de forma incorreta (PIATTI;
RODRIGUES, 2005 apud CABRAL et al., 2016).

A madeira plástica pode apresentar vantagem econômica referente a gastos


com manutenção, pois não precisa ser envernizada ou lixada, uma vez que o
material vem com pigmentação de fábrica. Suporta aparafusamento, colagem,
enceramento e pintura e pode ser manuseada com os mesmos equipamentos
empregados na madeira natural (serras, plainas, furadeiras e outros), além de
poder ser higienizada simplesmente com água e sabão, embora suporte produtos
químicos mais agressivos. Além disso, a madeira plástica é impermeável, não
sofre corrosão nem ação de pragas, fungos ou bactérias, não apodrece e nem
4 Materiais empregados em um projeto mobiliário

libera farpas. Possui aparência muito similar à da madeira natural, sendo boa
isolante térmica e podendo atingir uma grande durabilidade.
A grande desvantagem da opção pelo uso da madeira plástica é o alto valor
de investimento inicial, devido ao fato de o material ser desenvolvido com
tecnologia de ponta não muito acessível, o que muitas vezes dificulta inclu-
sive a entrada dela no mercado, tendo no Brasil uma produção em boa escala
somente nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. O alto custo
da coleta seletiva e o desconhecimento da produção de materiais reciclados
por parte da população acabam tornando o mercado desses materiais menos
requisitado, segundo Cabral et al. (2016).

Laminados
Os laminados são uma espécie de revestimento para móveis e pisos bastante
usual, aplicado a uma estrutura tanto de MDF como de MDP. Os laminados
naturais em madeira são uma opção mais em conta, com uma durabilidade e
resistência superior à dos laminados de alta e baixa pressão. A composição
de laminados de alta pressão apresenta três camadas:

 overlay, uma espécie de filme de proteção;


 película melamínica pura, aplicada sobre o papel decorativo, que oferece
maior proteção ao desgaste;
 um substrato, composto por papel kraft e resina.

Os laminados de baixa pressão possuem papel decorativo melamínico com o substrato,


que pode ser MDF, MDP ou aglomerado.
 Laminado de alta pressão: resistente a impactos, riscos e manchas, exceto a
calor; possui uma grande variedade de cores que remetem a madeira, metal ou
pedra, brilhante ou fosca.
 Laminado de baixa pressão: menos resistente do que o laminado de alta pressão;
pode-se aumentar a resistência aplicando-se uma resina; utilizado em tampos de
mesa e em caixas de móveis de cozinha.
 Lâmina de madeira natural: fatias de peças de madeira maciça aplicadas sobre
chapas; aplicação artesanal; mais barata.
 Fita de borda: acabamento e refinamento do móvel; torna a peça mais resistente;
aplicação em placas juntamente com as lâminas.
Materiais empregados em um projeto mobiliário 5

Metal
É resistente tanto à compressão quanto à tração. Uma característica interessante
desse material é que o metal é dúctil, ou seja, de fácil manuseio, podendo ser
transformado em fios e martelado até diminuir sua espessura. O metal pode
ser aparafusado com ou sem porca, rebitado ou soldado.
Metais podem ser fortes dependendo do seu peso e método de constru-
ção. O aço inoxidável resiste à ferrugem. Outros metais podem precisar de
revestimentos ou acabamentos para evitar ferrugem ou oxidação; alguns
revestimentos de cobre e latão são muito finos. O ferro, por sua vez, precisa
de um revestimento protetor para evitar ferrugem (CHING; BINGGELI, 2013).
O metal mais utilizado pelos designers no desenvolvimento de móveis
é o alumínio. Suas vantagens são maior resistência, leveza, maleabilidade,
flexibilidade e fácil manipulação, além de seu melhor acabamento. O alumínio,
na década de 1880, ainda era considerado um material muito caro, tendo seu
valor de mercado reduzido a partir do desenvolvimento da eletricidade. Foi
a partir do século XX, na Áustria, que foram feitas as primeiras aplicações
do alumínio em decorações de móveis, em pernas, braços e parafusos. Um
exemplo é o mobiliário Bentwood, do arquiteto e designer Otto Wagner, de
1906, nos quais o emprego de alumínio nas cadeiras variava de acordo com
sua hierarquia de uso. Outra aplicação desse material veio no ano seguinte, em
1907, por Hans Christiansen, como decorativo de portas e armários. Somente
a partir de 1920 desenvolveu-se uma maior variedade de aplicações.
Para a indústria moveleira da Europa e da América do Norte, o alumínio
não era considerado estimulante de grandes possibilidades econômicas, como
já exemplificava John Gloag em 1944 (EDWARDS, 2001). A justificativa dada
era a de que a indústria de móveis deveria ser refeita para fabricar metais,
sendo utilizado em grande parte das vezes em hospitais, instituições e locais
de trabalho, sob um entendimento comum de suas propriedades simbólicas.
Apesar de primeiramente exibido na França, em 1921, foram os norte-america-
nos os responsáveis pela maior inserção desse material no mobiliário de interiores.
No final da década de 1920, a fábrica Alcraft Alcoa, em Buffalo, produziu cadeiras
de alumínio jateadas com areia, envernizadas e depois revestidas duas vezes com
esmalte. As cores padrão eram nogueira, mogno, carvalho e duas variedades de
verde, bem como um acetinado prata. Esse novo material era mais aceito quando
apresentado como algo de estilo inovador, mas foi somente a partir de 1934, com
projetos de renomados arquitetos, entre eles Frank Lloyd Wright, que o material
passou a ser mais presente e mais aceito esteticamente (EDWARDS, 2001).
6 Materiais empregados em um projeto mobiliário

Plástico
O plástico possui inúmeros tipos e variações no mercado. Não é tão forte,
mas pode ser reforçado com fibra de vidro, podendo se tornar estruturalmente
estável com facilidade e ter formas rígidas. Os móveis em plástico geralmente
são peças únicas, sem juntas ou conexões. Móveis feitos de outros materiais
frequentemente contêm partes de plástico.
A maioria dos plásticos são feitos de óleo; entretanto, podemos encontrar
alguns modelos feitos de soja e outros materiais. Alguns plásticos arranham
com facilidade e são afetados por produtos químicos ou produtos de limpeza.
Plásticos são frequentemente feitos para parecerem com outros materiais,
como madeira esculpida. Nesses casos, o acabamento às vezes se desgasta,
revelando a base de plástico por baixo (CHING; BINGGELI, 2013).

Vidro
O vidro é uma substância inorgânica, homogênea e amorfa, obtida por meio
do resfriamento de uma massa em fusão. As suas principais qualidades são a
transparência e a dureza. O vidro se distingue de outros materiais por várias
características: não é poroso nem absorvente e é ótimo isolador (dielétrico).
Possui baixo índice de dilatação e condutividade térmica e suporta pressões
de 5.800 a 10.800 kg/cm2. Veja, a seguir, alguns tipos de vidro.

 Vidro laminado: o vidro laminado é composto por duas ou mais chapas


de vidro intercaladas com uma ou mais películas de material plástico
denominado Polivinil Butiral (PVB), ou com a aplicação de resina
entre os vidros.
 Vidro temperado: trata-se de um vidro que foi submetido a um tratamento
térmico de têmpera, no qual o vidro é aquecido de forma controlada,
elevando-se sua temperatura a aproximadamente 700°C ; em seguida,
ele é resfriado bruscamente, o que provoca tensões internas que tornam
o vidro até cinco vezes mais resistente a choques mecânicos e, também,
aumenta sua resistência a choques térmicos, mantendo as características
de aparência, transmissão luminosa e composição química. A têmpera
pode ser realizada por meio de um processo vertical ou horizontal.
 Vidro serigrafado: existem dois tipos de processos para a fabricação
de vidros serigrafados: o processo a frio e o processo a quente. O
processo de fabricação a frio consiste na aplicação de tinta ao vidro,
geralmente por meio de telas serigráficas, cuja cura é feita utilizando
Materiais empregados em um projeto mobiliário 7

luz ultravioleta (UV). Já no processo de fabricação a quente, é feita a


aplicação de esmalte cerâmico, composto por fundente à base de vidro e
corantes; em seguida, o vidro passa pelo processo de têmpera para que
haja a fundição do esmalte ao vidro. Portanto, todo vidro serigrafado
fabricado a partir desse processo deve ser temperado.
 Vidro acidado: o vidro acidado é fabricado a partir da aplicação de uma
solução ácida no vidro que ataca sua superfície de forma controlada,
tornando-a fosca. O vidro pode ser acidado por completo ou parcialmente,
inclusive criando desenhos, texturas, letras ou formas geométricas. Os
vidros acidados são de fácil limpeza, por não acumularem gordura.
 Vidro jateado: o processo de jateamento se dá por meio de jato de
areia ou laser aplicado sobre a superfície do vidro; a sua função, assim
como no vidro acidado, consiste em tornar o vidro fosco. É possível
jatear o vidro por completo ou parcialmente, criar desenhos, texturas,
letras ou formas geométricas. Porém, o vidro jateado pode acumular
gordura, dificultando a limpeza.
 Vidro espelhado: o vidro espelhado ou, simplesmente, espelho é produzido
a partir da deposição de metais como prata, alumínio ou cromo sobre uma
das faces do vidro. Em seguida, esse metal é protegido por camadas de
tinta, que evitam a corrosão da camada metálica e, por consequência, o
surgimento de manchas pretas. A espelhação do vidro à base de prata é um
dos métodos mais difundidos no mundo, conforme aponta Pinheiro (2007).

Acrilato ou acrílico
O acrílico tem menor resistência à tração e menor rigidez que o vidro e o
policarbonato. A resistência à tração diminui gradualmente com o aumento da
temperatura. Possui boa resistência ao impacto e, na quebra, a chapa acrílica
não estilhaça como o vidro — ela quebra em pedaços não cortantes. É um
material sensível ao entalhe. O acrílico tem boa resistência à água, aos álcalis
e às soluções aquosas de sais inorgânicos. Mesmo que diluídos, os ácidos cia-
nídrico e fluorídrico atacam o acrílico, assim como os ácidos sulfúrico, nítrico
e crômico concentrados. Os solventes à base de hidrocarbonetos clorados e
monômeros de metil metacrilato atacam o acrílico fortemente.

Laca
A laca é feita com a matéria-prima de casulos de um tipo de inseto, o Laccifer
lacca, existente na Índia e nas áreas tropicais da região. Para ser utilizada no
8 Materiais empregados em um projeto mobiliário

acabamento em marcenarias, a goma laca sofre um processo de purificação


que, conforme o grau, proporciona maior ou menor transparência à substância.
Trata-se de uma resina natural para ser dissolvida na fabricação do mais famoso
verniz para madeira. Ela é atóxica, seca rapidamente, e várias demãos podem
ser aplicadas em um único dia. Propicia acabamento sofisticado nas versões
brilhantes e foscas; possui uma infinidade de cores e pode ser aplicada em
metal, ferro, MDF, entre outros materiais.

Polímeros
Os polímeros, diferentemente das substâncias químicas de baixa massa mo-
lecular, são produtos heterogêneos, pois podem apresentar uma mistura de
moléculas de diferentes massas moleculares, apresentando, portanto, polimo-
lecularidade. A utilidade de alguns polímeros depende, principalmente, de
suas propriedades elétricas, as quais os tornam adequados para isolamento
elétrico, em capacitores dielétricos ou radomes de micro-ondas.
Os plásticos obtidos de materiais poliméricos sintéticos (derivados de
petróleo) são inerentemente muito resistentes ao ataque da natureza. O maior
grupo de polímeros utilizados em embalagens e materiais dessa natureza são as
poliolefinas, que são resistentes à peroxidação, à água e a micro-organismos,
sendo duráveis durante o uso. Já a celulose é empregada na fabricação de
papel, de tecidos e como matéria-prima na fabricação da seda artificial, de
explosivos, de colódio, de celuloide, etc.

PMMA

Polímero amorfo e transparente, uma vez que os grupos metila e éster, dis-
tribuídos aleatoriamente ao longo da cadeia molecular, impedem a sua cris-
talização. Assim, o PMMA é um material duro, rígido e transparente. Além
disso, em relação à maioria dos termoplásticos, apresenta excelente resistência
a intempéries. A resistência desse polímero ao impacto é inferior a muitos
outros termoplásticos, como acetato de celulose, ABS, policarbonato, etc.,
mas é superior em relação ao poliestireno cristal. O PMMA apresenta uma
série de vantagens:

 é mais estável no envelhecimento e amarelamento;


 absorve menos umidade;
 é resistente à hidrólise alcalina.
Materiais empregados em um projeto mobiliário 9

O PMMA não apresenta boa resistência à abrasão, mas a sua resistência é


suficiente para uso em letreiros luminosos, lanternas de automóveis e outras
aplicações semelhantes. Muitos materiais orgânicos, como os álcoois alifáticos,
mesmo sendo não solventes, podem causar microfissuras interligadas e até
mesmo rachaduras.

Bambu, rattan e vime


Materiais fortes para o seu peso e resistentes à água. O rattan, proveniente de
cipós parecidos com trepadeiras, é forte e durável, de alta qualidade, de cor
clara e livre de manchas escuras. O bambu se assemelha ao rattan, mas é oco,
não sólido; é menos flexível, ou seja, tem capacidade de flexão limitada. Já o
vime é uma técnica de construção, não um material. Móveis de vime podem
ser feitos de rattan, cana, salgueiro, bambu ou galhos flexíveis.

Materiais de estofamento
 Algodão: fibra vegetal com baixa elasticidade e flexibilidade. É com-
bustível e amassa com facilidade. Seu uso é principalmente residencial.
 Linho: derivado do caule da planta com o mesmo nome. Extremamente
forte, tende a ser quebradiço e amassar com facilidade. É mais resistente
ao mofo do que o algodão. Para uso profissional e residencial.
 Rami: fibra natural lustrosa e muito forte. Dura, quebradiça e não
elástica. Frequentemente misturada com linho e algodão. Para uso
profissional e residencial.
 Seda: produzida pelo bicho-da-seda. É a mais forte de todas as fibras
naturais. É resistente a solventes, mas degrada com facilidade com a
exposição ao sol. Comumente utilizada apenas em moradias.
 Raiom: fabricado a partir da polpa de madeira. Pode ser misturado com
outras fibras e aceita bem corantes. Para uso profissional e residencial.
 Couro: material de origem animal, mais precisamente de sua camada
de pele, que, quando transformada em um material estável, é utilizada
na confecção de calçados, bolsas, materiais diversos e, inclusive, como
revestimento de alguns tipos de mobiliários. O couro bovino é utilizado
na fabricação de móveis, sendo considerado um material resistente, de
boa qualidade e de fácil adaptabilidade. Essa pele é composta de três
camadas: a flor, onde são eliminados os pelos e que constitui a parte
nobre do couro; a vaqueta, utilizada em artigos finos, como forrações, e
10 Materiais empregados em um projeto mobiliário

as raspas de colágeno, que seguram a gordura e os músculos do animal,


conforme leciona Conceição (2001).
 Acrílico: imita a seda ou a lã, aceita bem corantes e pode amassar.
Uso em exteriores.
 Vinil: simula o couro ou a camurça. Durável e fácil de limpar; porém,
não é sustentável. Uso profissional e residencial.
 Poliéster: não amassa, é resistente à abrasão, tem estabilidade dimen-
sional e resiste ao amasso. Uso profissional.
 Crypton: processo de tratamento de diversos tecidos, como algodão,
linho, seda, lã, acrílico, raiom e poliéster, para aumentar sua durabilidade
e resistência a manchas e à umidade.
 Tecidos especiais: fibras elastométricas (spandex) que retornam às
suas formas originais. Uso comercial.

Materiais mais adequados para cada tipo


de móvel e ambiente
Cada material ou design aplicado ao mobiliário corresponde a uma necessi-
dade. Ching e Binggeli (2013) mostram alguns exemplos de mobiliários por
ambiente e de como utilizá-los. A partir disso, podemos relacionar o melhor
uso de material para cada tipo de mobiliário, conforme você verá a seguir.

Cadeiras, bancos e banquetas


 Materiais predominantes: estrutura em madeira, plástico, alumínio ou
acetato; alumínio, madeira ou plástico em sua base (giratória ou não),
rodízios e braços; tecidos para seu estofamento conforme necessidade.
 Cadeiras escrivaninha: projetadas para serem flexíveis e móveis;
mecanismos giratórios com rodízios; com apoio de braços.
 Cadeiras executivas: frequentemente projetadas como símbolos de
status; permitem ao usuário se reclinar para trás; giratórias; não são
adequadas para longo uso ao computador
 Cadeiras de empilhar e de dobrar: utilizadas para grandes agrupa-
mentos de pessoas ou como assentos auxiliares; são leves e moduladas;
frequentemente fabricadas em aço, alumínio ou plástico; algumas es-
tão disponíveis com apoios para braços e têm assentos e espaldrames
forrados; algumas têm mecanismos de conexão para serem utilizadas
em fileiras.
Materiais empregados em um projeto mobiliário 11

 Cadeiras de restaurante: devem ser resistentes; o nível de conforto


costuma ser escolhido conforme o tipo de serviço. As cadeiras com
braços devem ser coordenadas com a altura dos tampos de mesa; o
tamanho da cadeira afeta os padrões de assento.
 Cadeiras de aproximação: geralmente mais leves e menores do que as
poltronas; espaldrames verticais para estudar e fazer refeições.
 Cadeiras sem suporte de braços: para relaxar em uma posição parcial-
mente inclinada; muitas vezes são reguláveis; devem ser fáceis de sentar
e levantar, nem muito baixas e nem muito macias; devem dar suporte
adequado às costas. Destinam-se também a visitantes ao escritório ou
para uso rápido; geralmente têm tamanho pequeno.
 Bancos: devem ser selecionados de acordo com a sua estabilidade e
facilidade de movimento, bem como sua aparência.
 Banquetas: assentos longos e geralmente estofados voltados para mesas
múltiplas; permitem que sejam deslocados ao longo da mesa e reunidos
para acomodar tamanhos variáveis de grupos.

A Figura 1 traz alguns exemplos de cadeiras e bancos.

Figura 1. Cadeiras e bancos.


Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 328).

Estofados e poltronas
 Materiais predominantes: estrutura interna em madeira; estofamento
em couro ou tecido podendo ou não conter aplicações em plástico; plás-
tico, madeira ou alumínio em sua base; braços ou estruturas externas
aparentes em alumínio ou madeira.
12 Materiais empregados em um projeto mobiliário

 Assentos para auditórios: fornecem absorção acústica, além da função


de se sentar. Há exigências para prevenção de incêndio quanto aos
materiais e à disposição dos assentos.
 Poltronas: servem para descansar, conversar ou ler; são completamente
estofadas; fabricadas em madeira, plástico, aço ou uma combinação
de materiais (Figura 2).
 Sofás: projetados para acomodarem duas ou mais pessoas; geralmente
são estofados; curvos, retos ou angulares; com ou sem braços.
 Conjunto de sofá: sofá dividido em partes que pode ser montado de
diferentes maneiras.
 Namoradeira: pequeno sofá com apenas dois lugares.

Figura 2. Poltrona.
Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 326).

Mesas
 Materiais predominantes: estrutura em madeira, alumínio, MDF
ou MDP revestido com laminado ou laca; tampo de vidro, madeira,
alumínio, plástico, MDF ou MDP revestido com laminado ou laca.
 Mesas: as mesas são superfícies planas e horizontais sustentadas pelos
pisos e devem seguir atributos de força, estabilidade, tamanho, formato
e altura; fabricação em materiais duradouros (Figura 3). Seu tampo
pode ser de madeira, vidro, plástico, pedra, metal, azulejo ou concreto.
O acabamento da superfície deve ser duradouro e ter boa resistência ao
Materiais empregados em um projeto mobiliário 13

desgaste. A cor e a textura da superfície devem ter refletância de luz


adequada à tarefa visual. O sSeu tampo pode ser sustentado por pernas,
cavaletes, bases sólidas ou gaveteiros, podendo estar embutido, ser bai-
xado de estantes de parede ou se apoiar em pernas ou suportes retráteis.

Figura 3. Mesas.
Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 332).

Camas
 Materiais predominantes em seu uso: estrutura interna em madeira
ou metais como ferro; estofamento em tecido forrado e acolchoado,
podendo ou não conter aplicações em plástico; plástico, madeira ou
alumínio em sua base.
 Camas: as camas consistem em dois componentes: colchão e base ou
estrutura de apoio (box), também podendo conter cabeceiras. A Figura
4 traz o exemplo de um sofá-cama.
14 Materiais empregados em um projeto mobiliário

Figura 4. Sofá-cama: sofá projetado para ser transformado em cama.


Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 336).

Roupeiros e armários
Materiais predominantes em seu uso: Estrutura em madeira, metais como
ferro ou alumínio, MDF ou MDP revestido com laminado ou laca; portas de
madeira, MDF ou MDP revestido com laminado ou laca, metais como ferro
ou alumínio, vidro comum ou espelhado e acetato.

Roupeiros: móveis embutidos podem ajudar a manter as linhas de um dor-


mitório limpas e evitar que o ambiente fique atravancado.

Armários: móveis com portas frontais e, frequentemente, gavetas na base.


As secretárias ou escrivaninhas e cômodas altas com pernas têm frentes que
se abrem para baixo para criar uma superfície com gavetas na parte inferior.

Armazenagem: prateleiras, gavetas e armários fechados, suspensos no


teto, instalados na parede ou sobre o piso, como móveis independentes.
As unidades podem ter frentes abertas ou portas com ou sem vidraças, ou
mesmo persianas.
Materiais empregados em um projeto mobiliário 15

A Figura 5 traz exemplos de armários.

Figura 5. Exemplos de armários.


Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 338).

Ferragens e acessórios adequados para cada


tipo de móvel e ambiente
As características de forma e construção da peça de mobiliário são determi-
nadas pela organização espacial da forma, pela interconexão dos principais
componentes estruturais e pela estrutura arquitetônica do produto. A modu-
laridade aumenta o aspecto funcional na composição do projeto.
Devido ao método de ligação de certos componentes estruturais, os móveis
podem ser divididos em não desmontáveis, como blocos únicos, ou desmon-
táveis, com possibilidades de repetidas desmontagens e remontagens. Podem
ser do tipo caixa ou armação, conforme veremos a seguir.
O mobiliário do tipo caixa é construído principalmente a partir de um
conjunto de painéis ou chapas, com espessura menor do que a largura e o com-
primento. Também pode contar com ripas e molduras, em termos de estrutura.
Normalmente, as chapas são posicionadas de tal maneira que fecham o espaço
por cinco ou seis lados, formando um caixote. A posição dessas chapas umas
em relação às outras pode variar, podendo ser do tipo mesa, quando as chapas
superior e inferior do móvel são colocadas em cima e embaixo das chapas
laterais, respectivamente, ou do tipo prateleira, quando as chapas inferior e
superior são colocadas entre as chapas laterais. Essa peça de mobília pode ser
apoiada em pés, suspensa ou embutida.
16 Materiais empregados em um projeto mobiliário

Dependendo da construção e das características tecnológicas, os móveis


tipo caixa podem ser:

 módulos, nos quais a estrutura, as dimensões externas e a funcionalidade


permitem configuração vertical ou horizontal;
 blocos, construídos a partir de elementos de dimensões unificadas e
soluções de construção que permitem diferentes propósitos e dimensões
em uma peça única.

A mobília tipo caixa (Figura 6) pode ser monofuncional ou multifuncional,


o que permite usá-la de diferentes formas, por exemplo:

 guarda-roupa;
 estante de biblioteca;
 cômoda;
 buffet (um tipo de cômoda destinado a servir refeições ocasionais);
 armário suspenso (armário aéreo);
 unidade de parede (um conjunto de móveis que cumpre todas as funções
de armazenamento);
 conjunto embutido (conjunto de móveis de parede, geralmente fechado,
usado para armazenamento).

Figura 6. Exemplos de mobília tipo caixa.


Fonte: Smardzewski (2015, documento on-line).
Materiais empregados em um projeto mobiliário 17

O mobiliário do tipo armação é feito de elementos alongados formando


pequenas seções transversais, na forma de quadrado, retângulo, triângulo,
círculo, oval, etc., sem fechar um espaço; por exemplo: cadeiras, poltronas,
mesas e canteiros de flores. A forma das seções transversais desses elementos
distingue a mobília do tipo armação em:

 móveis em bloco, nos quais a seção transversal dos elementos é um polígono;


 móveis em haste, que são construídos com elementos circulares, elíp-
ticos, ovais ou similares a seções transversais circulares.

Dependendo de como o assento ou bancada é suportado, podemos distin-


guir os móveis do tipo armação nos seguintes formatos, também mostrados
na Figura 7.

 Tábua: uma estrutura do tipo tábua é obtida principalmente por meio


de cortes de madeira em forma de tábua ou colando frisos na direção
da largura do móvel, cortando posteriormente na forma desejada. A
base do mobiliário é constituída por elementos do tipo tabuleiro, cuja
largura é várias vezes superior à espessura.
 Cruz: móveis com estruturas cruzadas são feitos com barras ou hastes
unidas por dobradiças e corrediças. Normalmente, essa construção
permite dobrar e desdobrar a peça tanto na direção da largura do assento
quanto na direção de sua profundidade. Isso permite que o assento seja
feito de materiais têxteis ou de couro.
 Com anteparo: a estrutura com anteparo, ao contrário da construção
cruzada, na grande maioria dos casos, é inseparável, graças à junção
permanente das pernas ou pés com o tampo ou encosto. Graças a essas
características geométricas, a rigidez e a resistência dos móveis com
anteparo são muito maiores do que em estruturas diferentes.
 Sem anteparo: a estrutura sem anteparo se distingue pelo fato de que
a base do móvel — os pés ou pernas — é ligada diretamente ao assento
(no caso de uma cadeira) ou tampo (em uma mesa). A montagem sem
anteparo geralmente desvia o eixo vertical, fazendo com que momentos
de flexão muito grande trabalhem as juntas, podendo causar danos às
conexões dos elementos.
18 Materiais empregados em um projeto mobiliário

 Quadro e armação: esse tipo de mobiliário apresenta uma arma-


ção sob o assento ou bancada, na qual as pernas são fixadas, e o
encosto em forma de quadro (no caso das cadeiras). Normalmente,
o quadro é feito de elementos dobrados e conectados na direção do
seu comprimento, como seções de metal. As pernas são geralmente
conectadas sob o assento usando parafusos. No entanto, deve-se notar
que esse método de conexão de componentes não fornece rigidez
e resistência. Juntas de parafuso pertencem ao grupo de juntas
semirrígidas. Portanto, esses móveis têm melhores propriedades
mecânicas do que os articulados, mas, ao mesmo tempo, piores do
que as armações fixas. Com o passar do tempo, a resistência das
juntas diminui devido à deformação do furo pelo parafuso e às
mudanças na umidade da madeira.
 Coluna: a estrutura do tipo coluna distingue-se por ter o assento ou
tampo apoiado sobre uma ou duas colunas, feitas em forma de troncos de
madeira ou materiais variados, de formato oval ou tipo hastes, molduras
ou tábuas. Normalmente, o móvel tipo coluna permite mudar a altura
do assento ou da bancada.
 Suporte: no mobiliário com estrutura tipo suporte, o assento ou ban-
cada é anexado em submontagens que se assemelham a prateleiras.
Normalmente, utilizam-se molduras ou anteparos conectados ao assento
com parafusos. Abaixo do assento ou da bancada, os quadros laterais
são conectados um ao outro usando anteparos na frente e atrás. Se
não forem utilizados parafusos, a rigidez e a resistência desses móveis
correspondem à rigidez e à resistência dos móveis com anteparos.
 Estrutura de uma peça: é criada principalmente a partir de tec-
nologias de injeção de materiais plásticos ou fibrosos. Em móveis
de madeira e materiais à base de madeira, a tecnologia de flexão e
colagem simultânea de várias camadas finas de madeira folheada é
mais comumente usada.
Materiais empregados em um projeto mobiliário 19

Figura 7. Mobiliário do tipo armação: a) tábua; b) em cruz; c) com anteparo; d) sem


anteparo; e) quadro e armação; f) coluna; g) suporte; h) uma peça.
Fonte: Smardzewski (2015, documento on-line).

A construção de uma peça de mobiliário é feita por meio do planejamento


de ligações apropriadas entre os seus elementos. A escolha do tipo certo de
articulações para a peça de mobiliário projetada depende principalmente do
tipo e da forma da construção, devendo garantir rigidez e força, bem como
facilidade de realização, em termos tecnológicos. Um fragmento da estrutura
cujas partes são unidas usando conectores, interfaces e/ou cola é chamado
de junta. O elemento de uma junta que conecta duas partes é chamado de
conector, enquanto uma interface se refere a fragmentos de partes conectadas.
A qualidade das juntas de móveis é geralmente determinada pela atribuição
de características como confiabilidade, resistência e rigidez. A confiabilidade
das articulações é caracterizada por vários indicadores mensuráveis. Porém,
normalmente, a validade da garantia de um produto é determinada com base
na intuição do designer, e não em uma análise estatística pragmática, conforme
aponta Smardzewski (2015).
20 Materiais empregados em um projeto mobiliário

As juntas com conectores mecânicos formam um grande grupo de nós


estruturais separáveis e inseparáveis feitos de metal e plástico. Atualmente,
as mais representativas são as articulações, com conectores como grampos,
pregos, parafusos, ganchos e juntas excêntricas.
As juntas contêm interfaces moldadas em partes específicas dos ele-
mentos de mobiliário, o que assegura a sua ligação independente com ou
sem o uso de cola como conector. Formadas e aperfeiçoadas por gerações,
elas fornecem a inseparabilidade da construção e, portanto, rigidez e
resistência satisfatórias. Devido ao sistema mútuo de elementos unidos,
essas juntas são aplicadas no design de móveis do tipo armação, móveis
do tipo caixa e estruturas de rolamentos de móveis estofados, conforme
leciona Smardzewski (2015).
Devido à facilidade de realização e, na maioria dos casos, à possibilidade
de desconectar os elementos, os conectores mecânicos são amplamente uti-
lizados na construção de móveis. Os grampos permitem fácil montagem, o
que não requer qualquer preparação adicional dos elementos antes da união.
O uso de grampos nos desenhos de móveis tipo caixa, em comparação com
móveis estofados e de armação, é bastante limitado e se resume a fixar as
partes traseiras. Em móveis estofados, os grampos são usados para conectar
a maioria dos elementos das molduras e para prender as tampas às molduras
de estofamento.
Parafusos com porcas e parafusos para metal são usados principalmente
para a fixação de acessórios de metal e plástico. Para a ligação de elementos
de madeira, devem ser usadas apenas espécies duras de madeira ou materiais
à base de madeira de alta densidade. Cargas de flexão e forças transversais
produzem altas pressões do núcleo dos parafusos nas laterais dos furos nos
elementos unidos, o que, consequentemente, aumenta a folga do furo e reduz
a resistência de toda a estrutura. Ao aparafusar peças de madeira ou metal a
elementos de madeira nas peças de mobiliário, devem ser usados parafusos
específicos para madeira. Antes de encaixar esse tipo de conector, a fim de
evitar rachaduras no material, recomenda-se fazer furos com um diâmetro
menor do que o diâmetro do núcleo do parafuso, conforme sugere Smar-
dzewski (2015). A Figura 8 mostra alguns tipos de conectores mecânicos.
Materiais empregados em um projeto mobiliário 21

Figura 8. Conectores mecânicos: (a) grampo; (b) prego; (c) parafusos para madeiras; (d)
juntas excêntricas; (e) parafuso com porca cega; (f) parafuso com porca; (g) parafusos para
metais; (h) parafusos confirmat; e (i) parafusos para placas de aglomerado.
Fonte: Smardzewski (2015, documento on-line).

Sistemas de fixação e montagem


 Emendas: os tipos mais comuns de emendas (Figura 9) são as de topo (butt
joints), as emendas biseladas (scarf joints) e as emendas dentadas ( finger
joints). As emendas de topo são as mais simples emendas longitudinais e,
apesar de não desperdiçarem madeira, não apresentam resistência mecânica
considerável, não sendo assim recomendáveis. As emendas biseladas
surgiram como uma boa alternativa para suprir as limitações de resistência
das emendas de topo, sendo consideradas as mais resistentes emendas
longitudinais. Contudo, do ponto de vista da produção, esse tipo de emenda
é muito dispendioso, uma vez que, para atingir uma boa proporção da
resistência da madeira maciça, é necessário que o corte apresente uma
baixa inclinação, conferindo um consumo excessivo de madeira e adesivo
(MACÊDO; CALIL JUNIOR, 1999 apud RAMOS, 2013).

Figura 9. Tipos de emendas.


Fonte: Ramos (2013, documento on-line).
22 Materiais empregados em um projeto mobiliário

 Encaixes: na confecção de móveis, são utilizados os mais variados


tipos de encaixes (Figura 10). A resistência do móvel depende muito
das proporções empregadas nos encaixes das peças, havendo sempre
uma relação direta entre a largura e a espessura das madeiras. Em geral,
não devem aparecer nos montantes das peças. Nesse caso, utilizam-se
as espigas com talão, que, além de oferecerem maior resistência à união
das peças, apresentam também melhor acabamento (SENAI-SP, 2005
apud RAMOS, 2013). Nas estruturas de móveis de madeira maciça,
são utilizados encaixes de meia madeira, rebaixo, ranhura, cavilhas,
malhete reto e espigas (SENAI-RS, 1995 apud RAMOS, 2013).

Figura 10. Tipos de encaixe.


Fonte: Ramos (2013, p.109).
Materiais empregados em um projeto mobiliário 23

Elementos de fixação, articulação e trilhos


 Fixação: o sistema de união de peças utilizado atualmente se baseia
na utilização de elementos que recebem furações para a fixação de
seus elementos. Esse sistema de montagem, desmontagem e remon-
tagem do móvel permitiu maior mobilidade e uma simplificação de
operações (FRANCO, 2010 apud RAMOS, 2013). Boch (2007 apud
RAMOS, 2013) complementa que a desmontabilidade vem sendo cada
vez mais um fator primordial para a compra e venda de móveis, pois
garante vantagens como transporte facilitado, agilidade de produção,
padronização de peças, redução de espaços na fábrica e em depósitos,
e, consequentemente, preços mais acessíveis.
 Cavilha: acessório cilíndrico e estriado em madeira ou plástico (Fi-
gura 11); pode ou não utilizar cola. A cola é utilizada junto a elas para
permitir melhor aderência e tornar a montagem definitiva, sendo que
a peça não poderá ser desmontada. A ausência de cola permite que o
móvel seja desmontado posteriormente. Esse tipo de fixação é um dos
mais empregados na indústria moveleira e muito utilizado em gavetas
(BOCH, 2007 apud RAMOS, 2013).

Figura 11. Cavilhas de madeira e de plástico e móvel com cavilha.


Fonte: Adaptada de Ramos (2013).

 Parafusos: são atualmente utilizados nos móveis de padrão mais ba-


rato, como a alternativa de menor custo para a união dos elementos;
raramente usam buchas de expansão (Figura 12). Não são uma solução
adequada, principalmente para aglomerado, pois podem comprometer
o desempenho do material e do móvel. Já os pregos, mesmo não sendo
24 Materiais empregados em um projeto mobiliário

apropriados, são utilizados até em móveis de alto padrão, principal-


mente em fundos de chapa dura, pois garantem maior rigidez ao móvel
(FRANCO, 2010 apud RAMOS, 2013).

Figura 12. União entre peças por meio de parafusos.


Fonte: Adaptada de Ramos (2013).

 Sistemas tipo rotofix (minifix ou girofix): são compostos por uma


haste e um tambor, sendo a montagem feita com um giro no tambor
que trava a haste; permitem a montagem de duas ou três peças simul-
taneamente (Figura 13). Há também os parafusos de união, que são
acessórios utilizados para a junção de módulos de um móvel. Esses
dois tipos de acessórios possibilitam a desmontagem quantas vezes
forem necessárias, conforme leciona Ramos (2013 apud BOCH, 2007).
Materiais empregados em um projeto mobiliário 25

Figura 13. Sistema rotofix.


Fonte: Adaptada de Ramos (2013).

 Articulação: os tipos de articulação mais comuns são as chamadas


dobradiças. O sistema de dobradiças é composto por um calço e
um caneco, ou copo, no qual é utilizado um sistema de pressão.
É usado em portas, sendo que o calço é fixo à lateral, enquanto
o caneco é preso à porta. Conforme o modelo da dobradiça e do
calço, pode-se obter vários padrões de recobrimento sobre laterais
e divisões, bem como diversos ângulos de abertura (BOCH, 2007
apud RAMOS, 2013).

Das dobradiças convencionais às dobradiças de caneco, passando pelos


pistões a gás, o mobiliário evoluiu junto com as ferragens, possibilitando
novas construções funcionais, como portas que param em qualquer posição,
design simples e atraente, amortecimento integrado e sofisticação (Figura 14).
Essas são características que fazem dos articuladores itens de diferenciação
na produção de móveis de qualidade (Ramos, 2013).
26 Materiais empregados em um projeto mobiliário

Figura 14. Dobradiças e articuladores para móveis.


Fonte: Adaptada de Ramos (2013).

 Sistemas para portas de correr (trilhos): os sistemas construtivos,


anteriormente, eram feitos por meio do contato das laterais das gavetas
com um perfil de madeira fixado no móvel, ou de um canal executado
na parte central da lateral que corresse naquele perfil. Por volta dos anos
1980, o perfil de madeira passou a ser substituído por perfil plástico
fixado na lateral do móvel por pressão; posteriormente, na década de
Materiais empregados em um projeto mobiliário 27

1990, por corrediças metálicas; atualmente, surgiram trilhos metálicos


telescópicos, utilizados principalmente nos móveis de padrão elevado
(FRANCO, 2010 apud RAMOS, 2013).

Figura 15. Corrediças.


Fonte: Adaptada de Ramos (2013).
28 Materiais empregados em um projeto mobiliário

CABRAL, S. C. et al. Características comparativas da madeira plástica com a madeira


convencional. Revista Científica Vozes dos Vales, nº. 10, ano V, out. 2016. Disponível em:
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Materiais empregados em um projeto mobiliário 29

Leituras recomendadas
ARTIGAS, L. V. Fibrocimento. Universidade Federal do Paraná, 2013. Disponível em:
<http://www.dcc.ufpr.br/mediawiki/images/0/0d/TC034_fibrocimento.pdf>. Acesso
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ATELIER MORITO EBINE. Goma-Laca. 2018. Disponível em: <http://moritoebine.com/
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MORASSI, O. J. Polímeros termoplásticos, termofixos e elastômeros. São Paulo, 2013. Disponível
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site.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2018.
SILVA, A. L. B. B.; SILVA, E. O. Conhecendo materiais polímeros. Universidade Federal de
Mato Grosso, 2003. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/ea000223.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2018.
Conteúdo:
TENDÊNCIAS EM
MATERIAIS E
REVESTIMENTOS
DE INTERIORES

Agatha Muller de Carvalho


Painéis e laminados de
madeira e revestimentos
para mobiliário
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Especificar os tipos de madeira manufaturada.


„„ Descrever os laminados.
„„ Identificar os possíveis usos de vidro e acrílico.

Introdução
O uso da madeira na produção de móveis não é recente, já na Idade
Média ela era empregada, quase como uma escultura, nas peças utilizadas
nos castelos. Porém, com a Revolução Industrial, novos materiais foram
desenvolvidos, como os laminados, um vidro mais resistente e o acrílico.
Neste capítulo, você estudará as características da madeira, como ela
é beneficiada e empregada; os laminados, como eles se diferem e podem
receber um acabamento externo; a diferenciação de vidro e acrílico, suas
características e alguns exemplos.

Utilização da madeira manufaturada


A madeira é um material natural do reino vegetal, produzido a partir do tecido
formado por plantas lenhosas com funções de sustentação mecânica. Por ser
resistente e relativamente leve, ela é utilizada com frequência para fins estruturais,
sustentação de construções e na parte de mobiliário (GALINA et al., 2013), sendo
um material heterogêneo, composto sobretudo de fibras de tamanhos, funções
e formas distintas, agrupadas ao longo e transversalmente ao tronco. Essa
diversidade, tanto de posição como formato das fibras, está ligada às funções
que elas desempenham, como condução de seiva, armazenamento e sustentação.
2 Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário

Provavelmente, a madeira foi a matéria-prima mais versátil e usada pelo


ser humano ao longo da história. Muito presente, atualmente, no campo da
arquitetura, engenharia civil e design, já teve sua função vinculada à produção
de armas e ao combustível, sendo queimada na produção do fogo. Não se pode
estabelecer com precisão quando ela começou a ser utilizada pela humanidade
(a existência das arvores, segundo cientistas, é superior a 200 milhões de
anos, já o aparecimento do ser humano na Terra fica em torno de 2 milhões
de anos), mas os vestígios datam sua utilização como arma entre 15 e 20 mil
anos — o machado, por exemplo, deve ter 10 mil anos.
Considerando o campo da construção civil, os primeiros registros do uso
da madeira são dos primatas, que usavam as árvores como moradia. Nesse
período, a madeira era utilizada como material de construção, sendo que pilares
e vigas foram descobertos na Pré-História, em várias civilizações, antes do fogo.
Seu uso na arquitetura se destacou de forma diferente ao longo dos anos e das
civilizações: no Extremo Oriente, as edificações devem suportar terremotos
frequentes, tendo encaixes frágeis, mas resistentes. Já a arquitetura norueguesa
é caracterizada pelas paredes espessas capazes de isolar o frio, como algo
maciço na construção. O mobiliário iniciou-se com madeiras talhadas, quase
esculturais, no interior das igrejas e, no modernismo, como peças de desenho
exclusivo com linhas mais retas e homogêneas (GONZAGA, 2006).

Madeira manufaturada
O termo manufaturado remete a uma estrutura fabril em que a técnica de
produção é artesanal; e o trabalho, desempenhado por muitas pessoas em
instrumentos individuais. Embora essa palavra tenha sua origem nas oficinas
manuais, atualmente, a expressão é usada para se referir às fábricas ou a um
grande estabelecimento industrial. A manufatura sucedeu o artesanato, no
século XV, como uma forma de produção e organização de trabalho, intro-
duzindo as máquinas e a produção em série.
Por ser um material natural, a madeira tem sua transformação por meio
do beneficiamento artesanal ou semi-industrial. Sua condição natural faz
haver uma variação no aspecto não somente entre espécies, como também
em relação à composição química e às propriedades físicas e mecânicas das
madeiras. Ela pode ser considerada uma fonte ecológica de matéria-prima,
sendo um produto biodegradável e reciclável, de fonte natural e que possui
beneficiamento de baixo consumo energético.
Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário 3

Além de ser ecológica, a madeira tem bom desempenho técnico, conforme


as características a seguir (CHING, 2017):

„„ A composição e densidade da madeira a faz possuir uma propriedade


isolante, tanto térmica como acústica.
„„ Ela apresenta boa durabilidade, por sua dureza e solidez, garantindo
uma vida útil longa quando utilizada em condições adequadas.
„„ Apesar da dureza, a composição em fibras garante sua boa trabalhabi-
lidade, adquirindo formas variadas.
„„ Ela possui aplicabilidade, facilidade de instalação e manutenção, uma
vez que não exige argamassa de assentamento, sendo aplicada com
cola ou pregos.

Entretanto, algumas propriedades físicas da madeira, se forem desrespei-


tadas, podem causar problemas durante a sua utilização, como a capacidade
de absorver e perder água, o que gera variação dimensional (o processo de
autoclavagem retira, a vácuo, a umidade das peças); a variação de resistência
da peça, conforme a seção feita no tronco; a invasão de pragas, fungos e in-
setos, o que pode ser impedido com algum pesticida; e a relação da extração
irregular e a possibilidade de usar madeiras de reflorestamento.
Por ser um revestimento natural, a madeira tem limitação de medidas,
sobretudo no sentido transversal. Considerando o tronco das árvores como
medida, provavelmente a largura das peças extraídas, mesmo em seção tan-
gencial, não atingirá 1 m, assim, quando se deseja recobrir uma superfície
maior, é projetado um conjunto de peças moduladas. Porém, para aumentar
as possibilidades de revestimentos em madeira, foram desenvolvidos novos
produtos em que ela é manufaturada, aparecendo como partícula ou fibra,
chamados de laminados (TESIS — TECNOLOGIA E QUALIDADE DE
SISTEMAS EM ENGENHARIA, 2014).

Laminados
O laminado consiste em painéis fabricados com fibras, partículas, pedaços ou
lâminas aglutinadas de madeira com algum adesivo sintético, posteriormente
prensados a alta temperatura. A diferenciação entre seus tipos de produto está
na composição e na forma de prensagem.
4 Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário

„„ Medium density fiberboard (MDF): tipo de laminado mais comum, que


significa painel de fibra de média densidade. Esse produto é formado por
camadas sobrepostas de fibras de madeira, posteriormente prensadas,
que podem ser observadas na lateral das peças (TESIS — TECNO-
LOGIA E QUALIDADE DE SISTEMAS EM ENGENHARIA, 2014).
A distribuição uniforme da fibra em toda a sua espessura permite a
incorporação de novas tecnologias, como a usinagem para móveis
torneados.
„„ Medium density particleboard (MDP): laminado de média densidade ou
painel de partículas de média densidade, em que é possível visualizar
cada parte na sua lateral (TESIS — TECNOLOGIA E QUALIDADE
DE SISTEMAS EM ENGENHARIA, 2014). Sua composição é baseada
em três camadas, sendo que as partes externas têm gramatura menor;
e a interna, gramatura maior. Ele é empregado em locais que exigem
resistência mecânica ou isolamento acústico, em função dessa diferença
entre as partículas nas camadas.
„„ Oriented strand board (OSB): painel de tiras orientadas que utiliza
pedaços orientados, perpendicularmente, em muitas camadas. Seu
aspecto é rústico, pois essa aleatoriedade das camadas fica visível em
todas as faces (VIDAL; HORA, 2014).
„„ Compensados: painéis formados por lâminas de camadas de madeira
no sentido das fibras, sobrepostas perpendicularmente, o que fornece
resistência em ambas as direções (BARROS FILHO, 2014, p. 15). Eles
possuem aparência listrada lateralmente e se diferem da madeira aglo-
merada por sua composição, feita a partir da colagem de pequenas
partículas de madeira sob calor ou pressão, o que lhes confere menor
resistência.

Na Figura 1, você pode ver exemplos de MDF, MDP, OSB e compensado.


Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário 5

Figura 1. Laminados. a) MDF. b) MDP. c) OSB. d) Compensado.


Fonte: a) eyal granith/Shutterstock.com. b) Pavel Hlystov/Shutterstock.com. c) VPales/Shutterstock.
com. d) Stock image/Shutterstock.com.

Os laminados possuem dimensões entre 1,2 e 1,8 m de largura e 2,4 e


2,74 m de comprimento, variando a espessura conforme o tipo e fabricante.
O OSB varia entre 6 e 30 mm, já o MDF e o MDP são mais finos, entre 2 e 3
mm, mas podem ter espessuras maiores. Eles são usados em seu aspecto cru,
mas podem receber outros acabamentos, como lâminas de madeira natural,
melaminas e pinturas (p. ex., a resinada, chamada de laca), as quais funcionam
como uma película protetora das chapas.
A melamina é uma base orgânica encontrada, principalmente, na forma de
cristais brancos, constituída sobretudo de nitrogênio. Ela é combinada com
formaldeído pela indústria para produzir resinas, resultando em um plástico
muito estável, sobretudo a altas temperaturas. Trata-se de um dos acabamentos
mais usados na produção moveleira, em função da disponibilidade de padrões
e do custo menor em relação às demais películas (TESIS – TECNOLOGIA E
QUALIDADE DE SISTEMAS EM ENGENHARIA, 2014).
6 Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário

A melamina é um dos principais componentes do corante amarelo 150, utilizado


em plásticos e tintas. Já industrialmente, usa-se na fabricação de plásticos, adesivos,
resinas, colas, laminados, revestimentos e produtos antichama. Esse termo é usado
para se referir tanto ao nome químico como ao produto resultado a partir dela (HAU;
KWAN; LI, 2009).

Popularizado na década de 1970, com a ideia de aplicação de cores varia-


das nos mobiliários, a laca ainda é um dos acabamentos mais utilizados em
móveis de madeira. Trata-se de uma junção de resina e corantes insolúveis
à água, mas solúveis aos solventes, em geral, aplicada sobre a chapa de
MDF (por ser mais liso), podendo também ocorrer sobre a madeira maciça.
Primeiramente, deve-se lixar a peça para, depois, aplicar o primer com
pistola e fechar os poros. Por fim, escolhe-se a cor e o acabamento (brilho,
fosco ou acetinado) desejados.

A laca é a incrustação resinosa, produzida em certas árvores e resultante da secreção


de insetos, originalmente utilizada na China e Índia, no século VI a.C. Era usada para a
proteção de objetos e instrumentos musicais.

A fórmica funciona de modo similar à melamina, com uma camada impressa


no painel de madeira ou de laminado que age como protetora desse material.
Muito utilizada em mesas e cadeiras escolares, hoje está em desuso e possui
grande poder de repelir água e contra a abrasão, o que a coloca em vantagem
em relação à laca.
Apesar de serem formados por madeira, os laminados não têm as mesmas
características da sua matéria-prima. Já o processo de industrialização e
adição de produtos resinados e impermeabilizantes ajuda a repelir pragas e
aumentar a resistência à umidade (VIDAL; HORA, 2014). Em função das
chapas serem compostas de fragmentos, partículas ou fibras, há um melhor
Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário 7

aproveitamento das toras de árvores, o que ajuda a reduzir custos e produzir


painéis maiores (pois não dependem da dimensão dos troncos e das seções
de corte, nem sofrem com a anisotropia, considerando que as características
de cada fragmento se tornam insignificantes no contexto geral).
Quanto ao reaproveitamento de fragmentos, a espécie utilizada nos painéis
de madeira manufaturada é o pinus, oriundo de reflorestamento e que surgiu
para diminuir a devastação das florestas de madeira de lei, exploradas irre-
gularmente. Em um mundo onde as florestas diminuem exponencialmente,
o uso de painéis manufaturados pode ajudar nessa causa. Na Figura 2, você
pode ver uma floresta de pinus.

Figura 2. Floresta de pinus, madeira usada para compor os laminados (MDF, MDP, OSB,
compensado e aglomerado).
Fonte: PUGUN SJ/Shutterstock.com.

Utilização de painéis e laminados de madeira em


mobiliários
A utilização da madeira e dos seus derivados (laminados) na arquitetura é muito
variada, com pisos, painéis de revestimento, forros e mobiliário. O emprego
8 Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário

de cada tipo muda conforme as características pretendidas, por exemplo,


repelente à água e umidade, grandes formatos, resistência à compressão, etc.
Já a escolha do material será influenciada pela estética desejada, que reflete
as ideias da época e as condições climáticas.
Mobiliário é um termo comum para se referir aos objetos móveis utili-
zados em diversos ambientes, como cadeiras, mesas, camas ou locais para
guardar mantimentos, utensílios domésticos e ferramentas. Ele pode ter
design e decoração própria, sendo considerado uma forma de expressão e
arte na decoração de interiores. Atualmente, o mobiliário fixo compreende
as estruturas construídas juntamente às edificações ou montadas e que não
permitem mudanças de posição, como os armários sob medida (CHING;
BINGGELI, 2013).
Na história do mobiliário, seus primeiros exemplares estão no Período
Neolítico, em que o ser humano fixou residência e deixou de ser nômade,
facilitando as tarefas domésticas, porém, eles eram compostos de pedras,
predominantemente. O emprego da madeira foi intensificado durante a Idade
Média, com carvalho, aspecto mais pesado e ornamentada com desenhos
esculpidos. Com o decorrer dos anos e a força do Barroco, essas peças se
tornaram mais decoradas e receberam pinturas. A cadeira Luís XIV, por
exemplo, é simétrica, volumosa e tem excesso de ornamentos, com largura
maior que a convencional. Posteriormente, as linhas conhecidas como Luís
XV e XVI substituíram esse excesso de ornamentação para linhas um pouco
mais retas, nesses casos, a madeira maciça era esculpida e tinha aplicação de
tinturas e pó de ouro (CHING; BINGGELI, 2013).

No link a seguir, assista a um tour no Palácio de Versalhes, em que há diversos móveis


ao estilo Luís XIV, bem decorados com madeira nobre trabalhada.

https://qrgo.page.link/2AiVH

Até o início do século XIX, não houve muitas modificações quanto


ao emprego da madeira nobre maciça esculpida ou torneada quase escul-
turalmente, cujo processo era artesanal e feito por artistas. Porém, com a
Revolução Industrial, a sociedade sofreu alterações em todos os aspectos. Na
Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário 9

produção do mobiliário, por exemplo, a principal mudança foi no sistema de


produção, de manual e artesanal para industrial, com auxílio das máquinas.
Já o aumento populacional exigiu que a produção se tornasse mais rápida
e barata, tornando os móveis mais fáceis de serem executados. As linhas
mais retas e a introdução de novos materiais (vidro e ferro) trouxeram outras
alternativas de composição.
Somente em meados do século XX surgiu o MDF, material compósito
da madeira e que se tornou uma alternativa às seções de madeira maciça. A
primeira fabricação de um painel de MDF foi nos anos de 1960, nos Estados
Unidos; na década seguinte, ele chegou na Europa e, apenas em 1994, no
Brasil. Esse material é muito usado em mobiliários feitos sob medida, pois
permite o recorte das chapas em dimensões conforme a necessidade (TESIS
— TECNOLOGIA E QUALIDADE DE SISTEMAS EM ENGENHARIA,
2014). Veja um exemplo de móveis sob medida, em MDF melamínico, na
Figura 3.

Figura 3. Cozinha com móveis sob medida, executados em MDF melamínico.


Fonte: Africa Studio/Shutterstock.com.

O MDF possui acabamento cru, originalmente, aceita pintura e, com a


aplicação de uma resina à prensa, se tornou o material mais utilizado nos
projetos. Essa camada, chamada de melamina, tem acabamento liso, com
10 Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário

textura e aparência madeirada. A aplicação ocorre industrialmente, incluindo o


corte e a colagem das fitas laterais, o que permite uma fabricação mais rápida
e padronizada. Esse material não exige tratamento ou cuidado posterior; já
a lâmina de madeira, um acabamento natural que pode ser aplicado sobre o
MDF, precisa de uma proteção, como a aplicação de vernizes.
As peças de design possuem formas de produção variada. Além da ma-
deira maciça, como a cadeira Zig Zag, projetada por Gerrit Rietveld, em
1934, há a utilização da madeira laminada, principalmente em peças com
curvas. A poltrona Charles Eames, por exemplo, tinha sua estrutura em
madeira compensada moldada. Tais inovações no campo do mobiliário,
propostas pelo casal Charles e Ray, foram possíveis em função da parceria
com a rede de móveis Herman Miller (STUNGO, 2000). Na Figura 4, você
pode ver essas duas peças.

Figura 4. Peças de design. a) Cadeira Zig Zag. b) Poltrona Eames.


Fonte: a) Piet... (2016, documento on-line); b) Keller (2017, documento on-line).

Durante o Movimento Moderno, o uso de revestimento amadeirado nas


paredes era frequente. No Palácio do Planalto e no Palácio da Alvorada, por
exemplo, projetos do arquiteto Oscar Niemeyer em Brasília, parte de suas
paredes são cobertas por painéis de madeira nobre, um símbolo da riqueza
brasileira.
Em função da dimensão de peças maiores que a madeira maciça, outra
utilização dos painéis laminados é a divisória móvel. Criado no Movimento
Moderno para que houvesse a flexibilidade dos espaços da planta livre, o
painel móvel pode ser opaco, vazado, com ripados, laminado etc. No conceito
de mobiliário, como movível, esses painéis se encaixam muito bem, tanto pela
Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário 11

possibilidade de trocarem de posição como pela multiplicidade de espaços


que a movimentação gera (VILARINHO; CAMPOS, 2011), conforme você
pode observar na Figura 5.

Figura 5. Painéis deslizantes em MDF melamínico, que separam a sala de estar do escritório.
Fonte: AP Moinhos... (2018, documento on-line).

Vidros e acrílicos
O vidro é um material muito versátil, que pode ser empregado em vários pontos
da arquitetura, seja no piso, guarda-corpo, cobertura, revestimento e mobiliário.
Já a arquitetura tem a função de abrigar o ser humano das adversidades do
tempo, proporcionar proteção e conforto, bem como permitir a entrada de luz.
12 Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário

Segundo Mariacher (1992), o vidro foi realizado pela queima acidental da areia
pelos fenícios, em 3 mil a.C., os quais, por terem sido grandes navegadores,
difundiram essa descoberta rapidamente. Inicialmente utilizado apenas como
efeito decorativo e para criar pequenos ornamentos (p. ex., vasos, copos e
jarras), ele foi aprimorado, usado em larga escala e começou a exercer a função
de espelho e vitral. Esses usos foram descobertos por diferentes civilizações
que entraram em contato com o material.
A Era Gótica teve grande contribuição para o desenvolvimento do vidro na
arquitetura, por exemplo, os arcos permitiram a aplicação dos vidros coloridos,
a entrada de luz e transmitiram mensagens bíblicas por meio dos desenhos em
vitrais. Já no Renascimento, o material se tornou mais resistente e usual. No
século XX, a ideia da transparência, reflexão, translucidez e opacidade, bem
como a melhoria da qualidade fizeram o vidro evoluir juntamente à construção
civil. Ele se transformou na membrana de contato com o ambiente, a fonte de
iluminação natural que faz as trocas térmicas. Atualmente, ele também tem
papel estrutural e/ou acústico, é produzido em grandes formatos e resiste às
fortes intempéries (MARIACHER, 1992).
Na área do mobiliário, o vidro surge como revestimento e atua juntamente
aos laminados e madeira, por exemplo, painéis e divisórias, móveis ou fixos,
ou móveis que precisam de transparência ou luz no interior. Veja, a seguir,
alguns tipos de vidro (BERGAMO; MOTTER, 2014).

„„ Vidro float: é o comum, liso, transparente e a matéria-prima que origina


os temperados, laminados, insulados, serigrafados (com aplicação de
adesivo com coloração) e espelhos. Sua composição inclui sílica, sódio,
cálcio, magnésio, potássio e alumina. No Brasil, ele é produzido com
espessuras que variam de 3 a 19 mm.
„„ Vidro temperado: é considerado de segurança e submetido a um tra-
tamento que introduz tensões adequadas, assim, se for danificado em
qualquer ponto, ele se transforma em pequenos pedaços menos cortantes.
„„ Vidro laminado: é avaliado como de segurança e manufaturado com duas
ou mais chapas de vidro firmemente unidas e alternadas com uma ou
mais películas de material aderente. Assim, se quebrar, ele permanece
com os estilhaços colados nessa película.
„„ Vidro duplo ou insulado: é formado por duas ou mais chapas de vidro,
paralelas, com uma camada de ar ou gás entre elas. Finalizando, nas
Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário 13

bordas, há um sistema de selagem que une esse sistema, o que agrega


potencial acústico e térmico a esse tipo.
„„ Vidro aramado: é formado por uma chapa de vidro que contém fios
metálicos incorporados à sua massa durante a fabricação. A tendência é
que, quando for quebrado, seus estilhaços permaneçam presos aos fios.
„„ Vidro térmico absorvente: é um produto recente, comparado aos de-
mais, que tem a capacidade de absorver, no mínimo, 20% dos raios
infravermelhos, reduzindo o calor que entra na edificação.

Como revestimento, o vidro está na versão float, incolor, serigrafado


ou espelho. Em algumas situações, o transparente é usado para proteger
móveis contra riscos e problemas na pintura ou sobre lâminas em frente ao
mobiliário. Em geral, utiliza-se o serigrafado na cozinha, pela facilidade
de limpeza; o incolor, a fim de mostrar o conteúdo interno, como em cris-
taleiras; ou o espelho, usualmente empregado na porta de armários nos
dormitórios e closets.

Você sabe como são feitos os espelhos? Assista ao vídeo no link a seguir e entenda
o processo.

https://qrgo.page.link/FNKaW

As divisórias móveis são outra forma de empregar o vidro, juntamente ao


quadro em laminado, madeira ou perfil de alumínio, ele se torna um elemento
de separação das salas, com permeabilidade visual e, se for necessário, de
fácil remoção para reintegrar os espaços. Esse tipo de mobiliário é muito
usado em ambientes comerciais, que exigem uma flexibilidade maior em
função da diversidade de usos e pessoas, além da rápida execução em relação
às paredes drywall ou em alvenaria (VILARINHO; CAMPOS, 2011). Veja
na Figura 6 um exemplo de divisória de vidro translúcido e caixilho em
lâmina de madeira.
14 Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário

Figura 6. Divisória de vidro translúcido e caixilho em lâmina de madeira, separando os


espaços.
Fonte: ImageFlow/Shutterstock.com.

Versátil e contemporâneo, o acrílico é frequentemente utilizado na produção


de mobiliário e possui fácil moldagem e uma gama variada de cores. Ele é
50% mais leve do que o vidro, embora seja mais resistente (este tem maiores
limitações em função dos danos causados, caso quebre), e tem valor médio,
por quilo, de R$ 22,00, o que se assemelha aos outros materiais usados na
fabricação de móveis. Outras particularidades são que pequenos riscos, encar-
didos e manchas superficiais podem ser removidos ao se aplicar os polidores.
Contudo, algumas preocupações devem consideradas na escolha: as chapas
acrílicas transparentes suportam até 10 anos no sol, sem amarelamento; as
coloridas podem desbotar no sol intenso; e as recicladas não são recomendadas
para uso externo (MAGALHÃES, 2017, documento on-line).
No Brasil, a maior parte da produção desse material é com chapas extrusadas
e recicladas. O recorte pode ser feito com serra circular ou de fita, utilizadas
para madeira, mas recomenda-se usar a serra circular específica, própria
para acrílico. Outra opção inclui equipamentos de corte a laser, nos quais as
bordas ficam lisas, sem precisar de lixamento e polimento. Diferentemente
da madeira, as chapas acrílicas são materiais termoplásticos e facilmente
moldadas com aquecimento em fornos, na temperatura em torno de 160ºC
para atingir o formato pretendido.
Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário 15

Muitos móveis são feitos em acrílico, como mesas laterais, bancos e ca-
deiras. Inclusive, uma das cadeiras mais famosas, a Luís XV, originalmente
produzida em madeira esculpida, foi relançada em acrílico, com o nome Louis
Ghost (fantasma, em português), conforme você pode ver na Figura 7.

Figura 7. Cadeira Louis Ghost, inspirada na cadeira Luís XV, feita em madeira.
Fonte: Senna (2012, documento on-line).

A utilização da madeira na composição de mobiliário é uma prática muito


antiga, a qual foi aperfeiçoada no decorrer dos anos. Devido à Revolução
Industrial, à crescente demanda, ao desmatamento e à extração irregular das
árvores, surgiram os laminados, sendo possível usar árvores de refloresta-
mento e crescimento mais rápido, bem como gerar painéis de boa densidade,
resistência, durabilidade e acabamentos variados.
16 Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário

A escolha do material varia de acordo com a necessidade estética, o tipo de


acabamento, a umidade do ambiente e as dimensões. Já o acabamento que o
painel recebe pode ser em pintura esmalte, laca, melamina, fórmica ou vidro,
por exemplo. A industrialização desse processo trouxe novos materiais, como
o acrílico, mais resistente e leve do que o vidro, permitindo várias modelagens.
Portanto, as possibilidades são variadas na escolha do material para mobiliário,
e você deve listar as características desejadas e buscar o que mais se encaixa
nesses quesitos.

AP MOINHOS 01. América Arquitetura. Porto Alegre, 2018. Disponível em: https://www.
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Painéis e laminados de madeira e revestimentos para mobiliário 17

MAGALHÃES, J. O Potencial do Acrílico para o mobiliário. Instituto Nacional para o


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VILARINHO, C.; CAMPOS, C. Potencialidades das divisórias leves e móveis para a fle-
xibilização do espaço. In: LOURENÇO, P. B. et al. Paredes divisórias: passado, presente e
futuro. Minho: Universidade do Minho, 2011. p. 129–140. Disponível em: http://www.
hms.civil.uminho.pt/events/paredes2011/129_140.pdf. Acesso em: 24 out. 2019.
TEORIA E
PRÁTICA DA COR

Derli Kraemer
Influência das
cores nas artes
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer o histórico da cor no campo das artes.


„„ Identificar os aspectos conceituais e simbólicos da cor nas artes.
„„ Aplicar as composições cromáticas utilizadas no campo das artes.

Introdução
As cores sempre estiveram presentes. No começo da história do homem,
as cores faziam parte mais das necessidades psicológicas do que das
estéticas, como, por exemplo, na história dos egípcios, que sentiam na
cor um profundo sentido psicológico, tendo cada cor uma simbologia.
Nas artes, Vincent van Gogh (1853-1890) conferiu às suas pinturas sensa-
ções cromáticas que traduzem intensas cargas emotivas e psicológicas.
Também foi no século XIX que houve um interesse maior em estudar
cientificamente a cor, com a participação de filósofos e escritores.
Neste capítulo, você vai conhecer o histórico da cor no campo das
artes, identificando os aspectos conceituais e simbólicos da cor nas artes
e vendo como aplicar as composições cromáticas utilizadas no campo
das artes.

Histórico da cor no campo das artes


Entre as possibilidades de ferramentas para a expressão artística, a cor está pre-
sente desde a Pré-História, nas pinturas rupestres, como a mostrada na Figura
1, encontrada no nordeste brasileiro. Com muita criatividade, os hominídeos
criaram cores a partir de diversos materiais, como carvão e ossos queimados
para obter o preto; óxido de ferro, cera de abelha e substâncias líquidas como
clara de ovo para obter o amarelo; sangue e argila para obter o vermelho; cálcio,
84 Influência das cores nas artes

giz e outras substâncias para obter o branco. Sua arte representava o cotidiano,
com cenas de caça e pessoas, e também tinha características religiosas.

Leitores do material impresso, para visualizar as figuras


deste capítulo em cores, acessem o link ou o código
QR a seguir.

https://goo.gl/ogk12E

Figura 1. Pintura rupestre encontrada no nordeste do Brasil.


Fonte: Arte Brasileira UTFPR (2012, documento on-line).
Influência das cores nas artes 85

Durante toda a história humana, as cores estiveram presentes nas artes. A


técnica e a tecnologia foram aprimoradas, acompanhando sua própria época;
por exemplo, as cores estavam presentes em brasões e bandeiras. Expressões
representadas por cores, que dependendo da cultura são diferentes, simbolizam
religiosidade, paz, guerra, luto e outras situações.
Segundo Fraser e Banks (2007), na Idade Média, os artistas, sobretudo
europeus, tinham ao seu dispor uma grande quantidade de pigmentos diferen-
tes, extraídos de plantas e minerais, assim como pigmentos manufaturados. O
vermelho, que inicialmente era extraído de insetos, também podia ser extraído
do enxofre e do mercúrio (altamente tóxicos). Tais pigmentos eram difíceis para
aplicar, pois alguns reagiam quimicamente com outros, causando efeitos adversos.
O pintor italiano Cennino Cennini (1370-1440) escreveu sobre os pigmentos
em um trabalho bastante detalhado, que incluía receitas químicas para a ma-
nufatura de pigmentos especiais. Seu trabalho explicou regras de proporção,
perspectiva e cores. Durante o Renascimento, as técnicas antigas foram modifi-
cadas pela presença das tintas a óleo. Algumas cores nem são mais fabricadas,
como o ultramarino, que é um azul extremamente escuro, sendo diluído com
pigmento branco para sua utilização. Acompanhe exemplos nas Figuras 2 e 3.

Figura 2. Madona Cigana, de Ticiano, 1512.


Fonte: Dias (2018, documento on-line).
86 Influência das cores nas artes

Figura 3. Madonna Benois, de Leonardo Da Vinci, 1478.


Fonte: Virgem Benois (2017, documento on-line).

Observe que na pintura de Ticiano temos uma paleta mais expansiva,


enquanto na pintura de Da Vinci temos um efeito extremamente rico, com
uma paleta de cores estreita e não saturada.
Influência das cores nas artes 87

Já Piero Della Francesca (1416-1492) utiliza a pintura como suporte para


a construção geométrica da imagem. Na pintura Ressurreição de Jesus, de
1450, pode-se observar a disposição piramidal da obra, na qual o ponto mais
alto é justamente a cabeça de Jesus. Observe as cores com ênfase nas cores
mais suaves e luminosas para representar o Cristo (Figura 4).

Figura 4. A Ressureição de Jesus, de Piero Della Francesca, 1450.


Fonte: Della Francesca (2018, documento on-line).

Caravaggio (1573-1610) já é um artista que não se interessou pela estética


do Renascimento, buscando modelos entre músicos e pessoas comuns, do
povo. Não havia, para Caravaggio, beleza apenas na aristocracia. Com grande
conhecimento sobre a perspectiva e os efeitos de luz e sombra, o artista explorou
espaços amplos em suas obras.
88 Influência das cores nas artes

Figura 5. O tocador de alaúde, de Caravaggio, 1596.


Fonte: Dias (2013, documento on-line).

É muito difícil falar sobre o histórico da cor nas artes sem falar de Vincent
Van Gogh. Segundo Proença (2014):

[...] conhecer Vincent Van Gogh é entrar em contato com um artista apai-
xonante. Alguém que se empenhou profundamente em recriar a beleza dos
seres humanos e da natureza por meio da cor, que para ele era o elemento
fundamental da pintura.

Em 1888, Van Gogh libertou-se do naturalismo no emprego das cores.


Passou a colorir como sentia e percebia os assuntos de maneira arbitrária.
Tinha paixão por cores intensas.
Influência das cores nas artes 89

Figura 6. Jardim de Maraíchers, de Van Gogh, 1888.


Fonte: Beaux-Arts (2012, documento on-line).

Nas próprias palavras do artista, citadas por Proença (2014):

[...] agora nós temos aqui um glorioso e forte calor sem vento, o que é bom para
o meu trabalho. Um sol, uma luz, que por falta de nome melhor, eu chamo de
amarelo, amarelo-limão-claro, limão-claro-ouro. Como é bonito o amarelo!
(Extraído de Tout l’ouvre peintde Van Gogh, Paris. Flammarion, 1971. V.2,
p. 126. Les classiques de l’art Flammarion.).

Em sua última fase, após sair de uma profunda crise nervosa e internação,
instalou-se em Anvers, uma pequena cidade ao norte da França, e, em um
período de três meses, pintou aproximadamente 80 telas, com pinceladas cada
vez mais visíveis e cores intensas como suas emoções. Em julho de 1890,
suicidou-se, deixando 879 pinturas. Foi reconhecido, apenas após sua morte,
como o pintor que deu os primeiros passos no que seria a arte moderna. Como
diz Proença (2014), morreu sem que fosse compreendido o seu esforço para
libertar a beleza dos seres por meio de uma explosão de cores.
Mas a cor não é uma exclusividade da pintura. Observe a Figura 7, um
exemplo do uso da cor arquitetura e no design de interiores. A casa Tassel,
de 1893, é uma edificação do arquiteto Victor Horta, que fica em Bruxelas.
A casa foi projetada completamente estilo Art Noveau, com muitos detalhes
em ferro e vidro uso abundante de formas orgânicas.
90 Influência das cores nas artes

Figura 7. A Casa Tassel, de Victor Horta, 1893.


Fonte: Bastos (2017, documento on-line).

Na Figura 8, você pode ver a obra Harmonia em vermelho, de Henri Matisse,


pintor francês que participou dos movimentos Expressionista e Pós-impres-
sionista e foi o expoente máximo do Fauvismo. Nessa obra, o artista fez uma
combinação de cor tríade, usando na maior parte o vermelho, complementando
com o amarelo e o azul.
Influência das cores nas artes 91

Figura 8. Harmonia em vermelho, de Matisse, 1908.


Fonte: Pacheco (2017, documento on-line).

O Fauvismo tem algumas características marcantes, como a aplicação de


cores vivas e puras, com pinceladas justapostas e irregulares. As formas são
reproduzidas de maneira simplificada, sem preocupação com a forma exata.
Há também uma ruptura com o rigor da anatomia, resultando em algo mais
espontâneo. A emoção do artista é mais relevante, sendo a impressão sobre
a natureza mais importante do que a forma perfeita. Há uma perspectiva
exagerada, por vezes.
Segundo Müller (1976), o crítico de arte Camille Mouclar, do jornal Le
Figaro, disse certa vez que, nas obras fauvistas, parecia que tinham jogaram
uma lata de tinta no rosto do público. Sendo um movimento vanguardista do
século XX, o Fauvismo gerou comentários pela novidade. Os artistas que
compuseram esse movimento eram conhecidos pelo uso da cor, que, na arte
medieval, era usada principalmente para detalhar e trazer mais realidade para
a forma, enquanto os fauves buscavam um equilíbrio estético, independente
da busca que os acadêmicos estavam acostumados.
92 Influência das cores nas artes

Nos primeiros anos do século XX, havia muita incerteza sobre o futuro,
com o avanço tecnológico e econômico em largos saltos. Apesar de Matisse
declarar sua busca por “paz e serenidade” (CHIPP, 1999), as telas dos fauvistas
causaram grande impacto. Segundo Janson e Janson (2009), os principais
representantes desse movimento foram Henri Matisse, André Derain, Maurice
Vlaminck e Raoul Dufy.

As cores falam. Transmitem uma mensagem que é emoldurada pela forma. Por meio
da cor podemos despertar memórias, influenciar comportamentos diversos. Existem
cores que são, por exemplo, sagradas em diversas culturas. Segundo Heller (2013), o
amarelo é divino para os chineses, já o verde é sagrado para os islâmicos. O azul é a
cor da pele dos deuses indianos, para justamente diferenciar dos mortais. Ao escolher
uma cor para uma peça, é necessário ter responsabilidade para com a cultura em
que está inserida.

Aspectos conceituais e simbólicos da cor nas


artes
Segundo Fernand Léger (1989, p. 93):

A cor é uma necessidade vital. É uma matéria-prima indispensável à vida,


como a água e o fogo. Não é possível conceber a existência dos homens sem
um ambiente colorido. As plantas, os animais se colorem naturalmente; o
homem se veste com cores. Sua ação não é só decorativa, é psicológica.
Ligada à luz, ela se torna intensidade, se torna necessidade social e humana.
O sentimento de alegria, de emulação, de força, de ação se acha fortalecido,
ampliado pela cor.

Nessa citação, o autor identifica a cor como um elemento vital indispensável


à própria vida. Por meio da cor é possível demonstrar além da forma. Nas
artes, a cor é, sobretudo, sentimento, como preconizou Van Gogh.
Influência das cores nas artes 93

Harmonia e contraste
Segundo Fraser e Banks (2007), harmonia de cores é o efeito obtido por uma
cor cuja tonalidade muda, controlada pela variação da saturação e luminosi-
dade. Esse controle é obtido por meio da adição de branco ou preto. O objetivo
pode ser a ênfase de um elemento específico. Veja um exemplo de harmonia
na Figura 9.

Figura 9. Escala harmônica do vermelho.

Existem várias formas de se utilizar a harmonia. Por exemplo, a saturação


é quando há soma de uma única cor às demais. Já a harmonia monocromática
utiliza-se de um matiz e de sua variação de luminosidade.
O contraste ou, a harmonia complementar, ocorre ao observarmos o
círculo cromático, escolhendo uma cor e seguindo na direção oposta para
encontrar a cor complementar — a cor que está do outro lado do disco cro-
mático. A isso chama-se díade de complementares.
E também há a harmonia triádica: três cores que se ligam por um tri-
ângulo equilátero imaginário, inserido no círculo cromático. A harmonia
quadrática é formada por tétrades, que definem um quadrado formado pela
união de duas díades perpendiculares entre si. E apenas para complementar:
as cores se análogas têm uma sequência de cores adjacentes. A Figura 10
ilustra esses exemplos.
94 Influência das cores nas artes

Figura 10. Exemplos de círculos cromáticos.


Fonte: Bastos (2017, documento on-line).

Concluímos então que as cores harmônicas não disputam a atenção do


observador, enquanto o esquema contrastante deve ser testado com esmero,
pois essas cores tendem a competir pela atenção.
Essa competição, metodicamente escolhida por pintores como Van Gogh,
tem uma ligação tanto com as descobertas iniciais de Isaac Newton quanto
com os primeiros passos para o estudo da psicologia das cores de Johann
Wolfgang von Goethe. Sir Isaac Newton explicou, no século XVII, com o uso
de um prisma, como a luz branca é separada em diferentes cores, enquanto,
em 1810, Goethe publicou seu trabalho A Teoria das Cores, no qual discorda
de Newton sobre a divisão do espectro, pela visão da ciência de dividir algo
para estudá-lo, pois achava que isso era nocivo, pois rompendo em pedaços,
acabava-se o sentido da unidade. Sob este olhar, Goethe abordou o tema da
cor por um olhar mais humano.
Esse estudo, aprofundado por Heller (2013), explica as sensações que
as cores transmitem, podendo ser usadas também de forma absolutamente
consciente na criação de peças, tanto quanto um artista pode escolhe-las de
Influência das cores nas artes 95

acordo com sua vontade criativa. No caso do uso consciente, artistas, diretores
de arte em agências de publicidade, designers gráficos, designers de produto,
designers de interiores e outros especialistas podem usar esse conhecimento
para obter melhores resultados em seus trabalhos. Acompanhe o Quadro 1.

Quadro 1. Cores comumente citadas como relacionadas a conceitos

Azul Frio e passivo, tranquilo e confiável. Azul está para virtudes


intelectuais como o seu oposto, o vermelho, está para paixão.

Vermelho Quente, próximo, atraente e sensível.

Amarelo Lúdico com laranja e vermelho, amável com azul e rosa.


Combinado ao cinza e ao preto, atua negativamente. Lembra
inveja e ciúme.

Verde Tranquilizador ao lado do azul e do branco. Esperança com


azul e amarelo. Salutar ao lado do vermelho. Venenoso ao
lado do violeta.

Branco Ideal e nobre com ouro e azul. Objetivo com cinza. Leve com
amarelo. Delicado com o rosa.

Preto Ríspido e duro com cinza e azul. Elegante ao lado do prata e


do branco, poderoso acompanhado de ouro e vermelho.

Rosa Terno e feminino com vermelho, infantil com amarelo e


branco, doce e barato com laranja.

Laranja Divertido com amarelo e vermelho. Com dourado, prazer.


Com violeta, intruso. Com verde e marrom, aromático.

Marrom Aconchegante com cores ensolaradas e luminosas. Fora


de moda com todas as cores inexpressivas. Careta e
insuportável com cinza e cor de rosa. Com branco, efeito
não erótico. Com verde e violeta, efeito acre e intragável.

Fonte: Adaptado de Heller (2013).

Essa tabela é mínima, na verdade. Uma pequena amostra de um estudo


maior sobre a influência das cores em outras atividades, para demonstrar que
as cores estão presentes e são essenciais para as artes.
96 Influência das cores nas artes

1. As cores por si só, usadas de forma substitui as linhas de contorno na


uniforme, seriam limitadas, porém pintura. Essa utilização de luz e
elas podem ser combinadas, sombras ficou conhecida como?
aumentando suas variações. a) Chiaroscuro (claro-
Qual é a classificação dessas escuro em italiano).
combinações de cores nas b) Oposição de cores.
composições de ambientes? c) Cor pigmento.
a) Primárias e secundárias. d) Cores frias e quentes.
b) Harmônicas e contrastantes. e) Luz e cor.
c) Opostas e semelhantes. 5. Harmonia cromática é o resultado
d) Consonantes e dissonantes. do equilíbrio entre cor dominante
e) Terciárias e opostas. (que possui a maior extensão na
2. Henri Matisse foi o expoente composição), cor tônica (coloração
máximo do movimento artístico vibrante que dá tom ao conjunto) e
que floresceu na França entre 1901 e cor intermediária (meio termo entre
1908. O trabalho de Henri Matisse foi a dominante e a tônica). Com base
influenciado por qual estilo artístico? no estudo de harmonias, podemos
a) Fauvismo. dizer que a imagem a baixo é uma:
b) Modernismo tardio.
c) Renascimento.
d) Pop Arte americana
e) Regionalismo.
3. Há 40 mil anos foram criados
os primeiros pigmentos, que
combinavam carvão queimado,
gordura animal e solo, assim os
artistas criaram uma paleta básica
de quatro cores, quais são elas?
a) Amarelo, vermelho,
preto e branco.
b) Amarelo, vermelho,
roxo e branco. Fonte: Pierre-Auguste Renoir (documento on-
c) Vermelho, preto, verde e branco. -line, 2012).
d) Azul, vermelho, preto e branco. a) harmonia monocromática.
e) Amarelo, vermelho, azul e branco. b) harmonia complementar
4. A oposição entre luz e sombra ou de contraste.
se desenvolve entre dois polos: c) harmonia triádica.
preto e branco. O contraste entre d) harmonia quadrática.
as cores dos corpos e do cenário e) harmonia por saturação.
Influência das cores nas artes 97

ARTE BRASILEIRA UTFPR. Arte rupestre no Brasil. 1 jun. 2012. Disponível em: <https://
artebrasileirautfpr.wordpress.com/2012/06/01/arte-rupestre-no-brasil/>. Acesso em:
13 jan. 2019.
BARROS, L. R. M. A cor no processo criativo: um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de
Goethe. 3. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2006.
BASTOS, T. R. Círculo cromático: aprenda a combinar cores na decoração. Casa e Jardim,
9 mar. 2017. Disponível em: <https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/
Dicas/noticia/2017/03/circulo-cromatico-aprenda-combinar-cores-na-decoracao.
html>. Acesso em: 13 jan. 2019.
BEAUX-ARTS. Vincent VAN GOGH: JARDIN DE MARAÎCHERS. 25 out. 2012. Disponível
em: <https://www.devoir-de-philosophie.com/dissertation-vincent-van-gogh-jardin-
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CHIPP, H. B. Fauvismo e expressionismo: a intuição criadora. In: SELZ, P.; TAYLOR, J. C.
Teorias da arte moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 121-142.
DELLA FRANCESCA, P. Ressurreição (detalhe) — Resurrection (detail). Warburg: banco
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DIAS, L. Ticiano — Madona Cigana. VÍRUS DA ARTE & CIA, 27 nov. 2018. Disponível em:
<http://virusdaarte.net/ticiano-madona-cigana/>. Acesso em: 13 jan. 2019.
DIAS, L. Caravaggio — O TOCADOR DE ALAÚDE. VÍRUS DA ARTE & CIA, 31 mar. 2013.
Disponível em: <http://virusdaarte.net/caravaggio-o-tocador-de-alaude/>. Acesso
em: 13 jan. 2019.
FRASER, T.; BANKS, A. O guia completo da cor. São Paulo: Senac, 2007.
HELLER, E. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo:
Gustavo Gili, 2013.
HORTA, V. Casa Tassel. Diedrica, maio 2014. Disponível em: <http://www.diedrica.
com/2014/05/casa-tassel.html>. Acesso em: 13 jan. 2019.
JANSON, H.W.; JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
LÉGER, F. Funções da pintura. São Paulo: Nobel, 1989.
MÜLLER, J. E. O Fauvismo. São Paulo: Verbo, EDUSP, 1976.
PACHECO, T. Combinação de cor avançada: tríade, complementar dividida, retângulo e
quadrado. Vida de Professor de Arte, 7 mar. 2017. Disponível em: <http://vidadeprofessor.
pro.br/combinacao-de-cor-triade-complementar-dividida-retangulo-e-quadrado>.
Acesso em: 13 jan. 2019.
98 Influência das cores nas artes

PIERRE AUGUSTE RENOIR, (French — Albert Cahen d’Anvers — Google Art Project.
jpg. Wikimedia Commons, the free media repositor, 19 out. 2012. Disponível em:
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PROENÇA, G. História da arte. 17. ed. São Paulo: Ática, 2014.
VIRGEM BENOIS. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017.
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Virgem_Benois>. Acesso em: 13 jan. 2019.

Leituras recomendadas
BARROSO, P. F.; NOGUEIRA, H. S. História da arte. Porto Alegre: Sagah, 2018.
GOETHE, J. W. Zur Farbenlehre. Berlin: Createspace, 2014.
Conteúdo:
DESIGN DE
MOBILIÁRIO

Camila de Cássia das Dores Ogava


Criatividade em projetos
de mobiliário para espaços
residenciais e comerciais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Exemplificar projetos criativos de mobiliário para espaços residenciais


e comerciais.
 Exercitar a percepção espacial, formal e criativa por meio de projetos
de mobiliário para espaços residenciais.
 Exercitar a percepção espacial, formal e criativa por meio de projetos
de mobiliário para espaços comerciais.

Introdução
Neste capítulo, você vai saber mais sobre como o repertório de infor-
mações rearranjadas pode estimular a criatividade no desenvolvimento
de projetos de mobiliários residenciais ou comerciais. Você vai verificar
exemplos de projetos mobiliários que empregam a criatividade na
estrutura formal do projeto, transformando-o em ícone de design,
ou que fazem uso da criatividade na funcionalidade dos projetos,
promovendo benefícios aos usuários. Além disso, você vai conhecer
mais sobre a percepção espacial e formal em projetos de mobiliários
para ambientes comerciais e residenciais, compreendendo alguns
aspectos de Gestalt aplicados na prática em diversos projetos, os quais
podem melhorar a compreensão das mensagens transmitidas pelos
projetos mobiliários.
2 Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais

Projetos criativos de mobiliário


Projetar mobiliários exige o uso sistemático da criatividade para atender a
necessidades de uso, funcionalidade e estética, de acordo com as possibilida-
des técnicas, de fabricação e materiais disponíveis. As boas ideias de projeto
não são consequência de uma mente puramente brilhante e talentosa, mas da
capacidade de reunir fragmentos de experiências, conhecimentos, informações
e todo o repertório adquirido pelas vivências, rearranjando-os de uma nova
forma, conforme leciona Johnson (2011). Nesse sentido, a criatividade pode
ser compreendida como uma “[...] combinação original de ideias já conhecidas”,
conforme aponta Boden (1999, p. 81). Portanto, as ideias são a matéria-prima
da criatividade para se gerar projetos inovadores.
A criatividade pode ser expressa de várias maneiras no mobiliário, seja
pela configuração da forma, pela utilização de materiais pouco comuns,
pela harmonização de cores, pelo uso de diferentes técnicas de produção e
montagem e pela funcionalidade. O mobiliário criativo impacta o ambiente
onde está inserido e, por fim, impacta os usuários e visitantes do ambiente.
A seguir, na Figura 1a, veja a poltrona Mole, ícone do design brasileiro,
criada por Sergio Rodrigues. A obra venceu um concurso na Itália em 1961,
ficando à frente de centenas de outras peças mobiliárias, pois o júri entendeu
que o móvel “[...] não era influenciado por modismos e era absolutamente
representativo de sua região de origem” (ROCHA, 2016, documento on-
-line). A brasilidade representada de forma criativa e inovadora fizeram
dela um ícone, o que rendeu à mesma, anos mais tarde, um lugar no acervo
permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa). A Figura 1b
mostra a icônica poltrona Aspas, mais conhecida como Chifruda, também
do designer Sergio Rodrigues, criada em 1962 para a exposição “O móvel
como obra de arte”. A peça já foi exposta em diversas partes do mundo
(ANUAL DESIGN, 2011).
Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais 3

Figura 1. Poltronas do designer Sergio Rodrigues: a) Mole, 1957; b) Aspas/


Chifruda, 1962.
Fontes: a) Adaptada de Andréa (2017); b) Adaptada de Anual Design (2011).

A criatividade do mobiliário do designer Sergio Rodrigues se encontra na


maneira inovadora de representar a brasilidade, caracterizada principalmente
pela construção formal de suas peças, utilizando-se de materiais muito comuns da
cultura do país, como couro e madeiras de lei, em composições originais e criativas.

Acesse o link abaixo para saber mais sobre a trajetória e os projetos de Sergio Rodrigues.

https://goo.gl/kHB5aX
4 Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais

O escritório holandês Mecanoo também se utilizou das formas para criar


uma linha de mobiliários modulados para ambientes comerciais, de apren-
dizagem ou de trabalho colaborativo. A linha de móveis HUBB se utiliza
de formas minimalistas, cores neutras e modularidade para transformar os
ambientes onde o mobiliário é inserido, podendo criar espaços de estudo/
trabalho individualizados ou colaborativos, totalmente abertos ou mais
intimistas, de acordo com a necessidade dos usuários. Confira a explanação
do projeto na Figura 3.

Figura 2. Apresentação de todas as peças que compõem o projeto de mobiliário HUBB.


Na primeira fileira, são mostrados os assentos; logo abaixo, os elementos que servem
como mesas; após, os elementos que servem como cobertura, para gerar nichos; por fim,
divisórias e luminárias.
Fonte: Adaptada de Mecanoo (2018).
Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais 5

Veja, na Figura 3, a proposta de implantação do projeto.

Figura 3. Proposta de implantação do projeto HUBB.


Fonte: Adaptada de Mecanoo (2018).

O projeto conta ainda com a utilização de materiais recicláveis, como PET,


buscando uma produção mais sustentável. O projeto criado pela Mecanoo
já foi produzido pela empresa Gispen e implantado em uma universidade e
objetiva criar um espaço colaborativo, multiuso e que fomente a criatividade
colaborativa (BARI, 2017).
A criatividade pode ser expressa no mobiliário também pelo uso de ma-
teriais pouco comuns para a fabricação tradicional. A combinação e recom-
binação de materiais e formas pode gerar novas possibilidades criativas para
os projetos mobiliários.
O uso do palete de madeira tem crescido na produção de mobiliários
residenciais e comerciais, seja em áreas internas ou áreas externas, pois
a matéria-prima é barata e tem conceitos de sustentabilidade, uma vez
6 Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais

que é material de reúso. A estética dos móveis desenvolvidos a partir de


paletes pode variar entre rústica e moderna, dependendo do acabamento e
da composição do ambiente. A exemplo disso, em 2015, a marca de perfu-
maria e cosméticos Granado abriu uma loja temporária toda elaborada a
partir de paletes e caixotes de feira, pois a empresa queria que a loja tivesse
um conceito de sustentabilidade bem claro (Fator Brasil, 2015). Veja, na
Figura 4, o resultado.

Figura 4. Loja temporária da empresa Granado, no Rio de Janeiro, em 2015, com mobiliário
todo feito a partir de paletes e caixotes de feira.
Fonte: Adaptada de Fator Brasil (2015).

Nas imagens da Figura 5, veja como o uso dos paletes pode ter estilos
diferentes de acordo com a necessidade e a proposta do ambiente.
Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais 7

Figura 5. (a) Sofás para ambiente interno feitos de paletes. (b) Mesas e assentos
de um restaurante no terraço de um prédio, elaborados em paletes. (c) Sacada
com sofá de paletes e futon.
Fonte: (a) Adaptada de Cunha (2014); (b) Adaptada de krzysieka2/Shutterstock.com; (c)
Adaptada de Leroy Merlin (2018).
8 Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais

A combinação de elementos pouco comuns ou o rearranjo de elementos


comuns pode gerar peças de mobiliário muito criativas e compor ambientes
com muito estilo e personalidade, de acordo com a necessidade dos projetos.

O exercício da percepção
De acordo com o dicionário on-line Michaelis (2018), percepção é “ato ou
efeito de perceber; capacidade de distinguir por meio da mente, inteligência;
representação mental das coisas”. A percepção também está diretamente
relacionada ao pensamento analítico, o qual possibilita notar diferenças e
similaridades em uma situação que ainda não haviam sido notadas, conforme
lecionam Zavadil, Silva e Tschimmel (2016).

Percepção criativa
A percepção criativa geralmente tende a ser iniciada nas etapas iniciais dos projetos
de desenvolvimento, uma vez que as metodologias de design separam uma etapa do
processo exclusivamente para o desenvolvimento criativo, gerido por ferramentas
ou métodos de criação como geração de alternativas, brainstorming, etapa de
ideação, entre outras. Apesar disso, essa percepção não ficará condicionada às
primeiras etapas, tendendo a estar presente em todo o processo do projeto.
Nesses momentos, a criatividade deve se dar pela percepção do problema
a ser solucionado, buscando-se estímulos que possam clarear as ideias de
solução. Conhecer o problema em projetos mobiliários tem a ver com o co-
nhecimento das necessidades dos usuários e dos espaços, das condicionantes
técnicas, entre outros.
As etapas criativas também devem contar com aspectos cognitivos do
designer, ou seja, com analogias pertinentes às suas experiências e vivências
e ao seu conhecimento sobre materiais, formas e técnicas de fabricação. Isso
possibilitará que as informações possam ser reconfiguradas e/ou ressignifi-
cadas, gerando soluções criativas. Portanto, a percepção também está ligada
aos processos criativos no desenvolvimento de projetos, colaborando para a
organização de sensações que podem ser estimuladas por aspectos ambientais
do projeto, conforme leciona Sternberg (2012). De acordo com Kao (2014),
as soluções mais originais tendem a sair de analogias distantes, isto é, ligar
coisas que parecem não ter relações claras com o problema.
A Figura 6 mostra a cadeira Esqueleto, cujas formas do encosto e assento
fazem alusão a cabides e à coluna vertebral humana. Tais referências não
Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais 9

estão diretamente ligadas ao ato de sentar, mas renderam uma solução formal
interessante e original ao projeto mobiliário.

Figura 6. Cadeira Esqueleto, do designer Pedro Paulo Santoro.


Fonte: Adaptada de Radar Decoração (2014).

A percepção criativa é, portanto, uma exposição do designer de interiores aos estímulos


projetuais e aos próprios conhecimentos e vivências do profissional, aplicados por
meio de um método ou ferramenta de criação de soluções inovadoras. Geralmente, a
percepção criativa está intimamente ligada com a representação gráfica das possíveis
soluções. Isso porque aquilo que foi percebido e posteriormente imaginado deverá
também ser compartilhado em linguagem gráfica específica. Para que isso ocorra, a
percepção espacial é fundamental.

Percepção espacial
A percepção espacial, conforme apontam Ramos e Gallo (2014), presume
a capacidade de criar e transformar imagens mentais, perceber formas,
reconhecer formas, manipular mentalmente as composições formais, além
de permitir a interação e a relatividade entre objetos, espaços, distâncias
e observador. Ela, então, exige sensibilidade para formas, linhas, cores
e volumes e a compreensão da relação entre esses elementos. É preciso
visualizar os objetos e criar imagens mentais deles, conforme leciona Souza
10 Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais

(2013), para, mais tarde, traduzi-los como desenho no desenvolvimento


dos projetos mobiliários.

A percepção espacial precisa ser estimulada e treinada para se tornar rápida e eficaz nos
processos de desenvolvimento do projeto mobiliário. Conhecimentos de geometria
e linguagem visual poderão estimular essa capacidade. Veja, no link a seguir, como a
percepção espacial pode ser desenvolvida e estimulada por meio da manipulação de
formas, linhas e cores — nesse caso, por meio de um jogo on-line.

https://goo.gl/Amz5bA

Percepção formal
É mais fácil representar o mobiliário quando se tem a clara percepção das
suas formas geométricas. O entendimento de que a peça é um agrupamento
de formas simples, ligadas por linhas retas ou curvas, permite uma melhoria
na percepção espacial e formal dos objetos.
Observe, nas imagens da Figura 7, alguns exemplos de mobiliários cujas
geometrias estão destacadas, facilitando a percepção formal.

Figura 7. Formas geométricas do mobiliário são destacadas na vista lateral.


Fonte: (a) Adaptada de Archiscene (2012); (b) Adaptada de Tuvie (2018).
Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais 11

Para o designer, é necessário conhecer e dominar formas pré-figurativas


(pontos, linhas, planos, volumes, etc.), que são a base de todas as formas. Essas
formas permitirão ao profissional uma maior facilidade de representação
das formas do mobiliário e das leis que regem as configurações formais —
Gestalt —, como simetria, contraste, fechamento, unidade, entre outras. A
representação precisa do mobiliário permite ao cliente/usuário compreender
a forma do móvel como um todo, percebendo de maneira mais objetiva a
mensagem da peça. O domínio desses conhecimentos é fundamental para que
as mensagens — em forma de projetos — sejam percebidas pelos usuários,
clientes, consumidor.
Todos os projetos são repletos de mensagens, sejam de estilo de vida, de
crença, de propósitos, entre outras. Saber transmitir essa mensagem por meio
de projetos mobiliários é um dos grandes desafios do profissional do design, já
que as relações de forma, contexto e significado são associadas à linguagem
do produto, conforme leciona Santos (2009).

A percepção visual busca entender a relação homem/produto a partir do contato


visual/perceptivo, por meio da Gestalt (forma), tanto na comunicação meramente por
meio de imagens, como na comunicação por meio de produtos usáveis, conforme
lecionam Wachowicz e Arbigaus (2003). As principais leis da Gestalt são: segregação,
unificação, fechamento, continuidade, proximidade, semelhança e pregnância da
forma. Já as principais categorias conceituais são harmonia/desarmonia, equilíbrio/
simetria, contraste/cor, conforme aponta Gomes Filho (2010).

Percepção formal e espacial em residências


Uma das principais leis da Gestalt é o fechamento, que se caracteriza pela
força de organização, que tende à formação de unidades em todos fechados.
Nesse caso, tem-se a sensação de fechamento visual da forma em uma ordem
estrutural definida, a fim de constituir uma figura mais completa, conforme
leciona Gomes Filho (2010).
Na Figura 8a, note que, apesar de não haver uma delimitação de paredes
em torno do mobiliário no jardim, é possível perceber um ambiente retangular
e intimista; ou seja, existe uma percepção de fechamento apenas com a dispo-
sição do mobiliário. O mesmo acontece na Figura 8b, que apresenta um loft
12 Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais

(apartamento sem divisórias) cujos ambientes são formados pela disposição do


mobiliário em torno de um vértice, proporcionando um fechamento imaginário
dos espaços de sala de estar e sala de jantar.

Figura 8. (a) Mobiliário de área externa. (b) Loft (apartamento sem divisórias).
Fonte: (a) Adaptada de GavranBoris⁄Shutterstock.com; (b) Adaptada de jovana veljkovic ⁄Shutterstock.com.

O equilíbrio é uma das categorias conceituais da Gestalt. Em uma compo-


sição equilibrada, todos os fatores, como distribuição, configuração, direção e
localização, determinam-se mutuamente de tal maneira que nenhuma alteração
Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais 13

pareça possível, e o todo parece necessitar de todas as partes, conforme leciona


Gomes Filho (2010).
Na Figura 9, observe que a composição do mobiliário do quarto possui
um equilíbrio simétrico, no qual ambos os lados da cama possuem elemen-
tos que proporcionam o mesmo peso visual, o mesmo direcionamento de
linhas e a utilização de praticamente as mesmas formas, com localizações
semelhantes.

Figura 9. Quarto de casal utilizando equilíbrio simétrico.


Fonte: Adaptada de ImageFlow/Shutterstock.com.

Outro recurso de percepção muito utilizado é o contraste, que significa


fundamentalmente distinção. É a distinção de um elemento em relação a outro;
como estratégia visual, pode estar nas diferentes formas de usar as cores,
sombras e proporções, conforme aponta Gomes Filho (2010).
Veja, na Figura 10, o uso de cores contrastantes em móveis e objetos
de decoração. A utilização de mobiliários que contrastem com o ambiente
tende a chamar a atenção para uma peça importante, cujas formas se des-
taquem no ambiente. Isso pode colaborar para um ambiente moderno e
sem monotonia.
14 Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais

Figura 10. Sala utilizando recurso de contraste para sair do óbvio e destacar mobiliário.
Fonte: Adaptada de Photographee.eu/Shutterstock.com.

Exercitando a percepção em ambientes comerciais


Projetos mobiliários para ambientes comerciais também podem se utilizar
dos recursos de percepção visual e formal para transmitir mensagens aos
clientes e usuários.
Observe, na Figura 11, o projeto de um espaço de trabalho colaborativo, utili-
zando o contraste em peças de mobiliários A utilização desse recurso nesse tipo
de ambiente busca fomentar a criatividade, a produtividade e a socialização entre
os usuários; por isso, pontos de cor e formas contrastantes nos móveis geram a
percepção de espaço em movimento, quebrando qualquer aspecto de monotonia.

Figura 11. Projeto de espaço de trabalho colaborativo.


Fonte: Adaptada de Kelleher Photography/Shutterstock.com.
Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais 15

A semelhança é também uma lei da Gestalt, que compreende que a igualdade


de forma e de cor desperta também a tendência de se construir unidades, isto é,
de estabelecer agrupamentos de partes semelhantes, conforme leciona Gomes
Filho (2010). A utilização da semelhança em mobiliários de ambientes comerciais
serve tanto para padronizar o ambiente de acordo com a imagem corporativa
da empresa quanto para estabelecer semelhança entre os usuários do espaço.
Na Figura 12, observa-se uma sala de espera cujos assentos são todos
em cores neutras, de mesmo modelo e material. Essa padronização gera no
usuário do espaço a percepção de igualdade perante os demais usuários; além
disso, comunica os valores e conceitos corporativos por meio de uma gestão
de design formal.

Figura 12. Sala de espera com assentos semelhantes.


Fonte: Adaptada de Basileus/Shutterstock.com.

A harmonia visual representa uma disposição formal organizada e propor-


cional em todo o ambiente e entre as partes (mobiliário/decoração/arquitetura,
por exemplo). Ela busca a integração e a coerência das formas, conforme
leciona Gomes Filho (2010).
Veja, na Figura 13a, uma casa de banho, cujas formas, cores e materiais de
mobiliários e decoração são formalmente organizados; os padrões formais e
cores se repetem de uma forma proporcional ao ambiente. Na Figura 13b, observe
um hall do spa Atlantis, em Zurich, na Suíça, cujas cores, formas, disposição
do mobiliário e objetos de decoração são coerentes e formalmente integrados.
16 Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais

Figura 13. (a) Casa de banho. (b) Hall do Spa Atlantis, na Suíça.
Fonte: (a) Adaptada de ImageFlow/Shutterstock.com; (b) Adaptada de Atlantis (2015).

Exercitar a visão espacial e formal pode melhorar o desempenho dos


projetos mobiliários, facilitando recombinações de informações de maneira
criativa e inovadora, desenvolvendo competências técnicas e favorecendo,
assim, projetos mais completos.
Criatividade em projetos de mobiliário para espaços residenciais e comerciais 17

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DESIGN DO
MOBILIÁRIO

Camila de Cássia das


Dores Ogava
Desenho de móveis para
espaços externos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir as formas de representação gráfica do mobiliário para espaços


externos.
 Aplicar os conhecimentos de representação gráfica em desenhos
perspectivados.
 Desenvolver desenhos para projetos de mobiliário para espaços
externos.

Introdução
Nas suas diferentes formas, a representação gráfica consiste no processo
de comunicação de uma ideia por intermédio de elementos gráficos para
as diferentes pessoas que integram o projeto. O seu intuito é que todos os
envolvidos tenham clareza da estética, da funcionalidade e da adequação
do mobiliário no espaço em que este será inserido. A representação do
mobiliário pode se dar de maneiras distintas, de acordo com a etapa e a
necessidade do projeto. Portanto, é imprescindível ao designer de interiores
conhecer algumas dessas técnicas, que vão auxiliá-lo na comunicação
das suas ideias no decorrer do projeto.
Neste capítulo, você vai verificar a necessidade do desenho como
forma de representação do mobiliário em um projeto para espaços exter-
nos, para fins de expressão do projeto, relações de trabalho e otimização
de recursos. Você vai estudar as formas de representação gráfica desse
mobiliário, em especial o desenho perspectivado, e vai verificar como
desenvolver esse tipo de representação.
2 Desenho de móveis para espaços externos

Três técnicas de representação gráfica


Traduzir um conceito ou uma ideia para que várias pessoas a compreendam
claramente nem sempre é uma tarefa simples, uma vez que o grau de compre-
ensão de cada indivíduo varia de acordo com as suas próprias experiências.
Quando se trata da representação de um projeto mobiliário para áreas externas,
então, a correta compreensão do projeto é ainda mais necessária, uma vez que
o cliente deve estar seguro de que o seu projeto atende às necessidades dele, e
a equipe de produção dos mobiliários (marceneiros, estofadores, montadores,
etc.) deve entender o projeto de forma técnica, para que não ocorram erros de
execução. Além disso, a equipe que desenvolve o projeto pode ser composta
por outros profissionais, como paisagistas, arquitetos, entre outros, que deverão
estar por dentro do projeto mobiliário para que o projeto do espaço como um
todo seja harmônico.
A primeira aparição de uma representação gráfica no projeto geralmente
se dá logo nas primeiras etapas, após o brainstorming, que é o levanta-
mento de informações e necessidades com o cliente, e o levantamento
métrico, que é a etapa em que você fará as medidas do espaço externo que
receberá os móveis. Após coletar essas informações, você já deverá saber
quais necessidades deverão ser supridas pelo mobiliário, qual é o estilo
que mais agrada ao seu cliente, qual cartela de cores comporá o ambiente,
etc. Portanto, você já terá condições de elaborar uma representação gráfica
para comunicar suas primeiras ideias de solução para o espaço. Isso poderá
ser feito de forma manual ou com o apoio de um computador e alguns
softwares específicos.

Desenho de expressão manual


O desenho de expressão manual também pode ser chamado de croqui, esboço
ou sketching. Esse tipo de representação consiste nos primeiros rabiscos
feitos à mão livre sobre papel, para expressar a ideia do projeto. Essa técnica
possibilita que o designer vá documentando as ideias por meio do desenho,
permitindo a análise e modificação da ideia até que ela se torne uma solução
mais adequada e criativa.
A técnica também permite a interação entre o designer e outros indiví-
duos, sendo o desenho uma maneira de comunicação clara e coesa. O nível
de acabamento do desenho manual dependerá da prática do designer e do
tempo disponível para o seu desenvolvimento. Veja na Figura 1 um desenho
Desenho de móveis para espaços externos 3

de expressão manual com pouco acabamento, apenas para expressar a ideia


do momento, e um desenho com maior nível de acabamento e detalhes.

Figura 1. Desenhos de expressão manual com diferentes acabamentos.


Fonte: (a) Alexey Kashin/Shutterstock.com; (b) Adaptada de Marina Onokhina/Shutterstock.com.

O desenvolvimento do sketching logo nas primeiras etapas do projeto de


mobiliários para espaços externos clarifica as ideias e percepções do projeto,
4 Desenho de móveis para espaços externos

promove o desenvolvimento do mesmo e apoia a tomada das primeiras decisões,


uma vez que traduz e transmite a ideia de forma objetiva, conforme lecionam
Craft e Cairns (2009).
Os materiais utilizados para o desenvolvimento do sketching são simples
e de fácil acesso — geralmente um caderno para desenho sem pauta, também
conhecido como sketchbook, ou um bloco de papel, além de lápis grafite ou
lapiseira e, para acabamentos, lápis de cor, canetas coloridas ou marcadores.
Alguns profissionais utilizam aquarela para colorir seus desenhos manuais.
Independentemente dos materiais utilizados nessa etapa, o essencial é con-
seguir transmitir a ideia, possibilitando distinguir-se, por meio do desenho,
os materiais e as formas dos mobiliários.
Atualmente também é possível utilizar tablets para o desenvolvimento de
desenhos manuais. Por meio de aplicativos específicos, a tela do dispositivo
faz as vezes de papel; utilizando um tipo de caneta próprio para esse fim, é
possível desenhar as ideias do projeto, contando ainda com recursos de cores,
elementos pré-prontos, entre outros.

Representação gráfica tridimensional: modelagem 3D


A modelagem 3D é uma técnica de representação gráfica feita por meio de
softwares de computador, pelos quais é possível visualizar o desenho feito
em três dimensões. É muito utilizada para apresentar soluções de móveis e
ambientes. Por meio desses programas de computador, é possível utilizar o
levantamento métrico para construir todo o espaço, desenhar o mobiliário e
inseri-lo no ambiente de forma virtual.
Esses softwares possuem uma série de recursos para deixar a mode-
lagem do ambiente o mais próximo possível da realidade, sendo possível
acrescentar cores, texturas e fontes de luz. Além disso, estão disponíveis
uma infinidade de recursos de desenho, pelos quais é possível conceber
os móveis com as medidas exatas para a necessidade do ambiente e com
riqueza de detalhes.
Esse recurso facilita a compreensão do projeto para o cliente, uma vez
que ele pode verificar todos os detalhes, ângulos e perspectivas do projeto a
partir da tela do computador, de uma forma muito fiel ao que será executado
(Figura 2). Além disso, apresentar o projeto feito em modelagem 3D tende a
encantar o cliente.
Desenho de móveis para espaços externos 5

Figura 2. Exemplos de modelagem 3D, também chamada de maquete virtual, de


ambientes com mobiliário inserido.
Fonte: (a) Adaptada de Jul_g/Shutterstock.com; (b) jafara/Shutterstock.com.
6 Desenho de móveis para espaços externos

Desenho técnico: analógico e auxiliado por computador


O desenho técnico é um tipo de linguagem específica em que o desenho é trans-
formado em linhas, pontos, cortes, vistas e medidas exatas. É mais utilizado
para a comunicação técnica entre o designer de interiores e os profissionais
que fazem parte do projeto, como marceneiros, montadores, estofadores,
eletricistas, entre outros, uma vez que essa técnica exige conhecimento técnico.
Ele pode ser elaborado de forma manual/analógica com o auxílio de réguas,
escalímetros, transferidores, compassos, entre outros, para que os detalhes
sejam precisos, e conta com o conhecimento de normas e técnicas como escalas,
cotas, linhas, vistas, cortes, entre outras. Essa técnica é realizada atualmente
também por meio de softwares especializados; a maioria dos programas que
realizam a modelagem 3D possui a capacidade de realizar o desenho técnico,
o que otimiza o desenvolvimento do projeto.
Geralmente usado nas etapas finais do projeto, nas quais as decisões sobre
as formas e acabamentos do mobiliário já foram tomadas, o desenho técnico
auxiliado por computador traz o detalhamento métrico e estrutural do mobi-
liário. Essas informações serão necessárias para que o executor da peça (um
marceneiro, por exemplo) saiba como construir o móvel sem que ocorram
erros e, portanto, sem que os custos e prazos do projeto estourem.
Na Figura 3, observe que todas as peças do mobiliário são transformadas
em linhas com medidas exatas em três vistas.

Figura 3. Mobiliário e o seu desenho técnico detalhado.


Fonte: Adaptada de rimira/Shutterstock.com.
Desenho de móveis para espaços externos 7

O desenho técnico auxiliado por computador transforma o projeto do móvel em


linhas e medidas precisas com todo o detalhamento necessário para a sua fabricação
e montagem. Essa linguagem não é comum para os clientes, mas muito necessária
para comunicar as ideias a outros profissionais.

Perspectiva do móvel
Conhecidas as três formas mais comuns de se comunicar as ideias de projeto
por meio do desenho — seja ele manual, em dimensões, com o apoio de
softwares, ou técnico, que também pode ter o auxílio do computador —,
você deve conhecer outros recursos do desenho que facilitam a comunicação
entre profissionais ligados ao projeto de mobiliário.
A perspectiva é uma técnica que, por meio de recursos de matemática,
viabiliza a representação de um espaço ou objeto tridimensional a partir de
uma superfície plana, conforme leciona Miguel (2003). Trata-se de um recurso
valioso para a representação gráfica do projeto mobiliário, pois proporciona
a visualização e a compreensão de um conjunto de objetos a partir de um
único desenho. O seu ângulo capta os principais itens da visão, conforme
aponta Bortolucci (2005):

 olho do observador — o centro da projeção da imagem;


 projetantes — as linhas visuais;
 projeção — a perspectiva do objeto visto.

Na Figura 4, você pode observar que a perspectiva ameniza as dificuldades


da visualização espacial; por meio dela, os elementos são representados de
forma mais clara e completa, ainda que bidimensionalmente.
8 Desenho de móveis para espaços externos

Figura 4. Cubos vistos em perspectiva com o apoio das projetantes,


a partir de dois pontos de fuga.
Fonte: kavalenkava/Shutterstock.com.

O desenho perspectivado manual é uma opção para situações onde não é


possível utilizar recursos de modelagem 3D para apresentar o projeto, uma vez
que o ângulo do desenho perspectivado revela um número maior de contornos
e detalhes do móvel, mesmo sendo um desenho bidimensional. Essa técnica
gera um tipo de sensação ótica pelo mesmo princípio usado pelos softwares
especializados; assim, o desenho é apresentado em três eixos: largura, altura e
profundidade. O desenho perspectivado pode conter uma variedade de pontos
de fuga e, de acordo com a necessidade de representação, outras técnicas de
perspectivas devem ser usadas.

A perspectiva possui variações que podem ser utilizadas de acordo com a necessidade
do projeto. Cada uma delas valoriza a representação sob angulações específicas; são
chamadas isométrica, cavaleira, militar e dimétrica.
Desenho de móveis para espaços externos 9

Do conhecimento à prática
Desenvolver o desenho de um móvel começa com os elementos básicos da
forma: linha, ponto e plano. A base teórica do desenvolvimento do desenho se
dá a partir dos mesmos conhecimentos, seja o desenho manual ou com auxílio
de computadores, uma vez que é o conhecimento e a prática que permitirão
o aperfeiçoamento do mesmo. Para desenvolver um desenho de mobiliário
perspectivado, é preciso saber onde posicionar cada um desses elementos no
plano, que pode ser papel ou tela de computador.
O ponto de fuga (PF) é um ponto, fixado no plano, do qual as linhas
fugitivas partem; é esse ponto que vai guiar a visão para o posicionamento
dos objetos, gerando a impressão de profundidade. O PF deverá ser fixado
na linha do horizonte (LH), que é o limite da visão do observador. Veja, na
Figura 5, o posicionamento do PF e da LH, de onde partem as linhas fugitivas
que amparam a posição do desenho.

Figura 5. PF posicionado na LH.


Fonte: Bis+Pontos+de+fuga+1 ([2018], documento on-line).
10 Desenho de móveis para espaços externos

Determinar a LH e o PF é o princípio para se criar um desenho perspec-


tivado; o desenho poderá contar com até quatro pontos de fuga, dependendo
de sua complexidade.
Utilize a angulação da perspectiva a favor do seu desenho — revele faces,
cortes, vistas e qualquer detalhe que for pertinente para o entendimento do
mesmo. Em uma perspectiva isométrica, geralmente o ângulo utilizado é
o de 30°. Na Figura 6, veja que, no desenho maior, não é possível notar com
clareza as curvaturas da estrutura e os cantos arredondados do assento; são
os demais desenhos que proporcionam esses detalhes.

Figura 6. Desenho de cadeira em perspectiva, para apresentar detalhes das vistas.


Fonte: Ganzaless/Shutterstock.com.

O desenho manual exige treino, tanto para melhorar a fluidez do traço


quanto para aperfeiçoar a visão espacial, que é a capacidade de perceber as
formas mentalmente. Trata-se de saber aplicar ao desenho bidimensional
técnicas que representem tridimensionalidade e possibilitem o entendimento
da perspectiva em suas relações técnicas de angulação.
Comece por desenhos simples. Chaises, cadeiras e bancos são mobiliários
externos muito utilizados. Na Figura 7, note a diferença entre as formas das
duas peças.
Desenho de móveis para espaços externos 11

Figura 7. Sketches de chaises long.


Fonte: Adaptada de ANRIR/Shutterstock.com.

Ao utilizar linhas simples, também será possível desenvolver mobiliários


como sofás e poltronas mais modernos e minimalistas para áreas externas como
varandas, jardins e terraços. Para contribuir com os traços e as proporções do
desenho, também é indicado utilizar o recurso do papel quadriculado, que
oferece o suporte das linhas como guias para o traçado.
Na Figura 8a, é possível observar um conjunto de sofás e poltronas desen-
volvido apenas com linhas retas e, na Figura 8b, observa-se o uso do papel
quadriculado para a obtenção de proporção no desenho.

Figura 8. (a) Conjunto de sofás e poltronas, a partir de linhas retas. (b) Desenho de cadeira
em papel quadriculado.
Fonte: (a) Adaptada de Slobodan Zivkovic/Shutterstock.com; (b) Adaptada de Julia Dolzhenko/Shut-
terstock.com.
12 Desenho de móveis para espaços externos

É indispensável estar atento para que os desenhos tenham sempre a capaci-


dade de expressar a ideia do móvel. Ainda que eles sejam feitos rapidamente,
enriqueça-os com detalhes de texturas e cores e use luz e sombras para aumentar
a sensação volumétrica.

Veja, no link a seguir, que, com traços rápidos e poucos materiais, o desenhista consegue
obter desenhos em três vistas, valorizando detalhes.

https://goo.gl/2vFCis

Ainda que a tecnologia de softwares especializados em representação


gráfica esteja avançando rapidamente, o desenho manual tem a capacidade de
superar o achatamento bidimensional e representar desenhos tridimensional-
mente, conforme leciona Ching (2011). Por isso a necessidade de capacitação
em desenho manual, que, por meio de seu conhecimento e prática, permite o
manuseio do software com mais facilidade. Os softwares possuem os mesmos
princípios dos desenhos manuais, mas com capacidade de processamento
rápido. Além da habilidade de desenhar, é fundamental desenvolver a compe-
tência de ler e interpretar os desenhos, uma vez que essa é uma das principais
linguagens do designer de interiores.
Uma das principais tecnologias utilizadas para o desenvolvimento do
projeto mobiliário é o CAD (Computer Aided Design), que, em tradução
livre, significa desenho assistido por computador. Os softwares de desenho
que possuem essa tecnologia possibilitam desenhar bidimensionalmente e
apresentar o modelo em três dimensões. A tecnologia trabalha com o uso de
elementos de linguagem visual, juntamente aos recursos matemáticos, para,
por meio dos comandos do usuário, construir o desenho desejado. O sistema
CAD permite que o mobiliário seja perspectivado e apresentado também
em três vistas (frontal, lateral e superior) de acordo com a necessidade de
apresentação, além de contar com recursos de exatidão métrica. Por isso, é
muito utilizado entre designers, arquitetos e engenheiros.
Desenho de móveis para espaços externos 13

O desenho técnico no Brasil é normatizado pela norma ABNT NBR 10067:1995, que
determina os princípios gerais da representação em desenho técnico. O seu intuito é
estabelecer um padrão de linguagem técnica no uso de linhas, cotas, escalas, escritas,
entre outros aspectos. É preciso ter conhecimento dessa norma para empregá-la em
desenhos técnicos manuais ou apoiados por software.

Existe uma ampla variação entre os softwares para o desenvolvimento


de desenhos técnicos e tridimensionais no mercado. Alguns deles são es-
pecializados em renderização, que é o método de acabamento por meio de
processamento de objetos, ambientes ou vídeos. Com esse recurso, é possível
obter acabamentos realísticos e muito detalhados, sendo inclusive exequível
gerar vídeos para apresentações, aberturas de portas e gavetas de móveis e
seus interiores, simulação do posicionamento do sol em relação ao ambiente,
entradas e saídas dos espaços, entre tantos outros recursos.
As Figuras 9 e 10 trazem duas apresentações de mobiliários que empregam
técnicas distintas de representação.

Figura 9. Desenho técnico de balcão desenvolvido em sistema CAD, com detalhamento.


Fonte: TRA%C3%87O_mobili%C3%A1rio ([2018], documento on-line).
14 Desenho de móveis para espaços externos

Figura 10. Projeto de área externa em vista superior com acabamento renderizado por
software.
Fonte: Adaptada de archideaphoto/Shutterstock.com.

Muitas são as técnicas de representação de mobiliário que podem ser apli-


cadas de acordo com a etapa e a necessidade do mesmo. Fazer o uso adequado
dessas técnicas otimizará os recursos do projeto, evitando erros de produção
e montagem e diminuindo os riscos de frustração do cliente.
Utilize sketches rápidos no início do projeto para documentar, discutir e
melhorar ideias de solução para o mobiliário; escolha técnicas de acabamento
que valorizem a comunicação do desenho, como lápis de cor, canetas coloridas,
aquarelas, marcadores entre outros.
Apresente os desenhos do projeto ao seu cliente com riqueza de detalhes.
Aplique perspectivas, mostre como os móveis serão capazes de suprir as
necessidades do espaço com requintes de conforto, durabilidade e resis-
tência. Utilize softwares que possam propiciar a valorização do projeto do
mobiliário, como os que possuem capacidade de renderização. Dessa forma,
o cliente terá condições de visualizar como o mobiliário será inserido em
sua área externa após a execução. E, se necessário, solicitará alterações para
melhor adequação.
Desenho de móveis para espaços externos 15

Tomadas todas as decisões sobre o mobiliário que deverá ser produzido, esse é o
momento de representar o mobiliário tecnicamente, de acordo com a padronização
das normas de desenho técnico, fazendo uso de escalas, cotas, cortes e vistas para
que toda a especificação necessária chegue à equipe de produção, e não haja dúvidas
sobre o projeto.

1. O desenho do mobiliário externo passa por diversas etapas. Qual é a


pode ser desenvolvido a partir do importância do desenho nas etapas
uso de várias técnicas de represen- iniciais do projeto?
tação. Qual é a técnica de represen- a) Documentar objetos, situar a
tação mais indicada para a comuni- equipe profissional e estabelecer
cação entre o designer de interiores regras.
e um marceneiro que executará o b) Estimular o briefing, comunicar
mobiliário? objetivos e definir materiais.
a) Projeção cônica. c) Comunicar as ideias, estimular
b) Desenho renderizado. a criatividade e documentar o
c) Sketching rápido. projeto.
d) Desenho técnico. d) Conceber medidas exatas para a
e) Esboço. execução do projeto de ilumi-
2. Qual é a função do PF no desenvolvi- nação.
mento de um desenho de mobiliário e) Comunicar as etapas avançadas
perspectivado? do projeto por meio do desenho.
a) Guiar a visão para o posiciona- 4. Otimizar recursos é essencial em
mento dos objetos. qualquer projeto. Como o uso da
b) Gerar o desalinhamento dos tecnologia em software de desenho
objetos no espaço planificado. contribui para a otimização dos
c) Posicionar a visão na linha de CAD. processos no projeto mobiliário de
d) Estabelecer a relação do lápis áreas externas?
com o mobiliário real. a) Verificando erros de perspectiva
e) Posicionar o ângulo de visão da e economizando materiais.
geometria descritiva. b) Facilitando as etapas de criação,
3. O processo de desenvolvimento do renderização e desenho técnico
projeto mobiliário de áreas externas com precisão.
16 Desenho de móveis para espaços externos

c) Atualizando as vistas frontais, a) Contribui para a performance


laterais e superiores do mobiliário da colorização do projeto
em tempo real. mobiliário.
d) Posicionando as estruturas do b) Contribui para melhorar o deta-
mobiliário no manual de mon- lhamento e ampliar os elementos
tagem preliminar. de profundidade.
e) Consultando automaticamente a c) Contribui para esclarecer o PF do
ABNT NBR 10067:1995. desenho em relação à LH.
5. Revelar o maior número de detalhes d) Contribui com elementos de
no desenho do mobiliário aumenta condicionamento estrutural do
as chances de os erros serem evitados desenho perpendicular.
e oferece mais segurança ao cliente e) Contribui com a visualização
em relação à execução. Como a visão das linhas fugitivas do desenho
espacial contribui para a melhora da mobiliário em vistas.
prática do desenho de mobiliário?

BIS+PONTOS+DE+FUGA+1. Blogspot, [2018]. Largura: 403 pixels. Altura: 413 pixels. For-
mato: JPG. Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_xmwQV3rl5Y4/TTayBA3RypI/
AAAAAAAABIA/rwVT5QikKuE/s1600/Bis+Pontos+de+fuga+1.jpg>. Acesso em: 31
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BORTOLUCCI, M. A. P. C. S. Desenho: teoria & prática. São Carlos: EESC/USP, 2005.
CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2011.
CRAFT, B.; CAIRNS, P. Sketching sketching: outlines of a collaborative design method.
In: British HCI Group Annual Conference on People and Computers, 23., 2009, Cam-
bridge. Anais… United Kingdom, 2009. Disponível em: <https://dl.acm.org/citation.
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MIGUEL, J. M. C. Brunelleschi: o caçador de tesouros. Vitruvius, ano 4, v. 40, nº. 2, set. 2003.
Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.040/651>.
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TRA%C3%87O_MOBILI%C3%A1RIO. Blogspot, [2018]. Largura: 403 pixels. Altura: 333
pixels. Formato: JPG. Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-1CIvcZAq-RE/T8Pu8T-
MEEZI/AAAAAAAAAqc/i_eVbfjZrhc/s1600/TRA%C3%87O_mobili%C3%A1rio.jpg>.
Acesso em: 31 out. 2018.
Conteúdo:
DESIGN DO
MOBILIÁRIO

Laila Janna Canto


Tavares
Mobiliário para
espaços internos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir os tipos de mobiliário para espaços internos.


 Identificar os materiais mais adequados para mobiliários de espaços
internos.
 Aplicar adequadamente o mobiliário em projetos de interiores.

Introdução
Móveis são importantes peças que compõem um ambiente. A sua função?
Atender a diversas necessidades, como guardar objetos, trabalhar, comer,
sentar, deitar, dormir e relaxar, podendo ser usados de forma individual ou
agrupada, conforme aponta Smardzewski (2015). Quando combinados,
criam ambientes e direcionam o vazio por meio de volumes e circulações.
Neste capítulo, você vai estudar os diferentes tipos de mobiliário para
espaços internos e os materiais mais adequados para a sua construção. Por
fim, você vai verificar a aplicação do mobiliário em projetos de interiores.

Tipos de mobiliário para espaços internos


Segundo Smardzewski (2015), a classificação do mobiliário se dá com base
no tipo de material utilizado, nos locais de uso, nas atividades desenvolvidas,
no período histórico, etc. As combinações de móveis criam ambientes dife-
renciados. Por exemplo, uma cozinha deve possuir um conjunto de armários
de armazenagem altos e baixos ou embutidos, podendo ser complementada
com uma mesa, cadeiras, um buffet ou um bar. Tudo depende da intenção
projetual, das atividades a serem desenvolvidas no espaço e do público ao
qual esse espaço é destinado.
2 Mobiliário para espaços internos

Esses mobiliários podem ter diferentes propósitos, formas estéticas


e tecnologias estruturais, e a sua classificação pode se dar pelas suas
características tecnológicas, funcionais, operacionais e estéticas. Essa
classificação reúne classes, tipologias, formas e características gerais dos
mobiliários com base:

 na sua finalidade — de acordo com o seu uso e local;


 na sua funcionalidade — de acordo com a natureza da atividade humana
associada;
 na sua tecnologia — de acordo com o tipo de material usado, seu tipo
de tratamento, o método de fabricação do produto e os métodos de
acabamento de suas superfícies;
 na sua qualidade — de acordo com as características e os requisitos
dos processos de design, construção e fabricação.

A partir da sua finalidade, condição e natureza de uso, os móveis podem


ser subdivididos em três grupos distintos:

 Escritórios e edificações de uso público — mobiliário de escritório,


escolar, de dormitório, de hotelaria, de cinema, hospitalar, de cozinha,
de sala comum, etc.
 Espaços residenciais em condomínios ou individuais — mobiliário de
cozinha, de banho, de jardim, etc.
 Transporte — mobiliário de navios, de trens, de aeronaves, etc.

Os móveis para escritórios e edificações de uso público ainda podem ser classificados
em subgrupos, relacionados às atividades humanas às quais são destinados:
 móveis para administração;
 móveis para escritórios e estudos;
 móveis para trabalhadores.
Mobiliário para espaços internos 3

Segundo Smardzewski (2015), esses mobiliários devem ser adaptados a


parâmetros antropométricos e devem acomodar todas as necessidades e
serviços relacionados ao relaxamento, ao descanso, ao sono, ao trabalho, à
aprendizagem, ao preparo de refeições, à higiene pessoal e às vendas, quando
necessários. Daí a importância da ergonomia, que orienta as necessidades do
usuário com formas e acabamentos que possibilitam a realização das atividades
com garantia de conforto e funcionalidade.
É importante ressaltar, assim, que, para cada ambiente e cada atividade,
é necessária uma tipologia de mobiliário adequada, e as características desse
mobiliário devem atender simultaneamente ao usuário em questão. Tomare-
mos como exemplo uma edificação residencial, cuja planta é exemplificada
na Figura 1, e, com base nas especificações desse espaço, listaremos a seguir
os tipos de mobiliários mais comuns por ambiente (Quadro 1).

Figura 1. Exemplo de planta residencial.


Fonte: Adaptada de Jafara/Shutterstock.com.
4 Mobiliário para espaços internos

Quadro 1. Tipos de mobiliário mais comuns por ambiente (residencial)

Ambiente Mobiliários comuns

 Mesa de jantar
 Cadeira
Sala de jantar  Console
 Balcão de apoio
 Sofá
 Mesa de apoio lateral
 Mesa de centro
 Painel de TV
Sala de estar
 Prateleira e nichos
 Poltrona
 Armário
 Prateleira
 Cristaleira
Cozinha  Balcão de preparo
 Mesa
 Cadeira
 Buffet

 Armário
Lavanderia  Prateleira
 Balcão de serviço

 Armário
 Prateleira
 Balcão de preparo e serviço
 Bar
Varanda gourmet  Mesa
 Cadeira
 Poltrona
 Mesa de centro
 Mesa de apoio

 Armário
Banheiro social
 Prateleira

(Continua)
Mobiliário para espaços internos 5

(Continuação)

Quadro 1. Tipos de mobiliário mais comuns por ambiente (residencial)

Ambiente Mobiliários comuns

 Berço
 Trocador
 Cômoda
 Armário
 Roupeiro
Quarto do bebê
 Cama
 Poltrona
 Cadeira
 Prateleira
 Escrivaninha

 Cama
 Beliche
 Armário
 Roupeiro
 Cômoda
Quarto jovem
 Poltrona
 Cadeira
 Prateleira
 Escrivaninha
 Painel de TV

 Cama
 Armário
 Roupeiro
 Cômoda
 Poltrona
Suíte do casal
 Cadeira
 Prateleira
 Escrivaninha
 Penteadeira
 Painel de TV

Banheiro da suíte  Armário


 Prateleira
6 Mobiliário para espaços internos

Observe que, futuramente, o quarto destinado ao bebê poderá ser substituído


por mobiliários do quarto denominado jovem, assim como um cômodo de
tamanho diferenciado (quartos com dimensão menor do que os demais quar-
tos), comum em apartamentos, pode ser transformado em closet — ambiente
destinado ao armazenamento de roupas, acessórios, sapatos e bolsas, contendo
armário, prateleira e roupeiro — ou escritório — ambiente destinado à prática
de atividades e serviços, contendo mesa, cadeira, armário, prateleira, balcão
de apoio, mesa de apoio e poltrona. Todas essas mudanças ocorrem quando
o usuário muda a sua necessidade, e o ambiente passa a conduzir outro uso.
Tomaremos agora como exemplo uma loja de roupas e calçados, exempli-
ficada na Figura 2, e, com base nas suas especificações, listaremos a seguir
os tipos de mobiliários mais comuns por ambiente (Quadro 2).

Figura 2. Exemplo de planta comercial.


Fonte: Adaptada de Tele52/Shutterstock.com.
Mobiliário para espaços internos 7

Quadro 2. Tipos de mobiliário mais comuns por ambiente (comercial)

Ambiente Mobiliários comuns

 Armário
 Prateleira
 Balcão de apoio
 Nicho
Salão principal
 Cadeira
 Poltrona
 Mesa de apoio
 Mesa de centro

 Armário
Depósito
 Prateleira

 Mesa
 Cadeira
Sala administrativa  Armário
 Poltrona
 Prateleira

 Armário
Banheiro
 Prateleira

 Armário
 Prateleira
Copa  Balcão de apoio
 Mesa
 Cadeira

 Armário
Depósito de material de limpeza  Prateleira
 Balcão de apoio

Chamamos de programa de necessidades a ação de listar as necessidades


básicas dos seus usuários e organizar, assim, a composição dos seus ambientes
e mobiliários. Esse estudo busca avaliar a potencialidade de cada ambiente
para o seu melhor aproveitamento funcional e a sua melhor apreensão estética.
8 Mobiliário para espaços internos

Materiais mais adequados para mobiliários


de espaço interno
Cada material ou design aplicado ao mobiliário corresponderá a uma neces-
sidade. Ching e Binggeli (2013) mostram alguns exemplos de mobiliários
por ambiente e a sua utilização. A partir disso, podemos relacionar o melhor
material para cada tipo de mobiliário.
Ao se especificar materiais de acabamento, há alguns fatores a serem
considerados:

 Critério funcional — segurança, saúde e conforto; durabilidade no pe-


ríodo de uso previsto; facilidade de limpeza, manutenção e reparo; grau
de necessário de resistência ao fogo; propriedades acústicas adequadas.
Por exemplo: materiais metálicos podem ser utilizados na confecção
de móveis, mas a sua utilização é mais comum em estruturas e aces-
sórios, visto que um móvel metálico remete esteticamente a ambientes
empresariais e hospitalares.
 Critério estético — cor, seja natural ou aplicada; textura; padrão. Por
exemplo: o MDF ou MDP podem ser utilizados devido ao seu baixo
custo quando revestidos, garantindo maior durabilidade e menor custo,
podendo, inclusive, ser utilizados em áreas úmidas.
 Critério econômico — custo inicial de aquisição e instalação; avaliação do
ciclo de vida (ACV) dos materiais e produtos, incluindo desde os impactos
das matérias-primas até a reciclagem ao fim da vida útil. Por exemplo:
quando não utilizada de forma maciça, a madeira pode ser em finas lâminas,
que, apesar da menor resistência quando comparada com a peça maciça,
garante uma solução visual e estética interessante com um custo menor.
 Critério de projeto sustentável — minimização do uso de materiais
novos e maximização do reúso de materiais existentes; uso de mate-
riais com conteúdo reciclado; uso de materiais de fontes sustentáveis
ou locais rapidamente renováveis e certificados; uso de produtos de
fabricantes que empregam processos sustentáveis; minimização de lixo
na construção, instalação e embalagem; durabilidade e flexibilidade
de uso; redução da energia incorporada na fabricação e no transporte.
Mobiliário para espaços internos 9

Por exemplo: Madeira tem maior resistência, mas contribui para o


desmatamento de grandes áreas.

Cadeiras, bancos e banquetas


 Materiais predominantes:
■ estrutura em madeira, plástico, alumínio ou acetato;
■ alumínio, madeira ou plástico na sua base (giratória ou não), rodízios
e braços;
■ tecidos para estofamento, conforme necessidade.
 Cadeiras escrivaninha: projetadas para serem flexíveis e móveis;
mecanismos giratórios com rodízios; com apoio de braços.
 Cadeiras executivo: frequentemente projetadas como símbolos de
status; permitem ao usuário se reclinar para trás; giratórias; não são
adequadas para longo uso ao computador (Figura 3).
 Cadeiras de empilhar e de dobrar: utilizadas para grandes agrupa-
mentos de pessoas ou como assentos auxiliares; são leves e moduladas;
frequentemente fabricadas em aço, alumínio ou plástico; algumas estão
disponíveis com apoios para braços e têm assento e espaldar forrados;
algumas têm mecanismos de conexão para serem utilizadas em fileiras.
 Cadeiras de restaurante: devem ser resistentes; o nível de conforto
costuma ser escolhido conforme o tipo de serviço; as cadeiras com
braços devem ser coordenadas com a altura dos tampos de mesa; o
tamanho da cadeira afeta os padrões de assento (Figura 3).
 Cadeiras de aproximação: geralmente mais leves e menores do que as
poltronas; espaldares verticais para estudar e fazer refeições.
 Cadeiras sem suporte de braços: para relaxar em uma posição parcial-
mente inclinada; muitas vezes são reguláveis; devem ser fáceis de sentar
e levantar, nem muito baixas e nem muito macias; devem dar suporte
adequado às costas; destinam-se também a visitantes ao escritório ou
para uso rápido; geralmente têm tamanho pequeno.
 Bancos: devem ser selecionados de acordo com sua estabilidade e
facilidade de movimento, bem como sua aparência (Figura 3).
 Banquetas: assentos longos e geralmente estofados voltados para mesas
múltiplas; permitem que sejam deslocados ao longo da mesa e reunidos
para acomodar tamanhos variáveis de grupos.
10 Mobiliário para espaços internos

Figura 3. Cadeiras e banquetas.


Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 328).

Estofados e poltronas
 Materiais predominantes:
■ estrutura interna em madeira;
■ estofamento em couro ou tecido, podendo ou não conter aplicações
em plástico;
■ plástico, madeira ou alumínio em sua base;
■ braços ou estruturas externas aparentes em alumínio ou madeira.
 Assentos para auditórios: fornecem absorção acústica além da função
de sentar; há exigências para prevenção de incêndio quanto aos materiais
e à disposição dos assentos.
 Poltronas: servem para descansar, conversar ou ler; são completamente
estofadas; fabricadas em madeira, plástico, aço ou uma combinação
de materiais (Figura 4).
 Sofás: projetados para acomodar duas ou mais pessoas; geralmente são
estofados; curvos, retos ou angulares; com ou sem braços.
 Conjunto de sofá: sofá dividido em partes que pode ser montado de
diferentes maneiras.
 Namoradeiras: pequeno sofá com apenas dois lugares.
Mobiliário para espaços internos 11

Figura 4. Poltrona.
Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 326).

Mesas
 Materiais predominantes:
■ estrutura em madeira, alumínio, MDF ou MDP revestidos com la-
minado ou laca;
■ tampo de vidro, madeira, alumínio, plástico, MDF ou MDP revestidos
com laminado ou laca.
 Mesas: as mesas são superfícies planas e horizontais sustentadas pelos pisos
(Figura 5) e devem seguir os atributos de força e estabilidade, tamanho,
formato e altura; fabricação em materiais duradouros; seus tampos podem
ser de madeira, vidro, plástico, pedra, metal, azulejo ou concreto; o acaba-
mento da superfície deve ser duradouro e ter boa resistência ao desgaste; a
cor e a textura da superfície devem ter refletância de luz adequada à tarefa
visual. Seus tampos podem ser sustentados por pernas, cavaletes, bases
sólidas ou gaveteiros, podendo estar embutidos e ser baixados de estantes
de parede e se apoiar em pernas ou suportes retráteis.
12 Mobiliário para espaços internos

Figura 5. Mesas.
Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 332).

Camas
 Materiais predominantes em seu uso:
■ estrutura interna em madeira ou metais como ferro;
■ estofamento em tecido forrado e acolchoado, podendo ou não conter
aplicações em plástico;
■ plástico, madeira ou alumínio em sua base.
 Camas: as camas consistem em dois componentes: colchão e base ou
estrutura de apoio (box), também podendo conter cabeceiras (Figura 6).
 Sofá-cama: sofá projetado para ser transformado em cama.
Mobiliário para espaços internos 13

Figura 6. Cama.
Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 336).

Roupeiros e armários
 Materiais predominantes:
■ estrutura em madeira, MDF ou MDP revestidos com laminado ou
laca, metais como ferro ou alumínio;
■ portas de madeira, MDF ou MDP revestidos com laminado ou laca,
metais como ferro ou alumínio, vidro comum ou espelhado e acetato.
 Roupeiros: móveis embutidos podem ajudar a manter as linhas de um
dormitório limpas e evitar que o ambiente fique atravancado.
 Armários: móveis com portas frontais e frequentemente gavetas na
base (Figura 7).
 Secretárias ou escrivaninhas e cômodas altas com pernas: têm
frentes que se abrem para baixo para criar uma superfície com gavetas
na parte inferior (Figura 7).
 Armazenagem: são prateleiras, gavetas e armários fechados; suspensos
no teto, instalados na parede ou sobre o piso, como móveis indepen-
dentes; as unidades podem ter frentes abertas ou portas com ou sem
vidraças, ou mesmo persianas (Figura 7).
14 Mobiliário para espaços internos

Figura 7. Armários.
Fonte: Ching e Binggeli (2013, p. 338-339).

Aplicação do mobiliário ao projeto de interiores


Para a composição de um ambiente interno, é preciso, antes de mais nada,
atender a questões estéticas, funcionais e simbólicas do ambiente, conferindo
harmonia entre os seus elementos. Ching e Binggeli (2013) correlaciona os
conceitos de forma, dimensão, cor, textura, luz, proporção, escala, equilí-
brio, harmonia, homogeneidade, variedade, ritmo e ênfase à composição
dos ambientes.
Essa composição do ambiente diz respeito à relação entre a forma humana
e as dimensões do espaço, ao tamanho e à disposição dos objetos de mobiliário,
aos acessórios e às atividades desenvolvidas no ambiente. Ching e Binggeli
(2013) não incluem as dimensões humanas, mas abordam a relação humana
com os espaços, os objetos e as atividades nos seus estudos sobre a composição
de ambientes. O Quadro 3 nos mostra os princípios do design de interiores
apontados por diferentes autores.
Mobiliário para espaços internos 15

Quadro 3. Princípios do design de interiores

Princípios de projeto

Ching e Binggeli Gurgel Gibbs

Proporção Equilíbrio Dimensões humanas

Escala Harmonia Escala e proporção

Equilíbrio Unidade e variedade Linha, plano, volume (datum)

Harmonia Ritmo Simetria e assimetria

Unidade e variedade Escala e proporção Equilíbrio e contraste

Ritmo Constraste Ritmo e repetição

Ênfase Ênfase e centro Centro de interesse (focal


de interesse point)

Fonte: Adaptado de Gubert (2011).

Para Ching e Binggeli (2013), a proporção se refere à relação entre partes da


composição, seja de uma parte com outra, com o todo, ou entre um objeto e outro
(Figura 8). Para esses autores, a proporção é um fundamento lógico estético usado
para garantir as relações dimensionais entre as partes de uma construção visual.

Figura 8. Proporção.
Fonte: Adaptada de Breadmaker/Shutterstock.com.
16 Mobiliário para espaços internos

O princípio de projeto denominado escala se refere ao tamanho de algo


relacionado a um padrão conhecido ou a uma constante conhecida (Figura 9).
Para Gubert (2011), a escala humana utiliza a ergonomia para determinar alturas,
distâncias e outras dimensões do objeto.

Figura 9. Escala.
Fonte: Adaptada de Photographee.eu/Shutterstock.com.

O equilíbrio está associado à maneira como os elementos estão dispostos


no ambiente (Figura 10), identificados como uma unidade, considerando área
de circulação, atividades realizadas e iluminação.

Figura 10. Equilíbrio.


Fonte: Adaptada de Beyond Time/Shutterstock.com.
Mobiliário para espaços internos 17

Já a harmonia é relativa à composição como um todo e está relacionada


com a consonância por meio da combinação das peculiaridades comuns dos
elementos — como tamanho, cores, valores, formas, texturas, materiais, ilu-
minação, entre outros — com a maneira como estão organizados (Figura 11).

Figura 11. Harmonia.


Fonte: Adaptada de Enginakyurt/Shutterstock.com.

O ritmo pode ser facilmente identificado pela repetição de um elemento ou


forma (Figura 12), podendo incluir um intervalo regular, objetos ou formas idênticas
em uma trajetória retilínea ou uma série de elementos arquitetônicos repetidos.

Figura 12. Ritmo.


Fonte: Adaptada de Macrovector/Shutterstock.com.
18 Mobiliário para espaços internos

O contraste é observado quando um elemento se sobressai quando disposto


próximo a outro, podendo haver contraste de cor, luz, texturas, tamanhos,
formas (Figura 13) e posicionamento.

Figura 13. Contraste.


Fonte: Adaptada de Pataporn Kuanui/Shutterstock.com.

É um instinto natural do ser humano se sentir atraído por um ponto fixo


dentro do espaço que naturalmente busca um foco, conforme leciona Gubert
(2011). Os centros de interesse podem ser destaques centrais ou não de uma
peça ou elemento arquitetônico específico (Figura 14), bem como uma paisagem
em destaque em um espaço em que todo o posicionamento do design segue
uma lógica própria, ainda conforme Gubert (2011).

Figura 14. Centro de interesse.


Fonte: Adaptada de Urfin/Shutterstock.com.
Mobiliário para espaços internos 19

Um ponto interessante sobre a aplicação de mobiliários em projetos de


interiores, trazido por Gubert (2011), diz respeito ao emprego de padronagens,
texturas e estampas com base nos princípios de projeto, como unidade, varie-
dade, ênfase e contraste. A padronagem é uma composição visual que se dá
pela repetição de formas e demais elementos gráficos, para aplicação sobre a
superfície de produtos e revestimentos. Pode ser aplicada nos seguintes materiais:

 Têxteis — móveis estofados.


 Materiais naturais — madeira; alumínio; ferro.
 Materiais sintéticos — madeira plástica; polímeros gerais; acetato.

CHING, F. D. K.; BINGGELI, C. Arquitetura de interiores Ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Book-
man, 2013.
GUBERT, M. L. Design de interiores: a padronagem como elemento compositivo no
ambiente contemporâneo. 2011. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de Arquitetura,
Programa de Pós-graduação em Design, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2011. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/36398>.
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SMARDZEWSKI, J. Furniture design. Viena: Springer, 2015. Disponível em: <http://1.dro-
ppdf.com/files/EgYn2/furniture-design-2015-.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2018.

Leituras recomendadas
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de Mato Grosso, Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Departamento de Física, Cuiabá,
2003. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000223.
pdf>. Acesso em: 30 nov. 2018.
BRONDANI, S. A. et al. Uso de papelão como possível material no design de interio-
res. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 24., 2009, Salvador. Anais...
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CABRAL, S. C. et al. Características comparativas da madeira plástica com a madeira
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<http://site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2016/09/Stenio22.pdf>. Acesso
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20 Mobiliário para espaços internos

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EDWARD, C. Aluminium furniture, 1886-1986: the changing applications and reception of
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TEIXEIRA, J. A. A utilização dos materiais no design e a competitividade da indústria moveleira
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Conteúdo:
DESIGN DO
MOBILIÁRIO

Camila de Cássia das


Dores Ogava
Mobiliário para
espaços externos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir os tipos de mobiliário para espaços externos.


 Identificar os materiais mais adequados para mobiliários de espaços
externos.
 Aplicar adequadamente o mobiliário em projetos de espaços externos.

Introdução
Neste capítulo, você vai aprender a promover bem-estar, conforto e
adequação em espaços externos por meio do planejamento do mobiliário
utilizado. Apesar de se tratar de áreas externas, esses espaços também
fazem parte da responsabilidade do designer de interiores, uma vez que a
área externa faz parte do interior de uma construção, conforme lecionam
Brooker e Stone (2014). Além disso, é nas áreas externas que se concentram
a maior parte das atividades de lazer e relaxamento de uma residência,
o que faz dessa área um lugar determinante para o bem-estar dos seus
moradores.

Passo a passo
A escolha do mobiliário para áreas externas deve ter como base as necessidades
daqueles que utilizarão o espaço. Para conhecer essas necessidades, deve-se partir
de um processo que envolve a busca por informações, a priorização de necessi-
dades e a tomada de decisões, etc. Para que esse processo ocorra de forma eficaz,
o designer de interiores pode fazer uso de etapas metodológicas de projeto.
2 Mobiliário para espaços externos

Há uma variedade de metodologias de projeto de design, que contam com


uma diversidade de passos que podem ser adaptados de acordo com o projeto
e a experiência do profissional. Os passos apresentados a seguir consistem em
uma adaptação das etapas da metodologia de projeto de design de produtos
para o design de interiores, de forma simplificada.

Passo 1 — Recolhimento de dados. Utilize ferramentas como reuniões, entre-


vistas, etc., para descobrir exatamente o que o seu cliente espera do ambiente;
ou seja, faça um briefing, que nada mais é do que levantar as informações
para o seu projeto. Descubra como o seu cliente pretende usar a área de lazer:
se pretende receber convidados com frequência, se deseja uma área externa
preparada para o relaxamento, se haverá piscina, etc. — ter conhecimento
dessas informações é imprescindível para nortear o seu projeto. Para fazer
o briefing, tenha em mãos algo em que você possa anotar as informações —
pode ser um caderninho, celular ou computador. Busque obter o máximo de
informações e anote todos os detalhes que achar relevantes.

Passo 2 — Levantamento métrico. Depois de compreender as necessidades


do seu cliente, é preciso conhecer o espaço externo que receberá o projeto,
que pode ser um quintal, uma piscina, uma varanda ou, ainda, uma sacada
de apartamento. O tamanho do espaço, em metros quadrados, é determinante
para a escolha dos mobiliários; assim, é necessário fazer um levantamento
de medidas, ou levantamento métrico. Para realizar esse levantamento, você
deve ter em mãos uma trena, que pode ser manual ou digital, e um caderno
de esboços ou prancheta, para que você possa rascunhar rapidamente a planta
do espaço e as primeiras ideias de onde ficarão os móveis. Tire todas as me-
didas necessárias e fotografe o espaço, se possível, para que tenha certeza da
configuração espacial quando estiver desenvolvendo o projeto.
Outro fator que deve ser levado em consideração nessa etapa é se o espaço
é coberto, parcialmente coberto ou totalmente descoberto. No caso de ser
parcialmente coberto, verifique as medidas das áreas cobertas e descobertas,
já que essa característica também influenciará a escolha dos mobiliários
utilizados para compor o ambiente. Espaços parcialmente cobertos devem
receber o mesmo tratamento de espaços totalmente descobertos, uma vez que
também estão sujeitos às variações de clima.
Veja na Figura 1 exemplos de áreas externas cobertas, descobertas e par-
cialmente cobertas.
Mobiliário para espaços externos 3

Figura 1. Áreas externas: (a) parcialmente coberta, (b) totalmente coberta e (c)
totalmente descoberta.
Fonte: (a) Pergolado... (2018, documento on-line); (b) Coberturas... ([2018], documento on-
-line); (c) Agora... ([2018], documento on-line).
4 Mobiliário para espaços externos

Passo 3 — Geração de alternativas. A partir das informações e medidas


coletadas nos passos anteriores, deve-se realizar os primeiros esboços do
projeto. Eles podem ser executados manualmente ou por meio de progra-
mas de computador especializados; assim você conseguirá visualizar melhor
onde ficarão os móveis e equipamentos (Figura 2). Esse esboço também será
imprescindível para apresentar ao seu cliente suas propostas, para que vocês
possam, em conjunto, discutir ajustes e melhorias.

Figura 2. Esboço do projeto — determinação visual de onde estarão os móveis.


Fonte: Toa55/Shutterstock.com.

A área externa é geralmente utilizada como área de lazer; assim, ela deve ser funcional
e confortável. Faça o projeto de modo que não sejam empregados móveis e equipa-
mentos desnecessários. É importante também planejar corredores de circulação entre
os mobiliários — o espaço mínimo para circulação é entre 60 e 70 cm, enquanto um
espaço ótimo mede 80 cm.
Mobiliário para espaços externos 5

Passo 4 — Moodboard: um projeto de interiores deve contar com o auxílio


de um painel de inspiração, que pode ser chamado de moodboard. Esse painel
permite que o designer busque referências em projetos de áreas semelhantes
e se inspire no estilo de vida que os usuários daquele ambiente possuem;
tudo isso servirá de apoio para a construção do projeto, especialmente para
definir o estilo que o espaço terá. Trata-se de uma ferramenta muito utilizada
na área do design.
O moodboard também vai ajudar a construir a cartela de cores que será
utilizada no ambiente, visando a garantir a satisfação estética do ambiente.
O designer poderá orientar o cliente a respeito da harmonização de cores
e estilos; no entanto, deve-se levar em consideração os gostos pessoais do
cliente, afinal, é ele quem desfrutará cotidianamente desse espaço. As cores
complementam o projeto, e cada projeto deve ter uma estética apropriada ao
objetivo do espaço, conforme leciona Baxter (2001).

Segundo Heller (2013), as cores possuem relações diretas com o emocional humano;
combinações harmoniosas podem potencializar o bem-estar e o relaxamento, além
de trazerem mais energia e vibração.

Escolha cores que sejam harmoniosas na composição e que favoreçam o


ambiente. As dimensões do espaço também poderão ser privilegiadas com o
bom uso da cartela de cores: tons mais claros dão a impressão de ampliação
do espaço, enquanto tons mais escuros propiciam o efeito oposto.
Na Figura 3, pode-se verificar o exemplo de um moodboard, no qual é
definida a cartela de cores e são apresentadas imagens de referências.
6 Mobiliário para espaços externos

Figura 3. Exemplo de moodboard.


Fonte: 9bef837c612f57b0019290b1c361c711.jpg ([2018], documento on-line).

Esses primeiros passos metodológicos vão auxiliar no projeto, fazendo com


que seu desenvolvimento ocorra de forma mais assertiva, coerente e célere.

O uso de técnicas metodológicas já no início do projeto tende a otimizar o tempo de


planejamento e conduzir o projeto de maneira assertiva desde as primeiras conversas
com os clientes até a etapa de escolha do mobiliário. A escolha do mobiliário deve
sempre estar baseada nas necessidades de usabilidade do ambiente, no bem-estar dos
usuários, no equilíbrio orçamentário, na resistência dos materiais, na fácil manutenção e
na harmonização estética. O mobiliário visa atender necessidades e valorizar o ambiente.
Deve-se sempre verificar os materiais mais apropriados para as áreas externas, já que,
por estarem geralmente ao ar livre, o mobiliário e a decoração deverão ser resistentes
à exposição total ou parcial ao sol, à chuva e à poeira, além de ser de fácil manutenção.
Mobiliário para espaços externos 7

Materiais mais adequados


Você já sabe que o mobiliário externo tende a ficar exposto ao clima, salvo os
casos em que a área externa é totalmente fechada, sem risco de contato com
a chuva e o sol, por exemplo. Os principais itens a serem observados nesse
tipo de mobiliário são: conforto, durabilidade e resistência. Vejamos a seguir
alguns materiais que podem ser empregados nesses elementos.

Polímeros, metais, tecidos e madeira


O conforto está diretamente ligado ao bem-estar e à comodidade dos usuá-
rios dos espaços externos; portanto, opte por materiais agradáveis ao toque,
esteticamente condizentes e de fácil manutenção. Parte do conforto desses
ambientes pode ser proporcionado por estofados em cadeiras, poltronas, sofás,
almofadas e espreguiçadeiras.
Use a tecnologia a favor do seu projeto. Atualmente a indústria têxtil
tem produzido uma diversidade de materiais impermeáveis, capazes de
oferecer opções confortáveis, macias, em uma infinidade de cores, estampas
e texturas e de fácil limpeza — estes são ideais para compor o mobiliário
da área externa.

Um dos tecidos impermeáveis mais utilizados no estofamento de mobiliários externos


é conhecido como acquablock, que pode ser composto de fibras de algodão ou sinté-
ticas. Esse tecido é revestido por um tipo de resina que o impermeabiliza, tornando-o
resistente à infiltração de líquidos e poeira. A resina não tira do tecido a maciez do
toque e ainda permite uma grande variedade de cores e estampas.

Na Figura 4 são mostrados exemplos de móveis compostos por alguns


materiais que veremos a seguir.
8 Mobiliário para espaços externos

Figura 4. Exemplos de mobiliários externos que reúnem estilo e conforto.


Fonte: (a) Móveis... ([2018], documento on-line); (b) Tshooter/Shutterstock.com; (c) AnnaTamila/
Shutterstock.com; (d) VDB Photos/Shutterstock.com.

Tratando-se de mobiliários de área externa, é importante que materiais de


boa durabilidade e resistência sejam priorizados. Deve-se levar em conside-
Mobiliário para espaços externos 9

ração sua exposição ao sol, à chuva, a elementos químicos como cloro — no


caso de o espaço conter piscina — e maresia — no caso de áreas próximas
ao mar. Opte por materiais que tenham características de resistência a esses
fatores ou que possuam tratamentos específicos para aumentarem sua vida útil.

Madeira. Um material bastante resistente é a madeira, que pode ser usada em


ambientes externos. Mas, para isso, a maioria das madeiras naturais precisam passar
por um tratamento químico — essa prática é comum em casas especializadas.
Em casos onde não se possa encontrar a peça desejada em madeira já tratada,
será possível usar recursos como aplicação de vernizes específicos para fins de
exposição. Esses vernizes aumentarão a resistência da madeira às variações de
temperatura e ao mofo — o stain costuma ser o verniz mais usado para esse fim.
Alguns tipos de madeira não costumam sofrer com a infestação de cupins,
mas a maioria das madeiras pode ter esse problema. Assim, sempre verifique
a possibilidade de haver infestação de cupins no local; em caso positivo, uma
descupinização especializada deverá ser realizada para garantir uma vida útil
maior às peças de madeira. Materiais como MDF (medium density fiberboard)
e MDP (medium density pannel), que são madeiras reconstituídas, não podem
ficar expostos à água, visto que a resina de sua composição é à base de água.
No entanto, o chamado MDF náutico ou naval possui melhor resistência,
podendo ser utilizado na marcenaria de ambientes que recebam pouca água.
Na Figura 5, observe que a mesa e as cadeiras são feitas de madeira e possuem
acabamento em verniz.

Figura 5. Mesa e cadeiras de madeira envernizada.


Fonte: OlegD/Shutterstock.com.
10 Mobiliário para espaços externos

Polímeros. Um material muito utilizado em áreas externas pela praticidade


e pelo custo acessível é o plástico. Mesas, cadeiras e espreguiçadeiras desse
material são facilmente encontradas, inclusive com estéticas mais atuais. O
material é impermeável, o que facilita sua limpeza; além disso, apresenta
poucos problemas com produtos químicos, como o cloro, e é resistente
à maresia. Porém, a exposição por longos períodos ao sol pode causar o
ressecamento do plástico; por consequência, o material tende a apresentar
rachaduras e quebras. Na Figura 6, observa-se um modelo de cadeira de
praia tradicionalmente produzido em madeira, nesse caso produzido em
plástico colorido.

Figura 6. Cadeiras de plástico em modelo tradicional-


mente feito de madeira.
Fonte: V J Matthew/Shutterstock.com.

Outro polímero com ótima aceitação para áreas externas é a fibra sinté-
tica, fabricada a partir de polímeros de alta resistência. Está muito presente
em projetos de interiores para espaços externos, devido à sua resistência,
durabilidade e fácil manutenção. O oposto ocorre com as fibras naturais que,
embora de grande atrativo estético, tendem a ter uma vida útil reduzida. Já a
fibra sintética apresenta boa resistência ao clima, não sofre com ataques de
Mobiliário para espaços externos 11

fungos e possui grande variação de cores e espessuras. Móveis produzidos


com esse material oferecem um visual natural e ao mesmo tempo descolado
para o ambiente. A Figura 7 apresenta um conjunto de sofá e poltronas em
fibra sintética, com estética requintada e natural.

Acesse o link a seguir para saber mais sobre a fibra sintética e os benefícios do seu uso.

https://goo.gl/xxksNi

Figura 7. Sofá e poltronas de fibra sintética.


Fonte: Conjunto-hortencia_2014-07-25_14-30-55_0.jpg ([2018], documento on-line).

Metais. Um dos metais mais indicados para uso externo é o alumínio, pois suas
características físicas apresentam excelente desempenho em relação à exposição
ao clima. Além disso, pode ser empregado em uma grande variedade de designs.
O alumínio não costuma apresentar problemas com rachaduras e quebras; sua
manutenção e limpeza são simples, e ele pode ser utilizado até mesmo em
espreguiçadeiras que ficam em contato com a piscina. Porém, grandes períodos
12 Mobiliário para espaços externos

em contato com o cloro podem danificar as peças. É possível encontrar móveis


de alumínio com pinturas diversas, geralmente eletrostáticas, o que também é
uma boa opção, uma vez que oferece variedade estética. No entanto, a pintura,
com o tempo, pode descascar. A cadeira e a mesa da Figura 8 possuem estruturas
em alumínio sem pintura.

Figura 8. Mesa e cadeira de alumínio para área externa.


Fonte: O conforto... ([2018], documento on-line).

Embora o ferro seja um metal muito acessível, sua utilização em áreas


externas possui restrições, uma vez que a exposição do material ao clima
viabiliza a oxidação do mesmo, conhecida como ferrugem. Essa oxidação
diminui muito a vida útil do material em termos de estrutura e estética;
portanto, o ferro não é recomendado para áreas parcial ou totalmente
descobertas.
Mobiliário para espaços externos 13

Como inserir o mobiliário em um projeto


de área externa
O mobiliário deve atender à necessidade de uso do ambiente, trazer conforto
aos usuários e compor a decoração. Em um ambiente externo, os móveis
devem realçar a beleza natural e compor de forma harmoniosa o mesmo.
Proponha móveis funcionais, resistentes e duráveis. Mesas, cadeiras, sofás
e poltronas sempre são bem-vindos. Tenha sempre em mente as dimen-
sões do espaço e dos móveis para que haja uma boa circulação. Mesinhas
laterais podem ser colocadas no ambiente para facilitar o apoio de copos,
petisqueiras, bolsas, etc.
Se as dimensões do espaço forem pequenas e o objetivo do seu cliente for
uma área de relaxamento, poltronas com almofadas e pequenas mesas de apoio
ajudarão a proporcionar sensação de conforto. Quando o espaço é pequeno,
busque privilegiar as partes aéreas, como paredes e teto — use prateleiras e
armários verticais para acomodar itens de decoração, plantas e utensílios que
necessitam ser guardados. Outra boa opção para armazenar itens são bancos-
-baú, que consistem em caixotes feitos em madeira, cuja parte superior possui
estofamento para que seja possível sentar sobre eles; o espaço interno do baú
serve como espaço de armazenamento.
Por outro lado, um ambiente externo com piscina, onde se deseja realizar
festas e reunir muitas pessoas, terá necessidade de mesas altas para que as
pessoas se apoiem enquanto conversam, algumas espreguiçadeiras para fins
de banho de sol, menos sofás para descanso e uma área central mais livre,
para dançar, por exemplo.
No caso de uma área externa sem nenhum tipo de cobertura, pode-se
criar ambientes por meio da delimitação de espaços, projetando um deck de
madeira sobre o qual serão dispostos os móveis, por exemplo, criando um
ambiente mais intimista. Não havendo possibilidade ou desejo de criar um
deck, pode-se posicionar os móveis de forma a criar um ambiente; posicionar
poltronas e sofás ao redor de uma mesa de centro gerará esse efeito, conforme
mostra a Figura 9.
14 Mobiliário para espaços externos

Figura 9. (a) Ambiente criado sobre um deck de madeira; (b) ambiente criado apenas pela
disposição dos móveis.
Fonte: (a) Conjunto%20berlim.jpg ([2018], documento on-line); (b) Jogo... ([2018], documento on-line).

Um ambiente totalmente exposto pode contar com coberturas do tipo


ombrelone, que são grandes guarda-sóis que proporcionam conforto térmico
e proteção ao sol e à chuva. Esses elementos, além de protegerem os usuários
do ambiente, também protegem os móveis que estão sob eles. Esse mesmo
tipo de cobertura pode ser utilizado próximo a piscinas, em quintais e até
mesmo em grandes sacadas ou coberturas. Observe o uso de ombrelones em
diferentes situações na Figura 10.
Mobiliário para espaços externos 15

Figura 10. (a) Ambiente com mesa com cobertura de ombrelone; (b) ombrelone sendo
usado para cobertura próximo à piscina.
Fonte: (a) Ombrelone-premium-giratorio-floreira-06-1000x856.jpg ([2018], documento on-line); (b)
R6-750x750.jpg ([2018], documento on-line).

Não sobrecarregue o espaço com mobiliários e decorações desnecessárias em


seus projetos de área externa; eles poderão prejudicar o bem-estar dos usuários,
dificultar a limpeza e a manutenção do espaço, além de poluir a decoração.
Atente para que o ambiente seja funcional e esteticamente agradável e leve
sempre em consideração os anseios do cliente. Busque sempre matérias-primas
de qualidade, observando também aspectos de sustentabilidade. Como designer
de interiores, sua função é prezar pela qualidade de vida dos seus clientes por
meio dos seus projetos. Portanto, certifique-se de que suas escolhas de móveis
supram as necessidades dos clientes; assim, faça visitas técnicas em lojas espe-
cializadas com seu cliente e apresente a ele sempre as melhores possibilidades.

1. Quais são os principais aspectos que c) Aspectos de ergonomia antropo-


devem ser levados em consideração métrica, espaço e conforto.
nas primeiras etapas de um projeto d) Aspectos de iluminação, matéria-
de interiores para área externa? -prima e combinação de cores.
a) Aspectos de sustentabilidade, e) Aspectos de experiência do
equilíbrio e harmonia. usuário e decoração interna.
b) Aspectos de necessidade do 2. Há uma diversidade de materiais que
cliente e dimensões de espaço. podem ser utilizados em mobiliários
16 Mobiliário para espaços externos

para área externa. Quais são alguns 4. No seu novo projeto de área externa,
dos principais critérios para a escolha o cliente lhe pediu para inserir uma
desses materiais? mesa e cadeiras de ferro em estilo
a) Durabilidade, gosto pessoal do retrô, mas o ambiente é completa-
cliente, custo, harmonia estética mente descoberto. Quais orienta-
e funcionalidade. ções você oferece ao seu cliente?
b) Forma, padrão de cores, gosto a) Aconselho substituir o mobiliário
pessoal do designer, sustentabili- de ferro por plástico, uma vez
dade e resistência à poeira. que o ferro apresentará ferrugem.
c) Materiais robustos e tecnoló- b) Instruo sobre a manutenção
gicos, dimensões amplas, ma- anual do mobiliário e os riscos
teriais tratados e com estética em relação ao estilo retrô.
minimalista. c) Oriento sobre a vida útil e ma-
d) Materiais coloridos, de alto-pa- nutenção das peças e apresento
drão, manutenção lenta, multi- outras opções de materiais.
funcionais e harmoniosos. d) Aconselho sobre o investimento
e) Materiais resistentes, de acordo em uma cobertura para o am-
com a cartela de cores padrão, biente, de modo a não expor o
tecnológicos e anti-poeira. mobiliário.
3. A necessidade de utilização do e) Oriento sobre como o alumínio
ambiente deve nortear a proposta pode ter uma vida útil maior e
mobiliária do espaço. Como gerar uma manutenção facilitada em
o melhor aproveitamento de uma contraste com o ferro.
área externa (sacada) de pequenas 5. Qual é a influência do levantamento
dimensões, se o objetivo for rea- métrico na escolha dos móveis da
lizar pequenas refeições e guardar área externa?
objetos por meio da distribuição do a) Nenhuma, uma vez que o mobili-
mobiliário no piso e nas paredes? ário deve ser escolhido de acordo
a) Priorizando o uso de armários e com o gosto pessoal do cliente.
estantes no chão para o acondi- b) Influencia na organização do mo-
cionamento dos objetos. biliário, com o intuito de priorizar
b) Buscando otimizar o maior número áreas de circulação ótimas.
de mesas e assentos para que os c) O levantamento métrico auxilia
usuários aproveitem melhor. a orientação espacial dos pontos
c) Liberando corredores de 80 cm de energia e água.
para que as pessoas possam d) A influência do levantamento
circular com tranquilidade. métrico está na correta escolha
d) Valorizando espaços aéreos com das dimensões dos móveis e da
prateleiras e armários e liberando organização do espaço.
espaço para mesa e assentos. e) Nenhuma, visto que a marcenaria
e) Priorizando espaços livres e será planejada para privilegiar
arejados, buscando o frescor na espaços aéreos.
decoração.
Mobiliário para espaços externos 17

AGORA temos móveis para área externa. Janela Aberta Cortinas, [2018]. Disponível em:
<http://www.janelaabertacortinas.com.br/agora-temos-moveis-para-area-externa//>.
Acesso em: 17 out. 2018.
COBERTURAS telescópicas: áreas de lazer encantadoras e utilizáveis em todas as esta-
ções. Alucober, [2018]. Disponível em: <https://alucober.com.br/coberturas-telescopicas-
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PERGOLADO: como fazer o seu. Dcore Você, 9 jun. 2018. Disponível em: <https://www.
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BAXTER, M. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. São Paulo:
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MÓVEIS: área de piscina. S.O.S. Cadeira & Cia, [2018]. Disponível em: <http://soscadei-
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O CONFORTO nos móveis de área externa. Finlandesk, [2018]. Disponível em: <http://
www.finlandek.com.br/utilidades/o-conforto-nos-moveis-de-area-externa/>. Acesso
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18 Mobiliário para espaços externos

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Altura: 856 pixels. Largura: 1000 pixels. Formato: JPG. Disponível em: <https://www.
essenciamoveis.com.br/image/cache/data/ombrelones-solemar/ombrelone-premium-
-giratorio/ombrelone-premium-giratorio-floreira-06-1000x856.jpg>. Acesso em: 17 out.
2018.
R6-750X750.JPG. EFG Shop, [2018]. Altura: 750 pixels. Largura: 750 pixels. Formato:
JPG. Disponível em: <http://www.efgshop.com.br/image/cache/catalog/PRODUTOS/
premium%20redondo%20com%20floreira/r6-750x750.jpg>. Acesso em: 17 out. 2018.
Conteúdo:
PROJETO DE
INTERIORES
RESIDENCIAIS

Jaqueline Ramos
Arquitetura de interiores
e o mobiliário residencial
para áreas molhadas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar o mobiliário residencial de áreas molhadas.


„„ Selecionar o mobiliário adequado conforme a função.
„„ Indicar as metragens mínimas para esses ambientes.

Introdução
Neste capítulo, você vai aprender a identificar os mobiliários que devem
ser utilizados nas áreas molhadas de uma residência, definindo as áreas e
as dimensões mínimas de cada equipamento. Você também vai conhecer
as funções e necessidades de cada uma dessas áreas, com sugestões de
equipamentos e dimensões mínimas de circulação a serem respeitadas.
Ao final do capítulo, você deve possuir os conhecimentos necessários
para projetar um ambiente confortável e funcional.

Mobiliário residencial de áreas molhadas


O projeto executivo de interiores residenciais é composto por plantas baixas,
cortes, vistas, detalhamentos, ampliações e 3D. Algumas áreas necessitam de
detalhamento e ampliações específicas, como é o caso das áreas molhadas. As
áreas molhadas são cozinha, banheiros, lavabos, áreas de serviço e saunas, ou
seja, todos os locais onde há manuseio de água e/ou umidade causada por vapores.
As áreas molhadas demandam detalhamentos específicos que devem ser
apresentados em uma escala maior do que a do restante do projeto executivo.
Por exemplo, se o projeto executivo for realizado na escala 1:100 ou 1:50, os
detalhes do projeto de áreas molhadas devem ser executados na escala 1:25, 1:20
2 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

ou 1:10 (SBARRA, 2017). Esse detalhamento deve compreender: planta geral


compatibilizada, com indicações e especificações; planta de piso; planta de
forro; elevações e/ou seções verticais; e detalhes ampliados (VALLADARES;
MATOSO, 2002). Detalhes de bancadas, soleiras, portas e forros devem ser
realizados em escala 1:10 ou 1:5 (SBARRA, 2017).
A planta geral compatibilizada deve apresentar o detalhamento das alvena-
rias internas, divisórias, tubulações, louças, metais e equipamentos elétricos
(chuveiros, aquecedores, etc.). Todos esses elementos devem ser cotados em
seus eixos junto à parede a que estão afixados.
A NBR 15.575 apresenta as dimensões mínimas e as atividades essenciais
em cada ambiente. Ela ainda sugere equipamentos que cada um desses am-
bientes deve apresentar. No Quadro 1, a seguir, você pode ver os equipamentos
que essa norma define como necessários para áreas molhadas.

Quadro 1. Equipamentos constituintes das áreas molhadas

Ambiente Equipamentos

Cozinha Fogão

Geladeira

Pia de cozinha

Armário sobre a pia

Gabinete

Apoio para refeições

Banheiro Lavatório

Box com chuveiro

Vaso sanitário

Bidê

Lavabo Lavatório

Vaso sanitário

Área de serviço Tanque

Máquina de lavar

Fonte: Adaptado de ABNT (2013).


Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas 3

A NBR 15.575 indica os equipamentos padrão, porém isso não impede


que sejam adicionados os equipamentos e mobiliários solicitados pelo cliente.
Além disso, você pode adicionar os elementos que considerar necessários para
contemplar as expectativas do cliente.

Cozinha
A cozinha representa o estilo de vida da família que ali residirá. Suas dimensões
são determinadas pela importância que esse ambiente tem para os usuários
(PEREIRA, 2017). Nesse espaço, é realizado o preparo dos alimentos, bem
como a limpeza, a cocção, o estoque e, muitas vezes, as refeições propriamente
ditas (AZEVEDO, 2017).
A NBR 15.575 sugere a utilização de alguns equipamentos, que classifica
como equipamentos padrão. São eles: geladeira, pia, fogão, apoio para refeições
e armários superior e inferior. Essa normativa indica as dimensões mínimas
para a geladeira, a pia e o fogão. A geladeira deve ter 70 x 70 cm; a pia, 50 x
120 cm; e o fogão, 55 x 60 cm. A norma não indica dimensões para o apoio
para refeições e para os armários. Além de determinações em planta, há
dimensões que devem ser respeitadas para que haja ergonomia no ambiente
que será projetado.

Você deve notar que as dimensões dos equipamentos variam conforme o fabricante.
Para a representação correta dos espaços, o projetista deve solicitar ao cliente a listagem
dos equipamentos existentes ou que serão adquiridos. Ele também pode indicar os
modelos, se for do agrado do cliente.

Para a distribuição dos móveis e equipamentos na cozinha, você deve levar


em consideração a regra do triângulo. Ou seja, deve criar um triângulo ima-
ginário e, em cada uma das pontas do triângulo, colocar a geladeira, o fogão
e a pia. Esse planejamento facilita a mobilidade no ambiente (RADOMILLE,
2015). Entretanto, você deve levar em consideração a distribuição dos pontos
elétricos e hidráulicos, para que não sejam realizadas obras desnecessárias e
muitas vezes indesejadas.
4 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

Radomille (2015) indica que a cozinha pode ser organizada em forma


de U, em forma de L, linear com ilha ou paralela. Considere as definições
listadas a seguir.

„„ Em forma de U: a geladeira, o fogão e a pia podem ser distribuídos cada


um em uma parede, garantindo total mobilidade no espaço.
„„ Em forma de L: coloca-se o fogão e a geladeira em um dos lados e no
outro a pia, garantindo que fique próxima ao fogão.
„„ Linear com ilha: na ilha, pode-se colocar o fogão, devido à facilidade
de instalação. Em frente, a pia e a geladeira. Caso seja previsto, a pia
e o fogão podem trocar de posição.
„„ Paralela: a pia e o fogão podem ser posicionados em uma parede e, na
face oposta do ambiente, pode ser colocada a geladeira.

A Figura 1 ilustra a distribuição da área de cocção (área quente), da área


fria (pia) e da área de armazenamento (geladeira), organizadas seguindo a
regra do triângulo. Os equipamentos devem ser distribuídos de forma que a
distância total entre eles não ultrapasse 6 m (RADOMILLE, 2015).

Figura 1. Distribuição dos equipamentos e utilização da regra do triângulo.

Apesar de a regra do triângulo garantir a perfeita mobilidade no am-


biente, nem sempre há espaço suficiente para distribuir os equipamentos
conforme essa configuração. O projetista deve analisar e avaliar as opções
para propor o layout mais adequado para atender às necessidades e expec-
tativas do cliente.
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas 5

Na Figura 2, você pode observar um exemplo de layout de cozinha dis-


tribuído de forma linear com ilha central, respeitando a regra dos triângulos.

Figura 2. Exemplo de layout de cozinha.


Fonte: karamysh/Shutterstock.com.

É essencial instalar uma caixa de gordura na cozinha. Ela deve se localizar entre o cano
da pia da cozinha e a rede coletora de esgoto ou fossa. A ideia é garantir que a gordura
gerada na limpeza dos utensílios não vá para a rede de esgoto. Essa caixa deve ser
facilmente acessível para que a cada três meses seja realizada a sua manutenção, ou
seja, a retirada da gordura.
6 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

Banheiro
A NBR 15.575 sugere a utilização de um lavatório, um vaso sanitário, um
bidê e um box com chuveiro no banheiro, indicando dimensões mínimas para
o box com chuveiro e para o lavatório. O box com chuveiro pode ter 80 x 80
cm, sendo quadrado, ou 70 x 90 cm se for retangular. O lavatório deve ter no
mínimo 39 cm de largura por 29 cm de profundidade. Lavatórios com bancada
devem apresentar no mínimo 80 cm de largura e 55 cm de profundidade. As
dimensões mínimas para o vaso sanitário e para o bidê não são apresentadas
pela normativa.
Para a graficação desses equipamentos, devem ser confirmadas com os
fornecedores as suas dimensões. A NBR 15.575 apresenta sugestões de quan-
titativos mínimos para cada equipamento. Porém, conforme as necessidades
e expectativas do cliente, podem ser inseridos ou suprimidos determinados
equipamentos. Banheiros em suítes de casais, em projeto de padrão alto, por
exemplo, podem contar com duas cubas e até mesmo dois chuveiros, para
garantir a autonomia dos usuários no ambiente.
Para a realização de um projeto de banheiro adequado, o projetista deve
estar atento à escolha e ao posicionamento dos elementos constituintes do
espaço. A cuba, por exemplo, pode ser embutida, sobreposta, apoiada ou
semiencaixada. Para o vaso, há opções com caixa acoplada ou com válvula.
Ainda é necessário considerar os metais — compostos por torneiras, mistu-
radores e registro — e demais equipamentos, como chuveiro, banheira, box,
ducha higiênica, espelhos, ralos e móveis (AZEVEDO, 2017).
O ambiente deve ser projetado para garantir o conforto dos usuários, aten-
dendo estética e funcionalmente aos que ali residem. Kenchian (2011) salienta
que o lavatório merece local de destaque no layout do banheiro, já que é
considerado o elemento principal do ambiente. Afinal, é o equipamento mais
utilizado, o que determina que seja bastante acessível.
Na Figura 3, você pode observar um exemplo de layout para banheiro,
com a distribuição dos equipamentos necessários indicados por norma. Cabe
ressaltar que atualmente o bidê tem sido substituído pela ducha higiênica, que
necessita de menos espaço e pode ser utilizada no vaso sanitário. Isso evita a
instalação de mais um ponto de descarte de água residual.
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas 7

Figura 3. Exemplo de layout para banheiro.


Fonte: Beyond Time/Shutterstock.com.

Lavabo
A NBR 15.575 sugere a utilização de um lavatório e um vaso sanitário no lavabo.
Assim como no banheiro, o lavatório deve ter no mínimo 39 cm de largura
por 29 cm de profundidade. Os lavatórios com bancada devem apresentar no
mínimo 80 cm de largura e 55 cm de profundidade. As dimensões mínimas
para o vaso sanitário não são apresentadas pela normativa. Entretanto, deve-se
sempre consultar os fornecedores para realizar a graficação com as medidas
reais dos equipamentos.

Área de serviço
A área de serviço ou lavanderia é o local em que são realizadas as atividades
específicas para tratamento das roupas. O layout e os equipamentos devem
estar dispostos de forma a garantir o tratamento adequado das peças do ves-
tuário dos moradores (KENCHIAN, 2011). O tratamento das roupas inclui os
processos de lavar, secar e passar. Entretanto, esse ambiente é também muito
utilizado como despensa ou depósito.
8 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

A NBR 15.575 apresenta o tanque e a máquina de lavar como equipamentos


padrão na execução do processo de higienização do vestuário. Porém, a área
de serviço pode contar ainda com tábua de passar e máquina de secar, que
são complementares no processo de higienização. A normativa apresenta
as dimensões mínimas de 52 cm de largura e 53 cm de profundidade para
o tanque e de 60 cm de largura e 65 cm de profundidade para a máquina de
lavar. Contudo, você deve notar que as dimensões desses equipamentos devem
ser consultadas com os fornecedores, conforme os equipamentos escolhidos
pelo cliente.
Na Figura 4, você pode ver um exemplo de layout de lavanderia. Perceba
a determinação de espaços para a instalação do tanque e da máquina de lavar.
Nesse caso, há também uma máquina de secar. Além da colocação de uma
tábua de passar, recomenda-se prever um local para manter as roupas depois
de passadas. Elas podem ficar dobradas ou em cabides.

Figura 4. Exemplo de layout para lavanderia.


Fonte: Beyond Time/Shutterstock.com.
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas 9

As áreas molhadas devem ser revestidas com material resistente à água e à gordura.
Elas devem ser de fácil limpeza, ter impermeabilidade e resistência ao atrito constante.
Para evitar acidentes, ao serem molhados, os pisos não podem ser escorregadios.

Seleção de mobiliário
Os ambientes são definidos pelos equipamentos e mobiliários inseridos em
seu layout. A sua disposição é determinada pelas atividades desenvolvidas nos
locais. Você deve visar sempre à funcionalidade e ao conforto do ambiente.
As principais atividades desenvolvidas na cozinha são guardar, conservar,
lavar, preparar, cozinhar, fritar e assar alimentos, assim como lavar, secar e
guardar louças e utensílios. Esse espaço também pode servir para consultar e
elaborar receitas, eliminar e reciclar o lixo (KENCHIAN, 2011). Para muitas
famílias, a cozinha é um local de encontro, onde os membros se reúnem para
preparar e desfrutar das refeições junto a amigos e familiares. Por ser um local
tão significativo para os brasileiros, deve ser planejado com carinho e dedica-
ção. A ideia é garantir que todas as expectativas do cliente sejam alcançadas.
Para Azevedo (2017), o banheiro é o local mais importante de uma residên-
cia. Ele deve ser esteticamente agradável, funcional e confortável. Também
é necessário projetá-lo de forma que a sua organização otimize os fluxos,
principalmente em residências com famílias que possuem rotinas de trabalho
e estudo em horários próximos.
Kenchian (2011) apresenta os processos de lavar as mãos e o rosto, escovar
os dentes, tomar banho, relaxar na banheira, dar banho nas crianças, fazer as
excreções, cuidar dos cabelos e remover os pelos corporais como as principais
atividades desenvolvidas no banheiro. Ele ainda afirma que os atos de maquiar-
-se, cuidar da aparência, realizar curativos e verificar o peso são atividades
realizadas nesse mesmo ambiente.
Já para a área de serviço, o autor determina como atividades principais o ato
de lavar instalações sanitárias; recolher, separar, reciclar e eliminar resíduos;
lavar, secar, limpar, guardar, passar e dobrar roupas; e limpar e engraxar
sapatos. Ele afirma também que o ato de costurar roupas pode ocorrer na área
de serviço (KENCHIAN, 2011).
10 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

No Quadro 2, você pode ver os mobiliários e equipamentos essenciais a


cada um dos ambientes. Esses elementos devem ser especificados em projeto.
O Quadro 2 também mostra os mobiliários e equipamentos opcionais, que
podem ou não estar no layout desenvolvido. Isso depende das intenções do
projetista e/ou das necessidades e expectativas do cliente. Assim, esses mobi-
liários e equipamentos são apresentados conforme as atividades desenvolvidas
em cada ambiente.

Quadro 2. Mobiliários e equipamentos para áreas molhadas

Mobiliário/equipamentos Mobiliário/equipamentos
Ambiente essenciais opcionais

Cozinha Armário com prateleira Frigobar/freezer


e gaveteiro Forno micro-ondas
Pia com gabinete Forno elétrico
Geladeira Máquina de lavar louças
Utensílios de cozinha Mesa com cadeiras
Fogão e forno ou banquetas
Escorredor de louças Churrasqueira com coifa
Lixeira Bancada

Banheiro Lavatório Gabinete


Espelho Banheira
Box com chuveiro Ofurô
Vaso sanitário Bidê
Bacia turca
Mictório
Balança portátil
Penteadeira com
espelho e banqueta

Área de Bancada Material de limpeza


serviço Cesto de roupas Rodo
Tanque Vassoura
Máquina de lavar roupas
Varal suspenso ou de piso
Máquina de secar roupas
Tábua e ferro de
passar roupas

Fonte: Adaptado de Kenchian (2011).


Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas 11

Metragens mínimas para áreas molhadas


Além de apresentar os equipamentos padrão que devem ser inseridos em cada
ambiente, a NBR 15.575 também apresenta as dimensões mínimas para cada
um desses equipamentos. Essas dimensões, somadas às dimensões mínimas
de circulação, são as responsáveis pela definição das áreas mínimas de cada
ambiente.
No Quadro 3, você pode ver as dimensões mínimas dos equipamentos e
das circulações necessárias para as áreas molhadas, conforme a NBR 15.575.
Apesar de a NBR 15.575 apresentar as dimensões mínimas que devem
ser utilizadas, essas dimensões não atendem às exigências da NBR 9.050, de
2015, que define normas de acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços
e equipamentos urbanos. Consequentemente, pessoas com necessidades
especiais (PNE) não conseguem se locomover em ambientes executados
com as dimensões mínimas apresentadas pela NBR 15.575. Sugere-se, então,
trabalhar com ambas as normas para realizar as definições dos espaços.
Entretanto, você sempre deve levar em consideração as solicitações apre-
sentadas pelo cliente.
A NBR 15.575 e a NBR 9.050 devem ser respeitadas tanto em projetos
para edificações já existentes como em projetos para edificações a construir.
Porém, quando você realizar o estudo de viabilidade para novas construções,
deve consultar também o Código de Obras e Edificações da cidade onde será
implantado o projeto. Essa normativa apresenta as áreas mínimas para cada
ambiente, assim como as determinações para a execução da obra.
Para edificações novas, a NBR 9.050 apresenta as dimensões mínimas
para um sanitário acessível, como você pode ver na Figura 5.
12

Quadro 3. Dimensões mínimas de mobiliário e circulação

Mobiliário

Dimensões (m)

Ambiente Móvel ou equipamento l p Circulação (m) Observações


Pia 1,20 0,50 Circulação mínima de Largura mínima da
Fogão 0,55 0,60 0,85 m frontal à pia, ao cozinha: 1,50 m
fogão e à geladeira Mínimo: pia, fogão,
Geladeira 0,70 0,70
geladeira e armário
Armário sob a pia e gabinete — — — Espaço obrigatório para móvel
Cozinha Apoio para refeição (duas pessoas) — — — Espaço opcional para móvel
Lavatório 0,39 0,29 Circulação mínima de 0,4 m Largura mínima do banheiro:
Lavatório com bancada 0,80 0,55 frontal ao lavatório, ao vaso e 1,10 m, exceto no box
ao bidê Mínimo: 1 lavatório,
Vaso sanitário (caixa acoplada) 0,60 0,70
1 vaso e 1 box
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

Vaso sanitário 0,60 0,60


Box quadrado 0,80 0,80
Box retangular 0,70 0,90
Banheiro Bidê 0,60 0,60 — Peça opcional
Tanque 0,52 0,53 Circulação mínima de Mínimo: 1 tanque e 1 máquina
Área de 0,50 m frontal ao tanque (tanque de no mínimo 20 L)
Máquina de lavar 0,60 0,65
serviço e máquina de lavar
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas 13

Figura 5. Medidas mínimas de um sanitário acessível — vista superior.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2015).

Ao observar a Figura 5, você pode concluir que é necessária a inserção


de um círculo de 1,50 m de diâmetro dentro do sanitário para determinar as
suas dimensões mínimas. Esse é o diâmetro necessário para o giro da cadeira
de rodas.
Entretanto, nem sempre é possível determinar as dimensões dos ambientes
onde os móveis serão inseridos. Isso acontece pois há uma vasta gama de
edificações existentes que necessitam de reformas. Nesse caso, a NBR 9.050
determina as dimensões apresentadas na Figura 6 como as mais adequadas.
14 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

Figura 6. Medidas mínimas de um sanitário acessível em caso de reforma — vista superior.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2015).

Para cozinhas e áreas de serviço atenderem à NBR 9.050, devem ser re-
alizadas circulações com no mínimo 0,90 m, prevendo sempre um local ou
área para realizar o giro da cadeira de rodas, que exige 1,50 m. Apesar de o
ideal ser a realização de circulações com 1,50 m, edificações existentes nem
sempre possibilitam essa alternativa, assim como todos os ambientes de uma
edificação.
Ching (2012) indica que há dois tipos de dimensões relacionadas ao corpo
humano: as dimensões estruturais e as dimensões funcionais. As dimensões
estruturais são as dimensões do corpo em si, já as dimensões funcionais
variam conforme as atividades e movimentos dos usuários, como o ato de
sentar e esticar os braços para pegar algo nos armários (CHING, 2012). Essas
dimensões encontram-se ilustradas na Figura 7.
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas 15

Figura 7. Dimensões estruturais e funcionais do corpo humano.


Fonte: Ching (2013, p. 49).

Apesar de indicar as dimensões funcionais do corpo humano, Ching (2012)


afirma que, ao projetar um ambiente, vários fatores devem ser considerados.
Entre eles, faixa etária, grupo étnico e público-alvo. As normas apresentam
dimensões formuladas por meio de medidas típicas ou médias da população.
Na Figura 8, você pode ver dimensões que são referência no desenvolvimento
de projetos.
Na Figura 9, você pode ver um exemplo de distribuição ergonômica para
armários de cozinha. Essas dimensões podem ser utilizadas também em áreas
de serviço, banheiros, escritórios, dormitórios e quaisquer ambientes que
contem com bancadas e armários aéreos. Como você pode observar, a bancada
deve apresentar no mínimo 0,60 m de profundidade e altura entre 0,85 e 1,05
m, enquanto o armário aéreo pode ter 0,30 m de profundidade, sendo fixado
a 1,35 cm do chão para garantir a segurança dos usuários.
A Figura 10 apresenta as dimensões mínimas e ideais para a circulação
em uma cozinha. Levando em consideração que a área de passagem mínima
para uma única pessoa é de 0,60 m e para duas é 1,20 m, sempre que possível
você deve optar por circulações de 1,20 m para garantir o conforto durante a
execução das tarefas no ambiente.
16 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

Figura 8. Dimensões funcionais (em milímetros).


Fonte: Ching (2013, p. 50).

Figura 9. Dimensões ergonômicas para a definição de balcões e armários aéreos.


Fonte: Buxton (2017, p. 2).
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas 17

Figura 10. Dimensões mínimas para o layout de uma cozinha.

A Figura 11 apresenta a vista de um banheiro. Observe a determinação da


altura da bancada da pia ou da face superior da cuba, que deve possuir 0,90 m
para atender aos usuários de forma confortável. Por sua vez, o espelho deve
ser colocado no mínimo a 1,25 m do nível do chão.
18 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

Figura 11. Altura para instalação de bancada e espelho em banheiro.

Ergonomia é a ciência que estuda a relação e a interatividade entre o homem e o seu


ambiente. Por meio dela, é possível otimizar o desempenho das atividades realizadas,
proporcionando conforto e melhor qualidade de vida.

Você projeta para atender às necessidades do ser humano, não é? Por isso,
deve criar ambientes confortáveis e de fácil utilização, sempre atendendo às
normas vigentes e às expectativas do usuário. As áreas molhadas são ambientes
de grande importância em uma residência, pois são utilizadas para ativida-
des de higiene e alimentação, fatores fundamentais para a sobrevivência e a
convivência em sociedade.
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas 19

1. Em uma residência, quais são b) Mesa e pia.


os ambientes que compõem c) Lavatório e vaso sanitário.
a área molhada? d) Vaso sanitário e roupeiro.
a) Cozinha, dormitório e) Geladeira e pia.
e sala de estar. 4. Sempre que as dimensões
b) Sala de jantar, sala de do ambiente destinado
estar e lavabo. para a execução da cozinha
c) Garagem, cozinha e dormitório. permitirem, deve ser utilizada
d) Área de serviço, sala de a regra do triângulo para a
jantar e banheiro. distribuição dos equipamentos
e) Cozinha, área de no ambiente. Qual é o principal
serviço e banheiro. objetivo dessa regra?
2. O detalhamento das áreas a) Determinar a localização
molhadas é composto por: planta dos móveis no ambiente.
geral compatibilizada, planta de b) Garantir a perfeita
piso, planta de forro, elevações mobilidade no ambiente.
e seções verticais, que devem c) Tornar o ambiente mais
ser apresentados na escala 1:25 descontraído.
ou 1:20. Os detalhes específicos, d) Determinar a localização da
como os detalhes de bancadas, geladeira no ambiente.
soleiras, portas e forros, devem ser e) Apresentar o formato
apresentados em quais escalas? construtivo da planta baixa.
a) 1:10 ou 1:5. 5. Por questões ergonômicas, há
b) 1:20 ou 1:25. dimensões mínimas a serem
c) 1:100 ou 1:125. utilizadas na fabricação dos
d) 1:1.000 ou 1:500. equipamentos e mobiliários.
e) 1:100 ou 1:200. Partindo dessa premissa, qual é a
3. A NBR 15.575 apresenta as profundidade mínima a ser adotada
dimensões e os equipamentos para uma bancada de banheiro?
mínimos para cada ambiente. Nesse a) 1,20 m.
contexto, quais são os equipamentos b) 0,20 m.
mínimos que devem ser utilizados na c) 0,40 m.
execução do layout de um lavabo? d) 0,60 m.
a) Chuveiro e fogão. e) 0,80 m.
20 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para áreas molhadas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050. Acessibilidade a edificações,


mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575. Edificações habitacionais
– Desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
AZEVEDO, M. Projetando ambientes: áreas molhadas. 29 jul. 2017. Disponível em: <ht-
tps://pt.slideshare.net/maryazs/projetando-ambientes-reas-molhadas>. Acesso em:
28 out. 2018.
BUXTON, P. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto. 5. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2017.
CHING, F. D. K. Arquitetura de interiores ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
CHING, F. D. K. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
KENCHIAN, A. Qualidade funcional no programa e projeto da habitação. 2011. 541 f. Tese
(Doutorado em Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2011.
PEREIRA, A. C. G. S. Concepção espacial: metodologia de composição aplicada em
espaços residenciais. Revista Especialize On-line IPOG, Goiânia, ano 8, ed. 14, v. 1, dez. 2017.
RADOMILLE, P. Planejamento da cozinha: por que a regra do triângulo é importante?
Radô Arquitetura e Design, 8 abr. 2015. Disponível em: <http://www.radoarquitetura.
com.br/blog/planejamento-da-cozinha-por-que-a-regra-do-triangulo-e-importante/>.
Acesso em: 28 out. 2018.
SBARRA, M. Detalhamento de área molhada. Marcelo Sbarra: arquitetura & ensino, 2 nov.
2017. Disponível em: <https://marcelosbarra.com/2017/10/31/detalhamento-de-area-
-molhada/>. Acesso em: 28 out. 2018.
VALLADARES, P.; MATOSO, D. Projeto de interiores: apostila de projeto executivo e
detalhamento. Escola de Arquitetura da UFMG – Departamento de Projetos. Minas
Gerais, 2002. Disponível em: <https://daniloarquiteto.files.wordpress.com/2008/11/
apostila_exec_det.pdf>. Acesso em: 28 out. 2018.

Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13531. Elaboração de projetos
de edificações – Atividades técnicas. Rio de Janeiro: ABNT, 1995.
MATERIALS. Guia Arauco: como projetar e construir uma cozinha corretamente? ArchDaily,
29 jul. 2016. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/789635/guia-arauco-como-
-projetar-e-construir-uma-cozinha-corretamente>. Acesso em: 28 out. 2018.
NEUFERT, E. A arte de projetar em arquitetura. 18. ed. São Paulo: GG, 2013.
Conteúdo:
PROJETO DE
INTERIORES
RESIDENCIAIS

Marilia Pereira de
Ardovino Barbosa
Arquitetura de interiores
e o mobiliário residencial
para quartos e salas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar o mobiliário residencial de quartos e salas.


„„ Selecionar o mobiliário adequado conforme a função.
„„ Indicar as metragens mínimas para esses ambientes.

Introdução
A arquitetura de interiores estuda, entre vários fatores, a relação entre
os ambientes e seu mobiliário. Cada espaço residencial tem um uso e
uma função. Sala, cozinha, quarto e banheiro, entre outros cômodos,
necessitam de mobiliário específico. O estudo e o conhecimento desses
usos e dos móveis adequados a eles são importantes para a realização de
um bom projeto. Além disso, são fundamentais para garantir o melhor
aproveitamento e a funcionalidade dos espaços.
Neste capítulo, você vai estudar a arquitetura de interiores e o mobi-
liário residencial para quartos e salas. Por fim, vai conhecer as medidas
mínimas para cada um desses espaços internos.

Arquitetura de interiores
A arquitetura de interiores é a realização do projeto de um ou mais espaços em
uma edificação, em escala maior e mais detalhada. Ela prevê a distribuição do
mobiliário, a decoração e os aspectos técnicos que envolvem a construção. A
2 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas

arquitetura de interiores foi estabelecida pela Resolução Federal do Conselho


de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR) nº 76/2014, que a define como:

Intervenção detalhada nos ambientes internos e externos que lhe são corre-
latos, definindo uma forma de uso do espaço em função do mobiliário, dos
equipamentos e suas interfaces com o espaço construído, alterando ou não
a concepção arquitetônica original, para adequação às necessidades de uti-
lização (CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DO BRASIL,
2014, documento on-line).

De acordo com a mesma resolução, a decoração:

É um simples arranjo do espaço interno criado pela disposição de mobiliário


não fixo, obras de arte, cortinas e outros objetos de pequenas dimensões, sem
alteração do espaço arquitetônico original, sem modificação das instalações
hidráulicas, elétricas ou ar condicionado, não implicando modificações na
estrutura, adição ou retirada de paredes, forro, piso e que também não implique
a modificação da parte externa na edificação (CONSELHO DE ARQUITE-
TURA E URBANISMO DO BRASIL, 2014, documento on-line).

Como você pode perceber, a arquitetura de interiores é atribuição do arquiteto,


já a decoração e o projeto de interiores podem ser feitos por outros profissionais,
como designers de interiores e decoradores. O designer de interiores também
pode fazer o projeto e os desenhos dos móveis para um ambiente.
Os espaços são os ambientes arquitetônicos, objetos da intervenção da
arquitetura de interiores. Os espaços residenciais podem ser divididos em:
longa permanência, curta permanência e circulações (BAGÉ, 1974). Os es-
paços de longa permanência são aqueles em que os usuários passam a maior
parte do tempo, onde acontece a convivência ou o descanso. Já os de curta
permanência são aqueles destinados a tarefas específicas que acontecem em
curto ou médio espaço de tempo.
Os de longa permanência diurna são as salas e áreas de lazer; os de
longa permanência noturna são os quartos; os de curta permanência são
cozinhas, banheiros, despensas e demais espaços de serviço; e as circulações
são corredores e halls. Neste capítulo, você vai se concentrar nos espaços de
longa permanência e seus mobiliários (BAGÉ, 1974).
Uma edificação residencial pode ser dividida em três zonas funcionais
básicas:

„„ zona social, onde estão os espaços de longa permanência diurna (salas


e áreas de lazer);
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas 3

„„ zona íntima, onde ficam os espaços de longa permanência noturna


(quartos) e também alguns de curta permanência (banheiros);
„„ zona de serviço (cozinhas e áreas de serviço), onde estão a maioria dos
espaços de curta permanência (GALVÃO, 2016a).

Mobiliário para quartos e salas

Mobiliário para salas


As salas de estar são os espaços principais de uma residência. Elas são es-
paços para convivência familiar e para receber visitantes, assim como para
atividades de lazer e entretenimento. Para Neufert (2013, p. 190), as salas são:
“[...] compartimentos de permanência geral durante o dia e servem sobretudo
para reuniões íntimas da família”. Atualmente, a sala de jantar é usada em um
espaço integrado ao de estar, na maioria dos casos em salas de dois ambientes.
Além disso, a sala de jantar, “[...] que antigamente constituía a maior zona da
casa, reduz-se hoje ao indispensável” (NEUFERT, 2013, p. 169).
As salas podem ter diversas funções e tipos, com mobiliários específicos.
Há, por exemplo: sala de estar, sala de jantar, sala íntima, sala de estudos
ou escritório. Existem outros tipos de sala, principalmente em casas antigas
e maiores, mas que caíram em desuso. Neufert (2013) considera ainda as
seguintes salas: biblioteca, sala de música, sala de costura, sala de visitas ou
salão e jardim de inverno. Os móveis usados nas salas podem ser categorizados
basicamente em: assentos e mesas. A seguir, você vai ver as definições de
Ching (2013) para esses mobiliários.

Assentos

A seguir, veja exemplos de assentos que podem ser utilizados em salas


(Figura 1).

„„ Poltronas: mobiliários utilizados para descansar, decorar, conversar


ou ler; podem ser totalmente estofadas, com estruturas geralmente de
madeira ou aço.
„„ Cadeiras de aproximação: servem para estudar e fazer refeições; são
mais leves e menores do que as poltronas e têm espaldares verticais.
„„ Cadeiras sem suportes de braços: são utilizadas para relaxar, são
fáceis de sentar e levantar e têm suporte para as costas.
4 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas

„„ Sofás: são projetados para acomodar duas ou mais pessoas; geral-


mente são estofados, com ou sem braços; atualmente, possuem assentos
extensíveis.
„„ Sofás-camas: são projetados para serem transformados em camas;
sua estrutura pode ser retrátil em metal ou com sistema de encosto
dobrável. São uma opção conveniente para acomodação temporária
(CHING, 2013).

Figura 1. Assentos.
Fonte: Ching (2013, p. 326 e 327).

Mesas

As mesas são “[...] superfícies planas e horizontais sustentadas pelo piso e


utilizadas para comer, trabalhar, armazenar e dispor objeto” (CHING, 2013,
p. 330). Elas devem ter força e estabilidade, tamanho, formato e altura ade-
quados a seu fim e ser fabricadas em materiais duradouros (CHING, 2013).
A seguir, veja algumas das mesas existentes (Figura 2).

„„ Mesas de jantar: servem para fazer refeições; têm variáveis tamanhos


e formatos; podem ser extensíveis e podem ser fabricadas em série ou
personalizadas (CHING, 2013).
„„ Mesas de centro: são usadas no centro dos ambientes de estar e são
da altura dos assentos. Podem ter tampos de vidro, plástico, metal,
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas 5

madeira, pedra, entre outros (CHING, 2013). A estrutura é usualmente


de madeira ou aço.
„„ Mesas de canto: fornecem superfícies para abajures e outros acessórios
ao lado de um assento. Outras mesas pequenas ajudam a equilibrar a
decoração. Podem ter os mesmos materiais das mesas de centro.
„„ Aparadores: são móveis da altura da mesa de jantar, pouco profundos
e longos. O tampo serve para sustentar travessas durante as refeições
e, se a base for fechada, pode guardar a louça. Nesse caso, também são
chamados de balcões.
„„ Estantes ou racks: são móveis com prateleiras, usados como suporte
para aparelhos eletrônicos (televisão, som, aparelho de DVD, etc.) que
se mantêm interligados (PRIBERAM, 2018).

Figura 2. Mesas.
Fonte: Ching (2013, p. 332).
6 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas

Mobiliário para quartos ou dormitórios


Os quartos são os espaços da edificação usados para descanso e para atividades
privadas, como trocar de roupa. Atualmente, também são utilizados para ler ou
ver televisão. Quando há um banheiro dentro do espaço destinado ao quarto,
este chama-se suíte (NEUFERT, 2013).
Os tipos de quartos existentes nas casas contemporâneas são: quarto de
casal, quarto de solteiro, quarto de bebê e quarto de hóspedes. Os móveis
associados aos dormitórios são, basicamente, os listados a seguir.

„„ Camas: podem ser de solteiro, semicasal, casal, queen e king. Podem


ter cabeceira, pés e criados-mudos associados (CHING, 2013). Atual-
mente, existem as camas box, sem estrado, que são como um colchão
alto e único (GALVÃO, 2016b). Para ver exemplos de camas, observe
a Figura 3.
„„ Beliches: são móveis que consistem em duas ou mais camas montadas
uma sobre a outra (PRIBERAM, 2018). Eles são usados em quartos
pequenos em que não cabe mais de uma cama disposta ao nível do piso,
otimizando o espaço.
„„ Berços: são camas equipadas com barras ou algum outro tipo de
barreira, em todo o seu perímetro, para impedir a queda da criança
(INMETRO, 2016).
„„ Poltronas: têm a mesma configuração das poltronas utilizadas em salas
de estar. São usadas em quartos de dimensões folgadas e quartos de
bebê. Devem ser estofadas e confortáveis, com braços e suporte para
cabeça (CHING, 2013).
„„ Cômodas: são móveis com gavetas para guardar roupas. Quando há
porta lateral, servem também para guardar sapatos, material de higiene,
livros, entre outros. Em quartos de bebê, servem também como trocador
(GALVÃO, 2016b).
„„ Mesas de cabeceira ou criados-mudos: localizados ao lado das ca-
mas, normalmente com gavetas, servem para guardar objetos e como
superfície para abajures. Podem ser usados individualmente ou em par
(GALVÃO, 2016b).
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas 7

Figura 3. Camas.
Fonte: Ching (2013, p. 336).

Os móveis a seguir podem ser usados individualmente ou como móveis


embutidos, planejados ou sob medida (CHING, 2013).

„„ Armários: são móveis para armazenagem. O tamanho e o tipo dos


armários dependem dos itens a serem guardados e do espaço destinado
a eles (CHING, 2013). Nos quartos, são chamados de guarda-roupas e
devem acomodar (com folga) todas as roupas, calçados e acessórios das
8 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas

pessoas que dormem no cômodo (GALVÃO, 2016b). Para ver exemplos


de armários, observe a Figura 4.
„„ Estantes: são “Sistemas modulados que consistem em prateleiras,
gavetas e armários que podem ser combinados de vários modos […]
Podem ter frentes abertas ou portas com ou sem vidraças. Alguns
sistemas tem iluminação integrada” (CHING, 2013, p. 344).
„„ Mesas de estudo: também chamadas de escrivaninhas, servem como
superfície de estudo e, se necessário, para laptops. Devem ter espaço
para uma cadeira. A mesa de estudos tradicional inclui armários e
gavetas na sua base, ou pode simplesmente consistir em um tampo
apoiado em uma base (CHING, 2013).
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas 9

Figura 4. Armários.
Fonte: Ching (2013, p. 338).

Os móveis planejados são produzidos por diversas empresas especializadas. Eles são
compostos por módulos, parcialmente adaptáveis ao tamanho do cômodo e ao desejo
do cliente. Por sua vez, os móveis sob medida são feitos especialmente para a necessidade
do cliente. Eles são planejados para um espaço específico, com base nas suas medidas.
Enquanto os móveis planejados usam módulos pré-fabricados e comercializados em
lojas, os móveis sob medida são criados por marceneiros (MARANHA, 2018).

Metragens e áreas mínimas para quartos e salas


As dimensões e áreas dos espaços se relacionam com o seu uso e com o seu
mobiliário. Ou seja, um dormitório deve abrigar, no mínimo, uma cama, um
armário e uma mesa de cabeceira, além de porta e janela para garantir conforto,
circulação, iluminação e ventilação apropriados (NEUFERT, 2013).
10 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas

A maioria das cidades, por meio de seus códigos de obras, estipula as medidas
mínimas para os ambientes. Quando isso não acontece, você deve usar a NBR
15575 como base para o dimensionamento de espaços.

A funcionalidade é muito importante em um projeto de interiores. Ela é


fundamental para adequar o espaço interno às tarefas e atividades executadas
nele (CHING, 2013). Após analisar as atividades e usos dos espaços, você
pode selecionar e dispor os móveis, acessórios e pontos de iluminação, criando
layouts e configurações que respondam a critérios funcionais e estéticos. De
acordo com Ching (2013, p. 66), deve-se buscar, em termos de função:

„„ agrupamento de mobiliário conforme atividades específicas;


„„ dimensões e afastamentos adequados;
„„ distâncias sociais apropriadas;
„„ privacidade visual e acústica correta;
„„ flexibilidade ou adaptabilidade adequada;
„„ iluminação apropriada e outras instalações prediais.

Observe a Figura 5, a seguir.

Figura 5. No topo da imagem, espaço com circulações e áreas de atividade; abaixo, a


sua flexibilidade. Acima, agrupamentos funcionais de um estar, assim como dimensões
e distâncias.
Fonte: Ching (2013, p. 66).
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas 11

Dimensões mínimas para salas


Os espaços podem ser classificados genericamente quanto às suas dimensões
em duas grandes categorias: espaços com dimensões mínimas e espaços com
dimensões folgadas. Um layout de dimensões mínimas é menos flexível e a
sua adaptação a outro uso que não o previsto é dificultada. Esse tipo de layout
usa móveis independentes ou modulados. A ideia é aproveitar o espaço de
forma eficiente e deixar uma quantidade máxima de área de piso em torno
dos móveis (CHING, 2013). Os móveis planejados ou sob medida também são
uma opção para otimização de espaços mínimos. Os espaços com dimensões
folgadas são mais adaptáveis. Eles podem usar mobiliário em maior número
e são normalmente mais confortáveis.
Na Figura 6, você pode ver uma sala mínima dimensionada para abrigar
as funções de estar e jantar, configuração usual nos dias de hoje.

Figura 6. Layout de estar e jantar, com dimensões mínimas de móveis e espaços.


Fonte: Imagem gentilmente cedida pela arquiteta Luiza Victória Bica da Rosa.

A Figura 6 mostra uma sala retangular onde os ambientes foram sepa-


rados de acordo com suas funções. O ambiente de jantar tem uma mesa de
refeições pequena, com apenas quatro lugares. Já o espaço de estar conta
com um conjunto de sofá, poltrona e rack para televisão e armazenagem
de objetos. Como você pode observar, na sala de jantar, a mesa próxima à
parede libera espaço para a circulação e possibilita posicionar um aparador
12 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas

na parede em frente. Entre as cadeiras da mesa e a parede há 60 cm, espaço


confortável para movimentação (caso as cadeiras tenham braços, a distância
deve ser de 20 cm).
O caminho de acesso aos quartos deve ter um espaço de 80 cm, a fim
de não prejudicar a circulação mesmo quando alguém empurrar a cadeira
para trás. No espaço de estar, foi incluída a mesa de centro, abrindo mão do
padrão recomendado de 60 cm livres. Entre a mesinha, o sofá e a poltrona,
foi usada a distância mínima aceitável, que é de 40 cm. Foi deixado um
intervalo de 50 cm do rack até a mesa para a abertura das gavetas do móvel
(TILLEY, 2007).

No link a seguir, você encontra uma matéria bastante interessante sobre as metragens
mínimas dos ambientes de uma casa.

https://goo.gl/1CnsqN

Dimensões mínimas para quartos


Como você já viu, a quantidade e o tipo de mobília de um cômodo depen-
dem do seu tamanho, do estilo do projeto e das necessidades do cliente. Um
dormitório com armários à parte ou closets não precisa de muitos espaços
para armazenagem. Por sua vez, um quarto infantil pode ter uma área para
brincadeiras ou estudo. Já os quartos de hóspedes podem ser utilizados para
outras atividades, servindo como gabinetes, salas de costura ou depósitos
(CHING, 2013).
Nas Figuras 7 e 8, a seguir, você pode ver os quartos mais usuais atualmente,
de casal e de solteiro.
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas 13

Figura 7. Dormitório mínimo de casal.


Fonte: Imagem gentilmente cedida pela arquiteta Luiza Victória Bica da Rosa.

Figura 8. Dormitório mínimo de solteiro com uma cama.


Fonte: Imagem gentilmente cedida pela arquiteta Luiza Victória Bica da Rosa.
14 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas

Os quartos costumam ter uma configuração quadrada ou retangular. Eles


devem possuir no mínimo uma cama, uma mesa de cabeceira e um guarda-
-roupas. Nas laterais das camas, é bom manter o espaçamento mínimo de 60
cm. Isso possibilita, por exemplo, que o usuário sente para calçar os sapatos.
Além disso, proporciona espaço para mesas de cabeceira. Na frente do guarda-
-roupas, você deve manter 60 cm livres. Nos modelos com profundidade maior,
é melhor usar portas de correr (TILLEY, 2007).
O quarto de solteiro pode ter uma ou mais camas, dependendo do número
de ocupantes (Figura 9). As dimensões mínimas para o quarto de uma cama
estão apresentadas na Figura 8. É interessante prever espaço para uma bancada
de estudos. Um quarto de duas camas pede as mesmas medidas de um quarto
de casal, mas, nesse caso, pelo menos uma das camas terá de ficar encostada
nas paredes (TILLEY, 2007).

Figura 9. Quartos de solteiro com uma ou duas camas.


Fonte: Buxton (2017, p. 373).

Para realizar um projeto de arquitetura de interiores, é necessário conhecer


o uso e a função dos espaços. Você precisa saber para que eles servem e como
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas 15

serão utilizados. Também precisa conhecer as dimensões dos móveis, equipa-


mentos e circulações. Assim, é possível garantir um projeto funcional e com
bom aproveitamento da área disponível. De posse dessas informações, você
vai planejar os espaços de forma mais eficiente, chegando a um bom resultado.

1. A arquitetura de interiores é a d) Simples arranjo do espaço


realização de um projeto de interno de uma edificação,
um ou mais espaços em uma criado pela disposição de
edificação, em escala maior e mais mobiliário não fixo, obras de
detalhada. De que modo essa arte, cortinas e outros objetos
prática foi definida pelo Conselho de pequenas dimensões,
de Arquitetura e Urbanismo? nunca alterando o espaço
a) Intervenção pouco detalhada arquitetônico original.
nos ambientes externos de e) Simples arranjo do espaço
uma edificação, definindo externo de uma edificação,
uso do espaço em função do criado pela disposição de
mobiliário, dos equipamentos mobiliário não fixo, jardins e
e de suas relações com o outros elementos de pequenas
espaço construído, alterando dimensões, sem alteração do
ou não a concepção espaço arquitetônico original.
arquitetônica original. 2. Os espaços de uma residência
b) Intervenção detalhada nos podem ser de longa permanência
ambientes internos e externos ou de curta permanência. Quais
de uma edificação, definindo dos espaços residenciais a seguir
uso do espaço em função do são de longa permanência?
mobiliário, dos equipamentos a) Sala de estar, dormitório
e de suas relações com o e banheiro.
espaço construído, alterando b) Sala íntima, dormitório
ou não a concepção e cozinha.
arquitetônica original. c) Sala de estar, sala de
c) Intervenção detalhada nos jantar e dormitório.
ambientes internos e externos d) Sala íntima, banheiro e cozinha.
de uma edificação, definindo e) Dormitório, cozinha e despensa.
uso do espaço em função do 3. As salas de estar são os espaços
mobiliário, dos equipamentos principais de uma residência.
e de suas relações com o Atualmente, elas costumam ser
espaço construído, nunca integradas às salas de jantar. Os
alterando a concepção quartos, por sua vez, são locais
arquitetônica original. para o descanso. Quais dos móveis
16 Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas

a seguir podem ser usados tanto usar mobiliário em maior


nas salas quanto nos quartos? número e normalmente não
a) Poltrona, cadeira e estante. são mais confortáveis.
b) Sofá de três lugares, d) um layout de dimensões mínimas
aparador e estante. facilita a adaptação a outro uso
c) Sofá de três lugares, cômoda que não o previsto, enquanto
e guarda-roupas. os espaços com dimensões
d) Cama, mesa de cabeceira folgadas são menos flexíveis, mas
e cômoda. podem usar mobiliário em maior
e) Aparador, mesa de jantar número e são normalmente
e sofá de três lugares. mais amplos e confortáveis.
4. Os espaços podem ser classificados e) um layout de dimensões
genericamente quanto às suas mínimas dificulta a adaptação
dimensões em duas grandes a outro uso que não o previsto,
categorias: espaços com enquanto os espaços com
dimensões mínimas e espaços dimensões folgadas são
com dimensões folgadas. Sabendo mais flexíveis, podem usar
disso, é correto afirmar que: mobiliário em maior número
a) um espaço com dimensão e são normalmente mais
mínima normalmente amplos e confortáveis.
abriga maior número de 5. Os quartos ou dormitórios são os
móveis do que um espaço espaços da residência usados para
com dimensão folgada. descanso e atividades relaxantes.
b) um espaço com dimensão A quantidade e o tipo de mobília
mínima normalmente de um dormitório depende do
abriga número idêntico de tamanho do recinto, do estilo do
móveis ao de um espaço projeto e das necessidades do
com dimensão folgada. usuário. Os dormitórios pertencem
c) um layout de dimensões a que zona da residência?
mínimas dificulta a adaptação a) Zona social.
a outro uso que não o previsto, b) Zona de serviço.
enquanto os espaços com c) Zona de lazer.
dimensões folgadas são mais d) Zona íntima.
flexíveis, mas não podem e) Zona de apoio.
Arquitetura de interiores e o mobiliário residencial para quartos e salas 17

BAGÉ. Lei municipal nº 1.778, de 25 de setembro de 1974. Disponível em: <http://www.


ceaam.net/bage/legislacao/leis/1974/L1778.htm>. Acesso em: 17 out. 2018.
BUXTON, P. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto. 5. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2017.
CHING, F. D. K. Arquitetura de interiores ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DO BRASIL. Resolução n° 76, de 10 de
abril de 2014. Diário Oficial da União, Edição n° 79, Seção 1, de 28 abr. 2014. Disponível
em: <http://www.caubr.gov.br/resolucao76/>. Acesso em: 17 out. 2018.
GALVÃO, A. Ergonomia: espaço interpessoal – proxêmica, layout, setorização, fluxos.
2016a. Disponível em: <http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-con-
tent/uploads/sites/28/2016/03/Prox%C3%AAmica-e-setoriza%C3%A7%C3%A3o.pdf>.
Acesso em: 17 out. 2018.
GALVÃO, A. Ergonomia aplicada a design de interiores. 2016b. Disponível em: <http://
www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/sites/28/2016/03/
Quartos-e-banheiros.pdf>. Acesso em: 17 out. 2018.
INMETRO. Portaria nº 53, de 1 de fevereiro de 2016. Disponível em: <http://www.inmetro.
gov.br/legislacao/rtac/pdf/RTAC002376.pdf>. Acesso em: 17 out. 2018.
MARANHA, F. 13 móveis planejados e sob medida (e a diferença entre eles). Homify, 11
set. 2017. Disponível em: <https://www.homify.com.br/livros_de_ideias/4019556/13-­
moveis-planejados-e-sob-medida-e-a-diferenca-entre-eles>. Acesso em: 17 out. 2018.
NEUFERT, E. A arte de projetar em arquitetura. 18. ed. São Paulo: GG, 2013.
PRIBERAM dicionário. “cama-beliche”. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa,
2018. Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/cama-beliche>. Acesso em:
17 out. 2018.
TILLEY, A. R. As medidas do homem e da mulher: fatores humanos em design. Porto
Alegre: Bookman, 2007.

Leituras recomendadas
E-CIVIL. Sala íntima. 2018. Disponível em: <https://www.ecivilnet.com/dicionario/o-­
que-e-sala-intima.html>. Acesso em: 17 out. 2018.
KARLEN, M. Planejamento de internos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
Conteúdo:
COMPOSIÇÃO DE
JARDINS

Jana Cândida Castro dos Santos


O projeto de móveis
para jardins
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Relacionar as categorias de móveis em jardins.


„„ Listar os materiais recomendados para áreas externas.
„„ Reconhecer exemplos de mobiliário para jardins.

Introdução
Para a criação de um projeto de jardim e sua ambientação, é necessária
a seleção cuidadosa de diferentes elementos, como traçado, caminhos,
vegetação, mobiliário, iluminação e revestimentos de piso. A seleção de
materiais, cores, texturas e padrões de superfícies, assim como o arranjo
dos elementos do jardim devem ser adequados aos seus diferentes usos
e atividades de seus usuários.
O mobiliário e os diversos elementos construtivos utilizados para a
composição e ornamentação de áreas externas devem responder às
questões estéticas e funcionais, adequando-se às intempéries locais e às
questões sociais e culturais, contribuindo para a criação de uma relação
afetiva e simbólica entre o indivíduo e o espaço.
Neste capítulo, você verá exemplos de móveis para jardins, bem como
a relação de categorias desse tipo de mobiliário e os principais materiais
recomendados para as áreas externas.

Categorias de móveis em jardins


Segundo Carneiro, Silva e Girão (2003, p. 2), “O jardim é uma das primeiras
expressões do homem na sua relação com a natureza”. Os jardins criados
para contemplação ou fins utilitários expressam a necessidade do homem de
observar a natureza, assim como de modificá-la. A partir de manifestações
2 O projeto de móveis para jardins

criativas, surgem novas formas, que dependem do meio físico e das neces-
sidades humanas em relação à ordem estética, econômica, social, religiosa e
até mesmo ecológica, como revelam os autores:

A essência do jardim parece significar um gesto na paisagem como algo


inerente ao convívio do homem com a sociedade em resposta aos seus im-
pulsos. É nessa compreensão que a expressão humana se aproxima mais da
arte e da poesia e atinge o conteúdo do paisagismo, em outras palavras, “a
arte de fazer jardins” (DOURADO, 1991, p. 63 apud CARNEIRO, SILVA,
GIRÃO, 2003, p. 2).

Entre as diferentes manifestações paisagísticas, temos os jardins de caráter


público e privado. Se, em um primeiro momento, a existência dos jardins
se vinculava “a grandes áreas vegetadas e de caráter privado”, a partir da
expansão das cidades, surgem as praças, os jardins botânicos e os jardins
públicos, configurando passeios públicos e alamedas, ainda que permaneçam
os jardins privados de casarões e residências, de acordo com Carneiro, Silva
e Girão (2003, p. 2).

Composições paisagísticas
Nas composições paisagísticas deve-se observar cuidadosamente o sítio, ou
seja, o local onde será trabalhada a paisagem, além de, segundo Waterman
(2011, p.86) “[...] compreender seu potencial e protegê-lo de todos os seus usos
possíveis”. No paisagismo, às vezes, a forma segue a função. Ainda que essa
fórmula seja aparentemente fácil de resolver, há um grande desafio, visto que a
paisagem apresenta uma infinidade de possibilidades funcionais e complexas
interseções de uso.

Os arquitetos paisagistas começam analisando o terreno para entender tanto suas


condições climáticas específicas, incluindo índices pluviométricos, incidência de luz
solar e variações de temperatura, como as plantas nativas da região e as condições
de cultivo. O projeto de paisagismo também considera aspectos relacionados aos
percursos e às rotas nos espaços externos da edificação, além das atividades associadas
a esses locais (FARRELLY, 2014, p. 169).
O projeto de móveis para jardins 3

No processo de análise, além da topografia do sítio escolhido e tipos de


vegetação, são eleitos diversos elementos para a composição dos jardins, entre
eles o mobiliário, os revestimentos de piso, os espelhos d’água, os pergolados, a
iluminação e outros. O mobiliário na composição da paisagem exerce um papel
importante, seja para decoração ou configuração de espaços de permanência.
Para Carlos Terra o jardim pode ser definido como um elemento da paisagem
“[...] jardim é o trecho da natureza onde houve a interferência humana mais
ou menos profunda. Associa elementos naturais — vegetais, pedras, água e
animais — com os artificiais — arquitetura, mobiliário, escultura e, inclusive,
pintura” (2013, p. 27 apud SILVEIRA; UZEDA, 2016, p. 61).
O mobiliário, juntamente da vegetação e do traçado, são elementos im-
prescindíveis na composição dos jardins, como ressalta Magalhães (2015, p.
133), em sua pesquisa sobre o Patrimônio Paisagístico e Jardins Históricos no
Brasil. Para o autor, “A harmonia entre o traçado, a vegetação cuidadosamente
escolhida e o mobiliário nos conta da concepção artística do seu construtor
e de sua época” (MAGALHÃES, 2015, p. 133). A partir das colocações en-
tendemos a importância do mobiliário no paisagismo. Observe os exemplos
das Figuras 1 e 2.

Figura 1. Vista de cima de um dos jardins do Inhotim, em Brumadinho/MG.


Fonte: Instituto Inhotim ([2015, documento on-line).
4 O projeto de móveis para jardins

Figura 2. Jardins da Grande Bacia, em Chicago. A empresa de Oehme e van Sweden é


famosa por sua exuberante abordagem pictórica e no uso da vegetação em projetos de
paisagismo. Os Jardins da Grande Bacia são uma área que se baseia em um circuito de
experiências, incluindo caminhos, pontes e vistas.
Fonte: Waterman (2011, p. 97).

Existem algumas categorias de mobiliário que podemos considerar na


composição de um jardim, que podem pode ser classificadas de acordo com
sua função ou, em alguns casos, a sua dimensão. Destacam-se, de modo geral,
a classificação apresentada a seguir.

„„ Elementos decorativos: esculturas, bustos, coretos, portões, chafarizes,


pontes e cascatas, grutas e mirantes, vasos e louças.
„„ Elementos funcionais: bancos, mesas, bebedouros e lixeiras.
„„ Elementos de sinalização e iluminação: postes e luminárias, placas de
sinalização e orientação.

Os elementos decorativos visam à ornamentação da paisagem e ambientação


dos jardins, ao passo que os demais elementos são voltados para o descanso,
a iluminação, a comunicação, a limpeza, entre outros. Além do mobiliário, se
destacam as pequenas construções, como as pérgulas, o gazebo, o quiosque,
o caramanchão, que se unem à vegetação e, por vezes, oferece abrigo para os
móveis e as obras de arte.
O projeto de móveis para jardins 5

Materiais recomendados para áreas externas


O mobiliário e os diversos elementos construtivos utilizados para a composi-
ção e ornamentação dos jardins devem responder tanto às questões estéticas,
de acordo com o projeto, como às funcionais, adequando-se às intempéries
locais. O design desse tipo de mobiliário deve considerar aspectos econômi-
cos — que se relacionam à manutenção, durabilidade, reparos, facilidade de
montagem e desmontagem; e os fatores físicos do local de destino, de modo a
integrar-se com o ambiente já construído no entorno. Além disso, precisam ser
analisados os fatores ambientais, pois os móveis estarão expostos à variação
de temperatura, granizo, salinidade, precipitação, vento e sol.
Há, também, que se considerar os fatores sociais e culturais. Pereira (2010,
p. 36) acredita que o mobiliário deve assegurar “[...] um ambiente agradável
que respeite os usuários e seus vários usos criando uma relação afetiva e
simbólica entre o indivíduo e o espaço [...]”, neste caso os espaços do jardim.
Observe um exemplo na Figura 3.

Figura 3. Requalificação da Praça Fonte Nova, em Lisboa, Portugal. No interior da praça


foram criadas zonas de estadia e lazer em pontos específicos, por meio de “ilhas” que
pontuam o espaço. Estas “ilhas” contêm programas de caráter específico, que apoiam as
áreas de estadia: quiosques com esplanadas, uma fonte, um parque infantil, um parque
canino e jardins. As “ilhas” são delimitadas por bancos contínuos em todo o seu perímetro.
Fonte: Vada (2018, documento on-line).
6 O projeto de móveis para jardins

Portanto, a escolha dos materiais para seu mobiliário é fundamental para


ambientação do jardim e para percepção sensorial (tato, audição, olfato, paladar,
visão) de seus visitantes e usuários. Segundo Pereira (2010, p. 38), a correta
escolha dos materiais deve considerar esses aspectos “Já que os materiais
também têm influência direta no custo final do produto. Contudo, para sua
escolha devem-se levar em consideração as características técnicas, formais,
de funcionalidade, culturais, econômicas e socioambientais, além de normas
e legislação quando for o caso [...]”.
Veja a seguir, os principais materiais recomendados e utilizados em áreas
externas.

„„ Madeira (Figura 4): comumente utilizada para áreas externas. Para


garantir a durabilidade e a conservação dos móveis externos de madeira
expostos ao sol e às intempéries, é preciso realizar um processo de
proteção da superfície, seguindo as recomendações do fabricante do
produto. O papel dos impermeabilizantes é criar uma barreira prote-
tiva para a madeira contra as intempéries, os raios UV e, sobretudo, a
penetração da água, que pode promover a deterioração/apodrecimento.
Sua manutenção deve ser periódica (TOK&STOK, c2019).

Figura 4. Arquitetura cênica na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte/MG. Buscou-se a


definição de um mobiliário leve, reutilizável, que pudesse ser reorganizado livremente pelo
público ao redor da área de apresentações, com três diferentes alturas, ou três maneiras de
assentar. O material escolhido para o projeto é o compensado de madeira.
Fonte: Inhotim... (2013, documento on-line).
O projeto de móveis para jardins 7

„„ Concreto (Figura 5): utilizado para móveis e elementos construtivos


apenas com o acabamento de resina ou silicone para a proteção, em
razão da facilidade de manutenção, menor custo e maior durabilidade,
quando comparado com os demais materiais. No entanto, sua escolha
deve ser pensada considerando ser um elemento fixo. Se por um lado,
elementos em concreto ou argamassa armada tem um custo acessível, por
outro, tem mobilidade limitada, mantendo-se fixos no espaço projetado.

Figura 5. Bancos em concreto na Requalificação da Praça Fonte Nova, em Lisboa, Portugal.


Os bancos de traços retos e curvos são pré-fabricados e definidos por quatro módulos
distintos, um módulo reto de comprimento, um módulo curvo e dois módulos de bancos
individuais com duas inclinações de costas distintas, a partir da utilização de material
resistente e de fácil manutenção.
Fonte: Vada (2018, documento on-line).

„„ Peças metálicas (Figura 6): em geral feitas em metais ferrosos e não


ferrosos. Os móveis em ferro são muito utilizados em áreas externas,
devido à sua durabilidade e versatilidade. Para locais externos, o ideal
é o ferro galvanizado ou revestido por tinta esmalte. O uso de materiais
metálicos permite a fabricação de móveis com traços mais finos e
8 O projeto de móveis para jardins

diversos desenhos, retos ou ondulados, podendo ser combinados com


outros materiais, como madeira ou vidro. Ainda que o material seja
robusto, permite o design leve e suave.

Figura 6. Banco metálico.


Fonte: Mmcite (c2019, documento on-line).

Além dos materiais citados, podem ser utilizados móveis em alumínio,


plástico, fibras naturais, telas e fibras sintéticas para áreas de jardim. O alumí-
nio tem destaque por ser um metal forte, durável e por não exigir manutenção
constante, exceto uma limpeza ocasional feita com cera automotiva (peças
com pintura brilhante) ou silicone líquido (com pintura fosca), para postergar
o surgimento de manchas.

No caso de móveis externos em alumínio combinados a materiais como telas, fibras


sintéticas e tiras de policloreto de vinila (PVC), a limpeza (se possível semanal) deve
ser realizada apenas com água, sabão neutro e esponja macia (TOK&STOK, c2019).
O projeto de móveis para jardins 9

São utilizados em áreas externas, mobiliário e/ou elementos de plástico


— mesas, cadeiras, lixeiras — em razão do custo e da praticidade. Geral-
mente, são peças leves e flexíveis. Ressalta-se ainda o uso de fibras neste tipo
de mobiliário, sendo, em alguns casos, utilizados móveis de fibras naturais
(Figura 7), como rattan, junco, entre outras. No entanto, esses materiais são
indicados exclusivamente para ambientes internos, podendo ser utilizados em
áreas de lazer, como sacadas e jardins de inverno, desde que sejam cobertas ou
protegidas da ação direta de intempéries como sol, vento, chuva ou umidade.

Figura 7. Exemplo de mobiliário feito de fibras naturais.


Fonte: Living Spaces ([201-?], documento on-line)

As telas e as fibras sintéticas, ainda que mais resistentes às intempéries


do que as naturais, quando utilizadas em mobiliário para áreas externas,
necessitam ser higienizadas corretamente para não serem danificados. O
processo de limpeza desses materiais é rápido e simples, a partir do uso de
água, sabão neutro e elementos para retirar a sujeira alojada nas suas tramas.
Há uma infinidade de materiais para o mobiliário de jardim, inclusive em
combinação, como ferro e madeira, concreto e madeira e até pedra.
10 O projeto de móveis para jardins

Exemplos de mobiliário para jardins


O mobiliário para jardim busca atender às demandas do convívio social,
cumprindo funções estéticas, simbólicas e funcionais. Desse modo, os móveis
especificados para jardins devem adequar-se às espécies vegetais eleitas e aos
demais elementos da paisagem, assim como às atividades de seus usuários.
Segundo Braga (2012, p. 73), nas áreas públicas (Figura 8), os móveis para
jardim, como bancos, mesas e cadeiras, são executados visando a rotatividade
dos usuários, assim como sua durabilidade e pouca necessidade de manutenção.
Além disso, é dada preferência aos móveis fixos, em razão da integridade e
segurança do mobiliário público.

Figura 8. Exemplo de mobiliário para áreas públicas.


Fonte: Gutiérrez (2013, documento on-line).

Nas áreas particulares (Figura 9), por outro lado, normalmente os móveis
para jardim, como mesas, cadeiras, espreguiçadeiras, são ligados e emoldurados
pelos planos de piso (permanência transitória e prolongada), com concepção e
materiais mais variados, gerando maior conforto e tempo de utilização. Nesses
casos, podem ser utilizados materiais menos duráveis, pois os móveis podem ser
facilmente remanejados para locais fechados e/ou protegidos contra intempéries.
O projeto de móveis para jardins 11

Figura 9. Exemplo de mobiliário para jardim.


Fonte: Ott (2019, documento on-line).

Nessa categoria, podemos destacar os espaços de uso coletivo privado, tais


como clubes, hotéis, escolas, entre outras. Neles, o mobiliário é pensado em vista
das atividades e usos de seus usuários, primando também pela sua durabilidade
e pouca manutenção, como é o caso do jardim voltado para crianças (Figura 10).

Figura 10. Exemplo de mobiliário para jardim.


Fonte: JARDIM... (2015, documento on-line).
12 O projeto de móveis para jardins

Em ambas as áreas, deve haver harmonia entre os materiais e as for-


mas do mobiliário com o projeto arquitetônico e paisagístico, a partir da
verificação da insolação e dos ventos para sua localização, visando maior
conforto (Figura 11).

Figura 11. Jardim elementar. Neste projeto buscou-se trabalhar com elementos naturais
como pedra, fogo, madeira e vegetação.
Fonte: Adaptado de Pereira (2019, documento on-line).

Nas composições paisagísticas, de acordo com Braga (2012, p. 80), se


destacam também as obras de arte, tidas como “um detalhe sofisticado no
paisagismo”, sendo elas de caráter religioso, decorativo ou venerativo, cons-
tituem-se em:

„„ bustos;
„„ esculturas;
„„ peças utilitárias (p. ex., fontes);
„„ painéis;
„„ pisos (mosaicos), etc.

De acordo com o referido autor, as peças de arte dão dimensão especial


ao paisagismo (Figura 12), quando ele é desenvolvido em função desses
elementos. Em certos casos, as obras artísticas são utilizadas em compo-
sições especiais para ressaltar o valor histórico de uma edificação ou do
próprio jardim.
O projeto de móveis para jardins 13

Figura 12. Dor de cabeça — esculturas de Edgar de Souza no Inhotim, em Brumadinho/MG.


Fonte: Josep (2012, documento on-line).

As obras de arte em jardins necessitam de iluminação específica, acessos adequados


e bancos, podendo ter um destaque maior ou menor dentro da concepção geral da
paisagem (BRAGA, 2012).

Note que, para a composição de um jardim, são eleitos recursos arquite-


tônicos, dos quais se destacam os móveis, que, ao lado dos recursos vegetais,
configuram a paisagem como um todo, seja de um jardim privado, parques
urbanos ou jardins botânicos. Durante a etapa projetual, todos os elementos
devem ser pensados e detalhados separadamente, para que juntos configurem
um composição harmônica, tanto com as atividades de seus usuários como com
as especificidades do terreno em seu entorno (topografia, vegetação nativa,
composição do solo) e, sobretudo, em consonância com os fatores climáticos
(insolação, ventos, temperatura e umidade).
14 O projeto de móveis para jardins

CARNEIRO, A. R. S.; SILVA, A. F.; GIRÃO, P. A. O jardim moderno de Burle Marx: um


patrimônio na paisagem do Recife. In: SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL, 5., 2003,
São Carlos. Anais [...] Rio de Janeiro: Docomomo Brasil, 2003. Disponível em: http://
jardimbotanico.recife.pe.gov.br/sites/default/files/midia/arquivos/pagina-basica/9.
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BRAGA, M. A. (coord.). Curso municipal de recursos paisagísticos. São Paulo: Escola de
Jardinagem, 2012. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/
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JOSEP. Dor de cabeça: esculturas de Edgar de Souza no Instituto Inhotim, em Brumadinho,
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LIVING SPACES. [Transitional OP]. [201-?]. Disponível em: https://www.livingspaces.com/
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MAGALHÂES, C. M. O desenho da história no traço da paisagem: patrimônio paisagís-
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O projeto de móveis para jardins 15

PEREIRA, M. Jardim elementar: Kalil Ferre Paisagismo. 2019. Disponível em: https://
www.archdaily.com.br/br/921275/jardim-elementar-kalil-ferre-pasagismo/5d2ea0b028
4dd15263000002-jardim-elementar-kalil-ferre-pasagismo-foto. Acesso em: 1 nov. 2019.
PEREIRA, R. O. Elementos de mobiliário urbano nas cidades universitárias: considerações
para elaboração de novos projetos. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado
em Design Industrial) — Centro de Artes, Universidade do Estado de Santa Catarina,
Florianópolis, 2010. Disponível em: http://sistemabu.udesc.br/pergamumweb/vincu-
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SILVEIERA, M. T.; UZEDA, H. Museu Casa de Rui Barbosa: o jardim como coleção de
Memória. In: PESSOA, A.; FASOLATO, D. (org.). Jardins históricos: intervenção e valoriza-
ção do patrimônio paisagístico. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2016.
p. 59–74. Disponível em: http://www.casaruibarbosa.gov.br/arquivos/file/Seminarios/
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TOK&STOK. Vida longa aos móveis de jardim: como conservar os móveis externos. c2019.
Disponível em: http://www.maistokstok.com.br/dicas/moveis-externos-moveis-de-
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VADA, P. Praça Fonte Nova: José Adrião Arquitetos. 2018. Disponível em: https://www.
archdaily.com.br/br/891211/praca-fonte-nova-jose-adriao-arquitetos/5ab3ad5af197cc
0ef0000195-praca-fonte-nova-jose-adriao-arquitetos-foto?next_project=no. Acesso
em: 1 nov. 2019.
WATERMAN, T. Fundamentos de paisagismo. Porto Alegre: Bookman, 2011.

Leituras recomendadas
FARAH, I.; SCHLEE, M. B.; TARDIN, R. (org.). Arquitetura paisagística contemporânea no
Brasil. São Paulo: Senac São Paulo, 2010.
KLIASS, R. Rosa Kliass: desenhando paisagens, moldando uma profissão. São Paulo:
Senac, 2006.
LANA, R. S. Arquitetos da paisagem: memoráveis jardins de Roberto Burle Marx e Henri-
que Lahmeyer de Mello Barreto: Minas Gerais: década de 1940. Belo Horizonte: Museu
Histórico Abílio Barreto, 2009.
LEENHARDT, J. (org). Nos jardins de Burle Marx. São Paulo: Perspectiva. 1996.
MACEDO, S. S. Quadro do paisagismo no Brasil. São Paulo: USP, 1999. (Coleção Quapá, v. 1).
MAGALHÃES, C. M. Patrimônio de arte: o mobiliário artístico dos jardins históricos
brasileiros. In: ARECES, M. Á. Á. (org.). Paisajes culturales, patrimonio industrial y desarrollo
regional. Gijón: CICEES, 2013. v. 13, p. 203–210. (Los ojos de la memoria).
MARX, R. B. Arte e paisagem: conferências escolhidas. São Paulo. Nobel. 1987.
SEGAWA, H. Ao amor do público: os jardins no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP,
1996.
16 O projeto de móveis para jardins

Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
PROJETO DE
ARQUITETURA DE
INTERIORES
RESIDENCIAIS

Anna Carolina Manfroi Galinatti


Leiaute e desenho de
móveis residenciais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os fundamentos de leiaute e desenho para móveis


residenciais.
 Definir os padrões de representação gráfica de mobiliário.
 Reconhecer o uso de leiaute e desenho de móveis em um projeto
hipotético.

Introdução
Passamos a maior parte do tempo dentro de edificações. Seja em casa,
na escola ou no trabalho, o interior dos edifícios faz parte de nossas vidas.
Esse simples fato basta para evidenciar a importância da concepção
desses espaços de maneira adequada e agradável. Além disso, o modo
como configuramos esses espaços inteiros afeta de forma direta o com-
portamento e o relacionamento das pessoas dentro deles.
Neste capítulo, você reconhecerá os fundamentos do leiaute e do
desenho de móveis residenciais, identificará padrões e boas práticas na
representação desses espaços, bem como diferentes momentos, etapas
e maneiras de representar os espaços interiores de projetos residenciais.

Fundamentos de leiaute e desenho de móveis


residenciais
A arquitetura das edificações trata das relações entre o construído e o espaço
público, mediando as conexões entre espaço aberto e interior do edifício.
Por outro lado, a arquitetura de interiores é responsável pela relação entre
usuário e edifício, com o potencial de transformar a experiência de uso de um
espaço. Muitas vezes, a arquitetura de interiores é considerada um subproduto
2 Leiaute e desenho de móveis residenciais

da arquitetura do edifício e, embora os interiores inexistam sem o edifício,


esses projetos têm o poder de transformar visual e sensorialmente os espaços
(Figura 1).

Figura 1. Transformação de uma casa por meio da arquitetura de interiores.


Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 7).

Em intervenções da arquitetura de interiores, o arquiteto tem a oportu-


nidade de explorar estruturas visuais e manipular os elementos internos de
modo a gerar espaços que transcendam a estrutura existente no edifício.
Ching e Binggeli (2019, p. 16) defendem essa capacidade transformadora da
arquitetura de interiores ao afirmar que “[...] embora o sistema estrutural de
uma edificação determine a forma básica e o padrão de seus espaços inter-
nos, esses espaços são, em última análise, estruturados pelos elementos de
arquitetura de interiores”.
Em arquitetura de interiores, a organização espacial pode ocorrer pela
construção de elementos fixos, como paredes e muros, contudo, na maioria
dos casos, a estruturação dos espaços é dada pela distribuição do mobiliário
no ambiente. Essa distribuição recebe o nome de leiaute, uma adaptação da
expressão inglesa layout, que significa arranjo de elementos em um meio, seja
ele a página de uma revista ou um ambiente interno.
O leiaute deve responder, em primeira instância, ao conforto e à usabilidade
dos usuários. Em arquitetura de interiores residencial, esses usuários são os
moradores do local, que precisam sentir-se confortáveis em todas as atividades
da casa, seja na preparação de alimentos na cozinha, seja assistindo a um
filme no sofá. Para determinar as dimensões e os atributos desses ambientes,
é preciso conhecer as demandas de conforto. Atualmente, estão disponíveis
aos arquitetos guias que apresentam as dimensões ideais para diversos tipos
de equipamentos e mobiliários, além de exemplos de combinações de móveis.
Leiaute e desenho de móveis residenciais 3

Ergonomia é a área de conhecimento que estuda o conforto dos usuários com base
nas dimensões do ser humano, ou antropometria. Com os dados ergonômicos, é
possível maximizar o conforto de uma peça de mobiliário para um uso específico.

Um dos parâmetros ergométricos mais importantes para os leiautes de


móveis são as distâncias das relações interpessoais, ou espaço pessoal (CHING;
BINGGELI, 2019). Essas zonas referem-se às distâncias em que as pessoas se
sentem à vontade para conviver com outros, em variados níveis de intimidade.
Na Figura 2, é possível ver como essa distância aumenta quanto menor for
a intimidade entre as pessoas que se relacionam. Uma distância curta entre
cadeiras, por exemplo, só é confortável entre pessoas com elevados níveis de
intimidade.

Figura 2. Zonas de intimidade.


Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 51).

Embora seja provável que em um ambiente residencial convivam apenas


pessoas com níveis de intimidade elevados, as zonas propostas por Ching e
Binggeli (2019) são úteis para fazer o lançamento de leiautes de mobiliários.
Em uma sala de estar, por exemplo, deve haver espaço suficiente para que as
pessoas consigam se sentar cada qual em seu lugar, preferencialmente, sem
que uma atrapalhe a outra, como demonstra a Figura 3.
4 Leiaute e desenho de móveis residenciais

Figura 3. Leiautes de sofás e poltronas.


Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 52).

Outros espaços onde as dimensões de uso têm grande importância são os


ambientes de preparo e consumo de alimentos: cozinhas, balcões e salas de
jantar. Em uma casa, esses espaços são utilizados por períodos prolongados
em atividades repetitivas — cortar alimentos, fazer refeições ou lavar louças
são alguns exemplos. Para isso, é imprescindível que esses locais tenham
suas dimensões otimizadas para as atividades ali realizadas. A Figura 4a
traz algumas dimensões recomendadas para uma mesa de jantar confortável.
Geralmente, as mesas de jantar são compradas prontas em uma loja. No en-
tanto, nas cozinhas, existe grande possibilidade de personalização, o que dá
liberdade ao arquiteto para adaptações ao espaço existente, entretanto, cria
o risco de se realizar um projeto com dimensões não otimizadas. A Figura
4b mostra quais são as dimensões recomendadas para cozinhas residenciais.
Observe a distância entre os balcões que, de modo geral, deve ser suficiente
para que duas pessoas possam operar os equipamentos ao mesmo tempo.
Assim, o leiaute e a escolha de mobiliário para um projeto de interiores são
formas mais efetivas de se manipular a estrutura espacial de um ambiente. Cabe
ao arquiteto tomar as decisões de maneira racional e otimizada, garantindo o
conforto e bem-estar dos usuários daquele ambiente.
Leiaute e desenho de móveis residenciais 5

Figura 4. Dimensões recomendadas (a) para a mesa de jantar e (b) para cozinhas.
Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 53–54).

Representação gráfica de mobiliário


A representação do mobiliário em Arquitetura depende de alguns fatores
como escala do desenho, necessidade de detalhamento e tipo de representação.
Imagine que você está desenhando o leiaute de uma residência, e sua ideia é
apresentar um zoneamento de atividades e algumas possibilidades de orga-
nização de planta. Nesse cenário, os mobiliários podem ser representações
simplificadas — geralmente formas simples, como círculos e retângulos — que
transmitam a informação dimensional do mobiliário e nada mais. Observe a
Figura 5 para compreender a diferença entre uma representação simbólica e
uma representação complexa.
6 Leiaute e desenho de móveis residenciais

Figura 5. Diferenças entre representação simbólica e representação complexa.

O limite da representação é o do próprio objeto, podendo seguir refinando


o desenho agregando cores, texturas, juntas, parafusos. É fácil perceber que, a
partir de certo grau de fidelidade (definido de acordo com cada situação), o ex-
cesso de informação é desnecessário e, eventualmente, prejudicial. Retomando
o exemplo anterior, ao utilizar uma representação com grau de definição além
do necessário, corre-se o risco de o objetivo do desenho (discutir estratégias de
organização da planta) se desvirtuar para temas como o modelo da poltrona,
da mesa e do sofá, algo que deveria ser discutido em momento posterior.
No entanto, há situações em que a fidelidade ao objeto representado é
essencial. Em projetos residenciais, e em todos os projetos de arquitetura de
interiores, a escolha do mobiliário exerce um papel significativo na adequação
do projeto ao seu objetivo. Nesses casos, é correto utilizar as ferramentas
disponíveis para a representação arquitetônica (como modeladores em três
dimensões, renderizadores e programas de edição de imagem), a fim de re-
produzir da maneira mais fiel possível a intenção do projetista. Na Figura 6,
observe que o modelo de cadeiras muda entre a primeira e a segunda imagem.
Esse tipo de representação ajuda o projetista a escolher o modelo que julga
mais adequado e também o cliente, que pode tomar uma decisão mais segura.
Isso acontece, principalmente, naqueles desenhos que Ching e Juroszek (2012)
chamam de desenhos de apresentação, que devem comunicar com clareza
e maior precisão possível as características tridimensionais de um projeto.
Leiaute e desenho de móveis residenciais 7

Figura 6. Renderizações mostrando diferentes opções de mobiliário.

A migração do desenho à mão para o computador possibilitou um avanço


incrível na representação arquitetônica. Quando os projetos eram desenhados
à mão em pranchetas de desenhos, arquitetos e demais projetistas usavam
gabaritos para representar os tipos mais comuns de mobiliário. Obviamente,
a técnica era bastante limitada, objetos diferentes eram tratados da mesma
maneira, e boa parte da informação era escrita em forma de especificações.
Parte das referências sobre representação — como a NBR 6492: Norma Técnica
para Representação de Projetos de Arquitetura (ASSOCIAÇÃO BRASI-
LEIRA DE NORMAS TÉCNICAS [ABNT], 1994) — se atém a padrões de
representação dessa época, motivo pelo qual, embora sejam um bom ponto
de partida, não devem servir de guia absoluto para a maneira como se deve
representar um projeto.
Atualmente, é comum que os próprios fabricantes disponibilizem seus
produtos modelados em diversos formatos (dwg, fbx, skp, gsm) para serem
utilizados em diversos software de desenho (Figura 7), de modo que o proje-
tista possa ter uma representação fiel dos objetos escolhidos para o projeto.
8 Leiaute e desenho de móveis residenciais

Figura 7. Perfil do fabricante Deca para modelos de torneiras no site 3D Warehouse. Modelos
disponibilizados pelo próprio fabricante do produto.
Fonte: Deca Catálogo (2020, documento on-line).

Exemplo de leiautes e mobiliários residenciais


A partir do estudo sobre características marcantes da arquitetura de interiores e
sobre as possibilidades e usos da graficação para esse tipo de projeto, veremos
alguns exemplos e usos da representação para ambientes residenciais. Segundo
Ching e Eckler (2014, p. 200):

[…] nas etapas de geração e desenvolvimento de um processo de projeto, o


desenho tem natureza claramente especulativa. Os pensamentos vêm à mente
conforme observamos um desenho em progresso, o que pode alterar nossas
percepções e sugerir possibilidades ainda não concebidas.

Por isso, dada essa natureza especulativa e o grande nível de indefinição


das etapas iniciais, é desejável que se desenvolva os desenhos de maneira mais
livre, em forma de esboços e croquis (Figura 8). Essa abordagem também
tem uma justificativa pragmática que é a possibilidade de gerar um grande
número de alternativas em pouco tempo, uma vez que o projetista pode lançar
opções de desenvolvimento sem ater-se a modelos de cadeira, alinhamentos
e dimensões, por exemplo. Cabe lembrar que a liberdade dessa etapa não
se confunde com insipiência; é possível conceber um desenho impreciso
Leiaute e desenho de móveis residenciais 9

em termos dimensionais, mas com profunda consciência construtiva. Um


bom exemplo disso são os croquis do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da
Rocha que, com algumas linhas, era capaz de sintetizar a solução estrutural
de projetos complexos.

Figura 8. Croqui de uma residência: observe que o mobiliário indicado tem dimensão
coerente, mas imprecisa.

Atualmente, o desenho no computador é a realidade no desenvolvimento


de projetos de arquitetura. Em programas de CAD ou em programas que
utilizam a metodologia BIM, os projetos são desenvolvidos em um ambiente
computacional que permite alto grau de precisão e agilidade na investigação
de alternativas. Nessa etapa, o projeto ganha um dimensionamento mais
próximo do real, e os objetos representados nos leiautes e mobiliários ganham
definição (Figura 9). Em projetos de arquitetura de interiores, em geral, há
uma preocupação maior na representação de elementos de ambientação e
com uma definição maior do mobiliário. Isso deve-se à natureza do trabalho:
na arquitetura de interiores, boa parte do trabalho consiste na escolha desses
elementos, materiais de revestimento e acabamento (Figura 10).
10 Leiaute e desenho de móveis residenciais

Figura 9. Desenvolvimento de um projeto residencial em CAD: elementos construtivos e


mobiliário ganham precisão e definição.

Os projetos de arquitetura de interiores não se limitam aos ambientes e


às peças de mobiliário sob medida. É muito comum que haja uma mescla de
elementos projetados exclusivamente para os espaços, como móveis de mar-
cenaria, bancadas em pedra, entre outros, com objetos e peças soltas, como
mesas, cadeiras e luminárias, por exemplo. Muitos dos objetos especificados
para os projetos possuem desenho bastante difundido e são conhecidos como
peças de mobiliário clássicas da arquitetura. Alguns arquitetos reconhecidos
mundialmente possuem em seu repertório de obras alguns itens de decoração
e mobiliário. O arquiteto francês Jean Prouvé, por exemplo, criou uma série de
luminárias que são muito utilizadas em projetos de arquitetura de interiores
no mundo todo. Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha e Oscar Niemeyer
também têm peças clássicas de design em seu catálogo de obras.

Objetos de design brasileiro têm sido amplamente utilizados


em projetos de arquitetura de interiores residencial. No link a
seguir, conheça 10 poltronas clássicas assinadas por designers
brasileiros.

https://qrgo.page.link/mPKsx
Leiaute e desenho de móveis residenciais 11

Assim, o limite para a representação de um objeto é ele próprio, e nem


sempre a representação precisa conter todas as características do objeto re-
presentado. Algum nível de abstração é necessário para que o desenho não se
torne confuso e demasiadamente complexo. Mesmo assim, há situações em
que é preciso especificar a maneira e a forma como os materiais se encontram.

Figura 10. Planta perspectiva de um apartamento: compare com o grau de definição do


mobiliário da Figura 9.

Nesses casos, é comum fazer uso de detalhes e ampliações, ou seja, desenhos


parciais em escala ampliada que demonstram pontos de interesse especial no
projeto. Exemplos de detalhes e ampliações podem ser transições de materiais
(de madeira para pedra, por exemplo), modo de encontro com as paredes,
desenhos específicos em acabamento, entre outros (Figura 11).
12 Leiaute e desenho de móveis residenciais

Figura 11. Detalhes de um armário: conjunto de cortes parciais ilustrando as transições


entre diferentes peças e materiais.
Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 342).

Um tipo diferente de representação, complementar aos anteriores, são


as perspectivas (Figura 12). Antigamente, a criação de perspectivas para a
representação de projetos de arquitetura era um trabalho complexo e demorado
que, não raro, ficava a cargo de um desenhista. Hoje, há software que permitem
elaborar boas perspectivas com pouco esforço.
Leiaute e desenho de móveis residenciais 13

Figura 12. Perspectiva renderizada.

Esse tipo de representação é especialmente interessante para a apresenta-


ção ao público leigo, uma vez que pode haver dificuldades na compreensão
de desenhos técnicos. É importante ressaltar que não há verdades absolutas
quando se trata de representação para arquitetura. Recomenda-se observar
variadas referências e, antes de começar um desenho, refletir sobre qual seria
a melhor maneira de representar aquilo que você deseja comunicar.
14 Leiaute e desenho de móveis residenciais

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6492: representação de


projetos de arquitetura. Rio de Janeiro, 1994.
CHING, F. D. K.; BINGGELI, C. Arquitetura de interiores ilustrada. 4. ed. Porto Alegre: Book-
man, 2019.
CHING, F. D. K.; ECKLER, J. F. Introdução à arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2014.
CHING, F. D. K.; JUROSZEK, S. P. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,
2012.
DECA Catálogo. Disponível em: https://3dwarehouse.sketchup.com/by/decaoficial.
Acesso em: 09 jan. 2020.

Leitura recomendada
MARADEI, G. 10 poltronas clássicas assinadas por famosos designers brasileiros. 2018. Dispo-
nível em: https://casavogue.globo.com/Design/Moveis/noticia/2018/09/10-poltronas-
classicas-assinadas-por-famosos-designers-brasileiros.html. Acesso em: 09 jan. 2020.

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PROJETO DE
INTERIORES
RESIDENCIAIS

Marilia Pereira de
Ardovino
Layout e desenho de móveis
para quartos e salas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir os passos para a criação de um layout.


„„ Demonstrar a representação de desenhos de móveis.
„„ Construir um layout.

Introdução
Os espaços internos são os ambientes físicos que correspondem às ne-
cessidades básicas de abrigo e proteção. Eles são o palco das atividades
diárias. Além disso, afetam o olhar, o humor e a personalidade dos usuários.
A arquitetura de interiores inclui o planejamento, o layout e o projeto de
espaços edificados. O seu objetivo é o aprimoramento funcional, estético
e do impacto psicológico desses locais (CHING, 2013).
Um projeto de interiores é composto por diversos elementos e dese-
nhos necessários para a concepção do espaço e para a comunicação entre
arquiteto e cliente. Um de seus elementos fundamentais é o layout, que
consiste em uma planta baixa mobiliada e detalhada com informações
e especificações do projeto.
Neste capítulo, você vai conhecer o conceito de layout para arquite-
tura de interiores, bem como os passos para a sua criação. Também vai
verificar como os móveis são representados em uma planta baixa e ver
exemplos de construção de um layout.

Criação de um layout
Um dos elementos do projeto de interiores é o layout do mobiliário em planta
baixa. O termo layout vem do inglês e literalmente significa “[...] qualquer
2 Layout e desenho de móveis para quartos e salas

esboço ou projeto gráfico de um trabalho” (MICHAELIS, 2018, documento


on-line). Em português, a grafia pode ser “leiaute”.
Para Galvão (2016, p. 8), o layout em arquitetura de interiores é:

Um arranjo físico, disposição de peças (mobiliário, equipamentos, postos de


trabalho, etc.) em planta baixa, visando ao melhor funcionamento possível do
espaço a ser trabalhado, proporcionando segurança, conforto e produtividade
das pessoas que vão utilizar esse espaço.

A criação do layout se dá na etapa do projeto de interiores chamada estudo


preliminar. É nessa etapa que surgem os desenhos das primeiras possibili-
dades e intenções da proposta projetual. O estudo preliminar ocorre depois
da fase de entrevista, levantamento e coleta de dados do local do projeto e da
definição do programa (INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL, 2018).
O programa de necessidades é uma listagem dos requisitos projetuais.
Ele é elaborado como uma:

Resposta às intenções do cliente; a seguir, [...] é aprimorado de modo a forne-


cer informações detalhadas sobre as exigências do projeto, incluindo, entre
outros fatores, o levantamento de campo, as exigências de acomodação, as
exigências de leiaute interno, e instalações e equipamentos especializados
(FARRELLY, 2013, p. 170).

Ao fazer um layout para quartos e salas, o arquiteto ou designer de interio-


res precisa observar e analisar o espaço a ser projetado. Esse espaço oferece
pistas de como pode ser melhor aproveitado. Seus acessos definem um fluxo
que divide a área em certas zonas. Assim, já evidenciam uma setorização do
ambiente estudado (CHING, 2013). De acordo com Galvão (2016, p. 9), “O
desafio é grande quando a necessidade de espaço é maior do que a disponi-
bilidade, situação muito comum atualmente, onde os espaços são cada vez
menores e as necessidades cada vez maiores”.
Para realizar um bom layout, o profissional deve considerar o usuário que
vai utilizar o ambiente, suas necessidades e medidas. Também precisa levar em
conta os móveis e equipamentos que vão ser usados no espaço, a ergonomia,
a setorização e o fluxo das atividades realizadas no local (GALVÃO, 2016).
Assim, “O arquiteto de interiores busca um ajuste adequado entre as deman-
das das atividades e a natureza da arquitetura dos espaços que as abrigam”
(CHING, 2013, p. 63).
Layout e desenho de móveis para quartos e salas 3

Os espaços estudados neste capítulo, quartos e salas, pertencem às zonas


residenciais denominadas, respectivamente, íntima e social. A área social é
destinada à socialização e deve ter uma atmosfera que propicie a convivência
entre as pessoas. Fazem parte dessa área os seguintes espaços: hall de entrada,
lavabo, sala de estar, sala de jantar, churrasqueira, entre outros. A área íntima
de uma residência deve proporcionar conforto e privacidade aos usuários.
Desse modo, não deve ter ligação direta com a área social. Fazem parte dessa
área os seguintes espaços: dormitórios de casal, solteiro, bebê ou hóspede,
banheiro e estar íntimo (GALVÃO, 2016).
Para Ching (2013, p. 66), no momento do estudo do layout, é preciso analisar
os espaços e as atividades realizadas neles. Assim, pode-se

[...] Relacionar as características espaciais de cada atividade às características


dos espaços disponíveis. O layout faz a seleção e disposição de acessórios,
móveis e acabamentos, dentro do espaço disponível, respondendo tanto a
critérios funcionais como estéticos.

A disposição dos elementos no layout depende das circulações. Elas devem


ocorrer facilmente de dentro para fora da edificação e de um ambiente para o
outro. Os móveis devem ser arranjados conforme as atividades que acontecerão
no espaço. Por exemplo: assistir televisão, ouvir música, conversar e estudar.
Tais atividades não devem ser interrompidas pelo trânsito de pessoas. A
circulação é marcada pelos fluxos, que são as possibilidades de caminho que
propiciam o melhor aproveitamento do espaço. Quanto mais simples e intuitivo
for o fluxo, melhor é o aproveitamento (GALVÃO, 2016). Para compreender
melhor, observe a Figura 1, a seguir.

Figura 1. Circulações possíveis e acessibilidade das zonas de um espaço em planta baixa,


em um estudo de layout.
Fonte: Ching (2013, p. 64).
4 Layout e desenho de móveis para quartos e salas

Para Galvão (2016, p. 22), as circulações dentro de um espaço podem ser


naturais ou forçadas: “A circulação natural é aquela que flui sem problemas,
sem desvios, e a forçada é aquela na qual desviamos do caminho natural por
motivos funcionais ou estéticos”. Na Figura 2, você pode ver exemplos de
circulação natural e forçada.

Figura 2. Exemplos de circulação natural (direita) e forçada (esquerda).


Fonte: Galvão (2016, p. 22).

O layout é basicamente uma planta baixa com representação mais deta-


lhada dos móveis, suas cotas e especificações. Ele auxilia a definir as áreas
de circulação de acordo com a posição dos equipamentos e móveis. Além
disso, indica maiores informações relacionadas a detalhes e acabamentos. As
informações necessárias em um layout são:

„„ escala — normalmente 1:50 ou 1:100, mas pode variar dependendo da


dimensão do projeto;
„„ hierarquia de linhas;
„„ medidas das aberturas dos vãos (portas, janelas, etc.);
„„ medida dos móveis;
„„ nomenclatura dos móveis, caso necessário;
„„ cotas horizontais das aberturas, passagens, corredores e móveis, além
das cotas totais;
„„ orientação (norte magnético ou verdadeiro).

Na Figura 3, a seguir, você pode ver layouts de salas de jantar e quartos.


Note que os layouts respeitam distâncias, fluxos e circulações. Além disso,
eles demonstram a distribuição de mobiliários e equipamentos.
Layout e desenho de móveis para quartos e salas 5

Figura 3. Layouts de salas de jantar e quartos.


Fonte: Henry Dreyfuss Associates (2005, p. 59).

Com base no que você viu até aqui, pode concluir que os passos para a
criação de um layout são:

„„ representar o espaço em planta baixa com todos os seus elementos fixos;


„„ estabelecer as circulações e os fluxos;
„„ fazer as distribuições de mobiliário possíveis;
„„ definir e indicar detalhes e materiais de acabamento.
6 Layout e desenho de móveis para quartos e salas

A ergonomia (ou fatores humanos) é uma disciplina científica que estuda as inte-
rações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas. Ela também está
relacionada à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de
otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Os ergonomistas
contribuem para o planejamento, o projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho,
produtos, ambientes e sistemas. A ideia é tornar esses elementos compatíveis com
as necessidades, habilidades e limitações das pessoas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
ERGONOMIA, 2018).

Representação de desenhos de móveis em um


layout
O layout é, de modo simplificado, um desenho que demonstra a distribuição
do mobiliário e demais informações em planta baixa. A planta baixa consiste
em um corte horizontal de uma edificação, representando a projeção
ortográfica do que fica abaixo dessa linha de corte. Esses desenhos mostram
a configuração das paredes e pilares, a forma e as dimensões dos ambientes,
das aberturas e das conexões entre os espaços e entre o interior e o exterior
da edificação.
Normalmente, o plano de corte é feito a 1,20 m do chão, atravessa as paredes,
estruturas e aberturas e pode-se ver o piso, as bancadas e o mobiliário fixo.
Usa-se uma seta de norte para indicar a orientação de uma planta baixa. A
convenção é orientá-la com o norte para cima. As plantas baixas costumam
ser desenhadas nas escalas 1:100 ou 1:50. A arquitetura de interiores às vezes
utiliza escalas maiores, que são úteis para o estudo e a representação de
espaços que requerem mais detalhes. Afinal, uma escala maior permite incluir
informações sobre acabamentos, móveis e acessórios. Assim, quanto maior
for a escala, mais detalhes deverão ser incluídos (CHING, 2017).
Como um layout de interiores consiste em uma planta baixa mobiliada
e mais detalhada, a representação dos móveis se dá por meio de uma vista
ortográfica superior, como você pode ver nas Figuras 4 e 5.
Layout e desenho de móveis para quartos e salas 7

Figura 4. Representação de assentos em um layout, com figura humana.


Fonte: Ching (2017, p. 191).

Figura 5. Representação de sofás, poltronas, mesas com cadeiras e camas em um layout.


Fonte: Ching (2017, p. 192).
8 Layout e desenho de móveis para quartos e salas

Muitos programas de geração de maquetes eletrônicas e CAD incluem


bibliotecas ou gabaritos de peças de mobiliários pré-projetados. Eles podem
ser facilmente copiados, redimensionados e posicionados diretamente no
desenho, como mostra a Figura 6 (CHING, 2017, p. 192).

Figura 6. Exemplos de mobiliário para salas e quartos em planta baixa em uma biblioteca
de desenhos arquitetônicos disponíveis para download.
Fonte: Bari (2017, documento on-line).

No Quadro 1, a seguir, você pode ver as dimensões mais usuais de mobi-


liários para quartos e salas. No quadro, estão listadas as medidas dos móveis
mais usados nesse tipo de espaço, os assentos e as camas.
Layout e desenho de móveis para quartos e salas 9

Quadro 1. Medidas de assentos e camas para salas e dormitórios.

Assentos

Tipo Largura Profundidade Altura

Poltrona 0,80 a 1 a 1,15 m Encosto: > 0,45 m


0,95 m Assento: 0,35 a 0,43 m

Sofá 1,50 a 1 a 1,15 m Encosto: > 0,45 m


(2 lugares) 1,70 m Assento: 0,35 a 0,43 m

Sofá 2,10 a 1 a 1,15 m Encosto: > 0,45 m


(3 lugares) 2,30 m Assento: 0,35 a 0,43 m

Espaço de circulação entre poltronas e sofás: 1 pessoa > 0,60 | 2 pessoas > 1,20
Design universal > 1,50

Camas

Tipo Largura Comprimento Altura

Twin (solteiro) 0,90 m 1,88 m 45 cm a


55 cm

Twin XL 1,00 m 2,03 m 45 cm a


55 cm

Full (casal) 1,38 m 1,88 m 45 cm a


55 cm

Full XL 1,38 m 2,03 m 45 cm a


55 cm

Queen size 1,58 m 1,98 m 45 cm a


55 cm

Cal king 1,86 m 2,03 m 45 cm a


55 cm

King size 1,93 m 2,03 m 45 cm a


55 cm

King split 2,00 m 2,03 m 45 cm a


55 cm

Tabela com os tamanhos “oficiais” utilizados nos Estados Unidos


(onde se criaram os nomes que são utilizados amplamente).
Medidas convertidas para o padrão industrial brasileiro.

Fonte: Adaptado de Galvão (2018).


10 Layout e desenho de móveis para quartos e salas

A planta humanizada é aquela que vem com a representação dos móveis e revestimen-
tos de piso desenhados e coloridos. Se for uma planta de casa, pode também conter
o jardim desenhado. É uma planta feita para o leigo entender com mais facilidade.
Ela é diferente da planta técnica, que é composta basicamente por linhas. As plantas
baixas humanizadas são mais comerciais. São usadas pelos arquitetos e empresas para
explicar melhor o projeto para os clientes (ARQUIDICAS, 2017).

Exemplo de construção de layout


Nesta seção, você vai ver como propor e construir um layout a partir do
que aprendeu até aqui. Como você viu, o estudo do layout acontece durante
o estudo preliminar e após a coleta de dados e a definição do programa de
necessidades. Por meio do estudo de vários autores, como Ching (2013;
2017) e Galvão (2018a), se concluiu que os passos para construir o layout
são:

1. desenhar a planta baixa com paredes, portas, janelas e demais elementos


fixos;
2. definir os fluxos e circulações no espaço;
3. distribuir o mobiliário e equipamentos, considerando os critérios de
funcionalidade, estética e testando alternativas;
4. definir e indicar detalhes e materiais de acabamento.

Você pode observar o procedimento de construção de layout na Figura 7.


Grimley e Love (2017), a partir da planta baixa de um espaço de estar, geram
quatro alternativas de distribuição de mobiliário, considerando o estudo das
circulações e definindo eixos compositivos. Para eles, “[...] uma sala de estar
típica funciona bem quando é organizada de acordo com diversos princípios
alternativos” (GRIMLEY; LOVE, 2017, p. 100).
Layout e desenho de móveis para quartos e salas 11

Figura 7. Quatro propostas de layout para um espaço de sala de estar.


Fonte: Grimley e Love (2017, p. 100).

A primeira proposta é de uma sala simétrica. Usando um eixo central, os


móveis são distribuídos simetricamente em relação à lareira. A circulação e
os elementos construtivos ficam fixos em todas as propostas; só o mobiliário
demonstra as possibilidades de variação. Na alternativa com eixo duplo, a
composição é simétrica em relação aos eixos longitudinal e transversal. A sala
com simetria local deixa a composição mais livre e faz o espaço parecer mais
amplo. Na última proposta, a sala assimétrica deixa o espaço mais informal e
possibilita a organização em dois ambientes distintos. Observe que o layout
é construído a partir da planta baixa e seus elementos de arquitetura, como
portas, janelas e lareira. A circulação entre as portas é respeitada em todas as
propostas. Varia apenas a distribuição e a escolha de mobiliário.

No link a seguir, você encontra uma biblioteca gratuita de desenhos arquitetônicos


em DWG disponíveis para download.

https://goo.gl/yrqWba
12 Layout e desenho de móveis para quartos e salas

Os layouts dos espaços internos de quartos e salas também devem prever


o uso por pessoas com deficiência. No Brasil, a norma que regulamenta a
acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos é a
NBR 9.050, de 2015. Ao propor um layout, você deve levar em consideração
os espaços e verificar se há dimensionamentos suficientes para manobras
e giros de cadeiras de rodas, assim como para abrigar as alturas do
mobiliário. Observe as Figuras 8 e 9, a seguir, para verificar a importância
da acessibilidade.

Figura 8. Áreas de manobras para cadeira de rodas.


Fonte: NBR 9.050 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015, p. 25).
Layout e desenho de móveis para quartos e salas 13

Figura 9. Layout de dormitório para pessoas com deficiência.


Fonte: Henry Dreyfuss Associates (2005, p. 46).

Ao longo deste capítulo, você estudou o conceito, a definição e a importân-


cia do layout na arquitetura de interiores. Viu também seus benefícios para a
maior funcionalidade dos espaços, assim como as representações de mobiliário
para quartos e salas em planta baixa. Além disso, verificou os passos para a
montagem de um layout de sala, assim como a demonstração desses passos
na construção de um exemplo.
14 Layout e desenho de móveis para quartos e salas

Na Figura 10, a seguir, você pode ver um exemplo do layout de uma sala de estar grafi-
cado à mão. O desenho mostra a planta baixa, os elementos construtivos, o mobiliário,
as dimensões, os acessórios (cortina, tapete, objetos, vegetação), a representação do
piso e as especificações de acabamento e de móveis.

Figura 10. Layout (graficado à mão) de sala de estar.


Fonte: Galvão (2018b, documento on-line).
Layout e desenho de móveis para quartos e salas 15

1. Um dos elementos mais importantes relacionarem com o melhor


do projeto de interiores é o layout aproveitamento do espaço.
do mobiliário. Para a arquitetura de c) Fluxos são as possibilidades
interiores, layout é, basicamente: de caminho, mas não
a) uma vista frontal mais detalhada propiciam o melhor
que demonstra o arranjo físico e aproveitamento do espaço.
as informações de acabamentos, d) Fluxos fazem parte do
visando à funcionalidade estudo de layout e não se
e à estética do espaço. relacionam com o melhor
b) uma planta baixa mobiliada aproveitamento do espaço.
e mais detalhada que e) Fluxos são as possibilidades
demonstra o arranjo físico e as de caminho, mas não
informações de acabamentos, propiciam o melhor
visando à funcionalidade aproveitamento do espaço.
e à estética do espaço. 3. O layout é um importante
c) uma perspectiva mais detalhada elemento no estudo de um
que demonstra o arranjo físico e projeto de interiores. Assinale a
as informações de acabamentos, alternativa que lista os passos
visando à funcionalidade para a construção do layout.
e à estética do espaço. a) Representar o espaço em corte
d) um corte vertical mais detalhado com todos os seus elementos
que demonstra o arranjo físico e fixos, definir as circulações e
as informações de acabamentos, os fluxos, fazer as possíveis
visando à funcionalidade distribuições de mobiliário,
e à estética do espaço. definir e indicar detalhes e
e) um corte vertical mais materiais de acabamento.
detalhado que demonstra o b) Representar o espaço em
arranjo físico, mas não faz parte planta baixa com todos os
do projeto de interiores. seus elementos fixos, ignorar
2. A disposição dos elementos no as circulações e os fluxos, fazer
layout depende das circulações as possíveis distribuições de
que devem ocorrer no espaço. mobiliário, definir e indicar detalhes
A circulação, por sua vez, é e materiais de acabamento.
marcada pelos fluxos. Assinale c) Representar o espaço em
a alternativa que apresenta a perspectiva com todos
definição correta de fluxos. os seus elementos fixos,
a) Fluxos são as possibilidades de definir as circulações e os
caminho que propiciam o melhor fluxos, fazer as possíveis
aproveitamento do espaço. distribuições de mobiliário,
b) Fluxos interferem no layout definir e indicar detalhes e
de interiores, apesar de não se materiais de acabamento.
16 Layout e desenho de móveis para quartos e salas

d) Representar o espaço em d) NBR 8.403.


planta baixa com todos e) NBR 10.067.
os seus elementos fixos, 5. A disposição dos elementos no
definir as circulações e os layout depende das circulações que
fluxos, fazer as possíveis devem ocorrer no espaço e que
distribuições de mobiliário, podem ser naturais ou forçadas.
definir e indicar detalhes e A circulação natural é aquela que
materiais de acabamento. flui sem problemas, sem desvios.
e) Representar o espaço em Assinale a alternativa que define
perspectiva com todos corretamente a circulação forçada.
os seus elementos fixos, a) A circulação forçada é
ignorar as circulações e os aquela na qual não há desvio
fluxos, fazer as possíveis do caminho natural.
distribuições de mobiliário, b) A circulação forçada é
definir e indicar detalhes e aquela em que há desvio do
materiais de acabamento. caminho natural por motivos
4. Os layouts dos espaços internos funcionais ou estéticos.
de quartos e salas também devem c) A circulação forçada é aquela
prever o uso por pessoas com em que há desvio do caminho
deficiência. No Brasil, a norma que natural sem nenhum motivo.
regulamenta a acessibilidade a d) A disposição dos elementos
edificações, mobiliário, espaços no layout não depende
e equipamentos urbanos é a: das circulações.
a) NBR 9.050. e) A circulação forçada tem
b) NBR 10.068. o mesmo significado da
c) NBR 10.126. circulação natural.

ARQUIDICAS. Planta baixa: o guia completo. 2017. Disponível em: <https://www.


arquidicas.com.br/planta-baixa>. Acesso em: 30 out. 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA. O que é ergonomia. 2018. Disponível em:
<http://www.abergo.org.br/internas.php?pg=o_que_e_ergonomia>. Acesso em: 30
out. 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050 Regulamenta a
acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de
Janeiro: ABNT, 2015. Disponível em: <http://www.ufpb.br/cia/contents/manuais/abnt-
nbr9050-edicao-2015.pdf>. Acesso em: 30 out. 2018.
Layout e desenho de móveis para quartos e salas 17

BARI, O. Biblioteca de desenhos arquitetônicos em DWG disponíveis para download.


Archdaily, 1 jun. 2017. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/872666/
biblioteca-de-desenhos-arquitetonicos-em-dwg-disponiveis-para-download>. Acesso
em: 30 out. 2018.
CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2017.
CHING, F. D. K. Arquitetura de interiores ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
FARRELLY, F. Fundamentos de arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2013.
GALVÃO, A. Ergonomia aplicada a espaços interiores: salas. UFPR, 13 abr. 2018a. Disponível
em: <http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/
sites/28/2016/03/Sala-2.pdf>. Acesso em: 30 out. 2018.
GALVÃO, A. Desenho de mobiliário. 2018b. Disponível em: <http://www.exatas.ufpr.
br/portal/degraf_arabella/ceg220-desenho-de-mobiliario>. Acesso em: 30 out. 2018.
GALVÃO, A. Ergonomia: espaço interpessoal — proxêmica, layout, setorização e fluxos.
UFPR, 2016. Disponível em: <http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-
content/uploads/sites/28/2016/03/Prox%C3%AAmica-e-setoriza%C3%A7%C3%A3o.
pdf>. Acesso em: 30 out. 2018.
GRIMLEY, C.; LOVE, M. Cor, espaço e estilo: todos os detalhes que os designers de interiores
precisam saber, mas que nunca conseguem encontrar. Barcelona: Gustavo Gilli, 2017.
HENRY DREYFUSS ASSOCIATES. As medidas do homem e da mulher: fatores humanos
em design. Porto Alegre: Bookman, 2005.
INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL. Roteiro para desenvolvimento do projeto de
arquitetura da edificação. 2018. Disponível em: <http://www.iab.org.br/sites/default/
files/documentos/roteiro-arquitetonico.pdf>. Acesso em: 30 out. 2018.
MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.
uol.com.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

Leituras recomendadas
GALVÃO, A. Ergonomia aplicada a espaços interiores: dormitórios. UFPR, 2016. Disponível
em: <http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp-content/uploads/
sites/28/2016/03/Quarto.pdf>. Acesso em: 30 out. 2018.
KARLEN, M. Planejamento de espaços internos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
Conteúdo:
PROJETO DE
INTERIORES
COMERCIAIS

Vanessa Guerini Scopell


Boas práticas de design
em espaços comerciais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar a importância da comunicação com o cliente ao longo de


todo o projeto.
 Identificar os aspectos que devem ser considerados no projeto de
interiores comerciais.
 Exemplificar o bom uso do design de um estabelecimento comercial
de destaque no Brasil.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar sobre a necessidade da boa comunicação
entre o profissional e o cliente, o que colabora para um resultado final
satisfatório para ambos. Além disso, você vai verificar alguns importantes
aspectos que devem ser considerados em um projeto de interiores co-
mercial, o que denominaremos boas práticas, analisando a sua aplicação
em uma proposta destaque.

Comunicação no projeto de interiores


O arquiteto ou profissional que trabalha com projetos de arquitetura de in-
teriores deve ter o entendimento de que uma proposta de projeto representa
um sonho de uma pessoa. Para o arquiteto Pratini ([2018]), o sonho e o desejo
de cada pessoa podem estar aliados a diversos fatores, como estilo de vida,
lembranças, experiências ou quaisquer outros anseios que não devem ser
julgados, mas, sim, compreendidos pelo profissional.
Por isso que, na área da arquitetura, o fator psicológico deve ser levado em
consideração na proposição dos projetos. Segundo a arquiteta Fernanda Dias
Goi (GOI, 2015), no momento da projetação, é preciso levar em consideração
2 Boas práticas de design em espaços comerciais

diversos fatores além da técnica, como as circunstâncias e a subjetividade


implícita nos anseios do cliente. Segundo Goi (2015, documento on-line), para
analisar todos os aspectos de um projeto de arquitetura, “[...] é preciso misturar
criatividade com sensibilidade, indo além das tendências gerais, além da
simples repetição de receitas prontas e além da criação motivada unicamente
pelas próprias tendências. O que é bom para um pode não ser para o outro, e
as diferentes nuances de projeto são infinitas”.
Assim, é importante que cada profissional tenha a preocupação de perceber
as características, os gostos e os desejos de cada cliente, de maneira que o projeto
consiga representar essas questões. Para Pratini ([2018]), saber se comunicar com
o cliente e entender as suas necessidades é uma maneira de conseguir um bom
resultado ao final do serviço. Ainda conforme Pratini ([2018], documento on-line):

A construção de um projeto não é uma tarefa fácil para ambos, cliente e ar-
quiteto. É um processo no qual vêm à tona muitos daqueles sonhos, desejos
e fantasias que, muitas vezes, são conflitantes entre os próprios membros
da família e que acabam criando discórdias sérias. É um processo às vezes
sofrido e a relação, delicada, especialmente se for a primeira experiência do
cliente com a construção e com um arquiteto e/ou vice-versa. O arquiteto tem
que entender a relação e saber gerenciar esse processo.

Assim como em outras áreas, uma comunicação eficaz evita mal-enten-


didos e garante que o profissional esteja diretamente engajado na realização
daquele sonho. Segundo Mesquita (2017), existem algumas maneiras de tornar
a comunicação mais eficaz entre o profissional e o cliente, são elas:

 Saber falar e ter um amplo conhecimento sobre o assunto em questão.


Evitar discursos inseguros e que demonstram dúvidas, já que eles não
transmitem credibilidade. No diálogo, é sempre importante demonstrar
sua experiência por meio de outros projetos já elaborados.
 Demonstrar profissionalismo e seriedade por meio de um vocabulário
formal, evitando gírias e explicando termos técnicos que não estão
presentes no dia a dia do seu cliente.
 Ser objetivo e demonstrar as ideias claramente, sem transparecer agres-
sividade ou inflexibilidade.
 Saber ouvir, analisar e compreender tudo o que o cliente está informando.
Muitas vezes, por trás de uma frase sem pretensões, é possível descobrir
gostos, particularidades e experiências do seu cliente. É importante
refletir sobre os dados e analisá-los a fundo, compreendendo suas
relações com outras áreas.
Boas práticas de design em espaços comerciais 3

Outro ponto importante para esclarecer sobre a comunicação com o cliente,


segundo Pratini ([2018]), é que o profissional tem por intuito perceber os aspectos,
analisá-los e elaborar a solução mais adequada para o problema em questão, não
sendo o produto resultado de gostos e preferência do profissional. Ainda segundo
Pratini ([2018], documento on-line), “[...] um bom profissional cuidará de todos
os detalhes, fará um projeto adequado, belo e econômico, será um defensor e
um verdadeiro policial do dinheiro do cliente”. Além do mais, o autor destaca
que os profissionais são treinados a responder criativamente aos problemas,
e um profissional experiente certamente terá uma solução criativa para mais
este. Outro ponto enfatizado por Pratini ([2018]) é que a boa comunicação entre
o profissional e o cliente deve ser estabelecida desde o primeiro contato.

A descoberta da empatia e o estabelecimento dos laços de comunicação e


confiança se dão já no primeiro contato, quando o arquiteto ouve os desejos
do cliente, descreve a sua forma de trabalho, dá uma ideia geral de custos,
etc. Um arquiteto experiente, criterioso, atento, que inspire confiança, que
saiba escutar e que pergunte mais do que afirme numa primeira entrevista
é um bom candidato a estabelecer um ótimo relacionamento com o cliente
potencial (PRATINI, [2018], documento on-line).

Na maioria das vezes, o cliente sabe pouco do que quer, tendo bastante
dúvidas com relação a técnicas, custos, funcionamento e organização. Por
isso, Pratini ([2018]) acrescenta que uma boa comunicação é importante para
conseguir colaborar com a definição de questões básicas sobre as quais o
cliente não está refletindo ou não consegue chegar a uma conclusão sozinho.
É por meio dos primeiros contatos com o cliente que são definidos os pontos
que vão nortear a futura proposta. Para Pratini ([2018]), uma das primeiras infor-
mações que deve ser solicitada pelo profissional ao cliente é uma lista de ambientes
que ele imagina para o futuro espaço comercial. Essa listagem, denominada
programa de necessidades, será traduzida em atividades a serem exercidas no
local. A partir disso é que são discutidos os primeiros pontos do projeto, a fim
de o cliente perceber se os ambientes listados são suficientes, se estão dentro do
orçamento e se podem ser racionados ou não. Além disso, a comunicação entre
profissional e cliente tem por objetivo a compressão de outros aspectos, como o
estilo de vida do cliente e a intenção do seu estabelecimento comercial.

Após isso, o arquiteto pode lançar o que se chama “partido arquitetônico”, ou


seja, um desenho da primeira ideia do que será o projeto em termos de área,
distribuição dos compartimentos, circulação e fluxos, etc. Uma vez discu-
tido e ajustado, o partido, como o nome diz, serve de ponto de partida para
o desenvolvimento do projeto final (PATRINI, [2018], documento on-line).
4 Boas práticas de design em espaços comerciais

Para Goi (2015), ter a percepção apurada sobre o que não é explicitado pelo
cliente contribui para uma proposta mais acertada. A partir da assimilação
sobre o cliente, das suas atitudes, comportamentos, roupas e rotina será
possível realizar algumas definições de alternativas. Para Pratini ([2018],
documento on-line), “[...] as alternativas vão-se excluindo ou justapondo
à medida que vão sendo identificados mais profundamente os traços dos
estilos de vida”.
Após essa comunicação inicial e algumas definições, será possível pros-
seguir com o processo projetual, gerando os desenhos e detalhes necessários
para a execução do empreendimento. Pratini ([2018]) ressalta que uma boa
comunicação é fundamental em todo o processo de projeto e também durante
a sua execução. Apesar de já haver definições no campo dos desenhos, no
decorrer do processo vão surgindo variadas possibilidades de materiais, for-
necedores, prazos, custos, entre outros aspectos. Com uma boa comunicação
é possível ir direcionando o cliente para as melhores escolhas, deixando-o
sempre ciente dos prós e contras de cada alternativa.

A primeira impressão é a que fica


A percepção inicial sobre o arquiteto tem grande influência em uma possível con-
tratação. Caso o acordo seja fechado, essa impressão vai marcar a dinâmica de todo o
relacionamento com o cliente. É importante, no encontro, mostrar-se aberto a solucionar
as necessidades do contratante de maneira prática e realista. Fuja de ideias que você
sabe que dificilmente vão poder ser realizadas dentro daquele projeto — considere
o tempo disponível, o orçamento, dentre outros aspectos. É importante não cair na
tentação de dar dicas e sugestões práticas na primeira reunião. Esse é o momento
de ouvir e procurar converter, posteriormente, os anseios em soluções. Foque-se em
prestar atenção nas necessidades do cliente (RELACIONAMENTO..., 2017).

O perfil do cliente precisa ser entendido


Ter bem estabelecido o nicho de mercado de atuação é fundamental para otimizar
e qualificar o trabalho do arquiteto. Dessa maneira, você pode se concentrar nas
necessidades e preferências gerais de um grupo, obtendo maior nível de especialização
e de desenvoltura ao oferecer serviços. Por meio da compreensão do público-alvo,
o profissional também garante maior destaque frente à concorrência, uma vez que
o diferencial competitivo é fortalecido. O objetivo de escolher um nicho é conseguir
obter um destaque em meio a tantos profissionais de um mesmo ramo (RELACIO-
NAMENTO..., 2017).
Boas práticas de design em espaços comerciais 5

O plano de comunicação e o relacionamento com o cliente


Elaborar uma ideia e concretizá-la dependem totalmente do diálogo aberto entre
arquiteto e cliente. A conversa clara viabiliza a realização dos sonhos do contratante, o
que facilita a trajetória do primeiro encontro à entrega do projeto. O diálogo deve ser
construído a partir de dois pontos. O primeiro consiste no engajamento do público
para que, posteriormente, haja a desejada primeira reunião — o segundo ponto de
diálogo. A maioria dos clientes é alcançada por meio de recomendações de antigos
consumidores, o que destaca a importância, dentre outros aspectos, da boa comuni-
cação (RELACIONAMENTO..., 2017).

Aspectos relevantes no projeto de interiores


comerciais
No momento de projetar os ambientes comerciais, é necessário embasamento
técnico, referências de projetos já realizados e uma análise profunda de variados
aspectos. A arquitetura, por ser uma disciplina complexa, requer o aprofunda-
mento de critérios e alternativas, que devem ser voltadas sempre para o conforto
do usuário da edificação. Segundo Nascimento (2011, documento on-line):

O projeto de interiores visa o planejamento da decoração para resolver tanto


problemas técnicos [...] quanto estéticos, abrangendo uma série de necessidades
para melhorar a qualidade cotidiana. [...] Os fatores objetivos são os regidos
pelas normas técnicas, medidas ergonométricas, pela topografia e clima. Já
os subjetivos estão ligados à utilização do espaço e quais as atividades que
serão realizadas no mesmo de acordo com as preferências pessoais de quem
o ocupará. [...] Esse planejamento engloba estudo da circulação e distribui-
ção do mobiliário, projeto de iluminação, escolha adequada de acabamentos
e revestimentos, detalhamento de teto e piso, escolha de tecidos, objetos e
acessórios, desenho de mobiliário e peças especiais.

Segundo Panatto (2011), um projeto de interiores envolve várias etapas,


incluindo a entrevista com o cliente para identificação das suas necessidades,
o levantamento de informações do local (verificação de plantas e medidas), a
apresentação de leiaute, plantas, perspectivas e orçamentos para aprovação por
parte do cliente, com o posterior detalhamento de todas as soluções propostas e
a execução do projeto propriamente dito. Diante disso, existem alguns aspectos
fundamentais que sempre devem ser considerados na elaboração de um projeto
6 Boas práticas de design em espaços comerciais

de interiores comercial. Em um primeiro momento, é importante entender


os objetivos do projeto. Segundo Radamarker ([2018], documento on-line):

[...] o ambiente deve ser planejado com características que despertem no


consumidor a vontade de adquirir determinado produto. Deve-se levar em
consideração o ponto em que a loja será construída, os consumidores que serão
o público-alvo e o tipo de mercadoria que será comercializada.

Um ponto importante a ser considerado em um projeto comercial diz


respeito à definição do leiaute ou planta baixa da proposta comercial. O pro-
grama de necessidades e as medidas usuais são importantes para se elaborar o
leiaute, privilegiando as circulações e a acessibilidade. Para o arquiteto Flavio
Radamarker (RADAMARKER, [2018], documento on-line), na maioria dos
casos “[...] a circulação só é pensada como o espaço útil onde o consumidor
transita, mas deve ser considerado também o local onde o consumidor para
na frente do produto”. Além disso, o tamanho e o tipo adequado de acesso, a
distribuição do mobiliário expositor e o posicionamento de elementos, como
o caixa, são alguns dos pontos-chave no leiaute.
A escolha do piso também é um aspecto que deve ser levado em consi-
deração nos projetos de interiores comerciais, devendo ser combinado com o
restante da proposta. Para Radamarker ([2018]), nesse item, é importante pensar
na estética e segurança dos clientes e funcionários. “Nos ambientes comerciais,
a resistência e manutenção também são pontos-chave, pois o varejista deve
otimizar o emprego do mínimo de tempo e recursos necessários nas atividades
referentes a estes itens” (RADAMARKER, [2018], documento on-line).
Com relação às alternativas para iluminação, Radamarker ([2018]) ressalta
que é importante escolher lâmpadas que iluminem os produtos e destaquem
pontos importantes do projeto, bem como lâmpadas de iluminação geral para
circulações e acessos. Para Neves (2000), a luz pode revelar formas, planos,
espaços tridimensionais e mobiliários e pode afetar profundamente a sensação
de bem-estar e de motivação das pessoas. Isso influencia a percepção de
todos os outros elementos e evoca diversas sensações. Segundo Radamarker
([2018], documento on-line):

É possível direcionar o fluxo do consumidor pela loja com técnicas de ilu-


minação. O material indicado para essa atividade são lâmpadas sem um foco
definido no piso, que proporcionem iluminação difusa. Já para os produtos, a
iluminação serve para destacar as peças e chamar a atenção dos consumidores.
Podem ser usados spots com elementos de angulação que ajudam a ressaltar
o material comercializado.
Boas práticas de design em espaços comerciais 7

A escolha das cores é outro ponto-chave nas propostas comerciais, pois trata-se
de ferramentas bastante versáteis para a arquitetura. Usar a cor correta para cada
objetivo específico garante o sucesso do projeto, pois as cores estão diretamente
ligadas às sensações. Conforme Radamarker ([2018], documento on-line):

[...] as escolhas corretas e o equilíbrio no uso trazem ótimos resultados na


criação de um agradável e eficiente espaço de varejo. Sendo diretamente
influenciadas pela luz, as cores do ambiente de varejo deverão sempre ser
pensadas levando-se em conta a iluminação deste espaço.

Para Goldman (1964), a cor é também dimensão, porque aumenta ou dimi-


nui aparentemente as dimensões de um ambiente, afastando ou aproximando
objetos. Com o uso da cor, as distâncias visuais podem se tornar relativas;
por exemplo: tons claros nas paredes dão a impressão de um ambiente mais
amplo, enquanto tetos escuros parecem mais baixos.
As cores, quando utilizadas de forma específica, podem alterar visu-
almente a percepção espacial de um projeto. A escolha de determinada
cor para uma loja, por exemplo, pode ser parte de um processo racional, e
não meramente intuitivo dentro do projeto. A escolha da cor pode seguir
um determinado propósito, não somente uma função decorativa. Segundo
Radamarker ([2018], documento on-line), “[...] lojas de padrão mais elevado
tendem a usar cores mais sofisticadas, como preto, marrom e cinza”. Já no
comércio popular, pode-se usar tons mais chamativos, com tendência de
carregamento visual maior.
Uma questão que vem sendo bastante considerada, junto com outros
aspectos, diz respeito aos cheiros e sons dos ambientes. Cada vez mais esses
recursos vêm sendo utilizados para fidelizar clientes e gerar sensações dentro
do espaço comercial. Radamarker ([2018]) explica que os odores provocam
reações imediatas no indivíduo, mesmo que de forma inconsciente. “Investir
em essências exclusivas para perfumar uma loja é uma forma de se fixar
na memória olfativa do cliente, que vai associar a marca às características
do aroma que está no ar” (RADAMARKER, [2018], documento on-line).
Os sons também podem ser explorados, pois soluções confortavelmente
acústicas, segundo Radamarker ([2018]), podem estimular as pessoas a
consumirem mais.
Tanto os revestimentos como leiaute, cores, luzes, cheiros e sons são im-
portantes aspectos que trabalham com a percepção do usuário em relação ao
ambiente. Os elementos e as decisões arquitetônicas, além de contribuírem
para o conforto e o consumo nesses locais, são também uma maneira de repre-
8 Boas práticas de design em espaços comerciais

sentar os objetivos e a visão das empresas, de forma que o cliente, percebendo


o ambiente, entenda qual é o tipo de serviço que a empresa oferece. Desse
modo, bons estudos arquitetônicos têm o poder de vender a ideia do negócio
e fazer com que as pessoas se sintam bem nos espaços.

É muito importante entender como os usuários de determinado espaço percebem


o local e o que sentem quando permanecem nele, para assim poder compreender
de que modo esse ambiente influencia no comportamento e nas sensações das
pessoas. A autora Bins Ely (ELY, 2003) afirma que a influência do ambiente construído
no comportamento está relacionada tanto às exigências da tarefa a ser realizada no
ambiente como às características e necessidades do usuário. Assim, quando todos
os aspectos são pensados e analisados, é possível criar propostas adequadas a cada
realidade, que permitem ao espaço comercial se destacar em meio aos demais.

Projeto comercial destaque


Atualmente existem vários projetos que são exemplos de boas práticas
de design de interiores. Utilizando recursos de decoração e analisando os
aspectos como cores e iluminação, é possível criar espaços aconchegantes,
vivos e integrados, onde os usuários podem se sentir confortáveis e serem
induzidos ao consumo. Um bom exemplo de projeto comercial no Brasil é
o projeto da Livraria Saraiva, elaborado pelo escritório do arquiteto Arthur
Casas (Figura 1) (CASAS et al., 2014). Essa proposta foi criada e executada
no ano de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, e conta com aproximadamente
dois mil metros quadrados de construção.
Segundo a equipe do arquiteto responsável, a livraria foi pensada como
um híbrido entre uma praça e uma biblioteca, um lugar de convívio, lazer,
concentração e repouso ao mesmo tempo. Por meio de uma arquitetura
simples e convidativa, o objetivo da proposta foi “[...] se perder entre os
livros e elevar o espírito”, conforme explica Casas et al. (2014, documento
on-line). Outra ideia do escritório foi proporcionar flexibilidade ao projeto,
evitando percursos monótonos e possibilitando espaços aconchegantes
Boas práticas de design em espaços comerciais 9

que convidam as pessoas a permanecerem. Conforme Casas et al. (2014,


documento on-line), a loja é

[...] distribuída por quatro andares, o visitante entra por um espaço com pé-
-direito duplo, no qual estantes e expositores parecem levitar para dar destaque
aos livros e objetos. Prateleiras suspensas por trilhos correm por entre as
seções, trazendo maior flexibilidade na configuração do leiaute.

Figura 1. Projeto comercial da Livraria Saraiva — espaços de convívio.


Fonte: Casas et al. (2014, documento on-line).

Como revestimento de piso, foi escolhido um porcelanato acetinado em


tom mais escuro, que facilita a manutenção. Segundo a equipe do projeto, o
piso escolhido, uma cerâmica desenvolvida especificamente para a Saraiva,
acentua esse efeito da iluminação e confere leveza à loja. A madeira, presente
10 Boas práticas de design em espaços comerciais

em todos os espaços, é o pano de fundo ideal para a variedade de cores e


texturas dos objetos e, apesar de neutra, traz calor e conforto. Segundo Casas
et al. (2014, documento on-line):

Os expositores foram pensados para que uma ou outra obra não prevalecesse
diante das demais. Os olhos do visitante percorrem diferentes alturas, com
espaços ocupados por objetos que remetem a diferentes temas, as lombadas
inferiores desenhadas para que seja possível ver os títulos que estiverem mais
próximos do chão. Poltronas e pufes permeiam os percursos da livraria, num
misto de exposição de um pouco da história de nosso design e um convite
para que os leitores concentrados ou esparramados se esqueçam do tempo.

Nos dois mil metros quadrados de área, existem ambientes específicos


para crianças, onde foram usados expositores de formatos orgânicos, que
se adaptam a diversos suportes. Além disso, nesse espaço, segundo Casas,
foi criada uma rampa orgânica e colorida, que tem por objetivo convidar as
crianças a percorrerem os títulos (Figura 2).

Figura 2. Espaço infantil da Livraria Saraiva.


Fonte: Casas et al. (2014, documento on-line).
Boas práticas de design em espaços comerciais 11

Além das poltronas confortáveis, da padronização dos revestimentos


e da disposição do leiaute, que permite circulações confortáveis e convi-
dativas, o projeto se destaca pelo uso das cores e da iluminação. Nota-se
que se optou pelo tom da madeira, pelo cinza e por outras cores neutras,
a fim de deixar os itens da livraria em destaque. Conforme o arquiteto
Arthur Casas, além da iluminação geral, foram utilizados pendentes em
pontos específicos do projeto e uma iluminação indireta que realça alguns
pontos do mobiliário, como as prateleiras e a parte inferior dos módulos
centrais (Figura 3).

Figura 3. Iluminação da Livraria Saraiva.


Fonte: Casas et al. (2014, documento on-line).

Percebe-se que as decisões de um projeto de interiores comercial estão


ligadas a funções, intenções e sensações, não sendo alternativas ligadas somente
à estética. Todos os aspectos vão além das aparências e têm por objetivo chegar
a uma proposta adequada às necessidades de cada espaço, visando sempre ao
bem-estar dos usuários.
12 Boas práticas de design em espaços comerciais

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