o Populismo Ontem e Hoje

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O POPULISMO ONTEM E HOJE1 8

Armando Barreiros e Silva

1. INTRODUÇÃO

O populismo é um fenômeno eminentemente político, no entanto,


é objeto de estudo de diversas outras áreas como a Sociologia, o Direito, a
Comunicação Social, a História, entre outras. A palavra populista está cons-
tantemente presente nos meios de comunicação, mas não necessariamente
é empregada de forma correta ou mesmo contextualizada, às vezes, é uti-
lizada de forma pejorativa, como um xingamento, outras vezes, é confun-
dida com o conceito político de clientelismo, que tem significado diverso,
isto quando não chamam de populista absolutamente qualquer coisa. Tal
fato acaba por contribuir, em parte, para a confusão que cerca o populismo,
mas por outro lado, dentro da própria academia, o populismo é debatido
amplamente e conta com demasiado alargamento conceitual. Não há, de
antemão, nada de errado nas diversas abordagens, tão somente, a conse-
quência que têm certo desajuste no conceito.
Outro aspecto importante a ser sublinhado, é que o populismo não
tem absolutamente nada de novo ou inédito, ele é cíclico não apenas nas
Américas, como também, no mundo. Posturas caricatas e falas inconse-
quentes que chamaram a atenção recente do mundo para atores políticos
das Américas, já haviam sido, de maneira similar, manifestadas por políti-
cos de partidos europeus, dez anos antes e por atores políticos latino-ame-
ricanos, vinte, trinta anos atrás. O espectro político, no qual caminham os
populistas, também, não é percebido de forma tão óbvia, há quem associe
a manifestação populista a um lado do espectro político, por determinado

1. Todas as traduções de textos e livros em inglês para português foram feitos pelo autor.

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ator populista vinculado à determinado lapso temporal e em determina-
do espaço físico, quando na verdade, o populismo transita entre ambos os
polos do espectro político, em diversos países de diferentes continentes e
com contextos sociopolíticos e socioeconômicos diversos.
Observando esses fatos, o presente texto tem o objetivo de mostrar
o atual estado da arte, do tema do populismo dentro da academia mundial,
elucidar o conceito de populismo, por meio da abordagem que entende-
mos mais promissora para conceituar o fenômeno e contextualizar o popu-
lismo no tempo e espaço, dando uma dimensão mais ampla do que engloba
o fenômeno populista e suas manifestações ao redor do mundo com uma
atenção especial e merecida à América Latina.

2. UM CONCEITO CONTESTADO

O populismo é um conceito contestado e permanece em disputa até en-


tão (RAADT et al, 2004; WEYLAND, 2001; DE LA TORRE, 2017; KALTWASSER,
2014). A realidade multifacetada do fenômeno populista e a diversidade de
suas manifestações estimula um amplo debate acadêmico, que ainda não foi
completamente superado. A falta de uma definição inequívoca fez com que al-
guns investigadores chegassem a cogitar o abandono do conceito (ASLANIDIS,
2018). No decorrer do tempo houve manifestações do fenômeno, em diferen-
tes países e continentes, o que atribui ao populismo uma característica “cama-
leônica” (TAGGART, 2004, p.275). As análises do populismo foram feitas sobre
candidatos, movimentos e partidos políticos nos mais variados espectros polí-
ticos (AALBERG; DE VREESE, 2017).
A amplitude do tema em tempo e espaço teve como consequência di-
versos posicionamentos dentro da academia que foram se desenvolvendo
no decorrer de décadas, por exemplo, observa-se a variação e alargamento
do conceito no trecho do autor argentino Ernesto Laclau que ao comentar
o trabalho de Margaret Canovan (1981) aponta que “inclui fenômenos tão
disparatados quanto o populismo americano, os narodniks russos, os movi-

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mentos agrários europeus surgidos logo após a Primeira Guerra Mundial, o
Crédito Social na província canadense de Alberta e o peronismo na Argentina,
entre outros” (LACLAU, 2013, p.35). A própria autora em trabalho posterior
também comentou sobre esta incrível diversidade do populismo, apontando
que seria difícil imaginar que atores e partidos políticos como “Tony Blair,
Hugo Chávez Jean Marie Le Pen, Narodniks russos e o Partido do Povo Ame-
ricano tivessem em comum algum parentesco político” (CANOVAN, 2004,
p.234). Mas eles têm, todos foram populistas.
É possível identificar o populismo no tempo, espaço físico e espectro
ideológico ao redor do mundo, por mais diferente que seja o contexto no
qual o fenômeno se manifestou, porque o populismo em sua forma pura
é incompleto e flexível e se interrelaciona com outros conjuntos de ideias
que são mais densas ou completas do que ele por si só. Isto faz com que ao
emergir, surja ligado a outras ideologias e é precisamente por este motivo,
que já foram identificados populistas “revolucionários e reacionários, de
esquerda e de direita e autoritários e libertários” (TAGGART, 2004, p.275).
Todavia, não se trata de um fenômeno abstrato, pois há caracterís-
ticas que todos esses atores populistas compartilham, dentre elas, a ima-
gem da vontade geral do povo que eles pensam representar, “o populista
tem uma imagem cuidadosamente elaborada sobre o povo pelo qual ele
fala em nome” (MUDDE; KALTWASSER, 2017, p.98). Ademais, eles também
se apresentam como sendo os “verdadeiros democratas” (ALBERTAZZI;
MCDONELL, 2008, p.4). Os populistas se enxergam como verdadeiros de-
mocratas sob a perspectiva da democracia direta, eles entendem falar em
nome de um povo homogêneo e defender a vontade desse povo em abstra-
to, assim sendo, eles seriam os verdadeiros democratas por quererem que
a vontade da maioria do povo que eles pensam representar seja realizada.
Após décadas de pesquisa pode-se dizer que há principalmente três
linhas de abordagem que se destacaram para a definição do populismo,
elas foram apontadas na revisão de literatura de Gidron e Bonikowski
(2013) e são, Ideologia Política (MUDDE, 2004); Estilo Político (LACLAU,
2005) e Estratégia Política (ROBERTS, 2006; WEYLAND 2001; JANSEN,

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2011). A definição do populismo como uma ideologia política consiste em
uma definição mínima que explica o populismo enquanto uma ideologia de
baixa densidade que pode entrar em contato com outras ideologias mais
densas em suas manifestações, neste aspecto o populismo seria uma vi-
são de mundo. O populismo enquanto estilo político está baseado em uma
retórica que constrói a política através de uma luta moral e ética entre o
povo e a oligarquia e por fim, o populismo enquanto estratégia política se
baseia na ideia de que os políticos escolhem fazer suas políticas com base
nos interesses de eleitores medianos criando assim um apelo eleitoral que
favoreça suas candidaturas.
Há ainda outras abordagens que procuraram trabalhar uma defini-
ção do conceito de populismo, a estruturalista (GERMANI, 1978) pressu-
põe que o populismo surge devido transformações no nível sócioestrutu-
ral, ou seja, o populismo é concebido como resultado de um modelo de
desenvolvimento econômico que enseja o surgimento de classes sociais
heterogêneas e muitos setores marginalizados e a econômica (EDWARDS,
2010) que tem a compreensão de que os líderes populistas promovem um
desastroso desenvolvimento macroeconômico, isto é, ao estarem no poder
se utilizam do cargo para fomentar políticas econômicas redistributivas
em favor dos mais pobres, a consequência dessas políticas é o aumento de
dívida e inflação.
Pese embora estas abordagens, a falta de consenso persiste. Em ou-
tras palavras, não há um assenso uníssono de uma abordagem conceitual
do populismo, elas seguem ocorrendo em diferentes perspectivas. Há au-
tores que observam falhas na redução do populismo à uma ideologia mo-
ralista e entendem que a abordagem não se situa bem ao ser utilizada em
diferentes continentes ou mesmo nos partidos recentes surgidos na Euro-
pa que são partidos de massas (DE LA TORRE; MAZZOLENI, 2019; MOFFIT;
TORMEY, 2014), no que pese esta posição, os próprios autores reconhecem
que a abordagem ideacional é a mais proeminente no mundo acadêmico,
mesmo que contestem se há de fato viabilidade em preterir as abordagens
de estilo político e estratégia política.

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Por outro lado, há estudos constatando que a abordagem do popu-
lismo como ideologia tem se demonstrado frutífera ao ser replicada em
diferentes locais do mundo, inclusive na América Latina onde os trabalhos
feitos nesse sentido foram promissores, ao definir o populismo em termos
ideacionais semelhantes a definição discursiva usada historicamente nos
estudos de populismo latino-americanos (HAWKINS; KALTWASSER, 2017).
Ademais, sob a perspectiva histórica a discussão do conceito de populis-
mo está mais avançada do que nunca, mesmo não havendo um consenso,
“atualmente há muito menos controvérsia sobre como definir populismo
do que nunca” (AKKERMAN; MUDDE; ZASLOVE, 2013, p.3).

2.1 O populismo definido


Finalmente, o populismo é uma ideologia de baixa densidade que
“considera a sociedade, em última análise, separada em dois grupos ho-
mogêneos e antagônicos, ‘o povo puro’ versus ‘a elite corrupta’, e que argu-
menta que a política deve ser uma expressão da volonté générale (vontade
geral) do povo” (MUDDE, 2004, p.543). O que se afere do conceito ideacio-
nal do populismo é que ele é uma ideologia de baixa densidade com três
conceitos nucleares: o povo, a elite e a vontade geral.
O povo pode ter três significados, o povo como soberano, o povo
como pessoas comuns e o povo como nação. O povo como soberano ba-
seia-se na ideia da democracia moderna do povo como última fonte do po-
der político, ou seja, como governante; O povo enquanto pessoas comuns
é uma combinação entre o estatuto socioeconômico, as tradições culturais
e valores populares específicos e por fim, o povo enquanto nação se refere
à uma comunidade nacional definida em termos cívicos e étnicos. A elite
também é definida com base no poder, assim sendo, compõem a elite indi-
víduos que têm um lugar de destaque na política, economia e mídia. Outras
maneiras de definir a elite para os populistas são em termos econômicos e
nacionais, para eles a elite não apenas ignora os interesses do povo puro,
mas também age contra os interesses do seu próprio país, isto porque a
distinção principal do populismo é moral, mas os agentes populistas se uti-

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lizam de vários critérios secundários para distinguir entre povo e elite. A
vontade geral advém da noção deste conceito específico da política identi-
ficado em Rousseau (1712-1778) no sentido de que o povo ao se juntar em
uma comunidade e legislar poderia fazer prevalecer o interesse comum, ou
seja, uma vontade geral. Se dentro da lógica populista a vontade do povo
puro se contrapõe a vontade da elite corrupta, consequentemente há uma
vontade do povo comum ou puro e é esta vontade, na concepção populista,
que deverá prevalecer (MUDDE; KALTWASSER, 2017).
A abordagem ideacional do populismo enquanto uma ideologia de
baixa densidade demonstra porque ele é tão maleável no mundo real, o
conceito ideológico do populismo é limitado e seu surgimento se dá ne-
cessariamente ligado a outros conceitos e famílias ideológicas mais densas
ou completas, por meio da articulação dos seus três conceitos nucleares
com as ideologias operantes no contexto sociocultural e socioeconômi-
co no qual ele vier a emergir. Sendo o populismo uma ideologia de baixa
densidade ele não pode oferecer respostas concretas à muitas questões do
mundo político, assim sendo, ele se torna um conceito ideológico limitado,
por isto mesmo ele necessita de uma ideologia hospedeira que será uma
ideologia mais densa.
A visão maniqueísta de um povo bom em contraponto à uma elite
corrupta faz com que dependendo do campo e discurso político no qual o
populismo surge essas abstrações de povo e elite sejam personificadas em
formas diferentes, nesse sentido é apontado que “a abordagem discursiva
ou ideológica permite distinguir diferentes subtipos de populismo” (KALT-
WASSER, 2014, p.496). Ademais, Ben Stanley ao corroborar com o aspecto
conexo entre ideologias de baixa e alta densidade da abordagem ideacio-
nal, observou que por mais baixa e difusa que seja a densidade da ideologia
populista, ela possui uma estrutura interpretativa distinta e que pode ser
identificada em todas as suas manifestações (STANLEY, 2008).
Por outras palavras, a articulação populista consiste basicamente
em um discurso que fala em nome de um povo puro, que é contraposto a
uma elite corrupta e má que exerce o poder, a finalidade populista é derru-

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bar esta elite e substituí-la no poder, implantando a vontade geral do povo
puro e homogêneo, que os atores e partidos populistas pensam represen-
tar. Isto seria o populismo em seu estado puro, mas o fenômeno populista
dificilmente existe sozinho, ou seja, baseado tão somente nos conceitos de
povo, elite e vontade geral. É inerente a lógica populista a visão maniqueís-
ta de povo, se eles se contrapõem a determinada elite existe uma razão
para o povo imaginado ser bom e a elite ser má e, portanto, haverá sempre
características coexistentes com o populismo que definirão o povo puro
e bom que se contrapõe a elite má ou corrupta e é precisamente por isto
que o populismo ao emergir aparece associado a ideologias mais densas
e completas que irão preencher a ideologia populista de baixa densidade
que, por si só, não carece de nenhum significado se não a articulação entre
os conceitos nucleares em abstrato.
É necessário também notar, que as ideologias servem como um
mapa mental para os indivíduos de determinada sociedade perceberem
os assuntos públicos nos quais eles estão inseridos (CANOVAN, 2004;
MUDDE; KALTWASSER, 2017). Além disso, há de se considerar, que todas
as ideias políticas, ou seja, as próprias ideologias como visão de mundo,
são moldadas por circunstâncias históricas e sociais nas quais as ideali-
zações políticas surgem, neste aspecto, a teoria e a prática política são
inseparáveis (HEYWOOD, 2012). Por fim, deve-se observar que o popu-
lismo somente pode emergir onde houver instituições e ideias de política
representativa, pois são estas que podem fazer com que ele se torne uma
força política (TAGGART, 2004).
Portanto, quando surgir um fenômeno populista ele aparecerá em
democracias e necessariamente irá se associar às questões políticas e ideo-
lógicas que estão no centro do debate político destas sociedades e, conse-
quentemente, as ideologias mais amplamente divulgadas e que constituem
a formação partidária dos países ao redor do mundo são ideologias clássi-
cas usualmente expostas dentro do espectro político da esquerda à direita,
não para menos, as pesquisas acadêmicas que se debruçaram sobre o tema
do populismo o relacionam a estas ideologias clássicas situadas no espec-

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tro político da esquerda (MARCH; MUDDE, 2005; MARCH, 2008; MARCH,
2011; OSLON, 2017) e na direita (MUDDE, 2017a; KITSCHELT, 2017; BLEE,
2017; CARTER, 2018).

3. O POPULISMO NO MUNDO

As primeiras identificações do fenômeno populista vêm ainda do


século XIX com o movimento dos Narodniks russos e o Partido do Povo
Americano nos Estados Unidos. Os narodniks, eram intelectuais urbanos
de classe média que ao se inspirarem na literatura e poesia russa, criaram
uma representação positiva do estilo de vida e cultura dos camponeses
russos, caracterizados como pessoas simples, trabalhadoras, religiosas e
que viviam modestamente no campo, em contraponto aos excessos e deca-
dência do estilo de vida urbano da época. Estes intelectuais identificavam
nos camponeses uma espécie de socialismo e uma identidade cultural a ser
preservada (TORMEY, 2019). Já aqui se identificava o núcleo central do po-
pulismo, uma divisão maniqueísta entre um povo bom e uma elite má, isto
é, o povo simples do campo e abastados hedonistas de grandes centros ur-
banos. O Partido do Povo Americano, também conhecido como Partido do
Povo, Partido Populista e Populistas Originais, é identificado como um dos
primeiros partidos populistas dos Estados Unidos da América, sua base foi
formada por pequenos agricultores rebeldes que se posicionavam contra a
escravidão e a bebida alcóolica, mas o cerne da sua retórica era uma defesa
radical e irrestrita de produtores rurais e urbanos, assalariados e autôno-
mos (KAZIN, 2017).
O espectro político do populismo não é menos variado do que os es-
paços físicos em que ele se manifesta. Diversos acadêmicos se debruçaram
sobre o tema e identificaram uma infinidade de partidos, atores e movimen-
tos populistas em diferentes países e continentes, tanto à esquerda quanto
à direita, e que a título de exemplo, podemos citar na direita do espectro
político, Vlaams Bloc/Vlaams Belang’s (VB) na Bélgica (DE CLEEN, 2013),

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True Finn Party, Perussuomalaisten (PS) na Finlândia (ARTER, 2010), Do-
nald Trump nos Estados Unidos (NAI; MARTINEZ; COMA; MAIER, 2019),
Brexit na Inglaterra (NORRIS; INGLEHART, 2019), Austrian Freedom Party
(FPÖ) na Áustria, Front National (FN) na França, Alliance of Young Demo-
crats-Hungarian Civic Movement (Fidesz-MPS) na Hungria (MUDDE, 2007).
Entre os partidos populistas de esquerda, The Left Party (LP) na Alemanha,
Socialist Party (SP) na Holanda e o Scottish Socialist Party no Reino Unido
(MARCH, 2011). Cumpre frisar que este rol é tão somente exemplificativo.
Os latino-americanos contam com uma vasta lista de líderes popu-
listas, alguns deles são Getúlio Vargas, no Brasil; Juan Domingo Perón, Nes-
tor e Cristina Kirchner, na Argentina; Jorge Eliécer Gaitan e Gustavo Rojas
Pinilla, na Colômbia; Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela; Rafael
Correa, no Equador; Evo Morales, na Bolivia; Fernando Lugo, no Paraguai
e Manuel López Obrador, no México (ÁLVAREZ; KAISER, 2019). A América
Latina é historicamente um campo fértil para o populismo emergir, não
para menos foi mencionada como a “terra do populismo” (DE LA TORRE,
2017, p.196), pois conta com uma longa história de fenômenos populistas
manifestados nos países que compõem a região, como observa Cristóbal
Rovira, “comparada ao resto do mundo, a América Latina é provavelmente
a região que possui a mais rica tradição de líderes, movimentos e partidos
populistas” (KALTWASSER, 2014, p.501).
A história do populismo no Brasil não é dissociada do populismo
na América Latina, o país contou com líderes populistas que marcaram a
história da nação, dentre eles podemos citar Getúlio Vargas que chegou ao
poder na década de 1930 (KALTWASSER, 2014, p.497), Leonel Brizola foi
um populista no espectro da esquerda política (WEYLAND, 2001, p.7-8;
BETHELL, 2018, p.189) e Fernando Collor de Melo que foi um populista
neoliberal e chegou ao poder na década de 1990 e é identificado no es-
pectro político da direita como um outsider (DE LA TORRE, 2017, p.198;
BETHELL, 2018, p.189).
Em 1992 Fernando Collor passou por um processo de impedimento
que o levou a renunciar o seu mandato, o vice-presidente Itamar Franco

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assumiu o cargo até 1995, ano em que houve novas eleições, no qual Fer-
nando Henrique Cardoso foi eleito pelo Partido da Social Democracia Bra-
sileira e reeleito em 1998, sendo sucedido por Luiz Inácio Lula da Silva do
Partido dos Trabalhadores em 2003 e em seguida por Dilma Vana Rousseff
do mesmo partido e que foi impedida em 2016. Por 26 anos, os dois prin-
cipais partidos políticos do país ocuparam o poder executivo, nesse espaço
de tempo ocorreram eventos importantes como o Mensalão e a Operação
Lava-jato que contribuíram para a desmoralização da classe política e espe-
cificamente para a cassação do mandato de Dilma Roussef. Ademais, neste
ínterim, as Jornadas de Junho em 2013 mudaram fortemente o cenário po-
lítico, inclusive o monopólio da esquerda em relação a participação política
(AVRITZER, 2016). Este marco contextual é importante para entender a
ascensão de outro populista brasileiro, Jair Bolsonaro. Há fortes indícios de
que uma crise de legitimidade em um sistema representativo constitui um
terreno fértil ou até mesmo é uma condição para o surgimento do fenôme-
no populista (TAGUIEFF, 1997; ARDITI, 2005).
Jair Bolsonaro era um político de baixo clero, deputado federal desde
1991, não teve grande atuação na câmara em relação a aprovação de proje-
tos de lei, ganhou destaque e ficou conhecido entre o eleitorado brasileiro
por declarações não convencionais e posicionamentos polêmicos a respeito
de pautas identitárias e minorias, depois passou a denunciar os partidos
políticos que estavam há mais de vinte anos no poder, envolvidos em diver-
sos escândalos de corrupção, que foram amplamente divulgados por meio
dos meios de comunicação. As declarações e posicionamentos de Jair Bol-
sonaro fez com que fosse associado a Donald Trump e a outros políticos da
extrema-direita no mundo, tais como Narenda Modi, primeiro-ministro da
Índia e Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel (MUDDE, 2019).
Neste capítulo é feito um apanhado do populismo no mundo, desde
suas primeiras identificações até os populismos atuais. A supracitada na-
tureza camaleônica do populismo fica bastante evidente quando se depara
com a diversidade de atores, partidos e movimentos populistas ao redor
do mundo.

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Aproveita-se para se destacar que, a abordagem ideacional, por
meio dos seus três conceitos nucleares relacionados a ideologias mais
densas, forma subtipos de populismo, e isto permite com que as variadas
manifestações populistas possam ser analisadas no mundo inteiro. Cada
uma surgirá com determinadas características próprias, mas a ideologia
de baixa densidade estará presente e, dependendo da ideologia hospedeira
com a qual ela se relacionar, um subtipo específico de populismo emergirá.

4. O POPULISMO NA AMÉRICA LATINA

Como já observado acima, o continente latino-americano conta com


uma das maiores, se não a maior tradição populista do mundo. São identi-
ficadas três ondas populistas no continente, o populismo clássico das dé-
cadas de 1930 e 1940, o populismo neoliberal da década de 1990 e o po-
pulismo de esquerda radical que começa no final dos anos 1990 e começo
dos anos 2000 (DE LA TORRE, 2017; KALTWASSEr, 2014). Cada onda po-
pulista tiveram suas características e líderes. Desse modo, Juan Perón, um
caudilho argentino, e Getúlio Vargas ficaram conhecidos como populistas
clássicos latino-americanos. Alberto Fujimori foi um expoente do chama-
do populismo neoliberal, descrito como um outsider, que tentou implantar
uma política econômica neoliberal no Peru (ROBERTS, 2006). Hugo Chávez
na Venezuela foi classificado como um populista radical de esquerda (DE
LA TORRE, 2017).
O populismo latino-americano, não se diferencia do populismo no
resto do mundo, não em sua síntese. Diferentes países que compõem este
continente passaram pelas mais diversas experiências populistas em todos
os espectros políticos e em cada contexto, no qual o fenômeno emergia, as
particularidades regionais se manifestavam, fossem elas similares ou opos-
tas às manifestações populistas de outras regiões e espectros políticos. Um
caso elucidativo é o da Bolívia, por exemplo, Evo Morales foi classificado
como um etnopopulista e criou um partido associado ao sindicato dos

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produtores da folha de cocaína. Este partido suplantou o antigo Condepa
(Consciência da Pátria) e teve seu registro como MAS (Movimento pelo So-
cialismo), que era ainda mais radical do que o antigo partido, “As denúncias
virulentas do MAS aos partidos tradicionais e às suas políticas de mercado,
bem como seus apelos étnicos, ajudaram Morales a vir do nada para ter-
minar em surpreendente segundo lugar nas eleições de 2002” (MADRID,
2010, p.599-600). Há aqui, os elementos do populismo como a denúncia
do establishment político associado a questões étnicas ligadas à esquerda
radical na América Latina, isto dá uma dimensão do quão versátil pode ser
uma manifestação populista, independentemente de onde ela surgir.

4.1 O populismo clássico (1930-1940)


O populismo enquanto fenômeno surge simultaneamente nos países
da América Latina a partir da década de 1930 e desde então, os líderes po-
pulistas passam a dominar o cenário político do continente, alguns desses
populistas clássicos foram Juan Perón na Argentina, Getúlio Vargas no Bra-
sil, Victor Raúl Haya de la Torre no Peru, Jose Maria Velasco Ibarra no Equa-
dor (DE LA TORRE, 2017) e Lázaro Cardenas no México (ROBERTS, 2006).
O advento do fenômeno populista se dá principalmente por dois fa-
tores, a crise das oligarquias nos países latino-americanos e a ascensão de
uma massa votante por meio dos processos de industrialização e urbani-
zação no continente, que ensejaram uma crise generalizada de autoridade
e deram vazão ao surgimento de líderes populistas (ROBERTS, 2006; DE
LA TORRE, 2016). Foi assim, que os caminhos para o processo de demo-
cratização foram abertos no continente e criaram uma lógica populista em
um antagonismo entre o povo e a oligarquia, que polarizaram ao ponto de
tornar-se irreconciliável: “Em alguns casos, como Argentina e Peru, a cons-
trução polarizada da política terminou em uma luta ou dissociação total e
fundamental entre ‘o povo’ e ‘a oligarquia’” (DE LA TORRE, 2017, p.197).
Esse antagonismo foi fomentado pelos líderes populistas da época, que
estavam em busca de popularidade, “as credenciais democráticas dos po-
pulistas clássicos residem em suas lutas por eleições abertas e livres e em

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suas demandas para incorporar os excluídos”.2 Esta lógica populista, que
se consolidou no continente latino na época, ainda prevalece até os dias
atuais. Líderes populistas continuam a mobilizar massas e mantê-las como
base do seu poder político.
Na época restava clara a polarização entre o povo puro e a elite
corrupta, essa construção se personificava em um povo urbano trabalha-
dor, formado por homens comuns em oposição à uma elite oligárquica
(KALTWASSER, 2014; DE LA TORRE, 2017). Como a massa dos trabalha-
dores eram empregues por oligarquias, que exportavam os produtos pro-
duzidos nesses países, os atores populistas utilizavam esse discurso no
sentido de que as oligarquias não estavam preocupadas com as condições
de trabalho ou sequer a participação política do povo, mas tão somente
em fazer negócios e exportar mercadoria.
No Brasil o processo e contexto histórico era o mesmo, a oligarquia
nacional havia sofrido com a crise de 1929 e a depressão dos anos 1930
que afetaram a exportação, como apontado por Weffort “A desagregação da
economia cafeeira, na década de 30, resultando na conjunção da crise nos
mercados mundiais e da superprodução interna, permitirá a renovação [...]
que cria condições para o capitalismo industrial” (WEFFORT, 1978, p.46).
Portanto, antes de surgir líderes e movimentos populistas, as oligarquias
nesse período já enfrentavam uma crise, que abriria o caminho para o fe-
nômeno populista. Tanto no Brasil quanto no resto do continente, o cenário
mundial de 1930 proporcionou a ascensão do populismo justamente ao co-
locar em xeque a economia oligárquica dos países latinos, como observou
Laclau, “E sem a progressiva erosão do sistema econômico oligárquico na
Argentina da década de 1930, a ascensão de Perón teria sido impensável”
(LACLAU, 2013, p.256).
No caso brasileiro não seria diferente, o populismo se baseava na
sensibilidade das pressões populares e surgia como uma política de mas-
sas, que só se tornou viável devido ao contexto de crise política e desen-

2. Ibid., p.197.

193
volvimento econômico, que ocorreu em 1930 e deu forma a uma nova fase
da história brasileira da liquidação do estado oligárquico e da formação de
uma democracia com base em massas populares urbanas ligadas às indús-
trias. Nestes termos, há uma transição democrática de uma participação
limitada a uma participação política mais ampla (WEFFORT, 1978). Assim,
ocorre a transição de uma república oligárquica para uma república popu-
lista, em que o Brasil deixa de ser um estado oligárquico e se transforma
em um estado nacional/centralizado com o aumento da participação po-
lítica e as massas populares passam, pela primeira vez, a ter alguma rele-
vância política.
O aumento na participação política com essa migração de trabalha-
dores da área rural para a urbana é uma das características dessa transição
do regime oligárquico para o populista. A massa popular urbana crescia,
excepcionalmente, nesse período e foi observado, que em “1920 e 1940,
o proletariado industrial cresce de 275.512 a 781.185, para atingir em
1950 a 1.256.807. Nesses mesmos anos, a população da cidade de São Pau-
lo, a primeira base do populismo varguista, ascende de 587.072 (1940) a
2.227.512 (1950)” (WEFFORT, 1978, p.74). Importante sublinhar, que esse
aumento da participação política no Brasil não foi satisfatório ou sequer
significativo, tão somente ocorreu um aumento da participação política em
comparação a não participação que havia antes, “Nas eleições pós-revolu-
cionárias de 1933, a proporção de eleitores inscritos sobre o total da popu-
lação atingia apenas cerca de 3,5% e não há motivos para crer que o nível
de participação tenha sido maior no período anterior”.3
No entanto, nas eleições subsequentes, esse percentual foi subindo e
isso, consequentemente, refletiu no processo eleitoral e as massas passam
a exercer uma pressão popular e influenciar as eleições, como afirma o au-
tor ao fazer uma comparação com a etapa anterior a 1930, “ela se tornará
rapidamente um dos elementos centrais do processo político, pelo menos
no sentido de que as formas de aquisição ou preservação do poder estarão

3. Ibid., p.67.

194
cada vez mais impregnadas da presença popular”.4 A título de exemplo,
cumpre fazer aqui, um contraponto para clarificar a diminuta participa-
ção política no Brasil, na mesma época e no mesmo processo histórico da
ascensão populista latino-americana. Os argentinos obtiveram um resulta-
do muito maior em participação política comparado aos brasileiros, como
observa Carlos de la Torre, “O peronismo expandiu o direito de voto e a
participação eleitoral durante o seu primeiro governo cresceu de 18 para
50 por cento da população. Em 1951, sob Perón, as mulheres conquistaram
o direito de voto” (DE LA TORRE, 2016, p.124). Enquanto no Brasil, anal-
fabetos não podiam participar do sufrágio, o que eliminou a possibilidade
de participação principalmente dos cidadãos da área rural “a exclusão dos
analfabetos significa de fato a não participação política rural” (WEFFORT,
1978, p.67).
No Brasil, o populismo foi tão marcante, que a Quarta República fi-
cou conhecida como a República Populista, englobando o período de 1945
até 1964. Nessa época, o populismo já estava espalhado por todo o país e
contou com alguns populistas ocupando o cargo executivo federal, dentre
eles o próprio Getúlio Vargas, que foi um dos primeiro populistas latino-a-
mericanos. Ademais, estes líderes populistas não ocuparam tão somente
cargos a nível nacional, algumas unidades federativas também elegeram
populistas como governadores. Importante dar destaque para a maleabi-
lidade ideológica do populismo, já nesta época, em importante obra sobre
populismo e ideologia, Debert (2008) faz uma análise do discurso de qua-
tro atores políticos populistas dentro desse período da República Populis-
ta, procurando identificar características ideológicas de cada um. Adhemar
de Barros, governador de São Paulo, Carlos Lacerda, governador da Guana-
bara, Miguel Arraes, governador de Pernambuco e Leonel Brizola, governa-
dor do Rio Grande do Sul: todos líderes populistas do começo dos anos de
1960. Cumpre destacar também que esses governadores estavam situados
em polos opostos do espectro político, Carlos Lacerda e Adhemar de Bar-

4. Ibid., p.67.

195
ros eram líderes populistas de direita, enquanto Miguel Arraes e Leonel
Brizola eram líderes populistas de esquerda.

4.2 O populismo neoliberal


No início da década de 1990, surge uma segunda onda populista em
alguns países da América Latina, Carlos Menem na Argentina, Fernando
Collor no Brasil e Alberto Fujimori no Peru foram líderes populistas, que
passaram a atacar a elite estabelecida principalmente por causa da má ges-
tão econômica. Ao assumirem o poder implantaram reformas neoliberais,
visando estabilizar a economia de seus respectivos países (KALTWASSER,
2014). A elite para os populistas neoliberais era a classe política que co-
mandava o Estado, a título de exemplo, em sua campanha presidencial Fer-
nando Collor se autointitulava o caçador de marajás, estes seriam políticos
ou servidores que ocupavam cargos políticos com baixa produção e altos
salários. Conforme aponta Kaltwasser, “Sob o populismo neoliberal, a luta
era contra a classe política e o estado, e não contra a comunidade empresa-
rial como tal”.5 Na constituição do populismo neoliberal, o estamento bu-
rocrático era visto como o verdadeiro inimigo do povo e essa imagem era
condensada e ganhava impulso, por meio da retórica dos atores populistas
neoliberais da época.

4.3 O populismo da esquerda radical


No final da década de 1990, surge então a terceira onda populista
latino-americana, que ficou conhecida como o populismo de esquerda ra-
dical. Nessa fase se destacaram os líderes populistas Hugo Chávez na Vene-
zuela, Evo Morales na Bolívia e Rafael Correa no Equador. Em contraponto
aos populistas neoliberais, estes atores políticos faziam forte oposição ao
livre mercado e implantaram a agenda da esquerda radical. Se a constitui-
ção da elite no populismo neoliberal era baseada em uma classe política
incompetente, o populismo de esquerda radical era o oposto, as elites era

5. Ibid., p.498.

196
a classe empresarial que apoiava as políticas econômicas neoliberais e o
povo, os pobres e oprimidos (KALTWASSER, 2014). Nota-se que a segunda
e a terceira onda do populismo latino-americano fez uma inversão ao se ata-
carem mutuamente pelas razões ideológicas opostas, a dicotomia direita e
esquerda operada no populismo latino-americano se demonstra constante.
Assim, identifica-se que o populismo tem forte presença e conse-
quência na política latino-americana. A divisão antagônica entre povo puro
e elite corrupta permeou o solo desse continente e influenciou a história
desses países. Desde 1930, líderes populistas de esquerda e de direita ocu-
pam os cargos políticos, sobretudo no executivo e mobilizam o povo contra
as elites. A configuração de quem é o povo, em contraponto a elite, tem uma
variação conforme o discurso e ideologia populista, que são empregues e
isso, persiste independente da época, em que ocorreram as três ondas po-
pulistas, que passaram pela América Latina: o populismo clássico, o popu-
lismo neoliberal e o populismo de esquerda radical.

5. CONCLUSÃO

O populismo segue como um conceito contestado e possivelmente


nunca deixará de o ser, mas há menos dúvida, do que nunca, em relação à
abordagem mais proeminente a operacionalizar o conceito, isto é, o popu-
lismo é uma ideologia de baixa densidade.
As manifestações populistas ocorreram no mundo todo, pelo menos
nos locais, em que há democracia representativa. As suas primeiras identi-
ficações são do milênio passado e até então seguem surgindo em diversos
países localizados em diferentes continentes.
O fenômeno populista não se restringe a um líder personalista, surgi
com os atores, os partidos e movimentos políticos, que podem manifestar-
-se a qualquer momento e em qualquer lugar, sobretudo, emergir quando
relacionados ao contexto sociopolítico ou sociocultural do espaço físico em
que surgiram, e que necessariamente os influenciou.

197
Por se tratar de uma ideologia de baixa densidade com uma morfo-
logia limitada, que não significa por si só, muita coisa, senão a articulação
entre os conceitos nucleares de povo, elite e vontade geral, o populismo es-
tará sempre associado a uma ideologia mais densa, que fornecerá uma es-
trutura ao seu desenvolvimento e percepção no mundo real. As ideologias
mais densas, que abarcarão o populismo, podem ser tanto as do espectro
político da esquerda quanto da direita e provavelmente serão as ideologias
clássicas mais disseminadas no contexto cultural e econômico do ambien-
te, em que surgiram, pois a definição dos conceitos nucleares de quem é o
povo, a elite e qual é a vontade geral será oferecida pela visão de mundo, na
qual o discurso populista opera.
O fenômeno populista tem-se manifestado no mundo inteiro e até
mesmo em países e continentes que não compartilham nenhuma seme-
lhança sociopolítica ou sociocultural. A abordagem ideacional permite
que se analisem as diferentes manifestações mediante a presença dos três
conceitos nucleares de povo, elite e vontade geral, sempre presentes inde-
pendentemente do local e contexto político, em que o populismo surge e
opera. A associação da ideologia populista de baixa densidade com ideo-
logias mais densas formaram diferentes subtipos de populismos ao redor
do mundo.
Desse modo, a América Latina conta com uma das maiores, se não a
maior tradição populista do mundo. A própria concepção do continente la-
tino-americano foi condicionada pelo populismo cujo fenômeno é inerente
a constituição da cultura política dos países, que o compõem. Até os dias
atuais, o populismo segue uma constante na vida política latino-americana,
talvez até mais presente ou pelo menos mais perceptível hoje em dia, ao se
levar em consideração a realidade tecnológica dos meios de comunicação
em massa.

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