TCC Erica Muniz Serv Social

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UNIVERSIDАDE PITÁGORАS UNOPАR

SISTEMА DE ENSINO PRESENCIАL CONECTАDO


SERVIÇO SOCIАL

ERICA MUNIZ RIBEIRO DOS SANTOS

DIREITOS SOCIAS DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Nova Iguaçu - RJ
2022
1

ERICA MUNIZ RIBEIRO DOS SANTOS

DIREITOS SOCIAS DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Trаbаlho de Conclusão de Curso аpresentаdo а UNOPАR


- Universidаde Pitágorаs Unopаr, como requisito pаrciаl
pаrа obtenção do Titulo de grаduаção em Serviço Sociаl.
Orientаdorа: Maria Silvania S Ceschini

Nova Iguaçu - RJ
2022
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DIREITOS SOCIAS DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Trabalho de conclusão de curso apresentado como


requisito parcial para obtenção de título de bacharel em
Serviço Social pelo Curso de Serviço Social da
Universidade Norte do Paraná – Campus Nova Iguaçu.

Orientadora: Prof. Valquiria Aparecida Dias Caprioli

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Componente da Banca da Universidade Pitágoras Unopar

Tutora: Maria Silvania da S. Ceschini

________________________________________

Prof. Convidado
3

Dedico este trabalho a Deus e aos meu


esposo Rafael
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AGRADECIMENTOS

Hoje se encerra e se inicia uma nova história na minha vida.


E com o coração cheio de gratidão, que louvo ao senhor Jesus, por ter me
permitido chegar até aqui, não foi fácil, tive dias de muita lágrima e vontade de
desistir A vida me pregou tantas peças que, eu jamais acharia que chegaria até aqui,
mas não era só sobre mim o que pesava, e sim, as pessoas que eu decepcionaria se
eu parasse no meio do caminho e com a força que veio direto do trono de Deus, EU
CONSEGUI.
Aos meus pais (in memorian) o meu muito obrigada por cada semente que
plantaram em mim, pois deu certo, germinou e ao meu filho Thierry ( in memorian)
sempre me disse que eu chegaria lá, com a minha garra e força e eu cheguei meu
filho . A minha filha Thaieny e meu Filho Thiago, por serem meu sol e meu fôlego,
quando olho pra vcs, tenho mais força para continuar.
Ao meu esposo Rafael, me faltam palavras para expressar o apoio nessa
trajetória, sem você eu não teria condições de chegar aquI, você é o meu equilíbrio.
Aos meus irmãos, sobrinhos que sempre me apoiaram. As minhas irmãs
(irmães) como agente brinca Tânia e Vânia, vocês sempre acreditaram mais em mim
do que eu mesma, e sempre diziam: - Você vai conseguir! E eu consegui meninas, a
nossa história poderia passar em Hollywood rs.
As tutoras Valéria e Silvania, o meu muito obrigada por vocês nos fazerem ser
melhores a cada dia, não é sobre ser um professor, e sim, o amor de ensinar, com
perfeitas palavras e ações de incentivo, vocês foram primordiais na nossa caminhada,
com turma.
A minha turma que iniciou comigo, meu Deus, obrigada por essas amizades!
Meninas vocês, eu levo pra vida, Alessandra, Seonita, Ana e Vânia.
Aos meus amigos que sempre me apoiaram dizendo pra ir adiante, e eu digo
que tenho os melhores amigos do mundo, as minhas Cristinas maravilhosas.
O meu muito obrigada aos que oraram comigo e ao meu amigo Santcler, tá qui
irmão! E eu prometo a vocês que, ainda terão muito orgulho de mim!
Davi Lucas e Matheus Lucas, obrigada por deixarem a vida da vovó mais leve
e doce como vcs ....

Obrigada...
5

Paciência e perseverança tem o efeito mágico de fazer as dificuldades


desaparecerem e os obstáculos sumirem.

John Quincy Adams


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MUNIZ, Erica Ribeiro dos Santos. Direitos Sociais das mulheres vitimas da
violência. 2022. 36. Trаbаlho de Conclusão de Curso (Grаduаção em Serviço Sociаl)
– Universidаde Pitágorаs Unopаr, Nova Iguaçu- RJ, 2022

RESUMO

Segundo a Convenção de Belém do Pará em seu artigo 1º “entender-se-á


por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera
pública como na esfera privada”. (BRASIL, 1994). A violência contra a mulher
configura uma violação dos direitos humanos. Como metodologia para a realização
deste Trabalho foi utilizado pesquisas bibliográficas em livros, sites com artigos
científicos e governamentais a respeito do tema. O presente trabalho tem como
objetivo discutir sobre a garantia dos direitos de mulheres que sofrem de algum tipo
de violência, verificando os aspectos relacionados à essa violência e como se dá
atuação do serviço social e do Estado frente a violência contra mulher. Diante do
estudo foi possível verificar que apesar de algumas mulheres não acreditarem na
capacidade do Estado de proteger e amparar a mulher em situação de violência e de
punir o agressor, muitas já demonstram ter confiança, denunciando os abusos que
vêm sofrendo por seus agressores, pois o número de denúncias nos últimos anos
aumentou consideravelmente.

Pаlаvrаs-chаve: Dignidаde, Direitos, Violência, Mulheres.


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MUNIZ, Erica Ribeiro dos Santos. Direitos Sociais das mulheres vitimas da
violência. 2022. 36. Trаbаlho de Conclusão de Curso (Grаduаção em Serviço
Sociаl) – Universidаde Pitágorаs Unopаr, Nova Iguaçu- RJ, 2022

АBSTRАCT

According to the Convention of Belém do Pará in its article 1, “Violence against women
shall be understood as any act or conduct based on gender, which causes death, harm
or physical, sexual or psychological suffering to women, both in the public and in the
public sphere”. in the private sphere”. (BRAZIL, 1994). Violence against women
constitutes a violation of human rights. As a methodology for carrying out this work,
bibliographic research was used in books, websites with scientific and governmental
articles on the subject. The present work aims to discuss the guarantee of the rights of
women who suffer from some type of violence, verifying the aspects related to this
violence and how the social service and the State act in the face of violence against
women. In view of the study, it was possible to verify that although some women do
not believe in the State's ability to protect and support women in situations of violence
and to punish the aggressor, many already demonstrate confidence, denouncing the
abuses they have been suffering by their aggressors, because the number of
complaints in recent years has increased considerably.

Keywords: Dignity, Rights, Violence, Women.

.
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SIGLAS

CEDAW - Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination against


Women,
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
CREAS – Centro de Referência Especilizado de Assistência Social
DDM - Delegacia de Defesa da Mulher
DEAM – Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
FBSP - Fórum Brasileiro de Segurança Pública
FPA/SESC – Fundação Perseu Abramo/Serviço Social do Comércio
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
TJDFT - Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................10

CAPÍTULO 1 – CONCEITO DE VIOLÊNCIA CONFORME A LEI 11.340/2006 ...........13

1.2- A naturalização da Violência doméstica e suas diversas formas.........................15


1.3- A luta das mulheres pela igualdade de direitos ............................................................17

CAPÍTULO 2 – OS DIREITOS DA MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA......................19

2.2 - A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) e proteção a mulheres vítimas de


violência......................................................................................................................20

CAPÍTULO 3 – COMO SE DÁ A ATUAÇÃO NA АSSISTÊNCIA SOCIAL E NA


ÁREA DA SAÚDE NO ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.25

CAPITULO 4 - O SERVIÇO SOCIAL NA POLÍTICA NACIONAL DE


ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER................................27

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................29
REFERÊNCIАS..........................................................................................................34
10

INTRODUÇÃO

No âmbito preventivo, a Política Nacional Assistência Social buscará


implementar ações que desconstruam os mitos e estereótipos de gênero e que
modifiquem os padrões sexistas, perpetuadores das desigualdades de poder entre
homens e mulheres e da violência contra as mulheres.

A prevenção inclui não somente ações educativas, mas também culturais


que disseminem atitudes igualitárias e valores éticos de irrestrito respeito às
diversidades de gênero, raça/etnia, geracionais e de valorização da paz.

As ações preventivas incluirão campanhas que visibilizem as diferentes


expressões de violência de gênero sofridas pelas mulheres e que rompam com a
tolerância da sociedade frente ao fenômeno.

No tocante à violência doméstica, a prevenção deverá focar a mudança


de valores, em especial no que tange à cultura do silêncio quanto à violência contra
as mulheres no espaço doméstico e à banalização do problema pela sociedade.

O combate à violência contra as mulheres inclui o estabelecimento e


cumprimento de normas penais que garantam a punição e a responsabilização dos
agressores/autores de violência contra as mulheres.

No âmbito do combate, a Política Nacional proporá ações que garantam


a implementação da Lei Maria da Penha, em especial nos seus aspectos
processuais/penais e no que tange à criação dos Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher.

A Política também buscará fortalecer ações de combate ao tráfico de


mulheres e à exploração comercial de mulheres adolescentes/jovens. No que diz
respeito aos direitos humanos das mulheres, a Política deverá cumprir as
recomendações previstas nos tratados internacionais na área de violência contra as
mulheres (em especial aquelas contidas na Convenção de Belém do Pará –

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência


contra a Mulher (1994) e na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher (CEDAW, 1981). No eixo da garantia de direitos,
11

deverão ser implementadas iniciativas que promovam o empoderamento das


mulheres, o acesso à justiça e a o resgate das mulheres como sujeito de direitos.

O Serviço Social é uma profissão que possui competências teórico


metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas para intervir nas refrações da
questão social, assegurando o pleno acesso aos direitos sociais, atuando frente
aoconjunto das desigualdades sociais reproduzidas pelo sistema capitalista e as
relações de poder estabelecidas.

Dessa maneira, o Assistente Social no âmbito no que tange à relação


Assistente Social e violência doméstica contra a mulher, discutiu-se a relevância deste
profissional nos espaços sociocupacionais onde atendem vítimas de violência numa
abordagem emancipatória.

Um primeiro ponto a ser ressaltado é a inexistência do profissional de


Serviço Social junto às Delegacias de Proteção à Mulher em toda a região sul do
Brasil. Raro, o atendimento, quando ocorre, é feito por um profissional de Psicologia
que, por sua vez, reconhece a importância e a necessidade do trabalho do assistente
social na instituição.

Cabe não só ao assistente social mais também a um conjunto de


estratégias políticas e de intervenção social direta, propor alternativas para as
problemáticas sociais vividas por muitas dessas mulheres.

Percebe-se que a ausência de programas de proteção social às


mulheres, vítimas de agressão, submete este segmento à condição de vulnerabilidade
social.

Violência é um abismo com marcas profundas, especialmente a


agressão emocional, pois deixa marcas na alma, causando talvez um trauma por toda
a vida. A violência acontece principalmente no espaço intra familiar.

Esse fato dificulta muito mais a sua divulgação diante as várias


demandas de queixas fornecidas pelas mulheres nas Delegacias de Mulheres. É uma
violência silenciosa, pois areverberação acontece entre as paredes das casas, no
choro contido, na ilusão de que não irá acontecer outra vez, que o agressor irá mudar.
12

O drama da violência contra a mulher é uma questão importante a se


estudada, pois à medida que permite a construção de novos conhecimentos e melhor
compreensão de suas causas e efeitos, também pode orientar intervenções.

Como metodologia para a realização deste Trabalho foi utilizado


pesquisas bibliográficas em livros, sites com artigos científicos e governamentais a
respeito do tema. O presente trabalho tem como objetivo discutir sobre a garantia dos
direitos de mulheres que sofrem de algum tipo de violência, verificando os aspectos
relacionados à essa violência e como se dá atuação do serviço social e do Estado
frente a violência contra mulher.

Para tanto, a pesquisa está dividida em quatro partes, na primeira parte


contextualiza-se o conceito de violência conforme a Lei 11.340/2006, enfoque na
naturalização da Violência doméstica e suas diversas formas e a luta das mulheres
pela igualdade de direitos, na segunda parte é apresentado os direitos da mulher
vítima de violência, A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) e proteção a mulheres
vítimas de violência, na terceira parte é mostrado como se dá a atuação na Assistência
Social e na área da Saúde no enfrentamento a violência contra a mulher e atuação do
Serviço Social na Política Nacional de Enfrentamento a Violência contra a Mulher
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DESENVOLVIMENTO

CAPÍTULO I – CONCEITO DE VIOLÊNCIA CONFORME A LEI 11.340/2006

Pаrа melhor entendimento do temа orа exposto, fаz-se necessário


que se trаgа à reflexão, аlguns conceitos postos, no intuito de estаbelecer o devido
entendimento.

Mas o que poucos sabem é que a violência doméstica vai muito além
da agressão física ou do estupro. A Lei Maria da Penha classifica os tipos de abuso
contra a mulher nas seguintes categorias:

Violência sexual: entendida como qualquer conduta que a constranja a


presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

Violência Física:“Entendida como qualquer conduta que ofenda a


integridade ou saúde corporal da mulher”.Esse é o tipo de violência prevista na Lei nº
11.340/2006 mais recorrente contra a mulher no âmbito familiar. Segundo pesquisa
DataSenado, realizada em 2013, as vítimas deste tipo de violência representam 62%,
dos casos de violência de gênero, em todo país.

A violência física consiste em agressões com chutes, socos, pontapés,


puxões de cabelo e com objetos perfurantes, entre outros, causando lesões desde
pequenos hematomas e inchaço até cortes e fraturas na vítima. À violência física que
resultar em lesão corporal encontra subsunção no § 9ºdo art. 129, do Código Penal.

Sua pena mínima é de 3 meses e a máxima de 3 anos. O 9º foi


acrescido ao Código Penal pela própria Lei nº 11.340/2006, com o fim de afastar da
competência dos Juizados Especiais Criminais os delitos de lesão corporal, impedindo
que este crime, quando cometido no âmbito doméstico, fosse considerado de menor
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potencial, conforme era antes da vigências da Lei Maria da Penha com a pena
máxima de 2 anos.

Violência psicológica: entendida como qualquer conduta que lhe


cause danos emocionais e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe
o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

Violência Patrimonial: entendida como qualquer conduta que


configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

Violência Moral, entendida como qualquer conduta que configure


calúnia, difamação ou injúria.

Na construção da ideia sobre as formas de violência doméstica


contra a mulher, utilizamos como parâmetro a Lei 11.340/2006, e autores como
Schraiber e outros (2002), Pasinato (2011), Meneghell e Hirakata (2011) e Miller
(1999). Contudo Pinto (2010), Scott (1994), Carvalho e outros (2012), Samara (2002),
Alves (2003), Del Priore (2009) e os estudiosos Nader, Franco e Silva (2006), analisam
a condição da mulher, dentro dos contextos sociais, históricos e culturais que
permeiam o tema.

A violência contra a mulher tornou-se objeto de intervenção


profissional do assistente social como um desafio posto no cotidiano, sobre o qual ele
deverá formular um conjunto de reflexão e de proposições para a intervenção .

No Brasil, estima-se que cinco mulheres são espancadas a cada 2


minutos; o parceiro (marido, namorado ou ex) é o responsável por mais de 80% dos
casos reportados, segundo a pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Públicos e
Privados (FPA/Sesc, 2010).
15

Uma das imagens mais associadas à violência doméstica e familiar


contra as mulheres é a de um homem – namorado, marido ou ex – que agride a
parceira, motivado por um sentimento de posse sobre a vida e as escolhas daquela
mulher.

De fato, este roteiro é velho conhecido de quem atua atendendo


mulheres em situação de violência: a agressão física e psicológica cometida por
parceiros é a mais recorrente no Brasil e em muitos outros países, conforme apontam
pesquisas recentes.

A recorrência, porém, não pode ser confundida com regra geral: a


relação íntima de afeto prevista na Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) não se
restringe a relações amorosas e pode haver violência doméstica e familiar
independentemente de parentesco – o agressor pode ser o padrasto/madrasta,
sogro/a, cunhado/a ou agregados – desde que a vítima seja uma mulher, em qualquer
idade ou classe social.

1.2. A naturalização da Violência doméstica e suas diversas formas

Apesar dos dados alarmantes, muitas vezes, essa gravidade não é


devidamente reconhecida, graças a mecanismos históricos e culturais que geram e
mantêm desigualdades entre homens e mulheres e alimentam um pacto de silêncio e
conivência com estes crimes.

Conforme a pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada


(IPEA - 2014), a tolerância social à violência contra as mulheres (Ipea, 2014), mostrou
que 63% dos entrevistados concordam, total ou parcialmente, que “casos de violência
dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família”. E 89%
concordam que “a roupa suja deve ser lavada em casa”, enquanto que 82%
consideram que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, ou seja, há toda
uma naturalização da violência doméstica, porque esta ocorre no âmbito familiar.

Muitas pessoas acreditam que violência se restrigem apenas ao ato


físico, porém agressões verbais também configuram violência, como também,
restringir as ações ou decisões de uma mulher, gaslighting, que é a uma nova
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forma de bullying e assédio, pelas redes sociais; controlar ou oprimir, obrigando-la


a fazer apenas o que o agressor permite, proibi-la de sair de casa ou ter contato com
determinadas pessoas; ofensas ou humilhações; expor a vida íntima, vazando
fotos ou vídeos íntimos na internet, controlar o dinheiro ou quebrar objetos.

Os danos que a violência causa na vida da mulher vão muito além


da saúde. A violência contra a mulher afeta sua autoestima, o que a faz criar uma
imagem negativa com relação a si mesma, dificultando assim, a sua capacidade de
interagir com o mundo.

Apesar da violência poder ter consequências diretas na saúde, tais


como lesões, ser uma vítima da violência também aumenta o risco de uma mulher vir
a ter uma saúde precária no futuro. Assim como as consequências do uso do tabaco
e do álcool, ser uma vítima de violência pode ser considerado como um fator de risco
para diversas doenças e problemas de saúde. (KRUG et al, 2002, p. 102)

Mulheres violentadas possuem um risco muito maior de


desenvolverem problemas psicológicos relacionados a “depressão; tentativas de
suicídio; síndromes de dor crônica; distúrbios psicossomáticos” (KRUG et al, 2002, p.
102), os quais afetam o seu desenvolvimento social, profissional e pessoal. Os
problemas de saúde física também podem prejudicar a vida da mulher, como o
desenvolvimento de problemas relacionados a reprodução.

Podemos ressaltar que as consequências não ficam apenas no


âmbito humano. A economia de uma sociedade é diretamente atingida pela prática de
violência contra a mulher, pois, a uma grande redução na produtividade e um aumento
na utilização de serviços públicos.

Como apontam Dahlberg e Krug (2006, p. 1171- 1172) “A violência


custa às nações valores humanos e econômicos, extraindo das economias mundiais
a cada ano muitos bilhões de dólares em tratamentos de saúde, gastos legais,
ausência do trabalho e produtividade perdida”.

Durante a gravidez muitas mulheres sofrem violência, fato que se


associa com questões de aborto espontâneo, partos e nascimentos prematuros, nos
quais os recém-nascidos podem desenvolver problemas como o baixo peso, e outros
relacionados a sua saúde física.
17

Filhos que presenciam ou possuem conhecimento sobre a prática


da violência dentro de casa estão propícios a desenvolver problemas emocionais e
comportamentais. De acordo com Krug et al (2006, p. 104) “[…] crianças que
testemunham violência entre seus pais frequentemente mostram muitos dos distúrbios
comportamentais e psicológicos apresentados pelas crianças que são vítimas de
abusos”. Elas podem desenvolver distúrbios como ansiedade, depressão, perda da
capacidade de atenção, acarretando baixo rendimento escola, durante o sono pode
ter pesadelos.

1.3. A luta das mulheres pela igualdade de direitos

Segundo Faria e Nobre (1997, p.9-10), as meninas e os meninos


desde crianças aprendem a ser mulher e homem. Através da educação recebida em
casa no seio da família, percebe-se que há uma educação diferenciada para as duas
categorias do sexo.

O enxoval das crianças geralmente, já vem determinando a cor


segundo o sexo dela; se for menino a cor é preferencialmente azul, e se for menina a
cor é rosa. Os brinquedos que recebem também são caracterizados segundo o sexo.
Os carrinhos, a bola, as bolinhas de gude são brinquedos para meninos, enquanto
que, as bonecas, o fogãozinho, e a casinha são brinquedos de meninas.

Antigamente as mulheres eram consideradas inferiores aos homens


submetendo-se as ordens e humilhação que a cultura lhe continha, vistas apenas
como mulheres do lar, a qual servia apenas para a manutenção da prole e do lar.

A partir do século XIX, no início do sistema capitalista, houve o


acarretamento de muitas mudanças na sociedade, com a Revolução Industrial, as
mulheres saíram de seus lares e passaram a ir trabalhar em fábricas, momento esse
inovador para as mulheres, estas que detinham apenas o poder de ser subordinada a
seu marido, apenas trabalhando em casa, cuidando dos filhos e dos serviços de casa.

Saindo do “locus”(Locus é uma palavra do latim, que significa


literalmente “lugar”, “posição” ou “local”) que até então era permitido e reservado
18

(espaço privado) e migrando para o espaço público, mostrando aos homens que não
são inferiores, que podem fazer as mesmas coisas que eles, iniciando assim a
trajetória do movimento feminista.

Com a Revolução Francesa, surge o feminismo, um movimento de


mulheres que lutavam pela igualdade de direitos entre os sexos, inclusive a liberdade
de trabalho. Esse movimento feminista veio representar para as mulheres uma
tentativa importante de ruptura com a história de submissão a que foram e são ainda
impostas (SARDENBERG & COSTA, 1994).

Hoje a mulher ainda vive em condições desfavoráveis a ela, onde


ainda empenha papel de submissão ao homem, mesmo já tendo adquirido bastantes
direitos a mulher ainda é vista como propriedade do homem com quem convive, seja
ele seu esposo ou namorado.
19

CAPÍTULO II – OS DIREITOS DA MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA

A violência contra a mulher pode se manifestar de várias formas e


com diferentes graus de severidade. Estas formas de violência não se produzem
isoladamente, mas fazem parte de uma sequência crescente de episódios, do qual o
homicídio é a manifestação mais extrema.

No Art. 213 do Código Penal Brasileiro de 1940, estupro significa


constranger a mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. No
caso de mulheres casadas, que foram obrigadas a ter relações com o marido, o
estupro não é considerado, pois a lei prevê como um dever da mulher casada o
mantimento da relação íntima com o marido.

A violência sexual, nessa época, só era considerada um ato violento


quando praticada por estranhos ao contrato matrimonial, sendo aceita como normal
quando ocorre no seio do casamento.

Na França, o ato sexual praticado pelo casal sem o consentimento da


mulher condiz com crime de estupro desde 1980 (SAFFIOT1, 2002).

Segundo a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (2003), a


mulher violentada nem sempre vive com essa situação continuamente, ou seja, há
períodos muito ruins no seu relacionamento conjugal, mas também há períodos
harmoniosos, de muito carinho e amor. São nestes momentos que elas acabam dando
uma chance para o companheiro, vindo a desistir do inquérito policial, acreditando que
o companheiro só a violentou por estar bêbado, drogado, com problemas no serviço,
por dificuldades financeiras e que, quando ele não se encontra nesta situação, é um
homem muito bom, bom pai, bom marido.

De acordo com o Atlas da Violência 2018, produzido pelo Instituto de


Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP), com base em dados de 2016 do Ministério da Saúde, 4.645 mulheres foram
assassinadas no país, o que representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada 100
mil brasileiras. Observou-se, em dez anos, um aumento de 6,4%.
20

Existe um outro levantamento que a cada hora, 503 mulheres são


vítimas de violência no Brasil. Dois terços da população presenciaram uma mulher
sendo agredida de forma física, verbal ou psicológica no último ano. Os números
fazem parte de um levantamento feito pelo instituto Datafolha. A pesquisa mostra, no
Dia Internacional da Mulher, que muito ainda é preciso ser feito para garantir que elas
tenham direitos preservados e sejam tratadas de forma respeitosa e igualitária.

A pesquisa, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança


Pública, revela que ao menos 4,4 milhões de mulheres foram vítimas de agressões
físicas no período de um ano. A estimativa, porém, é de que até 19,9 milhões possam
ter sofrido algum tipo de violência nos últimos 12 meses. Os números mostram
também que 28,6% das mulheres entrevistadas que concordaram em compartilhar
experiências pessoais foram efetivamente violentadas entre janeiro e dezembro de
2016.

No entanto, metade dessas mulheres não fez nada diante da agressão.


Os números explicam: os algozes estão dentro de casa, do trabalho, dos locais de
lazer - 61% das entrevistadas afirmaram conhecer as pessoas que as agrediram e
43% das ocorrências foram na própria casa. A maior parte das agressões relatadas
ocorreu com mulheres pretas (32%) e pardas (31%). Entre as brancas, o índice de é
de 25%.

A percepção de ¾ dos entrevistados é que a violência contra as


mulheres aumentou no Brasil nos últimos dez anos. Participaram do estudo “Visível e
Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, feito em fevereiro, 2.073 pessoas,
sendo 1.051 mulheres. Destas, 833 aceitaram falar sobre as ocasiões em que elas
próprias foram vítimas de assédio.

2.2. A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) e proteção a mulheres vítimas de


violência

A Política Nacional para as Mulheres, orienta-se pelos seguintes


pontos fundamentais: Igualdade e respeito à diversidade Igualdade e respeito à
diversidade – mulheres e homens são iguais em seus direitos.
21

A Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) é uma ideia que teve início


no Brasil, e tomou proporções gigantescas. Hoje vários países da América Latina e
parte da Ásia aderiram essa medida. Em 1985 foi criada, no estado de São Paulo a
primeira delegacia de atendimento as mulheres vítimas de violência física, sexual,
psicológica e moral.

A constituição Federal de 1988, trouxe diversos avanços para a


efetivação dos direitos e, o cambate à violência contra a mulher é um deles,
juntamente com nos tratados internacionais de que o Brasil é signatário. E o
instrumento de maior avanço nessa temática foi a criação e a aprovação da Lei Maria
da Penha, em 7 de agosto de 2006, a Lei 11.340/2006, com o objetivo de oferecer
proteção a mulheres vítimas de agressões, e punir o agressor.

É chamada de Lei Maria da Penha pois é uma homenagem a


farmacêutica cearense Maria da Penha, vítima de agressão, em 1983 levou um tiro
do marido enquanto dormia.

O ato tirou de Maria da Penha os movimentos das pernas, a qual


passou a viver em uma cadeira de rodas. As agressões não cessaram, o marido ainda
tentou matá-la por eletrocussão. Cansada de viver dessa forma, procurou ajuda e saiu
do casamento. Após 19 anos, presenciou o ex-marido ser punido a 10 anos de prisão,
os quais cumpriu durante dois anos em regime fechado.

Símbolo da luta contra a violência doméstica e familiar contra a


mulher, esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação
de violência doméstica e familiar. (BRASIL, 2006)

A Lei apresenta medidas de proteção que visam não apenas punir


o agressor, mas busca ajudar a mulher na superação desse evento traumático.
Apresenta, também, formas de divulgação do problema, através de pesquisas,
22

campanhas e programas sócio educativos que difundem os valores éticos


relacionados a dignidade da pessoa humana.

É indispensável para a eficácia dessa norma, órgãos e profissionais


capacitados para que o atendimento à mulher obtenha os resultados desejados pela
Lei. Pois, os prejuízos causados pela prática da violência vão muito além do que se
pode ver.

A Lei Maria da Penha estabelece que toda mulher tem direito à


proteção social e do Estado inclusive contra atos de violência sofridos no ambiente
privado ou intrafamiliar.

Segundo o Portal Compromisso e Atitude (2008), nos casos de


violência doméstica (física, psicológica, moral, patrimonial ou sexual) a lei estabelece
que, a mulher tem direito a:

– acolhida e escuta qualificada de todos os profissionais da rede de


atendimento às mulheres em situação de violência doméstica e familiar, sem
pré-julgamentos, respeitando seu tempo de decisão sobre os próximos passos
a seguir e sem culpabilização;
– medidas protetivas de urgência que podem consistir na proibição de
aproximação do agressor;
– acesso prioritário a programas sociais, habitacionais e de emprego e renda;
– manutenção do vínculo profissional por até seis meses de afastamento do
trabalho;
– escolta policial para retirar bens da residência, se necessário;
– atendimento de saúde e psicossocial especializado e continuado, se
necessário;
– registro do boletim de ocorrência;
– registro detalhado do relato que fizer em qualquer órgão público (inclusive
para evitar a revitimização com a necessidade de contar a história repetidas
vezes);
– notificação formal da violência sofrida ao Ministério da Saúde, para fins de
produção de dados estatísticos e políticas públicas;
– atendimento judiciário na região de seu domicílio ou residência, no lugar
onde ocorreu a agressão (se este for diferente) ou no domicílio do agressor;
– assistência judiciária da Defensoria Pública, independentemente de seu
nível de renda;
– acesso a casa abrigo e outros serviços de acolhimento especializado
(DEAM, Defensoria Pública, centros de referência etc.);
– informações sobre direitos e todos os serviços disponíveis.

A Lei nº 11.340/2006 estabelece que a União, os Estados, o


Distrito Federal e os municípios têm responsabilidade compartilhada – cada um na
sua esfera de atuação – para garantir que a lei seja cumprida.
23

Em cada nível federativo, o Poder Judiciário, o Ministério Público,


a Defensoria Pública, a Segurança Pública, a Assistência Social e os órgãos gestores
das políticas de Saúde, Educação, Trabalho e Habitação têm responsabilidades
específicas para a integração de funções, ações e serviços, visando à efetivação da
Lei Maria da Penha e à promoção de programas e políticas educacionais que
disseminem o respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de equidade
de gênero, raça e etnia.

A sociedade civil também é chamada à responsabilidade no texto


da Lei. Famílias, vizinhos, colegas de trabalho, empresas e organizações não-
governamentais são considerados parte da rede de enfrentamento à violência contra
as mulheres.

Conforme previsão do artigo 221 da Constituição Federal, a mídia


deve contribuir para a promoção dos direitos humanos das mulheres, o que se faz
também coibindo papéis estereotipados que legitimam ou exacerbam a violência
doméstica e intrafamiliar.

Com a implementação do Pacto e investimentos da Secretaria de


Políticas para Mulheres foi realizada uma ampla divulgação e implementação da Lei
Maria da Penha, pois permitiu a realização de parcerias entre o governo federal e os
governos estaduais e municipais gerando um efeito cascata por meio de ações
articuladas vertical e horizontalmente nos três níveis de governo e alinhadas à
realidade local para o fim da violência contra as mulheres.

Através dessa atuação conjunta foi possível a criação de Juizados de


Violência contra a Mulher, de abrigos, de centros de referência, melhoria de
instalações dos serviços existentes; fortalecimento da rede de atendimento à mulher
vítima de violência; capacitação de profissionais das áreas de saúde, segurança
pública e assistência social para um melhor atendimento a mulher em situação de
violência; sensibilização do Judiciário e os operadores de direito para a correta
aplicação da Lei Maria da Penha e realização de diversas campanhas pelo fim da
violência contra as mulheres.

Outra medida tão importante quanto a denúncia é o comportamento


em relação à mulher que sofreu a violência. Não se deve, em hipótese alguma, julgar
24

a pessoa, mas procurar entender como ela se sente, quais são seus anseios e como
podemos ajudá-la. O julgamento acaba por afastar a vítima e isso não colabora em
nada com a situação.

Em 2006, foi criado o Juizado especial de violência doméstica,


uma unidade judicante criada pelo TJDFT, por meio da Resolução 5 de 20/09/2006,
do Conselho Administrativo, para julgar especificamente casos de violência doméstica
e familiar contra a mulher, segundo a Lei nº 11.340/2006.

Em 2021, realizou-se alterações no Código Penal, instituindo um


novo tipo penal, alterando a Lei Maria da Penha, prevendo uma nova hipótese de
medida protetiva, com penas para o agressor de violência doméstica, prvendo que
agressores sejam afastados imediatamente do lar ou do local de convivência
com a mulher em casos de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da
vítima ou de seus dependentes, ou se verificado o risco da existência de violência
psicológica.

O texto que entra em vigor hoje modifica trechos do Código Penal,


na Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90) e na Lei Maria da Penha (Lei nº
11.340/2006). A norma prevê pena de reclusão de um a quatro anos para o crime de
lesão corporal cometido contra a mulher "por razões da condição do sexo feminino" e
a determinação do afastamento do lar do agressor quando há risco, atual ou iminente,
à vida ou à integridade física ou psicológica da mulher.

A lei estabelece ainda o programa de cooperação Sinal Vermelho,


com a adoção do X vermelho na palma das mãos, como um sinal silencioso de alerta
de agressão contra a mulher. A ideia é que, ao perceber esse sinal na mão de uma
mulher, qualquer pessoa possa procurar a polícia para identificar o agressor.

A nova legislação prevê ainda a integração entre os Poderes


Executivo e Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, os órgãos de
Segurança Pública e entidades e empresas privadas para a promoção e a realização
das atividades previstas, que deverão empreender campanhas informativas "a fim de
viabilizar a assistência às vítimas", além de possibilitar a capacitação permanente dos
profissionais envolvidos.
25

CAPÍTULO III - COMO SE DÁ A ATUAÇÃO NA АSSISTÊNCIA SOCIAL E NA


ÁREA DA SAÚDE NO ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Profissionais da rede de assistência social e saúde têm um papel


fundamental no enfrentamento à violência contra as mulheres, pois são, geralmente,
os primeiros a atender as vítimas deste crime. E como a sociedade ainda culpa muito
a mulher vítima pela violência sofrida, a maioria delas tem vergonha de se expor e
relatar o problema por iniciativa própria. O apoio no atendimento de saúde ou
psicossocial, momento em que a mulher comumente está mais vulnerável ainda que
não apresente lesões evidentes, é fundamental para pôr fim ao ciclo de violência.

É fundamental que esses profissionais sejam capacitados para ouvir


a mulher sem pré-julgamentos (a chamada escuta qualificada) e perguntar a ela sobre
agressões sem a constranger, que conheçam a rede de atendimento na região da
unidade de saúde/assistência para encaminhar a mulher conforme a necessidade .

• Nas Unidades de saúde (UBS/hospitais e outros)

Trabalhadores e trabalhadoras da área de saúde devem dedicar


especial atenção às mulheres que retornam com frequência acima da média para
atendimento, têm queixas de dores não específicas e apresentam sintomas
relacionados a depressão e outros transtornos psíquicos.

Também é fundamental o registro dos atendimentos para fins de


dados estatísticos e, de forma detalhada, no prontuário da mulher, já que o documento
pode servir como prova em eventual processo judicial.

É obrigatório proceder à notificação e ao registro de casos de


violência contra a mulher, atendida em estabelecimentos de saúde públicos ou
privados (Lei nº 10.778/2003), incluindo qualquer ação ou conduta, baseada no
gênero, também decorrente de discriminação ou desigualdade étnica, que cause
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher.

Os casos onde há suspeita de abuso ou violência sexual também


exigem notificação obrigatória pela Lei mencionada acima e pelo Estatuto da Criança
26

e do Adolescente - ECA (nos casos de menores de 18 anos). Assim como é obrigatório


o encaminhamento para exame de corpo de delito e profilaxia de DST/Aids e gravidez,
em até 72 horas, nos casos em que o crime sexual for denunciado pela mulher (Lei
12.845/2013). Além disso, cabe aos profissionais das unidades de saúde encaminhar
a vítima aos CREAS/CRAS/Conselhos Tutelares, de acordo com o caso, e orientá-la
a registrar a ocorrência em uma delegacia comum ou DEAM.

• CRAS e CREAS

Os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) são


responsáveis pelo atendimento continuado à mulher e às famílias em situação de
vulnerabilidade social, assegurando o acesso a casas abrigo e serviços de proteção
à vida; cadastramento da mulher em programas sociais de alimentação, educação,
emprego e renda; programas de prevenção à violência e orientação, além do registro
de informações.

Os CREAS (Centros de Referência Especializados em Assistência


Social) atendem mulheres e indivíduos que já vivem em situação de ameaça ou
violação de direitos, oferecendo atendimento psicossocial especializado e continuado,
além de encaminhamentos para a rede de serviços locais, incluindo educação, saúde
e apoio jurídico.

Аssim é de sumа importânciа que se busque аlternаtivаs pаrа


mudаr o cenário encontrаdo hoje no pаís, аfinаl o Estаdo tem o dever de fаzer cumprir
suаs leis e não pode simplesmente ignorаr tudo o que está аcontecendo.

.
27

CAPÍTULO IV - O SERVIÇO SOCIAL NA POLÍTICA NACIONAL DE


ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Estudos apresentados pelo Conselho Regional de Serviço Social


(2003) apontaram que a intervenção do Assistente Social, junto à questão da violência
contra a mulher, pode ser visualizada da seguinte forma:

• O profissional de Serviço Social é operador de direito, portanto, um de


seus papéis junto à intervenção é justamente orientar e informar a mulher que ela tem
direitos, esclarecendo que para cada tipo de violência tem uma punição; é importante
estimular a mulher a fazer a denúncia;

• Nas instituições em que o Assistente Social atende mulheres vítimas de


violência doméstica é importante mobilizá-las para participarem de um processo de
trabalho de grupo, para que as mesmas possam socializar suas experiências, resgatar
a sua autoestima e o seu papel social;

• O profissional do Serviço Social deve estar atento para com a


formulação, execução e gestão de políticas públicas. O lugar do Assistente Social no
contexto das relações sociais, está inserido na lógica do conflito e da transformação;

• A prática do Serviço Social também tem urna dimensão pedagógica à


proporção que trabalha numa perspectiva de transformação da consciência dos
sujeitos com vistas a sua emancipação;

• Profissional do Serviço Social deve procurar trabalhar em rede, ou seja,


deve conhecer os diversos tipos de atendimentos existentes no que se refere à
questão da violência contra a mulher. Procurar conhecer os colegas profissionais que
trabalham com o mesmo enfoque e trabalhar em parceria, elaborar projetos em
conjunto, usufruir dos mesmos recursos (materiais, pessoais e financeiros) de um
programa, canalizar forças para um programa hem sucedido e trocar experiências de
práticas bem sucedidas;

• Realizar seminários e campanhas para desencorajar o uso da violência


como forma de resolver conflitos. O profissional, no seu perfil de atendimento direto à
população e através da escuta das demandas das mulheres que sofrem violência
doméstica, tem uma responsabilidade importante no que se refere à proposição e
28

implementação de políticas públicas. A categoria do Serviço Social consta nos


movimentos sociais que, na contemporaneidade, expressam as transformações
societárias e tem procurado fazer propostas de intervenção no sentido de efetivação
e ampliação dos direitos sociais.

Com relação ao trabalho dos Assistentes Sociais temos o Código de


Ética que é direção para profissão. Nele encontram-se princípios fundamentais que
devem nortear as práticas destes profissionais. São princípios que dão suporte para
vencer os desafios do cotidiano. Assim temos:

Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e


autoritarismo; Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que
assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos
programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;
Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o
aprimoramento profissional (BRASIL, 1993).

De fato, frente a toda a complexidade social que envolve o exercício


profissional dos assistentes sociais, é necessário que estes possuam um projeto
profissional sólido para efetivar suas ações na realidade dinâmica da sociedade
capitalista.

.
29

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência e a agressão contra a mulher vêm desde os primórdios


da humanidade, e hoje no século XXI nos deparamos ainda com essa barbaridade.

Os aspectos para analisar a violência e a agressão contra a mulher,


fazem-nos compreender a importância da denúncia. E mais importante, não deixar
essas vítimas desamparadas, tornando-se apenas mais um número para as
estatísticas, é necessário um acompanhamento psicológico, pois a pior ferida é aquela
que não se vê.

É na prevenção da violência, na conscientização ativa e na


garantia dos direitos e deveres de um cidadão que devemos nos concentrar. É um
longo caminho a ser trabalhado visando a persistência da violência contra a mulher,
mas é um passo que pode ser dado por todos nós.

Percebemos que seria muito difícil compreender as configurações


relacionais de gênero sem considerar a divisão sexual do trabalho, que enraíza a
subalternidade nas próprias relações sociais de produção capitalista.

Atualmente, embora as mulheres estejam atuando cada vez mais


no mercado de trabalho, conseguimos perceber as diferenças existentes nas relações
trabalhistas entre homens e mulheres, não apenas com relação à desigualdade
salarial, que é fato, mas também com relação aos “papéis” atribuídos aos homens e
às mulheres, deixando-as em desvantagem no mercado de trabalho quando
pensamos, por exemplo, na “dupla jornada” que a mulher precisa desempenhar como
parte “obrigatória” da sua função na sociedade.

A partir da segunda metade do século XX, pesquisadores (as)


feministas inseriram a categoria de “gênero” para desmistificar a naturalização dos
papéis atribuídos aos homens e às mulheres, ou seja, o caráter biologicista nas
relações entre ambos os sexos.

Compreender as relações de gênero enquanto processo histórico de


construção social dos sexos feminino e masculino nos permite ter maior clareza sobre
30

os distintos papéis atribuídos para ambos, de acordo com o contexto e a cultura da


sociedade em que estão inseridos.

Sendo assim, é possível que haja uma ruptura com os modelos


“ideais” de homens e mulheres na sociedade atual, caso ambos os segmentos,
conforme suas diferenças tomem consciência não apenas das desigualdades entre
ambos, mas se percebam numa relação que pode trazer prejuízos para os dois.

Pois, como afirmou Saffioti (1987, p.40), os esteriótipos funcionam


como uma “máscara”, onde ambos são limitados a cumprirem apenas os papéis que
lhes cabem. Como um dos resultados da desigualdade que está na base das relações
de gênero e, especificamente, do patriarcado como expressão máxima da
subordinação da mulher ao homem, identificamos a violência contra a mulher, ou
melhor, as diversas formas de violência praticada contra as mulheres, tanto na esfera
pública como no âmbito doméstico.

Aqui, cabe novamente relembrarmos a importância da atuação dos


movimentos feministas na publibicidade da violência contra a mulher enquanto
assunto que deva ser debatido coletivamente, na busca pelo rompimento de ideias
preconcebidas do senso comum, como “em briga de marido e mulher não se mete a
colher” ou“ela sabe porque está apanhando”.

Este fenômeno acomete mulheres de diferentes classes sociais, ou


seja, as mulheres não estão imunes da violência, independente da condição financeira
que apresentem. Este dado é importante, pois os casos mais veiculados de violência
contra a mulher são das que se encontram em condição econômica mais
desfavorável.

Os casos de outras classes econômicas tendem a ser mantidos em


sigilo, mais velados. Esta consideração é de extrema importância devida a
prevalecência de violência nas comunidades mais vulneráveis economicamente,
portanto, mais suscetíveis ao risco social.

No entanto, não podemos afirmar que a pobreza é indicativa de


tendência à criminalidade e violência. Caso contrário, estaríamos afirmando que tais
atrocidades são cometidas somente por pessoas pobres e que também seriam as
únicas vítimas. O que seria uma inverdade, visto que, o fenômeno perpassa todas as
31

classes e os atos violentos são cometidos por diversos atores e não somente pelos
“marginalizados” da sociedade

A tarefa proposta neste item de conclusão tem por um lado certa


facilidade e por outro uma difícil exigência ética-política. A primeira refere-se aos
avanços relativos ao reconhecimento da „violência contra a mulher ‟como expressão
histórica da Questão Social que precisa ser enfrentada e eliminada pelo Estado e
sociedade.

Enfrentar o cenário ainda patriarcal da sociedade contemporânea é


tarefa de todos: Estado, governos e governantes; instituições, partidos políticos e
entidades de classe; enfim, cidadãos homens e mulheres, na sua qualidade de
sujeitos particulares ou de profissionais.

Em segundo, mesmo reconhecendo os avanços que propiciaram


inclusive a criação de serviços e aparatos sociais, educacionais e de segurança para
tal enfrentamento, também é necessário denunciar a incipiência dos mesmos, no que
tange a proporção entre demanda e oferta de serviços, bem como em relação à
irrisória disponibilidade de recursos profissionais e financeiros dentro da rede de
atendimento.

Deve-se reconhecer e valorizar também a importância da atuação do


Serviço Social nestes espaços e junto a esta demanda. Isto somente está
acontecendo a partir da qualidade dos profissionais que trabalham na área, os quais
demonstram no cotidiano profissional a imprescindibilidade de seu saber e fazer
profissional.

Também, enquanto profissão, é necessário reconhecer que ainda há


necessidade de avanços em relação à qualificação profissional para trabalhar no
enfrentamento da violência de gênero.

É indispensável que se construa redes de apoio que atenda às


vítimas de violência doméstica, tais como: casas de apoio que possam abrigá-las em
condições de emergências; instituições que possam capacitá-las para o trabalho, para
que possam ter autonomia financeira; instituições que ofereçam um primeiro
atendimento sobre seus direitos, orientações, apoio psico-social, para que as mesmas
32

recuperem a auto-estima e se preparem para enfrentar os seus problemas. Para


Camargo e Aquino (2003),

Cabe aos demais setores como da saúde, da educação, da justiça


e segurança, assistência social e trabalho, mobilizarem-se para a socialização sobre
a questão de gênero e a violência.

Não devemos esquecer que a educação recebida dentro de casa


(socialização primaria) é indispensável para a construção do papel de gênero do
indivíduo, portanto, a desconstrução das regras postas pela sociedade do que é ser
homem ou mulher, vai depender basicamente da educação que recebemos de nossos
pais, da educação que daremos para nossos filhos. Colocarmos como princípio à
igualdade entre os sexos, sem discriminação de gêneros, é um caminho para
prevenção da violência de gênero.

Mudar o comportamento social e cultural da sociedade não será


fácil, mas com muito trabalho e medidas educativas que busquem a conscientização,
a população ganhará novas forças para dizer não a violência doméstica e conjugal.

Para que se resolva o problema da violência contra a mulher é


necessário sensibilizar a sociedade no intuito de não mais reproduzi-la, a quebra do
silencio quando este ocorrer, qualificação no seu atendimento quando solicitado e
principalmente estruturas disponíveis e adequadas para a realização do seu
atendimento quando necessário.

Podemos concluir que a mulher deve possuir o direito de não sofrer


agressões no espaço público ou privado, a ser respeitada em suas especificidades e
a ter garantia de acesso aos serviços da rede de enfrentamento à violência contra a
mulher, quando passar por situação em que sofreu algum tipo de agressão, seja ela
física, moral, psicológica ou verbal. coibir, punir e erradicar todas as formas de
violência devem ser preceitos fundamentais de um país que preze por uma sociedade
justa e igualitária entre mulheres e homens.

E aos profissionais que lidam com essa demanda, é fundamental


que estes sejam capacitados para ouvir a mulher sem pré-julgamentos (a chamada
escuta qualificada) e perguntar a ela sobre agressões sem a constranger, que
33

conheçam a rede de atendimento na região da Unidade de Saúde/Assistência para


encaminhar a mulher conforme a necessidade.
34

REFERÊNCIАS

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problemática do indivíduo. Revista Serviço Social e Sociedade. nº 57. São Paulo,
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35

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