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Faculdade CGESP

Direito Civil III


Contratos

Aula 12
20 de novembro de 2023
O CDC, Lei nº 8.078/1990 regula as relações de con-
sumo.

Num pólo há o fornecedor; no outro, o consumidor.


Ao contrário do Código Civil, o CDC não prevê,
com riqueza de detalhes, regras quanto à forma-
ção geral do contrato de consumo.

A maior parte das regras do CDC referentes à for-


mação dos contratos concentra-se na fase de ne-
gociação.

Em relação às demais fases (policitação e contrato


preliminar), o CDC silencia.

Dessa forma, o aplicador do direito deve se socorrer


nas regras comuns de Direito Privado na dúvida
quanto à constituição de contratos de natureza
consumerista.
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficiente-
mente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio
de comunicação com relação a produtos e serviços
oferecidos ou apresentados,
e
.

Apesar de implícita, o art. 30 do CDC apresenta o


princípio da boa-fé objetiva, ao falar que:
toda informação ou publicidade obriga o forne-
cedor, e;
integra o contrato que vier a ser celebrado.
Os anúncios veiculados estão situados na fase pré-
contratual, visto que a lei deixa claro que aqueles
integrarão o futuro contrato.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – CONTRATO DE SEGURO-SA-
ÚDE – RESPONSABILIZAÇÃO POR DESPESAS DE INTERNA-
ÇÃO E TRATAMENTO – Ausência de exame pré-admissi-
onal para avaliação de doenças preexistentes –
– Prestação
de serviços subordinada ao Código de Defesa do
Consumidor – Sistema privado de saúde, que comple-
menta o público e assume os riscos sociais de seu mis-
ter – Direito absoluto à vida e à saúde que se sobrepõe
ao direito obrigacional – Recurso não provido. (Tribunal
de Justiça de São Paulo, Apelação Cível 104.633-4/SP, 3.ª Câm. de
Direito Privado de Julho/2000, Rel. Juiz Carlos Stroppa, j. 01.08.2000,
v.u.).
O art. 35 do CDC menciona três possibilidades di-
ante da recusa do fornecedor na prestação da
obrigação:
Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar
cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade,
o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre
escolha:
I – , nos
termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II –
equivalente;
III – , com direito à restituição de
quantia eventualmente antecipada, monetariamente
atualizada, e a perdas e danos.
O tratamento dado à formação do contrato e à
correspondente boa-fé objetiva ainda pode ser vi-
sualizado pela
, conforme arts. 36 e 37 do
CDC:
A publicidade deve ser veiculada de tal forma
que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique
como tal.
Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de
seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para
informação dos legítimos interessados, os dados fáticos,
técnicos e científicos que dão sustentação à mensa-
gem.
É proibida toda publicidade enganosa ou abu-
siva.
§1º. É enganosa qualquer modalidade de informa-
ção ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou
parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mes-
mo por omissão,
a respeito da natureza, características, qualidade,
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer
outros dados sobre produtos e serviços.
§2°. É abusiva, dentre outras a publicidade discrimi-
natória de qualquer natureza, a que incite à violência,
explore o medo ou a superstição, se aproveite da defi-
ciência de julgamento e experiência da criança, des-
respeita valores ambientais, ou que seja capaz de in-
duzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial
ou perigosa à sua saúde ou segurança.
§3°. Para os efeitos deste código, a publicidade é
enganosa por omissão quando deixar de informar so-
bre dado essencial do produto ou serviço.
§4°. (Vetado)

O ônus da prova da veracidade e correção da


informação ou comunicação publicitária cabe a
quem as patrocina.

O art. 48 do CDC regula especificamente a res-


ponsabilidade pré-contratual no negócio de con-
sumo:
Art. 48. As declarações de vontade constantes de es-
critos particulares, recibos e pré-contratos relativos às
relações de consumo r,
, nos termos do art.
84 e parágrafos.
[Exemplo] Empresa elaborou orçamento prévio
com a previsão de um determinado valor para
prestação do serviço. Diante da confiança deposi-
tada, o prestador de serviços não poderá alterar o
preço, por estar presente a sua responsabilidade
pré-contratual diante do compromisso firmado.
Caso o fornecedor se negue a cumprir a obri-
gação, caberá ação de execução de obriga-
ção de fazer, com fixação de preceito comina-
tório – multa ou astreintes, de acordo com o §4º
do art. 84 do CDC.
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a
tutela específica da obrigação ou determinará provi-
dências que assegurem o resultado prático equiva-
lente ao do adimplemento.
§1°. A conversão da obrigação em perdas e danos
somente será admissível se por elas optar o autor ou se
impossível a tutela específica ou a obtenção do resul-
tado prático correspondente.
§2°. A indenização por perdas e danos se fará sem
prejuízo da multa (art. 287, do Código de Processo Ci-
vil).
§3°. Sendo relevante o fundamento da demanda e
havendo justificado receio de ineficácia do provi-
mento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminar-
mente ou após justificação prévia, citado o réu.
§4°. O juiz poderá, na hipótese do §3° ou na senten-
ça, impor multa diária ao réu, independentemente de
pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento
do preceito.
§5°. Para a tutela específica ou para a obtenção do
resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar
as medidas necessárias, tais como busca e apreensão,
remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra,
impedimento de atividade nociva, além de requisição
de força policial.
[Exemplo] Empresa que executou o serviço não
pode pedir alteração do preço. Isso representa a
aplicação da venire contra factum proprium non po-
test, ou seja, a vedação da pessoa cair em contra-
dição por conduta, conceito inerente à boa-fé ob-
jetiva, conforme o Enunciado CJF/STJ nº 362.
Para
a tutela específica ou para a obtenção do resultado
prático equivalente, poderá o juiz determinar as medi-
das necessárias, tais como busca e apreensão, remo-
ção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impe-
dimento de atividade nociva, além de requisição de
força policial.
[Exemplo] Nas vendas realizadas fora do estabele-
cimento comercial há um prazo de arrependimento
de sete dias, contados da assinatura do contrato
ou do ato de recebimento do produto ou do ser-
viço, o que ocorrer por último, diante da interpreta-
ção pro consumidor, conforme art. 47 do CDC.

Se o consumidor manifestar o seu arrependi-


mento, os valores pagos durante esse prazo de
reflexão serão devolvidos de imediato, com
atualização monetária.
As cláusulas contratuais
.
O consumidor

, sempre que a
contratação de fornecimento de produtos e serviços
ocorrer fora do estabelecimento comercial, especial-
mente por telefone ou a domicílio.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito
de arrependimento previsto neste artigo, os valores
eventualmente pagos, a qualquer título, durante o pra-
zo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, moneta-
riamente atualizados.

O consumidor não pode abusar do seu direito, inci-


dindo na norma do paragrafo único do art. 49 do
CDC.
O CDC também estabelece que os contratos con-
sumeristas têm, com base no princípio da boa-fé
objetiva, o dever de informar, ainda na fase pré-
contratual:
No fornecimento de produtos ou serviços que
envolva outorga de crédito ou concessão de financi-
amento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre ou-
tros requisitos,
:
I – preço do produto ou serviço em moeda cor-
rente nacional;
II – montante dos juros de mora e da taxa efetiva
anual de juros;
III – acréscimos legalmente previstos;
IV – número e periodicidade das prestações;
V – soma total a pagar, com e sem financiamento.
§1°. As multas de mora decorrentes do inadimple-
mento de obrigações no seu termo não poderão ser
superiores a dois por cento do valor da prestação.
§2º. É assegurado ao consumidor a liquidação ante-
cipada do débito, total ou parcialmente, mediante re-
dução proporcional dos juros e demais acréscimos.
§3º. (vetado).

O art. 39 do CDC apresenta diversas condutas que


são denominadas como práticas abusivas.

Tal normatização pode ser aplicada diretamente


na formação dos contratos, podendo até mesmo
gerar a nulidade da cláusula ou mesmo do con-
trato como um todo.
É vedado ao fornecedor de produtos ou servi-
ços, dentre outras práticas abusivas:
I –
,
bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;
II – recusar atendimento às demandas dos consu-
midores, na exata medida de suas disponibilidades de
estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e cos-
tumes;
III –

;
IV – prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do
consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhe-
cimento ou condição social, para impingir-lhe seus
produtos ou serviços;
V – exigir do consumidor vantagem manifesta-
mente excessiva;
VI –
, res-
salvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as
partes;
VII – repassar informação depreciativa, referente a
ato praticado pelo consumidor no exercício de seus di-
reitos;
VIII – colocar, no mercado de consumo, qualquer
produto ou serviço em desacordo com as normas ex-
pedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se nor-
mas específicas não existirem, pela Associação Brasi-
leira de Normas Técnicas ou outra entidade credenci-
ada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normali-
zação e Qualidade Industrial (Conmetro);
IX –

mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de


intermediação regulados em leis especiais;
X – elevar sem justa causa o preço de produtos ou
serviços.
XI – (dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999,
transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870, de
23.11.1999)
XII – deixar de estipular prazo para o cumprimento
de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo ini-
cial a seu exclusivo critério.
XIII –
.
XIV – permitir o ingresso em estabelecimentos co-
merciais ou de serviços de um número maior de con-
sumidores que o fixado pela autoridade administrativa
como máximo.
Parágrafo único.
, na hipótese
prevista no inciso III, ,
inexistindo obrigação de pagamento.
São , entre outras, as cláu-
sulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos
e serviços que:
I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a respon-
sabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natu-
reza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou
disposição de direitos. Nas relações de consumo entre
o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indeni-
zação poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II – subtraiam ao consumidor a opção de reem-
bolso da quantia já paga, nos casos previstos neste
código;
III – ;
IV –

,
ou a equidade;
V – (vetado);
VI –
;
VII – determinem a utilização compulsória de arbi-
tragem;
VIII – imponham representante para concluir ou
realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;
IX – deixem ao fornecedor a opção de concluir ou
não o contrato, embora obrigando o consumidor;
X – permitam ao fornecedor, direta ou indireta-
mente, variação do preço de maneira unilateral;
XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato
unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao
consumidor;
XII – obriguem o consumidor a ressarcir os custos
de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito
lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII – autorizem o fornecedor a modificar unilate-
ralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato,
após sua celebração;
XIV – infrinjam ou possibilitem a violação de nor-
mas ambientais;
XV –
;
XVI – possibilitem a renúncia do direito de indeni-
zação por benfeitorias necessárias.
XVII – condicionem ou limitem de qualquer forma
o acesso aos órgãos do Poder Judiciário;
XVIII – estabeleçam prazos de carência em caso
de impontualidade das prestações mensais ou impe-
çam o restabelecimento integral dos direitos do con-
sumidor e de seus meios de pagamento a partir da
purgação da mora ou do acordo com os credores;
XIX – (vetado).
§1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a
vantagem que:
I – ofende os princípios fundamentais do sistema ju-
rídico a que pertence;
II – restringe direitos ou obrigações fundamentais
inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ame-
açar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III – se mostra excessivamente onerosa para o
consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo
do contrato, o interesse das partes e outras circunstân-
cias peculiares ao caso.
§2º. A nulidade de uma cláusula contratual abusiva
não invalida o contrato, exceto quando de sua ausên-
cia, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus
excessivo a qualquer das partes.
§3º. (vetado).
§4º. É facultado a qualquer consumidor ou entidade
que o represente requerer ao Ministério Público que
ajuíze a competente ação para ser declarada a nuli-
dade de cláusula contratual que contrarie o disposto
neste código ou de qualquer forma não assegure o jus-
to equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.
O contrato eletrônico é quase unânime em com-
paração com o contrato epistolar (por carta).

A via digital repercute diretamente na órbita civil,


influenciando os contratos, o direito de proprie-
dade, a responsabilidade civil e até o direito de
família.
São características do direito digital ou direito ele-
trônico:
a celeridade;
o dinamismo;
a autorregulamentação;
a existência de poucas leis;
uma base legal na prática costumeira;
o uso da analogia, e;
a busca da solução por meio da arbitragem
Há vários temas jurídicos digitais ignorados pelo
CC02 em relação:
à celebração do contrato à distância;
ao resguardo da privacidade do internauta;
ao respeito à sua imagem;
à criptografia;
às movimentações financeiras;
aos home banking;
à validade dos documentos eletrônicos;
à emissão desenfreada de mensagens publici-
tárias indesejadas (SPAMs).
Essa pendência legislativa, contudo, não impede a
aplicação das regras do atual Código Civil ou
mesmo do Código de Defesa do Consumidor aos
contratos eletrônicos.

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