Psicologia, Esporte E Saúde Mental
Psicologia, Esporte E Saúde Mental
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PSICOLOGIA E CLINICA
MÓDULO II
Psicologia, esporte e saúde mental
Sumário
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contrapartida desenvolveu a técnica da livre associação. Foi aí que a Psicologia Clínica nasceu,
porque trouxe a cura pela palavra.
A Psicologia Clínica cresceu desde então. O advento da Psicanálise abriu um
abrangente campo para novas teorias, como a Psicologia Analítica, de Gustav Jung, discípulo
de Freud.
Hoje em dia, existem muitas linhas de pensamento em Psicologia: as mais famosas são
a Psicanálise, a Psicologia Analítica, a Análise do Comportamento ou Behavorismo de Skinner e
a Fenomenologia. Esta última nasceu dos pensamentos de Sartre, Husserl, e tem seus
expoentes na Psicologia representados por Rollo May (existencialista) e Fritz Pearls (Gestalt -
terapia).
É frequente o desconhecimento que, por vezes, se verifica relativamente à pessoa
e ao papel do psicólogo clínico e de outros técnicos de saúde mental denominados,
comumente, de “Psis”.
Se depararmos com técnicos de saúde com modelos de intervenção diferentes e
bem delimitados tanto na forma como em conteúdo, torna-se premente distingui-los,
para que a procura por cuidados em saúde mental seja, à partida, informada e racional.
Sem querer minimizar a importância (bem como o dever ético e deontológico que
lhe está subjacente) da indicação para um técnico de outra especialidade, quando a
situação assim o exige, será benéfico para o funcionamento da saúde enquanto sistema.
No qual a pessoa esteja suficientemente informada quanto ao tipo de ajuda disponível
para que, logo de início, procure o tipo de intervenção adequada à situação.
Importa, então, clarificar determinados aspectos inerentes à prática do psicólogo
enquanto técnico de saúde, e diferenciá-lo de outros intervenientes neste âmbito. Não cabe
aqui uma descrição pormenorizada da especificidade de outras áreas de intervenção no
campo da saúde mental.
No entanto, importa realçar a sobreposição que, com frequência, se verifica, quer
ao nível de entidades quer de metodologias, com outro técnico de saúde: o psiquiatra. Esse
profissional segue um modelo médico, próprio da formação que obteve: o indivíduo tem o
“mal” para o qual existe o “remédio” que "cura".
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Necessidades da multidisciplinaridade
A Psicologia nasceu de estudos filosóficos e fisiológicos, portanto carrega traços
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CONCEITO DE SAÚDE
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seguida, surge a teoria dos miasmas (gazes), que vai predominar por muito tempo. Até que,
com os estudos de Louis Pasteur, na França, entre outros, vem a prevalecer a “teoria da
unicausalidade”, com a descoberta dos micróbios (vírus e bactérias) e, portanto, do agente
etiológico, ou seja, aquele que causa a doença.
Devido à sua incapacidade e insuficiência para explicar a ocorrência de uma série de
outros agravos à saúde do homem, essa teoria é complementada por uma série de
conhecimentos produzidos pela epidemiologia, que demonstra a multicausalidade como
determinante da doença e não apenas a presença exclusiva de um agente.
Finalmente, uma série de estudos e conhecimentos provindos principalmente da
epidemiologia social nos meados deste século esclarece melhor a determinação e a
ocorrência das doenças em termos individuais e coletivos. O fato é que se passa a
considerar saúde e doença como estados de um mesmo processo, composto por fatores
biológicos, econômicos, culturais e sociais.
Deve-se ressaltar ainda o recente e acelerado avanço que se observa no campo da
Engenharia Genética e da Biologia Molecular, com suas implicações tanto na perspectiva
da ocorrência como da terapêutica de muitos agravos. Desse modo, surgiram vários
modelos de explicação e compreensão da saúde, da doença e do processo saúde-doença,
como o modelo epidemiológico baseado nos três componentes: agente, hospedeiro e
meio, considerados como fatores causais, que evoluiu para modelos mais abrangentes,
como o do campo de saúde, com o envolvimento do ambiente (não apenas o ambiente
físico), estilo de vida, biologia humana e sistema-serviço de saúde, em uma permanente
inter-relação e interdependência.
Alguns autores questionam esse modelo, ressaltando, por exemplo, que o “estilo
de vida” implicaria uma opção e conduta pessoal voluntária, o que pode não ser
verdadeiro, pois pode estar condicionado a fatores sociais, culturais, entre outros. De
qualquer modo, o importante é saber e reconhecer essa abrangência e complexidade
causal: saúde e doença não são estados estanques, isolados, de causa aleatória – não se
está com saúde ou doença por acaso. Há uma determinação permanente, um processo
causal, que se identifica com o modo de organização da sociedade. Daí se dizer que há uma
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“produção social da saúde e/ou da doença”. Em última instância, como diz Breilh, “o
processo saúde-doença constitui uma expressão particular do processo geral da vida social”.
Outro nível de compreensão que se há de ter em relação ao processo saúde-doença é o
conceito do que é ser ou estar doente ou o que é ser ou estar saudável.
Sem aprofundar as grandes discussões sobre esse tema, que envolvem entre outras,
como base de discussão preliminar e compreensão, as categorias da “representação dos
indivíduos” e a “representação dos profissionais” ou mesmo das instituições de saúde. Em
um sentido mais pragmático pode-se destacar que em toda população há indivíduos
sujeitos a fatores de risco para adoecer com maior ou menor frequência e com maior ou
menor gravidade. Além do que, há diferenças de possibilidades entre eles de “produzir
condições para sua saúde” e ter acesso aos cuidados no estado da doença.
Há, portanto, grupos que exigem ações e serviços de natureza e complexidade
variada. Isso significa que o objeto do sistema de saúde deve ser entendido como as
condições de saúde das populações e seus determinantes, ou seja, o seu processo de
saúde-doença. Visando produzir progressivamente melhores estados e níveis de saúde
dos indivíduos e das coletividades, atuando articulada e integralmente nas prevenções
primária, secundária e terciária, com redução dos riscos de doença, sequelas e óbito.
Desse modo, há que se compreender outra dimensão, que é aquela que coloca o
processo de intervenção, por meio de um sistema de cuidados para a saúde, para atender
as necessidades, demandas, aspirações individuais e coletivas, como, um processo técnico,
científico e político. É político no sentido de que se refere a valores, interesses,
aspirações e relações sociais e envolve a capacidade de identificar e privilegiar as
necessidades de saúde individuais e coletivas. Resultantes daquele complexo processo de
determinação e acumular força e poder para nele intervir, incluindo a alocação e
garantia de utilização dos recursos necessários para essa intervenção.
É técnico e científico no sentido de que esse saber e esse fazer em relação à saúde-
doença da população não devem ser empíricos, mas podem e devem ser
instrumentalizados pelo conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico, pelo
avanço e progresso da ciência.
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SAÚDE MENTAL
<http://s.socialesaude.zip.net/>
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DEFICIÊNCIA MENTAL
https://fortissima.com.br/2013/07/04/deficiencia-mental-causas-e-tratamento-
9162/
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TRANSTORNO MENTAL
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várias espécies, aconselhamento e/ou apoio no dia a dia da vida em diferentes formas.
Diferentes profissionais da saúde podem estar envolvidos na assistência da pessoa que está
mentalmente enferma: clínicos gerais, psiquiatras, enfermeiros, psicólogos, terapeutas
ocupacionais, assistentes sociais e grupos de apoio voluntários, dentre outros.
As causas do sofrimento mental são complexas e os psicólogos, assim como outros
profissionais da saúde mental não têm todas as respostas. Sabe-se que alguns aspectos da
doença mental, tais como ansiedade, desespero e sentimentos suicidas, nem sempre são
fáceis de serem tratados, pois envolvem âmbitos dos mais diversos da existência humana.
Na Antiga Grécia, sinais corporais ou stigmata, feitos por cortes ou queimaduras no
corpo, marcavam as pessoas como diferentes. Pessoas com doença mental há muito não são
marcadas no corpo, mas atitudes críticas e prejudiciais podem ser tão danosas quanto as
marcas corporais. Basta abrir um jornal, ligar a TV ou ir ao cinema para perceber tais
atitudes.
Enquanto a mídia não aceitar essas queixas pelas percepções negativas, toda vez que
um programa, artigo ou filme retrata um estereótipo ou falha em esclarecer um mal
entendido sobre doença mental, ela auxilia na manutenção de mitos.
Os estigmas podem surgir por diferentes caminhos. As pessoas com sofrimento
mental podem agir de forma diferente. Uma pessoa deprimida pode se apresentar triste ou
apática; alguém na fase maníaca da doença bipolar pode parecer exageradamente feliz ou
irritável.
O problema é que quando alguém é marcado como diferente, é difícil para ele ser
aceito, não importa o quanto ele tente. Ele não consegue afastar o estigma e o resultado
disso, pois perde a confiança em si mesmo. Com o tempo, começa a se sentir como estranho
e que não se enquadra na vida.
Pessoas com transtornos mentais ou doenças mentais continuam a ser prejudicadas
e discriminadas em todas as áreas de suas vidas, desde onde encontrar um lugar para viver,
encontrar um trabalho. Não é surpreendente que muitas pessoas com doença mental grave
terminem pobres ou sem teto.
Cabe a todos nós tomarmos conhecimento do dano que provocamos com nossas
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atitudes negativas e nossa colaboração para isolá-las. Seja quem formos e seja o que
fazemos, nós podemos combater os efeitos danosos do estigma estendendo nossa amizade,
apoio e compreensão em vez do nosso julgamento e discriminação, para as pessoas que
estão mentalmente doentes.
Descrever pessoa com doença mental como “louca”, “esquisita”, “pinel” “lunática”, a
diminui como pessoa a não ser levada seriamente ou com a percepção que ela é perigosa
pode excluí-la das atividades do dia a dia. Muitas pessoas acreditam que doença mental é
incurável. Elas podem até ver certos tratamentos, como com antidepressivos ou
psicoterapias, como sem valor ou mesmo danosos, mesmo que em muitos casos tenham se
mostrado efetivos.
O fato é que cientistas estão fazendo progressos no desvendamento da estrutura e
química do cérebro. Como consequência tem-se melhor compreensão da mente e com ela
funciona. Entretanto, a doença mental tem muitas causas. Ela não é apenas uma questão de
química alterada e envolve questões sociais, emocionais, cognitivas e físicas.
O ESPORTE
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elaborados fora dela está na origem da ideia, muito ampla e partilhada no mundo das
ciências humanas e entre o grande público, segundo a qual ela é, por excelência, o lugar do
conservadorismo, da inércia, da rotina.
Neste caso, na escola, o esporte é ensinado, em muitos casos, com base na
determinação de seus códigos, principalmente, da codificação do esporte de alto nível.
Esta concepção quando aliada à visão tradicional e retrógrada sobre o esporte, leva à
crença, na qual muitos acreditam, que o esporte deve ser apenas vivenciado em seu caráter
prático, biológico e não de forma ampla e complexa. Todavia, o que ser quer é a construção
da escola como um espaço de autoria, de criação, de convivência e de construção coletiva.
Logo, é preciso pensar o esporte de forma ampla e generalizada em todos os seus
campos de abrangência, embora não seja um exercício fácil, como muitos alegam, mas
imprescindível. Hoje o esporte possui tamanho espectro que, como aborda Bento,
[...] é concebido e interpretado como fenômeno polissêmico e realidade polimórfica,
múltipla e não singular. O desporto é um construto que se alicerça num entendimento plural
e num conceito representativo, agregador, sintetizador e unificador de dimensões
biológicas, físicas, motoras, lúdicas, corporais, técnicas e táticas, culturais, mentais,
espirituais, psicológicas, sociais e afetivas (BENTO, 2006, p. 3).
Assim, dentro do espaço escolar, tratar pedagogicamente este fenômeno é, para
muitos professores e gestores públicos, tratar o espaço da base da pirâmide ou o celeiro de
futuros atletas. Já para outros, é um espaço de apropriação crítico do fenômeno esportivo.
Dessa forma, o esporte, com tamanha abrangência e significados, não pode restringir-se a
este espaço, pois a escola, como nos cita Graça,
[...] não dá, nem podia dar resposta à expansão das necessidades de prática
desportiva nem à pluralidade de motivos que atraem e ligam as pessoas, as diferentes
idades, gênero e condição a essa prática (GRAÇA, 2004, p. 97).
A visão do esporte espetáculo não pode e nem deve sustentar a prática escolar,
porque este modelo de exclusão e de seleção dos mais habilidosos, representado
metaforicamente pelo símbolo da pirâmide, não atende às necessidades deste espaço de
aprendizagem. Para muitos, a base da pirâmide é representada pela escola. A cada novo
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OS ESPORTES COLETIVOS
O jogo desportivo coletivo representa uma forma de atividade social organizada, uma
forma específica de manifestação e de prática, com caráter lúdico e processual, do exercício
físico, na qual os participantes (jogadores) estão agrupados em duas equipes numa relação
de adversidade típica não hostil (rivalidade desportiva), relação determinada pela disputa
através da luta com vista à obtenção da vitória desportiva, com a ajuda da bola (ou de outro
objeto de jogo), manobrada de acordo com regras pré-estabelecidas (TEODORESCU, 2003, p.
23).
Os esportes coletivos são parte do fenômeno esportivo e despertam fascínio em
praticantes e em espectadores. O futebol se destaca desde o final do séc. XIX, e,
posteriormente, no séc. XX, o handebol, basquete e voleibol – modalidades que, somadas ao
futebol, se destacam em virtude de sua grande presença e influência nas escolas e clubes
sociais e esportivos – têm ganhando adeptos e público. O Brasil tem excelente participação
em nível mundial nessas modalidades, com destaques representados por atletas, técnicos e
dirigentes.
Além de grandes nomes no futebol, o Brasil ocupa, no ano de 2012, o 6° lugar no
ranking masculino e o 4°, no feminino, conforme dados da Federação Internacional de
Futebol. Já o handebol ocupa o 26° lugar, no masculino, e o 22°, com a equipe feminina,
segundo a Federação Internacional de Handebol. Quanto ao voleibol masculino, o Brasil é o
1° colocado, e, no feminino, a seleção ocupa o 2° lugar, de acordo com a Federação
Internacional de Voleibol. No basquetebol, o 13° lugar é ocupado pela equipe masculina e o
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Para tanto é fundamental situar o termo método de ensino que, para Gonzalez e
Fernsterseifer (2005, p. 274), refere-se “[...]aos procedimentos para atingir um objetivo na
ação educativa”, e, em sentido mais geral,
[...] método significa caminho para chegar a um fim. A palavra método deriva do
latim methodus, que por sua vez tem origem no grego, das palavras meta (meta=meta) e
hodos (hodos= caminho). Logo, método significa caminho para se chegar a um determinado
lugar (GONZALEZ e FERNSTERSEIFER, 2005, p. 274).
Ainda em relação à terminologia, o autores destacam algumas confusões teóricas que
se aportam nesta discussão, como:
Uma confusão frequente na distinção entre método e técnica de ensino. Se os
métodos procuram atingir os objetivos da educação ou os objetivos da disciplina ou área, as
técnicas de ensino se referem mais especificamente a objetivos menores de um processo
educativo, por exemplo, os correspondentes a uma unidade de ensino, ou até motivar a
aprendizagem de um determinado tema, agrupar alunos ou introduzir recursos tecnológicos
na sala de aula (GONZALEZ E FERNSTERSEIFER, 2005, p. 274).
A partir da consideração de que independente do local, seja a escola, o clube, ou
outros espaços de prática esportiva de ensino formal, os métodos de ensino e aprendizagem
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não se diferenciam nos seus princípios básicos, para este estudo, são propostas algumas
reflexões sobre os problemas enfrentados no espaço escolar, mas comuns, também, nas
escolinhas de esportes e nos clubes.
Nestes espaços não há restrição às equipes selecionadas. Há um grande número de
praticantes com turmas bastante heterogêneas e com diferentes objetivos que vão desde a
vontade dos pais, até as ambições dos alunos.
A prática dos esportes coletivos, conforme Garganta (2000), deve desenvolver, nos
praticantes, “[...] competências que transcendam a execução propriamente dita e se
centrem na assimilação de ações e princípios do jogo” (GARGANTA, 2000, p. 55). Ainda,
segundo Greco (2012), “[...] o processo de ensino-aprendizagem na iniciação esportiva,
conforme a visão das teorias integradoras, apresenta uma ênfase na ação de jogar” (GRECO,
2012, p. 447), ou seja, o processo de iniciação e treinamento deve ser o mais fidedigno
possível ao jogo.
É indispensável asseverar o princípio básico que recobre qualquer abordagem
metodológica de ensino e aprendizagem: a orientação por ações similares às ações
desenvolvidas no momento do jogo esportivo coletivo. Portanto, o professor e/ou
profissional deverão sempre ter esclarecidos o fato de que as ações pedagógicas realizadas
deverão estar próximas ao movimento técnico, tático e estratégico do jogo.
Os jogos esportivos coletivos, como já mencionado, são ambientes ricos pela
imprevisibilidade, sendo esta uma de suas características mais importante. Contudo,
Garganta (1998) afirma existir os possíveis previsíveis, o que justifica e dá sentido aos
processos de preparação e treinamento. Segundo Greco (1998), os possíveis previsíveis
passam pela capacidade de recepção de informações, pela capacidade de armazenamento
de informações e a capacidade de elaboração de informações, por isso, o termo utilizado por
Garganta (1998) significa criar e automatizar uma série de situações e vivências motoras que
vão facilitar e agilizar as tomadas de decisão e de ação motora.
Costa e Nascimento (2004) ressaltam que um dos principais problemas encontrados,
principalmente no ensino das modalidades esportivas escolares, não é a especificidade de
modalidades, mas a forma tradicionalista com a qual elas são abordadas
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metodologia dos Jogos Esportivos Coletivos repousa numa análise formal e mecanicista de
soluções preestabelecidas, como a metodologia “tradicional”.
Para contribuir nesta discussão, Saad (2002) classificou e atribuiu características a
cada um destes modelos, tradicional e ativos, de uma parte, os métodos tradicionais ou
métodos didáticos baseiam-se nos princípios da simplicidade, da análise e da
progressividade (decompõe-se em elementos a matéria a ensinar). Há dois processos
fundamentais que participam a toda aquisição: a memorização e a repetição que permitem
aplicar sobre a criança o rigor do adulto. De outra parte, há os métodos ativos, que levam
em conta os interesses presentes da criança e que solicitam a partir de situações vividas, a
iniciativa, a imaginação e a reflexão pessoal para favorecer a aquisição de um saber
adaptado (SAAD, 2002, p. 29).
Partindo desta definição, os métodos de ensino e aprendizagem catalogados na
bibliografia relativa aos esportes coletivos serão apresentados abaixo, divididos, conforme
Saad (2002), em métodos tradicionais e métodos ativos.
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destreza nas partes é que elas serão unidas e executadas de maneira completa (XAVIER,
1986). Por isso, esse método deve ser indicado para destrezas e habilidades com certo grau
de complexidade ou de dificuldade por parte do executor, como citado por Morehouse e
Miller (1978),
Para apressar a aprendizagem de destrezas pouco comuns ou muito complexas,
deve-se decompor os distintos elementos dos movimentos que os integram e aprendê-los
separadamente, para logo se combinar uns com os outros e se somar gradualmente até
alcançar a correta execução da técnica completa (MOREHOUSE e MILLER, 1978 apud
XAVIER,1986, p.18).
Corroborando com esta ideia, Hegedus (1979) afirma que ao se planejar o
treinamento físico é importante saber que “[...] quando os exercícios forem de alta
complexidade, é recomendável dividi-los em diversas fases” (HEGEDUS,1979, apud
XAVIER,1986, p. 19). Destaca ainda que destrezas e técnicas simplificadas não necessitam ser
trabalhadas por meio deste método e indica o uso de variados métodos para se atingir os
objetivos propostos.
Uma das críticas feitas a esse método diz respeito à falta de semelhança com o
dinamismo do jogo e, por conseguinte, a desmotivação que provoca nos alunos, como nos
alerta Dietrich, Durrwachter e Schaller (1984, p. 18) “[...] assim permanece o perigo de que o
método parcial decorra alheio ao jogo e de que o pré-treino do jogo se torne um treino
contra o jogo”.
Garganta (1998) afirma que os Jogos Esportivos Coletivos são atividades nas quais
existem e acontecem infinitas situações imprevisíveis que não apresentam uma sequência,
ordem cronológica e complexidade definida, além de não haver uma forma fixa de execução.
Dessa maneira, aponta para a não adequação do uso do método parcial para estas
modalidades esportivas. Entretanto, muitos autores são categóricos ao admitirem a
importância desse método no aprimoramento técnico, como justifica Costa e Nascimento
(2004, p. 50), durante os estágios iniciais do processo ensino-aprendizagem, a atividade
motora dos alunos é bastante imprecisa, possuindo muitas vezes aparência rígida. Talvez a
necessidade de o professor transformar rapidamente esses movimentos numa ação motora
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Método Global
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Neste método há a utilização dos anteriores de maneira conjunta. Para Xavier (1986),
esse método consiste na sincronia dos métodos global-parcial-global. Também, para
Rochefort (1998), esse método é a síntese do método global e parcial. A técnica, nessa
metodologia, é aplicada de forma separada, até que se atinja um nível adequado para o jogo
ser executado por completo.
Primeiramente, acontece a execução do gesto como um todo. Em seguida, o gesto é
fragmentado com o objetivo de proceder às “correções” do movimento ou dos movimentos,
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Método de Confrontação
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Desvantagens:
i) o número de variações é tão grande que dificulta ao aluno diferenciar o que é
mais importante do que supérfluo;
ii) as experiências de sucesso ocorrem com uma menor frequência, o que
implica em uma possível perda de motivação;
iii) erros técnicos e táticos podem ocorrer descontroladamente e, desta forma,
não se chegar a uma conceitualização, a uma diferenciação do que técnica e taticamente é
correto e adequado, nem se chegar a uma definição dos objetivos do jogo (GRECO,1998, p.
44).
Este método acabou por se tornar uma referência negativa à imagem da Educação
Física, pois, em muitas situações, o professor acaba deixando os alunos sem supervisão
durante os jogos, favorecendo, com isso, as desvantagens citadas acima. Não se pretende
afirmar que o problema está no método, mas, infelizmente, no descompromisso dos
professores e/ou profissionais que não cumprem sua obrigação didática, fazendo com que a
fama de “rola bola” cresça, desvalorizando a disciplina.
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O objetivo da aula de Educação Física é capacitar para a prática do esporte para toda
vida. Este objetivo exige que a aula não se restrinja apenas aos jogos esportivos
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regulamentados. Eles podem, em suas formas internacionais, ser praticados apenas durante
um determinado período da vida, e mesmo neste período não por todas as pessoas da
mesma maneira. Ela deve levar em consideração formas metodológicas nas quais os alunos
aprendam a adaptar-se às necessidades do grupo e às variações de condições (DIETRICH,
DURRWACHTER e SCHALLER, 1984, p. 21).
Em nenhum momento, vale destacar, a proposta acima se refere a tornar as aulas de
Educação Física ou de iniciação esportiva espaços de recreação, sem objetivos e parâmetros
estipulados, mas refere-se à importância de se resgatar o caráter lúdico e recreativo da
prática esportiva.
Por meio do desvirtuamento da proposta inicial, muitos professores entenderam que
a recreação livre e deliberada deveria substituir o modelo esportivo predominante,
estabelecendo e divulgando a existência de um método recreativo. Isso não coaduna com as
crenças deste estudo, mas fato é que há publicações em que a recreação é concebida como
uma abordagem de ensino. Não se afirma, com isso, que não se acredita na ideia de que um
ambiente lúdico não favoreça o aprendizado de qualquer conhecimento, não só o esportivo,
mas não se pode concordar que o ambiente de aprendizagem de crianças e jovens torne-se
um laissez faire.
O conceito de lazer
O Lazer é um fenômeno moderno que, cada vez mais ganha espaço no âmbito social
e acadêmico, respectivamente inserindo-se na vida das pessoas dentro das comunidades, e
nas discussões acerca de seus potenciais e reflexos no mundo em que vivemos.
Os melhores e principais trabalhos realizados a respeito do lazer no Brasil
fundamentam-se nas teorias do sociólogo DUMAZEDIER (1976), que define lazer como
sendo:
Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade,
seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver
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sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre
capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais,
familiares e sociais. (DUMAZEDIER, 1976, p. 34).
Próximo a este conceito está o de CAMARGO (1989) que define como: Um conjunto
de atividades gratuitas, prazerosas, voluntárias e liberatórias, centradas em interesses
culturais, físicos, manuais, intelectuais, artísticos e associativos, realizadas num tempo livre
roubado ou conquistadas historicamente sobre a jornada de trabalho profissional e
doméstica e que interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos. (CAMARGO,
1989).
Diante disto, percebe-se que o lazer pode ser considerado como qualquer atividade
que venha a proporcionar descanso, quando possibilita a reparação das energias físicas e
mentais dos indivíduos ocasionados pelos trabalhos e pelas diversas obrigações cotidianas;
prazer e divertimento, quando rompe com o ritmo de vida através da recreação e do
entretenimento; e o desenvolvimento, quando proporcionam as pessoas a desenvolverem a
personalidade através da participação e da sociabilidade, com mais liberdade.
Não importa as diferentes interpretações que se possa dar à palavra lazer; o que
importa é que o lazer se dá pelo fato de se configurar como espaço de transformação social
e de colaboração para a construção de novas normas de convivência e estabelecimento de
novas relações entre as pessoas, podendo também ser entendido como lugar de execução
da cidadania e da liberdade, de forma a contribuir para a formação do ser humano.
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mais frequente com o fenômeno do lazer. Diante desses entrelaces, concorda-se com Alves,
Gomes & Resende (2005) ao afirmarem que o desenvolvimento e amadurecimento dos
Estudos do Lazer estão atrelados a um constante diálogo com as áreas mencionadas.
O lazer tem sido bastante estudado como contraponto à sobrecarga de trabalho e à
necessidade de tempo livre no mundo laboral, através da liberdade de escolha por
atividades prazerosas. É considerado como oportunidade de desligamento de compromissos
e de preocupações diárias, caracterizado por descanso, divertimento e desenvolvimento,
promotor de socialização e de aprendizagem (Gomes & Pinto, 2006; Melo & Alves Jr., 2003).
Estudos empíricos têm demonstrado a distribuição do lazer em sete interesses:
estético/artístico, intelectual, físico, social, turístico, manual e virtual (Camargo, 1993;
Dumazedier, 1979; Gomes & Pinto, 2006; Melo, 2004; Melo & Alves Jr., 2003; Schwartz,
2003). Assim, a amizade encontraria lugar, nessa classificação, na dimensão social do lazer,
pois ela oferece oportunidades de encontro livre de comportamentos submetidos às
relações de trabalho ou educacionais, por exemplo.
A felicidade é um dos fenômenos de destaque e interesse dos pesquisadores que
seguem o movimento da Psicologia Positiva (Giacomoni & Hutz, 2009). Sobre esse conceito,
Argyle (2001), após extensa e intensa pesquisa com dados de distintos países, indica três
principais dimensões responsáveis pela felicidade humana: os relacionamentos sociais, o
trabalho e o lazer.
No entanto, não se tem observado até o momento, no Brasil, um interesse científico
equilibrado entre relacionamentos, trabalho e lazer. A título de exemplo, uma busca simples
na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde-Psicologia lista uma quantidade muito
superior de estudos científicos sobre o fenômeno do trabalho do que sobre o lazer.
Segundo Hills & Argyle (1998), a felicidade e a satisfação pessoal advindas do lazer se
devem a seu caráter voluntário e por ele proporcionar liberdade de escolha pessoal sobre a
diversidade de atividades possíveis para seu exercício. Para Argyle (2001), há também
grande satisfação nessas experiências em virtude das interações sociais significativas e
continuadas delas advindas e da criação de consequentes vínculos afetivo-sociais. Ademais,
na visão de Argyle (2001), necessidades humanas como autonomia, relaxamento, atividades
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em família, fuga da rotina, relações interpessoais e boa saúde são satisfeitas mediante
experiências de lazer.
Merece destaque na discussão sobre os reflexos sociais das vivências com o lazer o
fato de que grande parte da satisfação adquirida com esse fenômeno advém dos
relacionamentos dos quais ele é facilitador (Hills & Argyle, 1998). Tais relacionamentos
proporcionam desenvolvimento pessoal na medida em que envolvem aspectos como o
companheirismo que, de acordo com Argyle (2001), potencializa o compartilhamento de
experiências e atividades e de auxiliar na resolução de problemas. E há um relacionamento
interpessoal que privilegia o companheirismo para sua continuidade e qualidade: a amizade.
Ao contrário dos trabalhos sobre lazer, a produção científica nacional sobre a
amizade, no Brasil, já ultrapassou o nível de novidade. Os últimos dez anos têm
demonstrado um investimento regular no estudo das relações de amizade da infância à
velhice, tratando de temas variados, como bullying, competitividade no ambiente de
trabalho, história de vida, relações sociais diante de transtornos do desenvolvimento,
moralidade e educação, amizades internacionais, orientação profissional, dentre outros
(Garcia, 2005, 2010; Lisboa, 2005; Sena & Souza, 2010; Souza, 2004; Souza & Hutz, 2007;
Souza & Lassance, 2010; Tortella, 2012).
A amizade é um relacionamento composto por três características principais:
companheirismo, ajuda e apreço mútuo (Bukowski, Newcomb & Hartup, 1996). Esses são os
ingredientes mínimos para que esse relacionamento evolua a partir de uma díade de
pessoas apenas consideradas "conhecidas" entre si. A partir da continuidade das interações
entre os dois amigos, e do consequente fortalecimento do vínculo entre eles, outras
características passam a dominar a relação, como a confiança, a segurança emocional, o
apoio (não apenas prático, mas também sócio emocional), a auto revelação, a proximidade
relacional e a auto validação (Souza & Hutz, 2007).
Considerando-se o companheirismo como um dos pilares da amizade, fica facilitada a
conexão entre amizade e lazer. Como apontado por Hills & Argyle (1998), o lazer é um
contexto que demanda interações sociais, que as promove e desenvolve, e que se beneficia
de sua presença. Da mesma forma, a amizade requer, no companheirismo, que uma
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atividade esteja sendo compartilhada, e em grande parte ela tem um caráter de lazer, como
jogar tênis, passear no parque ou ir ao cinema.
A relação entre o lazer e a amizade em adultos brasileiros foi recentemente discutida
por Souza, Queiroz & Rocha (2010), que investigou as atividades de lazer de 59 estudantes
universitários que indicaram a preferência por experiências de lazer envolvendo amigos.
Trinta e oito participantes indicaram que seu lazer preferido é sair/estar/ficar com amigos. A
esse respeito, destaca-se novamente o companheirismo como promotor de amizade e de
experiências de lazer. Ademais, pode-se argumentar que a busca por determinadas
atividades de lazer aproxima pessoas, promove companheirismo e pode gerar
relacionamentos de amizade (Monteiro, 2004; Pratta & Santos, 2007; Zonta, Robles &
Grosseman, 2006).
Na infância, a amizade se evidencia especialmente através das interações de pares
mediadas pela brincadeira. Selman (1980) empiricamente demonstrou uma relação estreita
entre nível de amizade e tipo de brincadeira em crianças. A esse respeito, é digno de nota
que grande parte dos estudos sobre lazer infantil faz referência à atividade de brincar, daí
sua relação com os temas trabalhados neste texto.
Como visto, lazer e amizade ocupam tempos e espaços de forma privilegiada na vida
da criança. São capazes de promover desenvolvimento social, emocional e cognitivo, além
de apresentarem potencial para promover saúde e prevenir doenças. Sobre essa última
característica atribuída aos fenômenos de lazer e de amizade, é digno de nota que, segundo
a Organização Mundial da Saúde, saúde é definida como bem estar físico, social e
psicológico, o que coloca em destaque o lazer como capaz de oportunizar saúde plena na
infância e envolver a amizade como companheira nesse empreendimento.
Lazer e amizade: forças para a saúde, a educação e o desenvolvimento na infância
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Newcomb & Bagwell, 1995). A amizade apresenta, inclusive, potencial para levar ao bem-
estar físico quando, por exemplo, amigos se acompanham em atividades físicas, em cuidados
com alimentação e na aquisição de hábitos saudáveis.
Ainda que geralmente as pesquisas sobre amizade em crianças se encontram mais na
área da Psicologia (Garcia, 2005; Souza & Hutz, 2012), há trabalhos na interface com a
educação. Garcia (2005) notou que a bibliografia que une Educação e Psicologia no estudo
da amizade infantil se apresenta em uma das seguintes categorias de estudos: a) o impacto
da amizade na adaptação à escola; b) a amizade em crianças com necessidades educativas
especiais; e c) poucos trabalhos sobre o papel das amizades nos conteúdos escolares. Dessa
forma, ainda há espaço para investigações que unam as relações de amizade das crianças e a
educação escolar. É socialmente relevante e cientificamente justificado que o campo da
Psicologia Educacional se dedique mais à questão da influência da amizade na aprendizagem
de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Estudos por vir podem contribuir
com educadores que frequentemente buscam melhores recursos para lidar com a dimensão
sócia afetiva que interage com os processos de ensino aprendizagem no contexto escolar.
Isso porque a Psicologia Educacional, dedicada aos "processos de mudança comportamental
relacionados com as atividades e as situações educativas" (Salvador et al., 2000, p. 68),
também focaliza nas relações interpessoais que promovem ou inibem comportamentos no
contexto de ensino aprendizagem.
O lazer, no entanto, apresenta grande potencial de proporcionar saúde integral ou
plena. Muitas atividades de lazer escolhidas pelas pessoas levam à saúde física. Algumas
dessas atividades são coletivas, o que muitas vezes conduz ao desenvolvimento de laços
afetivos entre os envolvidos, a exemplo de um time esportivo. Nessa mesma direção, o lazer
pode prevenir contra solidão e isolamento social. Por fim, a literatura empírica tem relatado
os benefícios psicológicos do lazer ao proporcionar satisfação, prazer, motivação, bom-
humor, elevação da autoestima, dentre outros aspectos (Argimon, Stein, Xavier & Rezende,
2004; De Gáspari & Schwartz, 2005; Pondé & Caroso, 2003; Zonta, Robles & Grosseman,
2006).
Em condições típicas, o lazer e a amizade são fenômenos participantes do cotidiano
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inclusive distintas, e que, portanto, para com ele interagir é necessária sua consideração,
percebido como merecedor de abordagem com atitude de escuta e de negociação. Nesse
sentido, é o sentimento de respeito mútuo, necessário para o surgimento e a manutenção
das amizades ainda na infância.
Outro conhecido autor tanto da Psicologia como da Educação, o russo Lev Vygotsky,
deu maior destaque do que J. Piaget ao fenômeno do brincar na infância. Considerando-se
que o brincar é a atividade mais citada pelas crianças como experiência de lazer, as
propostas de Vygotsky (1930/1998) sobre o brincar infantil tornam-se relevantes para a
discussão. Segundo esse autor, o brincar possibilita, de modo mais amplo, a apropriação
transformadora dos significados compartilhados culturalmente e, de forma mais específica,
promove aprendizagem e desenvolvimento mediante trocas com objetos, pessoas, símbolos
e por meio do exercício da imaginação e livre fantasia.
Dessa forma, tanto para J. Piaget como para L. Vygotsky as relações de pares e a
brincadeira impulsionam o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. Outros autores
fazem eco a esses dois grandes autores, e as pesquisas científicas ainda têm encontrado
respaldo em suas afirmações.
É na vida escolar que essas questões serão mais salientes a todos. Atualmente, muito
se vem discutindo sobre o bullying, por exemplo, e a esse respeito não serão aqui repetidos
os problemas que ele cria para a criança, tanto para sua saúde como para sua vivência de
ensino-aprendizagem. É fato que a ausência de uma rede de amizades que proteja a criança
também do bullying é algo ameaçador ao desenvolvimento infantil. Todavia são poucos os
trabalhos que demonstram como as relações de amizade podem contribuir para o processo
de ensino-aprendizagem, por exemplo, no trabalho em grupo. Piaget (1935/1998) dedica um
texto especificamente para tratar dos aspectos psicológicos do trabalho em grupo em
crianças, apontando o papel desse método ao longo do desenvolvimento cognitivo infantil.
Ele também dedica algumas linhas a esclarecer ao leitor-professor que o "mau aluno" em
muito tem a avançar com o trabalho em grupo quando os esforços individuais do professor
não surtem efeito. Nas palavras de Piaget (1935/1998), "o mau aluno que não consegue
ceder diante do professor (...) vê-se tão naturalmente requisitado num grupo de trabalho
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que suas inibições desaparecem pouco a pouco" (p. 147). Outros sim, seria ingênuo pensar
que uma tal situação bem-sucedida não tem como pré-requisito o bom entendimento entre
os colegas de sala de aula, ou seja, um mínimo coleguismo mútuo.
O lazer infantil parece carecer de atenção no que tange alguns aspectos. Primeiro, e
como evidenciado por Rocha (2011), os pais parecem estar ausentes nas experiências de
lazer das crianças. Essa ausência pode ser depreendida das falas de meninos e de meninas
ao descreverem o lazer em família do qual desfrutam. Foram principalmente referidas
atividades de realizar refeições fora de casa, viajar para visitar parentes e acompanhar os
pais em atividades como fazer compras, ir à igreja ou ao cabeleireiro.
Assim como é fortemente sugerido pela literatura em relacionamentos que um casal
procure usufruir ao menos uma atividade de lazer conjunto (Belsky, 2010), é recomendado
que a família procure aproveitar de experiências conjuntas de lazer e que verdadeiramente
sejam prazerosas para todos seus integrantes, proporcionando um compartilhamento
importante para o fortalecimento dos laços emocionais entre pais e filhos, e entre irmãos.
Acredita-se que esse seria um aspecto pronto a investimentos futuros na orientação a pais e
famílias, com o auxílio de estudos científicos de abordagem multimetodológica, como se
propõe nos Estudos do Lazer e incentivado pelo movimento da Psicologia Positiva.
Nessa mesma direção, o trabalho de Sena (2009) em crianças com e sem Transtorno
de Déficit de Atenção/Hiperatividade demonstrou que os pais desconhecem as amizades de
seus filhos. Em seus depoimentos, os pais alegavam ou conhecer as amizades, embora
indicando nomes de crianças diferentes daqueles referidos por seus filhos em entrevista, ou
afirmavam que a relação do (a) filho (a) com a criança indicada como amiga não era uma
relação de amizade. Assim, acredita-se que o lazer em família também pode abrir
oportunidades para o envolvimento dos amigos das crianças, fazendo com que esses sejam
conhecidos e absorvidos pela família. O valor dado pela família aos amigos das crianças vai
não apenas validar a escolha destas por seus relacionamentos de pares, mas também
colaborar para a trajetória da criança em termos de desenvolvimento social e de habilidades
interpessoais. Não seria descartada, também, a possibilidade de os pais conhecerem as
amizades de seus filhos, dados os resultados sobre um elevado desconhecimento das
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Além da ausência dos pais no lazer e no conhecimento das amizades de seus filhos,
um segundo aspecto que merece mais discussão acadêmica é a relação entre lazer infantil e
brincadeira. Parece haver demasiado investimento no estudo do lazer infantil como
sinônimo do brincar, em detrimento de outras experiências de lazer em crianças que não
envolvem brincadeiras infantis, mas outras manifestações socioculturais, relacionais e de
relevância para a criança e para os que a acompanham.
É certo que, por proporcionar contentamento, interação social e outros ganhos, a
criança tende a indicar a atividade de brincar como seu lazer. Especialmente em crianças
ainda em fase de desenvolvimento cognitivo, e que pouco elaboram sobre o que pensam e
realizam em termos de lazer, trata-se da realidade, e nossos dados de pesquisa fazem essa
demonstração. No entanto, por vezes é uma resposta automática, como se quase tudo o que
fizesse no tempo livre fosse brincar de alguma coisa: brincar de correr, brincar de ler, brincar
de videogame...
No entanto, pais e filhos que decidem ocupar o domingo livre com uma pescaria
conjunta estão compartilhando uma experiência de lazer, e é assim por eles admitido. Pais e
filhos que se divertem levando a criança ao circo é outro exemplo de lazer que não se
enquadra na categoria do brincar infantil tradicionalmente abordado nos estudos até então.
Contudo, apenas o investimento científico vai poder tomar contato com essas possibilidades
de lazer infantil, e espera se que esforços nessa direção não tardem a surgir.
J. Piaget e L. Vygotsky ao atribuírem papel importante ao brincar e às relações de
pares no desenvolvimento infantil de modo integral. É dado destaque ao lazer infantil para
além do brincar, ao desconhecimento dos pais sobre as amizades de seus filhos, e à escassez
de experiências de lazer verdadeiramente em família, problemas a serem melhor
investigados cientificamente.
Cuidadores e educadores de crianças concordam com a fortaleza que se constrói em
termos de proteção à saúde e em prol do desenvolvimento infantil através do lazer e da
amizade. A criança que não brinca nem usufrui de atividades que promovem divertimento
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ou descanso, bem como a criança que não interage com pares, dispara sinais de alerta aos
pais e educadores atentos ao mundo social dos filhos e educandos.
Há bastante ainda a ser feito, tanto em termos de produção científica como na
aplicação desses conhecimentos nos contextos de cuidado e de educação infantil. A saúde
integral e o pleno desenvolvimento infantil em muito têm a ganhar com tais esforços.
Tipos de lazer
Existe hoje uma classificação que divide o lazer em cinco tipos, são eles:
·Lazer contemplativo – são aqueles que predominam a beleza plástica, ou seja, tudo
aquilo considerado bonito e agradável de ser visto. Este tipo de lazer é muito importante,
pois, vai mostrar ao usuário o respeito pelo uso, diminuindo assim, a degradação e/ou
depredação. Além disso, gera agradáveis sensações de repouso mental, de bem-estar, de
relaxamento, entre outros.
·Lazer recreativo – é o tipo de lazer que faz uso da terapia ocupacional das pessoas.
Para as crianças, seriam os parquinhos, o playground, as praças, e para os mais velhos, os
locais com bancos fixos e mesas para jogos de cartas, dominós, xadrez, conversas, etc.
·Lazer cultural – é o lazer que envolve a cultura de alguma forma, seja ela de
apresentação, de ensinamento ou de conhecimento. É o tipo de lazer que, além de satisfazer
o desejo de diversão e entretenimento, é indispensável para a produção de conhecimentos
que contribuam até para a solução dos graves problemas que comprometem o
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desenvolvimento do País. Este tipo de lazer necessita de espaços bem projetados para a
realização de manifestações culturais, apresentações teatrais, musicais, entre outros.
·Lazer esportivo – é uma realidade que propõe benefícios à saúde física e mental dos
frequentadores. Esse tipo de lazer necessita de espaços como, campo de futebol, quadras
poliesportivas, pistas de Cooper, área para ginástica, piscinas, e/ou qualquer equipamento
para a realização da prática esportiva.
·Lazer aquisitivo – seriam os equipamentos ou edificações destinadas às compras de
objetos de uso pessoal ou doméstico como shoppings, feiras de artesanatos, hipermercados,
restaurantes, lanchonetes, barraquinha e, etc., onde as pessoas também frequentariam para
passear e trocar ideia.
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