Catequese Ano Da Fé 17-10-2012 Bento XVI
Catequese Ano Da Fé 17-10-2012 Bento XVI
Catequese Ano Da Fé 17-10-2012 Bento XVI
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Hoje gostaria de introduzir o novo ciclo de catequeses, que se desenvolve ao lonto de todo o Ano
da fé, recém-iniciado, e que interrompe — durante este período — o ciclo dedicado à escola da
oração. Mediante a Carta Apostólica Porta Fidei proclamei este Ano especial, precisamente para
que a Igreja renove o entusiasmo de crer em Jesus Cristo, único Salvador do mundo, reavive a
alegria de percorrer o caminho que nos indicou e testemunhe de modo concreto a força
transformadora da fé.
Deus revelou-se mediante palavras e obras em toda uma longa história de amizade com o
homem, que culmina na Encarnação do Filho de Deus e no seu Mistério de Morte e Ressurreição.
Deus não só se revelou na história de um povo, nem falou só por meio dos Profetas, mas
atravessou o seu Céu para entrar na terra dos homens como homem, para que pudéssemos
encontrá-lo e ouvi-lo. E de Jerusalém o anúncio do Evangelho da salvação propagou-se até aos
confins da terra. A Igreja, nascida do lado de Cristo, tornou-se portadora de uma esperança nova
e sólida: Jesus de Nazaré, crucificado e ressuscitado, Salvador do mundo, que está sentado à
direita do Pai e é Juiz dos vivos e dos mortos. Este é o kerigma, o anúncio central e impetuoso da
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fé. Mas desde o início levantou o problema da «regra da fé», ou seja, da fidelidade dos crentes à
verdade do Evangelho, na qual permanecer firmes, à verdade salvífica sobre Deus e sobre o
homem, que se deve conservar e transmitir. São Paulo escreve: «Recebereis a salvação, se o
mantiverdes [o Evangelho] como vo-lo anunciei. Caso contrário, em vão teríeis abraçado a fé» (1
Cor 15, 2).
Mas onde encontramos a fórmula essencial da fé? Onde encontramos as verdades que nos foram
fielmente transmitidas e que constituem a luz para a nossa vida diária? A resposta é simples: no
Credo, na Profissão de Fé, ou Símbolo da Fé, nós relacionamo-nos com o acontecimento
originário da Pessoa e da História de Jesus de Nazaré; torna-se concreto quanto o Apóstolo das
nações dizia aos cristãos de Corinto: «Transmiti-vos primeiramente o que eu mesmo tinha
recebido: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e
ressuscitou ao terceiro dia» (1 Cor 15, 3-4).
Ainda hoje temos necessidade que o Credo seja melhor conhecido, compreendido e pregado.
Sobretudo, é importante que o Credo seja, por assim dizer, «reconhecido». Com efeito, conhecer
poderia ser algo simplesmente intelectual, enquanto «reconhecer» quer significar a necessidade
de descobrir o vínculo profundo entre as verdades que professamos no Credo e a nossa
existência quotidiana, para que estas verdades sejam deveras e concretamente — como sempre
foram — luz para os passos do nosso viver, água que rega a aridez do nosso caminho, vida que
vence certos desertos da vida contemporânea. No Credo insere-se a vida moral do cristão, que
nele encontra o seu fundamento e a sua justificação.
Não é por acaso que o Beato João Paulo II quis que o Catecismo da Igreja Católica, norma
segura para o ensinamento da fé e fonte certa para uma catequese renovada, se inspirasse no
Credo. Tratava-se de confirmar e conservar este núcleo fulcral das verdades da fé, comunicando-
o numa linguagem mais inteligível aos homens do nosso tempo, a nós. É um dever da Igreja
transmitir a fé, comunicar o Evangelho, a fim de que as verdades cristãs sejam luz das novas
transformações culturais, e os cristãos se tornem capazes de explicar a razão da sua esperança
(cf. 1 Pd 3, 14). Hoje, vivemos numa sociedade profundamente transformada, também em relação
a um passado recente, e em movimento contínuo. Os processos da secularização e de uma
difundida mentalidade niilista, em que tudo é relativo, marcaram profundamente a mentalidade
comum. Assim, a vida é muitas vezes levada com superficialidade, sem ideais claros nem
esperanças sólidas, no contexto de vínculos sociais e familiares fluidos, provisórios. Sobretudo as
novas gerações não são educadas para a busca da verdade e do sentido profundo da existência,
que ultrapasse o contingente, para a estabilidade dos afectos, para a confiança. Ao contrário, o
relativismo leva a não ter pontos firmes, suspeita e volubilidade provocam rupturas nos
relacionamentos humanos, enquanto a vida é vivida com experiências que duram pouco, sem
assunção de responsabilidade. Se o individualismo e o relativismo parecem dominar o espírito de
muitos contemporâneos, não se pode dizer que os crentes permanecem totalmente imunes a
estes perigos, que devemos enfrentar na transmissão da fé. A sondagem realizada em todos os
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Continentes, em vista da celebração do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização,
evidenciou alguns: uma fé vivida de modo passivo e privado, a rejeição da educação para a fé, a
ruptura entre vida e fé.
Muitas vezes o cristão não conhece nem sequer o núcleo central da própria fé católica, do Credo,
de modo a deixar espaço a um certo sincretismo e relativismo religioso, sem clareza sobre as
verdades nas quais crer e sobre a singularidade salvífica do cristianismo. Hoje não está muito
distante o risco de construir, por assim dizer, uma religião personalizada. Ao contrário, temos que
voltar para Deus, para o Deus de Jesus Cristo, temos que redescobrir a mensagem do
Evangelho, fazê-lo entrar de modo mais profundo nas nossas consciências e na vida quotidiana.
Nas catequeses deste Ano da fé gostaria de oferecer uma ajuda para percorrer este caminho,
para retomar e aprofundar as verdades centrais da fé sobre Deus, o homem, a Igreja e toda a
realidade social e cósmica, meditando e ponderando sobre as afirmações do Credo. E gostaria
que fosse clara que estes conteúdos ou verdades da fé (fides quae) se relacionam directamente
com a nossa vida; exigem uma conversão da existência, que dá vida a um novo modo de crer em
Deus (fides qua). Conhecer Deus, encontrá-lo, aprofundar os traços da sua Face põe em jogo a
nossa vida, pois Ele entra nos dinamismos profundos do ser humano.
Possa o caminho que percorreremos este Ano fazer-nos crescer todos na fé e no amor a Cristo,
para que aprendamos a viver, nas opções e gestos quotidianos, a vida boa e bela do Evangelho.
Obrigado!
Saudação
Dou as boas-vindas aos grupos de visitantes do Brasil e demais peregrinos de língua portuguesa.
Agradeço a vossa presença e desejo que este Ano possa ajudar-vos a crescer na fé e no amor a
Cristo, para que aprendais a viver a vida boa e bela do Evangelho. De coração, a todos abençôo.
Obrigado!