Um Amigo para Sempre
Um Amigo para Sempre
Um Amigo para Sempre
QUINTETO
EDITORIAL
Marina Colasanti, 1998
Colasanti, Marina.
C65aUm amigo para sempre / Marina Colasanti; [capa e
ilustrasoes da autora].— Sao Paulo: Quinteto Edito- rial,
1988.
ISBN 85-305-0019-9
88-0687 CDD-028.5
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fissa era a forma que tinliam d‹- convert r•ra o
hotiicm, que nano falava coIn nin crti, era uIIlH OH 2
converse.
Um dia, rccuou urn passti a inenos. €) passarinhca
1«sitou, mas veio.
Percebtindo que tinha feito uina t onquista, ta homem
clcu tempo para que o semi pequenr› ainigo se acosturnasse.
Mas dat a muitos dias, novoinente encurt‹ u a distancia.
E o passarinho veiti.
Uma aleqria maior sorriu no peito do moment. Salaia
que agora era questati d‹ tempo e paciencia.
k ele tinha muito de ambos.
Pouco a pouco, scin nada fazer que pudesse assusta-lo,
foi trazendo o passarinho para junto de si. Recuava inenos.
Deixava cair as migalhas em dnas reprises, fazendo com
que, comidas as primeiras c vendo outras two ao seu
alcance, o passarinho se aproximasse mais.
Nesse jogo, passaram-se mescs. E é prcivâvel que o
cora9ño do passarinho mo batesse mais acelerado no dia
em que veio buscar suas migalhas entre aqueles dois
sapatos escuros. Mas o do homem bateu.
Faltava ainda muito, porém. Porque a distância entre
os sapatos e a mao era talwz mais diffcil de superar do que
os metros de gramado que ja haviarn sido vencidos. Mas o
tempo nao parecia ter nenhum limite. E a paciencia se
fazia maior a medida que aumentava o arnor.
Foram-se os meses. Alans. Muitos, talvez.
E, de rnurmurio em murmurio, espalhou-se na prisño
que aquele homem havia domesticado um passarinho.
E que todos os dias, quando cruzava a porta maior, vinha o
amigo entre cantos e bater de asas, comer na sua reao.
Breve, us homens dax outras celas quiseram ver.
Alguns ficaram olhando pelas janelinhas, entre as grades.
Outros, que saiam com ele, passaram a acomparihar os
seus passos no jardim. E todos viram e comprovaram:
havia um passarinho que confiava em um homem, e ltte
fazia festa, e pousava nos seus dedos para comer migalhas
na palma aberta.
Outros tentararn fazcr a mesrria coisa, desejosos de
tambem ter os seus amigos. Nlas, apesar do desejo e das
migalhas, nerthum conseguiu. Entao aquele unico
passarinho, que so atendia âquele homem, tornou-se urn
pouco o passarinho de todos.
E foi talvez por isso que, embora uma luz dc vitoria sc
acendesse nos olhos de todos eles, nenhum fez um gesto on
soltou uma exclama9ao no dia em que o homem prendeu
uma migalha entre os dentes e o passarinho veio colher a
comida no seu sorriso.
Passou o veifio. Chegou o inverno. Mas o inverno nao
era rigoroso naquele pats, havia fiores, os passaros nao
Dat o espanto do homem no dia em que o amigo nao
veio buscâ-lo a entrada do jardim. Nao veio buscâ-lo, nem
apareceu adiante. Pela primeira vez. E a hora que era para
ser feliz esticou-se comprida e inutil por entre as ârvores.
No dia seguinte, uma ponta de an@stia feria o
homem na sua cela, a espera de sair. E, caminhando para a
porta maior, tentou ouvir ao longe o canto do seu pâssaro,
algo ltte dizendo porém que, além do so1, nada o esperaria
para la dos pesados batentes.
O passarinho nao veio naquele dia. Nem no outro.
Nem em outro qualquer.
A principio, o homem quis inventor justificativas.
Pensou que havia sido caydo, ou que havia partido para
nidificar. Pensou que havia encontrado migalhas mais
fartas ou faceis. Pensou coisas assim, que diminufssem sua
Marina Colasanti nasceu em Asmara, Eti6-
pia.
Andou pela Africa, passou a guerra ria Itâlia
e veio em 1948 pm o Brasil.
Estudou arte naFaculdade de Belas Artes e Ie
dedicou por algum tempo a bravura, fez exposi-
s es, participou de saloes de arte, ganhou pré-
mios.
Trabalhou no Caderno B do%rnn/ do Brasil, on-
de fez de tudo: desde edi9ao, ilustrasao,
crñnica, até coluna social, o que ela fez so um
pouquinho, por necessidade de trabalho, nao
por gosto.
Sen primeiro livro - Au Sozinha - foi
publicado em 1968.
Depois de ter escrito, com muito sucesso, li-
vros para adultos, publicou com sucesso maior
ainda Uma Idém Jâda Amul, com o qual
ganhou o Prémio da Associa ao Paulista de
Griticos de Arte e o “Melhor Livro
paraJovens” da Funda-
‹biro Nacional do Livro Infantil e)uvenil, que
sao os maiores prémios doBrasil para livros
parajo-