Ebook Gestão
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Apoio
EDITORA DA UFRGS
Diretor
Cláudio Oliveira Rios
Conselho Editorial
Carlos Gustavo Tornquist
Fabiana de Amorim Marcello
Leandro Raizer
Sergio Roberto Kieling Franco
Stella de Faria Valle
Simone Sarmento
Henrique Carlos de Oliveira Castro
Andre Luiz Netto Ferreira
Ângela de Moura Ferreira Danilevicz
André Luís Prytoluk
Cláudio Oliveira Rios, presidente
Série Ensino, Aprendizagem e Tecnologias
Apoio
© dos autores
1ª. edição: 2024
Coordenação da Série:
Leonéia Hollerweger, Tanara Forte Furtado e Marcello Ferreira
FICHA CATALOGRÁFICA
___________________________________________________________________________________
G393 A gestão da educação no contexto da Região Metropolitana de Porto Alegre e do Litoral Norte
do RS [recurso eletrônico] / organizadoras Luciani Paz Comerlatto, Sinthia Cristina
Batista [e] Eliane Menegotti ; coordenado pela SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2024.
494 p. : pdf
ISBN 978-65-5725-102-7
Sumário
Apresentação 8
3. A implementação da Associação de 93
Pais e Servidores como princípio
da Gestão Democrática no IFRS –
campus Ibirubá
Sandra Rejane Zorzo Peringer
Eliane Menegotti
Rudinei Müller
GESTÃO ESCOLAR
Funcionários Funcionário
Professores Diretores SOP Estudantes
concursados terceirizados
6 contratados 1 diretora 4 orientadoras 2 16 1.505
81 concursa- 2 vice-dire-
4 supervisoras
dos toras
Servidores Servidores
Gestão Estudantes
concursados terceirizados
11 professores
Direção SOP
na gestão
1 diretora 4 orientadoras 81 professores 6 professores 1.505
2 servidores 16 servidores
2 vice-diretoras 4 supervisoras
técnicos técnicos
120 horas 90 horas 80 horas 120 horas 120 horas 80 horas 100 horas
5 A plataforma Córtex foi implantada como projeto-piloto em escolas da Rede Municipal de Porto
Alegre no ano de 2019, com a finalidade de transferir a gestão da rotina escolar (preenchimen-
to de chamadas, planejamentos e avaliações) para o meio digital. No entanto, em 2020, em de-
corrência da pandemia de covid-19 e da realidade do ensino remoto, a plataforma foi alterada,
sem consulta prévia às necessidades pedagógicas de docentes e discentes, a fim de se tornar um
instrumento para o ensino remoto, no qual era possível enviar atividades e mensagens de texto
a alunos e famílias. As atividades precisavam ser fotografadas pelos alunos para a realização da
devolutiva aos professores. Em 2021, a plataforma Córtex tornou-se obsoleta e caiu em desuso
enquanto ferramenta pedagógica devido à baixa conectividade dos alunos. A nova equipe gestora
da prefeitura de Porto Alegre iniciou o uso de uma nova ferramenta para o ensino remoto e híbri-
do da Rede, a plataforma Classroom.
(RE)DEMOCRATIZAR A ESCOLA
Mas o ano de 2020, destinado à prática do PI, foi atípico. Essa nova
realidade imposta pela pandemia do coronavírus exigiu adaptações do
Projeto, que, sem o convívio com os sujeitos da escola, ficará, momenta-
neamente, apenas no papel e quiçá como promessa de influenciar po-
sitivamente a construção de novos conceitos e atitudes, visando uma
escola, de fato, democrática.
51
INTRODUÇÃO
4 O IDEB do município vem gradativamente aumentando; chegou ao ano de 2017 com o resultado
de 5,4 nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tendo como meta 5,8. Nos anos finais do Ensino
Fundamental, o município atingiu nota 4,0, tendo como meta 4,8.
Abordagem metodológica
Eixo Questão
Identificação do
- Nome, idade e ano que está cursando.
estudante
- Tu já ouviste falar em Grêmio Estudantil?
Informações sobre
- O que tu entendes sobre Grêmio Estudantil?
o Grêmio Estudantil
- Na tua opinião, o que faz o Grêmio Estudantil?
- Qual é a função do Grêmio Estudantil dentro da
Função e impor- escola?
tância do Grêmio
Estudantil - Qual é a importância de a escola ter o Grêmio Estu-
dantil? Justifique tua resposta.
- O que tu entendes sobre representatividade?
Representatividade - Tu achas importante ser representado ou represen-
tar alguém?
- Quem são teus representantes na escola?
Legenda descritiva: Imagem retangular de fundo branco contendo gráfico de colunas horizontais em cor violeta. Apresenta
as idades de 10 a 19 anos ou mais, com maior incidência de respostas entre 12 e 14 anos.
Legenda descritiva: Imagem retangular de fundo branco contendo, no lado esquerdo, um gráfico circular dividido em
quatro percentuais desiguais nas cores laranja, verde, azul e vermelha. Na parte direita da imagem, há seis círculos
coloridos indicando as possibilidades de respostas.
Legenda descritiva: Imagem retangular de fundo branco contendo, no lado esquerdo, um gráfico circular dividido em três
percentuais desiguais nas cores azul, laranja e vermelha. Na parte direita da imagem, há três círculos coloridos indicando as
possibilidades de respostas.
Legenda descritiva: Imagem retangular de fundo branco contendo gráfico de colunas horizontais em cor violeta.
Legenda descritiva: Imagem retangular de fundo branco contendo, no lado esquerdo, um gráfico circular dividido em
quatro percentuais desiguais nas cores vermelha, azul, laranja e verde. Na parte direita da imagem, há quatro círculos
coloridos indicando as possibilidades de respostas.
Pode-se afirmar que essa foi uma tônica das respostas ao longo do
levantamento. Salta aos olhos o fato de os estudantes demonstrarem o
sentimento de não serem escutados.
Legenda descritiva: Imagem retangular de fundo branco contendo, no lado esquerdo, um gráfico circular dividido em três
percentuais desiguais nas cores vermelha, azul e verde. Na parte direita da imagem, há quatro círculos coloridos indicando
as possibilidades de respostas.
Legenda descritiva: Imagem retangular de fundo branco contendo, no lado esquerdo, um gráfico circular dividido em três
percentuais desiguais nas cores azul, laranja e vermelha. Na parte direita da imagem, há três círculos coloridos indicando as
possibilidades de respostas.
Legenda descritiva: Imagem retangular de fundo branco contendo, no lado esquerdo, um gráfico circular dividido em
cinco percentuais desiguais nas cores azul, laranja, vermelha, violeta e verde. Na parte direita da imagem, há cinco círculos
coloridos indicando as possibilidades de respostas.
ANALISANDO OS DADOS
87
A fala do estudante mostra que algo precisa ser feito. A reflexão é
importantíssima, mas a ação é urgente. Uma ação ordenada e pensada.
Esse recorte, longe de qualquer intenção de culpabilizar os docentes,
demonstra o quanto o diálogo está comprometido nesse ambiente e o
quanto algumas vezes a escola perde a capacidade de escuta e de empa-
tia. Precisa-se devolver a voz aos estudantes sob o risco de se ter uma so-
ciedade muda em um futuro próximo. E o GE pode ser esse lugar de fala,
de voz, de pensar, de conviver e de criar, um espaço de pertencimento e
de acolhida, que confira um novo sentimento aos estudantes sem voz.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
88
centralizadores que passam longe dos objetivos e ideais almejados
neste estudo. E isso faz refletir sobre quanto da falta de participação da
comunidade perpassa a estrutura vertical da escola, o modelo centrali-
zador de tomada de decisões e a relação vertical da mantenedora com
a escola e a comunidade.
Por vezes, a gestão local parece se esquecer de que está a serviço
de sua comunidade escolar e acaba por responder somente ao pressu-
posto hierárquico (mantenedora, direção, professores, funcionários,
responsáveis e, por último, estudantes). Acredita-se que é premissa da
Gestão Escolar Democrática pensar a escola em seu contexto comuni-
tário. A escola não pode ser um organismo à parte da comunidade em
que está inserida; é preciso conhecer as potencialidades e as problemá-
ticas desse espaço comunitário para poder pensar estratégias de ação
pedagógica que visem problematizar e propor intervenções para além
da escola. Essa é a função social da escola.
Da mesma forma, não há como analisar as problemáticas existen-
tes sem contextualizá-las e confrontá-las com as ações políticas nesse
espaço. Não há espaço para o posicionamento apolítico na Educação.
Paulo Freire (2015) já dizia que toda educação é política.
Conclui-se este artigo afirmando que adotar a Gestão Democrática
é possibilitar situações das quais a comunidade escolar participe efeti-
vamente, oferecendo contribuições significativas tanto ao processo de
formação dos alunos quanto às melhorias para a escola, implicando, as-
sim, a participação de todos os sujeitos envolvidos no processo educa-
tivo. Dessa forma, a gestão escolar deixa de ser centralizadora e passa
a ser percebida sob um aspecto solidário e integrador. É nesse sentido
89
que Cury (2002, p. 21-22) afirma que “a Gestão Democrática é a gestão
da administração concreta”.
REFERÊNCIAS
BATISTA, N. C. Conselhos escolares: gestão democrática, gerencialismo e
justiça escolar. In: FLORES, M. L. R. (org.). Formação de gestores escolares para
a educação básica: avanços, retrocessos e desafios frente aos 20 anos de
normatização da gestão democrática na LDBN. Porto Alegre: Evangraf, 2016. p.
133-151.
BRASIL. Lei nº. 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre as medidas para
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 7 fev. 2020a. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13979.htm. Acesso em: 28 out. 2020.
90
CAETANO, M. R. Reflexões sobre a gestão democrática e qualidade de ensino
no Rio Grande do Sul. In: SEMINÁRIO NACIONAL EDUCAÇÃO, INCLUSÃO E
DIVERSIDADE, 2010, Taquara. Anais [...] Taquara: FACCAT, 2010.
FREIRE, P. A pedagogia da autonomia. 52. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
91
PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2015.
92
3
A implementação
da Associação de
Pais e Servidores
como princípio da
Gestão Democrática
no IFRS campus
Ibirubá
4 Reitoria, campus, campus avançado, polos de inovação e polos de educação a distância especiali-
zados na oferta de educação profissional e tecnológica (EPT) em todos os seus níveis e formas de
articulação com os demais níveis e modalidades da Educação Nacional ofertam os diferentes tipos
de cursos de EPT, além de licenciaturas, bacharelados e pós-graduação stricto sensu.
5 As unidades do IFRS são: campus Alvorada, campus Bento Gonçalves, campus Canoas, campus
Caxias do Sul, campus Erechim, campus Farroupilha, campus Feliz, campus Ibirubá, campus Osório,
campus Porto Alegre, campus Restinga (Porto Alegre), campus Rio Grande, campus Rolante, campus
Sertão, campus Vacaria, campus Veranópolis e campus Viamão. A Reitoria está localizada no muni-
cípio de Bento Gonçalves (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Sul, 2020).
6 Ibirubá fica a noroeste do Rio Grande do Sul, está localizado na Região do Alto do Jacuí e perten-
ce à microrregião de Cruz Alta e à mesorregião do noroeste rio-grandense.
7 A gestão democrática no IFRS está garantida nas políticas institucionais, como a Política Ins-
titucional para os Cursos de Ensino Médio Integrado do Instituto Federal do Rio Grande do Sul,
aprovada pela Resolução nº. 55, de 25 de julho de 2019, mencionando a importância de “garantir
nos campi a institucionalização de tempos e espaços de encontros entre os professores e equipe
pedagógica que favoreçam a construção de metodologias integradoras”, envolvendo todos os su-
jeitos, protagonistas no processo de ensino e aprendizagem, com planejamento coletivo: profes-
sores das diversas áreas, equipe pedagógica e estudantes (Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Sul, 2019, p. 11).
8 O Coletivo da Ovelhas Negras é um grupo formado por estudantes do Ensino Médio Integrado
e servidoras do campus Ibirubá. As ações do Coletivo envolvem discussões com as temáticas de
gênero, feminismo e diversidade sexual que são promovidas por meio de reuniões, rodas de con-
versa e participação em eventos.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Metodologia
100 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
A metodologia proposta foi desenvolvida com base na pesquisa-a-
ção (Thiollent, 1986), na pesquisa bibliográfica (Markoni; Lakatos, 2010)
e na documental (Gil, 2017). Para a pesquisa bibliográfica, foram utili-
zados autores como Eliezer Pacheco (2011), Heloísa Lück (2017), Vitor
Paro (2016), Danilo Gandin (2001), entre outros que abordam a Gestão
Democrática da educação e a participação de todos os sujeitos envolvi-
dos nos processos educacionais. Outra fonte utilizada, além de disser-
tações, teses e artigos publicados nos últimos quatro anos (2016-2020)
relacionadas ao objeto de estudo desta pesquisa, foi a participação de
pais articulada por meio de uma Associação de Pais e Servidores. Reali-
zou-se a busca no portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e no Repositório Digital da
UFRGS (Lume), nos meses de julho e agosto de 2020.
Thiollent (1986) afirma que a pesquisa-ação está associada a diver-
sas formas de ação coletiva, que é orientada em função da resolução de
problemas ou de objetivos de transformação, além da participação, e su-
põe uma forma de ação planejada de caráter social, educacional, técnico
ou outro. De acordo com Richardson (2004, p. 153), na pesquisa-ação,
102 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
campi do IFRS para verificação de quais possuem associação prevista na
estrutura organizacional, visando contribuir para a proposta de imple-
mentação de uma associação na perspectiva da participação efetiva dos
pais na definição dos processos pedagógicos, diferente da perspectiva
tradicional de uma Unidade Executora.
104 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
II - Participação das comunidades escolar e local em conse-
lhos escolares ou equivalentes.
9 O Plano Nacional da Educação (PNE) é um marco na Educação Nacional por ter tido grande
participação e acolher os principais pleitos da sociedade. Com vigência de 2014 até 2024, o PNE
conta com 20 metas, das quais oito têm prazos intermediários já vencidos. Além disso, a Lei tem
254 estratégias relacionadas a essas metas e 14 artigos que definem ações a serem realizadas
pelo País (Brasil, 2017). O prazo para o cumprimento da meta 19, “Garantia de condições para a
efetivação da gestão democrática da Educação”, era 2015, porém ela não apresenta indicadores e
não possui iniciativas em curso em âmbito nacional.
106 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
Gandin (2001, p. 82) afirma que o “planejamento participativo é uma
ferramenta utilizada para intervir na realidade”, cujo objetivo é garan-
tir a oferta educacional com qualidade. Para Lück (2017, p. 27), a ges-
tão participativa é “uma das dimensões mais importantes da Gestão
Educacional Democrática, sem a qual esta não se efetiva”. Uma gestão
considerada democrática investe na autonomia dos sujeitos para o com-
partilhamento das decisões, identificando o potencial de colaboração
de cada pessoa e do segmento escolar na promoção de um trabalho
coletivo na construção da cidadania e na efetivação do processo demo-
crático. Para que a Gestão Democrática se efetive nas escolas públicas,
é preciso aprofundar e compreender a vivência de processos democrá-
ticos em uma instituição de ensino e contribuir de forma efetiva com a
aprendizagem de cada um dos estudantes.
108 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
administrativa registrada em estatuto próprio, constituída de pessoas
eleitas em assembleia geral, com mandato de dois anos, sendo o pleito
realizado por voto secreto. As metas 7 e 19 do PNE 2014 focalizam a
Gestão Democrática e trazem um conjunto de estratégias associadas.
Uma das recomendações feitas pela estratégia 19.4 refere-se à consti-
tuição e ao fortalecimento da participação estudantil e de pais, por meio
de grêmios estudantis e de associações de pais e mestres (Brasil, 2014).
A meta 19 tinha prazo para ser cumprida até 2015, porém não há
iniciativas em âmbito nacional para a sua efetivação. O relatório do Ob-
servatório do PNE aponta para a existência de órgãos colegiados nas
instituições e processos participativos, todavia não há indicadores ca-
pazes de medir e fornecer informações sobre a qualidade dessa atua-
ção. O relatório aponta que aumentaram as instituições que contam
com a participação do segmento docente, técnico-administrativo, dis-
cente e de pais (Brasil, 2014). De acordo com Gandin (2008), a partici-
pação pode ser exercida em três níveis: um primeiro é de colaboração,
mais frequente na prática; um segundo que vai além da colaboração e é
aparentemente mais democrático, chamado de “decisão”; e um terceiro,
muito pouco frequente, que é a construção em conjunto.
De acordo com Paro (2016, p. 22), “a Gestão Democrática deve im-
plicar necessariamente a participação da comunidade”, a qual é definida
como participação nas decisões. Como o próprio autor aponta, “isto não
elimina, obviamente, a participação na execução, mas também não a
tem como fim e sim como meio, quando necessário, para a participação
propriamente dita, que é a partilha do poder, a participação na tomada
de decisões” (Paro, 2016, p. 22).
110 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
Gestão Democrática, além de potencializar e aperfeiçoar os processos
decisórios institucionais, o desenvolvimento da autonomia, a cidadania
e a corresponsabilização pelas decisões operadas pela equipe gestora.
A participação das pessoas contribui para desenvolver nos ci-
dadãos o hábito de participar e, dessa forma, formará gerações mais
comprometidas e participativas. Para tanto, as instituições precisam
se consolidar como espaços educativos e democráticos que incentivem
alunos, servidores, pais e comunidade, cotidianamente, a participar de
forma crítica e colaborativa de todas as ações e decisões tomadas nesse
universo, ouvindo seus anseios e dando voz àqueles que fazem aconte-
cer a prática educativa no chão da escola.
RESULTADOS
112 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
Em todo o levantamento, percebeu-se que alguns campi dos IFs, de
forma isolada, possuem regulamentada em seus Regimentos Internos
a possibilidade da participação dos pais através da Apas. Inicialmente,
foi feita uma busca na página oficial dos 17 campi do IFRS, nos 11 campi
do Instituto Federal Farroupilha (IFFar) e nos campi do Instituto Federal
Sul-rio-grandense (IFSul) e constatou-se que apenas um, o IFRS campus
Sertão, possui uma Apas institucionalizada.
Na busca pelos campi dos Institutos Federais que possuem regula-
mentada uma Associação de Pais, localizamos o IFRS campus Sertão, o
Instituto Federal Catarinense (IFC) campus Araquari, campus Blumenau,
campus Rio do Sul, campus São Francisco do Sul e campus Videira, o Ins-
tituto Federal de Brasília campus Brasília e o Instituto Federal de Goiás
campus Anápolis. Na análise dos regulamentos das Associações de Pais
dos campi dos Institutos Federais que apresentam em seus Regimentos
Internos uma associação constituída, constatou-se que eles têm por fi-
nalidade promover a integração da escola com a comunidade e com a
família, aproximar a comunidade acadêmica da comunidade externa e
estabelecer um sentimento de pertencimento ao buscar o desempenho
mais eficiente do processo educativo.
O Regimento Interno dos campi do IFRS prevê a participação dos
docentes, dos técnicos administrativos, dos estudantes e da comuni-
dade externa em Colegiados de Curso, no Consup, no Concamp, em
comissões de reformulação de Projetos Pedagógicos de Curso, na ela-
boração das Políticas Institucionais e nas Comissões que venham a ser
constituídas, porém não prevê a participação dos pais ou responsáveis.
Ao se considerar que todos são mecanismos importantes de partici-
pação, a implementação de uma Apas possibilitaria o envolvimento da
114 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
[...] não é uma ação educadora qualquer, mas uma educação
vinculada a um Projeto Democrático, comprometido com a
emancipação dos setores explorados de nossa sociedade;
uma educação que assimila e supera os princípios e concei-
tos da escola e incorpora aqueles gestados pela sociedade
organizada. Mais do que isso, a comunidade educa a própria
escola e é educada por ela, que passa a assumir um papel mais
amplo na superação da exclusão social (Pacheco, 2010, p. 10).
116 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
Considera-se, com base nos estudos realizados, que não resta a
menor dúvida de que a participação dos pais, articulada através de uma
Apas, é de suma e positiva importância, pois esses sujeitos estão em
diálogo permanente com a comunidade. A partir da criação de um am-
biente colaborativo, com a participação e o comprometimento de todos
os sujeitos, haverá a contribuição na formação de cidadãos mais cons-
cientes e atuantes em seu meio, possibilitando uma mudança de visão
aos nossos estudantes, que se constituirão como sujeitos participativos
e transformadores da sociedade em que vivem. É uma prática que cons-
trói a autonomia e o empoderamento dos sujeitos participantes da co-
munidade acadêmica.
O IFRS vai constituindo a Gestão Democrática cotidianamente, por
meio da participação de docentes, técnicos administrativos e discentes
na consulta e na deliberação nos processos decisórios, na construção
dos documentos e das políticas institucionais e na liberdade de expres-
sar opiniões a partir de um debate coletivo. Nesse contexto, por ser um
espaço que compreende a participação dos sujeitos, considera-se que
a criação de uma Associação de Pais é uma alternativa que possibilita-
ria o desenvolvimento de ações pedagógicas capazes de proporcionar
a aproximação e a integração entre a escola e a comunidade por meio
de atividades que contemplem arte e cultura, reuniões, participação
nas mostras institucionais, elaboração do Projeto Pedagógico dos cur-
sos e outras atividades. Assim, ela pode, também, contribuir para um
maior diálogo entre todos os segmentos da comunidade acadêmica,
pois, em geral, a participação dos pais se limita à ação de controle e co-
brança do desempenho dos filhos, dissociada de um processo contínuo
de orientação.
REFERÊNCIAS
BAIRROS, M. O direito à educação: trajetórias entre a teoria e realidade. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2019.
118 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
BRASIL. Lei nº. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal
de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais
de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 30 dez. 2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Acesso em: 16 abr. 2020.
BRASIL. Observatório do Plano Nacional de Educação. [S. l.: s. n.], 2017. Disponível
em: https://www.observatoriodopne.org.br/. Acesso em: 16 ago. 2020.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
120 Sandra Rejane Zorzo Peringer | Josiane Carolina Soares Ramos Procasko
4
Parcerias
público-privadas
na educação e a
Gestão Democrática:
impacto na
autonomia da escola
3 Em razão da ausência do termo de consentimento informado livre e esclarecido, não será iden-
tificada a rede em estudo.
CAMINHOS DA PESQUISA
4 A professora Valéria Viana Labrea ministrou em nosso curso a disciplina de Metodologia da Pes-
quisa, com enfoque voltado para a pesquisa-ação.
PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS
Legenda descritiva: Gráfico em que a linha azul crescente apresenta o número de parcerias público-privadas (empresas)
que trabalharam na instituição estudada entre os anos de 2015 e 2020.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AGUIAR, F. R.; SANTOS, G. S. Reorientações gerencialistas das políticas
educacionais: impactos na rede municipal de ensino de Porto Alegre. Políticas
Educativas, Santa Maria, v. 12, nº. 1, p. 73-92, 2018.
Fabiana Machado1
Elisete Enir Bernardi Garcia2
5 Ainda sobre os conceitos aqui utilizados, segundo o dicionário Michaelis, fluxo significa “movi-
mento contínuo de algo que segue um curso” (Fluxo, 2020).
6 Cabe destacar que foram realizadas pesquisas utilizando o repositório Lume da UFRGS e não
foram encontrados trabalhos científicos ou pesquisas relacionadas à educação de Portão (RS), que
é foco da nossa pesquisa.
8 Mesmo diante de todas as questões levantadas, entendemos que a preservação da vida deve es-
tar em primeiro lugar e que o retorno das aulas presenciais deve ocorrer apenas quando tivermos
condições e barreiras sanitárias adequadas para que todos possam estar em segurança.
10 Os dados do Gráfico 1 foram coletados pela escola no segundo semestre de 2019 e objeti-
varam olhar a vida escolar dos estudantes ao longo de sua trajetória, considerando desde o seu
ingresso no Ensino Fundamental, por meio das fichas de matrículas e históricos escolares.
Legenda descritiva: O gráfico de barras horizontais mostra o número de reprovações durante o ano de 2018. No eixo
vertical estão listados os anos/seriação do primeiro ao nono ano, mais a opção “nunca reprovou”. O gráfico mostra que no
primeiro ano houve zero reprovações, no segundo ano, cinco reprovações, no terceiro ano, 15 reprovações, no quarto ano,
13 reprovações, no quinto ano, 18 reprovações, no sexto ano, 61 reprovações, no sétimo ano, 42 reprovações, no oitavo
ano, 14 reprovações, no nono ano, 5 reprovações e “nunca reprovaram”, 152 respostas. (Fim da descrição).
11 O Termo de Consentimento Institucional referente à pesquisa realizada na EMEF Vila São Jor-
ge encontra-se em poder das autoras.
Legenda descritiva: O gráfico sobre “Distorção idade/série na escola” possui formato circular(pizza) e apresenta as
respostas para o questionamento: “Nas turmas em que trabalha, você tem alunos em distorção idade/série?” À direita
uma legenda, em que o azul representa as respostas “sim” e o vermelho “não”. Ao todo, foram 20 respostas em que 60%
responderam“sim” e 40% “não”.
12 Dados coletados pelas pesquisadoras na EMEF Vila São Jorge via Google Forms.
Legenda descritiva: O gráfico de barras horizontais sobre os “Motivos que levam à distorção idade/série”, apresentam
as respostas para o seguinte questionamento: “Na sua opinião, quais são os motivos que levam à distorção idade/série?”
Dentre os motivos apresentados, 90% estão relacionados à difculdade de aprendizagem, seguidos por 85% das respostas
para falta de apoio familiar. 60% referem-se ao desinteresse, 50% indisciplina, 25% à metodologia dos professores e a
outros fatores e 20% a problemas de relacionamento (fim da descrição).
Legenda descritiva: O gráfico de barras horizontais sobre o “Perfil ds alunos em distorção idade/série”, responde ao
qustionamento: “Com base na sua experiência, a maioria dos alunos em distorção idade /série tem como perfil”. 100% das
respostas indicam alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem, 65%, alunos indiciplinados e 15% indicam alunos
apáticos. (Fim de descrição).
Tudo isso vai além da realidade que a escola apresenta: faz parte
de um problema percebido no contexto nacional, que também é indi-
cado nas avaliações de larga escala e em documentos internacionais. O
Podemos sinalizar que uma das situações que foi levantada pela es-
cola diz respeito à participação dos pais na vida escolar dos filhos, apon-
tando que se faz necessário buscar uma sinergia entre pais e filhos para
que a escola possa ter maior participação das famílias nas atividades e
no planejamento escolar.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
FLUXO. In: Michaelis. São Paulo: Melhoramentos, 2020. Disponível em: https://
michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=fluxo. Acesso em: 15 ago.
2020.
197
caminhos metodológicos trilhados para a realização da pesquisa-ação, o
lócus da pesquisa, seus primeiros passos, a continuidade e encaminha-
mentos a partir dos dados coletados. Na quarta seção, são apresenta-
dos os resultados e a discussão destes, a contextualização e a análise da
Rede Municipal de Ensino de Nova Prata, evidenciando sua realidade,
indicadores de qualidade, serviços de apoio e práticas que contribuem
para a construção de uma escola inclusiva. Por fim, a última seção des-
tina-se às considerações finais, quando são apresentados os avanços e
as limitações da pesquisa e o caminho a ser trilhado para que se possa
garantir a educação com aprendizagem para todos.
199
Esse direito é estabelecido também na Declaração de Salamanca
(ONU, 1994), que proclama que toda criança tem direito à educação e
devem ser dadas oportunidades de manter o nível adequado de apren-
dizagem. Nesse sentido, os sistemas educacionais devem implementar
programas educacionais que considerem a vasta diversidade de carac-
terísticas, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem de
cada indivíduo.
Essa declaração afirma, ainda, que os alunos com necessidades
educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que precisa
trabalhar com metodologias centradas na criança, capazes de satisfazer
tais necessidades, uma vez que as escolas que possuem “[...] orientação
inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes dis-
criminatórias, criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma
sociedade inclusiva e alcançando educação para todos” (ONU, 1994).
Desse modo, é preciso pensar em como esses educandos têm sido aco-
lhidos e estimulados nos ambientes educativos da Educação Básica.
Analisando o percurso histórico da educação brasileira, pode-se
perceber que “a escola não é, pela sua história, valores e práticas, uma
estrutura inclusiva” (Brizolla, 2015, p. 35); mas, segundo as Diretrizes
Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (Brasil, 2001),
o Brasil optou por um sistema educacional inclusivo ao concordar com
a Declaração Mundial de Educação para Todos (Unicef, 1990) e com
ideias apresentadas na Declaração de Salamanca (ONU, 1994). Par-
tindo disso, é reafirmada a proposta de oferecer a todas as crianças
educação e oportunidades de desenvolvimento, considerando suas
individualidades. Para tal, as escolas, em seus processos educacionais,
devem criar comunidades acolhedoras e buscar estratégias para um
201
realizados por profissionais com formação adequada, na escola regular,
além de currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organiza-
ção específicos.
O AEE é garantido por lei e deve ser oferecido na própria escola ou
em centros especializados, de forma a complementar ou suplementar
a escolarização regular. Nessa perspectiva, a Resolução nº. 4 do CNE/
CEB (Brasil, 2010), em seu artigo 29, inciso I, que define as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Básica, afirma que:
203
p. 489), “a gestão do projeto pedagógico é tarefa coletiva do corpo do-
cente, liderado pelo gestor responsável, e se volta para a obtenção de
um outro princípio constitucional da educação nacional que é a garantia
do padrão de qualidade”.
Nessa perspectiva, a construção de um PPP requer uma reflexão
inicial sobre seu significado e sua importância, para que ele seja a ex-
pressão da cultura da escola com sua (re)criação e desenvolvimento, im-
pregnada de crenças, valores, significados e modos de pensar e agir das
pessoas que participaram da sua elaboração.
Para que a efetivação dos processos educacionais inclusivos
ocorra, também é preciso consolidar a Gestão Democrática da Educa-
ção. O artigo 206 da CF de 1988, em seu inciso VI, traz entre seus prin-
cípios a “Gestão Democrática da Educação” (Brasil, [2016]), que supõe
o deslocamento do olhar das unidades escolares dos seus problemas
corriqueiros para uma dimensão que repense o seu papel enquanto
instituição. No que se refere a essa necessidade, o Plano Municipal de
Educação de Nova Prata, em sua meta 19, afirma que:
205
CAMINHOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
O lócus da pesquisa
207
gem e os modelos de avaliação, a fim de que seja garantido o direito à
educação com aprendizagem para todos os alunos, resultando em uma
escola inclusiva.
Este trabalho de intervenção foi realizado ao longo de 2019 e no
primeiro semestre de 2020, na Rede Municipal de Ensino de Nova Prata
(RS), desenvolvido pela coordenação pedagógica da Secretaria Muni-
cipal de Educação em parceria com gestores, equipes pedagógicas e
professoras de AEE da rede, que foram os elos da pesquisa nas escolas,
garantindo a escuta e a coparticipação de todos os envolvidos.
209
transtornos de aprendizagem, entre outros, que interferem no desem-
penho escolar.
Essa diversidade inquieta gestores e professores, que se sentem
angustiados por não conseguirem fazer com que todos os educandos
se integrem ao processo de ensino-aprendizagem; desse modo, não po-
dem assegurar a todos o direito à aprendizagem, que consiste no desen-
volvimento das habilidades e competências indicadas para a série/ano
que caracterizam o aprendizado adequado, levando em consideração
as individualidades.
Os pais também expuseram, em relatos para os profissionais dos
serviços de apoio e gestão escolar, sua preocupação e a necessidade de
que os filhos possam ser incluídos sem qualquer tipo de preconceito e
discriminação nas escolas, tendo respeitadas as suas necessidades e ca-
pacidades, para que possam se desenvolver.
Diante desse cenário, surgem questionamentos: como é possível
potencializar a aprendizagem em turmas tão heterogêneas? Como fa-
zer com que os alunos com necessidades educacionais especiais sejam
realmente incluídos no processo de construção do conhecimento? O
que fazer com os outros alunos que possuem dificuldades de aprendi-
zagem, de comportamento e não atingem os objetivos estabelecidos?
Como acolhê-los e fazê-los se desenvolver? Como promover na escola
a inclusão de todos?
Partindo desses questionamentos e dos dados construídos a partir
dos encontros realizados com os grupos focais na SME e nas escolas,
fez-se necessário analisar quais práticas escolares desenvolvidas na
Rede Municipal de Nova Prata (RS) têm contribuído para a garantia da
211
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Breve contextualização da Rede Municipal de Ensino de
Nova Prata
4 Dados fornecidos pelas escolas, pela Secretaria de Educação e pela Secretaria de Administração
e Recursos Humanos de Nova Prata (2020).
213
Conversando com a realidade/indicadores de qualidade
do ensino
Legenda descritiva: Gráfico em linhas nas cores azul claro, laranja, cinza, amarela, azul escuro e verde, que apresentam o
ano e os índices de reprovação na Rede Municipal entre os anos de 2017 e 2019.
Legenda descritiva: Gráfico em linhas nas cores azul claro, laranja, cinza e amarela, que apresenta o índice de distorção
idade/série nos anos iniciais e finais no período de 2018 e 2019.
215
A distorção idade/série ocorre em razão da reprovação e da eva-
são. Observa-se, pelos dados apresentados, que os maiores índices de
reprovação e abandono se concentram nos anos finais do Ensino Fun-
damental. Assim, é necessário promover o envolvimento de todos os
segmentos a fim de melhorar esses índices e, acima de tudo, garantir
que crianças, adolescentes e jovens que estão matriculados nas escolas
desenvolvam as habilidades e competências necessárias em cada etapa
de ensino.
O Plano Municipal de Educação (PME) apresenta como meta 2 cor-
rigir o fluxo escolar, garantindo a permanência e a conclusão na idade
certa dos alunos matriculados no Ensino Fundamental, e reafirma que o
atingimento desse objetivo depende do trabalho de todos os envolvidos
(aluno, família, escola, redes de apoio), sendo dever do Poder Público
garantir esse processo para assegurar a todos os estudantes o direito à
educação. Além disso, a meta 4 do PME prevê:
217
Ao analisar os dados relativos a aprendizado adequado nos anos
finais do Ensino Fundamental em 2018, observa-se que, a cada 10 alu-
nos, 5,6 estariam com a aprendizagem necessária no final do Ensino
Fundamental e que o fluxo escolar foi de 0,88; ou seja, a cada 100 alu-
nos, 12 reprovaram (Qedu, 2020). Esses dados apontam a necessidade
de transformar a realidade educacional para que mais alunos atinjam
a aprendizagem adequada, num processo em que sejam respeitadas as
individualidades, buscando o desenvolvimento de cada um a partir de si
mesmo, para que as sucessivas reprovações não resultem em evasão e
abandono escolar.
Legenda descritiva: Gráfico em colunas nas cores azul claro, laranja e cinza que apresenta o número de alunos atendidos
nos Laboratórios de Aprendizagem da Rede Municipal de ensino no período de 2018 a 2020.
219
Quando as dificuldades de aprendizagem persistem, mesmo após
um período de estimulação na escola, os alunos são encaminhados ao
Centro Multidisciplinar (CM). Esse espaço foi criado a partir das metas
4 e 7 do PME, o qual, em sua estratégia 7.2.26, propõe:
221
Esse serviço é muito importante e permite a interlocução en-
tre os diferentes educadores que compõem a rede de apoio do aluno
com NEE, buscando estratégias que auxiliam em seu desenvolvimento.
Nesse sentido, as Diretrizes Nacionais para Educação Especial (Brasil,
2001), em seu artigo 8º, inciso V, afirmam que, nas escolas de ensino re-
gular, devem ser previstos serviços de apoio pedagógico especializado
em salas de recursos, nas quais o professor com formação em educa-
ção especial realize a complementação ou suplementação curricular,
utilizando procedimentos, equipamentos e materiais específicos. Assim,
além de garantir a matrícula no ensino regular, quatro escolas de Ensino
Fundamental possuem espaços de salas de recursos, com professores
designados para essa função. Nas demais escolas, os alunos são enca-
minhados para atendimento nas salas de AEE mais próximas e podem
ainda receber AEE no CM ou na Escola de Educação Especial Morada
da Ternura (APAE).
223
A construção coletiva de uma escola inclusiva
225
Com a construção do RCM no ano de 2019, reafirmou-se a ne-
cessidade de desenvolver os objetivos de aprendizagem, habilidades e
competências nos estudantes; para isso, é preciso organizar a prática
pedagógica para, com intencionalidade educativa, alcançar os objeti-
vos pretendidos. Nesse intuito, é necessário adotar metodologias em
que os alunos “se envolvam em atividades cada vez mais complexas,
sejam desafiados a tomar decisões, avaliar os resultados e experimen-
tar novas possibilidades de mostrar sua iniciativa” (Escola Municipal de
Ensino Fundamental Prefeito Nagib Stela Elias, 2020, p. 23), pois se en-
tende que é
227
organizar relatórios sobre o aluno para socializar com o
professor da sala de aula regular e fazer a articulação com
outros profissionais que atendam o aluno, com a família e
com a escola, buscando alternativas para o seu desenvolvi-
mento, a partir de suas necessidades e capacidades (Escola
Municipal de Ensino Fundamental Ângela Pellegrini Paludo,
2020, p. 100).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
229
focais, analisar a realidade educacional das escolas e, a partir disso, seus
pontos fortes com relação à inclusão de todos, bem como os aspectos
que necessitavam ser melhorados e repensados.
Nessa perspectiva, observou-se que os textos político-normativos
da legislação brasileira e os documentos que servem como embasa-
mento legal de Nova Prata (PME, PPPs) asseguram que as escolas de-
vem ser organizadas de forma inclusiva, garantindo a diversidade e o
direito à educação.
Identificou-se com a pesquisa-ação que, apesar de ser garantida a
matrícula e o direito ao ingresso no ensino regular, muitos alunos não
atingem o aprendizado adequado para o ano escolar em que estão ma-
triculados; assim, ocorrem reprovações, aumento da distorção idade/
série e diminuição nos indicadores de qualidade da educação oferecida
nas escolas da rede.
Diante disso, foram levantadas ações que contribuíssem para a di-
versidade e possibilidades de melhorias a serem implementadas com
vistas a garantir a educação para todos. Constatou-se que há serviços
oferecidos aos alunos com dificuldades de aprendizagem, deficiência e
transtornos globais do desenvolvimento que os auxiliam em seu pro-
cesso de aprender e se desenvolver. O município conta com LA, SRM/
AEE e um CM, serviços de apoio que realizam atendimentos individua-
lizados ou em pequenos grupos, buscando atender às necessidades de
cada criança e aluno para potencializar a sua aprendizagem. Os atendi-
mentos são realizados por professores com formação específica ou por
profissionais especializados que atuam de forma articulada, servindo de
apoio às escolas e aos docentes da sala de aula regular. Contudo, esses
serviços não conseguem garantir a inclusão.
231
a ser trilhado a fim de que todos os alunos tenham garantido, mais do
que acesso e permanência, um ensino de qualidade nas escolas da Rede
Municipal de Nova Prata. Assim, faz-se necessário garantir uma Gestão
Democrática dos processos educacionais, de modo que todos se sintam
parte do processo e possam construir juntos a escola da diversidade
para todos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988]). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 6 abr.
2020.
IBGE. Nova Prata. Brasília, DF: IBGE, 2020. Disponível em: https://cidades.ibge.
gov.br/brasil/rs/nova-prata/panorama. Acesso em: 7 set. 2020.
INEP. Censo escolar. Brasília, DF: Inep, 2020. Disponível em: http://censobasico.
inep.gov.br/censobasico/#/. Acesso em: 27 out. 2020.
233
NOVA PRATA. Lei Municipal nº. 10.149, de 3 de agosto de 2018. Inclui artigo
e inciso na Lei nº 9746/2017, de 1º de abril de 2017. Nova Prata: Prefeitura
Municipal, 30 ago. 2018. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a/rs/n/
nova-prata/lei-ordinaria/2018/1014/10149/lei-ordinaria-n-10149-2018-inclui-
artigo-e-inciso-na-lei-n-97462017-de-1-de-abril-de-2017. Acesso em: 20 set.
2020.
4 As aventuras da Cipave tem a proposta principal de proporcionar aos estudantes da rede estadual
de ensino do Rio Grande do Sul mais informações em uma nova forma de abordagem sobre a
prevenção de acidentes, o bullying e a cidadania de dentro do espaço escolar, mas de forma lúdica,
divertida e educativa. No jogo, existem várias fases com muitos desafios e armadilhas que preci-
sam ser superados pelos gamers.
5 Afrontamiento. Abarca la tendencia a enfrentar los problemas y la búsqueda de los apoyos necesa-
rios en caso de requerirse. [...] Actitud positiva. Esta disposición abarca el enfoque positivo de la vida, la
búsqueda de personas positivas, la disposición para el aprendizaje ante los problemas y el tratar de ser
feliz a pesar de las contrariedades que se enfrentan cotidianamente. [...] Sentido del humor. Es la disposi-
ción a sonreír incluso ante los problemas o situaciones difíciles. [...] Empatía. Se define como el entender
y compartir los estados emocionales o los contextos de las demás personas [...] Flexibilidad. Incluye la
aceptación de los problemas como parte normal de la vida y la posibilidad de adaptarse a las perdidas [...]
Perseverancia. Es la persistencia del esfuerzo para lograr metas a pesar de las dificultades y la habilidad
para reajustarlas, aprender de las dificultades y reconocer el valor de la adversidade. [...] Religiosidad. Es
la tendencia a conceptuar los problemas que se enfrentan de acuerdo a las creencias religiosas que se
tengan. [...] Autoeficacia. ‘creencias en las propias capacidades para organizar y ejecutar los cursos de
acción requeridos que producirán determinados logros o resultados’ [...] Optimismo. Es la tendencia de
las personas a esperar resultados positivos y favorables en sus vidas, [...] Orientación a la meta. Consiste
en tener metas y aspiraciones en la vida y hacer lo necesario para lograrlas.
Há dois anos, nós tínhamos 174 alunos e hoje temos 224. Nós
não tivemos nenhum caso de violência na escola. Já tivemos
casos grandes de bullying, discriminação racial, mas quando
nós entramos com o projeto do Cipave, conseguimos zerar
esse índice. Nosso Ideb era 4.9, agora foi para 5.7, com a inte-
gração da família e instituição pública (Brasil, 2019b).
REFERÊNCIAS
ACOSO ESCOLAR. In: Diccionario de la Lengua Española. Madrid: Real
Academia Española, 2014. Disponível em: https://dle.rae.es/acoso#GjGPunT.
Acesso em: 3 set. 2020.
IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2015. Rio de Janeiro: IBGE,
2015. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/busca.html?searchword=pense.
Acesso em: 10 set. 2020.
OECD. TALIS 2018 Technical Report. [S. l.]: OECD, 2019. Disponível em: http://
www.oecd.org/education/talis/TALIS_2018_Technical_Report.pdf. Acesso em:
25 set. 2020.
PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
RISTUM, M. Bullying escolar. In: ASSIS, S.; CONSTANTINO, P.; AVANCI, J. (org.).
Impactos da violência na escola: um diálogo com professores. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2010. p. 95-119.
3 3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito da instância perma-
nente de que trata o § 5º do art. 7º desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendiza-
gem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum curricular do ensino médio.
5 15.6) promover a reforma curricular dos cursos de licenciatura e estimular a renovação peda-
gógica, de forma a assegurar o foco no aprendizado do (a) aluno (a), dividindo a carga horária em
formação geral, formação na área do saber e didática específica e incorporando as modernas tec-
nologias de informação e comunicação, em articulação com a base nacional comum dos currículos
da educação básica, de que tratam as estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 3.3 deste PNE (Brasil, 2014).
Ela estabelece
7 A expressão “sulear” é entendida como direção, como meio de orientação (Campos, 1999). Pau-
lo Freire emprega essa expressão a partir de Márcio D’Olne Campos, segundo Ana Maria Freire,
nas notas explicativas do livro Pedagogia da Esperança. Ela salienta “a conotação ideológica dos
termos nortear, norteá-lo, nortear-se, orientação, orientar-se e outras derivações”, destacando
a ideia de Campos de que o Hemisfério Norte é o “criador”, e o Sul, o “imitador” (Freire, 2003, p.
218): “criador” tendo em vista que, no Hemisfério Norte, o guia estelar é a Ursa Maior/Ursa Polar;
já no Hemisfério Sul, nossa constelação-guia é o Cruzeiro do Sul. Por que então usar “nortear” no
Hemisfério Sul? O autor ainda afirma que, ao importarmos termos do Norte do planeta sem refle-
tirmos, estamos contribuindo com a ideologia de superioridade e dominância do Norte.
10 Os codinomes não respeitam a ordem apresentada no parágrafo para que o anonimato real-
mente seja respeitado.
13 O ensino remoto preconiza a transmissão em tempo real das aulas. A ideia é que professor e
alunos de uma turma tenham interações nos mesmos horários em que as aulas da disciplina ocor-
reriam no modelo presencial. Grosso modo, isso significa manter a rotina da sala de aula em um
ambiente virtual acessado por cada um de diferentes localidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FREIRE, A. M. A. Inédito viável. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. (org.).
Dicionário Paulo Freire. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010a. p. 223-226.
4 Inicialmente, este PI tinha como objetivo geral aproximar a escola e as famílias a partir de um
processo de atualização do Projeto Político-Pedagógico (PPP), de forma a efetivar uma gestão
mais democrática na EMEI da Vila Elizabeth. Para tanto, pretendia-se problematizar os processos
de participação dos pais a partir das práticas vivenciadas no campo empírico, identificar o que os
professores e a equipe diretiva da Escola relatavam quanto às práticas e desafios da participação
da comunidade escolar e provocar discussões acerca do PPP da escola mobilizando a comunidade
escolar para a reestruturação deste.
6 No primeiro semestre de 2021, passado mais de um ano de pandemia, observa-se que o objetivo
de alcance a essas famílias estrangeiras colocado pela EMEI tem fracassado, permanecendo como
um desafio. À época, já havia uma preocupação com relação à comunicação com as famílias estran-
geiras e com as questões socioculturais e afetivas de seus países de origem, visto que o objetivo
principal da Educação Pública é acolher com qualidade as demandas e dialogar com a comunidade
em sua diversidade. As famílias estrangeiras não aderiram aos encontros virtuais e apresentaram
resistência no retorno ao atendimento presencial adaptado à nova realidade, em 2021, com tur-
nos menores e/ou semanas intercaladas.
7 A Figura 1 foi inspirada nos seguintes materiais: Revista Nova Escola (2019) e vídeo Desafios e
conquistas da Educação Infantil: reflexões no contexto da pandemia, da painelista Maria Luiza Rodri-
gues Flores (Frare et al., 2020).
REFERÊNCIAS
ANJOS, C. I.; PEREIRA, F. H. Educação infantil em tempos de pandemia: outros
desafios para os direitos, as políticas e as pedagogias das infâncias. Zero-a-
Seis, Florianópolis, v. 23, p. 3-20, 2021. DOI: https://doi.org/10.5007/1980-
4512.2021.e79179.
DOLTO, F. As etapas decisivas da infância. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
Gestão Democrática na Educação Infantil: olhares e leituras de mundo das gestoras das escolas
municipais de Educação Infantil de Capão da Canoa (RS) 349
precisamente, trazemos considerações acerca da pesquisa narrativa,
bem como da pesquisa-ação (na qualidade de processo organizador e
condutor do trabalho de campo). Além disso, indicamos como o corpus
de análise foi organizado, no caso, a partir da elaboração de questioná-
rios aplicados com professoras gestoras da Educação Infantil do muni-
cípio. Finalmente, na terceira seção, pontuamos e discutimos, com base
nas narrativas trazidas pelos questionários, os olhares e as leituras de
mundo das gestoras das escolas municipais de Educação Infantil de Ca-
pão da Canoa (RS), tendo como foco suas concepções empírica e teórica
no que tange à efetividade e à importância de suas práticas.
Gestão Democrática na Educação Infantil: olhares e leituras de mundo das gestoras das escolas
municipais de Educação Infantil de Capão da Canoa (RS) 351
Com efeito, chega-se, mais do que isso, a uma espécie de dicotomia
na qual parece haver uma predisposição a conceituar a administração
no interior de uma perspectiva técnica e a gestão sob uma perspectiva
política, constituindo-se aí, de formas diferentes (se não sugestivamente
apartadas), as responsabilidades dos gestores, a tomada de decisões, as
ferramentas de lideranças e o papel do órgão colegiado.
Em contraposição a esses pressupostos, Bordignon e Gracindo
(2000 apud Fernandes; Campos, 2015, p. 147) analisam a gestão edu-
cacional e escolar e afirmam que “a Gestão Democrática da educação
é uma possibilidade para que a organização escolar se fortaleça como
um espaço de participação e coordenação de ações para o alcance dos
objetivos da instituição e não como uma organização burocrática”.
Com base nisso, os autores defendem a superação dessa dicotomia
(ou, mais decisivamente, a mútua dependência entre os termos), e não
o seu fortalecimento.
No caso específico da Educação Infantil e seus padrões de gestão,
foco central deste texto, parte da literatura acaba por trazer inúmeras
interrogações e também tensionamentos entre práticas que se voltam
para fins distintos, já que são oriundas de campos epistemológicos tam-
bém distintos. Mais precisamente, Fernandes e Campos (2015, p. 151)
mostram que, quanto a isso, as condições de funcionamento de creches
e pré-escolas são atravessadas por
Gestão Democrática na Educação Infantil: olhares e leituras de mundo das gestoras das escolas
municipais de Educação Infantil de Capão da Canoa (RS) 353
Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil, no qual se afirma
que o gestor de Educação Infantil deve “adotar práticas de abordagem
participativa e democrática, envolvendo a comunidade escolar, por
meio de suas organizações representativas: os profissionais da Educa-
ção Infantil, os pais, os responsáveis e as crianças”; ainda, de modo com-
plementar ao parâmetro citado, constitui-se o parâmetro 1.2.19, que
refere “considerar a participação da família ou dos responsáveis como
condição necessária da avaliação das políticas educacionais para a Edu-
cação Infantil” (Brasil, 2018, p. 30). Entendemos, obviamente, que, junto
à “letra da lei”, tais determinações preconizam e demarcam espaços po-
líticos de extrema relevância para o fortalecimento e, cada vez mais, o
reconhecimento da centralidade dessa etapa da Educação Básica.
No entanto, ainda que tais diretrizes e prerrogativas venham sendo
asseguradas legalmente, Borges e Pandini-Simiano (2019, p. 545) afir-
mam que:
Gestão Democrática na Educação Infantil: olhares e leituras de mundo das gestoras das escolas
municipais de Educação Infantil de Capão da Canoa (RS) 355
ESPAÇO METODOLÓGICO DA PESQUISA:
NO DESENHO DAS NARRATIVAS DAS GESTORAS,
OS DESAFIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA
EM EDUCAÇÃO INFANTIL
Gestão Democrática na Educação Infantil: olhares e leituras de mundo das gestoras das escolas
municipais de Educação Infantil de Capão da Canoa (RS) 357
estudo que têm a reflexividade e a colaboração como ele-
mentos centrais dos processos de investigação e formação
[...]. É uma alternativa gradual de elaboração de outros cami-
nhos a serem percorridos na prática docente [e da formação
inicial de professores]. É esse exercício de colaboração crítico
reflexivo que autoriza superar os conhecimentos consolidados
e elaborar novos conhecimentos coletivos pautados em re-
lações que incluem interesses pessoais e sociais comuns no
sentido de mudança (Ferreira, 2012, p. 360-361, grifo nosso).
Gestão Democrática na Educação Infantil: olhares e leituras de mundo das gestoras das escolas
municipais de Educação Infantil de Capão da Canoa (RS) 359
Na segunda etapa, com vistas a abordar o trabalho das gestoras que
atuam no contexto da Educação Infantil, foi aplicado um questionário
contendo nove questões que versavam sobre as concepções das
gestoras a respeito do próprio conceito de gestão na Educação Infantil
(e seus pressupostos) a partir de suas práticas. Empiricamente, então, a
análise concentrou-se nas narrativas dos próprios sujeitos que assumem
essa função. Assim, o processo de fazer sentido, de dar sentido/
significado por meio da narrativa, pode ser visto como emancipatório,
pois oferece uma forma de dar expressão à experiência pessoal
(Chaves, 2000). Assumimos aqui que essa etapa foi inteiramente
pensada coletivamente, como demanda das escolas e das comunidades
no que diz respeito aos desafios a serem enfrentados por um trabalho
efetivo de pesquisa-ação. Em suma, nosso alvo de análise se deu sobre
o que emergia na narrativa das gestoras como, muitas vezes, alvos de
tensionamentos, confrontos e mesmo de indeterminações pouco claras
por parte de toda a comunidade entre os limites, as demandas e as
exigências dos papéis exercidos pelos atores e pelos espaços.
Nesse movimento, dado o escopo da problematização proposto
para este artigo, qual seja, a especificidade das dimensões próprias
da gestão na Educação Infantil, foram organizadas em conjunto com
o grupo de gestoras e docentes quatro questões (que acreditávamos
serem sucintas, mas eficientemente precisas para efetuarmos, possi-
velmente, encaminhamentos sólidos em direção a mudanças de nos-
sas práticas e daquilo que se impunha como obstáculo ou, pelo menos,
adversidade). São elas: 1) Como gestor, como você define a Gestão Demo-
crática na escola pública? 2) Qual é o papel do gestor escolar na Educação
Infantil? 3) Quais são as características que um gestor democrático precisa
Gestão Democrática na Educação Infantil: olhares e leituras de mundo das gestoras das escolas
municipais de Educação Infantil de Capão da Canoa (RS) 361
OLHARES E LEITURAS DE MUNDO DAS GESTORAS
DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO
INFANTIL DE CAPÃO DA CANOA
Gestão Democrática na Educação Infantil: olhares e leituras de mundo das gestoras das escolas
municipais de Educação Infantil de Capão da Canoa (RS) 363
principais desafios encontrados para consolidar a Gestão Democrática
no âmbito da Educação Infantil?
Em primeiro lugar, vale destacar que, uma vez que entendemos a
“educação como bem público, a descentralização do poder pode pos-
sibilitar compartilhar aquilo que constitui prerrogativa de uma cole-
tividade, pressupondo exercícios de envolvimento e pertencimento,
instando à participação nas problemáticas próprias de cada instituição”
(Galdino; Côco, 2018, p. 295). Ou seja, compreendemos que a descen-
tralização do poder, como garantia de uma Gestão Democrática, per-
mite o significativo incremento da autonomia das instituições (e, claro,
isso inclui as de Educação Infantil).
No cenário de pressupostos que se colocam como partilhados,
os sujeitos participantes parecem não ter dúvida de que o conceito
de Gestão Democrática demanda pensar a participação de todos os
segmentos na gestão das escolas de Educação Infantil. Tem-se claro,
nas narrativas das gestoras, como se dá efetivamente essa descentra-
lização do poder de que falamos, algo bem exemplificado pela Gestora
B: “As ações sociais propostas que são partilhadas com a comunidade
escolar tornando cada agente de segmento, que está inserido no pro-
cesso, ativo e participativo em todas as construções e tomadas de de-
cisões que beneficiem a escola” (junho 2020). Isso também emerge
nas palavras da Gestora C: “Defino a Gestão Democrática na escola
pública como a participação efetiva dos segmentos da comunidade es-
colar: pais, professores, alunos e funcionários, em todos os aspectos da
organização da escola” (junho 2020).
Gestão Democrática na Educação Infantil: olhares e leituras de mundo das gestoras das escolas
municipais de Educação Infantil de Capão da Canoa (RS) 365
mada na narrativa da Gestora H, quando ela diz: “A Gestão Democrática
é uma grande meta que todos nós buscamos, é um movimento diário,
por vezes demorado, de avaliações e reorganização dos objetivos pro-
postos” (junho 2020, grifo nosso).
Paralelamente, e também não sem tensionamentos, parece con-
sensual entre as narrativas das gestoras o entendimento de que a par-
ticipação no contexto da Educação Infantil tem se visto em profundo
conflito com vários entraves, principalmente no que diz respeito ao
processo centralizador da tomada de decisões, o que se materializa, em
alguma medida, na figura de um gestor centralizador quanto às tomadas
de decisão ou mesmo na figura de um diretor condutor da participação,
como afirma a Gestora D: “O gestor escolar é o principal sujeito na im-
plantação de uma gestão democrática, pois [são] os seus supostos ‘po-
deres’ de decisões que entram em jogo” (junho 2020).
Pormenorizando elementos legais que aqui interessam de modo
singular, haja vista a narrativa da Gestora D, permitimo-nos trazer um
importante excerto da LDB que, em seu artigo 14, determina:
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avaliações, por exemplo. A escola tem total autonomia para
desenvolver os aspectos pedagógicos, administrativos e fi-
nanceiros, porém ainda sente a falta de pais mais comprome-
tidos em participar da vida escolar de seus filhos (Gestora A.,
junho 2020).
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No que concerne à participação das crianças, uma das
gestoras narra:
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O que narram as gestoras sobre o perfil do gestor
de Educação Infantil
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do município foi marcada, até meados de 2017, pela eleição para provi-
mento do cargo de gestor. Entendemos, nesse perfil, em especial quanto
ao último aspecto mencionado, que a constituição do quadro de profis-
sionais ligados à gestão na Educação Infantil corrobora as conclusões de
Côco e Galdino (2016), sobretudo quando indicam a ausência marcante
dos processos participativos no que se refere às formas de nomeação
profissional. Com isso, revelam-se os desafios que se apresentam como
persistentes na efetivação de uma Gestão Democrática pautada na par-
ticipação coletiva, na dialogicidade com a comunidade e no comparti-
lhamento das decisões.
Posto isso, ao engendrar as narrativas das gestoras nas questões
que norteiam esse eixo de análise (qual seja, o desempenho de suas fun-
ções), faz-se necessário evidenciar que, na gestão da Educação Infantil,
as questões administrativas, os procedimentos organizacionais, cadas-
trais, patrimoniais, bem como aqueles de manutenção das instalações
educativas parecem fazer parte do trabalho de gestor (pelo menos com
base na fala das gestoras vinculadas ao município de Capão da Canoa).
No entanto, em nossa discussão, atentamos para que a separação de
todas essas demandas de uma dimensão organizacional e daquela de
ordem pedagógica não seja de modo algum fortalecida; diríamos, além
disso, que elas deveriam ser assumidas como dimensões mutuamente
constitutivas. Quanto a esse aspecto específico, a Gestora H oferece
uma importante contribuição, que muito agrega àquela concepção re-
lativa à inseparabilidade de funções: “O papel do gestor é fundamen-
tal, é ele quem dá o suporte para o fazer pedagógico e o fazer de todos os
outros segmentos de forma incentivadora e colaborativa” (junho 2020,
grifo nosso). Acrescenta-se a essa fala a da Gestora E: “O papel do ges-
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financeiras) e das dimensões pedagógicas e relacional, manifestadas nas
mais diversas possibilidades do movimento diário da Educação Infantil.
Nesse sentido, Souza e Ribeiro (2017), ao abordarem o perfil do
gestor contemporâneo nas suas dimensões teórica e prática, colabo-
ram para a ideia dessas incompatibilidades que percorrem de formas
distintas os igualmente distintos perfis que caracterizam os gestores.
Para os autores, tais perfis são denominados contemporâneos, inaca-
bados e complexos, e percebemos que são eles que atravessam as nar-
rativas das gestoras desta pesquisa. Ao analisar essas questões, Santos
(2008, p. 14 apud Souza; Ribeiro, 2017, p. 109) afirma algo que, para ele,
parece “insolúvel”:
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Frente a esses descaminhos legais, ao paradoxo da contempora-
neidade e à gama de atividades elencadas pelas gestoras da pesquisa,
destacam-se os seguintes termos: “mediar”, “articular”, “assegurar o
cumprimento dos direitos” e “responsável por mudanças e evoluções”.
Trata-se de termos e expressões que se evidenciam em suas narrativas
e que assim convergem para um reconhecimento da complexidade do
papel da gestora da Educação Infantil, conforme sintetizado na narra-
tiva a seguir:
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seus espaços, recursos humanos e financeiros, além das rela-
ções interpessoais com todos os segmentos da comunidade,
revisitando o PPP constantemente e cumprindo com sua efe-
tivação (junho 2020, grifo nosso).
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Sem desconsiderar os significativos avanços no campo da Educação
Infantil apresentados no decorrer deste texto por meio dos dados anali-
sados, indicamos que se fazem ainda marcantes: a ausência de processos
participativos no que se refere às formas de provimento da profissional
gestora; a sobrecarga dos múltiplos papéis atribuídos às atividades de
responsabilidade das gestoras (ultrapassando, inclusive, dimensões ad-
ministrativas e pedagógicas); e, ainda, as atividades atribuídas às ges-
toras na contemporaneidade, que percorrem sua operacionalização até
sua autonomia no processo de gestão. Todas essas questões e comple-
xidades (constituídas nos olhares e na leitura de mundo das práticas
gestoras) envoltas pelo ato de ser gestor/gestora, em especial em ins-
tituições de Educação Infantil, permitiram que lançássemos um olhar
mais sensível e crítico ao modo como vem sendo projetada a construção
desse perfil contemporâneo (repetimos: complexo e inacabado) que re-
presenta, dada sua importância, um componente entre muitos outros
que constroem as características e identidades de uma instituição. Ao
enfatizar tais aspectos na análise, gostaríamos de destacar o quanto o
trabalho do gestor e da gestora ainda revela fragilidades; justamente
por isso, aponta e sugere a necessidade de investimentos para o seu
fortalecimento na busca por se implantarem as premissas contidas na
legislação e nos documentos legais complementares mencionados ini-
cialmente na discussão desse eixo.
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Com isso, ao assumir a Gestão Democrática na Educação Infantil
como tema norteador deste artigo, consideramos, de modo bastante
especial, os desafios enfrentados pelas gestoras de Educação Infantil
das escolas municipais de Capão da Canoa, no Estado do Rio Grande do
Sul, na implantação da Gestão Democrática, e de que forma podemos
ali reconhecer as singularidades e especificidades dessa etapa da Edu-
cação Básica.
Para tanto, como pode ser visto, indicamos as premissas da Ges-
tão Democrática explicitadas na legislação atual e nos aportes teóricos
específicos do campo, tendo como horizonte as narrativas das gestoras
das instituições de Educação Infantil do município de Capão da Canoa.
Por meio dessa articulação, buscamos enfatizar questões referentes à
implantação da Gestão Democrática, entendida como parte da prática
das gestoras de Educação Infantil, e como ali se compõe um conjunto ar-
ticulado de conquistas, mas também de desafios vivenciados no cenário
atual da Educação Infantil.
Nesse sentido, podemos dizer que a Gestão Democrática na Edu-
cação Infantil não é apenas uma questão organizacional e de gestão (ad-
ministrativa e pedagógica), mas, antes, uma questão mais ampla, ligada
ao processo mesmo de democratização da educação, de expansão e
realização do direito à educação, de possibilidade de educar para e pela
democracia e de participação.
De todo modo, reconhecemos que o campo da Educação Infan-
til vem se fortalecendo de diferentes formas nos últimos anos e, com
isso, fortalecendo também as atribuições das gestoras e, consequente-
mente, suas concepções em relação a seu próprio trabalho (dentro de
toda especificidade e singularidade do campo). Nas narrativas, reve-
REFERÊNCIAS
BORGES, R.; PANDINI-SIMIANO, L. Desafios da gestão na educação infantil:
entre concepções e práticas de gestoras. Educação Unisinos, São Leopoldo, v. 23,
nº. 3, p. 544-558, 2019. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/pdf/edunisinos/
v23n3/2177-6210-edunisinos-23-03-544.pdf. Acesso em: 20 set. 2020.
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FERNANDES, F. S.; CAMPOS, M. M. Gestão da educação infantil: um balanço
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Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3993/399360941007.pdf. Acesso
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FREIRE, P. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho
D’Água, 1997.
O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO:
UM DOCUMENTO FRUTO DO PROCESSO
DE DISCUSSÃO E TOMADA DE DECISÕES
DO COLETIVO DA ESCOLA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FREIRE, P. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho
D’Água, 1995.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2006.
3 PAF é um plano da escola com características do momento, pois a cada semana preparamos es-
tudos e ações para as necessidades que surgiam no contexto atual.
5 A fila acaba por ser uma estratégia de garantir o acesso a todas as crianças sem escolhas ou
prioridades de interesses políticos particularizados.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Boletim Estatístico, Censo Escolar e Central de Vagas fornecidos pela
SME. Acrescentado o ano de 2019 para acompanhamento.
Legenda descritiva: Gráfico de colunas com a quantidade de matrículas na Educação Infantil da Rede Municipal de ensino
de Torres (RS) efetuadas entre 2009 e 2019, por ano, que mostra um crescimento progressivo e intenso dessas matrículas,
6 Entendida a concepção de política como posição de compromisso para com as crianças e sua
comunidade.
8 A rota é entendida por caminho traçado pelo planejamento, já flexível e elástico; contudo, o ad-
vento da covid-19 exigiu um novo planejamento, e reorganizamos as formas de encontros e da
própria participação.
REFERÊNCIAS
BALL, S. J.; MAINARDES, J. (org.). Políticas educacionais: questões e dilemas. São
Paulo: Cortez, 2011.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
IBGE. Torres. População. Brasília, DF: IBGE, 2010. Disponível em: https://
cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/torres/panorama. Acesso em: 10 jun. 2014.
PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2016.
INTRODUÇÃO
Gráfico 2 – Instituições de educação atendidas na região do Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016].
VIEIRA, E. Democracia e política social. São Paulo: Cortez, 1992. v. 49. (Coleção
Polêmicas do Nosso Tempo).