Resenha Acadêmica Recordar Repetir Elaborar

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Resenha Acadêmica

1. Identificação da Obra

Título Completo da Obra: Observações Psicanalíticas sobre um Caso de


Paranoia Relatado em Autobiografia (“O Caso Schereber”), Artigos sobre
Técnica e Outros Textos (1911-1913)

Autor: Sigmund Freud

Editora: Companhia das Letras

Ano de Publicação: 2010

Número de Páginas: 275.

Capítulos Analisados: “Recordar, Repetir e Elaborar” e “O Início do


Tratamento”

2. Apresentação do Autor

Sigmund Freud nasceu na Morávia, no Império Austríaco, em 1856 e


faleceu em 1939. Foi um médico neurologista considerado o pai da psicanálise.
Sua fundamentação teórica e aplicação prática se tornaram fonte de
compreensão do psiquismo humano e uma referência para a psicologia e
outras áreas do conhecimento até os dias atuais. Em 1884, entrou em contato
com o médico Josef Breuer, que havia curado sintomas de histeria com uma
técnica chamada método catártico, que foi o ponto de partida da psicanálise.

3. Síntese do Conteúdo

Em “Recordar, Repetir e Elaborar”. Freud amplia sua concepção a respeito


dos mecanismos de defesa psicanalíticos e descreve a importância da
repetição e da elaboração no processo de análise. Compreender os aspectos
subjetivos de cada indivíduo, suas repetições e defesas é fundamental para
que o analista possa, através da transferência e das técnicas psicanalíticas,
auxiliar o paciente a entender a si mesmo e ser capaz de trilhar caminhos
diferentes dos quais, desde a infância, se vê repetindo inconscientemente.

Em “O Início do Tratamento”, Freud comenta sobre aspectos práticos


cruciais para o início da análise, como a definição de tempo e valores para o
tratamento, o alinhamento de expectativas entre analista e paciente e a forma
como a sessão será conduzida dentro do tratamento analítico.

4. Análise Crítica

No texto “Recordar, Repetir e Elaborar, Freud aponta profundas alterações


sofridas pela psicanálise ao longo do tempo. O método catártico, em sua
fundação, se preocupava com o momento de formação do sintoma do paciente
e a tentativa de repetir os mesmos processos psíquicos vividos naquele
momento, a fim de recordar-se do ocorrido e, então, poder romper com esse
ciclo. Ao abrir mão da hipnose, o trabalho se voltou para os pensamentos
espontâneos da pessoa analisada e o que ela não conseguia se lembrar. Essa
resistência à lembrança seria interpretada e o foco estaria nas situações que
formaram os sintomas e no que estava por trás deles. Em última instância,
formou-se a técnica em que o médico analisava o que estava na superfície do
analisando, usando a interpretação para encontrar suas resistências e torna-las
conhecidas. O intuito era superar as resistências causadas pela repressão.

O autor reconhece a importância do desenvolvimento do método e das


etapas que sucederam a técnica que, por fim, ficou conhecida como a
fundamental da psicanálise, pois elas foram cruciais para acessar os conteúdos
inconscientes dos pacientes e aprender a manejá-los.

O esquecimento dos conteúdos inconscientes, porém, não faz com que eles
desapareçam; ao contrário, são repetidos na vida cotidiana dos pacientes sem
que eles percebam, uma vez que as lembranças estão encobertas. A análise se
dedica a extrair esses conteúdos tão ocultos e tão essenciais ao mesmo
tempo. Nas palavras de Freud, “(...) o analisando não recorda absolutamente o
que foi esquecido e reprimido, mas sim o atua. Ele não o reproduz como
lembrança, mas como ato, ele o repete, naturalmente sem saber que o faz.”
(Freud, 2010, p. 149). Essa repetição pode acontecer nas suas relações
interpessoais, na vida cotidiana e, com frequência, na relação entre analista e
analisando. Quanto maior for a resistência, maior a proporção em que a
recordação será trocada pela repetição – e esse é o modo em que o indivíduo
dá conta de recordar. As ferramentas do passado são utilizadas no presente
para que o sujeito se proteja, por isso é fundamental compreender estes
aspectos inconscientes, mas tão presentes em cada paciente.

Já em “O Início do Tratamento”, Freud se dedica a descrever os desafios


enfrentados no início da análise. Há aspectos muito práticos sobre a definição
de horários e duração da terapia, a forma como o paciente pode se engajar no
tratamento, suas expectativas sobre o processo (que podem ser positivas,
negativas e até mesmo excessivas), os honorários recebidos pelo tratamento,
as técnicas utilizadas (como o uso do divã, a associação livre, etc), além da
forma como o analista deve intervir. Há uma angústia presente na fase inicial,
pois o analisando precisa revisitar conteúdos que deseja esquecer, que estão
adormecidos em si mesmo. O psicanalista é como um guia desse processo,
que pode ser tão doloroso e não frutífero ao mesmo tempo.

A transferência também é um aspecto fundamental aqui, pois essa relação


cheia de afetos e tão ambivalente é como que um palco para a elaboração e
repetição de conteúdos inconscientes. Para que isso aconteça, o analista
precisa manter uma postura imparcial e sem julgamentos, deixando e lado seus
próprios preconceitos para poder acolher seus pacientes.

Freud menciona a abstinência e a interpretação como dois pilares


fundamentais para a técnica psicanalítica. A primeira diz respeito à recusa do
psicanalista em satisfazer as exigências pulsionais do analisando, como o
desejo desesperado por amor, apoio, reconhecimento, etc. A segunda, por sua
vez, busca compreender os aspectos inconscientes e o significado dos sonhos,
das palavras e das ações do paciente.

A resistência é um aspecto presente no tratamento, tanto por parte do


paciente como do analista, pois é um mecanismo de defesa que busca
proteger o sujeito de sua dor, do sofrimento ou de ameaças, ainda que
inconscientes. Com isso, nem todos os tratamentos podem alcançar um “final
feliz”. Por ser um processo de muita honestidade, vulnerabilidade e
autoconhecimento, pode vir a ser também um processo marcado pelo
sofrimento ou mesmo pela falta de engajamento. Por esses e outros aspectos,
pode haver a ruptura ou a desistência.

5. Considerações Finais

A psicanálise pode oferecer a oportunidade para que os analisandos


consigam reconhecer o ciclo compulsivo de repetição inconsciente e, no melhor
dos cenários e com as ferramentas certas, romper esse padrão. A relação entre
analisa e paciente é muito importante para que os conteúdos inconscientes
sejam repetidos, analisados e elaborados. A possibilidade de ter ciência destes
conteúdos e poder avalia-los de forma crítica permite que o paciente tenha
novos pontos de vista sobre si mesmo, suas escolhas e a forma como se
relaciona, podendo cultivar mecanismos mais saudáveis para lidar com seus
conflitos e decidir não apenas com base no que lhe é infantil e inconsciente,
mas com o que fará mais sentido para si mesmo naquela fase de sua vida.

As contribuições de Sigmund Freud são valiosas para que os futuros


analistas consigam compreender e explorar as dinâmicas estabelecidas desde
as primeiras sessões, manejando a transferência, a angústia, os mecanismos
de defesa e até mesmo a ruptura do processo de análise.

6. Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund. Observações Psicanalíticas sobre um Caso de Paranoia


Relatado em Autobiografia (“O Caso Schereber”), Artigos sobre Técnicas e
Outros Textos (1911-1913). Trad.: Paulo César de Souza. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.

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