Saúde Coletiva

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JULIA CORREIA TELES DE SOUZA

Saúde coletiva - Professor Phillipe Rodrigues

SUS, PROMOÇÃO DA SAÚDE E DETERMINANTES SOCIAIS

A promoção da saúde é um dos pilares fundamentais do Sistema Único de


Saúde (SUS) no Brasil. É um conjunto de estratégias e políticas que tem como objetivo
melhorar as condições de vida da população através de ações educativas, preventivas
e de bem-estar. Este conceito abrange ações que estimulam hábitos saudáveis,
ambientes propícios à saúde e a diminuição das desigualdades sociais. No Brasil, o
SUS tem um papel crucial na organização e implementação dessas iniciativas,
seguindo os princípios da universalidade, que assegura o acesso aos serviços de
saúde a todos os cidadãos, e da equidade, que procura atender às necessidades
específicas de diferentes grupos populacionais.
A atuação do SUS na promoção da saúde se materializa por meio de diversos
programas e políticas públicas, como as Unidades Básicas de Saúde (UBS), Agentes
Comunitários de Saúde (ACS) e o Programa Saúde da Família (PSF), que atuam
diretamente com a população em nível comunitário. Estas ações têm como foco
principal a prevenção de enfermidades, a educação em saúde e o acompanhamento
contínuo da saúde das famílias, com atenção especial à vulnerabilidade social.
No entanto, A saúde da população não está apenas relacionada ao acesso a
serviços médicos. Os determinantes sociais da saúde (DSS) têm um papel
fundamental na determinação das condições de vida que favorecem ou prejudicam a
saúde. Esses fatores estão relacionados à renda, o que, em uma distribuição desigual,
tem um impacto direto na qualidade de vida e no acesso a alimentos saudáveis,
moradia adequada e serviços essenciais. Além da renda, níveis mais elevados de
educação estão relacionados à maior compreensão das informações sobre saúde e a
comportamentos mais saudáveis. A falta de saneamento básico básico nas
residências é um dos principais fatores que contribuem para o aumento das doenças
infecciosas e parasitárias. É importante salientar que as condições de trabalho
inseguras e a falta de acesso a serviços de segurança e saúde no ambiente laboral
afetam significativamente a saúde física e mental dos trabalhadores. A falta de acesso
à água potável e ao esgotamento sanitário adequado contribuem para o aumento da
incidência de doenças relacionadas à pobreza, como a diarreia e as doenças
respiratórias, uma vez que as pessoas em situação de vulnerabilidade não dispõem
dos recursos necessários para manter um ambiente saudável, perpetuando um ciclo
de doenças e exclusão social.
Esses fatores são fundamentais para compreender a desigualdade na saúde e
na doença entre diferentes grupos populacionais no Brasil. A Carta de Ottawa (1986),
que estabelece os princípios para a promoção da saúde, já reconhecia a relevância
desses fatores ao apontar que o ambiente social, econômico e cultural tem uma
grande influência sobre a saúde. Ao trabalhar em conjunto com outras políticas
públicas, o SUS tem como objetivo minimizar as desigualdades impostas pelos
determinantes sociais da saúde. O Programa Bolsa Família, criado em 2003, tem
como objetivo assegurar que as famílias beneficiadas tivessem acesso regular a
serviços de saúde, tais como pré-natal e acompanhamento infantil. Estudos
demonstram que o programa tem um impacto benéfico na segurança alimentar e no
acesso a serviços básicos (IPEA, 2020) Embora o Bolsa Família não seja um
programa do SUS, há outros que são, como o Programa Nacional de Melhoria do
Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), que visa aprimorar a
infraestrutura das unidades de saúde em áreas carentes e promover uma atenção
integral à saúde.
Entre os programas criados, destaca-se o Programa Saúde na Escola (PSE),
de 2007, promove a saúde nas escolas públicas, integrando educação e saúde
através de ações preventivas e educativas. Uma pesquisa realizada em 2015 revelou
uma redução nos índices de obesidade infantil (MS, 2016) O Saúde da Família, de
1994, tem como objetivo fortalecer a atenção primária com equipes multidisciplinares,
levando cuidados preventivos e curativos às comunidades. Em 2019, o programa
atingiu 64% da população brasileira (CONASS, 2019) O Programa Nacional de
Imunizações (PNI), criado em 1973, assegura a vacinação da população, sendo
considerado uma referência mundial por reduzir significativamente doenças como o
sarampo e a poliomielite (MS, 2018) O Programa Farmácia Popular, lançado em 2004,
ampliou o acesso a medicamentos essenciais com preços reduzidos. A Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS), criada em 2011, tem como objetivo assegurar
assistência integral às pessoas com transtornos mentais e dependência química. A
RAPS foi fundamental em casos como o da cidade de São Paulo, onde o fechamento
de hospitais psiquiátricos foi acompanhado por centros de atenção psicossocial
(CAPS), assegurando acompanhamento contínuo para pacientes vulneráveis (SP,
2015). Em comum, esses programas atendem a determinantes sociais da saúde como
educação, acesso a recursos de saúde, condições de moradia e prevenção de
doenças, garantindo maior equidade no acesso à saúde pública.
Apesar de esses programas terem sido criados com o objetivo de diminuir as
desigualdades e promover a saúde da população, a falta de estrutura do Brasil ainda
impede que eles alcancem o seu pleno potencial. Muitos desses programas enfrentam
dificuldades de implementação, especialmente em áreas rurais e periferias urbanas.
Essa realidade causa lacunas no atendimento às populações mais vulneráveis, o que,
muitas vezes, resulta em resultados inferiores ao esperado teoricamente. A superação
dessas barreiras requer uma maior coordenação entre os diferentes níveis de
governo, investimentos em infraestrutura e políticas públicas que garantam a
continuidade das iniciativas, reforçando o compromisso com a equidade social e a
melhoria contínua do sistema de saúde.
Ao considerar os fatores sociais na elaboração de políticas públicas, o SUS não
se limita a tratar doenças, mas também a melhorar as condições de vida e o bem-
estar geral da população. Essa abordagem integrada é crucial para promover a
equidade na saúde, pois fatores socioeconômicos e ambientais estão fortemente
ligados às diferenças de saúde. Políticas focadas nos DSS podem ter um impacto
positivo duradouro, tanto na qualidade de vida quanto na redução da incidência de
doenças evitáveis.
No entanto, a promoção da saúde só é efetiva quando há uma articulação
contínua entre diferentes setores do governo, como habitação, educação, trabalho e
saúde, reconhecendo que a saúde está além do âmbito hospitalar. Nesse sentido,
reforçar políticas intersetoriais e assegurar o financiamento adequado para programas
voltados à melhoria dos DSS são fundamentais para assegurar um futuro mais
equitativo para todos os brasileiros.

Referências
PAIM, Jairnilson S.; ALMEIDA-FILHO, Naomar de. Saúde Coletiva: Teoria e Prática.
Rio de Janeiro: MedBook Editora, 2022.
MATTOS, R.A. A integralidade na prática (ou sobre a prática da integralidade). Cad.
Saude Publica, v.20, n.5, 2004.

BAPTISTA, T.W.F. História das políticas de saúde no Brasil: a trajetória do direito à


saúde. In: MATTA, G.C.; PONTES, A.L.M. (Orgs.). Políticas de saúde: organização e
operacionalização do Sistema Único de Saúde. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz, 2007.

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