Artigo CEA308 - 01
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difícil [3]. diminuir a segurança do pouso, especialmente em aeronaves
leves e pequenas, o que forçou o abandono desta opção.
Uma primeira tentativa de remover esta
dificuldade mantendo a hélice impulsora seria a colocação Uma terceira tentativa para a utilização de hélice
do motor próximo à seção central da fuselagem (ver Figura impulsora, pouco comum, seria adotar uma fuselagem curta,
1). Para isto seria necessário utilizar um eixo para a ligação sem o eixo de transmissão, situando as superfícies de
motor - hélice. Entretanto, nas aeronaves que tem utilizado comando longitudinal e direcional sobre dois boons, fixados
esta configuração, devido a dificuldades no balanceamento sobre a asa (vide figura 3). Desta forma, poder-se-ia
do eixo, tem ocorrido graves problemas de vibração. garantir boas características de estabilidade e controle da
aeronave. Entretanto, a previsão segura de não ocorrência
de flutter em boons esbeltos seria muito complexa, forçando
a adoção de boons mais robustos, inviabilizando a
minimização do arrasto e do peso da aeronave.
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complexas. ÁREA E POSIÇÃO DAS EMPENAGENS
Com a escolha da configuração tratora, partiu-se É notório que a área das empenagens pode ser
para o esboço das linhas gerais da aeronave (ver figura 4), reduzida à medida em que se distancia as mesmas da asa da
aglutinando-se as informações provenientes dos métodos aeronave. Entretanto, existem três compromissos que devem
comparativos e dos cálculos preliminares, e alguns aspectos ser observados:
pessoais do projetista. Algumas impressões de equilíbrio
estético foram introduzidas no projeto, as quais, regidas por i) A área molhada da fuselagem também
variáveis não quantificáveis (gosto do projetista, época do aumenta quando se aumenta a distância da
desenvolvimento, etc), não serão discutidas no presente empenagem à asa, aumentando o arrasto
trabalho. parasita da fuselagem.
ALGUNS ASPECTOS DA CONFIGURAÇÃO ii) Caudas muito longas podem ser uma fonte de
EXTERNA. problemas de flutter na fuselagem.
Sobre a configuração apresentada na Figura 4, iii) A posição das empenagens são de extrema
merecem destaque os seguintes aspectos: importância para a centragem da aeronave.
Tendo em mente que o atual recordista na onde bEH denota a envergadura da empenagem
categoria FAI C1-a0 utiliza um motor ROTAX 532 (2 horizontal, b a envergadura da asa, Sp a área em planta do
tempos, refrigeração a água, 64 hp) e que o Centro de profundor, SEH a área em planta da empenagem horizontal,
Estudos Aeronáuticos da UFMG dispõe de um exemplar SL a área do leme de direção, SEV a área da empenagem
deste motor, optou-se pela sua utilização. Isto não elimina a vertical, VH o coeficiente de volume de cauda horizontal,
possibilidade de no futuro utilizar um outro motor, desde
que resguardada a limitação de peso da aeronave completa. VV o coeficiente de volume de cauda vertical.
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relação a fuselagem são de extrema importância para a TREM DE POUSO
diminuição do arrasto global da aeronave. Desta forma,
algumas diretrizes seguidas neste projeto devem ser Colocando a asa alta na fuselagem, a instalação
apresentadas: das pernas do trem de pouso principal nas asas fica
dificultada. Optou-se então, no presente projeto, por um
i) A área molhada da fuselagem foi restringida trem de pouso do tipo Wittman, fixo na fuselagem. Uma
significativamente. A geometria elaborada observação a ser feita no processo de desenho deste
sobre o motor e o piloto foi aquela suficiente componente é a preocupação de posicionar as rodas
para que tais partes fossem cobertas com o (polainas) fora da esteira da hélice, evitando assim o
mínimo de espaço para a montagem dos aumento da contribuição destes componentes para o arrasto
comandos e equipamentos. total da aeronave [7].
4
PERFILAGEM 0 100 200 300 400 500
0.00
Com o objetivo de maximizar a velocidade V [km/h]
máxima da aeronave em vôo horizontal limitando-se a
-5.00
velocidade de estol em 100 km/h, chegou-se ao seguinte par
de perfis aerodinâmicos para a asa [10]:
-10.00
Raiz: NACA 662-215 Ponta: NACA 652-415
-15.00
Por sua vez, visando a minimização de arrasto
preservando-se as características necessárias de estabilidade
-20.00
e controle, chegou-se aos seguintes perfis para as
empenagens [10]: Vy [m/s]
-25.00
Empenagem Horizontal: Raiz: NACA 642-012 Figura 6 . Polar de velocidades da aeronave completa
Ponta: NACA 642-009
A título de esclarecimento, a Figura 7 apresenta,
Empenagem Vertical: NACA 642-012 para várias velocidades de vôo, a parcela de arrasto
correspondente a cada componente da aeronave.
POLAR DE ARRASTO
70
Para o desenvolvimento dos cálculos
aerodinâmicos do presente projeto adotou-se os 60
procedimentos propostos por Pinto et alli [11], já utilizado Força de Arrasto [kgf]
nos cálculos da aeronave CB-9 “Curumim” [12]. Para o 50
360
0
As Figuras 5 e 6 apresentam, respectivamente, a 288
90 97 108 126 144 180 216 252 288 324 360 396 432
polar de arrasto e a polar de velocidades obtidas. 216 Velocidade da Aeronave [km/h]
ParasitaParasita
da asa da asa Induzido dadaasa
Induzido asa
Parasita144
da fuselagem Induzido da fuselagem
2.00 Parasita da emp. Hor. Induzido da emp Hor.
Parasita
Parasita108
da emp. daVert.
fuselagem Induzido daasa
Interferência fuselagem
- fuselagem
CL Interferência emp. Vert. - fuselagem Interferência das empenagens
ParasitaParasita da emp. Hor.
de Coleta Induzido
Parasita do da
treemp Hor.
de pouso
Interferência
90 devido a hélice Interferência devido a frestas
1.60 Parasita da emp. Vert. Interferência asa - fuselagem
0 10 20 30 40 50 60
Interferência emp. Vert. - fuselagem Interferência das empenagens
Força de Arrasto [kgf]
Parasita de Coleta Parasita do tre de pouso
1.20
Interferência devido a hélice Interferência devido a frestas
5
à velocidade máxima prevista). adotou-se os fatores mais fortes presentes no JAR-VLA, ou
seja +6g e –3g.
Parasita da Parasita da
Interferência emp. Hor. Interferência
emp. Vert.
devido a hélice 8% 4%
asa - fuselagem A figura 9 apresenta o diagrama V-n de manobra e
1% 1% de rajada da presente aeronave.
Parasita da Interferência
fuselagem emp. Vert. - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE
28% fuselagem
1% ESTABILIDADE E CONTROLE
Interferência
Induzido da asa
das
2%
empenagens As principais características de estabilidade
2%
Interferência
estática e controle longitudinais e direcionais foram
Parasita de
devido a frestas
Coleta
determinadas, seguindo o roteiro apresentado em Pinto
nas asas
7% 10% [17], sendo que as características aerodinâmicas da
aeronave, necessárias para este item, foram determinadas
Parasita do
Parasita da asa trem de pouso segundo Pullin et alli [18], para 6 condições de vôo, a
26% 10% saber:
Figura 8 . Parcelas de cada componente de arrasto no
valor global deste coeficiente para velocidade de 324 i) Piloto pesado e tanque cheio em vôo reto e
km/h nivelado
4
3
pista
2
1 VSO
iv) Piloto leve e tanque vazio em pouso de pista
VSOF
0
-1
VSF
v) Piloto pesado e tanque vazio em pouso de
-2 três pontos
-3
V [m/s]
-4 vi) Piloto leve e tanque vazio em pouso de três
0 20 40 60 80 100 120 pontos
Figura 9 . Diagrama V-n
Os valores encontrados para as margens estáticas e
ESTIMATIVA DE DESEMPENHO de manobra, deflexão total das superfícies de comando
(leme e profundor) e força total no manche estão de acordo
De posse da polar de arrasto e das curvas do grupo com os limites impostos pela norma JAR-VLA.
motopropulsor é possível levantar as curvas de potência
requerida e disponível, respectivamente [16]. Os principais A Tabela 2 resume os principais valores extremos
parâmetros obtidos estão apresentados na Tabela 1. obtidos.
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as seguintes alterações que tiveram de ser executadas para ii) A fuselagem será executada em sanduíche
viabilizar o atendimento destes critérios: “fibra-de-vidro - espuma rígida - fibra-de-vidro”,
montado sobre uma estrutura formadora de
i) Alteração da corda do profundor de 25% madeira também pelo processo hand-lay-up. O
para 40% da corda da empenagem acabamento externo será feito semelhante ao da
horizontal. asa com massa de micro-esferas e resina epoxi.
Quanto aos resultados obtidos pode-se comentar: iv) As pernas do trem de pouso principal serão
executadas em fibra-de-vidro e resina epoxi,
i) A deflexão do profundor necessária para ficando responsáveis pelo amortecimento da
equilibrar a aeronave é menor que 30°, valor aeronave. As rodas utilizadas serão do tipo 5.00x5
que foi considerado na etapa de anteprojeto cobertas com polainas de fibra-de-vidro e resina
como valor máximo para a deflexão do epoxi. A bequilha (não comandável) terá uma
profundor. pequena polaina para diminuição do arrasto
aerodinâmico.
ii) A força no manche necessária para se manter
vôo equilibrado é menor que 2.04 kgf, valor COMPARAÇÃO COM AS PRINCIPAIS
estipulado pelo parágrafo 143(c) das normas AERONAVES DA CATEGORIA
JAR-VLA como limite humano para
aplicação contínua de força. Um bom padrão para se comparar a eficiência
aerodinâmica de aeronaves de categorias semelhantes é o
iii) É possível compensar a aeronave em valor de placa plana equivalente. Tal parâmetro representa a
qualquer velocidade de vôo. área de uma placa plana que, posicionada normal a um
escoamento, apresenta um arrasto igual ao da aeronave em
iv) A posição dianteira limite do C.G é igual a questão. A figura 11 apresenta um gráfico comparativo das
25.05 % da corda média aerodinâmica. áreas de placa plana equivalentes das principais aeronaves
das categorias FAI C1-a0 e C1-a com o CEA 308.
A Figura 10 apresenta o passeio permitido e o
previsto para o centro de gravidade, após a análise. 0,20
Área de placa plna equivalente [m ]
2
0,18 0,168
0,155
0,16
0,135
0,14
0,12 0,107
0,10 0,094
0,083 0,088
0,082 0,082
0,079 0,076 0,080 0,077 0,077
0,08 0,065 0,070
0,058
0,06
0,042 0,042
0,04
0,02
Figura 10 . Análise do passeio do centro de gravidade 0,00
Hansen Sump'n Else
Monnett Sonerai
Aquarius
Condor Shoestring
Vari Eze
CEA 308
Cassut Special II
W-18 Falcon
Pushy Galore / JM-2
Midget Mustang
BD-5A
W-17 Stinger
Nemesis
AR-5
OR-70 Fang
Davis DA-9
Cricri
SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS
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Tabela 3 . Velocidades Máximas das aeronaves da [10] – Abbot, I.H.; Doenhoff, A.E., 1958, "Theory
categoria FAI C1-a0 of Wing Sections". New York; Dover Publications Inc.
Arnold AR-5 333 km/h [11] – Pinto, R.L.U.F.; Barros, C.P.; Oliveira,
Colombam Cri – Cri 220 km/h P.H.I.A., 1999, “Um Procedimento Alternativo para
Cálculo Aerodinâmico de Aeronaves Leves Subsônicas”.
Bede BD-5 320 km/h São Paulo; VII Congresso Internacional da Engenharia da
CEA 308 353 km/h Mobilidade; SAE Brasil.
[2] – Arnold, M., 1993, “The AR-5 Getting the [17] – Pinto, R.L.U.F., 1999, "Estabilidade e
Most Out of 65 Horsepower”. Oshkosh; Sport Aviation; Controle de Aeronaves", Notas de aula, Belo Horizonte;
Experimental Aviation Association. CEA - EEUFMG.
[3] – Carmichael, B., 1996, “Minimizing Fuselage [18] – Pullin, et alli, 1976, "Apostila de
Drag”. Oshkosh; Sport Aviation; Experimental Aviation "Estabilidade e Controle dos Aviões". Belo Horizonte;
Association; August. CEA-EEUFMG.