Mouco

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CUSTO DE PRODUÇÃO E VIABILIDADE ECONÔMICA DA EXPLORAÇÃO DO

ABACATE NA REGIÃO DO VALE DO SÃO FRANCISCO

MARIA APARECIDA MOUCO 1; REBERT CORREA COELHO1; JOSÉ LINCOLN PINHEIRO


ARAUJO2

INTRODUÇÃO
O abacateiro é uma árvore frutífera com plantios comerciais em grande número de países,
com produção mundial de, aproximadamente, 3,3 milhões de toneladas, ocupando uma área de 407
mil ha. O maior produtor é o México e o Brasil ocupa o sexto lugar, com produção de 139 mil
toneladas em área de 8,5 mil. A produção brasileira está distribuída principalmente pelas regiões
Sudeste, Sul e Nordeste, sendo o estado de São Paulo o maior produtor, com 50,0% do total
nacional, seguido por Minas Gerais, que apresenta participação em torno de 20%, Paraná (11,0%),
Rio Grande do Sul (5,0%) e Ceará com 3,0% (AGRIANUAL, 2012).
Estudos econômicos têm mostrado a crescente exploração do cultivo do abacateiro em todo
o mundo; a cultura é considerada a de menor risco comercial, devido à grande demanda tanto no
mercado externo como no interno, explicada pelo maior consumo, advindo do menor custo do
abacate e da divulgação dos benefícios do fruto para a saúde (VILELA et al., 2006).
A pesquisa de viabilidade econômica da produção de abacate produzido na região do
Submédio São Francisco foi desenvolvida em dois ambientes, nos mercados e unidades produtivas.
A avaliação do potencial de mercado, comportamento da oferta de abacate e preferencias do
consumidor foi realizada por meio de visitas aos CEASAs de Recife e Fortaleza e entrevistas com
pessoas envolvidas no processo de comercialização. Após as análises, pode-se concluir que existe
potencial de mercado, principalmente para as variedades Quintal, Fortuna, Geada e Margarida,
consideradas mais apreciadas pelos consumidores (CORREIA et al., 2010).
O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados obtidos pela análise dos custos de
produção de abacate, o que deve contribuir na avaliação de viabilidade do agronegócio da
abacaticultura nas condições semiáridas.

MATERIAIS E MÉTODOS

1Eng. Agrônomo, pesquisador Embrapa Semiárido, PE. emails: maria@cpatsa.embrapa.br; rebert@cpatsa.embrapa.br;


2
Eng. Agrônomo Pesquisador da Embrapa semiárido, PE e professor da UPE lincoln@cpatsa.embrapa.br.

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As unidades com plantios comerciais de abacate selecionadas para o levantamento dos
custos de produção estão localizadas na latitude 09º 25’ Sul, longitude 40º 44’ Oeste, em Petrolina,
PE. Os pomares tem abacateiros em idade produtiva das cultivares Geada, Fortuna e Quintal, que
foram plantadas no espaçamento de 8 x 5m. O levantamento dos custos de produção e
comercialização do abacate em áreas comerciais, localizadas nos perímetros de irrigação da região
do Vale do São Francisco, constou de informações desde o período de implantação até a produção
plena, situação que acontece no sexto ano do cultivo. Os dados foram obtidos através de entrevistas
junto aos produtores. Com relação aos preços de vendas dos frutos, os mesmos foram obtidos junto
aos produtores e aos intermediários que levam o abacate notadamente para os principais centros de
consumo da região Nordeste. O resultado econômico do cultivo desta fruteira, na primeira colheita
de produção plena, independente da cultivar, foi comparado com outra importante cultura explorada
na região, a mangueira, utilizando como referência os indicadores de rentabilidade: relação
benefício/ custo, ponto de nivelamento e margem de segurança, os mais recomendados em uma
análise compreendendo apenas um ano de produção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados do estudo para as cultivares estudadas revelaram que desde o ano de
implantação, que tem a aquisição das mudas como o custo mais expressivo, até o sexto ano quando
a cultura alcança a fase adulta, os gastos correspondentes a aquisição dos insumos superam
largamente os gastos decorrentes da contratação dos serviços. Em termos percentuais os custos
operacionais da exploração em análise abrange, em todos os anos estudados, aproximadamente 40%
para os serviços e 60% para os insumos.
Fazendo-se uma descrição dos custos de produção para a implantação de um hectare de
abacate na região do Submédio São Francisco, observam-se os valores apresentados na tabela 1:

Tabela 1 - Custo de produção do abacate na região do Submédio São Francisco, Petrolina, PE,
2011.
Ano de condução Custo
Ano 1 (implantação) R$ 6.400,00

Ano 2 R$ 4.300,00

Ano 3 R$ 4.700,00

Ano 4 R$ 5.200,00

Ano 5 R$ 5.800,00

Ano 6 (produção plena) R$ 6.800,00


Considerando que em um ano de produção plena a produtividade média é de 8000 kg por

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hectare e que o preço médio de venda do produto é de R$ 1,00, a receita alcançada com a venda de
um hectare de abacate é de R$ 8.000,00. Comparando-se esse valor, que corresponde à receita bruta
total, com os custos totais de produção por hectare, constata-se que o lucro ou a margem líquida da
exploração do abacate na região do Submédio São Francisco é de R$ 1.200,00. Observa-se nesta
análise que a exploração do abacate apresenta resultados levemente favoráveis em diversos índices
de eficiência econômica (Tabela 2). O retorno sobre o capital investido é 18%, já que para cada
R$1,00 utilizado na exploração de um hectare de abacate, houve um retorno de quase R$ 1,18. O
ponto de nivelamento também confirma o limitado desempenho econômico da cultura analisada,
pois será necessária uma produtividade de 6800 kg/ha para que a receita se iguale aos custos. Este
mesmo desempenho pode ser observado no resultado da margem de segurança que corresponde a -
0,15, condição que revela que, para que a receita se iguale à despesa, a quantidade produzida ou o
preço de venda do produto pode cair em até 15% (Tabela 2).

Tabela 2 - Avaliação econômica do sistema típico de produção de abacate na região do Submédio


São Francisco, 2011.

Especificação Produtividade Margem Custo Total Ponto de Margem de Benefício/


produção Nivelamento Segurança Custo
kg/ha R$/ha R$/ha %

(A) (B) (C) (C/P) (C-B/B) (B?C)


1,0 hectare 8.000 kg 8.000,00 6800 6.800kg - 0,15 1,18

Notas: (A) Produtividade média de um hectare; (B) Margem Total: Preço x


Quantidade Comercial; (C) Custos efetuados para a produção; (P) Preço: R$/kg=R$ 0,74.

Ao se fazer a comparação da viabilidade econômica da exploração de um hectare de abacate


com a exploração da manga cultivada na região do vale do Submédio São Francisco, constata-se
que a exploração alvo do estudo é menos eficiente, pois embora o preço médio de venda de um kg
de manga seja se R$ 0,70 e o custo para a manutenção de um hectare desta frutífera esteja em torno
de R$ 11.000,00, a produtividade média de sua exploração é bem superior a do abacate (25.000kg
-1
ha ). Entretanto, como o abacate é um produto sazonal, caso os produtores manejem seus cultivos
de forma que as colheitas passem a acontecer em períodos distintos das registradas nos principais
pólos de produção do país, notadamente os localizados nos estados de São Paulo e Minas Gerais, a
exploração em análise melhora significativamente sua rentabilidade econômica, visto que o preço
médio do produto neste período é de R$ 1,50. kg. Com tal preço, a receita bruta da produção passa
para R$ 12.000,00 e a margem liquida da exploração alcança R$ 5.200,00. O retorno sobre o capital

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investido é 76%, já que para cada R$1,00 utilizado na exploração de um hectare de abacate, há um
retorno de R$ 0,76; o ponto de nivelamento fica o mesmo, mas a margem de segurança fica bem
mais larga, -0,43, condição que revela que, para que a receita se iguale à despesa, a quantidade
produzida ou o preço de venda do produto pode cair em até 43% (Tabela 3).

Tabela 3 - Avaliação econômica do sistema típico de produção de abacate na região do Submédio


São Francisco, com a comercialização em período de entressafra (2011).

Especificação Produtividade Margem Total Custo Total Ponto de Margem de Relação


kg/ha produção R$/ha Nivelamento Segurança % Benefício/
R$/ha Custo
(A) (B) (C) ( C/P) (C-B/B) B/C)
1,0 hectare 8.000 kg 12000 6800 6.800kg -0,43 1,76

CONCLUSÕES
Após as análises pode-se concluir que a exploração do cultivo do abacateiro na região do
Submédio São Francisco pode ser considerada rentável, visto que nos diversos índices de eficiência
econômica analisados foram registrados valores positivos, desde que a colheita aconteça na época
da entressafra das principais regiões produtoras do país. Ao se comparar a exploração do abacateiro
com a exploração da mangueira, constata-se que o resultado econômico para o abacate produzido na
entresafra fica próximo ao alcançado pela manga.

REFERÊNCIAS
AGRIANUAL: Anuário da Agricultura Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2012.
p. 124.

CORREIA, R. C.; ARAUJO, J. L. P.; MOUCO, M. A. do C.; BRAGA, C. A.; MENDONÇA, R.F.
de. Abacate: preferências e mercado. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 21.,
2010, Natal. Frutas: saúde, inovação e responsabilidade: anais. Natal: SBF, 2010. 1 CD-ROM.

VILELA, P. S.; CASTRO, C. W.; AVELLAR, S. O. C. Análise da oferta e da demanda de frutas


selecionadas no Brasil para o decênio 2006/2015. Belo Horizonte: FAEMG, 2006. Disponível em:
< http://www.faemg.org.br/Content.aspx?Code=13&ParentPath=None >. Acesso em: 11 mar. 2012.

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