Manual Alvenaria Estrutural
Manual Alvenaria Estrutural
Manual Alvenaria Estrutural
1 - Apresentao
A alvenaria estrutural um processo construtivo em que as paredes de alvenaria e as lajes enrijecedoras funcionam estruturalmente em substituio aos pilares e vigas utilizados nos processos construtivos tradicionais, sendo dimensionado segundo mtodos de clculos racionais e de confiabilidade determinvel. Neste processo construtivo, as paredes constituemse ao mesmo tempo nos subsistemas estrutura e vedao, fato que proporciona uma maior simplicidade construtiva e conseqentemente um maior nvel de racionalizao. A alvenaria estrutural tem ganhado espao no cenrio mundial da construo devido vantagens como flexibilidade construtiva, economia e velocidade de construo. Mas sua maior notoriedade deve-se ao seu potencial de racionalizao e produtividade, que possibilita a produo de construes com bom desempenho tecnolgico aliado a altos ndices de qualidade e economia. Muitos trabalhos de pesquisa foram desenvolvidos em alvenaria estrutural nos ltimos 50 anos, melhorando a qualidade dos materiais e dos mtodos de clculo deste processo construtivo, conferindo-lhe progressos que o colocam como uma opo tecnolgica moderna, econmica e de boa qualidade. No Brasil, a tcnica de clculo e execuo com alvenaria estrutural vm se desenvolvendo progressivamente em decorrncia da abertura de novas fbricas de materiais e do surgimento de grupos de pesquisa sobre o tema.
ALVENARIA
Foto 1
Foto 2 Fotos 1 e 2: Canteiro de obras de uma construo em alvenaria estrutural com blocos cermicos.
Foto 3 Foto 3: Edifcio em alvenaria estrutural de blocos cermicos em Amsterd / Holanda. Ilustrao 1
2 - Breve Histrico
A alvenaria, em suas diversas formas, difundiu-se pelo mundo todo desde os tempos ancestrais at os dias de hoje, sendo a principal tcnica construtiva empregada at o incio do sculo XX. A histria da humanidade repleta de exemplos deste tipo de construo, tais como as Catedrais do sculo XII ao XVII, o Coliseu, a Muralha da China, e muitos outros. Todas as estruturas de alvenaria edificadas at o incio do sculo XX foram dimensionadas empiricamente, sendo a concepo estrutural totalmente intuitiva e baseada na transferncia do conhecimento pelas sucessivas geraes. Neste contexto, muitas estruturas foram super-dimensionadas, tal qual o edifcio Monadnock em Chicago de 1891. Porm, a partir da metade do sculo XX, as pesquisas cientficas comearam a trazer os primeiros parmetros que iriam substituir o empirismo por mtodos de clculos racionais. Surgiam os primeiros edifcios em alvenaria estrutural armada. O marco inicial da Moderna Alvenaria Estrutural aconteceu em 1951, quando foi edificado na Sua um edifcio de 13 andares com paredes de 37cm de espessura em alvenaria estrutural no-armada, evidenciando as vantagens deste processo construtivo. A partir da intensificaram-se as pesquisas, e os avanos tecnolgicos, tanto dos materiais quanto das tcnicas de execuo foram sucessivos, disseminando-se por todo o mundo atravs de diversos congressos e conferncias internacionais. No Brasil, a alvenaria estrutural foi introduzida na dcada de 60 com a construo de alguns edifcios em So Paulo. Sua disseminao se deu com a construo dos conjuntos habitacionais na dcada de 80 e surgimento das fbricas de blocos slico-calcrios e cermicos. Nas duas ltimas dcadas, com o surgimento de novos centros de pesquisa, a alvenaria estrutural vem se normalizando e ampliando sua abrangncia nos setores habitacional, comercial e industrial. Atualmente ela tida como um processo construtivo eficiente e racional.
Foto 4
Ilustrao 2 Foto 4: Coliseu (Roma / Itlia) Ilustrao 2: Monadnock building (Chicago / USA)
Foto 5 Foto 5: Central Parque da Lapa (So Paulo) importante marco da alvenaria estrutural no Brasil.
Ilustrao 3
Ilustrao 4
Ilustrao 5
Ilustraes 3 e 4: Escantilho e rgua prumo-nvel (simplificao de tarefas executivas e facilidade de controle do processo). Ilustrao 5: Batente-verga pr-moldado (facilidade de integrao entre subsistemas).
- A alvenaria estrutural no permite as improvisaes que so comumente praticadas nas construes convencionais (compensaes de prumo, alinhamento, esquadro e planicidade, efetuadas na fase de acabamento), que acabam por encarecer o custo da obra; - O processo produtivo proporciona boa flexibilidade na fase de planejamento, implicando em grande facilidade de organizao; - A fase de execuo tambm proporciona boa flexibilidade, atravs da possibilidade de diferentes nveis de mecanizao; - Todas as vantagens acima citadas racionalizam o processo em alvenaria estrutural, tornando-o mais econmico e mais rpido que os sistemas convencionais em concreto armado. Tais vantagens s sero alcanadas atravs da elaborao e coordenao de projetos bem estudados, da utilizao de materiais e mo-de-obra qualificados e da correta organizao e planejamento da obra. O partido arquitetnico dever sempre estar subordinado concepo estrutural, de maneira a pensar sempre em arquitetura e estrutura como um todo. Isto permitir um melhor aproveitamento da capacidade resistente da alvenaria.
Ilustrao 6
Ilustrao 7
Ilustrao 8
Ilustrao 6: Bisnaga para aplicao de argamassa (simplificao do processo) / Ilustrao 7: Projeto modular Ilustrao 8: Blocos especiais para instalaes eltricas (dispensam o quebra-quebra).
Para que as vantagens da alvenaria estrutural possam ser maximizadas, importante que haja uma coordenao geral dos projetos (fundao, estrutura, arquitetura, instalaes e paisagismo). na fase de concepo destes projetos que devero ser indicadas as medidas de racionalizao e de controle de qualidade, que permitiro a execuo planejada e eficiente da obra. A qualificao da mo-de-obra atravs de treinamentos, o controle dos materiais e a organizao da produo so tambm importantes medidas racionalizadoras do processo. A organizao do processo produtivo racionalizado implica, entre outras coisas, na eliminao de interferncias, na simplificao das seqncias executivas, no atendimento ao planejamento e na utilizao de equipamentos e componentes que venham a simplificar o trabalho. Algumas medidas racionalizadoras tm sido freqentemente utilizadas nas construes em alvenaria estrutural, podendo-se citar a modulao do projeto, a utilizao de solues de embutimento de instalaes eltricas e hidrulicas que dispensam o quebra-quebra, e a utilizao de componentes prfabricados para resoluo dos demais subsistemas que interagem com a alvenaria. O projeto racionalizado deve estabelecer uma viso global do empreendimento, onde todas as solues construtivas dos diversos subsistemas estejam integradas, permitindo a compatibilizao entre Foto 6 as diversas interfaces que compem o projeto. A boa construtibilidade aliada ao bom planejamento permitiro o alcance de bons ndices de custo e qualidade.
Arranjo celular
Arranjo complexo
Ilustrao 10
Ilustrao 9
Ilustrao 12
Foto 6
Ilustrao 11
Ilustrao 11: Exemplo de pesos e dimenses de uma famlia de blocos cermicos (bloco inteiro, meio bloco, bloco e meio, bloco J e bloco canaleta). Ilustrao 12: Flexibilidade para a criao de peas especiais.
ALVENARIA
Foto 6
Foto 7
Ilustrao 13
Foto 6: Argamassa para assentamento dos blocos. Foto 7: Grauteamento em zona de concentrao de tenses. Ilustrao 13: Grauteamento.
Foto 8
Foto 9
Foto 10
Foto 11
Fotos 8 e 9: Marco de argamassa armada. Fotos 10 e 11: Escada jacar e escada macia. Ilustrao 15: Janela-verga.
Ilustrao 14
7 - Projeto e Modulao
Importantes diretrizes devem ser estabelecidas j no anteprojeto a fim de se potencializar as vantagens da alvenaria estrutural. Alm das definies de paredes estruturais e paredes de vedao, devem ser definidos os tipos de blocos a serem utilizados, sendo esta escolha muito importante para a definio da coordenao modular do projeto. A coordenao modular a tcnica que permite relacionar as medidas de projeto com as medidas dos componentes atravs de um reticulado espacial de referncia, sendo essencial para a obteno da racionalizao. A dimenso modular na alvenaria estrutural a soma da dimenso real do bloco e da dimenso da junta de argamassa. A multiplicao do mdulo por um fator numrico inteiro determina as medidas de projeto a serem utilizadas.
Ilustrao 15
Ilustrao 15: Dimenso modular. Ilustrao 16: Projeto modulado em um retculo espacial de referncia.
Ilustrao 16
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7 - Projeto e Modulao
O anteprojeto modulado com todas as informaes relevantes o ponto de partida para a confeco dos projetos complementares (hidrulico, eltrico, etc.). Todos os projetos devem ser coordenados por um nico responsvel pelo projeto global, a fim de se evitar possveis interferncias. Dispondo-se de todos os projetos complementares, deve-se preparar o projeto executivo com todos os detalhamentos necessrios. Para permitir o planejamento e a descrio da execuo da alvenaria, deve-se realizar a paginao das paredes, descrevendo-as graficamente uma a uma com as representaes de blocos utilizados, aberturas, instalaes e solues construtivas. No processo de modulao da alvenaria estrutural trabalha-se com as famlias modulares de blocos. As principais famlias utilizadas so a famlia 39 (mdulo de 20 cm) e a famlia 29 cm (mdulo de 15 cm). Na famlia de 39 o mdulo bsico considerado para a elaborao de projetos de 20 cm, ou seja, o comprimento das paredes, aberturas e vos devero ser mltiplos desta medida. O elemento utilizado em maior escala nesta modulao o bloco de 39x19x14, que apresenta uma largura no modular, ocasionando a necessidade de haver um elemento a mais para solucionar problemas modulares no encontro de paredes. o caso do bloco de 34x19x14 cm. Existem modulaes que utilizam blocos com largura de 19 cm e comprimento de 39 cm (bloco de 39x19x19), racionalizando a modulao no encontro de paredes. Entretanto, estes elementos possuem custo elevado, sendo utilizados somente para atender necessidades estruturais.
Ilustrao 17
Ilustrao 18
Ilustrao 17: Paginao de uma parede. Ilustrao 18: Famlia 39 (mdulo de 20 cm).
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Foto 12: Fundao do tipo radier. Foto 13: Arrimo em alvenaria armada. Foto 14 e Ilustrao 19: Shaft.
Foto 12
Foto 13
INSTALAES HIDRULICAS: Na execuo das instalaes do edifcio deve-se evitar o rasgo de paredes estruturais para o embutimento das instalaes. Alm da insegurana sob o ponto de vista estrutural, rasgos de paredes significam retrabalho, desperdcio e maior consumo de material e mo-de-obra. Para evitar este problema podem-se utilizar as seguintes alternativas: - Utilizao de paredes no estruturais para o embutimento das tubulaes nos septos dos blocos; - Aberturas de passagens tipo shafts para a passagem das tubulaes; - Utilizao de blocos especiais (blocos hidrulicos); - Emprego de tubulaes aparentes, podendo-se escondelas opcionalmente com a utilizao de carenagens; - Utilizao de forros falsos.
Ilustrao 19
Foto 14
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Ilustrao 21
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INSTALAES ELTRICAS:
Ilustrao 20
Foto 15
A colocao de eletrodutos para as instalaes eltricas ocorre simultaneamente elevao das paredes. Estes condutores devero passar verticalmente dentro dos furos dos blocos. Na horizontal devem ser embutidos nas lajes ou passar pelos forros. A posio e dimenso dos quadros de distribuio de energia, caixas de interruptores e tomadas nos diversos pavimentos devero ser previamente definidas e especificadas no projeto executivo. As caixas para quadros de distribuio e caixa de passagem devem ser projetadas em dimenses que evitem cortes nas alvenarias para sua perfeita acomodao. Sempre que necessrio, so realizados reforos para que as aberturas no prejudiquem a estabilidade estrutural da parede. As caixas de tomadas podem ser previamente chumbadas nos blocos. Outra alternativa a utilizao de blocos especiais (blocos eltricos), que possuem previses para a instalao destas caixas.
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ALVENARIA
Ilustrao 22
Ilustrao 23
Ilustrao 22: Verga e contra-verga moldadas in loco com blocos canaletas. Ilustrao 23: Verga pr-moldada e marco de argamassa armada. Foto 15: Revestimentos de pequena espessura.
REVESTIMENTOS: Umas das principais vantagens da alvenaria estrutural que a manuteno de seu prumo, devido a fatores estruturais, possibilita a execuo de revestimentos com espessuras reduzidas. totalmente vivel a realizao de revestimentos internos com 5 mm de espessura, diminuindo o consumo de material e a reduo do tempo dispensado com mo de obra No revestimento externo o procedimento semelhante. Porm, necessrio efetuar o chapisco prvio da alvenaria. A espessura de revestimento normalmente recomendada para fachada de 2 cm de espessura, segundo testes realizados em laboratrio. O ganho proporcionado com a reduo no consumo de material e mode-obra utilizada para a execuo dos revestimentos em obras de alvenaria estrutural um dos fatores que agregam substancial economia a este sistema construtivo.
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Ilustrao 24
Fotos 18 e 19: Escada pr-moldada macia. Ilustrao 24: Escada pr-moldada jacar. Foto 20: Laje pr-moldada em painis.
LAJES: Neste sistema construtivo pode-se utilizar lajes moldadas in loco ou prmoldadas. Dentre as pr-moldadas mais utilizadas esto: - Laje mista (vigota e lajota); - Laje pr-moldada em painis; - Laje pr-moldada alveolar; A escolha da melhor opo vai depender de uma analise da obra em questo. Independente da escolha efetuada fundamental que a laje tenha seu escoramento nivelado, possibilitando que os revestimentos de teto sejam executados com espessuras finas.
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SEQUNCIA EXECUTIVA E INTERDEPENDNCIA ENTRE ATIVIDADES: A seqncia executiva e a interdependncia entre atividades so tambm considerados fatores determinantes da construtibilidade e por esta razo devem ser analisadas e melhoradas. A acessibilidade e espaos adequados para o trabalho so fatores muito importantes para a construtibilidade. Se este item no receber a devida ateno, pode haver atraso no andamento da obra, reduo da produtividade e aumento da necessidade de retrabalho. LAY OUT DA OBRA: Para se obter um nvel mais elevado de racionalizao e produtividade na execuo dos servios, deve-se instalar no canteiro de obras uma infra-estrutura eficiente para a execuo das tarefas de produo do edifcio. A organizao do canteiro de obras deve ser feita atravs de um projeto cuidadosamente elaborado, envolvendo a execuo do empreendimento como um todo, prevendo as necessidades e os condicionantes das diversas fases da obra. Devem ser previstas, por exemplo, facilidades para as diversas linhas de preparao de materiais e equipamentos. Tambm devem ser propiciadas condies favorveis e humanas para o trabalhador desempenhar sua atividade.
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Ilustrao 25
Foto 25
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Canaleta - dispositivo de PVC com empunhadura utilizado para espalhar argamassa de assentamento. Palheta - rgua larga de madeira com empunhadura utilizada para espalhar argamassa de assentamento. Carrinho para transporte de blocos - este carrinho, como prprio nome indica, utilizado para se fazer o transporte dos blocos desde seu estoque na obra at o ambiente onde se est executando a alvenaria. A sua vantagem que os blocos so carregados diretamente dos pallets, para os carrinhos, e descarregado da mesma forma. Carrinho para transporte de pallets - carrinhos com macaco hidrulico que torna possvel o transporte dos pallets por inteiro. Carro plataforma - carro de estrado horizontal com pneus de borracha, utilizados para agilizar o transporte de materiais como sacos de cimento e tijolos. Carrinhos dosadores - carrinhos com volumes definidos, diferenciados por cores, para dosagem dos materiais componentes dos traos. Argamasseiras, suportes e carrinhos - argamasseiras feitas de material leve que no absorva gua da argamassa; suportes e carrinhos de perfeito encaixe, para facilitar o transporte destas argamasseiras. Cavaletes, andaimes, plataformas metlicas - andaimes desmontveis, de material durvel, leves e de fcil montagem.
Ilustrao 27
Foto 26
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Ilustrao 26: Bisnaga. Foto 26: Canaleta Ilustrao 27: Nvel alemo. Foto 27: Argamasseira.
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