Mary e Hania
Mary e Hania
Mary e Hania
AUTORAS:
Hania Cecília Pilan: Doutora pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em Educação,
Arte e Historia da Cultura e Mestre pela mesma. Especialista em Arte, Educação e
Comunicação pela FPA e em Administração: Gestão de Inst. Educacionais pela
FINTEC. Graduada em Educação Artística pela Faculdade de Filosofia Ciências e
Letras de Itú e com Licenciatura em Pedagogia pelas Faculdades Integradas de Amparo.
Professor EBTT do Instituto Federal de São Paulo, IFSP. Possui experiência em Gestão
Educacional, desenvolvendo trabalhos na área de Formação de Professores,
Administração Escolar, Direção Teatral e nesta área trabalha principalmente a
Criatividade colaborativa. Pesquisa junto ao grupo do CNPq a proposta de Criatividade
e Inovação.
Este tema foi escolhido por entendermos que a ruptura com a autoridade na
relação professor/aluno destrói a perspectiva do jovem, considerando-se que ele já não
enxerga mais no educador, alguém que seja capaz de ajudá-lo a entender sua imensa
confusão e angústia em relação ao mundo contemporâneo.
Escrever sobre educação não é uma tarefa fácil, posto que existam múltiplos
conceitos intrinsecamente envolvidos nela: a sociedade, a família, o adulto, a criança, a
tradição, a cultura, a escola e assim por diante. Mas o que é educação? E, mais
importante para nosso estudo: quais os pressupostos que levaram a educação a uma
crise aguda na contemporaneidade?
A educação está presente em quase todos os gestos do homem, sem ela não há
humanidade, já que é o que nos diferencia dos outros animais na terra. É o continuar de
uma tradição , seja de uma família, de um estado, de uma nação, é a apropriação de uma
cultura para a inserção de uma criança ou jovem no grupo. É a premissa das
potencialidades, do desenvolvimento intelectual socialmente construído e herdado
dentro de dada realidade e voltada para tal.
Carlos Brandão (2007) afirma que a educação está presente no nosso dia-dia e
que lidamos com ela todo tempo sem percebemos, ela encontra-se nos gestos diários e
acontece em casa, na rua, na igreja, na escola ou em qualquer local, e completa dizendo:
"de um modo ou de outro, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para
aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para
conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação" ( p.7).
Deste modo, a educação é basicamente uma prática social que se dá por meio de
gestos e fazeres diários que são transmitidos de uma geração para outra, afim de
preservar as tradições de sua cultura. Ela se dá de forma diferente, não tendo um método
único a ser seguido ao contrario se houvesse um método único a ser seguido não seria
educação. Mas se a educação se manifesta de maneiras e formas diferentes, o que a
torna única e essencial para todos?
Essa chegada traz consigo “um ser novo para um mundo antigo”, mundo este que já
existia há milhares de anos, repleto de signos, códigos, regras, normas, leis que
intitulamos de cultura, e esse ser precisa ser inserido nele. Entendida aqui cultura em um
sentido mais amplo, como tudo aquilo que o homem fez ao decorrer na história humana,
como aponta o professor Vitor H. Paro.
Para Arendt, crianças e jovens têm um tempo para se desenvolverem, pois precisamos
de tempo para assimilar a cultura e seus símbolos, precisamos de tempo para entender o
legado deixado pelas outras gerações que passaram por esse mundo e ajudaram a
construí-lo. A autora completa dizendo como essa nova chegada traz um aspecto duplo
para o educador, que aqui pode aparecer na figura do adulto ou do professor.
Se desde que nascemos somos seres sociais e com isso precisamos uns dos
outros para nos desenvolver, a figura do adulto é importantíssima para que ocorra com
êxito o ato de educar. Arendt diz que é no gesto de educar que escolhemos se amamos
nossas crianças para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios
recursos. Para ela "o educador [...] serve como mediador entre o velho e o novo, de tal
modo que sua própria profissão lhe exige um respeito extraordinário pelo passado"
(ARENDT, 2001, p.244) e completa afirmando:
A educação para autora também é o lugar onde o adulto escolhe se ama o mundo o
bastante, pois para ela somos nós os responsáveis pela transição de uma geração para
outra com o intuito de renovar o mundo a cada novo nascimento. "A educação é assim o
ponto em que se decide se se ama suficientemente o mundo para assumir
responsabilidade por ele e, mais ainda, para salvá-lo da ruína que seria inevitável sem a
renovação, sem a chegada dos novos e dos jovens" (ARENDT, 2001, p.2). Arendt
destaca a responsabilidade dos adultos, perante o mundo e às crianças.
Ao analisar a crise na educação dos Estados Unidos dos anos cinqüenta, Arendt monta
um cenário riquíssimo, para entendemos uma crise mais ampla na sociedade moderna
(que se arrasta até os dias de hoje). A crise na educação não é um caso isolado, mas
envolve outros fatores como rupturas, com a da autoridade, com a da tradição e a
responsabilidade perante o mundo.
É contraditório para Arendt que um país, que tem como lema na própria nota de
dólar a expressão uma “nova ordem no mundo” não consiga alcançar padrões do velho
mundo. E continua suas indagações dizendo que não é porque esse pais é novo, que não
consegue alcançar os padrões do velho mundo, mas que, ao contrário, por serem novos
deveriam ter superado os problemas educacionais de uma forma mais simples, a
problemática levantada pela autora aqui, não é fato de a América 1 levantar a bandeira de
um novo mundo, mas sim de utilizar de padrões e pedagogias do velho mundo (Europa)
sem o devido senso crítico em sua educação.
América é a maneira como Arendt se refere aos Estados Unidos ao longo do texto "A crise na
educação".
outro, todas as tradições e métodos estabelecidos de ensino e de
aprendizagem. (ARENDT, 2001, p. 226-7).
Para entendermos esse conflito geracional, Arendt aponta três aspectos que
levaram à ruína o sistema educativo daquele país (mas que cabe muito bem na crise
educacional brasileira como vamos ver a seguir). Antes é necessário deixar claro que
Arendt não é contra nenhum autor que sistematiza e pensa a educação, ou contra os
métodos utilizados para fazer a passagem de uma geração para outra, pois como visto na
Europa, essas pedagogias foram testadas e introduzidas aos poucos. O que ela critica
nestas pedagogias progressistas é a inserção dela no sistema escolar americano sem
nenhum critério, sem análise anterior da sociedade em que ela está inserida.
Relembrando as palavras do representante dos povos nativos americanos, que em sua
carta disse que não adiantava utilizar padrões e sistemas educacionais de outras culturas
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. A obra publicada pela primeira vez em 1941 tornou-se rapidamente um clássico. Brasil, um país do
futuro é um grande retrato do país sob a ótica de um estrangeiro que passou seus últimos anos de vida no
Rio de Janeiro. Stefan Zweig e sua segunda mulher, Lotte, escolheram o Brasil como refúgio às
atrocidades que eram cometidas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.
(<http://www.lpm.combr/site/default.asp?Template=./livros/layoutproduto.asp&CategoriaID=617051&I
D=548061>)
se eles se tornassem inúteis à sua própria cultura, entenderemos a crítica que a autora
faz à implantação de métodos sem nenhum critério, que arruína qualquer tentativa de
ensino nos Estados Unidos.
A autora diz que algumas das teorias nos levaram a mudar nossa forma de lidar
com o mundo. Para entender melhor, temos que montar um arranjo conceitual com os
pressupostos que nos levaram a um conflito geracional.
A autora ainda completa dizendo que "a reação das crianças a esta pressão tende
a ser ou o conformismo ou a delinqüência juvenil e, na maior parte das vezes, uma
mistura das duas coisas" (2001, p. 231). Então o que podemos entender é que a perda da
autoridade abre uma lacuna entre o passado e o futuro.
Para a autora, a perda da autoridade está ligada à crise na tradição e sua ruptura
com o passado, sua visão de tradição e autoridade aparece também em outro livro
intitulado: Homens em tempos sombrios , onde apresenta a relação de
autoridade/tradição e passado ao afirmar: "Na medida em que o passado foi transmitido
como tradição, possui autoridade; na medida em que a autoridade se apresenta
historicamente, converte-se em tradição." (ARENDT, 2008 p.140). Para ela não se pode
separar a autoridade da tradição, uma ruptura com qualquer uma delas, cria uma lacuna
entre o passado e o futuro. Pois sem autoridade (o conhecimento sobre o mundo) não há
como transmitir a tradição, que é o legado deixado de uma geração para outra. E sem a
tradição, a autoridade não tem mais função.
Neste mesmo livro, Arendt destaca a visão do filosofo Walter Benjamim , sobre
os conceitos tradição/autoridade. Para ela, Benjamin já tinha percebido em sua época, as
conseqüências da ruptura com a tradição e a perda da autoridade.
Walter Benjamin sabia que a ruptura da tradição e a perda de autoridade que ocorriam
durante sua vida eram irreparáveis e concluiu que teria de descobrir novas formas de
tratar o passado. Nisso tornou-se mestre ao descobrir que a transmissibilidade do
passado fora substituída pela sua citabilidade e que, no lugar de sua autoridade, surgira
um estranho poder de se assentar aos poucos no presente e de privá-lo da “paz mental”,
a paz descuidada da complacência. (ARENDT, 2008, p. 140)
Uma geração que ainda fora á escola num bonde puxado por
cavalos viu-se abandonada, sem teto, numa paisagem diferente
em tudo, exceto nas nuvens, e em cujo centro, num campo de
força de correntes e explosões destruidoras, estava o frágil e
minúsculo corpo humano. (BENJAMIN, 1996, p.115 e198).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Então o legado deixado por Arendt pode nos dar sugestão e não soluções para
resolver este problema à crise na educação. O importante é sempre buscarmos
alternativas para resolver. No caso de Arendt uma alternativa é exilar a criança, mas não
em um mundo supostamente infantil e sim em um mundo onde crianças e jovens vivam
em harmonia com os adultos e que esse seja responsável pela sua educação antes de
inseri-la no mundo.
A escola aqui terá a função de auxiliar nesta transição da família (privado) para a
sociedade (publico). A escola, os educadores e pais não podem ignorar as mudanças que
acontece com a juventude, porque está associada a mudanças maiores que estão
acontecendo, na medida em que se transforma a sociedade, como nas varias crises que
acorrem simultaneamente no mundo.