1662-Article Text-3200-1-10-20200126
1662-Article Text-3200-1-10-20200126
1662-Article Text-3200-1-10-20200126
Abstract: In this bibliographical paper, we discuss about the term “empowerment”, explaining its origin
and meaning. Divergences and convergences between the feminist moviments and the perspective of
“empowerment” are presented. We relate the debate to the discussion about political emancipation
and human emancipation. We also problematize the “empowering” action: an anti-revolutional
practice.
Keywords: Empowerment; Opression; Power; Inequal relations between sex; Capitalist society.
1. INTRODUÇÃO
Camurça e Gouveia (2004), com base em Scott (1995), explicitam que a vivência
entre homens e mulheres é determinada e mantém-se socialmente mediante símbolos,
normas e regras, instituições, e até mesmo, por meio da subjetividade, sustentadas pelas
representações de gênero. Nessa perspectiva, “[...] O papel das doutrinas religiosas,
educativas e jurídicas, sempre foi o de afirmar o sentido do masculino e do feminino,
construído no interior das relações de poder” (SAFFIOTI, 1992, p.188, apud SILVA, 2011,
p.5).
Mas se a luta não for traçada por nós, mulheres e homens, vítimas de um sistema
que nos domina – e que no caso das mulheres domina de modo particular – quem o fará?
XVI por Martinho Lutero. Isso porque além de elaborar suas 95 (noventa e cinco) teses
traçando críticas à Igreja Católica – considerada até então um poder inquestionável – Lutero
também traduziu os escritos bíblicos para a língua alemã, possibilitando às classes
subalternizadas o acesso aos textos bíblicos, bem como abrindo margem, com isso, para
que o próprio povo dispusesse de condições para confrontar a Igreja.
Todavia, a própria Berth (2018) explicita que há diversas literaturas que apontam o
educador Paulo Freire como o precursor da Teoria do Empoderamento, uma vez que, em
1960, Freire pensou da Teoria da Conscientização como prática e estratégia para a
libertação dos oprimidos, e ressaltou que para toda compreensão sobre algo deve
corresponder uma ação transformadora.
São muitas as literaturas que falam sobre o tema, mas é possível destacarmos cinco
principais pontos comuns: I) Há a discussão semântica sobre “empoderamento” e há quem
credite a Paulo Freire a criação do termo; II) Se, para Julian Rapport “empoderamento” é dar
aos oprimidos os instrumentos para que possam se fortalecer; para Freire, corresponde ao
“empoderar a si mesmos” dos grupos oprimidos, os quais não podem nem devem confiar na
benevolência das classes dominantes; III) O pensamento da assistente social e intelectual
negra americana Bryant Solomon, apresentando o “empoderamento” como perspectiva
metodológica para o Serviço Social, e o pensamento do educador e filósofo brasileiro Paulo
Freire sobre “empoderamento” e conscientização crítica dos indivíduos, exerceram influência
na compreensão de que é possível aos grupos oprimidos o acesso a uma vida mais digna,
bem como a alteração de suas condições degradantes, respectivamente; IV) O
empoderamento como teoria está vinculado ao desenvolvimento estratégico e à
recuperação das potencialidades dos grupos “desfavorecidos”, objetivando de forma central
3 Berth (2018) não explicita quais limitações são essas. Consideramos que a própria possibilidade da leitura
consistia numa dessas limitações, afinal, o acesso à alfabetização costumava ser restrito aos que tivessem poder
econômico e ocupassem cargos de relevância pública.
“[...] o feminismo surge nos marcos da democracia burguesa, tendo como objetivo o
acesso a direitos civis, políticos e sociais das mulheres no interior da sociedade capitalista,
portanto, uma conquista no campo da emancipação política” (INÁCIO, 2013, p.36). A partir
da tomada de consciência acerca de uma opressão específica: a realização, pelas mulheres,
do trabalho não pago; um trabalho invisibilizado; feito em detrimento do “outro” em nome da
natureza, do amor e do dever maternal (KERGOAT, 2009).
Outro aspecto que nos chama a atenção é que aparece como necessidade a
superação do patriarcado, mas não se discute um elemento central: a necessidade de pôr
abaixo o sistema capitalista, o qual, embora não tenha sido o responsável pelo surgimento
do patriarcado, utiliza-se dele para manter-se e reproduzir-se. Assim, é possível que o
patriarcado reproduza-se sem a sociedade capitalista, no entanto, a recíproca não é
verdadeira.
Será que a realidade deve ser compreendida de forma mecânica, de tal modo que
possamos afirmar sem mediações: “processos individuais se tornam coletivos”? Existe ação
revolucionária na prática “empoderadora”?
A opressão feminina, ainda que útil ao sistema capitalista para a obtenção de mais-
valia sobre a dupla exploração da mulher (oprimida no espaço privado e público), não é
central a sua manutenção. Afinal, essa centralidade está na exploração da força de trabalho
assalariada, seja ela masculina ou feminina.
4 “As mulheres estão submetidas a empregos precários, terceirizados, subcontratos, em tempo parcial,
realizando tarefas minuciosas e polivalentes, e ainda com baixos salários e inferiores ao salário masculino,
cenário que tem evidenciado o fenômeno da feminização da pobreza em nível mundial e na particularidade
brasileira” (INÁCIO, 2013, p.104).
[...] A garantia de direitos para as mulheres, como postos nos documentos dos
Organismos Internacionais, não traz ameaças à configuração estrutural do
patriarcado e capitalismo. A garantia dos direitos sobre uma perspectiva liberal é
totalmente compatível com a chamada sociedade democrática (ALMEIDA, 2017,
p.224).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5 Conforme apreendido durante a disciplina “Direitos, Lutas e Movimentos Sociais”, ministrada pelas professoras
Andréa Lima e Silvana Mara, do curso de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN (2019.1), a
interseccionalidade tem origem norte-americana e constitui o feminismo liberal norte-americano. Compreende as
relações sociais e as opressões de forma somatória, de forma que nem sempre considera raça, classe e gênero,
uma vez que ora prioriza raça e classe, ora gênero e classe, e atualmente tem priorizado raça e gênero.
Caracteriza-se como uma articulação meramente discursiva, e parte das concepções “pós-modernas” de
fragmentação da realidade social. Corresponde ainda a uma visão gnosiológica, não ontológica. Não discute as
concepções estruturantes daquilo que apresenta como discurso.
6 Conforme apreendido durante a disciplina “Direitos, Lutas e Movimentos Sociais”, ministrada pelas professoras
Andréa Lima e Silvana Mara, do curso de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN (2019.1), a
consubstancialidade tem origem francesa. Pode ser resumidamente explicitada pelo “nó” apresentado por Saffioti
(2004) na compreensão de que as relações de classe, raça e gênero não são somatórias nem separáveis. Tem
como central a complexidade dinâmica da realidade social e traça uma análise ontológica para discutir a
estrutura dessas relações, explicitando seus fundamentos (modo de produção capitalista e a divisão social do
trabalho).
mecanicista que se assemelha ao discurso liberal de que basta o mercado ser livre para que
os sujeitos disputem livremente por sua liberdade nele.
REFERÊNCIAS
CAMURÇA, Sílvia; GOUVEIA, Taciana. O que é gênero. 4.ed. Recife: SOS Corpo - Instituto
Feminista para a Democracia, 2004. 40p. - (Cadernos SOS Corpo; v.1).
CISNE; SANTOS. Feminismo, diversidade sexual e Serviço Social. São Paulo: Cortez
Editora, 2018. (Biblioteca Básica do Serviço Social, v.8).
GODINHO, Tatau. Feminismo, prática política e luta social. In: PAPA; JORGE (orgs.). O
feminismo é uma prática: reflexões com mulheres jovens do PT. São Paulo: Fundação
Friedrich Ebert, 2008.p.17-22. Disponível em: < http://library.fes.de/pdf-
files/bueros/brasilien/05931.pdf> Acesso em: 22 Jun. 2019.
KERGOAT, Danièle. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. In: HIRATA [et
al] (orgs.). Dicionário Crítico do feminismo. São Paulo: Editora UNESP, 2009.p.67-75.
SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade.
20(2): p.71-99. Jul/dez. 1995. Disponível em:
<http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721/40667> Acesso em:
22 Jun. 2019.
SILVA, Carla da. A desigualdade imposta pelos papeis de homem e mulher: uma
possibilidade de construção da igualdade de gênero. In: UMA realidade em preto e branco:
as mulheres vítimas de violência doméstica. 2011. Dissertação (Mestrado em Serviço
Social) – Pós-Graduação em Serviço Social, PUC São Paulo. São Paulo, 2011. Disponível
em: <http://www.unifia.edu.br/projetorevista/artigos/direito/20121/desigualdade_imposta.pdf>
Acesso em: 22 Jun. 2019.