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Empoderamento: questões conceituais e metodológicas

Rute Vivian Angelo Baquero'


RESUMO
O texto discute a categoria empoderamento em diferentes perspectivas, situando
historicamente sua origem e problematizando processos e estratégias de
empoderamento na dimensão individual, psicológica e comunitária. Refere a ambigi
idade lingüistica no emprego do termo, vinculando-aa compreensões críticas, ou não,
no campo educacional.
Apresenta a compreensão freireana a respeito da questão, explicitando a concepção
de educação crítica que a preside e os princípios que a orientam. Finalmente, busca
estabelecer relações entre a categoria de empowerment e a categoria de capital
social.
Palavras-chave: Empoderamento. Emancipação. Educação. Ação social.
Introdução
Este texto tem por objetivo problematizar a forma como vem sendo utilizada a
categoria empoderamento na literatura. Situa, inicialmente, a origem do conceito no
contexto da Reforma e, posteriormente, nos novos movimentos sociais, movimentos
emancipatórios (negros, mulheres, homossexuais) surgidos nos Estados Unidos
relacionados ao exercício da cidadania. Posteriormente, discute a ambigüidade
lingüística do termo e as diferentes abordagens de empoderamento, buscando relações
entre essa categoria e a categoria de capital social. Alerta para a falácia de
determinadas propostas que, sob a égide do empoderamento, promovem processos não
emancipatórios.
ORIGEM DO TERMO
A "Tradição do Empowerment" (Empowerment Tradition), segundo Herriger (1997, p.
19), tem suas raízes na Reforma Protestante e é oposta ao do paternalismo, sendo
fundada em valores inalienáveis, como o protagonismo na luta por justiça social.
O processo de Reforma, iniciado por Lutero no século XVI, na Europa, oportuniza,
com certas restrições, um empoderamento por parte das pessoas, pois a tradução da
Bíblia do latim para o dialeto local - o que contribuiu para a afirmação deste,
futuramente, como
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idioma oficial da Alemanha- possibilitou a leitura dos "textos sagrados" entre a
comunidade, a qual, por conseguinte, passa a realizar sua leitura e sua
hermenêutica, tornando-se sujeito de sua religiosidade.
O resultado desse movimento religioso precisa, portanto, ser entendido no contexto
do efeito multiplicador iniciado pela invenção da imprensa por Gutemberg: a Bíblia,
traduzida nas línguas e dialetos locais, torna-se acessível a cada um.
Anteriormente ao século XVI, a Bíblia era um manuscrito em latim - língua dominada
por uma minoria - do qual havia poucas cópias, que se encontravam fechadas nos
conventos e nas igrejas, lidas por uma elite eclesiástica.
Na segunda metade do século XX, a categoria empowerment passa a ser utilizada, nos
EUA, nos movimentos emancipatórios, relacionados ao exercício da cidadania
(movimento dos negros, das mulheres, homossexuais), visando a construir a auto-
estima de seus integrantes na igualdade de relações, através de atividades
culturais, artísticas e no exercício de sua vida profissional.
Trata-se dos novos movimentos sociais contra o sistema de opressão, fazendo eclodir
movimentos de libertação e de contracultura, também conhecidos, conforme Pinto
(1998), como movimentos de cidadania, sendo que os principais foram:
• Movimento pelos direitos cívicos e Poder Negro nos EUA - Movimento pela
emancipação e pelo poder social, econômico, cultural e político da população negra,
afirmando a crença na sua própria capacidade de se libertar de condições opressoras
e liderar o processo da sua libertação, e de se redefinir e reencontrar a sua
identidade, integrada na prática e na teoria do empowerment.
• Feminismo - Diferentes correntes de pensamento feminista, fundadas na
análise das raízes da opressão e subalternização da mulher nas várias instituições
sociais e nos vários contextos da vida social, econômica e cultural (na família, no
trabalho, nos sistemas educativos e de saúde, na religião, nos relacionamentos
interpessoais, na auto-imagem), envolvendo o desenvolvimento e a aplicação de
metodologias de intervenção no trabalho com mulheres, visa ao "acordar" da
consciência feminina perante a sua subalternidade e alienação. Visa também à
construção de redes de auto-ajuda e iniciativas de base comunitária com as quais
objetiva proporcionaras mulheres melhor educação e cuidados de saúde, qualificação
profissional e oportunidades de trabalho, independência econômica e proteção contra
a violência doméstica e sexual.
• Movimento de emancipação homossexual - Movimento de luta pela obtenção
e defesa de direitos de cidadania e pela aceitação de populações marginalizadas, e
mesmo criminalizadas, pela sociedade em geral.
• Movimento pelos direitos da pessoa deficiente - Movimento pelo
reconhecimento da pessoa deficiente como cidadã, com direitos e deveres, e contra a
imagem preconceituosa do deficiente, buscando o reconhecimento das
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capacidades e potencialidades dessas pessoas para contribuir como membros de pleno
direito da sociedade.
Nesses movimentos, desenvolvem-se ações integradas na luta pelos direitos civis.
Desse modo, não é por acaso que do empowerment de comunidades negras nos EUA surge,
em 1976, "Black empowerment: social work in oppressed communities", de Barbara
Solomon, trazendo, pela primeira vez, o conceito empowerment na capa de um livro
(HERRIGER, 1997, p. 18) e representando o nascer de uma filosofia comprometida com
a cidadania e a ação de libertação.
Assim, empowerment é um conceito que tem raízes na Reforma Protestante.
Contemporaneamente, se expressa nas lutas pelos direitos civis, no movimento
feminista e na ideologia da "ação social", presentes nas sociedades dos países
desenvolvidos, na segunda metade do século XX. Nos anos 70, esse conceito é
influenciado pelos movimentos de auto-ajuda, e, nos 80, pela psicologia
comunitária. Na década de 90, recebe o influxo de movimentos que buscam afirmar o
direito da cidadania sobre distintas esferas da vida social, entre as quais a
prática médica, a educação em saúde, o ambiente físico, a política, a justiça, a
ação comunitária.
EMPREGO DO TERMO: AMBIGÜIDADE LINGÜÍSTICA
Nas palavras de Carvalho (2004, p.3), Empowerment é um conceito múltiplo e
complexo, que toma emprestado noções de distintos campos de conhecimento.
Ainexistência do termo "empoderamento" na língua portuguesa e a diversidade de
sentidos do termo "apoderamento" ilustram a dificuldade de realizar a tradução
fidedigna de empowerment para o nosso idioma.
Sendo assim, segundo esse autor, há uma dificuldade refletida no modo com que essa
categoria vem sendo traduzida em textos nos idiomas português e espanhol, seja como
sinônimo de "empoderamento", "apoderamento", ou de "emancipación". Tais vocábulos,
no entanto, têm significados distintos, uma vez que "apoderar" é sinônimo de "dar
posse",
"domínio de", "apossar-se", "assenhorear-se", "dominar", "conquistar", "tomar
posse".
São definições que diferem do verbo "emancipar", que significa, por sua vez,
"tornar livre, independente''.
Labonte (1994) chama a atenção para a possibilidade de utilização do termo
"empoderamento" como verbo transitivo ou intransitivo, destacando que, conforme a
forma de utilização, sua compreensão assume significados diferentes. Empoderar como
um verbo transitivo envolve um sujeito que age sobre um objeto; empoderar como
verbo intransitivo, por sua vez, envolve a ação do próprio sujeito.
Usado transitivamente, empoderar significa dar poder a outro, compartilhando alguns
poderes que determinados profissionais devem ter sobre outros. Desta forma, o
profissional é visto como agente de empoderamento, e permanece como sendo o ator
controlador, definindo os termos da interação. Os indivíduos ou grupos
relativamente desempoderados permanecem como objetos da relação, como os receptores
da ação externa, numa atitude passiva. A afirmação "precisamos empoderar este ou
aquele grupo"
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capacidades e potencialidades dessas pessoas para contribuir como membros de pleno
direito da sociedade.
Nesses movimentos, desenvolvem-se ações integradas na luta pelos direitos civis.
Desse modo, não é por acaso que do empowerment de comunidades negras nos EUA surge,
em 1976, "Black empowerment: social work in oppressed communities", de Barbara
Solomon, trazendo, pela primeira vez, o conceito empowerment na capa de um livro
(HERRIGER, 1997, p. 18) e representando o nascer de uma filosofia comprometida com
a cidadania e a ação de libertação.
Assim, empowerment é um conceito que tem raízes na Reforma Protestante.
Contemporaneamente, se expressa nas lutas pelos direitos civis, no movimento
feminista e na ideologia da "ação social", presentes nas sociedades dos países
desenvolvidos, na segunda metade do século XX. Nos anos 70, esse conceito é
influenciado pelos movimentos de auto-ajuda, e, nos 80, pela psicologia
comunitária. Na década de 90, recebe o influxo de movimentos que buscam afirmar o
direito da cidadania sobre distintas esferas da vida social, entre as quais a
prática médica, a educação em saúde, o ambiente físico, a política, a justiça, a
ação comunitária.
EMPREGO DO TERMO: AMBIGÜIDADE LINGÜÍSTICA
Nas palavras de Carvalho (2004, p.3), Empowerment é um conceito múltiplo e
complexo, que toma emprestado noções de distintos campos de conhecimento.
Ainexistência do termo "empoderamento" na língua portuguesa e a diversidade de
sentidos do termo "apoderamento" ilustram a dificuldade de realizar a tradução
fidedigna de empowerment para o nosso idioma.
Sendo assim, segundo esse autor, há uma dificuldade refletida no modo com que essa
categoria vem sendo traduzida em textos nos idiomas português e espanhol, seja como
sinônimo de "empoderamento", "apoderamento", ou de "emancipación". Tais vocábulos,
no entanto, têm significados distintos, uma vez que "apoderar" é sinônimo de "dar
posse",
"domínio de", "apossar-se", "assenhorear-se", "dominar", "conquistar", "tomar
posse".
São definições que diferem do verbo "emancipar", que significa, por sua vez,
"tornar livre, independente''.
Labonte (1994) chama a atenção para a possibilidade de utilização do termo
"empoderamento" como verbo transitivo ou intransitivo, destacando que, conforme a
forma de utilização, sua compreensão assume significados diferentes. Empoderar como
um verbo transitivo envolve um sujeito que age sobre um objeto; empoderar como
verbo intransitivo, por sua vez, envolve a ação do próprio sujeito.
Usado transitivamente, empoderar significa dar poder a outro, compartilhando alguns
poderes que determinados profissionais devem ter sobre outros. Desta forma, o
profissional é visto como agente de empoderamento, e permanece como sendo o ator
controlador, definindo os termos da interação. Os indivíduos ou grupos
relativamente desempoderados permanecem como objetos da relação, como os receptores
da ação externa, numa atitude passiva. A afirmação "precisamos empoderar este ou
aquele grupo"
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autodeterminação, autonomia e definição das regras da vida.
4) Posição transitiva - na direção de sustentação e consenso. Trata-se de força que
é revitalizada no trabalho com os outros.
O conceito tem sido examinado em diversas disciplinas e práticas profissionais,
recebendo ampla variedade de definições e cobrindo diferentes dimensões: a
individual, a organizacional e a comunitária (ISRAEL et al, 1994).
Segundo Wallerstein e Bernstein (1994), o empoderamento pode ocorrer em diferentes
níveis. É uma construção em nível individual, quando se refere às variáveis
intrafísicas e comportamentais; em nível organizacional, quando se refere à
mobilização participativa de recursos e oportunidades em determinada organização; e
em nível comunitário, quando a estrutura das mudanças sociais e a estrutura socio
política estão em foco.
O empoderamento psicológico se refere ao nível individual de análise.
No nível individual, empoderamento refere-se à habilidade das pessoas de ganharem
conhecimento e controle sobre forças pessoais, para agir na direção de melhoria de
sua situação de vida. Diz respeito ao aumento da capacidade de os indivíduos se
sentirem influentes nos processos que determinam suas vidas. Trata-se de uma auto-
emancipação, fundada numa compreensão individualista de empoderamento, que enfatiza
a dimensão psicossocial. Tal noção desenvolve-se na sociedade norte-americana, cuja
cultura tem sido cooptada pelo individualismo e pelas noções individuais de
progresso, orientada para o
"self made man" (o homem que se faz por seu próprio esforço pessoal). A ênfase é no
aumento do poder individual, medido em termos do aumento no nível de auto-estima,
de auto-afirmação e de autoconfiança das pessoas. Estratégias voltadas à auto-ajuda
e ao auto-aperfeiçoamento estão presentes neste tipo de empoderamento.
Empoderamento organizacional, por sua vez, é uma abordagem do processo de trabalho
que objetiva a delegação do poder de decisão, a autonomia e a participação dos
funcionários na administração das empresas.
Nessa perspectiva, empoderar significa "dar ao pessoal autoridade para fazer
mudanças no trabalho em si, assim como na forma em que ele é desempenhado" (SLACK
etal., 1997, p. 3| 1); envolve um conjunto de procedimentos que buscam maior
envolvimento das pessoas no processo de tomada de decisões, podendo incidir tanto
no contexto quanto no conteúdo do trabalho. Empoderar, neste caso, significa obter
o comprometimento dos empregados em contribuir para as decisões estratégicas, com o
objetivo de melhorar o desempenho da organização (CUNNINGHAM; HYMAN, 1999, p. 193).
O empoderamento organizacional é passível de ser identificado na transição do
processo de produção fordista (produção em série através de atividades rotineiras,
repetitivas) para o processo toyotista (atividades em células, trabalho em grupo).
Sua finalidade é aumentar a produtividade da empresa. Constitui-se numa alternativa
ao paradigma tradicional de gestão, direcionando-se para a desburocratização,
descentralização, exibilização e inovação (HERRENKOHL; JUDSON; HEFFNER, 1999;
CUNNINGHAM; HYMAN, 1999; WILKINSON, 1998; PFERFFER; DUNLOP, 1990;
RODRIGUES; SANTOS, 2004).
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Segundo Laverack e Wallerstein (2001), a discussão a respeito da categoria
empoderamento comunitário tem sido obscurecida, desde a metade dos anos 90, pelos
debates sobre os conceitos de capacidade comunitária (GOODMAN et al., 1998),
competência comunitária (ENG; PARKER, 1994), coesão comunitária (GEYER, 1997) e
capital social (PUTNAM, 1995).
Embora tais categorias sejam cada vez mais consideradas como críticas para a
promoção da melhoria do padrão de vida e como mediação dos efeitos da pobreza e das
iniqüidades em diferentes campos de ação (saúde, justiça, educação, habitação...),
por parte de grupos discriminados da população (mulheres, negros, índios...), em
geral está ausente a dimensão da influência social e da transformação das relações
de poder
(LAVERACK; WALLERSTEIN, 2001).
O empoderamento comunitário envolve um processo de capacitação de grupos
desfavorecidos para a articulação de interesses e participação comunitária, visando
à conquista plena dos direitos de cidadania, defesa de seus direitos e a
influenciar ações do Estado. Embora o empoderamento comunitário envolva um
coletivo, sua incidência pode ainda ser direcionada à capacitação de um ator
individual.
Por exemplo, no campo da saúde, é possível melhorar os níveis da saúde da
população, desenvolvendo programas de cuidados com a saúde, em nível individual, ou
trabalhando com grupos de risco, no âmbito comunitário, sem alterar as relações de
poder na sociedade.
Segundo Gohn (2004), o termo empoderamento da comunidade vem sendo utilizado no
âmbito das políticas públicas, neste novo milênio, enfatizando seu protagonismo, de
forma vinculada a processos de capacitação para a geração de desenvolvimento auto-
sustentável, com a mediação de agentes externos - os novos educadores sociais.
A mesma autora refere que a categoria empowerment apresenta duplo significado: ora
é utilizada para referir-se a processos de mobilizações e práticas direcionadas a
promover e impulsionar grupos e comunidades em termos de crescimento, autonomia e
melhora gradual e progressiva de suas vidas; ora é empregada para referir-se a
ações destinadas a promover a integração de excluídos em sistemas que não
contribuem para organizá-los, face às características do atendimento oferecido em
programas de natureza individual e assistencialista (GOHN, 2004).
O Quadro I, abaixo, explicita possíveis indicadores para desenvolvimento de um
processo de avaliação referente a diferentes tipos de empoderamento.
Quadro I - EMPODERAMENTO: INDICADORES
TIPOS DE
EMPODERAMENTO INDICADORES FOCO
EMPODERAMENTO
INDIVIDUAL Nível de auto-estima
Nível de autoconfiança
Nível de auto-afirmação Melhoria da condição de vida da pessoa
continua...
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conclusão
TIPOS DE
EMPODERAMENTO INDICADORES FOCO
EMPODERAMENTO
ORGANIZACIONAL Participação na gestão da organização em termos de:
*Conteúdo de gestão
*Processo de gestão
- Planejamento
- Execução
- Avaliação
*Contexto de gestão Aumento da produtividade da empresa
EMPODERAMENTO
COMUNITÁRIO Não há indicadores
universais, o que
poderia levar a uma compreensao falaciosa
de empowerment, ao entender seus efeitos como produtos estáticos, ao invés de
experiências dinâmicas
Depende na área de atuação e da agenda do projeto
Dificuldades de avaliar os resultados do empowerment, em termos de mudança social e
política, durante a realização do programa
O resultado obtido pode significar coisas diferentes para pessoas no mesmo programa
Possibilidade
visualização
Popowiement comunitário alag 0.
do
processo dinâmico envolvendo:
a) empowerment pessoal
b) desenvolvimento de pequenos grupos de apoio mútuo
c) organizações comunitárias
d) associações
e) ação social e política Conquista de direitos de cidadania
Defesa de direitos
Influência na ação do Estado
- capacidade de deman da e interferência direta ou indireta da população nas
decisões políticas.
Fonte: quadro elaborado pela autora.
Uma outra concepção de empowerment vem de Freire, o qual propõe o que denomina de
empoderamento de classe social. Isso significa, na compreensão freireana, que não
se trata de um processo de natureza individual.
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O autor vai salientar que não acredita na autolibertação; para Freire (1986), a
libertação é um ato social. Referindo sua descrença na auto emancipação pessoal,
argumenta, em diálogo com Ira Shor, em Medo e Ousadia - o cotidiano do professor,
que
Mesmo quando você se sente, individualmente, mais livre, se esse sentimento não é
um sentimento social, se você não é capaz de usar sua liberdade recente para ajudar
os outros a se libertarem através da transformação da sociedade, então você só está
exercitando uma atitude individualista no sentido do empowerment ou da liberdade
(p. 135).
Isso faz do empowerment muito mais do que invento individual ou psicológico,
configurando-se como um processo de ação coletiva que se dá na interação entre
indivíduos, o qual envolve, necessariamente, um desequilíbrio nas relações de poder
na sociedade.
Na perspectiva freireana, o empoderamento individual, fundado numa percepção
crítica sobre a realidade social, é fundamental, mas tal aprendizagem precisa ter
relação com a transformação mais ampla da sociedade. A pergunta que se coloca,
segundo Freire
(2003), é: "a favor de quem e contra quem eles usam sua nova liberdade na
aprendizagem e como é que essa se relaciona com os outros esforços para transformar
a sociedade" (p. 136).
No entanto, o autor vai destacar a importância do empoderamento individual como
condição necessária, mas não suficiente, para o processo de transformação social:
A questão do empowerment da classe social envolve a questão de como a classe
trabalhadora, através de suas próprias experiências, na sua própria construção de
cultura, se empenha na obtenção do poder político. [...] Indica um processo
político das classes dominadas que buscam a própria liberdade da dominação, um
longo processo histórico de que a educação é uma frente de luta (FREIRE, 1986, p.
138).
Nessa perspectiva, o empoderamento, como processo e resultado, pode ser concebido
como emergindo de um processo de ação social no qual os indivíduos tomam posse de
suas próprias vidas pela interação com outros indivíduos, gerando pensamento
crítico em relação à realidade, favorecendo a construção da capacidade pessoal e
social e possibilitando a transformação de relações sociais de poder.
Face aisso, as questões que devem ser respondidas são: Que processo é este? Quais
são suas características? O que envolve? Sob que princípios se apóiam?
O empoderamento envolve um processo de conscientização, a passagem, de um
pensamento ingênuo para uma consciência crítica. Mas isto não se dá no vazio, numa
posição idealista, segundo a qual, a consciência muda dentro de si mesma, através
de um jogo de palavras num seminário. A conscientização é um processo de
conhecimento que se dá na relação dialética homem-mundo, num ato de ação-reflexão,
isto é, se dá na práxis (FREIRE, 1979). Conscientizar não significa manipular,
conduzir o outro a pensar como eu penso; conscientizar é "tomar posse do real",
constituindo-se o olhar mais crítico possível
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da realidade; envolve um afastamento do real para poder objetivá-lo nas suas
relações.
Segundo Freire (1986),
Mudamos nossa compreensão e nossa consciência à medida que estamos iluminados a
respeito dos conflitos reais da história. A educação libertadora pode fazer isso -
mudar a compreensão da realidade. Mas isto não é a mesma coisa que mudar a
realidade em si. Não. Só a ação política na sociedade pode fazer a transformação
social, e não o estudo crítico em sala de aula (p.207).
De acordo com Freire (1979), para desenvolver o processo de conscientização são
fundamenta is o diálogo e uma educação dialógica no interior de uma pedagogia
situada, isto é, aquela que situa o processo de aprendizagem nas condições reais de
cada grupo.
A educação dialógica não é uma técnica de ensinar, é uma postura epistemológica.
Assim, o diálogo, enquanto instrumento do processo de conscientização, constitui-se
em
"um encontro dos humanos para refletirem sobre sua realidade tal como a fazem e re-
fazem" (FREIRE, 1986, p. 123).
O diálogo não se constitui em mera verbalização de palavras e não tem como objetivo
a transferência de conhecimento especializado, mas problematizar a forma oficial do
conhecimento, questionando as relações dominantes que o produziram. Dessa forma,
envolve um processo de contestação e redescoberta do conhecimento. O diálogo está a
serviço de uma educação para a emancipação.
Mas, qual o significado de uma educação para a emancipação, na concepção freiriana?
Freire concebe a educação como um ato político, por entendê-la enquanto um projeto
social. Entende a educação como um ato político que envolve ação cultural para a
libertação, ou seja, como um processo através do qual a consciência do opressor,
"vivendo" na consciência do oprimido, pode ser extraída. Torna-se relevante,
portanto, entender como se desenvolvem os processos de educação como ação cultural
para a libertação.
Freire não desenvolve um método, no sentido pedagógico do termo. O método proposto
por Freire é, na realidade, a explicitação de uma teoria do conhecimento, que vai
na contramão de uma concepção idealista ou empirista de conhecimento. Segundo
Andreola (1993):
Contra o subjetivismo, de um lado, e objetivismo mecanicista do outro, que,
dissociando e opondo sujeito e objeto, dissociam e opõem prática e teoria, ação e
reflexão, Freire proclama a unidade dialética destas na conscientização (p.37).
De acordo com Freire (1979), "a educação, como prática de liberdade, é um ato de
conhecimento, uma aproximação crítica da realidade" (p.24), o que envolve um
processo de conscientização, conforme já referido.
O autor destaca que, assim como não se chega à conscientização por uma via
psicologista, idealista ou subjetivista, tampouco se chega a ela pelo objetivismo.
A tomada de consciência não se dá de forma isolada, mas através das relações que os
homens
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estabelecem entresi, mediados pelo mundo.
Freire (1981) entende a educação como um processo relacional, em que ninguém educa
ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo
mundo. Dessa forma, em Pedagogia do Oprimido, Freire (1981) é enfático, ao afirmar
que "Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em
comunhão" (p.27).
Nessa perspectiva, o homem é concebido, não como objeto, mas como sujeito da ação
educativa, sendo fundamental a participação dos sujeitos no processo de
problematização da realidade e da ação. Assim, uma educação problematizadora
implica um "momento de reflexão que parte de uma realidade concreta e onde se
organiza um projeto de ação, que deverá converter-se em ação efetiva sobre a
realidade" (ANNUZZI, 1979, p.31); implica também o respeito e a consideração
relativamente ao conhecimento e experiência dos sujeitos envolvidos no processo.
A partir da análise das diferentes formas em que empoderamento tem sido abordado, é
importante destacar que essa categoria é mais do que um construto de natureza
psicológica, estando intimamente implicada nas relações de poder na sociedade.
De acordo com Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social (EICOS
(b), [s.d.], (s.p]), Empowerment não é apenas a construção de uma consciência
crítica, pelo sujeito, de seu contexto natural, social, cultural e político de
vida. Não se resume também a simples capacitação para atuar pela melhoria de
padrões em diferentes âmbitos da vida; mas envolve aquisição de poder, isto é,
"supõe o vivenciar um processo artic lado que integre a construção de uma
consciência crítica com a ação, ou o desenvolvimento de capacidade real de
intervenção e transformação da realidade".
É nessa perspectiva que se situa a conceituação de empoderamento pr: posta pela
Organização Mundial da Saúde-OMS, que, destacando as diferentes dimensões
envolvidas no processo de empoderamento, ressalta o aspecto da atuação socio-
política-cultural.
O empoderamento pode ser um processo social, cultural, psicológico ou político,
através do qual indivíduos e grupos sociais tornam-se capazes de expressar suas
necessidades, explicitar suas preocupações, perceber estratégias de envolvimento na
tomada de decisões, e atuar política, social e culturalmente para satisfazer suas
necessidades (OMS, 1997) (EICOS (b), [s.d.], [s.p])-
Destaque-se também que sua utilização em diferentes campos profissionais -
antropologia, educação, política, economia, psicologia...-, sob diferentes
perspectivas, não se reduz ao seu entendimento como um processo de emancipação
individual. Ele envolve a aquisição de uma consciência coletiva, conforma refere
EICOS (a).
No entanto, independente do tipo de empoderamento que se aborde, a educação exerce
um papel fundamental, uma vez que viabiliza a construção do sujeito social.
PROCESSOS E ESTRATÉGIAS DE EMPODERAMENTO
Empoderamento, enquanto categoria, perpassa noções de democracia, direitos
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humanos e participação, mas não se limita a estas. É mais do que trabalhar em nível
conceitual, envolve o agir, implicando processos de reflexão sobre a ação, visando
a uma tomada de consciência a respeito de fatores de diferentes ordens - econômica,
política e cultural - que conformam a realidade, incidindo sobre o sujeito.
Um processo de empoderamento eficaz necessita envolver tanto dimensões individuais
quanto coletivas. Esse processo, segundo estudos realizados pela rede EICOS (a),
precisa contemplar quatro níveis:
1. cognitivo, em que interessa a conscientização sobre a realidade e as
causas da dominação;
2. psicológico, ligado ao desenvolvimento de sentimentos de auto-estima e
autoconfiança, requisitos para a tomada de decisões;
3. econômico, que relaciona a importância da execução de atividades que
possam gerar uma renda que assegure certo grau de independência econômica;
4. político, que envolve a habilidade para analisar e agir no meio social
com vistas a nele produzir mudanças.
Do ponto de vista da dimensão cognitiva de empoderamento, é importante o
desenvolvimento de um processo de educação crítica, que problematiza os níveis de
consciência do sujeito, trabalhando no sentido da transição de uma consciência
ingênua para uma consciência crítica (FREIRE, 1979).
Em nível psicológico, pode utilizar-se como estratégias as várias formas de
desenvolvimento de grupos de suporte, incluindo suporte terapêutico e ajuda mútua.
Já em nível organizacional, estudiosos têm sugerido a criação de programas que
possibilitem à delegação gradativa do poder de decisão, o desenvolvimento da
autonomia e a crescente participação dos envolvidos na organização, visando à
autogestão dos trabalhadores.
No contexto do processo de empoderamento comunitário, é fundamental o engajamento
da população na compreensão da problemática que afeta as suas condições de vida, na
discussão de soluções alternativas, na definição de prioridades e na decisão a
respeito de estratégias de implementação de programas, seu acompanhamento e
avaliação.
Trata-se de desenvolver competência para um agir político e para atuar sobre os
fatores que incidem sobre a qualidade de sua vida. É fundamental que a comunidade
participe como sujeito, e não como objeto, desse processo. Desse modo, não se trata
de uma mera participação, reduzida à presença física em assembléias, para atingir
metas previamente estabelecidas.
Estratégias de empoderamento da comunidade supõem, entre outras iniciativas, a
educação para a cidadania, socialização e problematização de informações, o
envolvimento na tomada de decisões dentro de um processo de diagnóstico, o
planejamento e a execução de projetos e iniciativas sociais.
Do ponto de vista da estratégia organizacional, as redes são estruturas adequadas
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aos objetivos de empoderamento e emancipação social. A formação de facilitadores
capazes de constituírem nós das redes, dando sustentabilidade ao tecido que
constitui a rede, é um desafio. Sua ação é fundamental na desconcentração de poder,
na insubordinação, na multiliderança, na conectividade e no fluxo permanente de
informação e na participação e cooperação, aspectos essenciais das estruturas em
rede.
EMPODERAMENTO E CAPITAL SOCIAL
De acordo com EICOS (a), a categoria empoderamento possibilita traçar uma ponte
entre o local e o global, ampliando o contexto de inserção dos indivíduos, para
além de suas famílias e comunidades, articulando-os a noções mais amplas, em nível
macro, e a uma possível ação.
A categoria capital social, por sua vez, contribui para o empoderamento de pessoas
e comunidades, integrando setores sociais e aproximando as oportunidades entre os
atores sociais. Segundo Durston (200 i),
El empoderamiento ha sido definido como el proceso por el cual la autoridad y la
habilidad se ganan, se desarrollan, se toman o se facilitan (STAPLES, 1990).
Alternativamente, el énfasis está en que el grupo y las personas protagonizan su
propio empoderamiento, no en una entidad superior que les da poder (SEN,
1998). Es la antitesis del paternalismo, y la esencia de la autogestión mediante la
pedagogía constructivista, que construye sobre las fuerzas existentes de una
persona o grupo social - sus capacidades - para «potenciarlas», es decir, aumentar
y realizar esas fuerzas potenciales preexistentes (p. 187).
Esta inter-relação entre capital social e empowerment pode contribuir para superar
problemas como a situação de pobreza de pessoas e comunidades, transformando as
relações de poder em favor daqueles que tenham pouca autoridade para que exerçam
controle sobre os recursos- físicos, humanos, intelectuais, financeiros e de seu
próprio ser
- e sobre a ideologia - crenças, valores e atitudes. Segundo Durston (2001, p.
187), os grupos e comunidade que têm considerável reserva de capital social em suas
variadas manifestações podem cumprir melhor e mais rapidamente com as condições de
empoderamento. O acesso às redes que transcendem os círculos fechados da comunidade
pobre e o capital social comunitário manifestado em diferentes formas de
associativismo são elementos importantes para o empowerment das pessoas e das
comunidades.
Capital social, para Atria (2003), apresenta uma ampla gama de definições e
aplicabilidades. A partir de diversos trabalhos sobre o "estado da arte", o autor
delineia duas dimensões ou eixos distintos para abordar o conceito capital social:
a primeira, entendida como "una capacidad específica de movilización de
determinados recursos por parte de ungrupo" (p.582), e a segunda, "se remite a la
disponibilidad de redes de relaciones sociales" (p.582). Atria (2003) ressalta que,
em torno da capacidade de mobilização, convergem duas noções especialmente
importantes: "el liderazgo y su contrapartida, el empoderamiento" (p.582). A partir
disso, afirma que o capital social de um determinado
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grupo poderia ser entendido como a capacidade da mobilizar (em benefício da
coletividade) os recursos associativos das distintas redes sociais a que têm acesso
os membros do grupo em questão.
Estudiosos a respeito da relação do Estado com a sociedade civil têm apontado o
esgotamento e a crise dos espaços de participação, tanto de um quanto da outra. As
organizações sociais, além de terem perdido sua vitalidade e legitimidade, têm tido
dificuldades de encontrar novos modelos de agrupamento e de interlocução com o
Estado.
Os mecanismos de participação dos programas sociais se constituem em mecanismos
excessivamente instrumentalizados e prédefinidos, sem gerar espaços de autonomia e
empoderamento, sem distribuir poder e desenvolver a capacidade comunitária, mesmo
quando tenham um caráter inovador.
Nesse contexto, a División de Organizaciones Sociales, (Chile, [s.d.]) propôs um
marco analítico, traduzido na forma de quadro, para caracterizar distintas
modalidades de participação oportunizadas pelos programas. O Quadro 2, aseguir,
constitui-se numa adaptação desse esquema analítico.
Quadro 2 - Esquema analítico de modalidades de participação
Acumula capital social
CONSULTIVA
NÍVEL DE PARTICIPAÇÃO
Utiliza oferta
INSTRUMENTAL
HABILITAÇÃO SOCIAL E
EMPODERAMENTO
Participa nas decisões
GESTIONÁRIA
Satisfaz necessidades básicas
Quadro elaborado pela autora.
O eixo vertical responde à pergunta "para que serve ou em que beneficia a
participação social aquela que participa?". Há possibilidade de duas alternativas:
satisfação de necessidades básicas (habitação, subsídio), num dos extremos, e
"acumula capital social" (além de satisfazer uma necessidade básica, há uma
aprendizagem e o desenvolvimento dos indivíduos que participam), no outro extremo.
O eixo horizontal responde à pergunta "em que consiste ou do que se trata a
participação?".
'. Tem a ver com a influência que têm os destinatários sobre o que e como
o programa trabalha. Há também possibilidade de duas alternativas. No extremo
"utiliza aoferta", os destinatários não têm nenhuma influência sobre o programa. O
outro extremo,
"participa nas decisões", se refere à capacidade dos destinatários de influir na
tomada de decisões relativas ao programa.
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A combinação desses eixos dá lugar a quatro quadrantes que permitem localizar os
tipos de participação e a ingerência dos sujeitos nos programas.
A participação como "habilitação social e empoderamento" contemplam a combinação
entre participação na tomada de decisões e acumulação de capital social. Os
sujeitos adquirem certas capacidades e habilidades, fortalecem seus espaços e
organizações e atuam com sentido de identidade e comunidade. Além disso,
incrementam sua capacidade de negociação e interlocução com o setor público.
A participação "gestionária" combina a participação na tomada de decisões com a
satisfação de necessidades. Os destinatários são considerados como gestores de
programas públicos, dando respostas a programas locais ou setoriais. Este tipo de
participação gera, na comunidade, a capacidade para gestionar e supõe informação
para atuar como interlocutor junto às agências estatais.
A participação "instrumental" tem a ver com a satisfação de necessidades a partir
da oferta de determinados programas.
A participação "consultiva", por sua vez, é aquela que utiliza a oferta dos
programas, mas tem, no entanto, capacidade para acumulação de capital social. Diz
respeito a um tipo de participação em que os programas efetuariam uma espécie de
consulta à população.
À GUISA DE CONCLUSÃO
A categoria empoderamento vem sendo utilizada junto a outros conceitos, tais como
capital social e competência comunitária, entre outros, de forma pouco rigorosa e,
muitas vezes, ambígua, em diferentes campos de conhecimento e práticas sociais.
Conforme esse texto apontou, diferentes são os conceitos e as práticas de
empoderamento que têm orientado trabalhos nas diferentes áreas - educação,
política, serviço social, administração, saúde comunitária, economia, psicologia,
antropologia...
Face às características do mundo globalizado em que vivemos, discutir a questão do
empoderamento, enquanto estratégia de ação, pode contribuir para a luta dos
desempoderados em nossa sociedade. Denunciar a utilização de estratégias
aparentemente emancipatórias, que vestem uma nova roupagem de participação e
democracia, serve para reafirmar as relações de poder vigentes em vez de contribuir
para a emancipação das pessoas, das comunidades e das sociedades.
Empowerment: conceptual and metodological issues
ABSTRACT
The objective of this article is to discuss the way in which the category of
empowerment has been used in the literature. Initially, it discusses the origin of
the concept, as well as the empowerment strategies related to the individual,
psychological and
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commnunitarian dimensions. On a second moment the paper discusses the linguistic
ambiguity of the term, as well as, the different empowerment approaches, inciuding
Freire's approach, searching for relationships between this category and the
concept of social capital.
Key words: Empowerment. Emancipation. Education. Social action.
Notas
• Ph. D. em Educação pela Florida State Univerty.. Professora Titular do Programa
de Pós-Graduação em Educação da UNISINOS. E-mail: rbaquero@unisinos.br
1. Apud Houaiss A, Villar MS. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 1*
Ed. Rio de Janeiro: EditoraObjetiva; 2001.
2. Cada autor apresenta a sua própria definição, cita uma definição
referência, ou, simplesmente, alude uma definição através de exemplo [...) Desse
modo, a imensidão do conceito de "empowerment" pode ser esmagadora e, ao mesmo
tempo, como Kieffer (1984, p. 9) refere, sua "aplicabilidade tem sido limitada por
uma continua ambigüidade conceptual".
Referências
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