o STF e A Responsabilidade Penal Da Pessoa Jurídica
o STF e A Responsabilidade Penal Da Pessoa Jurídica
o STF e A Responsabilidade Penal Da Pessoa Jurídica
doi.org/10.51891/rease.v9i10.11852
ABSTRACT: The criminal liability of legal entities is provided for in Article 225, § 3 of the
Federal Constitution, which establishes that legal entities may be held criminally liable for 2985
conduct harmful to the environment. In addition, Law No. 9,605/1998, known as the
Environmental Crimes Law, establishes criminal sanctions for companies that commit
environmental infractions. Still in this vein, the STF evolves its position in order to keep
up with social and legal changes. This article analytically addresses how the behavior of the
Supreme Court is shaped by these changes and analyzes in detail the evolution of the STF's
position regarding the criminal liability of legal entities, by verifying the history of its
posture and evaluating recent judgments and decisions related to the subject and their
reflection on its position. And finally, it uses case studies and social impact to provide for
analysis the potential future direction that the STF may adopt based on recent
developments and emerging issues.
1 INTRODUÇÃO
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(2006) corrobora essa ideia, afirmando que a responsabilização penal da pessoa jurídica é
necessária para coibir condutas ilícitas no âmbito empresarial.
No contexto brasileiro, o tratamento da responsabilidade penal da pessoa jurídica
passou por transformações ao longo do tempo. Inicialmente, prevalecia a ideia de que a
pessoa jurídica não poderia ser responsabilizada penalmente, uma vez que a pena era
considerada uma sanção voltada para os indivíduos (Silva, 2006). No entanto, essa
perspectiva evoluiu gradualmente.
A relevância social do tema está relacionada à responsabilização das empresas por
crimes cometidos em seu nome (sendo esta a fonte da curiosidade e motivação da escolha
do tema), combatendo a impunidade corporativa, promovendo a ética nos negócios,
fortalecimento do Estado de Direito, protegendo os direitos das vítimas e contribuindo para
um ambiente de negócios justo e transparente.
Para compreender esse assunto, é fundamental definir o que é uma pessoa jurídica e
explorar como a lei lida com sua responsabilidade penal.
A responsabilidade penal da pessoa jurídica é uma questão controversa, uma vez que 2986
a lei penal tradicionalmente se aplica a pessoas físicas. No entanto, a legislação e a
jurisprudência evoluíram para reconhecer a possibilidade de responsabilização penal das
pessoas jurídicas em certas circunstâncias.
Uma pessoa jurídica é uma entidade reconhecida pela lei como capaz de adquirir
direitos e assumir obrigações, além de agir em seu próprio nome. O Código Civil brasileiro,
em seu artigo 40, estabelece que "as pessoas jurídicas são de direito público interno ou
externo e de direito privado". Isso significa que as pessoas jurídicas podem ser tanto
entidades governamentais (como órgãos públicos) quanto entidades privadas (como
empresas, associações e fundações).
A Lei nº 9.605/1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, é um exemplo
importante desse reconhecimento. O artigo 3º dessa lei estabelece que "as pessoas jurídicas
serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei,
nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
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penalmente". No entanto, essa responsabilidade era limitada, uma vez que não previa penas
privativas de liberdade para as pessoas jurídicas, mas sim sanções pecuniárias e restritivas
de direitos.
Uma das mudanças mais significativas ocorreu com a promulgação da Lei de Crimes
Ambientais, como já citada, em 1998. Esta lei introduziu disposições específicas sobre a
responsabilidade penal das pessoas jurídicas no contexto de crimes ambientais. O artigo 3º
estabelece que as pessoas jurídicas podem ser responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente por infrações ambientais.
Outro marco importante na evolução da responsabilidade penal das pessoas jurídicas
no Brasil é a Lei Anticorrupção, também conhecida como Lei da Empresa Limpa, de 2013.
Essa legislação trouxe disposições específicas relacionadas à responsabilidade penal das
empresas em casos de corrupção. Ela estabeleceu a possibilidade de responsabilização das
pessoas jurídicas por atos lesivos à administração pública nacional ou estrangeira.
Além das mudanças legislativas, a jurisprudência brasileira desempenhou um papel
fundamental na evolução da responsabilidade penal das pessoas jurídicas. A discussão sobre
os limites e as formas de responsabilização tem sido um tema central na doutrina jurídica,
com juristas e advogados debatendo a extensão e a justiça dessa responsabilização. 2988
A evolução histórica do tratamento da responsabilidade penal da pessoa jurídica no
direito brasileiro mostra uma mudança significativa na maneira como as empresas são
consideradas em relação à legislação penal. Desde a ausência de responsabilidade até o
reconhecimento legal e a introdução de leis específicas, o Brasil passou por uma
transformação na forma como lida com a responsabilidade penal das pessoas jurídicas,
refletindo preocupações sociais e legais em constante evolução.
A responsabilidade penal das pessoas jurídicas tem sua base em teorias jurídicas que
buscam estabelecer a conexão entre a conduta de uma pessoa jurídica e a possibilidade de sua
responsabilização penal. Nesse sentido, o jurista espanhol Jesús-María Silva Sánchez afirma
que "a responsabilidade penal das pessoas jurídicas parte da premissa de que as empresas,
como entidades abstratas, podem agir por meio de seus órgãos e representantes, e, portanto,
podem ser responsabilizadas quando esses agentes cometem crimes em nome da empresa"
(Silva Sánchez, 2010, p. 45).
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“Em janeiro de 2019, uma tragédia ambiental impactava todo o país. Uma barragem
da mineradora Vale se rompia na cidade de Brumadinho, localizada na região metropolitana
de Belo Horizonte. O vasto lamaçal decorrente do acidente atingiu diversas residências no
local e causou a morte de aproximadamente 270 pessoas.
Quase um ano após o ocorrido, o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG)
ofereceu denúncia contra 16 pessoas físicas, conferindo a elas a prática do delito de homicídio
qualificado (270 vezes) e dos crimes contra a fauna e a flora, além de crime de poluição. A
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denúncia também incluía duas pessoas jurídicas, essas responsáveis por crimes contra a
fauna e a flora e ao crime de poluição. (...)
(...) Daí, surgem certos imbróglios jurídicos, especificamente no que tange o
questionamento: A pessoa jurídica pode ser autora de um delito criminoso de acordo com a
legislação brasileira?
De fato, o imbróglio jurídico desse modelo de responsabilidade penal tem como
principal dificuldade a ausência de legislações ordinárias e infraconstitucionais que versem
especificamente sobre o assunto. Países como o Canadá, Inglaterra, Austrália, entre outros,
já contem em seus ordenamentos a pessoa jurídica como sujeito ativo do crime.
O que há de se perceber é que o Brasil ainda esconde as imputações penais da pessoa
jurídica em legislações extravagantes, não adotando um posicionamento próprio. A
jurisprudência aos poucos vem considerando a responsabilidade penal da pessoa jurídica
como uma realidade, mas ainda lhe falta concretude e especificidade para correlacionar o
Direito Penal neste âmbito, tendo em vista sua concepção como sendo ultima ratio do
Estado.”
Lázaro Bertolini da Rós, “Caso Brumadinho e a responsabilidade da pessoa jurídica“,
conjur.com.br, 7 de fevereiro de 2023, Disponível em: https://www.conjur.com.br/2023-fev- 2990
07/lazaro-ros-brumadinho-responsabilidade-penal, acesso em: 30 de outubro de 2023.
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limitava aos delitos ambientais e avançando para a aplicação em outros contextos, como
crimes econômicos e contra a administração pública".
No entanto, é importante ressaltar que o STF tem se deparado com uma série de
desafios para definir os critérios e fundamentos que embasam a responsabilidade penal da
pessoa jurídica. Segundo Dias (2004), é necessário analisar os fundamentos utilizados pelo
STF em cada caso para compreender os critérios adotados e as razões que embasam as
decisões da Corte.
De acordo com Mendes (2018), a expansão do entendimento do STF sobre a
responsabilidade penal da pessoa jurídica decorre da necessidade de combater de forma mais
eficaz as infrações praticadas por empresas, que muitas vezes causam danos significativos à
sociedade.
Vale lembrar que a postura do supremo não é estática e pode sofrer mudanças ao
longo do tempo. Dessa forma, uma análise prospectiva baseada em desenvolvimentos
recentes e questões emergentes pode ajudar a identificar possíveis direções futuras que o
STF poderá adotar. Essa análise crítica é essencial para compreender o panorama atual e
antecipar os desdobramentos futuros nesse campo jurídico (Greco, 2022).
A doutrina tem se dedicado a analisar os fundamentos teóricos que justificam a 2992
responsabilidade penal da pessoa jurídica. Nesse sentido, Ramos (2019) argumenta que "a
responsabilidade penal da pessoa jurídica encontra fundamento na teoria da imputação
objetiva, que busca atribuir a responsabilidade por uma conduta delitiva quando a empresa
cria um risco proibido ou viola um dever de cuidado". Segundo Prado (2020), "a doutrina
tem defendido que a responsabilidade penal da pessoa jurídica deve ser fundamentada na
ideia de proteção de bens jurídicos, considerando a relevância social de punir as empresas
por condutas delitivas que afetam a coletividade".
Em suma, a doutrina sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica oferece
embasamento teórico para compreender a natureza e os fundamentos dessa forma de
responsabilização criminal. Ela busca estabelecer critérios, fundamentos e limites para a
imputação de crimes às empresas, considerando a relevância social de punir as condutas
delitivas corporativas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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GOMES, L. R., & Reale Júnior, M. (2022). Crimes ambientais e responsabilidade penal da
pessoa jurídica: análise da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Revista Brasileira
de Direito Ambiental.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral - Vol. 1. 24. ed. Niterói: Impetus,
2022.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 19. ed. Niterói: Impetus, 2018.
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LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador:
0Juspodivm, 2018.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral. 10. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2020.
2995
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