o STF e A Responsabilidade Penal Da Pessoa Jurídica

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Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

doi.org/10.51891/rease.v9i10.11852

O STF E A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

Camila do Nascimento Honorato1

RESUMO: A responsabilidade penal da pessoa jurídica é prevista no artigo 225, § 3º da


Constituição Federal, que estabelece que as pessoas jurídicas podem ser responsabilizadas
penalmente por condutas lesivas ao meio ambiente. Além disso, a Lei nº 9.605/1998,
conhecida como Lei de Crimes Ambientais, estabelece sanções penais para as empresas que
cometem infrações ambientais. Ainda nesse viés, o STF evolui seu posicionamento a fim de
acompanhar as mudanças sociais e jurídicas. Este artigo aborda, de uma maneira analítica,
como o comportamento do Supremo se molda a essas mudanças e analisa detalhadamente a
evolução do posicionamento do STF quanto a responsabilidade penal da pessoa jurídica, ao
verificar o histórico da sua postura e avaliar julgados e decisões recentes relacionadas ao
tema e o reflexo destas no seu posicionamento. E por final, utiliza estudo de casos e impacto
social para provisionar por análise a potencial futura direção que o STF poderá adotar
baseado em desenvolvimentos recentes e questões emergentes.

Palavras-chave: Responsabilidade Penal. Pessoa Jurídica. Posicionamento. STF.

ABSTRACT: The criminal liability of legal entities is provided for in Article 225, § 3 of the
Federal Constitution, which establishes that legal entities may be held criminally liable for 2985
conduct harmful to the environment. In addition, Law No. 9,605/1998, known as the
Environmental Crimes Law, establishes criminal sanctions for companies that commit
environmental infractions. Still in this vein, the STF evolves its position in order to keep
up with social and legal changes. This article analytically addresses how the behavior of the
Supreme Court is shaped by these changes and analyzes in detail the evolution of the STF's
position regarding the criminal liability of legal entities, by verifying the history of its
posture and evaluating recent judgments and decisions related to the subject and their
reflection on its position. And finally, it uses case studies and social impact to provide for
analysis the potential future direction that the STF may adopt based on recent
developments and emerging issues.

Keywords Criminal Liability. Legal entity. Positioning. STF.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Bitencourt (2021), a responsabilidade penal da pessoa jurídica é


fundamentada na noção de que entidades coletivas, como empresas, podem ser sujeitos de
infrações penais e, portanto, passíveis de sanções penais. Essa concepção desafia a visão
tradicional de que apenas pessoas físicas podem ser responsabilizadas penalmente. Silva

1 Acadêmica de direito na FAMETRO. Centro Educacional La Salle.

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(2006) corrobora essa ideia, afirmando que a responsabilização penal da pessoa jurídica é
necessária para coibir condutas ilícitas no âmbito empresarial.
No contexto brasileiro, o tratamento da responsabilidade penal da pessoa jurídica
passou por transformações ao longo do tempo. Inicialmente, prevalecia a ideia de que a
pessoa jurídica não poderia ser responsabilizada penalmente, uma vez que a pena era
considerada uma sanção voltada para os indivíduos (Silva, 2006). No entanto, essa
perspectiva evoluiu gradualmente.
A relevância social do tema está relacionada à responsabilização das empresas por
crimes cometidos em seu nome (sendo esta a fonte da curiosidade e motivação da escolha
do tema), combatendo a impunidade corporativa, promovendo a ética nos negócios,
fortalecimento do Estado de Direito, protegendo os direitos das vítimas e contribuindo para
um ambiente de negócios justo e transparente.

1.1 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

Para compreender esse assunto, é fundamental definir o que é uma pessoa jurídica e
explorar como a lei lida com sua responsabilidade penal.
A responsabilidade penal da pessoa jurídica é uma questão controversa, uma vez que 2986
a lei penal tradicionalmente se aplica a pessoas físicas. No entanto, a legislação e a
jurisprudência evoluíram para reconhecer a possibilidade de responsabilização penal das
pessoas jurídicas em certas circunstâncias.

1.2 Conceito de pessoa jurídica e sua capacidade de ser responsabilizada penalmente.

Uma pessoa jurídica é uma entidade reconhecida pela lei como capaz de adquirir
direitos e assumir obrigações, além de agir em seu próprio nome. O Código Civil brasileiro,
em seu artigo 40, estabelece que "as pessoas jurídicas são de direito público interno ou
externo e de direito privado". Isso significa que as pessoas jurídicas podem ser tanto
entidades governamentais (como órgãos públicos) quanto entidades privadas (como
empresas, associações e fundações).
A Lei nº 9.605/1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, é um exemplo
importante desse reconhecimento. O artigo 3º dessa lei estabelece que "as pessoas jurídicas
serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei,
nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou

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contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade". Essa


legislação permite que empresas sejam punidas criminalmente por crimes ambientais.
A doutrina jurídica também discute amplamente a responsabilidade penal da pessoa
jurídica. Em sua obra "Curso de Direito Penal", o renomado jurista Fernando Capez afirma
que "a pessoa jurídica pode ser responsabilizada criminalmente, mas apenas por meio de uma
ficção legal, visto que a lei penal se destina a pessoas físicas". Essa "ficção legal" é uma
maneira de permitir a responsabilidade penal da pessoa jurídica, embora não seja uma
entidade física.
A jurisprudência brasileira aborda a questão da responsabilidade penal da pessoa
jurídica. O Supremo Tribunal Federal (STF) já se pronunciou sobre o assunto. Em decisão
proferida no Recurso Extraordinário 548.181, o STF entendeu que "a responsabilidade penal
das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do
mesmo fato".
Em resumo, o conceito de pessoa jurídica envolve entidades reconhecidas pela lei,
sejam elas públicas ou privadas. A responsabilidade penal da pessoa jurídica é reconhecida
em legislações específicas e pela jurisprudência, permitindo que essas entidades sejam
punidas por infrações criminais em certas circunstâncias, embora seja uma responsabilidade 2987
de natureza jurídica e não física.

1.3 Evolução histórica do tratamento da responsabilidade penal da pessoa jurídica no direito


brasileiro

A evolução histórica do tratamento da responsabilidade penal da pessoa jurídica no


direito brasileiro é um tema de grande relevância, pois reflete mudanças na compreensão da
relação entre as empresas e a legislação penal.
Até meados do século XIX, o ordenamento jurídico brasileiro não reconhecia a
responsabilidade penal das pessoas jurídicas. O Código Criminal de 1830, por exemplo, não
previa tal possibilidade. Nesse contexto, a responsabilidade penal restringia-se a indivíduos.
Com a promulgação do Código Penal de 1890, ocorreu uma importante mudança. O
artigo 25 desse código estabelecia que "as penas se aplicam, desde logo, aos menores de 9 anos
e aos maiores de 70, às pessoas privadas dos sentidos, e às pessoas jurídicas". Esse foi um dos
primeiros reconhecimentos legais da responsabilidade penal das pessoas jurídicas no Brasil.
O Código Penal de 1940 manteve a ideia de responsabilidade penal das pessoas
jurídicas no artigo 3º, afirmando que "as pessoas jurídicas, por seus atos, respondem

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penalmente". No entanto, essa responsabilidade era limitada, uma vez que não previa penas
privativas de liberdade para as pessoas jurídicas, mas sim sanções pecuniárias e restritivas
de direitos.
Uma das mudanças mais significativas ocorreu com a promulgação da Lei de Crimes
Ambientais, como já citada, em 1998. Esta lei introduziu disposições específicas sobre a
responsabilidade penal das pessoas jurídicas no contexto de crimes ambientais. O artigo 3º
estabelece que as pessoas jurídicas podem ser responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente por infrações ambientais.
Outro marco importante na evolução da responsabilidade penal das pessoas jurídicas
no Brasil é a Lei Anticorrupção, também conhecida como Lei da Empresa Limpa, de 2013.
Essa legislação trouxe disposições específicas relacionadas à responsabilidade penal das
empresas em casos de corrupção. Ela estabeleceu a possibilidade de responsabilização das
pessoas jurídicas por atos lesivos à administração pública nacional ou estrangeira.
Além das mudanças legislativas, a jurisprudência brasileira desempenhou um papel
fundamental na evolução da responsabilidade penal das pessoas jurídicas. A discussão sobre
os limites e as formas de responsabilização tem sido um tema central na doutrina jurídica,
com juristas e advogados debatendo a extensão e a justiça dessa responsabilização. 2988
A evolução histórica do tratamento da responsabilidade penal da pessoa jurídica no
direito brasileiro mostra uma mudança significativa na maneira como as empresas são
consideradas em relação à legislação penal. Desde a ausência de responsabilidade até o
reconhecimento legal e a introdução de leis específicas, o Brasil passou por uma
transformação na forma como lida com a responsabilidade penal das pessoas jurídicas,
refletindo preocupações sociais e legais em constante evolução.

1.4 Fundamentos teóricos e princípios relacionados à responsabilidade penal das pessoas


jurídicas

A responsabilidade penal das pessoas jurídicas tem sua base em teorias jurídicas que
buscam estabelecer a conexão entre a conduta de uma pessoa jurídica e a possibilidade de sua
responsabilização penal. Nesse sentido, o jurista espanhol Jesús-María Silva Sánchez afirma
que "a responsabilidade penal das pessoas jurídicas parte da premissa de que as empresas,
como entidades abstratas, podem agir por meio de seus órgãos e representantes, e, portanto,
podem ser responsabilizadas quando esses agentes cometem crimes em nome da empresa"
(Silva Sánchez, 2010, p. 45).

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Um dos princípios fundamentais que orientam a responsabilidade penal das pessoas


jurídicas é o princípio da culpabilidade. De acordo com o jurista brasileiro Guilherme de
Souza Nucci, "a culpabilidade é um dos pilares do direito penal e deve ser aplicada também
às pessoas jurídicas, embora sua conceituação e aplicação sejam diferentes daquelas
destinadas às pessoas físicas" (Nucci, 2018, p. 312). Isso significa que, mesmo para as pessoas
jurídicas, a culpabilidade deve ser analisada de maneira adequada à sua natureza.
Outro princípio importante é o da individualização da pena. O jurista argentino
Eugenio Raúl Zaffaroni destaca que "a individualização da pena no contexto das pessoas
jurídicas pode ser mais complexa do que no caso das pessoas físicas, uma vez que envolve
considerações sobre a estrutura organizacional, a cultura corporativa e a capacidade de
prevenção de crimes pela empresa" (Zaffaroni, 2005, p. 78). Isso significa que as penas
aplicadas a pessoas jurídicas devem levar em conta sua realidade específica.
A responsabilidade penal das pessoas jurídicas também está fundamentada na
prevenção de crimes. O jurista italiano Luca Lupária argumenta que "a responsabilidade
penal das pessoas jurídicas desempenha um papel importante na prevenção de infrações,
incentivando as empresas a adotarem práticas de conformidade e ética em suas operações"
(Lupária, 2016, p. 124). Nesse sentido, a aplicação da responsabilidade penal busca evitar a 2989
recorrência de condutas criminosas por parte das empresas.
Em suma, os fundamentos teóricos e princípios relacionados à responsabilidade penal
das pessoas jurídicas estão ancorados em teorias jurídicas que buscam estabelecer uma
conexão adequada entre a conduta da empresa e sua responsabilização penal. Isso inclui a
consideração dos princípios da culpabilidade, individualização da pena, prevenção e a função
da responsabilidade penal das pessoas jurídicas na sociedade.

2. Caso Brumadinho e a responsabilidade da pessoa jurídica

“Em janeiro de 2019, uma tragédia ambiental impactava todo o país. Uma barragem
da mineradora Vale se rompia na cidade de Brumadinho, localizada na região metropolitana
de Belo Horizonte. O vasto lamaçal decorrente do acidente atingiu diversas residências no
local e causou a morte de aproximadamente 270 pessoas.
Quase um ano após o ocorrido, o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG)
ofereceu denúncia contra 16 pessoas físicas, conferindo a elas a prática do delito de homicídio
qualificado (270 vezes) e dos crimes contra a fauna e a flora, além de crime de poluição. A

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denúncia também incluía duas pessoas jurídicas, essas responsáveis por crimes contra a
fauna e a flora e ao crime de poluição. (...)
(...) Daí, surgem certos imbróglios jurídicos, especificamente no que tange o
questionamento: A pessoa jurídica pode ser autora de um delito criminoso de acordo com a
legislação brasileira?
De fato, o imbróglio jurídico desse modelo de responsabilidade penal tem como
principal dificuldade a ausência de legislações ordinárias e infraconstitucionais que versem
especificamente sobre o assunto. Países como o Canadá, Inglaterra, Austrália, entre outros,
já contem em seus ordenamentos a pessoa jurídica como sujeito ativo do crime.
O que há de se perceber é que o Brasil ainda esconde as imputações penais da pessoa
jurídica em legislações extravagantes, não adotando um posicionamento próprio. A
jurisprudência aos poucos vem considerando a responsabilidade penal da pessoa jurídica
como uma realidade, mas ainda lhe falta concretude e especificidade para correlacionar o
Direito Penal neste âmbito, tendo em vista sua concepção como sendo ultima ratio do
Estado.”
Lázaro Bertolini da Rós, “Caso Brumadinho e a responsabilidade da pessoa jurídica“,
conjur.com.br, 7 de fevereiro de 2023, Disponível em: https://www.conjur.com.br/2023-fev- 2990
07/lazaro-ros-brumadinho-responsabilidade-penal, acesso em: 30 de outubro de 2023.

2.5 O posicionamento histórico do STF

Ao longo dos anos, o posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF) em


relação à responsabilidade penal da pessoa jurídica tem evoluído, acompanhando as
transformações sociais e jurídicas. A responsabilidade penal das pessoas jurídicas é um tema
complexo e controverso, que envolve debates doutrinários e jurisprudenciais. Conforme
destaca Greco (2018), "a responsabilidade penal da pessoa jurídica é um instituto complexo
e multifacetado que envolve a imputação de crimes às entidades coletivas, bem como a
definição das sanções penais correspondentes".
De acordo com Renato Brasileiro de Lima (2018), a responsabilidade penal da pessoa
jurídica é "um dos avanços mais significativos do direito penal contemporâneo, permitindo
que entidades coletivas sejam responsabilizadas criminalmente, independente da punição
dos indivíduos que efetivamente cometeram a infração".
O marco inicial desse processo de evolução foi a promulgação da Lei dos Crimes
Ambientais (Lei nº 9.605/1998). A partir dessa legislação, houve uma mudança significativa

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no entendimento sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Conforme Gomes e


Reale Júnior (2022), o STF passou a admitir a responsabilização penal das pessoas jurídicas
nos casos de crimes ambientais.

2.6 Mudanças no posicionamento

Inicialmente, o entendimento do STF era restrito, limitando-se principalmente aos


crimes ambientais, conforme estabelecido pela Lei nº 9.605/1998.
A mudança desse paradigma começou a ocorrer com o julgamento do chamado caso
"mensalão" pelo STF em 2003. Nesse julgamento, o Supremo reconheceu a possibilidade de
responsabilização penal das pessoas jurídicas. Segundo Azevedo (2016), o STF afirmou que
"a pessoa jurídica pode ser responsabilizada penalmente pelos atos praticados em seu
interesse ou benefício, independentemente da responsabilização individual de seus
dirigentes" (STF, HC 81611/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 2003). Essa decisão marcou
um ponto de inflexão na jurisprudência do STF, abrindo caminho para a discussão e a
consolidação do tema. Desde então, o Tribunal tem reafirmado a possibilidade de
responsabilização penal das pessoas jurídicas em diversos julgamentos, consolidando um
entendimento progressivo nessa área. De acordo com Silva (2018), o caso do mensalão 2991
representou um marco na evolução do posicionamento do STF, pois evidenciou a
necessidade de responsabilização das empresas pelos crimes cometidos em seu nome,
contribuindo para a ampliação da visão tradicionalmente restritiva acerca da
responsabilidade penal da pessoa jurídica.
Essa evolução do STF culminou na decisão histórica proferida no julgamento da
Ação Penal nº 937, em 2017, que permitiu a aplicação da responsabilidade penal da pessoa
jurídica mesmo quando não houvesse a condenação prévia de uma pessoa física. Com essa
decisão, o STF reconheceu a autonomia da responsabilidade penal da pessoa jurídica,
dissociando-a da responsabilidade penal da pessoa física.
Conforme destacado por Costa (2019), a evolução do posicionamento do STF em
relação à responsabilidade penal da pessoa jurídica reflete uma necessidade de atualização e
adaptação do Direito Penal diante das demandas sociais e econômicas, buscando uma maior
eficácia no enfrentamento dos delitos praticados por empresas.
Nesse sentido, Dias (2019) afirma que "o STF, ao longo dos anos, vem ampliando a
concepção de responsabilidade penal da pessoa jurídica, superando a visão tradicional que a

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limitava aos delitos ambientais e avançando para a aplicação em outros contextos, como
crimes econômicos e contra a administração pública".
No entanto, é importante ressaltar que o STF tem se deparado com uma série de
desafios para definir os critérios e fundamentos que embasam a responsabilidade penal da
pessoa jurídica. Segundo Dias (2004), é necessário analisar os fundamentos utilizados pelo
STF em cada caso para compreender os critérios adotados e as razões que embasam as
decisões da Corte.
De acordo com Mendes (2018), a expansão do entendimento do STF sobre a
responsabilidade penal da pessoa jurídica decorre da necessidade de combater de forma mais
eficaz as infrações praticadas por empresas, que muitas vezes causam danos significativos à
sociedade.
Vale lembrar que a postura do supremo não é estática e pode sofrer mudanças ao
longo do tempo. Dessa forma, uma análise prospectiva baseada em desenvolvimentos
recentes e questões emergentes pode ajudar a identificar possíveis direções futuras que o
STF poderá adotar. Essa análise crítica é essencial para compreender o panorama atual e
antecipar os desdobramentos futuros nesse campo jurídico (Greco, 2022).
A doutrina tem se dedicado a analisar os fundamentos teóricos que justificam a 2992
responsabilidade penal da pessoa jurídica. Nesse sentido, Ramos (2019) argumenta que "a
responsabilidade penal da pessoa jurídica encontra fundamento na teoria da imputação
objetiva, que busca atribuir a responsabilidade por uma conduta delitiva quando a empresa
cria um risco proibido ou viola um dever de cuidado". Segundo Prado (2020), "a doutrina
tem defendido que a responsabilidade penal da pessoa jurídica deve ser fundamentada na
ideia de proteção de bens jurídicos, considerando a relevância social de punir as empresas
por condutas delitivas que afetam a coletividade".
Em suma, a doutrina sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica oferece
embasamento teórico para compreender a natureza e os fundamentos dessa forma de
responsabilização criminal. Ela busca estabelecer critérios, fundamentos e limites para a
imputação de crimes às empresas, considerando a relevância social de punir as condutas
delitivas corporativas.

2.7 Análises e tendências

A análise dos julgados e decisões recentes é fundamental para compreender o


posicionamento atual do STF em relação à responsabilidade penal da pessoa jurídica. Nesse

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sentido, é necessário examinar as decisões proferidas pela Corte em casos envolvendo a


responsabilidade penal das pessoas jurídicas e seus reflexos na jurisprudência.
A responsabilidade penal da pessoa jurídica tem sido objeto de análise em diversos
casos emblemáticos, como no julgamento do RE 848.826/RJ, que discutiu a possibilidade de
responsabilização penal da pessoa jurídica por crime contra a ordem tributária. Essas
decisões têm impacto direto na construção da jurisprudência do STF sobre o tema e
contribuem para a evolução do posicionamento da Corte.
Com base nas tendências observadas na jurisprudência do STF, é possível inferir que
a responsabilidade penal da pessoa jurídica tende a se consolidar e expandir para outras áreas
além dos crimes ambientais. É provável que a Corte amplie a abrangência da
responsabilização penal das pessoas jurídicas em busca de maior efetividade no combate a
ilícitos cometidos no âmbito empresarial.
No entanto, é importante considerar que o posicionamento do STF em relação à
responsabilidade penal da pessoa jurídica pode ser influenciado por fatores políticos, sociais
e econômicos. Além disso, o debate acadêmico e as discussões em tribunais inferiores
também podem impactar a construção da jurisprudência e, consequentemente, o
posicionamento do STF. 2993
Essa evolução no entendimento do STF reflete a necessidade de adequação do
ordenamento jurídico às demandas da sociedade contemporânea, onde as empresas
desempenham um papel significativo na economia e nas relações sociais. Conforme destaca
Freitas (2018), a responsabilização penal das pessoas jurídicas contribui para a promoção da
ética empresarial, a prevenção de condutas ilícitas e a responsabilização efetiva dos agentes
envolvidos em práticas criminosas.
A partir do exame dos julgados e decisões recentes, é possível compreender o
posicionamento atual do STF e seus reflexos na jurisprudência. Além disso, uma análise
prospectiva baseada em desenvolvimentos recentes e questões emergentes permite antever
possíveis direções futuras que o STF poderá adotar em relação à responsabilidade penal da
pessoa jurídica.
A evolução do posicionamento do STF em relação à responsabilidade penal da pessoa
jurídica é um campo em constante desenvolvimento, e as discussões acadêmicas e jurídicas
são fundamentais para acompanhar as mudanças e desafios nessa área.

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Em resumo, a evolução do posicionamento do STF em relação à responsabilidade


penal da pessoa jurídica evidencia a preocupação em garantir a justiça e o cumprimento da
lei, responsabilizando as empresas por atos ilícitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise de casos julgados pelo STF relacionados à responsabilidade penal da


pessoa jurídica, percebe-se que existe uma evolução positiva no posicionamento do tribunal.
Antes da Constituição Federal de 1988, a pessoa jurídica não poderia ser responsabilizada
criminalmente, apenas civilmente. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi
estabelecida a possibilidade de responsabilidade criminal da pessoa jurídica em casos de
crimes ambientais e contra a ordem econômica e financeira. No entanto, havia dúvidas sobre
a amplitude dessa responsabilidade. Ao longo dos anos, o STF tem se posicionado de forma
a ampliar os limites da responsabilidade penal da pessoa jurídica, como já pode ser
observado. Esse progresso no entendimento jurídico, aliado à legislação vigente, permite um
avanço no combate à impunidade corporativa e no fortalecimento do Estado de Direito.

REFERÊNCIAS
2994
BITENCOURT, C. R. (2021). Tratado de Direito Penal - Parte Geral. Saraiva Jur.

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182, 2019.

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GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral - Vol. 1. 24. ed. Niterói: Impetus,
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2995

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